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Estruturas elementares do Direito Penal

Crime
Direito Penal – conjunto de normas que trata jurídico-penalmente os pressupostos, a determinação, a aplicação e as
consequências (as penas e as medidas de segurança) dos crimes. Artigos 20 e 91 CP.
O direito penal estrutura-se e vive através de duas realidades nucleares, elementares e indissociáveis: crime e pena.
Dois grandes eixos normativos – fragmentariedade, concretizável na pluralidade de normas de proibição e
sancionatórias e unidade lógica e intencional da dogmática.

Pena
A pena é a principal consequência da prática de um crime (comportamento proibido pela norma incriminadora).
Representa a reação de uma comunidade de homens àqueles comportamentos penalmente proibidos por essa
mesma comunidade. É o reflexo dos valores dessa comunidade num certo tempo e espaço.

A fundamentação onto-antropológica do direito penal


O fundamento do direito penal encontra-se na primeva relação comunicacional de raiz onto-antropológica, na
relação de cuidado-de-perigo. Direito penal afirma-se como uma ordem relacional, tudo se fundamenta numa
primeira relação comunicacional de raiz onto-antropológica. Relacionação entre as 3 figuras principais que
fomentam e constroem a atual discursividade penal, quais sejam: a vítima, o delinquente e o Estado.

A finalidade do direito penal realiza-se na justiça penal historicamente situada. O direito penal visa, é e constrói-se
como uma ordem, um ordenamento de paz (art.1 CRP). Uma sociedade justa só é pensável se se mostrar justa
também no campo de direito penal. É pois, fim primeiro do Estado a realização da justiça penal.

A função do direito penal é a de proteger bens jurídicos, ou seja, que tenham dignidade penal. São vens jurídicos
com dignidade penal a vida, a integridade física, a honra, o património, a segurança interna e externa do Estado. À
função primordial do direito penal que é a de proteger bens jurídicos agregam-se outras funções: garantia,
segurança e coesão. Na garantia o cidadão tem de conhecer, antecipadamente, as condutas que lhe estão vedadas
praticar, o que lhe permite, ao inverso, conhecer o universo dos comportamentos irrelevantes para o direito penal. O
direito penal assume a tarefa de dar coesão ao todo social.

Para uma nova “ciência do direito penal total (conjunta)”


A realidade social e humana circundante ao agente criminoso constitui uma influência no seu comportamento. Os
crimes devem ser controlados pelo Estado sendo uma tarefa pública. Nos finais do século XIX von Liszt concebeu “a
ciência do direito penal total”, a qual conjugava as três vertentes fundamentais para a prossecução da tarefa de
controlo social do crime: o direito penal propriamente dito, a criminologia e a política criminal. As três movem-se e
atuam no mesmo plano ou segmento.

Direito penal clássico (aquele contido nos códigos penais); Direito penal secundário (aquele contido na legislação
extravagante – leis especiais).

Direito penal e direito de mera ordenação social


Diferença qualitativa entre ambos. Enquanto o direito penal se estrutura e vive através de dois elementos essenciais:
o crime e a pena, o direito de mera ordenação social constrói-se por meio da contraordenação e da coima. Constitui
contraordenação todo o facto ilícito e censurável que preencha um tipo legal no qual se comine uma coima.
A nível da sanção, o direito penal sanciona os comportamentos proibidos com penas, o direito de mera ordenação
social fá-lo com coimas. A pena é aplicada por um tribunal e a coima é decretada, pelo menos num primeiro
momento, por autoridades administrativas.
A aplicação da lei penal no espaço, no domínio das contraordenações é baseada no princípio da territorialidade
(art.4 e 5 CP). O direito de mera ordenação social nasce e esgota-se nas estritas fronteiras territoriais do Estado do
qual emana.
Normas só valem dentro do espaço territorial da União Europeia. Um cidadão dos EUA não se pode sentir obrigado a
cumpri-las no espaço territorial estadunidense. Coisa bem diversa é se o cidadão norte-americano entra no espaço
territorial da União Europeia. Nesse caso vale a aplicação do p. da territorialidade.
Responsabilidade das pessoas coletivas – artigo 11 CP.

