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Unidade I

Conceito, funções, estrutura e princípios fundamentais (constitucionais) do Direito Penal

1. O que é e para que serve o Direito Penal?


• “Direito Penal é o conjunto de princípios e regras destinados a combater o crime e a contravenção penal, mediante
a imposição de sanção penal. Na lição de Aníbal Bruno: O conjunto das normas jurídicas que regulam a atuação
estatal nesse combate contra o crime, através de medidas aplicadas aos criminosos, é o Direito Penal. Nele se
definem os fatos puníveis e se cominam as respectivas sanções – os dois grupos dos seus componentes
essenciais, tipos penais e sanções. É um Direito que se distingue entre os outros pela gravidade das sanções que
impõe e a severidade de sua estrutura, bem definida e rigorosamente delimitada.” (Masson)

• “É o conjunto de normas jurídicas voltado à fixação dos limites do poder punitivo do Estado, instituindo infrações
penais e as sanções correspondentes, bom como regras atinentes à sua aplicação”. (Nucci)

• “Ramo do Direito Público que se ocupa de estudar os valores fundamentais sobre os quais se assentam as bases
da convivência e da paz social, os fatos que os violam e o conjunto de normas jurídicas (princípios e regras)
destinadas a proteger tais valores, mediante a imposição de penas e medidas de segurança”. (Estefam e
Gonçalves)
2. Funções do Direito Penal

• Direito Penal como instrumento de proteção de bens jurídicos;


• Direito Penal como instrumento de controle social;
• Direito Penal como garantia;
• Função simbólica.

3. Norma penal incriminadora (estrutura)

Cada dispositivo da lei penal é uma norma, e a norma incriminadora estrutura-se em artigos, compostos, na
parte especial, de 02 preceitos:

 Preceito primário: descrição da conduta – tipo penal


 Preceito secundário: sanção abstratamente cominada em um valor mínimo e um máximo.

Exemplo:
Artigo 121, CP – Matar alguém (preceito primário)
Reclusão de 6 a 20 anos (preceito secundário)
4. Normas penais não incriminadoras (estrutura)

Permissivas: afastam a punibilidade do agente, ou seja, tornam lícitas determinadas condutas tipificadas em leis
incriminadoras.

Exemplo:
Art. 128 (não se pune aborto praticado por médico.....), art. 23 (não há crime ..... - excludentes de
ilicitude: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito).

Explicativas (complementares): esclarecem o conteúdo de outras normas e delimitam o âmbito de


sua aplicação.

Exemplo:
Arts. 1º, 2º, 3º etc.
5. Fontes do Direito Penal

5.1. MATERIAL / DE PRODUÇÃO / SUBSTANCIAL: ÓRGÃO QUE ELABORA - A única fonte material de
Direito Penal é o ESTADO – UNIÃO – LEI FEDERAL
• Competência privativa da União para legislar sobre matéria penal (CF, art. 22, inc. I).
• Iniciativa de leis penais: membros do Congresso Nacional; Presidente da República; Iniciativa
Popular (art. 61, § 2º CF).

