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ANTONIO EVANGELISTA DE SOUZA NETTO

DANIELLE NOGUEIRA MOTA COMAR


MARCELO QUENTIN
MÁRIO AUGUSTO QUINTEIRO CELEGATTO

Organização
ANTONIO EVANGELISTA DE SOUZA NETTO

ESTUDOS DE DIREITO EMPRESARIAL PARA DELEGADO DE POLÍCIA


(FEDERAL E CIVIL)

Curitiba
2019

AMAPAR
R. Ernâni Santiago de Oliveira, 87 - Centro Cívico, Curitiba - PR,
80530-130 Telefone: (41) 3254-6500
e-mail:emap@emap.com.br•www.emap.com.br - Copyright:2019 –
AMAPAR/EMAP – Escola da Magistratura do Paraná

Colaboração na Elaboração do Material: Nathália Reis Pereira

E-book Estudos de Direito Empresarial para Delegado de Polícia (Federal e Civil). 1. edição /
organizador Antonio Evangelista de Souza Netto – Curitiba: AMAPAR, 2019.

ISBN: 978-85-94263-05-6

1. Direitc empresarial. 2. Empresário. 3. Espécies de empresa. 4. Empresa. 5. Direito societário. 6.


Sociedades. 7. Sócios. 8. Estabelecimento empresarial. 9. Registro de empresas. 10. Nome
empresarial. 11. Escrituração empresarial. 12. Propriedade industrial. 13. Títulos de crédito. 14.
Contratos empresariais. 15. Falência. 16. Recuperação de empresas. 17. Sistemas financeiros. 18.
Jurisprudência aplicada pelo STJ. I. Título. II. SOUZA NETTO, Antonio Evangelista.
CDU 347.72
______________________________________________________________________________________
Catalogação na fonte: Biblioteca da Escola da Magistratura do Paraná.
INFORMAÇÕES PRINCIPAIS:

Apreciação resumida dos itens dos editais:


- Legislação
- Doutrina
- Enunciados das Jornadas de Direito Civil, Direito Comercial e Direito Processual Civil do
Conselho da Justiça Feral
- Questões inéditas e comentadas
- Jurisprudência dividida por temas do Superior Tribunal de Justiça

Este volume cuida do conteúdo da disciplina de Direito Empresarial, cobrada nos


editais dos concursos para ingresso nas carreias policiais, sobretudo para Delegado da Polícia
Federal.
O livro contém as principais orientações doutrinárias, normativas e jurisprudenciais,
relacionadas ao Direito Empresarial.
Embora se destine aos estudantes e operadores do direito, de modo geral, a obra é
especialmente interessante para aqueles que estão prestando concursos públicos.
Neste volume se encontram questões inéditas e comentadas, julgados atuais do
Superior Tribunal de Justiça e enunciados das Jornadas de Direito Civil, Comercial e
Processual Civil, do Conselho da Justiça Federal - tudo de forma organizada e didática.

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SUMÁRIO

1 DIREITO EMPRESARIAL.................................................................................................... 10
1.1 ORIGEM................................................................................................................................. 10
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA..................................................................................................... 10
1.3 AUTONOMIA DO DIREITO EMPRESARIAL.................................................................... 12
1.4 FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL............................................................................. 12
1.5 CARACTERÍSTICAS DO DIREITO EMPRESARIAL........................................................ 12
1.6 PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL....................................................................... 13
1.7 DISCIPLINA PROCESSUAL DO DIREITO EMPRESARIAL............................................ 14
2. EMPRESÁRIO........................................................................................................................ 17
2.1 CARACTERIZAÇÃO DO EMPRESÁRIO............................................................................ 17
2.2 INSCRIÇÃO DO EMPRESÁRIO.......................................................................................... 18
2.3 (IN)CAPACIDADE DO EMPRESÁRIO............................................................................... 18
2.4 IMPEDIMENTOS DO EMPRESÁRIO.................................................................................. 20
2.5 TEORIA DA EMPRESA E SEUS PERFIS............................................................................ 20
3.ESPÉCIES DE EMPRESA...................................................................................................... 24
3.1RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS................................................................................... 25
3.2 DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS.............................................................................................. 25
3.3 SÓCIO OCULTO.................................................................................................................... 26
3.4 SEGREDO COMERCIAL...................................................................................................... 27
4. TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO................................................................ 32
4.1CARACTERÍSTICAS DAS SOCIEDADES........................................................................... 33
4.2 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.............................................. 34
4.3 CLASSIFICAÇÕES DAS SOCIEDADES............................................................................. 36
4.3.1 Sociedades não personificadas e sociedades personificadas................................................ 36
4.3.2 Sociedades por quotas e sociedades por ações..................................................................... 37
4.3.3 Sociedades contratuais e sociedades estatutárias................................................................. 37
4.3.4 Sociedades de capital e sociedades de pessoas..................................................................... 37
4.3.5 Sociedades com responsabilidade ilimitada, limitada ou mista........................................... 37
4.4 SOCIEDADES DO CÓDIGO CIVIL..................................................................................... 38
4.4.1 Sociedade em comum........................................................................................................... 38
4.4.2 Sociedade em conta de participação..................................................................................... 39
4.4.3 Sociedade Simples................................................................................................................ 40
4.4.3.1 Elementos do Contrato Social........................................................................................... 41
4.4.3.2 Direitos e Obrigações dos Sócios...................................................................................... 43
4.4.3.3 Nulidade de exclusão na participação de lucros e perdas.................................................. 43
4.4.3.4 Administração da Sociedade Simples – artigos 1010 a 1021 do Código Civil................. 44
4.4.3.5 Relações com Terceiros nas Sociedades Simples............................................................. 45
4.4.3.6 Resolução da Sociedade em Relação a um Sócio nas Sociedades Simples...................... 46
4.4.3.7 Dissolução da Sociedade Simples..................................................................................... 48
4.4.4 Sociedades Cooperadas e Agronegócio................................................................................ 49
4.4.5. Sociedade em Nome Coletivo............................................................................................. 51
4.4.6. Sociedade em Comandita Simples...................................................................................... 51
4.4.7. Sociedade Limitada............................................................................................................. 52
4.4.7.1. Aspectos Gerais das Sociedades Limitadas...................................................................... 52
4.4.7.2. Capital Social das Sociedades Limitadas......................................................................... 53
4.4.7.3. Administração das Sociedades Limitadas - Arts. 1060 A 1065 Do Código Civil........... 54
4.4.7.4. Conselho Fiscal das Sociedades Limitadas...................................................................... 55
4.4.7.5. Deliberações dos Sócios nas Sociedades Limitadas......................................................... 56
4.4.7.6. Aumento e redução do capital social nas sociedades limitadas....................................... 58
4.4.7.7. Resolução da sociedade em relação a sócios minoritários nas sociedades limitadas....... 58
4.4.7.8. Dissolução das Sociedades Limitadas.............................................................................. 59
4.4.7.9. Liquidação das Sociedades Reguladas Pelo Código Civil............................................... 59
4.5. SOCIEDADES COLIGADAS, CONTROLADORAS E CONTROLADAS NO CÓDIGO
CIVIL............................................................................................................................................ 60
4.6. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS - INCORPORAÇÃO, FUSÃO, CISÃO (PARCIAL E
TOTAL) E TRANSFORMAÇÃO................................................................................................ 61
4.6.1. Incorporação........................................................................................................................ 62
4.6.2. Fusão.................................................................................................................................... 62
4.6.3. Cisão Total Ou Parcial......................................................................................................... 62
4.6.4. Transformação..................................................................................................................... 62
4.7. SOCIEDADES DEPENDENTES DE AUTORIZAÇÃO...................................................... 63
4.8. SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES.................................................................. 64
4.9. SOCIEDADES ANÔNIMAS................................................................................................. 64
4.9.1. Considerações Gerais.......................................................................................................... 64
4.9.2. Classificação das Ações...................................................................................................... 65
4.9.3. Valores das Ações............................................................................................................... 66
4.9.4. Debêntures........................................................................................................................... 66
4.9.5. Partes Beneficiárias............................................................................................................. 67
4.9.6. Bônus de Subscrição............................................................................................................ 67
4.9.7. Notas Promissórias e Commercial Papers........................................................................... 67
4.9.8. Constituição da Companhia................................................................................................. 67
4.9.9. Controle da Companhia....................................................................................................... 68
4.9.10. Alienação de Controle da Companhia............................................................................... 69
4.9.11. Órgãos Societários............................................................................................................. 69
4.9.12. Responsabilidade dos Administradores............................................................................. 70
4.9.13. Ação de Responsabilidade................................................................................................. 71
5. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL............................................................................ 79
5.1. DEFINIÇÃO........................................................................................................................... 79
5.2. ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIA................................................ 79
5.3. RESPONSABILIDADE PELAS DÍVIDAS.......................................................................... 81
5.4. PROIBIÇÃO DE CONCORRÊNCIA.................................................................................... 82
5.5. CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL............................................................................ 83
5.6. PONTO COMERCIAL.......................................................................................................... 83
6. REGISTRO DE EMPRESAS................................................................................................. 92
7. NOME EMPRESARIAL, PREPOSTOS DO EMPRESÁRIO E ESCRITURAÇÃO
EMPRESARIAL.......................................................................................................................... 98
7.1. NOME EMPRESARIAL. ...................................................................................................... 98
7.2. PREPOSTOS DO EMPRESÁRIO......................................................................................... 100
7.3. ESCRITURAÇÃO EMPRESARIAL..................................................................................... 101
8. PROPRIEDADE INDUSTRIAL............................................................................................ 107
8.1. ASPECTOS GERAIS............................................................................................................. 107
8.2. PATENTES............................................................................................................................ 107
8.3. REGISTRO DE DESENHO INDUSTRIAL.......................................................................... 109
8.4. REGISTRO DE MARCA....................................................................................................... 110
8.5. INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS........................................................................................... 110
9. TÍTULOS DE CRÉDITO....................................................................................................... 118
9.1. TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO................................................................ 118
9.2. PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO....................................................................... 119
9.3. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO............................................................. 119
9.4. LETRA DE CÂMBIO............................................................................................................ 120
9.5. CHEQUE................................................................................................................................ 121
9.6. NOTA PROMISSÓRIA......................................................................................................... 122
9.7. DUPLICATA......................................................................................................................... 123
9.8. ATOS CAMBIAIS................................................................................................................. 124
9.8.1. Saque ou emissão................................................................................................................ 124
9.8.2. Aceite................................................................................................................................... 124
9.8.3. Endosso................................................................................................................................ 125
9.8.4. Aval..................................................................................................................................... 125
9.8.5. Protesto................................................................................................................................ 126
9.9. PRESCRIÇÃO DAS PRETENSÕES CAMBIAIS................................................................ 126
9.10. AÇÕES CAMBIAIS............................................................................................................ 127
10. CONTRATOS EMPRESARIAIS........................................................................................ 136
10.1. NOÇÕES GERAIS............................................................................................................... 136
10.2. REQUISITOS DOS CONTRATOS..................................................................................... 136
10.3. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS........................................................................... 137
10.4. PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS...................................................................................... 139
10.5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS..................................................................................... 141
10.6. MEIOS DE PROVA............................................................................................................ 142
10.7. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS........................................................................................ 143
10.8. CONTRATOS EM ESPÉCIE.............................................................................................. 144
10.8.1. Compra e Venda Mercantil............................................................................................... 144
10.8.2. Prestação de Serviços........................................................................................................ 144
10.8.3. Contratos Bancários (Conta-Corrente, Abertura de Crédito)............................................ 144
10.8.4. Arrendamento Mercantil Ou Leasing................................................................................ 146
10.8.5. Alienação Fiduciária em Garantia..................................................................................... 146
10.8.6. Factoring............................................................................................................................ 146
10.8.7. Franquia............................................................................................................................. 146
10.8.8. Concessão Mercantil......................................................................................................... 146
10.8.9. Comissão Mercantil........................................................................................................... 147
10.8.10. Agência e Distribuição.................................................................................................... 147
10.8.11. Representação Comercial Autônoma.............................................................................. 147
10.8.12. Seguro e Resseguro......................................................................................................... 147
11. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS........................................................... 155
11.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS.............................................................................................. 155
11.2. SUJEITOS ATIVOS DA FALÊNCIA................................................................................. 155
11.3. SUJEITOS PASSIVOS DA FALÊNCIA............................................................................. 156
11.4. COMPETÊNCIA NA FALÊNCIA E NA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS.................. 156
11.5. JUÍZO UNIVERSAL........................................................................................................... 157
11.6. FUNDAMENTOS DO PEDIDO, RESPOSTA E DEPÓSITO ELISIVO........................... 157
11.6.1. Fundamentos do Pedido.................................................................................................... 157
11.6.2. Resposta............................................................................................................................. 158
11.6.3. Depósito Elisivo................................................................................................................ 158
11.7. SENTENÇA......................................................................................................................... 158
11.8. COMITÊ DE CREDORES................................................................................................... 160
11.9. DESENVOLVIMENTO DO PROCEDIMENTO PROCESSUAL..................................... 160
11.10. ORDEM DE PAGAMENTO DOS CRÉDITOS NA FALÊNCIA.................................... 160
11.11. RECUPERAÇÃO DE EMPRESA EM CRISE (RECUPERAÇÃO JUDICIAL E
RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL) ....................................................................................... 162
11.11.1. Requisitos........................................................................................................................ 162
11.11.2. Meios de Recuperação Judicial....................................................................................... 163
11.11.3. Créditos não Abrangidos pela Recuperação Judicial...................................................... 164
11.11.4. Petição Inicial da Recuperação Judicial.......................................................................... 164
11.11.5. Plano de Recuperação Judicial........................................................................................ 165
11.11.6. Procedimento da Recuperação Judicial........................................................................... 166
11.11.7. Plano de Recuperação Judicial para Microempresas E Empresas de Pequeno Porte.... 167
11.11.8. Convolação da Recuperação Judicial em Falência.......................................................... 167
11.12. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL.............................................................................. 168
11.12.1. Créditos não Sujeitos à Recuperação Extrajudicial......................................................... 168
11.12.2. Procedimento da Recuperação Extrajudicial................................................................... 169
12. SISTEMAS FINANCEIROS................................................................................................ 187
12.1. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.............................................................................. 187
12.2. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO.................................................................... 188
12.3. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS....................... 188
13. JURISPRUDÊNCIA APLICADA DOS STJ SEPARADA POR TEMAS....................... 191
10

1. DIREITO EMPRESARIAL

1.1. ORIGEM

Constatou-se que desde o Código de Hamurabi (1.772 a.C) já havia normas voltadas à
disciplina das relações comerciais. Durante o Império Romano, embora o direito mercantil ainda
não fosse ramo autônomo do direito, também foram utilizadas normas que regulavam as atividades
comerciais. De todo modo, a disciplina das relações mercantis, nesse período, ainda estava sob os
domínios do Direito Civil.
O direito mercantil, contudo, só passou a ter caráter mais expressivo com o renascimento
mercantil, sobretudo pela intensificação do comércio marítimo, e pelo surgimento dos burgos,
locais de intenso exercício de atividades ligadas ao comércio. As corporações de ofício, formadas
pela reunião de comerciantes que se submetiam às regras comuns de orientação de suas atividades,
representam um marco significativo da origem do direito comercial. A partir das corporações é
possível reconhecer de modo mais nítido um conjunto de pessoas que exercem atividades da mesma
natureza e que se subordinam a normas gerais e abstratas, aplicáveis indistintamente a todos os
membros do grupo. É, essencialmente, a origem do sistema normativo de direito empresarial que
temos hoje.

1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A evolução histórica do direito empresarial pode ser dividida em três fases:


a) fase subjetiva, marcada pela presença dos usos e costumes como diretrizes orientadoras
das atividades mercantis, sobretudo no âmbito das corporações de ofício, responsáveis pela
aplicação de normas que se destinavam à orientação das condutas dos seus membros. A fase
subjetiva tem início na antiguidade, avança pela idade média, e se estende até 1808, data da
primeira edição do Código Comercial Francês. Na idade média, como indicado, o renascimento
mercantil e o surgimento dos burgos são pontos de destaque para o direito mercantil.
b) fase objetiva, ou fase da teoria dos atos do comércio. Iniciada com o Código Comercial
Francês, em 1808 e desenvolvida até 1942, ano da edição do Código Civil Italiano e da adoção da
teoria da empresa. A teoria dos atos do comércio adota a prática de “atos de comércio” como o
critério de subordinação dos comerciantes ao regime jurídico-comercial. Esta fase se inicia com a
idade moderna, marcada pela formação de Estados Nacionais, preponderantemente monárquicos. O
11

monopólio jurisdicional passa, inclusive, para as mãos dos Estados. Esta fase também é marcada
pela divisão do direito privado, em dois ramos: direito civil e direito comercial.
c) fase da empresa, ou subjetiva contemporânea, que se inicia com a adoção da teoria da
empresa, a partir da vigência do Código Italiano de 1942. O Código Civil Brasileiro de 2002 passou
a adotar a teoria da empresa e, por conseguinte, promoveu a unificação formal do direito privado. A
teoria da empresa adota o exercício da empresa como o critério de subordinação dos empresários ao
regime jurídico-empresarial.
O Código Comercial Brasileiro de 1850 adotava a teoria dos atos do comércio, por
influência do Código Comercial Napoleônico de 1808. De acordo com a teoria dos atos do
comércio, comerciante seriam os sujeitos que praticassem determinados atos legalmente
qualificados como atos do comércio. O regulamento 737/1850, complementando as disposições do
Código Comercial Brasileiro de 1850, elencava os atos do comércio.
Nesse sentido, o artigo 19 do regulamento 737/1950 dispunha que se considerava mercancia
os seguintes atos:
a) a compra e venda ou troca de efeitos moveis, ou semoventes para os vender por grosso ou
a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso;
b) as operações de câmbio, banco, e corretagem;
c) as empresas de fabricas, de comissões, de depósitos, de expedição, de consignação, e
transporte de mercadorias;
d) as empresas de espetáculos públicos;
e) os seguro fretamentos e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo; e
f) a armação e expedição de navios.
O Código Civil de 2002, influenciado pelo Código Italiano de 1942, adotou a teoria da
empresa. Para a teoria da empresa, empresário é o sujeito que realiza uma atividade
economicamente organizada, destinada à produção ou circulação, de produtos ou serviços, com o
fim de lucro, denominada empresa. A definição de empresa está no artigo 966 do Código Civil. Ao
contrário da teoria dos atos do comércio, a teoria da empresa não adota um rol exaustivo de atos e
atividades para serem utilizados como critérios de qualificação do empresário.
Perfil poliédrico da empresa, segundo Alberto Asquini. De acordo com o jurista italiano, a
empresa seria um fenômeno econômico poliédrico, com os seguintes perfis:
a) perfil subjetivo, considerando a empresa como sendo um sujeito empresário;
b) perfil funcional, considerando a empresa como uma atividade economicamente
organizada, destinada à produção ou circulação de produtos ou serviços com o fim de lucro;
c) perfil objetivo ou patrimonial, considerando a empresa com um conjunto de bens
organizados ao exercício da atividade empresarial (ou seja, o estabelecimento); e
12

d) perfil corporativo, considerando a empresa como uma corporação reunida para alcançar
um fim econômico comum.

1.3. AUTONOMIA DO DIREITO EMPRESARIAL

A autonomia de um ramo do conhecimento científico decorre da existência de um sistema


normativo, consubstanciado num conjunto de normas que se orientam por princípios e fontes
comuns.
O direito empresarial é um ramo autônomo do direito privado, juntamente com o Direito
Civil.

1.4. FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL

O direito Empresarial tem fontes próprias, divididas em fontes materiais e formais


(primárias ou secundárias).
As fontes materiais são os fatores econômicos.
As fontes formais primárias ou diretas são a Constituição Federal de 1988, o Código Civil
de 2002, nos artigos 966 e seguintes, a segunda parte do Código Comercial de 1850, revogado
parcialmente pelo Código Civil, além de inúmeras leis especiais que regulam o direito a atividade
empresarial (e.g. lei 8934/94, 9279/96, 6404/76 etc.). Ainda estão em vigor as disposições do
Código Comercial de 1850 que cuidam do Comércio Marítimo.
As fontes formais secundárias ou indiretas são os usos e costumes, além nas normas de
direito civil, principalmente as que tratam das obrigações e negócios jurídicos.
Atualmente tramita no Congresso Nacional o Projeto do Novo Código Comercial (PL
1.572/2011), de autoria do Prof. Fabio Ulhoa Coelho. Sobre as novidades do projeto, confira os
apontamentos do prof. André Santa Cruz (SANTA CRUZ, André. Direito empresarial. 8ª ed. Ed.
Método. São Paulo. 2018. P. 58 a 65.i

1.5. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO EMPRESARIAL

A doutrina aponta as seguintes características do Direito Empresarial:


a) cosmopolitismo, considerando a sua transcendência sobre os limites territoriais dos
Estados;
13

b) fragmentaridade, pois o direito empresarial possui ramos diversos, como o direito


societário, falimentar, cambial etc.);
c) informalismo, tendo em conta que as práticas comerciais precisam ser céleres, sem
entraves burocráticos;
d) elasticidade, tendo com conta o dinamismo do mercado, que não admite parâmetros
rígidos e inflexíveis; e
e) onerosidade, considerando que as atividades empresariais sempre objetivam o lucro.

1.6. PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL

Princípio da livre iniciativa: Nos termos do artigo 170 da CF: A ordem econômica, fundada
na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios. De acordo com o
prof. Fábio Ulhoa Coelho, o princípio da livre-iniciativa se expressa em quatro aspectos:
a) imprescindibilidade da empresa privada para que a sociedade tenha acesso aos bens e
serviços de que necessita para sobreviver;
b) busca do lucro como principal motivação dos empresários;
c) necessidade jurídica de proteção do investimento privado; e
d) reconhecimento da empresa privada como polo gerador de empregos e de riquezas para a
sociedade.
Princípio da liberdade de Concorrência: Indicado no inciso IV do artigo 170 da CF. A livre
concorrência está tutelada em diversas normas infraconstitucionais, inclusive na lei 12.592/11 e nos
artigos 183 e seguintes da lei 9279/96. Diversas agências reguladoras, como Anatel, Anvisa ANP,
além do CADE, são responsáveis pela garantia da livre concorrência e combate à concorrência
desleal.
Princípio da garantia e defesa da Propriedade privada: Indicado, sobretudo, no inciso II, do
Artigo 170 da CF, e concretizado por várias leis infraconstitucionais, inclusive, o Código Civil de
2002.
Princípio da Função Social da Empresa: A função social da empresa decorre do artigo 5º,
XXIII da CF, além dos artigos 966 do Código Civil e das inúmeras normas infraconstitucionais que
seguem essa orientação. Merece destaque, inclusive, o artigo 116 da LSA: “O acionista controlador
deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social,
e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham
e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e
atender”.
14

1.7. DISCIPLINA PROCESSUAL DO DIREITO EMPRESARIAL

Apesar da existência de inúmeras normas que tratam de questões processuais ligadas à


atividade empresarial (e.g lei 11.101/05), o Novo Código de Processo Civil trata de matérias
relacionadas ao Direito Empresarial nas seguintes hipóteses: a) incidente de desconsideração da
personalidade jurídica (artigos 133 e seguintes); b) ação de dissolução parcial de sociedade (artigos
599 e seguintes); c) penhora de quotas das sociedades (artigo 861); d) penhora de estabelecimento
empresarial (artigos 862 e seguintes); penhora do faturamento da empresa (artigo 866) etc.
15

QUESTÕES
QUESTÃO 1: Sobre a penhora do estabelecimento empresarial, assinale a alternativa
correta:
A) Quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como
em semoventes, plantações ou edifícios em construção, o juiz nomeará administrador-
depositário, determinando-lhe que apresente em 05 (cinco) dias o plano de administração.
B) Quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como
em semoventes, plantações ou edifícios em construção, o juiz nomeará administrador-
depositário, determinando-lhe que apresente em 15 (quinze) dias o plano de administração.
C) Quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como
em semoventes, plantações ou edifícios em construção, o juiz nomeará administrador-
depositário, determinando-lhe que apresente em 20 (vinte) dias o plano de administração.
D) Quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como
em semoventes, plantações ou edifícios em construção, o juiz nomeará administrador-
depositário, determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o plano de administração.

A alternativa correta é a letra D, conforme indicado no artigo 862 do NCPC: Quando a


penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como em
semoventes, plantações ou edifícios em construção, o juiz nomeará administrador-
depositário, determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o plano de administração.
GABARITO: D

QUESTÃO 2: Assinale a alternativa incorreta:


A) A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto a resolução da sociedade
empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o
direito de retirada ou recesso.
B) A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto a apuração dos haveres do
sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou
C) A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto somente a resolução ou a
apuração de haveres.
D) A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto a alteração do tipo
societário.
16

A alternativa incorreta é a letra D, conforme previsão do Art. 599 do CPC: A ação de


dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto: I - a resolução da sociedade
empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o
direito de retirada ou recesso; e II - a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou
que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou III - somente a resolução ou a apuração de
haveres.
GABARITO: D

QUESTÃO 3: De acordo com a doutrina, a alternativa que não contém um dos


Princípios do Direito Empresarial.
A) cosmopolitismo
B) fragmentaridade
C) formalismo
D) elasticidade
E) onerosidade

A alternativa que não contém um dos Princípios do Direito empresarial é a C. Como visto
acima, a doutrina aponta as seguintes características do Direito Empresarial:
a) cosmopolitismo, considerando a sua transcendência sobre os limites territoriais dos
Estados;
b) fragmentaridade, pois o direito empresarial possui ramos diversos, como o direito
societário, falimentar, cambial etc.);
c) informalismo, tendo em conta que as práticas comerciais precisam ser céleres, sem
entraves burocráticos;
d) elasticidade, tendo com conta o dinamismo do mercado, que não admite parâmetros
rígidos e inflexíveis; e
e) onerosidade, considerando que as atividades empresariais sempre objetivam o lucro.
GABARITO: C
17

2. EMPRESÁRIO

2.1. CARACTERIZAÇÃO DO EMPRESÁRIO

Empresário é o sujeito que exerce profissionalmente uma atividade chamada empresa. A


empresa está definida no artigo 966 do Código Civil Brasileiro de 2002 como sendo uma atividade
economicamente organizada para a produção ou circulação de produtos ou serviços com o fim de
lucro.
O artigo 966 representa a adoção da teoria da empresa no Brasil, por influência do Código
Civil Italiano de 1942, em substituição à teoria dos atos do Comércio, de origem francesa, adotada
pelo Código Napoleônico e pelo Código Comercial de 1850.
Em síntese: a) a teoria dos atos do comércio considerava comerciante quem praticava um
dos atos do comércio definidos legalmente em um rol específico. Basicamente a matéria estava
regulada pelo Código Comercial de 1850 e pelo regulamento 737. A influência vem do Código
Napoleônico Francês; b) a teoria da empresa considera empresário quem exerce profissionalmente
uma atividade economicamente organizada para a circulação de produtos ou serviços com o fim de
lucro. A definição de empresa está no artigo 966 do Código Civil, que tem por influência o Código
Civil italiano de 1942.
No entanto, os profissionais que exercem atividades intelectuais, de natureza científica,
literária ou artística não são considerados empresários, exceto se essas atividades representam um
elemento da empresa.
Note que de acordo com o Código Civil Brasileiro, como regra, a condição de empresário
decorre meramente do exercício da atividade, independentemente do registro. Como veremos
adiante, como regra, o registro será necessário apenas à conferir regularidade às atividades e
personalidade jurídica aos sujeitos que as praticam.
Em todo caso, o legislador presumiu de forma absoluta que as cooperativas nunca exercem a
empresa, logo nunca serão empresários. De outro lado, presumiu também de forma absoluta que as
sociedades anônimas sempre exercem empresa, ou seja, as sociedades anônimas sempre serão
empresárias.
Com relação àqueles que exercem atividades rurais, há presunção de que não são
empresários. No entanto, os exercentes de atividades rurais, se optarem facultativamente pelo
registro, adquirirão a partir de então a condição de empresário.
Repare que em relação empresários em geral o critério para avaliação da sua condição é
analítico, vale dizer, basta analisar o suporte fático e verificar se no caso concreto há exercício da
18

empresa. Se a resposta for afirmativa, o sujeito poderá ser considerado empresário,


independentemente do registro, como apontamos. Com relação aos rurais, conduto, o critério para a
aquisição da condição de empresário é formal, ou seja, eles se tornam empresários com a
formalização do registro.

2.2. INSCRIÇÃO DO EMPRESÁRIO

Como visto registro não é condição essencial, como regra, para a atribuição da qualidade de
empresário.
No entanto, conforme disposto no artigo 967 do CC é obrigatória a inscrição (registro pelo
arquivamento dos atos constitutivos) do empresário no Registro Público de empresas Mercantis (nas
Juntas Comerciais) da respectiva sede, antes do início da sua atividade.
Embora o registro seja obrigatório para concessão de regularidade e, em alguns casos, de
personalidade jurídica, como dissemos, o registro não atribui a qualidade de empresário ao sujeito.
A exceção está nos exercentes de atividade rurais, que passam a ser considerados
empresários a partir do registro nas juntas comerciais, conforme disposto no artigo 971 do Código
Civil.
Ainda com relação à aquisição da personalidade pelo registro, as sociedades em conta de
participação, por previsão expressa do legislador, não possuem personalidade jurídica, nem mesmo
poderão adquiri-la pelo registro. Nesse caso, portanto, ainda que eventualmente sejam registradas as
sociedades em conta de participação não adquirirão personalidade jurídica.
A irregularidade decorrente da falta de registro gera os seguintes efeitos:
a) responsabilidade ilimitada dos sócios;
b) impossibilidade de requerer a falência de terceiros, embora possa requerer a própria
falência;
c) impossibilidade para requerer recuperação judicial;
d) impossibilidade de contratar com o poder público.

2.3. (IN)CAPACIDADE DO EMPRESÁRIO

O exercício da atividade de empresário é restrito àqueles que estiverem em pleno gozo da


capacidade civil e que não estejam legalmente impedidos, conforme previsão do artigo 972 do
Código Civil.
19

A capacidade civil, em regra, é adquirida pela maioridade aos 18 anos completos. O maior
de 16 anos, contudo, adquirirá a emancipação se passar a exercer atividade empresarial com
recursos próprios.
Apesar dessa regra, em duas ocasiões poderá haver exercício da atividade empresarial por
empresário individual incapaz.
Numa primeira hipótese admite-se que o empresário continue exercendo a empresa se
houver incapacidade superveniente. Nesse caso, naturalmente, o empresário inicia a atividade sendo
capaz, porém em momento posterior se torna incapaz.
Uma segunda hipótese é a possibilidade da continuidade da atividade por sucessão
hereditária. Nesse caso o herdeiro incapaz poderá continuar a atividade já realizada pelo autor da
herança quando estava vivo.
Em ambos os casos, a atividade será exercida por representante, no caso de incapacidade
absoluta, ou por assistente, no caso de incapacidade relativa.
A continuidade da atividade pelo incapaz dependerá de prévia autorização judicial, mediante
expedição de alvará. Do alvará, além da indicação de representante ou assistente, o juiz deverá
indicar os bens que não ficarão sujeitos aos efeitos da atividade empresarial. Estes bens serão
reservados inclusive para garantir a futura subsistência do incapaz.
Com relação à proteção patrimonial do incapaz, aliás, o artigo 974, 2º do CC estipula que
não ficaram sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da
sucessão ou interdição, desde que estranhos ao acervo empresarial.
Sobre o empresário individual casado, o artigo 978 do Código Civil prevê, como exceção à
previsão do artigo 1.647, I, do CC, que ele poderá, independentemente da outorga conjugal ou do
regime de bens, alienar ou gravar de ônus real os imóveis que integrem o patrimônio destinado ao
exercício da empresa. Embora não haja menção expressa, a previsão do artigo 978 alcança também
os empresários que convivem em união estável, inclusive com pessoas do mesmo sexo.
Em todo caso, nada impede que o incapaz seja sócio de sociedade empresária, desde que não
exerça atividade de administração. Nesta hipótese o incapaz pode figurar como sócio mesmo para
no início da atividade empresarial que será exercida pela sociedade.
Já sobre o casamento ou união estável dos sócios das sociedades empresárias, o art. 977 do
Código civil estipula que conviventes, ou os cônjuges podem contratar sociedade, entre si ou com
terceiros. Com relação aos cônjuges, no entanto, só podem fazê-lo se não estiverem casados no
regime da comunhão universal de bens, ou no regime da separação obrigatória.
O impedimento é uma condição que impede o exercício da atividade empresarial por
algumas pessoas em situações especiais, independentemente de se questionar a (in)capacidade.
20

Em complemento à questão conjugal, os artigos 979 e 980 do Código Civil preveem o


seguinte: a) Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público
de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação,
herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade; b) Art. 980. A
sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não
podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas
Mercantis.

2.4. IMPEDIMENTOS DO EMPRESÁRIO


Não podem exercer a atividade empresarial por impedimento os seguintes sujeitos:
a) os servidores públicos;
b) os Magistrados e os membros do Ministério Público;
c) os estrangeiros não residentes no Brasil;
d) os falidos, antes da reabilitação;
e) os militares das forças armadas e das polícias militares na ativa;
f) os leiloeiros;
g) os corretores;
h) os membros de carreiras diplomáticas, exceto se não houver remuneração;
i) os médicos para exercício de atividades de farmácia ou drogaria.
Conforme o disposto no art. 973 do CC, quem estiver legalmente impedido e mesmo assim
exercer a atividade, responderá pelas correspondentes obrigações contraídas.

2.5. TEORIA DA EMPRESA E SEUS PERFIS

Como visto, o Código Comercial de 1850, regulamentado pelo decreto 737 de 1851 adotava
a teoria dos atos do comércio, por influência do direito francês e do Código Napoleônico. De acordo
com a teoria dos atos do comércio, considerava-se comerciante quem praticasse um dos atos do
comércio que estavam previstos abstratamente na norma.
O Código Civil de 2002, por influência do Código Italiano de 1942, revogou parcialmente o
código comercial de 1850, conforme o artigo 2.045. Com a revogação parcial suprimiu-se também a
teoria dos atos do comércio, adotando em seu lugar a teoria da empresa, por influência do Código
italiano de 1942. De acordo com a teoria da empresa, empresário é o sujeito que exerce
profissionalmente uma atividade chamada empresa. Empresa, conforme previsão do artigo 966 do
Código Civil, é uma atividade economicamente organizada que se destina à circulação de produtos
ou serviços, com o fim de lucro.
21

QUESTÕES

QUESTÃO 1. Com relação ao empresário, assinale a alternativa correta:


A) Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade não econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
B) Se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores.
C) É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
D) O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, não pode
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.

A) INCORRETA. Código Civil - Art. 966. Considera-se empresário quem exerce


profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
3. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI não é sociedade
unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária.
4. Uma vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da empresa individual de
responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores
alterações no salário mínimo.
5. Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no
art. 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de
sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil.
58. O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não
depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no
exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à
conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a
consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas
mercantis.
61. Em atenção ao princípio do tratamento favorecido à microempresa e à empresa de
pequeno porte, é possível a representação de empresário individual, sociedade empresária
ou EIRELI, quando enquadrados nos respectivos regimes tributários, por meio de preposto,
22

perante os juizados especiais cíveis, bastando a comprovação atualizada do seu


enquadramento.
62. O produtor rural, nas condições mencionadas do art. 971 do CCB, pode constituir
EIRELI.
B) INCORRETA. Art. 966. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C) CORRETA. Código Civil - Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro
Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
D) INCORRETA. Código Civil - Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido,
diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à
inscrição e aos efeitos daí decorrentes. Art. 971. O empresário, cuja atividade rural
constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art.
968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos,
ao empresário sujeito a registro.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
GABARITO: C

QUESTÃO 2: CESPE - 2013 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal - De acordo com o


Código Civil, o exercício da atividade empresarial por pessoa legalmente impedida:
A) implica a nulidade dos atos praticados.
B) implica a anulabilidade dos atos praticados.
C) resulta no dever de responder pelas obrigações contraídas.
D) consiste em crime contra a fé pública.
E) consiste em crime contra a administração da justiça.

A alternativa correta é a letra C, conforme indicado no Art. 973 do CC: A pessoa


legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá
pelas obrigações contraídas
23

QUESTÃO 3: FCC - 2007 - Prefeitura de São Paulo - SP - Auditor Fiscal do Município


- Prova 1 (alterada) - O menor com dezesseis anos, titular de estabelecimento empresarial
mantido com economia própria:
A) poderá ser empresário se for emancipado.
B) poderá ser empresário se obtiver autorização judicial.
C) poderá ser empresário se constituir pessoa jurídica para administrar o
estabelecimento.
D) considera-se emancipado pelo exercício da empresa.
E) não poderá ser empresário.
Alternativa correta é a letra D. Confira: Art. 974 do CC: Poderá o incapaz, por meio de
representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele
enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança; Art. 976 do CC: A prova da
emancipação e da autorização do incapaz, nos casos do art. 974, e a de eventual revogação
desta, serão inscritas ou averbadas no Registro Público de Empresas Mercantis.
Enunciado 197 das jornadas do CJF prevê que: A pessoa natural, maior de 16 e menor de
18 anos, é reputada empresário regular se satisfizer os requisitos dos arts. 966 e 967;
todavia, não tem direito a concordata preventiva, por não exercer regularmente a atividade
por mais de dois anos.
GABARITO: D
24

3. ESPÉCIES DE EMPRESA

Embora os editais em algumas ocasiões (inclusive os dos concursos da Polícia Federal e


Abin) se refiram às espécies de empresas, nota-se que o correto seria dizer espécies de sociedades
empresárias.
Assim, consideraremos que nos editais da Polícia Federal e Abin, nos itens em que se
menciona espécies de empresas, responsabilidade dos sócios, distribuição de lucros, sócio oculto
etc., o que se pretende cobrar são as características das diversas espécies de sociedades empresárias
e não diversas espécies de empresas.
Como vimos, empresa é uma atividade que, se exercida por um sujeito, qualifica-o de
empresário.
O empresário, sujeito de direitos (gênero), pode ser de várias espécies, como veremos mais
detalhadamente adiante:
a) empresário individual;
b) empresa individual de responsabilidade limitada (pessoa jurídica de direito privado, com
personalidade jurídica, conforme previsão do artigo 44 do CC);
c) sociedade em comum, sociedade sem personalidade jurídica;
d) sociedade em conta de participação, também sem personalidade jurídica;
e) sociedade em nome coletivo, com personalidade jurídica;
f) sociedade em comandita simples, com personalidade jurídica;
g) sociedade limitada, com personalidade jurídica;
h) sociedade anônima, com personalidade jurídica; e
i) sociedade em conta de participação, sem personalidade jurídica.
Além das espécies de sociedades empresárias, há as sociedades simples, não empresárias. As
normas que disciplinam as sociedades simples no código civil, em regra, se aplicam
subsidiariamente às demais espécies de sociedades empresárias do Código Civil.
Sociedade em comum – arts. 986 a 990 do CC.
Sociedade em conta de participação – arts. 991 a 996 do CC.
Sociedade em nome coletivo – arts. 1.039 a 1.044 do CC.
Sociedade em comandita simples – arts. 1.045 a 1.051 do CC.
Sociedade limitada – arts. 1052 a 1.087 do CC.
Sociedade em Comandita por ações – lei 6404/76 – LSA.
Sociedades anônimas – lei 6404/76 – LSA.
25

3.1. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

As responsabilidades dos empresários variam de acordo com a espécie.


a) empresário individual: tem responsabilidade ilimitada.
b) empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli): A responsabilidade do seu único
titular é limitada.
c) sociedade em comum, sociedade sem personalidade jurídica: A responsabilidade dos
sócios é ilimitada.
d) sociedade em conta de participação: os sócios participantes (sócios comuns ou ocultos)
têm responsabilidade limitada. Os sócios ostensivos têm responsabilidade ilimitada.
e) sociedade em nome coletivo: os sócios têm responsabilidade ilimitada.
f) sociedade em comandita simples: os sócios comanditários têm responsabilidade limitada.
Os sócios comanditados, equiparados aos sócios das sociedades em nome coletivo, têm
responsabilidade ilimitada.
g) sociedade limitada: os sócios têm responsabilidade limitada.
h) sociedade anônima: os sócios têm responsabilidade limitada.
i) sociedade em comandita por ações: os sócios comuns têm responsabilidade limitada. Os
sócios administradores têm responsabilidade ilimitada.

3.2. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS

Os direitos e obrigações dos sócios estão disciplinado, basicamente, nos artigos 1.001 a
1.009 do Código Civil, além das previsões específicas da lei 6404/76 (lei das sociedades anônimas).
Basicamente, os direitos dos sócios são os seguintes:
a) direito de participação nos resultados da atividade;
b) direito de participar das deliberações da sociedade;
c) direito de se retirar da sociedade nas hipóteses em que alei autoriza o direito de recesso;
d) direito exercer a fiscalização sobre a gestão da sociedade.
De acordo com o art. 997, V e VII do Código Civil: A sociedade constitui-se mediante
contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas.
Além disso, os artigos 1007 a 1009 do Código Civil estipulam o seguinte:
26

Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na
proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente
participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas.
Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos
lucros e das perdas.
Art. 1.009. A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsabilidade solidária
dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem, conhecendo ou devendo
conhecer-lhes a ilegitimidade (a solidariedade está disciplinada, inclusive, nos artigos 264 a 266 do
Código Civil).
Sobre este tema, são relevantes os conteúdos dos seguintes enunciados das jornadas de
direito civil do CJF:
Enunciado número 59 – Os sócios gestores e os administradores das empresas são
responsáveis subsidiária e ilimitadamente pelos atos ilícitos praticados, de má gestão ou contrários
ao previsto no contrato social ou estatuto, consoante estabelecem os arts. 990, 1.009, 1.016, 1.017 e
1.091, todos do Código Civil.
Enunciado número 487 – Na apuração de haveres de sócio retirante (art. 1.031 do CC),
devem ser afastados os efeitos da diluição injustificada e ilícita da participação deste na sociedade.

3.3. SÓCIO OCULTO

Alguns editais (inclusive os dos concursos da Polícia Federal e Abin) apontam o sócio
oculto em item isolado dos itens que tratam das sociedades. O ponto deveria estar colocado ao lado
das demais questões que dizem respeito às sociedades.
Em todo o caso, é relevante destacar que o sócio oculto (atualmente denominado de sócio
participante) é uma espécie de sócio das sociedades em conta de participação, disciplinada pelos
artigos 991 a 996 do Código Civil.
Os participativos contribuem para a formação do capital social e têm responsabilidade
limitada. Os sócios ostensivos são aqueles que além de contribuir para a formação do capital, são os
responsáveis pela gestão da sociedade e por sua representação perante terceiros. Os sócios
ostensivos têm responsabilidade ilimitada.
27

3.4. SEGREDO COMERCIAL

Em alguns editais (inclusive os dos concursos da Polícia Federal e Abin) contém o segredo
comercial como item da disciplina de Direito Empresarial.
Esta questão está relacionada aos direitos da propriedade intelectual, à garantia da livre
concorrência e à censura da concorrência desleal.
O Acordo TRIPs (agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights, ou
acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio) é um
tratado Internacional, integrante do conjunto de acordos assinados em 1994 que encerrou a Rodada
Uruguai e criou a Organização Mundial do Comércio. O TRIPS foi negociado no final da Rodada
Uruguai no Acordo Geral de Tarifas e Troca (GATT) em 1994
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_TRIPs).
O decreto 1.355 de 1994 promulgou a ata final que incorpora os resultados da Rodada
Uruguai de negociações comerciais multilaterais do GATT.
O acordo sobre os aspectos dos direitos de propriedade intelectual relacionados ao comércio,
no seu artigo 39, trata da proteção de informações confidenciais, nos termos seguintes:
1 - Ao assegurar uma proteção efetiva contra a concorrência desleal, conforme previsto no
artigo 10.º bis da Convenção de Paris (1967), os Membros protegerão as informações não
divulgadas em conformidade com o disposto no n. º 2 e os dados comunicados aos poderes públicos
ou organismos públicos em conformidade com o disposto no n. º 3.
2 - As pessoas singulares e coletivas terão a possibilidade de impedir que informações
legalmente sob o seu controlo sejam divulgadas, adquiridas ou utilizadas por terceiros sem o seu
consentimento de uma forma contrária às práticas comerciais leais (10), desde que essas
informações:
a) Sejam secretas, no sentido de não serem geralmente conhecidas ou facilmente acessíveis,
na sua globalidade ou na configuração e ligação exatas dos seus elementos constitutivos, para
pessoas dos círculos que lidam normalmente com o tipo de informações em questão;
b) Tenham valor comercial pelo facto de serem secretas; e
c)Tenham sido objeto de diligências consideráveis, atendendo às circunstâncias, por parte da
pessoa que detém legalmente o controlo das informações, no sentido de as manter secretas.
3 - Sempre que subordinem a aprovação da comercialização de produtos farmacêuticos ou
de produtos químicos para a agricultura que utilizem novas entidades químicas à apresentação de
dados não divulgados referentes a ensaios ou outros, cuja obtenção envolva um esforço
considerável, os Membros protegerão esses dados contra qualquer utilização comercial desleal.
Além disso, os Membros protegerão esses dados contra a divulgação, exceto quando necessário
28

para proteção do público, ou a menos que sejam tomadas medidas para garantir a proteção dos
dados contra qualquer utilização comercial desleal.

Referências
BARBOSA, Denis Borges. Propriedade intelectual: a aplicação do Acordo Trips. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2003.
BITTAR, Carlos Alberto. Teoria e prática da concorrência desleal. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2005.
CARRARO, André. Propriedade intelectual e a teoria dos jogos. Santa Cruz do Sul:
EDUNISC, 2006.
CERQUEIRA, Joao da Gama. Tratado da propriedade industrial. 2. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1982.
DINIZ, Davi Moteiro. Propriedade industrial e segredo de comércio. Belo Horizonte: Del
Rey, 2003.
FEKETE, Elisabeth Kasznar. O Regime Jurídico do Segredo de Indústria e Comércio no
Direito Brasileiro. Editora Forense, 2003. 489.
FURTADO, Lucas Rocha. Sistema de propriedade industrial no direito brasileiro:
comentários a nova legislação sobre marcas e patentes - Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996.
Brasília: Brasília Jurídica Ltda, 1996.
PEREIRA, Marco Antonio Marcondes. Concorrência desleal por meio da
publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.
SILVEIRA, Newton. Propriedade intelectual: propriedade industrial, direito de autor,
software, cultivares. 3. ed. Barueri: Manole, 2005.
SOARES, Jose Carlos Tinoco. Tratado da propriedade industrial: patentes e seus
sucedaneos. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1998.
29

QUESTÕES

QUESTÃO 1: FAURGS - 2016 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto - Sobre a disciplina


jurídica da atividade empresarial no Brasil, assinale a alternativa correta.
A) A definição de empresa pelo Código Civil adota seu perfil subjetivo, como sujeito de
direitos.
B) O exercício de atividade empresarial por sociedade não inscrita no registro de
empresas implica a ineficácia dos negócios celebrados em relação à própria sociedade e a
terceiros.
C) A participação de uma mesma pessoa como sócia em mais de uma Empresa
individual de responsabilidade limitada (Eireli) pode caracterizar a formação de grupo
econômico.
D) Pessoa que desempenhe atividade rural e esteja matriculada no registro de empresa
pode requerer recuperação judicial.
E) O tratamento diferenciado assegurado às microempresas e empresas de pequeno
porte não as dispensa da publicação dos atos societários, ainda que de forma resumida.

A) INCORRETA: como demonstramos nas explicações acima, considerando a classificação


poliédrica de Empresa e o artigo 966 do Código Civil Brasileiro, empresa é atividade e não
sujeito. O empresário sim é o sujeito que exerce a empresa.
B) INCORRETA: incorreta, considerando os seguintes artigos do CC. Art. 986. Enquanto
não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em
organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele
forem compatíveis, as normas da sociedade simples; Art. 987. Os sócios, nas relações entre
si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os
terceiros podem prová-la de qualquer modo.
C) INCORRETA: Art. 980-A, § 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de
responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa
modalidade.
D) CORRETA: está correta considerando o seguinte artigo do CC: Art. 984. A sociedade
que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja
constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode,
com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os
efeitos, à sociedade empresária.
30

E) INCORRETA: Incorreta, considerando a LC 123, Art. 71: Os empresários e as


sociedades de que trata esta Lei Complementar, nos termos da legislação civil, ficam
dispensados da publicação de qualquer ato societário.
GABARITO: D

QUESTÃO 2: VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto (alterada) - Uma sociedade


prestadora de serviços de advogado tem a natureza de:
A) sociedade limitada.
B) sociedade empresária.
C) sociedade em nome coletivo.
D) sociedade simples.

A alternativa correta é a letra D, considerando o artigo 981 do CC.


GABARITO: D

QUESTÃO 3: FCC - 2012 - Prefeitura de São Paulo - SP - Auditor Fiscal do Município


- Gestão Tributária - Prova 2 - Em relação à atividade empresarial e ao empresário, é correto
afirmar:
A) Quando a empresa não possui bens suficientes para saldar suas dívidas, em regra os
sócios respondem com seu patrimônio pessoal.
B) Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
C) É desnecessária a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas
Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
D) Os cônjuges podem contratar sociedade entre si, qualquer que seja o regime de
bens.
E) A sociedade adquire personalidade jurídica dois anos depois da inscrição, no
registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos.

COMENTÁRIOS
A) INCORRETA: Em regra os sócios não respondem com o seu patrimônio.
B) CORRETA: Art. 966 do CC: Considera-se empresário quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
C) INCORRETA: Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
31

D) INCORRETA: Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com
terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no
da separação obrigatória.
E) INCORRETA: e) Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição,
no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).
GABARITO: B
32

4. TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO

Como visto, os empresários podem ser uma pessoa física (empresário individual) ou uma
pessoa jurídica (Eireli e demais espécies de sociedades empresárias, com ou sem personalidade
jurídica).
As pessoas jurídicas de direito privado estão apontadas no artigo 44 do Código Civil.
São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações;
IV - as organizações religiosas;
V - os partidos políticos;
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.
As sociedades são pessoas jurídicas, compostas por pessoas que se aproximam para exercer
uma atividade com fins lucrativos. As sociedades podem ser empresárias ou simples. Serão
empresárias se exercem a empresa, ou se são sociedades anônimas. Serão simples se não exercem a
empresas ou se são cooperativas. Quanto às sociedades que exercem atividades rurais, em regra,
serão simples. Poderão ser empresárias se optarem pelo registro nas juntas comerciais.
É importante atentar para o fato de que a expressão sociedade simples pode ter dois sentidos:
a) quanto ao objeto social, sociedade simples é aquela que não exerce atividade empresarial. Nesse
caso, ela pode assumir as formas de sociedade cooperativa, sociedade em comandita simples ou
sociedades limitadas; b) quanto à forma, sociedade simples é aquela que segue as normas dos
artigos 997 do Código Civil (nesse caso é chamada de sociedade simples pura).
De acordo com o art. 982, do Código Civil, salvo as exceções expressas, considera-se
empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a
registro (art. 967); e, simples, as demais.
Sobre este ponto, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do CJF/STJ:
Enunciado número 196: A sociedade de natureza simples não tem seu objeto restrito às
atividades intelectuais.
Enunciado número 207: A natureza de sociedade simples da cooperativa, por força legal,
não a impede de ser sócia de qualquer tipo societário, tampouco de praticar ato de empresa.
Enunciado número 476: Eventuais classificações conferidas pela lei tributária às sociedades
não influem para sua caracterização como empresárias ou simples, especialmente no que se refere
ao registro dos atos constitutivos e à submissão ou não aos dispositivos da Lei n. 11.101/2005.
33

O parágrafo único do artigo 982, por sua vez, prevê que independentemente de seu objeto,
considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
Já o art. 983 do Código Civil, indica que a sociedade empresária deve constituir-se segundo
um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de
conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.
Essa questão foi abordada pelos seguintes enunciados das jornadas de direito Civil do
CJF/STJ:
Enunciado número 57: A opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da
sociedade.
Enunciado número 206: A contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços é
permitida nas sociedades cooperativas (art. 1.094, I) e nas sociedades simples propriamente ditas
(art. 983, 2ª parte).
Enunciado número 382: Nas sociedades, o registro observa a natureza da atividade
(empresarial ou não – art. 966); as demais questões seguem as normas pertinentes ao tipo societário
adotado (art. 983). São exceções as sociedades por ações e as cooperativas (art. 982, parágrafo
único).
Enunciado número 474: Os profissionais liberais podem organizar-se sob a forma de
sociedade simples, convencionando a responsabilidade limitada dos sócios por dívidas da
sociedade, a despeito da responsabilidade ilimitada por atos praticados no exercício da profissão.
Enunciado número 475: Considerando ser da essência do contrato de sociedade a partilha do
risco entre os sócios, não desfigura a sociedade simples o fato de o respectivo contrato social prever
distribuição de lucros, rateio de despesas e concurso de auxiliares.

4.1. CARACTERÍSTICAS DAS SOCIEDADES

As características das sociedades são as seguintes:


a) pluripessoalidade. Quer dizer que, em regra, as sociedades devem ser compostas por no
mínimo duas pessoas;
b) autonomia negocial. Quer dizer que por ser uma pessoa jurídica distinta dos sócios que a
compõem realiza negócios jurídicos em nome próprio;
c) capacidade processual. No mesmo sentido, por ser uma pessoa jurídica distinta dos
sócios, terá capacidade para figurar em nome próprio nos polos ativo e passivo das relações
jurídico-processuais;
34

d) autonomia patrimonial. Quer dizer que por ser uma pessoa jurídica distinta dos sócios e
individualizada, tem patrimônio próprio. Esse seu patrimônio será, inclusive, utilizado em regra
para satisfazer a pretensão dos seus credores.
Sobre a pluralidade de sócios, convém destacar o contido no artigo 1033, IV, do Código
Civil, que prevê a dissolução da sociedade pela falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no
prazo de cento e oitenta dias. A dissolução não ocorrerá, contudo, se o sócio remanescente,
inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira,
no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para
empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada. No mesmo sentido,
o art. 1.051, II, do Código Civil prevê que se dissolve de pleno direito a sociedade em comandita
simples, quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio.
As sociedades simples estão disciplinadas no Código Civil e as empresárias no Código Civil
e na LSA. Apesar de não serem sociedades empresárias, as normas que orientam as sociedades
simples se aplicam, em regra, subsidiariamente às sociedades previstas no Código Civil.
As sociedades empresárias, em regra, adquirem a personalidade jurídica pelo registro dos
seus atos constitutivos na Junta Comercial.
As sociedades em conta de participação, contudo, espécie de sociedade sem personalidade
jurídica, não podem adquirir personalidade jurídica.

4.2. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Como vimos, as sociedades têm autonomia patrimonial. Logo, em regra, será com seu
próprio patrimônio que a sociedade satisfará a pretensão dos seus credores.
No entanto, em algumas hipóteses poderá haver a desconsideração da personalidade jurídica,
casos em que poderá haver responsabilização dos sócios por obrigações ligadas à sociedade.
As normas que orientam essas questões, basicamente, são as seguintes:
Artigos 133 a 137 do NCPC
Artigo 50 do Código Civil – artigo 40 a 52
Artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor.
Artigo 2º, §2º da CLT.
Artigo 135 do Código Tributário Nacional.
Artigo 4º da lei 9.605/98.
Artigo 18, §3º, da lei 9.847/99.
Artigo 34 da lei 12.529/11.
Artigos 117, 158, 245 e 246 da lei 6.404/76.
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NCPC – 1.062 – aplica-se aos juizados; 795 §4º obrigatoriedade do incidente; 134, §2º
dispensa o incidente.
Confira os seguintes Enunciados das Jornadas de Processo Civil Do CJF sobre
Desconsideração da Personalidade Jurídica:
Enunciado número 123. É desnecessária a intervenção do Ministério Público, como fiscal da
ordem jurídica, no incidente de desconsideração da personalidade jurídica, salvo nos casos em que
deva intervir obrigatoriamente, previstos no art. 178. (Grupo: Litisconsórcio e Intervenção de
Terceiros)
Enunciado número 124. A desconsideração da personalidade jurídica no processo do
trabalho deve ser processada na forma dos arts. 133 a 137, podendo o incidente ser resolvido em
decisão interlocutória ou na sentença.
Enunciado número 125. Há litisconsórcio passivo facultativo quando requerida a
desconsideração da personalidade jurídica, juntamente com outro pedido formulado na petição
inicial ou incidentemente no processo em curso. (Grupo: Litisconsórcio e Intervenção de Terceiros)
Enunciado número 247. Aplica-se o incidente de desconsideração da personalidade jurídica
no processo falimentar. (Grupo: Impactos do CPC nos Juizados e nos procedimentos especiais de
legislação extravagante)
Enunciado número 248. Quando a desconsideração da personalidade jurídica for requerida
na petição inicial, incumbe ao sócio ou a pessoa jurídica, na contestação, impugnar não somente a
própria desconsideração, mas também os demais pontos da causa. (Grupo: Petição inicial, resposta
do réu e saneamento)
Enunciado número 390. Resolvida a desconsideração da personalidade jurídica na sentença,
caberá apelação. (Grupo: Litisconsórcio e intervenção de terceiros)
Confira os Enunciados sobre desconsideração da personalidade jurídica das Jornadas
de Direito Civil do CJF
Enunciado número 7: Só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando
houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam
incorrido.
Enunciado número 61: O termo “subsidiariamente” constante do inc. VIII do art. 997 do
Código Civil deverá ser substituído por “solidariamente” a fim de compatibilizar esse dispositivo
com o art. 1.023 do mesmo Código1.
Enunciado número 281: A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do
Código Civil, prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica.

1VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais


36

Enunciado número 282: O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si
só, não basta para caracterizar abuso da personalidade jurídica.
Enunciado número 283: É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada
“inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens
pessoais, com prejuízo a terceiros.
Enunciado número 284: As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de
fins não-econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.
Enunciado número 285: A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil,
pode ser invocada pela pessoa jurídica, em seu favor.
Enunciado número 286: Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à
pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais
direitos.
Enunciado número 406: A desconsideração da personalidade jurídica alcança os grupos de
sociedade quando estiverem presentes os pressupostos do art. 50 do Código Civil e houver prejuízo
para os credores até o limite transferido entre as sociedades.

4.3. CLASSIFICAÇÕES DAS SOCIEDADES

4.3.1. Sociedades Não Personificadas e Sociedades Personificadas

As sociedades empresárias podem ser personificadas ou não personificadas, caso tenham ou


não personalidade jurídica, respectivamente.
São sociedades empresárias despersonificadas:
a) sociedade em comum – arts. 986 a 990;
b) sociedade em conta de participação – arts. 991 a 996.
São sociedades empresárias personificadas:
a) sociedade em nome coletivo – arts. 1.039 a 1.044;
b) sociedade em comandita simples – arts. 1.045 a 1.051;
c) sociedade limitada – arts. 1052 a 1.087; sociedade em comandita por ações – lei 6404/76
– LSA.
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4.3.2. Sociedades Por Quotas e Sociedades Por Ações

Sociedades por quotas são as sociedades disciplinadas pelo código civil, cujo capital é
fracionado em quotas.
Sociedades por ações são as sociedades disciplinadas pela LSA, cujo capital social é
fracionado em ações. As ações são as unidades representativas do capital social. Entre as sociedades
empresárias, as sociedades anônimas e as sociedades em comanditas por ações são sociedades por
ações. As demais sociedades personificadas são sociedades por quotas.

4.3.3. Sociedades Contratuais e Sociedades Estatutárias

Sociedades contratuais as sociedades disciplinadas pelo código civil, reguladas por contrato
social.
Sociedades estatutárias são as sociedades disciplinadas pela LSA, regularas por estatuto.
Entre as sociedades empresárias, as sociedades anônimas e as sociedades em comanditas por ações
são estatutárias. As demais sociedades são sociedades contratuais.

4.3.4. Sociedades de Capital e Sociedades de Pessoas

Sociedades de capital são aquelas nas quais as características pessoas dos sócios são
irrelevantes. A única importância quanto à pessoa do sócio é a sua contribuição para a formação do
capital social. As sociedades anônimas são o exemplo tradicional de sociedades de capital.
Sociedades de pessoas são aquelas sociedades nas quais as características pessoais dos
sócios são essenciais. Embora sejam essenciais, as contribuições para a formação do capital social
assumem um aspecto secundário nessas espécies de sociedades. Exemplo tradicional de sociedades
de pessoas são as sociedades em nome coletivo.

4.3.5. Sociedades com Responsabilidade Ilimitada, Limitada Ou Mista

Essa classificação leva em conta a responsabilidade dos sócios.


Nas sociedades em comum e em nome coletivo todos os sócios tem responsabilidade
ilimitada.
Nas sociedades anônimas e nas sociedades limitadas os sócios têm responsabilidade
limitada.
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Nas sociedades em conta de participação, em comandita simples e em comandita por ações,


alguns sócios tem responsabilidade ilimitada, outros tem responsabilidade limitada. Por isso essas
sociedades são classificadas como sociedades de responsabilidade mista.

4.4. SOCIEDADES DO CÓDIGO CIVIL

4.4.1. Sociedade em Comum

As sociedades em comum estão disciplinadas pelos artigos 986 a 990 do Código Civil, com
regulamentação subsidiária pelas normas que tratam das sociedades simples.
Nesse sentido é o seguinte é o enunciado 208 das jornadas de Direito Civil do CJF/STJ: As
normas do Código Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são aplicáveis
independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de
empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e
empresária).
É uma sociedade sem personalidade jurídica. Denominava-se:
a) sociedade irregular, quando havia um instrumento contratual sem registro;
b) sociedade de fato, quando sequer havia instrumento contratual.
Atualmente, independentemente da (in)existência de instrumento contratual, a sociedade
sem personalidade jurídica por ausência de registro será uma sociedade em comum (exceto se for
sociedade em conta de participação).
Nesse sentido é o seguinte é o enunciado 58 das jornadas de Direito Civil do CJF/STJ: A
sociedade em comum compreende as figuras doutrinárias da sociedade de fato e da sociedade
irregular.
De acordo com o artigo 987 do Código Civil, nas sociedades em comum os sócios, nas
relações entre si ou em face de terceiros, só podem provar a existência da sociedade por meio
escrito. No entanto, os terceiros podem a existência da sociedade por qualquer meio.
O art. 988 do Código Civil indica que nas sociedades em comum, os bens e dívidas da
sociedade formam um patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.
O enunciado 210 das jornadas de direito civil do CJF assinala que: O patrimônio especial a
que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da atividade, garantidor de terceiro, e de
titularidade dos sócios em comum, em face da ausência de personalidade jurídica.
Como não tem personalidade jurídica, a sociedade em comum não terá proteção do nome
empresarial.
39

Embora possa ser sujeito passivo de falência requerida por terceiro, ou mesmo requerer sua
própria falência (autofalência), as sociedades em comum não poderão requerer a falência de
terceiros (figurar como sujeito ativo) nem requerer recuperação judicial.
Com relação à responsabilidade, é o art. 989 do Código Civil que trata da questão ao indicar
que os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, exceto se
houver um ajuste expresso limitativo de poderes. Este ajuste, no entanto, só terá eficácia perante
terceiros se os terceiros ao menos puderem ter conhecimento dele. Essa potencialidade cognitiva
pode ser demonstrada, por exemplo, pela publicidade do ajuste.
O artigo 47 do Código Civil, nesse pondo, destaque que a pessoa jurídica fica obrigada pelos
atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.
Já o enunciado 211 das jornadas de direito civil do CJF/STJ prevê que: presume-se
disjuntiva a administração dos sócios a que se refere o art. 989.
Ainda com relação à responsabilidade, o artigo 990 do Código Civil prevê que os sócios
respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem,
previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.
O enunciado 212 das jornadas de direito civil do CJF/STJ afirma que: Embora a sociedade
em comum não tenha personalidade jurídica, o sócio que tem seus bens constritos por dívida
contraída em favor da sociedade, e não participou do ato por meio do qual foi contraída a obrigação,
tem o direito de indicar bens afetados às atividades empresariais para substituir a constrição.
Já o enunciado 59 prevê que: Os sócios gestores e os administradores das empresas são
responsáveis subsidiária e ilimitadamente pelos atos ilícitos praticados, de má gestão ou contrários
ao previsto no contrato social ou estatuto, consoante estabelecem os arts. 990, 1.009, 1.016, 1.017 e
1.091, todos do Código Civil.

4.4.2. Sociedade em Conta de Participação

As sociedades em conta de participação estão reguladas nos artigos 991 a 996 do Código
Civil.
Sobre a disciplina normativa subsidiária, o artigo 996 do Código civil prevê o seguinte:
Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível,
o disposto para a sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas normas relativas à prestação de
contas, na forma da lei processual.
Com relação a essa questão, o enunciado 208 das jornadas de direito civil do CJF anuncia
que: As normas do Código Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são
aplicáveis independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria
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de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade
simples e empresária).
São sociedades sem personalidade jurídica. Essas sociedades não poderão adquirir
personalidade jurídica, nem mesmo pelo eventual registro.
Em todo caso, para fins tributários, o decreto 9580/2018 (revogou o decreto 3000/99) que
disciplina o imposto de renda prevê, no seu artigo 160, que as sociedades em conta de participação
são equiparadas às pessoas jurídicas.
Como não tem personalidade jurídica, a sociedade em conta de participação não terá
proteção do nome empresarial.
Nesse sentido, o art. 1.162 do Código Civil é expresso ao indicar que a sociedade em conta
de participação não pode ter firma ou denominação.
Nas sociedades em conta de participação existem duas categorias de sócios:
a) sócio participativo (antes denominado sócio oculto), com responsabilidade limitada;
b) sócio ostensivo, com responsabilidade ilimitada, além de ser o responsável pela
representação (em sentido amplo) da sociedade perante terceiros.
Sobre a representação em sentido amplo e o exercício da atividade pelo sócio ostensivo, o
artigo 991 do Código Civil prevê expressamente que a atividade constitutiva do objeto social das
sociedades em conta de participação deverá ser exercida em nome próprio pelo sócio ostensivo.
O parágrafo único do artigo 991, nesse sentido, complementa a orientação indicando que
somente o sócio ostensivo se obriga perante terceiros. Já o sócio participativo, nos termos do
contrato social se obriga exclusivamente perante o sócio ostensivo.
Com relação à falência, temos duas situações:
a) falindo o sócio ostensivo, deve haver a dissolução da sociedade;
b) falindo o sócio participativo, o contrato social ficará sujeito às normas regulatórias dos
efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido, conforme assinalado no artigo 994, §3º do
Código Civil.
Por fim, outra regra importante, com relação à admissão de sócio, vedação, exceto
estipulação em contrário, de admissão pelo sócio ostensivo de novos sócios, sem a autorização dos
demais, conforme indicado no artigo 995 do CC.

4.4.3. Sociedade Simples

Embora não sejam sociedades empresárias, as normas que regulam as sociedades simples se
aplicam, em regra, às sociedades empresárias.
41

Assim, trataremos das regras gerais das sociedades simples e, após, apontaremos as
particularidades normativas das demais espécies de sociedades empresárias.

4.4.3.1. Elementos do contrato social

Conforme estipulado no art. 997 do Código Civil, a sociedade constitui-se mediante contrato
escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e
a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer
espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e
atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
O parágrafo único do mencionado artigo, prevê ser ineficaz em relação a terceiros qualquer
pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.
Com relação ao caput, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito Civil do
CJF/STJ:
Enunciado número 214: As indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se
outras exigências contidas na legislação pertinente, para fins de registro.
Enunciado número 383: A falta de registro do contrato social (irregularidade originária –
art. 998) ou de alteração contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade
superveniente – art. 999, parágrafo único) conduz à aplicação das regras da sociedade em comum
(art. 986).
Enunciado número 478: A integralização do capital social em bens imóveis pode ser feita
por instrumento particular de contrato social ou de alteração contratual, ainda que se trate de
sociedade sujeita ao registro exclusivamente no registro civil de pessoas jurídicas.
No que se refere ao inciso II, do artigo 997, confira os seguintes enunciados das jornadas de
direito Civil do CJF/STJ:
42

Enunciado número 466: Para fins do Direito Falimentar, o local do principal


estabelecimento é aquele de onde partem as decisões empresariais, e não necessariamente a sede
indicada no registro público.
Enunciado número 213: O art. 997, inc. II, não exclui a possibilidade de sociedade simples
utilizar firma ou razão social.
Sobre o inciso III, do artigo 997, confira o seguinte enunciado das jornadas de direito Civil
do CJF/STJ:
Enunciado número 478: A integralização do capital social em bens imóveis pode ser feita
por instrumento particular de contrato social ou de alteração contratual, ainda que se trate de
sociedade sujeita ao registro exclusivamente no registro civil de pessoas jurídicas.
No que diz respeito ao inciso IV confira o seguinte enunciado das jornadas de direito Civil
do CJF/STJ:
Enunciado número 206: A contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços é
permitida nas sociedades cooperativas (art. 1.094, I) e nas sociedades simples propriamente ditas
(art. 983, 2ª parte).
Com relação ao inciso V, o artigo 1.006 do Código Civil, prevê que o sócio, cuja
contribuição consista em serviços, não pode, salvo convenção em contrário, empregar-se em
atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído
Sobre o inciso VII confira o seguinte enunciado das jornadas de direito Civil do CJF/STJ:
Enunciado número 479: Na sociedade simples pura (art. 983, parte final, do CC/2002), a
responsabilidade dos sócios depende de previsão contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e
subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002.
Os contratos, como regra, devem ter a participação obrigatória de advogado (Lei n.
8.906/94, art. 1º, II). Por exceção, os contratos das ME e EPP não precisarão ser confeccionados e
assinados por advogados, nos termos do art. 9º, § 2º, da LC n. 123/2006.
A respeito do arquivamento do contrato, o artigo 998 do código civil prevê que nos trinta
dias subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.
Com relação a essa questão, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito Civil do
CJF/STJ:
Enunciado número 215: A sede a que se refere o caput do art. 998 poderá ser a da
administração ou a do estabelecimento onde se realizam as atividades sociais.
Enunciado número 384: Nas sociedades personificadas previstas no Código Civil, exceto a
cooperativa, é admissível o acordo de sócios, por aplicação analógica das normas relativas às
sociedades por ações pertinentes ao acordo de acionistas.
43

Enunciado número 385: A unanimidade exigida para a modificação do contrato social


somente alcança as matérias referidas no art. 997, prevalecendo, nos demais casos de deliberação
dos sócios, a maioria absoluta, se outra mais qualificada não for prevista no contrato.
Quanto ao quórum para modificação do contrato, o artigo 999 dispõe o seguinte: As
modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria indicada no art. 997, dependem do
consentimento de todos os sócios; as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se
o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime. Parágrafo único. Qualquer
modificação do contrato social será averbada, cumprindo-se as formalidades previstas no artigo
antecedente.

4.4.3.2. Direitos e obrigações dos sócios

Os direitos e obrigações dos sócios das sociedades simples estão nos 1001 a 1009 e 1031 §1º
do Código Civil.
Todos os sócios devem contribuir para a formação do capital social, mediante subscrição,
seguida da integralização.
Se o sócio não integralizar as quotas nos termos da subscrição, ele se tornará remisso após
30 dias da constituição da mora, que se dá mediante notificação (mora ex persona).
O enunciado número 487 das jornadas de direito civil do CJF/STJ estipula que: Na apuração
de haveres de sócio retirante (art. 1.031 do CC), devem ser afastados os efeitos da diluição
injustificada e ilícita da participação deste na sociedade.
Nas sociedades simples, que não exercem atividades empresárias, pode haver contribuição
em serviços para a formação do capital social. Nas sociedades que exercem atividades empresárias
a contribuição deve ser em bens, naturalmente com expressão econômica.
O enunciado número 206 das jornadas de direito civil do CJF/STJ prevê que: A contribuição
do sócio exclusivamente em prestação de serviços é permitida nas sociedades cooperativas (art.
1.094, I) e nas sociedades simples propriamente ditas (art. 983, 2ª parte).
Nas hipóteses da entrega de bens para a formação do capital social os sócios são equiparados
aos vendedores e respondem, inclusive, pela evicção.

4.4.3.3. Nulidade de exclusão na participação de lucros e perdas

Em regra, a integralização do capital com a oferta de bem imóvel deverá ser dar por meio de
escritura pública. Nos casos das sociedades limitadas e anônimas, contudo, a escritura pública será
44

dispensável. Nesse sentido é a orientação dos artigos 35, inc. VII da lei 8934/94 e 89 da lei 6404/76
(confira também a seguinte jurisprudência REsp-STJ 689.937).
Nas sociedades simples, os sócios não podem ser substituídos nem ceder quotas sem
consentimento dos demais.
No caso da cessão de quotas, cedente e cessionário serão solidariamente responsáveis
perante a sociedade e terceiros, durante dois anos, contados da averbação da cessão.

4.4.3.4. Administração da sociedade simples – artigos 1010 a 1021 do Código Civil

As sociedades simples só podem ser administradas por pessoas naturais.


O art. 1.011 do CC prevê que o administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas
funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na
administração de seus próprios negócios.
Com relação a esse ponto, o enunciado número 218 das jornadas de direito civil do CJF/STJ
destaca que: Não são necessárias certidões de nenhuma espécie para comprovar os requisitos do art.
1.011 no ato de registro da sociedade, bastando declaração de desimpedimento.
Como regra, todas as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o
valor das quotas de cada um. Havendo empate pelo critério de proporção de capital, o desempate
será feito pelo critério do número de pessoas. Persistindo o empate pelo critério do número de
pessoas, deve haver decisão judicial para decidir o empasse.
O art. 1.015 do Código Civil prevê que no silêncio do contrato, os administradores podem
praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade. Nos casos da oneração e venda de bens
imóveis, não sendo objeto social, haverá necessidade de seguir a orientação da maioria.
O parágrafo único do mesmo artigo, afirma que o excesso por parte dos administradores
somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
a) se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;
b) provando-se que era conhecida do terceiro;
c) tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.
Este dispositivo é a expressão da teoria ultra vires.
De acordo com a teoria ultra vires, a sociedade poderá deixar de se responsabilizar por atos
de representação que exorbitam os limites autorizado no contrato.
No silêncio do contrato, portanto, os administradores podem praticar todos os atos
pertinentes à gestão da sociedade. Nesse caso, a sociedade responde pelos atos legítimos de
representação (art. 47). No entanto, ocorrendo algumas das hipóteses indicadas no parágrafo único
do artigo 1.015, como visto, a sociedade poderá escusar-se da responsabilidade.
45

Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação interesse contrário ao
da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças a seu voto.
Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros
prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções.
Sobre a responsabilidade, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do
CJF/STJ:
Enunciado número 60: As expressões “de peita” ou “suborno” do § 1º do art. 1.011 do novo
Código Civil devem ser entendidas como corrupção, ativa ou passiva.
Enunciado número 220: É obrigatória a aplicação do art. 1.016 do Código Civil de 2002,
que regula a responsabilidade dos administradores, a todas as sociedades limitadas, mesmo àquele
cujo contrato social preveja a aplicação supletiva das normas das sociedades anônimas.
Enunciado número 487: Na apuração de haveres de sócio retirante (art. 1.031 do CC),
devem ser afastados os efeitos da diluição injustificada e ilícita da participação deste na sociedade.

4.4.3.5. Relações com terceiros nas sociedades simples

De acordo com o artigo 1023 do CC, se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas,
respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula
de responsabilidade solidária.
A responsabilidade dos sócios é, contudo, subsidiária.
Nesse sentido, o enunciado 61 das jornadas de direito comercial do CJF/STJ prevê que: O
termo “subsidiariamente” constante do inc. VIII do art. 997 do Código Civil deverá ser substituído
por “solidariamente” a fim de compatibilizar esse dispositivo com o art. 1.023 do mesmo Código.
O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas sociais anteriores à
admissão. Essa é a orientação do artigo 1025 do CC.
Além disso, conforme indicado pelo artigo 1026 do CC, o credor particular de sócio pode,
na insuficiência de outros bens do devedor, pretender por execução os lucros ou o saldo da
liquidação. O parágrafo único, em complemento, afirma que se a sociedade não estiver dissolvida,
pode o credor requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art.
1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação.
Sobre este tema, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do
CJF/STJ:
Enunciado número 386: Na apuração dos haveres do sócio devedor, por consequência da
liquidação de suas quotas na sociedade para pagamento ao seu credor (art. 1.026, parágrafo único),
46

não devem ser consideradas eventuais disposições contratuais restritivas à determinação de seu
valor.
Enunciado número 387: A opção entre fazer a execução recair sobre o que ao sócio couber
no lucro da sociedade ou sobre a parte que lhe tocar em dissolução orienta-se pelos princípios da
menor onerosidade e da função social da empresa.
Enunciado número 388: O disposto no art. 1.026 do Código Civil não exclui a possibilidade
de o credor fazer recair a execução sobre os direitos patrimoniais da quota de participação que o
devedor possui no capital da sociedade.
Enunciado número 389: Quando se tratar de sócio de serviço, não poderá haver penhora das
verbas descritas no art. 1026, se de caráter alimentar.
Conforme orientação do artigo 1027 do CC, os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge
do que se separou judicialmente, não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na quota
social, mas concorrer à divisão periódica dos lucros, até que se liquide a sociedade.
Nesse sentido, o enunciado 13 das jornadas de direito comercial do CJF/STJ prevê que: A
decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar a data de desligamento do
sócio e o critério de apuração de haveres.

4.4.3.6. Resolução da sociedade em relação a um sócio nas sociedades simples

Resolução da Sociedade Simples


1. Resolução por morte
A resolução da sociedade simples, entre outras causas, poderá ser ensejada pela morte de
sócio.
Como regra, inclusive, nas sociedades simples, a morte do sócio é motivo de resolução
societária.
Nas hipóteses seguintes, contudo, excepcionalmente, a morte do sócio não ensejará a
resolução da sociedade simples.
Não haverá resolução por morte:
a) se o contrato dispuser diferentemente;
b) se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; e
c) se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
O Enunciado número 221 das jornadas de direito civil do CJF/CNJ prevê o seguinte:
Diante da possibilidade de o contrato social permitir o ingresso na sociedade do sucessor de sócio
falecido, ou de os sócios acordarem com os herdeiros a substituição de sócio falecido, sem
47

liquidação da quota em ambos os casos, é lícita a participação de menor em sociedade limitada,


estando o capital integralizado, em virtude da inexistência de vedação no Código Civil.
2. Resolução pelo exercício do direito de retirada
A resolução também poderá ser causada pelo exercício do direito de retirada do sócio.
Com relação ao exercício de retirada, as regras são as seguintes:
a) se a sociedade for constituída por tempo indeterminado, o direito de retirada poderá ser
exercido mediante aviso prévio de no mínimo 60 (sessenta) dias;
b) se a sociedade for constituída por tempo determinado, o exercício do direito de retirada,
antes do termo final, é condicionado à demonstração judicial de justa causa.
Em todo o caso, exercido o direito de retirada, nos 30 (trinta) dias seguintes à notificação,
podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.
3. Resolução por inadimplemento
No que se refere ao sócio remisso (aquele que deixou de integralizar o capital, passados 30
(trinta) dias da notificação para fazê-lo), nem sempre haverá resolução da sociedade por sua
exclusão.
Constatada a mora do remisso, a maioria dos demais sócios decidirá sobre as providências
que serão tomadas.
Primeiramente, os sócios poderão deliberar que o sócio remisso deverá apenas indenizar a
sociedade pelo inadimplemento.
Além disso, os demais sócios poderão optar pela redução da participação do remisso ao
montante de quotas já integralizado.
Nessas duas hipóteses, o sócio remisso poderá permanecer na sociedade.
Entretanto, caso os demais sócios deliberem pela exclusão do remisso, haverá resolução em
relação a um sócio.
A exclusão judicial do sócio, demonstrada a justa causa, poderá ocorrer por provocação da
maioria dos demais sócios.
Sobre a exclusão do sócio, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil
do CJF/STJ:
Enunciado número 62: Com a exclusão do sócio remisso, a forma de reembolso das suas
quotas, em regra, deve-se dar com base em balanço especial, realizado na data da exclusão.
Enunciado número 67: A quebra do affectio societatis não é causa para a exclusão do sócio
minoritário, mas apenas para dissolução (parcial) da sociedade.
Enunciado número 216: O quórum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo único, e
no art. 1.030 é de maioria absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios,
consoante a regra geral fixada no art. 999 para as deliberações na sociedade simples. Esse
48

entendimento aplica-se ao art. 1.058 em caso de exclusão de sócio remisso ou redução do valor de
sua quota ao montante já integralizado.
Enunciado número 482: Na apuração de haveres de sócio retirante de sociedade holding ou
controladora, deve ser apurado o valor global do patrimônio, salvo previsão contratual diversa. Para
tanto, deve-se considerar o valor real da participação da holding ou controladora nas sociedades que
o referido sócio integra.
4. Resolução por falência ou insolvência de algum dos sócios.
Por fim, caso seja declarada a falência ou a insolvência de algum dos sócios, também haverá
dissolução parcial da sociedade (artigo 1030, parágrafo único)
O Enunciado 481 das jornadas de direito civil do CJF/STJ prevê que: O insolvente civil
fica de pleno direito excluído das sociedades contratuais das quais seja sócio.

4.4.3.7. Dissolução da sociedade simples

A dissolução das sociedades pode ser extrajudicial ou judicial.


Nos termos do artigo 1033 do Código Civil, haverá dissolução extrajudicial quando ocorrer:
a) o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não
entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
b) o consenso unânime dos sócios;
c) a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade com tempo indeterminado;
d) a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias. Exceto
se o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob
sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro
da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada; e
e) a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Já a dissolução judicial, conforme previsão do artigo 1033 do Código Civil, poderá ocorrer
por requerimento de qualquer dos sócios, quando:
a) for anulada a sua constituição;
b) for exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade.
O contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem verificadas judicialmente
quando contestadas.
49

4.4.4. Sociedades Cooperadas e Agronegócio

As cooperativas são essenciais para a o desenvolvimento e prosperidade economia do país,


inclusive no segmento do agronegócio.
Grande parte das atividades ligadas ao agronegócio no Brasil envolvem cooperativas.2
O agronegócio participa de mais de 23% do PIB e concentra um volume imenso de
investimentos.
Numa lista das 50 maiores e melhores empresas de agronegócios do Brasil, divulgada pela
Forbes, revela-se que este grupo é responsável pela geração de aproximadamente 1.600.000 (um
milhão e seiscentos mil empregos) e faturamentos que superam R$ 275.000.000,00 (duzentos e
setenta e cinco bilhões de reais)3.
Segundo especialistas este mercado está em franca expansão. A ampliação do setor pode ser
observada pelo aumento de negociação de títulos relacionados ao segmento do agronegócio.4
O fluxo de ativos relacionados ao agronegócio ocorre principalmente através dos títulos de
crédito.
O Decreto-lei n°167/67 cuida de alguns desses títulos (a) Cédula Rural Pignoratícia - CRP;
b) Cédula Rural Hipotecária - CRH; c) Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecaria - CRPH; d) Nota de
Credito Rural - NCR; e) Nota Promissória Rural - NPR; f) Duplicata Rural – DR).
São também importantes para a circulação dos créditos desse setor os seguintes títulos:
a) Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio – CDCA, previsto na lei n.
11.076/2004;
b) Letra de Crédito do Agronegócio – LCA, prevista na lei n. 11.076/04;
c) Certificado de Recebíveis do Agronegócio – CRA, previsto na lei n. 11.076/04, entre
outros.
No plano constitucional, o artigo 174, §2º, da Constituição Federal de 1988, prevê que a lei
apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.
O artigo 187, VI, da CF/88, na mesma perspectiva, indica que a política agrícola será
planejada e executada com a participação efetiva do setor de produção, comercialização,
armazenamento e transportes, levando em conta, especialmente, o cooperativismo.

2
Sobre as 100 maiores cooperativas de crédito no Brasil, a Fecoagro apurou o seguinte. Do total das maiores
cooperativas, 56 cooperativas são filiadas ao Sicredi, responsáveis pela administração de R$ 64 bilhões em ativos e R$
38 bilhões em operações de crédito; 30 cooperativas são filiadas ao Sicoob, que juntas administram R$ 40 bilhões em
ativos e R$ 22 bilhões em operações de crédito; 9 cooperativas são da Unicred, que administram R$ 8 bilhões em
ativos e R$ 4 bilhões em operações de crédito; e ainda na relação consta 1cooperativa filiada à Ailos; 2 filiadas à
Uniprime e 2 cooperativa solteira/independentes.http://www.fecoagro.coop.br/divulgadas-as-100-maiores-
cooperativas-de-credito-do-brasil/
3
https://forbes.uol.com.br/listas/2018/07/10-das-melhores-empresas-de-agronegocio-do-brasil/
4
https://forbes.uol.com.br/last/2019/02/santander-ve-crescimento-de-30-no-mercado-de-lcas/
50

No que se diz respeito à constituição formal da cooperativa, sob a forma de pessoa jurídica,
o artigo 982 do Código Civil, prevê que, salvo as exceções expressas, considera-se empresária a
sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais
O parágrafo único destaca, inclusive, que independentemente de seu objeto, considera-se
empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
As sociedades cooperadas são, portanto, sociedades simples.
Embora sejam sociedades simples, as cooperativas deverão ser registradas nas juntas
comerciais.
É nesse sentido o teor do enunciado número 69 das Jornadas de Direito Civil do
CJF/STJ: As sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas
comerciais.
Entre outras normas que tratam das sociedades cooperativas, sobressaem-se as seguintes:
a) Lei n. 9.867/99, que dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas Sociais,
visando à integração social dos cidadãos;
b) LC 130/2009, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo;
c) lei 12690/12, que dispõe sobre a organização e o funcionamento das Cooperativas de
Trabalho; e
d) lei 5764/71, que define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico
das sociedades cooperativas.
Por serem sociedades simples, conforme indicado no enunciado número 206 das jornadas de
direito civil do CJF/STJ, a contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços é
permitida nas sociedades cooperativas (art. 1.094, I), assim como ocorre com as sociedades simples
propriamente ditas (art. 983, 2ª parte).
Naturalmente, as sociedades cooperativas, por serem consideradas sociedades simples, não
se sujeitam à falência e não podem requer recuperação judicial.
A vedação ao acesso do regime recuperacional é uma questão que precisa ser avaliada,
sobretudo se considerarmos a atuação das cooperativas no seguimento do agronegócio e a sua
relevante influência no cenário econômico.
A respeito do empresário rural, veja os seguintes Enunciados das jornadas de Direito
Comercial do CJF/STJ:
Enunciado número 96 – A recuperação judicial do empresário rural, pessoa natural ou
jurídica, sujeita todos os créditos existentes na data do pedido, inclusive os anteriores à data da
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis.
51

Enunciado número 97 – O produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na ocasião do pedido


de recuperação judicial, não precisa estar inscrito há mais de dois anos no Registro Público de
Empresas Mercantis, bastando a demonstração de exercício de atividade rural por esse período e a
comprovação da inscrição anterior ao pedido.

4.4.5. Sociedade em Nome Coletivo

A sociedade em nome coletivo é subsidiariamente disciplinada pelas normas das sociedades


simples (confira os artigos 1.039 a 1.044 do CC).
Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo
todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. Sem prejuízo da
responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção
posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um.
O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art. 997, a firma social.
A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios.
De acordo com o artigo 1043, o credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a
sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor. Exceto quando: a) a sociedade houver sido
prorrogada tacitamente; b) tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente
oposição do credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório.
O enunciado número 63 das jornadas de direito civil do CJF/STJ recomenda o seguinte:
Suprimir o art. 1.043 ou interpretá-lo no sentido de que só será aplicado às sociedades ajustadas por
prazo determinado.
O enunciado número 489, por sua vez, assinala o seguinte: No caso da microempresa, da
empresa de pequeno porte e do microempreendedor individual, dispensados de publicação dos seus
atos (art. 71 da Lei Complementar n. 123/2006), os prazos estabelecidos no Código Civil contam-se
da data do arquivamento do documento (termo inicial) no registro próprio.
De acordo com o artigo 1044 do Código Civil, a sociedade se dissolve de pleno direito por
qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 (sociedade simples) e, se empresária, também pela
declaração da falência.

4.4.6. Sociedade em Comandita Simples

Aplicam-se à sociedade em comandita simples, subsidiariamente, as normas da sociedade


em nome coletivo (Confira os artigos 1.045 a 1.051 do CC).
52

As sociedades em comandita simples são formadas duas categorias de sócios: a) sócios


comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais
(equivalentes aos sócios da sociedade em nome coletivo); b) sócios comanditários, obrigados
somente pelo valor de sua quota.
O sócio comanditário não pode praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma
social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado. Pode, no entanto, ser
constituído procurador da sociedade para negócio determinado e com poderes especiais.
Além disso, o sócio comanditário não é obrigado à reposição de lucros recebidos de boa-fé e
de acordo com o balanço. Contudo, diminuído o capital social por perdas supervenientes, não pode
o comanditário receber quaisquer lucros, antes de reintegrado aquele.
Caso ocorra a morte de sócio comanditário, salvo disposição do contrato, a sociedade
prosseguirá com os seus sucessores. Estes últimos designarão quem os represente.
As sociedades em comandita simples será dissolvida nas seguintes hipóteses:
a) por qualquer das causas previstas no art. 1033 (já visto por ocasião do estudo das
sociedades simples);
b) pela falência; e
c) quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio.

4.4.7. Sociedade Limitada

4.4.7.1. Aspectos gerais das sociedades limitadas

As sociedades limitadas são disciplinadas pelos artigos 1052 a 1087 do Código Civil.
O enunciado número 65 das jornadas de direito civil do CJF/STJ prevê que: A expressão
“sociedade limitada” tratada no art. 1.052 e seguintes do novo Código Civil deve ser interpretada
stricto sensu, como “sociedade por quotas de responsabilidade limitada”.
Como regra, há aplicação a subsidiária das normas das sociedades simples. O contrato pode,
no entanto, prever aplicação subsidiária da LSA.
De acordo com o artigo 1054, o contrato social das sociedades limitadas deve mencionar, no
que couber, as indicações do artigo 997, que cuidam das sociedades simples, além da firma social,
se for o caso. As sociedades limitadas podem utilizar as duas espécies de nome: firma ou
denominação. Em todo o caso, ao final do nome deve ser indicado que se trata de sociedade
limitada, com a expressão “limitada” ou “Ltda”.
53

Com relação ao contrato social, o enunciado número 214 das jornadas de direito civil do
CJF/STJ assinala que: As indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se outras
exigências contidas na legislação pertinente, para fins de registro.
Sobre a aplicação subsidiária de normas confira os seguintes enunciados das jornadas de
direito civil do CJF/STJ:
Enunciado número 217: Com a regência supletiva da sociedade limitada, pela lei das
sociedades por ações, ao sócio que participar de deliberação na qual tenha interesse contrário ao da
sociedade aplicar-se-á o disposto no art. 115, § 3º, da Lei n. 6.404/76. Nos demais casos, incide o
art. 1.010, § 3º, se o voto proferido foi decisivo para a aprovação da deliberação, ou o art. 187
(abuso do direito), se o voto não tiver prevalecido.
Enunciado número 222: Não se aplica o art. 997, V, à sociedade limitada na hipótese de
regência supletiva pelas regras das sociedades simples.
Enunciado número 223: O parágrafo único do art. 1.053 não significa a aplicação em bloco
da Lei n. 6.404/76 ou das disposições sobre a sociedade simples. O contrato social pode adotar, nas
omissões do Código sobre as sociedades limitadas, tanto as regras das sociedades simples quanto as
das sociedades anônimas.

4.4.7.2. Capital social das sociedades limitadas

As sociedades limitadas têm o capital social dividido em quotas.


A responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem
solidariamente pela integralização do capital social, conforme previsão do artigo 1052 do Código
Civil.
Além disso, os sócios respondem solidariamente, até o prazo de cinco anos, contados da data
do registro, pela exata estimação de bens conferidos ao capital social.
O enunciado número 224 das jornadas de direito civil do CJF/STJ prevê que: A
solidariedade entre os sócios da sociedade limitada pela exata estimação dos bens conferidos ao
capital social abrange os casos de constituição e aumento do capital e cessa após cinco anos da data
do respectivo registro.
No mesmo sentido são os enunciados números 12 e 18 das jornadas de direito comercial do
CJF/STJ.
Enunciado número 12: A regra contida no art. 1.055, § 1º, do Código Civil deve ser aplicada
na hipótese de inexatidão da avaliação de bens conferidos ao capital social; a responsabilidade nela
prevista não afasta a desconsideração da personalidade jurídica quando presentes seus requisitos
legais.
54

Enunciado número 18: O capital social da sociedade limitada poderá ser integralizado, no
todo ou em parte, com quotas ou ações de outra sociedade, cabendo aos sócios a escolha do critério
de avaliação das respectivas participações societárias, diante da responsabilidade solidária pela
exata estimação dos bens conferidos ao capital social, nos termos do art. 1.055, § 1º, do Código
Civil.
Nas sociedades limitadas está vedada a contribuição que consista em prestação de serviços.
Com relação à cessão de quotas, conforme preconiza o artigo 1057 do Código Civil, na
omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio,
independentemente de audiência dos outros. Caso se trate de cessão de quotas para terceiros, no
entanto, o sócio só poderá fazê-lo caso não haja oposição de titulares de mais de um quarto do
capital social.
Sobre esta questão, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do CJF/STJ:
Enunciado número 225: Na omissão do contrato social, a cessão de quotas sociais de uma
sociedade limitada pode ser feita por instrumento próprio, averbado no registro da sociedade,
independentemente de alteração contratual, nos termos do art. 1.057 e parágrafo único do Código
Civil.
Enunciado número 391: A sociedade limitada pode adquirir suas próprias quotas,
observadas as condições estabelecidas na Lei das Sociedades por Ações.
A cessão terá eficácia quanto à sociedade e terceiros a partir da averbação do respectivo
instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.
Com relação ao sócio remisso, os demais sócios podem pretender: a) o pagamento de uma
indenização; b) a exclusão do sócio remisso; c) a redução da sua quota ao montante já realizado; d)
adquirir as quotas ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que
houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas.

4.4.7.3. Administração das Sociedades Limitadas - Arts. 1060 a 1065 do Código Civil

A redação atual do artigo 1060 do Código Civil é a seguinte: A sociedade limitada é


administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado. O
parágrafo único do mencionado artigo prevê ainda que a administração atribuída no contrato a todos
os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.
Pela redação anterior do artigo 1060 só poderia haver nomeação de administrador não sócio
com a autorização prévia no contrato.
Atualmente, portanto, pode haver designação de administrador não sócio, ainda que não haja
autorização prévia no contrato social.
55

Em todo o caso, conforme indicado no artigo 1061 do Código Civil, a designação de


administradores não sócios dependerá de aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o capital
não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a integralização.
De acordo com o art. 1.063, do Código Civil, o exercício do cargo de administrador cessa
pela destituição, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou
em ato separado, não houver recondução.
O seu § 1º, com as alterações feitas pela Lei nº 13.792, de 2019, passou a prever que em se
tratando de sócio nomeado administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela
aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital social, salvo
disposição contratual diversa. A redação anterior previa quórum de quotas que correspondessem, no
mínimo, a dois terços do capital social.

4.4.7.4. Conselho fiscal das sociedades limitadas

Conforme indicado no artigo 1066 do Código Civil, sem prejuízo dos poderes da assembleia
dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e
respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembleia anual.
O artigo 1.069, do Código Civil, indica algumas das atribuições do conselho fiscal:
a) examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa
e da carteira, devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas;
b) lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no
inciso I deste artigo;
c) exarar no mesmo livro e apresentar à assembleia anual dos sócios parecer sobre os
negócios e as operações sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço
patrimonial e o de resultado econômico;
d) denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à
sociedade;
e) convocar a assembleia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua
convocação anual, ou sempre que ocorram motivos graves e urgentes; e
f) praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo,
tendo em vista as disposições especiais reguladoras da liquidação.
Na lei 6404/76 (LSA) o conselho fiscal está disciplinado, basicamente, nos artigos 161 a
156-A.
56

4.4.7.5. Deliberações dos sócios nas sociedades limitadas

As deliberações nas sociedades limitadas são tomadas em reuniões de sócios ou assembleia


geral. De acordo com o artigo 1072, § 1º, a deliberação em assembleia será obrigatória se o número
dos sócios for superior a dez. Caso seja inferior, a deliberação poderá ser tomada em reunião de
sócios.
O artigo 1.078 do Código Civil prevê que a assembleia dos sócios deve realizar-se ao menos
uma vez por ano, nos quatro meses seguintes à ao término do exercício social, com o objetivo de:
I - tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o de
resultado econômico;
II - designar administradores, quando for o caso;
III - tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.
Na lei 6404/76 (LSA) a assembleia geral está disciplinada, basicamente, nos artigos 121 a
137.
Confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do CJF/STJ:
Enunciado número 226: A exigência da presença de três quartos do capital social, como
quórum mínimo de instalação em primeira convocação, pode ser alterada pelo contrato de sociedade
limitada com até dez sócios, quando as deliberações sociais obedecerem à forma de reunião, sem
prejuízo da observância das regras do art. 1.076 referentes ao quórum de deliberação.
Enunciado número 228: As sociedades limitadas estão dispensadas da publicação das
demonstrações financeiras a que se refere o § 3º do art. 1.078. Naquelas de até dez sócios, a
deliberação de que trata o art. 1.078 pode dar-se na forma dos §§ 2º e 3º do art. 1.072, e a qualquer
tempo, desde que haja previsão contratual nesse sentido.
Enunciado número 484: Quando as deliberações sociais obedecerem à forma de reunião, na
sociedade limitada com até 10 (dez) sócios, é possível que a representação do sócio seja feita por
outras pessoas além das mencionadas no § 1º do art. 1.074 do Código Civil (outro sócio ou
advogado), desde que prevista no contrato social.
O art. 1.071 aponta nos seus respectivos incisos, as principais matérias que dependem de
deliberações dos sócios. São elas:
I - a aprovação das contas da administração;
II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
III - a destituição dos administradores;
IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
V - a modificação do contrato social;
57

VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de


liquidação;
VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
VIII - o pedido de concordata.
O conteúdo do artigo 1.071 deve ser apreciado conjuntamente com as disposições do artigo
1.076, que indicam os quóruns necessários para a aprovação das matérias correspondentes.
De acordo com a nova redação, dada pela lei nº 13792 de 2019, o artigo 1076 passou a
prever que, ressalvados o disposto no artigo 1.061 (a designação de administradores não sócios
dependerá de aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e
de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a integralização), as deliberações das sociedades limitadas
serão tomadas da seguinte forma: a) pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do
capital social, nos casos previstos nos incisos V e VI do art. 1.071; b) pelos votos correspondentes
a mais de metade do capital social, nos casos previstos nos incisos II, III, IV e VIII do art. 1.071; e
c) pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se este não
exigir maioria mais elevada
Confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do CJF/STJ:
Enunciado número 227: O quórum mínimo para a deliberação da cisão da sociedade
limitada é de três quartos do capital social.
Enunciado número 485: O sócio que participa da administração societária não pode votar
nas deliberações acerca de suas próprias contas, na forma dos arts. 1.071, I, e 1.074, § 2º, do Código
Civil.
É ainda importante destacar a responsabilidade dos sócios nas deliberações societárias.
Nesse sentido, o art. 1.080, do Código Civil, assinala que as deliberações infringentes do contrato
ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram.
O Código Civil, aliás, prevê no artigo 50 o seguinte: em caso de abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir,
a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do CJF/STJ:
Enunciado número 229: A responsabilidade ilimitada dos sócios pelas deliberações
infringentes da lei ou do contrato torna desnecessária a desconsideração da personalidade jurídica,
por não constituir a autonomia patrimonial da pessoa jurídica escudo para a responsabilização
pessoal e direta.
58

Enunciado número 487 – Arts. 50, 884, 1.009, 1.016, 1.036 e 1.080: Na apuração de haveres
de sócio retirante (art. 1.031 do CC), devem ser afastados os efeitos da diluição injustificada e ilícita
da participação deste na sociedade.

4.4.7.6. Aumento e redução do capital social nas sociedades limitadas

Sobre o aumento do capital, conforme previsto no artigo 1.081 do Código Civil, como regra,
após a integralização de todo o capital social, pode haver aumento, com a correspondente
modificação do contrato. O § 1º do mesmo artigo, garante que, em até trinta dias após a deliberação,
terão os sócios preferência para participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam
titulares.
O direito de preferência está previsto, inclusive, no artigo 171 da LSA.
A redução do capital social, por sua vez, está prevista no artigo 182 do Código Civil. Nesse
caso, o capital social poderá ser reduzido, mediante a modificação do contrato em duas hipóteses: a)
depois de integralizado, se ocorrer perdas irreparáveis; b) se o capital se revelar excessivo em
relação ao objeto da sociedade.

4.4.7.7. Resolução da sociedade em relação a sócios minoritários nas sociedades limitadas

Além dos casos de exclusão por falta grave, por deliberação de mais da metade do capital
social, pode se entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa,
em virtude de atos de inegável gravidade. Nessa hipótese, poderá haver exclusão mediante alteração
do contrato social, desde que prevista a exclusão por justa causa.
O parágrafo único do artigo 1085 tinha a seguinte redação: A exclusão somente poderá ser
determinada em reunião ou assembleia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em
tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa.
Com nova redação, dada pela Lei nº 13.792, de 2019, o parágrafo único do artigo 1085
passou a prever expressamente que: Ressalvado o caso em que haja apenas dois sócios na
sociedade, a exclusão de um sócio somente poderá ser determinada em reunião ou assembleia
especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu
comparecimento e o exercício do direito de defesa.
59

4.4.7.8. Dissolução das sociedades limitadas

A dissolução das sociedades limitadas deve ser compreendida a partir da leitura dos artigos
1.087 c/c arts. 1.044 e 1.033, todos do Código Civil.
Em síntese, haverá a dissolução das sociedades limitadas nas seguintes hipóteses:
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não
entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado;
II - o consenso unânime dos sócios;
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de tempo indeterminado;
IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar;
VI – falência.

4.4.7.9. Liquidação das sociedades reguladas pelo Código Civil

O artigo 1102 do Código Civil prevê que: Dissolvida a sociedade e nomeado o liquidante na
forma do disposto neste Livro, procede-se à sua liquidação, de conformidade com os preceitos deste
Capítulo, ressalvado o disposto no ato constitutivo ou no instrumento da dissolução. O liquidante,
que não seja administrador da sociedade, investir-se-á nas funções, averbada a sua nomeação no
registro próprio.
Os deveres do liquidante estão indicados, basicamente, nos incisos do artigo 1.103 do
Código Civil. Nesse sentido, constituem deveres do liquidante:
I - averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade;
II - arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam;
III - proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência, sempre
que possível, dos administradores, à elaboração do inventário e do balanço geral do ativo e do
passivo;
IV - ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o
remanescente entre os sócios ou acionistas;
V - exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização de
suas quotas e, se for o caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de cada um e
proporcionalmente à respectiva participação nas perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes e na
mesma proporção, o devido pelo insolvente;
60

VI - convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e balanço
do estado da liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o semestre, ou sempre que
necessário;
VII - confessar a falência da sociedade e pedir concordata, de acordo com as formalidades
prescritas para o tipo de sociedade liquidanda;
VIII - finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas
finais;
IX - averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios, que
considerar encerrada a liquidação.