Punibilidade de tentativa – o direito de mera ordenação social consagra o p. da taxatividade “a tentativa só pode
ser punida quando a lei expressamente o determinar”. Já no direito penal, (art.23 n1 CP), a tentativa só é punível
salvo disposição em contrário, se ao crime consumado respetivo corresponder pena superior a 3 anos. Se as
infrações forem puníveis com pena inferior a 3 anos, vale o p. da enunciação taxativa e formal, isto é, a tentativa só
é punível quando a lei expressamente o determinar.

Neocriminalização – quando um determinado comportamento, anteriormente considerado irrelevante para o direito


penal, passa a ser crime.

Descriminalização – quando uma conduta criminosa é completamente apagada do “catálogo” das incriminações
penais.

Despenalização – o comportamento continua a ser proibido e sancionado pela ordem jurídico-penal concebida como
“ciência do direito penal total”, só que já não é punido com uma pena criminal, é punido com uma coima. Ocorre
também quando o legislador diminui os mínimos e máximos da moldura penal abstrata – despenalização relativa.

A constituição considera que é da exclusiva competência da AR legislar, salvo autorização ao Governo, sobre a
definição dos crimes, penas, medidas de segurança e respetivos pressupostos (art.165 n1 c) CRP) – reserva relativa.

Direito Penal e Processo Penal


Direito penal caracteriza-se pela positivação de normas que consagram a proibição penal de certas condutas ou
comportamentos – crimes, o processo penal é o conjunto de regras que permitem verificar se, em determinada
situação concreta, existiu ou não a prática de um facto previsto e proibido pela lei penal e ainda determinar quem foi
o autor/es da prática daquele facto. O processo penal é também o modo de fazer aplicar as penas e medidas de
segurança previamente prescritas pelo direito penal. A tarefa principal do processo penal é a determinação, através
do processo ficam determinados os três pontos essenciais que sustentam a sua razão de ser: o facto criminal; o autor
do facto criminal e a consequência jurídica.

Prazo de prescrição (art.118 a 126 CP) – imaginemos uma hipótese em que o legislador previa para a prática de um
determinado crime um prazo de prescrição (do procedimento) de 5 anos e que, passados dois anos do cometimento
do crime, o legislador veio alterar esse prazo para dez anos. O prazo de prescrição que deve valer na presente
situação, honrando-se o p de que se deve sempre aplicar a lei mais favorável ao delinquente é o de 5 anos (art. 2 n4
CP).

Direito Penal e Direito Disciplinar


Estas duas áreas normativas tem um caracter sancionatório. A consequência jurídica das infrações penais e das
infrações disciplinares tem um radical comum: a pena. O p. da tipicidade no que toca à definição dos
comportamentos proibidos é pilar fundamental de um Estado de direito democrático. No âmbito do próprio direito
disciplinar, o p. da presunção de inocência deve ser entendido como uma das entraves mestras. O arguido num
processo disciplinar não tem que provar a sua inocência, é a Administração que tem que provar, sem reservas, que o
arguido levou a cabo os factos que lhe são imputados. Até esse momento o arguido presume-se inocente.

A espinha dorsal do direito disciplinar assenta na ideia de obediência hierárquica. Cessa o dever de obediência
sempre que o cumprimento das ordens ou instruções implique a prática de qualquer crime (art.271 n3 CRP, 36 n2
CP).

O direito penal e suas conexões com outras regiões do direito, com a política criminal e com a criminologia
A cerne do direito penal é o poder ou direito de punir. A criminologia pretende atribuir dinamicidade ao domínio do
fenómeno criminal. A passagem entre o direito penal e a criminologia: a política criminal. É o conjunto de princípios
e instituições pelo qual o Estado conduz a sua luta contra a criminalidade e que tem por finalidade precípua conter o
aumento dessa mesma criminalidade.

