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Vítimas fatais:
XXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXX
Peticionários/Vítimas Indiretas:
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Defensoria Pú blica competência para acessar o Sistema Interamericano dos Direitos
Humanos, vêm, respeitosamente, à presença de Vossas Excelências, apresentar seu
Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXX
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SUMÁRIO
1. Introduçã o................................................................................................................................................. 11
2. Objeto.......................................................................................................................................................... 15
3. Determinaçõ es de Fato........................................................................................................................ 17
5. Fundamentos de Direito......................................................................................................................45
5.1. Preliminares..................................................................................................................................... 45
5.1.1. Competência................................................................................................................................ 45
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6. As reparaçõ es........................................................................................................................................... 63
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6.3.2. Medidas de compensaçã o..................................................................................................74
6.3.2.2. Dano moral em prejuízo dos familiares das vítimas fatais da operaçã o
XXXXXX 75
7. As provas.................................................................................................................................................... 77
9. Pedidos........................................................................................................................................................ 83
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1. Introdução
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Com efeito, no sistema jurídico brasileiro, a Defensoria Pú blica é o ó rgã o
encarregado de prestar assistência jurídica integral e gratuita à s pessoas necessitadas.
Estabelece a Constituiçã o da Repú blica Federativa do Brasil, no artigo 5º, LXXIV, que “o
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos”. Mais adiante, estabelece a Constituiçã o, no artigo 134, que:
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No exercício da autonomia funcional, os Defensores Pú blicos Estaduais têm
competência para o acionamento dos mecanismos internacionais de proteçã o dos
direitos humanos, em defesa das pessoas necessitadas.
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Em XXX de março de XXXX, a Comissã o Interamericana de Direitos Humanos
aprovou o Relató rio de Admissibilidade no XXX, referente à denú ncia apresentada pela
Federaçã o Interamericana de Direitos Humanos contra o Estado brasileiro em razã o das
mortes ocorridas em XXX de XXXX de XXXX, no que ficou conhecido como “caso XXX”. As
partes foram notificadas em XXXXXX para tentativa de soluçã o amistosa do conflito, o
que nã o ocorreu.
Em XXXX, a Comissã o aprovou o Relató rio de Mérito no XXXX, que concluiu pela
responsabilidade do Estado brasileiro pela violaçã o dos artigos 4 (direito à vida), 5
(direito à integridade pessoal), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteçã o judicial) da
Convençã o Americana sobre Direitos Humanos (doravante “CADH”), pelos fatos
ocorridos e apurados no caso “XXXXXX”. Neste Relató rio foram feitas as seguintes
recomendaçõ es ao Estado brasileiro4:
4
CIDH, Relató rio de Mérito no xxxxx
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4. O Estado deve adotar todas as medidas legais, administrativas e de qualquer
outra índole que sejam necessá rias para evitar que fatos similares voltem a
ocorrer no futuro; em especial, o Estado deve contar com um marco jurídico
sobre o uso da força que seja compatível com os padrõ es assinalados no
presente relató rio. Além disso, deve contar com programas permanentes de
educaçã o em direitos humanos dirigidos aos membros da Polícia Nacional, e
capacitaçã o e treinamentos perió dicos, em todos seus níveis hierá rquicos,
com ênfase especial no uso legítimo da força.
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2. Objeto
Assim, este escrito irá expor argumentos e provas acerca das violaçõ es
perpetradas pelo Estado brasileiro contra as vítimas, tendo sido desrespeitados os
seguintes direitos consagrados na Convençã o Americana de Direitos Humanos:
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emboscada, o que impede ou dificulta sobremaneira o acesso judicial das
vítimas para viabilizar a reparaçã o por parte do Estado.
Como consequência, solicita-se que esta Corte ordene ao Brasil que repare
adequadamente os familiares das vítimas fatais do caso “xxxxxx”, promova uma
investigaçã o imparcial e independente sobre o caso e adote medidas preventivas contra
a violência policial e execuçõ es sumá rias, nos termos dos pedidos elaborados na Seçã o 9
deste escrito.
3. Determinações de Fato
No dia xxxxxxxxxxxxx, por volta das 7h30min da manhã , logo apó s atravessar a
praça de pedá gio localizada na Rodovia José Ermírio de Moraes, também conhecida
como “xxxx”, no município de Itu - SP, o ô nibus em que se encontravam xxxxxxxxxxxxx
foi interceptado por uma blitz organizada pelas forças policias do estado de Sã o Paulo e
alvejado por mais de 700 disparos de armas de fogo.
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Tomando ciência do crime por meio do Grupo de Repressã o e Aná lise dos Delitos
de Intolerâ ncia (GRADI) – grupo da polícia militar de Sã o Paulo inicialmente criado para
investigar delitos de intolerâ ncia, porém deslocado para investigaçã o de crimes
envolvendo o crime organizado –, as forças repressivas do estado de Sã o Paulo
organizaram um cerco rodoviá rio aos supostos criminosos, que, segundo os relatos
policiais, estariam fortemente armados e teriam reagido à abordagem, levando os mais
de 100 agentes envolvidos na operação a revidarem, disparando contra o ô nibus.
Na época dos fatos, a operaçã o foi saudada por parte da mídia e da sociedade
civil como de grande sucesso na repressã o ao crime organizado, rendendo dividendos
aos ó rgã os de segurança pú blica do estado. Tais ó rgã os encontravam-se pressionados
pela opiniã o pú blica, tendo em vista a escalada da violência no estado de Sã o Paulo ao
longo do ano de 2001. Naquele ano, os paulistas assistiram ao aumento do nú mero de
sequestros, inclusive de personalidades conhecidas em â mbito nacional como o
apresentador Silvio Santos e o publicitá rio Washington Oliveto, além da ocorrência de
uma megarrebeliã o nos presídios paulistas, organizada pelo Primeiro Comando da
Capital.
Tais fatos acarretaram intensas críticas ao governo paulista, visto pela sociedade
como incapaz de responder à s açõ es do crime organizado. Nesse sentido, a operaçã o
“xxxxxxx” foi um “alívio” ao Secretá rio de Segurança do Estado de Sã o Paulo, Saulo de
Castro Abreu Filho, já que positivamente avaliada pela opiniã o pú blica.
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Em xxxxxx, uma notícia veiculada no jornal “Folha de S. Paulo”5 estampava a
manchete “Sem apoio na lei, PM recruta presos para combater o PCC”. A notícia expos as
prá ticas empregadas pelo GRADI, comparado ao “esquadrã o da morte” que operou no
estado de Sã o Paulo nos anos 70 e que também ficou conhecido por assassinar
sumariamente pessoas que suspeitava serem criminosas. Um dos trechos da
reportagem trata do modus operandi do grupo:
5
Folha de S. Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u55726.shtml,
Acesso em: 25 de outubro de 2021.
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caminho rumo a Sorocaba, para serem executadas apó s o pedá gio na rodovia
Castelinho.
...
6
Anexo I, p. 3.
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Para as vítimas que tiveram resultados positivos, ficam as dú vidas
lançadas pelos peritos, nã o podendo se afastar a possível contaminaçã o
por transferência ou contato com resíduos, no entanto descartando-se
qualquer possibilidade de erro de colheita ou técnica, já que os exames
foram realizados por profissionais há beis e tecnicamente preparados.
Portanto podemos também indiretamente concluir, que o argumento
de intenso tiroteio fica questionável, uma vez que temos nove
resultados negativos, pois um método altamente sensível jamais
falharia em tantos casos (dezoito exames por ter sido feito em ambas as
mã os), principalmente em mã os que usaram intensamente armas de
fogo como o alegado e três outros casos positivos, com fortes dú vidas
de contaminaçã o pelo contato das mã os contaminadas dos soldados no
momento da remoçã o7. (grifamos)
Portanto, a tese de que a operaçã o policial teria sido motivada por uma suposta
agressã o injusta das vítimas resta completamente soterrada, com os elementos todos
apontando para a execuçã o sumá ria dos passageiros do ô nibus. Tanto é assim que
“aná lise técnica dos laudos referentes à s mortes ocorridas”, também elaborada pelo
Prof. Dr. XXXXXXX, demonstra que as vítimas foram completamente alvejadas pelos
policiais, atingidas por 61 disparos, muitos deles perpendiculares, sendo possível
concluir que “9 vítimas apresentam lesõ es em membros superiores, algumas com
características de posiçã o de defesa, como entende a medicina legal daquelas
localizadas em antebraço8”.
Logo, a conclusã o que se chega da aná lise global dos fatos ocorridos em XXXX é a
de que as 12 (doze) vítimas fatais da operação “XXXX” foram sumariamente
7
Anexo VII, p. 12/13.
8
Anexo VIII, p. 28.
9
Anexo V.
10
Anexo III e Anexo IV.
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executadas pelas forças policiais do estado de São Paulo, em ação planejada
previamente com o único propósito de eliminá-las.
11
CIDH, Relató rio Nº XXXXX
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3.2. As investigações e o processo judicial
Diante dos fatos relatados no tó pico 3.1 acima, era de se esperar uma profunda
investigaçã o por parte do Estado brasileiro em relaçã o ao ocorrido na operaçã o
“XXXXX”, bem como sobre a atuaçã o do GRADI e o envolvimento dos juízes corregedores
e do Secretá rio de Segurança Pú blica do Estado, no contexto da repressã o ao crime
organizado no â mbito do estado de Sã o Paulo.
Entretanto, nã o foi o que ocorreu. De plano, cumpre destacar que, dos 100
(cem) agentes policiais que participaram da operação, somente 53 (cinquenta e
três) foram denunciados e processados criminalmente.
Com relaçã o aos réus com foro privilegiado por prerrogativa de função,
XXXX (Secretá rio de Segurança Pú blica), XXXXX (Juiz de Direito) e XXXXX (Juiz de
Direito), não houve sequer denúncia, ou seja, sequer foi iniciado o competente
processo judicial no âmbito penal. Embora tenha sido instaurado o inquérito policial
no 97.122/01, a denú ncia foi rejeitada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo,
ó rgã o competente dentro do ordenamento jurídico brasileiro para aceitar (ou nã o) a
denú ncia e julgar tais autoridades.
Tal decisã o causou estranheza, uma vez que ficou demonstrado que os juízes
corregedores agiram de forma ilegal no que toca à liberaçã o de presos para a
cooperaçã o com o GRADI, como destacado no pró prio acó rdã o vencedor, que rejeitou a
denú ncia:
12
Anexo IX, p. 9.
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Ou seja, o Tribunal de Justiça reconheceu a atuaçã o ilegal13 por parte dos
magistrados, além de apontar a inconstitucionalidade da atuação do GRADI 14, visto
que ó rgã o da polícia militar, portanto incompetente para conduzir investigaçõ es;
porém, nã o enxergou relevâ ncia suficiente para que tal fato ensejasse a abertura de açã o
penal para melhor investigaçã o.
13
O princípio da legalidade vem expressamente consignado no Artigo 5 o, inciso II da CRFB: ”ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Naquilo que toca à atuaçã o dos
agentes pú blicos, a doutrina brasileira é pacífica no sentido de que “vige em sede de administração pública
o princípio de que ao gestor somente é possível fazer o que a lei expressamente autoriza, não sendo
lícita a atuação que dela se afaste, ainda que inexistente norma jurídica de conteúdo proibitivo ”.