4.5. SOCIEDADES COLIGADAS, CONTROLADORAS E CONTROLADAS NO CÓDIGO


CIVIL

Na lei 6404/76 (LSA) esta matéria está disciplinada nos artigos 243 a 264.
As coligações societárias ocorrem no âmbito das ligações societárias.
De acordo com o artigo 1097 do Código Civil, consideram-se coligadas as sociedades que,
em suas relações de capital, são controladas, filiadas ou de simples participação.
Em síntese, de acordo com o código civil, as sociedades coligadas (gênero) podem ser de
três espécies:
a) sociedade filiada, nos termos do artigo 1099 do Código Civil;
b) sociedade de simples participação, conforme o artigo 1100 do Código Civil; e c)
sociedade controladora, de acordo com o artigo 1098 do Código Civil.
Sociedade filiada: é a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com dez por cento
ou mais do capital da outra, sem controlá-la.
Sociedade de simples participação: é a sociedade de cujo capital outra sociedade possua
menos de dez por cento do capital da outra, com direito de voto, sem controle.
Sociedade controladora: é a sociedade brasileira que possui a maioria de votos da outra
sociedade, com poder de eleger a maior dos administradores da outra sociedade.
Sociedade controlada: a) é sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos
votos nas deliberações dos quotistas ou da assembleia-geral, além de deter o poder de elegera
maioria dos administradores; e b) é a sociedade cujo controle esteja em poder de outra, em virtude
de ações ou quotas possuídas por sociedades já controladas.
O acionista controlador está definido no art. 116 da LSA como sendo a pessoa natural ou
jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) é
titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas
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deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e


b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos
órgãos da companhia.
Já o conceito de sociedade controlada está no § 2º do Artigo 243 da LSA. De acordo com o
mencionado parágrafo, considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou
através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente,
preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores.
Sociedade coligada: de acordo com o §1º da LSA, consideram-se coligadas as sociedades
nas quais a investidora tenha influência significativa.
De acordo com o art. 1.101 do Código Civil, salvo disposição especial de lei, a sociedade
não pode participar de outra, que seja sua sócia, por montante superior, segundo o balanço, ao das
próprias reservas, excluída a reserva legal. O parágrafo único do artigo, por seu lado, prevê que
provado o balanço em que se verifique ter sido excedido esse limite, a sociedade não poderá exercer
o direito de voto correspondente às ações ou quotas em excesso, as quais devem ser alienadas nos
cento e oitenta dias seguintes àquela aprovação.
Essa questão é abordada pelo artigo 244 da LSA, que estipula ser vedada a participação
recíproca entre a companhia e suas coligadas ou controladas.
Por fim, sobre a responsabilidade civil nas ligações societárias, merece destaque o art. 28, §
2º e 3º do CDC. A responsabilidade está regulada da seguinte forma:
a) grupos societários e sociedades controladas (responsabilidade subsidiária);
b) sociedades consorciadas (responsabilidade solidária); c) sociedades coligadas
(responsabilidade subjetiva).

4.6. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS - INCORPORAÇÃO, FUSÃO, CISÃO (PARCIAL E TOTAL)


E TRANSFORMAÇÃO

Essas operações societárias estão previstas no Código Civil e na LSA.


De acordo com enunciado número 70 das jornadas de direito civil do CJF/STJ: As
disposições sobre incorporação, fusão e cisão previstas no Código Civil não se aplicam às
sociedades anônimas. As disposições da Lei n. 6.404/76, sobre essa matéria aplicam-se, por
analogia, às demais sociedades naquilo em que o Código Civil for omisso.
62

4.6.1. Incorporação

Confira o artigo 227 da LSA e o artigo 1.116 do Código Civil.


Na incorporação, uma ou mais sociedades são incorporadas por outra sociedade
incorporadora. A incorporadora será a sucessora universal da incorporada, que será extinta.
Confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do CJF/STJ sobre
incorporação:

4.6.2. Fusão

Confira o artigo 228 da LSA e o artigo 1.119 do Código Civil.


Na fusão, duas ou mais sociedades se fusionam e, consequentemente se extinguem, para
formar uma nova sociedade. A sociedade resultante será a sucessora universal das demais.

4.6.3. Cisão total ou parcial

Confira o artigo 229 da LSA.


A cisão total ocorre quando uma sociedade se extingue e as frações de todo o seu patrimônio
serão destinadas à outras sociedades, já existentes ou formadas a partir do patrimônio da cindida.
Na cisão total, portanto, a cindida será extinta. A cisão parcial, de outro modo, ocorre quando uma
sociedade transfere parte do seu patrimônio para outra(s) sociedade(S), já existentes ou criadas a
partir do patrimônio transferido. Na cisão parcial, a cindida se mantém existente.
Confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do CJF/STJ sobre fusão e
cisão: Enunciado 232: Nas fusões e incorporações entre sociedades reguladas pelo Código Civil, é
facultativa a elaboração de protocolo firmado pelos sócios ou administradores das sociedades;
havendo sociedade anônima ou comandita por ações envolvida na operação, a obrigatoriedade do
protocolo e da justificação somente a ela se aplica.

4.6.4. Transformação

Confira o artigo 220 da LSA e o artigo 1.113 do Código Civil.


Na transformação ocorre a modificação do tipo societário, como se dá no caso, por exemplo
de uma sociedade empresária por quotas que pretenda negociar seu capital na bolsa de valores.
63

Neste caso, a sociedade poderá se transforar numa sociedade por ações e, assim, negociar suas
ações no mercado de valores mobiliários.

4.7. SOCIEDADES DEPENDENTES DE AUTORIZAÇÃO

Confira os artigos 1123 a 1141 do Código Civil.


Tendo em conta o princípio da livre iniciativa, um dos fundamentos da República Federativa
do Brasil (artigo 1º, IV, da CF), além de relevante princípio da Ordem Econômica (artigo 170, IV
da CF), em regra, o exercício da atividade econômica independe de prévia autorização.
Em casos específicos, contudo, excepcionalmente, o exercício de algumas atividades
econômicas dependerá de prévia autorização do Poder Executivo.
Basicamente, necessitam de autorização prévia do Poder Executivo os seguintes sujeitos:
a) instituições financeiras, autorizadas pelo Banco Central;
b) operadoras de planos de seguros privados, autorizadas pela Superintendência de Seguros
Privados – SUSEP; c) operadoras de planos de saúde, autorizadas pela ANS;
d) empresas de segurança e de transporte de valores, autorizadas pela polícia federal;
e) sociedades estrangeiras, autorizadas pelo governo federal.
Com relação às sociedades estrangeiras, merece destaque o art. 1.134 do Código Civil, ao
dispor que: A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não pode, sem autorização do
Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo,
todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira.
O dec. 8803/2016 delega competência ao Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da
Presidência da República para autorizar o funcionamento no País de sociedade estrangeira, suas
alterações estatutárias ou contratuais, sua nacionalização e a cassação de autorização de seu
funcionamento.
De acordo com o artigo 1126 do Código Civil considera-se nacional a sociedade organizada
de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração. O parágrafo
único, por sua vez, diz que: Quando a lei exigir que todos ou alguns sócios sejam brasileiros, as
ações da sociedade anônima revestirão, no silêncio da lei, a forma nominativa. Qualquer que seja o
tipo da sociedade, na sua sede ficará arquivada cópia autêntica do documento comprobatório da
nacionalidade dos sócios.
A CF, no art. 176, § 1º, prevê necessidade de autorização para atividades ligadas a recursos
minerais: A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se
refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da
União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que
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tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas
quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
Embora parcialmente revogado pela LSA, o Decreto-lei nº2627/40 ainda disciplina algumas
questões referentes às sociedades anônimas dependente de autorização nos artigos 59 a 73.
Sociedade em Comandita por ações – lei 6404/76 – LSA

4.8. SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES

As sociedades em comandita por ações são sociedades com capital social fracionado em
ações e reguladas por estatuto.
Essas sociedades são reguladas pela LSA e, subsidiariamente, pelo Código Civil.
Quanto ao nome, podem adotar firma ou denominação.
Nessa sociedade já duas espécies de sócios:
a) sócio comum, que não administra a sociedade e tem responsabilidade limitada;
b) sócio administrador da sociedade, que responde de forma subsidiária, mas limitada e
solidariamente com os outros sócios pelas obrigações da sociedade.
O artigo 284 da LSA faz a ressalva de que não se aplica à sociedade em comandita por ações
as disposições daquela lei que digam respeito ao conselho de administração, autorização estatutária
de aumento de capital e emissão de bônus de subscrição.

4.9. SOCIEDADES ANÔNIMAS

4.9.1. Considerações Gerais

A sociedade anônima é regulada pelas disposições da lei 6.404/76, conhecida como LSA.
São sociedades cujo capital social é fracionado em ações, por isso são denominadas
sociedades por ações.
São reguladas por estatuto e não por contrato social. Por isso são denominadas sociedades
estatutárias e não contratuais.
Por presunção legislativa as sociedades anônimas sempre terão por objeto o exercício de
atividade empresarial ou a participação em outras sociedades, conforme preconiza o art. 2°, § 3° da
LSA.
São sociedades de capital. Portanto, ao contrário do que se passa com as sociedades de
pessoas, as qualidades pessoais dos sócios são irrelevantes para a permanência nos quadros
65

societários. Nesse caso, nada impede a penhora de ações, seguida do ingresso de terceiros na
sociedade como novos sócios.
A responsabilidade dos sócios é limitada ao valor das ações subscritas.
Nos termos do art. 1.088 do Código Civil, na sociedade anônima ou companhia, o capital
divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações
que subscrever ou adquirir.
As sociedades anônimas podem ser abertas ou fechadas, conforme previsto no art. 4° da
LSA.
Sociedades anônimas abertas são aquelas que pode negociar suas ações e valores mobiliários
nos Mercados primário (mercado de balcão) e secundário (bolsa de valores) de valores mobiliários.
Por outro lado, sociedades anônimas fechadas são aquelas que só podem negociar suas ações
e valores mobiliários no mercado primário (mercado de balcão) de valores mobiliários.
Os valores mobiliários são títulos representativos de direitos, emitidos pela companhia.
Além das próprias ações, os principais valores mobiliários emitidos pela companhia são:
a) as debêntures;
b) os commercial paper;
c) as partes beneficiárias;
d) os bônus de subscrição.

4.9.2. Classificação das Ações

Quanto aos direitos e obrigações, as ações podem ser:


a) ordinárias, que conferem direitos normais ao seu titular;
b) preferenciais, que conferem uma preferência ou vantagem ao seu titular; e
c) de fruição, que conferem apenas direitos de gozo ao seu titular.
Há um limite máximo de ações preferenciais sem voto que a sociedade anônima pode emitir.
Conforme previsão do artigo 15, § 2° da LSA, só podem ser emitidas ações preferenciais sem
direito de voto que representem até 50% do total de ações da companhia
São direitos essenciais de qualquer acionista, em regra, independentemente das naturezas
das suas ações:
a) direito de participação nos lucros sociais,
b) direito de participação na partilha do acervo líquido da companhia, nos casos em que esta
for dissolvida;
c) direito de fiscalização da gestão da sociedade;
d) direito de preferência na subscrição de novos valores mobiliários e;
66

e) direito de retirada.
O direito de voto não é um direito essencial.
Quanto à forma de transferência, as ações podem ser:
a) nominativas, quando se transferem mediante registro no “livro de registro de ações;
b) escriturais, quando são transferidas pela instituição financeira responsável, mediante
lançamento no sistema.
As ações podem ser divididas em classes, de acordo com os direitos específicos concedidos
aos seus titulares.
A divisão em classes, contudo, se submete a limites impostos pela lei: as ações ordinárias da
S/A aberta não podem ser divididas em classes; as ações ordinárias da S/A fechada e ações
preferenciais das S/A aberta ou fechada podem ser divididas em classes.

4.9.3. Valores das Ações

As ações podem ter os seguintes valores:


a) valor nominal;
b) valor patrimonial;
c) valor de negociação;
d) valor econômico; e
e) valor de emissão.
Além das ações, a companhia pode emitir os seguintes valores mobiliários:

4.9.4. Debêntures

Confira o art. 52 da LSA.


São títulos que instrumentalizam um contrato de mútuo para cumprimento em médio ou
longo prazo. Podem ser emitidas:
a) com garantia real;
b) com garantia flutuante;
c) com garantia quirografária; e
d) com garantia subordinada. Essa classificação será relevante para o pagamento dos
créditos na falência, conforme o disposto no art. 83 da Lei 11.101/2005
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4.9.5. Partes Beneficiárias

Confira o art. 46 da LSA.


São títulos que conferem direito de crédito eventual contra a companhia sobre lucros anuais.
A emissão é vedada nas companhias abertas. Também estão proibidas as emissões gratuitas, salvo
em favor dos empregados, não podendo nesse caso superar 10 anos. As partes beneficiárias podem
ser conversíveis em ações.

4.9.6. Bônus de Subscrição

Confira o art. 75 da LSA.


São títulos que dão direito de subscrição preferencial de ações futuras.

4.9.7. Notas Promissórias e Commercial Papers

São título emitidos com o objetivo de conseguir recursos a curto prazo, entre 30 e 180 dias,
para a companhia.

4.9.8. Constituição da Companhia

A constituição da companhia, seja pública ou particular, nos termos dos artigos 80 a 88 da


LSA, deve ser precedida das seguintes formalidades:
a) subscrição das ações por, no mínimo, duas pessoas, em regra;
b) realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das
ações subscritas em dinheiro. Caso a companhia seja uma instituição financeira, deverá haver
pagamento de no mínio 50% em dinheiro;
c) deve haver depósito no Banco do Brasil ou em outro estabelecimento bancário autorizado
pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, da parte do capital realizado em dinheiro.
Quanto à necessidade da presença de dois ou mais sócios, há duas exceções à regra.
Poderá haver a presença de um único sócio quando se tratar de empresa pública. Nesse caso
o poder público seria o único acionista.
Além dessa primeira hipótese, nos termos do artigo 251 da LSA, que trata da sociedade
anônima subsidiária integral, permite-se a existência de uma sociedade anônima com uma única
sócia, desde que se trate de sociedade brasileira. Assim, a companhia poderá já ser constituída,
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mediante escritura pública, com uma única sociedade brasileira como acionista; ou após a sua
constituição reunir todas as suas ações nas mãos de apenas uma sociedade brasileira.
Com relação à instituição financeira, como já destacamos, é relevante notar o contido no art.
27, caput, da Lei 4.595/1964: Na subscrição do capital inicial e na de seus aumentos em moeda
corrente, será exigida no ato a realização de, pelo menos 50% (cinquenta por cento) do montante
subscrito.
Constituição por subscrição pública: na constituição por escritura pública deve haver o
registro prévio na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a colocação das ações à disposição dos
investidores interessados, e a realização de assembleia inicial de fundação.
A propósito, o art. 82 da LSA prevê que: o pedido de registro de emissão obedecerá às
normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários e será instruído com:
a) o estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento;
b) o projeto do estatuto social;
c) o prospecto, organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição financeira
intermediária. Gestão do processo de constituição por subscrição pública - underwriting.
Constituição por subscrição particular. Na constituição por subscrição particular basta a
realização de assembleia dos subscritores ou a lavratura de escritura pública em cartório.
O art. 106 da LSA, prevê, inclusive que: o acionista é obrigado a realizar, nas condições
previstas no estatuto ou no boletim de subscrição, a prestação correspondente às ações subscritas ou
adquiridas.

4.9.9. Controle da Companhia

Quanto ao controle da companhia são relevantes as seguintes definições:


a) controle totalitário, é aquele que ocorre principalmente nas sociedades anônimas fechadas
familiares e nas sociedades subsidiárias integrais, nos termos do artigo 251 da LSA;
b) controle majoritário, se dá quando o acionista que detém a maioria das ações com direito
de voto e exerce o poder a ele conferido, conforme indicado no artigo 116 LSA;
c) controle minoritário. Uma expressão do controle minoritário pode ser extraída do art. 125
da LSA, que permite a instalação da assembleia, em segunda convocação, com a presença de
qualquer número de acionistas com direito de voto; e
d) controle gerencial, exercido por administradores profissionais, quando os acionistas são
meros investidores, desinteressados nos demais aspectos gerenciais da companhia que não digam
respeito ao lucro.
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4.9.10. Alienação de Controle da Companhia

Sobre a alienação de controle é relevante saber da cláusula de saída conjunta (tag along), um
instrumento de defesa dos sócios minoritários, com relação aos demais. Nesse ponto, o art. 254-A,
da LSA prevê o seguinte: A alienação, direta ou indireta, do controle de companhia aberta somente
poderá ser contratada sob a condição, suspensiva ou resolutiva, de que o adquirente se obrigue a
fazer oferta pública de aquisição das ações com direito a voto de propriedade dos demais acionistas
da companhia, de modo a lhes assegurar o preço no mínimo igual a 80% (oitenta por cento) do
valor pago por ação com direito a voto, integrante do bloco de controle.
Ainda sobre a alienação de controle, mediante oferta pública de ações (OPA ou take over),
merece destaque o texto do artigo 257 da LSA que prevê o seguinte: A oferta pública para aquisição
de controle de companhia aberta somente poderá ser feita com a participação de instituição
financeira que garanta o cumprimento das obrigações assumidas pelo ofertante.
A possibilidade de acordo de acionistas está indicada no artigo 118 LSA. O mencionado
artigo assinala que pode haver acordo de acionistas sobre as seguintes matérias:
a) compra e venda de ações;
b) preferência para aquisição de ações;
c) exercício do direito de voto; e
d) exercício do poder de controle da companhia.

4.9.11. Órgãos Societários

Os órgãos das sociedades anônimas são os seguintes:


a) assembleia geral;
b) conselho de administração;
c) diretoria; e
d) conselho fiscal.
A Assembleia-Geral, está prevista, basicamente no artigo 122 da LSA. A sua função
principal é deliberativa, pela reunião de todos os acionistas, com ou sem direito de voto. As
matérias tratadas na assembleia geral ordinária são as seguintes:
a) alteração de estatuto social;
b) aprovação de balanço anualmente;
c) eleição de administradores e membros do Conselho Fiscal;
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d) avaliação das contas dos administradores;


e) autorização do Conselho de Administração a pedir a autofalência ou a recuperação
judicial.
O Conselho de Administração está previsto, basicamente, no artigo 140 da LSA. As suas
funções são deliberativas e consultivas. Os membros são eleitos pela Assembleia-Geral. O Conselho
de Administração é composto por, no mínimo, três pessoas físicas, acionistas ou não acionistas. O
Conselho de Administração é órgão obrigatório nas seguintes hipóteses:
a) nas sociedades anônimas abertas;
b) nas sociedades de economia mista;
c) nas sociedades de capital autorizado, conforme disposto no artigo 168 da LSA.
A Diretoria, basicamente, prevista no artigo 143 da LSA, é órgão responsável pela execução
das deliberações tomadas pela assembleia geral e pelo conselho de administração. Deve ser
composta por, no mínimo, duas pessoas físicas, domiciliadas no Brasil, acionistas ou não. Como
regra, os são eleitos pelo Conselho de Administração. Se não houver, são eleitos pela assembleia-
geral.
Conselho Fiscal, está previsto, principalmente, no artigo 161 da LSA e é responsável pela
fiscalização da companhia. É um órgão, em regra, de existência obrigatória e funcionamento
facultativo. Nesses casos, a convocação se dá através de acionista que detenha ao menos 5% do
capital social. Nas sociedades sociedade de economia mista o funcionamento do Conselho Fiscal é
obrigatório. Deve ser composto por no mínimo 3 e no máximo 5 membros, pessoas físicas,
acionistas ou não.

4.9.12. Responsabilidade dos Administradores

Conforme indicado no artigo 158 da LSA, administrador não é pessoalmente responsável


pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão. O
administrador responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, nas seguintes hipóteses:
a) se agir com culpa ou dolo, dentro dos limites da suas atribuições e poderes;
b) se agiu com violação da lei ou do estatuto, independentemente de dolo ou culpa.
71

4.9.13. Ação de Responsabilidade

De acordo com o artigo 159 da LSA, compete à companhia, mediante prévia deliberação da
assembleia-geral, a ação de responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos causados
ao seu patrimônio.

QUESTÕES
QUESTÃO 1. Sobre os empresários com personalidade jurídica, assinale a alternativa
incorreta:
A) As empresas individuais de responsabilidade limitada são empresários com
personalidade direito privado.
B) As sociedades em comandita simples são sociedades com personalidade jurídica.
C) As sociedades em nome coletivo não são sociedades com personalidade jurídica.
D) As sociedades em comum são sociedades sem personalidade jurídica.

A) CORRETA, de acordo com o artigo 44, VI, do Código Civil.


Os empresários podem ser pessoas ou não pessoas. São pessoas os empresários que
possuem personalidade jurídica. Podem ser: empresários individuais ou empresa individual
de responsabilidade limitada (Eireli). Já as sociedades empresárias personificadas,
disciplinadas pelos artigos 1039 e seguintes do Código Civil, com aplicação subsidiária das
normas das sociedades simples (artigos 997 e seguintes do CC), são as seguintes: sociedade
em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedades limitadas. Todas essas são
denominadas sociedades contratuais (são reguladas por contrato social) e por quotas (tem
o capital social fracionado em quotas). Além dessas, as sociedades em comandita por ações
e as sociedades anônimas (lei 6404/76) também são sociedades personificadas,
denominadas estatutárias (reguladas por estatuto) e por ações (tem o capital social
fracionado em ações).
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
72

3. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI não é sociedade


unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária.
4. Uma vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da empresa individual de
responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores
alterações no salário mínimo.
5. Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no
art. 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de
sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil.
10. Nas sociedades simples, os sócios podem limitar suas responsabilidades entre si, à
proporção da participação no capital social, ressalvadas as disposições específicas.
17. Na sociedade limitada com dois sócios, o sócio titular de mais da metade do capital
social pode excluir extrajudicialmente o sócio minoritário desde que atendidas as
exigências materiais e procedimentais previstas no art. 1.085, caput e parágrafo único, do
CC.
18. O capital social da sociedade limitada poderá ser integralizado, no todo ou em parte,
com quotas ou ações de outra sociedade, cabendo aos sócios a escolha do critério de
avaliação das respectivas participações societárias, diante da responsabilidade solidária
pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social, nos termos do art. 1.055, § 1º,
do Código Civil.
19. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre sócios/acionistas ou
entre eles e a sociedade.
B) CORRETA, conforme indicado nos artigos 1.045 e seguintes do CC.
Os empresários podem ser pessoas ou não pessoas. São pessoas os empresários que
possuem personalidade jurídica. Podem ser: empresários individuais ou empresa individual
de responsabilidade limitada (Eireli). Já as sociedades empresárias personificadas,
disciplinadas pelos artigos 1039 e seguintes do Código Civil, com aplicação subsidiária das
normas das sociedades simples (artigos 997 e seguintes do CC), são as seguintes: sociedade
em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedades limitadas. Todas essas são
denominadas sociedades contratuais (são reguladas por contrato social) e por quotas (tem
o capital social fracionado em quotas). Além dessas, as sociedades em comandita por ações
e as sociedades anônimas (lei 6404/76) também são sociedades personificadas,
denominadas estatutárias (reguladas por estatuto) e por ações (tem o capital social
fracionado em ações).
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
73

(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
C) INCORRETA, nos termos do artigo 1.039 do CC.
Os empresários podem ser pessoas ou não pessoas. São pessoas os empresários que
possuem personalidade jurídica. Podem ser: empresários individuais ou empresa individual
de responsabilidade limitada (Eireli). Já as sociedades empresárias personificadas,
disciplinadas pelos artigos 1039 e seguintes do Código Civil, com aplicação subsidiária das
normas das sociedades simples (artigos 997 e seguintes do CC), são as seguintes: sociedade
em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedades limitadas. Todas essas são
denominadas sociedades contratuais (são reguladas por contrato social) e por quotas (tem
o capital social fracionado em quotas). Além dessas, as sociedades em comandita por ações
e as sociedades anônimas (lei 6404/76) também são sociedades personificadas,
denominadas estatutárias (reguladas por estatuto) e por ações (tem o capital social
fracionado em ações).
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
D) CORRETA, tendo em vista os artigos 986 e seguintes do CC.
Os empresários podem ser pessoas ou não pessoas. São pessoas os empresários que
possuem personalidade jurídica. Podem ser: empresários individuais ou empresa individual
de responsabilidade limitada (Eireli). Já as sociedades empresárias personificadas,
disciplinadas pelos artigos 1039 e seguintes do Código Civil, com aplicação subsidiária das
normas das sociedades simples (artigos 997 e seguintes do CC), são as seguintes: sociedade
em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedades limitadas. Todas essas são
denominadas sociedades contratuais (são reguladas por contrato social) e por quotas (tem
o capital social fracionado em quotas). Além dessas, as sociedades em comandita por ações
e as sociedades anônimas (lei 6404/76) também são sociedades personificadas,
denominadas estatutárias (reguladas por estatuto) e por ações (tem o capital social
fracionado em ações).
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
GABARITO: LETRA C.
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QUESTÃO 2. Assinale a alternativa incorreta sobre a sociedade em comum:


A) Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar
a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
B) Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são
titulares em comum.
C) Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios,
salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o
conheça ou deva conhecer.
D) Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais,
excluídos do benefício de ordem.

A) CORRETA. Código Civil - Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros,
somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-
la de qualquer modo.
Os empresários podem ser pessoas ou não pessoas. São pessoas os empresários que
possuem personalidade jurídica. Podem ser: empresários individuais ou empresa individual
de responsabilidade limitada (EIRELI). Já as sociedades empresárias personificadas,
disciplinadas pelos artigos 1039 e seguintes do Código Civil, com aplicação subsidiária das
normas das sociedades simples (artigos 997 e seguintes do CC), são as seguintes: sociedade
em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedades limitadas. Todas essas são
denominadas sociedades contratuais (são reguladas por contrato social) e por quotas (tem
o capital social fracionado em quotas). Além dessas, as sociedades em comandita por ações
e as sociedades anônimas (lei 6404/76) também são sociedades personificadas,
denominadas estatutárias (reguladas por estatuto) e por ações (tem o capital social
fracionado em ações).
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
9. Quando aplicado às relações jurídicas empresariais, o art. 50 do Código Civil não pode
ser interpretado analogamente ao art. 28, § 5º, do CDC ou ao art. 2º, § 2º, da CLT.
75

10. Nas sociedades simples, os sócios podem limitar suas responsabilidades entre si, à
proporção da participação no capital social, ressalvadas as disposições específicas.
11. A regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da
teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a segurança do
tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé.
18. O capital social da sociedade limitada poderá ser integralizado, no todo ou em parte,
com quotas ou ações de outra sociedade, cabendo aos sócios a escolha do critério de
avaliação das respectivas participações societárias, diante da responsabilidade solidária
pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social, nos termos do art. 1.055, § 1º,
do Código Civil.
B) CORRETA. Código Civil - Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio
especial, do qual os sócios são titulares em comum.
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
C) CORRETA. Código Civil - Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão
praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente
terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
D) INCORRETA. Código Civil - Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art.
1.024, aquele que contratou pela sociedade.
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
GABARITO: LETRA D

QUESTÃO 3. Sobre a administração das sociedades limitadas, assinale a alternativa


incorreta:
76

A) Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua destituição somente


se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais da metade do capital
social, salvo disposição contratual diversa.
B) A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação da
unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no
mínimo, após a integralização.
C)A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no
contrato social ou em ato separado. A administração atribuída no contrato a todos os sócios
não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.
D)O uso da firma ou denominação social é privativo dos sócios que realizam negócios
representando a sociedade em nome próprio.

A) CORRETA – Código Civil - Art. 1.063. O exercício do cargo de administrador cessa pela
destituição, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato
ou em ato separado, não houver recondução. § 1o Tratando-se de sócio nomeado
administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de
quotas correspondentes, no mínimo, a dois terços do capital social, salvo disposição
contratual diversa. § 1º Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua
destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes a mais
da metade do capital social, salvo disposição contratual diversa. (Redação dada
pela Lei nº 13.792, de 2019).
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
9. Quando aplicado às relações jurídicas empresariais, o art. 50 do Código Civil não pode
ser interpretado analogamente ao art. 28, § 5º, do CDC ou ao art. 2º, § 2º, da CLT.
10. Nas sociedades simples, os sócios podem limitar suas responsabilidades entre si, à
proporção da participação no capital social, ressalvadas as disposições específicas.
11. A regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da
teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a segurança do
tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé.
77

12. A regra contida no art. 1.055, § 1º, do Código Civil deve ser aplicada na hipótese de
inexatidão da avaliação de bens conferidos ao capital social; a responsabilidade nela
prevista não afasta a desconsideração da personalidade jurídica quando presentes seus
requisitos legais.
13. A decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar a data de
desligamento do sócio e o critério de apuração de haveres.
14. É vedado aos administradores de sociedades anônimas votarem para
aprovação/rejeição de suas próprias contas, mesmo que o façam por interposta pessoa.
15. O vocábulo “transação”, mencionado no art. 183 § 1º, d, da Lei das S.A., deve ser lido
como sinônimo de “negócio jurídico”, e não no sentido técnico que é definido pelo Capítulo
XIX do Título VI do Livro I da Parte Especial do Código Civil brasileiro.
16. O adquirente de cotas ou ações adere ao contrato social ou estatuto no que se refere à
cláusula compromissória (cláusula de arbitragem) nele existente; assim, estará vinculado à
previsão da opção da jurisdição arbitral, independentemente de assinatura e/ou
manifestação específica a esse respeito.
17. Na sociedade limitada com dois sócios, o sócio titular de mais da metade do capital
social pode excluir extrajudicialmente o sócio minoritário desde que atendidas as
exigências materiais e procedimentais previstas no art. 1.085, caput e parágrafo único, do
CC.
18. O capital social da sociedade limitada poderá ser integralizado, no todo ou em parte,
com quotas ou ações de outra sociedade, cabendo aos sócios a escolha do critério de
avaliação das respectivas participações societárias, diante da responsabilidade solidária
pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social, nos termos do art. 1.055, § 1º,
do Código Civil.
19. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre sócios/acionistas ou
entre eles e a sociedade.
63. O nu-proprietário de quotas ou ações gravadas com usufruto, quando não regulado no
respectivo ato institutivo, pode exercer o direito de fiscalização da sociedade.
64. Criado o conselho de administração na sociedade limitada, não regida supletivamente
pela Lei de Sociedade por Ações (art. 1.053, parágrafo único, do Código Civil) e, caso não
haja regramento específico sobre o órgão no contrato, serão aplicadas, por analogia, as
normas da sociedade anônima.
65. O mandatário do sócio residente ou domiciliado no exterior (art. 119 da Lei
6.404/1976) não é responsável pelas obrigações de seu mandante.
78

66. A limitação de distribuição de dividendos periódicos de que trata o art. 204, §1º da Lei
das Sociedades por Ações refere-se ao lucro distribuível, reconhecido em balanço
intermediário levantado conforme o Estatuto Social, e não à antecipação do pagamento de
dividendos por conta do lucro cuja existência é provável, nos termos da legislação
tributária.
B) CORRETA. Código Civil - Art. 1.061. A designação de administradores não sócios
dependerá de aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver
integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a integralização. (Redação dada pela
Lei nº 12.375, de 2010).
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
C) CORRETA. Código Civil - Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou
mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado. Parágrafo único. A
administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos
que posteriormente adquiram essa qualidade.
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
D) INCORRETA. Código Civil - Art. 1.064. O uso da firma ou denominação social é
privativo dos administradores que tenham os necessários poderes.
c.f. Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede –
Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
GABARITO: LETRA D
79

5. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

5.1. DEFINIÇÃO

Confira os artigos 1142 a 1149 do Código Civil.


O estabelecimento empresarial é um conjunto de bens organizados pelo empresário,
destinados ao exercício da empresa. É uma universalidade de fato.
Os bens que compõem o estabelecimento podem ser móveis, imóveis, corpóreos ou
incorpóreos.
De acordo com o enunciado número 4 das jornadas de direito comercial do CJF/STJ: O
nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de
direito.
A definição de estabelecimento empresarial consta do artigo 1142 do Código Civil.
De acordo com o enunciado número 451 da súmula da jurisprudência dominante do STJ: é
legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial.
Nesse sentido, o enunciado número 488 das jornadas de direito civil do CJF/STJ assinala
que: Admite-se a penhora do website e de outros intangíveis relacionados com o comércio
eletrônico.
O enunciado número 645 da súmula da jurisprudência dominante do STF prevê que: É
competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial.
Vale lembrar que a lei 12.291/2010, tornou obrigatória a manutenção de exemplar do
Código de Defesa do Consumidor nos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços.

5.2. ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Por ter natureza jurídica autônoma e valor próprio, distinto dos bens que o compõem, o
estabelecimento pode ser objeto de negócio jurídico, inclusive de alienação.
Aviamento é a potencialidade lucrativa do estabelecimento, ou seja, seu potencial de gerar
lucro. O aviamento decorre da organização sistemática dos bens empresarias, indispensáveis para o
exercício da atividade. É importante destacar que o aviamento é um atributo do estabelecimento, e
não um elemento que o integra.
A alienação do estabelecimento empresarial se instrumentaliza pelo contrato de trespasse,
cujos efeitos perante terceiros exigem o correspondente registro na Junta Comercial.
80

Sobre este ponto, o enunciado número 393 das jornadas de direito civil do CJF/STJ dispõe
que: A validade da alienação do estabelecimento empresarial não depende de forma específica,
observado o regime jurídico dos bens que a exijam.
Sobre a necessidade do registro para produção de efeitos dos contratos que envolvem o
estabelecimento empresarial, merece destaque o disposto no artigo 1.144 do Código Civil. Este
artigo prevê que: O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do
estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição
do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de
publicado na imprensa oficial.
Outra questão importante é a necessidade de preservação de patrimônio suficiente para
garantia dos credores do empresário alienante do estabelecimento. Naturalmente, o que garante as
dívidas dos credores são os bens que compõem o seu patrimônio. Como o estabelecimento é um
acervo de bens contido no patrimônio, a alienação do estabelecimento implica diminuição de
patrimônio e, consequentemente, de garantia dos credores. Por isso, para que a alienação do
estabelecimento seja válida e eficaz perante os credores do empresário é necessário que mesmo com
a venda do estabelecimento ele preserve patrimônio suficiente para pagamento dos seus credores,
ou colha a anuência de todos. A colheita da anuência dos credores pode ser expressa ou tácita, neste
último caso, após 30 dias da notificação dando ciência da alienação.
Esta é, inclusive, a orientação do artigo 1.145 do Código Civil. Este artigo ressalta que: Se
ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do
estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo
expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.
A alienação do estabelecimento sem as cautelas assinaladas, além de ser irregular e ineficaz
perante os credores, implicará a prática de ato de falência, nos termos do artigo 94, III, “c”, da lei
11.101/05. Assim, o empresário que realizar a alienação irregular do estabelecimento poderá ter sua
falência decretada.
Sobre a ineficácia da alienação irregular, convém reproduzir o texto do art. 129, VI, da Lei
11.101/05, nos termos seguintes: São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o
contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção
deste fraudar credores: VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o
consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo
restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias,
não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo
oficial do registro de títulos e documentos.
81

O artigo 94 da Lei 11.105/05, por sua vez dispõe que: Será decretada a falência do devedor
que: III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e
sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo.
O enunciado número 233 das jornadas de direito civil do CJF/STJ dispõe que: A sistemática
do contrato de trespasse delineada pelo Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente seus
efeitos obrigacionais, aplica-se somente quando o conjunto de bens transferidos importar a
transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial.

5.3. RESPONSABILIDADE PELAS DÍVIDAS

O alienante do estabelecimento responde solidariamente com o adquirente, durante o prazo


de um ano, pelo pagamento dos débitos já existentes antes da alienação, desde que devidamente
contabilizados.
Este prazo de um ano é contado: a) da publicação da alienação, para as obrigações já
contratadas e já vencidas; b) do vencimento, para as obrigações vincendas, ou seja, obrigações já
contratadas antes da alienação, mas com vencimento em data posterior à alienação.
Estas são as regras gerais aplicáveis apenas às dívidas que dizem respeito ao
estabelecimento.
No entanto, existem regras de responsabilidade próprias para débitos de naturezas
específicas.
No que se refere à falência, vale lembrar o disposto no artigo 81, §1º, da lei 11.101/05: A
decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também
acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à
sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem. §
1o O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado voluntariamente ou que
tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 (dois) anos, quanto às dívidas existentes na data do
arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data da decretação
da falência.
A respeito dos débitos de natureza trabalhista, destacamos os artigos 448 e 448-A da CLT:
Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os
contratos de trabalho dos respectivos empregados.
Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10
e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os
empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor.
82

Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar
comprovada fraude na transferência.
Com relação aos débitos tributários, aplicam-se as disposições do artigo 133, I e II, do CTN:
A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de
comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva
exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos
tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I -
integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II -
subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a
contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou
profissão.
O enunciado número 59 das jornadas de direito comercial do CJF/STJ prevê que: Os sócios
gestores e os administradores das empresas são responsáveis subsidiária e ilimitadamente pelos atos
ilícitos praticados, de má gestão ou contrários ao previsto no contrato social ou estatuto, consoante
estabelecem os arts. 990, 1.009, 1.016, 1.017 e 1.091, todos do Código Civil.
Já o enunciado número 554 da súmula da jurisprudência dominante do STJ assinala que: Na
hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos
devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores
ocorridos até a data da sucessão.

5.4. PROIBIÇÃO DE CONCORRÊNCIA

O alienante do estabelecimento, no silêncio do contrato, fica impedido de concorrer com o


adquirente pelo prazo de 5 anos posteriores à transferência. Esta vedação aplica-se, inclusive,
durante os períodos de vigência de contratos de arrendamento ou usufruto do estabelecimento. Estas
orientações estão apontadas no artigo 1.147 do Código Civil
O descumprimento desta proibição pode configurar crime de concorrência desleal, conforme
disposição do artigo 195 da lei 9279/96.
O enunciado número 490 das jornadas de direito civil do CJF/STJ prevê que: A ampliação
do prazo de 5 (cinco) anos de proibição de concorrência pelo alienante ao adquirente do
estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autonomia da vontade, pode ser revista
judicialmente, se abusiva.
83

5.5. CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL

De acordo com o art. 1.148 do Código Civil, se o contrato não dispuser de modo contrário, a
transferência do estabelecimento pressupõe a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados
para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal. Em todo o caso, os terceiros
poderão optar pela rescisão do contrato, mediante manifestação nesse sentido, realizada dentro do
prazo de 90 dias, contados da publicação da transferência, se ocorrer justa causa. Nesta hipótese
haverá eventualmente responsabilidade do alienante.
A sub-rogação é tratada de modo específico, principalmente, nos artigos 346 e 347, ambos
do Código Civil.
Com relação à cessão de locação, à sublocação e o empréstimo de imóvel, o artigo 13 da lei
8245/31 prevê que esses negócios só terão eficácia com o consentimento prévio e escrito do
locador.
Nesse sentido, o enunciado 234 das jornadas de direito civil do CJF/STJ prevê que: Quando
do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se
transmite automaticamente ao adquirente.
O art. 1.149 do Código Civil, prevê, ainda, que a cessão dos créditos referentes ao
estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o
momento da publicação da transferência. Entretanto, o artigo traz a ressalva de que se o devedor
pagar ao cedente de boa-fé ele ficará exonerado da obrigação. Esta ressalva deve ser compreendida
a partir da leitura do artigo 290 do Código Civil: A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao
devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito
público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.

5.6. PONTO COMERCIAL

Ponto comercial é a referência física do empresário, é o espaço físico utilizado pelo


empresário para o exercício da sua atividade.
O ponto comercial está relacionado com o imóvel utilizado pelo empresário para exercício
da empresa.
O que importa nesse tema é saber quais os requisitos para a renovação compulsória da
locação empresarial, bem como as defesas que podem ser apresentadas para que o locador retome o
imóvel (exceções de retomada do imóvel).
A matéria está disciplinada, basicamente, na lei 8245/91, Lei de Locações.
84

O artigo 51 da referida lei indica os requisitos necessários para que o empresário possa
pretender a renovação compulsória:
a) realização de um contrato escrito;
b) contrato por tempo determinado de no mínimo 5 anos. Admite-se a soma de contratos por
tempo determinado, desde que não haja solução de continuidade entre eles;
c) demonstração de exercício regular da mesma atividade empresarial nos últimos 3 anos
que antecedem o pedido de renovação; e
d) propositura da ação renovatória nos seis primeiros meses do último ano de vigência do
contrato que se pretende renovar.
As exceções de retomada, defesas que podem ser apresentadas pelo locador para retomar o
imóvel são, basicamente, as indicadas no artigo 52 da lei de locações. Assim, o locador não estará
obrigado a renovar o contrato se:
a) por determinação do Poder Público tiver que realizar no imóvel obras que importarem na
sua radical transformação;
b) por determinação do Poder Público tiver de fazer modificações de tal natureza que
aumente o valor do negócio ou da propriedade;
c) o imóvel vier a ser utilizado pelo próprio locador ou para transferência de fundo de
comércio existente há mais de um ano, desde que o locador, seu cônjuge, ascendente ou ascendente,
sejam detentores da maioria do capital. Nesta hipótese não poderá haver utilização do imóvel para
realização de atividade empresarial do mesmo ramo do locatário, exceto se a locação também
contemplar o fundo de comércio, com as correspondentes instalações. Além disso, essa exceção de
retomada não é admitida nas locações de shopping center;
d) houver oferta de valor de aluguel inferior ao valor de mercado. Nesse caso o locatário
pode apresentar contraproposta equivalente ao valor de mercado;
e) se houver proposta de terceiro com valor superior ao ofertado pelo locatário na ação
renovatória. Nessa hipótese poderá o locatário cobrir a proposta melhor de terceiro.
Sobre o direito à indenização, merece destaque o §3º da Lei de Locações que prevê o
seguintes: O locatário terá direito a indenização para ressarcimento dos prejuízos e dos lucros
cessantes que tiver que arcar com mudança, perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio,
se a renovação não ocorrer em razão de proposta de terceiro, em melhores condições, ou se o
locador, no prazo de três meses da entrega do imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as
obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou pretender realizar.
Também vale mencionar a modalidade de locação built to suit, disciplinada pelo artigo 54-
A, da Lei de locações, nos termos seguintes: Art. 54-A. Na locação não residencial de imóvel
urbano na qual o locador procede à prévia aquisição, construção ou substancial reforma, por si
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mesmo ou por terceiros, do imóvel então especificado pelo pretendente à locação, a fim de que seja
a este locado por prazo determinado, prevalecerão as condições livremente pactuadas no contrato
respectivo e as disposições procedimentais previstas nesta Lei. § 1º Poderá ser convencionada a
renúncia ao direito de revisão do valor dos aluguéis durante o prazo de vigência do contrato de
locação. § 2º Em caso de denúncia antecipada do vínculo locatício pelo locatário, compromete-se
este a cumprir a multa convencionada, que não excederá, porém, a soma dos valores dos aluguéis
a receber até o termo final da locação.
Por fim, as locações em shopping center (tenant mix) estão tratadas no artigo 54 da lei de
locações, que assegura a prevalência das condições livremente ajustadas entre as partes nas locações
dessa natureza.

QUESTÕES

QUESTÃO 1. Assinale a alternativa correta:


A) Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa apenas por sociedade empresária.
B) O estabelecimento pode ser alienado por contrato de trespasse e seus efeitos
independem do registro.
C) Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da
alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do
consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.
D) O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à
transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo
solidariamente obrigado pelo prazo de dois anos, a partir, quanto aos créditos vencidos, da
publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

A)INCORRETA. Código Civil Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de


bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
7. O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para
todos os fins de direito.
8. A sub-rogação do adquirente nos contratos de exploração atinentes ao estabelecimento
adquirido, desde que não possuam caráter pessoal, é a regra geral, incluindo o contrato de
locação.
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59. A mera instalação de um novo estabelecimento, em lugar antes ocupado por outro,
ainda que no mesmo ramo de atividade, não implica responsabilidade por sucessão prevista
no art. 1.146 do CCB.
B)INCORRETA. Código CivilArt. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o
usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros
depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no
Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C)CORRETA: Código Civil Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para
solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de
todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a
partir de sua notificação.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
D)INCORRETA: Código Civil Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo
pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados,
continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir,
quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
GABARITO: LETRA: C

QUESTÃO 2. Assinale a alternativa incorreta:


A)Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento pode fazer
concorrência ao adquirente.
B)Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da
alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do
consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.
C)Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. Nesse caso, o estabelecimento ser
objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, desde que
sejam compatíveis com a sua natureza.
D)Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-rogação do adquirente
nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal,
podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da
transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante.
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A) INCORRETA: Código Civil - Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante
do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos
subsequentes à transferência.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
1. Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não
implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,
preservado o direito de o empresário alterá-lo.
2. A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou
diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em
consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
7. O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para
todos os fins de direito.
8. A sub-rogação do adquirente nos contratos de exploração atinentes ao estabelecimento
adquirido, desde que não possuam caráter pessoal, é a regra geral, incluindo o contrato de
locação.
59. A mera instalação de um novo estabelecimento, em lugar antes ocupado por outro,
ainda que no mesmo ramo de atividade, não implica responsabilidade por sucessão prevista
no art. 1.146 do CCB.
60. Os acordos e negócios de abstenção de uso de marcas entre sociedades empresárias não
são oponíveis em face do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, sem prejuízo
de os litigantes obterem tutela jurisdicional de abstenção entre eles na Justiça Estadual.
B) CORRETA: Código Civil - Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para
solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de
todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a
partir de sua notificação.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C) CORRETA: Código Civil - Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de
bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos,
translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
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D) CORRETA: Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-


rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do estabelecimento, se
não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a
contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a
responsabilidade do alienante.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
GABARITO: A

QUESTÃO 3 – Assinale a alternativa incorreta.


A) Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito à renovação
compulsória , dentre outros requisitos, se o contrato a renovar tiver sido celebrado por
escrito.
B) Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito à renovação
compulsória, dentre outros requisitos, se o contrato a renovar tiver sido celebrado prazo
determinado.
C) Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito à renovação
compulsória, dentre outros requisitos, se o contrato a renovar tiver sido celebrado por prazo
de cinco anos, vedada a cumulação de contratos.
D) Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito à renovação
compulsória, dentre outros requisitos, se locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo
ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.

A) CORRETA: lei 8245/91 - Art. 55. Considera - se locação não residencial quando o
locatário for pessoa jurídica e o imóvel, destinar - se ao uso de seus titulares, diretores,
sócios, gerentes, executivos ou empregados. Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao
comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente: I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo
determinado; II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos
dos contratos escritos seja de cinco anos; III - o locatário esteja explorando seu comércio,
no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
Art. 52. O locador não estará obrigado a renovar o contrato se: I - por determinação do
Poder Público, tiver que realizar no imóvel obras que importarem na sua radical
transformação; ou para fazer modificações de tal natureza que aumente o valor do negócio
ou da propriedade; II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência
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de fundo de comércio existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria do capital o


locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente.
Art. 54. Nas relações entre lojistas e empreendedores de shopping center , prevalecerão as
condições livremente pactuadas nos contratos de locação respectivos e as disposições
procedimentais previstas nesta lei (...)
Art. 54-A. Na locação não residencial de imóvel urbano na qual o locador procede à prévia
aquisição, construção ou substancial reforma, por si mesmo ou por terceiros, do imóvel
então especificado pelo pretendente à locação, a fim de que seja a este locado por prazo
determinado, prevalecerão as condições livremente pactuadas no contrato respectivo e as
disposições procedimentais previstas nesta Lei. § 1o Poderá ser convencionada a renúncia
ao direito de revisão do valor dos aluguéis durante o prazo de vigência do contrato de
locação. § 2oEm caso de denúncia antecipada do vínculo locatício pelo locatário,
compromete-se este a cumprir a multa convencionada, que não excederá, porém, a soma
dos valores dos aluguéis a receber até o termo final da locação.
Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
20. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre
empresários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para sua
atividade de produção, comércio ou prestação de serviços.
21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista a
simetria natural das relações interempresariais.
22. Não se presume solidariedade passiva (art. 265 do Código Civil) pelo simples fato de
duas ou mais pessoas jurídicas integrarem o mesmo grupo econômico.
23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros
objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual.
24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por unidade de interesses
econômicos, permitem a arguição da exceção de contrato não cumprido, salvo quando a
obrigação inadimplida for de escassa importância.
25. A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código Civil deve levar em
conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se presumir a
sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.
90

26. O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta prejuízo a
direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da
relação negocial.
27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante as negociações do
contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar a prestação de
informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar em
risco a competitividade de sua atividade.
28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade, os
contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na
inexperiência.
29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do contrato e a
boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as especificidades
dos contratos empresariais.
30. Nos contratos de shopping center, a cláusula de fiscalização das contas do lojista é
justificada desde que as medidas fiscalizatórias não causem embaraços à atividade do
lojista.
35. Não haverá revisão ou resolução dos contratos de derivativos por imprevisibilidade e
onerosidade excessiva (arts. 317 e 478 a 480 do Código Civil).
67. Na locação built to suit, é válida a estipulação contratual que estabeleça cláusula penal
compensatória equivalente à totalidade dos alugueres a vencer, sem prejuízo da aplicação
do art. 416, parágrafo único, do Código Civil.
68. No contrato de comissão com cláusula del credere, responderá solidariamente com o
terceiro contratante o comissário que tiver cedido seus direitos ao comitente, nos termos da
parte final do art. 694 do Código Civil.
B) CORRETA: lei 8245/91 - Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente: I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo
determinado; II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos
dos contratos escritos seja de cinco anos; III - o locatário esteja explorando seu comércio,
no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
91

C) INCORRETA: lei 8245/91 - Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente: I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo
determinado; II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos
dos contratos escritos seja de cinco anos; III - o locatário esteja explorando seu comércio,
no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
D) CORRETA: lei 8245/91 - Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente: I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo
determinado; II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos
dos contratos escritos seja de cinco anos; III - o locatário esteja explorando seu comércio,
no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
GABARITO: C
92

6. REGISTRO DE EMPRESAS

Sem prejuízo do disposto nos artigos 1.150 e seguintes do Código Civil, o registro de
empresas está regulado pela Lei 8934/94 e pela MP 861/2018
O Sistema Nacional de Registro de Empresas (Sinrem) é formado pelo DREI, departamento
de Registro Empresarial e Integração e pelas juntas comerciais.
O DREI –Departamento de Registro Empresarial e Integração – é subordinado ao Ministério
da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O regulamento está basicamente no decreto 8.001/2013
e na MP 861/2018.
O DREI é um órgão federal, responsável pela implementação da política nacional do
registro de empresas.
As Juntas Comerciais são as entidades responsáveis pela execução dos atos de registro nas
unidades federativas. Cada unidade federativa terá uma junta comercial. As juntas comerciais
subordinam-se administrativamente ao governo do respectivo ente federativo e, tecnicamente, ao
Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração
A Instrução Normativa DREI Nº 52, DE 9 DE NOVEMBRO DE 2018, dispõe sobre os
procedimentos de Registro Digital dos atos que competem ao Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins e altera os Anexos I, II e III da Instrução Normativa DREI nº 48, de 3
de agosto de 2018 – LC 147/2014. Nesse sentido, confira os artigos 39-A e 39-B da lei 8934/94.
A Instrução Normativa DREI Nº 38 DE 02 DE MARÇO DE 2017 Institui os Manuais de
Registro de Empresário Individual, Sociedade Limitada, Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada - EIRELI, Cooperativa e Sociedade Anônima.
Os empresários (empresários individuais, sociedades empresárias ou Eireli) tem,
basicamente, as seguintes obrigações:
a) realizar o registro;
b) manter escrituração regular, inclusive com a conservação dos livros empresariais;
c) providenciar sua demonstração contábil periodicamente.
Conforme indicado anteriormente, de acordo com o art. 967 do Código Civil, é obrigatória a
inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do
início de sua atividade.
O registro tem natureza jurídica meramente declaratória da condição de empresário e
constitutiva da personalidade jurídica. Como visto, para ser empresário basta o exercício da
empresa, independentemente do registro. No entanto, para aquisição da personalidade jurídica o
registro é indispensável.
93

Com relação aos sujeitos que exercem atividades rurais, o registro será necessário para que
adquiram a condição de empresário.
As sociedades em conta de participação não podem adquirir personalidade jurídica, nem
mesmo pelo registro.
As sociedades cooperativas, embora não sejam empresárias, serão registradas na Junta
Comercial, responsável pelo registro dos empresários, como veremos adiante.
As sociedades de advogados são registradas na própria Ordem dos Advogados do Brasil.
Sobre essas questões, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito civil do
CJF/STJ:
Enunciado número 200: É possível a qualquer empresário individual, em situação regular,
solicitar seu enquadramento como microempresário ou empresário de pequeno porte, observadas as
exigências e restrições legais.
Enunciado número 201: O empresário rural e a sociedade empresária rural, inscritos no
registro público de empresas mercantis, estão sujeitos à falência e podem requerer concordata.
Enunciado número 202: O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é
facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável
esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção.
A ausência da regularidade do registro implica o seguinte: a) responsabilidade ilimitada dos
sócios da sociedade, ainda que teoricamente se trate de sociedade com responsabilidade limitada de
sócios; b) impossibilidade de requerer falência de terceiros ou de requerer recuperação judicial. Não
há impedimento de que o empresário irregular seja declarado falido ou que requeira a autofalência;
c) impossibilidade de contratar com o poder público.
De acordo com o art. 32 da lei 8934/94 (LRE), os atos de registro são os seguintes:
a) matrícula;
b) arquivamento; e
c) autenticação.
A matrícula é um dos atos de registro realizados pelas Juntas Comerciais que confere
regularidade às atividades dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e
administradores de armazéns-gerais;
O arquivamento é o ato de registro que atribui regularidade:
a) aos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas
mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas;
b) aos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976;
94

c) aos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no


Brasil;
d) às declarações de microempresa;
e) aos atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público
de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e às
empresas mercantis.
No que se refere aos prazos de arquivamento, o art. 36 da LRE prevê que eles deverão ser
apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 (trinta) dias, contados de sua assinatura, as cujas
datas retroagirão os efeitos do arquivamento. Se o arquivamento for feito fora do prazo de 30 dias,
só haverá efeitos a partir do dia em que for dado o despacho que o conceder.
A autenticação é o ato de registro que atribui regularidade aos instrumentos de escrituração
das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei própria.
Sobre a autenticação dos livros, os artigos 39-A e 39-B da lei 8934 preveem o seguinte:
Art. 39-A. A autenticação dos documentos de empresas de qualquer porte realizada por
meio de sistemas públicos eletrônicos dispensa qualquer outra.
Art. 39-B. A comprovação da autenticação de documentos e da autoria de que trata esta
Lei poderá ser realizada por meio eletrônico, na forma do regulamento.

QUESTÕES
QUESTÃO 1. Assinale a alternativa incorreta
A) O Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (Sinrem), é composto pelo
Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (Drei) e pelas Juntas
Comerciais.
B)O registro de empresas compreende, basicamente, a matrícula, o arquivamento e a
autenticação.
C) Como regra, os documentos deverão ser apresentados para arquivamento na junta
comercial dentro de 30 (trinta) dias contados da sua assinatura.
D)A prorrogação do contrato social pode ser arquivada, ainda que findo o prazo nele
fixado.

A) CORRETA: Lei 8934/94 – LRE - Art. 3º Os serviços do Registro Público de Empresas


Mercantis e Atividades Afins serão exercidos, em todo o território nacional, de maneira
uniforme, harmônica e interdependente, pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas
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Mercantis (Sinrem), composto pelos seguintes órgãos: I - o Departamento Nacional de


Registro Empresarial e Integração, órgão central do Sinrem, com as seguintes funções:
a) supervisão, orientação, coordenação e normativa, na área técnica; e b) supletiva,
na área administrativa; e (Incluído pela Medida Provisória nº 861, de 2018) II - as
Juntas Comerciais, como órgãos locais, com funções executora e administradora dos
serviços de registro.
B) CORRETA: Lei 8934/94 – LRE - Art. 32. O registro compreende: I - a matrícula e seu
cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e
administradores de armazéns-gerais; II - O arquivamento: a) dos documentos relativos à
constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades
mercantis e cooperativas; b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que
trata a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976; c) dos atos concernentes a empresas
mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; d) das declarações de
microempresa; e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam
interessar ao empresário e às empresas mercantis; III - a autenticação dos instrumentos de
escrituração das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na
forma de lei própria.
C) CORRETA: Lei 8934/94 – LRE - Art. 36. Os documentos referidos no inciso II do art. 32
deverão ser apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 (trinta) dias contados de
sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do arquivamento; fora desse prazo, o
arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder.
D) INCORRETA: Lei 8934/94 – LRE - Art. 35. Não podem ser arquivados: I - os
documentos que não obedecerem às prescrições legais ou regulamentares ou que
contiverem matéria contrária aos bons costumes ou à ordem pública, bem como os que
colidirem com o respectivo estatuto ou contrato não modificado anteriormente; II - os
documentos de constituição ou alteração de empresas mercantis de qualquer espécie ou
modalidade em que figure como titular ou administrador pessoa que esteja condenada pela
prática de crime cuja pena vede o acesso à atividade mercantil; III - os atos constitutivos de
empresas mercantis que, além das cláusulas exigidas em lei, não designarem o respectivo
capital, bem como a declaração precisa de seu objeto, cuja indicação no nome empresarial
é facultativa; IV - a prorrogação do contrato social, depois de findo o prazo nele fixado; V -
os atos de empresas mercantis com nome idêntico ou semelhante a outro já existente; VI - a
alteração contratual, por deliberação majoritária do capital social, quando houver cláusula
restritiva; VII - os contratos sociais ou suas alterações em que haja incorporação de
96

imóveis à sociedade, por instrumento particular, quando do instrumento não constar: a) a


descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem como o
número da matrícula no registro imobiliário; b) a outorga uxória ou marital, quando
necessária; VIII - os contratos ou estatutos de sociedades mercantis, ainda não aprovados
pelo Governo, nos casos em que for necessária essa aprovação, bem como as posteriores
alterações, antes de igualmente aprovadas. Parágrafo único. A junta não dará andamento a
qualquer documento de alteração de firmas individuais ou sociedades, sem que dos
respectivos requerimentos e instrumentos conste o Número de Identificação de Registro de
Empresas (Nire).
GABARITO: D

QUESTÃO 2: IBFC - 2014 - TJ-PR - Titular de Serviços de Notas e de Registros -


Provimento - Quanto ao registro da sociedade empresarial é incorreto afirmar:
A) O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de
Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil
de Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro se a
sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.
B) O registro de atos sujeitos à formalidade exigida será requerido pela pessoa
obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado.
C) Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de
90(noventa) dias, contado da data da lavratura dos respectivos atos.
D) As pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso
de omissão ou demora.

A) CORRETA: De acordo com o artigo 1.151 do CC, o empresário e a sociedade


empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas
Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá
obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos
tipos de sociedade empresária. Já o art. 36, da Lei 8934/94 prevê que os documentos
referidos no inciso II do art. 32 deverão ser apresentados a arquivamento na junta, dentro
de 30 (trinta) dias contados de sua assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do
arquivamento; fora desse prazo, o arquivamento só terá eficácia a partir do despacho que o
conceder.
B) CORRETA: pelos mesmos comentários feitos acima.
C) INCORRETA: pelos mesmos comentários feitos acima.
97

D) CORRETA: pelos mesmos comentários feitos acima.


GABARITO: C

QUESTÃO 3: Assinale a alternativa incorreta sobre as incumbências das juntas


comerciais.
A) Às Juntas Comerciais incumbe elaborar a tabela de preços de seus serviços,
observadas as normas legais pertinentes;
B) Às Juntas Comerciais incumbe processar a habilitação e a nomeação dos tradutores
públicos e intérpretes comerciais;
C) Às Juntas Comerciais incumbe expedir carteiras de exercício profissional de pessoas
legalmente inscritas no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins;
D) Às Juntas Comerciais incumbe o assentamento dos contratos mercantis.

A alternativa incorreta é a indicada na letra D, conforme previsão expressa do artigo 8º da


lei 8934/94.
Art. 8º Às Juntas Comerciais incumbe: I - executar os serviços previstos no art. 32 desta lei;
II - elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as normas legais pertinentes;
III - processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos e intérpretes comerciais;
IV - elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas alterações, bem como as resoluções
de caráter administrativo necessárias ao fiel cumprimento das normas legais,
regulamentares e regimentais; V - expedir carteiras de exercício profissional de pessoas
legalmente inscritas no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins; VI - o
assentamento dos usos e práticas mercantis.
GABARITO: D
98

7. NOME EMPRESARIAL, PREPOSTOS DO EMPRESÁRIO E ESCRITURAÇÃO


EMPRESARIAL

7.1. NOME EMPRESARIAL

A proteção do nome está no artigo 5º, XXIX, da CF, nos artigos 1.155 a 1.167 do Código
Civil, além do artigo 33 da Lei n. 8.934/94.
O nome empresarial é um dos elementos que individualiza a personalidade do empresário. O
nome tem proteção pelo registro na Junta Comercial. Como as juntas tem atribuições apenas dentro
dos limites territoriais das unidades federativas a que pertencem, a proteção do nome se dá nesse
âmbito. Logo, caso o empresário pretenda a tutela do seu nome em mais de uma unidade federativa,
deverá providenciar o registro nas respectivas juntas comerciais.
Em sentido contrário é o enunciado número 491 das jornadas de direito civil do CJF/STJ: A
proteção ao nome empresarial, limitada ao Estado-Membro para efeito meramente administrativo,
estende-se a todo o território nacional por força do art. 5º, XXIX, da Constituição da República e do
art. 8º da Convenção Unionista de Paris.
O nome empresarial é orientado pelos seguintes princípios: a) princípio da novidade,
segundo o qual o nome deve ser necessariamente novo; b) princípio da originalidade, segundo o
qual o nome deve ser necessariamente original; c) princípio da veracidade, de acordo com o qual o
nome deve ser correspondente ao sujeito indicado por ele.
O decreto n. 1.800/96, regulamento da Lei n. 8.934/94 trata do nome nos seus arts. 61 e 62.
No plano administrativo, a Instrução Normativa do Departamento de Registro Empresarial e
Integração – DREI – n. 15/2013 (alterada pela IN 40/2017 e pela IN 45/2018) dispõe sobre as
questões referentes ao nome empresarial.
A tutela do nome empresarial também pode ser encontrada na lei n. 9.279/96, sobretudo nos
artigos 195, inc. V, e 209.
É importante destacar que o nome, característica do empresário, não se confunde com a
marca. A marca é um signo distintivo de produtos e serviços produzidos pelo empresário.
Diferentemente do que se passa com o nome (cuja proteção é limitada ao território da unidade
federativa correspondente à Junta Comercial), a marca tem proteção, ao menos, em todo o território
nacional, a partir do registro no INPI. O registro de marca é regulado pela lei 9279/96 (LPI).
A propósito desse tema, confira os seguintes enunciados das jornadas de direito
comercial do CJF/STJ:
99

Enunciado número 01: Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do
direito de marca não implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os
efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo.
Enunciado número 02: A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento
característico ou diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em
consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
Enunciado número 60: Os acordos e negócios de abstenção de uso de marcas entre
sociedades empresárias não são oponíveis em face do Instituto Nacional de Propriedade Industrial –
INPI, sem prejuízo de os litigantes obterem tutela jurisdicional de abstenção entre eles na Justiça
Estadual.
O nome também não se confunde com o título de estabelecimento, signo distintivo do
estabelecimento empresarial, do local físico no qual o empresário exerce sala atividade. A tutela do
título de estabelecimento está na lei n. 9.279/96, basicamente nos artigos 122 c/c art. 124, II, e 195.
O nome de domínio, endereço do empresário na rede mundial de computadores, também não
se confunde com o nome. O nome de domínio é o endereço virtual, registrado Registro.br,
departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR - NIC.br. O núcleo foi criado
para implementar as decisões e os projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br, por sua
vez, responsável por coordenar e integrar as iniciativas e serviços da Internet no País.
Sobre o nome de domínio, o enunciado número 07 das jornadas de direito comercial do
CJF/STJ prevê que: O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem
incorpóreo para todos os fins de direito.
O nome empresarial pode ser de duas espécies:
a) firma;
b) denominação.
A firma será utilizada:
a) pelo empresário individual;
b) pelas sociedades em nome coletivo; e
c) pelas sociedades em comandita simples.
A denominação será utilizada:
a) palas sociedades anônimas;
b) pelas sociedades cooperativas.
A firma ou a denominação podem ser utilizadas:
a) pela empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli);
b) pelas sociedades limitadas;
100

c) pelas sociedades em comandita por ações.


De acordo com o artigo 1.158 do Código Civil, a sociedade limitada pode adotar firma ou
denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura.
O enunciado número 71 das jornadas de direito civil do CJF/STJ orienta: Suprimir o art.
1.160 do Código Civil por estar a matéria regulada mais adequadamente no art. 3º da Lei n.
6.404/76 (disciplinadora das S.A.) e dar nova redação ao § 2º do art. 1.158, de modo a retirar a
exigência da designação do objeto da sociedade.

7.2. PREPOSTOS DO EMPRESÁRIO

Confira os artigos 1.169 a 1.178 do Código Civil.


Os prepostos do empresário, são os sujeitos que realizam atividades sob a coordenação do
empresário, como é o caso do gerente, um preposto facultativo, ou do contabilista, um proposto
obrigatório.
Os artigos 1.169 e 1.170 do código civil estipulam, de modo geral, que o preposto deve
necessariamente atual sob as orientações do empresário, sob pena de responder em nome próprio
pelos eventuais excessos.
A propósito o artigo 34 do CDC prevê que o fornecedor do produto ou serviço é
solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.
Além dos prepostos, os auxiliares do empresário também colaboram para o exercício da
atividade empresarial. Os auxiliares do comércio, que devem ser matriculados na junta comercial,
são os seguintes:
a) tradutor público, responsável pela tradução de instrumentos contratuais e outros
documentos empresariais;
b) intérprete empresarial, a quem compete interpretar documentos para facilitar a
compreensão dos atos e fatos relacionados à atividade empresarial;
c) leiloeiro, que promove a alienação de bens;
d) administrador de armazém geral e trapicheiro, responsáveis pela custódia de mercadorias.
A Instrução normativa Nº 17 do DREI, de 05 de dezembro de 2013 dispõe sobre: a) a
matrícula e hipóteses de seu cancelamento de administradores de armazéns gerais e trapicheiros; b)
a habilitação, nomeação e matrícula e seu cancelamento de Tradutor Público e Intérprete Comercial;
c) o processo de concessão de matrícula, seu cancelamento e a fiscalização da atividade de Leiloeiro
Público Oficial. Esta IN foi alterada pelas IN 39/2017 e IN 44/2018, que também tratam do tema.
101

7.3. ESCRITURAÇÃO EMPRESARIAL

Os livros empresariais estão disciplinados, basicamente, nos artigos 1179 a 1195 do Código
Civil e nos artigos 176 e 289 da LSA.
No âmbito infralegal, é a Instrução Normativa 11/2013 do DIREI que trata da escrituração
empresarial.
O empresário tem livros obrigatórios e especiais.
O livro Diário ou Razão é um livro obrigatório para todos os empresários, com exceção das
ME, EPP e MEI.
Além do livro diário existem outros livros que são obrigatórios apenas em algumas ocasiões,
são os chamados livros obrigatórios especiais. Podemos citar como exemplos os seguintes livros
obrigatórios especiais:
a) livro das Sociedades Anônimas, como o Registro de Ações Nominativas, o livro
Transferência de Ações Nominativas, o livro de Atas das Assembleias Gerais etc., previstos
basicamente no artigo 100 da Lei n. 6.404;
b) os livros das cooperativas, como os livros de matrícula, de atas das assembleias gerais, da
presença dos associados nas assembleias, etc., previstos no artigo 22 da lei 5764/71.
A despeito dos livros obrigatórios poderão ser utilizados outros livros, denominados Livros
Facultativos, como o livro caixa, o livro conta-corrente etc.
Merece ser lembrado o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), instituído pelo
Decreto nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007 com o objetivo de substituir livros e documentos
contábeis e fiscais por documentos eletrônicos. Pela escrituração eletrônica todas as informações
contábeis do empresário passam a ser lançadas diretamente nos sistemas da Fazenda Pública.
Confira, nesse ponto, a INRFB nº 1.856/2018, que altera a INRFB nº 1.774/2017, que dispõe sobre
a Escrituração Contábil Digital (ECD).
A ausência de regularidade da escrituração do empresário implica:
a) ineficácia probatória dos livros empresariais;
b) ilegitimidade ativa para requerer a recuperação judicial ou a falência de terceiros; e
c) eventual prática de crime falimentar, conforme indicado no artigo 178 da Lei 11.101/05.
Como regra os livros empresariais são sigilosos. Aliás, o artigo 1190 do Código Civil prevê
que: Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer
pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade
empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei.
A exceção à regra da sigilosidade da escrituração está no artigo 1.193 do Código Civil, ao
estipular que as restrições à publicidade indicadas no código não se aplicam às autoridades
102

fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das


respectivas leis especiais.
Vale ainda lembrar o teor dos seguintes enunciados da súmula da jurisprudência dominante
do Supremo Tribunal Federal:
Enunciado número 260: O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado às
transações entre os litigantes.
Enunciado número 390: A exibição judicial de livros comerciais pode ser requerida como
medida preventiva.
Enunciado número 439: Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer
livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação.

QUESTÕES
QUESTÃO 1. Assinale a alternativa incorreta.
A)Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser
substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
B)Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes
de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis.
C)O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de
lançamentos não poderá substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços.
D)Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob
qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a
sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em
lei.

A) CORRETA: Código Civil - Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é
indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração
mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro
apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.
Lei 13775/2018 - Duplicatas escriturais - Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a emissão de
duplicata sob a forma escritural. Art. 2º A duplicata de que trata a Lei nº 5.474, de 18 de
julho de 1968, pode ser emitida sob a forma escritural, para circulação como efeito
comercial, observadas as disposições desta Lei. Art. 9º Os lançamentos no sistema
eletrônico de que trata o art. 3º desta Lei substituem o Livro de Registro de Duplicatas,
103

previsto no art. 19 da Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968. Art. 10. São nulas de pleno
direito as cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta,
a emissão ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
4. Uma vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da empresa individual de
responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores
alterações no salário mínimo.
58. O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978 do CCB e não
depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de ônus real o imóvel utilizado no
exercício da empresa, desde que exista prévia averbação de autorização conjugal à
conferência do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a
consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas
mercantis.
60. Os acordos e negócios de abstenção de uso de marcas entre sociedades empresárias não
são oponíveis em face do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, sem prejuízo
de os litigantes obterem tutela jurisdicional de abstenção entre eles na Justiça Estadual.
61. Em atenção ao princípio do tratamento favorecido à microempresa e à empresa de
pequeno porte, é possível a representação de empresário individual, sociedade empresária
ou EIRELI, quando enquadrados nos respectivos regimes tributários, por meio de preposto,
perante os juizados especiais cíveis, bastando a comprovação atualizada do seu
enquadramento.
B) CORRETA: Código Civil - Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros
obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no
Registro Público de Empresas Mercantis. Parágrafo único. A autenticação não se fará sem
que esteja inscrito o empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar
livros não obrigatórios.
Lei 13775/2018 - Duplicatas escriturais - Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a emissão de
duplicata sob a forma escritural. Art. 2º A duplicata de que trata a Lei nº 5.474, de 18 de
julho de 1968, pode ser emitida sob a forma escritural, para circulação como efeito
comercial, observadas as disposições desta Lei. Art. 9º - Os lançamentos no sistema
eletrônico de que trata o art. 3º desta Lei substituem o Livro de Registro de Duplicatas,
previsto no art. 19 da Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968. Art. 10. São nulas de pleno
104

direito as cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta,
a emissão ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C) INCORRETA: Código Civil - Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que
adotar o sistema de fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro
Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas
para aquele.
Lei 13775/2018 - Duplicatas escriturais - Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a emissão de
duplicata sob a forma escritural. Art. 2º A duplicata de que trata a Lei nº 5.474, de 18 de
julho de 1968, pode ser emitida sob a forma escritural, para circulação como efeito
comercial, observadas as disposições desta Lei. Art. 9º Os lançamentos no sistema
eletrônico de que trata o art. 3º desta Lei substituem o Livro de Registro de Duplicatas,
previsto no art. 19 da Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968. Art. 10. São nulas de pleno
direito as cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta,
a emissão ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
D) CORRETA: Código Civil - Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma
autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para
verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e
fichas, as formalidades prescritas em lei.
Lei 13775/2018 - Duplicatas escriturais - Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a emissão de
duplicata sob a forma escritural. Art. 2º A duplicata de que trata a Lei nº 5.474, de 18 de
julho de 1968, pode ser emitida sob a forma escritural, para circulação como efeito
comercial, observadas as disposições desta Lei. Art. 9º Os lançamentos no sistema
eletrônico de que trata o art. 3º desta Lei substituem o Livro de Registro de Duplicatas,
previsto no art. 19 da Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968. Art. 10. São nulas de pleno
direito as cláusulas contratuais que vedam, limitam ou oneram, de forma direta ou indireta,
a emissão ou a circulação de duplicatas emitidas sob a forma cartular ou escritural.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
GABARITO: C

CFC - 2017 - CFC - Perito Contábil - Durante a realização do trabalho pericial, o


perito contábil identificou a necessidade de análise de registros contábeis da empresa para
confirmação do valor de seu estoque. Para tanto, encaminhou o termo de diligência à parte
(empresa). No entanto, obteve a resposta da inexistência de contabilidade.
105

De acordo com a Lei nº 10.406/2002 (Código Civil), em seus artigos 1.179 e 1.180,
quanto aos registros contábeis, julgue os itens abaixo e, em seguida, assinale a opção
CORRETA.
1. Todas as sociedades empresárias, inclusive o pequeno empresário, estão obrigadas a
cumprir as exigências do Art. 1.179.
2. Todas as sociedades empresárias, exclusive o pequeno empresário, estão obrigadas a
cumprir as exigências do Art.1.179.
3. O número e a espécie de livros, de acordo com os artigos 1.179 e 1.180, ficam a
critério dos interessados, sendo indispensáveis o Diário, o Razão e demais livros exigidos por
Lei.
4. O número e a espécie de livros, de acordo com os artigos 1.179 e 1.180, ficam a
critério dos interessados, sendo indispensáveis o Diário e demais livros exigidos por Lei.
5. No caso de escrituração mecanizada, de acordo com o Art.1.180, o livro Diário pode
ser substituído por fichas, desde que adotado livro apropriado para o lançamento do balanço
patrimonial e do de resultado econômico.
6. No caso de escrituração mecanizada, de acordo com o Art.1.180, o livro Diário não
pode ser substituído por fichas, se for adotado livro apropriado para o lançamento do balanço
patrimonial e do resultado econômico.
Estão CERTOS apenas os itens:
A)1, 3 e 5.
B) 2, 4 e 6.
C) 2, 4 e 5.
D) 1, 4 e 6.
GABARITO: D: Considerando as explicações lançadas acima, sobretudo o teor dos
artigos 1.179 e seguintes do Código Civil.

QUESTÃO 3. Assinale a alternativa incorreta sobre nome empresarial.


A)A firma e a denominação são espécies de nome empresarial.
B)A firma, a denominação e o elemento fantasia são espécies de nome empresarial.
C)O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.
D) Como regra, o registro do empresário lhe assegura o uso exclusivo do nome apenas
nos limites do respectivo Estado.

A) CORRETA: Código Civil - Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a


denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa.
106

Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a


denominação das sociedades simples, associações e fundações. Art. 1.156. O empresário
opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser,
designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
1. Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não
implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,
preservado o direito de o empresário alterá-lo.
2. A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou
diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em
consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
7. O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para
todos os fins de direito.
B) INCORRETA: Código Civil - Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a
denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa.
Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a
denominação das sociedades simples, associações e fundações.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C) CORRETA: Código Civil - Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de
alienação. Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se
o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a
qualificação de sucessor.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
D) CORRETA: Código Civil - Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos
constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio,
asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado. Parágrafo único. O
uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional, se registrado na forma
da lei especial.
Cf.: COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
GABARITO: B
107

8. PROPRIEDADE INDUSTRIAL

8.1. ASPECTOS GERAIS

A propriedade industrial é um dos ramos da propriedade intelectual.


A propriedade intelectual composta pelos estudos dos direitos autorais e da propriedade
industrial.
Direito autoral - obras literárias, artísticas e científicas (Lei 9.610/98); programas de
computador – software (Lei 9.609/98) – Convenção da União de Berna – CUB - 1879 – Brasil –
Decretos 94/74 e 75699/75.
Propriedade industrial – (Lei 9279/96) - Convenção da União de Paris CUP – 1883 – Brasil
- Decreto 1.263/94 conformou a declaração de adesão. Tratado de Cooperação em Matéria de
Patentes – PCT –1970 em Washington - Brasil é signatário. Decretos 42/80 e 523/92. Resoluções
179/2017 e 193/2017 do INPI.
INPI - Decreto 8.854, de 22 de setembro de 2016 - reestruturação - registro de marcas;
concessão de patentes de invenção e modelos de utilidade; averbação de contratos de transferência
de tecnologia; contratos de franquia; registro de desenhos industriais e indicações geográficas;
registro de programas de computador etc.
A propriedade industrial compreende, basicamente, as patentes (de invenção e modelo de
utilidade) e os registros (de marca e de desenho industrial).

8.2. PATENTES

De acordo com o art. 8º da LPI, é patenteável a invenção que atenda aos requisitos de
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
Para que a invenção seja patenteável são necessários os seguintes requisitos: novidade (quer
dizer que o objeto deva estar fora do estado da técnica, nos termos do art. 11 da LPI), atividade
inventiva (conforme indicado no art. 13 da LPI) e aplicação industrial (de acordo com o art. 15 da
LPI). O prazo de validade da patente de invenção é de 20 anos, sem possibilidade de renovação.
Para que o modelo de utilidade seja patenteável é necessária a presença dos seguintes
requisitos: novidade (o objeto deve estar fora do estado da técnica, de acordo com o art. 11 da LPI),
atividade inventiva (de acordo com o art. 14 da LPI) e aplicação industrial (conforme o texto do art.
15 da LPI). O prazo de validade da patente de modelo de utilidade é de 15 anos, sem possibilidade
de renovação.
108

Convém lembrar que, de acordo com o art. 10 da LPI, não se considera invenção nem
modelo de utilidade: a) descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; b) concepções
puramente abstratas; c) esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros,
educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; d) as obras literárias, arquitetônicas, artísticas
e científicas ou qualquer criação estética; e) programas de computador em si; f) apresentação de
informações; g) regras de jogo; h) técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como
métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e i) o todo ou
parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela
isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos
biológicos naturais.
No mesmo sentido, o art. 18 prevê que não são patenteáveis: a) aquilo que for contrário à
moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas; b) as substâncias, matérias,
misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas
propriedades físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando
resultantes de transformação do núcleo atômico; e c) o todo ou parte dos seres vivos, exceto os
microorganismos transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta.
O mencionado artigo, ainda define os microorganismos transgênicos coo sendo organismos,
exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana
direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em
condições naturais.
Licença compulsória de patentes
A licença compulsória das patentes é tratada nos artigos 68 a 74 da LPI.
A licença compulsória poderá ocorrer, basicamente, nas seguintes hipóteses: a) quando o
titular da patente exercer os direitos dela decorrentes de forma abusiva; b) quando o titular da
patente por meio dela praticar abuso de poder econômico; c) quando não houver exploração do
objeto da patente no território brasileiro por falta de fabricação ou fabricação incompleta do
produto; d) por falta de uso integral do processo patenteado, ressalvados os casos de inviabilidade
econômica; e e) quando a comercialização do objeto da patente não satisfizer às necessidades do
mercado.
A licença compulsória ocorrerá, ainda, se, cumulativamente: a) ficar caracterizada situação
de dependência de uma patente em relação a outra; b) o objeto da patente dependente constituir
substancial progresso técnico em relação à patente anterior; e c) o titular não realizar acordo com o
titular da patente dependente para exploração da patente anterior.
Patentes específicas
109

Patentes verdes - exame prioritário de pedidos relacionados a tecnologias verdes – Res. INPI
175/2016.
Patentes MPE - ME e EPP – prioridades para requerimento de patentes realizados por
microempresas e empresas de pequeno porte. Res. 181/2017.
Patentes com Prioridade BR – patentes com origem do Brasil e prioridade de depósito no
exterior – Res. 180/2017.
Patentes pipeline (ou de revalidação – decorrentes da revogação do Código de PI – 5772/71)
- arts. 230 a 232 c/c art. 243 e 229-C.

8.3. REGISTRO DE DESENHO INDUSTRIAL

De acordo com o art. 95 da LPI, considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental
de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto,
proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de
tipo de fabricação industrial.
O registro do desenho industrial depende da presença dos seguintes requisitos: a) a novidade
(e acordo com o art. 96 da LPI, o desenho industrial é considerado novo quando não compreendido
no estado da técnica); b) originalidade (conforme indicado no art. 97 da LPI, o desenho industrial é
considerado original quando dele resulte uma configuração visual distintiva, em relação a outros
objetos anteriores.
O art. 98 da LPI, ressalta que não se considera desenho industrial qualquer obra de caráter
puramente artístico.
Prazo do registro de desenho industrial (artigo 108 da LPI)
O registro de desenho industrial vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data do
depósito, prorrogável por 3 (três) períodos sucessivos de 5 (cinco) anos cada.
O pedido de prorrogação deverá ser formulado durante o último ano de vigência do registro,
instruído com o comprovante do pagamento da respectiva retribuição.
Se o pedido de prorrogação não tiver sido formulado até o termo final da vigência do
registro, o titular poderá fazê-lo nos 180 (cento e oitenta) dias subseqüentes, mediante o pagamento
de retribuição adicional.
O pagamento da retribuição deverá ser feito a cada 5 anos, conforme o art. 120 da LPI.
110

8.4. REGISTRO DE MARCA

O registro de marca está tratado nos artigos 122 e seguintes da LPI


Espécies de marcas
Marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro
idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa.
Marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço
com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza,
material utilizado e metodologia empregada; Res. INPI 59/2016.
Marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de
uma determinada entidade.
Marca de alto renome: registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada
proteção especial, em todos os ramos de atividade.
Marca notória - a marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do
art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza de
proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil.
O art. 124 da LPI aponta inúmeras hipóteses de signos não registráveis como marca
Prazo do registro de marca (Art. 133 da LPI)
O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data da concessão do
registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.
O pedido de prorrogação deverá ser formulado durante o último ano de vigência do registro,
instruído com o comprovante do pagamento da respectiva retribuição.
Caso o pedido de prorrogação não tenha sido efetuado até o termo final da vigência do
registro, o titular poderá fazê-lo nos 6 (seis) meses subsequentes, mediante o pagamento de
retribuição adicional.

8.5. INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

As indicações geográficas estão previstas nos artigos 176 a 182 da LPI


A indicação geográfica pode ser uma indicação de procedência ou uma denominação de
origem.
Indicação de procedência – é nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu
território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de
determinado produto ou de prestação de determinado serviço – e.g. sapatos de Franca.
111

Denominação de origem - é o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu


território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou
essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos – e.g. champagne.
Sobre essas questões, confira a Instrução Normativa INPI 25/2013 e a Resolução INPI
55/2013 – além do acordo TRIPS, arts. 22 a 24.
Além disso, confira os seguintes enunciados das jornadas de Direito Comercial do CJF:
Enunciado número 1 das jornadas de direito comercial do CJF: Decisão judicial que
considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não implica a anulação do respectivo
registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo.
Enunciado número 2 das jornadas de direito comercial do CJF: A vedação de registro de
marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome empresarial de
terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser
interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
Enunciado número 60 das jornadas de direito comercial do CJF: Os acordos e negócios de
abstenção de uso de marcas entre sociedades empresárias não são oponíveis em face do Instituto
Nacional de Propriedade Industrial – INPI, sem prejuízo de os litigantes obterem tutela jurisdicional
de abstenção entre eles na Justiça Estadual.

QUESTÕES
QUESTÃO 1.Assinale a alternativa incorreta:
A) A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante
concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade;
B) A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante
concessão de registro de indicação de origem e marca.
C) A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante
repressão às falsas indicações geográficas.
D) A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante
repressão à concorrência desleal.
112

A) CORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade
industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico
do País, efetua-se mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de
utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de
registro de marca; IV - repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão
à concorrência desleal.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
1. Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não
implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,
preservado o direito de o empresário alterá-lo.
2. A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou
diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em
consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
7. O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para
todos os fins de direito.
60. Os acordos e negócios de abstenção de uso de marcas entre sociedades empresárias não
são oponíveis em face do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, sem prejuízo
de os litigantes obterem tutela jurisdicional de abstenção entre eles na Justiça Estadual.
B) INCORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade
industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico
do País, efetua-se mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de
utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de
registro de marca; IV - repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão
à concorrência desleal.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C) CORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade
industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico
do País, efetua-se mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de
utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de
registro de marca; IV - repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão
à concorrência desleal.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
113

D) CORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade
industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico
do País, efetua-se mediante: I - concessão de patentes de invenção e de modelo de
utilidade; II - concessão de registro de desenho industrial; III - concessão de
registro de marca; IV - repressão às falsas indicações geográficas; e V - repressão
à concorrência desleal.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.

QUESTÃO 2. Assinale a alternativa incorreta:


A) Não são registráveis como marca: brasão, armas, medalha, bandeira, emblema,
distintivo e monumento oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como
a respectiva designação, figura ou imitação; letra, algarismo e data, isoladamente, salvo
quando revestidos de suficiente forma distintiva.
B) Não são registráveis como marca: reprodução ou imitação de elemento
característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros,
suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos;
C) Não são registráveis como marca: sinal que imite ou reproduza, no todo ou em
parte, marca que o requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua
atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado no exterior, se a marca se destinar a
distinguir produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou
associação com aquela marca alheia.
D ) Não são registráveis como marca: a dualidade de marcas de um só titular para o
mesmo produto ou serviço, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se
revestirem de suficiente forma distintiva; a forma necessária, comum ou vulgar do produto
ou de acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada de efeito técnico; a
indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que possa falsamente
induzir indicação geográfica; o sinal que induza a falsa indicação quanto à origem,
procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina.

A) CORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 124. Não são registráveis como marca: I-
brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos,
nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou
imitação; II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva; III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal
contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou
114

atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimento dignos
de respeito e veneração; IV - designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando
não requerido o registro pela própria entidade ou órgão público; V - reprodução ou
imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome
de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais
distintivos; VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente
descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele
empregado comumente para designar uma característica do produto ou serviço, quanto à
natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de prestação do
serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva; VII - sinal ou expressão
empregada apenas como meio de propaganda; VIII - cores e suas denominações, salvo
se dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo; IX - indicação geográfica,
sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que possa falsamente induzir indicação
geográfica; X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência,
natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina; XI -
reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente adotada para garantia de padrão de
qualquer gênero ou natureza; XII - reprodução ou imitação de sinal que tenha sido
registrado como marca coletiva ou de certificação por terceiro, observado o disposto no
art. 154; XIII - nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico, cultural, social,
político, econômico ou técnico, oficial ou oficialmente reconhecido, bem como a imitação
suscetível de criar confusão, salvo quando autorizados pela autoridade competente ou
entidade promotora do evento; XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda
e cédula da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, ou de
país; XV - nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem de
terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores; XVI -
pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artístico singular ou coletivo, salvo
com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores; XVII - obra literária, artística
ou científica, assim como os títulos que estejam protegidos pelo direito autoral e sejam
suscetíveis de causar confusão ou associação, salvo com consentimento do autor ou titular;
XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha relação com o
produto ou serviço a distinguir; XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte,
ainda que com acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto
ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação com
marca alheia; XX - dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou
serviço, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se revestirem de suficiente
115

forma distintiva; XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de


acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada de efeito técnico;
XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial de terceiro; e
XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o requerente
evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua atividade, cujo titular seja sediado
ou domiciliado em território nacional ou em país com o qual o Brasil mantenha acordo ou
que assegure reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar a distinguir produto ou
serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação com
aquela marca alheia.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
1. Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não
implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,
preservado o direito de o empresário alterá-lo
2. A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou
diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em
consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
7. O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para
todos os fins de direito.
60. Os acordos e negócios de abstenção de uso de marcas entre sociedades empresárias não
são oponíveis em face do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, sem prejuízo
de os litigantes obterem tutela jurisdicional de abstenção entre eles na Justiça Estadual.
B) CORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 124. Não são registráveis como marca (...)
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C) INCORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 124. Não são registráveis como marca (...)
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
D) CORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 124. Não são registráveis como marca (...)
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
GABARITO: C

QUESTÃO 3. Assinale a alternativa correta.


116

A)Não se considera invenção nem modelo de utilidade: as obras literárias,


arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; programas de computador
em si; apresentação de informações.
B)A invenção e o modelo de utilidade são considerados novos quando compreendidos
no estado da técnica.
C)A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto,
decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica. O modelo de utilidade é dotado de
ato inventivo sempre que, para um técnico no assunto, decorra de maneira comum ou vulgar
do estado da técnica.
D)A invenção e o modelo de utilidade são considerados suscetíveis de aplicação
industrial quando possam ser utilizados ou produzidos em qualquer tipo de indústria
brasileira.

A) CORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos
requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Art. 9º É patenteável
como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação
industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte
em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Art. 10. Não se considera invenção
nem modelo de utilidade: I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;
II - concepções puramente abstratas; III - esquemas, planos, princípios ou métodos
comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;
IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética;
V - programas de computador em si; VI - apresentação de informações; VII -
regras de jogo; VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos
terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX - o
todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou
ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e
os processos biológicos naturais.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
1. Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não
implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos,
preservado o direito de o empresário alterá-lo
117

2. A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou


diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou
associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em
consonância com o art. 1.166 do Código Civil.
7. O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para
todos os fins de direito.
60. Os acordos e negócios de abstenção de uso de marcas entre sociedades empresárias não
são oponíveis em face do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, sem prejuízo
de os litigantes obterem tutela jurisdicional de abstenção entre eles na Justiça Estadual.
B) INCORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 11. A invenção e o modelo de utilidade são
considerados novos quando não compreendidos no estado da técnica. § 1º O estado da
técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito
do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no
Brasil ou no exterior, ressalvado o disposto nos arts. 12, 16 e 17. § 2º Para fins de
aferição da novidade, o conteúdo completo de pedido depositado no Brasil, e ainda não
publicado, será considerado estado da técnica a partir da data de depósito, ou da
prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subseqüentemente.
§ 3º O disposto no parágrafo anterior será aplicado ao pedido internacional de patente
depositado segundo tratado ou convenção em vigor no Brasil, desde que haja
processamento nacional.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
C) INCORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 13. A invenção é dotada de atividade inventiva
sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do
estado da técnica. Art. 14. O modelo de utilidade é dotado de ato inventivo sempre que,
para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar do estado da
técnica.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
D) INCORRETA: Lei 9279/96 – LPI - Art. 15. A invenção e o modelo de utilidade são
considerados suscetíveis de aplicação industrial quando possam ser utilizados ou
produzidos em qualquer tipo de indústria.
COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017.
GABARITO: A
118

9. TÍTULOS DE CRÉDITO

9.1. TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

De acordo com Vivante, título de crédito é o documento necessário para o exercício do


direito, literal e autônomo, nele mencionado.
Os títulos de crédito estão regulados por diversas leis especiais, além do Código Civil
(artigos 887 a 926), cujas normas se aplicam de forma supletiva às demais, conforme previsão do
artigo 903.
Os títulos de crédito propriamente ditos são os seguintes:
Letra de Câmbio - decreto n. 57.663/66 e Decreto n. 2.044/1908, em parte.
Duplicata – 5474/68 e Decreto-lei 436/1969.
Cheque – 7357/85 - Lei Uniforme do Cheque - Decreto 57.595/1966.
Nota Promissória – artigo 75 do decreto n. 57.663/66 e Decreto n. 2.044/1908, em parte.
Os títulos de crédito impróprios, em geral representativos de promessas de pagamento, com
ou sem garantia. Quando as garantias reais estão incorporadas aos títulos, em regra, são cédulas de
crédito. Quanto não há garantia real, mas apenas eventual privilégio especial na falência, são
denominadas notas de crédito.
Os principais títulos de crédito impróprios são os seguintes:
Títulos de crédito comercial- conhecimento de depósito e o warrant (Decreto 1.102/1903);
cédula de crédito comercial e a nota de crédito comercial (Lei 6.840/1980).
Títulos de crédito industrial- cédula de crédito industrial e a nota de crédito industrial
(Decreto-lei 413/1969).
Títulos de crédito à exportação- cédula de crédito à exportação e a nota de crédito à
exportação (Lei 6.313/1975).
Títulos de crédito rural- cédula de crédito rural, nota de crédito rural, nota promissória rural
e a duplicata rural (Decreto-lei 167/1967); cédula de produto rural - CPR (Lei 8.929/1994).
Títulos de crédito imobiliário- letra imobiliária (4.380/1964); letra hipotecária (Lei
7.684/1988 – originária do decreto-lei 2.478/1988); cédula hipotecária (decreto-lei 70/1966);
certificado de recebíveis imobiliários (Lei 9.514/1997); cédula de crédito hipotecário (Lei
10.931/2004).
Títulos de crédito bancário- cédula de crédito bancário (Lei 10.931/2004); certificado de
depósito bancário (Lei 4.728/1965); certificado de depósito em garantia (Lei 4.728/1965 e LSA);
letra de arrendamento mercantil (Lei 11.882/2008).
119

9.2. PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Do conceito podem se extrair os princípios que orientam o direito cambial:


a) cartularidade;
b) literalidade; e
c) autonomia.
Cartularidade: O credor do título só pode satisfazer a sua pretensão se tiver
“necessariamente” a posse do título, a posse da cártula.
Literalidade: O credor só pode pretender o que estiver literalmente previsto no título. O que
não estiver literalmente lançado no título presume-se que não existe.
Autonomia: O princípio da autonomia se subdivide em subprincípio da abstração e
subprincípio da inoponibilidade de exceções pessoais ao terceiro de boa-fé. O princípio em questão
decorre do fato de que as obrigações cambiais são absolutamente autônomas. Esta autonomia existe
não apenas em relação às eventuais obrigações que deram origem ao título, mas inclusive em
relação aos próprios atos cambiais. Por exemplo, se um dos avais do título for nulo, os demais
poderão ser válidos. Esse aspecto revela a abstração das obrigações. Sobre o aspecto da
inoponibilidade de exceções pessoais, deve-se compreender que o devedor do título não pode
apresentar ao terceiro que possui o título como credor de boa-fé exceções (defesas) que poderiam
ser apresentadas ao primeiro devedor do título, com quem tinha relações diretas, de caráter pessoal.

9.3. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Quanto ao modelo, os títulos podem ser:


a) de modelo livre, quando não estão vinculados à uma forma estipulada em lei. Por
exemplo, notas promissórias são títulos de modelo livre;
b) de modelo vinculado, quando a lei impõe uma forma específica ao título. O cheque é um
título de modelo vinculado.
Quanto à estrutura, os títulos podem ser:
a) ordens de pagamento, quanto há um sacador, que dá uma ordem, contra o sacado, em
favor de um terceiro tomador (ou beneficiário). A letra de câmbio, a duplicata e o cheque são
ordens de pagamento;
b) promessas de pagamento, quanto existe um emitente, que faz uma promessa em favor de
um terceiro, chamado tomador ou beneficiário. As notas promissórias são promessas de pagamento.
Quanto às hipóteses de emissão, os títulos pode ser:
120

a) causais, quanto só podem ser criados após a ocorrência de uma hipótese prevista em lei. A
duplicata é um título causal porque só pode ser sacada se houver uma compra e venda empresarial a
prazo ou uma prestação de serviços;
b) não causais (ou abstratos), quanto podem ser criados independentemente de uma causa
previamente prevista em lei. O cheque, a letra de câmbio e a nota promissória são títulos não
causais.
Quanto à circulação, os títulos podem ser:
a) ao portador, são os títulos que podem circular pela tradição, sem identificação do credor;
b) nominativos à ordem, são aqueles em que há identificação do credor e que podem ser
transferidos por endosso;
c) nominativos não à ordem, são aqueles em que há identificação do credor e que não podem
ser transferidos por endosso. Poderão, contudo, ser transferidos por cessão de crédito.

9.4. LETRA DE CÂMBIO

A letra de Câmbio é uma ordem de pagamento, disciplinada pelos artigos 1º ao 74 do


Decreto 57.663/66, conhecido por Lei Uniforme de Genebra.
É uma ordem de pagamento, de modelo livre, não causal, nominativa à ordem. Poderá ser
nominativa não à ordem, caso seja lançada uma cláusula expressa “não à ordem”. Neste caso o
título só poderá circular por cessão de crédito.
A ordem pode ser dada para pagamento à vista ou a prazo. Em tese, somente nos casos em
que os títulos são sacados para pagamento a prazo haverá possibilidade de aceite, ou seja, de
aceitação da ordem antes da data estipulada para o seu cumprimento.
Por ser uma ordem de pagamento, na letra de câmbio há um sacador, que cria o título e lança
uma ordem contra o sacado. O título é criado pelo saque, a partir do lançamento da assinatura do
sacador no corpo do título. O sacado recebe a ordem para pagar determinada quantia ao tomador, ou
beneficiário. O tomador ou beneficiário é aquele que irá receber o pagamento pelo cumprimento da
ordem. Nada impede que uma mesma pessoa assuma mais de uma posição nesta relação triangular.
Assim, a mesma pessoa pode sacar um título e dar a ordem para que o sacado pague para ela
mesma. Nesta hipótese o sacador e tomador serão a mesma pessoa.
O sacado só estará obrigado a cumprir a ordem do sacador se aceitá-la. Nas letras de câmbio
o aceite é facultativo. Assim só depois de aceitar a ordem é que o sacado ficará vinculado ao seu
cumprimento.
Os devedores principais, portanto, são o aceitante e seu eventual avalista.
Os devedores coobrigados são o endossante, o sacador e seus respectivos avalistas.
121

Na letra de câmbio admite-se aval parcial.


O endosso parcial, no entanto, assim como nos demais títulos, é considerado nulo.
Com relação aos prazos prescricionais temos o seguinte.
O prazo da prescrição da pretensão executiva em face dos devedores principais, aceitante e
avalista, é de 3 anos, contados do vencimento.
O prazo da prescrição da pretensão executiva em face dos coobrigados, endossante, sacador
e seus respectivos avalistas, é de um ano, contado da data do protesto ou do vencimento do título
que contenha a cláusula “sem despesas”.
O prazo da prescrição da pretensão executiva dos endossantes entre si e contra o sacador é
de seis meses, contados do dia do pagamento.

9.5. CHEQUE

O cheque é uma ordem de pagamento à vista, regulada basicamente pela lei 7354/85,
conhecida como Lei do Cheque.
É uma ordem de pagamento, de modelo livre, não causal, ao portador, ou nominativa à
ordem. Os cheques de valores inferiores a R$ 100,00 podem ser sacados ao portador, logo sem a
identificação do tomador. Caso seja de valor superior, o cheque será uma ordem nominativa à
ordem ou não à ordem. Se for à ordem, circula por endosso. Se for não à ordem, pelo lançamento da
clausula “não à ordem”, circulará por cessão de crédito.
Embora possa ser pós-datado o cheque sempre será uma ordem de pagamento para
cumprimento à vista. Nesse caso, a apresentação do cheque pós-datado antes da data indicada não
gerará efeitos cambiais. Poderá haver, contudo, dever de reparar eventuais danos pela incidência das
normas que regulam a responsabilidade civil. Nesse sentido é inclusive o enunciado 370 da Súmula
da Jurisprudência dominante do Superior Tribunal de justiça.
A lei n. 7357/85 previu as seguintes modalidades de cheque: a) cheque visado; b) cheque
administrativo; c) cheque cruzado; e d) cheque para se levar em conta.
O pagamento do cheque pode ser sustado por revogação ou oposição. A revogação está
prevista no artigo 35 da lei do cheque. Já a oposição, prevista no artigo 36 da lei do cheque...
De acordo com o artigo 35, “o emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo, mercê
de contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões
motivadoras do ato (...) A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de expirado o prazo
de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque até que decorra o prazo de
prescrição.
122

Já o artigo 36 dispõe que “Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador


legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada
em relevante razão de direito (...) A oposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se
excluem reciprocamente. Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo
oponente.
Quanto ao prazo de apresentação, o cheque deverá ser apresentado para pagamento nos
prazos de até 30 dias, se for da mesma praça, ou de até 60 dias, se for de praças diversas, contados
da data do saque.
Por ser uma ordem de pagamento, no cheque também há um sacador, geralmente correntista
do banco, que cria o título e lança uma ordem contra o sacado. A criação do título é denominada
saque, e ocorre no momento em que o sacador lança a sua assinatura na cártula. O sacado, que no
cheque é o banco, recebe a ordem para pagar determinada quantia ao tomador, ou beneficiário. O
tomador ou beneficiário é aquele que irá receber o pagamento pelo cumprimento da ordem. Nada
impede que uma mesma pessoa assuma mais de uma posição nesta relação triangular. Assim, a
mesma pessoa pode sacar um título e dar a ordem para que o sacado pague para ela mesma. Nesta
hipótese o sacador e tomador serão a mesma pessoa. Isso pode se dar, inclusive, no cheque
administrativo, no qual o banco figura como sacador e sacado.
Como o cheque é uma ordem de pagamento à vista, não há que se falar em aceite. O banco
sacado, se houver fundos e o cheque estiver formalmente em ordem, deve necessariamente pagar,
independentemente de qualquer aceite prévio.
Os devedores principais do cheque são o sacador e seu avalista.
Os devedores coobrigados são o endossante e seus respectivos avalistas.
No cheque também se admite aval parcial.
O endosso parcial, no entanto, assim como nos demais títulos, é considerado nulo.
O prazo da prescrição da pretensão executiva no cheque é de 6 meses, contados do término
do prazo de apresentação.
Artigos 33, 47 e 59 da lei do cheque.

9.6. NOTA PROMISSÓRIA

A nota promissória é uma promessa de pagamento que está disciplinada, basicamente, nos
artigos 75 a 78 do decreto 57663/66, conhecido como Lei Uniforme de Genebra.
Cuida-se de uma promessa de pagamento, de modelo livre, não causal, nominativa à ordem
ou nominativa não à ordem. Logo pode circular por endosso, se for à ordem, ou por cessão de
crédito, se contiver a clausula “não à ordem”.
123

A promessa pode ser para pagamento à vista ou à prazo.


Por ser uma promessa de pagamento, na nota promissória há o emitente, que promete pagar
determinada quantia, e há o tomador ou beneficiário, para quem a promessa é dada.
Por não haver sacado, naturalmente não há aceite na nota promissória.
Os devedores principais são o emitente e seu eventual avalista.
Os devedores coobrigados são os endossantes e seus eventuais avalistas.
Nas notas promissórias admite-se o aval parcial.
O endosso parcial, no entanto, assim como nos demais títulos, é considerado nulo.
Com relação aos prazos prescricionais temos o seguinte.
O prazo da prescrição da pretensão executiva em face dos devedores principais, aceitante e
avalista, é de 3 anos, contados do vencimento.
O prazo da prescrição da pretensão executiva em face dos coobrigados, endossante e seus
respectivos avalistas, é de um ano, contado da data do protesto ou do vencimento do título que
contenha a cláusula “sem despesas”.

9.7. DUPLICATA

A duplicada é uma ordem de pagamento, regulada pela lei 5474/68, com aplicação
subsidiária das normas que disciplinam a letra de câmbio, nos termos do artigo 25 da lei.
É uma ordem de pagamento, de modelo livre, causal, nominativa à ordem. Poderá ser
nominativa não à ordem, caso seja lançada uma cláusula expressa “não à ordem”. Neste caso o
título só poderá circular por cessão de crédito.
Quanto à causa, as duplicatas só podem ser sacadas se houver uma compra e venda
mercantil a prazo ou uma prestação de serviços.
Por ser uma ordem de pagamento, na duplicata há um sacador, que cria o título e lança uma
ordem contra o sacado. O título é criado pelo saque, a partir do lançamento da assinatura do sacador
no corpo do título. O sacado recebe a ordem para pagar determinada quantia ao tomador, ou
beneficiário. O tomador ou beneficiário é aquele que irá receber o pagamento pelo cumprimento da
ordem. Nada impede que uma mesma pessoa assuma mais de uma posição nesta relação triangular.
Assim, a mesma pessoa pode sacar um título e dar a ordem para que o sacado pague para ela
mesma. Nesta hipótese o sacador e tomador serão a mesma pessoa.
Em tese, somente nos casos em que os títulos são sacados para pagamento à prazo haverá
possibilidade de aceite, ou seja, de aceitação da ordem antes da data estipulada para o seu
cumprimento.
De todo modo, a duplicata pode ser sacada para pagamento à vista ou a prazo.
124

Nas duplicatas o aceite, em regra é obrigatório. Só haverá possiblidade de recusa ao aceite


quanto ocorrer umas das hipóteses justificáveis indicadas na lei.
Os devedores principais são o aceitante e seu eventual avalista.
Os devedores coobrigados são o endossante, o sacador e seus respectivos avalistas.
Na duplicata admite-se aval parcial.
O endosso parcial, no entanto, assim como nos demais títulos, é considerado nulo.
Com relação aos prazos prescricionais temos o seguinte.
O prazo da prescrição da pretensão executiva em face dos devedores principais, aceitante e
avalista, é de 3 anos, contados do vencimento.
O prazo da prescrição da pretensão executiva em face dos coobrigados, endossante, sacador
e seus respectivos avalistas, é de um ano, contado da data do protesto ou do vencimento do título
que contenha a cláusula “sem despesas”.
O prazo da prescrição da pretensão executiva dos coobrigados é de 1 ano, contado do dia do
pagamento.