O âmbito de aplicação do Direito Penal


A questão da sucessão de leis no tempo impõe-se como inescapável para a compreensão da aplicação do direito
penal.

O princípio da irretroatividade da lei penal


Artigo 1 n1 CP e artigo 29 1 CRP. Tanto com a criminalização de comportamentos, como com o agravamento das
circunstâncias (qualitativo) ou da moldura penal (quantitativo). Não pode aplicar-se quando se trate de uma
alteração da lei penal. Impõe o p. da aplicação da lei penal mais favorável ao agente (art.2 n4 CP e art.29 n4 CRP).
Dificuldades práticas que poderá suscitar: descriminalização; hipótese de atenuação da consequência jurídica
(despenalização relativa); leis intermédias e leis temporárias.

Descriminalização – art.2 n2 CP. No caso de um agente estar já a cumprir a pena relativa ao comportamento
descriminalizado, deixará imediatamente de o fazer.
Despenalização relativa – a lei indica que art.2 n4 CP.

Leis intermédias – aquelas cujo período de vigência se situa após a prática do facto e antes da sua apreciação judicial
(1º parte do art.2 n4 CP e art.29 n4 2º parte CRP) – o p. da aplicação da lei mais favorável encontra ainda plena
aplicação.

Leis temporárias – uma exceção ao p. da lei mais favorável. “Quando a lei valer para um determinado período de
tempo, continua a ser punível o facto praticado durante esse período” (art.2 n3 CP). As leis de emergência são
também designadas leis temporárias. Tal como as leis temporárias surgem em virtude de um preciso motivo e
cessam a sua vigência aquando do término do motivo que as originou. A diferença é que as leis temporárias se
referem a um estado de exceção cuja duração é previamente definida, enquanto as de emergência são relativas a
estados de exceção de duração indefinida (estado de guerra).

Para a determinação do momento da prática do facto o CP, no seu artigo 3, estabelece formas de orientação ao
intérprete-julgador.

A prescrição
Artigo 118 do CP. A prescrição do procedimento criminal com uma causa de afastamento da punição. O agente
deverá saber à partida que a sua conduta é punida com determinada pena, mas que existe um limite de tempo em
que o seu comportamento criminal pode ser perseguido penalmente.

No Espaço
Princípios Gerais
O direito penal no seu âmbito de eficácia deve cingir-se positiva e negativamente ao chamado território nacional
pertencente a um Estado. Positivamente porque assume a ideia de que toda e qualquer infração penal praticada,
por quem quer que seja, em seu domínio territorial, é ao Estado-nação-território que compete punir. Negativamente
porque quando os seus cidadãos praticarem infrações noutros Estados, não é o Estado de origem destes que tem
obrigação de os punir – p. da territorialidade da aplicação da lei penal no espaço.

Artigo 4 a) – princípio geral da territorialidade – a lei penal portuguesa é aplicável a factos praticados em território
português, seja qual for a nacionalidade do agente. Para que possamos aferir se um facto foi, ou não, praticado em
território português – art.7 n1 CP. O lugar da prática do facto é tanto aquele da conduta como da produção do
resultado. A lei portuguesa considera-se aplicável quando o facto, resultante da ação de qualquer participante, ainda
que esta ação tenha tido lugar no estrangeiro, se verifique em Portugal.
A lei portuguesa é também aplicável a factos praticados a bordo de navios ou aeronave portuguesas – critério do
pavilhão.
Além do p. da territorialidade, a lei penal portuguesa consagra ainda quatro princípios complementares, desde logo
o princípio da nacionalidade (art.5 n1 e) CP). Para que este p. encontre aplicação, a lei estabelece três condições:
 Os agentes sejam encontrados em Portugal;
 Os factos sejam puníveis pela legislação do lugar em que tiverem sido praticados, salvo quando nesse lugar
não se exercer poder punitivo;
 Factos constituam crime que admita extradição e esta não possa ser concebida.