(grifamos). SOUZA, Motauri Ciocchetti. Administração Pública. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso
Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito Penal.
Christiano Jorge Santos (coord. de tomo). 1. ed. Sã o Paulo: Pontifícia Universidade Cató lica de Sã o Paulo,
2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/411/edicao-1/administracao-
publica
14
O artigo 144, §§ 4º e 5º da CRFB estabelece as competências das polícias civil e militar: ” § 4º À s
polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
Uniã o, as funçõ es de polícia judiciá ria e a apuraçã o de infraçõ es penais, exceto as militares; § 5º À s
polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservaçã o da ordem pú blica; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuiçõ es definidas em lei, incumbe a execuçã o de atividades de defesa civil.
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estar-se em presença de uma aventura fantasiosa repleta de mentiras15.
(grifamos)
Já no que tange aos réus sem foro privilegiado por prerrogativa de função,
ou seja, os policiais envolvidos na operação e os presos infiltrados, instaurou-se a
açã o penal no XXXXXX, que concluiu pela impronúncia dos réus, diante da ausência de
provas sobre a premeditaçã o da operaçã o com o intuito de exterminar as 12 (doze)
vítimas. Tal decisã o foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo. Porém,
tanto a etapa de investigaçã o, durante o inquérito policial, quanto a açã o penal estã o
repletas de falhas, conforme bem apontou o Ministério Pú blico de Sã o Paulo, no recurso
de apelaçã o que interpô s contra a decisã o de impronú ncia dos réus:
15
Anexo X, p. 3.
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Há testemunha e mesmo policiais que dã o conta que o sangue caía pelos
degraus do ô nibus.
As fotografias alusivas ao ô nibus demonstram o nú mero de tiros que
atingiram-no.
Há testemunhas, inclusive, que informa que houve duas sessõ es de
disparo e gemidos entre elas.
Tal permite logicamente inferir que pretenderam exterminar os demais,
quer para acabar com as pessoas que pudessem falar do plano urdido,
quer excesso de operaçã o.
Nã o bastasse isso, há informes que os disparos iniciais nã o partiram do
ô nibus.
Fotografias e informes, demonstram que as armas estavam limpas, com
pouquíssimo material hemá tico, o que nã o se coaduna com a versã o de
que as armas estavam à disposiçã o das vítimas.
Pelo contrá rio, há referenciamento de testemunha de que a arma
estaria no maleiro e nã o a disposiçã o dos policiais.
Como se vê, a prova era bastante de modo a permitir, em face da
procedência da pronú ncia, instando-se o julgamento pelo Juízo Natural,
o Colendo Conselho de Sentença de Jú ri Popular16. (grifamos)
Um dos pontos destacados pelo Ministério Pú blico, como se vê, foi o da subtraçã o
das imagens referentes à s câ meras de segurança localizadas na praça de pedá gio em
que foi deflagrada a operaçã o. Isso porque consta de testemunho da
funcionáriXXXXXXXXX (responsável pela concessão da rodovia à época), XXXXXX,
que “um policial militar solicitou a entrega das filmagens das câmeras de
segurança e as entregou após consultar o seu chefe”17.
O sumiço das gravaçõ es das câ meras da praça de pedá gio nã o é o ú nico fato a
chamar atençã o. O local dos fatos também não foi preservado pelos policiais
envolvidos na operação, de forma a mantê-lo íntegro para realizaçã o de uma
adequada perícia técnica sobre as causas e circunstâ ncias das mortes. Sequer cabe a
alegaçã o de que a alteraçã o do local se deu para viabilizar socorro à s vítimas, uma vez
16
Anexo XI, p. 147/152.
17
Anexo XII, p. 15.
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que todas já se encontravam indubitavelmente mortas, devido à enorme quantidade
de disparos, conforme analisado no tó pico anterior.
De igual sorte, chama atençã o que operaçã o de tamanho risco, conforme versã o
dos policiais envolvidos, nã o contasse sequer com uma ambulâ ncia que pudesse prestar
primeiros socorros a eventuais feridos em confronto, em especial das pró prias forças de
segurança. Se as autoridades conheciam o risco da operaçã o, por qual razã o ignoraram
procedimento tã o bá sico?
Outro ponto falho com relaçã o à s investigaçõ es foi quanto à real existência do
aviã o pagador, tendo em vista que não foram ouvidas testemunhas que trabalhavam
no aeroporto de Sorocaba ou no Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo
(DAESP), que confirmassem a versão do assalto.
18
Folha de S. Paulo, notícia de 28 de julho de 2002, Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2807200204.htm, Acesso em 28 de outubro de 2021.
19
Jornal da Globo, ediçã o de 05 de março de 2002, Disponível em: Jornal da Globo - Veja as principais
notícias do Brasil e do mundo no site do telejornal, com apresentaçã o de William Waack e Cristiane Pelajo
- NOTÍCIAS - Feliz exceçã o, Acesso em: 28 de outubro de 2021.
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existiu de fato. Frise-se que a informaçã o a respeito do aviã o pagador era de fá cil
obtençã o, bastando um mero ofício aos administradores do aeroporto de Sorocaba,
razã o pela qual se estranha que isso nã o tenha sido feito ao longo das investigaçõ es.
A ausência de uma cadeia de custó dia mínima com relaçã o à s provas do caso
“XXXXX” foi notada pela CIDH, que, no Relató rio no XXXX, apontou:
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possíveis de investigaçã o sobre as circunstâ ncias do caso e identificaçã o
dos autores. De fato, dos 100 agentes que teriam participado na
operaçã o, somente 53 pessoas foram processadas. Além disso,
identifica-se que nã o se desenvolveram linhas de investigaçã o
relacionadas com os fatos prévios à operaçã o. Embora conste no
processo que infiltrados teriam participado na operaçã o, nã o se
identifica que se investigou o papel dos infiltrados, nem o grau de
conhecimento que a polícia tinha sobre o suposto ataque. Tampouco
conta-se com evidência que ateste que o Estado realizou as perícias
tendentes a determinar como ocorreram os fatos, nem a estabelecer se
as supostas vítimas teriam aberto fogo, atendidas as diversas
declaraçõ es que sugeriam que as supostas vítimas nã o haviam atacado
a polícia. Tampouco identifica-se que foi desenvolvida uma linha de
investigaçã o tendente a determinar se as supostas vítimas estavam
armadas no momento dos fatos, dadas as diversas declaraçõ es sobre
este ponto. Tampouco consta que se aprofundou nos aspectos relativos
à falta de evidências, como os vídeos que poderiam servir de prova
sobre o desenvolvimento dos fatos. Dessas ações, então, não se
depreende que se investigou diligentemente a hipótese de que as
supostas vítimas foram executadas extrajudicialmente, mas que se
teria procedido com desvio das regras racionais de investigação
criminal, o que constitui indício de uma vontade dirigida
deliberadamente para tal fim.20 (grifamos)
20
CIDH, Relató rio Nº XXXXX
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absolviçõ es nã o foram sustentadas com elementos adicionais que por
sua vez dessem conta da veracidade dos elementos probató rios. Assim,
por exemplo, nã o se conta com elementos que atestem que se realizou
perícia na bala encontrada em uma casa vizinha, nem que houve
corroboraçã o de que o disparo que feriu um policial tenha provindo das
armas das supostas vítimas. Tampouco se aprofundou em como a
existência de uma pessoa presa se vincularia à atribuiçã o da tese de
legítima defesa. Por outro lado, nã o fica claro nas determinaçõ es do
tribunal nacional a maneira em que desvirtuou o resto dos indícios que
apontavam o uso desproporcional da força, ainda mais que, como se
indicou, existiram omissõ es na prá tica de diligências essenciais para
determinar o ocorrido. Neste sentido, a Comissã o observa que as
conclusões às quais o tribunal chegou resultaram propriamente da
impossibilidade de atribuir responsabilidade penal devido à
ausência de uma investigação diligente.21 (grifamos)
21
CIDH, Relató rio Nº XXXX
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Brasil nã o seguiu regras bá sicas na devida elucidaçã o dos ó bitos decorrentes da atuaçã o
de suas forças policiais, afrontando as efetivas garantia e proteçã o judiciais.
Cumpre destacar que, das 12 (doze) vítimas, 6 (seis) famílias ajuizaram açõ es de
indenizaçã o na esfera civil, sendo estes os familiares de: XXXXXXXXXXXX.22
Importante esclarecer que todas as açõ es civis foram ajuizadas entre os anos de
2002 e 2004, época em que os processos eram todos físicos, já que o Tribunal de Justiça
de Sã o Paulo nã o contava com um sistema eletrô nico para arquivamento de petiçõ es e
documentos. Em razã o do longo tempo transcorrido desde entã o, alguns processos já
foram arquivados23. Além disso, o acesso aos autos encontra-se comprometido em
decorrência das restriçõ es impostas pela pandemia da COVID-19. Contudo, as principais
movimentaçõ es processuais constam do sistema eletrô nico do Tribunal de Justiça de
Sã o Paulo, sendo que as informaçõ es abaixo aduzidas foram obtidas a partir de consulta
a esse sistema24.
De plano, destaca-se que duas açõ es foram julgadas improcedentes pelo sistema
de justiça brasileiro, referentes à s vítimas XXXXXXXXXX.
Quanto a XXXX, a açã o civil (processo n o XXXXX) foi proposta por sua genitora,
Sra. XXXXXXX. A sentença em primeira instâ ncia foi proferida apenas em 26 de
novembro de 2007, indeferindo o pleito indenizató rio, nos seguintes termos:
22
Autos no XXXXXX.
23
A Procuradoria-Geral do Estado de Sã o Paulo, em resposta à s recomendaçõ es da CIDH, solicitou o
desarquivamento processual para atualizaçã o do status processual das açõ es, muitas das quais
encontram-se paralisadas. Entretanto, até o presente momento tal atualizaçã o nã o foi disponibilizada à
Comissã o ou aos peticioná rios.
24
Disponível em:
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Provas nã o existem de que os Policias tenham agido com abusividade
no exercício de suas funçõ es. A responsabilidade do Estado é objetiva,
em tese. Porém, o suposto excesso culposo ou doloso da conduta dos
Policiais Militares dependia de prova. No entanto, a autora nã o trouxe,
aos autos, elementos que pudessem comprovar a configuraçã o da culpa
dos PMs. Nada há a macular a conduta dos citados Policiais, os quais
agiram, ao que tudo indica, senã o em estado de legítima defesa, ao
menos, no exercício regular de dever legal.25
25
Disponível em:
26
Artigo 935 do Có digo Civil: “A responsabilidade civil é independente da criminal, nã o se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questõ es se
acharem decididas no juízo criminal”.