9.8. ATOS CAMBIAIS

9.8.1. Saque Ou Emissão

Ordens de pagamentos são sacadas e promessas de pagamento são emitidas.


O saque ou a emissão se dá no momento em que o sacador ou emitente lança a sua
assinatura no título.

9.8.2. Aceite

O aceite é o ato cambial que vincula o sacado ao cumprimento da ordem dada pelo sacador.
Na Letra de Câmbio o aceite é facultativo e irretratável. O aceite deve ser expresso. Admite
aceite parcial (limitativo ou modificativo). Pode haver colocação de cláusula não aceitável, neste
caso o credor só pode procurar o devedor na data do vencimento do título.
No aceite parcial limitativo há aceitação de parte do valor da ordem. No aceite parcial
modificativo há aceitação do valor da ordem, porém não há assentimento quanto ao modo de seu
cumprimento.
No cheque não se admite aceite.
Na nota promissória não se admite aceite.
125

Na duplicata o aceite é obrigatório. O aceite pode ser expresso ou presumido. Admite aceite
parcial (limitativo ou modificativo). Pode haver colocação de cláusula não aceitável, neste caso o
credor só pode procurar o devedor na data do vencimento do título.

9.8.3. Endosso

O endosso, propriamente dito, é o ato cambial responsável pela transferência do título e do


crédito nele contido.
Não se admite o endosso parcial.
O endosso pode ser em preto, quando há identificação do endossatário, ou em branco,
quanto o nome do endossatário não constar do endosso.
No endosso impróprio há apenas transferência do título, sem transferência definitiva do
crédito. Há duas espécies de endosso improprio, endosso mandato e endosso caução. No endosso
mandato o endossante-mandante transfere o título apenas para que o endossatário-mandatário efetue
a cobrança de terceiro em nome e no interesse do endossante-mandante. Já no endosso caução o
endossante transfere o título apenas para garantir o adimplemento de outra obrigação adjacente.
Cumprida a obrigação, o endossatário restitui ao endossante o título que foi dado em garantia.
Ao contrário do que se passa na cessão de crédito, por ser um ato cambial, no endosso o
endossante é responsável não só pela existência do crédito, mas também por seu pagamento. Além
disso, também ao contrário da cessão, no endosso o endossante não pode apresentar exceções de
caráter pessoal ao terceiro de boa-fé que apresentar o título para pagamento.

9.8.4. Aval

O aval é um ato cambial de garantia dado pelo avalista em favor do avalizado.


A assinatura não identificada no anverso do título se presume aval. Nada impede, contudo,
que o aval seja dado no verso do título, desde que seja identificado com tal.
O aval pode ser em preto, quando houver identificação do avalizado, ou em branco, quando
não houver. No aval em brando presume-se que foi dado em favor do sacador ou emitente.
O aval pode ser parcial.
Ao contrário da fiança, que é um negócio jurídico acessório de natureza cível, o aval é um
ato cambial autônomo. O avalista, ao contrário do fiador (devedor subsidiário) é devedor solidário.
126

9.8.5. Protesto

De modo geral o protesto é o ato cambial responsável pela publicidade de alguns eventos
relacionados com os títulos de crédito.
O protesto está disciplinado, principalmente, pela lei 9492/97.
O protesto pode ter por causa:
a) falta de aceite do título;
b) falta de devolução do título; ou
c) falta de pagamento do título.
O protesto é necessário para a cobrança dos coobrigados e seus respectivos avalistas
Para a cobrança do devedor principal e seus eventuais avalistas, o protesto é facultativo.
Há ainda o protesto por impontualidade injustificada, necessário para legitimar o pedido de
falência, nos termos do art. 94, I, da Lei11.101/2005.
Já não há mais necessidade de se realizar o protesto para constituir em mora o devedor do
contrato de alienação fiduciária em garantia, previsto no art. 2.º, § 2.º, do Decreto-lei 911/1969,
com as alterações da Lei 13.043/2014, atualmente a constituição em mora decorre apenas da
expedição de carta com aviso de recebimento.

9.9. PRESCRIÇÃO DAS PRETENSÕES CAMBIAIS

Com relação aos prazos prescricionais temos o seguinte:


Nas letras de Câmbio e Notas promissórias, o prazo da prescrição da pretensão executiva em
face dos devedores principais e avalistas é de 3 anos, contados do vencimento. O prazo da
prescrição da pretensão executiva em face dos coobrigados e seus respectivos avalistas é de um ano,
contado da data do protesto ou do vencimento do título que contenha a cláusula “sem despesas”. O
prazo da prescrição da pretensão executiva dos endossantes entre si é de seis meses, contados do dia
do pagamento.
Nas duplicatas o prazo da prescrição da pretensão executiva em face dos devedores
principais e avalistas é de 3 anos, contados do vencimento. O prazo da prescrição da pretensão
executiva em face dos coobrigados e seus respectivos avalistas é de um ano, contado da data do
protesto ou do vencimento do título que contenha a cláusula “sem despesas”. O prazo da prescrição
da pretensão executiva dos endossantes entre si é de 1 ano, contado do dia do pagamento.
No cheque o prazo prescricional da pretensão executiva é de 6 meses, contados do término
do prazo de apresentação (30 dias, cheque da mesma praça; 60 dias cheque de praças diversas).
127

9.10. AÇÕES CAMBIAIS

O devedor poderá pretender a execução do título de crédito, mediante a propositura de ação


de execução por quantia certa, nos termos do NCPC.
Sobre ação monitória confira os enunciados 299, 503 e 531 da Súmula da Jurisprudência
dominante do Superior Tribunal de Justiça.

QUESTÕES
QUESTÃO 1. Assinale a alternativa incorreta.
A) Como regra, nas duplicatas o aceite e obrigatório.
B)O cheque não admite aceite, considerando-se não escrita qualquer declaração com
esse sentido.
C) Como regra, nas letras de câmbio o aceite é facultativo.
D)Como regra, nas notas promissórias o aceite é facultativo.

A) CORRETA: lei 5474/68 - Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata


por motivo de: I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas
ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade
ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III - divergência nos
prazos ou nos preços ajustados.
“Em suma, o aceite é a manifestação de vontade do sacado no sentido de que irá pagar a
letra, ou seja, é o ato pelo qual ele assume o compromisso de cumprir a ordem que lhe foi
dada. Sem o aceite o sacado é um mero nome constante do título. Com o aceite ele se torna
obrigado a pagar o título. De qualquer forma, trata-se de uma declaração cambiária
sucessiva e acessória, vale dizer, não essencial, pois a letra existe mesmo que não haja o
aceite.” Cf. TOMAZETTE, MARLON. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito v.
2. São Paulo: Atlas, 2017, p 133 e seguintes.
PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIAL – Cartularidade; Literalidade; Autonomia –
abstração e inoponibilidade de exceções pessoais aos terceiros de boa-fé.
CLASSIFICAÇAO QUANDO: AO MODELO – livre e vinculado; À CAUSA – causal e não
causal; À ESTRURURA – promessa ou ordem de pagamento; CIRCULAÇÃO – ao portador
ou nominativo (à ordem ou não à ordem).
128

Considerando a classificação quanto à estrutura, somente os títulos que representam ordens


de pagamento podem ser sacados (letra de câmbio, duplicata e cheque). Um sacador saca o
título e dá uma ordem contra o sacado em favor do tomador ou beneficiário, numa relação
triangular. Nas promessas de pagamento há uma relação horizontal entre o emitente da
promessa e o tomador ou beneficiário. Ao fazer a promessa o emitente “emite” a nota.
LETRA DE CÂMBIO - decreto n. 57.663/66 e Decreto n. 2.044/1908, em parte.
DUPLICATA – 5474/68 e Decreto-lei 436/1969.
CHEQUE – 7357/85 - Lei Uniforme do Cheque - Decreto 57.595/1966.
NOTA PROMISSÓRIA – artigo 75 do decreto n. 57.663/66 e Decreto n. 2.044/1908, em
parte.
Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
Atos cambiais:
Saque - ordens de pagamento (LC, DUP e CHE).
Emissão - promessas de pagamento (NP).
Aceite – LC, facultativo e irretratável; admite aceite parcial (limitativo ou modificativo) na
LC; cláusula não aceitável (só pode procurar no vencimento); duplicata é obrigatório.
Endosso – não se admite endosso parcial; endosso em preto e em branco; impróprio
(mandato e caução); diferente da cessão – responsabilidade e inoponibilidade de exceções
pessoais.
Aval – em preto ou em branco (presumido em favor do sacador ou emitente); aval e fiança.
Protesto – lei 9492/97 - necessário (contra os coobrigados e endossantes); facultativo
(contra devedor principal e seu avalista). Por: falta de aceite do título; falta de devolução
do título; ou falta de pagamento do título.
Protestos especiais - falência por impontualidade injustificada (art. 94 da Lei11.101/2005);
mora do devedor do contrato de alienação fiduciária em garantia - art. 2.º, § 2.º, do
Decreto-lei 911/1969 - antes da alteração da Lei 13.043/2014 – atualmente só se exige
carta registrada com AR.
Outros títulos - basicamente: causais; promessas de pagamento, com ou sem garantia real;
cédulas de crédito, com garantia real incorporadas ao título; notas de crédito, sem garantia
real, apenas privilégio especial na falência.
Títulos de crédito comercial - conhecimento de depósito e o warrant (Decreto 1.102/1903);
cédula de crédito comercial e a nota de crédito comercial (Lei 6.840/1980).
129

Títulos de crédito industrial - cédula de crédito industrial e a nota de crédito industrial


(Decreto-lei 413/1969).
Títulos de crédito à exportação - cédula de crédito à exportação e a nota de crédito à
exportação (Lei 6.313/1975).
Títulos de crédito rural - cédula de crédito rural, nota de crédito rural, nota promissória
rural e a duplicata rural (Decreto-lei 167/1967); cédula de produto rural - CPR (Lei
8.929/1994).
Títulos de crédito imobiliário - letra imobiliária (4.380/1964); letra hipotecária (Lei
7.684/1988 – originária do decreto-lei 2.478/1988); cédula hipotecária (decreto-lei
70/1966); certificado de recebíveis imobiliários (Lei 9.514/1997); cédula de crédito
hipotecário (Lei 10.931/2004).
Títulos de crédito bancário - cédula de crédito bancário (Lei 10.931/2004); certificado de
depósito bancário (Lei 4.728/1965); certificado de depósito em garantia (Lei 4.728/1965 e
LSA); letra de arrendamento mercantil (Lei 11.882/2008).
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
39. Não se aplica a vedação do art. 897, parágrafo único, do Código Civil, aos títulos de
crédito regulados por lei especial, nos termos do seu art. 903, sendo, portanto, admitido o
aval parcial nos títulos de crédito regulados em lei especial.
40. O prazo prescricional de 6 (seis) meses para o exercício da pretensão à execução do
cheque pelo respectivo portador é contado do encerramento do prazo de apresentação,
tenha ou não sido apresentado ao sacado dentro do referido prazo. No caso de cheque pós-
datado apresentado antes da data de emissão ao sacado ou da data pactuada com o
emitente, o termo inicial é contado da data da primeira apresentação.
41. A cédula de crédito bancário é título de crédito dotado de força executiva, mesmo
quando representativa de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito bancário em
conta-corrente, não sendo a ela aplicável a orientação da Súmula 233 do STJ.
69. Prescrita a pretensão do credor à execução de título de crédito, o endossante e o
avalista, do obrigado principal ou de coobrigado, não respondem pelo pagamento da
obrigação, salvo em caso de locupletamento indevido.
70. O prazo estabelecido no art. 21, § 1º, da Lei n. 9.492/97, para o protesto por falta de
aceite é aplicável apenas na falta de disposição diversa contida em lei especial referente a
determinado título de crédito (por exemplo, duplicatas). Aplica-se, portanto, a disposição
contida no art. 44, 2ª alínea, da Lei Uniforme de Genebra, ao protesto por falta de aceite de
letra de câmbio.
130

71. A prescrição trienal da pretensão à execução, em face do emitente e seu avalista, de


nota promissória à vista não apresentada a pagamento no prazo legal ou fixado no título,
conta-se a partir do término do referido prazo.
B) CORRETA: lei 7357/85 - Art. 6º O cheque não admite aceite considerando-se não escrita
qualquer declaração com esse sentido.
C) CORRETA: decreto 2044/1908 - Art. 9º A apresentação da letra ao aceite é facultativa
quando certa a data do vencimento. A letra a tempo certo da vista deve ser apresentada ao
aceite do sacado, dentro do prazo nela marcado; na falta de designação, dentro de seis
meses contados da data da emissão do título, sob pena de perder o portador o direito
regressivo contra o sacador, endossadores e avalistas. Parágrafo único. O aceite da
letra, a tempo certo da vista, deve ser datado, presumindo-se, na falta de data, o mandato
ao portador para inseri-la. Art. 10. Sendo dois ou mais os sacados, o portador deve
apresentar a letra ao primeiro nomeado; na falta ou recusa do aceite, ao segundo, se
estiver domiciliado na mesma praça; assim, sucessivamente, sem embargo da forma da
indicação na letra dos nomes dos sacados. Art. 11. Para a validade do aceite é
suficiente a simples assinatura do próprio punho do sacado ou do mandatário especial, no
anverso da letra. Vale, com aceite pura, a declaração que não traduzir
inequivocamente a recusa, limitação ou modificação. Parágrafo único. Para os efeitos
cambiais, a limitação ou modificação do aceite equivale à recusa, ficando, porém, o
aceitante cambialmente vinculado, nos termos da limitação ou modificação. Art. 12. O
aceite, uma vez firmado, não pode ser cancelado nem retirado. Art. 13. A falta ou
recusa do aceite prova-se pelo protesto.
Decreto 57993/66 LUG - Art. 21. A letra pode ser apresentada, até o vencimento, ao aceite
do sacado, no seu domicílio, pelo portador ou até por um simples detentor. Art. 22. O
sacador pode, em qualquer letra, estipular que ela será apresentada ao aceite, com ou sem
fixação de prazo. Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se
tratar de uma letra pagável em domicilio de terceiro, ou de uma letra pagável em
localidade diferente da do domicílio do sacado, ou de uma letra sacada a certo termo de
vista. O sacador pode também estipular que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se
antes de determinada data. Todo endossante pode estipular que a letra deve ser
apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo, salvo se ela tiver sido declarada não
aceitável pelo sacador. Art. 23. As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao
aceite dentro do prazo de 1 (um) ano das suas datas. O sacador pode reduzir este prazo ou
estipular um prazo maior. Esses prazos podem ser reduzidos pelos endossantes. Art. 24. O
sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma segunda vez no dia seguinte ao da
131

primeira apresentação. Os interessados somente podem ser admitidos a pretender que não
foi dada satisfação a este pedido no caso de ele figurar no protesto. O portador não é
obrigado a deixar nas mãos do aceitante a letra apresentada ao aceite. Art. 25. O aceite é
escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra "aceite" ou qualquer outra palavra
equivalente; o aceite é assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura do
sacado aposta na parte anterior da letra. Quando se trate de uma letra pagável a certo
termo de vista, ou que deva ser apresentada ao aceite dentro de um prazo determinado por
estipulação especial, o aceite deve ser datado do dia em que foi dado, salvo se o portador
exigir que a data seja a da apresentação. À falta de data, o portador, para conservar os
seus direitos de recurso contra os endossantes e contra o sacador, deve fazer constar essa
omissão por um protesto, feito em tempo útil. Art. 26. O aceite é puro e simples, mas o
sacado pode limitá-lo a uma parte da importância sacada. Qualquer outra modificação
introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante
fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite. Art. 27. Quando o sacador tiver indicado
na letra um lugar de pagamento diverso do domicilio do sacado, sem designar um terceiro
em cujo domicilio o pagamento se deva efetuar, o sacado pode designar no ato do aceite a
pessoa que deve pagar a letra. Na falta dessa indicação, considera-se que o aceitante se
obriga, ele próprio, a efetuar o pagamento no lugar indicado na letra. Se a letra é pagável
no domicilio do sacado, este pode, no ato do aceite, indicar, para ser efetuado o pagamento,
um outro domicilio no mesmo lugar. Art. 28. O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra à
data do vencimento. Na falta de pagamento, o portador, mesmo no caso de ser ele o
sacador, tem contra o aceitante um direito de ação resultante da letra, em relação a tudo
que pode ser exigido nos termos dos artigos 48 e 49.Art. 29. Se o sacado, antes da
restituição da letra, riscar o aceite que tiver dado, tal aceite é considerado como recusado.
Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera-se feita antes da restituição da
letra. Se, porém, o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro
signatário da letra de que aceita, fica obrigado para com estes, nos termos do seu aceite.
Cf. TOMAZETTE, MARLON. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito v. 2. São
Paulo: Atlas, 2017, p 133 e seguintes.
D) INCORRETA: decreto 2044/1908 Art. 54. A nota promissória é uma promessa de
pagamento e deve conter estes requisitos essenciais, lançados, por extenso no contexto:
I. a denominação de “Nota Promissória” ou termo correspondente, na língua em que for
emitida; II. a soma de dinheiro a pagar; III. o nome da pessoa a quem deve ser
paga; IV. a assinatura do próprio punho da emitente ou do mandatário especial. §
1º Presume-se ter o portador o mandato para inserir a data e lugar da emissão da nota
132

promissória, que não contiver estes requisitos. § 2º Será pagável à vista a nota
promissória que não indicar a época do vencimento. Será pagável no domicílio do emitente
a nota promissória que não indicar o lugar do pagamento. É facultada a indicação
alternativa de lugar de pagamento, tendo o portador direito de opção. § 3º
Diversificando as indicações da soma do dinheiro, será considerada verdadeira a que se
achar lançada por extenso no contexto. Diversificando no contexto as indicações da
soma de dinheiro, o título não será nota promissória. § 4º Não será nota promissória o
escrito ao qual faltar qualquer dos requisitos acima enumerados. Os requisitos essenciais
são considerados lançados ao tempo da emissão da nota promissória. No caso de má-fé do
portador, será admitida prova em contrário. Art. 55. A nota promissória pode ser
passada: I. à vista; II. a dia certo; III. a tempo certo da data. Parágrafo
único. A época do pagamento deve ser precisa e única para toda a soma devida.
Decreto 57993/66 - TÍTULO II DA NOTA PROMISSÓRIA - Art. 75. A nota promissória
contém:1. denominação "nota promissória" inserta no próprio texto do título e expressa na
língua empregada para a redação desse título;2. a promessa pura e simples de pagar uma
quantia determinada;3. a época do pagamento;4. a indicação do lugar em que se efetuar o
pagamento;5. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;6. a indicação
da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada;7. a assinatura de quem
passa a nota promissória (subscritor).Art. 76. O título em que faltar algum dos requisitos
indicados no artigo anterior não produzirá efeito como nota promissória, salvo nos casos
determinados das alíneas seguintes. A nota promissória em que se não indique a época do
pagamento será considerada à vista. Na falta de indicação especial, o lugar onde o título foi
passado considera-se como sendo o lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do
domicílio do subscritor da nota promissória. A nota promissória que não contenha
indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado ao
lado do nome do subscritor. Art. 77. São aplicáveis às notas promissórias, na parte em que
não sejam contrárias à natureza deste título, as disposições relativas às letras e
concernentes: endosso (artigos 11 a 20).
Cf. TOMAZETTE, MARLON. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito v. 2. São
Paulo: Atlas, 2017, p 133 e seguintes.
GABARITO: D

QUESTÃO 2. Assinale a alternativa correta:


A) Na letra de câmbio admite-se o endosso parcial.
133

B) As notas promissória com previsão expressa de cláusula à ordem são transmissível


por via de endosso.
C) Admite-se o endosso em branco nas letras de câmbio e notas promissórias.
D)O endossante sempre garante o pagamento da letra.

A) INCORRETA: Decreto 57663/66 - Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva
expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso. Quando o sacador
tiver inserido na letra as palavras "não à ordem", ou uma expressão equivalente, a letra só
é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. O endosso
pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do sacador, ou de qualquer
outro coobrigado. Estas pessoas podem endossar novamente a letra. Art. 12. O endosso
deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado considera-se como
não escrita. O endosso parcial é nulo. O endosso ao portador vale como endosso em
branco.
“A função primordial dos títulos de crédito é agilizar a circulação de riquezas, permitindo a
antecipação de valores que só seriam recebidos no futuro. Para que essa circulação ocorra,
é fundamental que o título de crédito seja passado para frente. Transfere-se o título e recebe
se uma parte do seu valor antes da data ali consignada para o recebimento. Essa
transferência do título de crédito possui uma forma própria na legislação cambiária que é o
endosso, sem prejuízo das formas tradicionais do direito das obrigações.” Cf.
TOMAZETTE, MARLON. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito v. 2. São Paulo:
Atlas, 2017, p 148 e seguintes.
B) INCORRETA: decreto 57663/66 - Art. 11. Toda letra de câmbio, mesmo que não envolva
expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso. Quando o sacador
tiver inserido na letra as palavras "não à ordem", ou uma expressão equivalente, a letra só
é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. O endosso
pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitando ou não, do sacador, ou de qualquer
outro coobrigado. Estas pessoas podem endossar novamente a letra. Art. 77. São aplicáveis
às notas promissórias, na parte em que não sejam contrárias à natureza deste título, as
disposições relativas às letras e concernentes: endosso (artigos 11 a 20).
Cf. TOMAZETTE, MARLON. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito v. 2. São
Paulo: Atlas, 2017, p 148 e seguintes.
C) CORRETA: decreto 57663/66 - Art. 13. O endosso deve ser escrito na letra ou numa
folha ligada a esta (anexo). Deve ser assinado pelo endossante. O endosso pode não
designar o benefício, ou consistir simplesmente na assinatura do endossante (endosso em
134

branco). Neste último caso, o endosso para ser válido deve ser escrito no verso da letra ou
na folha anexa. Art. 77. São aplicáveis às notas promissórias, na parte em que não sejam
contrárias à natureza deste título, as disposições relativas às letras e concernentes: endosso
(artigos 11 a 20).
Cf. TOMAZETTE, MARLON. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito v. 2. São
Paulo: Atlas, 2017, p 148 e seguintes.
D) INCORRETA: decreto 57663/66 - Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é
garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um
novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for
posteriormente endossada. Admite-se o endosso sem garantia.
Cf. TOMAZETTE, MARLON. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito v. 2. São
Paulo: Atlas, 2017, p 148 e seguintes.
GABARITO: C

QUESTÃO 3 - VUNESP - 2018 - MPE-SP - Analista Jurídico do Ministério Público -


Assinale a alternativa que se apresenta de acordo com a Lei n° 7.357/85 (Lei do Cheque).
A) O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no
prazo de 60 dias, quando emitido na mesma praça, e de 30 dias, quando emitido em praça
diversa ou no exterior.
B) O cheque não admite endosso, sendo nulos o endosso total e do sacado.
C) A ação de execução do cheque prescreve em 6 meses, contados da data da sua
emissão.
D) O cheque admite aceite, considerando-se escrita qualquer declaração com esse
sentido.
E) O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado
por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo pelo signatário do título.

A) INCORRETA – os prazos estão trocados. O cheque deve ser apresentado dentro do prazo
de 30 dias, se for da mesma praça, ou dentro do prazo de 60 dias, se for de praças diversas,
nos termos do artigo 33 da lei 7357/85.
B) INCORRETA - de acordo com o artigo 17 da lei 7357/85, o cheque pagável a pessoa
nomeada, com ou sem cláusula expressa ‘’ à ordem’’, é transmissível por via de endosso.
C) INCORRETA – de acordo com o artigo 59 da lei 7357/85 que prevê que prescrevem em 6
(seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta
Lei assegura ao portador.
135

D) INCORRETA – de acordo com o artigo 6º da lei 7357/58, o cheque não admite aceite
considerando-se não escrita qualquer declaração com esse sentido.
E) CORRETA – de acordo com o artigo 29 da lei 7357/85, que prevê que o pagamento do
cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o
sacado, ou mesmo por signatário do título.
GABARITO: LETRA E
136

10. CONTRATOS EMPRESARIAIS

10.1. NOÇÕES GERAIS

Contrato é um negócio jurídico bilateral (ou plurilateral) de natureza patrimonial. No


contrato as partes manifestam suas vontades para a criação de um dever jurídico principal
(prestação de dar, fazer ou não fazer) e de deveres jurídicos anexos, como a atenção às orientações
do princípio da boa-fé objetiva.
O Código Civil Italiano de 1942, no art. 1.321, prevê que: “O contrato é acordo de duas ou
mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial”.
No que se refere à formação, portanto, o contrato é ao menos bilateral, considerando que há
necessidade de comunhão de no mínimo duas vontades.
Com relação aos seus efeitos, por outro lado, os contratos podem ser unilaterais, bilaterais
ou plurilaterais, como veremos adiante.

10.2. REQUISITOS DOS CONTRATOS

As condições de validade (ou requisitos, de acordo com alguns editais) de contrato podem
ser gerais ou especiais.
As condições gerais estão indicadas no artigo 104 do Código Civil. São as seguintes:
a) partes capazes;
b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
c) forma prescrita ou não defesa em lei.
A condição especial é acordo de vontades, que deve ser livre e espontâneo, sob pena de ser
considerado defeituoso ou inválido. Em todo caso, o silêncio pode ser considerado manifestação de
vontade, sempre que as circunstâncias ou os usos autorizem, e não for necessária a declaração de
vontade expressa, nos termos do artigo 111 do Código Civil (silêncio circunstanciado ou
qualificado).
Embora não aparente, mesmo nos casos de mandado em causa própria, nos termos do artigo
685 do Código Civil, há manifestação de mais de uma vontade.
137

10.3. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS

Tratemos aqui as principais classificações doutrinárias dos contratos, considerando alguns


critérios específicos.
Quanto aos direitos e deveres dos contratantes, o contrato pode ser:
a) unilateral (embora haja união de duas ou mais vontades, apenas uma das partes tem o
dever de realizar prestações. São exemplos os contratos de mútuo e comodato);
b) bilaterais, ou sinalagmáticos (as duas partes envolvidas pelo vínculo do contrato têm o
dever de realizar prestações recíprocas. São exemplos o contrato de compra e venda mercantil ou de
locação empresarial);
c) contrato plurilateral (mais de duas partes envolvidas pelo vínculo contratual assumem o
dever de realizar prestações. Os consórcios são exemplos de contratos plurilaterais).
Quanto à onerosidade, o contrato pode ser:
a) oneroso (ambas as partes assumem deveres e, por conseguinte, sofrem onerações
patrimoniais (é o que se passa no contrato de compra e venda mercantil);
b) gratuito (apenas uma parte tem obrigação de realizar uma prestação em favor da outra. Os
contratos gratuitos, também denominados benéficos, devem ser sempre interpretados
restritivamente, nos termos do artigo 114 do Código Civil. A doação pura e simples é um exemplo
de contrato gratuito.
Quanto ao momento constitutivo, o contrato pode ser:
a) consensual (o contrato se aperfeiçoa com a mera comunhão de vontades das partes,
independentemente da realização de qualquer prestação. É o que se passa, por exemplo, com o
contrato de compra e venda mercantil, locação empresarial etc.);
b) real (o contrato só se aperfeiçoa com uma prestação consistente na entrega de uma coisa
por um contratante ao outro. Até que se efetive a tradição, haverá apenas promessa contratual. Esta
questão diz respeito ao plano da validade negocial e não ao plano da eficácia dos negócios jurídicos.
Quanto aos riscos, o contrato pode ser:
a) comutativo (as prestações são previamente ajustadas e delimitadas);
b) aleatório (a prestação de uma das partes não é previamente definida. A indefinição pode
ser sobre a própria existência da prestação - emptio spei, ou sobre quantidade da prestação – empitio
rei speratae. Os contratos aleatórios estão disciplinados nos artigos 458 a 461 do Código Civil).
Quanto previsão expressa em lei, o contrato pode ser:
a) típico (quando estiver expressamente previsto e disciplinado pela lei);
b) atípico (quando não estiver expressamente previsto em lei ou quando, embora previsto,
não esteja minimamente disciplinado pela lei).
138

Quanto à liberdade na escolha do conteúdo, o contrato pode ser:


a) paritário (quanto as partes têm liberdade plena de ajustarem previamente o conteúdo do
contrato);
b) de adesão (nos quais uma das partes define o conteúdo do contrato e as demais
simplesmente aderem à definição).
Quanto às formalidades, o contrato pode ser:
a) formal (a lei exige comprimento de formalidades. Como exemplo, devem ser escritos o
contrato de fiança e o contrato de locação empresarial, para ensejo à pretensão de renovação
compulsória);
b) informal (a lei não exige qualquer formalidade. Essa é a regra geral, indicada no artigo
107 do Código Civil);
c) solene (se exige escritura pública, conforme preconiza o artigo 108 do Código Civil);
d) não solene (não se exige escritura pública).
Quanto à autonomia, o contrato pode ser:
a) principal (é o contrato cujas existência e validade independem de outro contrato);
b) contrato acessório (é o contrato cujas existência e validade dependem de outro contrato. O
contrato de fiança, por exemplo, é um contrato acessório que depende do contrato principal).
Confira o enunciado número 421 das jornadas de Direito Civil do CJF, sobre contratos coligados:
Os contratos coligados devem ser interpretados segundo os critérios hermenêuticos do Código
Civil, em especial dos arts. 112 e 113, considerada a sua conexão funcional.
Quanto ao tempo do cumprimento, o contrato pode ser:
a) instantâneo (é o contrato de execução e aperfeiçoamento imediatos);
b) de execução diferida (é o contrato cuja execução e aperfeiçoamento ocorrem num único
momento futuro;
c) de execução continuada (é o contrato cuja execução e aperfeiçoamento se dão
sucessivamente, de modo periódico no tempo. É o que ocorre, por exemplo, com os contratos de
locação ou de financiamento.
Quanto às condições pessoais dos contratantes, o contrato pode ser:
a) pessoal (também denominados intuitu personae, são contratos nos quais as condições
pessoais dos contratantes são determinantes para o negócio. Nesses casos, as obrigações contratuais
não são transmitidas por atos inter vivos ou mortis causa. No contrato de fiança, por exemplo, com
exceção das prestações vencidas e não pagas até a morte do fiador, não haverá transmissão dos
deveres contratuais aos herdeiros do fiador morto;
139

b) impessoal (são contratos nos quais as condições pessoais dos contratantes não são
determinantes para o negócio. Nesses casos, as obrigações contratuais são transmitidas por atos
inter vivos ou mortis causa.
Quanto à (im)permanência temporal, o contrato pode ser:
a) preliminar (também denominado de pactum em contrahendo, o contrato preliminar é um
pré-contrato, antecedente à realização de outro contrato posterior. O compromisso de compra e
venda é um bom exemplo de contratos dessa natureza. A disciplina dessas questões pode ser
encontrada nos artigos 462 e 466 do Código Civil);
b) contrato definitivo (é o contrato independente de qualquer outro).

10.4. PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS

Os principais princípios contratuais são os seguintes:


a) princípio da autonomia privada (as partes têm plena liberdade de contratar, dentro dos
limites da lei. Este princípio sofre limitações pelo princípio da função social;
b) princípio da obrigatoriedade (o contrato é uma lei que vincula as partes e não pode ser
alterada. O princípio também sofre limitações principalmente pela teoria da imprevisão);
c) princípio da relatividade (o contrato tem efeito somente entre as partes. Esse princípio
sofre mitigação pelo princípio da função social);
d) princípio da função social dos contratos (os contratos devem cumprir a sua função social.
A teoria do adimplemento substancial está diretamente relacionada ao princípio da função social); e
e) princípio da boa-fé objetiva.
Os deveres anexos ao princípio da boa-fé objetiva são os seguintes:
a) dever de cuidado recíproco dos contratantes;
b) dever de respeito recíproco dos contratantes;
c) dever recíproco aos contratantes de prestar informações relacionadas ao negócio jurídico;
e) dever recíproco de não frustrar a confiança dos contratantes;
f) dever recíproco de lealdade e probidade dos contratantes;
g) dever recíproco dos contratantes de agir com honestidade; e
h) dever reciproco de os contratantes agirem de modo razoável.
As funções essenciais do princípio da boa-fé objetiva são as seguintes:
a) função interpretativa, nos termos dos artigos 113 do Código Civil);
b) função de controle de atos abusivos, nos termos do artigo 184 do Código Civil; e
c) função integrativa, conforme assinalado no artigo 422 do Código Civil.
140

No que toca à função integrativa da boa-fé, merecem destaque os denominados conceitos


parcelares da boa-fé objetiva, principalmente, segundo as orientações de Antonio Manuel da Rocha
e Menezes Cordeiro. De acordo com o Professor Menezes Cordeiro, os conceitos parcelares da boa-
fé objetiva são os seguintes:
a) supressio (é a perda ou supressão de um direito por renúncia tácita, após decurso de
tempo razoável);
b) surrectio (é a aquisição ou surgimento de um direito em favor de uma parte em
decorrência da perda do direito de outra parte pela supressio);
c) tu quoque (indica que se o contratante violou uma norma contratual ele não poderá tirar
proveito dessa violação sem que se considere um abuso de direito);
d) exceptio doli (corresponde à possibilidade de alegação de exceços ou devesas contra
condutas dolosamente praticadas pela parte contrária);
e) venire contra factum proprium nonpotest(revela a impossibilidade jurídica de que um
determinado sujeito exerça um direito próprio que contraria essencialmente um comportamento seu
anterior; e
f) dever de mitigação dos prejuízos (os contratantes, principalmente o credor, deve procurar,
dentro dos limites razoáveis das suas possibilidades, mitigar o agravamento dos seus próprios
prejuízos. Este dever é comumente indicado em inglês como duty to mitigate the loss).
O artigo 330 do Código Civil ilustra bem os efeitos da supressio e da surrectio: Art. 330. O
pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato.
O artigo 476 do Código Civil é um exemplo de previsão legal da exceptio doli:Art. 476. Nos
contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o
implemento da do outro.
Com relação aos aspectos gerais dos contratos indicados acima, merecem destaque os
seguintes artigos do Código Civil:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato, observado o disposto na Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerá o princípio da intervenção
mínima do Estado, por qualquer dos seus poderes, e a revisão contratual determinada de forma
externa às partes será excepcional. (Artigo alterado pela MP 881/2019)
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em
sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida quanto à sua
interpretação, será adotada a mais favorável ao aderente.
141

Parágrafo único. Nos contratos não atingidos pelo disposto no caput, exceto se houver
disposição específica em lei, a dúvida na interpretação beneficia a parte que não redigiu a cláusula
controvertida. (Artigo alterado pela MP 881/2019)
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas
neste Código.
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Art. 480-A. Nas relações interempresariais, é licito às partes contratantes estabelecer
parâmetros objetivos para a interpretação de requisitos de revisão ou de resolução do pacto
contratual. (Artigo incluído pela MP 881/2019)
Art. 480-B. Nas relações interempresariais, deve-se presumir a simetria dos contratantes e
observar a alocação de riscos por eles definida. (Artigo incluído pela MP 881/2019)
No mesmo sentido, confira os seguintes enunciados das Jornadas de Direito Comercial
do CJF:
Enunciado número 21, da I Jornada de Direito Comercial do CJF, de nossa autoria: “Nos
contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista a simetria natural
das relações interempresariais”.
Enunciado número 28 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “Em razão do
profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade, os contratos empresariais
não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na inexperiência”.

10.5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

A formação do contrato, basicamente disciplinada nos artigos 427 a 435 do Código Civil,
ocorre em quatro fases:
a) fase preliminar, ou de negociação prévia;
b) fase de propositura, ou fase de propostas (policitação ou oblação);
c) fase de constituição do contrato preliminar; e d) fase de constituição e conclusão do
contrato definitivo.
Com relação à formação dos contratos, merecem destaque os seguintes artigos do Código
Civil:
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos
dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
142

I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também
presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a
resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação
do proponente.
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao
contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode
revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta
realizada.
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do
proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e
danos.
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará
nova proposta.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o
proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao
proponente a retratação do aceitante.
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida,
exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar
resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado.
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos
essenciais ao contrato a ser celebrado.
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo
antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o
direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo
único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.

10.6. MEIOS DE PROVA

A questão das provas dos negócios jurídicos está disciplinada nos artigos 212 a 232 do
Código Civil.
143

Merecem destaque os seguintes dispositivos do Código Civil:


Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado
mediante:
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V - perícia.
Art. 213. Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a
que se referem os fatos confessados. Parágrafo único. Se feita a confissão por um representante,
somente é eficaz nos limites em que este pode vincular o representado.
Art. 214. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de
coação.
Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé
pública, fazendo prova plena.

10.7. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

A matéria está disciplinada, basicamente, nos artigos 472 a 480 do Código Civil.
A extinção do contrato pode ocorrer pelas seguintes causas:
a) cumprimento ou esgotamento do objeto;
b) extinção por fatos anteriores à celebração do contrato (invalidade, cláusula de
arrependimento ou cláusula resolutiva expressa);
c) extinção por fatos posteriores à celebração do contrato:
c1) resolução (espécie de rescisão que gera a extinção do contrato por descumprimento. O
descumprimento pode ocorrer por inexecução voluntária, inexecução involuntária, por onerosidade
excessiva ou por previsão de cláusula resolutiva tácita);
c2) resilição (espécie de rescisão que provoca a dissolução do contrato por vontade das
partes, quando autorizado por lei. Cuida-se do exercício de um direito potestativo. A resilição pode
ser unilateral ou bilateral);
d) extensão por morte no caso de contrato pessoal.
144

10.8. CONTRATOS EM ESPÉCIE

10.8.1. Compra e Venda Mercantil

Regulada, basicamente, pelos artigos 481 e seguintes do Código Civil. Há, também, a
Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias
(CISG), e os seguintes decretos: Decreto Legislativo n. 538/2012 e Decreto Presidencial n.
8.327/2014.

10.8.2. Prestação de Serviços

O contrato de prestação de serviços esta regulado nos artigos 593 a 609 do Código Civil. A
disciplina do Código Civil, no entanto, é subsidiária e só será utilizada se a prestação dos serviços
não estiver regulada por legislações especiais, inclusive de ordem trabalhista.

10.8.3. Contratos Bancários (Conta-Corrente, Abertura de Crédito)

Os contratos bancários são aqueles nos quais há pelo menos uma instituição financeira entre
os contratantes. Os principais contratos bancários são:
a) depósito bancário;
b) mútuo feneratício;
c) financiamento;
d) conta-corrente;
e) abertura de crédito ou cheque especial;
f) cartão-de crédito;
g) aval bancário;
h) fiança bancária;
i) desconto bancário;
j) securitização de créditos, entre outros.
Sobre contratos bancários merecem destaque os seguintes enunciados das súmulas do STJ:
Súmula 297 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras.
Súmula 381 do STJ: Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da
abusividade das cláusulas.
145

Súmula 479 do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos


gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de
operações bancárias.
Súmula 550 do STJ: A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação de
risco que não constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor, que terá o direito
de solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais valoradas e as fontes dos dados
considerados.
Sobre o contrato de contracorrente, merecem destaque os seguintes enunciados da súmula do
STJ:
Súmula 259: A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta corrente
bancária.
Súmula 247 do mesmo tribunal: O contrato de abertura de crédito em conta corrente,
acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação
monitória.
Súmula 300 do STJ expressa que: O instrumento de confissão de dívida, ainda que
originário de contrato de abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial.
Especificamente sobre o contrato de abertura de Crédito, merecem atenção os seguintes
enunciados da súmula do STJ:
Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato de
c conta corrente, não é título executivo
Súmula 258 do STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza
de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.
Súmula 382: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não
indica abusividade.
Súmula 477 do STJ: “A decadência do art. 26 do CDC não é aplicável à prestação de contas
para obter esclarecimentos sobre cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários”.
Súmula 530: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros
efetivamente contratada – por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos
autos –, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo BACEN, praticada nas operações da
mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.
Súmula 541: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo
da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.
Súmula 565: A pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê
(TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida apenas nos contratos bancários
anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30-4-2008.
146

Súmula 566: Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução- CMN
n. 3.518/2007, em 30-4-2008, pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento
entre o consumidor e a instituição financeira.

10.8.4. Arrendamento Mercantil Ou Leasing

Regulado pelas leis 6099/74 e 11649/08, o leasing, basicamente representa com contrato de
locação, com opção de compra ao final. O leasing pode ser: Financeiro, operacional, lease-back e
self leasing. Como regra geral, o prazo de duração é de: no mínimo 2 anos para bens com vida útil
de até 5 anos; no mínimo 3 anos para bens com vida útil superior a 5 anos; no mínimo 90 dias para
o leasing operacional (art. 8º da Resolução n. 2.309/96).

10.8.5. Alienação Fiduciária em Garantia

É um contrato que instrumentaliza contratos de mútuo ou financiamento, mediante a entrega


de bens como garantia. A alienação fiduciária pode ter por objeto bens móveis (Lei n. 4.728/65, art.
66-B) ou bens imóveis (Lei n. 9.514/97, arts. 22 e s., além do Decreto-lei n. 911/69).

10.8.6. Factoring

O contrato de factoring, utilizado para que o empresário possa contar com colaborações na
gestão dos seus créditos, pode assumir duas formas:
a) conventional factoring (com antecipação de recebíveis); e
b) maturity factoring (sem antecipação de recebíveis).

10.8.7. Franquia

Está, basicamente previsto na lei 8955/94, sobretudo no ponto que prevê a apresentação da
Circular de Oferta de Franquia, com antecedência de 10 dias da assinatura do contrato.

10.8.8. Concessão mercantil

É regulada pela lei 6729/79, e tem por objeto a compra e venda de veículos automotores
terrestres, envolvendo concedentes e concessionários.
147

10.8.9. Comissão Mercantil

A comissão está disciplinada nos artigos 693 e seguintes do Código Civil - é o contrato pelo
qual o comissário se obriga a praticar atos (compra ou venda) por conta do comitente empresário,
porém em nome próprio.

10.8.10. Agência e distribuição

A agência e a distribuição estão tratadas nos artigos 710 e seguintes do Código Civil -
Agência é o acordo pelo qual uma pessoa assume, de forma permanente, mas sem vínculo de
dependência, a obrigação de promover negócios em uma região determinada, a conta da parte
contrária, mediante remuneração (CC, art. 710, caput, 1ª parte). Já a distribuição ocorre quando,
além do descrito acima, o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada (CC, art. 710, caput,
in fine).

10.8.11. Representação comercial autônoma

Este contrato está disciplinado na Lei 4886/65.


O representante comercial autônomo é um empresário, pessoa física ou jurídica, que, sem
relação de emprego, desempenha, em caráter não eventual, por conta de uma ou mais pessoas, a
mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para,
transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios.
O representante deverá se dedicar à representação, de modo a expandir os negócios do
representado e promover os seus produtos.

10.8.12. Seguro e resseguro

Esses contratos estão disciplinados nos artigos 710 e seguintes do Código Civil, no Decreto-
lei 73/66 (seguros), e na Lei Complementar 126/07 (resseguros).
Para a compreensão doutrinária mais aprofundada do tema, convém conhecer o teor dos
seguintes enunciados das Jornadas de Direito Comercial do CJF:
Enunciado número 21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado,
tendo em vista a simetria natural das relações interempresariais.
148

Enunciado número 23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer


parâmetros objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto
contratual.
Enunciado número 24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por
unidade de interesses econômicos, permitem a arguição da exceção de contrato não cumprido, salvo
quando a obrigação inadimplida for de escassa importância.
Enunciado número 25. A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código
Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se
presumir a sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.
Enunciado número 26. O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta
prejuízo a direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da
relação negocial.
Enunciado número 27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante
as negociações do contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar a prestação de
informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar em risco a
competitividade de sua atividade.
Enunciado número 28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem
exercer sua atividade, os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada
na inexperiência.
Enunciado número 29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social
do contrato e a boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as
especificidades dos contratos empresariais.
Enunciado número 30. Nos contratos de shopping center, a cláusula de fiscalização das
contas do lojista é justificada desde que as medidas fiscalizatórias não causem embaraços à
atividade do lojista.
Enunciado número 32. Nos contratos de prestação de serviços nos quais as partes
contratantes são empresários e a função econômica do contrato está relacionada com a exploração
de atividade empresarial, as partes podem pactuar prazo superior a quatro anos, dadas as
especificidades da natureza do serviço a ser prestado, sem constituir violação do disposto no art.
598 do Código Civil.
Enunciado número 33. Nos contratos de prestação de serviços nos quais as partes
contratantes são empresários e a função econômica do contrato está relacionada com a exploração
de atividade empresarial, é lícito às partes contratantes pactuarem, para a hipótese de denúncia
imotivada do contrato, multas superiores àquelas previstas no art. 603 do Código Civil.
149

Enunciado número 34. Com exceção da garantia contida no artigo 618 do Código Civil, os
demais artigos referentes, em especial, ao contrato de empreitada (arts. 610 a 626) aplicar-se-ão
somente de forma subsidiária às condições contratuais acordadas pelas partes de contratos
complexos de engenharia e construção, tais como EPC, EPC-M e Aliança.
Enunciado número 35. Não haverá revisão ou resolução dos contratos de derivativos por
imprevisibilidade e onerosidade excessiva (arts. 317 e 478 a 480 do Código Civil).
Enunciado número 36. O pagamento da comissão, no contrato de corretagem celebrado
entre empresários, pode ser condicionado à celebração do negócio previsto no contrato ou à
mediação útil ao cliente, conforme os entendimentos prévios entre as partes. Na ausência de ajuste
ou previsão contratual, o cabimento da comissão deve ser analisado no caso concreto, à luz da boa-
fé objetiva e da vedação ao enriquecimento sem causa, sendo devida se o negócio não vier a se
concretizar por fato atribuível exclusivamente a uma das partes.
Enunciado número 37. Aos contratos de transporte aéreo internacional celebrados por
empresários aplicam-se as disposições da Convenção de Montreal e a regra da indenização tarifada
nela prevista (art. 22 do Decreto n. 5.910/2006).
Enunciado número 38. É devida devolução simples, e não em dobro, do valor residual
garantido (VRG) em caso de reintegração de posse do bem objeto de arrendamento mercantil
celebrado entre empresários.
Enunciado número 67.Na locação built to suit (construído para servir, ou de construção
ajustada), é válida a estipulação contratual que estabeleça cláusula penal compensatória equivalente
à totalidade dos alugueres a vencer, sem prejuízo da aplicação do art. 416, parágrafo único, do
Código Civil5.
Enunciado número 68.No contrato de comissão com cláusula del credere, responderá
solidariamente com o terceiro contratante o comissário que tiver cedido seus direitos ao comitente,
nos termos da parte final do art. 694 do Código Civil6.

5Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo. Parágrafo único. Ainda que o prejuízo
exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver
sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

6Art.
694. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com quem contratar, sem que estas tenham ação contra o
comitente, nem este contra elas, salvo se o comissário ceder seus direitos a qualquer das partes
150

QUESTÕES

QUESTÃO 1. Assinale a alternativa incorreta:


A ) Considera-se arrendamento mercantil o negócio jurídico realizado entre pessoa
física ou jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de
arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,
segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.
B) Considera-se arrendamento mercantil o negócio jurídico realizado entre pessoa
jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de
arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,
segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.
C) A aquisição de debêntures emitidas por sociedades de arrendamento mercantil em
mercado primário ou secundário constitui obrigação de natureza cambiária, não
caracterizando operação de empréstimo ou adiantamento.
D) Dos contratos de arrendamento mercantil deverão constar, dentre outras
informações: o prazo do contrato; o valor de cada contraprestação por períodos
determinados, não superiores a um semestre; a opção de compra ou renovação de contrato,
como faculdade do arrendatário; e o preço para opção de compra ou critério para sua
fixação, quando for estipulada esta cláusula.

A) INCORRETA: Lei 6099/74 - Art 1º O tratamento tributário das operações de


arrendamento mercantil reger-se-á pelas disposições desta Lei. Parágrafo único -
Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico
realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica,
na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos
pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. Art 2º
Não terá o tratamento previsto nesta Lei o arrendamento de bens contratado entre pessoas
jurídicas direta ou indiretamente coligadas ou interdependentes, assim como o contratado
com o próprio fabricante. § 1º O Conselho Monetário Nacional especificará em
regulamento os casos de coligação e interdependência. § 2º Somente farão jus ao
tratamento previsto nesta Lei as operações realizadas ou por empresas arrendadoras que
fizerem dessa operação o objeto principal de sua atividade ou que centralizarem tais
operações em um departamento especializado com escrituração própria. Art 3º Serão
escriturados em conta especial do ativo imobilizado da arrendadora os bens destinados a
arrendamento mercantil.
151

Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
20. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre
empresários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para sua
atividade de produção, comércio ou prestação de serviços.
21. Nos contratos empresariais, o dirigismo contratual deve ser mitigado, tendo em vista a
simetria natural das relações interempresariais.
22. Não se presume solidariedade passiva (art. 265 do Código Civil) pelo simples fato de
duas ou mais pessoas jurídicas integrarem o mesmo grupo econômico.
23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer parâmetros
objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do pacto contratual.
24. Os contratos empresariais coligados, concretamente formados por unidade de interesses
econômicos, permitem a arguição da exceção de contrato não cumprido, salvo quando a
obrigação inadimplida for de escassa importância.
25. A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código Civil deve levar em
conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais, deve-se presumir a
sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles acordada.
26. O contrato empresarial cumpre sua função social quando não acarreta prejuízo a
direitos ou interesses, difusos ou coletivos, de titularidade de sujeitos não participantes da
relação negocial.
27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante as negociações do
contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou administrar a prestação de
informações reservadas, confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar em
risco a competitividade de sua atividade.
28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer sua atividade, os
contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da lesão fundada na
inexperiência.
29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do contrato e a
boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as especificidades
dos contratos empresariais.
152

32. Nos contratos de prestação de serviços nos quais as partes contratantes são
empresários e a função econômica do contrato está relacionada com a exploração de
atividade empresarial, as partes podem pactuar prazo superior a quatro anos, dadas as
especificidades da natureza do serviço a ser prestado, sem constituir violação do disposto
no art. 598 do Código Civil.
33. Nos contratos de prestação de serviços nos quais as partes contratantes são
empresários e a função econômica do contrato está relacionada com a exploração de
atividade empresarial, é lícito às partes contratantes pactuarem, para a hipótese de
denúncia imotivada do contrato, multas superiores àquelas previstas no art. 603 do Código
Civil.
35. Não haverá revisão ou resolução dos contratos de derivativos por imprevisibilidade e
onerosidade excessiva (arts. 317 e 478 a 480 do Código Civil).
38. É devida devolução simples, e não em dobro, do valor residual garantido (VRG) em
caso de reintegração de posse do bem objeto de arrendamento mercantil celebrado entre
empresários.
67. Na locação built to suit, é válida a estipulação contratual que estabeleça cláusula penal
compensatória equivalente à totalidade dos alugueres a vencer, sem prejuízo da aplicação
do art. 416, parágrafo único, do Código Civil.
68. No contrato de comissão com cláusula del credere, responderá solidariamente com o
terceiro contratante o comissário que tiver cedido seus direitos ao comitente, nos termos da
parte final do art. 694 do Código Civil.
B) CORRETA: Lei 6099/74 - Art 1º O tratamento tributário das operações de arrendamento
mercantil reger-se-á pelas disposições desta Lei. Parágrafo único - Considera-se
arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa
jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de
arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,
segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. Art 2º Não terá o
tratamento previsto nesta Lei o arrendamento de bens contratado entre pessoas jurídicas
direta ou indiretamente coligadas ou interdependentes, assim como o contratado com o
próprio fabricante. § 1º O Conselho Monetário Nacional especificará em regulamento os
casos de coligação e interdependência. § 2º Somente farão jus ao tratamento previsto nesta
Lei as operações realizadas ou por empresas arrendadoras que fizerem dessa operação o
objeto principal de sua atividade ou que centralizarem tais operações em um departamento
especializado com escrituração própria. Art 3º Serão escriturados em conta especial do
ativo imobilizado da arrendadora os bens destinados a arrendamento mercantil.
153

Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
C) CORRETA: Lei 6099/74
Art. 8o O Conselho Monetário Nacional poderá baixar resolução disciplinando as
condições segundo as quais as instituições financeiras poderão financiar suas controladas,
coligadas ou interdependentes que se especializarem em operações de arrendamento
mercantil. (Redação dada pela Lei nº 11.882, de 2008)
Parágrafo único. A aquisição de debêntures emitidas por sociedades de arrendamento
mercantil em mercado primário ou secundário constitui obrigação de natureza cambiária,
não caracterizando operação de empréstimo ou adiantamento.
Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
D) CORRETA: Lei 6099/74 -
Art 5º Os contratos de arrendamento mercantil conterão as seguintes disposições:
a) prazo do contrato;
b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a um
semestre;
c) opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário;
d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for estipulada esta
cláusula.
Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede – Manual
de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial (2017);
André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito Empresarial
Sistematizado (2018).
GABARITO: A

QUESTÃO 2: De acordo com a lei que regula as atividades dos representantes


comerciais autônomos, assinale a alternativa incorreta.
A) não pode ser representante comercial quem não pode ser comerciante.
B) não pode ser representante comercial quem estiver com atraso no pagamento da
anuidade do registro comercial.
154

C) não pode ser representante comercial o falido não reabilitado.


D) não pode ser representante comercial quem tenha sido condenado por infração penal de
natureza infamante, tais como falsidade, estelionato, apropriação indébita, contrabando, roubo,
furto, lenocínio ou crimes também punidos com a perda de cargo público.

A alternativa incorreta é a letra B. Conforme indicado no art 4º da lei 4886/65, não pode
ser representante comercial:
a) o que não pode ser comerciante;
b) o falido não reabilitado;
c) o que tenha sido condenado por infração penal de natureza infamante, tais como
falsidade, estelionato, apropriação indébita, contrabando, roubo, furto, lenocínio ou crimes
também punidos com a perda de cargo público;
d) o que estiver com seu registro comercial cancelado como penalidade.
GABARITO: B

QUESTÃO 3: Considerando as disposições da lei que regula a concessão mercantil,


assinale a alternativa incorreta.
A) Constitui objeto de concessão mercantil a comercialização de veículos automotores,
implementos e componentes fabricados ou fornecidos pelo produtor.
B) Constitui objeto de concessão mercantil a prestação de assistência técnica a esses
produtos, inclusive quanto ao seu atendimento ou revisão.
C) Constitui objeto de concessão mercantil o uso gratuito de marca do concedente, como
identificação.
D) Constitui objeto de concessão mercantil a comercialização de veículos automotores,
aeronaves, implementos e componentes fabricados ou fornecidos pelo produtor.

A alternativa incorreta é a letra D. De acordo com o art. 3º da lei 6729/79, que regula a
concessão mercantil, constitui objeto de concessão:
I - a comercialização de veículos automotores, implementos e componentes fabricados ou
fornecidos pelo produtor;
Il - a prestação de assistência técnica a esses produtos, inclusive quanto ao seu atendimento
ou revisão; e
III - o uso gratuito de marca do concedente, como identificação.
GABARITO: D
155

11. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

11.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

A falência e a recuperação (judicial e extrajudicial) estão reguladas, basicamente, na lei n.


11.101/05.
De acordo com o artigo 75 da LFRE, a falência, ao promover o afastamento do devedor de
suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa.
A falência e a recuperação judicial se orientam pelos seguintes princípios:
a) o princípio da preservação da empresa;
b) o princípio da maximização dos ativos;
c) princípio par conditio creditorum.
Pressupostos da falência:
a) devedor empresário;
b) insolvência (econômico financeira ou jurídica); e
c) sentença declaratória.
Fases do processo falimentar:
a) fase pré-falimentar, que se inicia com o pedido e vai até sentença declaratória de falência;
b) fase falimentar, que vai da decretação da falência até a reabilitação do falido; e
c) fase pós-falimentar, que se inicia com a reabilitação do falido.

11.2. SUJEITOS ATIVOS DA FALÊNCIA

De acordo com o art. 97 da LFRE, podem requerer a falência do devedor:


a) o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 da LFRE;
b) o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
c) o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; e
d) qualquer credor.
O empresário irregular não pode requerer falência de outro empresário, embora possa
requerer a sua própria falência. Isso porque o credor empresário que pretenda pedir falência de
outro empresário deve apresentar certidão do Registro Público de Empresas que comprove a
regularidade de suas atividades.
156

Caso o sujeito ativo da falência seja um credor que não tiver domicílio no Brasil ele deverá
prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização (prevista no art. 101 da LFRE).

11.3. SUJEITOS PASSIVOS DA FALÊNCIA

Alguns sujeitos estão totalmente excluídos da incidência da LFRE. São eles:


a) os não empresários, inclusive as cooperativas e os sujeitos que exercem atividades rurais,
sem registro na Junta Comercial;
b) as empresas públicas e as sociedades de economia mista, nos termos do art. 2º da LFRE;
c) as câmaras ou prestadoras de serviços de compensação e de liquidação financeira,
conforme o art. 193 da LFRE; e
d) as entidades fechadas de previdência complementar, conforme previsto no artigo 47 da
LC 109/2001.
Outros sujeitos são parcialmente excluídos da incidência da LFRE. Estes sujeitos
inicialmente se submetem a procedimentos próprios para superação de crises. Caso os
procedimentos específicos não sejam eficazes para a superação das crises, subsidiariamente, eles
poderão ser decretados falidos, nos termos da LFRE. São os seguintes:
a) instituição financeira pública ou privada;
b) cooperativa de crédito;
c) consórcios;
d) entidades abertas de previdência complementa;
e) sociedade operadora de plano de assistência à saúde;
f) sociedade seguradora; e
g) sociedade de capitalização.

11.4. COMPETÊNCIA NA FALÊNCIA E NA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

De acordo com o art. 3º da LFRE, é competente para homologar o plano de recuperação


extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal
estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
Considera-se principal o estabelecimento que se situa no local em que o empresário possui o
maior volume de créditos.
157

11.5. JUÍZO UNIVERSAL

Fixada a competência, opera-se a atratividade do juízo falimentar. Nesse caso, como regra, o
juízo falimentar será competente para conhecer, processar e julgar todas as ações que envolvam o
falido.
Algumas demandas, no entanto, excepcionalmente, continuam tramitando nos juízos de
origem. De acordo com o artigo 76 da LFRE, não serão encaminhadas para o juízo falimentar as
demandas:
a) em que a massa falida autora ou litisconsorte ativa;
b) que contenham reclamações trabalhistas;
c) de execuções tributárias e de créditos inscritos na dívida ativa;
d) de competência da Justiça Federal por interesse da União; e
e) que contenham pretensão com obrigação ilíquida.

11.6. FUNDAMENTOS DO PEDIDO, RESPOSTA E DEPÓSITO ELISIVO

11.6.1. Fundamentos do pedido

O pedido de falência poderá ter por fundamento uma das hipóteses assinaladas no art. 94 da
LFRE.
Assim, poderá ser decretada a falência do devedor empresário que: a) sem relevante razão de
direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido
de falência; b) executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal; e c) pratica atos de falência não incluídos no plano
de recuperação judicial:
Pratica ato de falência o empresário que:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou
fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou
fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro,
credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os
credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
158

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a


legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens
livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os
credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de
seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação
judicial.

11.6.2. Resposta

Recebida a petição inicial, o juiz determinará a realização da citação do falido, para


apresentar resposta no prazo de 10 dias.
De acordo com o art. 98 da LFRE, citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo
de 10 (dez) dias.
Já o art. 95 prevê que, dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua
recuperação judicial.

11.6.3. Depósito Elisivo

Caso o pedido não tenha por fundamento a prática de ato de falência, no prazo para a
resposta o requerido poderá afastar a pretensão do requerente pela realização do depósito elisivo. O
deposito elisivo deverá corresponder ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e
honorários advocatícios.

11.7. SENTENÇA

Se for o caso o juiz decretará a falência do devedor empresário.


A sentença declaratória de falência poderá ser impugnada pela interposição de agravo de
instrumento, no prazo de 10 dias.
O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que decreta a falência e
a relação de credores. A sentença:
159

I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse
tempo seus administradores;
II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias
contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do primeiro protesto por falta
de pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;
III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal
dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos, se
esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;
IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito;
V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as
exceções legais;
VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido,
submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os bens
cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação provisória nos
casos específicos; VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das
partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores quando
requerida com fundamento em provas da prática de crime definido na LFRE;
VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da falência no
registro do devedor, para que conste a expressão "Falido", a data da decretação da falência e a
inabilitação de que trata o art. 102 da LFRE;
IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do inciso
III do caput do art. 22 da LFRE;
X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras entidades
para que informem a existência de bens e direitos do falido;
XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido com o
administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109 da
LFRE;
XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembleia-geral de
credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do
Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da falência;
XIII – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas
Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para
que tomem conhecimento da falência.
160

11.8. COMITÊ DE CREDORES

De acordo com o artigo 26 da LFRE: O Comitê de Credores será constituído por


deliberação de qualquer das classes de credores na assembleia geral e terá a seguinte composição:
a) 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) suplentes;
b) 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou
privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes;
c) 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios
gerais, com 2 (dois) suplentes;
d) 1 (um) representante indicado pela classe de credores representantes de microempresas e
empresas de pequeno porte, com 2 (dois) suplentes.

11.9. DESENVOLVIMENTO DO PROCEDIMENTO PROCESSUAL

O curso procedimental está previsto, basicamente, nos artigos 104 e seguintes da LFRE.
Em síntese, a matéria está dividida da seguinte forma:
Deveres do falido – artigos 104 e seguintes da LFRE.
Arrecadação dos bens – artigos 108 e seguintes da LFRE.
Pedidos de restituição – artigos 85 e seguintes da LFRE.
Efeitos da decretação da falência sobre as obrigações do devedor – artigos 115 e seguintes
da LFRE.
Atos ineficazes – artigo 129 da LFRE.
Atos revogáveis – artigos 130 e seguintes da LFRE.
Realização do ativo – artigos 139 e seguintes da LFRE.
Pagamento do passivo – artigo 149, nos termos do artigo 83 da LFRE.
Encerramento da falência e extinção das obrigações e reabilitação do falido – art. 154 e
seguintes da LFRE.

11.10. ORDEM DE PAGAMENTO DOS CRÉDITOS NA FALÊNCIA

De acordo com as indicações do artigo 83 da LFRE, os créditos serão pagos na seguinte


ordem:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 salários-mínimos por
credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
161

II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;


III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição,
excetuadas as multas tributárias;
IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 do CC; b) definidos
em outras leis; c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em
garantia; d) aqueles em favor dos ME e EPP da LC 123/2006.
V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 do CC; b) créditos
quirografários sujeitos à recuperação judicial pertencentes a fornecedores de bens ou serviços que
continuarem a provê-los normalmente após o pedido de recuperação judicial; c) definidos em outras
leis.
VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste
artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu
pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite
estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, inclusive as multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os
créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício
Os créditos com privilégio especial, indicados no artigo 964 do Código Civil, são os
seguintes:
I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a
arrecadação e liquidação;
II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento;
III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis;
IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras
construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou
melhoramento;
V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à
colheita;
VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor
de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior;
VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus
legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição;
162

VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e
precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida
dos seus salários.
IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais. (Incluído pela Lei nº 13.176, de
2015)
Os créditos com privilégio geral, indicados no artigo 965 do Código Civil, são os seguintes:
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do
lugar;
II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa;
III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor
falecido, se foram moderadas;
IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à
sua morte;
V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no
trimestre anterior ao falecimento;
VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior;
VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus
derradeiros seis meses de vida;
VIII - os demais créditos de privilégio geral.

11.11. RECUPERAÇÃO DE EMPRESA EM CRISE (RECUPERAÇÃO JUDICIAL E


RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL)

11.11.1. Requisitos

Conforme previsto no art. 48 da LFRE, poderá requerer recuperação judicial o devedor que,
no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda
aos seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado,
as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base
no plano especial destinado às micro e pequenas empresas;
163

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos na LFRE.

11.11.2. Meios de Recuperação Judicial

O art. 50 da LFRE aponta, num rol não exaustivo, alguns meios de recuperação judicial.
Nesse sentido, o empresário que pretende a recuperação judicial poderá adotar os seguintes meios
para superar a crise:
I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou
vincendas;
II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária
integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação
vigente;
III – alteração do controle societário;
IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus
órgãos administrativos;
V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de poder
de veto em relação às matérias que o plano especificar;
VI – aumento de capital social;
VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos
próprios empregados;
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva;
IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de
garantia própria ou de terceiro;
X – constituição de sociedade de credores;
XI – venda parcial dos bens;
XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo
como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive
aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação específica;
XIII – usufruto da empresa;
XIV – administração compartilhada;
XV – emissão de valores mobiliários;
XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos
créditos, os ativos do devedor.
164

11.11.3. Créditos Não Abrangidos Pela Recuperação Judicial

Não são abrangidos pela recuperação judicial os seguintes créditos:


a) créditos de natureza tributária (LFRE, art. 57 e CTN, art. 187);
b) créditos dos credores do devedor (em recuperação judicial) contra os coobrigados,
fiadores e obrigados de regresso (LFRE, art. 49, § 1º);
c) créditos decorrentes de importâncias entregues ao devedor como adiantamento em
contrato de câmbio para exportação (LFRE, art. 49, § 4º e art. 86, II);
d) créditos do arrendador mercantil, do proprietário fiduciário, do promitente vendedor de
imóvel com cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, bem como do proprietário em contrato
de venda com reserva de domínio (LFRE, art. 49, § 3º).

11.11.4. Petição Inicial da Recuperação Judicial

Nos termos do art. 51 da LFRE, a petição inicial de recuperação judicial será instruída,
necessariamente, com:
I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da
crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as
levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da
legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou
de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do
crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos
registros contábeis de cada transação pendente;
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários,
indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a
discriminação dos valores pendentes de pagamento;
165

V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo


atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do
devedor;
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações
financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores,
emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do
devedor e naquelas onde possui filial;
IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como
parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados.

11.11.5. Plano de Recuperação Judicial

O plano de recuperação judicial, conforme determinado pelo artigo 53 da LFRE, será


apresentado pelo devedor ao juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias, contados da
publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação
em falência.
O plano deverá contar, necessariamente:
a) discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados e seu resumo;
b) demonstração de sua viabilidade econômica; e
c) laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por
profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.
Conforme ressalva do artigo 54 da LFRE, o plano de recuperação judicial não poderá prever
prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.
O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o
limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza estritamente salarial
vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de recuperação judicial.
O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do
plano de recuperação e fixará prazo para a manifestação de eventuais objeções.
166

11.11.6. Procedimento da Recuperação Judicial

O procedimento da recuperação judicial está previsto, basicamente, nos artigos 55 a 59 da


LFRE.
Cumpridas as exigências legais, conforme indicado no artigo 58 da LFRE, o juiz concederá
a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor ou tenha sido
aprovado pela assembleia-geral de credores, na forma do art. 45 desta LFRE.
Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores
referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.
Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta deverá
ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à
assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.
Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada
pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito.
O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quórum
de deliberação se o plano de recuperação judicial não alterar o valor ou as condições originais de
pagamento de seu crédito.
Art. 46. A aprovação de forma alternativa de realização do ativo na falência, prevista no art.
145 desta Lei, dependerá do voto favorável de credores que representem 2/3 (dois terços) dos
créditos presentes à assembleia.
Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de credores:
I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de
trabalho;
II – titulares de créditos com garantia real;
III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou
subordinados.
IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte.
O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação
na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembleia, tenha obtido, de forma cumulativa:
a) o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os
créditos presentes à assembleia, independentemente de classes;
b) a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso
haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas;
e
167

c) na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores,
computados na forma dos §§ 1o e 2o do art. 45 desta Lei.

11.11.7. Plano de Recuperação Judicial para Microempresas e Empresas de Pequeno Porte

Nos artigos 70 a 72 da LFRE, há previsão de um plano de recuperação específico para as


microempresas e empresas de pequeno porte.
Este plano, cujo pedido não acarreta a suspensão do curso da prescrição nem das ações e
execuções por créditos não abrangidos por ele, limita-se às seguintes condições:
a) abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos,
excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do
art. 49 da LFRE;
b) preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas,
acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC,
podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas;
c) preverá o pagamento da 1a (primeira) parcela no prazo máximo de 180 (cento e oitenta)
dias, contado da distribuição do pedido de recuperação judicial; e d) estabelecerá a necessidade de
autorização do juiz, após ouvido o administrador judicial e o Comitê de Credores, para o devedor
aumentar despesas ou contratar empregados.

11.11.8. Convolação da Recuperação Judicial em Falência

A falência poderá ser decretada durante o processo de recuperação judicial, nos termos do
artigo 73 da LFRE, nas seguintes hipóteses:
a) por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 da LFRE;
b) pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 da
LFRE;
c) quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4º do art. 56 da
LFRE; e
d) por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma
do § 1º do art. 61 da LFRE.
A despeito dessas ponderações, nada impede a decretação da falência por inadimplemento
de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos do artigo 94 da LFRE.
168

Convém lembrar que, conforme indicado no artigo 74 da LFRE, na convolação da


recuperação em falência, os atos de administração, endividamento, oneração ou alienação
praticados durante a recuperação judicial presumem-se válidos, desde que realizados na forma da
lei.

11.12. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

A recuperação extrajudicial está prevista, basicamente nos artigos 161 a 167 da LFRE.
A recuperação extrajudicial objetiva contratar dilação no prazo dos pagamentos ou
diminuição dos valores, no plano privado, com homologação judicial.
Os requisitos, indicados nos artigos 48, 162 e 163 da LFRE são os seguintes:
a) o requerente precisa não ser falido e, se o foi, devem ter sido declaradas extintas, por
sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
b) o requerente não pode ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial, inclusive se for o caso de pedido de recuperação especial para microempresas e empresas
de pequeno porte;
c) o requerente deve apresentar justificativa para o pedido, com exposição da crise;
d) o requerente deve apresentar por documentos as condições e as assinaturas dos credores
aderentes;
e) o requerente deve fazer a exposição da sua situação patrimonial;
f) o requerente deve apresentar demonstrações contábeis do último exercício social,
levantadas especialmente para instruir o pedido; e
g) o requerente deve apresentar relação nominal completa de credores, discriminando a
natureza dos respectivos créditos.
Caso não tenha obtenha a anuência de todos os seus credores, o requerente devedor, nos
termos do art. 163 da LFRE, poderá, também, requerer a homologação de plano de recuperação
extrajudicial que obriga a todos os credores por ele abrangidos, desde que assinado por credores que
representem mais de 3/5 (três quintos) de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos

11.12.1. Créditos não Sujeitos á Recuperação Extrajudicial

Não estão sujeitos à recuperação extrajudicial os seguintes créditos:


169

a) trabalhistas e acidentários – acidente do trabalho (LFRE, art. 161, § 1º); De forma diversa,
na recuperação judicial, esses dois tipos de créditos podem fazer parte do plano; tributários (LFRE,
art. 161, § 1º);
c) do arrendador mercantil (contrato de leasing), do proprietário fiduciário, do promitente
vendedor de imóvel cujos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, do
proprietário em contrato de venda com reserva de domínio (LFRE, art. 49, § 3º); e
d) decorrentes de importâncias entregues ao devedor como adiantamento em contrato de
câmbio para exportação (LFRE, art. 49, § 4º, c/c art. 86, inc. II).

11.12.2. Procedimento da Recuperação Extrajudicial

O procedimento da recuperação judicial está previsto, basicamente, no art. 164 da LFRE.


De acordo com o mencionado dispositivo, recebido o pedido de homologação do plano de
recuperação extrajudicial o juiz ordenará a publicação de edital convocando todos os credores do
devedor para apresentação de suas impugnações ao plano
No prazo do edital, deverá o devedor comprovar o envio de carta a todos os credores sujeitos
ao plano, domiciliados ou sediados no país, informando a distribuição do pedido, as condições do
plano e prazo para impugnação.
Os credores terão prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do edital, para
impugnarem o plano, juntando a prova de seu crédito.
Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5 (cinco) dias para que o devedor sobre
ela se manifeste.
Esgotado este prazo, os autos serão conclusos imediatamente ao juiz para apreciação de
eventuais impugnações e decidirá, no prazo de 5 (cinco) dias, acerca do plano de recuperação
extrajudicial.
O plano será homologado por sentença se o juiz entender que estão presentes os requisitos e
não há óbice legal.
Se o juiz notar que há prova de simulação de créditos ou vício de representação dos credores
que subscreverem o plano indeferirá o pedido.
Da sentença proferida nesses casos cabe recurso de apelação, sem efeito suspensivo.
Caso não haja homologação do plano, o devedor poderá, cumpridas as formalidades,
apresentar novo pedido.
Sobre a crise da empresa, merecem destaque os seguintes enunciados das Jornadas de
Direito Comercial do CJF:
170

Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 42. O prazo de suspensão
previsto no art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005 pode excepcionalmente ser prorrogado, se o
retardamento do feito não puder ser imputado ao devedor.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 43. A suspensão das ações e
execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende aos coobrigados do devedor.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 44. A homologação de plano
de recuperação judicial aprovado pelos credores está sujeita ao controle judicial de legalidade.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 45. O magistrado pode
desconsiderar o voto de credores ou a manifestação de vontade do devedor, em razão de abuso de
direito.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 46. Não compete ao juiz
deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a extrajudicial com fundamento na
análise econômico-financeira do plano de recuperação aprovado pelos credores.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 47. Nas alienações realizadas
nos termos do art. 60 da Lei n. 11.101/2005, não há sucessão do adquirente nas dívidas do devedor,
inclusive nas de natureza tributária, trabalhista e decorrentes de acidentes de trabalho.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 48. A apuração da
responsabilidade pessoal dos sócios, controladores e administradores feita independentemente da
realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, prevista no art. 82 da Lei
n. 11.101/2005, não se refere aos casos de desconsideração da personalidade jurídica.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 49. Os deveres impostos pela
Lei n. 11.101/2005 ao falido, sociedade limitada, recaem apenas sobre os administradores, não
sendo cabível nenhuma restrição à pessoa dos sócios não administradores.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 50. A extensão dos efeitos da
quebra a outras pessoas jurídicas e físicas confere legitimidade à massa falida para figurar nos polos
ativo e passivo das ações nas quais figurem aqueles atingidos pela falência.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 51. O saldo do crédito não
coberto pelo valor do bem e/ou da garantia dos contratos previstos no § 3º do art. 49 da Lei n.
11.101/2005 é crédito quirografário, sujeito à recuperação judicial.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 52. A decisão que defere o
processamento da recuperação judicial desafia agravo de instrumento.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 53. A assembleia geral de
credores para deliberar sobre o plano de recuperação judicial é una, podendo ser realizada em uma
ou mais sessões, das quais participarão ou serão considerados presentes apenas os credores que
firmaram a lista de presença encerrada na sessão em que instalada a assembleia geral.
171

Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 54. O deferimento do


processamento da recuperação judicial não enseja o cancelamento da negativação do nome do
devedor nos órgãos de proteção ao crédito e nos tabelionatos de protestos.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 55. O parcelamento do crédito
tributário na recuperação judicial é um direito do contribuinte, e não uma faculdade da Fazenda
Pública, e, enquanto não for editada lei específica, não é cabível a aplicação do disposto no art. 57
da Lei n. 11.101/2005 e no art.191-A do CTN.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 56. A Fazenda Pública não
possui legitimidade ou interesse de agir para requerer a falência do devedor empresário.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 57. O plano de recuperação
judicial deve prever tratamento igualitário para os membros da mesma classe de credores que
possuam interesses homogêneos, sejam estes delineados em função da natureza do crédito, da
importância do crédito ou de outro critério de similitude justificado pelo proponente do plano e
homologado pelo magistrado.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 72. A legitimidade do
Ministério Público para propor e conduzir a ação de responsabilidade de que trata o art. 46 da Lei n.
6.024/1974 não cessa com a decretação da falência da instituição submetida a regime especial,
porquanto o art. 47 da mencionada lei foi revogado tacitamente pelo art. 7º, II, da Lei n. 9.447/1997.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 73. Para que seja preservada a
eficácia do disposto na parte final do § 2º do artigo 6º da Lei n. 11.101/05, é necessário que, no
juízo do trabalho, o crédito trabalhista para fins de habilitação seja calculado até a data do pedido da
recuperação judicial ou da decretação da falência, para não se ferir a par condicio creditorum e
observarem-se os arts. 49, “caput”, e 124 da Lei n. 11.101/2005.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 74. Embora a execução fiscal
não se suspenda em virtude do deferimento do processamento da recuperação judicial, os atos que
importem em constrição do patrimônio do devedor devem ser analisados pelo Juízo recuperacional,
a fim de garantir o princípio da preservação da empresa.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 75. Havendo convenção de
arbitragem, caso uma das partes tenha a falência decretada: (i) eventual procedimento arbitral já em
curso não se suspende e novo procedimento arbitral pode ser iniciado, aplicando-se, em ambos os
casos, a regra do art. 6º, § 1º, da Lei n. 11.101/2005; e (ii) o administrador judicial não pode recusar
a eficácia da cláusula compromissória, dada a autonomia desta em relação ao contrato.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 76. Nos casos de emissão de
títulos de dívida pela companhia recuperanda, na qual exista agente fiduciário ou figura similar
representando uma coletividade de credores, caberá ao agente fiduciário o exercício do voto em
172

assembleia-geral de credores, nos termos e mediante as autorizações previstas no documento de


emissão, ressalvada a faculdade de qualquer investidor final pleitear ao juízo da recuperação o
desmembramento do direito de voz e voto em assembleia para exercê-los individualmente,
unicamente mediante autorização judicial.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 77. As alterações do plano de
recuperação judicial devem ser submetidas à assembleia geral de credores, e a aprovação obedecerá
ao quórum previsto no art. 45 da Lei n. 11.101/05, tendo caráter vinculante a todos os credores
submetidos à recuperação judicial, observada a ressalva do art. 50, § 1º, da Lei n. 11.101/05, ainda
que propostas as alterações após dois anos da concessão da recuperação judicial e desde que ainda
não encerrada por sentença.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 78. O pedido de recuperação
judicial deve ser instruído com a relação completa de todos os credores do devedor, sujeitos ou não
à recuperação judicial, inclusive fiscais, para um completo e adequado conhecimento da situação
econômico-financeira do devedor.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 79. O requisito do inc. III do
§1º do art. 58 da Lei n. 11.101 aplica-se a todas as classes nas quais o plano de recuperação judicial
não obteve aprovação nos termos do art. 45 desta Lei.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 80. Para classificar-se credor,
em pedido de habilitação, como privilegiado especial, em razão do art. 83, IV, "d" da Lei de
Falências, exige-se, cumulativamente, que: (a) esteja vigente a LC 147/2014 na data em que
distribuído o pedido de recuperação judicial ou decretada a falência do devedor; (b) o credor faça
prova de que, no momento da distribuição do pedido de recuperação judicial ou da decretação da
falência, preenchia os requisitos legais para ser reconhecido como microempreendedor individual,
microempresa ou empresa de pequeno porte.
Enunciado das Jornadas de Direito Comercial do CJF número 81. Aplica-se à recuperação
judicial, no que couber, o princípio par condicio creditorum.
173

QUESTÕES
QUESTÃO 1. Assinale a alternativa incorreta.
A) Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que, entre outros requisitos, não seja
falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decorrentes.
B) Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que, entre outros requisitos, não
tenha, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial.
C) Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que, entre outros requisitos, não
tenha, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano
especial de que trata a Seção V deste Capítulo.
D) Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que, entre outros requisitos, não tenha
sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por
qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

A) CORRETA: Lei 11101/05 –


Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,
exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes
requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base
no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
174

(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
Confira os Enunciados das I e II Jornadas de Direito Comercial do Conselho da Justiça
Federal – CJF:
42. O prazo de suspensão previsto no art. 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005 pode
excepcionalmente ser prorrogado, se o retardamento do feito não puder ser imputado ao
devedor.
43. A suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se
estende aos coobrigados do devedor.
44. A homologação de plano de recuperação judicial aprovado pelos credores está sujeita
ao controle judicial de legalidade.
45. O magistrado pode desconsiderar o voto de credores ou a manifestação de vontade do
devedor, em razão de abuso de direito.
46. Não compete ao juiz deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a
extrajudicial com fundamento na análise econômico-financeira do plano de recuperação
aprovado pelos credores.
47. Nas alienações realizadas nos termos do art. 60 da Lei n. 11.101/2005, não há sucessão
do adquirente nas dívidas do devedor, inclusive nas de natureza tributária, trabalhista e
decorrentes de acidentes de trabalho.
48. A apuração da responsabilidade pessoal dos sócios, controladores e administradores
feita independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir
o passivo, prevista no art. 82 da Lei n. 11.101/2005, não se refere aos casos de
desconsideração da personalidade jurídica.
49. Os deveres impostos pela Lei n. 11.101/2005 ao falido, sociedade limitada, recaem
apenas sobre os administradores, não sendo cabível nenhuma restrição à pessoa dos sócios
não administradores.
50. A extensão dos efeitos da quebra a outras pessoas jurídicas e físicas confere
legitimidade à massa falida para figurar nos polos ativo e passivo das ações nas quais
figurem aqueles atingidos pela falência.
51. O saldo do crédito não coberto pelo valor do bem e/ou da garantia dos contratos
previstos no § 3º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005 é crédito quirografário, sujeito à
recuperação judicial.
52. A decisão que defere o processamento da recuperação judicial desafia agravo de
instrumento.
175

53. A assembleia geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação judicial é
una, podendo ser realizada em uma ou mais sessões, das quais participarão ou serão
considerados presentes apenas os credores que firmaram a lista de presença encerrada na
sessão em que instalada a assembleia geral.
54. O deferimento do processamento da recuperação judicial não enseja o cancelamento da
negativação do nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito e nos tabelionatos de
protestos.
55. O parcelamento do crédito tributário na recuperação judicial é um direito do
contribuinte, e não uma faculdade da Fazenda Pública, e, enquanto não for editada lei
específica, não é cabível a aplicação do disposto no art. 57 da Lei n. 11.101/2005 e no
art.191-A do CTN.
56. A Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse de agir para requerer a
falência do devedor empresário.
57. O plano de recuperação judicial deve prever tratamento igualitário para os membros da
mesma classe de credores que possuam interesses homogêneos, sejam estes delineados em
função da natureza do crédito, da importância do crédito ou de outro critério de similitude
justificado pelo proponente do plano e homologado pelo magistrado.
72. A legitimidade do Ministério Público para propor e conduzir a ação de
responsabilidade de que trata o art. 46 da Lei n. 6.024/1974 não cessa com a decretação da
falência da instituição submetida a regime especial, porquanto o art. 47 da mencionada lei
foi revogado tacitamente pelo art. 7º, II, da Lei n. 9.447/1997.
73. Para que seja preservada a eficácia do disposto na parte final do § 2º do artigo 6º da
Lei n. 11.101/05, é necessário que, no juízo do trabalho, o crédito trabalhista para fins de
habilitação seja calculado até a data do pedido da recuperação judicial ou da decretação
da falência, para não se ferir a par condicio creditorum e observarem-se os arts. 49,
“caput”, e 124 da Lei n. 11.101/2005.
74. Embora a execução fiscal não se suspenda em virtude do deferimento do processamento
da recuperação judicial, os atos que importem em constrição do patrimônio do devedor
devem ser analisados pelo Juízo recuperacional, a fim de garantir o princípio da
preservação da empresa.
75. Havendo convenção de arbitragem, caso uma das partes tenha a falência decretada: (i)
eventual procedimento arbitral já em curso não se suspende e novo procedimento arbitral
pode ser iniciado, aplicando-se, em ambos os casos, a regra do art. 6º, § 1º, da Lei n.
11.101/2005; e (ii) o administrador judicial não pode recusar a eficácia da cláusula
compromissória, dada a autonomia desta em relação ao contrato.
176

76. Nos casos de emissão de títulos de dívida pela companhia recuperanda, na qual exista
agente fiduciário ou figura similar representando uma coletividade de credores, caberá ao
agente fiduciário o exercício do voto em assembleia-geral de credores, nos termos e
mediante as autorizações previstas no documento de emissão, ressalvada a faculdade de
qualquer investidor final pleitear ao juízo da recuperação o desmembramento do direito de
voz e voto em assembleia para exercê-los individualmente, unicamente mediante
autorização judicial.
77. As alterações do plano de recuperação judicial devem ser submetidas à assembleia
geral de credores, e a aprovação obedecerá ao quorum previsto no art. 45 da Lei n.
11.101/05, tendo caráter vinculante a todos os credores submetidos à recuperação judicial,
observada a ressalva do art. 50, § 1º, da Lei n. 11.101/05, ainda que propostas as
alterações após dois anos da concessão da recuperação judicial e desde que ainda não
encerrada por sentença.
78. O pedido de recuperação judicial deve ser instruído com a relação completa de todos os
credores do devedor, sujeitos ou não à recuperação judicial, inclusive fiscais, para um
completo e adequado conhecimento da situação econômico-financeira do devedor.
79. O requisito do inc. III do §1º do art. 58 da Lei n. 11.101 aplica-se a todas as classes nas
quais o plano de recuperação judicial não obteve aprovação nos termos do art. 45 desta
Lei.
80. Para classificar-se credor, em pedido de habilitação, como privilegiado especial, em
razão do art. 83, IV, "d" da Lei de Falências, exige-se, cumulativamente, que: (a) esteja
vigente a LC 147/2014 na data em que distribuído o pedido de recuperação judicial ou
decretada a falência do devedor; (b) o credor faça prova de que, no momento da
distribuição do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, preenchia os
requisitos legais para ser reconhecido como microempreendedor individual, microempresa
ou empresa de pequeno porte.
81. Aplica-se à recuperação judicial, no que couber, o princípio da par condicio
creditorum.
B) CORRETA: Lei 11101/05 -
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,
exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes
requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
177

III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
C) INCORRETA: Lei 11101/05 -
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,
exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes
requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
D) CORRETA: Lei 11101/05 -
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido,
exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes
requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)
178

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
GABARITO: C

QUESTÃO 2. Assinale a alternativa correta:


A)É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a
recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local da sede do devedor ou da filial de
empresa que tenha sede fora do Brasil.
B)São exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência, as despesas que os
credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas
judiciais decorrentes de litígio com o devedor.
C)A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial
suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive
aquelas dos credores particulares do sócio solidário que demandam quantia ilíquida.
D)O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado,
economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.

A) INCORRETA: lei 11101/05 -


Art. 3º É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a
recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do
devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
B) INCORRETA: lei 11101/05 –
Art. 5º Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
I – as obrigações a título gratuito;
II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na
falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.
179

Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
C) INCORRETA: Lei 11101/05 -
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação
judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do
devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.
§1 º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar
quantia ilíquida.
§ 2 º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou
modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza
trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8o desta Lei, serão processadas
perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no
quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
§ 3º O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1º e 2º deste artigo poderá determinar
a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma
vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria.
§ 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese
nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do
deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo,
o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente
de pronunciamento judicial.
§ 5º Aplica-se o disposto no § 2º deste artigo à recuperação judicial durante o período de
suspensão de que trata o § 4º deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções
trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito no
quadro-geral de credores.
§ 6º Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as
ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da
falência ou da recuperação judicial:
I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial;
II – pelo devedor, imediatamente após a citação.
§ 7 º As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação
judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário
Nacional e da legislação ordinária específica.
180

§ 8 º A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição


para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo
devedor.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
D) CORRETA: lei 11101/05 -
Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado,
economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
GABARITO: D

QUESTÃO 3. Assinale a alternativa incorreta.


A)Dentro do prazo de contestação, o devedor não poderá pleitear sua recuperação
judicial.
B)Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu
ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.
C)O cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante podem
requerer a falência do devedor.
D)Será decretada a falência do devedor que dá ou reforça garantia a credor por dívida
contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar
seu passivo.

A) INCORRETA: lei 11101/05 - Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá
pleitear sua recuperação judicial.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
B) CORRETA: lei 11101/05 -
181

Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será
decretada se o requerido provar:
I – falsidade de título;
II – prescrição;
III – nulidade de obrigação ou de título;
IV – pagamento da dívida;
V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de
título;
VI – vício em protesto ou em seu instrumento;
VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados
os requisitos do art. 51 desta Lei;
VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de
falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não
prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.
§1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu
ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.
§ 2º As defesas previstas nos incisos I a VI do caput deste artigo não obstam a decretação
de falência se, ao final, restarem obrigações não atingidas pelas defesas em montante que
supere o limite previsto naquele dispositivo.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
C) CORRETA: lei 11101/05 -
Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:
I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da
sociedade;
IV – qualquer credor.
§ 1º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que
comprove a regularidade de suas atividades.
§ 2º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e
ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.
182

Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
D) CORRETA: lei 11101/05 -
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente
a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à
penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação
judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou
fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos
ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo
a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os
credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a
legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens
livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os
credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua
sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação
judicial.
§ 1º Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o
pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo.
§ 2º Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se
possam reclamar.
§ 3º Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com
os títulos executivos na forma do parágrafo único do art. 9º desta Lei, acompanhados, em
183

qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da
legislação específica.
§ 4º Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com
certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução.
§ 5º Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os fatos
que a caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se as que serão
produzidas.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
GABARITO: A

QUESTÃO 4. Assinale a alternativa incorreta.


A)São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento
do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar
credores: a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
e a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência.
B)São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-
se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo
sofrido pela massa falida.
C)Da sentença que julgar a ação revocatória caberá recurso de agravo de instrumento.
D)São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento
do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar
credores: o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por
qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato; e o pagamento de dívidas não vencidas
realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de
crédito, ainda que pelo desconto do próprio título.

A) CORRETA: Lei 11101/05


Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção
deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por
qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
184

II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por


qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal,
tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto
de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da
hipoteca revogada;
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o
pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor
bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver
oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial
do registro de títulos e documentos;
VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título
oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da
falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.
Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa
ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.
Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incisos I a III e VI do art. 129 desta Lei que tenham
sido previstos e realizados na forma definida no plano de recuperação judicial será
declarado ineficaz ou revogado.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
B) CORRETA: lei 11101/05
Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores,
provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o
efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
185

Cf. o Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incisos I a III e VI do art. 129 desta Lei que
tenham sido previstos e realizados na forma definida no plano de recuperação judicial será
declarado ineficaz ou revogado.
C) INCORRETA: lei 11101/05
Art. 135. A sentença que julgar procedente a ação revocatória determinará o retorno dos
bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos
das perdas e danos.
Parágrafo único. Da sentença cabe apelação.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
D) CORRETA: lei 11101/05 -
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção
deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por
qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por
qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal,
tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto
de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da
hipoteca revogada;
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o
pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor
bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver
oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial
do registro de títulos e documentos;
VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título
oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da
falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.
186

Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa
ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.
Confira: Fabio Ulhoa Coelho – Manual de Direito Empresarial (2018); Gladston Mamede
– Manual de Direito Empresarial (2017); Marlon Tomazette - Curso de Direito Empresarial
(2017); André Santa Cruz – Direito Empresarial (2018); Tarcísio Teixeira - Direito
Empresarial Sistematizado (2018).
GABARITO: C
187

12. SISTEMAS FINANCEIROS

12.1. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

O art. 192 da Constituição Federal, dispõe que o sistema financeiro nacional, estruturado de
forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade,
em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis
complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições
que o integram.
De acordo com a Lei nº 4.595/64, integram o Sistema Financeiro Nacional:
a) o Conselho Monetário Nacional;
b) o Banco Central;
c) o Banco do Brasil S.A.;
d) o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico; e
e) as demais instituições financeiras públicas e privadas.
São órgãos normativos:
a) o Conselho Monetário Nacional;
b) o Conselho Nacional de Seguros Privados; e
c) o Conselho Nacional de Previdência Complementar.
São órgãos supervisores:
a) o Banco Central do Brasil;
b) a Comissão de Valores Mobiliários;
c) a Superintendência de Seguros Privados - SUSEP; e
d) a Superintendência Nacional de Previdência Complementar.
São órgãos operadores:
a) as instituições financeiras públicas; e
b) as instituições financeiras privadas.
Nos termos do art. 17 da Lei nº 4.595/64, consideram-se instituições financeiras, para os
efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como
atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros
próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de
terceiros"
Também são consideradas instituições financeiras as seguintes pessoas:
a) as administradoras de cartões de crédito;
188

b) as sociedades de crédito;
c) as cooperativas de crédito;
d) as distribuidoras de valores mobiliários;
e) as corretoras de câmbio;
f) as sociedades de arrendamento mercantil;
g) as associações de poupança e empréstimo;
h) as sociedades de crédito imobiliário;
i) as companhias hipotecárias; e
j) as agências de fomento.

12.2. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO

De acordo com o art. 8° da Lei 4.380/64, integram o SFH:


a) os bancos múltiplos;
b) os bancos comerciais;
c) as caixas econômicas;
d) as sociedades de crédito imobiliário;
e) as associações de poupança e empréstimo;
f) as companhias hipotecárias;
g) os órgãos federais, estaduais e municipais, inclusive sociedades de economia mista em
que haja participação majoritária do poder público, que operem no financiamento de habitações e
obras conexas;
h) as fundações, cooperativas e outras formas associativas para construção ou aquisição da
casa própria sem finalidade de lucro, que se constituirão de acordo com as diretrizes da lei;
i) as caixas militares;
j) as entidades abertas de previdência complementar;
l) as companhias securitizadoras de crédito imobiliário; e
m) outras instituições que venham a ser consideradas pelo Conselho Monetário Nacional
como integrantes do Sistema Financeiro da Habitação.

12.3. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

As instituições financeiras não federais estão sujeitas à liquidação extrajudicial, promovida


pelo Banco Central do Brasil, nos termos ao art. 1° da Lei 6.024/74.
189

QUESTÕES
QUESTÃO 1: Assinale a alternativa que não contém um ente do Sistema Financeiro
Nacional.
A) Conselho Monetário Nacional.
B) Banco Central da República do Brasil.
C) Banco Central do Brasil.
D) Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico.
E) Instituições financeiras públicas e privadas.
A alternativa que não contém um ente do SFN é a letra B.

De acordo com o art. 1º da lei 4595/64, o sistema Financeiro Nacional é constituído:


I - do Conselho Monetário Nacional;
II - do Banco Central do Brasil;
III - do Banco do Brasil S. A.;
IV - do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico;
V - das demais instituições financeiras públicas e privadas.

GABARITO: B
QUESTÃO 2: Assinale a alternativa que não contém um ente do Sistema Financeiro da
Habitação.
A) bancos múltiplos.
B) bancos comerciais.
C) agências de fomento mercantil.
D) sociedades de crédito imobiliário.
E) entidades abertas de previdência complementar.

A alternativa que deve ser assinalada é a C, conforme previsão do artigo 8º, da lei 4830/64.
Art. 8° O sistema financeiro da habitação, destinado a facilitar e promover a construção e a
aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da
população, será integrado.
I – pelos bancos múltiplos;
II – pelos bancos comerciais;
III – pelas caixas econômicas;
IV – pelas sociedades de crédito imobiliário;
V – pelas associações de poupança e empréstimo;
190

VI – pelas companhias hipotecárias;


VII – pelos órgãos federais, estaduais e municipais, inclusive sociedades de economia mista
em que haja participação majoritária do poder público, que operem, de acordo com o
disposto nesta Lei, no financiamento de habitações e obras conexas;
VIII – pelas fundações, cooperativas e outras formas associativas para construção ou
aquisição da casa própria sem finalidade de lucro, que se constituirão de acordo com as
diretrizes desta Lei;
IX – pelas caixas militares;
X – pelas entidades abertas de previdência complementar;
XI – pelas companhias securitizadoras de crédito imobiliário; e
XII – por outras instituições que venham a ser consideradas pelo Conselho Monetário
Nacional como integrantes do Sistema Financeiro da Habitação.
Parágrafo único. O Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito fixará as normas
que regulam as relações entre o sistema financeiro da habitação e o restante do sistema
financeiro nacional, especialmente quanto à possibilidade, às condições e aos limites de
aplicação de recursos da rede bancária em letras imobiliárias, emitidas, nos termos desta
lei, pelo Banco Nacional da Habitação.
GABARITO: C

QUESTÃO 3: De acordo com a lei 6.024/74, que regulamenta a liquidação e a


intervenção extrajudicial de instituições financeiras, aponte a alternativa que não corresponde
aos efeitos produzidos pela intervenção, desde a sua decretação.
A)suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas.
B)suspensão da fluência do prazo das obrigações vincendas anteriormente contraídas.
C)exigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua decretação.
D)inexigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua decretação.

A alternativa que deve ser assinalada é a letra C, de acordo com o Art . 6º da lei 6024/74: A
intervenção produzirá, desde sua decretação, os seguintes efeitos:
a) suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas;
b) suspensão da fluência do prazo das obrigações vincendas anteriormente contraídas c)
inexigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua decretação.
GABARITO: C
191

13. JURISPRUDÊNCIA APLICADA DOS STJ SEPARADA POR TEMAS

EMPRESA

A penhora sobre o faturamento de uma sociedade comercial deve ser a última alternativa a
ser adotada em um processo de execução, visto que implica verdadeiro óbice à existência da
empresa, entendida como atividade econômica organizada profissionalmente para a produção,
circulação e distribuição de bens, serviços ou riquezas (Artigo 966 do novo Código Civil:
Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços) O ordenamento jurídico pátrio confere proteção
especial ao exercício da empresa - mormente o novo Código Civil, por intermédio do Livro II, com
a criação do novo Direito de Empresa -, de sorte que ampla a construção doutrinária moderna
acerca de suas características. Cesare Vivante, ao desenvolver a teoria da empresa no direito italiano
(cf. Trattato de Diritto Commerciale. 4. ed. Milão: Casa Editrice Dott. Francesco Vallardi, 1920)
congregou os fatores natureza, capital, organização, trabalho e risco como requisitos elementares a
qualquer empresa. No mesmo sentido, Alfredo Rocco salienta a importância da organização do
trabalho realizada pelo empresário e adverte que a empresa somente pode ser caracterizada quando
a produção é obtida mediante o trabalho de outrem, a ser recrutado, fiscalizado, dirigido e retribuído
exclusivamente para a produção de bens ou serviços (cf. Princípios de Direito Comercial. São
Paulo: Saraiva, 1931). Em espécie, denota-se inequívoca a caracterização da empresa exercida por
Begê Restaurantes de Coletividade LTDA ? empresário e sujeito de direito -, de modo que, embora
seja uma abstração enquanto entidade jurídica; tertius genus, para Orlando Gomes; ente sui generis,
conforme lição de Waldírio Bulgarelli e Ricardo Negrão; objeto de direito, segundo Rubens
Requião -, a empresa merece tutela jurídica própria. Ora, ao determinar a realização da penhora
sobre o faturamento da requerente, sem a nomeação de administrador, o ilustre Juízo de primeiro
grau não observou dois dos elementos principais da empresa, a saber, o capital e a organização do
trabalho. A penhora sobre o montante de 30% (trinta por cento) do faturamento da executada,
somada à ausência de nomeação de administrador, impedirá que a organização da atividade
econômica pelo empresário seja realizada com regularidade e habitualidade, visto que o capital
destinado ao investimento e circulação restará prejudicado. Dessa forma, por mais que o acórdão
recorrido tenha corretamente fixado o percentual sobre o qual deveria incidir a constrição, qual seja,
5% (cinco por cento) sobre o faturamento -, não nomeou administrador para gerir tal procedimento,
o que representa inequívoca afronta ao artigo 620 do Código de Processo Civil. A segunda penhora
equivocadamente realizada, bem como a inexistência de administrador nomeado, evidenciam que a
192

execução não ocorreu da forma menos gravosa para o executado. Recurso especial provido. (REsp
594.927/RS, Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/03/2004,
DJ 30/06/2004, p. 320)

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
ADIANTAMENTO DE CONTRATO DE CÂMBIO. GARANTIA HIPOTECÁRIA.
EMPRESÁRIOS INDIVIDUAIS EM RECUPERAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA
RECUPERAÇÃO. ATOS EXPROPRIATÓRIOS 1. A controvérsia gira em torno de definir o juízo
competente para promover os atos expropriatórios decorrentes de garantia hipotecária prestada por
empresário individual em recuperação judicial em contrato de adiantamento de câmbio. 2. O
empresário individual é a pessoa física que exerce atividade empresária em seu próprio nome,
respondendo com seu patrimônio pessoal pelos riscos da atividade. 3. O adiantamento de contrato
de câmbio não se submete à recuperação judicial, situação que a princípio se estende ao garante,
pois a natureza do crédito garantido é a mesma. 4. A jurisprudência desta Corte se inclina no
sentido de que o Juízo da recuperação judicial deve acompanhar os atos expropriatórios, de modo a
preservar tanto o direito creditório quanto a viabilidade do plano, mesmo nas hipóteses de créditos
extraconcursais. 5. Conflito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo da
recuperação judicial. (CC 155.390/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/11/2018, DJe 05/12/2018)

ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
ESTABELECIMENTO AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. TRESPASSE DO
ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL. DÍVIDAS ANTERIORES. RESPONSABILIDADE.
SÚMULA 5 E 7 DO STJ. 1. Não se viabiliza o recurso especial pela violação do dever de prestação
jurisdicional, porque, embora rejeitados os embargos de declaração, a matéria em exame foi
devidamente enfrentada pelo Tribunal de origem, que emitiu pronunciamento de forma
fundamentada, ainda que em sentido contrário à pretensão da parte recorrente. 2. A Corte de
origem, soberana na análise dos fatos e das provas, consignou que a simples alienação do
estabelecimento não desobriga o alienante da quitação do seu passivo, sendo certo que, no caso dos
autos, não houve comprovação da existência de assunção de dívida ou de sucessão empresarial.
Derruir a conclusão a que chegou o Tribunal a quo demandaria, necessariamente, interpretação de
cláusulas contratuais, bem como novo exame do conjunto fático-probatório acostado aos autos, o
193

que é vedado pelas Súmulas 5 e 7 do STJ. 3. O suporte fático normativo previsto no art. 1.146 do
Código Civil, impõe outros requisitos além da mera transferência do estabelecimento comercial
para a cristalização da solidariedade entre alienante e adquirente, notadamente a exigência de
regular contabilização dos débitos anteriores à alienação, circunstância que não foi sequer alvo de
argumentação da parte em sede recursal. 4. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp
1457672/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
20/09/2018, DJe 25/09/2018)
Informativo nº 0589 Período: 1º a 15 de setembro de 2016. QUARTA TURMA DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM PARA PLEITEAR DE
EMPREENDEDOR DE SHOPPING CENTER INDENIZAÇÃO POR DANOS A
ESTABELECIMENTO. Ainda que, no contrato de locação estabelecido com o empreendedor de
shopping center, conste como locatário apenas o sócio majoritário, a sociedade empresária possui
legitimidade ativa ad causam concorrente para pleitear indenização por danos ao estabelecimento
instalado no centro comercial. Sob a perspectiva do estabelecimento, há uma mitigação do axioma
latino societas distat a singulis, ou seja, embora haja uma conotação patrimonial, nele, há absoluta
sintonia de interesses da pessoa física com a jurídica, interesses que estão diretamente ligados ao
aviamento. Nessa linha, se uma sociedade empresária desenvolve seu estabelecimento em um
centro de compras, por óbvio, busca obter lucros com sua atividade empresarial, e, para que isso
ocorra, há que se ter uma simbiose entre a pessoa jurídica e a pessoa física, no tocante aos seus
interesses. Com efeito, por meio desse silogismo, é possível perceber que, havendo pretensão que
diga respeito ao estabelecimento com todos os seus componentes, não há dúvidas de que tanto a
sociedade empresária quanto seus sócios possuem interesses juridicamente protegidos capazes de
habilitá-los como titulares de direito material, podendo eventualmente deduzi-los em juízo. Ocorre
que a legitimidade está intrinsecamente ligada ao interesse de agir da parte, isto é, há que se
verificar, precipuamente, a utilidade que a referida demanda terá para aquele cujo bem da vida
sofreu ou está na iminência de sofrer alguma lesão. Ademais, o debate a respeito da legitimidade
ativa da sociedade empresária não pode passar à margem da efetiva consciência da atipicidade
contratual estabelecida com o shopping center, tampouco não se pode olvidar do aspecto teleológico
da legislação locatícia ora em exame. Nesse contexto, cumpre destacar que o contrato de shopping
center possui inúmeras nuances em relação aos demais contratos de locação convencionalmente
celebrados. Apesar de tal pacto amparar largamente o empreendedor - uma vez que este elabora
previamente as cláusulas contratuais, às quais os lojistas deverão se sujeitar -, é plausível afirmar
que a Lei n. 8.245/1991 (Lei de Locações), em consonância com os princípios fundamentais
estabelecidos pela CF, também tutela os bens e interesses dos lojistas dentro dessa relação negocial.
Conforme apontado por doutrina, claramente se nota que o escopo da legislação locatícia,
194

especialmente no tocante ao lojista, é o de salvaguardar seu estabelecimento empresarial, já que


esse é seu instrumento de trabalho. É evidente que também está presente, na sociedade, o interesse
de resguardar todo o complexo de bens que compõe o estabelecimento, assim como para o sócio,
signatário do contrato. Mutatis mutandis, essa mesma linha argumentativa foi utilizada pelo
legislador no tocante à ação renovatória, na qual se buscou estabelecer uma legitimidade
concorrente para pleitear o direito de inerência do locatário (art. 51, § 2º, da Lei de Locações). REsp
1.358.410-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 4/8/2016, DJe
5/9/2016.
Informativo nº 0564 Período: 15 a 30 de junho de 2015. QUARTA TURMA DIREITO
EMPRESARIAL. INTERPRETAÇÃO DO ART. 94, III, F, DA LEI DE FALÊNCIAS. A mudança
de domicílio da sociedade em recuperação judicial, devidamente informada em juízo, ainda que sem
comunicação aos credores e sem data estabelecida para a instalação do novo estabelecimento
empresarial, não é causa, por si só, para a decretação de ofício da falência. Nos termos do art. 94,
III, "f", da Lei 11.101/2005, decreta-se a falência do devedor que se ausenta sem deixar
representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona
estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal
estabelecimento. De fato, a fuga e a ocultação do devedor ou o abandono do estabelecimento
empresarial, com o fim de furtar-se de suas obrigações, não podem ser condutas que obtenham a
condescendência do Poder Judiciário. De outro lado, conforme a doutrina, a mudança do domicílio
comercial desacompanhada de comunicação aos credores não é suficiente, por si só, para
caracterização do abandono. Desse modo, embora a ocultação, ou a sua tentativa, pressuponha a
ideia de que o comerciante, fatalmente, deixará de cumprir as suas obrigações, a mudança do
domicílio comercial, mesmo que sem aviso aos credores, ainda não é motivo bastante para
caracterização da fuga. Isso porque é necessário provar que a mudança foi furtiva e realizada com o
objetivo de fraudá-los. É a má-fé, portanto, indubitavelmente, que norteia a decretação da falência
ante a ocultação dolosa do devedor, ou seja, com o fim de descumprir suas obrigações empresariais.
Aquela, contudo e como se sabe, há de ser provada, enquanto a boa-fé é presumida, magistério que
se colhe de vetusto brocardo jurídico. Dessa forma, a simples alteração de endereço não é causa
suficiente para o decreto de quebra, havendo que se perquirir se houve, de fato, abandono ou
ocultação pelo devedor, o que deverá se dar sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, de
modo que a sociedade empresária em recuperação deverá ser intimada para, em se constatando que
não mais exerce sua empresa em seu antigo endereço, informar ao juízo acerca do ocorrido e fazer
prova de que não houve tentativa de furtar-se ao cumprimento de suas obrigações. REsp 1.366.845-
MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 18/6/2015, DJe 25/6/2015.
195

Informativo nº 0524 Período: 28 de agosto de 2013. PRIMEIRA SEÇÃO DIREITO


TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PENHORA, POR DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS DA
MATRIZ, DE VALORES DEPOSITADOS EM NOME DE FILIAIS. RECURSO REPETITIVO
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Os valores depositados em nome das filiais estão
sujeitos à penhora por dívidas tributárias da matriz. De início, cabe ressaltar que, no âmbito do
direito privado, cujos princípios gerais, à luz do art. 109 do CTN, são informadores para a definição
dos institutos de direito tributário, a filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo
parte do acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, partilhando os mesmos sócios, contrato
social e firma ou denominação da matriz. Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária,
em uma universalidade de fato, não ostenta personalidade jurídica própria, nem é sujeito de direitos,
tampouco uma pessoa distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento para o
exercício da atividade empresarial. Nesse contexto, a discriminação do patrimônio da sociedade
empresária mediante a criação de filiais não afasta a unidade patrimonial da pessoa jurídica, que, na
condição de devedora, deve responder, com todo o ativo do patrimônio social, por suas dívidas à luz
da regra de direito processual prevista no art. 591 do CPC, segundo a qual "o devedor responde,
para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as
restrições estabelecidas em lei". Cumpre esclarecer, por oportuno, que o princípio tributário da
autonomia dos estabelecimentos, cujo conteúdo normativo preceitua que estes devem ser
considerados, na forma da legislação específica de cada tributo, unidades autônomas e
independentes nas relações jurídico-tributárias travadas com a administração fiscal, é um instituto
de direito material ligado ao nascimento da obrigação tributária de cada imposto especificamente
considerado e não tem relação com a responsabilidade patrimonial dos devedores, prevista em um
regramento de direito processual, ou com os limites da responsabilidade dos bens da empresa e dos
sócios definidos no direito empresarial. Além disso, a obrigação de que cada estabelecimento se
inscreva com número próprio no CNPJ tem especial relevância para a atividade fiscalizatória da
administração tributária, não afastando a unidade patrimonial da empresa, cabendo ressaltar que a
inscrição da filial no CNPJ é derivada da inscrição do CNPJ da matriz. Diante do exposto, limitar a
satisfação do crédito público, notadamente do crédito tributário, a somente o patrimônio do
estabelecimento que participou da situação caracterizada como fato gerador é adotar interpretação
absurda e odiosa. Absurda porque não se concilia, por exemplo, com a cobrança dos créditos em
uma situação de falência, em que todos os bens da pessoa jurídica (todos os estabelecimentos) são
arrecadados para pagamento dos credores; com a possibilidade de responsabilidade contratual
subsidiária dos sócios pelas obrigações da sociedade como um todo (arts. 1.023, 1.024, 1.039,
1.045, 1.052 e 1.088 do CC); ou com a administração de todos os estabelecimentos da sociedade
pelos mesmos órgãos de deliberação, direção, gerência e fiscalização. Odiosa porque, por princípio,
196

o credor privado não pode ter mais privilégios que o credor público, salvo exceções legalmente
expressas e justificáveis. REsp 1.355.812-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
22/5/2013.
Informativo nº 0485 Período: 10 a 21 de outubro de 2011. QUARTA TURMA
DISSOLUÇÃO. SOCIEDADE. INCLUSÃO. FUNDO DE COMÉRCIO. A Turma reiterou o
entendimento de que o fundo de comércio - também chamado de estabelecimento empresarial (art.
1.142 do CC/2002) - integra o patrimônio da sociedade e, por isso, deve ser considerado na
apuração de haveres do sócio minoritário excluído de sociedade limitada. O fundo de comércio é o
conjunto de bens materiais (imóveis, bens, equipamentos, utensílios etc) e imateriais (marcas
registradas, invenções patenteadas etc), utilizados por empresário individual ou sociedade
empresária no exercício de sua atividade empresarial. O fato de a sociedade ter apresentado
resultados negativos nos anos anteriores à exclusão do sócio não significa que ela não tenha fundo
de comércio. Precedentes citados: REsp 52.094-SP, DJ 21/8/2000; REsp 271.930-SP, DJ
25/3/2002; REsp 564.711-RS, DJ 20/3/2006, e REsp 130.617-AM, DJ 14/11/2005. REsp 907.014-
MS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 11/10/2011.