Princípio da defesa dos interesses nacionais (art.5 n1 a) CP). São objeto da a) os tipos que protegem estes
“interesses nacionais”, ou seja, crimes previstos no art.221, 262 a 271, 308 a 321 e 325 a 345.

Princípio da universalidade (art.5 n1 c) CP).

Princípio da administração supletiva da justiça penal (art.5 n1 f) CP). P. supletivo para suprir eventuais lacunas
geradas pela exponencial capacidade de mobilidade das pessoas. A lei penal portuguesa aplica-se em qualquer
hipótese de extraterritorialidade, sempre com as restrições previstas no artigo 6 – a factos praticados contra a
pessoa coletiva ou pela pessoa coletiva desde que a sua sede seja em território português (art.5 n1 g) CP).

Extradição – é o facto pelo qual um Governo remete um indivíduo que se refugiou no seu território ao Governo de
um outro Estado para que ele aí seja julgado, pelos respetivos tribunais, ou quando aí já tenha sido julgado, para
cumprir a pena que lhe foi aplicada. A generalidade dos ilícitos penais admite extradição. Apenas se ressalvam os
crimes de natureza política e os crimes militares que não sejam simultaneamente previstos na lei penal comum.
Princípio da dupla incriminação – Estado que requer a extradição do agente terá de ter competência para o punir de
acordo com a sua lei nacional e o Estado que extradita não alberga, no seu território, um agente criminoso.
Princípio da especialidade – a pessoa relativamente à qual é solicitada extradição não pode vir a ser perseguida por
motivo anterior à sua entrega que seja diverso daquele que fundamenta o pedido de extradição (art.33 CP).

Novos instrumentos de aplicação da lei penal


Mandato de detenção europeu – uma decisão jurídica emitida por um Estado membro com vista à detenção e
entrega por outro Estado membro de uma pessoa procurada para efeitos de procedimento criminal ou para
cumprimento de uma pena ou medida de segurança privativas de liberdade.
Verificamos que a tendência europeia é a de, progressivamente, criar um “espaço penal europeu” que assente,
através de um processo de harmonização, na existência de um catálogo de crimes europeus.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) ao julgar, só o pode fazer por via subsidiária, ou seja, nos caos em que as
jurisdições competentes não quiserem ou não puderem julgar os factos em questão.

Quanto às pessoas
Princípio da igualdade dos cidadãos
A regra geral no direito penal português é a sua aplicação a todos os cidadãos, em pleno respeito e cumprimento do
p. da igualdade (art.13 CRP).
Casos de exceção – Os agentes diplomáticos gozam de imunidade quando estão a desempenhar funções fora do seu
Estado para garantir um desempenho eficaz das funções das missões diplomáticas. Estas imunidades não significam
um desvio ao p. da igualdade dos cidadãos.
O PR goza de um regime dual – se por um lado goza de uma imunidade temporária pela prática dos crimes estranhos
ao exercício das suas funções, responde imediatamente por crimes praticados no exercício das suas funções (art.130
CRP). Deputados (art.157 CRP), as imunidades destes são funcionais, têm como principal objetivo salvaguardar a
independência do Parlamento enquanto órgão de soberania, através da proteção dos seus deputados. A opinião que
se emita não deve afastar-se, nem um milímetro, das funções parlamentares, tais opiniões ou votos devem cabe,
sem qualquer margem de dúvida, no núcleo essencial da função que curamos.
Membros do Governo (art.196 CRP).
As fontes do Direito Penal
A lei fundamental assume-se como fonte de direito penal. Não há uma obrigação de criminalizar atos ofensivos de
bens constitucionalmente protegidos (art.29 n1 CRP). Em caso algum o legislador ordinário poderá ultrapassar os
limites que a imposição constitucional consagra. A lei penal tem como limite a própria constituição, no sentido em
que não pode ser contrária ao texto constitucional. Limites de criminalização – direitos, liberdades e garantias – o
legislador penal não pode desrespeitar.