27
A açã o civil ex delicto está prevista no artigo 64 do Có digo de Processo Penal, que dispõ e: “Sem prejuízo
do disposto no artigo anterior, a açã o para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível,
contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsá vel civil”. A doutrina brasileira explica: “Uma
conduta tipificada penalmente também pode se materializar em ilícito cível, trazendo para a vítima, se
identificada, pretensõ es de cunho indenizató rio. Com razã o, o art. 91, I, do CP, assevera que a sentença
condenató ria penal torna certa a obrigaçã o de reparar o dano causado pelo crime, sendo título executivo
judicial (art. 515, VI, CPC/2015), carecendo de prévia liquidaçã o. Embora prevista no Có digo de Processo
Penal, sabemos que a açã o civil ex delicto, seja ela de conhecimento ou de execuçã o, tem trâ mite regulado
pelo CPC/2015. O art. 63, CPP, é expresso nesse sentido, pelo que as poucas disposiçõ es que regulam essa
demanda na lei processual penal sã o destinadas mais a delimitar os contornos da coisa julgada criminal,
para fins de definir se a demanda a ser ajuizada na esfera cível será de conhecimento (art. 64, pará grafo
ú nico do CPP) ou de execuçã o (art. 63, pará grafo ú nico do CPP)” TÁ VORA, Nestor. RODRIGUES, Rosmar.
Curso de Direito Processual Penal – 12a ed. revisada e atualizada, Salvador: Ed. JusPodium. 2017, p.
361.
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A responsabilidade objetiva, no sistema jurídico brasileiro, é aquela que
prescinde da demonstraçã o de culpa do agente, sendo necessá ria, apenas, a prova da
conduta, do nexo de causalidade entre conduta e dano, e do dano efetivamente
acarretado à vítima.
De igual sorte é a açã o civil movida por XXXXX, filho da vítima XXXX (processo no
XXXXXXXXX), em 31 de março de 2003, requerendo a reparaçã o civil pelos danos que
lhe foram causados na operaçã o XXXX.
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procedente em primeira instâ ncia, tendo sido o estado de Sã o Paulo condenado a pagar
uma pensã o mensal no valor de R$ 622,00 (seiscentos e vinte e dois reais) ao autor até
que este completasse 24 (vinte e quatro) anos de idade, além de uma indenizaçã o por
danos morais no valor de R$ 90.000,00 (noventa mil reais). Entretanto, tal decisã o foi
revertida pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo, em decisã o de 11 de
novembro de 2014, que julgou improcedentes os pedidos.
A demora na resoluçã o das açõ es agrava ainda mais o sofrimento dos familiares:
no caso do filho de XXXXXXXXXXX, ele teve de esperar longos 12 (doze) anos até receber
a decisã o final, que, de forma equivocada, também decidiu pela irresponsabilidade
estatal com relaçã o aos fatos ocorridos na operaçã o XXXX, deixando-o desamparado e
nã o ressarcido.28
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companheira e até que os filhos completassem 18 (dezoito) anos de idade, além de uma
indenizaçã o por danos morais no valor de R$ 22.500,00 (vinte e dois mil e quinhentos
reais) para cada um dos autores.
Mesma sorte teve o caso dos familiares de X, em açã o proposta por suas três
filhas, XXXXXX, em 12 de abril de 2004 (processo no XXXXXX). Nesse processo, o estado
de Sã o Paulo foi condenado em primeira instâ ncia, em sentença de 11 de dezembro de
2008, ao pagamento de pensã o mensal no valor de dois terços do salá rio mínimo
nacional até as autoras completarem 25 (vinte e cinco) anos de idade, bem como ao
pagamento de indenizaçã o por danos morais no valor de 50 salá rios mínimos federais
para cada uma.
Por fim, a ú nica açã o na esfera civil em que houve pleno pagamento do quantum
indenizató rio foi aquela movida pelos familiares da vítima XXXXXXXX (companheira),
XXXXXXXXXX (filhos), em 26 de março de 2004 (processo no XXX).32
30
Disponível em:
31
Disponível em:
32
Ressalta-se que em todos os autos nã o foi possível acessar o inteiro teor das decisõ es em segunda
instâ ncia, uma vez que nã o divulgadas no acompanhamento processual do sistema eletrô nico do Tribunal
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Mesmo nesse caso, os valores só foram efetivamente pagos em 31 de agosto de
2015, ou seja, mais de 11 anos apó s a propositura da açã o e 12 anos apó s a ocorrência
dos fatos.33
A violaçã o dá -se tanto pela demora na aná lise dos casos, quanto pela
improcedência dos pleitos no caso dos familiares de XXXXXXXe no nã o pagamento dos
valores aos familiares de XXXXX.
Quanto aos familiares de XXXX, verifica-se que apenas os filhos de seu primeiro
casamento foram parte na açã o civil e mesmo estes nã o receberam o quantum
indenizató rio até o presente momento.
De qualquer maneira, mesmo que eventuais valores venham a ser pagos aos
familiares que pleitearam a indenizaçã o no juízo civil, tal fato nã o configura o
cumprimento, por parte do Brasil, de sua obrigaçã o internacional pelas violaçõ es
ocorridas na operaçã o XXXXXX.
A uma, pois tais condenaçõ es sã o parciais uma vez que nã o levaram em conta
todos os danos morais subsequentes à s sentenças, decorrentes da demora estatal em
proferir tais decisõ es, em proceder à execuçã o das sentenças e em emitir e,
efetivamente pagar, os precató rios judiciais, o que até o presente momento nã o ocorreu
para a maior parte das famílias.
de Justiça do Estado de Sã o Paulo. Assim, nã o é possível determinar se o quantum indenizató rio foi
mantido, aumentado ou reduzido, até que se proceda ao desarquivamento e atualizaçã o do status
processual.
33
Disponível em:
Pá gina 31 de 94
A duas, pois os patamares fixados judicialmente mostram-se muito aquém dos
valores que poderiam ser considerados adequados para reparar o efetivo dano sofrido
pelas vítimas.
Em seu mais recente relató rio acerca da situaçã o dos direitos humanos no Brasil,
publicado em 2021, a CIDH dedicou capítulo específico à “Violência praticada por
agentes do Estado e racismo institucional”.
34
CIDH. Situaçã o dos Direitos Humanos no Brasil. 12 de fevereiro de 2021, p. 116.
Pá gina 32 de 94
No estado de Sã o Paulo, segundo dados da Secretaria de Segurança Pú blica35,
entre 2015 e o terceiro trimestre de 2021, foram registrados 5.580 ó bitos decorrentes
de açõ es policiais, com o pico de 941 ó bitos em 2017 e uma média está vel de 854 ó bitos
por ano.
De igual sorte é a relaçã o entre civis e policiais mortos. Um valor elevado nesta
relaçã o aponta para a desproporçã o no uso da força, tendo em vista demonstrar que
policiais em conflito matam consideravelmente mais que os civis que os atacaram. Como
referencial internacional, tem-se uma relaçã o entre 4 a 10 civis mortos por policial 38,
sendo que para valores acima de 10 fica evidenciado o excesso no uso da força letal por
parte dos agentes de segurança pú blica.
35
Disponível em: https://www.ssp.sp.gov.br/Estatistica/Trimestrais.aspx, Acesso em 19 de novembro de
2021.
36
LOCHE, Adriana. A letalidade da ação policial: parâmetros de análise. Revista do Nú cleo de de Pó s-
Graduaçã o e Pesquisa em Ciências Sociais no 17. Universidade Federal de Sergipe. Sã o Cristovã o - SE,
2010.
37
Ibidem, p. 48.
38
ibidem, p. 49
Pá gina 33 de 94
Por fim, o ú ltimo indicador visa medir a proporçã o das mortes ocasionadas por
policiais com relaçã o ao total das mortes violentas intencionais. Mais uma vez, tomando
o referencial de Nova York entre 1993 e 2002, verifica-se que esta polícia contribuiu
com 1,5% dos homicídios dolosos. No Brasil, conforme dados do Anuá rio de Segurança
Pú blica de 2019, a proporçã o das mortes decorrentes de intervençõ es policiais foi de
11%.
Fonte: Elaboraçã o pró pria a partir dos dados da Secretaria de Segurança Pú blica do Estado de Sã o Paulo (Disponível em:
https://www.ssp.sp.gov.br/Estatistica/Trimestrais.aspx)
39
Para o ano de 2021 os dados estã o computados até o terceiro trimestre, ou seja, até o mês de setembro
de 2021.
Pá gina 34 de 94
Conforme é possível observar, a polícia paulista mais mata que fere, com uma
média, nos ú ltimos 6 anos, de 1,26 mortos por ferido. Tal nú mero indica que a intençã o
da polícia paulista, em suas abordagens, é a de atirar para matar e nã o conter ou
combater a criminalidade por meio do uso nã o letal da violência. Inclusive, destaca-se
um aumento do indicador no triênio 2019/2021.
Por sua vez, a proporçã o de civis mortos por policial em combate é superior a 20,
com média de 21,46, o que também aponta para o uso desmedido da força policial,
conforme os parâ metros acima apontados. O ano de 2021, mesmo no contexto da
pandemia de COVID-19 e do consequente isolamento social, apresentou um expressivo
aumento neste indicador, atingindo 26,59, o maior patamar desde 2016.
Pá gina 35 de 94
Figura 1: Proporçã o de mortes decorrentes de intervençõ es policiais em relaçã o à s mortes violentas
intencionais - 2018
Fonte: Fó rum Brasileiro de Segurança Pú blica. Anuá rio Brasileiro de Segurança Pú blica – 2019. p. 60
(Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Anuario-2019-
FINAL_21.10.19.pdf, Acesso em 02 de novembro de 2021)
O que se observa, portanto, é que o uso da força letal por parte das forças de
repressã o brasileiras, em especial no estado de Sã o Paulo, está longe de ser a ultima
ratio dentre as estratégias de combate à criminalidade, colocando-se, conforme
evidenciado pelos nú meros acima, como a principal estratégia de atuaçã o.
De especial preocupaçã o é o dado trazido pela CIDH em seu relató rio acerca da
situaçã o dos direitos humanos no Brasil, ao expor o quanto a violência institucional
incide sobre a juventude paulista:
(...) segundo estudo da Fundaçã o das Naçõ es Unidas para a Infâ ncia
(UNICEF), o nú mero de crianças e adolescentes mortos em Sã o Paulo
entre 2014 e 2018 em decorrência de açã o policial, chegou a superar o
nú mero de mortos em outras circunstâ ncias (homicídios, latrocínio,
acidentes de trâ nsito, suicídio, feminicídio e lesã o corporal seguida de
morte). Foram 580 mortes em decorrência de açã o policial, contra 527
das demais mortes. Nota-se ainda mais preocupante que os nú meros de
mortes nã o decorrentes de açã o policial sofreram uma queda de 50%
no período assinalado, o que, na aná lise da Comissã o, tende a indicar
Pá gina 36 de 94
que a elevada mortandade de crianças e adolescentes ocorreu por conta
da açã o policial40. (grifamos)
Além disso, a esmagadora maioria das açõ es letais por parte da polícia nã o
recebe a devida investigaçã o, sendo classificadas como “autos de resistência” ou, na
nova terminologia da polícia paulista, “homicídios resultantes da oposiçã o à intervençã o
policial”. A narrativa oficial, em tais casos, segue um roteiro padrã o por parte dos
policiais: a vítima teria resistido à prisã o, estaria armada, teria atirado primeiramente
nos policiais (quando quase sempre nã o há policiais feridos, viaturas ou terceiros
atingidos por tais supostos disparos) e, por conta disso, os agentes estatais teriam sido
forçados a revidar a injusta agressã o, “revide” esse que, via de regra, é feito com
inú meros disparos de arma de fogo em regiõ es vitais do corpo, que, em seguida, seria
socorrido supostamente com vida pelos pró prios policiais que atiraram (sendo que, na
realidade, os corpos chegam, em regra, mortos no Hospital). A isso, segue-se uma
investigaçã o bastante precá ria, que já se inicia tendenciosa a partir do relato dos
pró prios policiais envolvidos na ocorrência, que, evidentemente, destina-se a justificar
seus atos, de forma que o Inquérito Policial se desenvolve a partir dessa perspectiva,
voltando-se, na maioria das vezes, a apurar a conduta da vítima (para com isso justificar
o “revide” policial), em detrimento de uma adequada investigaçã o da conduta dos
policiais.