PONTO COMERCIAL
Informativo nº 0629 Publicação: 17 de agosto de 2018. TERCEIRA TURMA. Processo
REsp 1.698.814-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em
26/06/2018, DJe 29/06/2018. Locação. Imóvel não residencial. Parcelamento de débitos fiscais pelo
locatário. Ajuizamento de ação renovatória. Possibilidade. A certidão de parcelamento fiscal é
suficiente para suprir a exigência prevista no inciso III do art. 71 da Lei n. 8.245/1991 (Lei de
Locações) para efeito do ajuizamento de ação renovatória de locação empresarial. Informações do
Inteiro Teor. De início, relembre-se que a principal finalidade da ação renovatória é a proteção do
fundo de comércio desenvolvido pelo empresário locatário pelo longo período em que instalado no
local, investindo na locação comercial, na constituição de clientela, na publicidade do ponto
comercial, além da própria valorização do imóvel locado. Por isso, o Estado reconhece ao locatário
de imóvel comercial, buscando a proteção do seu fundo de comércio, o direito à renovação
compulsória do seu contrato de locação, uma vez atendidos os requisitos elencados no art. 51 da Lei
de Locações (LL). Além disso, estabeleceu o legislador procedimentos especiais para veiculação
das ações locatícias em geral. Especificamente quanto ao direito de renovação, o procedimento está
previsto no artigo 71 da LL, contendo a exigência legal de instrução da petição inicial com a juntada
de diversos documentos, inclusive a prova de quitação dos tributos e taxas incidentes sobre o
imóvel locado (inciso III do artigo 71). Partindo-se de uma interpretação sistemática e teleológica
desse dispositivo, aceita-se a comprovação do parcelamento fiscal no momento do ajuizamento da
197

demanda, com a demonstração de sua quitação durante o processo. Em primeiro lugar, ocorreu
efetivamente a quitação dos tributos, encaminhado mediante o parcelamento fiscal, ainda que
durante o processo. Em segundo lugar, ficam descaracterizados os efeitos da inadimplência durante
o parcelamento fiscal autorizada pelo ente público. Em terceiro lugar, por fim, essa medida não
causa qualquer prejuízo ao locador, não podendo o parcelamento do débito fiscal ser considerado
como falta grave ao disposto no contrato de locação, prestigiando-se a manutenção do pacto e a
proteção do fundo de comércio.
Informativo nº 0624 Publicação: 18 de maio de 2018. TERCEIRA TURMA. Processo REsp
1.704.498-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 17/04/2018, DJe
24/04/2018. Ação de cobrança. Cotas condominiais. Obrigação propter rem. Legitimidade da
arrendatária de imóvel para figurar no polo passivo da demanda juntamente com o proprietário. A
ação de cobrança de débitos condominiais pode ser proposta contra o arrendatário do imóvel.
Informações do Inteiro Teor. A controvérsia posta nos presentes autos consiste em definir se a
obrigação ao pagamento das despesas condominiais encerra-se, exclusivamente, na pessoa que é
proprietária do bem ou se ela se estende a outras pessoas que tenham uma relação jurídica vinculada
ao imóvel – que não o vínculo de propriedade –, a fim de determinar se está o condomínio credor
autorizado a ajuizar a ação de cobrança de débitos condominiais não somente em face da empresa
proprietária, mas também em desfavor da empresa arrendatária do ponto comercial. Inicialmente,
vale lembrar que a obrigação pelo pagamento de débitos de condomínio possui natureza propter
rem, como reconhece esta Corte. Com efeito, em julgamento de recurso repetitivo, a Segunda Seção
deste Tribunal firmou a tese de que "o que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações
condominiais não é o registro do compromisso de compra e venda, mas a relação jurídica material
com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário comprador, dependendo das
circunstâncias de cada caso concreto " (REsp 1.345.331/RS, Min. Luis Felipe Salomão, DJe
20/04/2015). Na hipótese, a arrendatária exerce a posse direta sobre o imóvel e usufrui dos serviços
prestados pelo Condomínio, não sendo razoável que não possa ser demandada para o pagamento de
despesas condominiais inadimplidas. Ressalte-se, por fim, que não se está a falar de solidariedade
entre proprietário e arrendatário para o pagamento dos débitos condominiais em atraso, até mesmo
porque, como se sabe, a solidariedade decorre da lei ou da vontade das partes. O que se está a
reconhecer é a possibilidade de a arrendatária figurar no polo passivo da ação de cobrança, haja
vista que a ação pode ser proposta em face de qualquer um daqueles que tenha uma relação jurídica
vinculada ao imóvel, o que mais prontamente possa cumprir com a obrigação.
Informativo nº 0468 Período: 28 de março a 8 de abril de 2011. SEGUNDA TURMA
SUCESSÃO TRIBUTÁRIA. DÉBITO FISCAL. MULTA. Discute-se, no mérito do REsp, se
houve responsabilidade tributária por sucessão (nos moldes do art. 133 do CTN) por aquisição de
198

fundo de comércio ou se, como alega a recorrente, adquiriram-se imóveis e alguns pontos
comerciais de outra sociedade empresária. Afirma a recorrente que, após essas aquisições, passou a
sofrer sucessivo e infundado redirecionamento em execuções fiscais por dívidas da sociedade
empresária anterior. A Turma, ao prosseguir o julgamento, não conheceu do recurso; confirmou,
assim, a decisão recorrida de que os contratos e alterações contratuais juntados aos autos em nome
da empresa executada apenas confirmam sua extinção, atraindo, assim, a responsabilidade tributária
da empresa atual como sucessora daquela para com os débitos fiscais, multas moratórias e
punitivas, desde que, conforme a jurisprudência do STJ, seu fato gerador tenha ocorrido até a data
da sucessão. Ademais, observou-se que a substituição de desembargador por juiz convocado não
incorre em violação do princípio do juiz natural, desde que dentro dos parâmetros legais e com
observância das disposições estabelecidas na CF. Anotou-se que o tribunal a quo afastou a
ocorrência da prescrição, afirmando não se ter verificado desídia ou omissão da exequente, mas que
a falha da citação deu-se por mecanismo do Poder Judiciário, atraindo a aplicação das Súmulas ns.
106 e 7, ambas do STJ. Afirmou, ainda, não haver cerceamento de defesa ante a desnecessidade de
dilação probatória quanto à ocorrência da sucessão tributária com base em dois fundamentos: apesar
de regularmente intimada, a recorrente não manejou o recurso processual adequado, visto que
houve a preclusão, e a prescindibilidade da produção de outras provas além das carreadas aos autos,
uma vez que essas provas seriam suficientes para o julgamento antecipado da lide. Precedentes
citados: REsp 1.061.770-RS, DJe 2/2/2010; REsp 1.085.071-SP, DJe 8/6/2009; REsp 923.012-MG,
DJe 24/6/2010; REsp 36.540-MG, DJ 4/10/1993; AgRg no Ag 1.158.300-SP, DJe 26/3/2010; REsp
1.048.669-RJ, DJe 30/3/2009; AgRg no REsp 925.544-MG, DJe 25/3/2009, e REsp 1.092.089-SC,
DJe 9/11/2009. REsp 1.220.651-GO, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/4/2011.
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA DE COTAS
CONDOMINIAIS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. LEGITIMIDADE DA ARRENDATÁRIA DE IMÓVEL
DE FIGURAR NO POLO PASSIVO DA DEMANDA JUNTAMENTE COM O PROPRIETÁRIO
DO IMÓVEL. OBRIGAÇÃO PROTER REM. 1. Ação ajuizada em 12/03/2014. Recurso especial
concluso ao gabinete em 15/05/2017. Julgamento: CPC/73. 2. O propósito recursal é determinar se
a primeira recorrida -arrendatária de imóvel - pode figurar no polo passivo de ação de cobrança de
débitos condominiais. 3. Não há que se falar em violação do art. 535 do CPC/73 quando o Tribunal
de origem, aplicando o direito que entende cabível à hipótese, soluciona integralmente a
controvérsia submetida à sua apreciação, ainda que de forma diversa daquela pretendida pela parte.
4. As despesas condominiais, compreendidas como obrigações propter rem, são de responsabilidade
daquele que detém a qualidade de proprietário da unidade imobiliária, ou ainda pelo titular de um
dos aspectos da propriedade, tais como a posse, o gozo, a fruição, desde que esse tenha estabelecido
199

relação jurídica direta com o condomínio. 5. Na hipótese sob julgamento, a primeira recorrida, não
obstante não seja a proprietária do ponto comercial, é arrendatária do mesmo, exercendo a posse
direta sobre o imóvel. Inclusive, é quem usufrui dos serviços prestados pelo Condomínio, não sendo
razoável que não possa ser demandada para o pagamento de despesas condominiais inadimplidas. 6.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. (REsp 1704498/SP, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe 24/04/2018)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
RESCISÃO CONTRATUAL COM RECONVENÇÃO. PONTO COMERCIAL. PERDA DO
ACERVO ORIGINÁRIO. COMPENSAÇÃO. MATÉRIA QUE DEMANDA REEXAME DE
PROVA. SÚMULA 7 DO STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO NOS
MOLDES EXIGIDOS PELO RISTJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. A conclusão da instância ordinária acerca da impossibilidade de se restaurar as
condições anteriores à celebração do negócio de transferência do ponto comercial, decorreu da
análise do conjunto probatório dos autos, cujo revolvimento é vedado em sede de recurso especial,
nos termos da Súmula 7/STJ. 2. O dissídio jurisprudencial não foi demonstrado nos moldes
exigidos pelo RISTJ, porquanto o recorrente não realizou o necessário cotejo analítico entre o
acórdão recorrido e o paradigma, limitando-se à mera transcrição de ementas. 3. Agravo regimental
a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 292.051/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 15/09/2015, DJe 18/09/2015)
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RENOVATÓRIA DE CONTRATO. LOCAÇÃO
COMERCIAL. ACCESSIO TEMPORIS. PRAZO DA RENOVAÇÃO. ARTIGOS
ANALISADOS: ART. 51 da Lei 8.245/91. 1. Ação renovatória de contrato de locação comercial
ajuizada em 09.06.2003. Recurso especial concluso ao Gabinete em 07.12.2011. 2. Discussão
relativa ao prazo da renovação do contrato de locação comercial nas hipóteses de "accessio
temporis". 3. A Lei 8.245/91 acolheu expressamente a possibilidade de "accessio temporis", ou seja,
a soma dos períodos ininterruptos dos contratos de locação para se alcançar o prazo mínimo de 5
(cinco) anos exigido para o pedido de renovação, o que já era amplamente reconhecido pela
jurisprudência, embora não constasse do Decreto n.º 24.150/1934. 4. A renovatória, embora vise
garantir os direitos do locatário face às pretensões ilegítimas do locador de se apropriar patrimônio
imaterial, que foi agregado ao seu imóvel pela atividade exercida pelo locatário, notadamente o
fundo de comércio, o ponto comercial, também não pode se tornar uma forma de eternizar o
contrato de locação, restringindo os direitos de propriedade do locador, e violando a própria
natureza bilateral e consensual da avença locatícia. 5. O prazo 5 (cinco) anos mostra-se razoável
para a renovação do contrato, a qual pode ser requerida novamente pelo locatário ao final do
período, pois a lei não limita essa possibilidade. Mas permitir a renovação por prazos maiores, de
200

10, 15, 20 anos, poderia acabar contrariando a própria finalidade do instituto, dadas as sensíveis
mudanças de conjuntura econômica, passíveis de ocorrer em tão longo período de tempo, além de
outros fatores que possam ter influência na decisão das partes em renovar, ou não, o contrato. 6.
Ouando o art. 51, caput, da Lei 8.2145 dispõe que o locatário terá direito à renovação do contrato
"por igual prazo", ele está se referido ao prazo mínimo exigido pela legislação, previsto no inciso II
do art. 51, da Lei 8.245/91, para a renovação, qual seja, de 5 (cinco) anos, e não ao prazo do último
contrato celebrado pelas partes. 7. A interpretação do art. 51, caput, da Lei 8.245/91, portanto,
deverá se afastar da literalidade do texto, para considerar o aspecto teleológico e sistemático da
norma, que prevê, no próprio inciso II do referido dispositivo, o prazo de 5 (cinco) anos para que
haja direito à renovação, a qual, por conseguinte, deverá ocorrer, no mínimo, por esse mesmo prazo.
8. A renovação do contrato de locação não residencial, nas hipóteses de "accessio temporis", dar-se-
á pelo prazo de 5 (cinco) anos, independentemente do prazo do último contrato que completou o
quinquênio necessário ao ajuizamento da ação. O prazo máximo da renovação também será de 5
(cinco) anos, mesmo que a vigência da avença locatícia, considerada em sua totalidade, supere esse
período. 9. Se, no curso do processo, decorrer tempo suficiente para que se complete novo
interregno de 5 (cinco) anos, ao locatário cumpre ajuizar outra ação renovatória, a qual, segundo a
doutrina, é recomendável que seja distribuída por dependência para que possam ser aproveitados os
atos processuais como a perícia. 10. Conforme a jurisprudência pacífica desta Corte, havendo
sucumbência recíproca, devem-se compensar os honorários advocatícios. Inteligência do art. 21 do
CPC c/c a Súmula 306/STJ. 11. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1323410/MG, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/11/2013, DJe 20/11/2013)

NOME EMPRESARIAL, MARCA, TÍTULO DE ESTABELECIMENTO E NOME


DE DOMÍNIO
Informativo nº 0548. Período: 22 de outubro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. PRECEDÊNCIA DE NOME EMPRESARIAL QUE NÃO IMPLICA DIREITO
AO REGISTRO DE MARCA. A sociedade empresária fornecedora de medicamentos cujos atos
constitutivos tenham sido registrados em Junta Comercial de um Estado antes do registro de marca
no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) por outra sociedade que presta serviços
médicos em outro Estado, não tem direito ao registro de marca de mesma escrita e fonética, ainda
que a marca registrada coincida com seu nome empresarial. Isso porque as formas de proteção ao
nome empresarial e à marca comercial não se confundem. A tutela daquele se circunscreve à
unidade federativa de competência da Junta Comercial em que registrados os atos constitutivos da
empresa, podendo ser estendida a todo o território nacional, desde que feito pedido complementar
de arquivamento nas demais Juntas Comerciais. Por sua vez, a proteção à marca obedece ao sistema
201

atributivo, sendo adquirida pelo registro validamente expedido pelo INPI, que assegura ao titular
seu uso exclusivo em todo o território nacional, nos termos do art. 129, caput e § 1º, da Lei
9.279/1996 (LPI). Conforme esclarecido pela Terceira Turma do STJ, "A interpretação do art. 124,
V, da LPI que melhor compatibiliza os institutos da marca e do nome comercial é no sentido de que,
para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome empresarial
de terceiros constitua óbice ao registro de marca - que possui proteção nacional -, necessário, nessa
ordem: (i) que a proteção ao nome empresarial não goze somente de tutela restrita a alguns Estados,
mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo o território nacional e (ii) que a
reprodução ou imitação seja 'suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais
distintivos'. Não sendo essa, incontestavelmente, a hipótese dos autos, possível a convivência entre
o nome empresarial e a marca, cuja colidência foi suscitada" (REsp 1.204.488-RS, DJe 2/3/2011).
Além disso, não cabe a aplicação ao caso do art. 8º da Convenção da União de Paris de 1883
(CUP), pois o escopo desse dispositivo é assegurar a proteção do nome empresarial de determinada
sociedade em país diverso que o seu de origem, que seja signatário da CUP, e não em seu país de
origem, onde se deve atentar às leis locais. Nesse sentido, não se pode olvidar que o art. 1.166 do
CC estabelece que "A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as
respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do
respectivo Estado". Já o art. 124, XIX, da LPI veda o registro de marca que reproduza outra
preexistente, ainda que em parte e com acréscimo, "suscetível de causar confusão ou associação
com marca alheia". Nessa toada, a finalidade da proteção ao uso das marcas é dupla: por um lado
protegê-la contra usurpação, proveito econômico parasitário e o desvio desleal de clientela alheia e,
por outro, evitar que o consumidor seja confundido (REsp 1.105.422-MG, Terceira Turma, DJe
18/5/2011). Ademais, sem perder de vista o enfoque pelo ângulo do direito marcário, a
possibilidade de confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem identidade
fonética e escrita quanto ao elemento nominativo e ambas se destinarem ao segmento
mercadológico médico. REsp 1.184.867-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014.
Informativo nº 0464. Período: 21 a 25 de fevereiro de 2011. TERCEIRA TURMA.
COLIDÊNCIA. MARCA. NOME COMERCIAL. LEI N. 9.276/1996. A Turma reiterou o
entendimento de que, para a aferição de eventual colidência entre denominação e marca, não se
deve ater apenas à análise do critério da anterioridade, mas também levar em consideração outros
dois princípios básicos do direito pátrio das marcas: o princípio da territorialidade, correspondente
ao âmbito geográfico da proteção, e o princípio da especificidade, segundo o qual a proteção da
marca, salvo quando declarado pelo INPI de alto renome ou notória, está diretamente vinculada ao
tipo de produto ou serviço, como pressuposto de necessidade de evitar erro, dúvida ou confusão
entre os usuários. Hodiernamente a proteção ao nome comercial se circunscreve à unidade
202

federativa de jurisdição da junta comercial em que registrados os atos constitutivos da empresa,


podendo ser estendida a todo o território nacional se for feito pedido complementar de
arquivamento nas demais juntas comerciais. Entendeu, ainda, que a melhor exegese do art. 124, V,
da LPI (Lei n. 9.276/1996) para compatibilização com os institutos da marca e do nome comercial é
que, para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome
empresarial de terceiros constitua óbice ao registro da marca, que possui proteção nacional, é
necessário nesta ordem: que a proteção ou nome empresarial não goze de tutela restrita a alguns
estados, mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo território nacional e que a
reprodução ou imitação sejam suscetíveis de causar confusão ou associação com esses sinais
distintivos. Assim, a Turma deu provimento ao recurso e denegou a segurança. Precedente citado:
REsp 971.026-RS. REsp 1.204.488-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/2/2011.
Informativo nº 0426. Período: 8 a 12 de março de 2010. TERCEIRA TURMA. NOME
COMERCIAL. REGISTRO. CONFUSÃO. Trata-se de REsp em que se pretende o reconhecimento
do uso exclusivo do nome comercial e da marca formada pelo vocábulo Fiorella, alegando-se, para
tanto, que o termo foi devidamente registrado, em momento anterior, como marca e parte do nome
empresarial da recorrente, circunstância suficiente para elidir seu uso pela recorrida, tendo em vista
o caráter absoluto da proteção conferida pelo registro. A Turma entendeu que, no caso, conquanto
haja um vocábulo idêntico na formação dos dois nomes empresariais, não se verifica seu emprego
indevido, tendo em vista as premissas estabelecidas pelo tribunal de origem ao analisar colidências,
tais como, ausência de possibilidade de confusão entre consumidores e atuação empresarial em
atividades diversas e inconfundíveis. Desse modo, não obstante a existência de registro anterior da
recorrente, esse não tem a capacidade de elidir, de forma absoluta, o uso do referido vocábulo pela
recorrida, visto que, na hipótese, não se vislumbra infringência às finalidades ensejadoras da
proteção ao nome empresarial, porquanto as atividades econômicas das empresas dão-se em campos
distintos. Some-se a isso a utilização da palavra "Têxteis" no nome da recorrente, circunstância que
manifesta distinção entre as espécies e obsta eventual confusão. Destarte, a tutela do nome
comercial deve ser entendida de modo relativo, pois o registro mais antigo gera a proteção no ramo
de atuação da empresa que o detém, mas não impede a utilização do nome em segmento diverso,
sobretudo quando não se verifica qualquer confusão, prejuízo ou vantagem indevida em seu
emprego. Diante disso, negou-se provimento ao recurso. Precedente citado do STF: RE 115.820-RJ,
DJ 19/2/1993. REsp 262.643-SP, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do
TJ-RS), julgado em 9/3/2010.
Informativo nº 0406. Período: 7 a 11 de setembro de 2009. TERCEIRA TURMA.
EMPRESA. MARCA. NOME GEOGRÁFICO. Discute-se se o registro anterior do nome
empresarial e da marca com utilização de termo que remete à localização geográfica "Arábia" (que
203

tem a função de sugerir a produção e venda de comida árabe) garante direito de uso exclusivo dessa
expressão em favor dos recorrentes, o que impediria a utilização do vocábulo "Areibian" no nome
empresarial e na marca do concorrente, ora recorrido. Destaca a Min. Relatora que, na hipótese dos
autos, o nome geográfico enquadra-se em uma das exceções ao direito de uso exclusivo de nome
empresarial anteriormente registrado, que não é absoluto nos termos do art. 9º da Instrução
Normativa n. 104/2007 do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) - órgão
integrante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Segundo o art. 4º, VI,
da Lei n. 8.934/1994, esse órgão possui a função de orientar, supervisionar e normatizar, no âmbito
do sistema nacional de registro de empresas mercantis (Sirem), a maneira de proceder no caso de
pedidos de registro de nomes empresariais idênticos ou semelhantes a outros anteriormente
registrados. É cediço que a proteção conferida à marca na Lei de Proteção Industrial (LPI, arts. 129
e 131) não se limita a assegurar direitos meramente individuais ao seu proprietário, mas também ao
público consumidor (art. 4º do CDC). E, para que haja violação do art. 129 da LPI, é necessário que
exista risco de dúvida, erro ou confusão no mercado entre os produtos ou serviços do mesmo ramo.
No caso dos autos, o Tribunal a quo entendeu que, apesar da semelhança dos vocábulos, não há
similitude a ponto de confundir o consumidor. Por essas razões, entre outras, a Turma negou
provimento ao recurso. REsp 989.105-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/9/2009.
RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. AÇÃO DE ABSTENÇÃO DE
USO DE MARCA E NOME EMPRESARIAL E DE REPARAÇÃO DE DANOS. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
PRETENSÃO INIBITÓRIA. PRESCRIÇÃO. MARCO INICIAL. CIÊNCIA DA VIOLAÇÃO DO
DIREITO. PRAZO DE 10 ANOS. REPARAÇÃO DE DANOS. VIOLAÇÃO PERMANENTE.
PRAZO DE 5 ANOS. MARCO INICIAL QUE SE RENOVA A CADA DIA. 1. Ação ajuizada em
28/3/2011. Recursos especiais interpostos em 30/3/2017 e 4/4/2017 e conclusos à Relatora em
29/9/2017. 2. O propósito recursal é definir se as pretensões de abstenção de uso de marca e nome
empresarial e de reparação de danos decorrentes da utilização não autorizada de sinais registrados
estão prescritas. 3. Ausentes os vícios do art. 1.022 do CPC/15, devem ser rejeitados os embargos
de declaração. 4. A pretensão concernente à abstenção de uso de marca ou nome empresarial nasce
para o titular do direito protegido a partir do momento em que ele toma ciência da violação
perpetrada (princípio da actio nata), incidindo sobre ela o prazo prescricional de 10 anos. 5. A
notificação extrajudicial, no particular, constitui instrumento hábil à comprovação de que o alegado
uso indevido do signo distintivo era conhecido por seu titular, no mínimo, a partir da data nela
aposta (momento em que poderia ter ajuizado a ação cabível), o que dá ensejo a reconhecer como
prescrita a pretensão inibitória, em razão do decurso do prazo aplicável. 6. O prazo prescricional
para propositura de ação indenizatória por uso não autorizado de marca é quinquenal, sendo que seu
204

termo inicial nasce a cada dia em que o direito é violado. Precedentes. - RECURSO ESPECIAL DE
WALTER BELTRAME & CIA LTDA CONHECIDO EM PARTE E PARCIALMENTE
PROVIDO. - RECURSO ESPECIAL DE BELTRAME & IRMÃOS LTDA PARCIALMENTE
PROVIDO. (REsp 1696899/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 18/09/2018, DJe 21/09/2018)
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ABSTENÇÃO DE USO. NOME EMPRESARIAL.
NOME DE DOMÍNIO NA INTERNET. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL.
DESCABIMENTO. REGISTRO FEITO NO ESTRANEGRIO. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA BRASILEIRA. PRESENÇA. REGRA DA PRIMEIRA POSSE. FIRST COME FIRST
SERVED. VALIDADE. IMPUGNAÇÃO. POSSIBILIDADE. MÁ-FÉ. CONFIGURAÇÃO. 1.
Ação ajuizada em 13/06/2013. Recurso especial interposto em 13/04/2015 e atribuído a este
gabinete em 25/08/2016. 2. O propósito recursal consiste em apurar: (i) a legalidade de registro de
nome de domínio genérico (".com"), cujo registro é operado por entidade estrangeira, feita por
cidadão brasileiro que gera conflito com marca anteriormente registrada, perante órgão competente
nacional, pela recorrida; e (ii) a competência da Justiça brasileira para o julgamento desta
controvérsia. 3. A interposição de recurso especial não é cabível quando ocorre violação de
dispositivo constitucional ou de qualquer ato normativo que não se enquadre no conceito de lei
federal, conforme disposto no art. 105, III, "a" da CF/88. 4. O sistema de nomes de domínio (DNS)
é uma ferramenta criada para facilitar a utilização da internet por pessoas, como forma de criar
nomes reconhecíveis e memorizáveis por humanos. 5. O mero fato de o órgão registrador do nome
de domínio estar localizado em jurisdição estrangeira não afasta, necessariamente, a competência
dos Tribunais brasileiros. 6. Segundo a jurisprudência do STJ, cabe tanto ao juízo do foro do
domicílio do autor quanto ao do foro do local onde ocorreu o fato a competência para o
conhecimento e o julgamento da ação de abstenção de uso de marca cumulada com pedido de
indenização (EAg 783.280/RS, Segunda Seção, j. 23/02/2011, DJe 19/04/2012). 7. A existência de
procedimento arbitral (o UDRP) à disposição das partes não pode excluir o acesso à prestação
jurisdicional de terceiro, que não mantém nenhuma relação contratual com qualquer órgão
registrador de nomes de domínio. 8. A jurisprudência do STJ reconhece a validade e legitimidade
da aplicação da regra da primeira posse (first come, first served) na alocação de nomes de domínio.
9. Contudo, "a legitimidade do registro do nome do domínio obtido pelo primeiro requerente pode
ser contestada pelo titular de signo distintivo similar ou idêntico anteriormente registrado - seja
nome empresarial, seja marca". Para a procedência desse pleito, deve-se haver a demonstração de
má-fé no registro do nome de domínio impugnado. Precedentes. 10. Na hipótese, não há como
justificar a existência de boa-fé na utilização do símbolo idêntico ao nome comercial e à marca da
recorrida para, supostamente, realizar atividade jornalística, que consubstanciava na divulgação de
205

matérias negativas acerca de acionista da recorrida. 11. Recurso especial parcialmente conhecido e,
nessa parte, não provido. (REsp 1571241/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 05/06/2018, DJe 08/06/2018)
DIREITO MARCÁRIO E CIVIL. PRETENSÃO CONDENATÓRIA PARA ABSTENÇÃO
DE UTILIZAÇÃO DE EXPRESSÃO A QUALQUER TÍTULO. 1. NOME EMPRESARIAL.
UTILIZAÇÃO SIMULTÂNEA DE NOME CIVIL IDÊNTICO NA COMPOSIÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE HOMONÍMIA. POSSIBILIDADE DE CONVIVÊNCIA. 2. CONFRONTO
ENTRE MARCA REGISTRADA E NOME EMPRESARIAL. UTILIZAÇÃO DE NOME CIVIL
COMO MARCA. DIREITO DE PERSONALIDADE LATENTE. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA E
LIMITADA. NOME EMPRESARIAL EMPREGADO EM SEGMENTO DISTINTO.
POSSIBILIDADE. 3. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Demanda proposta na vigência do
CC/1916, na qual se pretendeu a determinação de abstenção de utilização do termo "EINSTEIN" a
qualquer título, em razão de violação de marca e nome empresarial. 2. É compatível com a
regulamentação dos nomes empresariais, tanto a vigente à época dos registros como a atual, a
utilização do nome civil de sócio na composição dos nomes de pessoas jurídicas, de modo que a
verificação de identidade ou semelhança dos nomes empresariais deve observar a composição final,
e não termos destacados. 3. No confronto entre marca registrada e nome empresarial, a incidência
do princípio da anterioridade deve ser temperada pela incidência conjunta dos princípios da
anterioridade e territorialidade. Precedentes. 4. Conquanto o nome civil consista em direito de
personalidade - absoluto, obrigatório, indisponível, exclusivo, imprescritível, inalienável, incessível,
inexpropriável, irrenunciável e intransmissível -, a legislação nacional admite o destaque de parcela
desse direito para fins de transação e disposição, tal qual se dá na sua registrabilidade enquanto
marca, desde que autorizada de forma expressa e delimitada. 5. A determinação de abstenção de
utilização do termo apontado, que é também o prenome do sócio-fundador da sociedade-ré, resulta
em restrição indevida a seu direito de personalidade, uma vez que não há identidade entre as
denominações finais confrontadas, nem a utilização em mesmo segmento de mercado. 6. Recurso
especial provido. (REsp 1432522/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe 23/04/2018)
RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. NOME EMPRESARIAL.
ÂMBITO DE PROTEÇÃO. UNIDADE DA FEDERAÇÃO EM QUE ARQUIVADOS OS ATOS
CONSTITUTIVOS DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA. PREQUESTIONAMENTO.
INEXISTÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. 1- Ação
distribuída em 26/11/2010. Recurso especial interposto em 3/9/2014 e concluso à Relatora em
25/8/2016. 2- O propósito recursal é definir se o nome empresarial adotado e utilizado pelo
recorrido viola direitos de propriedade industrial titulados pelo recorrente. 3- A ausência de decisão
206

acerca das teses invocadas pelo recorrente impede, quanto a elas, o conhecimento do recurso
especial. 4- O nome empresarial goza de proteção jurídica tão somente no âmbito do ente federativo
onde se localiza a Junta Comercial em que arquivados os atos constitutivos da sociedade que o
titula, podendo ser estendida a todo território nacional apenas na hipótese de pedido de
arquivamento nas demais Juntas Comerciais. Precedentes. 5- Na espécie, os atos constitutivos das
partes foram arquivados em diferentes entes federativos, não havendo notícia de que o recorrente
tenha pleiteado proteção em todo o território nacional, de modo que sua pretensão de abstenção de
uso não merece prosperar. 6- Ademais, o acórdão recorrido concluiu que, dada a atividade
desempenhada por cada uma das empresas, a existência simultânea dos nomes empresariais não é
capaz de acarretar confusão e prejuízo aos consumidores. 7- O reexame de fatos e provas em
recurso especial é inadmissível. 8- Recurso especial não provido. (REsp 1686154/SP, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 23/02/2018)
RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. DIREITO MARCÁRIO. NOME
EMPRESARIAL E MARCA. ARQUIVAMENTO DO CONTRATO SOCIAL PREVIAMENTE À
CONCESSÃO DO REGISTRO PELO INPI. CONFUSÃO. INOCORRÊNCIA.
ESTABELECIMENTOS LOCALIZADOS EM MUNICÍPIOS DISTANTES. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. COTEJO
ANALÍTICO E SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. 1- Ação ajuizada em 10/11/2011. Recurso
especial interposto em 4/4/2017 e concluso à Relatora em 29/9/2017. 2- O propósito recursal é
definir se a utilização do nome empresarial da recorrida viola o direito de uso exclusivo de marca
titulada pelo recorrente. 3- Tanto o nome comercial quanto a marca gozam de proteção jurídica com
dupla finalidade: por um lado, ambos são tutelados contra usurpação e proveito econômico
indevido; por outro, busca-se evitar que o público consumidor seja confundido quanto à
procedência do bem ou serviço oferecido no mercado. 4- Hipótese concreta em que o Tribunal de
origem assentou (i) que a recorrida utiliza seu nome empresarial desde antes do depósito da marca
do recorrente no INPI, (ii) que a convivência de ambos não gera confusão no público consumidor; e
(iii) que não há qualquer elemento nos autos que indiciem a obtenção de vantagens indevidas pela
recorrida decorrentes da utilização da denominação em questão (sobretudo quando se considera que
as sedes das empresas localizam-se a aproximadamente 270 km de distância uma da outra). A
solução da controvérsia pelo acórdão impugnado, portanto, está em total consonância com o que
dispõe a legislação de regência e com o entendimento do STJ acerca da matéria. 5- O reexame de
fatos e provas em recurso especial é inadmissível. 6- O dissídio jurisprudencial deve ser
comprovado mediante o cotejo analítico entre acórdãos que versem sobre situações fáticas
idênticas. 7- Recurso especial não provido. (REsp 1707881/RS, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/11/2017, DJe 29/11/2017)
207

AGRAVO INTERNO EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DOIS RECURSOS


INTERPOSTOS CONTRA A MESMA DECISÃO. PRECLUSÃO. UNIRRECORRIBILIDADE.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. NOME EMPRESARIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 1.022 DO CPC
DE 2015. SÚMULA 284 DO STF. VIOLAÇÃO AO ART. 129, §1º, DA LEI Nº 9.279/96.
SÚMULA 7 DO STJ. 1. Revela-se defeso a interposição simultânea de dois agravos internos contra
o mesmo ato judicial, ante o princípio da unirrecorribilidade e a ocorrência da preclusão
consumativa, o que reclama o não conhecimento da segunda insurgência. 2. Quanto à alegada
ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015 não se vislumbra a aduzida violação por falta de articulação de
argumentos jurídicos a embasar tal assertiva, caracterizando deficiência de fundamentação.
Incidência da Súmula 284 do STF. 3. Em relação à violação ao art. 129, §1º, da Lei nº 9.279/96, o
acolhimento da pretensão recursal demandaria a alteração das premissas fático-probatórias
estabelecidas pelo acórdão recorrido, com o revolvimento das provas carreadas aos autos, o que é
vedado em sede de recurso especial, nos termos da Súmula 7 do STJ. 4. Agravo interno de fls. 720-
724 não conhecido e de fls. 715-719 não provido. (AgInt no AREsp 1104705/RS, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 25/09/2017)
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ABSTENÇÃO DE USO DE MARCA. COLIDÊNCIA.
NOME EMPRESARIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. AUSÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. PRINCÍPIOS
MARCÁRIOS. ANTERIORIDADE, ESPECIFICIDADE E TERRITORIALIDADE. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. COTEJO ANALÍTICO E SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. 1- Ação
distribuída em 9/7/2010. Recurso especial interposto em 12/8/2015 e concluso à Relatora em
27/9/2016. 2- O propósito recursal, além de definir se houve negativa de prestação jurisdicional, é
dirimir conflito entre marca registrada perante o INPI e nome empresarial arquivado na Junta
Comercial do Estado de Minas Gerais. 3- Ausentes os vícios do art. 535 do CPC/73, rejeitam-se os
embargos de declaração. 4- A alteração da conclusão do Tribunal de origem, no sentido de que as
empresas litigantes atuam no mesmo ramo de atividades, exigiria revolvimento do acervo
probatório do processo, o que é vedado pela Súmula 7/STJ. 5- A ausência de fundamentação ou a
sua deficiência implica o não conhecimento do recurso quanto ao ponto. 6- Tanto o nome comercial
quanto a marca gozam de proteção jurídica com dupla finalidade: por um lado, ambos são tutelados
contra usurpação e proveito econômico indevido; por outro, busca-se evitar que o público
consumidor seja confundido quanto à procedência do bem ou serviço oferecido no mercado. 7- Para
aferição de colidência entre denominação empresarial e marca, além de se verificar o
preenchimento do critério da anterioridade, deve se levar em consideração os princípios da
territorialidade e da especificidade. Precedentes. Hipótese concreta em que esses aspectos forma
208

reconhecidos como preenchidos pelo acórdão recorrido. 8- O dissídio jurisprudencial deve ser
comprovado mediante o cotejo analítico entre acórdãos que versem sobre situações fáticas
idênticas. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. (REsp 1641906/MG, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 26/09/2017)
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. AÇÃO ANULATÓRIA DE REGISTROS.
CONFLITO ENTRE NOME EMPRESARIAL E MARCA. INSUFICIÊNCIA DO CRITÉRIO DE
ANTERIORIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE. ART. 124, V,
DA LEI 9.279/96. DIREITO DE PRECEDÊNCIA AO REGISTRO. POSSIBILIDADE DE
EXERCÍCIO NA VIA JUDICIAL. CIRCUNSTÂNCIAS ESPECÍFICAS DO CONFLITO QUE,
TODAVIA, RESULTAM NA MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO POR
FUNDAMENTO DIVERSO. COTEJO ANALÍTICO. NÃO REALIZADO. SIMILITUDE
FÁTICA. AUSÊNCIA. 1- Ação distribuída em 31/7/2012. Recurso especial interposto em
26/9/2013 e atribuído à Relatora em 21/3/2017. 2- O propósito recursal é definir se os registros da
marca FRANZ ALIMENTOS devem ou não ser anulados em virtude do nome empresarial anterior
"CHOCOLATES FRANZ INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA. - ME" e em razão do direito de
precedência ao registro alegado pela recorrente. 3- Devidamente analisadas e discutidas as questões
de mérito, e fundamentado suficientemente o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação
jurisdicional, não há que se falar em violação do art. 535, II, do CPC/73. 4- O capítulo do acórdão
recorrido que adota orientação firmada pela jurisprudência do STJ não merece reforma. 5- Para
aferição de eventual colidência entre nome empresarial e marca e incidência da proibição legal
contida no art. 124, V, da Lei 9.279/96, não se pode restringir-se à análise do critério de
anterioridade, mas deve também se levar em consideração os princípios da especialidade e da
territorialidade. Precedentes. 6- É possível o reconhecimento judicial da nulidade do registro de
marca com fundamento em direito de precedência (art. 129, §1º, da Lei 9.279/1996), que deve,
todavia, ser sistematicamente interpretado à luz da proibição legal contida no art. 124, XIX, do
mesmo diploma. 7- Hipótese em que os elementos apurados pelos juízos de origem conduzem à
inexistência de má-fé, aproveitamento parasitário e deslealdade concorrencial, assim como de risco
de confusão ou associação dos consumidores, impondo a manutenção do acórdão recorrido por
fundamento diverso. 8- O dissídio jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analítico
entre o acórdão recorrido e o paradigma, não sendo suficiente a mera transcrição da ementa e de
trechos sem que haja a indicação precisa da divergência. 9- Recurso especial parcialmente
conhecido e, nessa parte, desprovido. (REsp 1673450/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 26/09/2017)
209

ESCRITURAÇÃO EMPRESARIAL
TRIBUTÁRIO. ISS. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. CONSTITUIÇÃO. APRESENTAÇÃO DE
NOTAS FISCAIS. EQUIPARAÇÃO COM DECLARAÇÃO DE DÉBITO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 436 DO STJ. INAPLICABILIDADE. 1. O Plenário do STJ decidiu que "aos recursos
interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de
2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as
interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça" (Enunciado
Administrativo n. 2, sessão de 09/03/2016). 2. O cumprimento da obrigação acessória relativa à
emissão de nota fiscal, porquanto essencial à correta escrituração das operações realizadas pelo
contribuinte e, consequentemente, ao exercício da fiscalização, tem por escopo o registro e a
comprovação acerca da ocorrência ou não do fato gerador (obrigação tributária principal). 3. O
referido dever instrumental (de emitir notas fiscais) não se confunde com o ato de constituição do
crédito tributário, que pressupõe a apuração dos valores devidos, pela Administração, por meio do
lançamento, ou pelo próprio contribuinte, consolidada em declaração do débito, com força de
confissão de dívida (Súmula 436 do STJ). 4. Hipótese em que o acórdão recorrido entendeu que as
notas fiscais apresentadas à municipalidade, com o objetivo de receber o valor dos serviços por ela
contratados, são equiparáveis à declaração do débito prestada pelo contribuinte e, portanto, aptas à
constituição do crédito tributário, dispensando o lançamento, interpretação que não pode ser
acolhida. 5. Recurso especial provido. (REsp 1490108/MG, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 06/11/2018)
HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I, DA LEI N.
8.137/1990) E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. FALTA DE
JUSTA CAUSA. AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO DO ELEMENTO FRAUDE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. A extinção da ação penal na via eleita
consiste em medida excepcional, justificando-se somente quando se revelar, de plano, a atipicidade
da conduta, causa extintiva da punibilidade, ou a ausência de indícios mínimos de autoria. Nesse
contexto, a jurisprudência desta Casa não aceita, ordinariamente, discussões fundadas na ausência
de comprovação do elemento subjetivo do tipo ou na carência de indícios suficientes de autoria do
delito, porquanto tais esclarecimentos demandam, na maior parte das vezes, apreciação detalhada
dos elementos de convicção constantes do processo, providência manifestamente inconciliável com
o rito célere do remédio constitucional. Precedentes. 2. No caso, a peça acusatória, ao imputar aos
pacientes a fraude à Fazenda Nacional, por meio da apresentação de declarações inverídicas de
modo a suprimir o pagamento de tributos, baseou-se, apenas, nas funções desempenhadas pelos
acusados no âmbito da pessoa jurídica. Assim, o crime descrito no art. 1º, inciso I, da Lei n.
210

8.137/1990 foi atribuído aos pacientes somente por ostentarem a qualidade de Presidente e
Diretores da companhia. O denunciante não minudenciou a conduta delituosa e o liame dos
acusados com o crime narrado na inicial, imputando-lhes o delito exclusivamente em razão dos
altos cargos ocupados por eles na empresa. Entretanto, a mera detenção dos postos de Presidente e
de Diretores da pessoa jurídica, sem a descrição das competências desempenhadas pelos réus em
relação aos fatos criminosos, não evidencia a autoria ou eventual anuência com o crime. Nos termos
da orientação desta Corte, não é necessário ao denunciante elucidar a participação de cada acusado
do crime societário. Porém, no caso, observa-se a absoluta ausência de descrição do vínculo
subjetivo dos acusados com o delito delineado na peça acusatória. Evidente, portanto, o desrespeito
aos princípios do contraditório e da ampla defesa. 3. De mais a mais, consoante se observa dos
documentos acostados ao processo, embora a Comunicação Fiscal ao Ministério Público aponte a
existência de declaração inverídica da contribuinte, não asseverou, nem sequer minimamente, à
presença de fraude ou falsificação. As indagações referentes a presença de práticas ardilosas foram
todas respondidas negativamente pelos funcionários fiscais. Assim, embora os pacientes possam ter
recolhido de forma errônea o imposto devido, não descreveram os auditores fiscais nenhuma fraude
ou ardil no procedimento. Além disso, a pessoa jurídica contribuinte mantinha escorreita
escrituração e apresentou todos os documentos solicitados por ocasião da autuação fiscal. Desse
modo, não há nos autos dados inequívocos bastantes a demonstrar que a supressão ou a redução do
tributo ocorrera mediante fraude ou falsificação. A peça acusatória encontra-se consubstanciada
apenas na constituição definitiva do crédito tributário, concluindo o titular da ação penal pública, a
partir daí, que a redução dos valores se deu por meio de uma das condutas listadas no art. 1º da Lei
8.137/1990. Precedentes. 4. Relativamente ao crime de associação criminosa, o Ministério Público
não descreveu a associação efetiva, tampouco o vínculo permanente de cada um dos membros com
o grupo. A inicial apenas se refere ao delito previsto no art. 288 do Código Penal no momento da
capitulação legal, porém sem delineá-lo, ainda que sucintamente. Portanto, evidente o
constrangimento ilegal. Precedentes. 5. Ordem concedida para determinar o trancamento da Ação
Penal n. 0007676-60.2014.8.17.0001 relativamente aos pacientes RONALDO IABRUDI DOS
SANTOS PEREIRA, LUIZ EDUARDO FALCO PIRES CORREA, JOSE LUIS MAGALHAES
SALAZAR, JULIO CESAR PINTO e PAULO ALTMAYER GONCALVES. (HC 351.718/PE,
Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 16/10/2018,
DJe 30/10/2018)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXIBIÇÃO
PARCIAL DOS LIVROS EMPRESARIAIS. POSSIBILIDADE. EXIBIÇÃO CORRELATA À
MATÉRIA EM DISCUSSÃO. SÚMULA 7/STJ. DECISÃO AGRAVADA QUE SE MANTÉM
POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Afasta-se a ofensa aos
211

arts. 165, 458 e 535, todos do Código de Processo Civil, pois a Corte de origem dirimiu,
fundamentadamente e de forma coerente, as matérias que lhe foram submetidas, motivo pelo qual o
acórdão recorrido não padece de omissão, contradição ou obscuridade. 2. A agravante, em seu
arrazoado, não deduziu argumentação jurídica nova alguma capaz de alterar a decisão ora agravada,
que se mantém, na íntegra, por seus próprios fundamentos. 3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 477.195/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
15/05/2014, DJe 17/06/2014)

PREPOSTOS DO EMPRESÁRIO
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SUPOSTO CONSTRANGIMENTO POR SUSPEITA
DE FURTO. DISPARO DE ALARME SONORO SEGUIDO DE REVISTA PESSOAL.
AUSÊNCIA DE TRATAMENTO ABUSIVO POR PARTE DOS PREPOSTOS.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Não
configura ofensa aos arts. 458 e 535 do CPC/73 o fato de o col. Tribunal de origem, embora sem
examinar individualmente cada um dos argumentos suscitados, adotar fundamentação contrária à
pretensão da parte, suficiente para decidir integralmente a controvérsia. 2. Segundo o entendimento
desta Corte, é preclusivo o prazo fixado pelo juiz para apresentação do rol de testemunhas, em
atenção ao princípio do tratamento igualitário das partes. Precedentes. 3. Em regra, o simples
disparo de alarme sonoro, seguido de revista pessoal, não é suficiente para ensejar o dano moral
indenizável, devendo, para tanto, ficar comprovado que tal circunstância foi acompanhada de
tratamento abusivo ou vexatório por parte dos prepostos do estabelecimento comercial. Precedentes.
4. In casu, o v. acórdão recorrido concluiu, mediante análise dos elementos fático-probatórios dos
autos, que a abordagem às consumidoras não se deu de forma excessiva ou vexatória, conforme
alegado. Diante de tal contexto, a alteração desse entendimento demandaria o reexame de fatos e
provas, providência vedada no recurso especial, a teor do disposto na Súmula 7 do STJ. 5. Agravo
interno não provido. (AgInt no AREsp 175.512/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 18/10/2018, DJe 25/10/2018)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
SUBMISSÃO À REGRA PREVISTA NO ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 02/STJ.
EXECUÇÃO FISCAL. REDIRECIONAMENTO EM FACE DE MANDATÁRIOS, PREPOSTOS
E EMPREGADOS (ART. 135, II, DO CTN). INVIABILIDADE, NO CASO CONCRETO.
REAFIRMAÇÃO DAS TESES FIRMADAS NO JULGAMENTO DO RESP 1.604.320/RS. 1.
Cumpre destacar a existência das seguintes peculiaridades no caso concreto: (a) não pretende a
Fazenda Nacional a responsabilização de "diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas
212

de direito privado" (art. 135, III, do CTN) casos que são frequentemente enfrentados no âmbito
deste Tribunal , e sim a responsabilização de mandatários, prepostos e empregados, em razão da
suposta prática de atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos, que
originaram créditos tributários (art. 135, II, do CTN); (b) o nome do responsável não consta da
CDA e não houve a dissolução irregular da pessoa jurídica hipóteses nas quais a jurisprudência
desta Corte autoriza o redirecionamento da execução fiscal. 2. É certo que a existência de indícios
da prática de atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos autoriza,
em tese, o redirecionamento da execução fiscal em face dos sujeitos previstos nos incisos do art.
135 do CTN, inclusive dos mandatários, prepostos e empregados (inciso II). Também é certo que
fica viabilizado o redirecionamento se a conduta ilícita constitui infração penal. Contudo, a
viabilidade do redirecionamento da execução fiscal deve observar o disposto na Súmula 430/STJ, in
verbis: "O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a
responsabilidade solidária do sócio-gerente". Essa orientação aplica-se, mutatis mutandis, aos
mandatários, prepostos e empregados (caso dos autos). Nesse contexto, independentemente de a
conduta tida por ilícita seja dolosa ou culposa, é necessário que haja a imputação, ao responsável,
de um resultado que não seja o mero inadimplemento do tributo. Na linha dos precedentes desta
Corte: (a) na hipótese de ocorrência de dissolução irregular da pessoa jurídica, o resultado
transcende o mero inadimplemento e autoriza o redirecionamento da execução fiscal; (b) quando a
Fazenda Pública apura a responsabilidade em sede de procedimento administrativo fiscal sujeito ao
contraditório e verifica a existência inequívoca de liame entre condutas supostamente ilícitas e
inadimplemento tributário, com a consequente inclusão do nome do responsável na Certidão de
Dívida Ativa, fica viabilizada a execução direta em face do sócio. 3. Desse modo, não verificada, no
caso concreto, hipótese autorizativa, fica inviabilizado o redirecionamento da execução fiscal.
Registro que a adoção de tal entendimento não implica impunidade em relação a eventuais ilícitos
praticados, pois as condutas ilícitas tipicadas como crime ensejam a responsabilização penal e os
danos causados à pessoa jurídica ensejam a responsabilidade civil, no âmbito empresarial. 4.
Ademais, a orientação desta Corte firmou-se no sentido de que os arts. 134 e 135 do CTN
estabelecem a responsabilidade de terceiros quando impossível a exigência do cumprimento da
obrigação tributária em face do devedor principal. Ressalte-se que há inúmeros precedentes deste
Tribunal que tratam a responsabilidade prevista no art. 135 do CTN como "subsidiária",
especialmente o acórdão proferido no REsp 1101728/SP (1ª Seção, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, DJe de 23.3.2009) submetido ao regime dos recursos repetitivos. 5. Agravo interno não
provido. (AgRg no AgRg nos EDcl no REsp 1485532/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/03/2018, DJe 27/03/2018)
213

REGISTRO DE EMPRESAS
Informativo nº 0406. Período: 7 a 11 de setembro de 2009. TERCEIRA TURMA.
EMPRESA. MARCA. NOME GEOGRÁFICO. Discute-se se o registro anterior do nome
empresarial e da marca com utilização de termo que remete à localização geográfica "Arábia" (que
tem a função de sugerir a produção e venda de comida árabe) garante direito de uso exclusivo dessa
expressão em favor dos recorrentes, o que impediria a utilização do vocábulo "Areibian" no nome
empresarial e na marca do concorrente, ora recorrido. Destaca a Min. Relatora que, na hipótese dos
autos, o nome geográfico enquadra-se em uma das exceções ao direito de uso exclusivo de nome
empresarial anteriormente registrado, que não é absoluto nos termos do art. 9º da Instrução
Normativa n. 104/2007 do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) - órgão
integrante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Segundo o art. 4º, VI,
da Lei n. 8.934/1994, esse órgão possui a função de orientar, supervisionar e normatizar, no âmbito
do sistema nacional de registro de empresas mercantis (Sirem), a maneira de proceder no caso de
pedidos de registro de nomes empresariais idênticos ou semelhantes a outros anteriormente
registrados. É cediço que a proteção conferida à marca na Lei de Proteção Industrial (LPI, arts. 129
e 131) não se limita a assegurar direitos meramente individuais ao seu proprietário, mas também ao
público consumidor (art. 4º do CDC). E, para que haja violação do art. 129 da LPI, é necessário que
exista risco de dúvida, erro ou confusão no mercado entre os produtos ou serviços do mesmo ramo.
No caso dos autos, o Tribunal a quo entendeu que, apesar da semelhança dos vocábulos, não há
similitude a ponto de confundir o consumidor. Por essas razões, entre outras, a Turma negou
provimento ao recurso. REsp 989.105-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/9/2009.
Informativo nº 0254. Período: 1º a 5 de agosto de 2005. SEGUNDA TURMA. VINÍCOLA.
REGISTRO. CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA. INEXIGIBILIDADE. O registro de
empresas nas entidades competentes para a fiscalização do exercício de profissionais é efetuado em
razão da atividade preponderante. Assim, o estabelecimento cuja atividade básica é a produção de
vinho e outros derivados de uva não está obrigado a registrar-se no Conselho Regional de Química,
uma vez que a fabricação daqueles produtos não se dá por meio de reações químicas dirigidas em
laboratórios químicos de controle. Para a fabricação daqueles produtos, deve haver um químico
responsável pelo controle, esse, sim, devidamente registrado no referido conselho. Precedentes
citados: REsp 653.498-RS, DJ 28/5/2005; REsp 371.797-SC, DJ 29/4/2002, e REsp 445.381-MG,
DJ 11/11/2002. REsp 706.869-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/8/2005.
Informativo nº 0574. Período: 26 de novembro a 18 de dezembro de 2015. SEGUNDA
SEÇÃO. DIREITO EMPRESARIAL. CERTIDÕES NEGATIVAS E TRANSFORMAÇÃO DE
SOCIEDADE SIMPLES EM EMPRESARIAL. Para efetuar o registro e o arquivamento de
alteração contratual, a fim de promover a transformação de sociedade civil em empresária, não é
214

exigível a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União, exigindo-se,
contudo, certidão negativa de débito com o INSS. Realmente, o Decreto-Lei n. 1.715/1979 e a Lei
n. 8.036/1990 exigem, para o registro e o arquivamento de alteração contratual como a aqui
analisada, a apresentação de certidões negativas de débitos com o FGTS e com a União. Ocorre que
a Lei n. 8.934/1994 - que entrou em vigor posteriormente a esses mencionados diplomas normativos
- estabeleceu, no parágrafo único do seu art. 37, que, para instruir os pedidos de arquivamento, além
dos referidos nesse artigo (dentre os quais não constam certidões negativas de débitos com o FGTS
ou com a União), "nenhum outro documento será exigido das firmas individuais e sociedades
referidas nas alíneas a, b e d do inciso II do art. 32". Nesse contexto, a Terceira Turma, no REsp
1.290.954-SC (DJe 25/2/2014), firmou entendimento no sentido de que Lei n. 8.934/1994 derrogou
os dispositivos de leis anteriores que estabeleciam outras exigências para o arquivamento de atos
societários nas Juntas Comerciais. No referido julgado, confrontou-se a Lei n. 8.934/1994 com as
leis tributárias anteriores, identificando-se uma antinomia de segundo grau, em que há conflito entre
os critérios cronológico e da especialidade. Concluiu-se, então, que há de prevalecer o critério
cronológico, pois o enunciado normativo "nenhum outro documento será exigido", contido na Lei n.
8.934/1994, tem conteúdo nitidamente derrogatório, excluindo a possibilidade de subsistirem leis
anteriores em sentido contrário. Portanto, não mais subsistem as exigências de certidões negativas
de débitos com o FGTS e com a União, porque previstas em leis anteriores (Decreto-Lei n.
1.715/1979 e Lei n. 8.036/1990). Prevalece, apenas, a exigência de certidão negativa do INSS, pois
inserida na Lei n. 8.212/1991 por força da Lei n. 9.032/1995, que é posterior à Lei n. 8.934/1994.
Além disso, cabe ressaltar que, de fato, o parágrafo único do art. 34 do Decreto n. 1.800/1996
afirma que, obrigatoriamente, para instruir os pedidos de arquivamento, "Nenhum outro documento,
além dos referidos neste Regulamento, será exigido das firmas mercantis individuais e sociedades
mercantis, salvo expressa determinação legal, reputando-se como verdadeiras, até prova em
contrário, as declarações feitas perante os órgãos do Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins". Percebe-se, desse modo, que o Decreto foi bastante claro, diversamente da lei,
quanto à possibilidade de se exigirem outros documentos por determinação legal. Deve-se indagar,
entretanto, se o Decreto extrapolou as balizas da Lei. Ademais, uma interpretação sistemática dos
arts. 32 da Lei n. 8.934/1994 e 11 da LC n. 123/2006 poderia conduzir ao entendimento de que não
teria havido derrogação de dispositivos de leis anteriores à Lei n. 8.934/1994. Todavia, o
entendimento do aludido REsp 1.290.954-SC, da Terceira Turma do STJ, deve ser reafirmado. Isso
porque a interpretação da lei deve privilegiar o sentido que mais se harmoniza com os princípios
constitucionais, pois estes se encontram no vértice da pirâmide normativa, de onde emanam normas
fundamentais que se irradiam por todo ordenamento jurídico, alcançando inclusive as relações
jurídicas de direito privado. Com esse entendimento, a interpretação do caso em análise deve ser
215

conduzida pelos princípios fundamentais da ordem econômica, especialmente o da livre iniciativa,


previsto no art. 170 da CF. Sob a ótica da livre iniciativa, o Estado deve respeitar a autonomia de
vontade dos sócios de uma sociedade, não podendo impedir que estes criem, modifiquem ou
extingam sociedades empresárias, salvo nos casos expressamente previstos em lei. A regra no
direito brasileiro, portanto, é a livre iniciativa e a autonomia da vontade dos sócios, sendo exceção a
interferência estatal. Nesse passo, verifica-se que a norma do art. 37 da Lei n. 8.934/1994, ao impor
exigências para a concretização da vontade dos sócios, apresenta natureza excepcional num sistema
jurídico regido pela livre iniciativa, devendo, pois, receber interpretação restritiva. Desse modo, o
trecho "nenhum outro documento será exigido" (art. 37, parágrafo único, da Lei n. 8.934/1994) não
pode receber interpretação extensiva, para que se admitam outras restrições à autonomia de vontade
dos sócios, previstas em leis anteriores. De mais a mais, ressalte-se que, além de a dispensa de
certidões negativas não alterar em nada o crédito tributário - que permanece ativo, podendo ser
redirecionado contra a nova sociedade (que surgiu por transformação da sociedade simples em
sociedade empresária), conforme o disposto no art. 132 do CTN -, a Fazenda, nos casos
excepcionais em que a transformação societária seja implementada com o objetivo deliberado de
frustrar a satisfação do crédito tributário, poderá se valer da desconsideração da personalidade
jurídica ou da cautelar fiscal para proteger seus interesses. REsp 1.393.724-PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/10/2015, DJe
4/12/2015.
Informativo nº 0548. Período: 22 de outubro de 2014. QUARTA TURMA DIREITO
EMPRESARIAL. PRECEDÊNCIA DE NOME EMPRESARIAL QUE NÃO IMPLICA DIREITO
AO REGISTRO DE MARCA. A sociedade empresária fornecedora de medicamentos cujos atos
constitutivos tenham sido registrados em Junta Comercial de um Estado antes do registro de marca
no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) por outra sociedade que presta serviços
médicos em outro Estado, não tem direito ao registro de marca de mesma escrita e fonética, ainda
que a marca registrada coincida com seu nome empresarial. Isso porque as formas de proteção ao
nome empresarial e à marca comercial não se confundem. A tutela daquele se circunscreve à
unidade federativa de competência da Junta Comercial em que registrados os atos constitutivos da
empresa, podendo ser estendida a todo o território nacional, desde que feito pedido complementar
de arquivamento nas demais Juntas Comerciais. Por sua vez, a proteção à marca obedece ao sistema
atributivo, sendo adquirida pelo registro validamente expedido pelo INPI, que assegura ao titular
seu uso exclusivo em todo o território nacional, nos termos do art. 129, caput e § 1º, da Lei
9.279/1996 (LPI). Conforme esclarecido pela Terceira Turma do STJ, "A interpretação do art. 124,
V, da LPI que melhor compatibiliza os institutos da marca e do nome comercial é no sentido de que,
para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome empresarial
216

de terceiros constitua óbice ao registro de marca - que possui proteção nacional -, necessário, nessa
ordem: (i) que a proteção ao nome empresarial não goze somente de tutela restrita a alguns Estados,
mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo o território nacional e (ii) que a
reprodução ou imitação seja 'suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais
distintivos'. Não sendo essa, incontestavelmente, a hipótese dos autos, possível a convivência entre
o nome empresarial e a marca, cuja colidência foi suscitada" (REsp 1.204.488-RS, DJe 2/3/2011).
Além disso, não cabe a aplicação ao caso do art. 8º da Convenção da União de Paris de 1883
(CUP), pois o escopo desse dispositivo é assegurar a proteção do nome empresarial de determinada
sociedade em país diverso que o seu de origem, que seja signatário da CUP, e não em seu país de
origem, onde se deve atentar às leis locais. Nesse sentido, não se pode olvidar que o art. 1.166 do
CC estabelece que "A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as
respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do
respectivo Estado". Já o art. 124, XIX, da LPI veda o registro de marca que reproduza outra
preexistente, ainda que em parte e com acréscimo, "suscetível de causar confusão ou associação
com marca alheia". Nessa toada, a finalidade da proteção ao uso das marcas é dupla: por um lado
protegê-la contra usurpação, proveito econômico parasitário e o desvio desleal de clientela alheia e,
por outro, evitar que o consumidor seja confundido (REsp 1.105.422-MG, Terceira Turma, DJe
18/5/2011). Ademais, sem perder de vista o enfoque pelo ângulo do direito marcário, a
possibilidade de confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem identidade
fonética e escrita quanto ao elemento nominativo e ambas se destinarem ao segmento
mercadológico médico. REsp 1.184.867-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014.
Informativo nº 0536. Período: 26 de março de 2014. TERCEIRA SEÇÃO. DIREITO
PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIME
ENVOLVENDO JUNTA COMERCIAL. Compete à Justiça Estadual processar e julgar a suposta
prática de delito de falsidade ideológica praticado contra Junta Comercial. O art. 6º da Lei
8.934/1994 prescreve que as Juntas Comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da
unidade federativa de sua jurisdição e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do
Comércio, órgão federal. Ao interpretar esse dispositivo legal, a jurisprudência do STJ sedimentou
o entendimento de que, para se firmar a competência para processamento de demandas que
envolvem Junta Comercial de um estado, é necessário verificar a existência de ofensa direta a bens,
serviços ou interesses da União, conforme determina o art. 109, IV, da CF. Caso não ocorra essa
ofensa, como na hipótese em análise, deve-se reconhecer a competência da Justiça Estadual.
Precedentes citados: CC 119.576-BA, Terceira Seção, DJe 21.6.2012; CC 81.261-BA, Terceira
Secão, DJe 16.3.2009. CC 130.516-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/2/2014.
217

Informativo nº 0464. Período: 21 a 25 de fevereiro de 2011. TERCEIRA TURMA.


COLIDÊNCIA. MARCA. NOME COMERCIAL. LEI N. 9.276/1996. A Turma reiterou o
entendimento de que, para a aferição de eventual colidência entre denominação e marca, não se
deve ater apenas à análise do critério da anterioridade, mas também levar em consideração outros
dois princípios básicos do direito pátrio das marcas: o princípio da territorialidade, correspondente
ao âmbito geográfico da proteção, e o princípio da especificidade, segundo o qual a proteção da
marca, salvo quando declarado pelo INPI de alto renome ou notória, está diretamente vinculada ao
tipo de produto ou serviço, como pressuposto de necessidade de evitar erro, dúvida ou confusão
entre os usuários. Hodiernamente a proteção ao nome comercial se circunscreve à unidade
federativa de jurisdição da junta comercial em que registrados os atos constitutivos da empresa,
podendo ser estendida a todo o território nacional se for feito pedido complementar de
arquivamento nas demais juntas comerciais. Entendeu, ainda, que a melhor exegese do art. 124, V,
da LPI (Lei n. 9.276/1996) para compatibilização com os institutos da marca e do nome comercial é
que, para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome
empresarial de terceiros constitua óbice ao registro da marca, que possui proteção nacional, é
necessário nesta ordem: que a proteção ou nome empresarial não goze de tutela restrita a alguns
estados, mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo território nacional e que a
reprodução ou imitação sejam suscetíveis de causar confusão ou associação com esses sinais
distintivos. Assim, a Turma deu provimento ao recurso e denegou a segurança. Precedente citado:
REsp 971.026-RS. REsp 1.204.488-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/2/2011.
Informativo nº 0352. Período: 14 a 18 de abril de 2008. PRIMEIRA TURMA.
COMPETÊNCIA. LEILOEIRO. PUNIÇÃO. JUNTA COMERCIAL. Questionam-se os atos
praticados por junta comercial que resultaram na destituição dos recorrentes da função de preposto
de leiloeiro e na cominação de multa a leiloeiro, bem como o ato do secretário adjunto de política
comercial do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo que os referendou. Para os recorrentes,
os atos são nulos porque, a partir da Lei n. 8.934/1994, as juntas comerciais perderam esses
poderes. Explica o Min. Relator que a profissão de leiloeiro está regulamentada pelo Dec. n.
21.981/1932, que atribui às juntas comerciais a competência de fiscalizar a atuação desses
profissionais e impor as penalidades e multas, de acordo com os arts. 16, 17 e 18 da citada lei. Esses
dispositivos estão vigentes, porquanto não foram revogados pela Lei n. 8.934/1994, que surgiu para
disciplinar o registro público de empresas e atividades afins sem sequer tratar da carreira de
leiloeiro. Portanto, tanto o Dec. n. 21.981/1932 como a Lei n. 4.726/1965 reconheceram a
competência sancionatória da junta comercial; assim, no caso, foi obedecido o princípio da
legalidade. Logo, decidiu com acerto o Tribunal a quo ao afirmar que, se a tese dos autores
(recorrentes) fosse aceita, não teria norma a regulamentar a função de leiloeiro, o que resultaria no
218

fim dessa carreira. Ademais, aplica-se ao caso a eficácia da lei no tempo, as regras do art. 2º da Lei
de Introdução ao Código Civil (DL n. 4.657/1942). Com esse entendimento, a Turma negou
provimento ao recurso. REsp 840.535-DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/4/2008.
RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. NOME EMPRESARIAL.
ÂMBITO DE PROTEÇÃO. UNIDADE DA FEDERAÇÃO EM QUE ARQUIVADOS OS ATOS
CONSTITUTIVOS DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA. PREQUESTIONAMENTO.
INEXISTÊNCIA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. 1- Ação
distribuída em 26/11/2010. Recurso especial interposto em 3/9/2014 e concluso à Relatora em
25/8/2016. 2- O propósito recursal é definir se o nome empresarial adotado e utilizado pelo
recorrido viola direitos de propriedade industrial titulados pelo recorrente. 3- A ausência de decisão
acerca das teses invocadas pelo recorrente impede, quanto a elas, o conhecimento do recurso
especial. 4- O nome empresarial goza de proteção jurídica tão somente no âmbito do ente federativo
onde se localiza a Junta Comercial em que arquivados os atos constitutivos da sociedade que o
titula, podendo ser estendida a todo território nacional apenas na hipótese de pedido de
arquivamento nas demais Juntas Comerciais. Precedentes. 5- Na espécie, os atos constitutivos das
partes foram arquivados em diferentes entes federativos, não havendo notícia de que o recorrente
tenha pleiteado proteção em todo o território nacional, de modo que sua pretensão de abstenção de
uso não merece prosperar. 6- Ademais, o acórdão recorrido concluiu que, dada a atividade
desempenhada por cada uma das empresas, a existência simultânea dos nomes empresariais não é
capaz de acarretar confusão e prejuízo aos consumidores. 7- O reexame de fatos e provas em
recurso especial é inadmissível. 8- Recurso especial não provido. (REsp 1686154/SP, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 23/02/2018)
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROTEÇÃO AO NOME
EMPRESARIAL. CIRCUNSCRIÇÃO À UNIDADE DA FEDERAÇÃO EM QUE REALIZADO
O REGISTRO. CONFLITO ENTRE MARCA E NOME EMPRESARIAL. ANTERIORIDADE
DO REGISTRO DO NOME. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO
IMPROVIDO. 1. A proteção do nome empresarial está circunscrita à unidade da federação de
jurisdição da Junta Comercial em que registrados os atos constitutivos da empresa, podendo ser
estendida a todo território nacional caso haja pedido complementar de arquivamento nas demais
Juntas Comerciais. Precedentes. 2. Registrados os nomes comerciais das partes em diferentes
estados da federação, sem pedido de proteção em todo o território nacional, não há falar em
abstenção de uso, ainda que o registro da agravante seja anterior. 3. No que se refere ao conflito
entre a marca registrada no INPI pela agravante e o nome comercial da agravada, registrado em
1992, verifica-se que o registro do nome comercial daquela antecede em muito o da marca. Veja-se
que somente no ano 2000 foi feito o registro da marca no INPI. Nesse sentido, não há como obstar o
219

uso do nome empresarial, já consolidado, pela agravada. 4. A alteração da conclusão do acórdão


recorrido no sentido de que a anterioridade do registro da ora agravada perante a JUCESP é
evidente demandaria o revolvimento de suporte fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na
Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça. 5. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no
REsp 1280061/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 01/09/2016,
DJe 15/09/2016)
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E EMPRESARIAL. JUNTA COMERCIAL. EXIGÊNCIA
DE CERTIDÃO NEGATIVA TRIBUTÁRIA. ANTINOMIA JURÍDICA DE SEGUNDO GRAU.
CONFLITO ENTRE O CRITÉRIO CRONOLÓGICO E O DA ESPECIALIDADE. HIPÓTESE DE
PREVALÊNCIA DO CRITÉRIO CRONOLÓGICO. PREVALÊNCIA DA LIVRE INICIATIVA.
1. Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição para o
arquivamento de ato de transformação de sociedade simples em sociedade empresária. 2. Antinomia
jurídica entre a Lei 8.934/94, ao regular o registro público de empresas mercantis e atividades afins,
e leis tributárias específicas anteriores. 3. Possibilidade de aplicação do critério cronológico ou do
critério da especialidade, caracterizando um conflito qualificado como "antinomia de segundo
grau". 4. Prevalência excepcional do critério cronológico. Precedente da Terceira Turma. 5.
Derrogação tácita dos dispositivos de leis tributárias anteriores que condicionavam o ato de
arquivamento na Junta Comercial à apresentação de certidão negativa de débitos. 6. Interpretação
condizente com o princípio constitucional da livre iniciativa. 7. RECURSO ESPECIAL PROVIDO,
EM PARTE. (REsp 1393724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe
04/12/2015)
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE USO DE DOCUMENTO
FALSO PERANTE JUNTA COMERCIAL, COM A FINALIDADE DE ALTERAR CONTRATO
SOCIAL DE EMPRESA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA DIRETA A BENS, INTERESSES OU
SERVIÇOS DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. I - Hipótese em que a
denúncia narra que foram apresentados documentos falsificados perante a Junta Comercial com a
finalidade de excluir sócios e incluir terceiros no contrato social de empresa. II - O fato de as Juntas
Comerciais exercerem atividade federal delegada não implica, por si só, competência da Justiça
Federal para o julgamento do feito, devendo ser demonstrada a ocorrência de conduta que afete ou
prejudique o funcionamento da própria Junta Comercial. III - As circunstâncias delineadas não
evidenciam prejuízo direto à bens, serviços ou interesses da União, mas tão somente se vislumbra
eventual prejuízo aos terceiros particulares que tiveram seus nomes envolvidos na ação fraudulenta
que visava à modificação do contrato social da empresa. IV - Conflito conhecido para declarar
competente o Juízo de Direito da 1.ª Vara Criminal de Salvador, ora Suscitado. (CC 136.271/BA,
220

Rel. Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP),


TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 29/04/2015)
RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. NOME COMERCIAL.
MARCAS MISTAS. PRINCÍPIOS DA TERRITORIALIDADE E
ESPECIFICIDADE/ESPECIALIDADE. CONVENÇÃO DA UNIÃO DE PARIS - CUP. 1. Não se
verifica a alegada violação do art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez que o Tribunal de
origem se pronunciou de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos autos, nos limites do seu
convencimento motivado. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os
argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para
embasar a decisão. 2. Não há ilegitimidade passiva do Instituto Nacional de Propriedade Industrial-
INPI em ação ordinária que busca invalidar decisão administrativa proferida pela autarquia federal
no exercício de sua competência de análise de pedidos de registro marcário, sua concessão e
declaração administrativa de nulidade. 3. A tutela ao nome comercial se circunscreve à unidade
federativa decompetência da junta comercial em que registrados os atos constitutivos da empresa,
podendo ser estendida a todo o território nacional desde que seja feito pedido complementar de
arquivamento nas demais juntas comerciais. Por sua vez, a proteção à marca obedece ao sistema
atributivo, sendo adquirida pelo registro validamente expedido pelo Instituto Nacional da
Propriedade Industrial - INPI, que assegura ao titular seu uso exclusivo em todo o território
nacional, nos termos do art. 129, caput, e § 1º da Lei n. 9.279/1996. (REsp 1190341/RJ, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 05/12/2013, DJe 28/02/2014
e REsp 899.839/RJ, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em
17/08/2010, DJe 01/10/2010). 4. O entendimento desta Corte é no sentido de que eventual
colidência entre nome empresarial e marca não é resolvido tão somente sob a ótica do princípio da
anterioridade do registro, devendo ser levado em conta ainda os princípios da territorialidade, no
que concerne ao âmbito geográfico de proteção, bem como o da especificidade, quanto ao tipo de
produto e serviço. (REsp 1359666/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 28/05/2013, DJe 10/06/2013). 5. No caso concreto, equivoca-se o Tribunal de origem ao
afirmar que deve ser dada prioridade ao nome empresarial em detrimento da marca, se o
arquivamento na junta comercial ocorreu antes do depósito desta no INPI. Para que a reprodução ou
imitação de nome empresarial de terceiro constitua óbice a registro de marca, à luz do princípio da
territorialidade, faz-se necessário que a proteção ao nome empresarial não goze de tutela restrita a
um Estado, mas detenha a exclusividade sobre o uso em todo o território nacional. Porém, é
incontroverso da moldura fática que o registro dos atos constitutivos da autora foi feito apenas na
Junta Comercial de Blumenau/SC. 6. A Convenção da União de Paris de 1883 - CUP deu origem ao
sistema internacional de propriedade industrial com o objetivo de harmonizar o sistema protetivo
221

relativo ao tema nos países signatários, do qual faz parte o Brasil


(<http://www.wipo.int/treaties/en>). É verdade que o art. 8º da dita Convenção estabelece que "O
nome comercial será protegido em todos os países da União, sem obrigação de depósito ou de
registro, quer faça ou não parte de uma marca de fábrica ou de comércio." Não obstante, o escopo
desse dispositivo é assegurar a proteção do nome empresarial de determinada sociedade em país
diverso do de sua origem, que seja signatário da CUP, e não em seu país natal, onde deve-se atentar
às leis locais. 7. O artigo 124, XIX, da Lei da Propriedade Industrial veda o registro de marca que
reproduza outra preexistente, ainda que em parte e com acréscimo "suscetível de causar confusão ou
associação com marca alheia". Sob o enfoque pelo ângulo do direito marcário, a possibilidade de
confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem identidade fonética e escrita
quanto ao elemento nominativo e ambas se destinarem ao segmento mercadológico médico. Assim,
é inviável admitir a coexistência de tais marcas. 8. Ainda que não tivesse sido reconhecido o direito
de precedência do registro n. 816805776 para a marca mista MULTIMED, ao contrário do que
sugere o Tribunal a quo, não seria possível concluir pela nulidade deste. Isso porque tal registro foi
concedido em 1994, não sofrendo nenhuma impugnação por parte da autora, seja
administrativamente no prazo de seis meses (art. 101 da Lei n. 5.772/1971, correspondente ao atual
169 da Lei n. 9.279/1996), seja judicialmente no prazo de 5 anos, nos termos do art. 174 da Lei n.
9.279/1996. Desse modo, está preclusa a possibilidade de questionar tal registro por meio de
processo administrativo de nulidade, bem como por meio de ação de nulidade de registro. Este só
poderá ser impugnado por meio de processo administrativo de caducidade e se preenchidos os
requisitos legais, nos termos da Lei da Propriedade Industrial. 9. A desconstituição do registro por
ação própria é necessária para que possa ser afastada a garantia da exclusividade em todo o
território nacional. (REsp 325158/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão
Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/08/2006, DJ 09/10/2006, p. 284 e REsp 1189022/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 02/04/2014). 10. No decorrer de processo
administrativo de nulidade já instaurado, afigura-se temerária a conduta do titular de marca
registrada que firma contrato de licenciamento com terceiro, tanto mais se não informar este acerca
do óbice sofrido pelo registro marcário. Não há nexo de causalidade entre decisão proferida pelo
INPI de concessão do registro marcário, posteriormente invalidada por meio de regular processo
administrativo, e a desistência de terceiro em prosseguir com o licenciamento desta marca, ao tomar
conhecimento de que a sua titular respondia ao referido processo administrativo de nulidade. 11.
Recurso especial provido. (REsp 1184867/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 15/05/2014, DJe 06/06/2014)
222

PROPRIEDADE INDUSTRIAL
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. CONCORRÊNCIA
DESLEAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. TRADE DRESS. CONJUNTO-
IMAGEM. ELEMENTOS DISTINTIVOS. PROTEÇÃO LEGAL CONFERIDA PELA TEORIA
DA CONCORRÊNCIA DESLEAL. REGISTRO DE MARCA. TEMA DE PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, DE ATRIBUIÇÃO ADMINISTRATIVA DE AUTARQUIA FEDERAL.
DETERMINAÇÃO DE ABSTENÇÃO, POR PARTE DO PRÓPRIO TITULAR, DO USO DE
SUA MARCA REGISTRADA. CONSECTÁRIO LÓGICO DA INFIRMAÇÃO DA HIGIDEZ DO
ATO ADMINISTRATIVO. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A tese a
ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art. 543-C do CPC/1973), é a seguinte: As
questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal e outras
demandas afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é
inequivocamente de competência da justiça estadual, já que não afeta interesse institucional da
autarquia federal. No entanto, compete à Justiça Federal, em ação de nulidade de registro de marca,
com a participação do INPI, impor ao titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela
provisória. 2. No caso concreto, dá-se parcial provimento ao recurso interposto por SS Industrial
S.A. e SS Comércio de Cosméticos e Produtos de Higiene Pessoal Ltda., remetendo à Quarta Turma
do STJ, para prosseguir-se no julgamento do recurso manejado por Indústria e Comércio de
Cosméticos Natura Ltda. e Natura Cosméticos S.A. (REsp 1527232/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/12/2017, DJe 05/02/2018)
Informativo nº 0619. Publicação: 9 de março de 2018. QUARTA TURMA. Processo REsp
1.327.773-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por maioria, julgado em 28/11/2017, DJe
15/02/2018. Tema: Propriedade industrial. Uso indevido de marca de empresa. Dano moral.
Aferição in re ipsa. O dano moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa. Informações do
Inteiro Teor. No tocante ao dano moral, especificamente quanto ao uso indevido da marca, verifica-
se que há, no estudo da jurisprudência da Casa, uma falta de harmonização, haja vista que parcela
dos julgados vem entendendo ser necessário – ainda que de forma indireta – a comprovação do
prejuízo; ao passo que, em outros precedentes, o STJ reconhece que o dano moral decorre
automaticamente da configuração do uso indevido da marca. Diante dessa dispersão da
jurisprudência, o tema do dano moral, quando presente a vulneração da marca, deve ser mais
aprofundado. De fato, a marca não tem apenas a finalidade de assegurar direitos ou interesses
meramente individuais do seu titular (ordem privada), mas visa, acima de tudo, resguardar o
mercado (ordem pública), protegendo os consumidores, conferindo-lhes subsídios para aferir a
origem e a qualidade do produto ou serviço, além de evitar o desvio ilegal de clientela e a prática do
proveito econômico parasitário. Não se pode olvidar, ademais, que a marca, muitas vezes, é o ativo
223

mais valioso da empresa, sendo o meio pelo qual o empresário consegue, perante o mercado,
distinguir e particularizar seu produto ou serviço, enaltecendo sua reputação. Portanto, por sua
natureza de bem imaterial, é ínsito que haja prejuízo moral à pessoa jurídica quando se constata o
uso indevido da marca, pois, forçosamente, a reputação, a credibilidade e a imagem da empresa
acabam sendo atingidas perante todo o mercado (clientes, fornecedores, sócios, acionistas e
comunidade em geral), além de haver o comprometimento do prestígio e da qualidade dos produtos
ou serviços ofertados, caracterizando evidente menoscabo de seus direitos, bens e interesses
extrapatrimoniais. O contrafator, causador do dano, por outro lado, acaba agregando valor ao seu
produto, indevidamente, ao se valer da marca alheia. Sendo assim, o dano moral por uso indevido
da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de
conduta ilícita - contrafação -, revelando-se despicienda a demonstração de prejuízos concretos ou a
comprovação probatória do efetivo abalo moral, haja vista que o vilipêndio do sinal, uma vez
demonstrado, acarretará, por consectário lógico, a vulneração do seu bom nome, reputação ou
imagem.
Informativo nº 0618. Publicação: 23 de fevereiro de 2018. RECURSOS REPETITIVOS.
Processo REsp 1.527.232-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por unanimidade,
julgado em 13/12/2017, DJe 05/02/2018. Tema Trade dress. Proteção legal. Teoria da
concorrência desleal. Competência da Justiça estadual. Registro de marca. INPI. Atribuição
administrativa. Uso da marca. Abstenção. Consectário lógico do ato administrativo. Justiça Federal.
Competência privativa. Destaque. As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos
produtos, concorrência desleal e outras demandas afins, por não envolver registro no INPI e
cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente de competência da Justiça estadual,
já que não afeta interesse institucional da autarquia federal. No entanto, compete à Justiça Federal,
em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao titular a abstenção
do uso, inclusive no tocante à tutela provisória. Informações do Inteiro Teor. A questão
controvertida principal – único objeto da afetação ao rito dos recursos repetitivos – consiste em
delimitar a competência da Justiça estadual para: a) em reconhecimento de concorrência desleal,
determinar a privação de uso de elementos que não são registrados no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial – INPI, caracterizados pelo "conjunto-imagem" (trade dress) de produtos
e/ou serviços e b) impor abstenção de uso de marca registrada pelo INPI. Quanto ao primeiro
questionamento, vale destacar que a Terceira Turma desta Corte, em recente precedente, entendeu –
entre outros pontos – que o conjunto-imagem de bens e produtos é passível de proteção judicial
quando a utilização de conjunto similar resulte em ato de concorrência desleal, em razão de
confusão ou associação com bens e produtos concorrentes (REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, DJe 28/9/2017). Com efeito, embora o sistema brasileiro não reconheça a proteção
224

exclusiva do trade dress ou "conjunto-imagem" integral, com todos os seus elementos


característicos, sua tutela tem origem na própria Constituição Federal, por meio do art. 5º, XXIX, ao
afirmar que a lei assegurará a proteção às criações industriais, à propriedade de marcas, aos nomes
de empresas e a outros signos distintivos. De fato, o que se efetiva, normalmente, é o registro da
marca perante o INPI em sua apresentação nominativa (ou seja, somente o nome do produto, sem
qualquer estilização), inexistindo especial atenção no sentido de se proteger os demais elementos do
trade dress, a saber: o registro da embalagem como marca mista (seus logotipos, desenhos e demais
caracteres gráficos), ou, ainda, como desenho industrial, nas hipóteses previstas na Lei de
Propriedade Industrial. Destarte, cumpre observar que as questões acerca do trade dress (conjunto-
imagem) dos produtos das recorrentes, por não envolver registro no INPI e se tratar de demanda
entre particulares, é inequivocamente de competência da Justiça estadual, já que não afeta interesse
institucional da autarquia federal. Situação diversa diz respeito a demanda referente à concorrência
desleal, em que os litigantes são efetivamente proprietário das marcas que utilizam, devidamente
registradas no INPI, embora tanto a marca como o conjunto-imagem sejam questionados por
suposta confusão/associação entre produtos e o consequente desvio ilícito de clientela. Nesse
contexto, importa destacar que os arts. 129 e 175 da Lei n. 9.279/1996 dispõe, respectivamente, que
os registros de marca deferidos pela autarquia federal (INPI) conferem uso exclusivo ao seu titular
em todo o território nacional, bem como que eventual ação de nulidade do registro será ajuizada no
foro da Justiça Federal. Sendo assim, quanto ao pedido de abstenção de uso da marca, dúvida não
há quanto à competência da Justiça Federal – sob pena de ofensa aos referidos dispositivos de lei
federal –, sendo a abstenção de uso da marca uma decorrência lógica da desconstituição do registro
sob o fundamento de violação do direito de terceiros – consequência expressa, inclusive, no
parágrafo único do art. 173 da Lei de Propriedade Industrial. Conclui-se, portanto, cumprir ao Juízo
federal analisar o pedido de abstenção de uso tão somente nos estritos limites daquilo que compõe o
registro marcário anulando, relegando para a Justiça Comum todo e qualquer aspecto relacionado ao
conjunto-imagem (trade dress).
Informativo nº 0612. Publicação: 25 de outubro de 2017. TERCEIRA TURMA. Processo.
REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 19/09/2017,
DJe 28/09/2017. Propriedade industrial. Conjunto-imagem (trade dress). Comercialização de
produto afim. Embalagens assemelhadas. Concorrência desleal. Perícia técnica. Necessidade.
Destaque. A caracterização de concorrência desleal por confusão, apta a ensejar a proteção ao
conjunto-imagem (trade dress) de bens e produtos é questão fática a ser examinada por meio de
perícia técnica. Informações do Inteiro Teor. A matéria devolvida ao conhecimento do STJ se
limita a analisar a extensão protetiva assegurada ao conjunto-imagem de produto ou serviço (trade
dress) no que tange à caracterização de danos morais e patrimoniais. Inicialmente, cabe registrar
225

que o conjunto-imagem (trade dress) é a soma de elementos visuais e sensitivos que traduzem uma
forma peculiar e suficientemente distintiva, vinculando-se à sua identidade visual, de apresentação
do bem no mercado consumidor. Não se confunde com a patente, o desenho industrial ou a marca,
apesar de poder ser constituído por elementos passíveis de registro. Embora não disciplinado na Lei
n. 9.279/1996, o conjunto-imagem de bens e produtos é passível de proteção judicial quando a
utilização de conjunto similar resulte em ato de concorrência desleal, em razão de confusão ou
associação com bens e produtos concorrentes (art. 209 da LPI). Cabe destacar que o diálogo entre
concorrência e direitos exclusivos decorrentes de propriedades industriais é limitado e somente
justificará a intervenção do Judiciário para afastar as condutas concorrenciais que desbordem a
razoabilidade da disputa legítima, encontrando suas balizas ora na confusão do consumidor
decorrente de imitação desleal (hipótese em análise), ora na usurpação de vantagem alheia
decorrente da associação de seu produto ou serviço com a prestação de seu concorrente, situação em
que é notório o intuito de "pegar carona" no sucesso obtido pelo investimento de outrem, e não para
meramente assegurar um direito de exploração exclusiva a bem não registrado na forma legalmente
exigida. Ao se analisar a confusão entre marcas, os parâmetros anunciados pela doutrina já
introduziam a importância fundamental dos elementos laterais para captura da atenção e do
interesse do público-alvo no momento do posicionamento de produtos no mercado. No contexto do
conjunto-imagem, deve-se transpor a fronteira da questão de direito marcário para se adentrar ao
campo fático da concorrência desleal, uma vez que se contrapõem marcas dessemelhantes
ostensivamente utilizadas, como no caso dos autos, porém se alega que a imagem global do produto
é capaz de implantar no imaginário do consumidor a confusão entre os produtos concorrentes. Em
razão dessas nuances, a confusão que caracteriza concorrência desleal é questão fática, sujeita a
exame técnico, a fim de averiguar o mercado em que inserido o bem e serviço e o resultado da
entrada de novo produto na competição, de modo a se alcançar a imprevisibilidade da conduta
anticompetitiva aos olhos do mercado.
Informativo nº 0608. Publicação: 30 de agosto de 2017. TERCEIRA TURMA. Processo
REsp 1.669.131-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em
27/6/2017, DJe 1/8/2017. Propriedade industrial. Patentes. Falta de pagamento de retribuição anual.
Obrigatoriedade de notificação do arquivamento do pedido ou da extinção da patente. Restauração
garantida pelo art. 87 da Lei n. 9.279/96 até três meses contados da notificação. Destaque. Para
arquivamento de pedido ou extinção de patente por falta de pagamento da retribuição anual prevista
no art. 84 da Lei n. 9.279/1996, exige-se notificação prévia do respectivo depositante ou titular.
Informações do Inteiro Teor. Discute-se acerca da necessidade de notificação prévia da extinção da
patente pela falta de pagamento de duas retribuições anuais. Inicialmente, cabe pontuar que esse
pagamento configura requisito imprescindível para que o titular de uma patente goze do monopólio,
226

garantido pelo Estado, de exploração comercial do objeto patenteado durante o seu prazo de
vigência. De acordo com o art. 84 da Lei de Propriedade Industrial (Lei n. 9.279/96), a retribuição
anual é devida a partir do início do terceiro ano do depósito e deve ser paga nos três primeiros
meses de cada período anual. Nesse contexto, a falta do pagamento da retribuição acarreta, como
regra, o arquivamento do pedido de patente, ou, caso já concedida, a sua extinção. Porém, a regra
do art. 87 do referido diploma legal prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o
instituto da restauração. Estabelece o dispositivo aludido que, notificado do arquivamento do pedido
ou da extinção da patente em razão do não pagamento da retribuição anual, o depositante ou o
titular pode, no prazo de três meses contados dessa notificação, restaurar o pedido ou a patente, por
meio do pagamento de retribuição específica. Infere-se desse dispositivo legal que, na hipótese de
inadimplemento da retribuição anual, a notificação do arquivamento do pedido ou da extinção da
patente é obrigatória, porquanto necessária para o exercício do direito à restauração.
Informativo nº 0603. Publicação: 7 de junho de 2017. TERCEIRA TURMA. Processo REsp
1.627.606-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, por unanimidade, julgado em 2/5/2017, DJe
5/5/2017. Corretora de seguros. Criação de nova espécie securitária. Proteção autoral. Inexistência.
Ideias, projetos e planos de negócio. Patrimônio comum da coletividade. A criação de nova espécie
de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos Autorais. Informações do Inteiro Teor. A
insurgência por parte da empresa especializada em gestão de riscos e seguros, com foco no mercado
de transporte, se limita à alegação de que identificou um nicho de mercado inovador, criando
modelo específico de seguro de responsabilidade civil com cobertura para danos ambientais em
transporte de cargas, que demandou conhecimentos, pesquisas e estudos para a produção de
parâmetros e estrutura da apólice, sendo, portanto, detentora de bem imaterial. Nesse passo, cumpre
saber se a criação de seguro inédito encontra proteção na Lei de Direitos Autorais, já que não se
trata de propriedade industrial (patente, marca, indicação geográfica ou desenho industrial). O art.
7º da Lei n. 9.610/1998 garante a proteção de obras intelectuais, isto é, as criações do espírito,
expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou
que se invente no futuro. Todavia, para não haver o engessamento do conhecimento bem como o
comprometimento da livre concorrência e da livre iniciativa, a própria Lei de Direitos Autorais
restringe seu âmbito de atuação, elencando diversas hipóteses em que não há proteção de
exclusividade, como as ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos; os
esquemas, planos ou regras para realizar negócios; as normas jurídicas e atos oficiais; e o
aproveitamento industrial ou comercial das ideias contidas nas obras. Assim, o direito autoral não
pode proteger as ideias em si, visto que constituem patrimônio comum da humanidade. Incide,
portanto, o princípio da liberdade das ideias, a proibir a propriedade ou o direito de exclusividade
sobre elas. De igual modo, processos, sistemas, métodos operacionais, projetos, conceitos,
227

princípios, descobertas, planos estratégicos, se não forem patenteáveis, não encontram guarida no
direito de autor. Um tema explorado em determinada obra, pode ser retomado em outras sem haver
imitação, por mais inovador que seja. Nesse contexto, não há plágio se a obra contiver
individualidade própria, centrada na criatividade, embora possam existir semelhanças oriundas da
identidade do objeto. Conclui-se, assim, que não há proteção autoral ao contrato por mais inovador
e original que seja; no máximo, ao texto das cláusulas contido em determinada avença (isto é, à
expressão das ideias, sua forma literária ou artística), nunca aos conceitos, dispositivos, dados ou
materiais em si mesmos (que são o conteúdo científico ou técnico do Direito). Ao contrário, admitir
que a Lei de Direitos Autorais ponha métodos, estilos e técnicas (contratuais ou não) dentre os bens
passíveis de proteção tolheria não só a criatividade e a livre iniciativa, mas também o avanço das
relações comerciais e da ciência jurídica, a qual ficaria estagnada com o direito de exclusividade de
certos tipos contratuais.
Informativo nº 0599. Publicação: 11 de abril de 2017. SEGUNDA TURMA Processo REsp
1.200.528-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, por unanimidade, julgado em 16/2/2017, DJe 8/3/2017.
INPI. Contrato de transferência de tecnologia. Averbação. Alteração de Cláusula por parte da
autarquia. Possibilidade. O INPI pode intervir no âmbito negocial de transferência de tecnologia,
diante de sua missão constitucional e infraconstitucional de regulamentação das atividades atinentes
à propriedade industrial. Informações do Inteiro Teor. Na origem, impetrou-se mandado de
segurança contra ato administrativo praticado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI) que, ao averbar contratos de transferências de tecnologia entre empresas, alterou
unilateralmente cláusulas, fazendo-os passar de onerosos para gratuitos. A questão dos autos está
centrada, portanto, na possibilidade de o INPI imiscuir-se no mérito das avenças firmadas entre
empresas, alterando os termos acordados, quando da averbação dos respectivos contratos. O art. 211
da Lei n. 9.279/96 contém disposição de caráter geral, esclarecendo que o INPI "fará o registro"
daqueles tipos de contratos e estabelecendo o prazo para a análise do pedido de registro, nada
deliberando sobre a possibilidade de eventuais "intervenções contratuais". O art. 240 da mesma lei,
por sua vez, alterou a redação do art. 2º da Lei n. 5.648/70, que tinha a seguinte redação: Art. 2º. O
Instituto tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a
propriedade industrial tendo em vista a sua função social, econômica, jurídica e técnica. Parágrafo
único. Sem prejuízo de outras atribuições que lhe forem cometidas, o Instituto adotará, com vistas
ao desenvolvimento econômico do País, medidas capazes de acelerar e regular a transferência de
tecnologia e de estabelecer melhores condições de negociação e utilização de patentes, cabendo-lhe
ainda pronunciar-se quanto à conveniência da assinatura, ratificação ou denúncia de convenções,
tratados, convênio e acordos sobre propriedade industrial. A alteração resultou na seguinte
disposição textual: Art. 2º. O INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional, as
228

normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua função social, econômica,
jurídica e técnica, bem como pronunciar-se quanto à conveniência de assinatura, ratificação e
denúncia de convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial. Em que pese
tenha ocorrido a reformulação do preceito normativo supra, com a supressão de parcela de
competência do INPI, precisamente relativa às medidas de aceleração e regulação de transferência
tecnológica, bem como de fixação de melhores condições de negociação e utilização de patentes, a
conclusão de que tais atribuições não mais estariam no círculo de competências da mencionada
autarquia federal não prospera. Na parte inicial do atual preceito normativo, identifica-se uma
cláusula geral, de atendimento das funções social, econômica, jurídica e técnica. A função de uma
cláusula geral de direito é de servir de elemento jurídico conformador atemporal e, portanto, aberto,
de modo a favorecer atividades interpretativas evolutivas que preservem a sua dimensão
significativa. Assim, não reconhecer ao INPI competência para levar a efeito intervenções no
âmbito da atividade industrial internacional, a exemplo de intervenções contratuais na órbita
tecnológica, desatende a regra inserta no art. 240 da Lei n. 9.279/96, por inobservância do seu
núcleo normativo. Sob perspectiva distinta, conferir uma interpretação restritiva ao mencionado
preceito legal implicaria na total desconsideração da existência implícita de poderes. Ao se outorgar
competência a determinado órgão, deve-se assegurar os instrumentais necessários à perfeita
realização do seu escopo, ainda mais quando de inegável relevância pública.
Informativo nº 0578. Período: 3 a 16 de março de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. TERMO INICIAL PARA O PAGAMENTO DA RETRIBUIÇÃO
QUINQUENAL PREVISTA NO ART. 120 DA LEI N. 9.279/1996. O prazo para o pagamento da
"retribuição qüinqüenal" prevista no art. 120 da Lei n. 9.279/1996 conta-se da data do depósito do
pedido de registro do desenho industrial no INPI, e não da data do certificado de registro. Salienta-
se, inicialmente, que o registro de desenho industrial concedido pelo INPI vigorará por um período
de dez anos, renovável por três períodos sucessivos de cinco anos cada, podendo a proteção total
conferida pelo registro durar até 25 anos. Ressaltado isso, verifica-se que, dentre outros motivos, a
falta de pagamento da retribuição prevista nos arts. 108 e 120 da Lei n. 9.279/1996 (Lei da
Propriedade Industrial), poderá ocasionar a extinção desse registro. Acerca disso, o Ato Normativo
INPI n. 129/1997, que dispõe sobre a aplicação da Lei de Propriedade Industrial em relação aos
registros de desenho industrial, esclarece: "6. QÜINQÜÊNIOS - 6.1 O pagamento do segundo
qüinqüênio deverá ser efetuado durante o quinto ano, contado da data do depósito, podendo ainda
ser efetuado dentro dos seis meses subseqüentes a este prazo, independente de notificação, mediante
pagamento de retribuição adicional. (...) - 6.4. Conseqüência da não comprovação do pagamento do
qüinqüênio. 6.4.1 Não comprovado o pagamento, o INPI formulará exigência para a apresentação
da comprovação do pagamento, que deverá ser cumprida no prazo de 60 (sessenta) dias. 6.4.2 Não
229

cumprida a exigência, o INPI presumirá que o pagamento não foi efetuado, promovendo os
procedimentos cabíveis". Nesse contexto, o art. 120, §1º, da Lei n. 9.279/1996 ("Art. 120. O titular
do registro está sujeito ao pagamento de retribuição qüinqüenal, a partir do segundo qüinqüênio da
data do depósito. § 1º O pagamento do segundo qüinqüênio será feito durante o 5º (quinto) ano da
vigência do registro") deve ser interpretado no sentido de que o pagamento da retribuição
quinquenal do segundo quinquênio necessita ser efetuado durante o quinto ano de registro, contado
da data de depósito do pedido de registro do desenho industrial no INPI. REsp 1.470.431-PR, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/2/2016, DJe 8/3/2016.
Informativo nº 0576. Período: 5 a 19 de fevereiro de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS EM DESFAVOR DO INPI EM
AÇÃO DE NULIDADE DE REGISTRO DE MARCA. Na ação de nulidade de registro de marca
em que o INPI foi indicado como réu ao lado de sociedade empresária em virtude da concessão
indevida do registro e do não processamento do procedimento administrativo para anular o registro
indevidamente concedido, a autarquia federal responde solidariamente pelos honorários
advocatícios sucumbenciais, na hipótese em que se reconheceu a omissão do instituto quanto à
citada inércia, ainda que o ente federal tenha reconhecido a procedência do pedido judicial. O art.
175 da Lei n. 9.279/1996 (Lei de Propriedade Industrial - LPI) dispõe que "A ação de nulidade do
registro será ajuizada no foro da justiça federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito".
Com efeito, o tema acerca da natureza jurídica da intervenção do INPI, nas ações de nulidade de
marcas e patentes, é controvertido na doutrina e na jurisprudência. Isso porque, de fato, a lei impõe
a participação do INPI, presumindo a existência de um interesse jurídico que não se confunde com
o interesse individual das partes. Em regra, enquanto os particulares disputam um direito
patrimonial, calcado essencialmente em objetivos fático-econômicos, o INPI compromete-se com a
defesa do interesse social difuso: o desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Noutros
termos, por não se comprometer com o interesse individual de quaisquer das partes, o INPI, ao
menos em tese, tem posição processual própria e independente da vontade das partes litigantes, o
que de fato distancia a intervenção da LPI das intervenções típicas previstas no CPC - o qual
somente se aplica de forma subsidiária às demandas de nulidade de registro marcário. Assim, não
haveria que se cogitar da aplicação do art. 50 do CPC, porquanto a assistência é instituto voluntário,
ao passo que a intervenção da LPI é obrigatória. Todavia, na situação concreta, a solução se
distingue da regra geral, pois a autora direcionou sua demanda de forma expressa contra o INPI
justificada pela inércia do instituto em relação ao andamento de prévio requerimento administrativo
para declarar a nulidade do registro marcário concedido à ré. Desse modo, a causa de pedir da
recorrida não ficou limitada à concessão indevida do registro, mas incluiu o não processamento do
procedimento administrativo, situação imputável exclusivamente à autarquia. Assim, a demanda foi
230

corretamente direcionada ao INPI que, sim, compôs a lide como autêntico réu, devendo, portanto,
suportar todos os ônus de sua sucumbência. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 2/2/2016, DJe 5/2/2016.
Informativo nº 0563. Período: 29 de maio a 14 de junho de 2015. QUARTA TURMA.
DIREITO EMPRESARIAL. PRODUTOS DESTINADOS À COMERCIALIZAÇÃO NO
EXTERIOR E CADUCIDADE DA MARCA. O fato de produto elaborado e fabricado no Brasil
ser destinado exclusivamente ao mercado externo não implica a caducidade do respectivo registro
de marca por desuso. De acordo com a Lei de Propriedade Industrial, uma vez passados cinco anos
da concessão do registro, se requerida a sua caducidade, deve o titular da marca demonstrar que, na
data do requerimento, já iniciou seu uso no Brasil, ou que, ainda que interrompido o seu uso, a
interrupção não ultrapassou mais de cinco anos consecutivos, ou que não tenha, nesse prazo, feito
uso com modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, sem a apresentação
de razões legítimas. Se o titular da marca registrada no Brasil industrializa, fabrica, elabora o
produto em território nacional, claramente inicia e faz uso da marca no Brasil, merecendo toda
proteção legal, pois aqui empreende, gerando produção, empregos e riqueza, sendo indiferente que
a mercadoria aqui produzida seja destinada ao mercado interno ou exclusivamente ao externo.
Produzir no País o produto com a marca aqui registrada atende suficientemente ao requisito legal de
"uso da marca iniciado no Brasil". REsp 1.236.218-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
5/2/2015, DJe 11/6/2015.
Informativo nº 0563. Período: 29 de maio a 14 de junho de 2015. QUARTA TURMA.
DIREITO EMPRESARIAL. CADUCIDADE DE MARCA POR USO ESPORÁDICO. É possível
que se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em um período de cinco anos, o valor e
o volume de vendas do produto relacionado à marca forem inexpressivos (na situação em análise,
70 pacotes de cigarros que geraram receita de R$ 614,75) em comparação com operações
bilionárias realizadas pelo titular no mesmo período (produção de mais de 400 bilhões de cigarros).
De acordo com a Lei de Propriedade Industrial, uma vez passados cinco anos da concessão do
registro, se requerida a sua caducidade, deve o titular da marca demonstrar que, na data do
requerimento, já iniciou seu uso no Brasil, ou que, ainda que interrompido o seu uso, a interrupção
não ultrapassou mais de cinco anos consecutivos, ou que não tenha, nesse prazo, feito uso com
modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, sem a apresentação de razões
legítimas. Quanto ao uso efetivo da marca, a doutrina esclarece que "A Lei não define - e com razão
- os atos que hão de constituir uso. O uso é noção intuitiva: usar é exercitar, por em funcionamento.
Ao uso, que é uma atividade (= ação), contrapõe-se o desuso, que é, em essência, uma atitude
neutra (= omissão). Ambos, uso e desuso, são fatos jurígenos, gerando consequências no campo do
Direito. Usar, no sentido que o direito de propriedade industrial empresta a esse verbo, é projetar a
231

marca para o mundo, para que ela, antes mera potencialidade, passe a exercer a função a que se
destina. A Lei anterior, ao prever a extinção do registro como sanção para o desuso, empregava o
termo uso efetivo. A Lei nova não repete o adjetivo, falando apenas de uso, sem qualquer
qualificação. Muito embora o adjetivo 'efetivo' dê acento à realidade do uso, nem por isso nos
parece autorizada a conclusão de que a sua ausência leve à aceitação de qualquer uso. É que, em
função de sua categoria ôntica, as marcas só podem ser consideradas em uso quando 'ionizem' os
bens ou serviços a que se destinem, carregando, simbolicamente, informações sobre eles e
comunicando-as ao público. O fio condutor do exame de suficiência de uso é a atuação do titular no
sentido de por a sua marca diante do público". Assim, no caso em análise, o uso esporádico da
marca, com escassas negociações no mercado, é inexpressivo dentro da magnitude das operações
bilionárias realizadas pela empresa, portanto, insuficiente para configurar e comprovar o uso efetivo
da marca apto a afastar a caducidade por desuso. REsp 1.236.218-RJ, Rel. Min. Raul Araújo,
julgado em 5/2/2015, DJe 11/6/2015.
Informativo nº 0556. Período: 23 de fevereiro a 4 de março de 2015. QUARTA TURMA.
DIREITO EMPRESARIAL. LEI APLICÁVEL NO CASO DE PEDIDO DE REGISTRO DE
DESENHO INDUSTRIAL EM ANDAMENTO QUANDO DA VIGÊNCIA DA LEI DE
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Na hipótese em que o pedido de registro de desenho industrial
tenha sido formulado quando vigente o revogado Código de Propriedade Industrial (Lei
5.772/1971) e a concessão do registro tenha ocorrido já na vigência da Lei de Propriedade Industrial
(Lei 9.279/1996), a divulgação do objeto de registro ocorrida durante o "período de graça" (art. 96,
§ 3º, da Lei 9.279/1996) não afasta a caracterização do requisito da "novidade", ainda que não
realizado previamente requerimento de garantia de prioridade (art. 7º da Lei 5.772/1971). De acordo
com o revogado Código de Propriedade Industrial, encontrar-se-ia o desenho industrial no "estado
da técnica" quando tornado público antes do depósito, perdendo, assim, o requisito da "novidade",
sem o qual o registro não poderia ser concedido (art. 6º). Excepcionalmente, seria autorizada a
publicidade antes do depósito desde que previamente requerida a denominada "garantia de
prioridade", destinada a permitir que a invenção, o modelo ou o desenho industrial fossem
submetidos a entidades científicas ou apresentadas em exposições oficiais ou oficialmente
reconhecidas (arts. 7º e 8º). A Lei 5.772/1971 foi revogada pela Lei 9.279, publicada no DOU de
15/5/1996, que passou a vigorar integralmente em 15/5/1997, na forma do art. 243. A nova lei
modificou a definição do "estado da técnica" e, reflexamente, do requisito da "novidade", que
permaneceu sendo exigido. A "garantia de prioridade", por sua vez, disciplinada nos arts. 7º e 8º do
diploma anterior, foi substituída pelo denominado "período de graça" regido no § 3º do art. 96 da
nova Lei, segundo o qual: "Não será considerado como incluído no estado da técnica o desenho
industrial cuja divulgação tenha ocorrido durante os 180 (cento e oitenta) dias que precederem a
232

data do depósito ou a da prioridade reivindicada, se promovida nas situações previstas nos incisos I
a III do art. 12". Posto isso, surge a seguinte controvérsia: qual a legislação aplicável para definir
"estado de técnica" e o requisito material da "novidade" na hipótese em que o pedido de registro do
desenho industrial tenha sido formulado quando vigente a Lei 5.772/1971 e a concessão do registro
tenha ocorrido já na vigência da Lei 9.279/1996? A propósito do tema, a nova Lei dispôs, em seu
art. 229, que aos "pedidos em andamento serão aplicadas as disposições desta Lei, exceto quanto à
patenteabilidade das substâncias, matérias ou produtos obtidos por meios ou processos químicos e
as substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos
de qualquer espécie, bem como os respectivos processos de obtenção ou modificação, que só serão
privilegiáveis nas condições estabelecidas nos arts. 230 e 231" (redação original, posteriormente
modificada pela Lei 10.196/2001). Desse modo, na situação em análise, incidirá a primeira parte
desse dispositivo - que determina a aplicação da Lei 9.279/1996 aos pedidos em andamento -, já que
o desenho industrial objeto de registro não se insere nas exceções discriminadas pelo artigo,
relacionadas à patenteabilidade de produtos e processos químicos, farmacêuticos e alimentícios.
Observe-se que, quando o legislador desejou fosse indeferido o pedido em andamento que não
preenchesse os requisitos materiais da lei anterior, ele o fez expressamente (vide art. 229-A da Lei
9.279/1996), situação essa que não ocorre na hipótese em apreço, na qual se deve aplicar a nova
Lei. Não se trata propriamente de fazer retroagir a lei aos casos consolidados, decididos pelo INPI,
mas de reconhecer que cabe ao Poder Legislativo modificar os requisitos para a concessão de
patentes de invenção e de modelo de utilidade e de registro de desenho industrial e de marca. Assim
como a lei pode modificar, por exemplo, os requisitos para a usucapião antes da sua aquisição, as
hipóteses de retomada de imóveis locados e as regras pertinentes à herança e aos limites de
construção civil (leis de posturas), pode também alterar as hipóteses relativas à possibilidade de
concessão de registro de propriedade industrial. Frise-se, de mais a mais, que o STF, analisando o
art. 117 da Lei 5.772/1972 (dispositivo semelhante ao art. 229 da Lei 9.279/1996), considerou o art.
9º da Lei 5.772/1972 - que relacionou as invenções "não privilegiáveis" - aplicável aos pedidos em
andamento quando este diploma entrou em vigor (RE 93.679-3/RJ, Plenário, DJ de 9/3/1984). Ora,
assim como a lei nova pode restringir as hipóteses de privilégio, também pode ampliá-las mediante
alteração dos requisitos materiais respectivos, aplicando-as aos pedidos em andamento. Ante o
exposto, nos termos do art. 96 da Lei 9.279/1996, o desenho industrial, no caso em análise, não se
encontra inserido no "estado da técnica", não estando descaracterizado, por esse motivo, o requisito
material de "novidade". REsp 1.050.659-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
24/2/2015, DJe 4/3/2015.
Informativo nº 0550. Período: 19 de novembro de 2014. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. REQUISITOS DE VALIDADE DE PATENTE DE REVALIDAÇÃO. Uma
233

patente pipeline concedida no exterior e revalidada no Brasil não pode ser anulada ao fundamento
de falta de um dos requisitos de mérito do art. 8º da Lei 9.279/1996 (Lei de Propriedade Industrial -
LPI), mas apenas por ausência de requisito especificamente aplicável a ela (como, por exemplo, por
falta de pagamento da anuidade no Brasil) ou em razão de irregularidades formais. Da leitura dos
arts. 230 e 231 da LPI e de acordo com doutrina especializada, uma vez concedida a patente
pipeline por outra jurisdição, ela não poderá ser anulada invocando-se a ausência de um dos
requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das patentes ordinárias (novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial). Precedentes citados: REsp 1.145.637-RJ, Terceira
Turma, DJe 8/2/2010; e REsp 1.092.139-RJ, Terceira Turma, DJe 4/11/2010. REsp 1.201.454-RJ,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/10/2014.
Informativo nº 0550. Período: 19 de novembro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. UTILIZAÇÃO DE PROPAGANDA COMPARATIVA. É lícita a propaganda
comparativa entre produtos alimentícios de marcas distintas e de preços próximos no caso em que: a
comparação tenha por objetivo principal o esclarecimento do consumidor; as informações
veiculadas sejam verdadeiras, objetivas, não induzam o consumidor a erro, não depreciem o produto
ou a marca, tampouco sejam abusivas (art. 37, § 2º, do CDC); e os produtos e marcas comparados
não sejam passíveis de confusão. Com efeito, a propaganda comparativa é a forma de publicidade
que identifica explícita ou implicitamente concorrentes de produtos ou serviços afins, consagrando-
se, em verdade, como um instrumento de decisão do público consumidor. Embora não haja lei
vedando ou autorizando expressamente a publicidade comparativa, o tema sofre influência das
legislações consumerista e de propriedade industrial nos âmbitos marcário e concorrencial. Pelo
prisma dos arts. 6º, III e IV, 36 e 37, do CDC, a publicidade comparativa não é vedada, desde que
obedeça ao princípio da veracidade das informações, seja objetiva, e não seja abusiva. Segundo
entendimento doutrinário, para que a propaganda comparativa viole o direito marcário do
concorrente, as marcas devem ser passíveis de confusão ou a referência da marca deve estar
cumulada com ato depreciativo da imagem de seu produto, acarretando a degenerescência e o
consequente desvio de clientela. Além do mais, a doutrina também ensina que a tendência atual é no
sentido de permitir a publicidade comparativa, desde que: a) o seu conteúdo seja objetivo - isto é,
que se mostre sem enganosidade ou abusividade, confrontando dados e características essenciais e
verificáveis (que não sejam de apreciação exclusivamente subjetiva) -, não se admitindo a
comparação que seja excessivamente geral; b) não seja enganosa (no sentido de possibilitar a
indução em erro dos consumidores e destinatários da mensagem); c) não veicule informação falsa
em detrimento do concorrente; e d) distinga de modo claro as marcas exibidas, sem dar ensejo a
confusão entre os destinatários da mensagem e sem contribuir para a degenerescência de marca
notória. De mais a mais, a Resolução 126/1996, III, do Mercosul e o art. 32 do Código Brasileiro de
234