O direito penal português esta vinculado ao princípio da legalidade (art.1 n1 CP), tal princípio vem a traduzir-se
numa reserva de lei. O p. da legalidade encerra 3 vertentes: reserva da lei à AR; proibição de intervenção normativa
de regulamentos e exclusão do direito consuetudinário como fonte de definição de crimes.
Ato de criminalização – observadas duas garantias – respeito pelo art.18 n2 CRP (p. proporcionalidade) e o
cumprimento do princípio da separação de poderes (haver com a reserva de lei). Um movimento positivo da “lei
formal” a criminalização irá afetar os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Um movimento negativo ou de
descriminalização aumenta as margens de liberdade dos destinatários das normas.

Art.8 da CRP – outras fontes de direito penal. O direito internacional faz parte integrante do direito português,
vigorando na ordem interna. Os instrumentos internacionais, na medida em que contenham disposições de índole
criminal, devem também constituir fonte de direito penal, desde que não metam em causa o p. da legalidade.
São fontes de direito penal a Lei da AR, Decreto-Lei do Governo por aquela autorizado, os instrumentos
internacionais a que Portugal se tenha obrigado e que vinculem o Estado Português e as diretivas que tenham sido
transportadas para a ordem jurídica interna.

A Interpretação em Direito Penal


Linha metodológica interpretativa – passos essenciais para atingir o conteúdo da norma, o seu sentido incriminador
e o seu âmbito de proteção. Nesta linha tem de existir adequação ao sentido histórico.
O horizonte problemático da interpretação tem de operar-se a partir e de dentro do p. da legalidade.

A interpretação em direito penal está coberta por um conjunto de limitações, desde logo, a proibição de analogia.
Decorre do p. da legalidade e encontra-se prevista no art.1 n3 CP. O recurso à analogia não é permitido nos casos em
que tal recurso determine a agravação da responsabilidade criminal ao agente, o que aparenta indicar uma
permissão do recurso à analogia nas situações em que esta atue a favor do agente.

As leis – texto-norma – deve ser apreensível pelo destinatário, a sua significação deverá ser imediatizada de forma,
tanto quanto possível, clara. É aquilo que se apresenta ao intérprete como o texto da lei, isto é: a palavra do
legislador. Ao mais imediato e direto texto-norma subjaz sempre a correspondente norma-texto.
Norma-texto – configura aquilo que é pedido ao intérprete penal que obtenha como resultado de uma interpretação
fundada na hermenêutica e na metodologia enunciadas.

A Ordenação Fundamental da conduta (facto) punível


Se o bem é atingido na sua estrutura nuclear dá-se uma ofensa ao bem jurídico em causa. Primeiro patamar de
ofensividade – nadificação – total aniquilamento do próprio bem jurídico. Um bem jurídico singularmente imaterial
(honra) pode ser ofendido violentamente, mas por mais forte que seja essa concretização ela nunca poderá chegar à
nadificação. Segundo grau de ofensividade – crimes de perigo - o bem jurídico é posto em perigo quando a sua
normativa intencionalidade é perturbada por força de uma ação humana responsável. Terceiro grau – crimes de
perigo abstrato – art.139 CP. O objeto da violação ou o objeto de perigo de violação do bem jurídico reside na
relação da pessoa com o próprio objeto de valoração.

A categoria operatória para o direito penal é aquela que se estrutura no eixo vertical (supra-infra ordenação) da
compreensão dos bens jurídicos visto a partir do indivíduo.
O p. da ofensividade contribui para o afastamento da legitimidade de punição de comportamentos eventualmente
vistos como imorais (homossexualidade) mas que não tem relevância penal, porque são comportamentos
legitimamente acordados desde que tal aconteça entre maiores.

Uma conduta é merecedora de pena sempre que seja considerada socialmente danosa. O ordenamento jurídico-
penal valora mais intencionalmente o desvalor de resultado danoso que o desvalor de resultado perigoso. O dano
social que provoca morte é estruturalmente diferente daquele que é causado por tentativa de matar. Ambos os
comportamentos são merecedores de pena, porém de penas diferentes.