Pá gina 37 de 94
brasileiro42. Dito de outro modo, cerca de 8 em 100 casos de homicídios decorrentes de
açõ es policiais sã o denunciados ao sistema de justiça, o que implica uma impunidade
ainda maior, tendo em vista que nem todos os casos denunciados sã o, de fato, punidos,
como bem se observou no caso XXXXXX.
Os nú meros acima mostrados podem ser visualizados, na prá tica, nas diversas
açõ es violentas das forças de segurança pú blica brasileiras, que saem da invisibilidade a
partir, muitas vezes, de denú ncias feitas por familiares e amigos das vítimas. Cita-se, a
título de exemplo, o caso Favela Nova Brasília, julgado por esta Corte em 2017, cuja
intervençã o policial resultou na execuçã o de 26 (vinte e seis) pessoas entre 1995 e 1996
na cidade do Rio de Janeiro. A mesma situaçã o verifica-se com relaçã o ao que ficou
conhecido como “crimes de maio” de 2006, quando açõ es da polícia paulista resultaram
em mais de 500 (quinhentas) mortes no estado de Sã o Paulo, como forma de,
supostamente, reprimir o crime organizado por meio de execuçõ es sumá rias.
42
CIDH. Situaçã o dos Direitos Humanos no Brasil. 12 de fevereiro de 2021, p. 133.
43
Portal GI, Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/12/01/perseguicao-e-
tiroteio-em-baile-funk-em-paraisopolis-deixa-ao-menos-8-mortos-pisoteados-em-sp.ghtml, Acesso em:
30 de novembro de 2021.
44
Portal G1. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/05/06/tiroteio-deixa-
feridos-no-jacarezinho.ghtml, Acesso em 30 de novembro de 2021.
Pá gina 38 de 94
pró ximo de onde ocorrera uma açã o do BOPE (Batalhã o de Operaçõ es Especiais) da
Polícia Militar.45
A pró pria atuaçã o do GRADI (Grupo de Repressã o e Aná lise dos Delitos de
Intolerâ ncia) é sintomá tica quanto à sistemá tica da violência policial. Além da operaçã o
objeto do presente EPAP, que ficou conhecida como “XXXXXX” e resultou na morte das
12 (doze) vítimas, reputam-se ao GRADI diversas outras operaçõ es que resultaram em
execuçõ es sumá rias, a exemplo da operaçã o na Rodovia Bandeirantes, também contra
supostos membros do PCC, quando 5 (cinco) pessoas foram mortas por policiais do
GRADI, e outras intervençõ es visando ao suposto combate da criminalidade e que
somaram diversos ó bitos46.
Como se vê, a aná lise do presente caso insere-se dentro de um contexto mais
amplo de violência institucional generalizada, sendo certo que a responsabilizaçã o da
45
Portal DW. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/moradores-retiram-corpos-de-manguezal-ap
%C3%B3s-a%C3%A7%C3%A3o-da-pm-no-rj/a-59903426, Acesso em 30 de novembro de 2021.
46
Folha de S. Paulo. 14 de agosto de 2002. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1408200218.htm, Acesso em: 30 de novembro de 2021
47
CIDH. Situaçã o dos Direitos Humanos no Brasil. 12 de fevereiro de 2021, p. 121
Pá gina 39 de 94
Repú blica Federativa do Brasil no caso “XXXX” será fundamental para a adoçã o, por
parte do Estado brasileiro, de açõ es preventivas na contençã o da violência policial,
buscando uma maior efetivaçã o dos direitos à vida, à integridade física e à s garantias
judiciais.
Pá gina 40 de 94
5. Fundamentos de Direito
5.1. Preliminares
5.1.1. Competência
A Corte é competente para conhecer do presente caso nos termos do artigo 62.3
da CADH, já que a Repú blica Federativa do Brasil reconheceu a referida competência,
por meio do Decreto Presidencial no 4.463/2002, para julgamento de fatos ocorridos
apó s 10 de dezembro de 1998.
Tendo em vista que os fatos violadores dos direitos humanos ocorreram no ano
de 2002 em diante, conclui-se pela plena competência da Corte Interamericana de
Direitos Humanos para julgamento do feito.
De igual sorte, a mora estatal na aná lise do direito pleiteado também enseja a
admissibilidade por parte das instâ ncias internacionais, conforme disciplina do artigo
46.2.c.
Pá gina 41 de 94
A jurisprudência do Sistema Interamericano tem seguido a tendência
segundo a qual “os fundamentos da proteçã o internacional dos direitos
humanos a que faz referência o artigo 46(1) da Convençã o radicam-se
na necessidade de salvaguardar a vítima do exercício arbitrá rio do
poder pú blico". As exceçõ es previstas no artigo 46.2 da Convençã o
buscam, exatamente, garantir a açã o internacional quando os recursos
da jurisdiçã o interna e o pró prio sistema judicial nacional nã o sã o
efetivos para garantir o respeito aos direitos humanos das vítimas.
(...)
se a tramitaçã o dos recursos internos sofrer demora injustificada, é
possível deduzir que estes perderam sua eficá cia para produzir o
resultado para o qual foram estabelecidos, “colocando assim a vítima
em estado de indefeso". Esta é a instâ ncia em que corresponde aplicar
os mecanismos de proteçã o internacional, entre os quais se encontram
as exceçõ es previstas no artigo 46.2 da Convençã o48. (grifamos)
Pá gina 42 de 94
excessiva complexidade do caso, sem que se tenha conseguido um só
comparecimento em juízo, a Comissão considera ser aplicável, neste
caso, a exceção prevista no artigo 46, inciso 2, alínea c) da
Convenção, referente à demora injustificada na decisão sobre os
recursos da jurisdição interna49. (grifamos)
A espera foi de quase 15 (quinze) anos para superaçã o das instâ ncias
recursais, o que ocorreu somente em fevereiro de 2017, quando foi proferido acó rdã o
pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sã o Paulo, que manteve a impronú ncia de todos os
réus envolvidos na operaçã o XXXX. O trâ nsito em julgado desta decisã o deu-se em
setembro de 2017, sem que o Estado brasileiro dessa efetiva resoluçã o à s violaçõ es de
direitos fundamentais perpetradas, uma vez que, como apontado, todos os envolvidos
na operaçã o “XXXXXX” foram absolvidos por falta de provas, resultado fortemente
influenciado pelo baixo rigor técnico das investigaçõ es do caso.
49
CIDH. Relató rio de Admissibilidade XXXXX
Pá gina 43 de 94
Disto decorreu que, conforme visto, apenas 6 (seis) famílias ajuizaram açõ es na
esfera civil pleiteando indenizaçõ es pelas mortes de seus entes queridos, constando que
apenas 1 (uma) recebeu algum tipo de indenizaçã o até o presente momento. Tal fato
escancara a desídia estatal, também na esfera civil: decorridos quase 20 (vinte) anos
dos fatos, 11 (onze) das 12 (doze) famílias não receberam qualquer tipo de reparaçã o
por parte do Estado brasileiro.
Portanto, seja pela mora estatal, seja pela superaçã o das instâ ncias recursais
internas, faz-se plenamente admissível o julgamento do presente caso por esta Corte.
Assim, o direito à vida coloca-se como de essencial importâ ncia, uma vez que
necessá rio para o pleno gozo de todos os demais direitos fundamentais, sendo um
imperativo ló gico sua preservaçã o para a garantia, proteçã o e promoçã o dos direitos
humanos.
Pá gina 44 de 94
estatal de garantizar el libre y pleno ejercicio de los derechos de todas
las personas bajo la jurisdicció n de un Estado, y requiere que éste
adopte las medidas necesarias para castigar la privació n de la vida y
otras violaciones a los derechos humanos, así como para prevenir que
se vulnere alguno de estos derechos por parte sus propias fuerzas de
seguridad o de terceros que actú en con su aquiescencia50. (grifamos)
Tal exigência faz-se ainda mais premente naquilo que toca à atuaçã o das forças
de segurança pú blica estatais, tendo em vista que o Estado detém o monopó lio do uso
da violência e o deve fazer para proteger e garantir a segurança pú blica de todos os
cidadã os, e nã o de alguns em detrimento de outros. Nesse sentido, o julgado da Corte
IDH no caso Favela Nova Brasília vs. Brasil:
50
Corte IDH, Bulacio vs Argentina, Fondo,Reparaciones y Costas, Sentença de 5 de julho de 2006, p. 49
Pá gina 45 de 94
que compromete a responsabilidade internacional do Estado51.
(grifamos)
O uso da força letal por parte dos agentes de segurança pú blica deve ser a ultima
ratio dentre as ferramentas disponíveis para a atuaçã o policial, como bem apontado
pela CIDH no Relató rio de Mérito no XXXX:
51
Corte IDH. Caso Favela Nova Brasília vs Brasil, Exceções preliminares, Mérito, Reparações e Custas.
Sentença de 16 de Fevereiro de 2017, p. 45.
52
“CEDH. Hugh Jordan v. Reino Unido, Demanda no. 24746/94, Sentença de 4 de maio de 2001, paras.
105-109”, apud COMISSÃ O IDH, Relató rio de Mérito n. 141/11, Casos 11.566 e 11.694, Cosme Rosa
Genovena, Evandro de Oliveira e Outros (Favela Nova Brasília) versus Brasil, par. 146.
Pá gina 46 de 94
A Comissã o estabeleceu, seguindo a jurisprudência da Corte
Interamericana, que, “embora os agentes da Força Pú blica possam
utilizar legitimamente força letal no exercício de suas funçõ es, este uso
deve ser excepcional e deve ser planejado e limitado
proporcionalmente pelas autoridades, de forma que somente
procederã o ao uso da força ou de instrumentos de coerçã o quando se
tenham esgotado e fracassado todos os demais meios de controle.53
(grifamos)
53
CIDH, Relató rio Nº XXXXX
Pá gina 47 de 94
Ainda, nã o consta que as forças policiais tenham abordado os integrantes do
ô nibus de forma a possibilitar que esses se rendessem, ficando claro que o intuito, desde
o início da operaçã o, era interceptar o ô nibus de forma violenta e executar seus
ocupantes. Portanto, o uso da força letal era a primeira e ú nica estratégia de abordagem.
Pá gina 48 de 94
Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro
de um prazo razoá vel, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuraçã o de qualquer acusaçã o penal formulada contra ela, ou para que
se determinem seus direitos ou obrigaçõ es de natureza civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
54
Corte IDH. Caso Zambrano Vélez y otros VS Ecuador, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentença de 4 de
julho de 2007, p. 35.
55
Corte IDH. Caso Barbani Duarte y otros VS Uruguay, Fondo, Reparaciones y Costas. Sentença de 13 de
outubro de 2011, p. 59.