Autorregulamentação Publicitária (CBAP) também mencionam, como limite à propaganda


comparativa - além do fato de não se poder estabelecer confusão entre os produtos ou marcas e de
não ser permitido denegrir o objeto da comparação - que o seu principal objetivo seja o
esclarecimento da informação ao consumidor. Além disso, a jurisprudência do STJ já se pronunciou
no sentido de que a finalidade da proteção ao uso das marcas - garantida pelo disposto no art. 5º,
XXIX, da CF e regulamentada pelo art. 129 da LPI - é dupla: por um lado a protege contra
usurpação, proveito econômico parasitário e o desvio desleal de clientela alheia e, por outro, evita
que o consumidor seja confundido quanto à procedência do produto (REsp 1.105.422-MG, Terceira
Turma, DJe 18/5/2011; e REsp 1.320.842-PR, Quarta Turma, DJe 1/7/2013). Entender de modo
diverso seria impedir a livre iniciativa e a livre concorrência (arts. 1º, IV, 170, caput, e IV, da CF),
ensejando restrição desmedida à atividade econômica e publicitária, o que implicaria retirar do
consumidor acesso às informações referentes aos produtos comercializados e o poderoso
instrumento decisório, não sendo despiciendo lembrar que o direito da concorrência tem como
finalidade última o bem-estar do consumidor. REsp 1.377.911-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 2/10/2014.
Informativo nº 0548. Período: 22 de outubro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. PRECEDÊNCIA DE NOME EMPRESARIAL QUE NÃO IMPLICA DIREITO
AO REGISTRO DE MARCA. A sociedade empresária fornecedora de medicamentos cujos atos
constitutivos tenham sido registrados em Junta Comercial de um Estado antes do registro de marca
no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) por outra sociedade que presta serviços
médicos em outro Estado, não tem direito ao registro de marca de mesma escrita e fonética, ainda
que a marca registrada coincida com seu nome empresarial. Isso porque as formas de proteção ao
nome empresarial e à marca comercial não se confundem. A tutela daquele se circunscreve à
unidade federativa de competência da Junta Comercial em que registrados os atos constitutivos da
empresa, podendo ser estendida a todo o território nacional, desde que feito pedido complementar
de arquivamento nas demais Juntas Comerciais. Por sua vez, a proteção à marca obedece ao sistema
atributivo, sendo adquirida pelo registro validamente expedido pelo INPI, que assegura ao titular
seu uso exclusivo em todo o território nacional, nos termos do art. 129, caput e § 1º, da Lei
9.279/1996 (LPI). Conforme esclarecido pela Terceira Turma do STJ, "A interpretação do art. 124,
V, da LPI que melhor compatibiliza os institutos da marca e do nome comercial é no sentido de que,
para que a reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciado de nome empresarial
de terceiros constitua óbice ao registro de marca - que possui proteção nacional -, necessário, nessa
ordem: (i) que a proteção ao nome empresarial não goze somente de tutela restrita a alguns Estados,
mas detenha a exclusividade sobre o uso do nome em todo o território nacional e (ii) que a
reprodução ou imitação seja 'suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais
235

distintivos'. Não sendo essa, incontestavelmente, a hipótese dos autos, possível a convivência entre
o nome empresarial e a marca, cuja colidência foi suscitada" (REsp 1.204.488-RS, DJe 2/3/2011).
Além disso, não cabe a aplicação ao caso do art. 8º da Convenção da União de Paris de 1883
(CUP), pois o escopo desse dispositivo é assegurar a proteção do nome empresarial de determinada
sociedade em país diverso que o seu de origem, que seja signatário da CUP, e não em seu país de
origem, onde se deve atentar às leis locais. Nesse sentido, não se pode olvidar que o art. 1.166 do
CC estabelece que "A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as
respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do
respectivo Estado". Já o art. 124, XIX, da LPI veda o registro de marca que reproduza outra
preexistente, ainda que em parte e com acréscimo, "suscetível de causar confusão ou associação
com marca alheia". Nessa toada, a finalidade da proteção ao uso das marcas é dupla: por um lado
protegê-la contra usurpação, proveito econômico parasitário e o desvio desleal de clientela alheia e,
por outro, evitar que o consumidor seja confundido (REsp 1.105.422-MG, Terceira Turma, DJe
18/5/2011). Ademais, sem perder de vista o enfoque pelo ângulo do direito marcário, a
possibilidade de confusão e/ou associação entre as marcas é notória, por possuírem identidade
fonética e escrita quanto ao elemento nominativo e ambas se destinarem ao segmento
mercadológico médico. REsp 1.184.867-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014.
Informativo nº 0548. Período: 22 de outubro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. HIPÓTESE DE LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO INPI. O
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) tem legitimidade passiva em ação que objetive
invalidar sua decisão administrativa declaratória de nulidade de registro marcário em face da
precedência de outro registro. Ainda que se tratasse de ação de nulidade de registro propriamente
dita (art. 175 da Lei 9.279/1996), não haveria como negar a legitimidade do INPI para figurar no
polo passivo na hipótese, porquanto haveria interesse da autarquia na convalidação de sua decisão,
proferida em processo administrativo de nulidade, tendo em vista que eventual invalidação pelo
Poder Judiciário implicará comando ao INPI para que desconstitua o registro anteriormente
proferido. REsp 1.184.867-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014.
Informativo nº 0526. Período: 25 de setembro de 2013. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. MITIGAÇÃO DA EXCLUSIVIDADE DECORRENTE DO REGISTRO NO
CASO DE MARCA EVOCATIVA. Ainda que já tenha sido registrada no INPI, a marca que
constitui vocábulo de uso comum no segmento mercadológico em que se insere - associado ao
produto ou serviço que se pretende assinalar - pode ser utilizada por terceiros de boa-fé. Com efeito,
marcas evocativas, que constituem expressão de uso comum, de pouca originalidade, atraem a
mitigação da regra de exclusividade decorrente do registro, possuindo um âmbito de proteção
limitado. Isso porque o monopólio de um nome ou sinal genérico em benefício de um comerciante
236

implicaria exclusividade inadmissível a favorecer a detenção e o exercício do comércio de forma


única, com prejuízo não apenas à concorrência empresarial - impedindo os demais industriais do
ramo de divulgarem a fabricação de produtos semelhantes através de expressões de conhecimento
comum, obrigando-os a buscar nomes alternativos estranhos ao domínio público -, mas sobretudo
ao mercado geral, que teria dificuldades para identificar produtos similares aos do detentor da
marca. Nesse sentido, a Lei 9.279/1996, que regula direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial, em seu art. 124, VI, dispõe não ser registrável como marca sinal de caráter genérico,
necessário, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a
distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica do produto ou serviço.
Vale destacar que a linha que divide as marcas genéricas - não sujeitas a registro - das evocativas é
extremamente tênue, por vezes imperceptível, fruto da própria evolução ou desenvolvimento do
produto ou serviço no mercado. Há expressões, por exemplo, que, não obstante estejam diretamente
associadas a um produto ou serviço, de início não estabelecem com este uma relação de identidade
tão próxima ao ponto de serem empregadas pelo mercado consumidor como sinônimas. Com o
transcorrer do tempo, porém, à medida que se difundem no mercado, o produto ou serviço podem
vir a estabelecer forte relação com a expressão, que passa a ser de uso comum, ocasionando sensível
redução do seu caráter distintivo. Nesses casos, expressões que, a rigor, não deveriam ser admitidas
como marca - por força do óbice contido no art. 124, VI, da Lei 9.279/1996 - acabam sendo
registradas pelo INPI, ficando sujeitas a terem sua exclusividade mitigada. Precedente citado: REsp
1.166.498-RJ, Terceira Turma, DJe 30/3/2011. REsp 1.315.621-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 4/6/2013.
Informativo nº 0525. Período: 11 de setembro de 2013. QUARTA TURMA. DIREITO
CIVIL E EMPRESARIAL. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL PARA PLEITEAR
INDENIZAÇÃO DECORRENTE DO USO DE MARCA INDUSTRIAL QUE IMITE OUTRA
PREEXISTENTE. O termo inicial do prazo prescricional de cinco anos (art. 225 da Lei
9.279/1996) para pleitear indenização pelos prejuízos decorrentes do uso de marca industrial que
imite outra preexistente, suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia registrada
(art. 124, XIX), é a data da violação do direito à propriedade industrial e se renova enquanto houver
o indevido uso. Isso porque o prazo prescricional começa a correr tão logo nasça a pretensão, a qual
tem origem com a violação do direito subjetivo - o direito de propriedade industrial. Ademais,
considerando que a citada violação é permanente, enquanto o réu continuar a utilizar marca alheia
registrada, diariamente o direito será violado, nascendo nova pretensão indenizatória, motivo pelo
qual não há como reconhecer que a pretensão do autor estava prescrita quando do ajuizamento da
demanda. REsp 1.320.842-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2013.
237

Informativo nº 0517. Período: 2 de maio de 2013. TERCEIRA TURMA. DIREITO


EMPRESARIAL. POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DE UMA DECLARAÇÃO GERAL E
ABSTRATA DO INPI REFERENTE À CARACTERIZAÇÃO DE UMA MARCA COMO DE
ALTO RENOME. É legítimo o interesse do titular de uma marca em obter do INPI, pela via direta,
uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome. A denominada "marca de alto
renome", prevista no art. 125 da Lei de Propriedade Industrial, consiste em um temperamento do
princípio da especialidade, pois confere à marca proteção em todos os ramos de atividade. Tal
artigo não estabeleceu os requisitos necessários à caracterização do alto renome de uma marca, de
modo que a regulamentação do tema ficou a cargo do INPI. Atualmente, a sistemática imposta pela
aludida autarquia, por meio da Resolução n. 121/2005, somente admite que o interessado obtenha o
reconhecimento do alto renome pela via incidental, a partir do momento em que houver a prática,
por terceiros, de atos potencialmente capazes de violar a marca. Inexiste, portanto, um
procedimento administrativo tendente à obtenção de uma declaração direta e abstrata. Parte da
doutrina entende que o alto renome não dependeria de registro. Nessa concepção, a marca que
possuísse a condição de alto renome no plano fático seria absoluta, de sorte que ninguém, em sã
consciência, poderia desconhecê-la. Entretanto, ainda que uma determinada marca seja de alto
renome, até que haja uma declaração oficial nesse sentido, essa condição será ostentada apenas em
tese. Dessa forma, mesmo que exista certo consenso de mercado acerca do alto renome, esse
atributo depende da confirmação daquele a quem foi conferido o poder de disciplinar a propriedade
industrial no Brasil, declaração que constitui um direito do titular, inerente ao direito constitucional
de proteção integral da marca, não apenas para que ele tenha a certeza de que sua marca de fato
possui essa peculiaridade, mas, sobretudo, porque ele pode - e deve - atuar preventivamente no
sentido de preservar e proteger o seu patrimônio intangível, sendo despropositado pensar que o
interesse de agir somente irá surgir com a efetiva violação. Deve-se considerar, ainda, que o
reconhecimento do alto renome só pela via incidental imporia ao titular um ônus injustificado, de
constante acompanhamento dos pedidos de registro de marcas a fim de identificar eventuais ofensas
ao seu direito marcário. Ademais, não se pode perder de vista que muitas vezes sequer ocorre a
tentativa de depósito da marca ilegal junto ao INPI, até porque, em geral, o terceiro sabe da
inviabilidade de registro, em especial quando a colidência se dá com marca de alto renome. Nesses
casos, a controvérsia não chega ao INPI, impedindo que o titular da marca adote qualquer medida
administrativa incidental visando à declaração do alto renome. Acrescente-se, por oportuno, que, ao
dispor que "a proteção de marcas de alto renome não dependerá de registro na jurisdição em que é
reivindicada", a Association Internationale pour la Protection de la Propriété Industrielle (AIPPI)
não isentou - ou pelo menos não impediu - essas marcas de registro, tampouco afirmou que essa
condição - de alto renome - independeria de uma declaração oficial; apenas salientou que elas
238

estariam resguardadas mesmo sem prévio registro, ou seja, prevaleceriam sobre marcas colidentes,
ainda que estas fossem registradas anteriormente. REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 19/2/2013.
Informativo nº 0514. Período: 20 de março de 2013. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. IMPOSSIBILIDADE DE IMPORTAÇÃO PARALELA DE UÍSQUE DE
MARCA ESTRANGEIRA SEM O CONSENTIMENTO DO TITULAR DA MARCA. Não é
possível a realização de "importação paralela" de uísque de marca estrangeira para o Brasil na
hipótese em que o titular da marca se oponha à importação, mesmo que o pretenso importador já
tenha realizado, em momento anterior à oposição, "importações paralelas" dos mesmos produtos de
maneira consentida e legítima. O titular de determinada marca estrangeira e o seu distribuidor no
Brasil podem firmar entre si um contrato de distribuição com cláusula de exclusividade territorial,
de modo que aquele distribuidor contratante detenha a garantia de exclusividade na distribuição dos
produtos daquela marca no território brasileiro. Nesse contexto, ocorre a chamada "importação
paralela" na hipótese em que outro distribuidor - que não tenha acordado cláusula de exclusividade
na distribuição dos produtos da marca no território nacional - adquira, no estrangeiro - isto é, fora
dos circuitos de distribuição exclusiva -, produtos originais daquela mesma marca estrangeira para a
venda no Brasil, considerando o fato de que terceiros não estão obrigados aos termos de contrato
celebrado entre o fornecedor e o seu distribuidor brasileiro exclusivo. Nesse caso, a mercadoria
entra na área protegida não porque houve venda direta ou atuação invasiva de outro distribuidor,
mas porque um adquirente "de segundo grau", que comprou o bem do próprio titular ou de outro
concessionário da mesma marca, revendeu-o no território reservado. No tocante ao regramento dado
pelo sistema jurídico brasileiro às hipóteses de "importação paralela", deve-se indicar que o art.
132, III, da Lei n. 9.279/1996 proíbe que o titular da marca impeça a livre circulação de produtos
originais colocados no mercado interno por ele próprio ou por outrem com o seu consentimento. Ou
seja, permitiu-se a chamada comercialização paralela interna ou nacional, hipótese em que, após a
primeira venda do produto no mercado interno, o direito sobre a marca se esgota, de modo que o
titular da marca não poderá mais invocar o direito de exclusividade para impedir as vendas
subsequentes. Com isso, a nova Lei da Propriedade Industrial incorporou ao sistema jurídico
brasileiro o conceito de exaustão nacional da marca, segundo o qual o esgotamento do direito sobre
a marca somente se dá após o ingresso consentido do produto no mercado nacional, o que implica
afirmar que o titular da marca ainda detém direitos sobre ela até o ingresso legítimo do produto no
país. Dessa maneira, o titular da marca internacional tem, em princípio, o direito de exigir o seu
consentimento para a "importação paralela" dos produtos de sua marca para o mercado nacional.
Como ressalva, ademais, cabe afirmar que certos casos, como o dos medicamentos, podem vir a
receber tratamento legal diferenciado, imposto por necessidades específicas determinadas por cada
239

Estado, especialmente relacionadas à necessidade de fornecimento de determinados produtos à


população, de estímulo à concorrência para evitar a formação de monopólios ou cartéis ou de
atendimento privilegiado de determinadas áreas do consumo. Não se cogita, no entanto, nenhuma
dessas hipóteses no caso em que se está diante de importação de uísque, produto desprovido de
fornecimento imprescindível e que, além disso, possui farto fornecimento por diversos produtores e
marcas em salutar concorrência no mercado nacional. REsp 1.200.677-CE, Rel. Min. Sidnei Beneti,
julgado em 18/12/2012.
Informativo nº 0482. Período: 29 de agosto a 9 de setembro de 2011. TERCEIRA TURMA.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. USO. MARCA. CÓDIGO TELEFÔNICO. A quaestio juris
consiste em saber se a propriedade da marca "Disque Amizade 145", devidamente registrada no
INPI, confere a seu titular, ora recorrente, o direito de obstar que a ora recorrida (concessionária dos
serviços de telecomunicações) altere o código telefônico "145" de acesso ao serviço oferecido pela
recorrente. In casu, esta foi impedida de usar esse código telefônico por determinação da Anatel, a
qual especificava que os códigos de três dígitos deveriam ser destinados exclusivamente aos
serviços de utilidade pública. Assim, no REsp, a recorrente alega violação dos arts. 2º, III, e 42, I e
II, da Lei n. 9.279/1996. Inicialmente, destacou o Min. Relator que os mencionados dispositivos
legais não se aplicam ao caso, na medida em que a recorrente é titular da marca "Disque Amizade
145", esta sim objeto de invenção patenteada, porém o número de acesso (código telefônico 145)
não integra a garantia marcária. Ressaltou, também, que a proteção decorrente do registro da marca
"Disque Amizade 145" e da patente sobre a correlata invenção (serviço oferecido) no INPI tem o
condão de propiciar ao seu titular o direito de exploração exclusiva da aludida marca do serviço e
do serviço respectivamente. Entretanto, a proteção à propriedade industrial dos referidos bens não
atribui ao seu titular o direito sobre o código telefônico "145", de acesso ao serviço. Consignou,
ademais, que a alteração do mencionado código telefônico consubstancia matéria exclusivamente
afeta aos termos do contrato de concessão entabulado entre as partes, bem como às normas
regulatórias do setor de telecomunicações expedidas pela Anatel, não importando afronta à
utilização exclusiva da marca "Disque Amizade 145" e da correlata invenção. Dessarte, concluiu
que a alteração do código telefônico (de acesso ao serviço oferecido pela recorrente), por si só, não
infringe qualquer direito protegido pela propriedade industrial. REsp 1.102.190-SP, Rel. Min.
Massami Uyeda, julgado em 1º/9/2011.
Informativo nº 0479. Período: 27 de junho a 1º de julho de 2011. SEXTA TURMA. CRIME.
PROPRIEDADE IMATERIAL. PERÍCIA. RITO. Os crimes praticados contra a propriedade
imaterial (inclusive os contra a propriedade industrial) são, de regra, apurados mediante ação penal
privada, com exceção dos elencados nos arts. 184, §§ 1º, 2º e 3º, do CP e 191 da Lei n. 9.279/1996,
além dos cometidos em prejuízo de entes de direito público. A maioria desses delitos deixa
240

vestígios, daí por que a parte deve requerer a realização da medida preparatória de busca e
apreensão como forma de colher a prova da materialidade delitiva e dos indícios de sua autoria. Nos
crimes contra a propriedade imaterial, submetidos à ação penal pública, a busca e a apreensão
podem ser efetuadas pela autoridade policial (art. 240, § 1º, do CPP). Contudo, nos crimes sujeitos à
ação penal privada, a medida preparatória cautelar deve ser realizada por dois peritos nomeados
pelo juiz, conforme os arts. 527 e 530-A do CPP. A hipótese trata de crimes contra a propriedade
imaterial, puníveis mediante ação penal privada, e, apesar de o mandado de busca e apreensão se
fundar no art. 240 do CPP, a medida seguiu o rito especial disposto na legislação de regência, à
exceção da presença de duas testemunhas (art. 530-C do CPP). Destacou-se que o fato de apenas
um perito oficial (acompanhado de um assistente, cuja qualificação técnica se desconheça nos
autos) ter efetivado o exame do corpo de delito em questão não leva à nulidade do procedimento.
Essa conclusão decorre da interpretação sistêmica dos arts. 527 e 159 do CPP, já na redação que lhe
deu a Lei n. 11.690/2008, que passou a exigir a presença de dois peritos tão somente nos exames
realizados sem o profissional oficial. Também não enseja nulidade a falta da assinatura de
testemunhas, especificamente designadas para esse fim no termo de busca e apreensão (arts. 245, §
7º, e 530-C do CPP), por se tratar de mera irregularidade formal, sendo certo que os policiais e os
oficiais de justiça que participaram da medida podem figurar como testemunha, para testar a
legalidade da diligência. Anote-se que o ato contou com a participação de representantes legais de
ambas as partes com a autorização expressa do juízo. Por último, vê-se que o interessado não
demonstrou ser-lhe imposto qualquer prejuízo (pas de nullité sans grief). Precedentes citados do
STF: HC 85.177-RJ, DJ 1º/7/2005; do STJ: REsp 543.037-RJ, DJ 16/11/2004; AgRg no REsp
978.445-MS, DJe 28/2/2011; HC 139.256-RO, DJe 14/3/2011; HC 175.212-MG, DJe 8/6/2011, e
AgRg no APn 510-BA, DJe 19/8/2010. RMS 31.050-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
28/6/2011.
Informativo nº 0477. Período: 13 a 17 de junho de 2011. TERCEIRA TURMA. INPI.
LIMITAÇÃO. REGISTRO. MARCA INDUTRIAL MISTA. A recorrente ajuizou, na origem, ação
de anulação parcial do ato administrativo do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) que
concedeu o registro de marca industrial com a observação de que o concedia como marca mista sem
exclusividade de uso dos elementos nominativos isoladamente. Isso porque a marca industrial, além
do elemento figurativo, contém as palavras comuns, corriqueiras e genéricas "porta" e "pronta",
sendo que a primeira palavra em linha superior e a segunda palavra na segunda linha, iniciando-se
da letra "p" da primeira palavra. As instâncias ordinárias julgaram improcedente o pedido e, no
REsp, a recorrente insiste na anulação parcial do registro concedido pelo recorrido (INPI). Após a
análise doutrinária da questão, no caso dos autos, o Min. Relator esclarece que a recorrente pretende
obter exclusividade sobre o uso da marca de palavras comuns desprovido de origem que, isolada ou
241

conjuntamente, descreve o produto comercializado. Assim, o acolhimento de tal pretensão acabaria


por criar monopólio indevido, pois os concorrentes ficariam impedidos de anunciar a
comercialização de portas prontas, o que é vedado pelo art. 124 da Lei n. 9.279/1996. Diante do
exposto, a Turma negou provimento ao recurso. Precedente citado: REsp 1.166.498-RJ, DJe
30/3/2011. REsp 1.039.011-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 14/6/2011.
Informativo nº 0472. Período: 9 a 13 de maio de 2011. TERCEIRA TURMA. REGISTRO.
MARCA. MEDICAMENTO. Trata-se de REsp em que a questão está em definir se o registro
anterior da marca com a utilização de um termo que remete ao princípio ativo do medicamento,
qual seja "Sor" (cloreto de sódio, popularmente conhecido como soro), garante o direito de uso
exclusivo dessa expressão em favor do laboratório recorrente, o que impediria a utilização do
mesmo radical "Sor" na marca da recorrida. Na hipótese, consoante os autos, a recorrente registrou
no INPI a marca nominativa simples "Sorine", composta de radical designativo do componente
principal do medicamento ("Sor"), qual seja, cloreto de sódio, acrescido do sufixo "ine". Portanto,
para a Min. Relatora, a recorrente tem exclusividade na utilização da marca "Sorine", mas não a tem
na utilização do radical considerado comum. Observou que o art. 124, VI, da Lei n. 9.279/1996,
também chamada Lei da Propriedade Industrial (LPI), não autoriza como marca sinal de caráter
genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o
produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica
do produto ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção
ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva. Consignou que,
nesses casos, não se pode falar em colidência porque, em regra, inexiste a possibilidade de uso
exclusivo desse sinal por qualquer sociedade empresária. Assim, frisou que admitir a exclusividade
no uso isolado do radical evocativo "Sor" assemelha-se a assegurar verdadeiro monopólio ao titular
do registro mais antigo de utilizar em sua marca a referência à substância principal do produto. Isso
seria incoerente com a essência da LPI, que, para além da repressão à concorrência desleal,
objetiva, por meio das cláusulas impeditivas de registro, tutelar a livre concorrência. Asseverou,
ademais, que, não sendo possível vislumbrar identidade entre as referidas marcas apta a ensejar
confusão e captação indevida de consumidores, não há falar, no caso, em ofensa ao art. 195 da
referida lei ante a inexistência de concorrência desleal. Diante dessas considerações, entre outras, a
Turma negou provimento ao recurso. REsp 1.105.422-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
10/5/2011.
Informativo nº 0470. Período: 25 a 29 de abril de 2011. TERCEIRA TURMA. USO.
MARCA. CONFUSÃO INEXISTENTE. A Turma negou provimento ao recurso por entender que
a fixação do nome de um condomínio fechado, tal como ocorre com o nome de edifício, não viola
os direitos de propriedade industrial inerentes a uma marca registrada e protegida, ainda que seja no
242

ramo de serviços de locação, loteamento, incorporação e venda de imóveis (classe 40.10 do INPI).
Adota-se tal posicionamento porque os nomes de edifícios ou de condomínios fechados não são
marcas nem são atos da vida comercial, mas sim atos da vida civil, pois individualizam a coisa, não
podendo ser enquadrados como serviços ou, ainda, produtos, mesmo porque, nos últimos, a marca
serve para distinguir séries de mercadorias e não objetos singulares. Para o exame da colisão de
marcas, não só se faz necessária a aferição do ramo da atividade comercial das sociedades
empresárias, mas se deve apreciar também a composição marcária como um todo. Ademais, no
caso, o tribunal a quo, lastreado na prova dos autos, concluiu pela ausência de risco de erro, engano
ou confusão entre as marcas, pois se destinam a consumidores de classes econômicas distintas, não
havendo qualquer ato de concorrência desleal praticado pela recorrida, sendo inexistente a má-fé.
Precedentes citados: REsp 863.975-RJ, DJe 16/11/2010; REsp 900.568-PR, DJe 3/11/2010, e REsp
1.114.745-RJ, DJe 21/9/2010. REsp 862.067-RJ, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador
convocado do TJ-RS), julgado em 26/4/2011.
Informativo nº 0466. Período: 7 a 18 de março de 2011. TERCEIRA TURMA.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. MARCA FRACA OU EVOCATIVA. Trata-se de REsp oriundo
de ação de nulidade de registro de marca proposta pela recorrente em desfavor da recorrida, com o
fim de obter a nulidade do registro de marca comercial que entendia colidir com a que já utilizava
há aproximadamente 22 anos. A pretensão foi acolhida em primeiro grau com fundamento no art.
124, XIX, da Lei n. 9.279/1996 (nova Lei de Propriedade Industrial - LPI), o qual teria sido violado
ao ser aceito o referido registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A sentença,
contudo, foi reformada pelo tribunal a quo, que entendeu, entre outras questões, ser possível a
convivência pacífica entre as marcas. A Turma negou provimento ao recurso sob o entendimento de
que marcas fracas ou evocativas, que constituem expressão de uso comum, de pouca originalidade
ou de forte atividade criativa podem coexistir harmonicamente, sendo descabida qualquer alegação
de notoriedade ou anterioridade de registro, com o intuito de assegurar o uso exclusivo da expressão
de menor vigor inventivo. Consignou-se, ainda, que marcas de convivência possível não podem se
tornar oligopólios, patrimônios exclusivos de um restrito grupo empresarial, devendo o Judiciário
reprimir a utilização indevida da exclusividade conferida ao registro quando esse privilégio implicar
a intimidação da concorrência, de modo a impedi-la de exercer suas atividades industriais e explorar
o mesmo segmento mercadológico. Registrou-se, por fim, que o tribunal a quo, ao confirmar a tese
de que não é possível conferir exclusividade ao titular de registro de marca fraca ou evocativa, não
divergiu da jurisprudência deste Superior Tribunal sobre a matéria, valendo ressaltar que o
reconhecimento de violação de literal disposição de lei somente se dá quando dela se extrai
interpretação desarrazoada, o que não ocorreu no caso. REsp 1.166.498-RJ, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 15/3/2011.
243

Informativo nº 0466. Período: 7 a 18 de março de 2011. TERCEIRA TURMA.


NULIDADE. REGISTRO. MARCA. Trata-se de REsp em que se busca o reconhecimento da
validade do registro de determinada marca no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI),
alegando-se, para tanto, a inexistência de similaridade ou confusão com outra marca de propriedade
da recorrida. A Turma negou provimento ao recurso por entender ser, na hipótese, de clareza
evidente a semelhança gráfica e fonética entre as marcas, motivo pelo qual não é admissível a
coexistência de ambas no mesmo ramo de atividade comercial, sob pena de gerar indesejável
confusão mercadológica. Outrossim, as instâncias ordinárias consignaram que os dois signos foram
registrados na mesma classe, ou seja, destinam-se a produtos idênticos, semelhantes ou afins, razão
por que a expressão mais moderna deve ter seu registro invalidado em face da anterioridade do
depósito da outra marca. Precedentes citados: REsp 401.105-RJ, DJe 3/11/2009; REsp 995.112-RJ,
DJe 28/9/2009, e REsp 949.514-RJ, DJ 22/10/2007. REsp 1.235.494-RJ, Rel. Min. Vasco Della
Giustina (Desembargador convocado do TJ-RS), julgado em 15/3/2011.
Informativo nº 0462. Período: 7 a 11 de fevereiro de 2011. QUARTA TURMA.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. PIPELINE. PRAZO. Não há previsão legal para que eventuais
modificações supervenientes de legislação estrangeira do país onde foi realizado o depósito da
patente possam implicar prorrogação do prazo de patente pipeline no Brasil. Tal procedimento, se
adotado, segundo o Min. Relator, geraria insegurança jurídica e violaria o princípio da
independência das patentes e a própria soberania do país. É cediço que as patentes pipelines, com
plena vigência no art. 230 da Lei n. 9.279/1996, são transitórias e equivalem a uma revalidação no
Brasil das patentes de produtos em desenvolvimento concedidas no exterior, observados os
requisitos impostos no país de origem no momento do depósito da revalidação. Destacou que o § 1º
do art. 230 da referida lei exige que o interessado indique a data do primeiro depósito no exterior
para garantir que a proteção seja estabelecida àquele que primeiro requereu o registro da invenção
no exterior. Esclareceu, ainda, que o TRIPs e o CUPs não tratam das patentes pipelines nem as
regulam, visto que o sistema implementado no Brasil resulta do direito interno com características
de sistemas similares implementados em outros países. Anotou, ainda, que o amicus curiae, embora
venha sendo admitido no processo, não possui legitimidade para recorrer, nem suas informações
vinculam o juízo, por isso sua admissão não acarreta prejuízos às partes. Com esses argumentos,
entre outros, a Turma negou provimento ao recurso na parte conhecida. Precedentes citados: AgRg
nos EREsp 827.194-SC, DJe 18/9/2009; EDcl no REsp 1.110.549-RS, DJe 30/4/2010; REsp
1.145.637-RJ, DJe 8/2/2010, e SEC 911-GB, DJ 13/8/2007. REsp 1.165.845-RJ, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 8/2/2011.
Informativo nº 0457. Período: 22 a 26 de novembro de 2010. QUARTA TURMA.
ANULAÇÃO. REGISTRO. MARCA. COLIDÊNCIA. Trata-se de REsp decorrente de ação
244

proposta na origem pela recorrente a fim de anular registro posterior ao seu no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI) de determinada marca comercial feito por sociedade que opera no
mesmo segmento de mercado, ou seja, prestação de serviços de ensino, educação e afins. Em grau
de apelação, assentou-se não ter razão a recorrente sob o fundamento, entre outros, de não existir
colidência entre as marcas. A Turma deu provimento ao recurso por entender que o direito
decorrente do registro da marca exclui seu emprego por qualquer outra empresa do mesmo ramo de
atividade, por acarretar prejuízo à sua legítima detentora, como também aos consumidores que
ficam sujeitos à confusão em face da identidade de marcas para atividades idênticas desenvolvidas
por pessoas jurídicas distintas na mesma região. Salientou-se que a recorrente tem seu nome e título
de estabelecimento registrado desde 16/3/1971, o que ocorreu sob a vigência da Lei n. 5.772
daquele mesmo ano (antiga lei da propriedade industrial - LPI), razão por que a pretensão de obter a
anulação do registro da recorrida ainda mais se impõe nos termos do art. 65 do referido diploma
legal. Consignou-se, ademais, que, além do registro de seus atos constitutivos em 1971, a recorrente
solicitou sua marca no INPI em 1994, obtendo a referida concessão de exclusividade no uso da
expressão questionada em 28/6/1996, aplicando-se, assim, o art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996 (nova
LPI). Desse modo, não viceja a afirmativa do tribunal de origem de inexistir colidência pelo fato de
a recorrente prestar serviços de ensino fundamental e a recorrida, de ensino universitário, uma vez
que nada impede, no futuro, que aquela venha a expandir-se no segmento de mercado em que atua,
passando também a prestar serviços educacionais de nível superior. Precedentes citados: REsp
62.770-RJ, DJ 4/8/1997; REsp 40.190-RJ, DJ 29/9/1997, e REsp 142.954-SP, DJ 13/12/1999. REsp
887.686-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/11/2010.
Informativo nº 0452. Período: 18 a 22 de outubro de 2010. TERCEIRA TURMA. LPI.
VIGÊNCIA. PRAZO. DEPÓSITO. PATENTE PIPELINE. A quaestio juris consiste em determinar
a tempestividade dos pedidos de patentes pipeline depositados pela indústria farmacêutica recorrida.
Explica a Min. Relatora que cumpre estabelecer, no REsp, a data em que a Lei de Propriedade
Industrial (Lei n. 9.279/1996 - LPI) entrou em vigor, diante da peculiaridade prevista no seu art.
243, que excepcionou a vigência da lei quanto aos arts. 230, 231, 232 e 239, ao estabelecê-la
expressamente a partir da data da sua publicação. Diferentemente da regra geral - em que o
legislador determina que toda a lei, salvo disposição contrária, entra em vigor na data de sua
publicação, não deixando dúvida quanto ao dies a quo -, a LPI prevê que parte dos seus dispositivos
(arts. 230, 231, 232 e 239) tem vigência imediata em 15/5/1996, data da sua publicação, e outra
parte dos dispositivos, quanto aos prazos tanto de vacância como para o depósito de patentes
pipeline, previsto em um ano (§ 1º do art. 230 e o § 1º do art. 231), tem vigência a partir da
publicação da citada lei quando se inicia sua contagem, em 15/5/1996, encerrando-se após um ano,
em 15/5/1997, e o restante da lei entra em vigor em 16/5/1997, após um ano, contando-se um dia
245

após a sua publicação. Desse modo, para a Min. Relatora, após análises feitas com base no art. 125
do CPC vigente à época e no art. 1º da LICC (cuja essência foi mantida no CC/2002), o prazo de
um ano para o depósito de patente pipeline foi cumprido pela recorrida, pois protocolizados em
15/5/1997, no último dia, uma vez que devem ser contados a partir da vigência da LPI, que é a data
da sua publicação na imprensa oficial, e o encerramento em 15/5/1997, conforme excepciona seu
art. 243. Anotou, ainda, que a LPI, por ser anterior (editada em 1996), não pode sujeitar-se às regras
da LC n. 95/1998, na qual se exige a fixação da vacatio legis em número de dias, contudo se deve
acatar a previsão do art. 1º da Lei n. 810/1949, que define o ano como sendo o período de doze
meses contados do dia do início da vigência, no mesmo dia e mês correspondentes do ano seguinte,
portanto em 15/5/1997. Com esse entendimento, a Turma negou provimento ao recurso,
confirmando a tempestividade dos pedidos de patentes pipeline depositados pela recorrida de
acordo com a decisão do TRF, mas por fundamento diverso. REsp 1.038.032-RJ, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 19/10/2010.
Informativo nº 0445. Período: 30 agosto a 3 de setembro de 2010. TERCEIRA TURMA.
MARCA. REGISTRO. COLIDÊNCIA. A Turma conheceu parcialmente do recurso especial e,
nessa extensão, negou-lhe provimento ao entendimento de que o registro conferido à marca da
empresa recorrida, ainda que posterior ao concedido à marca da empresa recorrente, não importa
ofensa ao art. 124, XIX, da Lei n. 9.279/1996 (Código de Propriedade Industrial), por se tratar
aquela de marca notoriamente conhecida, nos termos do art. 126, caput, do mesmo diploma legal.
Segundo o Min. Relator, esse código objetiva evitar a concorrência desleal e a possibilidade de
confusão entre os consumidores. Na espécie, afirmou-se que, embora ambas as marcas pertençam à
mesma classe de produtos, o ramo comercial em que atuam é distinto: enquanto a recorrente
comercializa roupas, acessórios e calçados na linha esporte fino, a recorrida fornece roupas,
acessórios e calçados de uso esportivo. Por tais razões, concluiu-se pela inexistência de colidência
entre as marcas. Em voto-vista no qual acompanha integralmente o Min. Relator, a Min. Nancy
Andrighi reforça importante distinção trazida pelo mencionado código entre os conceitos de marca
de alto renome (art. 125) e marca notoriamente conhecida (art. 126). O primeiro é exceção ao
princípio da especificidade e possui proteção absoluta em todas as classes, conquanto seja registrada
no país, já que seu reconhecimento ultrapassa o ramo de atividade em que atua. O segundo, por sua
vez, é exceção ao princípio da territorialidade e possui proteção restrita à classe em que adquiriu
notoriedade, independentemente de prévio depósito ou registro no país. Precedentes citados: REsp
658.702-RJ, DJ 21/8/2006, e REsp 550.092-SP, DJ 11/4/2005. REsp 1.114.745-RJ, Rel. Min.
Massami Uyeda, julgado em 2/9/2010.
Informativo nº 0443. Período: 16 a 20 de agosto de 2010. TERCEIRA TURMA.
REGISTRO. INPI. MARCA. DUPLICIDADE. Trata-se de ação anulatória de registro de marca,
246

com pedido de antecipação de tutela, proposta pela recorrida. No recurso especial, a recorrente
sustenta que a recorrida somente ajuizou a ação após ultrapassado o prazo decadencial de cinco
anos e também afirma ter a prevalência do registro da marca pela anterioridade de sua concessão.
Na hipótese dos autos, ambas as empresas prestam serviços de consultoria e estudos na área de
geologia, além de comercializarem produtos e derivados de minerais. Porém, anotou-se, nos autos,
que o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) verificou que, embora tenha concedido o
registro da recorrente em 5/8/1991, portanto antes do registro da recorrida, feito em 25/8/1998,
durante o procedimento administrativo, não foi observado que já existia, desde 26/5/1989, pedido
de registro de marca idêntica solicitado pela recorrida. Nesses casos, é de rigor o sobrestamento do
procedimento que se iniciou por último, até que o pedido anterior seja julgado. Por outro lado,
quando um pedido de registro de marca é apresentado ao INPI e eventuais conflitos surgem, a
jurisprudência tem resolvido esses casos pela prevalência do registro mais antigo. No caso dos
autos, a ação anulatória de registro foi proposta em 18/12/2000, dentro do prazo legal e, enquanto
pendente processo administrativo, não flui o prazo prescricional. Por isso, o Min. Relator afastou a
preliminar de prescrição quinquenal. Ponderou ser a função primordial da marca identificar um
produto de um serviço, distinguindo-o de outros iguais ou similares existentes no mercado, de modo
a evitar que os consumidores confundam serviços afins da concorrência. É que o Brasil adota o
sistema atributivo, segundo o qual somente com o registro da marca no INPI é que se garante o
direito de propriedade e de uso exclusivo a seu titular, a não ser que se trate de marca notoriamente
conhecida. Dessa forma, para o Min. Relator, foge à lógica do razoável que um pedido de registro
posterior seja examinado e deferido sem que houvesse finalização do procedimento administrativo
daquele que iniciou primeiro. Diante do exposto, a Turma, prosseguindo no julgamento, negou
provimento ao recurso. Precedentes citados: AgRg no Ag 964.524-SE, DJe 1º/2/2010, e REsp
30.636-SC, DJ 11/10/1993. REsp 899.839-RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 17/8/2010.
Informativo nº 0432. Período: 26 a 30 de abril de 2010. SEGUNDA SEÇÃO. PATENTE
PIPELINE. PROTEÇÃO. PRAZO REMANESCENTE. A Seção, ao prosseguir o julgamento, por
maioria, entendeu que a interpretação do art. 230, § 4º, c/c o art. 40 da Lei n. 9.279/1996 deve ser
restritiva e sistemática, a considerar o Acordo Sobre Aspectos de Direitos de Propriedade
Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPs) e com a Convenção de Paris para Proteção da
Propriedade Industrial (CUP), internalizada pelo Dec. n. 635/1992. Assim, a proteção oferecida às
patentes estrangeiras chamadas pipeline vigora pelo prazo remanescente de proteção no país onde
foi depositado o primeiro pedido até o prazo máximo de proteção concedido no Brasil (20 anos), a
contar do primeiro depósito no exterior, ainda que posteriormente abandonado, visto que, a partir de
tal data, já surgiu proteção ao invento. Precedente citado: REsp 1.145.637-RJ, DJe 8/2/2010. REsp
731.101-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 28/4/2010.
247

Informativo nº 0423. Período: 15 a 19 de fevereiro de 2010. QUARTA TURMA.


LEGITIMIDADE. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. O prejudicado que possui a legitimidade
necessária para intentar ação com o fim de proteger direitos relativos à propriedade industrial
incidentes sobre produtos criados é quem efetivamente os levou ao registro no órgão competente
(arts. 207 a 209 da Lei n. 9.279/1996 - LPI). REsp 833.098-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 18/2/2010.
Informativo nº 0420. Período: 14 a 18 de dezembro de 2009. TERCEIRA TURMA.
PATENTE PIPELINE. PRAZO REMANESCENTE. O regime de patente nominado pipeline
autoriza a revalidação, no território nacional, de patente concedida ou depositada em outro país, isso
ao se observarem certas condições. Para sua concessão, o princípio da novidade é mitigado e sequer
são examinados os requisitos usuais para a patente. Então, é clara sua natureza excepcional, de
caráter temporário, pois esse regime não é previsto em tratados internacionais. Vem daí a
necessidade de ser interpretado restritivamente, seja por contrapor o sistema comum de patentes
seja por restringir a concorrência e a livre iniciativa. Então, quando no trato de vigência dessa
qualidade de patente, seu prazo de proteção nesse país deve ser o remanescente que a patente tem
no exterior, contado a partir da data do primeiro depósito no sistema de concessão original (o
primeiro depósito no exterior), prazo que deve incidir desde a data do depósito no Brasil, limitado
tal período a 20 anos. Anote-se que se considera o dia do primeiro depósito como o termo inicial de
contagem do prazo remanescente mesmo que esse depósito seja abandonado pelo depositante; pois,
a partir daquele primeiro fato já surge a proteção ao invento (prioridade unionista), conforme
apregoam os arts. 40 e 230, § 4º, da Lei n. 9.279/1996; art. 33 do Acordo sobre Aspectos dos
Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) e art. 4º bis da Convenção
de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP). Diante disso, constata-se que nem sempre
a data de entrada em domínio público da patente pipeline no Brasil vai corresponder à data no
exterior, o que é justificado pelo princípio da independência das patentes (art. 4º bis da CUP),
aplicável de modo absoluto. Vale anotar, por último, que o art. 5º, XXIX, da CF/1988 elege, junto
com o desenvolvimento tecnológico e econômico do país, o interesse social como norte a ser
considerado no trato de direitos de propriedade industrial, além de o art. 5º da LICC dispor que o
juiz deve atender aos fins sociais e ao bem comum quando aplicar a lei. Com esses fundamentos, a
Turma negou provimento ao especial do laboratório de medicamentos, pois o primeiro depósito do
pedido de patente, no exterior, da medicação em questão, que foi efetivamente abandonado (depois,
foi novamente formulado), data de fevereiro de 1990 e o pedido de revalidação no país é de junho
de 1996, daí que correta a estipulação pelo INPI do prazo de vigência até fevereiro de 2010. REsp
1.145.637-RJ, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ-RS), julgado em
15/12/2009.
248

Informativo nº 0413. Período: 26 a 30 de outubro de 2009. TERCEIRA TURMA.


MARCAS. ALTO RENOME. REGISTRO. Trata-se de REsp em que o cerne da questão está em
saber se é possível a aplicação do princípio da especialidade às marcas de alto renome, citadas no
art. 125 da Lei n. 9.279/1996, quando se reconhecer a ausência de confusão dos consumidores. A
Turma negou provimento ao recurso ao entendimento de que não se aplica o princípio da
especialidade à marca considerada de alto renome, sendo irrelevante discutir a possibilidade de
confusão do consumidor. Ressaltou-se que, na hipótese, não houve renovação do registro das
recorrentes como marca notória nos termos do art. 67 da Lei n. 5.772/1971 nem aquisição de
registro de "alto renome", de acordo com o art. 125 da Lei n. 9.279/1996, no Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI). Conforme se depreende do último dispositivo legal, que é uma
reminiscência do mencionado art. 67 da Lei n. 5.772/1971, verifica-se que é necessário, para o
reconhecimento do alto renome da marca, procedimento administrativo junto ao INPI, que,
inclusive editou a Resolução n. 121/2005 para tal finalidade, procedimento que não ocorreu no
caso. Assim, em face da ausência de declaração do INPI reconhecendo a marca das recorrentes
como de alto renome, não é possível a proteção conferida pelo art. 125 da Lei n. 9.279/1996.
Precedente citado: REsp 658.702-RJ, DJ 21/8/2006. REsp 951.583-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 27/10/2009.
Informativo nº 0412. Período: 19 a 23 de outubro de 2009. QUARTA TURMA.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL. MARCA. IMPORTAÇÃO. A Turma decidiu que, referente ao
pedido da recorrente, não procede a pretensão de impedir a importação e comercialização de
produtos na forma do art. 132, III, da Lei n. 9.279/1996, por falta de autorização expressa para
utilização de marca por seu titular e pela distribuidora exclusiva no Brasil, porquanto, ainda que se
trate de importação paralela, realizada licitamente no país, a proibição absoluta de tal comércio é
incompatível com a livre iniciativa, ex vi dos arts. 1º e 170 da CF/1988. Também, a análise de
eventual ilicitude na importação e distribuição de produtos originais demanda exame fático-
probatório (Súm. n. 7-STJ). REsp 609.047-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
20/10/2009.
Informativo nº 0396. Período: 25 a 29 de maio de 2009. QUARTA TURMA.
LEGITIMIDADE ATIVA. AÇÃO INDENIZATÓRIA. VIOLAÇÃO. PROPRIEDADE
INDUSTRIAL. Trata-se de ação objetivando impedir que o ora recorrido produza e comercialize
produtos derivados de desenho industrial patenteado, bem como obter indenização pelo seu uso
indevido. No caso, a ora recorrente tem como sócio majoritário o titular da patente, e foi ele próprio
quem, pela empresa, outorgou procuração aos patronos da causa. Quem está a explorar
concretamente a patente é a empresa autora, dirigida pelo proprietário da patente, que tem a maioria
do capital social. A Turma conheceu do recurso e deu-lhe provimento por entender que a sociedade
249

empresária fabricante de produto, cujo registro do desenho industrial foi feito em nome do sócio
majoritário, tem legitimidade para pleitear indenização por danos materiais e morais contra aquele
que imita ilicitamente o modelo registrado. Precedente citado: REsp 466.360-SP, DJ 20/10/2003.
REsp 590.645-SC, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 26/5/2009.
Informativo nº 0317. Período: 16 a 20 de abril de 2007. QUARTA TURMA. ANULAÇÃO.
ATO ADMINISTRATIVO. REGISTRO. MARCA. Trata-se de registro negado pelo Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI) por anterioridade de marca impeditiva, pertencendo à
mesma classe, fonética igual, grafia semelhante, além de os produtos serem afins - tintas e resinas -
(art. 65, item 17, do CPI). Na espécie, a embargante alegava que a firma detentora da marca anterior
(titular do registro) consentira que ela tivesse esse registro da marca. Isso posto, ressaltou o Min.
Relator que o INPI tem competência exclusiva no território nacional para a concessão de privilégios
e sua respectiva exploração nos termos do CPI, não podendo acordos privados se sobreporem às
determinações desse órgão oficial. Observou ainda que tanto o antigo CPI quanto a vigente Lei n.
9.279/1996 requerem instauração de processo administrativo originário do próprio INPI para
qualquer procedimento e com a devida decisão fundamentada. Logo é obrigatória a participação da
referida autarquia em eventual transferência do uso de marca. Outrossim, destacou que a conclusão
do aresto recorrido, quanto à confusão ou induzimento a erro do consumidor, se registrada a marca,
incide no enunciado da Súm. n. 7-STJ e que não houve o cotejo analítico entre os julgados tidos
como divergentes. Com esses argumentos, a Turma não conheceu do REsp. Precedentes citados:
REsp 142.954-SP, DJ 13/12/1999; REsp 284.742-SP, DJ 8/10/2001; REsp 30.751-SP, DJ
1º/8/1994, e REsp 325.158-SP, DJ 9/10/2006. REsp 256.442-RJ, Rel. Min. Massami Uyeda,
julgado em 19/4/2007.
Informativo nº 0312. Período: 5 a 9 de março de 2007. TERCEIRA TURMA. MARCA.
DECLARAÇÃO. CADUCIDADE. AUSÊNCIA. USO. Trata-se de ação de restauração de registro
de marca para anular a decisão administrativa que declarou a caducidade dos registros daquela
marca. Destacou o Min. Relator que, se consta da inicial que o contrato, além de transferência de
tecnologia e assistência técnica, previa a licença para uso de marca, fica desbastada, no plano
infraconstitucional, a necessidade de sua averbação no órgão competente, antigamente o
Departamento Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Outrossim, o art. 94 do Código de
Propriedade Industrial autoriza o INPI a declarar de ofício a caducidade da marca por falta de uso.
Além de que o acórdão a quo explicitou que o deferimento da marca não foi para produtos
importados e que havia outros meios para que a marca não ficasse inativa, não se sustentando o
argumento da força maior diante da vedação da importação de produtos que seria objeto dos
registros da recorrente. Com esses argumentos, a Turma, ao prosseguir o julgamento, não conheceu
do recurso. REsp 649.261-RJ, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em 6/3/2007.
250

Informativo nº 0290. Período: 26 a 30 de junho de 2006. QUARTA TURMA. PROTEÇÃO.


MARCA. NOME COMERCIAL. A análise de colidência em casos de marca integrada pelo nome
comercial do titular e outra marca em nome de terceiro posteriormente registrada no INPI não deve
ser direcionada exclusivamente pela anterioridade registral. Há que se utilizar a interpretação
sistemática dos preceitos contidos nos arts. 59 e 65, XVII, da Lei n. 5.772/1971 (Código de
Propriedade Industrial), que cuidam da reprodução ou imitação de marcas e consagram o princípio
da especificidade em nosso sistema. Portanto a solução da questão passaria, necessariamente, pela
perquirição acerca das classes em que deferidos os registros e das atividades sociais desenvolvidas
pelos titulares em conflito. A ressalva que se faz diz respeito à marca notória (art. 67 do referido
código), assim declarada pelo INPI, hoje intitulada de alto renome (art. 125 da Lei n. 9.279/1996), à
qual se dá tutela especial, em todos os ramos de atividade, quando previamente registrada no Brasil
(exceção ao princípio da especificidade). Tal espécie não deve ser confundida com a marca
notoriamente conhecida em seu ramo de atividade (art. 6º da Convenção da União de Paris para
Proteção da Propriedade Industrial-CUP e art. 126 da Lei n. 9.279/1996), que goza de proteção
especial independentemente do depósito ou registro no país, porém restrita a seu ramo de atividade
(exceção ao princípio da territorialidade). Na hipótese, o Tribunal, pela análise do conjunto
probatório, firmou não se tratar de marca notória, distintas, também, as classes de registros e o
âmbito das atividades desempenhadas pelas partes, daí ser forçoso concluir que não há impedimento
de uso da marca pela recorrida. Precedentes citados: REsp 9.142-SP, DJ 20/4/1992; REsp 37.646-
RJ, DJ 13/6/1994; REsp 550.092-SP, DJ 11/4/2005; REsp 471.546-SP, DJ 28/4/2003; REsp
142.954-SP, DJ 13/12/1999, e REsp 14.367-PR, DJ 21/9/1992. REsp 658.702-RJ, Rel. Min. Jorge
Scartezzini, julgado em 29/6/2006.
DIREITO SOCIETÁRIO
SOCIEDADES EMPRESÁRIAS (TEORIA GERAL)
RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE LIMITADA. CONSTITUIÇÃO DE
SOCIEDADE PARA A CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS CUJO GRUPO A QUE
VELADAMENTE VINCULADA ESTARIA PROIBIDO. POSSIBILIDADE DE DISSOLUÇÃO
E LIQUIDAÇÃO ANTE A VIOLAÇÃO A PRECEITOS DE ORDEM PÚBLICA. 1. Pedido de
dissolução de pessoa jurídica constituída em 1985, sucedida em 2001, sendo a ação de dissolução
ajuizada antes da entrada em vigor do CCB/02. Incidência do art. 2.034 do CCB, estatuindo regular
a dissolução de pessoa jurídica as leis anteriores e não o atual Código Civil. 2. Na forma do art.
1.218 do CPC/73, alguns dos dispositivos do CPC de 1939 remanesceram vigentes, notadamente
aqueles que regulavam o processo de dissolução e liquidação de sociedades empresárias.
Possibilidade, assim, de aplicação de suas normas na presente hipótese. 3. Reconhecimento pela
251

instância de origem, com base nas provas produzidas, da existência de desvio de finalidade e
simulação consubstanciados na constituição de pessoa jurídica de "fachada" (Ebenezer Construções
e Projetos Ltda., posteriormente sucedida por Data Construções e Projetos Ltda.), para a celebração
de contratos com órgão públicos no lugar de pessoas jurídicas que estavam impedidas de contratar
com a Administração Pública por força de decisão judicial ("Grupo OK Construções e
Incorporações S/A" e "Grupo OK Construções e Empreendimentos Ltda."). 4. Atos incompatíveis
com a ordem jurídica. Dissolução da sociedade mantida. 5. Honorários de advogado. Atração dos
enunciados 284/STF e 7/STJ. Limitando-se a dizer violados os arts. 20 e 21 do CPC, não há
conhecer do recurso tendo em vista a ausência de demonstração de sua violação em face da
sucumbência dos réus e razoabilidade do valor da verba, o que atrai o enunciado 7/STJ. 6.
RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp 1305918/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2018, DJe 20/11/2018)
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EXAME DE
ADMISSIBILIDADE. OMISSÃO. SANEAMENTO DO VÍCIO, SEM ATRIBUIÇÃO DE
EFEITO MODIFICATIVO. 1. Os embargos de declaração têm por escopo sanar decisão judicial
eivada de obscuridade, contradição, omissão ou erro material. 2. É direito da parte obter
pronunciamento judicial sobre temas relevantes atinentes aos requisitos de admissibilidade do
recurso especial que, pelo acórdão embargado, fora provido. 3. Omissão sanada para fazer constar
que, em razão da ausência de prequestionamento, o recurso fazendário não foi conhecido quanto à
alegação de violação do art. 49, parágrafo único, do CTN, do art. 11 da Lei n. 9.779/1998 e do art.
1º do Decreto n. 20.910/1932, não sendo adequada, por outro lado, a aplicação dos entendimentos
das Súmulas 283 e 284 do STF, tendo em vista o recurso da Fazenda Nacional conter argumentação
adequada e suficiente à impugnação do acórdão a quo, assentado em fundamentação
infraconstitucional. 4. Inaplicável também a Súmula 7 do STJ, pois, considerado o contexto fático
contido no voto condutor, a controvérsia submetida à solução é unicamente de direito, sendo certo
que o precedente deste Tribunal Superior, invocado em favor da pretensão recursal, porque trata de
ICMS, não guarda correlação com a matéria julgada. 5. O acórdão embargado, em atenção ao art.
29, § 5º, da Lei n. 10.637/2002, concluiu que a manutenção e a utilização do crédito de IPI, na
hipótese de suspensão do imposto, são restritos ao estabelecimento industrial vendedor de matérias-
primas, produtos intermediários e materiais de embalagem, não alcançando, portanto, as sociedades
empresárias adquirentes. 6. Embargos de declaração, em parte, acolhidos, sem atribuição de efeito
modificativo. (EDcl no REsp 1382354/PE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 25/10/2018, DJe 29/11/2018)
Informativo nº 0602. Publicação: 24 de maio de 2017. TERCEIRA TURMA. Processo.
REsp 1.398.438-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 4/4/2017, DJe
252

11/4/2017. O art. 1.023 do CC/02 – que trata da responsabilidade dos sócios da sociedade simples
– não se aplica às associações civis. Informações do Inteiro Teor. O propósito do recurso especial é
a discussão acerca da necessidade de comprovar abuso da personalidade jurídica, nos termos do art.
50 do CC/2002, para que os administradores de uma associação civil sejam responsabilizados por
dívidas desta, quando os bens sociais forem insuficientes para cobrir suas dívidas. Em resumo, se é
aplicável o art. 1.023 do CC/02 às associações civis. Inicialmente, vale considerar que a lei civil
atual foi mais rigorosa que o diploma anterior, ao não empregar o termo “sociedade” para se referir
a esse tipo de pessoa jurídica (associação civil), pois se tratam de dois fenômenos muitos distintos.
Aliás, do ponto de vista doutrinário, é impossível confundir sociedade civil com associação, pois:
“nas primeiras [sociedades civis], há o fito de lucro, enquanto, nas segundas [associações], inexiste
finalidade lucrativa. O objetivo das associações é puramente cultural, beneficente, altruísta,
religioso, esportivo ou moral”. Diante de tais premissas, ressalte-se que uma simples análise
topográfica do art. 1.023 do CC/2002 demonstra que seu conteúdo trata das relações das sociedades
simples com terceiros, de modo a estabelecer uma relação subsidiária dos sócios pelas dívidas
contraídas pela sociedade, quando esta não conseguir adimpli-las. Nessas situações, aliás, não se
trata propriamente de desconsideração da personalidade jurídica, mas de mera subsidiariedade de
responsabilidade, como bem destacado no julgamento do REsp 895.792-RJ, Terceira Turma, DJe
25/4/2011. A possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica de associação civil é ainda
muito pouco assentada na doutrina e na jurisprudência, principalmente em razão de suas
características muito peculiares se comparadas com as sociedades empresárias. Veja-se que, ao se
desconsiderar a personalidade jurídica de uma associação, pouco restará para atingir, pois os
associados não mantêm qualquer vínculo jurídico entre si, por força do art. 53 do CC/02. De
qualquer forma, para a correta solução da presente controvérsia, basta a compreensão de que –
independentemente de como poderia ocorrer uma eventual desconsideração de associação civil –
não se aplica à hipótese dos autos o disposto no art. 1.023 do CC/02.
Informativo nº 0568. Período: 3 a 16 de setembro de 2015. RECURSOS REPETITIVOS.
DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE POR AUSÊNCIA
DE NOTIFICAÇÃO DE INSCRIÇÃO DE CORRENTISTA NO CCF. RECURSO REPETITIVO
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 874. O Banco do Brasil, na condição de gestor
do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar
previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva
para as ações de reparação de danos diante da ausência de prévia comunicação. Inicialmente,
destaca-se que a Segunda Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.061.134-RS, fixou, para os
efeitos do art. 543-C do CPC, a tese de que "os órgãos mantenedores de cadastros possuem
legitimidade passiva para as ações que buscam a reparação dos danos morais e materiais
253

decorrentes da inscrição, sem prévia notificação, do nome de devedor em seus cadastros restritivos,
inclusive quando os dados utilizados para a negativação são oriundos do CCF do Banco Central ou
de outros cadastros mantidos por entidades diversas". No entanto, o CCF tem natureza, finalidade e
características específicas, que não se confundem com as de outros cadastros a que se refere
imediatamente a lógica daquele julgado. Com efeito, o CCF tem natureza pública, visa à proteção
do crédito em geral e à preservação da higidez do sistema financeiro nacional, servindo aos
interesses da coletividade (art. 192 do CF), envolvendo relevante interesse de ordem pública,
submetido a normas de cunho estatutário obrigatório, estabelecidas pelas autoridades monetárias,
operando sob controle do Banco Central do Brasil (Bacen), sem prevalente intuito de obtenção de
ganhos. Já os demais cadastros são de natureza privada, instituídos e mantidos no interesse de
particulares, sociedades empresárias atuantes, sem vínculo sistêmico, no ramo comercial,
submetidos a normas de índole meramente contratual, operados por entidades privadas, que os
exploram com nítido intuito da obtenção de lucro. Segundo a Resolução 1.682/1990 do Bacen, a
inclusão no CCF ocorre automaticamente quando o cheque é devolvido por: a) falta de provisão de
fundos (motivo 12), na segunda apresentação; b) conta encerrada (motivo 13); e c) prática espúria
(motivo 14). Conforme o art. 10 da referida Resolução e o item 14 da Circular 2.989/2000 do
Bacen: "Nas devoluções pelos motivos 12 a 14, o banco sacado é responsável pela inclusão do
emitente no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF)". A mesma Resolução dispõe
que a instituição financeira, ao recusar o pagamento de cheque por motivo que enseje a inclusão de
ocorrência no CCF, deve providenciar a referida inclusão no prazo de quinze dias, contados da data
de devolução do cheque. Por sua vez, o correntista não fica prejudicado pela inscrição de seu nome
no CCF, senão após previamente notificado, pois as ocorrências do CCF devem ser
obrigatoriamente comunicadas pela instituição financeira sacada, por escrito, ao respectivo
correntista emitente do cheque e, somente após, serão consolidadas pelo executante dos serviços de
compensação de cheques e outros papéis e distribuídas, em meios magnéticos, às instituições
bancárias, conforme o art. 16 e o art. 27, "a", da Resolução 1.682/1990 do Bacen, alterado pelo art.
1º da Circular 2.250 do Bacen. Assim, tratando-se de sistema financeiro, não pode o Banco do
Brasil encarregar-se de desempenhar função estranha, notificação prévia de emitente de cheque sem
provisão de fundos, dever que as normas de regência do sistema atribuem corretamente a outro
componente do sistema, o próprio banco sacado, instituição financeira mais próxima do correntista,
detentor do cadastro desse cliente e do próprio saldo da conta do correntista, como depositário. É,
pois, de reconhecer-se a ilegitimidade do Banco do Brasil, na condição de gestor do CCF, para
responder pela ausência de prévia notificação aos correntistas inscritos no CCF, pelo que descabe
cogitar-se de sua responsabilização por danos materiais ou morais, exceto nas hipóteses em que
também figure como banco sacado. Precedentes citados: REsp 1.425.756-RS, Terceira Turma, DJe
254

de 16/6/2014; e AgRg no AREsp 230.981-RS, Quarta Turma, DJe de 17/9/2014. REsp 1.354.590-
RS, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, julgado em 9/9/2015, DJe 15/9/2015.
Informativo nº 0555. Período: 11 de março de 2015. QUARTA TURMA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. ILEGITIMIDADE PASSIVA DE SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
INTEGRANTES DE GRUPO ECONÔMICO EM EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. Não estão legitimadas a integrar o polo passivo de ação de execução de
honorários advocatícios as sociedades empresárias que não figurarem no título executivo
extrajudicial, ainda que sejam integrantes do mesmo grupo econômico da sociedade empresária que
firmou o contrato de prestação de serviços advocatícios. O fato de sociedades empresárias
pertencerem a um mesmo grupo econômico, por si só, não as torna automaticamente solidárias nas
respectivas obrigações. Cada pessoa jurídica tem personalidade e patrimônio próprios, distintos,
justamente para assegurar a autonomia das relações e atividades de cada sociedade empresária,
ainda que integrantes de um mesmo grupo econômico. Somente em casos excepcionais essas
distinções podem ser superadas, motivadamente (art. 50 do CC). Esse raciocínio é ainda mais forte
em se tratando de processo de execução, que reclama título hábil a tanto, ou seja, dotado de
liquidez, certeza e exigibilidade em relação ao executado. A questão, portanto, resolve-se pela
observância dos limites subjetivos do título extrajudicial, nos termos do art. 568, I, do CPC: "São
sujeitos passivos na execução: I - o devedor, reconhecido como tal no título executivo". Desse
modo, não se justifica, na espécie, a aplicação da teoria da aparência - ao menos para o fim de
constituir automaticamente título executivo extrajudicial. Com efeito, não se está a tratar de relação
de consumo ou hipótese outra que autorize presumir a hipossuficiência dos contratantes advogados.
Estes, na verdade, estão apenas a cobrar honorários advocatícios decorrentes de contrato de
prestação de serviços firmado com sociedade empresária específica, não havendo indícios objetivos
que permitam, no processo de execução, reconhecer-se a existência de confusão ou dúvida quanto
ao real devedor, de modo a estender a responsabilidade para além da contratante. Não podem os
credores, no intuito de agilizar o resgate de seu crédito perante sociedade empresária em aparente
dificuldade financeira, direcionar a execução para outras sociedades - ainda que integrantes do
mesmo grupo econômico - contra as quais não possuem título executivo, atropelando as normas
legais. A teoria da aparência, definitivamente, não admite esse viés. REsp 1.404.366-RS, Rel. Min.
Raul Araújo, julgado em 23/10/2014, DJe 9/2/2015.
Informativo nº 0547. Período: 8 de outubro de 2014. PRIMEIRA SEÇÃO. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. HIPÓTESE DE REDIRECIONAMENTO DE EXECUÇÃO FISCAL DE
DÍVIDA ATIVA NÃO-TRIBUTÁRIA CONTRA REPRESENTANTE LEGAL DA SOCIEDADE
EMPRESÁRIA EXECUTADA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-
STJ). Quando a sociedade empresária for dissolvida irregularmente, é possível o redirecionamento
255

de execução fiscal de dívida ativa não-tributária contra o sócio-gerente da pessoa jurídica


executada, independentemente da existência de dolo. Na esteira do entendimento firmado na
Súmula 435 do STJ, a qual foi concebida no âmbito de execução fiscal de dívida tributária, a
dissolução irregular da sociedade empresária é causa suficiente para o redirecionamento da
execução fiscal contra o sócio-gerente. Isso porque o sócio-gerente tem o dever de manter
atualizados os registros empresariais e comerciais, em especial quanto à localização da sociedade
empresária e a sua dissolução. Caso não proceda assim, ocorrerá presunção de ilícito, uma vez que a
ilicitude se dá justamente pela inobservância do rito próprio para a dissolução da sociedade
empresarial, nos termos das Leis 8.934/1994 e 11.101/2005 e dos arts. 1.033 a 1.038 e 1.102 a
1.112 do CC. Desse modo, é obrigação dos gestores das sociedades empresárias manter atualizados
os respectivos cadastros, incluindo os atos relativos à mudança de endereço dos estabelecimentos e,
especialmente, os referentes à dissolução da sociedade. Nessa linha intelectiva, não se pode
conceber que a dissolução irregular da sociedade seja considerada "infração à lei" para efeito do art.
135 do CTN e assim não seja para efeito do art. 10 do Decreto 3.078/1919. Aliás, cabe registrar que
o art. 135, III, do CTN traz similar comando ao do art. 10 do referido Decreto, sendo que a única
diferença entre eles é que, enquanto o CTN enfatiza a exceção - a responsabilização dos sócios em
situações excepcionais -, o Decreto enfatiza a regra - a ausência de responsabilização dos sócios em
situações regulares. Ademais, ambos trazem a previsão de que os atos praticados em nome da
sociedade com excesso de poder (mandato), em violação a lei, contrato ou estatutos sociais ensejam
a responsabilização dos sócios perante terceiros (redirecionamento) e a própria sociedade da qual
fazem parte, não havendo em nenhum dos casos a exigência de dolo. Precedentes citados: REsp
697.108-MG, Primeira Turma, DJe 13/5/2009; e AgRg no AREsp 8.509-SC, Segunda Turma, DJe
4/10/2011.REsp 1.371.128-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/9/2014.

SOCIEDADE DESPERSONIFICADA
RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E AUTORAL.
QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DOS FATOS. LIBERDADE DO JULGADOR. CARÁTER
PERSONALÍSSIMO DO DIREITO AUTORAL. CONTRATO DE EDIÇÃO. CLÁUSULA DE
EXCLUSIVIDADE. OBJETO CONTRATADO. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS
EFEITOS DO CONTRATO. SOCIEDADE DESPERSONIFICADA NÃO CARACTERIZADA.
MÁ-FÉ. IMPOSSIBILIDADE DE PRESUNÇÃO. 1. Cuida-se, na origem, de ação declaratória de
direito de exclusividade de edição combinada com obrigação de não fazer e indenização por perdas
e danos. 2. O magistrado possui liberdade para qualificar juridicamente os fatos narrados pelas
partes em observância ao princípio da mihi factum, dabo tibi jus. 3. O direito autoral é considerado
como personalíssimo e possui proteção constitucional (art. 5º, incisos XXVII e XXVIII, alíneas "a"
256

e "b", da CF/1988), reconhecida a exclusividade dos direitos dos autores em relação a suas obras. 4.
O objeto de proteção do direito autoral é a criação ou a obra intelectual e não a ideia em si mesma.
5. A dimensão patrimonial do direito do autor confere a possibilidade de se auferir vantagem
econômica com a utilização da obra por ele criada conforme disposto em contrato escrito e cuja
interpretação deverá ser restritiva nos termos da legislação de regência. 6. O princípio da
relatividade dos efeitos do contrato determina que as consequências jurídicas da relação contratual
restringem-se às partes que o concluíram. 7. Um projeto familiar de viagem ao redor do mundo a
bordo de um veleiro não presume, sem prova específica, a existência de uma sociedade familiar
despersonificada. 8. Ausente a expressa cessão do direito do autor, não pode terceiro dispor de
direito autoral de outrem, não sendo possível ser considerado convencionado o que não constou
expressamente no contrato de edição. 9. A conclusão da prova técnica - de que os livros de autoria
de marido e esposa são obras diversas - descaracteriza o descumprimento da cláusula contratual de
exclusividade firmada por apenas um deles. 10. A presunção de boa-fé é princípio geral de direito
universalmente aceito, sendo milenar a parêmia: a boa-fé se presume; a má-fé se prova. O
reconhecimento da má-fé exige prova de sua existência, o que não ocorreu no caso dos autos. 11.
Recurso especial de Vilfredo Schürmann e outros parcialmente provido para reconhecer a ausência
de violação contratual; recurso especial de Editora Grupo 1 LTDA prejudicado e recurso especial de
Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A. parcialmente conhecido e não provido. (REsp
1546140/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 08/03/2016, DJe 28/03/2016)

SOCIEDADE EM COMUM
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RECURSO INCAPAZ DE
ALTERAR O JULGADO. AÇÃO DE COBRANÇA. DANOS MORAIS. PROCEDIMENTO
ORDINÁRIO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZOS. PRECEDENTES. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE
PROFISSIONAL. IMPEDIMENTO. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. VALOR
EXORBITANTE DA INDENIZAÇÃO. NÃO VERIFICAÇÃO. RAZOABILIDADE.
ESPECIFICIDADES DA CAUSA. 1. A não adoção do rito especial na dissolução de sociedade em
comum (de fato) e a cumulação dos pedidos de indenização da inicial não importa nulidade, visto
que o rito comum ordinário é mais amplo e mais completo, mormente quando exercidos a ampla
defesa e o contraditório pela parte contrária. Ademais, devem ser prestigiados os princípios da
economia processual, efetividade, respeito ao contraditório e ausência de prejuízo concreto.
Precedentes. 2. O valor fixado à título de indenização por danos morais baseia-se nas peculiaridades
da causa. Assim, afastando-se a incidência da Súmula nº 7/STJ, somente comporta revisão por este
Tribunal quando irrisório ou exorbitante, o que não ocorreu na hipótese dos autos, em que arbitrado
257

em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) diante da especificidade do caso concreto. 3. Agravo


regimental não provido. (AgRg no REsp 1563983/ES, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 12/05/2016)

SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO


Informativo nº 0554. Período: 25 de fevereiro de 2015. TERCEIRA TURMA. DIREITO
CIVIL. DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. Aplica-se
subsidiariamente às sociedades em conta de participação o art. 1.034 do CC, o qual define de forma
taxativa as hipóteses pelas quais se admite a dissolução judicial das sociedades. Apesar de
despersonificadas e de os seus sócios possuírem graus de responsabilidade distintos, as sociedades
em conta de participação decorrem da união de esforços, com compartilhamento de
responsabilidades, comunhão de finalidade econômica e existência de um patrimônio especial
garantidor das obrigações assumidas no exercício da empresa. Não há diferença ontológica entre as
sociedades em conta de participação e os demais tipos societários personificados, distinguindo-se
quanto aos efeitos jurídicos unicamente em razão da dispensa de formalidades legais para sua
constituição. Sendo assim, admitindo-se a natureza societária dessa espécie empresarial, deve-se
reconhecer a aplicação subsidiária do art. 1.034 do CC - o qual define de forma taxativa as
hipóteses pelas quais se admite a dissolução judicial das sociedades - às sociedades em conta de
participação, nos termos do art. 996 do CC, enquanto ato inicial que rompe o vínculo jurídico entre
os sócios. Ora, as sociedades não personificadas, diversamente das universalidades
despersonalizadas, decorrem de um vínculo jurídico negocial e, no mais das vezes, plurissubjetivo.
São contratos relacionais multilaterais de longa duração, os quais podem ser rompidos pela vontade
das partes, em consenso ou não, porquanto não se pode exigir a eternização do vínculo contratual. E
é essa a finalidade do instituto jurídico denominado dissolução. Por fim, ressalte-se que, somente
após esse ato inicial, que dissolve as amarras contratuais entre os sócios, inicia-se o procedimento
de liquidação. E, nesta fase, sim, a ausência de personalidade jurídica terá clara relevância, impondo
às sociedades em conta de participação um regime distinto dos demais tipos societários. Isso porque
a especialização patrimonial das sociedades em conta de participação só tem efeitos entre os sócios,
nos termos do § 1º do art. 994 do CC, de forma a existir, perante terceiros, verdadeira confusão
patrimonial entre o sócio ostensivo e a sociedade. Assim, inexistindo possibilidade material de
apuração de haveres, disciplinou o art. 996 do mesmo diploma legal que a liquidação dessas
sociedades deveriam seguir o procedimento relativo às prestações de contas, solução que era
adotada mesmo antes da vigência do novo Código Civil. Dessa forma, o procedimento especial de
prestação de contas refere-se tão somente à forma de sua liquidação, momento posterior à
dissolução do vínculo entre os sócios ostensivo e oculto. Contudo, essa disciplina da liquidação não
258

afasta nem poderia atingir o ato inicial, antecedente lógico e necessário, qual seja, a extinção do
vínculo contratual de natureza societária por meio da dissolução. REsp 1.230.981-RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/12/2014, DJe 5/2/2015.
Informativo nº 0205. Período: 12 a 16 de abril de 2004. QUARTA TURMA. OBRIGAÇÃO.
SÓCIO OSTENSIVO. ART. 326 DO CÓDIGO COMERCIAL. Na sociedade em conta de
participação (art. 326 do Código Comercial), os sócios ostensivos ou gerentes são os que praticam
os atos de comércio e são os únicos responsáveis para com os terceiros com quem tratam. No caso,
com a finalidade de administrar locações de flats, foi criada uma sociedade em conta de
participação, tendo como sócios uma empresa especializada na exploração de serviços e os
condôminos do edifício de apartamentos. Essa sociedade em conta de participação celebrou
contrato para fornecimento de móveis para mobiliar cada apartamento. Assim, a sócia ostensiva, no
caso a empresa especializada na exploração dos serviços, é que responde perante a empresa
fornecedora do mobiliário, uma vez que a duplicata sacada em nome dos condôminos é inexigível.
Precedente citado: REsp 168.028-SP, DJ 22/10/2001. REsp 192.603-SP, Rel. Min. Barros
Monteiro, julgado em 15/4/2003.
Informativo nº 0103. Período: 6 a 10 de agosto de 2001. QUARTA TURMA. SOCIEDADE
EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. FLAT. RESPONSABILIDADE. SÓCIO OSTENSIVO. Na
sociedade em conta de participação, empreendimento hoteleiro denominado flat, os sócios
participantes, conhecidos como sócios ocultos, não se obrigam para com terceiros – que não os
conhecem nem com eles tratam –, mas os sócios ostensivos são os que se obrigam com terceiros
pelos resultados das transações e obrigações sociais realizadas ou empreendimentos, nos termos
precisos do contrato. A relação do sócio oculto se dá unicamente com o sócio ostensivo que
gerencia o negócio. Sendo assim, os sócios ostensivos respondem pela duplicata levada a protesto
pelos serviços eventualmente prestados. REsp 168.028-SP, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado
em 7/8/2001.
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO
EM RECURSO ESPECIAL. LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO. SOCIEDADE EM CONTA
DE PARTICIPAÇÃO. APURAÇÃO DE HAVERES. PERÍCIA. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO
NÃO IMPUGNADO. SÚMULA 283/STF. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA
211/STJ. REEXAME DE FATOS E PROVAS E INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. INADMISSIBILIDADE. 1. A existência de fundamento do acórdão recorrido
não impugnado - quando suficiente para a manutenção de suas conclusões - impede a apreciação do
recurso especial. 2. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados,
não obstante a interposição de embargos de declaração, impede o conhecimento do recurso especial.
3. O reexame de fatos e provas e a interpretação de cláusulas contratuais são inadmissíveis em
259

recurso especial. 4. Agravo interno no agravo interno no agravo em recurso especial desprovido.
(AgInt no AgInt no AREsp 1140954/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe 14/05/2018)
RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. ART.
5º DA LEI N. 7.492/1986. APROPRIAÇÃO INDÉBITA E DESVIO. CONSÓRCIO. SOCIEDADE
EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. ATUAÇÃO NO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL SEM
AUTORIZAÇÃO PELO BACEN. FATO TÍPICO. COMPATIBILIDADE COM O CRIME DE
OPERAÇÃO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA SEM AUTORIZAÇÃO. ART. 16 DA LEI N.
7.492/1986. I - O recorrido operou sociedade em conta de participação, cujo objeto social consistia
na formação de um fundo financeiro coletivo destinado a compra, reforma ou construção de
imóveis. O recorrido, como sócio ostensivo, em nome próprio e sob sua própria e exclusiva
responsabilidade, captava clientes (sócios participantes ou ocultos), os quais, após o pagamento
mensal de aproximadamente 6 (seis) parcelas, seriam contemplados, sem sorteio, com uma carta de
crédito para aquisição do bem ou serviço pretendido. Centenas de clientes pagaram boletos
bancários emitidos em favor da sociedade sem jamais receberem qualquer contrapartida. II - O
delito previsto no art. 5º da Lei 7.492/1986 não pressupõe, como elemento normativo do tipo legal,
a atuação do agente, no mercado financeiro pátrio, na qualidade de instituição financeira formal e
materialmente constituída. Doutrina. Precedentes III - O art. 1º da Lei 7.492/86 explicita
interpretação legislativa que confere espectro amplo ao conceito de "instituição financeira" para fins
penais e, em especial, para os delitos contra o Sistema Financeiro Nacional. IV - São consideradas
instituição financeira as pessoas física ou jurídica que exercem, de forma habitual ou não, ainda que
à margem do controle do Banco Central, as atividades de consórcio, seguros, poupanças,
investimentos, entre outras. Conceito restritivo, que limite a aplicação da norma penal apenas a
pessoas jurídicas autorizadas pelo Banco Central, deixa de fora grande número de situações de risco
ou lesões ao bem jurídico tutelado. V - Por conferir maior grau de proteção ao bem jurídico tutelado
e por se encontrar em consonância com precedentes do STF e do STJ, conclui-se pela tipicidade da
conduta do recorrido, nos termos do art. 5º, caput, da Lei 7.492/86. VI - No âmbito da instituição
que opere no mercado sem a autorização do Banco Central podem ocorrer outros crimes
financeiros, em concurso formal ou material. Afastar os demais crimes porque o funcionamento da
instituição não se dá de forma regular caracteriza privilégio àqueles que atuam à margem da
legalidade. Os tipos penais do art. 5º e 16 da Lei 7.492/86 não são incompatíveis entre si, pois,
enquanto o art. 5º diz respeito à confiança dos negócios praticados no Sistema Financeiro, o art. 16
trata do funcionamento irregular, a fim de desestimular a proliferação de pessoas que atuam sem a
devida autorização. Doutrina. Precedentes. Recurso especial provido. (REsp 1536393/PR, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/11/2017, DJe 13/11/2017)
260

DUPLICATA. EMISSÃO POR FORNECEDORA DE MOBILIÁRIO CONTRA O


PROPRIETÁRIO DE UNIDADE AUTÔNOMA DE EDIFÍCIO. SOCIEDADE EM CONTA DE
PARTICIPAÇÃO. RESPONSABILIDADE PERANTE TERCEIROS. SÓCIO OSTENSIVO. "Na
sociedade em conta de participação o sócio ostensivo é quem se obriga para com terceiros pelos
resultados das transações e das obrigações sociais, realizadas ou empreendidas em decorrência da
sociedade, nunca o sócio participante ou oculto que nem é conhecido dos terceiros nem com estes
nada trata. ? (REsp nº 168.028-SP). Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
provido. (REsp 192.603/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em
15/04/2004, DJ 01/07/2004, p. 197)
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. CONTRATOS DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL E DE SOCIEDADE
EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO. CDC. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. COMPETÊNCIA
DO JUÍZO. SÚMULA 5/STJ. IMPROVIMENTO. 1.- A convicção a que chegou o Tribunal a quo
quanto à incidênciado do CDC ao caso dos autos e à inaplicabilidade da cláusula compromissória e
à competência do juízo decorreu da análise dos contratos de compra e venda e da sociedade em
conta de participação. O acolhimento da pretensão recursal demandaria o reexame do mencionado
suporte. Incide nesse ponto a Súmula STJ/5. 2.- Agravo Regimental improvido. (AgRg no AREsp
508.700/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2014, DJe
29/08/2014)

SOCIEDADE EM NOME COLETIVO


Informativo nº 0510. Período: 18 de dezembro de 2012. QUARTA TURMA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. SOCIEDADE AVALIZADA EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. PROSSEGUIMENTO DE EXECUÇÃO CONTRA AVALISTA. Não se suspendem
as execuções individuais direcionadas aos avalistas de título cujo devedor principal (avalizado) é
sociedade em recuperação judicial. Dispõe o caput do art. 6º da Lei n. 11.101/2005 que "a
decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso
da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores
particulares do sócio solidário". A suspensão alcança apenas os sócios solidários presentes naqueles
tipos societários em que a responsabilidade pessoal dos consorciados não é limitada às suas
respectivas quotas/ações, como é o caso, por exemplo, da sociedade em nome coletivo (art. 1.039
do CC) e da sociedade em comandita simples, no que concerne aos sócios comanditados (art. 1.045
do CC). A razão de ser da norma que determina a suspensão das ações, ainda que de credores
particulares dos sócios solidários, é simples, pois, na eventualidade de decretação da falência da
sociedade os efeitos da quebra estendem-se àqueles, conforme dispõe o art. 81 da Lei n.
261

11.101/2005. Situação diversa, por outro lado, ocupam os devedores solidários ou coobrigados.
Para eles, a disciplina é exatamente inversa, considerando que o art. 49, § 1º, da Lei n. 11.101/2005
estabelece que "os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e
privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso". Nesse sentido, na recente I
Jornada de Direito Comercial realizada pelo CJF/STJ foi aprovado o Enunciado n. 43, segundo o
qual "[a] suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende
aos coobrigados do devedor". Precedentes citados: EAg 1.179.654-SP, DJe 13/4/2012, e REsp
1.095.352-SP, DJe 25/11/2010. REsp 1.269.703-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
13/11/2012.
Informativo nº 0386. Período: 9 a 13 de março de 2009. TERCEIRA TURMA. FALÊNCIA.
AVAL. SÓCIO. Pretende-se anular atos judiciais (penhora e arrematação de imóvel) ocorridos na
execução ajuizada unicamente em desfavor do avalista de título de crédito que vem a ser sócio na
sociedade avalizada ora falida. Quanto a isso, faz-se necessário destacar que o aval é dotado de
autonomia substancial: sua existência, validade e eficácia não estão jungidas à obrigação avalizada.
Desse modo, eventuais direitos que beneficiem o avalizado não se estendem ao avalista: a falência
em questão em nada afeta a obrigação do aval, pois o avalista não pode opor em seu favor qualquer
dos efeitos decorrentes da quebra do avalizado (nesse caso, a exceção pessoal). Por outro lado, não
há que se falar em suspensão da execução contra sócio em razão da quebra da sociedade, visto que,
nos termos do art. 24 do DL n. 7.661/1945 (vigente à época), a dívida posta em execução dever ser
de natureza particular do sócio solidariamente responsável pelas obrigações sociais (tais como os
das sociedades em nome coletivo, irregulares ou de fato) e, no caso, cuida-se de sociedade por
quotas de responsabilidade limitada, sem que houvesse desvio de finalidade ou confusão
patrimonial que pudesse ampliá-la. Precedente citado: REsp 1.747-PR, DJ 11/6/1990. REsp
883.859-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/3/2009.

SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES


Informativo nº 0510. Período: 18 de dezembro de 2012. QUARTA TURMA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. SOCIEDADE AVALIZADA EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. PROSSEGUIMENTO DE EXECUÇÃO CONTRA AVALISTA. Não se suspendem
as execuções individuais direcionadas aos avalistas de título cujo devedor principal (avalizado) é
sociedade em recuperação judicial. Dispõe o caput do art. 6º da Lei n. 11.101/2005 que "a
decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso
da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores
particulares do sócio solidário". A suspensão alcança apenas os sócios solidários presentes naqueles
tipos societários em que a responsabilidade pessoal dos consorciados não é limitada às suas
262

respectivas quotas/ações, como é o caso, por exemplo, da sociedade em nome coletivo (art. 1.039
do CC) e da sociedade em comandita simples, no que concerne aos sócios comanditados (art. 1.045
do CC). A razão de ser da norma que determina a suspensão das ações, ainda que de credores
particulares dos sócios solidários, é simples, pois, na eventualidade de decretação da falência da
sociedade os efeitos da quebra estendem-se àqueles, conforme dispõe o art. 81 da Lei n.
11.101/2005. Situação diversa, por outro lado, ocupam os devedores solidários ou coobrigados.
Para eles, a disciplina é exatamente inversa, considerando que o art. 49, § 1º, da Lei n. 11.101/2005
estabelece que "os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e
privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso". Nesse sentido, na recente I
Jornada de Direito Comercial realizada pelo CJF/STJ foi aprovado o Enunciado n. 43, segundo o
qual "[a] suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende
aos coobrigados do devedor". Precedentes citados: EAg 1.179.654-SP, DJe 13/4/2012, e REsp
1.095.352-SP, DJe 25/11/2010. REsp 1.269.703-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
13/11/2012.

SOCIEDADE LIMITADA
RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE LIMITADA. CONSTITUIÇÃO DE
SOCIEDADE PARA A CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS CUJO GRUPO A QUE
VELADAMENTE VINCULADA ESTARIA PROIBIDO. POSSIBILIDADE DE DISSOLUÇÃO
E LIQUIDAÇÃO ANTE A VIOLAÇÃO A PRECEITOS DE ORDEM PÚBLICA. 1. Pedido de
dissolução de pessoa jurídica constituída em 1985, sucedida em 2001, sendo a ação de dissolução
ajuizada antes da entrada em vigor do CCB/02. Incidência do art. 2.034 do CCB, estatuindo regular
a dissolução de pessoa jurídica as leis anteriores e não o atual Código Civil. 2. Na forma do art.
1.218 do CPC/73, alguns dos dispositivos do CPC de 1939 remanesceram vigentes, notadamente
aqueles que regulavam o processo de dissolução e liquidação de sociedades empresárias.
Possibilidade, assim, de aplicação de suas normas na presente hipótese. 3. Reconhecimento pela
instância de origem, com base nas provas produzidas, da existência de desvio de finalidade e
simulação consubstanciados na constituição de pessoa jurídica de "fachada" (Ebenezer Construções
e Projetos Ltda., posteriormente sucedida por Data Construções e Projetos Ltda.), para a celebração
de contratos com órgão públicos no lugar de pessoas jurídicas que estavam impedidas de contratar
com a Administração Pública por força de decisão judicial ("Grupo OK Construções e
Incorporações S/A" e "Grupo OK Construções e Empreendimentos Ltda."). 4. Atos incompatíveis
com a ordem jurídica. Dissolução da sociedade mantida. 5. Honorários de advogado. Atração dos
enunciados 284/STF e 7/STJ. Limitando-se a dizer violados os arts. 20 e 21 do CPC, não há
263

conhecer do recurso tendo em vista a ausência de demonstração de sua violação em face da


sucumbência dos réus e razoabilidade do valor da verba, o que atrai o enunciado 7/STJ. 6.
RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp 1305918/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/11/2018, DJe 20/11/2018)
COMERCIAL E PROCESSO CIVIL. SOCIEDADE. MORTE DE UM DOS SÓCIOS.
ENCERRAMENTO IRREGULAR DA EMPRESA. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO. 1. A desconsideração da personalidade jurídica é medida de caráter excepcional que
somente pode ser decretada após a análise, no caso concreto, da existência de vícios que configurem
abuso de direito, desvio de finalidade ou confusão patrimonial, requisitos não verificáveis, no caso
concreto. 2. "O falecimento de um dos sócios, embora possa gerar o encerramento das atividades da
empresa, em função da unipessoalidade da sociedade limitada, não necessariamente importará em
sua dissolução total, seja porque a participação na sociedade é atribuída, por sucessão causa mortis,
a um herdeiro ou legatário, seja porque a jurisprudência tem admitido que o sócio remanescente
explore a atividade econômica individualmente, de forma temporária, até que se aperfeiçoe a
sucessão" (REsp 846.331/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 23/03/2010, DJe 06/04/2010). 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp
1464494/ES, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
09/10/2018, DJe 15/10/2018)
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE
LIMITADA E APURAÇÃO DE HAVERES. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
NÃO OCORRÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. REEXAME DE FATOS E
PROVAS. INADMISSIBILIDADE. RECONVENÇÃO APRESENTADA PELA SOCIEDADE.
RESPONSABILIZAÇÃO DO SÓCIO RETIRANTE. PRÁTICA DE ATOS ILÍCITOS.
ADMINISTRADOR. COMPENSAÇÃO DE VALORES. BALANÇO PATRIMONIAL E DE
RESULTADO ECONÔMICO. PEDIDO DE ANULAÇÃO DAS DELIBERAÇÕES.
PRESCINDIBILIDADE. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. 1. Ação ajuizada em 28/5/2012.
Recurso especial interposto em 21/5/2015 e atribuído ao Gabinete em 25/8/2016. 2. O propósito
recursal é definir a viabilidade de se analisar pretensão indenizatória deduzida em sede de
reconvenção, fundamentada na prática de atos ilícitos pelo recorrido à época em que ocupava a
posição de administrador da sociedade recorrente, a fim de que, ao final, proceda-se à compensação
desses valores com os créditos derivados de sua retirada dos quadros sociais da empresa. 3.
Devidamente analisadas e discutidas as questões controvertidas, e suficientemente fundamentado o
acórdão recorrido, não há como reconhecer a ocorrência de negativa de prestação jurisdicional. 4. A
ausência de decisão acerca de dispositivos legais indicados como violados pelo recorrente impede,
264

quanto a eles, o conhecimento do recurso especial. 5. O reexame de fatos e provas em recurso


especial é inadmissível. 6. Partindo-se da premissa assentada pela Corte de origem - de que as
assembleias que aprovaram as contas apresentadas pelo recorrido ocorreram nos anos de 2007 a
2009 -, não haveria como se reconhecer violação às normas dos §§ 3º e 4º do art. 1.078 do CC/02.
7. Todavia, como os atos causadores dos danos indenizáveis imputados ao recorrido pela sociedade
não se restringem à indicação de irregularidades relacionadas ao balanço patrimonial ou ao de
resultado econômico - e como, nessa hipótese, revela-se desnecessário deduzir, previamente, pedido
de anulação das deliberações assembleares que aprovaram as contas apresentadas -, não há que se
cogitar da aplicação do prazo extintivo do art. 1.078, § 4º, do CC/02. 8. Recurso especial provido.
(REsp 1741338/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
26/06/2018, DJe 29/06/2018)
RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. SOCIETÁRIO. DISSOLUÇÃO
PARCIAL. SOCIEDADE LIMITADA. TEMPO INDETERMINADO. RETIRADA DO SÓCIO.
DIREITO POTESTATIVO. AUTONOMIA DA VONTADE. APURAÇÃO DE HAVERES.
DATA-BASE. ARTIGO 1.029 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. NOTIFICAÇÃO
EXTRAJUDICIAL PRÉVIA. POSTERGAÇÃO. 60 (SESSENTA) DIAS. ENUNCIADO Nº 13 - I
JORNADA DE DIREITO COMERCIAL - CJF. ART. 605, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de
Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. O direito de retirada
imotivada de sócio de sociedade limitada por tempo indeterminado constitui direito potestativo à
luz dos princípios da autonomia da vontade e da liberdade de associação. 3. Quando o direito de
retirada é exteriorizado por meio de notificação extrajudicial, a apuração de haveres tem como data-
base o recebimento do ato pela empresa. 4. O direito de recesso deve respeitar o lapso temporal
mínimo de 60 (sessenta) dias, conforme o teor do art. 1.029 do CC/2002. 5. No caso concreto, em
virtude do envio de notificação realizando o direito de retirada, o termo final para a apuração de
haveres é, no mínimo, o sexagésimo dia, a contar do recebimento da notificação extrajudicial pela
sociedade. 6. A decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar a data de
desligamento do sócio e o critério de apuração de haveres (Enunciado nº 13 da I Jornada de Direito
Comercial - CJF). 7. O Código de Processo Civil de 2015 prevê expressamente que, na retirada
imotivada do sócio, a data da resolução da sociedade é o sexagésimo dia após o recebimento pela
sociedade da notificação do sócio retirante (art. 605, inciso II). 8. Recurso especial provido. (REsp
1403947/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 24/04/2018, DJe 30/04/2018)
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO. AÇÃO REVISIONAL DE ALUGUEL.
265

EXECUÇÃO DE SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.