A necessidade de tutela relaciona-se com a ideia de que os bens jurídicos devem ser protegidos, tutelados, pelo
direito penal. O direito penal só poderá intervir quando outras formas de tutela se mostrem insuficientes para
assegurar a sua proteção.

Mínimo ético – o direito será representado pelo mínimo de preceitos morais necessários para o bem-estar da
coletividade em que o indivíduo está inserido, sendo o direito uma ferramenta que tem como função garantir o
cumprimento desse mínimo ético necessário. Só é censurável pelo legislador a conduta que segundo a sua avaliação
historicamente situada atinge um mínimo ético relevante de um ponto de vista penal.

A conceção de conduta punível é uma concessão bipartida, integrando o ilícito-típico e a culpa. O ilícito-tipo por si
só não pode determinar uma qualquer punição. A toda a pena criminalmente relevante tem de corresponder um
ilícito-tipo que leve consigo uma culpa criminal.
Valor de cuidado (traduz uma evitação de resultados penalmente desvaliosos); Desvalor de cuidado (cristaliza não
evitação – causação – de resultados desvaliosos).

Evolução facto punível:


 Concessão clássica do crime – crime era composto por uma bipartição entre a vertente objetiva (constituída
pela ação típica e ilícita) e a vertente subjetiva (ação culposa).
 Concessão neoclássica do crime – Em oposição ao anterior, parte da premissa de uma irredutibilidade entre
o mundo da natureza e o mundo dos valores. Tem como crítica a separação entre o mundo do ser e o mundo
do dever-ser.
 Concessão finalista do crime – a ação humana corresponde a um comportamento orientado para certos fins,
previamente determinados. Cruzamento entre o mundo do ser e o mundo do dever-ser.
Hoje caminha-se por superações e derivações das duas últimas grandes doutrinas do crime.

A conduta típica (o Tipo)


Garantia (anteriormente referida). A função de garantia do direito penal impõe a sujeição a um estrito p. da
legalidade, este só tem pleno sentido se se conformar às exigências da disciplina da proibição da analogia e da
proibição da aplicação retroativa da lei penal. Só uma lei referida pelo Parlamento ou por ele autorizada representa o
comando jurídico capaz de limitar os direitos, liberdades e garantias.

Elementos do tipo
Elementos objetivos
Integram os elementos descritivos (determinação se faz através da descrição da sua enunciação, atarves de um juízo
de existência) e elementos normativos (todo e qualquer elemento cujo conteúdo – sentido - e limites só podem ser
percebidos fazendo apelo a um código de normatividade fora do direito penal).

Elementos subjetivos – aqueles que exigem uma determinada intenção por parte do agente do crime (art.203 CP).

Elementos da Gesinnung – referem-se à atitude espiritual do agente perante o mundo, perante o direito. Concessão
muito criticada, direito penal do facto para um direito penal do agente.

O ilícito constitui o conteúdo material do tipo.


Os princípios que iremos analisar são “sombra” do tipo, o tipo lança para fora de si certos princípios e por outro lado
são o seu pilar.

Princípio da legalidade estrita – não podemos conceber um tipo legal de crime que não se submeta a este princípio.
Proibição da analogia.
Princípio da determinabilidade – assenta na ideia de que os elementos previstos no tipo devem ser certos, precisos
e determinados.
Proibição de retroatividade – permite que exista uma garantia na estrutura lógico-material do tipo.
Princípio da adequação social e do mínimo de dignidade penal – quando os comportamentos são socialmente
adequados, nem sequer preenchem o tipo. Mesmo não se tratando de comportamentos socialmente adequados,
não alcançam o patamar mínimo para ascenderem à discursividade penal.
Princípio in dubio pro libertae – toda a interpretação que se faça do tipo legal de crime deve ser levada a cabo no
sentido de favorecer a liberdade.