Pá gina 49 de 94
Nesse sentido, o que se exige do Estado é a realizaçã o de investigaçõ es e
conduçã o dos processos judiciais de forma imparcial e célere, para que seja possível a
determinaçã o das causas violadoras dos direitos protegidos, bem como a exata
responsabilizaçã o dos violadores, isso dentro da moldura do devido processo legal que
confere à forma processual status de plena garantia de observâ ncia dos direitos tanto
aos acusados quanto à s vítimas.
De igual forma, ressaltou-se a completa ausência de uma cadeia de custó dia das
provas ao longo da investigaçã o criminal, com a violaçã o do local dos fatos, a partir da
remoçã o dos corpos e dos supostos armamentos; subtraçã o do vídeo da praça de
56
CIDH. Situaçã o dos Direitos Humanos no Brasil. 12 de fevereiro de 2021, p. 132.
Pá gina 50 de 94
pedá gio e ausência de diligências bá sicas, como perícias técnicas no local do tiroteio,
testemunhos de funcioná rios do aeroporto e investigaçõ es mais aprofundadas acerca do
envolvimento dos presos infiltrados.
57
Corte IDH. Caso Favela Nova Brasília vs Brasil, Exceções preliminares, Mérito, Reparações e Custas.
Sentença de 16 de fevereiro de 2017, p. 46
Pá gina 51 de 94
Portanto, resta clara a violação da República Federativa do Brasil aos
artigos 8.1 e 25 da CADH, uma vez que não proporcionou o devido processo legal
durante as investigações e julgamento envolvendo a operação “XXXXX”, nem
proporcionou meios céleres e suficientes para que os familiares das vítimas
obtivessem reparações no âmbito civil.
Pá gina 52 de 94
É justamente o que se observa no caso ora em aná lise, em que tanto a cobertura
midiá tica do caso, quanto a morosidade e impunidade dos policiais envolvidos,
resultaram em profundos danos psicoló gicos aos familiares das vítimas, conforme
relatos dos familiares, coletados pela equipe multidisciplinar desta Defensoria Pú blica e
anexados a este EPAP (Anexo XV).
XXXXX, na época com 5 (cinco) anos de idade e morando com o pai e a mã e, teve
que se afastar da escola por um período, o que afetou seu rendimento escolar. Apesar da
pouca idade, guardou para sempre na memó ria a imagem do corpo do pai
completamente desfigurado dentro do caixã o. Além disso, desenvolveu trauma da
polícia, medo este que o acompanha até hoje.
A Sra. XXXXXXXXX, à época com 72 (setenta e dois) anos de idade, também foi
fortemente impactada pela morte do filho, apresentando picos de pressã o alta apó s a
notícia do ó bito e ficando acamada em possível quadro depressivo por um mês. Além
disso, os irmã os de XXXXXXXXX nã o descartam a possibilidade de que o quadro de
Pá gina 53 de 94
pressã o alta de Benedita, que se cronificou apó s a morte de XXXXXXXXXX, tenha relaçã o
com a forma brutal com que o filho foi morto e as humilhaçõ es sofridas pela família nos
dias que se seguiram.
Para XXXX foi uma enorme injustiça o que fizeram com seu filho, pois ele deveria
pagar por eventuais erros na prisã o e nã o no caixã o: “XXXXXXX”.
À mã e, XXXXX prometia que um dia iria tirá -la “desta vida de pobre”, lembrando
que o filho era muito carinhoso e eventualmente ajudava financeiramente a família.
Pá gina 54 de 94
disso, recordam os irmã os das dificuldades financeiras vividas, uma vez que o pai,
mesmo que separado de sua mã e, ajudava nas despesas de casa e complementava a
renda da família. A perda repentina trouxe enormes desafios financeiros à
sobrevivência.
Luciana, a mais velha das três irmã s, nã o se recorda exatamente dos fatos, por
ainda ser muito nova. Na época, morava com a mã e XXXX, separada de XXXX, porém
convivia com o pai todo final de semana, além de fazerem viagens e passeios juntos.
Além disso, por morarem pró ximos, era o pai quem buscava a filha todos os dias na
escola. Daquilo que recorda XXXX sobre o ocorrido, o sentimento é de muita tristeza,
tanto que, apó s a chacina na rodovia XXX, fez tratamento psicoló gico até os 10 (dez)
anos de idade, sendo também obrigada a mudar de escola, já que nã o tinha mais o pai
para buscá -la. Portanto, além da perda paterna, teve que conviver com a quebra de
vínculo com professores e colegas da antiga escola.
Iris, por sua vez, só veio a saber o que ocorreu com seu pai anos depois, já que
quando dos fatos tinha apenas 1 (um) ano de idade. Seu sentimento foi de profunda
indignaçã o: “XXXXXXXXXXX”. Lembra do vazio que foi crescer sem o pai e recorda a
depressã o que sua mã e, XXXXXXXXX, companheira de Luciano à época, sofreu.
Pá gina 55 de 94
Inclusive, as filhas de XXX recordam-se da profunda tristeza que também se
abateu sobre a avó paterna, XXXXXXXXXXX, que veio a falecer cerca de um ano apó s a
morte do filho, sendo que as netas associam o quadro de depressã o da avó com a brutal
e inesperada morte de Luciano.
A irmã de XXXX, também sentiu a perda do pai, e costumava dormir com uma
foto deste debaixo do travesseiro.
Sob o aspecto financeiro, XXXX era o principal provedor do lar em que viviam
XXXXXXX, e contribuía com a mã e de XXXX, sendo certo que sua morte precoce
ocasionou dificuldades financeiras à s famílias.
Por sua vez, XXXX, companheira da vítima XXXXX, com quem tinha um filho de 5
(cinco) anos de idade, XXXX, recorda que “XXXXXX”. Além dos impactos financeiros,
Gilvâ nia sofreu profundos impactos psicoló gicos, desenvolvendo quadro depressivo e
hipertenso, tanto pela dor da perda, quanto pela repercussã o midiá tica do caso, pois o
preconceito de conhecidos, derivado da suposta associaçã o do marido à facçã o
criminosa PCC, fez com que ela tivesse que sair de Sã o Paulo e voltar para seu estado
natal, Pernambuco. Mudou-se com seu filho XXX, que além da perda do pai, teve de
conviver com uma abrupta mudança de lar, ambos eventos traumá ticos para uma
criança de 5 (cinco) anos de idade. O sentimento de XXXX quanto ao acontecido é de
indignaçã o: “se a XXXXXXX?”.
O irmã o, XXXX, que na época tinha 10 (dez) anos de idade e era muito apegado a
XXX, ficou traumatizado com a situaçã o (“XXXXXX!”), sentindo enorme raiva e revolta
pelo acontecido, sempre que vê uma foto do irmã o ou se recorda da situaçã o.
Pá gina 56 de 94
A família de XXXXXX também se lembra com tristeza dos fatos. Sua mã e, XXXX,
resume a perda do filho em poucas palavras: "XXXXXXXXXXX".
Segundo XXXXX, nã o há como lembrar dos fatos sem reviver a dor: "XXXXX". Foi
ela quem reconheceu o corpo do irmã o no necrotério de Sorocaba, tendo que pedir
ajuda a vizinhos para custear o transporte do corpo: "XXXXXX". Para a irmã , o
sentimento de revolta permanece até hoje: "XXXXXXXXXXXXX".
XXXX se recorda que o pai trabalhava com vínculo celetistas como motorista,
realizando viagens e excursõ es, estando vívido em sua memó ria as diversas vezes que
acompanhou o pai em viagens à praia e excursõ es por diversos locais.
Nã o consta que XXXXX tivesse envolvimento com o crime organizado, tanto que
nã o possuía qualquer antecedente criminal. Tal fato é confirmado, inclusive pelo relato
do presidiá rio infiltrado, XXXXX, que em seu depoimento atestou que XXX
"XXXXXXXXX52".
Pá gina 57 de 94
Campinas, local em que aquela conseguiu um emprego, o que acarretou certo
distanciamento entre XXX e os irmã os mais novos. Até hoje, XXX, seus irmã os e
Elisâ ngela, sentem saudades de XXX, nã o compreendendo o porquê da açã o violenta e
desmedida dos agentes policiais e por qual razã o estes executaram todos os integrantes
do ô nibus, ao invés de parar a conduçã o e dar voz de prisã o, caso estivessem, de fato,
cometendo alguma ilegalidade.
No que se refere à vítima XXXXXX, seu filho XXXXXnã o se recorda do pai, pois sua
mã e era separada deste à época dos fatos e ambos nã o tinham muito contato.
Entretanto, ressente-se de nã o ter tido uma presença paterna durante a juventude,
tendo sido criado por seus avó s maternos em boa parte da infâ ncia e adolescência. XXXX
afirma que a avó materna, XXXXX, ficou profundamente abalada com a morte do
filho na operação XXXXXX, fato este agravado uma semana depois, quando um dos
tios (irmão de XXX) cometeu suicídio, deixando um recado à família, dizendo que
o "XXXXestava chamando".
Como bem apontado nos relató rios psicoló gicos anexos a este EPAP (Anexo XV),
para aqueles que sofrem, direta ou indiretamente, as consequências da violência
policial, nã o apenas a agressã o estatal é traumatizante, como a forma e os
desdobramentos de tal violência também o sã o.
Pá gina 58 de 94
Isso porque casos como a operaçã o XXXXsã o publicizados, o que potencializa o
sofrimento familiar, resultando, muitas vezes, em preconceitos e humilhaçõ es pú blicas.
Outro poderia ter sido o desfecho da operaçã o XXXXX, caso as forças policiais
adotassem procedimentos de contençã o à criminalidade que nã o tivessem como pedra
angular a eliminaçã o de eventuais suspeitos, modus operandi que, lamentavelmente,
subsiste até os dias de hoje em diversas açõ es executadas pela polícia paulista.
59
GLENS, Mathias. A impossibilidade do luto em famílias cujos filhos foram mortos pela polícia. In
Conselho Regional de Psicologia de Sã o Paulo. Prêmio Marcus Vinícius de Psicologia e Direitos Humanos:
Violência de Estado Ontem e Hoje - Da Exclusã o ao Extermínio. Sã o Paulo - SP, 2017, p. 29.
Pá gina 59 de 94
5.3. A responsabilidade internacional do Estado brasileiro
6. As reparações
Pá gina 60 de 94
284. A reparaçã o do dano ocasionado pela infraçã o de uma obrigaçã o
internacional requer, sempre que seja possível, a plena restituiçã o
(restitutio in integrum), que consiste no restabelecimento da situaçã o
anterior. Caso isso nã o seja viá vel, como ocorre na maioria dos casos de
violaçõ es de direitos humanos, o Tribunal determinará medidas para
garantir os direitos violados e reparar as consequências que as
infraçõ es provocaram.
285. Este Tribunal estabeleceu que as reparaçõ es devem ter um nexo
causal com os fatos do caso, as violaçõ es declaradas, os danos provados
e as medidas solicitadas para reparar os danos respectivos. Portanto, a
Corte deverá observar essa simultaneidade para pronunciar-se
devidamente e conforme o direito.60
60
Corte IDH. Caso Favela Nova Brasília vs Brasil, Exceções preliminares, Mérito, Reparações e Custas.