SÓCIO. FALTA DE CITAÇÃO. NULIDADE. AUSÊNCIA. PARTICIPAÇÃO NA
ADMINISTRAÇÃO DA EMPRESA. ATO FRAUDULENTO. REEXAME DE MATÉRIA
FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. CONFUSÃO PATRIMONIAL.
PRESCRIÇÃO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA Nº 282/STF. 1. Recurso
especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973
(Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A falta de citação do sócio, por si só, na hipótese de
desconsideração da personalidade jurídica da sociedade, não induz nulidade, que somente deve ser
reconhecida nos casos de efetivo prejuízo ao exercício da ampla defesa, o que não ocorreu no caso
em apreço. Inaplicabilidade do art. 135 do Código de Processo Civil de 2015 à luz do princípio
tempus regit actum. 3. Hipótese em que a retirada do sócio ocorreu quando já havia ação judicial
em curso, relativa a débitos locatícios contemporâneos à época em que ainda integrava a sociedade.
4. Impossibilidade de conhecimento do recurso quanto à alegação do agravante de não haver
participado da administração da empresa executada e de inexistir indicação de ato fraudulento
atribuído à sua conduta, haja vista o óbice da Súmula nº 7/STJ. 5. Presente a hipótese de abuso da
personalidade jurídica da sociedade executada, caracterizado pela confusão patrimonial, é viável a
desconsideração da personalidade jurídica de modo a recair a execução sobre o patrimônio pessoal
dos sócios. 6. Não incidem as disposições contidas nos arts. 1.003 e 1.032 do Código Civil na
hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, que tem como fundamento o abuso de
direito por parte do sócio quando ele ainda fazia parte do quadro societário da pessoa jurídica.
Precedentes. 7. A ausência de prequestionamento da matéria suscitada no recurso especial impede o
conhecimento do apelo nobre (Súmula nº 282/STF). 8. As questões de ordem pública, embora
passíveis de conhecimento de ofício nas instâncias ordinárias, não prescindem, no estreito âmbito
do recurso especial, do requisito do prequestionamento. 9. Agravo interno não provido. (AgInt nos
EDcl no REsp 1422020/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 30/04/2018)
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. RESPONSABILIDADE DE EX-
SÓCIOS. 1. A jurisprudência desta Corte orienta que a responsabilidade dos sócios alcançados pela
desconsideração da personalidade jurídica da sociedade não se limita ao capital integralizado, sob
pena de frustrar a satisfação do credor lesado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial. 2.
"Descabe, por ampliação ou analogia, sem qualquer previsão legal, trazer para a desconsideração da
personalidade jurídica os prazos prescricionais previstos para os casos de retirada de sócio da
sociedade (arts. 1003, 1.032 e 1.057 do Código Civil), uma vez que institutos diversos" (REsp
1.312.591/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 1.7.2013). 3.
266

Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 866.305/MA, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 27/02/2018, DJe 08/03/2018)
RECURSO ESPECIAL. DIREITO SOCIETÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA DE
ALTERAÇÃO DE CONTRATO SOCIAL. SOCIEDADE LIMITADA. PRESCRIÇÃO.
DECRETO 3.078/1919. LEI DAS S/A E CÓDIGO COMERCIAL. INAPLICABILIDADE À
SITUAÇÃO FÁTICA. CÓDIGO CIVIL. INCIDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES CONCERNENTES
À ANULAÇÃO DE CONTRATOS. PRETENSÃO PRESCRITA. 1- Ação ajuizada em 29/8/2001.
Recurso especial interposto em 13/12/2013 e concluso à Relatora em 25/8/2016. 2- O propósito
recursal é definir se a pretensão deduzida na inicial - desconstituição de alterações promovidas no
contrato social da empresa recorrente - está prescrita. 3- Os fatos narrados na inicial ocorreram na
vigência do Decreto 3.708/1919 - que regulava as sociedades por cotas de responsabilidade limitada
-, do Código Comercial e do Código Civil de 1916. 4- A norma do art. 286 da Lei das S/A (de
aplicação subsidiária às sociedades limitadas) cuida especificamente do prazo incidente sobre
pretensões deduzidas com o objetivo de anulação de deliberações tomadas em assembleia-geral ou
especial, circunstância distinta da tratada neste processo. 5- Por outro lado, os fatos narrados na
inicial também não se subsomem à norma legal invocada pelos recorrentes, veiculada pelo art. 442
do Código Comercial, pois tal regra trata especificamente da prescrição da pretensão derivada do
inadimplemento de obrigações comerciais contraídas por escritura pública ou particular pela
sociedade. 6- Reconhecida a natureza contratual do contrato social, afigura-se razoável, à míngua de
qualquer disposição legal que lhe seja própria, o entendimento no sentido de que a prescrição
incidente sobre a pretensão de anulação ou desconstituição de alterações nele promovidas rege-se,
em circunstâncias como a verificada na hipótese, de acordo com a disposição do art. 178 do CC/16
(art. 178, II, CC/02 - decadência), que fixa prazo de quatro anos para seu exercício. 7- Recurso
especial não provido. (REsp 1543070/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 06/02/2018, DJe 20/02/2018)
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE
SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. PEDIDO
PARCIALMENTE PROCEDENTE, DETERMINANDO-SE A DISSOLUÇÃO PARCIAL.
JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO. 1. Decidida a lide nos limites em que foi proposta, não há falar em ocorrência de
julgamento extra petita quando a parte formula pedido abrangente e a decisão o acolhe apenas em
parte. 2. "O pedido feito de dissolução integral da sociedade não torna o julgamento extra petita por
ter o magistrado determinado a dissolução parcial, nos termos dos precedentes deste egrégio
Tribunal Superior" (EDcl no AREsp 58.926/MG, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe de 25/10/2012). Precedentes: REsp 796.719/RS, Terceira
267

Turma, julgado em 21/11/2006, DJ de 18/12/2006; REsp 507.490/RJ, Terceira Turma, julgado em


19/09/2006, DJ de 13/11/2006. 3. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp 1449065/SC, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 29/08/2017, DJe 21/09/2017)
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA.
SOCIEDADE LIMITADA. CESSÃO DE QUOTAS SOCIAIS. OBRIGAÇÕES ANTERIORES À
CESSÃO. LEGITIMIDADE ATIVA DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA. DECADÊNCIA. TERMO
INICIAL. REGISTRO DA ALTERAÇÃO CONTRATUAL. CEDENTE. RESPONSABILIDADE.
APÓS AVERBAÇÃO. PERÍODO. DOIS ANOS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA
DE DEMONSTRAÇÃO. SÚMULA Nº 13/STJ. 1. A controvérsia a ser dirimida no recurso especial
diz respeito às seguintes teses: i) ilegitimidade ativa da sociedade empresária para promover ação de
cobrança contra as ex-sócias, objetivando o ressarcimento de débitos fiscais anteriores à cessão de
quotas, ii) definição do termo inicial do prazo de 2 (dois) anos em que o cedente de quotas sociais
responde pelas obrigações que tinha como sócio e iii) ausência de responsabilidade das ex-sócias
cedentes em decorrência de suposto pagamento espontâneo da dívida pelos sócios cessionários. 2.
Configurada a legitimidade ativa da sociedade empresária que postula em nome próprio o
ressarcimento de obrigações que entende ser de responsabilidade das ex-sócias. 3. Nos termos dos
arts. 1.003 e 1.057 do Código Civil, os efeitos da cessão de quotas, em relação à sociedade e a
terceiros, somente se operam após a efetiva averbação da alteração do quadro societário perante a
Junta Comercial. Precedente. 4. O cedente de quotas sociais é responsável pelas obrigações que
tinha enquanto ostentava a qualidade de sócio até 2 (dois) anos após a averbação da respectiva
modificação societária. Inteligência dos arts. 1.003 e 1.032 do Código Civil. 5. Recurso especial
parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (REsp 1484164/DF, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/06/2017, DJe 13/06/2017)
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INVENTÁRIO. - LIQUIDAÇÃO
PARCIAL DE SOCIEDADE LIMITADA. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS PROPORCIONAIS
ÀS COTAS INVENTARIADAS - HERDEIROS SÓCIOS EM CONDOMÍNIO - CABIMENTO -
PRESCRIÇÃO DO DIREITO - NÃO OCORRÊNCIA. 01. Inviável o recurso especial na parte em
que a insurgência recursal não estiver calcada em violação a dispositivo de lei, ou em dissídio
jurisprudencial. 02. Avaliar o alcance da quitação dada pelos recorridos e o que se apurou a título de
patrimônio líquido da empresa, são matérias insuscetíveis de apreciação na via estreita do recurso
especial, ante o óbice da Súmula 7/STJ. 03. Inviável a análise de violação de dispositivos de lei não
prequestionados na origem, apesar da interposição de embargos de declaração. 04. A admissão de
prequestionamento ficto (art. 1.025 do CPC/15), em recurso especial, exige que no mesmo recurso
seja indicada violação ao art. 1.022 do CPC/15, para que se possibilite ao Órgão julgador verificar a
existência do vício inquinado ao acórdão, que uma vez constatado, poderá dar ensejo à supressão de
268

grau facultada pelo dispositivo de lei. 05. O pedido de abertura de inventário interrompe o curso do
prazo prescricional para todas as pendengas entre meeiro, herdeiros e/ou legatários que exijam a
definição de titularidade sobre parte do patrimônio inventariado. 06. Recurso especial não provido.
(REsp 1639314/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
04/04/2017, DJe 10/04/2017)
TRIBUTÁRIO. ISS. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO POR EMPRESA. MODIFICAÇÃO.
INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. SOCIEDADE LIMITADA. ESPÉCIE SOCIETÁRIA EM
QUE A RESPONSABILIDADE DO SÓCIO É LIMITADA AO CAPITAL SOCIAL.
PRECEDENTES. 1. O Tribunal de origem concluiu que a recorrente presta serviço em caráter
empresarial, não fazendo jus à benesse prevista no art. 9º, § 3º, do Decreto-Lei nº 406/68, ante a
análise das provas constantes nos autos e da interpretação do contrato social. Com efeito, a
modificação da referida conclusão demandaria reexame do acervo fático-probatório e do contrato
contido dos autos, inviável em sede de recurso especial, sob pena de violação das Súmulas 5 e 7 do
STJ. 2. A orientação da Primeira Seção do STJ firmou-se no sentido de que o tratamento
privilegiado previsto no art. 9º, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei 406/68 somente é aplicável às sociedades
uniprofissionais que tenham por objeto a prestação de serviço especializado, com responsabilidade
pessoal dos sócios e sem caráter empresarial. Por tais razões, o benefício não se estende à sociedade
limitada, sobretudo porque nessa espécie societária a responsabilidade do sócio é limitada ao capital
social. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp 616.471/RS, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/02/2015, DJe 09/02/2015)

SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES


CIVIL. ACORDO FIDUCIÁRIO. CLÁUSULA DISPONDO DE HERANÇA DE PESSOA
VIVA. INEFICÁCIA. ART. 1089, CC. INCIDÊNCIA. ART. 928, CC. INEXISTÊNCIA DE
CONTRARIEDADE. AGRAVO DESPROVIDO. A eficácia da cláusula de destinação dos
rendimentos produzidos pelos ativos líquidos da sociedade(comandita por ações), após a morte dos
fiduciantes, estava condicionada à sua inclusão no testamento dos mesmos, em face do disposto no
art. 1.089, CC, que impede seja objeto de contrato herança de pessoa viva. (AgRg no Ag
375.914/RJ, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado
em 18/12/2001, DJ 11/03/2002, p. 263)

SOCIEDADES ANÔNIMAS
Informativo nº 0633. Publicação: 11 de outubro de 2018. TERCEIRA TURMA. Processo.
REsp 1.635.637-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 18/09/2018, DJe
21/09/2018. Consórcio de empresas. Relação de consumo. Solidariedade. Art. 28, § 3º, do CDC.
269

Interpretação restritiva. Correlação com as obrigações resultantes do objeto do consórcio.


Necessidade. Há solidariedade entre as sociedades consorciadas em relação às obrigações derivadas
de relação de consumo desde que essas obrigações guardem correlação com a esfera de atividade do
consórcio. Informações do Inteiro Teor. O propósito recursal consiste em definir se as sociedades
integrantes de consórcio para a prestação de serviço de transporte coletivo urbano, assim como o
próprio consórcio, respondem solidariamente por acidente envolvendo ônibus de propriedade
exclusiva de uma das empresas consorciadas. Inicialmente, cumpre salientar que, como regra geral,
as sociedades consorciadas apenas se obrigam nas condições previstas no respectivo contrato,
respondendo cada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade, de acordo com o
disposto no art. 278, § 1º, da Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/1976). Essa regra, no
entanto, não é absoluta, havendo no ordenamento jurídico diversas normas que preveem a
solidariedade entre as sociedades consorciadas, notadamente quando está em jogo interesse que
prepondera sobre a autonomia patrimonial das integrantes do consórcio. Na hipótese de
responsabilidade derivada de relação de consumo, afasta-se a regra geral da ausência de
solidariedade entre as consorciadas por força da disposição contida no art. 28, § 3º, do CDC. Essa
exceção em matéria consumerista justifica-se pela necessidade de se atribuir máxima proteção ao
consumidor, mediante o alargamento da base patrimonial hábil a suportar a indenização. É
interessante anotar, nesse passo, que a solidariedade entre os integrantes do consórcio quanto a
obrigação decorrente de uma relação de consumo não significa a desconsideração da personalidade
jurídica das consorciadas, mas sim a atribuição de responsabilidade a terceiros em razão do vínculo
jurídico mantido com o fornecedor causador do dano. Outrossim, é certo que, por se tratar de
exceção à regra, a previsão de solidariedade contida no art. 28, § 3º, do CDC deve ser interpretada
restritivamente, de maneira a abarcar apenas as obrigações resultantes do objeto do consórcio, e não
quaisquer obrigações assumidas pelas consorciadas em suas atividades empresariais gerais.
Ademais, a exceção em comento não alcança o próprio consórcio, que apenas responderá
solidariamente com suas integrantes se houver previsão contratual nesse sentido.
Informativo nº 0627. Publicação: 29 de junho de 2018. TERCEIRA TURMA. Processo.
REsp 1.608.048-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 22/05/2018,
DJe 01/06/2018. Ação de exigir contas. Acionista. Pagamento de dividendos, juros sobre capital
próprio e outros rendimentos inerentes à titularidade de ações. Prazo prescricional trienal. A
pretensão do titular de ações de exigir contas da sociedade anônima referente ao pagamento de
dividendos, juros sobre capital próprio e demais rendimentos inerentes às respectivas ações
prescreve em três anos. Informações do Inteiro Teor. Inicialmente, consigna-se que em relação à
pretensão de prestar/exigir contas, como regra, não há um prazo específico para o seu exercício, o
que atrai, de modo geral, a aplicação do prazo residual de 10 (dez) anos, constante do art. 205 do
270

Código Civil. Note-se que o exercício da pretensão de exigir contas não depende, propriamente, da
existência de saldo a favor do demandante. Porém, caso existente, o exercício da pretensão
satisfativa do crédito verificado, observa, implicitamente, o mesmo prazo prescricional da pretensão
de exigir, afinal tais pretensões são exercidas no bojo da mesma ação. Observa-se, portanto, que as
pretensões de exigir contas e a de obter o ressarcimento, na eventualidade de se apurar a existência
de crédito a favor do demandante, embora não se confundam, são imbricadas entre si e
instrumentalizadas na mesma ação, a observar, por isso, necessariamente, o mesmo prazo
prescricional. No tocante à pretensão do titular de ações de haver dividendos de sociedade anônima,
a lei especial regente das sociedades anônimas, preceitua que prescreve em 3 (três) anos a ação para
haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos à disposição do acionista (art.
287, II, a, da Lei n. 6.404/1976). O dispositivo legal citado alude à pretensão de haver dividendos,
e, não textualmente, à pretensão de prestar as correlatas contas. Porém, não se pode deixar de
reconhecer que a pretensão do acionista de exigir contas da companhia não se exaure na sua simples
prestação, pois se destina, ainda, à apuração de saldo de dividendos e, caso existente, também à sua
satisfação. Assim, estabelecido por lei especial, regente da matéria posta, que a ação para haver
dividendos da companhia prescreve em 3 (três) anos, a veiculação de tal pretensão, no bojo de ação
de prestação de contas — mesmo que eventual —, deve observar o aludido prazo prescricional.
Informativo nº 0619. Publicação: 9 de março de 2018. TERCEIRA TURMA. REsp
1.642.118-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, por
maioria, julgado em 12/09/2017, DJe 20/02/2018. Ação regressiva. Condenação ao pagamento de
diferença de ações. Debêntures conversíveis em ação preferencial. Cisão parcial. Dívidas próprias
de natureza societária. Cabe ação de regresso para ressarcimento de condenação relativa a
obrigações tipicamente societárias suportada exclusivamente por empresa cindida contra empresa
resultante da cisão parcial, observando-se a proporção do patrimônio recebido. Informações do
Inteiro Teor. Trata-se de ação de regresso ajuizada por empresa cindida contra empresa resultante
de cisão parcial, a quem imputou a obrigação de arcar com parte de condenação, oriunda de
demanda judicial apreciada antes da divisão empresarial, em que sustenta a existência de
responsabilidade solidária entre as empresas, na medida em que a condenação decorreu da diferença
de quantidade de ações subscritas em razão do exercício de conversão de debêntures
correspondentes. De início, importante destacar que a cisão envolve duas classes de obrigações: a)
obrigações tipicamente societárias, decorrentes do vínculo societário que agrega os acionistas; e, b)
obrigações cíveis lato sensu, advindas da apuração do patrimônio líquido da sociedade cindida. No
tocante à primeira classe, nos termos do art. 229, § 1º, da Lei das Sociedades Anônimas (LSA),
verifica-se que haverá indiscutível sucessão de direitos e obrigações relacionados no protocolo de
cisão. Com efeito, da cisão decorrerá o aumento de capital da empresa destinatária, que absorverá a
271

parcela do patrimônio líquido cindido a título de integralização das ações subscritas em benefício
dos sócios da empresa cindida. Assim, há um completo entrelaçamento do quadro societário das
empresas em negociação. A atribuição de participação societária na empresa receptora aos sócios da
empresa cindida, na medida em que configura elemento essencial do instituto jurídico, não pode ser
afastada por mera disposição contratual, sob pena de absoluto desvirtuamento do instituto jurídico.
Não é por outra razão que a liberdade contratual para alteração da proporcionalidade entre as novas
ações subscritas no ato de incorporação do patrimônio cindido e as correspondentes ações da
empresa cindida, por expressa disposição legal, demanda a anuência de todos os sócios, inclusive
daqueles sem direito a voto, conforme dispõe o art. 229, § 5º, da LSA. Por sua vez, a segunda classe
de obrigações titularizadas pela sociedade trata da mera quantificação e especificação do objeto
transferido na cisão, elemento sem dúvida relevante inclusive para a verificação da
proporcionalidade de ações a serem subscritas em favor dos sócios. Quanto à parcela patrimonial, o
tratamento legal é tão distinto em relação às obrigações societárias a ponto de nem sequer se exigir
a participação (votação) dos sócios sem direito a voto. Isso porque a cisão será deliberada pela
Assembleia-Geral, ainda que reunida extraordinariamente e mediante quorum qualificado, na esteira
do que definem os arts. 121 e 136, IX, da Lei n. 6.404/1976, sem resguardar o direito de recesso ao
sócio dissidente. Com isso, conclui-se que o tratamento legal dispensado aos credores societários
não se confunde com a proteção legal atribuída aos credores cíveis da sociedade parcialmente
cindida. Enquanto para estes é imprescindível a verificação do protocolo de cisão e da relação
patrimonial envolvida, a fim de se extrair a extensão do patrimônio transferido, naquele impõe-se
tão somente a manutenção da proporção das ações ou a existência de deliberação social específica e
unânime em sentido diverso. No caso analisado, tem-se que a natureza da obrigação debatida é
inquestionavelmente de direito societário, porquanto se refere ao quantitativo de ações
correspondentes àquele debenturista a partir da opção por converter suas debêntures em proporção
inferior àquela posteriormente reconhecida na sentença – descompasso este que gerou reflexos na
proporção de ações percebidas na empresa sucessora, representando, assim, o liame obrigacional
entre as empresas sucessoras e cindida. Daí pela sucessiva extensão ou "transferência" do benefício
auferido aos demais sócios e sociedades envolvidos, em contraposição ao prejuízo suportado
individualmente pelo acionista em questão, é devido o reconhecimento de que as empresas
sucessoras devem suportar a indenização na exata proporção da participação do benefício,
igualmente auferido. Por via de consequência, é devida a ação de regresso para ressarcimento pela
empresa resultante da cisão, observando-se a proporção do patrimônio cindido recebido.
Informativo nº 0610. Publicação: 27 de setembro de 2017. QUARTA TURMA. REsp
1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 3/8/2017, DJe
1/9/2017. Sociedade Anônima. Alienação de ações. Direito aos dividendos. Proprietário ou
272

usufrutuário das ações. Marco temporal. Data do ato de declaração. Dano para o ex-proprietário.
Inexistência. Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante
o exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação de
suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício. Informações do Inteiro Teor. A
questão controvertida consiste em saber se, em havendo declaração de dividendos e/ou juros sobre
capital próprio por Companhia de exercício social, referente a período em que o ex-acionista
detinha ações, é possível reconhecer dano pela antecedente alienação desses valores mobiliários.
Como premissa inicial, vale destacar ser incontroverso que o ato de declaração do dividendo
referente ao exercício social reclamado (por ocasião de Assembleia Geral Ordinária) ocorreu após a
alienação das ações pela ex-sócia. Nessa esteira, convém assinalar que o exercício social é o
período de levantamento das contas e apuração do resultado da companhia. Por meio do
encerramento do exercício, verifica-se a situação patrimonial em uma determinada data. O art. 175,
caput, da Lei de S.A. estabelece que o exercício terá duração de 1 (um) ano e a data do término será
fixada no estatuto, sendo, pois, a anualidade estabelecida por regra cogente inderrogável. Ademais,
a Lei n. 6.404/1976 exige o levantamento de balanço para a distribuição de dividendos, vedando
que se leve a efeito a distribuição sem a prévia demonstração de lucros realizados e líquidos, que a
justifique. Não se olvida, consoante disposto no art. 109, I, da Lei de S.A., ser direito intangível do
sócio participar dos lucros sociais – que, aliás, constituem o interesse econômico imediato daquele
que adquire ação -, que não pode ser privado pelo estatuto social nem pela assembleia geral (órgão
máximo de deliberação da sociedade anônima, que pode tratar de quaisquer assuntos que digam
respeito ao objeto social da sociedade empresária). Vale destacar que a apuração do referido lucro
passa pela análise do art. 205, caput, da Lei de Sociedades Anônimas, segundo o qual "A
companhia pagará o dividendo de ações nominativas à pessoa que, na data do ato de declaração do
dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária da ação." Ademais, não obstante a
clareza do dispositivo legal, em uma interpretação sistemática do mencionado Diploma, fica nítido
que essa é a única possível, visto que a existência de lucro líquido, aferido do exercício em que se
tiver realizado, é pressuposto essencial à distribuição de dividendos, conforme o art. 202,
parágrafos, da Lei de S.A. Dessarte, em vista das disposições legais, tão somente o fato de deter
ações no período do exercício a que correspondem os dividendos, não resulta que exsurja
automático direito a eles, visto que assiste direito apenas àquele que, na data do ato de declaração
do dividendo, for proprietário ou usufrutuário da ação.
Informativo nº 0595. Publicação: 15 de fevereiro de 2017. TERCEIRA TURMA. REsp
1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, por unanimidade, julgado em 6/12/2016, DJe 15/12/2016.
Dissolução parcial de sociedade anônima. Possibilidade. Inexistência de lucros e não distribuição de
dividendos há vários anos. Princípio da preservação da empresa. É possível que sociedade anônima
273

de capital fechado, ainda que não formada por grupos familiares, seja dissolvida parcialmente
quando, a despeito de não atingir seu fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na
distribuição de dividendos aos acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos
negócios da companhia. Informações do Inteiro Teor. A questão controvertida em debate visa
definir se é possível a dissolução parcial de sociedade anônima de capital fechado por não atingir
seu fim (art. 206, II, b, da Lei nº 6.404/76), consubstanciado no auferimento de lucros e na
distribuição de dividendos aos acionistas. As sociedades são classificadas como de pessoas e de
capitais, a depender da relevância dos sócios para a sua formação. Daí resulta o caráter intuito
personae das sociedades limitadas, em que prevalece o relacionamento pessoal dos sócios e a
confiança entre eles, em contraposição ao caráter intuito pecunae das sociedades anônimas,
preponderando a contribuição pecuniária dos seus integrantes. A jurisprudência desta Corte é firme
no sentido de ser possível a dissolução parcial de sociedades que concentram na pessoa de seus
sócios um de seus elementos preponderantes, partindo-se do pressuposto de que as sociedades
anônimas de capital fechado são, em sua maioria, formadas por grupos familiares, constituídas
intuito personae. Nesses casos, o rompimento da affectio societatis representa verdadeiro
impedimento a que a companhia continue a realizar o seu fim social, motivo que levou a Segunda
Seção a adotar a orientação de que é possível a dissolução parcial da sociedade anônima de capital
fechado (EREsp 1.079.763/SP, Segunda Seção, DJe 6/9/2012; EREsp 111.294/PR, Segunda Seção,
DJe 10/9/2007). No entanto, os precedentes desbordam da hipótese em que a sociedade não é um
grupo familiar, tratando-se, pois, de sociedade de capital, com nítido intuito pecunae, composta por
investidores institucionais. A finalidade lucrativa é da essência da sociedade por ações, consoante se
extrai do art. 2º da Lei nº 6.404/76. Ausente o lucro, fica autorizada a dissolução da sociedade
anônima por decisão judicial quando provado que ela não consegue preencher o seu fim, em ação
ajuizada por acionistas que representem 5% ou mais do capital social, nos termos do art. 206, II, b,
da Lei nº 6.404/76. Anote-se a existência de julgado da Terceira Turma (REsp 247.002/RJ, DJe
25/03/2002) em que se entendeu que o fato da sociedade anônima ser de capital fechado e não ser
unida por vínculos de natureza pessoal impossibilita sua dissolução parcial tão somente por não
distribuir dividendos por razoável lapso temporal, mas que, todavia, não se assemelha à hipótese
sob análise, uma vez que no precedente foi comprovado por prova pericial a impossibilidade de
percepção de lucros a curto prazo. Na concepção de doutrina, a Lei nº 6.404/76 acolheu o princípio
da preservação da empresa em seus arts. 116 e 117, por adotar a prevalência da função social e
comunitária da companhia e por caracterizar como abuso de poder do controlador a liquidação de
companhia próspera. A dissolução parcial, além de resguardar o interesse público na manutenção
das empresas e geração de empregos, visa proteger o interesse dos demais acionistas, contrários à
sua dissolução. Com efeito, não seria plausível a extinção da sociedade por sócios que representam
274

pouco mais de 10% das ações da companhia, como é o caso dos autos. Por fim, crave-se que a
dissolução parcial constitui solução menos gravosa, assegurando aos acionistas que entendem ser
possível uma reviravolta na sorte da companhia a continuação de suas atividades.
Informativo nº 0571. Período: 15 a 27 de outubro de 2015. SEGUNDA SEÇÃO. DIREITO
CIVL. INAPLICABILIDADE DO CDC ÀS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA
PRIVADA. O Código de Defesa do Consumidor não é aplicável à relação jurídica entre
participantes ou assistidos de plano de benefício e entidade de previdência complementar fechada,
mesmo em situações que não sejam regulamentadas pela legislação especial. É conveniente
assinalar, para logo, que não se cogita aqui em afastamento das normas especiais inerentes à relação
contratual de previdência privada para aplicação do Diploma Consumerista, visto que só terá
cabimento pensar na sua aplicação a situações que não tenham regramento específico na legislação
especial previdenciária de regência. Dessarte, como regra basilar de hermenêutica, no confronto
entre as regras específicas e as demais do ordenamento jurídico, deve prevalecer a regra
excepcional. Nesse passo, há doutrina afirmando que, como o CDC não regula contratos
específicos, em casos de incompatibilidade há clara prevalência da lei especial nova pelos critérios
de especialidade e cronologia. Desse modo, evidentemente, não caberá, independentemente da
natureza da entidade previdenciária, a aplicação do CDC de forma alheia às normas específicas
inerentes à relação contratual de previdência privada complementar. Esse entendimento foi
recentemente pacificado no STJ, em vista da afetação à Segunda Seção do STJ do AgRg no AREsp
504.022-SC (DJe 30/09/2014), tendo constado da ementa que "[...] é descabida a aplicação do
Código de Defesa do Consumidor alheia às normas específicas inerentes à relação contratual de
previdência privada complementar e à modalidade contratual da transação, negócio jurídico
disciplinado pelo Código Civil, inclusive no tocante à disciplina peculiar para o seu desfazimento".
Por oportuno, o conceito de consumidor (art. 2º do CDC) foi construído sob ótica objetiva,
porquanto voltada para o ato de retirar o produto ou serviço do mercado, na condição de seu
destinatário final. Por sua vez, fornecedor (art. 3º, § 2º, do CDC) é toda pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de prestação de serviços, compreendido como "atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração" - inclusive as de natureza financeira e securitária -,
salvo as de caráter trabalhista. Nessa linha, afastando-se do critério pessoal de definição de
consumidor, o legislador possibilita, até mesmo às pessoas jurídicas, a assunção dessa qualidade,
desde que adquiram ou utilizem o produto ou serviço como destinatário final. Dessarte, consoante
doutrina abalizada sobre o tema, o destinatário final é aquele que retira o produto da cadeia
produtiva (destinatário fático), mas não para revendê-lo ou utilizá-lo como insumo na sua atividade
profissional (destinatário econômico). No ponto em exame, parece evidente que há diferenças
275

sensíveis e marcantes entre as entidades de previdência privada aberta e fechada. Embora ambas
exerçam atividade econômica, apenas as abertas operam em regime de mercado, podem auferir
lucro das contribuições vertidas pelos participantes (proveito econômico), não havendo também
nenhuma imposição legal de participação de participantes e assistidos, seja no tocante à gestão dos
planos de benefícios, seja ainda da própria entidade. Nesse passo, assinala-se que, conforme
disposto no art. 36 da LC 109/2001, as entidades abertas de previdência complementar são
constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas. Elas, salvo as instituídas antes da
mencionada lei, têm necessariamente, finalidade lucrativa e são formadas por instituições
financeiras e seguradoras, autorizadas e fiscalizadas pela Superintendência de Seguros Privados
(Susep), vinculada ao Ministério da Fazenda, tendo por órgão regulador o Conselho Nacional de
Seguros Privados (CNSP). Assim, parece nítido que as relações contratuais entre as entidades
abertas de previdência complementar e participantes e assistidos de seus planos de benefícios -
claramente vulneráveis - são relações de mercado, com existência de legítimo auferimento de
proveito econômico por parte da administradora do plano de benefícios, caracterizando-se genuína
relação de consumo. Contudo, no tocante às entidades fechadas, as quais, por força de lei, são
organizadas "sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos", a questão é
tormentosa, pois há um claro mutualismo entre a coletividade integrante dos planos de benefícios
administrados por essas entidades. Nesse diapasão, o art. 34, I, da LC 109/2001 deixa límpido que
as entidades fechadas de previdência privada "apenas" administram os planos (inclusive, pois, o
fundo formado, que não lhes pertence), havendo, conforme dispõe o art. 35, gestão compartilhada
entre representantes dos participantes e assistidos e dos patrocinadores nos conselhos deliberativo
(órgão máximo da estrutura organizacional) e fiscal (órgão de controle interno). No tocante ao
plano de benefícios patrocinado por entidade da administração pública, conforme dispõem os arts.
11 e 15 da LC 108/2001, há gestão paritária entre representantes dos participantes e assistidos -
eleitos por seus pares - e dos patrocinadores nos conselhos deliberativos. Ademais, é bem verdade
que os valores alocados ao fundo comum obtido, na verdade, pertencem aos participantes e
beneficiários do plano, existindo explícito mecanismo de solidariedade, de modo que todo
excedente do fundo de pensão é aproveitado em favor de seus próprios integrantes. Diante de tudo
que foi assinalado, observa-se que as regras do Código Consumerista, mesmo em situações que não
sejam regulamentadas pela legislação especial, não se aplicam às relações envolvendo participantes
e/ou assistidos de planos de benefícios e entidades de previdência complementar fechadas. Assim, a
interpretação sobre a Súmula 321 do STJ - que continua válida - deve ser restrita aos casos que
envolvem entidades abertas de previdência. REsp 1.536.786-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 26/8/2015, DJe 20/10/2015.
276

Informativo nº 0544. Período: 27 de agosto de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO


EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE
CRÉDITO PERTENCENTE À SOCIEDADE ANÔNIMA PARA GARANTIR OBRIGAÇÃO DE
SÓCIO. Não cabe bloqueio judicial de parte de crédito cobrado em execução judicial movida por
sociedade anônima contra terceiro, na hipótese em que a decisão judicial que o determina é
proferida em sede de ação cautelar movida por ex-cônjuge em face do outro ex-consorte, a fim de
garantir àquele direito a ações da referida sociedade anônima, quando a participação acionária já se
encontra assegurada por sentença com trânsito em julgado proferida em ação de sobrepartilha de
bens sonegados. De fato, o reconhecimento posterior do direito à meação de cônjuge em relação às
ações sonegadas traz como consequência natural apenas a possibilidade de assunção da condição de
acionista da companhia, posição essa que não garante a ele, por si só, direito sobre créditos da
pessoa jurídica em face de terceiros. Isso porque nenhum acionista tem direito de apossamento
sobre créditos pertencentes à pessoa jurídica, a serem recebidos em ação ajuizada por esta em face
de terceiros. Ressalte-se que, nos termos do que dispõe o art. 109, I, da Lei 6.404/1976 (Lei das
Sociedades Anônimas), o que se garante ao acionista é a participação nos lucros sociais da
companhia, participação essa que ocorre com o recebimento de dividendos, quando, na forma e no
percentual estabelecidos pelo estatuto da sociedade. Aponte-se, ainda, que o direito à percepção
dividendos é antecedido por procedimento de relativa complexidade, o que, em princípio, impede
que tal direito (o recebimento de dividendos) seja decantado de forma singela de um crédito a ser
recebido pela sociedade em ação própria ajuizada contra terceiros. Por outra ótica, mesmo que se
buscasse os dividendos recebidos pelo outro ex-consorte relativamente às ações sonegadas, com
mais razão o conflito não diria respeito à pessoa jurídica, que efetivamente pagara dividendos a
quem figurava como acionista da companhia e não deu causa a possíveis ilegalidades - devendo
eventuais prejuízos serem recompostos perante quem, eventualmente, recebeu de forma indevida os
dividendos. De resto, a própria Lei das Sociedades Anônimas traz as formas de constituição de
garantias incidentes sobre ações da companhia, o que, em princípio, seria suficiente ao
acautelamento da eficácia da decisão proferida na sobrepartilha, que é a averbação do gravame nos
livros próprios - livro "Registro de Ações Nominativas" ou nos livros da instituição financeira -,
como prevê o art. 40, hipótese em que o direito de preferência sobre as ações seria oponível contra
terceiros. Por outra linha de fundamentação, reconhecer a condição de acionista de ex-cônjuge, com
direito a parcela das ações da companhia, e posteriormente determinar que o patrimônio da própria
pessoa jurídica suporte o pagamento dos valores equivalentes ao que teria direito o acionista,
implica reconhecer um direito de recesso ou retirada não previsto em lei, mediante uma espécie de
dissolução parcial da sociedade, no tocante às ações sonegadas, o que contraria a própria essência
das sociedades anônimas. Com efeito, a decisão que determinou à sociedade anônima o pagamento,
277

com patrimônio próprio, dos valores a que faria jus o acionista em razão de ações de que é titular,
procedeu, a toda evidência, a uma autorização de retirada ou recesso sem previsão legal, e isso tudo
sem observância dos procedimentos mínimos de apuração em balanço especial e no bojo de ação na
qual a pessoa jurídica não figurou como parte, circunstância que denuncia a extrapolação dos
limites subjetivos da coisa julgada. REsp 1.179.342-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 27/5/2014.
Informativo nº 0500. Período: 18 a 29 de junho de 2012. TERCEIRA TURMA.
SOCIEDADE ANÔNIMA. RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES. CONTAS
APROVADAS PELA AGO. A aprovação das contas sem reservas pela assembleia geral ordinária
(AGO), salvo se anulada, exonera os administradores e diretores de quaisquer responsabilidades
(art. 134, § 3º, da Lei n. 6.404/1976 - Lei das Sociedades Anônimas). Na espécie, a empresa
recorrente ajuizou ação indenizatória para obter do recorrido (diretor financeiro da empresa)
reparação correspondente ao valor das operações (derivativos) que realizou sem consentimento e
que geraram prejuízos em razão da disparidade cambial. Todavia, a regra do art. 134, § 3º, da lei
supradita é especial em relação ao art. 159 do referido diploma legal, de modo que, no caso de
aprovação de contas, não bastaria a prévia deliberação da assembleia geral para a propositura da
ação de responsabilidade civil, como ocorreu na hipótese, mas, mister, antes de tal propositura ou
concomitantemente a ela, o ajuizamento da ação de anulação da assembleia que aprovou as contas
da sociedade (art. 286 da mencionada lei). Salientou-se ainda que, somente após o trânsito em
julgado da sentença que acolher a anulatória (pela ocorrência de erro, dolo, fraude ou simulação),
será possível ajuizar a ação de responsabilidade pertinente. In casu, não é cabível ação de
responsabilidade civil contra quem dela, por força de lei e do ato jurídico perfeito, foi exonerado.
Precedentes citados: AgRg no Ag 640.050-RS, DJe 1º/6/2009; AgRg no Ag 950.104-DF, DJe
30/3/2009, e REsp 257.573-DF, DJ 25/6/2001. REsp 1.313.725-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 26/6/2012.
Informativo nº 0495. Período: 9 a 20 de abril de 2012. TERCEIRA TURMA. CISÃO
PARCIAL DA EMPRESA. CITAÇÃO DA SUCESSORA. A Turma, em preliminar, aplicou os
princípios da economia processual, da instrumentalidade das formas e aquele de que não há
nulidade sem prejuízo, para confirmar decisão monocrática que julgou liminarmente o mérito do
agravo de instrumento, com base no art. 527 do CPC, antes de intimada a parte contrária. Para o
douto colegiado, não houve prejuízo para o direito de defesa da parte, haja vista ter impugnado a
decisão unipessoal mediante agravo interno, devolvendo a apreciação da matéria ao tribunal a quo,
com posterior manejo dos recursos processualmente admissíveis, até trazer a controvérsia à
apreciação do STJ. No mérito, a Turma decidiu que a empresa cindenda pode ser citada para
substituir a empresa parcialmente cindida na relação processual em que a vítima de acidente
278

automobilístico pleiteia indenização por danos morais, apesar da estabilização da demanda. Para a
Min. Relatora, se há sucessão das empresas, consoante dispõe a legislação societária, a sucessora
não pode ser considerada, no processo, como um terceiro a quem não se estende a sentença judicial,
desde que o juiz considere, analisando a situação concreta, que as obrigações em litígio estão
abrangidas pelo regime de sucessão disposto na lei das sociedades anônimas. A análise da
responsabilidade da sucessora pelos atos praticados pela companhia cindida é matéria que se
confunde com o mérito da ação, momento em que o protocolo da operação será analisado, os bens
sucedidos serão individualizados e a responsabilidade pelo acidente, definida. REsp 1.294.960-RJ,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/4/2012.
Informativo nº 0478. Período: 20 a 24 de junho de 2011. QUARTA TURMA. S/A.
AUMENTO. CAPITAL. PARTICIPAÇÃO ACIONÁRIA. DIMINUIÇÃO. Trata-se de REsp em
que o recorrente pretende anular as deliberações para aumento de capital da companhia da qual é
sócio minoritário, uma vez que, segundo alega, os atos causaram diluição injustificada de sua
participação acionária na sociedade recorrida, o que não seria permitido em face do § 1º do art. 170
da Lei n. 6.404/1976 (Lei das Sociedades Anônimas - S/A). A Turma negou provimento ao recurso
pelos fundamentos, entre outros, de que a não observância da norma insculpida no referido
dispositivo legal na fixação do preço de emissão da ação ou a escolha de critério diferente, na
hipótese de aumento de capital, não tornam o ato deliberativo nulo, mesmo porque esse dispositivo
não prevê tal consequência. A suposta má escolha do critério de fixação do preço de emissão das
ações, se comprovada, poderá ensejar hipótese de responsabilidade civil dos controladores, que se
resolve em perdas e danos, e não em declaração de nulidade de assembleia (art. 117 da mesma lei).
Ademais, tal como salientou o acórdão recorrido, a pretensão autoral choca-se com o princípio da
preservação da empresa, pois a anulação da deliberação da assembleia inviabilizaria o próprio
funcionamento da companhia, além de causar imensuráveis transtornos aos demais acionistas e a
terceiros. REsp 1.190.755-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/6/2011.
Informativo nº 0460. Período: 13 a 17 de dezembro de 2010. QUARTA TURMA. VALOR.
CAUSA. PROVEITO ECONÔMICO. O recorrente é acionista minoritário de empresa de
telecomunicações e, em ação, alega ter sofrido prejuízo com a venda de grande parte das ações da
companhia determinada pelo conselho de administração, o que teria causado prejuízo de R$ 1
bilhão. Discute, no especial, o valor da causa em razão da caução exigida pelo art. 246, § 1º, b, da
Lei das Sociedades Anônimas. Quanto a isso, é certo que o valor da causa deve ser fixado de acordo
com o conteúdo econômico a ser obtido com a ação (arts. 258 e 259 do CPC). Porém, diante da
impossibilidade de mensuração dessa expressão econômica, acolhe-se a estimativa do autor de
quantia provisória, passível de posterior adequação ao que, no final, for apurado na sentença ou fase
de liquidação. Diante disso, é razoável acolher a fixação do valor da causa em razão do proveito
279

econômico indireto que advirá à recorrente em caso de procedência da demanda, o que, no caso,
equivale a R$ 65 mil (0,000065% - porcentagem referente às suas ações - da diferença entre o valor
da alienação do controle da companhia e seu real valor líquido). Ressalte-se que, devido ao respeito
à equidade, em nenhum caso (ou para pagar ou para receber) poderão ser arbitrados honorários de
sucumbência com lastro no ganho total de todos os acionistas. Precedentes citados: Ag 1.136.981-
SP, DJe 14/8/2009; AgRg no REsp 969.724-MA, DJe 26/8/2009; REsp 721.822-RS, DJ 6/6/2005;
AgRg no Ag 869.808-SP, DJ 26/10/2007; REsp 926.535-SP, DJ 14/6/2007; REsp 363.445-RJ, DJ
1º/4/2002; REsp 886.676-SP, DJ 27/11/2007; AgRg no REsp 968.021-PR, DJe 29/6/2009; REsp
162.194-SP, DJ 20/3/2000, e REsp 798.264-SP, DJ 16/4/2007. REsp 1.220.272-RJ, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 14/12/2010.
Informativo nº 0416. Período: 16 a 20 de novembro de 2009. QUARTA TURMA. S.A.
RENDA MENSAL VITALÍCIA. ASSEMBLEIA GERAL. Cuida-se de ação de cobrança de renda
mensal vitalícia (RMV), instituída em favor de ex-diretores e ex-conselheiros, em razão de
excepcional dedicação profissional, ajuizada contra sociedade anônima. Sustenta a recorrente que a
RMV constitui complemento de aposentadoria devido a quem foi empregado da ré, exercendo cargo
de diretor ou conselheiro e está aposentado, recebendo benefício das previdências oficial e privada.
Sustenta que a cessação do pagamento do benefício, feito por mais de cinco anos, depende da
desconstituição do instrumento particular de assunção de obrigações firmado pelas partes, ato
jurídico perfeito, gerador de direito adquirido. Porém, a Turma não conheceu do recurso por
entender que, para concluir que a RMV é benefício diverso da remuneração, seria necessário
revolver material fático-probatório, vedado nos termos da Súm. n. 7-STJ. Assim, tomada a RMV
como remuneração, não há como afastar a incidência da regra do art. 152 da Lei das Sociedades
Anônimas, no sentido de que sua fixação depende de ato da assembleia geral. Assinalou o Min.
Relator que o referido artigo foi modificado pela Lei n. 9.457/1997, tendo sua nova redação
ampliado a competência da assembleia, que passou a ser responsável pela fixação de benefícios de
qualquer natureza. Conquanto a alteração tenha-se dado em momento posterior ao da instituição da
vantagem ora questionada, sinaliza o sentido amplo dado pela lei ao termo remuneração. Por fim,
conforme iterativa jurisprudência deste Superior Tribunal, a matéria contida no art. 6º da LICC,
relativa à preservação do ato jurídico perfeito, tem índole nitidamente constitucional, razão pela
qual sua apreciação desborda dos lindes do recurso especial. Precedentes citados: REsp 704.975-SP,
DJe 8/9/2008; AgRg nos EDcl no Ag 823.553-RJ, DJ 12/11/2007; AgRg no Ag 489.676-RS, DJ
13/3/2006, e REsp 512.054-RS, DJ 11/5/2007. REsp 976.587-SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves,
julgado em 17/11/2009.
Informativo nº 0385. Período: 2 a 6 de março de 2009. QUARTA TURMA. PRESCRIÇÃO
BIENAL. LEI. SOCIEDADES ANÔNIMAS. Trata-se de litígio entre irmãos, reclamando as
280

autoras da alteração contratual realizada em sociedade comercial no ano de 1992. O aumento do


capital mediante a incorporação de conta de correção monetária e ingresso em moeda corrente não
teria observado a correta participação proporcional de cada sócio, lesando, mais tarde, o espólio do
qual as recorridas são herdeiras. Quanto à prescrição, os recorrentes alegam ser de dois anos, pela
aplicação do art. 286 da Lei de Sociedade Anônimas, de incidência subsidiária às sociedades
limitadas, por força do princípio que defendem, da incidência subsidiária da legislação comercial. O
Min. Relator entende que, na espécie, na falta de preceito específico sobre prescrição na Lei das
Sociedades Limitadas, nem se cogitando que isso pudesse ser tratado no contrato social, há que se
observar, supletivamente, a Lei das Sociedades Anônimas ante a interpretação harmônica e
conjugada do art. 291 da Lei n. 556/1850 e do art. 18 do Dec. n. 3.708/1919. Importa o princípio
instituído na legislação sobre qual a fonte supletiva, e ela é de natureza comercial, não civil. Para o
Min. Relator, a matéria enquadra-se perfeitamente na previsão da Lei das Sociedades Anônimas
(art. 286). E se, no caso não houve erro ou simulação, mas dolo ou fraude, igualmente estão na
referida lei a mesma previsão e prazo prescricional bienal. A natureza da sociedade é comercial, a
alteração questionada diz respeito a mecanismos próprios de contabilidade empresarial societária e,
mais importante, o que está em disputa não é uma mera contenda patrimonial entre os sócios, mas a
recomposição da participação societária, que pode ter reflexos na gestão da empresa, registrando-se
que o sócio falecido possuía, originariamente, 75% das cotas, e são justamente essas que
constituiriam o objeto da sucessão. Diante disso, a Turma conheceu em parte do recurso e, nessa
parte, deu-lhe provimento para reconhecer a prescrição bienal, julgando extinta a ação nos moldes
do art. 269, IV, do CPC. O Min. João Otávio de Noronha ressaltou que hoje a questão encontra-se
disciplinada no CC/2002. Precedente citado: REsp 48.027-SP, DJ 27/5/1996. REsp 687.351-MG,
Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 5/3/2009.
Informativo nº 0341. Período: 3 a 7 de dezembro de 2007. TERCEIRA TURMA.
PRESCRIÇÃO. ANULAÇÃO. ALTERAÇÃO CONTRATUAL. SOCIEDADE LIMITADA. O
art. 286 da Lei das Sociedades Anônimas, que fixa o prazo de dois anos para a anulação das
deliberações tomadas pela assembléia geral ou especial, não tem aplicação no trato de ação
anulatória de alteração do contrato social da sociedade limitada ajuizada pela inobservância de
preferência na aquisição de quotas. Isso porque essa ação tem natureza pessoal, sujeita ao prazo
prescricional de vinte anos, na forma do art. 177 do CC/1916 vigente à época. Note-se também não
ter incidência o art. 442 do Código Comercial, pois se cuida de anulação de ato meramente civil (a
alteração do contrato social), e não de ato de comércio. REsp 848.058-PR, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, julgado em 4/12/2007.
Informativo nº 0322. Período: 4 a 8 de junho de 2007. QUARTA TURMA. DISSOLUÇÃO
PARCIAL. HAVERES. AÇÕES. A sociedade cuja parcial dissolução se pretende é uma holding
281

que detém o controle acionário de duas sociedades anônimas. A sócia retirante pretende receber
seus haveres sociais pela entrega de ações de uma das sociedades anônimas, isso em desacordo com
o estatuto social, que prevê o pagamento parcelado em dinheiro. Diante disso, verifica-se que o
comando inserto no art. 668 do CPC de 1939, vigorado no art. 1.218, VII, do atual CPC, prevê a
alternância de três comandos distintos para a apuração dos haveres, aplicado um na falta do outro, e
o primeiro deles é justamente o previsto em contrato social. No caso, o estatuto prevê o referido
pagamento em trinta e seis parcelas mensais e sucessivas, atualizadas monetariamente. Assim, não
há como tachar de absurdo ou lesivo o critério adotado no estatuto a justificar uma excepcional
interferência do Judiciário, pois o pagamento parcelado vem atenuar, justamente, o impacto causado
pela descapitalização da sociedade a sofrer dissolução e, se corrigido monetariamente, não tem o
condão de causar o enriquecimento injustificado do sócio remanescente. Tal entendimento é
também corroborado pela jurisprudência do STJ. Anote-se que, em dissolução parcial, não se
fracionam os bens da sociedade a determinar, no caso, a entrega material das pretendidas ações,
pois o resultado prático disso seria a extensão da dissolução parcial também às outras sociedades.
Precedentes citados: REsp 87.731-SP, DJ 13/10/1997; REsp 83.031-RS, DJ 13/12/1999, e REsp
450.129-MG, DJ 16/12/2002. REsp 302.366-SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em
5/6/2007.
Informativo nº 0315. Período: 26 a 30 de março de 2007. QUARTA TURMA.
DISSOLUÇÃO. SOCIEDADE. PRINCÍPIO DE SAISINE. Com o falecimento, a propriedade e
posse dos bens do de cujus é transmitida imediatamente aos seus herdeiros legítimos. Assim, na
espécie, sem a partilha dos bens, todos os herdeiros, em condomínio, são detentores das ações
deixadas pelo acionista falecido e possuem eles legitimidade para postular a dissolução da
sociedade familiar, pois alegam que esta não cumpre o seu fim social. Não é necessário que as
ações tenham sido escrituradas individualmente a cada um dos herdeiros para que atendam ao
percentual de 5% estipulado no art. 206, b, da Lei n. 6.404/1976 (Lei das Sociedades Anônimas).
Pelo princípio de saisine, eles são possuidores e proprietários do montante de ações deixadas pelo
de cujus, que, no caso, representa mais de 5% do capital social da empresa. Concluindo, a Turma
conheceu em parte do recurso e, nesta parte, deu-lhe provimento para afastar a carência da ação e
determinar o retorno dos autos à vara de origem para prosseguir no exame da causa como entender
de direito. REsp 650.821-AM, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 27/3/2007.
Informativo nº 0301. Período: 16 a 20 de outubro de 2006. SEGUNDA TURMA.
EXECUÇÃO FISCAL. REMIÇÃO. BENS. FILHO. SÓCIO. A Jurisprudência deste Superior
Tribunal, ao se fundamentar no princípio da execução menos gravosa (art. 620 do CPC), sem se
descuidar da aferição do caráter familiar da sociedade executada, admite a legitimação do filho do
sócio na remição de bens, apesar de inexistir expressa previsão legal (vide arts. 787 e 789 do CPC).
282

Na hipótese, cuidou-se de sociedade anônima, a qual o Tribunal a quo não vislumbrou natureza
eminentemente familiar, o que, nesta sede, impõe a observância das Súmulas ns. 5 e 7 do STJ.
Apesar disso, é possível existir sociedades anônimas familiares (fechadas e constituídas em razão da
qualidade de seus sócios), tal qual prevê a doutrina. Precedentes citados: REsp 596.858-SP, DJ
7/6/2004; REsp 268.640-SP, DJ 11/12/2000; REsp 60.028-SP, DJ 31/3/1997, e REsp 6.132-PR, DJ
25/3/1991. REsp 857.638-RS, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 17/10/2006.
Informativo nº 0289. Período: 19 a 23 de junho de 2006. TERCEIRA TURMA. S.A. AÇÃO.
DISSOLUÇÃO. DESISTÊNCIA. HOMOLOGAÇÃO. A Turma, por maioria, decidiu que,
proposta a ação de dissolução da sociedade anônima e tendo um dos acionistas desistido no curso
do processo, descabe a extinção do processo sem julgamento do mérito em relação aos sócios
minoritários, reunidos no percentual necessário, uma vez que, pelo art. 206 da Lei das Sociedades
Anônimas, o juiz pode determinar a continuação do feito até o julgamento do pedido de dissolução,
seja parcial ou total. REsp 408.122-PR, Rel. originário Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. para
acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2006.
Informativo nº 0287. Período: 29 de maio a 9 de junho de 2006. TERCEIRA TURMA.
PRESCRIÇÃO. COMPLEMENTAÇÃO. AÇÃO. EMPRESA TELEFÔNICA. SOCIEDADE
ANÔNIMA. Trata-se de ação de conhecimento com pedido condenatório proposta pela ora
recorrente contra companhia telefônica em que alega que não foi cumprido integralmente o contrato
de participação financeira, pelo qual houve subscrições equivalentes a 165.292 ações da companhia,
mas teria recebido apenas 1.687 ações e, conseqüentemente, teria recebido menos dividendos. O
Tribunal a quo entendeu aplicável à espécie o art. 287, II, g, da Lei das Sociedades Anônimas (Lei
n. 6.404/1976, com a redação dada pela Lei n. 10.303/2001) e extinguiu o processo sem julgamento
do mérito, por entender que o prazo de três anos previsto na referida lei já havia transcorrido. A
Turma conheceu e deu provimento ao recurso, por entender que as normas de prescrição devem ser
aplicadas restritivamente, não cabendo interpretação extensiva nem analógica. Assim, no
mencionado artigo, ao se dizer "ação movida pelo acionista" deve ser entendido que aquelas outras
pessoas que mantêm algum tipo de relação jurídica com a companhia mas não são seus acionistas
devem ser disciplinadas de forma própria. Assim, no caso, a recorrente afirmou, como causa de
pedir, o não-cumprimento integral do contrato de participação financeira, pretendendo receber a
complementação das ações ou seu equivalente em dinheiro. Logo, a causa de pedir é o
inadimplemento contratual e não o direito de acionista violado. Dessa modo, a prescrição rege-se
pelos prazos previstos no art. 177 do CC/1916 (20 anos) ou no art. 205 do CC/2002 (10 anos). Por
conseqüência, a Turma reformou o acórdão recorrido, anulou a sentença e determinou a remessa
dos autos à vara de origem, para que prossiga o processo, observado o devido processo legal. REsp
829.835-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/6/2006.
283

Informativo nº 0228. Período: 8 a 12 de novembro de 2004. SEGUNDA SEÇÃO.


CONTRATO. PARTICIPAÇÃO. TELEFONIA. AÇÕES. Trata-se de remessa da Quarta Turma
em que a questão decidida em agravo de instrumento seguiu a jurisprudência a qual, em contrato de
participação financeira firmado entre empresa de Telecomunicações e o adquirente de linha
telefônica, o valor da ação deve ser aquele vigente ao tempo da integralização do capital, dessa
decisão, agravou regimentalmente a empresa. A Seção negou provimento ao agravo, considerando
prequestionado o art. 170 da Lei n. 6.404/1976 (Lei das Sociedades Anônimas), por ter o aresto
recorrido adentrado no mérito relativo à subscrição complementar de ações. Quanto à correção
monetária do valor patrimonial da ação, pelo qual pugnou o ora recorrente, considerou-a uma
inovação, uma vez que a matéria não foi apreciada nas instâncias ordinárias. Ressaltou o Min.
Relator que a atualização monetária do investimento nada tem a ver com a fixação do valor
patrimonial da ação, pois apurado com base em critérios totalmente distintos e sem qualquer relação
com a variação do poder aquisitivo da moeda. AgRg no Ag 585.704-RS, Rel. Min. Barros
Monteiro, julgado em 10/11/2004.
Informativo nº 0203. Período: 22 a 26 de março de 2004. SEGUNDA TURMA.
BALANCETE. PATRIMÔNIO LÍQUIDO. PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. A questão se
limita a saber se o balancete assinado por contador e acompanhado de "certidão simplificada" da
junta comercial, dando conta do valor do patrimônio líquido, supre a exigência do edital e se a
empresa, sendo sociedade por cota de responsabilidade limitada, estaria sujeita ao comando do art.
178 da Lei das Sociedades Anônimas e, conseqüentemente, se estaria habilitada ao procedimento
licitatório. O edital exige que a licitante comprove o patrimônio líquido não inferior a R$
550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil reais), quando tiver um resultado igual ou inferior aos
índices de Liquidez Geral, Solvência Geral e Liquidez Corrente. Inexistindo norma específica sobre
comprovação de patrimônio líquido de sociedade por cotas, deve-se aplicar a Lei das Sociedades
Anônimas, como estabelece o art. 18 do Decreto n. 3.708/1999. Se o edital exigiu comprovante do
patrimônio líquido, e esse é demonstrado nos termos dos arts. 178 e 182 da Lei n. 6.404/1976, não
há como se desatrelar a exigência. REsp 575.159-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em
23/3/2004.
Informativo nº 0170. Período: 14 de abril a 2 de maio de 2003. QUARTA TURMA.
PRESCRIÇÃO. INCORPORAÇÃO. SOCIEDADE.
Os recorridos eram depositantes de sociedade civil integrante do Sistema Financeiro de
Habitação – SFH, porém os recorrentes, seus diretores, resolveram transformá-la em sociedade por
ações. Sucede que, ao final da incorporação, tornaram os recorridos acionistas de 10 % de outra
empresa criada, que por sua vez é acionista da S/A. Diante do evidente prejuízo e do meio
fraudulento utilizado, os recorridos ajuizaram ação pretendendo, entre outros, a anulação de todo o
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processo de incorporação, além de indenização por perdas e danos. Isso posto, a Turma,
prosseguindo o julgamento e pelo voto de desempate, entendeu que o prazo prescricional incidente
na ação intentada deve ser o trienal previsto no art. 287, II, b, da Lei n. 6.404/1976 (Lei das
Sociedades Anônimas) e não o vintenário do art. 177 do CC/1916. Os recorridos são mais do que
terceiros interessados na relação, isso em face do estreito vínculo com as sociedades criadas, mesmo
que distantes de suas administrações. Precedentes citados: REsp 16.410-SP, DJ 16/5/1994; REsp
31.620-SP, DJ 17/10/1994, e REsp 178.008-SP, DJ 19/10/1998. REsp 94.453-RJ, Rel. Min. Barros
Monteiro, julgado em 15/4/2003.
Informativo nº 0113. Período: 15 a 19 de outubro de 2001. TERCEIRA TURMA.
FORNECIMENTO DE CERTIDÕES. DADOS. ACIONISTAS. SOCIEDADES ANÔNIMAS. A
qualquer pessoa é franqueado o direito à obtenção de certidões junto às companhias, relativas aos
livros de registro e transferência de ações nominativas. Os pedidos efetuados antes da modificação
operada pela Lei n. 9.457/97 prescindem da necessidade de declínio da causa do pedido. A
necessidade de justificativa no sentido de que a certidão se destina a esclarecimento de situações de
interesse pessoal, dos acionistas ou do mercado de valores mobiliários só se impôs com a entrada
em vigor dessa lei. As companhias, em nenhuma hipótese, podem dificultar o acesso do interessado
às certidões. Nenhum condicionamento pode ser imposto à sua obtenção, bem como o preço
cobrado pelo serviço há de ser módico, sob pena de inviabilizar o exercício do direito. A Turma,
prosseguindo o julgamento, não conheceu do recurso. REsp 238.618-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 15/10/2001.
Informativo nº 0095. Período: 7 a 11 de maio de 2001. TERCEIRA TURMA.
SOCIEDADES ANÔNIMAS. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS. PRESCRIÇÃO. A
aprovação das demonstrações financeiras e das contas pela assembléia geral de uma sociedade
anônima pode ser, simplesmente, o termo inicial do prazo de prescrição da ação de responsabilidade
civil contra os respectivos administradores e pode, também, significar, para estes, a extinção dessa
responsabilidade ? tudo dependendo dos interesses que se quer proteger: os da sociedade ou os dos
seus gestores. Trata-se de uma sociedade de economia mista, em que os eventuais prejuízos
causados pelo administrador comprometem o patrimônio público. A exigência de que a ação de
responsabilidade civil seja precedida da anulação da deliberação da assembléia geral que aprovou as
contas do administrador dificulta sobremaneira a indenização dos danos e não se justifica, porque
constitui uma sobreposição de demandas, à medida que a causa petendi de uma e de outra são
idênticas. Mas a lei é essa e, enquanto não for alterada, deve ser aplicada. Prosseguindo o
julgamento, a Turma, por maioria, não conheceu do recurso. REsp 257.573-DF, Rel. originário
Min. Waldemar Zveiter, Rel. para acórdão Min. Ari Pargendler (art. 52, IV, b, RISTJ), julgado em
8/5/2001.
285

Informativo nº 0526. Período: 25 de setembro de 2013. QUARTA TURMA. DIREITO


EMPRESARIAL. PRAZO PRESCRICIONAL PARA A COBRANÇA DE DEBÊNTURES.
Prescreve em cinco anos a pretensão de cobrança de valores relativos a debêntures. Isso porque,
nessa hipótese, deve ser aplicada a regra prevista no art. art. 206, § 5º, I, do CC, que estabelece em
cinco anos o prazo de prescrição "de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público
ou particular". Ressalte-se que não cabe na hipótese, por ampliação ou analogia, sem qualquer
previsão legal, aplicar às debêntures o prazo prescricional relativo às notas promissórias e às letras
de câmbio, bem como o prazo prescricional para haver o pagamento de título de crédito
propriamente dito. Com efeito, deve-se considerar que a interpretação das normas sobre prescrição
e decadência não pode ser realizada de forma extensiva. Precedentes citados: AgRg no AREsp
94.684-DF, Primeira Turma, DJe 25/5/2012; e AgRg no REsp 1.149.542-PR, Segunda Turma, DJe
21/5/2010. REsp 1.316.256-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/6/2013.

TÍTULOS DE CRÉDITO –ASPECTOS GERAIS


Informativo nº 0559. Período: 6 a 16 de abril de 2015. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. AVAL EM CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL. Admite-se aval em cédulas de
crédito rural. Isso porque a proibição contida no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 não se
refere ao caput (cédulas de crédito), mas apenas ao § 2º (nota promissória e duplicata rurais).
Dispõe o art. 60 do DL 167/1967 que "Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória rural
e à duplicata rural, no que forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval,
dispensado porém o protesto para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus
avalistas". O § 2º do referido artigo, por sua vez, impõe ser "nulo o aval dado em Nota Promissória
Rural ou Duplicata Rural, salvo quando dado pelas pessoas físicas participantes da empresa
emitente ou por outras pessoas jurídicas". Já o § 3º preceitua que "também são nulas quaisquer
outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas pessoas físicas participantes da
empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurídicas". Observe-se que a afirmação de que
"também são nulas" outras garantias só podem complementar dispositivo no qual haja referência a
outra nulidade, e o único dispositivo do citado artigo a fazer tal assertiva é o § 2º, no tocante à
nulidade do aval. É dizer que a afirmação de que "também são nulas" outras garantias não podem
mesmo dizer respeito ao caput, que não contém previsão alguma acerca de nulidade de garantias.
Frise-se, ademais, que os arts. 11, 17 e 18 do Decreto-Lei 167/1967 fazem referência textual a
garantias prestadas por terceiros em cédulas de crédito rural. De mais a mais, observa-se que as
alterações promovidas pela Lei 6.754/1979 - que acrescentou ao art. 60 os parágrafos 1º a 4º -,
pretenderam retirar a responsabilidade cambiária do produtor rural pelo endosso e aval nas notas
promissórias rurais ou duplicatas rurais descontadas em instituição bancária, quando o principal
286

devedor, a indústria agrícola, fraudulentamente ou não, deixava de honrar a dívida garantida pelas
cártulas. A disciplina das cédulas de crédito rural, por sua vez, é absolutamente diferente. Mesmo
porque se trata de títulos de crédito referentes a financiamentos tomados pelos produtores rurais
com integrantes do sistema nacional de crédito rural ou cooperativas (nesse sentido, são os arts. 1º,
caput e parágrafo único, 14, IV, 20, IV, 25, IV, e 77, parágrafo único, todos do Decreto-Lei
167/1967). Com efeito, as alterações trazidas pela Lei 6.754/1979, a toda evidência, não tiveram
como destinatárias as Cédulas de Crédito, pois estas são títulos representativos de financiamento
rural tomado pelo produtor ou cooperado para o incremento de suas próprias atividades. Ou seja,
nelas o produtor figura mesmo como devedor, ao contrário da nota promissória rural e da duplicata
rural, nas quais o devedor é o comprador do produto rural a prazo - no mais das vezes, a
agroindústria de grande porte. Nessa linha de raciocínio, o aval prestado por terceiros nas cédulas
de crédito rural constitui reforço de garantia do próprio produtor rural, sem o qual figuraria sozinho
como responsável pelo financiamento perante o credor. A um só tempo, o crédito rural estaria
sensivelmente dificultado - e certamente mais caro - ao pequeno produtor rural, e, além disso, tal
circunstância vai de encontro ao próprio sistema do crédito rural, o qual tem como um dos
principais objetivos "possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais, notadamente
pequenos e médios" (Lei 4.829/1965, art. 3º, III). REsp 1.315.702-MS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 10/3/2015, DJe 13/4/2015.
Informativo nº 0428. Período: 22 de março a 2 de abril de 2010. TERCEIRA TURMA.
DANO MORAL. CONTA CONJUNTA. CHEQUE. É ativa a solidariedade decorrente da abertura
de conta-corrente conjunta, pois cada correntista movimenta livremente a conta. Ademais, o cheque
sujeita-se aos princípios gerais do direito cambial, especialmente, ao princípio da literalidade, e o
art. 1º, VI, da Lei n. 7.357/1985 estabelece, como requisito do cheque, a assinatura do emitente
sacador. Assim, a responsabilidade pela emissão de cheque sem provisão de fundos é exclusiva
daquele que opôs sua assinatura na cártula. Dessa forma, o cotitular da conta-corrente que não
emitiu o cheque sem provisão de fundos é estranho ao título, por isso não pode ser penalizado com
a negativação, como inadimplente, de seu nome nos cadastros de proteção ao crédito.
Consequentemente, para a jurisprudência deste Superior Tribunal, a inscrição indevida nos
cadastros de proteção ao crédito ocasiona dano moral. Com esse entendimento, a Turma julgou
procedente o pedido de compensação por danos morais, bem como da retirada do nome da
recorrente dos cadastros de proteção ao crédito. REsp 981.081-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 23/3/2010.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL
PIGNORATÍCIA. VALIDADE DA GARANTIDA PRESTADA POR AVALISTA. NATUREZA
JURÍDICA. DIREITO CAMBIAL. ART. 60, DECRETO-LEI Nº 167/67. 1.- Consoante o teor do
287

art. 60, do Decreto-Lei nº 167/67, a cédula de crédito rural sujeita-se ao regramento do direito
cambial, aplicando-se-lhe, inclusive, o instituto do aval. Precedentes. 2.- Agravo Regimental
improvido. (AgRg nos EDcl no REsp 1238045/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 18/06/2013, DJe 01/07/2013)
PROCESSUAL CIVIL E DIREITO CAMBIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. OMISSÃO.
INEXISTÊNCIA. REEXAME DE PROVAS. INVIABILIDADE. DUPLICATA. TÍTULO DE
CRÉDITO, SUJEITO A PRINCÍPIOS CAMBIÁRIOS. 1. Não caracteriza omissão, contradição ou
obscuridade quando o tribunal adota outro fundamento que não aquele defendido pela parte. 2.
Orienta a Súmula 07 desta Corte que a pretensão de simples reexame de provas não enseja recurso
especial. 3. A causalidade da duplicata reside apenas na sua origem, mercê do fato de somente
poder ser emitida para a documentação de crédito nascido de venda mercantil ou de prestação de
serviços. Porém, a duplicata mercantil é título de crédito, na sua generalidade, como qualquer outro,
estando sujeita às regras de direito cambial, nos termos do art. 25 da Lei nº 5.474/68, ressaindo daí,
notadamente, os princípios da cartularidade, abstração, autonomia das obrigações cambiais e
inoponibilidade das exceções pessoais a terceiros de boa-fé. (REsp 261.170/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/08/2009, DJe 17/08/2009) 4. Agravo
regimental não provido. (AgRg no REsp 825.378/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 01/09/2011, DJe 06/09/2011)
DIREITO CAMBIAL E PROCESSUAL CIVIL. NOTA PROMISSÓRIA.
DESCUMPRIMENTO DE REQUISITOS ESSENCIAIS. DESCARACTERIZAÇÃO COMO
TÍTULO EXECUTIVO. A ausência de requisitos essenciais (no caso, nome do sacador, local do
pagamento e data de emissão) descaracteriza a nota promissória como título executivo. Estando o
acórdão recorrido em harmonia com a jurisprudência desta Corte, incide o óbice contido na Súmula
STJ/83, aplicável também no caso da alínea "a" (AgRg no Ag 135.461/RS, Rel. Min. ANTONIO
DE PÁDUA RIBEIRO, DJU 18.08.1997). Agravo Regimental improvido. (AgRg no Ag
1281346/ES, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe
31/03/2011)
DIREITO COMERCIAL. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. NATUREZA JURÍDICA.
DIREITO CAMBIAL. ART. 60, DECRETO-LEI Nº 167/67. Consoante o teor do art. 60, do
Decreto-Lei nº 167/67, a cédula de crédito rural sujeita-se ao regramento do direito cambial,
aplicando-se-lhe, inclusive, o instituto do aval. Precedentes. Recurso especial provido (REsp
747.805/RS, Rel. Ministro PAULO FURTADO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/BA), TERCEIRA TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe 11/03/2010)
288

LETRA DE CÂMBIO
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA DIREITO
CAMBIÁRIO E PROTESTO EXTRAJUDICIAL. CHEQUE. ORDEM DE PAGAMENTO À
VISTA. CÁRTULA ESTAMPANDO, NO CAMPO ESPECÍFICO, DATA DE EMISSÃO
DIVERSA DA PACTUADA PARA SUA APRESENTAÇÃO. CONSIDERA-SE, PARA
CONTAGEM DO PRAZO DE APRESENTAÇÃO, AQUELA CONSTANTE NO ESPAÇO
PRÓPRIO. PROTESTO, COM INDICAÇÃO DO EMITENTE DO CHEQUE COMO DEVEDOR,
AINDA QUE APÓS O PRAZO DE APRESENTAÇÃO, MAS DENTRO DO PERÍODO PARA
AJUIZAMENTO DE AÇÃO CAMBIAL DE EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. As teses a serem
firmadas, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art. 543-C do CPC/1973), são as seguintes: a) a
pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à
instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da
cártula; b) sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque,
com a indicação do emitente como devedor. 2. No caso concreto, recurso especial parcialmente
provido. (REsp 1423464/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 27/04/2016, DJe 27/05/2016)
Informativo nº 0580. Período: 2 a 13 de abril de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
SUBJACENTE À NOTA PROMISSÓRIA PRESCRITA PARA A INSTRUÇÃO DA AÇÃO DE
LOCUPLETAMENTO PAUTADA NO ART. 48 DO DECRETO N. 2.044/1908.
Independentemente da comprovação da relação jurídica subjacente, a simples apresentação de nota
promissória prescrita é suficiente para embasar a ação de locupletamento pautada no art. 48 do
Decreto n. 2.044/1908. Inicialmente, deve-se esclarecer que a ação de enriquecimento sem causa
amparada prevista no art. 884 do CC não tem cabimento no caso em que a lei preveja outro meio
especificamente estabelecido para o ressarcimento do prejuízo, haja vista o disposto no art. 886 do
CC: "Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se
ressarcir do prejuízo sofrido". Diante disso, no caso em que se busque o ressarcimento de prejuízo
causado pelo não pagamento de nota promissória prescrita, não será cabível a ação de
enriquecimento sem causa amparada a que se refere o art. 884 do CC, mas sim a ação de
locupletamento pautada no art. 48 do Decreto n. 2.044/1908. Isso porque o referido art. 48 -
conquanto disponha, em título do Decreto n. 2.044/1908 destinado à letra de câmbio, que "Sem
embargo da desoneração da responsabilidade cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a
restituir ao portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou à custa deste" - também é
aplicável, com as adequações necessárias, à nota promissória, sendo o emitente da nota promissória
equiparado ao aceitante da letra de câmbio. É o que determina o art. 56 deste mesmo diploma legal,
289

segundo o qual "São aplicáveis à nota promissória, com as modificações necessárias, todos os
dispositivos do Título I desta Lei, exceto os que se referem ao aceite e às duplicatas". Diante dessas
considerações, cumpre analisar, no caso em análise, a necessidade de o autor da ação de
locupletamento (art. 48 do Decreto n. 2.044/1908) fundada em nota promissória não paga e
prescrita ter que fazer (ou não) prova da causa jurídica subjacente. Preliminarmente, conquanto
exista controvérsia na doutrina acerca da natureza dessa ação de locupletamento, trata-se de uma
ação de natureza cambiária, na medida em que amparada no título de crédito que perdeu sua força
executiva (e não na relação jurídica que deu origem à sua emissão), além de estar prevista na
legislação de regência de tais títulos. Nesse contexto, ressalta-se que, além de a prescrição da ação
cambiária ser um dos elementos do suporte fático da regra jurídica insculpida no referido
dispositivo, uma vez prescrita a ação executiva, dá-se o enriquecimento injustificado em razão do
não pagamento e nascem a pretensão e a ação correspondente, conforme entendimento doutrinário.
Além disso, nota-se, com base na dicção do aludido art. 48, que a ação de locupletamento é
autorizada ao portador do título de crédito (que, alcançado pela prescrição, perdeu sua força
executiva). Ora, se o portador do título é o legitimado para a propositura da demanda, é certo não
ser necessária a demonstração da causa jurídica subjacente como condição para o ajuizamento dessa
ação, uma vez que, se pensarmos na hipótese de título que tenha circulado, o portador não teria
como fazer prova da relação jurídica subjacente. Dessa maneira, a posse, pelo portador, da nota
promissória não paga e prescrita gera a presunção juris tantum de veracidade do locupletamento
ilícito havido pelo não pagamento (em contrapartida ao empobrecimento do portador do título),
nada obstante seja assegurada a amplitude de defesa ao réu. REsp 1.323.468-DF, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2016, DJe 28/3/2016.
Informativo nº 0315. Período: 26 a 30 de março de 2007. TERCEIRA TURMA. LETRA DE
CÂMBIO. PROTESTO. FALTA. ACEITE. É cabível o saque de letra de câmbio representativa de
crédito, em razão de contrato firmado entre sacada e sacador, podendo o portador levá-la a protesto
por falta de aceite. Precedentes citados: RMS 2.603-SP, DJ 23/5/1994; REsp 191.560-MG, DJ
19/12/2003, e REsp 141.941-MG, DJ 8/9/2003. REsp 900.005-SP, Rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, julgado em 27/3/2007.
Informativo nº 0252. Período: 20 a 24 de junho de 2005. TERCEIRA TURMA.
EXECUÇÃO. LETRA. CÂMBIO. AUSÊNCIA. ACEITE. Trata-se de embargos do devedor
opostos à execução lastreada em letra de câmbio sem aceite. Nas vias ordinárias, a sentença julgou
procedentes os embargos (declarando nula a execução por falta de título executivo hábil para
instruí-la) e o Tribunal a quo negou provimento à apelação da recorrente. Explicitou a Min.
Relatora que a letra de câmbio é título de crédito próprio e abstrato, não se pode imprimir-lhe
natureza causal e imprópria como acontece na duplicata, por isso não persistem as alegações da
290

recorrente no sentido de vinculá-la ao negócio subjacente. Aduz ainda que, embora tenha havido o
protesto pela falta de aceite e de pagamento, a letra de câmbio sem aceite obsta a cobrança pela via
executiva. Pois a recusa do aceite traz como única conseqüência o vencimento antecipado da letra
de câmbio (art. 43 da LUG), pode, então, o tomador cobrá-la imediatamente do sacador. Mas, no
caso, o sacador e o tomador se confundem na mesma pessoa da recorrente demonstrando sem razão
suas alegações uma vez que a vinculação ao pagamento do título se dá tão-somente se o sacado
aceitar a ordem de pagamento que lhe foi endereçada. Sem reparos o acórdão recorrido e ausente a
divergência jurisprudencial alegada, a Turma não conheceu do recurso. REsp 511.387-GO, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/6/2005.
Informativo nº 0216. Período: 2 a 6 de agosto de 2004. TERCEIRA TURMA. LETRA DE
CÂMBIO. ACEITE. FALTA. PROTESTO. CABIMENTO. A Turma decidiu que não pode ser
vedado o protesto por falta de aceite de letra de câmbio. REsp 547.319-RS, Rel. Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, julgado em 3/8/2004.
Informativo nº 0063. Período: 26 a 30 de junho de 2000. TERCEIRA TURMA. AVAL.
AUTONOMIA. Em ação com o fim de anular contrato de joint venture, foi obtida, mediante
medida cautelar incidental, a sustação dos efeitos do pacto e da carta de crédito, bem como do
embarque de quaisquer equipamentos. O recorrido ofereceu embargos à execução, sustentando a
inexigibilidade da letra de câmbio que fundamentava a pretensão executória, uma vez que originária
de carta de crédito, cujos efeitos foram suspensos em ação cautelar. Entendeu o Tribunal a quo que
o avalista não poderia opor exceção pessoal do devedor, a não ser que demonstrada a má-fé do
credor, inexistente no caso em exame. Prosseguindo o julgamento, a Turma, provendo o recurso,
entendeu que existem exceções que se ligam exclusivamente ao avalizado, não afetando a existência
do débito e outras dizem com o próprio débito, atingindo o avalista diretamente. Quando não se
trata de circunstância peculiar a seu emitente, mas diz com a razão de ser de sua existência, a
exceção será oponível também por seu avalista. Outrossim não existe dispositivo legal que impeça,
em relação ao avalista, invocação de matéria pertinente à relação original. Precedente citado: REsp
43.119-RS, DJ 12/2/1996. REsp 162.332-SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, julgado em 29/6/2000.
Informativo nº 0029. Período: 23 a 27 de agosto de 1999. TERCEIRA TURMA. ERRO.
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DESCONTO CONTA CORRENTE. A instituição financeira não
pode debitar da conta corrente do autor, sem o seu consentimento, quando verificar que errou no
valor creditado pelo resgate de letras de câmbio. O autor contratou um desconto de 20% e não está
obrigado a aceitar um de 64%, vez que não concorreu para o erro do banco. Contudo, o autor
faleceu no curso do processo. A Turma decidiu que transmite-se aos herdeiros o direito de
reparação, pois a indenização é feita em pecúnia, constituindo-se em crédito que integra o
patrimônio do de cujus. REsp 219.619-RJ, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, julgado em 23/8/1999.
291

NOTA PROMISSÓRIA
SUMULA 504 - O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota
promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.
SÚMULA 258 - A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de
autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO MONITÓRIA APARELHADA EM NOTA
PROMISSÓRIA PRESCRITA. PRAZO QUINQUENAL PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO.
INCIDÊNCIA DA REGRA PREVISTA NO ART. 206, § 5º, INCISO I, DO CÓDIGO CIVIL. 1.
Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: "O prazo para ajuizamento de ação monitória
em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte
ao vencimento do título". 2. Recurso especial provido. (REsp 1262056/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/12/2013, DJe 03/02/2014)
Informativo nº 0606. Publicação: 2 de agosto de 2017. QUARTA TURMA. REsp
1.323.951-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 16/5/2017, DJe
14/6/2017. Contrato particular de crédito a pessoa física para aquisição de material de construção.
Construcard. Título executivo extrajudicial inexistente. O contrato particular de abertura de crédito
a pessoa física visando financiamento para aquisição de material de construção – Construcard –,
ainda que acompanhado de demonstrativo de débito e nota promissória, não é título executivo
extrajudicial. Informações do Inteiro Teor. De início, não se desconhece que a natureza jurídica do
contrato de abertura de crédito denominado Construcard, para fins de possibilitar, de pronto, a
execução do crédito devido, tem sido objeto de intensas divergências nos Tribunais de piso. Nessa
ordem de ideias, diante da notória divergência na interpretação da lei federal, mostra-se necessária a
definição do seu enquadramento como título apto ou não a amparar, de plano, a execução
extrajudicial. Nesse ponto, cabe definir que o Construcard é uma linha de crédito voltada às pessoas
físicas para a compra de material de construção, reforma ou ampliação de imóvel residencial, com
verbas disponibilizadas pela Caixa Econômica Federal, por meio de concessão de cartão magnético
específico que disponibiliza determinado crédito a ser usado pelos clientes na medida de suas
necessidades, com a previsão de prazo certo para sua utilização e outro para amortização da dívida.
Ao que se percebe, apesar de haver a disponibilização de quantia certa; esta poderá ou não ser
utilizada pelo cliente, não se sabendo, no momento da assinatura do contrato, qual será, ao certo, o
valor do débito, as parcelas devidas e a data de início da contagem dos encargos correspondentes.
Isso porque a apuração dependerá da efetiva utilização do crédito em momento posterior, o que o
faz se aproximar, de alguma forma, do crédito rotativo, em que linhas de crédito são abertas com
292

determinado limite e usadas pelos clientes na medida de suas necessidades, sendo os encargos
cobrados conforme a utilização dos recursos. Inexistindo, pois, certeza e liquidez no próprio
instrumento, exigências que não são alcançadas mediante a complementação unilateral do credor
com a apresentação de extratos bancários, porquanto não lhe é dado criar títulos executivos à revelia
do devedor, o presente contrato de abertura de crédito carece de exequibilidade. Não obstante esses
entendimentos, salienta-se, ainda, que a questão fundamental para afastar a exequibilidade do
Construcard encontra-se na forma de averiguação da sua liquidez, que dependerá sempre de
apuração com base em fatos e provas. Por fim, apesar da dissonância de entendimentos dos
Tribunais Regionais Federais quanto à executoriedade do Construcard, fato é que, no tocante à
monitória, todos são unânimes em aceitar o sobredito contrato como meio a ampará-la, sendo, por
conseguinte, a praxe adotada atualmente pela CEF na obtenção desses créditos.
Informativo nº 0580. Período: 2 a 13 de abril de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
SUBJACENTE À NOTA PROMISSÓRIA PRESCRITA PARA A INSTRUÇÃO DA AÇÃO DE
LOCUPLETAMENTO PAUTADA NO ART. 48 DO DECRETO N. 2.044/1908.
Independentemente da comprovação da relação jurídica subjacente, a simples apresentação de nota
promissória prescrita é suficiente para embasar a ação de locupletamento pautada no art. 48 do
Decreto n. 2.044/1908. Inicialmente, deve-se esclarecer que a ação de enriquecimento sem causa
amparada prevista no art. 884 do CC não tem cabimento no caso em que a lei preveja outro meio
especificamente estabelecido para o ressarcimento do prejuízo, haja vista o disposto no art. 886 do
CC: "Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se
ressarcir do prejuízo sofrido". Diante disso, no caso em que se busque o ressarcimento de prejuízo
causado pelo não pagamento de nota promissória prescrita, não será cabível a ação de
enriquecimento sem causa amparada a que se refere o art. 884 do CC, mas sim a ação de
locupletamento pautada no art. 48 do Decreto n. 2.044/1908. Isso porque o referido art. 48 -
conquanto disponha, em título do Decreto n. 2.044/1908 destinado à letra de câmbio, que "Sem
embargo da desoneração da responsabilidade cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a
restituir ao portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou à custa deste" - também é
aplicável, com as adequações necessárias, à nota promissória, sendo o emitente da nota promissória
equiparado ao aceitante da letra de câmbio. É o que determina o art. 56 deste mesmo diploma legal,
segundo o qual "São aplicáveis à nota promissória, com as modificações necessárias, todos os
dispositivos do Título I desta Lei, exceto os que se referem ao aceite e às duplicatas". Diante dessas
considerações, cumpre analisar, no caso em análise, a necessidade de o autor da ação de
locupletamento (art. 48 do Decreto n. 2.044/1908) fundada em nota promissória não paga e
prescrita ter que fazer (ou não) prova da causa jurídica subjacente. Preliminarmente, conquanto
293

exista controvérsia na doutrina acerca da natureza dessa ação de locupletamento, trata-se de uma
ação de natureza cambiária, na medida em que amparada no título de crédito que perdeu sua força
executiva (e não na relação jurídica que deu origem à sua emissão), além de estar prevista na
legislação de regência de tais títulos. Nesse contexto, ressalta-se que, além de a prescrição da ação
cambiária ser um dos elementos do suporte fático da regra jurídica insculpida no referido
dispositivo, uma vez prescrita a ação executiva, dá-se o enriquecimento injustificado em razão do
não pagamento e nascem a pretensão e a ação correspondente, conforme entendimento doutrinário.
Além disso, nota-se, com base na dicção do aludido art. 48, que a ação de locupletamento é
autorizada ao portador do título de crédito (que, alcançado pela prescrição, perdeu sua força
executiva). Ora, se o portador do título é o legitimado para a propositura da demanda, é certo não
ser necessária a demonstração da causa jurídica subjacente como condição para o ajuizamento dessa
ação, uma vez que, se pensarmos na hipótese de título que tenha circulado, o portador não teria
como fazer prova da relação jurídica subjacente. Dessa maneira, a posse, pelo portador, da nota
promissória não paga e prescrita gera a presunção juris tantum de veracidade do locupletamento
ilícito havido pelo não pagamento (em contrapartida ao empobrecimento do portador do título),
nada obstante seja assegurada a amplitude de defesa ao réu. REsp 1.323.468-DF, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2016, DJe 28/3/2016.
Informativo nº 0559. Período: 6 a 16 de abril de 2015. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. AVAL EM CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL. Admite-se aval em cédulas de
crédito rural. Isso porque a proibição contida no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/1967 não se
refere ao caput (cédulas de crédito), mas apenas ao § 2º (nota promissória e duplicata rurais).
Dispõe o art. 60 do DL 167/1967 que "Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória rural
e à duplicata rural, no que forem cabíveis, as normas de direito cambial, inclusive quanto a aval,
dispensado porém o protesto para assegurar o direito de regresso contra endossantes e seus
avalistas". O § 2º do referido artigo, por sua vez, impõe ser "nulo o aval dado em Nota Promissória
Rural ou Duplicata Rural, salvo quando dado pelas pessoas físicas participantes da empresa
emitente ou por outras pessoas jurídicas". Já o § 3º preceitua que "também são nulas quaisquer
outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando prestadas pelas pessoas físicas participantes da
empresa emitente, por esta ou por outras pessoas jurídicas". Observe-se que a afirmação de que
"também são nulas" outras garantias só pode complementar dispositivo no qual haja referência a
outra nulidade, e o único dispositivo do citado artigo a fazer tal assertiva é o § 2º, no tocante à
nulidade do aval. É dizer que a afirmação de que "também são nulas" outras garantias não pode
mesmo dizer respeito ao caput, que não contém previsão alguma acerca de nulidade de garantias.
Frise-se, ademais, que os arts. 11, 17 e 18 do Decreto-Lei 167/1967 fazem referência textual a
garantias prestadas por terceiros em cédulas de crédito rural. De mais a mais, observa-se que as
294

alterações promovidas pela Lei 6.754/1979 - que acrescentou ao art. 60 os parágrafos 1º a 4º -,


pretenderam retirar a responsabilidade cambiária do produtor rural pelo endosso e aval nas notas
promissórias rurais ou duplicatas rurais descontadas em instituição bancária, quando o principal
devedor, a indústria agrícola, fraudulentamente ou não, deixava de honrar a dívida garantida pelas
cártulas. A disciplina das cédulas de crédito rural, por sua vez, é absolutamente diferente. Mesmo
porque se trata de títulos de crédito referentes a financiamentos tomados pelos produtores rurais
com integrantes do sistema nacional de crédito rural ou cooperativas (nesse sentido, são os arts. 1º,
caput e parágrafo único, 14, IV, 20, IV, 25, IV, e 77, parágrafo único, todos do Decreto-Lei
167/1967). Com efeito, as alterações trazidas pela Lei 6.754/1979, a toda evidência, não tiveram
como destinatárias as Cédulas de Crédito, pois estas são títulos representativos de financiamento
rural tomado pelo produtor ou cooperado para o incremento de suas próprias atividades. Ou seja,
nelas o produtor figura mesmo como devedor, ao contrário da nota promissória rural e da duplicata
rural, nas quais o devedor é o comprador do produto rural a prazo - no mais das vezes, a
agroindústria de grande porte. Nessa linha de raciocínio, o aval prestado por terceiros nas cédulas
de crédito rural constitui reforço de garantia do próprio produtor rural, sem o qual figuraria sozinho
como responsável pelo financiamento perante o credor. A um só tempo, o crédito rural estaria
sensivelmente dificultado - e certamente mais caro - ao pequeno produtor rural, e, além disso, tal
circunstância vai de encontro ao próprio sistema do crédito rural, o qual tem como um dos
principais objetivos "possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais, notadamente
pequenos e médios" (Lei 4.829/1965, art. 3º, III). REsp 1.315.702-MS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 10/3/2015, DJe 13/4/2015.
Informativo nº 0557. Período: 5 a 18 de março de 2015. TERCEIRA TURMA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DE PEDIDO
DECLARATÓRIO. No caso em que, em ação declaratória de nulidade de notas promissórias, a
sentença, ao reconhecer subsistente a obrigação cambial entre as partes, atestando a existência de
obrigação líquida, certa e exigível, defina a improcedência da ação, o réu poderá pleitear o
cumprimento dessa sentença, independentemente de ter sido formalizado pedido de satisfação do
crédito na contestação. Nos termos do art. 475-N, I, do CPC, considera-se título executivo judicial
"a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer,
entregar coisa ou pagar quantia". Assim, as sentenças que, mesmo não qualificadas como
condenatórias, ao declararem um direito, atestem de forma exauriente a existência de obrigação
certa, líquida e exigível, serão dotadas de força executiva. Esclareça-se que o referido dispositivo
processual aplica-se também às sentenças declaratórias que, julgando improcedente o pedido do
autor da demanda, reconhecem a existência de obrigação desse em relação ao réu da ação
declaratória, independentemente de constar pedido de satisfação de crédito na contestação. Nessa
295

vertente, há legitimação do réu para o cumprimento de sentença. Na hipótese em foco, a sentença de


improcedência proferida nos autos da ação de anulação de notas promissórias, declarou subsistente
a obrigação cambial entre as partes. Desse modo, reconhecida a certeza, a exigibilidade e a liquidez
da obrigação cambial, deve-se dar prosseguimento ao pedido de cumprimento de sentença
formulado pelo réu da ação declaratória, ante a aplicação do disposto no art. 475-N, I, do CPC.
Precedentes citados: REsp 1.300.213-RS, Primeira Turma, DJe 18/4/2012; e AgRg no AREsp
385.551-RJ, Primeira Turma, DJe 11/2/2014. REsp 1.481.117-PR, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 3/3/2015, DJe 10/3/2015.
Informativo nº 0535. Período: 12 de março de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. DIREITO DE REGRESSO RELACIONADO A CONTRATO DE
FACTORING. A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de
factoring vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente. Por um lado,
a doutrina é praticamente unânime no sentido de que a faturizadora não tem direito de regresso
contra a faturizada com base no inadimplemento dos títulos transferidos, haja vista que esse risco é
da essência do contrato de factoring e por ele a faturizada paga preço até mais elevado do que
pagaria, por exemplo, em um contrato de desconto bancário, no qual a instituição financeira não
garante a solvência dos títulos descontados. Por outro lado, essa circunstância não tem o alcance de
afastar toda e qualquer responsabilidade da cedente em relação à existência do crédito, haja vista
que tal garantia é própria da cessão de crédito comum - pro soluto. É por isso que a doutrina, de
forma uníssona, afirma que no contrato de factoring e na cessão de crédito ordinária a
faturizada/cedente não garante a solvência do crédito, mas a sua existência sim. Cuida-se, na
verdade, de expressa disposição legal, nos termos do que dispõem os arts. 295 e 296 do CC. Nesse
passo, o direito de regresso da faturizadora contra a faturizada deve ser garantido quando estiver em
questão não um mero inadimplemento, mas a própria existência do crédito. Não reconhecer tal
responsabilidade quando o cedente vende crédito inexistente ou ilegítimo representa compactuar
com a fraude e a má-fé. É bem verdade que há precedentes do STJ que não permitiram o regresso
da faturizadora, em situações que, aparentemente, diziam respeito a duplicatas frias. Em todas essas
hipóteses, porém, inexiste nota promissória emitida como garantia do negócio jurídico relacionado
ao factoring, o que diferencia os julgados do caso em exame. Por sua vez, em reforço à tese ora
adotada, há outros precedentes que permitiram, inclusive, o pedido de falência com base em nota
promissória recebida como garantia de duplicatas apontadas como frias endossadas a sociedades de
factoring. REsp 1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 20/2/2014.
Informativo nº 0533. Período: 12 de fevereiro de 2014. SEGUNDA SEÇÃO. DIREITO
EMPRESARIAL. PRAZO PRESCRICIONAL PARA AJUIZAMENTO DE AÇÃO MONITÓRIA
FUNDADA EM NOTA PROMISSÓRIA PRESCRITA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C
296

DO CPC E RES. 8/2008-STJ). O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de
nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do
título. Com efeito, qualquer dívida resultante de documento público ou particular, tenha ou não
força executiva, submete-se ao prazo prescricional de cinco anos, que está previsto no art. 206, § 5º,
I, do CC. Cabe registrar que a nota promissória é título de crédito abstrato, isto é, pode ser emitida
em decorrência de qualquer negócio jurídico e o seu pagamento resulta na extinção da obrigação
originária. O art. 132 do CC ainda esclarece que, salvo disposição legal ou convencional em
contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo e incluído o do vencimento. Assim, o
termo inicial para a fluência do prazo prescricional para a perda da pretensão relativa ao crédito
concernente à obrigação originária corresponde ao dia seguinte àquele previsto na cártula para o
pagamento do título de crédito - quando, então, se pode cogitar inércia por parte do credor. REsp
1.262.056-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/12/2013.
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. NOTA PROMISSÓRIA. PRÁTICA DE AGIOTAGEM. MÚTUO. REDUÇÃO DOS
JUROS AOS PARÂMETROS LEGAIS. REEXAME DA PROVA DOS AUTOS.
INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 211/STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. "Havendo prática de
agiotagem, devem ser declaradas nulas apenas as estipulações usurárias, conservando-se o negócio
jurídico de empréstimo pessoal entre pessoas físicas mediante redução dos juros aos limites legais"
(REsp n. 1.560.576/ES, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 02/08/2016, DJe 23/08/2016). 2. O recurso especial não comporta exame de questões
que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos (Súmula n. 7 do STJ). 3. A
simples indicação dos dispositivos legais tidos por violados, sem enfrentamento do tema pelo
acórdão recorrido, obsta o conhecimento do recurso especial, por falta de prequestionamento
(Súmula n. 211 do STJ). 4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp
1322146/PR, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
06/12/2018, DJe 13/12/2018)
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO
FIRMADA EM NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO DE CONFISSÃO DE
DÍVIDA. 1. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. AGRAVO INCABÍVEL. APLICAÇÃO DO ART.
1.042 DO NCPC. FUNDAMENTO INATACADO. 2. EXISTÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO.
3. AGRAVO DESPROVIDO 1. Os agravantes não trazem argumentos válidos capazes de infirmar
a referida decisão monocrática, limitando-se a repisar as mesmas alegações apresentadas nos
recursos anteriores acerca da questão de fundo, sem enfrentar, de forma concreta, o óbice apontado
na decisão agravada, circunstância que inviabiliza a análise do presente agravo interno. 2. A dívida
297

representada por título de crédito extrajudicial goza de presunção de liquidez e certeza, que somente
serão afastadas se o devedor provar a inexistência de negócio subjacente a embasá-lo. 3. Agravo
interno desprovido. (AgInt no AREsp 1293940/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/10/2018, DJe 25/10/2018)

DUPLICATA
SÚMULA 248 -Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas
protestada, é título hábil para instruir pedido de falência.
PROTESTO EXTRAJUDICIAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. OS TABELIÃES DEVEM VELAR PELA AUTENTICIDADE,
PUBLICIDADE E SEGURANÇA DOS ATOS. EM CASO DE PROTESTO DE TÍTULOS OU
OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA, O TABELIÃO, AINDA QUE O DEVEDOR RESIDA
EM MUNICÍPIO DIVERSO DAQUELE DA SERVENTIA, DEVE SEMPRE BUSCAR
EFETUAR A INTIMAÇÃO, POR VIA POSTAL. PROTESTO DE CÉDULA DE CRÉDITO
BANCÁRIO. POSSIBILIDADE DE SER REALIZADO NO CARTÓRIO DE PROTESTO DO
DOMICÍLIO DO DEVEDOR OU NO CARTÓRIO EM QUE SE SITUA A PRAÇA DE
PAGAMENTO INDICADA NO TÍTULO, CABENDO A ESCOLHA AO CREDOR. Para fins do
art. 543-C do CPC: 1. O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve esgotar os meios de
localização, notadamente por meio do envio de intimação por via postal, no endereço fornecido por
aquele que procedeu ao apontamento do protesto; 2. É possível, à escolha do credor, o protesto de
cédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária, no tabelionato em que se situa a praça
de pagamento indicada no título ou no domicílio do devedor. 3. No caso concreto, recurso especial
provido. (REsp 1398356/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/
Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/02/2016, DJe
30/03/2016)
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL.
INCIDÊNCIA DE ISS SOBRE ARRENDAMENTO MERCANTIL FINANCEIRO. QUESTÃO
PACIFICADA PELO STF POR OCASIÃO DO JULGAMENTO DO RE 592.905/SC, REL. MIN.
EROS GRAU, DJE 05.03.2010. SUJEITO ATIVO DA RELAÇÃO TRIBUTÁRIA NA
VIGÊNCIA DO DL 406/68: MUNICÍPIO DA SEDE DO ESTABELECIMENTO PRESTADOR.
APÓS A LEI 116/03: LUGAR DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. LEASING. CONTRATO
COMPLEXO. A CONCESSÃO DO FINANCIAMENTO É O NÚCLEO DO SERVIÇO NA
OPERAÇÃO DE LEASING FINANCEIRO, À LUZ DO ENTENDIMENTO DO STF. O
SERVIÇO OCORRE NO LOCAL ONDE SE TOMA A DECISÃO ACERCA DA APROVAÇÃO
DO FINANCIAMENTO, ONDE SE CONCENTRA O PODER DECISÓRIO, ONDE SE SITUA A
298