Imputação objetiva – atribuir a alguém a responsabilidade penal por um crime sem analisar o dolo ou a culpa do
agente, ignorando a análise subjetiva. Formas de compreensão da imputação de um facto a um agente:
Comportamentos lícitos alternativos – representam uma forma de limitação da imputação objetiva, na justa medida
em que afastam a imputação nos casos em que o resultado se tivesse produzido mesmo que a ação ilícita não se
tivesse realizado.
Risco permitido – referem-se àquelas situações em que não existe, verdadeiramente, a criação de um risco em
termos jurídico-penalmente relevantes.
Risco diminuído – refere-se aos casos em que o agente atua no sentido de diminuir o risco criado por outro, ainda
que a sua conduta possa não ter influído de forma concreta no resultado.
Apenas poderá ser imputado um resultado contido na proibição visada pela norma.

Responsabilidade pessoas coletivas – art.11 CP.

Tipos de tipicidade
Os tipos de tipicidade correspondem às formas sistemáticas de perceção da arrumação dos tipos legais de crime
tendo em conta as suas características comuns.

Quanto à conduta:
Crimes de ação – aqueles em que existe por parte do agente uma atuação positiva.
Crimes de omissão – agente não realizar um comportamento que lhe é juridicamente imposto ou exigido.
Crimes de realização livre – comportamento que A para com B não importando a maneira.
Crimes de realização vinculada – tipo que exige que o resultado proibido se verifique de uma certa maneira.
Crimes de mera atividade – agente leva a cabo um comportamento proibido.
Crimes de resultado – implicam a produção de um evento como resultado do comportamento do agente.

Quanto ao bem jurídico (modo de ofender o bem jurídico):


Crimes de dano – existe uma efetiva lesão do bem jurídico protegido.
Crimes de perigo – será suficiente para o preenchimento do tipo a colocação em perigo do respetivo bem jurídico.
Crimes de perigo concreto – exige-se que o bem jurídico protegido tenha sido colocado em perigo.
Crimes de perigo abstrato – é a existência de uma perigosidade que fundamente a incriminação.
Crimes simples ou complexos – consoante esteja em causa a proteção de um ou mais bens jurídicos no mesmo tipo
legal de crime.
Crimes individuais e supraindividuais.

Quanto ao sujeito – crimes comuns e crimes especiais (apenas admitem uma pessoa com certas qualidades). Crimes
especiais puros (o dever especial ou qualidade do autor fundamentam a sua responsabilidade); impuros (não são a
qualidade ou o dever do autor que fundamentam a responsabilidade, apenas constituindo suas agravantes).
Quanto ao momento de consumação – Crimes de realização instantânea (momento de consumação não prolonga
no tempo) e crimes permanentes (quando a consumação perdurar no tempo – rapto art.158 CP).
Crimes preterintencionais – existência de um crime fundamental doloso e de um evento agravante que não foi
abrangido pelo dolo do agente.

A conduta ilícita (o ilícito)


A ilicitude revela-se na ofensa aos bens jurídico-penais. O sentido mais profundo da ilicitude encontra-se associado
ao p. da ofensividade. Tanto o desvalor de ação quer o desvalor de resultado são desvalores com dignidade penal e
merecem pena. Desvalor de ação – atitude do agente face ao facto que leva a cabo – ex: punibilidade de tentativa
(aquela ação, mesmo sem que tenha produzido um resultado desvalioso da perspetiva da ofensividade de dano-
violação, tem de ser punida sob determinadas condições art.23 CP). Desvalor de resultado de dano-violação –
alteração do real-verdadeiro que causa a lesão de bens jurídicos.
Bem jurídico – pedaço da realidade com densidade axiológica olhado como relação comunicacional a que a ordem
jurídico-penal atribui dignidade penal. A ideia de bem jurídico derivou da necessidade de um conceito uno de crime
e, no início do séc.XIX, deu os seus primeiros passos como o objeto de ofensa de direitos subjetivos.