Sentença de 16 de Fevereiro de 2017, p. 70
Pá gina 61 de 94
Destacam-se, das vítimas elencadas, dois casos particulares, que merecem
melhor esclarecimento.
Andrew Almeida, filho da vítima fatal XXXXXXX, nã o foi registrado pelo pai, de
modo que nã o consta o nome do genitor em sua certidã o de nascimento. Em que pese tal
fato, sua filiaçã o é fato notó rio e reconhecido por todos da família de XXXXX. Entretanto,
caso esta Corte entenda necessá rio, nã o há ó bice, por parte de Andrew, na realizaçã o de
exame de DNA para a confirmaçã o da filiaçã o.
Como exposto no item “3.4” que aborda o contexto da violência das forças de
segurança pú blica no Brasil e, em particular, no estado de Sã o Paulo, o alto grau de
letalidade e de vitimizaçã o policial refletem problemas estruturais das polícias no
Brasil. Tais problemas impactam diversas facetas dos sistemas de segurança pú blica: da
formaçã o do agente policial à omissã o dos ó rgã os de controle, como o Ministério
Pá gina 62 de 94
Pú blico, corregedorias e ouvidorias, até o elevado índice de impunidade judicial nos
casos de homicídios praticados por policiais.
Diante desse cená rio, faz-se necessá ria uma mudança sistemá tica na estrutura da
segurança pú blica brasileira, especialmente dos mecanismos de controle interno e
externo. Dito de outra forma, o Brasil carece de um plano e de políticas pú blicas
nacionais que visem à reduçã o da letalidade policial, com vistas à adoçã o de medidas
concretas e objetivas para o controle das frequentes violaçõ es de direitos humanos
pelas forças de segurança pú blica de, praticamente, todos os estados da federaçã o.
Tais medidas devem direcionar a atuaçã o policial para que estas atuem de
acordo com a Constituiçã o Federal do Brasil e os diversos tratados internacionais de
proteçã o aos direitos humanos dos quais a Repú blica Federativa do Brasil é signatá ria,
considerando, em especial, a promoçã o da dignidade da pessoa humana e o pleno
respeito do direito à vida.
Assim que, para se evitar que execuçõ es policiais, a exemplo daquela ocorrida na
rodovia XXXXX, voltem a ocorrer, propõ e-se um conjunto de medidas a serem adotadas
pelo Estado brasileiro.
A adoçã o de algumas dessas medidas já foi suscitada por esta Defensoria, tanto
no â mbito interno, quanto no â mbito internacional, a exemplo do recente caso
submetido à apreciaçã o da CIDH, P-XXXX, referente à execuçã o extrajudicial de quatro
jovens na Favela Sã o Remo por agentes policiais.
Pá gina 63 de 94
6.3.1.1. Ampla investigação acerca do ocorrido na operação XXXX
Além disso, uma investigaçã o criteriosa acerca de um caso paradigmá tico pode, e
deve, servir de baliza para investigaçã o de outros tantos casos de massacres policiais
que acontecem por todo o Brasil, bem como subsidiar a adoçã o de medidas tendentes à
reduçã o da violência policial e da formaçã o de “grupos de extermínio” ao estilo do
GRADI.
Pá gina 64 de 94
6.3.1.2. Medidas voltadas à melhoria do treinamento dos policiais,
inclusive em programas de reciclagem, e que contemplem
a sensibilização para a necessidade de respeito aos
direitos humanos e para a questão do racismo estrutural
Pá gina 65 de 94
6.3.1.3. Elaboração de protocolos públicos de uso proporcional e
progressivo da força, em conformidade com a Constituição
Federal brasileira e com os parâmetros internacionais,
especialmente aqueles previstos nos Princípios Básicos
sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei
É necessá rio que os protocolos da polícia sejam elaborados com base na ideia de
policiamento cidadã o e em parâ metros internacionais. Entende-se como possível e
necessá rio que se determine que os procedimentos policiais que envolvam o uso
legítimo da força sejam regulados por meio de lei federal, vinculando os estados
federados, que regulamentarã o a questã o apenas nas suas especificidades, para que se
firme um marco institucional comprometido com o direito à vida.
Deve ser estipulado expressamente que só se pode recorrer a este extremo como
ú ltimo recurso e que o uso da força deve estar inspirado nos princípios de
excepcionalidade, necessidade e proporcionalidade. Ademais, deve ser fixada a
obrigatoriedade de uso prioritá rio de armamento menos letal em todos os casos,
inclusive no caso de perseguiçã o de suspeitos, mesmo que armados. De outra banda, de
rigor a proibiçã o do uso de armamento letal em abordagens e perseguiçõ es de pessoas
desarmadas, tendo em vista a desproporcionalidade deste tipo de açã o. Deve haver
reformulaçã o da noçã o de uso generalizado de armas pela polícia, como ocorre hoje,
com formaçã o de tropas desarmadas e uso de armas restrito a tropas especiais armadas.
Pá gina 66 de 94
6.3.1.4. Elaboração de protocolos públicos de abordagem policial e
busca pessoal, com vistas a minimizar a prática de
filtragem racial
Pela leitura do dispositivo, fica claro que seu principal objetivo é a preservaçã o
de provas. Contudo, na prá tica da polícia brasileira, adotam-se as abordagens e buscas
pessoais como parte essencial do modelo de policiamento ostensivo, orientado para
identificaçã o de “atitudes suspeitas” na prevençã o ou repressã o da criminalidade.
61
http://www.ssp.sp.gov.br/Estatistica/Trimestrais.aspx. Chegou-se ao resultado pela soma do nú mero de
revistas pessoais e identificaçã o realizadas nos quatro trimestres do ano.
62
SINHORETTO J, BATITUCCI E. C, CARUSO H, ZILLI L.P. e DE AZEVEDO, R. G. “Policiamento ostensivo e
relaçõ es raciais: estudo comparado sobre formas contemporâ neas de controle do crime”. Universidade Federal
de Sã o Carlos. Departamento e Programa de Pó s-Graduaçã o em Sociologia. Grupo de Estudos sobre Violê ncia e
Administraçã o de Conflitos. Disponível em:
http://www.gevac.ufscar.br/wp-content/uploads/2020/09/policiamento-ostensivo-rel-raciais-2020.pdf
Pá gina 67 de 94
apontam que a filtragem racial e os estereó tipos sociais sã o o que, na prá tica, orientam a
abordagem e busca pessoal.
Para que seja possível maior controle da atuaçã o policial e se coíba eventuais
abusos aos direitos fundamentais, é indispensá vel que haja um protocolo que determine
que a intervençã o policial seja necessariamente embasada em elementos objetivos que
se vinculem razoavelmente à prá tica de conduta criminal. Para tanto, é possível adotar
os parâ metros definidos pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao condenar a
Repú blica Argentina por atuaçã o indevida da polícia, quais sejam: i-) que a polícia
indique as circunstâ ncias objetivas em que procede a uma detençã o, inspeçã o e/ou
busca pessoal sem ordem judicial, e sempre em relaçã o à prá tica concreta de um delito;
ii-) que tais circunstâ ncias devem ser de cará ter prévio a qualquer procedimento e de
interpretaçã o restritiva; iii-) que devam ocorrer em conjunto com uma situaçã o de
urgência que impeça a solicitaçã o de ordem judicial; iv-) que as forças de segurança
devem deixar registrado exaustivamente no auto do procedimento os motivos que
deram origem à inspeçã o ou busca pessoal; e v-) que seja vedado o uso de critérios
discriminató rios para efetuar uma abordagem63.
63
Caso “Fernandez Prieto y Tumbeiro Vs. Argentina.”
Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/cidh-argentina-abordagem-policial.pdf
Pá gina 68 de 94
com que sejam submetidos a condiçõ es adversas de trabalho sem que estejam
capacitados para tanto64.
Assim, como medida concreta e relacionada ao objeto deste EPAP – que trata, em
suma, do direito à vida – entende-se que essencial é atuar para concretizar medidas de
proteçã o aos policiais vitimizados, como fornecer adequados equipamentos de
proteçã o, disponíveis inclusive durante o período de folga desses, bem como
treinamentos voltados à açã o policial quando nã o se encontram em serviço, de forma a
reduzir a morte de policiais em confronto fora de serviço.
É sabido que as questõ es que estã o na base de muitos dos problemas aqui
narrados sã o de ordem social e psicoló gica. A atividade policial é, por natureza,
estressante e demanda apoio psicoló gico contínuo.
Pá gina 69 de 94
A expressã o desse sofrimento psíquico se traduz no elevado índice de suicídio
entre os policiais. Tome-se como exemplo o índice de suicídio entre os policiais civis de
Sã o Paulo, que apresenta uma taxa de 30,3 por 100 mil habitantes, muito superior à
média nacional de 6,666 por 100 mil habitantes, e acima do patamar considerado
endêmico pela Organizaçã o Mundial da Saú de, de 10 por 100 mil habitantes.
66
Ministério da Saú de. Mortalidade por suicídio e notificações de lesões autoprovocadas no Brasil.
Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/setembro/20/boletim_epidemiologico_svs_33_final.
pdf, Acesso em 24 de novembro de 2021
67
Disponível em: https://forumseguranca.org.br/anuario-13/
Pá gina 70 de 94
6.3.1.7. Previsão de afastamento temporário das funções de
policiamento ostensivo dos agentes envolvidos em mortes
nas operações policiais
É essencial que o policial que atue nas ruas e porte arma de fogo esteja
efetivamente apto, do ponto de vista emocional e psicoló gico, para se submeter a uma
atividade que é intrinsicamente estressante e conflituosa.
Pá gina 71 de 94
instituiçã o, para evitar que elas se repitam. No entanto, o conceito de controle
institucional, segundo o Guia de Referência para Ouvidorias de Polícia elaborado pela
Secretaria Nacional de Segurança Pú blica, pelo Ministério da Justiça e pela Secretaria
Especial dos Direitos Humanos68, designa uma operaçã o que compreende três etapas:
(i) coleta de informaçõ es sobre os resultados obtidos com a realizaçã o de determinada
atividade; (ii) comparaçã o dos resultados obtidos com resultados esperados; (iii)
adoçã o, caso necessá rio, de providências corretivas para atingir a meta planejada.
Além da importâ ncia da Ouvidoria, necessá rio destacar que o Ministério Pú blico
é o ó rgã o constitucionalmente previsto para realizar o controle externo da atividade
policial, devendo dispor de toda estrutura e condiçõ es para realizar este ínterim nã o
apenas na seara penal, mas também na fiscalizaçã o das políticas pú blicas para que estas
nã o se desviem da finalidade de respeito aos fundamentos do Estado Democrá tico de
Direito, aos objetivos fundamentais da Repú blica Federativa do Brasil, aos princípios
informadores das relaçõ es internacionais, bem como aos direitos assegurados na
Constituiçã o Federal, na lei e nos instrumentos internacionais sobre uso de arma de
fogo por agentes estatais.
É também essencial que os ó rgã os periciais tenham toda a estrutura necessá ria
para realizar suas atribuiçõ es de maneira independente e eficaz, detalhando em seus
laudos a dinâ mica das ocorrências de letalidade. Nesse sentido, é obrigaçã o do Estado
também a preservaçã o do local da ocorrência, de modo a viabilizar o trabalho dos
peritos.