5.2. FORMAL / DE COGNIÇÃO / DE CONHECIMENTO: MODO PELO QUAL O DIREITO PENAL


EXTERIORIZA-SE. Pode ser:
 Imediata/direta/primária: LEI – princípio da estrita legalidade
 Mediata/indireta/secundária: incidem somente na seara da licitude penal, ampliando-a, ou seja, só podem
servir como base para normas penais permissivas.
 COSTUMES: conjunto de normas de comportamento obedecidas uniformemente como se obrigatórias
fossem. Não cria ou revoga crimes, mas influencia na interpretação e elaboração da lei penal (Ex.
interpretação de “atos obscenos”, art. 215 CP).
 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO premissas éticas extraídas do material legislativo
 ANALOGIA IN BONAM PARTEM: só pode ser utilizado para ampliar o ius libertatis
6. Princípios Constitucionais
• Princípio da legalidade:
1. Definição
Histórica: “nullum crimen, nulla poena,sine lege previa”. (Origem na Magna Carta do Rei João Sem Terra)
Legal: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. (art. 1º do CP e art. 5º,
XXXIX, CF/88).
garantia política: constitui limitador do poder punitivo estatal
garantia jurídica: impõe a necessidade de delimitação rígida do conceito de crime. A descrição do tipo penal deve ser
exaustiva, não deixando margem para interpretações dúbias ou controversas. Ex: adultério
2- Reserva legal e anterioridade
Reserva legal: A pena deve estar cominada em lei em sentido estrito.
O art. 22, I, da CF/88 determina competir, privativamente à União legislar sobre Direito Penal. Entretanto, lei
complementar federal pode autorizar os Estados membros a legislar sobre Direito Penal, porém, somente em
questões específicas de interesse local (§ único, do art. 22).
Questões específicas podem ser: uma regra penal sobre trânsito em uma determinada localidade, sobre meio
ambiente em uma região. Assim, nenhum Estado está autorizado a legislar sobre temas fundamentais do Direito Penal
(sobre princípio da legalidade ou sobre as causas de exclusão da ilicitude,por exemplo).

Anterioridade: A questão da irretroatividade maléfica da lei penal.


A pena deve estar prevista em lei vigente ao tempo da infração penal e não pode alcançar fatos anteriores à sua
vigência. Esta regra não se aplica somente a tipos penais incriminadores ou às penas, mas a toda lei penal que de
alguma forma aumente o poder punitivo estatal, como, por exemplo, lei que restrinja a prescrição ou mude a iniciativa
da ação penal.
• “Sobreprincípio” da Dignidade da Pessoa Humana – art. 1º, III CF

“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: (...). III - a dignidade da pessoa humana”;

• Proporcionalidade/Razoabilidade : A existência do crime e a pena devem ser proporcionais à gravidade da conduta


praticada. A sanção não pode ser exageradamente alta extrapolando os fins da sanção penal (proibição do excesso /
Übermassverbot), mas também não pode ser insuficiente à proteção do bem jurídico (proibição à proteção deficiente /
Untermassverbot).

• Insignificância/Lesividade/Ofensividade:
• Fragmentariedade
• Subsidiariedade/Intervenção Mínima (ultima ratio)
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. 1. A apanha de apenas quatro minhocuçus não desloca a
competência para a Justiça Federal, pois não constitui crime contra a fauna, previsto na Lei nº 5.197/67, em face da aplicação do
princípio da insignificância, uma vez que a conduta não tem força para atingir o bem jurídico tutelado. 2. Conflito conhecido. Declarada a
competência da Justiça Estadual para o julgamento dos demais delitos. Concedido, porém, habeas corpus de ofício trancando, em face
do princípio da insignificância, a ação penal referente ao crime previsto na Lei nº 5.197/67, exclusivamente. (CC 20.312/MG, Rel. Ministro
FERNANDO GONÇALVES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 01/07/1999, DJ 23/08/1999, p. 72)
• Individualidade ou individualização da pena (art. 5° , XLVI, CF/88): A pena deve ser individualizada
segundo as características de cada autor.
Desenvolve-se em 3 (três) momentos:
• o legislativo, com a fixação das penas para cada tipo criminoso, observado o critério da
proporcionalidade;
• o judicial, com a fixação da pena dentro dos limites estabelecidos pela norma penal;
• o executivo, com a adequação do cumprimento da pena.

• Personalidade ou Intranscendência (art. 5.º, XLV, da CF/88):

“Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido;”

• Humanidade (art. 5º, XLVII da CF/88):

Estão proibidas as penas cruéis que tragam castigos físicos, que acarretem infâmia para o condenado ou
trabalhos forçados (art. 5º, XLVII da CF/88);
Vídeos – Aulas Complementares
https://www.youtube.com/watch?v=Oek7l4dWSmU

https://www.youtube.com/watch?v=kbLGg0mZuzA

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