Fundamentos de justificação – as normas jurídicas estruturam-se em dois elementos: elementos de facto (define o
seu âmbito de aplicação) e uma consequência jurídica, nas normas penais, o elemento de facto (conduta delitiva) é
designado de norma primária e a consequência jurídica (pena) de norma secundária. Os tipos penais são normas de
comportamento: proibições e imposições de determinado comportamento e permissões e isenções que permitem
um determinado comportamento ou a sua omissão – retângulo deontológico. As causa da justificação são aquelas
situações em que um facto típico não é ilícito dado que a lei assim o permite ou o isenta.

Princípio da unidade da ordem jurídica (art.31 n1 CP) – quando uma conduta é considerada lícita por um outro ramo
de direito não pode ser considerada penalmente ilícita.

Elemento subjetivo de justificação – o autor deve ter conhecimento dos pressupostos objetivos da respetiva
justificação ao agir.

Efeitos dos fundamentos de justificação – verificando-se a conjugação dos elementos objetivos e subjetivos da causa
de justificação, estamos perante um facto lícito. O agente tem um direito que pode ser exercido, se necessário, com
recurso à força. A situação de justificação não pode ser provocada intencionalmente pelo agente.
Relação de especialidade em sentido formal – a consequência daqui decorrente é que a ação não é justificada
quando faltarem os pressupostos específicos de uma particular causa de justificação (ex, pág.309).

Concretizações legais de fundamentos de justificação


Legítima defesa (art.32 CP) – exclui a ilicitude com base em dois fundamentos principais: a ideia de defesa da ordem
jurídica e o direito de proteção contra bens jurídicos que sejam ameaçados. Impõe-se que esteja sujeita a um p. de
proporcionalidade. Tem como requisitos:
 Agressão atual e ilícita contra interesses juridicamente protegidos. Apenas será atual quando já se encontra
em execução ou quando essa execução seja iminente. Tem de ser contra interesses juridicamente protegidos.
 Ação de defesa no sentido de que o defensor use o meio necessário para afastar a agressão. Este direito não
pode ser exercido acima da permissão que se lhe encontra subjacente. O desrespeito pela necessidade traduz-
se num excesso de legítima defesa (art.33 n1 CP).
 Animus defendendi.

Exercício de um direito – caso que a lei isenta o agente da responsabilidade criminal na medida que lhe atribui um
direito de agir (art.31 n2 CP). Não é ilícito o facto praticado no exercício de um direito. Configura-se tanto na legítima
defesa como no estado de necessidade.

O estado de necessidade justificante (art.34 e 35 CP) – radica no p. do interesse preponderante. Em caso de colisão
de interesses deve considerar-se a conduta salvadora do bem ou interesse mais importante.
Perigo atual (art.34 CP) – o bem ou interesse protegido tem de se encontrar efetivamente em perigo. A situação de
perigo não pode ter sido criada pelo agente.
Adequação – o facto praticado tem de ser um meio necessário para afastar o perigo.
Ponderação de interesse – art.34 b) c), trata-se de uma ideia de razoabilidade de imposição do sacrifício.

Consentimento – enquanto causa de justificação é a manifestação dos valores de autonomia e da liberdade da


pessoa. Os pressupostos estão estabelecidos no art.38 CP. O facto consentido não pode ofender os bons costumes
(art.149 n2 CP). O consentimento presumido só é eficaz quando não se possa ser obtido consentimento efetivo.

Conflito de deveres (art.36 CP) – O agente encontra-se obrigado a agir, não podendo ter escolha quanto à
salvaguarda ou não de um dos deveres. Na impossibilidade de cumprir ambos privilegia-se um deles. Cumprimento
de um dever ou de uma ordem exclui a ilicitude.

Outras causas de justificação:


Ação direta (art.366 CP) – apenas é lícita se assegurar o próprio direito e se o agente não exceder o necessário para
evitar o prejuízo.
Agere pro magistratu – poder punitivo como o legitimo uso da força, pertence ao Estado.
Facto de consciência (art.41 CP).
Estado de necessidade defensivo – casos em que a lesão ou perigo da lesão em causa não preencherem os
requisitos da legitima defesa.

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