68
Disponível em http://www.dhnet.org.br/denunciar/ouvidoria/guia_sedh_referencia_ouvidorias.pdf
Pá gina 72 de 94
Observa-se que a Comissã o Nacional da Verdade recomendou em seu relató rio a
necessidade de “desvinculaçã o dos institutos médicos legais, bem como dos ó rgã os de
perícia criminal, das secretarias de segurança pú blica e das polícias civis” 69 e a criaçã o,
nos estados da Federaçã o, de centros avançados de antropologia forense e a realizaçã o
de perícias que sejam independentes das secretarias de segurança pú blica e com plena
autonomia ante a estrutura policial, para conferir maior qualidade na produçã o de
provas técnicas, inclusive no diagnó stico de tortura.
Este é um avanço necessá rio para garantir a eficá cia dos trabalhos periciais em
casos de mortes causadas por agentes policiais, nos quais o exame balístico e a
descriçã o completa de achados no local dos fatos sã o essenciais, assim como o
detalhado exame necroscó pico e dos demais objetos relacionados à ocorrência.
Em relaçã o aos danos materiais, envolvendo gastos com funeral, locomoçã o para
depoimentos, medicamentos e tratamentos, entre outros, na impossibilidade de se
juntar comprovantes, dado o tempo decorrido e a falta de conhecimento das vítimas
sobre a necessidade de guardá -los, requer-se à Corte a fixaçã o do valor justo e
equitativo para o ressarcimento desses gastos no valor de US$ 5.000,00 (cinco mil
dó lares americanos).
69
Disponível em: www.cnv.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_1_pagina_959_a_976.pdf
Pá gina 73 de 94
6.3.2.2. Dano moral em prejuízo dos familiares das vítimas fatais
da operação XXXXXX
Tais danos morais devem-se: i-) à forma brutal com que seus entes queridos
foram executados, o que, por si, já causa um enorme trauma; ii-) à evidência de ter se
tratado de uma emboscada, tornando qualquer forma de reaçã o das vítimas impossível,
o que gerou um sentimento generalizado de indignaçã o nos familiares; iii-) à s
humilhaçõ es e preconceitos decorrentes da ampla midiatizaçã o da operaçã o; iv-) à falta
de qualquer amparo estatal à s famílias, seja no plano material ou psicoló gico; v-) ao
sofrimento dos filhos e filhas, que cresceram sem a companhia dos pais; ao sofrimento
das mã es que enterram os pró prios filhos; ao sofrimento das esposas que perderam
seus afetos e ao sofrimento dos irmã os e irmã s, que viram morrer seus amigos de
nascença.
Nesse sentido:
Pá gina 74 de 94
causando profundos danos psicoló gicos e sofrimentos que poderiam ter sido evitados
caso as forças de segurança pú blica nã o tivessem agido com excesso no uso da força
policial e, na sequência, os ó rgã os de investigaçã o e justiça tivessem sido mais diligentes
e céleres na investigaçã o e julgamento do ocorrido.
De igual sorte, necessá rio um pedido pú blico de desculpas por parte do Brasil e
do estado de Sã o Paulo à s vítimas fatais e seus familiares, a ser amplamente divulgado
em veículos de mídia de grande circulaçã o.
Sugere-se, por fim, a instalaçã o na praça de pedá gio da rodovia XXXXX, local em
que as vítimas foram executadas em XXXX, de um memorial em lembrança aos 12
(doze) mortos na operaçã o XXXXX.
Pá gina 75 de 94
Visa-se com isso, reparar a memó ria das vítimas, confortar parcialmente os
familiares e mostrar ao pú blico em geral que a atuaçã o das forças de segurança deve,
sempre, dar-se dentro dos parâ metros legais, com respeito ao direito à vida, à s
garantias judiciais e à dignidade da pessoa humana.
7. As provas
Pá gina 76 de 94
7.3. Prova testemunhal
Para subsidiar a atuaçã o desta Corte e esclarecer eventuais dú vidas com relaçã o
aos fatos da operaçã o XXXXX, da atuaçã o do GRADI e das subsequentes investigaçõ es
policiais e açõ es judiciais, os peticioná rios requerem a arguiçã o das testemunhas abaixo
elencadas:
Pá gina 77 de 94
A atuaçã o do GRADI compõ e um amplo arco histó rico de violência policial
no estado de Sã o Paulo, que vai dos grupos de extermínio surgidos nos anos 1970
(Esquadrã o da Morte), passando pelo massacre do Carandiru, em 1992, atuaçã o do
GRADI, no começo dos anos 2000, à s execuçõ es sumá rias, nos crimes de maios de 2006,
culminando com a crescente escalada nos índices de violência policial, conforme
abordado no tó pico 3.4.
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O perito irá declarar acerca do contexto da violência urbana no estado de
São Paulo, crime organizado e atuação dos grupos de extermínio das forças de
segurança pública paulistas.
Pá gina 79 de 94
de cuja realizaçã o emanou o I Programa Estadual de Direitos Humanos do país, em
1997, consignado no Decreto Estadual n. 42.209, de 15 de Setembro de 1997. Implantou
e foi o primeiro coordenador do Programa SOS Racismo da ALESP, em 1998, criado pelo
Projeto de Resoluçã o n. 05, de 1994, de autoria do deputado Jamil Murad. Autor de farta
legislaçã o estadual sobre Direitos Humanos e Segurança Pú blica, dentre as quais se
destacam: a Lei Estadual n. 10.354, de 25 de agosto de 1999, que dispõ e sobre a
proteçã o e auxílio à s vítimas da violência, com base na qual se editou o Decreto Estadual
n. 44.214, de 30 de agosto de 1999, que instituiu o Programa Estadual de Proteçã o a
Testemunhas (Provita); a pioneira Lei Estadual n. 10.948, de 5 de novembro de 2001,
que dispõ e sobre as penalidades a serem aplicadas à prá tica de discriminaçã o em razã o
de orientaçã o sexual; a Lei Estadual 10.429, de 2 de dezembro de 199, que cria a
Campanha Anual de Combate à Violência e Exploraçã o contra Crianças e Adolescentes
no Estado de Sã o Paulo. Foi integrante da Comissã o de Segurança Pú blica da ALESP,
relator da CPI Estadual do Narcotrá fico, Vice-Presidente da Comissã o de Finanças e
Orçamento da ALESP e líder da bancada do PT naquela Casa. Representou a Assembleia
Legislativa do Estado de Sã o Paulo 2 em comissõ es constituídas pelo Executivo para a
reestruturaçã o da FEBEM e a extinçã o do Complexo Penitenciá rio do Carandiru, na
Comissã o Especial de reparaçã o de presos políticos pela ditadura militar constituída
pela Lei Estadual 10.721, e no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, em 2006 e 2007. Foi Assessor Especial da Presidência da Repú blica,
encarregado da Á rea de Participaçã o Social da Secretaria Geral da Presidência da
Repú blica e da Secretaria de Governo da Presidência da Repú blica em 2015 e 2016.
Coordenou o Fó rum Inter-Conselhos Nacionais, a Participaçã o Social na elaboraçã o do
Plano Pluri-Anual do governo federal e as plataformas de participaçã o social ParticipaBr
e Dialoga Brasil. Foi deputado federal entre 2013 e 2015, tendo sido membro titular da
Comissã o de Direitos Humanos e Minorias e da Comissã o de Segurança Pú blica e
Combate ao Crime Organizado da Câ mara dos Deputados. Criou o Prêmio de Direitos
Humanos Evandro Lins e Silva, da Câ mara dos Deputados, pela aprovaçã o do Projeto de
Pá gina 80 de 94
Resoluçã o 234, de 2013. É autor de vá rias proposiçõ es em tramitaçã o naquela Casa
sobre direitos humanos e segurança pú blica. Na sociedade civil, Renato Simõ es foi
membro do Conselho Nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos, membro
do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, CONDEPE, entre 2012
e 2016, onde relatou o caso sobre a violência policial no processo de reintegraçã o de
posse da Comunidade do Pinheirinho, de Sã o José dos Campos, entre outros. Atualmente
é o Coordenador Geral da ACAT – Açã o dos Cristã os pela Aboliçã o da Tortura e o
Coordenador Executivo da Associaçã o Nacional Vida e Justiça em Apoio e Defesa dos
Direitos das Vítimas da COVID-19.
Pá gina 81 de 94
A suposta vítima que deseje beneficiar‐se do Fundo de Assistência
Jurídica à s Vítimas deverá comunicá ‐lo à Corte em seu escrito de
petiçõ es, argumentos e provas. Deverá demonstrar, mediante
declaraçã o juramentada e outros meios probató rios idô neos que
satisfaçam ao Tribunal, que carece de recursos econô micos suficientes
para saldar os custos do litígio perante a Corte Interamericana, bem
como indicar com precisã o quais aspectos de sua defesa no processo
requerem o uso de recursos do Fundo de Assistência Jurídica à s
Vítimas.
9. Pedidos
Pá gina 82 de 94
1. Pelas mortes de XXXXXXXXXXXXX, em 05 de março de 2002, em razã o da
açã o de seus agentes de segurança pú blica, na chamada operaçã o XXXXXX,
em franca violaçã o ao artigo 4 da CADH;
2. Pela violaçã o dos artigos 8.1 (Garantias judiciais) e 25 (Proteçã o judicial) da
CADH, ao nã o promover investigaçã o e julgamento imparciais dos fatos
ocorridos na operaçã o XXXXXXX: i-) ignorando os elementos factuais que
apontavam para o planejamento da execuçã o sumá ria; ii-) nã o realizando
diligências mínimas para uma investigaçã o efetiva, como preservaçã o do
local das mortes e demais perícias; e iii-) agindo com morosidade na
apuraçã o do caso, nas esferas civil e penal; e
3. Pela violaçã o do artigo 5 (integridade pessoal) da CADH, pelos danos físicos e
psicoló gicos causados aos familiares das vítimas da operaçã o XXXXXX,
conforme exposto ao longo deste EPAP.