DIREÇÃO GERAL DA INSTITUIÇÃO. O FATO GERADOR NÃO SE CONFUNDE COM A


VENDA DO BEM OBJETO DO LEASING FINANCEIRO, JÁ QUE O NÚCLEO DO SERVIÇO
PRESTADO É O FINANCIAMENTO. IRRELEVANTE O LOCAL DA CELEBRAÇÃO DO
CONTRATO, DA ENTREGA DO BEM OU DE OUTRAS ATIVIDADES PREPARATÓRIAS E
AUXILIARES À PERFECTIBILIZAÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA, A QUAL SÓ OCORRE
EFETIVAMENTE COM A APROVAÇÃO DA PROPOSTA PELA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. BASE DE CÁLCULO. PREJUDICADA A ANÁLISE DA ALEGADA
VIOLAÇÃO DO ART. 148 DO CTN E 9 DO DL 406/68. RECURSO ESPECIAL DE POTENZA
LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL PARCIALMENTE PROVIDO PARA
JULGAR PROCEDENTES OS EMBARGOS À EXECUÇÃO E RECONHECER A
ILEGITIMIDADE ATIVA DO MUNICÍPIO DE TUBARÃO/SC PARA EXIGIR O IMPOSTO.
INVERSÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. ACÓRDÃO SUBMETIDO AO
PROCEDIMENTO DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO 8/STJ. 1. O colendo STF já
afirmou (RE 592. 905/SC) que ocorre o fato gerador da cobrança do ISS em contrato de
arrendamento mercantil. O eminente Ministro EROS GRAU, relator daquele recurso, deixou claro
que o fato gerador não se confunde com a venda do bem objeto do leasing financeiro, já que o
núcleo do serviço prestado é o financiamento. 2. No contrato de arrendamento mercantil financeiro
(Lei 6.099/74 e Resolução 2.309/96 do BACEN), uma empresa especialmente dedicada a essa
atividade adquire um bem, segundo especificações do usuário/consumidor, que passa a ter a sua
utilização imediata, com o pagamento de contraprestações previamente acertadas, e opção de, ao
final, adquiri-lo por um valor residual também contratualmente estipulado. Essa modalidade de
negócio dinamiza a fruição de bens e não implica em imobilização contábil do capital por parte do
arrendatário: os bens assim adquiridos entram na contabilidade como custo operacional (art. 11 e 13
da Lei 6.099/74). Trata-se de contrato complexo, de modo que o enfrentamento da matéria obriga a
identificação do local onde se perfectibiliza o financiamento, núcleo da prestação do serviços nas
operações de leasing financeiro, à luz do entendimento que restou sedimentado no Supremo
Tribunal Federal. 3. O art. 12 do DL 406/68, com eficácia reconhecida de lei complementar,
posteriormente revogado pela LC 116/2003, estipulou que, à exceção dos casos de construção civil
e de exploração de rodovias, o local da prestação do serviço é o do estabelecimento prestador. 4. A
opção legislativa representa um potente duto de esvaziamento das finanças dos Municípios
periféricos do sistema bancário, ou seja, através dessa modalidade contratual se instala um
mecanismo altamente perverso de sua descapitalização em favor dos grandes centros financeiros do
País. 5. A interpretação do mandamento legal leva a conclusão de ter sido privilegiada a segurança
jurídica do sujeito passivo da obrigação tributária, para evitar dúvidas e cobranças de impostos em
duplicata, sendo certo que eventuais fraudes (como a manutenção de sedes fictícias) devem ser
299

combatidas por meio da fiscalização e não do afastamento da norma legal, o que traduziria
verdadeira quebra do princípio da legalidade tributária. 6. Após a vigência da LC 116/2003 é que se
pode afirmar que, existindo unidade econômica ou profissional do estabelecimento prestador no
Município onde o serviço é perfectibilizado, ou seja, onde ocorrido o fato gerador tributário, ali
deverá ser recolhido o tributo. 7. O contrato de leasing financeiro é um contrato complexo no qual
predomina o aspecto financeiro, tal qual assentado pelo STF quando do julgamento do RE
592.905/SC, Assim, há se concluir que, tanto na vigência do DL 406/68 quanto na vigência da LC
116//203, o núcleo da operação de arrendamento mercantil, o serviço em si, que completa a relação
jurídica, é a decisão sobre a concessão, a efetiva aprovação do financiamento. 8. As grandes
empresas de crédito do País estão sediadas ordinariamente em grandes centros financeiros de
notável dinamismo, onde centralizam os poderes decisórios e estipulam as cláusulas contratuais e
operacionais para todas suas agências e dependências. Fazem a análise do crédito e elaboram o
contrato, além de providenciarem a aprovação do financiamento e a consequente liberação do valor
financeiro para a aquisição do objeto arrendado, núcleo da operação. Pode-se afirmar que é no local
onde se toma essa decisão que se realiza, se completa, que se perfectibiliza o negócio. Após a
vigência da LC 116.2003, assim, é neste local que ocorre a efetiva prestação do serviço para fins de
delimitação do sujeito ativo apto a exigir ISS sobre operações de arrendamento mercantil. 9. O
tomador do serviço ao dirigir-se à concessionária de veículos não vai comprar o carro, mas apenas
indicar à arrendadora o bem a ser adquirido e posteriormente a ele disponibilizado. Assim, a entrega
de documentos, a formalização da proposta e mesmo a entrega do bem são procedimentos
acessórios, preliminares, auxiliares ou consectários do serviço cujo núcleo - fato gerador do tributo -
é a decisão sobre a concessão, aprovação e liberação do financiamento. 10. Ficam prejudicadas as
alegações de afronta ao art. 148 do CTN e ao art. 9o. do Decreto-Lei 406/68, que fundamente a sua
tese relativa à ilegalidade da base de cálculo do tributo. 11. No caso dos autos, o fato gerador
originário da ação executiva refere-se a período em que vigente a DL 406/68. A própria sentença
afirmou que a ora recorrente possui sede na cidade de Osasco/SP e não se discutiu a existência de
qualquer fraude relacionada a esse estabelecimento; assim, o Município de Tubarão não é
competente para a cobrança do ISS incidente sobre as operações realizadas pela empresa Potenza
Leasing S.A. Arrendamento Mercantil, devendo ser dado provimento aos Embargos do Devedor,
com a inversão dos ônus sucumbenciais. 12. Recurso Especial parcialmente provido para definir
que: (a) incide ISSQN sobre operações de arrendamento mercantil financeiro; (b) o sujeito ativo da
relação tributária, na vigência do DL 406/68, é o Município da sede do estabelecimento prestador
(art. 12); (c) a partir da LC 116/03, é aquele onde o serviço é efetivamente prestado, onde a relação
é perfectibilizada, assim entendido o local onde se comprove haver unidade econômica ou
profissional da instituição financeira com poderes decisórios suficientes à concessão e aprovação do
300

financiamento - núcleo da operação de leasing financeiro e fato gerador do tributo; (d) prejudicada a
análise da alegada violação ao art. 148 do CTN; (e) no caso concreto, julgar procedentes os
Embargos do Devedor, com a inversão dos ônus sucumbenciais, ante o reconhecimento da
ilegitimidade ativa do Município de Tubarão/SC para a cobrança do ISS. Acórdão submetido ao
procedimento do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ. (REsp 1060210/SC, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2012, DJe
05/03/2013)
DIREITO CIVIL E CAMBIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DUPLICATA RECEBIDA POR ENDOSSO-
MANDATO. PROTESTO. RESPONSABILIDADE DO ENDOSSATÁRIO. NECESSIDADE DE
CULPA. 1. Para efeito do art. 543-C do CPC: Só responde por danos materiais e morais o
endossatário que recebe título de crédito por endosso-mandato e o leva a protesto se extrapola os
poderes de mandatário ou em razão de ato culposo próprio, como no caso de apontamento depois da
ciência acerca do pagamento anterior ou da falta de higidez da cártula. 2. Recurso especial não
provido. (REsp 1063474/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 28/09/2011, DJe 17/11/2011)
DIREITO CIVIL E CAMBIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DUPLICATA DESPROVIDA DE CAUSA
RECEBIDA POR ENDOSSO TRANSLATIVO. PROTESTO. RESPONSABILIDADE DO
ENDOSSATÁRIO. 1. Para efeito do art. 543-C do CPC: O endossatário que recebe, por endosso
translativo, título de crédito contendo vício formal, sendo inexistente a causa para conferir lastro a
emissão de duplicata, responde pelos danos causados diante de protesto indevido, ressalvado seu
direito de regresso contra os endossantes e avalistas. 2. Recurso especial não provido. (REsp
1213256/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
28/09/2011, DJe 14/11/2011)
Informativo nº 0581. Período: 14 a 28 de abril de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. EMISSÃO DE DUPLICATA COM BASE EM MAIS DE UMA NOTA
FISCAL. Uma só duplicata pode corresponder à soma de diversas notas fiscais parciais. A nota
fiscal é o documento comprobatório da realização de um negócio jurídico sujeito à fiscalização
tributária relativo a bens móveis ou semoventes. Assim, faz prova da entrada e saída de mercadorias
de estabelecimentos empresariais, acompanhando a sua entrega aos destinatários. A fatura, por
outro lado, consiste em nota representativa de contratos de compra e venda mercantis ou de
prestação de serviços, devendo haver, entre outras identificações, a discriminação das mercadorias
vendidas e dos preços negociados e a menção à natureza dos serviços prestados. Pode, ainda, conter
somente a indicação dos números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas,
301

despachos ou entregas das mercadorias (arts. 1º, caput e § 1º, e 20 da Lei n. 5.474/1968). Nas
vendas a prazo, ou seja, naquelas cujo pagamento é feito após 30 (trinta) dias, a extração da fatura é
obrigatória, sendo o termo inicial do prazo a data da entrega ou do despacho das mercadorias. Já a
duplicata é de extração facultativa, podendo ser materializada no ato da emissão da fatura,
constituindo o título de crédito genuíno para documentar o saque do vendedor pela importância
faturada ao comprador (art. 2º da Lei n. 5.474/1968). Ademais, nos termos do art. 2º, § 2º, da Lei n.
5.474/1968, uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura. Nesse sentido, o
seguinte precedente que reconheceu a inidoneidade de duplicata vinculada a mais de uma fatura
(REsp 577.785-SC, Terceira Turma, DJ 17/12/2004). Todavia, apesar de a duplicata só poder
espelhar uma fatura, esta pode corresponder à soma de diversas notas parciais. A nota parcial é o
documento representativo de uma venda parcial ou de venda realizada dentro do lapso de um mês,
que poderá ser agrupada a outras vendas efetivadas nesse período pelo mesmo comprador. REsp
1.356.541-MG, Rel. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/4/2016, DJe 13/4/2016.
Informativo nº 0580. Período: 2 a 13 de abril de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. DUPLICATA MERCANTIL E ACEITE LANÇADO EM SEPARADO. O aceite
lançado em separado da duplicata mercantil não imprime eficácia cambiária ao título. O aceite
promovido na duplicata mercantil corresponde ao reconhecimento, pelo sacado (comprador), da
legitimidade do ato de saque feito pelo sacador (vendedor), a desvincular o título do componente
causal de sua emissão (compra e venda mercantil a prazo). Após o aceite, não é permitido ao sacado
reclamar de vícios do negócio causal realizado, sobretudo porque os princípios da abstração e da
autonomia passam a reger as relações, doravante cambiárias. Assim, na duplicata, quando o sacado
promover o aceite no título, a dívida, que era somente obrigacional, passará também a ser
cambiária, permitindo o acesso à via executiva, na medida em que nascerá um legítimo título
executivo extrajudicial (art. 15, I, da Lei n. 5.474/1968). Em outras palavras, o aceite na duplicata
mercantil transforma o comprador (relação de compra e venda mercantil a prazo) em devedor
cambiário do sacador ou, ainda, do endossatário, caso o título tenha sido posto em circulação por
meio do endosso. Cumpre ressaltar, ademais, que mesmo as duplicatas sem aceite podem possuir
força executiva se protestadas e acompanhadas dos comprovantes de entrega de mercadorias, em
não havendo recusa do aceite pelo sacado (art. 15, II, da Lei n. 5.474/1968). No que tange à forma
do aceite, não há como afastar uma de suas características intrínsecas, que é o formalismo. Desse
modo, esse ato deve ser formal e se aperfeiçoar na própria cártula, em observância ao que dispõe o
art. 25 da Lei Uniforme de Genebra (Decreto n. 57.663/1966): "O aceite é escrito na própria letra.
Exprime-se pela palavra 'aceite' ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo
sacado. Vale como aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra", incidindo
o princípio da literalidade. Não pode, portanto, o aceite ser dado verbalmente ou em documento em
302

separado. Inclusive, há entendimento doutrinário nesse sentido. De fato, os títulos de crédito


possuem algumas exigências que são indispensáveis à boa manutenção das relações comerciais. A
experiência já provou que não podem ser afastadas certas características, como o formalismo, a
cartularidade e a literalidade, representando o aceite em separado perigo real às práticas cambiárias,
ainda mais quando os papéis são postos em circulação. Logo, o aceite lançado em separado à
duplicata não possui nenhuma eficácia cambiária, mas o documento que o contém poderá servir
como prova da existência do vínculo contratual subjacente ao título, amparando eventual ação
monitória ou ordinária (art. 16 da Lei n. 5.474/1968). REsp 1.334.464-RS, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 15/3/2016, DJe 28/3/2016.
Informativo nº 0580. Período: 2 a 13 de abril de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
SUBJACENTE À NOTA PROMISSÓRIA PRESCRITA PARA A INSTRUÇÃO DA AÇÃO DE
LOCUPLETAMENTO PAUTADA NO ART. 48 DO DECRETO N. 2.044/1908.
Independentemente da comprovação da relação jurídica subjacente, a simples apresentação de nota
promissória prescrita é suficiente para embasar a ação de locupletamento pautada no art. 48 do
Decreto n. 2.044/1908. Inicialmente, deve-se esclarecer que a ação de enriquecimento sem causa
amparada prevista no art. 884 do CC não tem cabimento no caso em que a lei preveja outro meio
especificamente estabelecido para o ressarcimento do prejuízo, haja vista o disposto no art. 886 do
CC: "Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se
ressarcir do prejuízo sofrido". Diante disso, no caso em que se busque o ressarcimento de prejuízo
causado pelo não pagamento de nota promissória prescrita, não será cabível a ação de
enriquecimento sem causa amparada a que se refere o art. 884 do CC, mas sim a ação de
locupletamento pautada no art. 48 do Decreto n. 2.044/1908. Isso porque o referido art. 48 -
conquanto disponha, em título do Decreto n. 2.044/1908 destinado à letra de câmbio, que "Sem
embargo da desoneração da responsabilidade cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a
restituir ao portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou à custa deste" - também é
aplicável, com as adequações necessárias, à nota promissória, sendo o emitente da nota promissória
equiparado ao aceitante da letra de câmbio. É o que determina o art. 56 deste mesmo diploma legal,
segundo o qual "São aplicáveis à nota promissória, com as modificações necessárias, todos os
dispositivos do Título I desta Lei, exceto os que se referem ao aceite e às duplicatas". Diante dessas
considerações, cumpre analisar, no caso em análise, a necessidade de o autor da ação de
locupletamento (art. 48 do Decreto n. 2.044/1908) fundada em nota promissória não paga e
prescrita ter que fazer (ou não) prova da causa jurídica subjacente. Preliminarmente, conquanto
exista controvérsia na doutrina acerca da natureza dessa ação de locupletamento, trata-se de uma
ação de natureza cambiária, na medida em que amparada no título de crédito que perdeu sua força
303

executiva (e não na relação jurídica que deu origem à sua emissão), além de estar prevista na
legislação de regência de tais títulos. Nesse contexto, ressalta-se que, além de a prescrição da ação
cambiária ser um dos elementos do suporte fático da regra jurídica insculpida no referido
dispositivo, uma vez prescrita a ação executiva, dá-se o enriquecimento injustificado em razão do
não pagamento e nascem a pretensão e a ação correspondente, conforme entendimento doutrinário.
Além disso, nota-se, com base na dicção do aludido art. 48, que a ação de locupletamento é
autorizada ao portador do título de crédito (que, alcançado pela prescrição, perdeu sua força
executiva). Ora, se o portador do título é o legitimado para a propositura da demanda, é certo não
ser necessária a demonstração da causa jurídica subjacente como condição para o ajuizamento dessa
ação, uma vez que, se pensarmos na hipótese de título que tenha circulado, o portador não teria
como fazer prova da relação jurídica subjacente. Dessa maneira, a posse, pelo portador, da nota
promissória não paga e prescrita gera a presunção juris tantum de veracidade do locupletamento
ilícito havido pelo não pagamento (em contrapartida ao empobrecimento do portador do título),
nada obstante seja assegurada a amplitude de defesa ao réu. REsp 1.323.468-DF, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2016, DJe 28/3/2016.
Informativo nº 0564. Período: 15 a 30 de junho de 2015. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. OPOSIÇÃO DE EXCEÇÕES PESSOAIS A EMPRESA DE FACTORING. O
sacado pode opor à faturizadora a qual pretende lhe cobrar duplicata recebida em operação de
factoring exceções pessoais que seriam passíveis de contraposição ao sacador, ainda que o sacado
tenha eventualmente aceitado o título de crédito. Na operação de factoring, em que há envolvimento
mais profundo entre faturizada e faturizadora, não se opera um simples endosso, mas a negociação
de um crédito cuja origem é - ou pelo menos deveria ser - objeto de análise pela faturizadora. Nesse
contexto, a faturizadora não pode ser equiparada a um terceiro de boa-fé a quem o título pudesse ser
transferido por endosso. De fato, na operação de factoring, há verdadeira cessão de crédito, e não
mero endosso, ficando autorizada a discussão da causa debendi, na linha do que determina o art.
294 do CC, segundo o qual: "O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem,
bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente".
Provada a ausência de causa para a emissão das duplicatas, não há como a faturizadora exigir do
sacado o pagamento respectivo. Cabe ressaltar, por oportuno, que a presunção favorável à
existência de causa que resulta do aceite lançado nas duplicatas não se mostra absoluta e deve ceder
quando apresentada exceção pessoal perante o credor originário ou seu faturizador. Precedente
citado: REsp 612.423-DF, Terceira Turma, DJ 26/6/2006. REsp 1.439.749-RS, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2015, DJe 15/6/2015.
Informativo nº 0547. Período: 8 de outubro de 2014. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. INSTRUÇÃO DO PEDIDO DE FALÊNCIA COM DUPLICATAS VIRTUAIS.
304

A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de falência com
base na impontualidade do devedor. Isso porque o art. 94, I, da Lei de Falências (Lei 11.101/2005)
não estabelece nenhuma restrição quanto à cartularidade do título executivo que embasa um pedido
de falência. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014.
Informativo nº 0535. Período: 12 de março de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. DIREITO DE REGRESSO RELACIONADO A CONTRATO DE
FACTORING. A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de
factoring vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente. Por um lado,
a doutrina é praticamente unânime no sentido de que a faturizadora não tem direito de regresso
contra a faturizada com base no inadimplemento dos títulos transferidos, haja vista que esse risco é
da essência do contrato de factoring e por ele a faturizada paga preço até mais elevado do que
pagaria, por exemplo, em um contrato de desconto bancário, no qual a instituição financeira não
garante a solvência dos títulos descontados. Por outro lado, essa circunstância não tem o alcance de
afastar toda e qualquer responsabilidade da cedente em relação à existência do crédito, haja vista
que tal garantia é própria da cessão de crédito comum - pro soluto. É por isso que a doutrina, de
forma uníssona, afirma que no contrato de factoring e na cessão de crédito ordinária a
faturizada/cedente não garante a solvência do crédito, mas a sua existência sim. Cuida-se, na
verdade, de expressa disposição legal, nos termos do que dispõem os arts. 295 e 296 do CC. Nesse
passo, o direito de regresso da faturizadora contra a faturizada deve ser garantido quando estiver em
questão não um mero inadimplemento, mas a própria existência do crédito. Não reconhecer tal
responsabilidade quando o cedente vende crédito inexistente ou ilegítimo representa compactuar
com a fraude e a má-fé. É bem verdade que há precedentes do STJ que não permitiram o regresso
da faturizadora, em situações que, aparentemente, diziam respeito a duplicatas frias. Em todas essas
hipóteses, porém, inexiste nota promissória emitida como garantia do negócio jurídico relacionado
ao factoring, o que diferencia os julgados do caso em exame. Por sua vez, em reforço à tese ora
adotada, há outros precedentes que permitiram, inclusive, o pedido de falência com base em nota
promissória recebida como garantia de duplicatas apontadas como frias endossadas a sociedades de
factoring. REsp 1.289.995-PE, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 20/2/2014.
Informativo nº 0534. Período: 26 de fevereiro de 2014. SEXTA TURMA. DIREITO
PENAL. CONFIGURAÇÃO DO DELITO DE DUPLICATA SIMULADA. O delito de duplicata
simulada, previsto no art. 172 do CP (redação dada pela Lei 8.137/1990), configura-se quando o
agente emite duplicata que não corresponde à efetiva transação comercial, sendo típica a conduta
ainda que não haja qualquer venda de mercadoria ou prestação de serviço. O art. 172 do CP, em sua
redação anterior, assim estabelecia a figura típica do delito de duplicata simulada: "Expedir ou
aceitar duplicata que não corresponda, juntamente com a fatura respectiva, a uma venda efetiva de
305

bens ou a uma real prestação de serviço". Com o advento da Lei 8.137/1990, alterou-se a redação
do dispositivo legal, que passou a assim prever: "Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não
corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado". Conforme
se depreende de entendimento doutrinário e jurisprudencial, a alteração do artigo pretendeu abarcar
não apenas os casos em que há discrepância qualitativa ou quantitativa entre o que foi vendido ou
prestado e o que consta na duplicata, mas também aqueles de total ausência de venda de bens ou
prestação de serviço. Dessa forma, observa-se que o legislador houve por bem ampliar a antiga
redação daquele dispositivo, que cuidava apenas da segunda hipótese, mais grave, de modo a
também punir o emitente quando houver a efetiva venda de mercadoria, embora em quantidade ou
qualidade diversas. Precedente citado: REsp 443.929-SP, Sexta Turma, DJ 25/6/2007. REsp
1.267.626-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/12/2013.
Informativo nº 0506. Período: 4 a 17 de outubro de 2012. QUARTA TURMA. DIREITO
CIVIL. PROTESTO EXTRAJUDICIAL DE DUPLICATAS. LOCAL A SER TIRADO O
PROTESTO. PRAÇA DE PAGAMENTO CONSTANTE NO TÍTULO. O protesto de duplicata
será tirado na praça de pagamento constante no título, a teor do § 3º do art. 13 da Lei n. 5.474/1968.
Não é no domicílio do devedor da obrigação cambiária que deve ser tirado o protesto, mas sim na
praça de pagamento constante no título. REsp 1.015.152-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 9/10/2012.
Informativo nº 0502. Período: 13 a 24 de agosto de 2012. SEGUNDA SEÇÃO.
EXECUÇÃO. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. A Seção entendeu que
as duplicatas virtuais emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica podem ser
protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível para o
ajuizamento da execução, conforme previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997. Os
boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual devidamente acompanhados dos
instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da
prestação dos serviços suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em
princípio, títulos executivos extrajudiciais. EREsp 1.024.691-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgados
em 22/8/2012.
Informativo nº 0484. Período: 26 de setembro a 7 de outubro de 2011. SEGUNDA SEÇÃO.
REPETITIVO. DUPLICATA. ENDOSSO-MANDATO. PROTESTO. RESPONSABILIDADE.
Trata-se de REsp sob o regime do art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-STJ, no qual a Seção
entendeu que só responde por danos materiais e morais o endossatário que recebe título de crédito
por endosso-mandato e o leva a protesto, extrapolando os poderes do mandatário em razão de ato
culposo próprio, como no caso de apontamento depois da ciência acerca do pagamento anterior ou
da falta de higidez da cártula. Precedentes citados: AgRg no Ag 552.667-RJ, DJ 23/8/2004; AgRg
306

no Ag 1.161.507-RS, DJe 21/3/2011; AgRg no Ag 1.127.336-RJ, DJe 13/5/2011; AgRg no REsp


902.622-AL, DJe 26/11/2008; AgRg no REsp 866.748-PR, DJe 1º/12/2010, e AgRg no Ag
1.101.072-SP, DJe 12/8/2011. REsp 1.063.474-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
28/9/2011.
Informativo nº 0484. Período: 26 de setembro a 7 de outubro de 2011. SEGUNDA SEÇÃO.
REPETITIVO. DUPLICATA. ENDOSSO TRANSLATIVO. VÍCIO FORMAL. PROTESTO.
RESPONSABILIDADE. Trata-se de REsp sob o regime do art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-
STJ, no qual a Seção entendeu que o endossatário que recebe, por endosso translativo, título de
crédito contendo vício formal, por não existir a causa para conferir lastro a emissão de duplicata,
responde pelos danos causados diante de protesto indevido, ressalvado seu direito de regresso
contra os endossantes e avalistas. Precedentes citados: AgRg no Ag 1.380.089-SP, DJe 26/4/2011;
AgRg no Ag 1.211.212-SP, DJe 4/3/2011; AgRg no Ag 777.258-SP, DJe 8/6/2009; REsp 976.591-
ES, DJ 10/12/2007, e AgRg no Ag 415.005-SP, DJe 12/8/2011. REsp 1.213.256-RS, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 28/9/2011.
Informativo nº 0473. Período: 16 a 20 de maio de 2011. QUARTA TURMA. DUPLICATA
SIMULADA. OPOSIÇÃO. TERCEIRO. BOA-FÉ. A Turma negou provimento ao recurso especial,
consignando que o sacado pode opor ao endossatário, ainda que terceiro de boa-fé, vício formal
intrínseco que conduza à inexigibilidade do título de crédito emitido. In casu, a recorrida foi vítima
da emissão de duplicata simulada (título "causal" sem lastro em compra e venda mercantil ou
prestação de serviços e sem aceite). O banco recorrente, que recebeu a cártula por meio de endosso,
levou-a para protesto - sem sequer comprovar o negócio jurídico subjacente -, mesmo advertido
pela sacada de que o valor nela cobrado era indevido. Ressaltou o Min. Relator, entretanto, que o
referido vício não pode ser oposto pelo endossante, devendo o endossatário ter resguardado seu
direito de regresso. Salientou que o ordenamento jurídico veda, em regra, a oposição de exceções
pessoais a terceiro que porta de boa-fé o título, situação que não configura a hipótese dos autos.
Precedentes citados: REsp 774.304-MT, DJe 14/10/2010; REsp 770.403-RS, DJ 15/5/2006; AgRg
no Ag 1.234.304-RS, DJe 23/11/2010, e REsp 549.766-RS, DJ 6/9/2004. REsp 830.657-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/5/2011.
Informativo nº 0467. Período: 21 a 25 de março de 2011. TERCEIRA TURMA.
EXECUÇÃO. DUPLICATA VIRTUAL. BOLETO BANCÁRIO. As duplicatas virtuais - emitidas
por meio magnético ou de geração eletrônica - podem ser protestadas por indicação (art. 13 da Lei
n. 5.474/1968), não se exigindo, para o ajuizamento da execução judicial, a exibição do título.
Logo, se o boleto bancário que serviu de indicativo para o protesto retratar fielmente os elementos
da duplicata virtual, estiver acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou da
prestação dos serviços e não tiver seu aceite justificadamente recusado pelo sacado, poderá suprir a
307

ausência física do título cambiário eletrônico e, em princípio, constituir título executivo


extrajudicial. Assim, a Turma negou provimento ao recurso. REsp 1.024.691-PR, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 22/3/2011.
Informativo nº 0421. Período: 1º a 5 de fevereiro de 2010. QUARTA TURMA. DANOS
MORAIS. BANCO. ENDOSSO. DUPLICATA. A simples situação de o banco ter recebido o título
para protesto e a cobrança dentro de sua função legal não pode levá-lo a ser responsabilizado por
danos morais decorrentes do protesto indevido. A jurisprudência deste Superior Tribunal firmou-se
no sentido de que, no endosso mandato, só responde o endossatário pelo protesto indevido de
duplicata quando o fez após ser advertido da irregularidade havida seja pela falta de higidez seja
pelo seu devido pagamento. Ante o exposto, a Turma deu provimento ao recurso do banco para
restabelecer a sentença. Precedentes citados: REsp 576.174-RS, DJ 19/12/2005, e REsp 549.733-
RJ, DJ 13/9/2004. REsp 602.280-RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 2/2/2010.
Informativo nº 0396. Período: 25 a 29 de maio de 2009. QUARTA TURMA. ENDOSSO.
MANDATO. PROTESTO. LEGITIMIDADE PASSIVA. ENDOSSATÁRIO. Trata-se de recurso
em que se discute a legitimidade de instituição de crédito que levou a protesto duplicata não paga na
data do seu vencimento, transferida a ela por meio de endosso. Durante a ação declaratória de
inexistência de débito cumulada com anulatória de título cambial, foi declarada a ausência da
relação jurídica entre o emitente das cártulas e a suposta devedora, uma vez que julgada procedente
a cautelar de sustação do protesto. Se a instituição financeira desconhecia que a carta não refletia a
realidade e não foi avisada por ninguém e atempadamente que o título era ilegítimo, agindo em
absoluta boa-fé, ela não pode ser responsabilizada, muito embora seja parte legítima para figurar no
polo passivo da ação. Não era mesmo dado investigar, de antemão, se o título transferido por
endosso aparentemente sem vício formal era hígido ou não. E para sua completa isenção não pode a
referida instituição no curso da ação ter resistido ao mérito do pedido. Assim, configurada a boa-fé
e a ausência de resistência ao pedido, deve ela figurar na ação, porém não será condenada a
indenizar - somente a emitente da cártula - nem arcar com a verba sucumbencial. Precedentes
citados: REsp 549.733-RS, DJ 13/9/2004, e REsp 322.813-MG, DJ 27/6/2005. REsp 853.361-RS,
Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 26/5/2009.
Informativo nº 0395. Período: 18 a 22 de maio de 2009. QUARTA TURMA. FALÊNCIA.
DUPLICATA. EXECUÇÃO. SUSPENSÃO. A Turma não conheceu o recurso em que a recorrente
pretendia o reconhecimento de seu crédito (duplicata protestada de serviços de comissão pela venda
de imóveis), com anterior ação de sustação do citado protesto, caução equivalente ao valor do título
e com garantia real para fins de afastar rateio no juízo falimentar. No caso, por todos os ângulos em
que a questão foi analisada, não merece reparos a decisão do Tribunal a quo que determinou a
suspensão da execução, remetendo o credor ao juízo falimentar. A natureza "real" da caução
308

prestada em ação cautelar de sustação de protesto é apenas uma contraposição à natureza


fidejussória, pelo que o crédito até então quirografário não se transmuda em crédito com garantia
real, pois o domínio dos valores caucionados não foi transferido ao credor. Ademais, a garantia é
oferecida ao juízo, os valores, então, não são transferidos a crédito do requerido, motivo pelo qual
sem razão o pretendido crédito com garantia real. Por outro lado, pela antiga Lei de Falências (art.
24, § 2º, I), a regra geral é que somente as ações individuais e execuções ajuizadas antes da falência
ficam suspensas, desde que o crédito não esteja sujeito a rateio. No caso, contudo, mesmo que a
ação cautelar de arresto tenha sido ajuizada anteriormente à quebra, o crédito exequendo com
garantia real estará sujeito a rateio, sujeito à regra do art. 102 da Lei Falimentar e do art. 186 do
CTN, referente à preferência aos créditos decorrentes da legislação do trabalho, devendo, assim, ser
habilitado junto ao juízo universal da falência. Precedentes citados: REsp 34.899-SP, DJ 13/3/1995;
REsp 68.201-SP, DJ 15/8/2005; REsp 802.288-SC, DJ 14/5/2007, e REsp 594.491-RS, DJ
8/8/2005. AgRg no REsp 274.580-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/5/2009.
Informativo nº 0385. Período: 2 a 6 de março de 2009. QUARTA TURMA. DUPLICATA
SEM ACEITE. PRESCRIÇÃO. SUSTAÇÃO. PROTESTO. O recorrente alega que o ajuizamento
de ação declaratória de inexistência do título e de cautelar de sustação do protesto propostas por ele
e julgadas improcedentes não interrompem o prazo prescricional para cobrança do título de crédito.
Afirma que a execução da cártula foi promovida somente após transcorrido o prazo de três anos
estabelecido no art. 18, I, da Lei de Duplicatas. O Min. Relator ressaltou que foi concedida liminar
em ação promovida pelo devedor relativa ao título de crédito, para obstar o protesto da duplicata
mercantil emitida em negócio jurídico firmado entre os litigantes. Para o Min. Relator, a prescrição
só pode fluir na inércia do titular de determinado direito em reivindicá-lo. Na hipótese, o credor
promoveu todas as medidas que lhe cabiam para cobrança da dívida, mas teve seu direito de ação
restringido por decisão judicial. Ausente o título de crédito, que permanecia sob custódia judicial,
estava impedido de exercer seu direito cambiário e promover a execução. O embargado não poderá
ser apenado com a extinção do direito pela prescrição, quando se encontrava impossibilitado de
promover a cobrança judicial de seu crédito, seja mediante a execução do título, que se encontrava
retido em juízo, seja por intermédio de ação de cobrança, porquanto a existência da dívida estava
sob análise em ação declaratória proposta pelo devedor. Assim, a duplicata sem aceite só se
constitui em título executivo após seu devido protesto, quando se torna exigível e possibilita ao
credor manejar as ações cambiárias. Dessa forma, antes da formação do título, não há que se falar
em prescrição da pretensão executiva. A sustação de protesto deferida em medida proposta pelo
devedor, por ocasionar a custódia judicial do título de crédito, impede que o credor promova a
execução da dívida e, por conseguinte, interrompe a fluência do prazo prescricional. REsp 257.595-
SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2009.
309

Informativo nº 0372. Período: 13 a 17 de outubro de 2008. QUARTA TURMA.


DUPLICATA. VALIDADE. VALORES. OCORRÊNCIA. DANOS. A jurisprudência assente deste
Superior Tribunal afirma: para valer como documento hábil à instauração do processo executivo, a
duplicata deve conter o aceite do devedor; a falta deste, desde que protestado o título, pode ser
contornada com documento que comprove a efetiva prestação do serviço e o vínculo contratual que
o autorizou. Contudo, na espécie, a duplicata não teve origem válida, pois a emitente, além dos
serviços contratados (locação de veículos), acrescentou, no título, a quantia referente ao reparo do
automóvel em decorrência de acidente de trânsito. Assim, além de extrapolar o pactuado, tal atitude
unilateral por parte da credora impede que o devedor acompanhe a real extensão do dano, tornando
a duplicata inválida de pleno direito. Precedentes citados: REsp 40.720-MT, DJ 14/11/1994, e REsp
327.720-SP, DJ 18/2/2002. REsp 190.735-RO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
14/10/2008.
Informativo nº 0368. Período: 15 a 19 de setembro de 2008. QUARTA TURMA.
DUPLICATA. NULIDADE. VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. Atento à vedação de
venire contra factum proprium, não há como se acolher a nulidade, por falta de lastro, de duplicata
endossada e posta em circulação sem aceite, enquanto a emitente e a sacada, não obstante serem
pessoas jurídicas diversas, são administradas por um mesmo sócio cotista, responsável tanto pela
emissão quanto pelo aceite. Precedente citado: REsp 296.064-RJ, DJ 29/3/2004. REsp 957.769-PE,
Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 16/9/2008.
Informativo nº 0581 Período: 14 a 28 de abril de 2016. TERCEIRA TURMA DIREITO
EMPRESARIAL. EMISSÃO DE DUPLICATA COM BASE EM MAIS DE UMA NOTA
FISCAL. Uma só duplicata pode corresponder à soma de diversas notas fiscais parciais. A nota
fiscal é o documento comprobatório da realização de um negócio jurídico sujeito à fiscalização
tributária relativo a bens móveis ou semoventes. Assim, faz prova da entrada e saída de mercadorias
de estabelecimentos empresariais, acompanhando a sua entrega aos destinatários. A fatura, por
outro lado, consiste em nota representativa de contratos de compra e venda mercantis ou de
prestação de serviços, devendo haver, entre outras identificações, a discriminação das mercadorias
vendidas e dos preços negociados e a menção à natureza dos serviços prestados. Pode, ainda, conter
somente a indicação dos números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas,
despachos ou entregas das mercadorias (arts. 1º, caput e § 1º, e 20 da Lei n. 5.474/1968). Nas
vendas a prazo, ou seja, naquelas cujo pagamento é feito após 30 (trinta) dias, a extração da fatura é
obrigatória, sendo o termo inicial do prazo a data da entrega ou do despacho das mercadorias. Já a
duplicata é de extração facultativa, podendo ser materializada no ato da emissão da fatura,
constituindo o título de crédito genuíno para documentar o saque do vendedor pela importância
faturada ao comprador (art. 2º da Lei n. 5.474/1968). Ademais, nos termos do art. 2º, § 2º, da Lei n.
310

5.474/1968, uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura. Nesse sentido, o
seguinte precedente que reconheceu a inidoneidade de duplicata vinculada a mais de uma fatura
(REsp 577.785-SC, Terceira Turma, DJ 17/12/2004). Todavia, apesar de a duplicata só poder
espelhar uma fatura, esta pode corresponder à soma de diversas notas parciais. A nota parcial é o
documento representativo de uma venda parcial ou de venda realizada dentro do lapso de um mês,
que poderá ser agrupada a outras vendas efetivadas nesse período pelo mesmo comprador. REsp
1.356.541-MG, Rel. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/4/2016, DJe 13/4/2016.

CHEQUE
SÚMULA – 572 - O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de
Cheques sem Fundos (CCF), não tem a responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca
da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de reparação de
danos fundadas na ausência de prévia comunicação.
SÚMULA - 531 Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o
emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
SÚMULA 503 O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque
sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.
SÚMULA 388 A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
SÚMULA 370 Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
SÚMULA 299 É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.
SÚMULA 244 Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato
mediante cheque sem provisão de fundos.
SÚMULA 48 compete ao juizo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar
crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AÇÃO DE PRESTAÇÃO
DE CONTAS. SEGUNDA FASE. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA
CORRENTE. JUROS REMUNERATÓRIOS E CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DOS ENCARGOS CONTRATUAIS, QUE DEVEM SER
MANTIDOS NOS TERMOS EM QUE PRATICADOS NO CONTRATO BANCÁRIO SEM
PREJUÍZO DA POSSIBILIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO REVISIONAL. 1. Tese para
os efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973: - Impossibilidade de revisão de
cláusulas contratuais em ação de prestação de contas. 2. O titular da conta-corrente bancária tem
interesse processual para propor ação de prestação de contas, a fim de exigir do banco que esclareça
qual o destino do dinheiro que depositou, a natureza e o valor dos créditos e débitos efetivamente
ocorridos em sua conta, apurando-se, ao final, o saldo credor ou devedor. Exegese da Súmula 259.
311

3. O rito especial da ação de prestação de contas não comporta a pretensão de alterar ou revisar
cláusula contratual, em razão das limitações ao contraditório e à ampla defesa. 4. Essa
impossibilidade de se proceder à revisão de cláusulas contratuais diz respeito a todo o procedimento
da prestação de contas, ou seja, não pode o autor da ação deduzir pretensões revisionais na petição
inicial (primeira fase), conforme a reiterada jurisprudência do STJ, tampouco é admissível tal
formulação em impugnação às contas prestadas pelo réu (segunda fase). 5. O contrato de conta-
corrente com abertura de limite de crédito automático (cheque especial) é negócio jurídico
complexo. Se o cliente não utiliza o limite de crédito, não há dúvida de que o banco está
empregando o dinheiro do correntista na compensação dos cheques, ordens de pagamento e
transferências por ele autorizadas. Havendo utilização do limite do cheque especial, concretiza-se
contrato de empréstimo, cuja possibilidade era apenas prevista no contrato de abertura da conta. 6.
A taxa de juros do empréstimo tomado ao banco não diz respeito à administração dos recursos
depositados pelo autor da ação. Ela compreende a remuneração do capital emprestado e flutua,
conforme as circunstâncias do mercado e as vicissitudes particulares, em cada momento, da
instituição financeira e do cliente. A taxa de juros em tal tipo de empréstimo é informada por meios
diversos, como extratos, internet e atendimento telefônico. 7. Não se sendo a ação de prestação de
contas instrumento processual adequado à revisão de contrato de mútuo (REsp. 1.293.558/PR,
julgado sob o rito do art. 543-C do CPC/1973, relator Ministro Luís Felipe Salomão), da mesma
forma não se presta esse rito especial para a revisão de taxas de juros e demais encargos de
empréstimos obtidos por meio de abertura de limite de crédito em conta-corrente. 8. O contrato
bancário que deve nortear a prestação de contas e o respectivo julgamento - sem que caiba a sua
revisão no rito especial - não é o simples formulário assinado no início do relacionamento, mas todo
o conjunto de documentos e práticas que alicerçaram a relação das partes ao longo dos anos. Esse
feixe de obrigações e direitos não cabe alterar no exame da ação de prestação de contas. 9. Caso
concreto: incidência do óbice da Súmula n. 283 do STF, no tocante à alegação de decadência quanto
ao direito de impugnar as contas. No mérito, o Tribunal de origem, ao decidir substituir a taxa de
juros remuneratórios aplicada ao longo da relação contratual e excluir a capitalização dos juros, ao
fundamento de que não houve comprovação da pactuação de tais encargos, efetuou, na realidade,
revisão do contrato de abertura de crédito em conta corrente, o que não é compatível com o rito da
prestação de contas. 10. Recurso especial a que se dá parcial provimento para manter os juros
remuneratórios e a capitalização nos termos em que praticados no contrato em exame, sem prejuízo
da possibilidade de ajuizamento de ação revisional. (REsp 1497831/PR, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 14/09/2016, DJe 07/11/2016)
312

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. CHEQUE.


INEXISTÊNCIA DE QUITAÇÃO REGULAR DO DÉBITO REPRESENTADO PELA
CÁRTULA. TESE DE QUE OS JUROS DE MORA DEVEM FLUIR A CONTAR DA CITAÇÃO,
POR SE TRATAR DE AÇÃO MONITÓRIA. DESCABIMENTO. CORREÇÃO MONETÁRIA E
JUROS MORATÓRIOS. TEMAS DE DIREITO MATERIAL, DISCIPLINADOS PELO ART. 52,
INCISOS, DA LEI N. 7.357/1985. 1. A tese a ser firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015
(art. 543-C do CPC/1973), é a seguinte: "Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de
cheque, a correção monetária incide a partir da data de emissão estampada na cártula, e os juros de
mora a contar da primeira apresentação à instituição financeira sacada ou câmara de compensação".
2. No caso concreto, recurso especial não provido. (REsp 1556834/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/06/2016, DJe 10/08/2016)
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA DIREITO
CAMBIÁRIO E PROTESTO EXTRAJUDICIAL. CHEQUE. ORDEM DE PAGAMENTO À
VISTA. CÁRTULA ESTAMPANDO, NO CAMPO ESPECÍFICO, DATA DE EMISSÃO
DIVERSA DA PACTUADA PARA SUA APRESENTAÇÃO. CONSIDERA-SE, PARA
CONTAGEM DO PRAZO DE APRESENTAÇÃO, AQUELA CONSTANTE NO ESPAÇO
PRÓPRIO. PROTESTO, COM INDICAÇÃO DO EMITENTE DO CHEQUE COMO DEVEDOR,
AINDA QUE APÓS O PRAZO DE APRESENTAÇÃO, MAS DENTRO DO PERÍODO PARA
AJUIZAMENTO DE AÇÃO CAMBIAL DE EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. As teses a serem
firmadas, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art. 543-C do CPC/1973), são as seguintes: a) a
pactuação da pós-datação de cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à
instituição financeira sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da
cártula; b) sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto cambiário de cheque,
com a indicação do emitente como devedor. 2. No caso concreto, recurso especial parcialmente
provido. (REsp 1423464/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 27/04/2016, DJe 27/05/2016)
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA (CPC, ART. 543-C).
PROCESSUAL CIVIL. BANCÁRIO. CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
INSCRIÇÃO NO CADASTRO DE EMITENTES DE CHEQUES SEM FUNDOS - CCF.
AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. BANCO DO BRASIL. ILEGITIMIDADE PASSIVA.
OPERADOR E GESTOR DO SISTEMA. COMPARAÇÃO DO CCF COM MERO SERVIÇO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. IMPROCEDÊNCIA. RECURSO IMPROVIDO. 1. Para fins do art.
543-C do Código de Processo Civil: "O Banco do Brasil, na condição de mero operador e gestor do
Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos - CCF, não detém legitimidade passiva para
responder por danos resultantes da ausência de notificação prévia do correntista acerca de sua
313

inscrição no referido cadastro, obrigação que incumbe ao banco sacado, junto ao qual o correntista
mantém relação contratual". 2. Mostra-se equivocada a comparação entre a função, de interesse
predominantemente privado, de serviço de proteção ao crédito comercial, que opera com recursos
privados de cada empresário ou sociedade empresária, sem risco sistêmico, e a função, de interesse
público relevante, desempenhada pelo operador do CCF, de proteção de todo o sistema financeiro, o
qual opera com recursos captados com a população (economia popular). 3. Recurso especial
desprovido. (REsp 1354590/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
09/09/2015, DJe 15/09/2015)
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO MONITÓRIA APARELHADA EM CHEQUE
PRESCRITO. PRAZO QUINQUENAL PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO. INCIDÊNCIA DA
REGRA PREVISTA NO ART. 206, § 5º, INCISO I, DO CÓDIGO CIVIL. 1. Para fins do art. 543-
C do Código de Processo Civil: "O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente
de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada
na cártula". 2. Recurso especial provido. (REsp 1101412/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/12/2013, DJe 03/02/2014)
DIREITO BANCÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. CÉDULA DE CRÉDITO
BANCÁRIO VINCULADA A CONTRATO DE CRÉDITO ROTATIVO. EXEQUIBILIDADE.
LEI N. 10.931/2004. POSSIBILIDADE DE QUESTIONAMENTO ACERCA DO
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS RELATIVOS AOS DEMONSTRATIVOS DA
DÍVIDA. INCISOS I E II DO § 2º DO ART. 28 DA LEI REGENTE.
1. Para fins do art. 543-C do CPC: A Cédula de Crédito Bancário é título executivo
extrajudicial, representativo de operações de crédito de qualquer natureza, circunstância que
autoriza sua emissão para documentar a abertura de crédito em conta-corrente, nas modalidades de
crédito rotativo ou cheque especial. O título de crédito deve vir acompanhado de claro
demonstrativo acerca dos valores utilizados pelo cliente, trazendo o diploma legal, de maneira
taxativa, a relação de exigências que o credor deverá cumprir, de modo a conferir liquidez e
exequibilidade à Cédula (art. 28, § 2º, incisos I e II, da Lei n. 10.931/2004). 3. No caso concreto,
recurso especial não provido. (REsp 1291575/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/08/2013, DJe 02/09/2013)
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA
MULTITUDINÁRIA. SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC. AÇÃO RESCISÓRIA
PROPOSTA POR CONSÓRCIO NACIONAL FORD LTDA COM O OBJETIVO DE
RESCINDIR ACÓRDÃO QUE O CONDENOU À RESTITUIÇÃO DAS COTAS DE
314

CONSORCIADOS DESISTENTES. COMARCA DE PARANAVAÍ. ERRO DE FATO. NÃO


CONFIGURAÇÃO. PROVA DO ERRO QUE NÃO CONSTA DOS AUTOS DO PROCESSO
ORIGINÁRIO. MICROFILMES DE CHEQUES NOMINAIS. DOCUMENTOS NOVOS. ART.
485, VII, DO CPC. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO RESCISÓRIO. VERIFICAÇÃO DA
REGULARIDADE DOS DOCUMENTOS EM FACE DA LEI N. 5.433/68 E DO DECRETO
1.799/96 E ANÁLISE DA CONFIGURAÇÃO DE LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ POR PARTE DOS
REÚS. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. 1. Recurso especial representativo de controvérsia multitudinária, considerando o
ajuizamento de mais de duas mil ações na Comarca de Paranavaí/PR, por meio das quais
consorciados desistentes residentes em diversos Estados da Federação e representados pelos
mesmos advogados buscavam a restituição das cotas pagas ao Consórcio Nacional Ford. 2. Ação
rescisória ajuizada pelo Consórcio Nacional Ford com o objetivo de rescindir o acórdão que o
condenou à restituição das cotas pagas, com fundamento em erro de fato e em documento novo. 3.
Não configuração do erro de fato, pois a prova do erro não constou dos autos do processo
originário, conforme determina o art. 485, IX, do CPC, tendo sido apresentada apenas na ação
rescisória. 4. Microfilmes de cheques nominais emitidos pelo Consórcio Nacional Ford configuram
documentos novos, nos termos do art. 485, VII, do CPC, aptos a respaldar o pedido rescisório por
comprovarem que a restituição das parcelas pagas pelo consorciado desistente já havia ocorrido
antes do julgamento do processo originário. 5. A verificação da regularidade dos microfilmes
apresentados em face do disposto na Lei n. 5.433/68 e no Decreto n. 1.799/96 e a análise da
configuração de litigância de má-fé por parte dos réus não se mostra possível nesta instância
especial, por exigir o reexame de matéria fático-probatória, que é vedado pela Súmula 7/STJ. 6.
Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil, a tese a ser firmada é a seguinte: "Em sede de
ação rescisória, microfilmes de cheques nominais emitidos por empresa de consórcio configuram
documentos novos, nos termos do art. 485, VII, do CPC, aptos a respaldar o pedido rescisório por
comprovarem que a restituição das parcelas pagas pelo consorciado desistente já havia ocorrido
antes do julgamento do processo originário." 7. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE
E DESPROVIDO. (REsp 1114605/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/06/2013, DJe 17/06/2013)
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA
MULTITUDINÁRIA. SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC. AÇÃO RESCISÓRIA
PROPOSTA POR CONSÓRCIO NACIONAL FORD LTDA COM O OBJETIVO DE
RESCINDIR ACÓRDÃO QUE O CONDENOU À RESTITUIÇÃO DAS COTAS DE
CONSORCIADOS DESISTENTES. COMARCA DE PARANAVAÍ. ERRO DE FATO. NÃO
CONFIGURAÇÃO. PROVA DO ERRO QUE NÃO CONSTA DOS AUTOS DO PROCESSO
315

ORIGINÁRIO. MICROFILMES DE CHEQUES NOMINAIS. DOCUMENTOS NOVOS. ART.


485, VII, DO CPC. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO RESCISÓRIO. VERIFICAÇÃO DA
REGULARIDADE DOS DOCUMENTOS EM FACE DA LEI N. 5.433/68 E DO DECRETO
1.799/96 E ANÁLISE DA CONFIGURAÇÃO DE LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ POR PARTE DOS
REÚS. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ. 1. Recurso especial representativo de controvérsia multitudinária, considerando o
ajuizamento de mais de duas mil ações na Comarca de Paranavaí/PR, por meio das quais
consorciados desistentes residentes em diversos Estados da Federação e representados pelos
mesmos advogados buscavam a restituição das cotas pagas ao Consórcio Nacional Ford. 2. Ação
rescisória ajuizada pelo Consórcio Nacional Ford com o objetivo de rescindir o acórdão que o
condenou à restituição das cotas pagas, com fundamento em erro de fato e em documento novo. 3.
Não configuração do erro de fato, pois a prova do erro não constou dos autos do processo
originário, conforme determina o art. 485, IX, do CPC, tendo sido apresentada apenas na ação
rescisória. 4. Microfilmes de cheques nominais emitidos pelo Consórcio Nacional Ford configuram
documentos novos, nos termos do art. 485, VII, do CPC, aptos a respaldar o pedido rescisório por
comprovarem que a restituição das parcelas pagas pelo consorciado desistente já havia ocorrido
antes do julgamento do processo originário. 5. A verificação da regularidade dos microfilmes
apresentados em face do disposto na Lei n. 5.433/68 e no Decreto n. 1.799/96 e a análise da
configuração de litigância de má-fé por parte dos réus não se mostra possível nesta instância
especial, por exigir o reexame de matéria fático-probatória, que é vedado pela Súmula 7/STJ. 6.
Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil, a tese a ser firmada é a seguinte: "Em sede de
ação rescisória, microfilmes de cheques nominais emitidos por empresa de consórcio configuram
documentos novos, nos termos do art. 485, VII, do CPC, aptos a respaldar o pedido rescisório por
comprovarem que a restituição das parcelas pagas pelo consorciado desistente já havia ocorrido
antes do julgamento do processo originário." 7. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. (REsp
1135563/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 12/06/2013, DJe 17/06/2013)
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO MONITÓRIA APARELHADA EM CHEQUE
PRESCRITO. DISPENSA DA MENÇÃO À ORIGEM DA DÍVIDA. 1. Para fins do art. 543-C do
CPC: Em ação monitória fundada em cheque prescrito, ajuizada em face do emitente, é dispensável
menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula. 2. No caso concreto, recurso especial
parcialmente provido. (REsp 1094571/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 04/02/2013, DJe 14/02/2013)
316

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. JULGAMENTO


PELA SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC. RESPONSABILIDADE CIVIL.
INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS. DANOS CAUSADOS POR FRAUDES E DELITOS
PRATICADOS POR TERCEIROS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO INTERNO.
RISCO DO EMPREENDIMENTO. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: As instituições bancárias
respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros -
como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou
utilização de documentos falsos -, porquanto tal responsabilidade decorre do risco do
empreendimento, caracterizando-se como fortuito interno. 2. Recurso especial provido. (REsp
1197929/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
24/08/2011, DJe 12/09/2011)
AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. COBRANÇA. TÍTULO DE CRÉDITO.
CHEQUE SEM FORÇA EXECUTIVA. PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. 1. O ajuizamento de
ação anulatória, pelo devedor, interrompe a prescrição. Precedentes. 2. Agravo interno a que se
nega provimento. (AgInt no REsp 1542041/DF, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
QUARTA TURMA, julgado em 16/10/2018, DJe 23/10/2018)
RECURSO ESPECIAL. RELAÇÃO DE CONSUMO. PREVENÇÃO DE DANOS
INDEVIDOS AO CONSUMIDOR. DEVER DO FORNECEDOR. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO
EM PAGAMENTO. FORMA VÁLIDA DE EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO. ADIMPLEMENTO
DAS OBRIGAÇÕES. INTERESSE SOCIAL. CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO POR
TERCEIRO. POSSIBILIDADE. INTERESSE JURÍDICO. PRESCINDIBILIDADE. TÍTULO DE
CRÉDITO. QUITAÇÃO DE DÉBITO PARA CANCELAMENTO DE PROTESTO DE CLIENTE
ENSEJADO POR FORTUITO INTERNO. VIABILIDADE. 1. O vínculo obrigacional como
relação dinâmica revela o reconhecimento de deveres secundários, ou anexos, da obrigação, que
incidem de forma direta nas relações obrigacionais, prescindindo da manifestação de vontade dos
participantes e impondo às partes o dever de zelar pelo cumprimento satisfatório dos interesses da
outra parte, vista no direito moderno como parceira contratual. 2. O procedimento da consignação
em pagamento existe para atender as peculiaridades do direito material, cabendo às regras
processuais regulamentar tão somente o iter para o reconhecimento judicial da eficácia liberatória
do pagamento especial, constituindo o depósito em consignação modo de extinção da obrigação,
com força de pagamento. 3. Ressalvadas as obrigações infungíveis ou personalíssimas, que somente
o devedor pode cumprir, como há interesse social no adimplemento das obrigações, o direito admite
que um terceiro venha a pagar a dívida, não se vislumbrando prejuízo algum para o credor que
recebe o pagamento de pessoa diversa do devedor, contanto que seu interesse seja atendido. O
Código Civil, porém, distingue a disciplina aplicável conforme o terceiro possua ou não interesse
317

jurídico no pagamento (arts. 304 a 306 do CC). 4. Por um lado, muito embora o art. 304 do CC
assegure que pode o interessado pagar a dívida, interesse caracterizado pelo fato de a situação
jurídica do terceiro sofrer repercussões com a relação obrigacional existente entre o credor e o
devedor, o art. 305 do mesmo diploma legal disciplina a situação de o terceiro não interessado pagar
em seu próprio nome, e o art. 306 do diploma civilista cuida da hipótese de pagamento feito por
terceiro com desconhecimento ou oposição do devedor. 5. Por outro lado, é nítido que o banco autor
da ação tem interesse jurídico, já que tem o dever de não causar danos à consumidora,
reconhecendo haver verossimilhança na afirmação de sua cliente acerca de extravio do talonário e
de sua falha na devolução do cheque, constando como motivo a inexistência de fundos (o que
propiciou o protesto a envolver o nome de sua cliente). 6. É patente a idoneidade do instrumento
processual utilizado, pois o autor expõe na inicial não ter sido possível localizar a portadora do
título levado a protesto, para quitação da obrigação e resgate da cártula protestada. Nesse passo,
quando a extinção da obrigação decorrer de processo judicial, o cancelamento do registro do
protesto poderá ser requerido com a apresentação da certidão expedida pelo juízo processante, com
elementos que identifiquem o documento de dívida protestado com menção do trânsito em julgado,
que substituirá o documento protestado (art. 26, § 4º, da Lei n. 9.492/1997). 7. Recurso especial
provido. (REsp 1318747/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 04/10/2018, DJe 31/10/2018)

CONTRATOS EMPRESARIAIS – ASPECTOS GERAIS


RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO DE
ESPAÇO EM SHOPPING CENTER. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO.
APLICAÇÃO DO ART. 54 DA LEI DE LOCAÇÕES. COBRANÇA EM DOBRO DO ALUGUEL
NO MÊS DE DEZEMBRO. CONCREÇÃO DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA.
NECESSIDADE DE RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA OBRIGATORIEDADE ("PACTA SUNT
SERVANDA") E DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS ("INTER ALIOS ACTA").
MANUTENÇÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS LIVREMENTE PACTUADAS.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Afastamento pelo acórdão recorrido de cláusula livremente
pactuada entre as partes, costumeiramente praticada no mercado imobiliário, prevendo, no contrato
de locação de espaço em shopping center, o pagamento em dobro do aluguel no mês de dezembro.
2. O controle judicial sobre eventuais cláusulas abusivas em contratos empresariais é mais restrito
do que em outros setores do Direito Privado, pois as negociações são entabuladas entre
profissionais da área empresarial, observando regras costumeiramente seguidas pelos integrantes
desse setor da economia. 3. Concreção do princípio da autonomia privada no plano do Direito
Empresarial, com maior força do que em outros setores do Direito Privado, em face da necessidade
318

de prevalência dos princípios da livre iniciativa, da livre concorrência e da função social da


empresa. 4. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (REsp 1409849/PR, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 05/05/2016)
DIREITO EMPRESARIAL. CONTRATOS. COMPRA E VENDA DE COISA FUTURA
(SOJA). TEORIA DA IMPREVISÃO. ONEROSIDADE EXCESSIVA. INAPLICABILIDADE. 1.
Contratos empresariais não devem ser tratados da mesma forma que contratos cíveis em geral ou
contratos de consumo. Nestes admite-se o dirigismo contratual. Naqueles devem prevalecer os
princípios da autonomia da vontade e da força obrigatória das avenças. 2. Direito Civil e Direito
Empresarial, ainda que ramos do Direito Privado, submetem-se a regras e princípios próprios. O
fato de o Código Civil de 2002 ter submetido os contratos cíveis e empresariais às mesmas regras
gerais não significa que estes contratos sejam essencialmente iguais. 3. O caso dos autos tem
peculiaridades que impedem a aplicação da teoria da imprevisão, de que trata o art. 478 do
CC/2002: (i) os contratos em discussão não são de execução continuada ou diferida, mas contratos
de compra e venda de coisa futura, a preço fixo, (ii) a alta do preço da soja não tornou a prestação
de uma das partes excessivamente onerosa, mas apenas reduziu o lucro esperado pelo produtor rural
e (iii) a variação cambial que alterou a cotação da soja não configurou um acontecimento
extraordinário e imprevisível, porque ambas as partes contratantes conhecem o mercado em que
atuam, pois são profissionais do ramo e sabem que tais flutuações são possíveis. 5. Recurso especial
conhecido e provido. (REsp 936.741/GO, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 03/11/2011, DJe 08/03/2012)
PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ESPECIAL - COMPETÊNCIA - FORO DE
ELEIÇÃO - EMPRESAS DE GRANDE PORTE - ALTO VALOR DO CONTRATO -
MONTADORA DE VEÍCULOS E CONCESSIONÁRIA - PRECEDENTES DA 2ª SEÇÃO. 1 -
Contratos firmados entre montadora e concessionária de veículos constituem contratos empresariais
pactuados entre empresas de porte, financeiramente capazes de demandar no foro de eleição
contratual. 2 - A mera circunstância de a montadora de veículos ser empresa de maior porte do que
a concessionária não é suficiente, por si só, a afastar o foro eleito. 3 - Recurso especial conhecido e
provido para reconhecer a competência do foro de eleição, qual seja, da cidade de São Bernardo do
Campo/SP, para o processo e julgamento do feito. (REsp 827.318/RS, Rel. Ministro JORGE
SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 12/09/2006, DJ 09/10/2006, p. 309)

CONTRATO DE FRANQUIA
PROCESSO CIVIL. ALEGAÇÃO DE SENTENÇA CITRA PETITA. AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. ISS. EMPRESA FRANQUEADA QUE PRESTA
319

SERVIÇOS POSTAIS E TELEMÁTICOS. DECRETO-LEI 406/68 E LC 56/87. NÃO-


INCIDÊNCIA. PERÍODO ANTERIOR À EDIÇÃO DA LC 116/03. 1. Os serviços postais e
telemáticos prestados por empresas franqueadas, sob a égide da LC 56/87, não sofrem a incidência
do ISS, em observância ao princípio tributário da legalidade. (Precedentes: AgRg no REsp
1061014/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/12/2008, DJe 16/02/2009; AgRg no Ag 1111131/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 23/06/2009; AgRg no REsp 725.768/RJ, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/02/2009, DJe 24/03/2009;
REsp 1066071/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em
07/08/2008, DJe 20/08/2008; REsp 873.440/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 13/11/2007, DJ 03/12/2007; REsp 373.986/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2006, DJ 06/04/2006; RESP 189.225-RJ, DJ
de 03.06.2002, Rel. Min. Peçanha Martins). 2. O Decreto-Lei 406/68 estabeleceu como fato gerador
do ISS a prestação, por empresa ou profissional autônomo, com ou sem estabelecimento fixo, de
serviço constante da lista anexa ao diploma legal, ainda que sua prestação envolvesse o
fornecimento de mercadoria. 3. A citada lista de Serviços, anexa ao Decreto-Lei 406/68, com a
redação dada pela Lei Complementar 56, de 15 de dezembro de 1987, dispunha sobre a atividade de
"Agenciamento, corretagem ou intermediação de contratos de franquia (franchise) e de faturação
(factoring) (excetuam-se os serviços prestados por instituições autorizadas a funcionar pelo Banco
Central);" (Item 48). 4. A franquia não era listada como serviço pelo legislador complementar, mas,
antes, as atividades de corretagem, agenciamento e intermediação que a tivessem por objeto,
situação jurídica que restou modificada pela Lei Complementar 116, de 31 de julho de 2003, que
revogou os artigos 8º, 10, 11 e 12, do Decreto-Lei 406/68, bem como a Lei Complementar 56/87,
entre outros, enunciando, no item 26.01 de sua lista anexa, como hipótese de incidência do ISS, os
"serviços de coleta, remessa ou entrega de correspondências, documentos, objetos, bens ou valores,
inclusive pelos correios e suas agências franqueadas". 5. In casu, verifica-se a inaplicabilidade da
aludida Lei Complementar, porquanto referente a período anterior, ainda sob a égide da LC 56/87,
consoante se dessume da sentença de procedência integral do pedido de anulação dos lançamentos
tributários, prolatada na data de 16/12/2002. 6. Impende salientar o reconhecimento, pelas
instâncias ordinárias, da natureza de franquia relativa ao contrato em tela, tendo restado assentado
pelo juízo singular, in verbis: "É pacífico que o desempenho da atividade de franqueado não
constitui hipótese de incidência do imposto sobre serviços. A compreensão do Superior Tribunal de
Justiça é, no particular, de tal modo entusiástica que desencoraja digressão dissonante. (...) A
situação da autora, não apenas pela denominação dada ao pacto, entrosa-se coma definição de
serviço franqueado. (...) De tal sorte, não tenho dificuldade em vincular o instrumento negocial de
320

fls. 30 e seguintes com uma característica franquia." 7. A alegada violação dos arts. 128 e 535 do
CPC, ao argumento de omissão no tocante a pedidos declinados na inicial, não restou configurada,
uma vez que, não tendo havido sucumbência da recorrente, mostra-se ausente seu interesse recursal.
Ademais, manifestou-se o acórdão recorrido quanto à questão, no sentido de que "verifica-se que o
pedido da autora restringe-se à restituição dos valores eventualmente recolhidos a título de ISS,
caso houvesse pagamento durante o trâmite da lide, o que de fato não ocorreu." 8. A admissão do
recurso especial pela alínea "c" do permissivo constitucional exige a demonstração do dissídio na
forma prevista pelo RISTJ, com a demonstração analítica das circunstâncias que assemelham os
casos confrontados, bem como pela juntada de certidão ou de cópia integral do acórdão paradigma,
ou, ainda, a citação do repertório oficial de jurisprudência que o publicou. In casu, o dissídio
jurisprudencial não restou demonstrado nos moldes exigidos pelo RISTJ. 9. Recurso Especial
parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do
CPC e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1131872/SC, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 09/12/2009, DJe 01/02/2010)
Informativo nº 0591. Período: 4 a 18 de outubro de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. INCIDÊNCIA DO ART. 4º, § 2º, DA LEI DE ARBITRAGEM EM
CONTRATOS DE FRANQUIA. Em contrato de franquia, "a cláusula compromissória só terá
eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com
a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou
visto especialmente para essa cláusula" (art. 4º, § 2º, da Lei de Arbitragem). Inicialmente, no
contrato de franquia não há uma relação de consumo tutelada pelo CDC, mas de fomento
econômico, com intuito de estimular as atividades empresariais do franqueado (REsp 632.958-AL,
Quarta Turma, DJe 29/3/2010; e REsp 687.322-RJ, Terceira Turma, DJe 9/10/2006). Assim, não há
incidência das regras protetivas do CDC a esses contratos, não se admitindo a alegação de nulidade
do compromisso arbitral com base no disposto no art. 51, VII, do CDC, que proíbe a utilização
compulsória de arbitragem. Com fundamento em doutrina e em julgados do STJ, acrescente-se que
o contrato de franquia ou franchising é inegavelmente um contrato de adesão. Quanto à
diferenciação segundo a qual contratos "por adesão" são distintos de contratos "de adesão", essa
sutileza sintática é incapaz de representar alguma diferença semântica relevante, pois o Direito não
trata de forma distinta essas duas supostas categorias. Além de irrelevante para a resolução da
controvérsia a distinção semântica entre contratos "de adesão" e aqueles "por adesão", também não
há embasamento jurídico para limitar o alcance do disposto no art. 4º, § 2º, da Lei n. 9.307/1996
(Lei de Arbitragem) aos contratos representativos de relações de consumo. O contrato de adesão é
apenas uma técnica para a formação de contratos, quando exigências de economias de escala e de
uniformização do produto ou serviço se impõem a determinado segmento econômico, mas não é
321

tipo ou categoria autônoma de contrato. Não podemos, assim, limitar os contratos de adesão apenas
às relações de consumo, pois, como visto, é pacífico na jurisprudência do STJ que os contratos de
franquia não consubstanciam relações de consumo, mas utilizam essa técnica para a formação dos
contratos. Ao comentar especificamente o dispositivo em análise da Lei de Arbitragem, doutrina
entende que sua função não é outra que não a de favorecer o contratante economicamente mais
fraco, a fim de evitar a imposição de arbitragem como mecanismo de solução de controvérsias, ao
prever requisitos para a validade do compromisso arbitral em contratos de adesão. Assim, com o §
2º do art. 4º da Lei de Arbitragem, busca-se evitar que a cláusula de compromisso arbitral seja
incluída de forma leviana entre todas as demais cláusulas do contrato. Por força dessa regra
específica, todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de
consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei de
Arbitragem. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016, DJe 30/9/2016.
Informativo nº 0291. Período: 1º a 4 de agosto de 2006. SEGUNDA TURMA. ART. 2º, LEI
DE FRANQUIAS E ART. 110 DO CTN. RESP. A Lei Complementar n. 116/2003 incluiu no rol de
serviços a franquia (franchising). Outrossim, ainda que sob a alegação de violação do art. 110 do
CTN, descabe sua análise exegética em sede de recurso especial por se tratar da prevalência de
norma constitucional. Precedentes citados: REsp 550.099-SC, DJ 1º/2/2006; AgRg no REsp
741.435-SP, DJ 19/12/2005; AgRg no REsp 740.376-SP, DJ 12/12/2005, e AgRg no REsp 721.123-
SP, DJ 24/10/2005. REsp 840.211-RJ, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 3/8/2006.

CONTRATO DE LEASING
SÚMULA 564 - No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro,
quando a soma da importância antecipada a título de valor residual garantido (VRG) com o valor da
venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de
receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de
outras despesas ou encargos pactuados.
SÚMULA 369 No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula
resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora.
SÚMULA 293 A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza
o contrato de arrendamento mercantil.
SÚMULA 138 O ISS incide na operação de arrendamento mercantil de coisas moveis.
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.
ART. 543-C DO CPC. EXEQUIBILIDADE DE SENTENÇAS NÃO CONDENATÓRIAS.
ARTIGO 475-N, I, DO CPC. 1. Para fins do art. 543-C do CPC, firma-se a seguinte tese: "A
sentença, qualquer que seja sua natureza, de procedência ou improcedência do pedido, constitui
322

título executivo judicial, desde que estabeleça obrigação de pagar quantia, de fazer, não fazer ou
entregar coisa, admitida sua prévia liquidação e execução nos próprios autos". 2. No caso, não
obstante tenha sido reconhecida a relação obrigacional entre as partes, decorrente do contrato de
arrendamento mercantil, ainda é controvertida a existência ou não de saldo devedor - ante o
depósito de várias somas no decorrer do processo pelo executado - e, em caso positivo, qual o seu
montante atualizado. Sendo perfeitamente possível a liquidação da dívida previamente à fase
executiva do julgado, tal qual se dá com as decisões condenatórias carecedoras de liquidez, deve
prosseguir a execução, sendo certa a possibilidade de sua extinção se verificada a plena quitação do
débito exequendo. 3. Recurso especial provido. (REsp 1324152/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 04/05/2016, DJe 15/06/2016)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DIVERGÊNCIA.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. JUROS COMPOSTOS. MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36/2001.
RECURSOS REPETITIVOS. CPC, ART. 543-C. TARIFAS ADMINISTRATIVAS PARA
ABERTURA DE CRÉDITO (TAC), E EMISSÃO DE CARNÊ (TEC). EXPRESSA PREVISÃO
CONTRATUAL. COBRANÇA. LEGITIMIDADE. PRECEDENTES. MÚTUO ACESSÓRIO
PARA PAGAMENTO PARCELADO DO IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS
(IOF). POSSIBILIDADE. 1. "A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir
pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior
ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada" (2ª
Seção, REsp 973.827/RS, julgado na forma do art. 543-C do CPC, acórdão de minha relatoria, DJe
de 24.9.2012). 2. Nos termos dos arts. 4º e 9º da Lei 4.595/1964, recebida pela Constituição como
lei complementar, compete ao Conselho Monetário Nacional dispor sobre taxa de juros e sobre a
remuneração dos serviços bancários, e ao Banco Central do Brasil fazer cumprir as normas
expedidas pelo CMN. 3. Ao tempo da Resolução CMN 2.303/1996, a orientação estatal quanto à
cobrança de tarifas pelas instituições financeiras era essencialmente não intervencionista, vale dizer,
"a regulamentação facultava às instituições financeiras a cobrança pela prestação de quaisquer tipos
de serviços, com exceção daqueles que a norma definia como básicos, desde que fossem
efetivamente contratados e prestados ao cliente, assim como respeitassem os procedimentos
voltados a assegurar a transparência da política de preços adotada pela instituição." 4. Com o início
da vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários
prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedida pelo Banco Central do Brasil. 5. A Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e a
Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) não foram previstas na Tabela anexa à Circular BACEN
3.371/2007 e atos normativos que a sucederam, de forma que não mais é válida sua pactuação em
323

contratos posteriores a 30.4.2008. 6. A cobrança de tais tarifas (TAC e TEC) é permitida, portanto,
se baseada em contratos celebrados até 30.4.2008, ressalvado abuso devidamente comprovado caso
a caso, por meio da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso
concreto, não bastando a mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do
magistrado. 7. Permanece legítima a estipulação da Tarifa de Cadastro, a qual remunera o serviço
de "realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e informações
cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao inicio de relacionamento decorrente
da abertura de conta de depósito à vista ou de poupança ou contratação de operação de crédito ou de
arrendamento mercantil, não podendo ser cobrada cumulativamente" (Tabela anexa à vigente
Resolução CMN 3.919/2010, com a redação dada pela Resolução 4.021/2011). 8. É lícito aos
contratantes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF)
por meio financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos
contratuais. 9. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª Tese: Nos contratos bancários
celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era válida a pactuação das
tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o
mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a
vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários
prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a
contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou
outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro
expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente
pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. - 3ª
Tese: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de
Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos
encargos contratuais. 10. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1251331/RS, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/08/2013, DJe 24/10/2013)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. COMPENSAÇÃO/REPETIÇÃO SIMPLES DO INDÉBITO. RECURSOS
REPETITIVOS. TARIFAS BANCÁRIAS. TAC E TEC. EXPRESSA PREVISÃO
CONTRATUAL. COBRANÇA. LEGITIMIDADE. PRECEDENTES. FINANCIAMENTO DO
IOF. POSSIBILIDADE. 1. A comissão de permanência não pode ser cumulada com quaisquer
outros encargos remuneratórios ou moratórios (enunciados Súmulas 30, 294 e 472 do STJ). 2.
Tratando-se de relação de consumo ou de contrato de adesão, a compensação/repetição simples do
324

indébito independe da prova do erro (Enunciado 322 da Súmula do STJ). 3. Nos termos dos arts. 4º
e 9º da Lei 4.595/1964, recebida pela Constituição como lei complementar, compete ao Conselho
Monetário Nacional dispor sobre taxa de juros e sobre a remuneração dos serviços bancários, e ao
Banco Central do Brasil fazer cumprir as normas expedidas pelo CMN. 4. Ao tempo da Resolução
CMN 2.303/1996, a orientação estatal quanto à cobrança de tarifas pelas instituições financeiras era
essencialmente não intervencionista, vale dizer, "a regulamentação facultava às instituições
financeiras a cobrança pela prestação de quaisquer tipos de serviços, com exceção daqueles que a
norma definia como básicos, desde que fossem efetivamente contratados e prestados ao cliente,
assim como respeitassem os procedimentos voltados a assegurar a transparência da política de
preços adotada pela instituição." 5. Com o início da vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em
30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às
hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pelo Banco Central do Brasil.
6. A Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e a Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) não foram
previstas na Tabela anexa à Circular BACEN 3.371/2007 e atos normativos que a sucederam, de
forma que não mais é válida sua pactuação em contratos posteriores a 30.4.2008. 7. A cobrança de
tais tarifas (TAC e TEC) é permitida, portanto, se baseada em contratos celebrados até 30.4.2008,
ressalvado abuso devidamente comprovado caso a caso, por meio da invocação de parâmetros
objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não bastando a mera remissão a conceitos
jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do magistrado. 8. Permanece legítima a estipulação da
Tarifa de Cadastro, a qual remunera o serviço de "realização de pesquisa em serviços de proteção ao
crédito, base de dados e informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao
inicio de relacionamento decorrente da abertura de conta de depósito à vista ou de poupança ou
contratação de operação de crédito ou de arrendamento mercantil, não podendo ser cobrada
cumulativamente" (Tabela anexa à vigente Resolução CMN 3.919/2010, com a redação dada pela
Resolução 4.021/2011). 9. É lícito aos contratantes convencionar o pagamento do Imposto sobre
Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio financiamento acessório ao mútuo principal,
sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. 10. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: - 1ª
Tese: Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN
2.303/96) era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê
(TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em
cada caso concreto. - 2ª Tese: Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a
cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses
taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então,
não mais tem respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de
Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a
325

Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade


monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a
instituição financeira. - 3ª Tese: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre
Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao mútuo principal,
sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. 11 . Recurso especial conhecido e parcialmente
provido. (REsp 1255573/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 28/08/2013, DJe 24/10/2013)
RECURSO ESPECIAL. REPETITIVO. RITO DO ARTIGO 543-C DO CPC.
ARRENDAMENTO MERCANTIL. LEASING. INADIMPLEMENTO. REINTEGRAÇÃO DE
POSSE. VALOR RESIDUAL GARANTIDOR (VRG). FORMA DE DEVOLUÇÃO. 1. Para os
efeitos do artigo 543-C do CPC: "Nas ações de reintegração de posse motivadas por
inadimplemento de arrendamento mercantil financeiro, quando o produto da soma do VRG quitado
com o valor da venda do bem for maior que o total pactuado como VRG na contratação, será direito
do arrendatário receber a diferença, cabendo, porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de
outras despesas ou encargos contratuais". 2. Aplicação ao caso concreto: recurso especial
parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (REsp 1099212/RJ, Rel. Ministro MASSAMI
UYEDA, Rel. p/ Acórdão Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 27/02/2013, DJe 04/04/2013)
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL.
INCIDÊNCIA DE ISS SOBRE ARRENDAMENTO MERCANTIL FINANCEIRO. QUESTÃO
PACIFICADA PELO STF POR OCASIÃO DO JULGAMENTO DO RE 592.905/SC, REL. MIN.
EROS GRAU, DJE 05.03.2010. SUJEITO ATIVO DA RELAÇÃO TRIBUTÁRIA NA
VIGÊNCIA DO DL 406/68: MUNICÍPIO DA SEDE DO ESTABELECIMENTO PRESTADOR.
APÓS A LEI 116/03: LUGAR DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. LEASING. CONTRATO
COMPLEXO. A CONCESSÃO DO FINANCIAMENTO É O NÚCLEO DO SERVIÇO NA
OPERAÇÃO DE LEASING FINANCEIRO, À LUZ DO ENTENDIMENTO DO STF. O
SERVIÇO OCORRE NO LOCAL ONDE SE TOMA A DECISÃO ACERCA DA APROVAÇÃO
DO FINANCIAMENTO, ONDE SE CONCENTRA O PODER DECISÓRIO, ONDE SE SITUA A
DIREÇÃO GERAL DA INSTITUIÇÃO. O FATO GERADOR NÃO SE CONFUNDE COM A
VENDA DO BEM OBJETO DO LEASING FINANCEIRO, JÁ QUE O NÚCLEO DO SERVIÇO
PRESTADO É O FINANCIAMENTO. IRRELEVANTE O LOCAL DA CELEBRAÇÃO DO
CONTRATO, DA ENTREGA DO BEM OU DE OUTRAS ATIVIDADES PREPARATÓRIAS E
AUXILIARES À PERFECTIBILIZAÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA, A QUAL SÓ OCORRE
EFETIVAMENTE COM A APROVAÇÃO DA PROPOSTA PELA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. BASE DE CÁLCULO. PREJUDICADA A ANÁLISE DA ALEGADA
326

VIOLAÇÃO DO ART. 148 DO CTN E 9 DO DL 406/68. RECURSO ESPECIAL DE POTENZA


LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL PARCIALMENTE PROVIDO PARA
JULGAR PROCEDENTES OS EMBARGOS À EXECUÇÃO E RECONHECER A
ILEGITIMIDADE ATIVA DO MUNICÍPIO DE TUBARÃO/SC PARA EXIGIR O IMPOSTO.
INVERSÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. ACÓRDÃO SUBMETIDO AO
PROCEDIMENTO DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO 8/STJ. 1. O colendo STF já
afirmou (RE 592. 905/SC) que ocorre o fato gerador da cobrança do ISS em contrato de
arrendamento mercantil. O eminente Ministro EROS GRAU, relator daquele recurso, deixou claro
que o fato gerador não se confunde com a venda do bem objeto do leasing financeiro, já que o
núcleo do serviço prestado é o financiamento. 2. No contrato de arrendamento mercantil financeiro
(Lei 6.099/74 e Resolução 2.309/96 do BACEN), uma empresa especialmente dedicada a essa
atividade adquire um bem, segundo especificações do usuário/consumidor, que passa a ter a sua
utilização imediata, com o pagamento de contraprestações previamente acertadas, e opção de, ao
final, adquiri-lo por um valor residual também contratualmente estipulado. Essa modalidade de
negócio dinamiza a fruição de bens e não implica em imobilização contábil do capital por parte do
arrendatário: os bens assim adquiridos entram na contabilidade como custo operacional (art. 11 e 13
da Lei 6.099/74). Trata-se de contrato complexo, de modo que o enfrentamento da matéria obriga a
identificação do local onde se perfectibiliza o financiamento, núcleo da prestação do serviços nas
operações de leasing financeiro, à luz do entendimento que restou sedimentado no Supremo
Tribunal Federal. 3. O art. 12 do DL 406/68, com eficácia reconhecida de lei complementar,
posteriormente revogado pela LC 116/2003, estipulou que, à exceção dos casos de construção civil
e de exploração de rodovias, o local da prestação do serviço é o do estabelecimento prestador. 4. A
opção legislativa representa um potente duto de esvaziamento das finanças dos Municípios
periféricos do sistema bancário, ou seja, através dessa modalidade contratual se instala um
mecanismo altamente perverso de sua descapitalização em favor dos grandes centros financeiros do
País. 5. A interpretação do mandamento legal leva a conclusão de ter sido privilegiada a segurança
jurídica do sujeito passivo da obrigação tributária, para evitar dúvidas e cobranças de impostos em
duplicata, sendo certo que eventuais fraudes (como a manutenção de sedes fictícias) devem ser
combatidas por meio da fiscalização e não do afastamento da norma legal, o que traduziria
verdadeira quebra do princípio da legalidade tributária. 6. Após a vigência da LC 116/2003 é que se
pode afirmar que, existindo unidade econômica ou profissional do estabelecimento prestador no
Município onde o serviço é perfectibilizado, ou seja, onde ocorrido o fato gerador tributário, ali
deverá ser recolhido o tributo. 7. O contrato de leasing financeiro é um contrato complexo no qual
predomina o aspecto financeiro, tal qual assentado pelo STF quando do julgamento do RE
592.905/SC, Assim, há se concluir que, tanto na vigência do DL 406/68 quanto na vigência da LC
327

116//203, o núcleo da operação de arrendamento mercantil, o serviço em si, que completa a relação
jurídica, é a decisão sobre a concessão, a efetiva aprovação do financiamento. 8. As grandes
empresas de crédito do País estão sediadas ordinariamente em grandes centros financeiros de
notável dinamismo, onde centralizam os poderes decisórios e estipulam as cláusulas contratuais e
operacionais para todas suas agências e dependências. Fazem a análise do crédito e elaboram o
contrato, além de providenciarem a aprovação do financiamento e a consequente liberação do valor
financeiro para a aquisição do objeto arrendado, núcleo da operação. Pode-se afirmar que é no local
onde se toma essa decisão que se realiza, se completa, que se perfectibiliza o negócio. Após a
vigência da LC 116.2003, assim, é neste local que ocorre a efetiva prestação do serviço para fins de
delimitação do sujeito ativo apto a exigir ISS sobre operações de arrendamento mercantil. 9. O
tomador do serviço ao dirigir-se à concessionária de veículos não vai comprar o carro, mas apenas
indicar à arrendadora o bem a ser adquirido e posteriormente a ele disponibilizado. Assim, a entrega
de documentos, a formalização da proposta e mesmo a entrega do bem são procedimentos
acessórios, preliminares, auxiliares ou consectários do serviço cujo núcleo - fato gerador do tributo -
é a decisão sobre a concessão, aprovação e liberação do financiamento. 10. Ficam prejudicadas as
alegações de afronta ao art. 148 do CTN e ao art. 9o. do Decreto-Lei 406/68, que fundamente a sua
tese relativa à ilegalidade da base de cálculo do tributo. 11. No caso dos autos, o fato gerador
originário da ação executiva refere-se a período em que vigente a DL 406/68. A própria sentença
afirmou que a ora recorrente possui sede na cidade de Osasco/SP e não se discutiu a existência de
qualquer fraude relacionada a esse estabelecimento; assim, o Município de Tubarão não é
competente para a cobrança do ISS incidente sobre as operações realizadas pela empresa Potenza
Leasing S.A. Arrendamento Mercantil, devendo ser dado provimento aos Embargos do Devedor,
com a inversão dos ônus sucumbenciais. 12. Recurso Especial parcialmente provido para definir
que: (a) incide ISSQN sobre operações de arrendamento mercantil financeiro; (b) o sujeito ativo da
relação tributária, na vigência do DL 406/68, é o Município da sede do estabelecimento prestador
(art. 12); (c) a partir da LC 116/03, é aquele onde o serviço é efetivamente prestado, onde a relação
é perfectibilizada, assim entendido o local onde se comprove haver unidade econômica ou
profissional da instituição financeira com poderes decisórios suficientes à concessão e aprovação do
financiamento - núcleo da operação de leasing financeiro e fato gerador do tributo; (d) prejudicada a
análise da alegada violação ao art. 148 do CTN; (e) no caso concreto, julgar procedentes os
Embargos do Devedor, com a inversão dos ônus sucumbenciais, ante o reconhecimento da
ilegitimidade ativa do Município de Tubarão/SC para a cobrança do ISS. Acórdão submetido ao
procedimento do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ. (REsp 1060210/SC, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2012, DJe
05/03/2013)
328

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. EXECUÇÃO


FISCAL. DESPESAS DE REMOÇÃO E ESTADIA DE VEÍCULO APREENDIDO.
RESPONSABILIDADE DO ARRENDATÁRIO. 1. As despesas relativas à remoção, guarda e
conservação de veículo apreendido no caso de arrendamento mercantil, independentemente da
natureza da infração que deu origem à apreensão do veículo e ainda que haja posterior retomada da
posse do bem pelo arrendante, são da responsabilidade do arrendatário, que se equipara ao
proprietário enquanto em vigor o contrato de arrendamento (cf. artigo 4º da Resolução Contran nº
149/2003). 2. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao procedimento do artigo 543-C do
Código de Processo Civil. (REsp 1114406/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/04/2011, DJe 09/05/2011)
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.
ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. ICMS. IMPORTAÇÃO DE AERONAVE MEDIANTE
CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING). NOVEL JURISPRUDÊNCIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 155, INCISO IX, §
2.º, ALÍNEA "A", DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. ARTIGO 3.º, VIII, DA LEI
COMPLEMENTAR 87/96. 1. O ICMS incide sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do
exterior, desde que atinente a operação relativa à circulação desse mesmo bem ou mercadoria, por
pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a
sua finalidade, ex vi do disposto no artigo 155, § 2º, IX, "a", da Constituição Federal de 1988, com
a redação dada pela Emenda Constitucional 33/2001 (exegese consagrada pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal nos autos do RE 461.968/SP, Rel. Ministro Eros Grau, julgado em 30.05.2007, DJ
24.08.2007). 2. O arrendamento mercantil, contratado pela indústria aeronáutica de grande porte
para viabilizar o uso, pelas companhias de navegação aérea, de aeronaves por ela construídas, não
constitui operação relativa à circulação de mercadoria sujeita à incidência do ICMS, sendo certo
que "o imposto não é sobre a entrada de bem ou mercadoria importada, senão sobre essas entradas
desde que elas sejam atinentes a operações relativas à circulação desses mesmos bens ou
mercadorias" (RE 461.968/SP). 3. Ademais, revela-se apenas aparente a dissonância entre o aludido
julgado e aquele proferido nos autos do RE 206.069-1/SP, da relatoria da Ministra Ellen Gracie,
consoante se extrai da leitura do voto-condutor do acórdão da lavra do Ministro Eros Grau, verbis:
"E nem se alegue que se aplica ao caso o precedente do RE n. 206.069, Relatora a Ministra Ellen
Gracie, no bojo do qual se verificava a circulação mercantil, pressuposto da incidência do ICMS.
Nesse caso, aliás, acompanhei a relatora. Mas o precedente disse com a importação de equipamento
destinado ao ativo fixo de empresa, situação na qual a opção do arrendatário pela compra do bem ao
arrendador era mesmo necessária, como salientou a eminente relatora. Tanto o precedente supõe
essa compra que a eminente relatora a certo ponto do seu voto afirma: 'eis porque, em contraponto
329

ao sistema da incidência genérica sobre a circulação econômica, o imposto será recolhido pelo
comprador do bem que seja contribuinte do ICMS'. Daí também porque não se pode aplicar às
prestadoras de serviços de transporte aéreo, em relação às quais não incide o ICMS, como foi
decidido por esta Corte na ADI 1.600." (RE 461.968/SP). 4. Destarte, a incidência do ICMS,
mesmo no caso de importação, pressupõe operação de circulação de mercadoria (transferência da
titularidade do bem), o que não ocorre nas hipóteses de arrendamento em que há "mera promessa de
transferência pura do domínio desse bem do arrendante para o arrendatário". 5. A isonomia fiscal
impõe a submissão da orientação desta Corte ao julgado do Pretório Excelso, como técnica de
uniformização jurisprudencial, instrumento oriundo do Sistema da Common Law, reiterando a
jurisprudência desta Corte que, com base no artigo 3º, inciso VIII, da Lei Complementar 87/96,
propugna pela não incidência de ICMS sobre operação de leasing em que não se efetivou
transferência da titularidade do bem (circulação de mercadoria), quer o bem arrendado provenha do
exterior, quer não. 6. O Superior Tribunal de Justiça pode proceder ao juízo de admissibilidade do
recurso especial adesivo reputado prejudicado, uma vez provido o agravo de instrumento contra a
decisão denegatória de seguimento do recurso principal (Precedentes do STJ: AgRg no Ag
791.761/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 05.02.2009, DJe 09.03.2009;
AgRg no AgRg no REsp 969.880/SP, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em
18.09.2008, DJe 29.09.2008; REsp 337.433/PR, Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Terceira
Turma, julgado em 04.11.2003, DJ 01.12.2003; REsp 264.954/SE, Rel. Ministro Carlos Alberto
Menezes Direito, Terceira Turma, julgado em 30.05.2001, DJ 20.08.2001; e REsp 93.537/SP, Rel.
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, julgado em 04.12.1997, DJ 16.02.1998).
7. Recurso especial adesivo da empresa provido, restando prejudicado o recurso principal manejado
pela Fazenda Nacional (que se dirige contra a base de cálculo do ICMS, determinada pelo Juízo a
quo). Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp
1131718/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/03/2010, DJe
09/04/2010)

CRISE DA EMPRESA – FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL


SÚMULA 581 A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento
das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por
garantia cambial, real ou fidejussória.
SÚMULA 361 A notificação do protesto, para requerimento de falência da empresa
devedora, exige a identificação da pessoa que a recebeu.
SÚMULA 307 A restituição de adiantamento de contrato de câmbio, na falência, deve ser
atendida antes de qualquer crédito.
330

SÚMULA 305 É descabida a prisão civil do depositário quando, decretada a falência da


empresa, sobrevém a arrecadação do bem pelo síndico.
SÚMULA 280 O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão
administrativa, foi revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.
SÚMULA 264 É irrecorrível o ato judicial que apenas manda processar a concordata
preventiva.
SÚMULA 248 Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada,
é título hábil para instruir pedido de falência.
SÚMULA 219 Os créditos decorrentes de serviços prestados à massa falida, inclusive a
remuneração do síndico, gozam dos privilégios próprios dos trabalhistas.
SÚMULA 36 a correção monetária integra o valor da restituição, em caso de adiantamento
de câmbio, requerida em concordata ou falência.
SÚMULA 29 no pagamento em juízo para elidir falência, são devidos correção monetária,
juros e honorários de advogado.
SÚMULA 25 nas ações da lei de falências o prazo para a interposição de recurso conta-se da
intimação da parte.
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO
DE DEMANDAS CÍVEIS ILÍQUIDAS CONTRA MASSA FALIDA EM LITISCONSÓRCIO
COM PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA
SEÇÃO DESTE STJ QUANTO AO PRIMEIRO ASPECTO DA DISCUSSÃO. INCIDÊNCIA DO
ART. 6º, § 1º, DA LEI N. 11.101/2005. COMPETÊNCIA DO JUÍZO CÍVEL COMPETENTE
PARA O EXAME DA AÇÃO DE CONHECIMENTO. EXCEÇÃO AO JUÍZO UNIVERSAL DA
FALÊNCIA. CONSTANDO DO POLO PASSIVO DE DEMANDA ILÍQUIDA, ALÉM DA
MASSA FALIDA, PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO, DEVE SER FIXADA A
COMPETÊNCIA EM FAVOR DO JUÍZO DA FAZENDA PÚBLICA, SEGUNDO AS NORMAS
LOCAIS DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
RECURSO JULGADO SOB A SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015,
C/C O ART. 256-N E SEGUINTES DO REGIMENTO INTERNO DO STJ. 1. O fundamento
essencial desta demanda diz respeito à competência para julgar demandas cíveis ilíquidas contra a
massa falida quando no polo passivo se encontram, como litisconsortes passivos, pessoas de direito
público, no caso, o Estado de São Paulo e o Município de São José dos Campos. Assim, este feito
que, em tese, estaria na jurisdição da Segunda Seção deste STJ, caso o litígio fosse estabelecido
apenas entre a massa falida e uma pessoa de direito privado, foi deslocado para esta Primeira Seção,
em vista da presença no polo passivo daquelas nominadas pessoas jurídicas de direito público. 2. A
jurisprudência da Segunda Seção desta STJ é assente no que concerne à aplicação do art. 6º, § 1º, da
331

Lei n. 11.101/2005 às ações cíveis ilíquidas - como no caso em exame -, fixando a competência em
tais casos em favor do juízo cível competente, excluído o juízo universal falimentar. Precedentes:
CC 122.869/GO, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 22/10/2014, DJe
2/12/2014; CC 119.949/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em
12/9/2012, DJe 17/10/2012. 3. A Quarta Turma desta Corte Superior, por ocasião do julgamento do
AgRg no REsp 1.471.615/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, julgado em 16/9/2014, DJe 24/9/2014,
assentou que se fixa a competência do juízo cível competente, por exclusão do juízo universal
falimentar, tenha sido, ou não, a demanda ilíquida interposta antes da decretação da quebra ou da
recuperação judicial: "A decretação da falência, a despeito de instaurar o juízo universal falimentar,
não acarreta a suspensão nem a atração das ações que demandam quantia ilíquida: se elas já tinham
sido ajuizadas antes, continuam tramitando no juízo onde foram propostas; se forem ajuizadas
depois, serão distribuídas normalmente segundo as regras gerais de competência. Em ambos os
casos, as ações tramitarão no juízo respectivo até a eventual definição de crédito líquido." 4.
Aplicada a jurisprudência da Segunda Seção desta Corte Superior, no que concerne à relação
jurídica prévia - competência para resolver sobre demandas cíveis ilíquidas propostas contra massa
falida -, a resolução da segunda parte da questão de direito se revela simples. É que, tratando-se de
ação cível ilíquida na qual, além da massa falida, são requeridos o Estado de São Paulo e o
Município de São José dos Campos, pessoas jurídicas de direito público, será competente para
processar e julgar o feito o juízo cível competente para as ações contra a Fazenda Pública, segundo
as normas locais de organização judiciária. 5. Tese jurídica firmada: A competência para processar
e julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida, quando em litisconsórcio
passivo com pessoa jurídica de direito público, é do juízo cível no qual for proposta a ação de
conhecimento, competente para julgar ações contra a Fazenda Pública, de acordo as respectivas
normas de organização judiciária. 6. Recurso especial conhecido e provido. 7. Recurso julgado sob
a sistemática do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015 e art. 256-N e seguintes do Regimento Interno
deste STJ. (REsp 1643873/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
13/12/2017, DJe 19/12/2017)
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO
CPC E RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. DIREITO EMPRESARIAL E CIVIL. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. PROCESSAMENTO E CONCESSÃO. GARANTIAS PRESTADAS POR
TERCEIROS. MANUTENÇÃO. SUSPENSÃO OU EXTINÇÃO DE AÇÕES AJUIZADAS
CONTRA DEVEDORES SOLIDÁRIOS E COOBRIGADOS EM GERAL. IMPOSSIBILIDADE.
INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 6º, CAPUT, 49, § 1º, 52, INCISO III, E 59, CAPUT, DA LEI N.
11.101/2005. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: "A recuperação judicial do devedor principal
não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas
332

contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou
fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a
novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n.
11.101/2005". 2. Recurso especial não provido. (REsp 1333349/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/11/2014, DJe 02/02/2015)
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. REDIRECIONAMENTO DE EXECUÇÃO FISCAL
DE DÍVIDA ATIVA NÃO-TRIBUTÁRIA EM VIRTUDE DE DISSOLUÇÃO IRREGULAR DE
PESSOA JURÍDICA. POSSIBILIDADE. ART. 10, DO DECRETO N. 3.078/19 E ART. 158, DA
LEI N. 6.404/78 - LSA C/C ART. 4º, V, DA LEI N. 6.830/80 - LEF. 1. A mera afirmação da
Defensoria Pública da União - DPU de atuar em vários processos que tratam do mesmo tema
versado no recurso representativo da controvérsia a ser julgado não é suficiente para caracterizar-
lhe a condição de amicus curiae. Precedente: REsp. 1.333.977/MT, Segunda Seção, Rel. Min. Isabel
Gallotti, julgado em 26.02.2014. 2. Consoante a Súmula n. 435/STJ: "Presume-se dissolvida
irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos
órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente". 3. É
obrigação dos gestores das empresas manter atualizados os respectivos cadastros, incluindo os atos
relativos à mudança de endereço dos estabelecimentos e, especialmente, referentes à dissolução da
sociedade. A regularidade desses registros é exigida para que se demonstre que a sociedade
dissolveu-se de forma regular, em obediência aos ritos e formalidades previstas nos arts. 1.033 à
1.038 e arts. 1.102 a 1.112, todos do Código Civil de 2002 - onde é prevista a liquidação da
sociedade com o pagamento dos credores em sua ordem de preferência - ou na forma da Lei n.
11.101/2005, no caso de falência. A desobediência a tais ritos caracteriza infração à lei. 4. Não há
como compreender que o mesmo fato jurídico "dissolução irregular" seja considerado ilícito
suficiente ao redirecionamento da execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução
fiscal de débito não-tributário. "Ubi eadem ratio ibi eadem legis dispositio". O suporte dado pelo
art. 135, III, do CTN, no âmbito tributário é dado pelo art. 10, do Decreto n. 3.078/19 e art. 158, da
Lei n. 6.404/78 - LSA no âmbito não-tributário, não havendo, em nenhum dos casos, a exigência de
dolo. 5. Precedentes: REsp. n. 697108 / MG, Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 28.04.2009; REsp. n. 657935 / RS , Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 12.09.2006; AgRg no AREsp 8.509/SC, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 4.10.2011; REsp 1272021 / RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 07.02.2012; REsp 1259066/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 28/06/2012;
REsp.n. º 1.348.449 - RS, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11.04.2013;
AgRg no AG nº 668.190 - SP, Terceira Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
333

13.09.2011; REsp. n.º 586.222 - SP, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
23.11.2010; REsp 140564 / SP, Quarta Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, julgado em 21.10.2004.
6. Caso em que, conforme o certificado pelo oficial de justiça, a pessoa jurídica executada está
desativada desde 2004, não restando bens a serem penhorados. Ou seja, além do encerramento
irregular das atividades da pessoa jurídica, não houve a reserva de bens suficientes para o
pagamento dos credores. 7. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C
do CPC e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1371128/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/09/2014, DJe 17/09/2014)
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL. RECURSO ESPECIAL
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. FALÊNCIA. HABILITAÇÃO. CRÉDITO DE NATUREZA ALIMENTAR.
ART. 24 DA LEI N. 8.906/1994. EQUIPARAÇÃO A CRÉDITO TRABALHISTA. 1. Para efeito
do art. 543-C do Código de Processo Civil: 1.1) Os créditos resultantes de honorários advocatícios
têm natureza alimentar e equiparam-se aos trabalhistas para efeito de habilitação em falência, seja
pela regência do Decreto-Lei n. 7.661/1945, seja pela forma prevista na Lei n. 11.101/2005,
observado, neste último caso, o limite de valor previsto no artigo 83, inciso I, do referido Diploma
legal. 1.2) São créditos extraconcursais os honorários de advogado resultantes de trabalhos
prestados à massa falida, depois do decreto de falência, nos termos dos arts. 84 e 149 da Lei n.
11.101/2005. 2. Recurso especial provido. (REsp 1152218/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/05/2014, DJe 09/10/2014)
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. RESOLUÇÃO N. 8/2008 DO STJ. EXECUÇÃO
FISCAL AJUIZADA CONTRA PESSOA JURÍDICA EMPRESARIAL. FALÊNCIA
DECRETADA ANTES DA PROPOSITURA DA AÇÃO EXECUTIVA. CORREÇÃO DO POLO
PASSIVO DA DEMANDA E DA CDA. POSSIBILIDADE, A TEOR DO DISPOSTO NOS
ARTS. 284 DO CPC E 2º, § 8º, DA LEI N. 6.830/80. HOMENAGEM AOS PRINCÍPIOS DA
CELERIDADE E ECONOMIA PROCESSUAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DA
ORIENTAÇÃO FIXADA PELA SÚMULA 392 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1. Na
forma dos precedentes deste Superior Tribunal de Justiça, "a mera decretação da quebra não implica
extinção da personalidade jurídica do estabelecimento empresarial. Ademais, a massa falida tem
exclusivamente personalidade judiciária, sucedendo a empresa em todos os seus direitos e
obrigações. Em consequência, o ajuizamento contra a pessoa jurídica, nessas condições, constitui
mera irregularidade, sanável nos termos do art. 284 do CPC e do art. 2º, § 8º, da Lei 6.830/1980"
(REsp 1.192.210/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 4/2/2011). 2. De fato, por
meio da ação falimentar, instaura-se processo judicial de concurso de credores, no qual será
334

realizado o ativo e liquidado o passivo, para, após, confirmados os requisitos estabelecidos pela
legislação, promover-se a dissolução da pessoa jurídica, com a extinção da respectiva
personalidade. A massa falida, como se sabe, não detém personalidade jurídica, mas personalidade
judiciária - isto é, atributo que permite a participação nos processos instaurados pela empresa, ou
contra ela, no Poder Judiciário. Nesse sentido: REsp 1.359.041/SE, Rel. Ministro Castro Meira,
Segunda Turma, julgado em 18/6/2013, DJe 28/6/2013; e EDcl no REsp 1.359.259/SE, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 2/5/2013, DJe 7/5/2013. 3. Desse
modo, afigura-se equivocada a compreensão segundo a qual a retificação da identificação do polo
processual - com o propósito de fazer constar a informação de que a parte executada se encontra em
estado falimentar - implicaria modificação ou substituição do polo passivo da obrigação fiscal. 4.
Por outro lado, atentaria contra os princípios da celeridade e da economia processual a imediata
extinção do feito, sem que se facultasse, previamente, à Fazenda Pública oportunidade para que
procedesse às retificações necessárias na petição inicial e na CDA. 5. Nesse sentido, é de se
promover a correção da petição inicial, e,igualmente, da CDA, o que se encontra autorizado, a teor
do disposto, respectivamente, nos arts. 284 do CPC e 2º, § 8º, da Lei n. 6.830/80. 6. Por fim,
cumpre pontuar que o entendimento ora consolidado por esta Primeira Seção não viola a orientação
fixada pela Súmula 392 do Superior Tribunal Justiça, mas tão somente insere o equívoco ora
debatido na extensão do que se pode compreender por "erro material ou formal", e não como
"modificação do sujeito passivo da execução", expressões essas empregadas pelo referido
precedente sumular. 7. Recurso especial provido para, afastada, no caso concreto, a tese de
ilegitimidade passiva ad causam, determinar o retorno dos autos ao Juízo de origem, a fim de que,
facultada à exequente a oportunidade para emendar a inicial, com base no disposto no art. 284 do
CPC, dê prosseguimento ao feito como entender de direito. Acórdão submetido ao regime estatuído
pelo art. 543-C do CPC e Resolução STJ 8/2008. (REsp 1372243/SE, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 11/12/2013, DJe 21/03/2014)
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. DÍVIDAS
TRIBUTÁRIAS DA MATRIZ. PENHORA, PELO SISTEMA BACEN-JUD, DE VALORES
DEPOSITADOS EM NOME DAS FILIAIS. POSSIBILIDADE. ESTABELECIMENTO
EMPRESARIAL COMO OBJETO DE DIREITOS E NÃO COMO SUJEITO DE DIREITOS.
CNPJ PRÓPRIO DAS FILIAIS. IRRELEVÂNCIA NO QUE DIZ RESPEITO À UNIDADE
PATRIMONIAL DA DEVEDORA. 1. No âmbito do direito privado, cujos princípios gerais, à luz
do art. 109 do CTN, são informadores para a definição dos institutos de direito tributário, a filial é
uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do acervo patrimonial de uma única
pessoa jurídica, partilhando dos mesmos sócios, contrato social e firma ou denominação da matriz.
335

Nessa condição, consiste, conforme doutrina majoritária, em uma universalidade de fato, não
ostentando personalidade jurídica própria, não sendo sujeito de direitos, tampouco uma pessoa
distinta da sociedade empresária. Cuida-se de um instrumento de que se utiliza o empresário ou
sócio para exercer suas atividades. 2. A discriminação do patrimônio da empresa, mediante a
criação de filiais, não afasta a unidade patrimonial da pessoa jurídica, que, na condição de devedora,
deve responder com todo o ativo do patrimônio social por suas dívidas, à luz de regra de direito
processual prevista no art. 591 do Código de Processo Civil, segundo a qual "o devedor responde,
para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as
restrições estabelecidas em lei". 3. O princípio tributário da autonomia dos estabelecimentos, cujo
conteúdo normativo preceitua que estes devem ser considerados, na forma da legislação específica
de cada tributo, unidades autônomas e independentes nas relações jurídico-tributárias travadas com
a Administração Fiscal, é um instituto de direito material, ligado à questão do nascimento da
obrigação tributária de cada imposto especificamente considerado e não tem relação com a
responsabilidade patrimonial dos devedores prevista em um regramento de direito processual, ou
com os limites da responsabilidade dos bens da empresa e dos sócios definidos no direito
empresarial. 4. A obrigação de que cada estabelecimento se inscreva com número próprio no CNPJ
tem especial relevância para a atividade fiscalizatória da administração tributária, não afastando a
unidade patrimonial da empresa, cabendo ressaltar que a inscrição da filial no CNPJ é derivada do
CNPJ da matriz. 5. Nessa toada, limitar a satisfação do crédito público, notadamente do crédito
tributário, a somente o patrimônio do estabelecimento que participou da situação caracterizada
como fato gerador é adotar interpretação absurda e odiosa. Absurda porque não se concilia, por
exemplo, com a cobrança dos créditos em uma situação de falência, onde todos os bens da pessoa
jurídica (todos os estabelecimentos) são arrecadados para pagamento de todos os credores, ou com a
possibilidade de responsabilidade contratual subsidiária dos sócios pelas obrigações da sociedade
como um todo (v.g. arts. 1.023, 1.024, 1.039, 1.045, 1.052, 1.088 do CC/2002), ou com a
administração de todos os estabelecimentos da sociedade pelos mesmos órgãos de deliberação,
direção, gerência e fiscalização. Odiosa porque, por princípio, o credor privado não pode ter mais
privilégios que o credor público, salvo exceções legalmente expressas e justificáveis. 6. Recurso
especial conhecido e provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução
STJ n. 8/08. (REsp 1355812/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 22/05/2013, DJe 31/05/2013)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SUBMISSÃO
À REGRA PREVISTA NO ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. PRESCRIÇÃO.
DISCUSSÃO ACERCA DO TERMO FINAL. QUESTÃO ATRELADA AO REEXAME DE
MATÉRIA FÁTICA. SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO (ART. 47 DO DECRETO-LEI Nº
336