Como consequência de tais violaçõ es, requer-se à Corte que ordene à Repú blica
Federativa do Brasil que:
3. Proceda a uma ampla e imparcial investigaçã o acerca dos fatos ocorridos na operaçã o
XXXX, estabelecendo a responsabilidade dos agentes políticos, judiciais e executivos
envolvidos na operaçã o;
Pá gina 83 de 94
4. Formule pedido pú blico de desculpas à s vítimas e seus familiares, a ser divulgado em
grandes veículos de mídia, tanto no estado de Sã o Paulo, quanto nacionalmente;
Pá gina 84 de 94
que a dotaçã o dos recursos materiais requeridos para oferecer um serviço
de segurança pú blica de qualidade à populaçã o;
a. Tal formaçã o deve envolver a capacitaçã o das forças policiais para
o uso da força letal no marco dos parâ metros internacionais, em
especial, os Princípios Bá sicos das Naçõ es Unidas sobre o Uso da
Força e de Armas de Fogo pelos Funcioná rios Responsá veis pela
Aplicaçã o da Lei;
b. O Estado deve ser condenado a aplicar periodicamente plano
político-pedagó gico nas Academias das Polícias, nã o apenas por
professores dos pró prios quadros policiais, mas também de
professores recrutados em universidades, institutos de pesquisa
especializados em segurança pú blica e direitos humanos,
movimentos sociais e outras organizaçõ es da sociedade civil, ainda
que por meio de convites;
4. que o Estado seja condenado a desenvolver e efetivar políticas pú blicas
voltadas à reduçã o de mortes causadas por policiais, bem como a elaborar
e efetivar um plano específico, com participaçã o popular, visando à
reduçã o da letalidade policial e ao controle das forças de segurança
pú blica, que contenha medidas objetivas, cronogramas específicos e
previsã o dos recursos necessá rios para a sua implementaçã o, além de
programas de prevençã o social, comunitá ria e situacional, destinados a
combater os fatores que favorecem a reproduçã o das condutas violentas
na sociedade;
a. Tal plano deverá contemplar obrigatoriamente, no mínimo: (i)
medidas voltadas à melhoria do treinamento dos policiais,
inclusive em programas de reciclagem, e que contemplem a
sensibilizaçã o para a necessidade de respeito aos direitos
humanos e para a questã o do racismo estrutural/institucional; (ii)
Pá gina 85 de 94
elaboraçã o de protocolos pú blicos de uso proporcional e
progressivo da força, em conformidade com a Constituiçã o Federal
e com os parâ metros internacionais, especialmente aqueles
previstos nos Princípios Bá sicos sobre o Uso da Força e Armas de
Fogo pelos Funcioná rios Responsá veis pela Aplicaçã o da Lei da
ONU; (iii) elaboraçã o de protocolos pú blicos de abordagem policial
e busca pessoal, com vistas a minimizar a prá tica de filtragem
racial; (iv) medidas voltadas a melhorar as condiçõ es de trabalho
dos agentes de segurança; (v) providências destinadas a resolver o
problema da ausência ou insuficiência de acompanhamento
psicoló gico dos policiais; (vi) previsã o de afastamento temporá rio,
das funçõ es de policiamento ostensivo, dos agentes envolvidos em
mortes nas operaçõ es policiais; (vii) instituiçã o de programas de
valorizaçã o policial nã o focados em premiar “atos de coragem e
bravura” ou similares, mas sim voltado a incentivar habilidades
fundamentais para o trabalho policial, como o bom atendimento ao
pú blico, a excelência técnica para a investigaçã o de crimes, as
açõ es de inteligência para prevençã o e a melhoria da relaçã o com a
comunidade; (viii) inclusã o, para qualquer tipo de base de cá lculo
de gratificaçõ es das forças policias, de indicadores de reduçã o de
homicídios decorrentes de intervençã o policial; (ix) proibiçã o de
promoçã o ou de premiaçã o de policiais por fatos envolvendo
mortes causadas por estes enquanto ainda estejam sendo
investigados;
b. A implementaçã o de tal plano deverá ser monitorada pelo Estado
com o auxílio dos ó rgã os do sistema de justiça, em processo
pú blico e transparente, aberto à participaçã o colaborativa da
sociedade civil;
Pá gina 86 de 94
5. que o Estado seja condenado a regulamentar, mediante lei, os
procedimentos que envolvam abordagem policial, determinando que ela
deve ser feita com base em critérios objetivos e fundamentados, tal como
restou decidido no caso Fernandez Prieto y Tumbeiro Vs. Argentina,
devendo ser estabelecidos os seguintes parâ metros:
a. que a polícia indique as circunstâ ncias objetivas em que procede a
uma detençã o, inspeçã o e/ou busca pessoal sem ordem judicial, e
sempre em relaçã o à prá tica concreta de um delito;
b. que tais circunstâ ncias devem ser de cará ter prévio a qualquer
procedimento e de interpretaçã o restritiva;
c. que devam ocorrer em conjunto com uma situaçã o de urgência que
impeça a solicitaçã o de ordem judicial;
d. que as forças de segurança devem deixar registrado
exaustivamente no auto do procedimento os motivos que deram
origem à inspeçã o ou busca pessoal;
e. que seja vedado o uso de critérios discriminató rios para efetuar
uma abordagem;
6. que o Estado seja condenado a regulamentar, mediante lei, a necessidade
de afastamento temporá rio das funçõ es de policiamento ostensivo dos
agentes envolvidos em mortes nas operaçõ es policiais e oferecimento de
acompanhamento psicoló gico/terapêutico para eles, pelo tempo
necessá rio à submissã o ao tratamento/orientaçã o, reservando-se tã o
somente à s funçõ es burocrá ticas ou administrativas;
7. que o Estado seja condenado a estruturar ó rgã os periciais de forma
independente e autô noma, o que pressupõ e a desvinculaçã o dos institutos
médicos legais e demais ó rgã os de perícia criminal das secretarias de
segurança pú blica e das polícias civis, com a criaçã o, em todos os estados
da Federaçã o, de centros avançados de antropologia forense, a fim de que
Pá gina 87 de 94
a realizaçã o de perícias seja independente e com plena autonomia ante a
estrutura policial, para conferir qualidade na produçã o de provas
técnicas;
8. que o Estado seja condenado a elaborar, em todas as ocorrências de
homicídios – consumados ou tentados – em que houver intervençã o
policial, laudos técnico-periciais:
Pá gina 88 de 94
objetivo de assegurar a possibilidade de revisã o independente, devendo
os registros fotográ ficos, os croquis e os esquemas de lesã o ser juntados
aos autos, bem como armazenados em sistema eletrô nico de có pia de
segurança para fins de backup;
Pá gina 89 de 94
de atendimento, em regime de plantã o, de demandas relacionadas ao
controle externo das polícias, bem como que confira ampla divulgaçã o da
existência do serviço, inclusive no seu sítio eletrô nico, para que os
cidadã os possam saber a quem devem recorrer para denunciar eventuais
abusos e violaçõ es de direitos pelas forças de segurança;
13. que o Estado seja condenado a estabelecer uma exigência legal de
comunicaçã o prévia ao Ministério Pú blico acerca de grandes operaçõ es
previamente planejadas a serem executadas pelas polícias, de forma a
garantir cumprimento da legalidade;
14. que o Estado seja condenado a garantir que os agentes de segurança e
profissionais de saú de preservem todos os vestígios de crimes cometidos
em operaçõ es policiais, de modo a evitar a remoçã o indevida de cadá veres
sob o pretexto de suposta prestaçã o de socorro e o descarte de peças e
objetos importantes para a investigaçã o;
15. que o Estado seja condenado a levantar o sigilo de todos os protocolos de
atuaçã o policial, de modo a permitir maior controle social, incluindo todos
os Procedimentos Operacionais Padrã o (POPs) da Polícia Militar e todos
os textos normativos operacionais da Polícia Civil;
16. que o Estado seja condenado a instalar equipamentos de GPS e sistemas
de gravaçã o de á udio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos
agentes de segurança, com o posterior armazenamento digital dos
respectivos arquivos, bem como a monitorar a efetiva e adequada
utilizaçã o desses equipamentos;
17. que o Estado seja condenado a atuar para que ó rgã os e agentes pú blicos
se abstenham de se manifestar de qualquer forma que incentive
diretamente a letalidade policial, bem como meios de comunicaçã o, que
sã o concessõ es pú blicas;
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18. que o Estado seja condenado a estruturar Ouvidorias de Polícia que
sejam, de fato, autô nomas, independentes, tenham poderes investigativos,
requisitó rios e fiscalizador e que preste contas à sociedade;
19. que o Estado seja condenado a construir e manter pá gina eletrô nica, com
prazo indeterminado, específica para a divulgaçã o, se expressamente
autorizado por familiares, de perfis de vítimas da violência policial que
tenham sido mortas quando se achavam desarmadas, constando
fotografia, qualificaçã o e resumo da apuraçã o do crime e da
responsabilizaçã o criminal do autor do homicídio, com a divulgaçã o da
qualificaçã o deste somente quando houver decisã o definitiva de
pronú ncia;
20. que o Estado seja condenado a divulgar mensalmente, na pá gina
eletrô nica das Secretarias de Segurança Pú blica de cada estado federado,
os homicídios – consumados ou tentados – ocorridos no mês anterior em
todos os estados, que envolvam a atuaçã o ou intervençã o de policiais, seja
como possíveis autores, seja como vítimas, apontando os seguintes dados,
sempre que disponíveis: • quanto à vítima: nome, idade, sexo, cor, filiaçã o
e eventuais sinais identificativos;
• quanto ao autor: sua condiçã o de policial civil ou militar, se
for o caso, mas sua qualificaçã o apenas quando houver decisã o
definitiva de pronú ncia;
• quanto à ocorrência delituosa: data, horá rio, local, histó rico e
nú mero/DP do respectivo Boletim de Ocorrência;
• quanto à apuraçã o e responsabilizaçã o: a íntegra dos
respectivos procedimentos administrativos apurató rios, exceto
as informaçõ es fundamentadamente classificadas como
sigilosas.
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21. que o Estado seja condenado a promover a unificaçã o, num ú nico banco
de dados, totalmente acessível à populaçã o e de fá cil consulta, das
informaçõ es relativas a homicídios dolosos, consumados ou tentados,
reunindo os dados tratados no item anterior, bem como a base de
informaçõ es, sobre o tema, do Instituto Médico Legal e do Serviço de
Verificaçã o de Ó bito, reunindo-os numa ú nica plataforma;
22. que o Estado seja condenado a promover atendimento médico e
psicoló gico à s pessoas vítimas de violência policial, pelo tempo indicado
pela equipe profissional responsá vel, especializada em traumas de tal
natureza (violência policial), dirigidos a pessoas sobreviventes das
ocorrências violentas e a familiares de mortos em tais circunstâ ncias;
tudo independentemente de apuraçã o de responsabilidades ou de decisã o
judicial; bem como a condenaçã o do Estado a capacitar o pessoal da Rede
de Atençã o Psicossocial (RAPS) a realizar este tipo de atendimento, sendo
que sua implementaçã o, se progressiva, deve se dar prioritariamente nas
á reas nas quais os índices de letalidade policial e de vitimizaçã o policial
sã o maiores;
23. que o Estado seja condenado a providenciar que toda e qualquer
ocorrência da qual resulte morte de pessoa em decorrência de
intervençã o policial seja investigada, sem prejuízo do inquérito policial,
pela respectiva Corregedoria, proibindo-se que o seja, no â mbito da
Polícia Militar, pelos seus comandos diretos ou pelos batalhõ es a que
estejam adstritos os policiais responsá veis pelo resultado ó bito; e
24. que o Estado seja condenado a constituir Comissã o de Letalidade, junto à s
Secretarias de Segurança Pú blica dos Estados federados, integrada por
representantes do Gabinete, da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Instituto
de Criminalística e da Ouvidoria de Polícias, propiciando-se por convite
também a participaçã o do Ministério Pú blico e da Defensoria Pú blica,
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além da participaçã o das Universidades Pú blicas, de institutos de
pesquisa afetos ao tema, de conselhos de direitos, de movimentos sociais
e organizaçõ es nã o governamentais, para acompanhamento e
monitoramento das providências destinadas à prevençã o e
enfrentamento da letalidade policial.
Sã o Paulo, XXXXXXX
Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXX
10.Lista de anexos
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Anexo XII – Sentença absolutó ria dos policiais
Anexo XIV – Acó rdã o do TJSP confirmando impronú ncia dos policiais
Anexo XV - Relató rios Técnicos Psicoló gicos a partir de entrevistas com familiares
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