7.661/45). NÃO APLICABILIDADE EM RELAÇÃO AOS CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS. 1. O


reexame de matéria de prova é inviável em sede de recurso especial (Súmula 7/STJ). 2. A cobrança
judicial da dívida ativa não se sujeita à habilitação em procedimento falimentar, descabendo
cogitar-se, em consequência, de suspensão ou interrupção do prazo prescricional em razão da
decretação da falência. Assim, "a norma do art. 47 do Decreto-lei n. 7.661/45 é restrita às
obrigações contratuais do falido, não alcançando as obrigações tributárias, que recebem disciplina
específica do art. 174 do CTN, a teor do disposto no art. 146, III, b, da Constituição da República"
(AgInt no REsp 1642041/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 04/05/2017, DJe 12/05/2017). 3. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp
1673861/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
13/11/2018, DJe 18/12/2018)
Informativo nº 0637. Publicação: 7 de dezembro de 2018. CORTE ESPECIAL. EREsp
1.162.964-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, por unanimidade, julgado em 07/03/2018, DJe
13/11/2018. Falência. Decreto-Lei n. 7.661/1945. Encargos da massa. Ordem de preferência.
Redação original dos arts. 186 a 188 do CTN. Preferência dos créditos fiscais vencidos antes da
falência. Os encargos da massa não preferem os créditos tributários nas falências processadas sob a
égide do Decreto-Lei n. 7.661/1945. Informações do Inteiro Teor. No acórdão embargado decidiu-
se que as cotas condominiais vencidas após a decretação da quebra, embora possuam inegável
natureza de encargos da massa, somente devem ser pagas nas falências processadas sobre a égide do
DL n. 7.661/1945 após a satisfação dos créditos de natureza trabalhista e fiscal. Considerou-se,
pois, que os créditos fiscais vencidos antes da falência, nas redações originais dos arts. 186 e 188 do
CTN, preferiam aos encargos da massa falida e, até mesmo, aos créditos fiscais posteriores à
quebra. Nos acórdãos paradigmas, contudo, consignou-se que os encargos da massa, deveriam ser
pagos com preferência sobre os créditos tributários. Com razão, todavia, o entendimento albergado
pela Terceira Turma no acórdão embargado, mais recente, embora isolado, espelha a melhor
exegese do sistema de preferências traçado nos arts. 124 do DL n. 7.661/1945 e 186 a 188 do CTN,
estes em sua redação original. Com isso, os créditos fiscais vencidos antes da falência preferem aos
encargos da massa falida e, até mesmo, aos créditos fiscais posteriores à quebra antes da
modificação sofrida pela Lei Complementar n. 118/2005 para refletir a nova sistemática criada pela
Lei n. 11.101/2005, que impôs alterações na classificação dos créditos falimentares, reposicionando
na ordem de preferência inclusive aqueles de natureza extraconcursal.
Informativo nº 0637. Publicação: 7 de dezembro de 2018. REsp 1.733.685-SP, Rel. Min.
Raul Araújo, por unanimidade, julgado em 06/11/2018, DJe 12/11/2018. Inadimplemento de títulos
de créditos. Pedido de falência. Art. 94, I da Lei n. 11.101/2005. Contrato com cláusula
compromissória. Instauração prévia do juízo arbitral. Desnecessidade. A existência de cláusula
337

compromissória não afeta a executividade do título de crédito inadimplido e não impede a


deflagração do procedimento falimentar, fundamentado no art. 94, I, da Lei n. 11.101/2005.
Informações do Inteiro Teor. A controvérsia consiste em saber se o pedido de falência,
fundamentado no inadimplemento de títulos de crédito, prescinde de anterior instauração do juízo
arbitral na hipótese de o contrato que os originou conter cláusula compromissória. No caso
concreto, a despeito da previsão contratual de cláusula compromissória, existem títulos executivos
inadimplidos, consistentes em duplicatas protestadas e acompanhadas de documentos para
comprovar a prestação efetiva dos serviços, o que dá ensejo à execução forçada ou ao pedido de
falência, com fundamento no art. 94, I, da Lei n. 11.101/2005, que ostenta natureza de execução
coletiva. Saliente-se que é perfeitamente admissível a convivência harmônica das duas jurisdições,
desde que respeitadas as competências correspondentes. Com a celebração da convenção de
arbitragem, os contratantes optam por submeter suas controvérsias a um juízo arbitral, mas essa
opção não é absoluta e não tem o alcance de impedir ou de afastar, em definitivo, a participação da
jurisdição estatal, sobretudo quando a pretensão de uma das partes está aparelhada em título de
natureza executiva. Nessa última hipótese, o direito que assiste ao credor somente pode ser exercido
mediante provocação do Judiciário, tendo em vista que o árbitro não possui poderes de natureza
executiva, logo todos os atos de natureza expropriatória dependeriam do juízo estatal para serem
efetivados. Desse modo, deve-se admitir que a cláusula compromissória possa conviver com a
natureza executiva do título. Não é razoável exigir que o credor seja obrigado a iniciar uma
arbitragem para obter juízo de certeza sobre uma dívida que, no seu entender, já consta do título
executivo extrajudicial, bastando realmente iniciar a execução forçada. Assim, é certo que o árbitro
não tem poder coercitivo direto, de modo que não pode impor restrições ao patrimônio do devedor,
como a penhora, e nem excussão forçada de seus bens. Essa é a conclusão que se extrai da
interpretação conjunta dos arts. 22, § 4º, e 31 da Lei n. 9.307/1996 e 475-N, IV, do CPC/1973 (atual
art. 515, VII, do CPC/2015), que exigem procedimento judicial para a execução forçada do direito
reconhecido na sentença arbitral, bem como para a efetivação de outras medidas semelhantes.
Informativo nº 0635. Publicação: 9 de novembro de 2018. QUARTA TURMA. REsp
1.722.866-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, por unanimidade, julgado em 25/09/2018, DJe
19/10/2018. Falência e recuperação judicial. Sistema recursal. Decisão interlocutória. Ausência de
previsão específica na Lei n. 11.101/2005 (LREF). Agravo de instrumento. Cabimento. Art. 1.015,
parágrafo único, do CPC/2015. Interpretação extensiva. É cabível a interposição de agravo de
instrumento contra decisões interlocutórias em processo falimentar e recuperacional, ainda que não
haja previsão específica de recurso na Lei n. 11.101/2005 (LREF). Informações do Inteiro Teor.
Inicialmente, a Lei de Recuperação Judicial e Falência - LREF estabeleceu, em seu art. 189, que,
"no que couber", haverá aplicação supletiva da lei adjetiva geral, incidindo tão somente de forma
338

subsidiária e desde que se constate evidente compatibilidade com a natureza e o espírito do


procedimento especial. No que se refere à definição do regime jurídico do agravo de instrumento
diante do microssistema da Lei n. 11.101/2005, sabe-se que ao contrário do Código de Processo
Civil de 1973, que possibilitava a interposição do agravo de instrumento contra toda e qualquer
interlocutória, o novo diploma processual definiu que tal recurso só se mostra cabível contra as
decisões expressamente apontadas pelo legislador. Contudo, o rol taxativo do art. 1.015 do CPC de
2015, por si só, não afasta a incidência das hipóteses previstas na LREF, pois o próprio inciso XIII
estabelece o cabimento do agravo de instrumento nos "outros casos expressamente referidos em
lei". No entanto, há determinadas decisões judiciais tomadas no curso da recuperação judicial e da
falência que, apesar de não haver previsão de impugnação pela lei de regência nem enquadramento
no rol taxativo do NCPC, ainda assim, serão passíveis de irresignação por intermédio do agravo.
Apesar da taxatividade, o STJ vem reconhecendo a possibilidade de interpretação extensiva ou
analógica das hipóteses dispostas no rol do agravo de instrumento. Deveras, nas interlocutórias sem
previsão específica de recurso incidirá o parágrafo único do art. 1.015 do CPC/2015, justamente
porque, em razão das características próprias do processo falimentar e recuperacional, haverá
tipificação com a ratio do dispositivo - qual seja, falta de interesse/utilidade de revisão da decisão
apenas no momento do julgamento da apelação -, permitindo a impugnação imediata dos
provimentos judiciais. De fato, a recuperação judicial não é procedimento linearmente disposto,
importa um somatório de decisões com o objetivo de viabilizar a reestruturação da empresa - tendo
como norte a superação do estado de crise -, que, por consectário lógico, devem ser de rápida
solução, inclusive por sua influência no conteúdo de atos subsequentes e na conclusão do plano.
Realmente, não parece haver lógica em se aguardar a sentença no processo de recuperação judicial,
somente prolatada depois do cumprimento de todas as obrigações previstas no plano de recuperação
judicial aprovado (LREF, art. 63), momento em que já teria havido, por outro lado, todas as
definições a respeito do deferimento e processamento da recuperação, dos critérios da assembleia de
credores, das habilitações, da homologação do plano, entre outras medidas que restariam
implementadas de maneira irremediável no momento da apelação. Assim, há clara
incompatibilidade do novo regime de preclusão previsto no novel diploma processual com o
sistema recursal da recuperação judicial, haja vista que a incidência do regime de impugnação
diferida das interlocutórias, apenas em apelação, tornaria sem utilidade o recurso, pois seu
cabimento ocorreria apenas quando do exaurimento do procedimento. Inclusive, essa foi a
conclusão adotada pela 1ª Jornada de Direito Processual Civil do CJF, nos termos do Enunciado n.
69, segundo o qual "a hipótese do art. 1.015, parágrafo único, do CPC abrange os processos
concursais, de falência e recuperação".
339

Informativo nº 0633. Publicação: 11 de outubro de 2018. TERCEIRA TURMA. REsp


1.758.777-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 11/09/2018, DJe
13/09/2018. Recuperação Judicial. Relação de Créditos. Edital. Publicação na imprensa oficial.
Obrigatoriedade. Art. 191 da Lei n. 11.101/2005. É imprescindível a publicação na imprensa oficial
do edital previsto no art. 7º, § 2º, da Lei n. 11.101/2005. Informações do Inteiro Teor. Inicialmente,
nos termos do art. 191 da Lei n. 11.101/2005, as publicações referentes a atos praticados no curso
de processos de recuperação judicial, extrajudicial ou falência devem ser feitas preferencialmente
na imprensa oficial e, se o devedor ou a massa falida comportar, em jornal ou revista de circulação
regional ou nacional. A redação do dispositivo dá ensejo a mais de uma interpretação quanto à
obrigatoriedade ou não de as publicações serem feitas em veículo de imprensa oficial, sendo
precisamente esse o cerne da controvérsia. Deslocar a oração subordinada condicional do
dispositivo em questão pode auxiliar a compreensão de seu conteúdo gramatical. Veja-se: as
publicações ordenadas serão feitas preferencialmente na imprensa oficial e em jornal ou revista de
circulação regional ou nacional se o devedor ou a massa falida comportar. Conforme a doutrina, no
dispositivo em questão, "a conjunção aditiva 'e' indica que a publicação pela imprensa oficial é
sempre necessária, não sendo substituída pela realizada em jornais ou revistas de circulação
regional ou nacional. Nesse sentido, 'preferencialmente' serve apenas para deixar claro que, não
havendo fundos disponíveis, é a publicação pela imprensa oficial que deve ser atendida". Infere-se,
por conseguinte, da leitura do caput do art. 191 da LFRE, que as publicações devem ser levadas a
cabo sempre na imprensa oficial, sendo apenas exigível que se proceda à publicação em jornal ou
revista de circulação regional ou nacional se as possibilidades financeiras do devedor ou da massa
falida comportarem. Em suma, a publicação do edital a que se refere o § 2º do art. 7º da LFRE – o
qual não contém disposição capaz de excepcionar a norma geral do art. 191, caput, da Lei de
regência – há de ser feita, obrigatoriamente, em veículo de imprensa oficial.
Informativo nº 0631. Publicação: 14 de setembro de 2018. TERCEIRA TURMA. REsp
1.438.142-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 15/05/2018,
DJe 09/08/2018. Massa falida do banco depositário. Arrecadação de saldo. Cabimento. Pedido de
restituição de quantia depositada por correntista. Patrimônio de Afetação. Art. 119, inciso IX, da
Lei n. 11.101/2005. Contrato de trust. Ausência de previsão legal. Inaplicabilidade da Súmula
417/STF. Não é cabível a restituição de quantia em dinheiro que se encontra depositada em conta
corrente de banco falido, em razão de contrato de trust. Informações do Inteiro Teor. Trata-se, na
hipótese, de contrato de financiamento celebrado entre uma concessionária de rodovia estadual e
uma instituição financeira. Para operacionalizar esse contrato, e conferir maiores garantias ao
mutuante, as partes pactuaram que a receita do pedágio seria depositada em um banco interveniente,
o qual administraria essas receitas com o propósito de amortizar o financiamento, como num
340

contrato de trust. Na vigência do contrato, porém, sobreveio a falência do banco interveniente. Insta
consignar que a norma extraída do enunciado do aludido art. 119, inciso IX, da Lei n. 11.101/2005,
que põe a salvo de arrecadação pela massa falida os patrimônios de afetação, faz referência expressa
à legislação que disciplina o respectivo patrimônio de afetação. Porém, o contrato de trust não tem
previsão no ordenamento jurídico brasileiro e, conquanto esteja previsto na Convenção de Haia
sobre a lei aplicável aos trusts e sobre o reconhecimento deles, assinada em 1985, o Brasil não é
signatário. Assim, não havendo norma jurídica que discipline o contrato de trust no Brasil, não há
amparo legal para afetação patrimonial. Nesse sentido, não se aplica a parte final da Súmula
417/STF, que a admite restituição de dinheiro que esteja em poder do falido, mas em nome de
outrem, indisponível por força de lei ou contrato. Isso porque a referida súmula tem aplicabilidade
naqueles contratos em que não há transferência de titularidade sobre a quantia em dinheiro, como
no mandato, ou em contratos que instituam patrimônio de afetação, nas hipóteses taxativamente
autorizada pela lei. Reforça esse entendimento a norma do art. 6º, alínea "c", da Lei n. 6.024/1984,
que, ao disciplinar a intervenção e liquidação extrajudicial de instituição financeira, estabelece que
a intervenção terá como efeito imediato a "inexigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua
decretação". No caso dos autos, a receita das praças de pedágio, por estarem na titularidade do
banco interveniente por força de contrato de depósito em conta corrente, passaram a integrar o
patrimônio deste, devendo a arrecadação ser feita em favor da massa falida.
Informativo nº 0627. Publicação: 29 de junho de 2018. TERCEIRA TURMA. REsp
1.710.750-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 15/05/2018, DJe
18/05/2018. Recuperação judicial. Suspensão do processo até o trânsito em julgado da ação de
soerguimento. Não cabimento. Razoabilidade não verificada. Ofensa ao princípio da preservação da
empresa. Inocorrência. Ação de compensação por danos morais movida contra empresa em
recuperação judicial não deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final
proferida no processo de soerguimento. Informações do Inteiro Teor. De início, cumpre salientar
que, no que se refere ao prazo previsto no art. 6º, § 4º, da LFRE – segundo o qual o deferimento do
processamento da recuperação judicial suspende, por 180 dias, o curso da prescrição e de todas as
ações e execuções em face do devedor, este Tribunal Superior manifestou, reiteradamente,
entendimento no sentido de que o mero decurso do prazo não é bastante para, isoladamente,
autorizar a retomada das demandas movidas contra o devedor. Isso porque, de acordo com o
entendimento assentado, a suspensão também encontra fundamento nos arts. 47 e 49 da Lei n.
11.101/2005, que veiculam as normas que garantem a preservação da empresa e a manutenção dos
bens de capital essenciais à atividade na posse do devedor, devendo-se considerar, outrossim, a
complexidade envolvida em cada processo de recuperação, resultante da dimensão ou do
enredamento das relações jurídicas travadas pela sociedade que busca o soerguimento. Todavia, a
341

extrapolação do prazo previsto no art. 6º, § 4º, da LFRE não pode consistir em expediente que
conduza à prorrogação genérica e indiscriminada do lapso temporal suspensivo para todo e qualquer
processo relacionado à empresa recuperanda, fazendo-se necessário analisar as circunstâncias
subjacentes a cada caso. As exceções autorizadas pela jurisprudência desta Corte impedem tão
somente que a retomada da marcha processual das ações movidas contra a sociedade recuperanda
ocorram automaticamente em razão do mero decurso do prazo de 180 dias. Entretanto, manter as
ações contra a recuperanda suspensas indiscriminadamente depois de aprovado o plano de
soerguimento feriria a própria lógica recuperacional, na medida em que, a partir da consolidação
assemblear, os créditos devidos devem ser satisfeitos – sejam aqueles cujas condições de
exigibilidade foram mantidas, sejam aqueles em que tais condições foram alteradas –, sob o risco de
o processo ser convolado em falência (art. 73, IV, da LFRE), sendo certo que, caso o crédito não
integre o plano aprovado, não há óbice legal ao prosseguimento da ação. Deste modo, não é sequer
razoável admitir que, no particular, a autora da ação de compensação por danos morais tenha de
suportar o ônus que a suspensão pleiteada pelo devedor lhe acarretaria, haja vista a pequena
dimensão pecuniária de seu crédito quando comparado ao porte econômico da empresa recuperanda
e o tempo transcorrido desde o ajuizamento da ação (aproximadamente seis anos), o que resultaria
em afronta ao princípio da efetividade da jurisdição.
Informativo nº 0626. Publicação: 15 de junho de 2018. TERCEIRA TURMA. REsp
1.727.771-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 15/05/2018, DJe
18/05/2018. Ação de compensação por danos morais. Devedor em recuperação judicial.
Constituição do crédito. Evento danoso ocorrido em momento anterior ao pedido recuperacional.
Submissão aos efeitos da recuperação judicial. Sentença condenatória proferida posteriormente.
Irrelevância. O crédito derivado de fato ocorrido em momento anterior àquele em que requerida a
recuperação judicial deve sujeitar-se ao plano de soerguimento da sociedade devedora. Informações
do Inteiro Teor. O ponto central da controvérsia consiste em decidir se créditos decorrentes de
condenação transitada em julgado em momento posterior ao pedido de recuperação judicial devem
ou não ser incluídos no plano de soerguimento do devedor. De acordo com o disposto no art. 49 da
Lei 11.101/05 (Lei de Falência e Recuperação de Empresas - LFRE), estão sujeitos aos efeitos da
recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
Consoante assentado no voto condutor da maioria, proferido por ocasião do julgamento do REsp
1.634.046-RS (Rel. Min. Nancy Andrigui, Rel para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, DJe 18/05/2017), "a constituição de um crédito pressupõe a existência de um vínculo
jurídico entre as partes e não se encontra condicionada a uma decisão judicial que simplesmente o
declare". Assim, tratando-se, como na espécie, de vínculo jurídico decorrente de evento que causou
dano à esfera dos direitos de credores da recuperanda, a constituição do crédito correspondente não
342

se dá com a prolação da decisão judicial que o reconhece e o quantifica, mas com a própria
ocorrência daquele evento. Convém destacar que a própria LFRE está a determinar que, cuidando-
se de ação versando sobre quantia ilíquida, cujo processamento não é suspenso pelo pedido
recuperacional, o crédito decorrente da respectiva sentença judicial deve ser incluído no quadro
geral de credores, podendo o juízo onde elas tramitam, inclusive, determinar a reserva de valor para
satisfação da obrigação (art. 6º, §§ 1º e 3º). Destarte, reconhecido que o crédito em discussão foi
constituído em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, deve ele se sujeitar aos efeitos
do plano de soerguimento, a teor do que determina o precitado art. 49 da LFRE.
Informativo nº 0618. Publicação: 23 de fevereiro de 2018. TERCEIRA TURMA. REsp
1.591.141-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 05/12/2017,
DJe 18/12/2017. Sentença trabalhista condenatória. Crédito previdenciário reconhecido. Título
executivo judicial. Falência do empregador. Pedido de habilitação do crédito. Possibilidade.
Certidão de dívida ativa. Dispensabilidade. É desnecessária a apresentação de Certidão de Dívida
Ativa (CDA) para habilitação, em processo de falência, de crédito previdenciário resultante de
decisão judicial trabalhista. Informações do Inteiro Teor. Quanto à necessidade de apresentação da
CDA, a Terceira Turma alinha-se ao entendimento já sedimentado pela Quarta Turma deste
Tribunal, a qual, apreciando caso idêntico, (REsp 1.170.750-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 27/08/2013 - Informativo n. 530), entendeu que a constituição do crédito tributário pela
via administrativa do lançamento, da qual resulta a CDA, título executivo extrajudicial conforme o
art. 585, VII, do CPC, não se confunde com o crédito materializado no título executivo judicial no
qual foi reconhecida uma obrigação tributária, nascida com o fato gerador, cuja ocorrência se dá "na
data da prestação do serviço" (art. 43, § 2º, da Lei n. 8.212/1991). Efetivamente, a sentença da
justiça laboral que condena o empregador a uma obrigação de caráter trabalhista e, por
consequência, reconhece a existência do fato gerador da obrigação tributária, insere-se na categoria
geral de sentença proferida no processo civil que reconhece a existência de obrigação de fazer, não
fazer, entregar coisa ou pagar quantia (art. 475-N, CPC). Desse modo, a sentença consubstancia, ela
própria, título executivo judicial no qual subjaz o crédito para a Fazenda Pública.
Informativo nº 0617. Publicação: 9 de fevereiro de 2018. RECURSOS REPETITIVOS.
REsp 1.643.856-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
13/12/2017, DJe 19/12/2017. (Tema 976) Demanda cível contra massa falida. Pedidos ilíquidos.
Pessoa jurídica de direito público. Litisconsórcio passivo. Art. 6º, § 1º, da Lei n. 11.101/2005.
Incidência. Juízo Cível para o exame da ação de conhecimento. Competência. A competência para
processar e julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida, quando em
litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito público, é do juízo cível no qual for proposta a
ação de conhecimento, competente para julgar ações contra a Fazenda Pública, de acordo as
343

respectivas normas de organização judiciária. Informações do Inteiro Teor. Cinge-se a controvérsia


a definir a competência para processo e julgamento de demandas cíveis com pedidos ilíquidos
contra massa falida em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito público: se é
competente o juízo no qual se processa o feito falimentar ou o juízo cível em que proposta a ação de
conhecimento respectiva. Inicialmente cumpre salientar que apesar de a falência da empresa ter sido
decretada no ano de 1989, não há de se falar em aplicação do regramento contido no Decreto-Lei n.
7.661/1945, pois a demanda cível ilíquida, que tem relação com fato ocorrido posteriormente à
decretação da falência da empresa, foi proposta já sob a vigência da Lei n. 11.101/2005. Cabe
ressaltar que o art. 192 da legislação atual deve ser interpretado restritivamente, o que vale dizer que
a expressão "aos processos de falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início da sua
vigência" – contida no dispositivo – não abrange demandas correlatas, como na hipótese em exame.
Assim, de acordo com o entendimento da Segunda Seção desta Corte Superior, deve-se aplicar o
regramento contido no art. 6º da Lei n. 11.101/2005, o qual, inclusive, foi mais restritivo do que o
vigente anteriormente, até porque o seu § 1º limita ainda mais as exceções à competência universal
do juízo falimentar, quando se compara com a redação similar anterior do art. 24, caput, e § 2º, II,
do Decreto-Lei n. 7.661/1945. Registre-se ainda que, a Quarta Turma desta Corte Superior, por
ocasião do julgamento do AgRg no REsp 1.471.615-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 24/9/2014,
assentou que a competência do juízo cível é fixada por exclusão do juízo universal falimentar, tenha
sido, ou não, a demanda ilíquida interposta antes da decretação da quebra ou da recuperação
judicial. Frise-se que a presente controvérsia foi encaminhada à análise da Primeira Seção apenas
pela presença de pessoa jurídica de direito público no polo passivo da demanda. Sendo assim, a na
presença de tal peculiaridade, o juízo cível competente para ações contra a Fazenda Pública será
responsável pelo julgamento de demanda cível ilíquida proposta em desfavor da massa falida.
Informativo nº 0613. Publicação: 8 de novembro de 2017. TERCEIRA TURMA. REsp
1.680.357-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 10/10/2017, DJe
16/10/2017. Ação de usucapião. Efeitos da decretação da falência. Patrimônio afetado como um
todo. Usucapião. Interrupção da prescrição aquisitiva. Massa falida objetiva. Art. 47 do DL n.
7.661/45. Inaplicabilidade. O curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a
massa falida é interrompido com a decretação da falência. Informações do Inteiro Teor. O debate se
limita a verificar a existência de usucapião de imóvel ocupado por terceiros em momento anterior à
decretação da falência da companhia siderúrgica proprietária do bem, ocorrida à luz do DL n.
7.661/45. Inicialmente, ressalta-se que a sentença declaratória de falência inaugura a massa falida
subjetiva, com a formação da massa de credores (corpus creditorum) que, no decurso do processo
falimentar, concorrerá na realização do ativo para satisfação de seus créditos. Simultaneamente,
forma-se a massa objetiva, ou seja, a afetação do patrimônio do falido como um todo, e não os bens
344

singulares separadamente. Nessa linha de compreensão, é absolutamente relevante compreender que


a sentença declaratória da falência produz efeitos imediatos, tão logo prolatada pelo juízo concursal.
A propósito, a doutrina menciona a constrição geral do patrimônio do falido como um ato de
penhoramento abstrato decorrente da decretação da falência. Isso quer dizer que o Estado, sem
necessidade do ato material, retira a posse e preestabelece outros efeitos jurídicos no tocante à
extensão objetiva do concurso de credores. Nesse contexto, o bem imóvel, ocupado por quem tem
expectativa de adquiri-lo por meio da usucapião, passa a compor um só patrimônio afetado na
decretação da falência, correspondente à massa falida objetiva. Assim, o curso da prescrição
aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é interrompido com a decretação da
falência, pois o possuidor (seja ele o falido ou terceiros) perde a posse pela incursão do Estado na
sua esfera jurídica. Note-se que a suspensão do curso da prescrição a que alude o art. 47, do DL n.
7.661/45 cinge-se às obrigações de responsabilidade do falido para com seus credores, e não
interfere na prescrição aquisitiva da propriedade por usucapião, a qual é interrompida na hora em
que decretada a falência devido à formação da massa falida objetiva.
Informativo nº 0609. Publicação: 13 de setembro de 2017. TERCEIRA TURMA. REsp
1.660.198-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 3/8/2017, DJe 10/8/2017.
Falência. Cálculo de juros e correção monetária em habilitação de crédito. Decretação da quebra.
Efeitos materiais que incidem desde a prolação da sentença independentemente da publicação. No
processo de falência, a incidência de juros e correção monetária sobre os créditos habilitados deve
ocorrer até a decretação da quebra, entendida como a data da prolação da sentença e não sua
publicação. Informações do Inteiro Teor. O propósito recursal é decidir sobre qual o momento que
se considera decretada a falência para fins de atualização do crédito. De início, observa-se que essa
tese de direito diz respeito à interpretação dos arts. 9º, II e 124 da Lei 11.101/05 (LFRE), que
dispõe, respectivamente, acerca da habilitação de crédito pelo credor nos termos do art. 7º § 1º da
LRFE e a exigibilidade de juros contra a massa falida após a decretação de falência. A partir dessas
disposições legislativas, discute-se acerca da correta interpretação das expressões “data da
decretação da falência” (art. 9º, II) e “decretação da falência” (art. 124), analisando se devem ser
interpretadas à luz do princípio da publicidade que rege a prática de todos os atos processuais, de
modo que alcancem o significado de “data da publicação da sentença de decretação da falência”.
Entretanto, observa-se que a lei falimentar não condicionou os efeitos da falência à publicação da
sentença de quebra, que decorre da própria natureza jurídica declaratória da sentença de falência.
Em análise sistemática da LFRE, percebe-se que desde a decretação da quebra o falido fica
inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial, além de perder o direito de administrar seus
bens ou deles dispor. Além disso, verifica-se que quando há situação específica a ser regulada de
modo diverso a LFRE dispõe expressamente quando o termo inicial será a publicação do
345

pronunciamento judicial. Ademais, é importante verificar o tratamento paritário entre todos os


credores, pois a suspensão da fluência dos juros e a antecipação do vencimento das obrigações do
falido viabilizam a equalização dos créditos. Assim, em prol da igualdade, deve ser utilizada a
mesma data limite (decretação da quebra) para atualização dos valores que hão de compor o quadro
geral de credores.
Informativo nº 0605. Publicação: 12 de julho de 2017. QUARTA TURMA. REsp
1.104.632-PR, Rel. Min. Raul Araújo, por unanimidade, julgado em 20/4/2017, DJe 1/6/2017.
Execução de título extrajudicial. Falência da devedora principal. Extinção da obrigação pelo
decurso do prazo de cinco anos. Art. 135, III, da antiga Lei de Quebras. Extensão do benefício ao
avalista e devedor solidário. Descabimento. Exceção que aproveita apenas ao falido. A extinção das
obrigações do falido, em decorrência da aplicação do art. 135, III, do Decreto-Lei n. 7.661/1945
(antiga Lei de Quebras), não extingue nem impede o prosseguimento de execução ajuizada contra
avalista e devedor solidário. Informações do Inteiro Teor. O ponto nuclear do debate gira em torno
da extensão da declaração de extinção da obrigação do falido, prevista no art. 135, III, da antiga Lei
de Quebras, ao devedor solidário e avalista, em decorrência do transcurso do lapso temporal de 5
(cinco) anos, contados a partir da declaração da falência. Ao analisar a referida disposição
legislativa, constata-se que se trata de método de extinção das obrigações para o falido, diverso do
adimplemento, baseado no simples decurso do tempo, com a finalidade de reabilitá-lo, ao menos na
seara civil, franqueando condições para reintegrar-se nas atividades mercantis. Logo, tratando-se de
causa extintiva de obrigação, que diz respeito apenas à pessoa do falido, porquanto se trata de
condição necessária à sua reabilitação para exercer a atividade empresarial, constitui-se em exceção
pessoal, não podendo ser estendida em benefício dos demais coobrigados, conforme parte final do
art. 281 do CC/2002.
Informativo nº 0604. Publicação: 21 de junho de 2017. TERCEIRA TURMA. REsp
1.634.046-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, por
maioria, julgado em 25/4/2017, DJe 18/5/2017. Habilitação de crédito trabalhista. Momento da
constituição. Reclamação trabalhista. Crédito oriundo de trabalho realizado em momento anterior
ao pedido de recuperação judicial. A consolidação do crédito trabalhista (ainda que inexigível e
ilíquido) não depende de provimento judicial que o declare — e muito menos do transcurso de seu
trânsito em julgado —, para efeito de sua sujeição aos efeitos da recuperação judicial. Informações
do Inteiro Teor. A controvérsia cinge-se a determinar se os créditos trabalhistas litigiosos, não
consolidados ao tempo do pedido da recuperação judicial, estão a ela sujeitos, na forma do art. 49,
da Lei n. 11.101/05. Para tanto, faz-se necessário determinar o exato momento em que o crédito
trabalhista é constituído. Em princípio, a constituição de um crédito pressupõe a existência de um
vínculo jurídico entre as partes e não se encontra condicionada a uma decisão judicial que
346

simplesmente o declare. Nesse sentido, pode-se afirmar que no bojo de um contrato trabalhista, a
partir do momento em que o empregado presta seu labor, assume a condição de credor (em relação
às correlatas verbas trabalhistas) de seu empregador, que, no final do respectivo mês, deve efetivar
sua contraprestação. Assim, uma sentença que reconheça o direito do trabalhador em relação à
aludida verba trabalhista certamente não constitui este crédito, apenas o declara. E, se este crédito
foi constituído em momento anterior ao pedido de recuperação judicial, aos seus efeitos se encontra
submetido, inarredavelmente. Outrossim, extrai-se da própria lei de falência e recuperação judicial a
conclusão de que a consolidação do crédito (ainda que inexigível e ilíquido) não depende de
provimento judicial que o declare — e muito menos do transcurso de seu trânsito em julgado —,
para efeito de sua sujeição aos efeitos da recuperação judicial. Veja-se que o crédito trabalhista
anterior ao pedido de recuperação judicial pode ser incluído, de forma extrajudicial, inclusive,
consoante o disposto no art. 7º, da Lei n. 11.101/05. Dessa forma, é possível ao próprio
administrador judicial, quando da confecção do plano, relacionar os créditos trabalhistas pendentes,
a despeito de o trabalhador sequer ter promovido a respectiva reclamação. O art. 6º, §§ 1º, 2º e 3º,
da Lei n. 11.1.01/2005, por sua vez, permite o prosseguimento das ações trabalhistas na própria
Justiça Laboral, que decidirá as impugnações ao crédito postulado na recuperação, bem como
apurará o crédito a ser inscrito quando de sua definição no quadro geral de credores, sendo possível
inclusive determinar a reserva de importância que "estimar" devida na recuperação judicial. Com
base nessas premissas, há que se analisar a origem do crédito em discussão e inferir se se trata de
verbas trabalhistas relacionadas à prestação de serviço em momento anterior ao pedido de
recuperação judicial, a ela se sujeitando, ou se são posteriores, a serem concebidas como crédito
extraconcursal.
Informativo nº 0596. Publicação: 1º de março de 2017. TERCEIRA TURMA. REsp
1.532.154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 18/10/2016,
DJe 3/2/2017. Pedido de falência instruído com título executivo extrajudicial de valor superior a 40
(quarenta) salários-mínimos. Indícios de insolvência patrimonial do devedor. Desnecessidade.
Independentemente de indícios ou provas de insuficiência patrimonial, é possível a decretação da
quebra do devedor que não paga, sem relevante razão de direito, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40
(quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência. Informações do Inteiro Teor. A questão
trazida nos autos restringe-se a decidir se a impontualidade do devedor seria requisito suficiente
para o processamento do pedido de falência. Inicialmente, é certo que o STJ possui julgados no
sentido de que o mencionado pleito de quebra não pode servir como substituto de uma ação de
cobrança, de modo que não é o inadimplemento de qualquer dívida que justifica o processamento
do pedido. A preocupação que norteou esses julgados, firmados na perspectiva da disciplina antiga
347

do Direito Falimentar, procedida pelo revogado Decreto-Lei n. 7.661/1945, em que havia espaço
para a formulação de pedidos de falência como substitutivo da ação de cobrança, inclusive de
valores ínfimos, foi superada com a edição da Lei n. 11.101/2005, que, em seu art. 94, I, para
caracterização da impontualidade, passou a exigir que a dívida seja de valor superior a quarenta
salários mínimos. Basta, assim, a impontualidade do devedor no pagamento de dívida de valor
superior a quarenta salários mínimos, não sendo necessários indícios ou provas da sua situação de
insolvência. Nessa linha, a Quarta Turma desta Corte Superior possui julgado específico no sentido
de que não se considera abusivo o pedido de falência lastreado em título cujo valor supere o limite
legal de 40 (quarenta salários mínimos). Portanto, o pedido de falência com fundamento na
impontualidade do devedor não se confunde com as hipóteses de insolvência de modo que a
apresentação de indícios da sua insuficiência patrimonial não é pressuposto para o seu deferimento.
Informativo nº 0591. Período: 4 a 18 de outubro de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. VINCULAÇÃO DE TODOS OS CREDORES À DETERMINAÇÃO DE
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL APROVADO POR MAIORIA PELA ASSEMBLEIA
GERAL DE CREDORES. Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles -
devidamente representados pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente
consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e
reais existentes em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que
não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram
contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação.
Inicialmente, cumpre destacar que se afigura absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem
imiscuir-se na análise da viabilidade econômica da empresa em crise, promova controle de
legalidade do plano de recuperação judicial que, em si, em nada contemporiza a soberania da
assembleia geral de credores. Nesse contexto, dispõe o art. 59 da Lei n. 11.101/2005 que a
concessão de recuperação judicial enseja a novação das obrigações originariamente assumidas pela
recuperanda, sem prejuízo das garantias e observado o disposto no § 1º do art. 50 da referida lei, o
qual preceitua que, na hipótese de alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia
ou sua substituição enseja o consentimento do correlato credor. Salientado isso, cumpre afastar,
peremptoriamente, argumento no sentido de que a novação operada pela homologação do plano de
recuperação judicial importaria, por si, na imediata extinção da obrigação principal originária e, por
conseguinte, das garantias àquela ofertadas, pois, concebidas como obrigação acessória. Isso porque
a "novação prevista na lei civil é bem diversa daquela disciplinada na Lei n. 11.101/2005. Se a
novação civil faz, como regra, extinguir as garantias da dívida, inclusive as reais prestadas por
terceiros estranhos ao pacto (art. 364 do Código Civil), a novação decorrente do plano de
recuperação traz como regra, ao reverso, a manutenção das garantias (art. 59, caput, da Lei n.
348

11.101/2005), sobretudo as reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas 'mediante aprovação


expressa do credor titular da respectiva garantia', por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50,
§ 1º). Assim, o plano de recuperação judicial opera uma novação sui generis e sempre sujeita a uma
condição resolutiva, que é o eventual descumprimento do que ficou acertado no plano (art. 61, § 2º,
da Lei n. 11.101/2005)" (REsp 1.326.888-RS, Quarta Turma, DJe 5/5/2014). No mesmo sentido:
REsp 1.260.301-DF, Terceira Turma, DJe 21/8/2012. Portanto, em regra, a despeito da novação
operada pela recuperação judicial, preservam-se as garantias, no que alude à possibilidade de seu
titular exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impor a manutenção das ações e
execuções promovidas contra fiadores, avalistas ou coobrigados em geral, a exceção do sócio com
responsabilidade ilimitada e solidária (§ 1º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005). E, especificamente
sobre as garantias reais, estas somente poderão ser supridas ou substituídas, por ocasião de sua
alienação, mediante expressa anuência do credor titular de tal garantia, nos termos do § 1º do art. 50
da referida lei. Apesar disso, o art. 49, § 2º, da Lei n. 11.101/2009 prevê, expressamente, a
possibilidade de o plano de recuperação judicial dispor de modo diverso no tocante às garantias
anteriormente ajustadas: "As obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as condições
originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se
de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação judicial". Diante disso, na hipótese em
análise, mostra-se inadequado restringir a supressão das garantias reais e fidejussórias, tal como
previsto no plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral, somente aos credores que
tenham votado favoravelmente nesse sentido, conferindo tratamento diferenciado aos demais
credores da mesma classe, em manifesta contrariedade à deliberação majoritária. Aliás,
compreensão diversa, por óbvio, teria o condão de inviabilizar a consecução do plano, o que refoge
dos propósitos do instituto da recuperação judicial. Salienta-se, ainda, que a extinção das
obrigações, decorrente da homologação do plano de recuperação judicial, encontra-se condicionada
ao efetivo cumprimento de seus termos. Não implementada a aludida condição resolutiva, por
expressa disposição legal, "os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições
originariamente contratadas" (art. 61, § 2º, da Lei n. 11.101/2005). Mais do que isso. A não
implementação da condição resolutiva ensejará, forçosamente, a decretação da falência. Quando a
lei afirma que o credor terá a seu favor a restituição de seus direitos e garantias nas condições
originariamente contratadas, significa que o credor, na fase concursal, terá o benefício da
preferência, segundo a garantia de que é titular, no recebimento de seu crédito. Ele não fará jus, por
exemplo, ao bem sobre o qual recaia a sua garantia. Com o decreto de falência, vende-se o ativo
para pagar o passivo, na ordem de preferência legal, segundo a natureza dos créditos. Logo, não há
razão, nem sequer prática, para impedir que os credores, caso assim entendam necessária à
consecução do plano de recuperação judicial, transacionem a supressão das garantias de que são
349

titulares. Ademais, assinala-se que a necessidade de que os credores com garantia real consintam,
por ocasião da alienação do bem dado em garantia, com a substituição ou supressão da garantia,
contemplada no art. 50, § 1º, da Lei n. 11.101/2005, afigura-se absolutamente preservada, na
medida em que todos os credores, representados pelas respectivas classes, ao aprovarem o plano de
recuperação judicial que dispôs sobre tal matéria (supressão das garantias reais e fidejussórias), com
ela anuíram, inegavelmente. Descabido, portanto, permitir que o plano de recuperação judicial, tal
como aprovado, não seja integralmente observado pelas partes envolvidas, a pretexto da aplicação
do § 1º do art. 50 da Lei n. 11.101/2005. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 13/9/2016, DJe 10/10/2016.
Informativo nº 0589. Período: 1º a 15 de setembro de 2016. TERCEIRA TURMA.
DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE ATIVA DO CREDOR
TRABALHISTA PARA PEDIR FALÊNCIA DE DEVEDOR. A natureza trabalhista do crédito não
impede que o credor requeira a falência do devedor. Da análise do art. 97, IV, da Lei n. 11.101/2005
(Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: [...] IV - qualquer credor), verifica-se que o
legislador conferiu ampla legitimidade ativa para o requerimento de decretação de falência do
devedor, de modo que, em princípio, estarão todos os credores aptos a fazê-lo. Nessa linha, há
doutrina no sentido de que o credor "é, por excelência, o titular da relação jurídica falimentar. [...] A
lei não distingue entre dívida civil, comercial, trabalhista ou fiscal, importando, isso sim, que seja
líquida, dando ensejo, repita-se, à ação executiva". Em igual sentido, existem doutrinadores pátrios
que têm entendido que "a palavra 'qualquer', constante do inciso, sugere que todos os credores,
individualmente ou em conjunto, podem requerer a falência do devedor. Incluir-se-iam, nesse rol,
os credores civis, comerciais, trabalhistas e fiscais". Assim, adota-se corrente doutrinária que
sustenta que: "Credores trabalhistas, fiscais, acidentários podem em tese requerer a falência do
devedor desde que possuam o título executivo pertinente, seja ele judicial ou extrajudicial e esteja
protestado para fins falimentares. Neste caso, é possível o pedido de falência com base no art. 94, I,
da LRF. Há, também, a possibilidade do pleito de falência com base no art. 94, II quando
superveniente uma execução frustrada". REsp 1.544.267-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
por unanimidade, julgado em 23/8/2016, DJe 6/9/2016.
Informativo nº 0580. Período: 2 a 13 de abril de 2016. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. RESPONSABILIDADE PELA REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR
JUDICIAL. É possível impor ao credor que requereu a falência da sociedade empresária a
obrigação de adiantar as despesas relativas à remuneração do administrador judicial, quando a
referida pessoa jurídica não for encontrada - o que resultou na sua citação por edital e na decretação,
incontinenti, da falência - e existirem dúvidas se os bens a serem arrecadados serão suficientes para
arcar com a mencionada dívida. De fato, o art. 25 da Lei n. 11.101/2005 é expresso ao indicar o
350

devedor ou a massa falida como responsável pelas despesas relativas à remuneração do


administrador judicial. Já o art. 19 do CPC/1973 dispõe que: "Salvo as disposições concernentes à
justiça gratuita, cabe às partes prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo,
antecipando-lhes o pagamento desde o início até sentença final; e bem ainda, na execução, até a
plena satisfação do direito declarado pela sentença." Ademais, ressaltam-se os §§ 3º e 4º do art. 24
da Lei de Falência, que catalogam as situações nas quais o administrador judicial perde o direito à
remuneração, não estando ali inserido o mencionado procedimento falimentar frustrado. Assim, se
há possibilidade de não se arrecadar bens suficientes para a remuneração do administrador, deve a
parte credora agir com responsabilidade, arcando com as despesas dos atos necessários, e por ela
requeridos, para tentar reaver seu crédito. Impõe-se ressaltar que, prosseguindo a ação e
arrecadando-se bens suficientes para a remuneração do administrador, a massa falida deverá
restituir o valor despendido pelo credor antecipadamente, obedecendo ao art. 25 da Lei n.
11.101/2005. REsp 1.526.790-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/3/2016, DJe
28/3/2016.
Informativo nº 0580. Período: 2 a 13 de abril de 2016. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. SUBMISSÃO DE CREDOR DISSIDENTE A NOVO PLANO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL APROVADO PELA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. Se,
após o biênio de supervisão judicial e desde que ainda não tenha ocorrido o encerramento da
recuperação judicial, houver aprovação de novo plano de recuperação judicial, o credor que
discordar do novo acordo não tem direito a receber o seu crédito com base em plano anterior
aprovado pelo mesmo órgão. Na recuperação judicial, destacam-se três princípios: a relevância dos
interesses dos credores; a par conditio creditorum; e a preservação da empresa. Esses princípios
encontram destaque nos ditames do art. 47 da Lei n. 11.101/2005. A propósito dos dois primeiros
princípios - relevância dos interesses dos credores e par conditio creditorum -, observa-se que a
legislação recuperacional procurou sobrelevar por meio deles, como dito acima, a função social da
empresa, encartada, sobretudo, na Constituição Federal de 1988. Diante desse macrossistema
principiológico, o devedor, ao se enquadrar no benefício da recuperação judicial, deve ter em mente
a prevalência do interesse de seus credores, visando mais à coletividade do que à singularidade de
cada detentor de crédito. Além disso, deve também o devedor se atentar ao fato de que,
independentemente das condições e das peculiaridades de cada crédito, seus credores devem ser
tratados de forma equitativa, sem que se busque a celeridade das deduções antes das considerações
do mérito de cada pretensão. Essa base principiológica tem servido de alicerce para a constituição
do órgão de representatividade máxima dos inúmeros credores existentes ao tempo da recuperação
judicial, denominado Assembleia Geral de Credores. É por meio dela que se expressa a vontade de
sua maioria, prevalecendo inclusive sobre a intenção daqueles credores ausentes. Dentre as diversas
351

atribuições pertencentes à Assembleia, uma merece destaque, que é a de aprovar ou rejeitar o plano
de recuperação judicial, nos moldes apresentados pelo Administrador Judicial da empresa
recuperanda. Aliás, não cabe a esse órgão alterar os termos postos no referido plano. Apenas é
permitido que se delibere a respeito de possíveis modificações do instrumento. Sendo uma
verdadeira mesa de negociações, não há rigidez nas deliberações da Assembleia. Há, sim, certa
maleabilidade nas tratativas entre os credores para se adequar os seus interesses àqueles relativos
aos propósitos de reestruturação estabelecidos pelo devedor. Sem essa adequação, a preponderância
da vontade dos credores poderia desordenar o intuito de soerguimento da empresa, levando-a, muito
possivelmente, à bancarrota, o que prejudicaria exponencialmente as pretensões creditórias. Nesse
cenário, a doutrina recente acena com a "teoria dos jogos" na recuperação judicial. Por meio dela,
pode-se perceber uma interação estratégica entre o devedor e os credores, capaz de pressupor um
consenso mínimo de ambos a respeito dos termos delineados no plano de recuperação judicial. Tais
negociações demonstram o abandono de um olhar individualizado de cada crédito e um apego
maior à interação coletiva e organizada, já que isso evitaria consequências mais drásticas, como a
quebra da empresa. Nesse panorama, nota-se que, por meio da discussão do plano de recuperação
judicial, cabe à empresa devedora, de um lado, projetar seu fluxo de caixa futuro, de modo
transparente, a fim de estipular a verdadeira capacidade de pagamento das obrigações firmadas
perante os credores, e, por outro lado, que esses credores aprovem tal prospecto de forma célere,
ainda que isso resulte na abdicação de alguns direitos. Dessa feita, diante dos jogos estratégicos de
cada parte, é que se evidencia a relevância da Assembleia Geral de Credores, pois é ela que
ponderará a necessidade de a empresa se manter ativa com as diversas intenções de os credores
verem suas obrigações satisfeitas. Todavia, o processo de recuperação não se sustenta apenas com o
olhar nos credores. Há também a necessidade de se conjugar esse ponto de vista com o objetivo de
reerguimento e manutenção da sociedade empresarial, sendo esse propósito concretizado por meio
do princípio da preservação da empresa. O STJ, em diversos julgados, também sedimentou o
posicionamento a respeito da relevância da preservação da empresa, dada pela Lei n. 11.101/2005
(REsp 1.207.117-MG, Quarta Turma, DJe 25/11/2015). Ademais, não é apenas a legislação
brasileira que prevê esse princípio como o vértice do processo de recuperação judicial. Há, também,
no direito comparado, previsões semelhantes. Por via de consequência, tendo então o empresário,
por meio de seu plano de pagamento, apresentado proposta para os credores, diante da Assembleia
Geral, há nesse momento uma simbiose de interesses, buscando tanto a mantença do funcionamento
da sociedade empresária quanto à solução das obrigações pendentes. Há um equilíbrio entre as
pretensões. E o instrumento de negociação entre devedor e credor é o próprio plano de recuperação
judicial. Por ele, há vinculação tanto dos credores, que abrem mão de parcela dos seus direitos,
quanto do devedor, que se submete à vontade alheia para gerenciar seu empreendimento. Nesse
352

contexto, muito embora a legislação dite o prazo de até dois anos para a permanência do devedor
em recuperação judicial, depois de sua concessão, tal lapso não deve ser interpretado de forma
peremptória. A respeito do tema, confira-se a regra do caput do art. 61: "Proferida a decisão prevista
no art. 58 desta Lei, o devedor, permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as
obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da
recuperação judicial." Como um complemento, exsurge o art. 50, I, dessa lei: "Art. 50. Constituem
meios de recuperação judicial, observada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros: I -
concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas e vincendas."
Aliás, é de sabedoria cursiva que o mercado econômico possui vicissitudes que podem afetar o
processamento da recuperação da empresa. Ademais, é a própria lei que institui a soberania da
Assembleia, fazendo com que o devedor e os credores se vinculem às suas decisões. Isso está
presente no art. 45, c/c o art. 59, ambos da Lei de Falências. Desse modo, apesar de já ter-se
extrapolado o prazo bienal, se não há, no decorrer da controvérsia, a prolação da sentença que
encerra a recuperação judicial do empresário, é mesmo permitido ao recuperando encaminhar suas
novas necessidades à Assembleia de Credores. Enquanto não produzido o encerramento, por meio
de sentença, esse órgão ainda permanece com sua soberania para deliberações atinentes ao plano. E,
mesmo tendo transcorrido o prazo de dois anos de supervisão judicial, como não houve, como ato
subsequente, o encerramento da recuperação, os efeitos desta ainda perduraram, mantendo assim a
vinculação de todos os credores à deliberação da Assembleia. A propósito, a Lei de Falências
entroniza a Assembleia de Credores inclusive para deliberar a respeito de quaisquer objeções feitas
pelos credores não satisfeitos. É o que menciona o art. 56 da lei. Sendo assim, estando presente na
deliberação da Assembleia e não conseguindo obstar a aprovação do novo plano, cabe agora ao
credor dissidente se submeter à vontade da maioria, fruto da soberania advinda daquele órgão.
Destaca-se, por derradeiro, que não está a se falar de descumprimento do plano apresentado. Se
assim fosse, poderia o credor dissidente, nos termos do art. 62 da Lei de Falências, postular pela
convolação da recuperação em falência. REsp 1.302.735-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 17/3/2016, DJe 5/4/2016.
Informativo nº 0572. Período: 28 de outubro a 11 de novembro de 2015. TERCEIRA
TURMA. DIREITO EMPRESARIAL. PRAZO DE REALIZAÇÃO DE PROTESTO PARA FINS
FALIMENTARES. O protesto tirado contra o emitente do cheque é obrigatório para o fim de
comprovar a impontualidade injustificada do devedor no procedimento de falência (art. 94, I, da Lei
11.101/2005) e deve ser realizado em até seis meses contados do término do prazo de apresentação
(prazo prescricional da ação cambial). Do ponto de vista cambial, a execução do cheque pode ser
direcionada contra o emitente, os endossantes ou os respectivos avalistas (art. 47 da Lei
7.357/1985). Nesse contexto, a distinção entre a pretensão dirigida contra o emitente e aquela
353

dirigida contra o endossante conduz a outra diferenciação, que deve ser estabelecida entre o protesto
facultativo e o obrigatório. Dessa forma, no caso da pretensão dirigida contra o emitente, o protesto
(ou a apresentação) do cheque é ato meramente facultativo do credor, que pode optar por executar
diretamente o título, desde que o faça no prazo de prescrição de seis meses, contados da expiração
do prazo de apresentação (art. 59 da Lei do Cheque e Súmula 600 do STF). Já na hipótese de
pretensão dirigida contra o endossante, o protesto (ou apresentação) é obrigatório, sob pena de
perda de eficácia executiva do título contra o coobrigado. Essa diferenciação entre o protesto
cambial facultativo e o obrigatório foi analisada por este Tribunal Superior, quando do julgamento
do REsp 1.297.797-MG (Terceira Turma, DJe 27/2/2015), ocasião em que se firmou, quanto ao
prazo de realização de protesto, o seguinte: "A exigência de realização do protesto antes de
expirado o prazo de apresentação do cheque é dirigida apenas ao protesto obrigatório à propositura
da execução do título, nos termos dos arts. 47 e 48 da Lei n. 7.357/85". Salientado isso, tem-se que,
do ponto de vista falimentar, o protesto é medida obrigatória para comprovar a impontualidade do
devedor (art. 94, I, da Lei 11.101/2005). Sobre a distinção entre o protesto cambial e o protesto
falimentar, parte da doutrina ensina que: "Conforme sua finalidade, o protesto extrajudicial se
subdivide em: cambial e falimentar (também denominado de protesto especial). Aquele é o modo
pelo qual o portador de um título de crédito comprova a sua apresentação ao devedor (por exemplo,
para aceite ou pagamento). Constitui uma faculdade do credor, um ônus do qual ele deve
desincumbir-se para assegurar seu direito de ação contra os coobrigados no título, como
endossantes e avalistas, mas é dispensável para cobrar o crédito do devedor principal. Por outro
lado, o protesto para fins falimentares é obrigatório e visa a comprovar a impontualidade
injustificada do devedor empresário, tornando o título hábil a instruir o pedido de falência [...]. Cabe
esclarecer, entretanto, que tal distinção é meramente acadêmica, uma vez que o protesto é único e
comprova o mesmo fato: a apresentação formal de um título, independentemente da finalidade
visada pelo credor (se pedido de falência ou garantia do direito de ação contra coobrigados)". À luz
das distinções acima delineadas, verifica-se que um protesto cambial facultativo é obrigatório do
ponto de vista falimentar, de modo que pode ser realizado, para este último fim, até a data de
prescrição do cheque. REsp 1.249.866-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
6/10/2015, DJe 27/10/2015.
Informativo nº 0572. Período: 28 de outubro a 11 de novembro de 2015. QUARTA
TURMA. DIREITO EMPRESARIAL. DECLARAÇÃO DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
DO FALIDO. O reconhecimento da extinção das obrigações não tributárias do falido nos termos do
art. 135 do Decreto-Lei 7.661/1945 (art. 158 da Lei 11.101/2005) não depende de prova da quitação
de tributos. Inicialmente, destaca-se que, tanto no regramento anterior (Decreto-Lei 7.661/1945)
quanto na atual Lei de Falências (Lei 11.101/2005), a questão é tratada da mesma forma. Nesse
354

passo, se o art. 187 do CTN - mesmo com a redação anterior à LC 118/2005 - é taxativo ao dispor
que a cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em
falência, e se o mesmo CTN não arrola a falência como uma das causas de suspensão da prescrição
do crédito tributário (art. 151), não há mesmo como se deixar de inferir que o crédito fiscal não se
sujeita aos efeitos da falência. Tem-se, então, que o pedido de extinção das obrigações do falido
poderá ser deferido: a) com maior abrangência, quando satisfeitos os requisitos da Lei Falimentar e
também os do art. 191 do CTN, mediante a "prova de quitação de todos os tributos"; ou b) em
menor extensão, quando atendidos apenas os requisitos da Lei Falimentar, mas sem a prova de
quitação de todos os tributos, caso em que as obrigações tributárias não serão alcançadas pelo
deferimento do pedido de extinção. Assim, na segunda hipótese, como o Fisco continua com seu
direito independente do juízo falimentar, a solução será a procedência do pedido de declaração de
extinção das obrigações do falido consideradas na falência, desde que preenchidos os requisitos da
Lei Falimentar, sem alcançar, porém, as obrigações tributárias, permanecendo a Fazenda Pública
com a possibilidade de cobrança de eventual crédito fiscal. De fato, a declaração de extinção das
obrigações do falido poderá referir-se somente às obrigações que foram habilitadas ou consideradas
no processo falimentar, não tendo, por isso, o falido, a necessidade de apresentar a quitação dos
créditos fiscais para conseguir o reconhecimento da extinção daquelas suas obrigações, em menor
extensão. REsp 834.932-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 25/8/2015, DJe 29/10/2015.
Informativo nº 0567. Período: 21 de agosto a 2 de setembro de 2015. TERCEIRA TURMA.
DIREITO EMPRESARIAL. RETIFICAÇÃO DO QUADRO GERAL DE CREDORES APÓS
HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Ainda que o plano de
recuperação judicial já tenha sido homologado, é possível a retificação do quadro geral de credores
fundada em julgamento de impugnação. No âmbito da recuperação judicial, existem duas fases
distintas e paralelas, quais sejam: (a) a verificação e a habilitação de créditos, previstas na Seção II
da Lei 11.101/2005, arts. 7º ao 20; e (b) a fase de apresentação e deliberação do plano de
recuperação judicial, com assento nas Seções III e IV, arts. 53 ao 69. Assim, uma vez deferido o
processamento da recuperação judicial (art. 52), o juiz determina a expedição de edital com a
relação nominal de credores e respectivos créditos e, a partir de então, a um só tempo, iniciam-se a
fase de verificação e habilitação de créditos (art. 52, § 1º) e o prazo improrrogável de 60 dias para a
apresentação do plano de recuperação judicial, sob pena de convolação em falência (art. 53). Por
serem fases que ocorrem de maneira paralela, é possível que a aprovação do plano de recuperação
judicial ocorra antes da pacificação dos créditos, ou seja, é possível que o plano de recuperação
judicial seja aprovado antes do julgamento de impugnação de crédito e, consequentemente, antes da
consolidação do quadro geral de credores. Dessa maneira, a existência do plano de recuperação
judicial já homologado não pode ser um entrave à consolidação do quadro geral de credores. De
355

fato, a retificação do quadro geral de credores após o julgamento da impugnação é consequência


lógica e previsível, própria da fase de verificação e habilitação dos créditos. Salienta-se, inclusive,
que esse julgamento é requisito indispensável para a consolidação do quadro geral de credores,
sendo completamente desinfluente para a higidez do plano de recuperação judicial já aprovado o
fato de o julgamento se concretizar após sua homologação. Com efeito, tal circunstância coaduna-se
com a sistemática prevista na Lei de Recuperação Judicial, pois as questões passíveis de serem
objeto de impugnação judicial contra a relação de credores, que são expressamente previstas no art.
8º, somente se consolidam (art. 18) após o julgamento da citada impugnação, de modo que se
admite a retificação do quadro geral de credores no tocante à ausência, legitimidade, importância ou
classificação de crédito, mesmo após a aprovação do plano de recuperação judicial. Ademais,
interpretação em sentido contrário tornaria praticamente inócuas as impugnações judiciais contra a
relação de credores, pois, no plano fático, muitas vezes não é possível harmonizar as demandas de
uma empresa em recuperação judicial, cujo plano de reestruturação é, sem dúvida, a principal peça
para a viabilização da atividade econômica, com a tramitação judicial do procedimento de
verificação e habilitação de créditos. Além disso, o fator "tempo" ou a duração do processo não
pode prejudicar o credor que, na forma da lei, busca a declaração do seu crédito. REsp 1.371.427-
RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/8/2015, DJe 24/8/2015.
Informativo nº 0564. Período: 15 a 30 de junho de 2015. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. EXTINÇÃO DAS EXECUÇÕES INDIVIDUAIS PROPOSTAS CONTRA
DEVEDOR EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Após a aprovação do plano de recuperação judicial
pela assembleia de credores e a posterior homologação pelo juízo competente, deverão ser extintas -
e não apenas suspensas - as execuções individuais até então propostas contra a recuperanda nas
quais se busca a cobrança de créditos constantes do plano. De fato, a recuperação judicial divide-se,
essencialmente, em duas fases: (i) a primeira inicia-se com o deferimento de seu processamento
(arts. 6º e 52 da Lei 11.101/2005); (ii) a segunda com a aprovação do plano pelos credores reunidos
em assembleia, seguida da concessão da recuperação por sentença (arts. 57 e 58, caput) ou,
excepcionalmente, pela concessão forçada da recuperação pelo juiz, nas hipóteses previstas nos
incisos do § 1º do art. 58 - Cram Down. Na primeira fase, apresentado o pedido por empresário ou
sociedade empresária que busca o soerguimento, estando em ordem a petição inicial - com a
documentação exigida pelo art. 51 da Lei 11.101/2005 -, o juiz deferirá o processamento da
recuperação judicial (art. 52), iniciando-se em seguida a fase de formação do quadro de credores,
com apresentação e habilitação dos créditos. Portanto, uma vez deferido o processamento da
recuperação, entre outras providências a serem adotadas pelo magistrado, determina-se a suspensão
de todas as ações e execuções, nos termos dos arts. 6º e 52, III, da Lei 11.101/2005. Nesse
momento, justifica-se apenas a suspensão das execuções individuais - e não a extinção -,
356

essencialmente, por duas razões: (i) trata-se de um prazo de suspiro para que o devedor melhor
reorganize suas contas e estabeleça estratégias, em conjunto com a coletividade de credores, acerca
de como solverá seu passivo, sem a necessidade de se defender em inúmeros processos individuais
que podem tramitar em foros distintos; (ii) nos termos do que dispõe o art. 6º, § 4º, da Lei
11.101/2005, esgotado o prazo de 180 (cento e oitenta) dias - com todo o abrandamento que lhe tem
justificadamente conferido a jurisprudência -, restaura-se "o direito dos credores de iniciar ou
continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial". Em suma, a
razão de ser da norma que determina a pausa momentânea das ações e execuções - stay period - na
recuperação judicial é a de permitir que o devedor em crise consiga negociar, de forma conjunta,
com todos os credores (plano de recuperação) e, ao mesmo tempo, preservar o patrimônio do
empreendimento, o qual se verá liberto, por um lapso de tempo, de eventuais constrições de bens
imprescindíveis à continuidade da atividade empresarial, impedindo o seu fatiamento, além de
afastar o risco da falência. Todavia, coisa diversa ocorre na segunda fase, com a aprovação do plano
e a posterior homologação (concessão) pelo juízo competente, em que não se aplicam os
dispositivos legais referentes à suspensão das execuções individuais (arts. 6º, caput, e 52 da Lei
11.101/2005). Diferentemente da primeira fase, em que as ações são suspensas, a aprovação do
plano opera novação dos créditos e a decisão homologatória constitui, ela própria, novo título
executivo judicial, nos termos do que dispõe o art. 59, caput e § 1º, da Lei 11.101/2005. Nesse
particular, cabe ressaltar que, muito embora seja sui generis a novação resultante da concessão da
recuperação judicial, pois mantém as garantias prestadas por terceiros (REsp 1.333.349-SP,
Segunda Seção, DJe 2/2/2015), as execuções individuais ajuizadas contra a própria devedora devem
ser extintas, e não apenas suspensas. Isso porque, uma vez ocorrida a novação, com a constituição
de título executivo judicial, caso haja inadimplemento da obrigação assumida por ocasião da
aprovação do plano, não há mais possibilidade de as execuções antes suspensas retomarem o curso
normal. Nesse caso, abrem-se três possibilidades: (i) se o inadimplemento ocorrer durante os 2 anos
a que se refere o caput do art. 61 da Lei 11.101/2005, o juiz deve convolar a recuperação em
falência; (ii) se o descumprimento ocorrer depois de escoado o prazo de 2 anos, qualquer credor
poderá pedir a execução específica assumida no plano de recuperação; ou (iii) requerer a falência
com base no art. 94 da Lei. Com efeito, não há possibilidade de a execução individual de crédito
constante no plano de recuperação - antes suspensa - prosseguir no juízo comum, mesmo que haja
inadimplemento posterior, porquanto, nessa hipótese, se executa a obrigação específica constante no
novo título judicial ou a falência é decretada, caso em que o credor, igualmente, deverá habilitar seu
crédito no juízo universal. Por fim, cabe ressaltar que, no caso de ser decretada a falência, "os
credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas" (art.
61, § 2º), hipótese na qual, da mesma forma, as execuções individuais não têm curso no juízo
357

comum, mas no universal. Precedentes citados: CC 88.661-SP, Segunda Seção, DJe 3/6/2008; EDcl
no Ag 1.329.097-RS, Quarta Turma, DJe 03/02/2014; e AgRg no CC 125.697-SP, Segunda Seção,
DJe 15/2/2013. REsp 1.272.697-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015, DJe
18/6/2015.
Informativo nº 0564. Período: 15 a 30 de junho de 2015. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. INTERPRETAÇÃO DO ART. 94, III, F, DA LEI DE FALÊNCIAS. A mudança
de domicílio da sociedade em recuperação judicial, devidamente informada em juízo, ainda que sem
comunicação aos credores e sem data estabelecida para a instalação do novo estabelecimento
empresarial, não é causa, por si só, para a decretação de ofício da falência. Nos termos do art. 94,
III, "f", da Lei 11.101/2005, decreta-se a falência do devedor que se ausenta sem deixar
representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona
estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal
estabelecimento. De fato, a fuga e a ocultação do devedor ou o abandono do estabelecimento
empresarial, com o fim de furtar-se de suas obrigações, não podem ser condutas que obtenham a
condescendência do Poder Judiciário. De outro lado, conforme a doutrina, a mudança do domicílio
comercial desacompanhada de comunicação aos credores não é suficiente, por si só, para
caracterização do abandono. Desse modo, embora a ocultação, ou a sua tentativa, pressuponha a
ideia de que o comerciante, fatalmente, deixará de cumprir as suas obrigações, a mudança do
domicílio comercial, mesmo que sem aviso aos credores, ainda não é motivo bastante para
caracterização da fuga. Isso porque é necessário provar que a mudança foi furtiva e realizada com o
objetivo de fraudá-los. É a má-fé, portanto, indubitavelmente, que norteia a decretação da falência
ante a ocultação dolosa do devedor, ou seja, com o fim de descumprir suas obrigações empresariais.
Aquela, contudo e como se sabe, há de ser provada, enquanto a boa-fé é presumida, magistério que
se colhe de vetusto brocardo jurídico. Dessa forma, a simples alteração de endereço não é causa
suficiente para o decreto de quebra, havendo que se perquirir se houve, de fato, abandono ou
ocultação pelo devedor, o que deverá se dar sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, de
modo que a sociedade empresária em recuperação deverá ser intimada para, em se constatando que
não mais exerce sua empresa em seu antigo endereço, informar ao juízo acerca do ocorrido e fazer
prova de que não houve tentativa de furtar-se ao cumprimento de suas obrigações. REsp 1.366.845-
MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 18/6/2015, DJe 25/6/2015.
Informativo nº 0558. Período: 19 de março a 6 de abril de 2015. TERCEIRA TURMA.
DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. CAPACIDADE PROCESSUAL DO
FALIDO. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença
transitada em julgado que decretou a sua falência. Com a decretação da falência, o falido sofre uma
capitis diminutio referente aos direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastado da
358

administração dos seus bens. Sendo assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a venda
desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto,
tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa. Entretanto, no caso em que se pretenda
rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os
credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único
interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar fosse
retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem
legal. Com efeito, a decisão que decreta a falência, conquanto acarrete ao falido uma capitis
diminutio em relação aos seus bens, não o torna incapaz, de sorte que ele mantém a legitimidade
para a propositura de ações pessoais. Ora, dizer que o falido não pode propor ação rescisória contra
o decreto falencial é dar uma extensão que a lei não deu. Desse modo, ele tem todos os poderes
processuais e todos os poderes como sujeito de direito para tentar reverter o referido decreto
falimentar. REsp 1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2015, DJe 26/3/2015.
Informativo nº 0557. Período: 5 a 18 de março de 2015. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. ABRANGÊNCIA DE EXPRESSÃO DOS ARTS. 67, CAPUT, E 84, V, DA LEI
11.101/2005. Nos termos dos arts. 67, caput, e 84, V, da Lei 11.101/2005, em caso de decretação de
falência, serão considerados extraconcursais os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo
devedor entre a data em que se defere o processamento da recuperação judicial e a data da
decretação da falência, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços
e contratos de mútuo. Isso porque a expressão "durante a recuperação judicial" gravada nos arts. 67,
caput, e 84, V, da Lei 11.101/2005 abrange o período compreendido entre a data em que se defere o
processamento da recuperação judicial e a decretação da falência. De fato, pode-se questionar se o
termo inicial do benefício de que tratam os referidos artigos dá-se: (a) com o ajuizamento do pedido
de recuperação (art. 51 da LF); (b) a partir da decisão que defere o seu processamento (art. 52 da
LF); ou (c) da decisão que a concede (art. 58 da LF). É bem verdade que a redação do caput do art.
67 e do inciso V do art. 84 da LF não se reveste de clareza e precisão. Nesse contexto, é dever
constitucional do STJ atribuir à lei federal sua mais adequada interpretação, para tanto se valendo
dos recursos que orientam o processo hermenêutico, destacando-se, no caso presente, os métodos
lógico e sistemático, não se olvidando que "na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum", conforme determina o art. 5º da LINDB, que indica a
fórmula teleológica. No campo da teleologia, há de se ter por indubitável que o intento da Lei de
Falências é conferir primazia à recuperação da empresa, como orienta seu art. 47, segundo o qual "a
recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-
financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos
359

trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica". Nessa conjuntura, é certo que a adoção do
entendimento de que o termo inicial do benefício legal em análise seria (c) a decisão que concede a
recuperação judicial (art. 58) reduziria as vulnerabilidades de outros credores nas hipóteses de
ocorrência de fraudes, sendo autêntica a preocupação com o risco de, por força de uma
interpretação mais abrangente da expressão utilizada no texto legal, esse instituto possa servir,
eventualmente, à prática de ardis ou procedimentos inspirados por motivações menos nobres.
Apesar disso, o direito positivo e, sobretudo, a própria Lei de Recuperação e Falências cuidam de
proteger os credores das ilegalidades que venham a ser praticadas pela empresa recuperanda se no
intento de lhes causar prejuízo. Não há dúvida de que, comprovado o escopo fraudulento, deverá o
magistrado declarar a ineficácia do privilégio legal, sem prejuízo das demais sanções previstas na
lei. Tanto é assim que, para os fins do art. 84, V, só serão qualificadas como extraconcursais as
"obrigações resultantes de atos jurídicos válidos". Além disso, na decisão que defere o
processamento do pedido de recuperação, o magistrado, de pronto, designa um administrador
judicial, a quem compete, dentre outros deveres, "exigir dos credores, do devedor ou seus
administradores quaisquer informações" (art. 22, I, "d"). Por conseguinte, desde a (b) decisão que
defere o processamento da recuperação judicial (art. 52), cuidou o legislador de pôr a empresa
recuperanda sob fiscalização, evidenciando a preocupação com sua manutenção e visando a evitar a
utilização do instituto para a prática de ilegalidades. A disposição é sintomática e denota que esse
momento processual guarda relevância, não se traduzindo simples despacho protocolar, mas efetiva
avaliação, ainda que superficial, acerca das atuais condições da empresa e dos requisitos para o
deferimento da recuperação. Afinal, o administrador judicial não é um adorno ou mero coadjuvante
no processo, cabendo-lhe até mesmo requerer a falência do devedor no caso de descumprimento das
obrigações assumidas no plano de recuperação (art. 22, II, "b"). O citado art. 52 apresenta, ainda,
outras disposições que bem demonstram a profundidade da (b) decisão que defere seu
processamento e a preocupação do legislador com o risco de fraude, merecendo destaque os incisos
IV e V, que determinam, respectivamente, a obrigação de o devedor apresentar contas mensais
enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores, bem
como a intimação do Ministério Público, da Fazenda Pública Federal e de todos os estados e
municípios em que tiver estabelecimento, para que possam resguardar seus interesses e exercer
fiscalização sobre os atos do recuperando. Além do mais, o parágrafo único do art. 67 determina
que os "créditos quirografários sujeitos à recuperação judicial pertencentes a fornecedores de bens
ou serviços que continuarem a provê-los normalmente após o pedido de recuperação judicial terão
privilégio geral de recebimento em caso de decretação de falência, no limite do valor dos bens ou
serviços fornecidos durante o período da recuperação". De fato, a leitura desse dispositivo - em
360

especial, do trecho "após o pedido de recuperação judicial" - induz-nos a concluir que benefício não
valerá tão logo (a) seja ajuizado o pedido de recuperação (art. 51), senão em momento posterior,
que tanto poderá ser tanto (b) a partir da decisão que defere o processamento da recuperação (art.
52) quanto (c) da decisão que a concede (art. 58). Todavia, o mencionado parágrafo único do art. 67
da LF contém uma sutil indicação de que a classificação dos créditos dos fornecedores como
extraconcursais não poderia ser remetida somente para quando (c) concedida a recuperação. Com
efeito, reza o referido dispositivo que o credor-fornecedor, titular de créditos quirografários
vinculados à recuperação judicial (segundo o art. 49, sujeitam-se à recuperação os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos), que continuar a prover o devedor de bens e
serviços após o pedido de recuperação judicial, terá seus créditos (os anteriores ao pedido, reitere-
se) alçados à categoria dos que têm privilégio geral (art. 83, V), até o limite dos bens ou serviços
fornecidos durante o período da recuperação. Ou seja, em prevalecendo a interpretação de que a
regra do parágrafo do art. 67 só tem incidência para créditos constituídos após a (c) decisão que
concede a recuperação (art. 58), o resultado prático seria de que os valores decorrentes de operações
praticadas no lapso temporal que vai do pedido até a decisão concessória não gozariam do mesmo
privilégio que aqueles relativos a operações anteriores, o que se mostra discrepante do objetivo da
lei. Ora, os momentos que sucedem o requerimento de recuperação são os mais delicados para a
empresa. Registre-se que, quando deferido o processamento, há a obrigação de se publicar edital
noticiando o pedido (art. 52, § 1º), o que torna oficialmente públicas as dificuldades pelas quais
passa a devedora, induzindo os credores à natural postura da autodefesa. Decerto que optarão pela
solução de continuidade do fornecimento de bens e serviços, ante a relevante incerteza quanto à
viabilidade da pessoa jurídica requerente. Nessas condições, devem ser recompensados os que
acreditaram e contribuíram para a reabilitação, mesmo com o resultado infrutífero do esforço, em
razão da decretação da falência. Ademais, quando (c) deferida a recuperação, os credores têm mais
transparentes as condições da empresa, conhecendo de modo exato qual é o plano que visa a
reerguê-la. Pode-se fiscalizá-lo com mais rigor. Antes disso, porém - e, em especial, desde o (b)
deferimento até a (c) concessão -, verifica-se o momento de maior risco. Se não houver estímulo aos
fornecedores, nada mais será provido à empresa, exacerbando o risco da falência. Sendo assim,
forçoso concluir que os efeitos da recuperação judicial não se efetivam somente após o momento
em que (c) formalmente concedida pelo juiz (art. 58). A par das consequências que são
expressamente atribuídas à (b) decisão que defere o processamento (art. 52), outros dispositivos da
lei indicam que a expressão "durante a recuperação judicial" não se limita aos momentos que
sucedem a decisão concessiva. Nesse sentido, o art. 49 dispõe que "estão sujeitos à recuperação
judicial todos os créditos existentes na data do pedido , ainda que não vencidos", inspirando-nos à
conclusão de que os créditos posteriores a esse momento devem, efetivamente, receber tratamento
361

diferenciado. Do mesmo modo, o art. 64 prevê que o devedor é mantido sob fiscalização do comitê
de credores e do administrador judicial "durante o procedimento de recuperação judicial",
fiscalização, aliás, que pode e deve ser exercida tão logo deferido o processamento da recuperação
(art. 52, I e § 2º). Precedente citado: REsp 1.398.092-SC, Terceira Turma, DJe 19/5/2014. REsp
1.399.853-SC, Rel. originária Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos
Ferreira, julgado em 10/2/2015, DJe 13/3/2015.
Informativo nº 0555. Período: 11 de março de 2015. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. ALIENAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DE ATIVO DA FALIDA E
DESNECESSIDADE DE PRÉVIA PUBLICAÇÃO DE EDITAL. Na hipótese de alienação
extraordinária de ativo da falida (arts. 144 e 145 da Lei 11.101/2005), não é necessária a prévia
publicação de edital em jornal de grande circulação prevista no § 1° do art. 142 da Lei 11.101/2005.
A Lei de Falências, em seu art. 142, prevê três modalidades ordinárias de alienação do ativo, quais
sejam: leilão, pregão e propostas fechadas. Além disso, os arts. 144 e 145 do referido diploma legal
preveem a alienação extraordinária do ativo da pessoa jurídica mediante proposta aprovada ou
homologada pelo juiz. Ciente disso, verifica-se que não é necessário que a alienação extraordinária
do ativo seja precedida de publicação de edital em jornal de grande circulação, para que seja dada
ampla publicidade à intenção de venda, como exige o art. 142, § 1º, da Lei de Falências. Isso porque
o referido dispositivo legal diz respeito exclusivamente à alienação ordinária, por três motivos, a
saber: primeiro, por uma razão topográfica, pois o enunciado normativo do art. 142 diz respeito à
alienação ordinária, sendo que a alienação extraordinária somente passa a ser tratada no art. 144 da
Lei de Falências; segundo, por uma razão ontológica, uma vez que a necessidade de edital prévio
praticamente eliminaria a diferença entre a alienação ordinária e a extraordinária, haja vista que,
depois de publicado o edital, pouco restaria ao juiz além de proclamar a melhor proposta ou fazer
uma sessão de lances mediante pregão ou leilão; e terceiro, por uma razão teleológica, pois a
exigência de edital comprometeria a celeridade do procedimento de alienação do ativo, podendo
inviabilizar a continuidade da atividade empresária, que é um dos principais objetivos da Lei de
Falências. Por fim, cabe lembrar que até mesmo na execução individual, em que o devedor merece
maior proteção do que na execução concursal, já se admite a venda direta de ativo, inclusive por
preço inferior ao da avaliação, sem necessidade de publicação de editais, à luz do que dispõe o art.
685-C do CPC. REsp 1.356.809-GO, Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, julgado em 10/2/2015,
DJe 18/2/2015.
Informativo nº 0551. Período: 3 de dezembro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. SUSPENSÃO DA FLUÊNCIA DE JUROS LEGAIS E CONTRATUAIS EM
LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. Após a decretação da liquidação extrajudicial de instituição
financeira, os juros contra a massa liquidanda, sejam eles legais ou contratuais, terão sua fluência ou
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contagem suspensa enquanto o passivo não for integralmente pago aos credores habilitados,
devendo esses juros serem computados e pagos apenas após a satisfação integral do passivo se
houver ativo que os suporte, observando-se a ordem do quadro geral de credores. De fato, a regra
legal segundo a qual a decretação da liquidação extrajudicial produzirá, de imediato, a não fluência
de juros (art. 18, d, da Lei 6.024/1974) não discrimina a natureza destes, se remuneratórios,
moratórios ou legais. A respeito dessa discriminação, deve-se dizer que se trata de tipificação
abrangente, na medida em que visa à preservação do ativo para pagamento da massa, por presumir,
com caráter relativo, que o ativo não é suficiente para o pagamento de todos os credores. Dessa
forma, na liquidação extrajudicial, os juros, sejam eles legais ou contratuais, têm sua fluência
suspensa por força do art. 18, d, da Lei 6.024/1974, a exemplo do que ocorre durante o
processamento da falência (art. 124 da Lei 11.101/2005, que, de forma expressa, prevê a
inexigibilidade dos juros "previstos em lei ou em contrato" que tenham vencido após a decretação
da falência, condicionada à ausência de ativo para o pagamento dos credores). REsp 1.102.850-PE,
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 4/11/2014.
Informativo nº 0550. Período: 19 de novembro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. PEDIDO DE FALÊNCIA FUNDADO EM IMPONTUALIDADE
INJUSTIFICADA. Em pedido de falência requerido com fundamento na impontualidade
injustificada (art. 94, I, da Lei 11.101/2005), é desnecessária a demonstração da insolvência
econômica do devedor, independentemente de sua condição econômica. Os dois sistemas de
execução por concurso universal existentes no direito pátrio - insolvência civil e falência -, entre
outras diferenças, distanciam-se um do outro no tocante à concepção do que seja estado de
insolvência, necessário em ambos. O processo de insolvência civil apoia-se no pressuposto da
insolvência econômica, que consiste na presença de ativo deficitário para fazer frente ao passivo do
devedor, nos termos do art. 748 do CPC: "Dá-se a insolvência toda vez que as dívidas excederem à
importância dos bens do devedor". O sistema falimentar, ao contrário, não tem alicerce na
insolvência econômica. O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência
jurídica, que é caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento
jurídico. No direito brasileiro, caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 94 da Lei
11.101/2005, a impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de
atos de falência (inciso III). Nesse sentido, a insolvência que autoriza a decretação de falência é
presumida, uma vez que a lei decanta a insolvência econômica de atos caracterizadores da
insolvência jurídica, pois se presume que o empresário individual ou a sociedade empresária que se
encontram em uma das situações apontadas pela norma estão em estado pré-falimentar. É bem por
isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da
insolvência econômica. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014.
363

Informativo nº 0550. Período: 19 de novembro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO


EMPRESARIAL. HIPÓTESE EM QUE NÃO SE CARACTERIZA USO ABUSIVO DA VIA
FALIMENTAR. Diante de depósito elisivo de falência requerida com fundamento na
impontualidade injustificada do devedor (art. 94, I, da Lei 11.101/2005), admite-se, embora afastada
a decretação de falência, a conversão do processo falimentar em verdadeiro rito de cobrança para
apurar questões alusivas à existência e à exigibilidade da dívida cobrada, sem que isso configure
utilização abusiva da via falimentar como sucedâneo de ação de cobrança/execução. Com efeito, o
referido uso abusivo da via falimentar tem sido uma preocupação tanto da lei quanto da
jurisprudência, ainda na vigência do Decreto-Lei 7.661/1945 (antiga Lei de Falências). De um
modo geral, entendia-se que "o processo de falência não deve ser desvirtuado para servir de
instrumento de coação para a cobrança de dívidas. Considerando os graves resultados que decorrem
da quebra da empresa, o seu requerimento merece ser examinado com rigor formal, e afastado
sempre que a pretensão do credor seja tão somente a satisfação do seu crédito" (REsp 136.565-RS,
Quarta Turma, DJ 14/6/1999). Nesse particular, é de se ter em mente que, diferentemente da Lei
11.101/2005 (art. 94, I), o sistema disciplinado pelo Decreto-Lei 7.661/1945 não estabelecia valor
mínimo para que o credor ajuizasse pedido de falência do devedor com base na impontualidade
injustificada. Tal circunstância propiciava pedidos de falência apoiados em valores de somenos
importância, sugestivos, deveras, de mera substituição do processo de execução/cobrança pelo
falimentar. No sistema antigo, por não haver parâmetro legal seguro para abortar essas empreitadas,
ficou a cargo da jurisprudência obstar o abuso no exercício do direito de pleitear a quebra do
devedor. Porém, a anomia anterior quanto a critérios de aferição do abuso foi colmatada com a
edição da Lei de Falências atual, tendo esta previsto o valor de 40 salários mínimos como piso a
justificar o pedido de falência com fulcro na impontualidade injustificada. Com efeito, a questão do
abuso ou da substituição da cobrança por falência há de ser vista sob o enfoque da nova Lei de
Falências. Os pedidos de falência por impontualidade de dívidas aquém desse piso são legalmente
considerados abusivos, e a própria lei encarrega-se de embaraçar o atalhamento processual, pois
elevou tal requisito à condição de procedibilidade da falência (art. 94, I). Porém, superando-se esse
valor, a ponderação legal já foi realizada segundo a ótica e prudência do legislador. Assim, não cabe
ao Judiciário obstar pedidos de falência que observaram os critérios estabelecidos pela lei, a partir
dos quais o legislador separou as situações já de longa data conhecidas, de uso controlado e abusivo
da via falimentar. Portanto, tendo o pedido de falência sido aparelhado em impontualidade
injustificada de títulos que superam o piso legal de 40 salários mínimos (art. 94, I, da Lei
11.101/2005), por absoluta presunção legal, fica afastada a alegação de atalhamento do processo de
execução pela via falimentar, devendo a ação prosseguir, mesmo que seja sob o rito de mera
cobrança, tendo em vista o depósito elisivo efetuado com o propósito de afastar a possibilidade de
364

decretação da quebra (art. 98, parágrafo único). Precedente citado: REsp 604.435-SP, Terceira
Turma, DJ 1º/2/2006. REsp 1.433.652-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/9/2014.
Informativo nº 0549. Período: 5 de novembro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. CONTROLE JUDICIAL DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
Cumpridas as exigências legais, o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor cujo plano
tenha sido aprovado em assembleia (art. 58, caput, da Lei 11.101/2005), não lhe sendo dado se
imiscuir no aspecto da viabilidade econômica da empresa. De fato, um vértice sobre o qual se apoia
a referida lei é, realmente, a viabilidade econômica da empresa, exigindo-se expressamente que o
plano de recuperação contenha demonstrativo nesse sentido (art. 53, II). No entanto, se é verdade
que a intervenção judicial no quadrante mercadológico de uma empresa em crise visa tutelar
interesses públicos relacionados à sua função social e à manutenção da fonte produtiva e dos postos
de trabalho, não é menos certo que a recuperação judicial, com a aprovação do plano, desenvolve-se
essencialmente por uma nova relação negocial estabelecida entre o devedor e os credores reunidos
em assembleia. Realmente, existe previsão legal para o magistrado conceder, manu militari, a
recuperação judicial contra decisão assemblear - cram down (art. 58, § 1º) -, mas não o inverso,
porquanto isso geraria exatamente o fechamento da empresa, com a decretação da falência (art. 56,
§ 4º), solução que se posiciona exatamente na contramão do propósito declarado da lei. Ademais, o
magistrado não é a pessoa mais indicada para aferir a viabilidade econômica de planos de
recuperação judicial, sobretudo daqueles que já passaram pelo crivo positivo dos credores em
assembleia, haja vista que as projeções de sucesso da empreitada e os diversos graus de tolerância
obrigacional recíproca estabelecida entre credores e devedor não são questões propriamente
jurídicas, devendo, pois, acomodar-se na seara negocial da recuperação judicial. Assim, o
magistrado deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação - no que se insere o
repúdio à fraude e ao abuso de direito -, mas não o controle de sua viabilidade econômica. Nesse
sentido, na I Jornada de Direito Comercial CJF/STJ, foram aprovados os Enunciados 44 e 46, que
refletem com precisão esse entendimento: 44: "A homologação de plano de recuperação judicial
aprovado pelos credores está sujeita ao controle de legalidade"; e 46: "Não compete ao juiz deixar
de conceder a recuperação judicial ou de homologar a extrajudicial com fundamento na análise
econômico-financeira do plano de recuperação aprovado pelos credores". REsp 1.359.311-SP, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/9/2014.
Informativo nº 0548. Período: 22 de outubro de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. FALÊNCIA DE INCORPORADORA IMOBILIÁRIA E CLASSIFICAÇÃO
DOS CRÉDITOS ORIUNDOS DE DESPESAS EFETUADAS POR ADQUIRENTE DE IMÓVEL
PARA A CONCLUSÃO DE PRÉDIO RESIDENCIAL. Quando o adquirente de unidade
imobiliária - em razão da impossibilidade de conclusão da edificação por parte da incorporadora
365

responsável, ante a decretação de sua falência - tenha assumido despesas necessárias à conclusão do
prédio residencial, os gastos desembolsados pelo adquirente devem ser inscritos no processo de
falência da referida incorporadora como créditos quirografários. No processo falimentar,
especialmente no tocante aos créditos habilitados, o princípio norteador é o da par conditio
creditorum, na esteira do qual os credores do falido devem ser tratados em igualdade de condições,
salvo se a lei expressamente dispuser de forma contrária, como ocorre com os créditos com
preferências e privilégios eleitos pelo legislador como dignos de prioridade no pagamento. Neste
contexto, o art. 43, III, da Lei 4.591/1964 (Lei de Incorporações Imobiliárias) preconiza que, no
caso de decretação da quebra do incorporador e ante a impossibilidade de término da construção do
edifício pela maioria dos adquirentes, estes se tornam credores privilegiados em relação aos valores
já pagos ao incorporador pela compra do imóvel. Na hipótese em foco, o valor ora pleiteado é
oriundo de mero ressarcimento dos custos das obras de finalização do empreendimento imobiliário.
Assim, o crédito em análise não se encontra inserto em nenhuma das hipóteses previstas no art. 102,
§§ 2º e 3º, do Decreto-Lei 7.661/1945 - que previa a classificação de créditos como privilegiados e
especiais -, sendo certo, portanto, que a atribuição de privilégio previsto no art. 43, III, da Lei das
Incorporações Imobiliárias refere-se, tão somente, aos créditos decorrentes das importâncias pagas
ao incorporador pela aquisição das unidades autônomas, e não por despesas com construção do
prédio residencial. REsp 1.185.336-RS, Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/9/2014.
Informativo nº 0547. Período: 8 de outubro de 2014. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. HIPÓTESES AUTÔNOMAS DE PEDIDO DE FALÊNCIA. É desnecessário o
prévio ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com fundamento na
impontualidade do devedor. Isso porque o art. 94, I e II, da Lei de Falências (Lei 11.101/2005)
prevê a impontualidade e a execução frustrada como hipóteses autônomas de falência, não
condicionando a primeira à segunda. Precedentes citados: REsp 1.079.229-SP, Quarta Turma, DJe
12/6/2014; e AgRg no Ag 1.073.663-PR, Quarta Turma, DJe 10/2/2011. REsp 1.354.776-MG, Min.
Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014.
Informativo nº 0547. Período: 8 de outubro de 2014. TERCEIRA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL. INSTRUÇÃO DO PEDIDO DE FALÊNCIA COM DUPLICATAS VIRTUAIS.
A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de falência com
base na impontualidade do devedor. Isso porque o art. 94, I, da Lei de Falências (Lei 11.101/2005)
não estabelece nenhuma restrição quanto à cartularidade do título executivo que embasa um pedido
de falência. REsp 1.354.776-MG, Min. Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014.
Informativo nº 0539. Período: 15 de maio de 2014. QUARTA TURMA. DIREITO
EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA. O
reconhecimento, por sentença transitada em julgado, de que elidiu a falência o depósito do valor
366

principal do título executivo extrajudicial cujo inadimplemento baseou o pedido de quebra (art. 1º, §
3º, Decreto-Lei 7.661/1995) não torna prevento o juízo para um segundo pedido de falência
fundado na execução frustrada (art. 2º, I, do Decreto-Lei 7.661/1945) do título executivo advindo
daquela sentença quanto aos juros e a correção monetária. O juízo da falência é indivisível porque
competente para todas as ações sobre bens e interesses da massa falida, conforme enfatizava o art.
7º, § 2º, da antiga Lei Falimentar (Decreto-Lei 7.661/45), norma repetida no art. 76 da atual Lei de
Recuperação de Empresas (Lei 11.101/2005). O objetivo da vis atractiva do juízo falimentar é
submeter a universalidade dos bens do devedor comum a um regime único, evitando que apareçam
duas ou mais falências paralelas em juízos diferentes, para que, assim, haja paridade no tratamento
dos créditos. É necessário, portanto, que, para se instaurar o juízo universal da falência, seja
efetivamente decretada a falência pelo juízo competente. Na hipótese em análise, houve
reconhecimento do depósito elisivo do primitivo pedido de quebra, por sentença transitada em
julgado, desaparecendo a possibilidade de decretação da falência com fundamento no título de
crédito, não se tendo, por isso, instaurado o juízo universal da falência. Efetivamente, o fato de
existir uma execução frustrada, advinda de um título judicial nascido de uma ação falimentar extinta
pelo depósito elisivo parcial, não tem o condão de determinar a distribuição, por prevenção, de um
segundo pedido de falência, pelo fato de que não mais existe a possibilidade de ocorrerem falências
em juízos diferentes. REsp 702.417-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/3/2014.

i
Reprodução textual dos apontamentos do Prof. André Santa Cruz, sobre as propostas do Prof. Fabio Ulhoa Coelho, no
Novo Código Comercial: “(i) define expressamente “empresa” como sendo “a atividade econômica organizada para
produção ou circulação de bens ou serviços”;
(ii) define e elenca expressamente o que se considera como “normas empresariais”, incluindo nelas os princípios e os
costumes (a ideia declarada dos organizadores é fazer um código principiológico);
(iii) trata de forma extremamente detalhada os princípios empresariais, preocupando-se inclusive em definir alguns;
(iv) preocupa-se tanto com os princípios empresariais que trata separadamente dos princípios de cada sub-ramo do
direito empresarial (societário, cambiário, falimentar, agronegócio, comércio marítimo etc.);
(v) prevê a figura da “norma de autorregulamentação”, que terá eficácia em juízo quando discutida e aprovada em
Congresso Empresarial, cujas condições e forma de realização estão dispostas no próprio CCom;
(vi) exclui do conceito de empresário a pessoa, física ou jurídica, “dedicada a atividade de prestação de serviços típicos
de profissão regulamentada” (foi uma tentativa de reescrever, de forma menos confusa, a atual regra do art. 966,
parágrafo único, do CC/2002);
(vii) mantém a figura da EIRELI, mas com mudanças relevantes no seu regime jurídico, já que segundo o projeto de
CCom ela “será exercida: I – pelo empresário individual em regime fiduciário; ou II – pela sociedade limitada
unipessoal” (no regime atual, a EIRELI não se confunde nem com o empresário individual nem com a sociedade
empresária, e seu titular deve ser necessariamente uma pessoa física);
(viii) traz regras mais detalhadas sobre registro do que as previstas no CC/2002, algumas delas diferentes, inclusive,
das regras previstas na Lei 8.934/1994, que terão de ser revogadas (por exemplo: o projeto de CCom tem regras mais
simplificadas para cancelamento de registro e reduz de 10 para 5 anos o prazo para que se caracterize a inatividade do
empresário);
(ix) prevê a figura do empresário individual informal, aquele que exerce atividade empresarial sem registro, mas
estabelece que o poder público desenvolverá políticas que estimulem a sua regularização;
(x) praticamente repete as regras do CC/2002 sobre nome empresarial;
367

(xi) tem mais regras sobre estabelecimento empresarial que o CC/2002, define expressamente o contrato de
“trespasse” e o disciplina de forma mais detalhada, preocupando-se, inclusive, em deixar claro que “a cessão da
locação empresarial depende de anuência do locador, mesmo que integrante ou derivada de trespasse” (esse tema é
polêmico na doutrina, já tendo motivado a edição de enunciados nas Jornadas de Direito Civil e Comercial);
(xii) regula expressamente o “comércio eletrônico” feito “entre empresários” (o que exclui, pois, as relações de
consumo), estabelecendo regras específicas sobre o uso do site (por exemplo: “o empresário que se utilizar de
ambiente eletrônico em sua atividade deve adotar medidas mínimas de segurança das informações trocadas nas
transações comerciais, atualizando-as periodicamente, com base na evolução da tecnologia e na experiência
adquirida”; “o sítio de empresário acessível pela rede mundial de computadores deve conter a política de privacidade
e os termos de uso, devendo ser disponibilizada ligação direta para esses documentos na página introdutória”) e do
nome de domínio (por exemplo: “Configura conduta parasitária o registro de nome de domínio em que o núcleo
distintivo do segundo nível reproduz marca registrada alheia, salvo se feito por quem for também titular, em razão da
especialidade, do registro de igual marca”);
(xiii) tem regras sobre escrituração bem mais detalhadas que o CC/2002, prevendo que “os livros podem ser
escriturados e as demonstrações contábeis elaboradas em meio eletrônico, desde que certificadas as assinaturas no
âmbito da Infraestrutura de Chaves Públicas brasileira (ICP-Brasil)”;
(xiv) prevê a responsabilização do empresário por “concorrência desleal” ou “parasitismo”, condutas que são
devidamente definidas (“Concorrência desleal é o emprego de meios ilegais, fraudulentos ou repudiados pela
generalidade dos empresários que atuam no mesmo segmento de mercado”; “Concorrência ou conduta parasitária é
o aproveitamento, sem a devida autorização, do potencial de resultados econômicos de marca, nome empresarial ou
outros sinais distintivos alheios, de apelo publicitário notoriamente associado a outra empresa ou, por qualquer meio,
de investimentos realizados por outrem na exploração de sua atividade econômica”) e exemplificadas (“São exemplos
de concorrência desleal: I – divulgação de informação falsa em detrimento da imagem de concorrente;...”; “Art. 160.
São exemplos de parasitismo: I – a equiparação do produto ou serviço ao de outro empresário, concorrente ou não,
feita com o propósito de difundir informação, insuscetível de comprovação objetiva, sobre as qualidades dos que
oferece ao mercado;...”);
(xv) trata expressamente do “negócio jurídico empresarial”, prevendo regras específicas e bastante detalhadas sobre
sua validade, sobre sua interpretação e sobre a prescrição e a decadência a ele aplicável;
(xvi) estabelece que “pessoas casadas podem ser sócias entre si, independentemente do regime de bens do
casamento” (no CC/2002, não se permite isso quando o regime é de comunhão universal ou de separação
obrigatória);
(xvii) reduz os tipos societários a apenas quatro (limitada, anônima, nome coletivo e conta de participação), excluindo
a sociedade em comandita;
(xviii) prevê expressamente a possibilidade do uso de arbitragem para solução de litígios societários (algo já muito
feito na prática atualmente);
(xix) quanto aos atos societários, prevê expressamente que “Desde que certificadas as assinaturas no âmbito da
Infraestrutura de Chaves Públicas brasileira (ICP-Brasil), os atos societários não podem ter a existência, validade,
eficácia e registrabilidade negadas só pela circunstância de terem sido elaborados e mantidos em meio eletrônico”;
(xx) tem regras específicas sobre desconsideração da personalidade jurídica, uma delas prevendo que “a simples
insuficiência de bens no patrimônio da sociedade para a satisfação de direito de credor não autoriza a
desconsideração de sua personalidade jurídica”;
(xxi) permite que as quotas da sociedade limitada tenham ou não valor nominal;
(xxii) prevê expressamente o usufruto de quotas, o penhor ou caução de quotas como garantia real, a aquisição de
quotas pela própria sociedade para manter em tesouraria;
(xxiii) prevê que “As deliberações sociais, salvo exceções legais ou disposição do contrato social
ou de acordo de quotistas, são tomadas por maioria absoluta de votos, calculada segundo o valor da participação de
cada sócio no capital social”;
(xxiv) permite a criação de quotas preferenciais sem direito a voto (o assunto hoje causa polêmica, e as Juntas
Comerciais não têm admitido tal prática);
(xxv) optou por também não tratar da sociedade anônima, assim como fez o CC/2002, de modo que ela continuará a
ser regida por sua lei específica (Lei 6.404/1976);
(xxvi) cria a figura da “sociedade de profissão intelectual”, sendo ela aquela que é “constituída para proporcionar o
exercício em comum de profissão intelectual ou regulamentada”, mas faz ressalva afirmando que “é facultada a
organização de sua atividade como empresa, bem como a adoção de qualquer um dos tipos societários previstos no
artigo 190”;
(xxvii) permite que a sociedade de profissão intelectual seja unipessoal e que o sócio contribua com serviços para a
formação do seu capital (na sociedade limitada, mantém a proibição atualmente vigente de contribuição com
serviços);
368

(xxviii) disciplina expressamente e de forma detalhada os contratos empresariais (“quando a relação obrigacional
envolver apenas empresários, como credor e devedor principais”), deixando claro que a eles não se aplicam as regras
do Código de Defesa do Consumidor (atualmente o STJ as tem aplicado, excepcionalmente, quando há
“vulnerabilidade técnica, econômica ou jurídica” de um dos empresários contratantes);
(xxix) traz regras específicas sobre a responsabilidade civil dos empresários (por exemplo: “o protesto de título regular
não dará ensejo à indenização por danos morais”; “o protesto de título, ainda que indevido, não dará ensejo à
indenização por danos morais em favor do empresário que tiver outros títulos protestados”;
(xxx) disciplina especificamente vários contratos empresariais em espécie, inclusive contratos de colaboração
(franquia, distribuição etc.), de logística (armazenamento, transporte etc.), financeiros, de fomento mercantil
(factoring) e de shopping center (nesse ponto, cabe uma pergunta: por que não privilegiar a atipicidade contratual,
em homenagem à liberdade de contratar e à liberdade contratual decorrentes da autonomia da vontade, que no
âmbito das relações empresariais deve ficar imune ao dirigismo negocial?);
(xxxi) tem regras específicas sobre títulos de crédito, definindo-os como todo “documento, cartular ou eletrônico, que
contém a cláusula cambial”;
(xxxii) prevê que “é lícito ao empresário emitir, aceitar ou endossar títulos de crédito atípicos, os quais poderão ser
avalizados por qualquer pessoa”, que “todo título de crédito é título executivo extrajudicial” e que as suas disposições
nessa matéria “são aplicáveis mesmo ao título de crédito emitido, aceito, endossado, avalizado, protestado ou
cobrado por quem não é empresário”;
(xxxiii) trata especificamente de alguns títulos de crédito típicos que já possuem leis específicas, como a duplicata, o
conhecimento de depósito, o warrant e o conhecimento de transporte (a lei das duplicatas, por exemplo, é
expressamente revogada na parte final do projeto de CCom);
(xxxiv) regula detalhada e especificamente o agronegócio, o qual é conceituado como “a rede de negócios que integra
as atividades econômicas organizadas de fabricação e fornecimento de insumos, produção, processamento,
beneficiamento e transformação, comercialização, armazenamento,
logística e distribuição de bens agrícolas, pecuários, de reflorestamento e pesca, bem como seus subprodutos e
resíduos de valor econômico”;
(xxxv) disciplina especificamente também os títulos de crédito do agronegócio, como a cédula de produto rural, o
certificado de depósito agropecuário e a letra de crédito do agronegócio;
(xxxvi) disciplina, também de forma específica e detalhada, o direito comercial marítimo (até hoje essa matéria está
disciplinada no Código Comercial de 1850);
(xxxvii) tem um livro específico para tratar do “processo empresarial”, cujas regras se aplicam quando, num processo
judicial, “I – autor e réu forem empresários; II – autor ou réu for empresário e a outra parte inserir sua atividade no
agronegócio ou em outra rede de negócios empresariais; III – a controvérsia versar sobre a aplicação deste Código ou
da legislação comercial; ou IV – em matéria obrigacional ou societária, as partes tiverem ajustado sua aplicação”;
(xxxviii) prevê alguns procedimentos especiais no âmbito do processo empresarial, como a ação de “dissolução parcial
de sociedade” (o novo CPC já tratou dela também), o incidente de “superação de impasse” (“Havendo grave
desinteligência entre os sócios, que ponha em risco a continuidade da sociedade, será admissível a instauração da
superação de impasse”), a “ação de exigir contas” e a “ação de invalidação de deliberação assemblear”;
(xxxix) cuida da “falência transnacional” e da “recuperação judicial transnacional”, prevendo a cooperação do juízo
brasileiro com o juízo falimentar estrangeiro;
(xl) prevê que “os Tribunais poderão instituir, conforme as peculiaridades locais, varas, turmas e câmaras
especializadas no processamento e julgamento de questões de direito comercial ou empresarial” (isso já é feito
atualmente em vários tribunais do país);
(xli) estabelece que o seu corpo normativo “não altera as obrigações legais do empresário, da sociedade e dos seus
sócios ou acionistas relativamente: I – às relações de emprego regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT; II
– às relações de consumo regidas pela Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor) e
legislação complementar; III – aos tributos e contribuições; IV – à responsabilidade pelo meio ambiente; e V – à
responsabilidade por infração da ordem econômica”; e (xlii) revoga, dentre outras leis e regras legais específicas, toda
a parte de títulos de crédito e de direito de empresa do CC/2002 (arts. 887 a 926 e 966 a 1.195).”
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