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A Natureza do Homem

Michael C. Jensen
Harvard Business School
mjensen@hbs.edu
and
William H. Meckling
University of Rochester

Resumo
Compreender o comportamento humano é fundamental para compreender como fun-
cionam as organizações, sejam estas empresas privadas, organizações sem fins lucrati-
vos ou serviços públicos. As diferentes perspectivas dos gestores, dos investigadores,
dos políticos e dos cidadãos, provêm das substanciais diferenças da forma como inter-
pretamos a natureza humana – seja sobre as suas forças, fragilidades, inteligência, igno-
rância, honestidade, egoísmo e generosidade. Neste artigo colocamos em confronto cin-
co modelos alternativos do comportamento humano que são comummente usados (se
bem que frequentemente apenas de forma implícita). São eles o Modelo da Criatividade,
da Análise e da Optimização do Bem-Estar (REMM),1 o Modelo Económico (ou da
Maximização do Lucro), o Modelo Psicológico (ou da Hierarquia das Necessidades
Humanas), o Modelo Sociológico (ou da Vítima da Sociedade), e o Modelo Político (ou
do Agente Perfeito). Defendemos que o REMM é o modelo que sistematicamente
melhor descreve a parte racional do comportamento humano. Tal modelo constitui o
fundamento para as relações de agência nas organizações e, concomitantemente, explica
as respectivas estruturas organizacionais e de direcção.
O desenvolvimento da investigação social do comportamento humano aponta para
um denominador comum: independentemente de serem políticos, gestores, académicos,
profissionais liberais, filantropos ou operários, os indivíduos são criativos e actuam
proactivamente na maximização do bem-estar. Ou seja, respondem de forma criativa às
oportunidades que o meio ambiente lhes proporciona e empenham-se em livrarem-se
dos constrangimentos que os possam de impedir de concretizar os seus anseios. O desa-
fio da nossa sociedade, e de todas as organizações dentro dela, é estabelecer as regras do
jogo que permitam canalizar a energia humana nos sentidos que incrementem a utiliza-
ção racional dos recursos escassos.

© M. C. Jensen and W. H. Meckling, 1994


Journal of Applied Corporate Finance, Summer 1994, V. 7, No. 2, pp. 4 - 19.
also published in
Michael C. Jensen, Foundations of Organizational Strategy, Harvard University Press, 1998.
This document is available on the
Social Science Research Network (SSRN) Electronic Library at:
http://papers.ssrn.com/sol3/paper.taf?ABSTRACT_ID=5471

1
(Nota do Tradutor) REMM são as iniciais de Resourceful, Evaluative, Maximizing Model e o texto
antes da chamada da nota de rodapé constitui a minha proposta de tradução.

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A Natureza do Homem1
Michael C. Jensen
Harvard Business School
mjensen@hbs.edu
and
William H. Meckling
University of Rochester

Journal of Applied Corporate Finance, Summer 1994, V. 7, No. 2, pp. 4 - 19.


and
Michael C. Jensen, Foundations of Organizational Strategy, Harvard University Press, 1998.

Compreender o comportamento humano é fundamental para compreender como fun-


cionam as organizações, sejam estas empresas privadas, organizações sem fins lucrati-
vos ou serviços públicos. Muitos dos desacordos entre os gestores, investigadores, polí-
ticos e cidadãos, provêm das substanciais, ainda que usualmente implícitas, diferenças
de percepção do comportamento humano – acerca das forças, fragilidades, inteligência,
ignorância, honestidade, egoísmo, generosidade e altruísmo dos indivíduos.
A utilidade de cada modelo da natureza humana depende da sua capacidade de expli-
car um vasto espectro de fenómenos sociais; a validação de cada modelo afere-se pelo
grau de consistência entre a predição e o comportamento humano observado. Um mode-
lo que apenas explique comportamentos numa pequena área geográfica, por um peque-
no período histórico, ou apenas por certas pessoas envolvidas em certos contextos, não
tem grande utilidade. Por esta razão temos que fazer uso de um número limitado de tra-
ços gerais para caracterizar o comportamento humano. Um maior detalhe iria limitar a
capacidade explicativa do modelo porque os indivíduos diferem muito entre si. Apenas
queremos utilizar um conjunto de características que captem o essencial na natureza
humana, nada mais.
Ainda que isto possa soar a abstracto e complexo, não o é de facto. Cada um de nós
já domina e usa modelos de comportamento humano todos os dias. Todos compreende-
mos, por exemplo, que as pessoas estão desejosas de fazer trocas de algumas coisas que
possuem por outras que aspiram ter. Aos nossos cônjuges, sócios, filhos, amigos, con-
tactos profissionais ou perfeitos estranhos, podem ser sugeridas substituições de todos
os tipos. Oferecemo-nos para ir jantar fora no Sábado à noite em vez de irmos a um con-

1
Utilizamos aqui o vocábulo “homem” no sentido de “ser humano”. Tentámos utilizar uma linguagem
sem especificações de género na medida em que os modelos apresentados descrevem comportamentos de
ambos os sexos. No entanto, não fomos capazes de encontrar um termo para uso em título que, sem espe-
cificar o género, proporcionasse idêntico impacto.
A primeira versão do presente artigo foi escrita no início da década de 1970. Desde então tem sido usado
no nosso curso Coordenação, Controlo e Gestão das Organizações nas Universidades de Rochester e de
Harvard. Estamos em dívida para com os nossos alunos pela preciosa ajuda que nos tem permitido refinar
ideias ao longo dos anos. Uma versão anterior de algumas das ideias contidas no presente artigo foi pre-
viamente publicada por William H. Meckling, “Values and Choice of the Model of the Individual in
Social Sciences”, Schweizerische Zeitschrift fur Volkswirtshaft und Statistik Revue Suisse d’Economie
Politique et de Statistique (December 1976).
Esta investigação foi desenvolvida através do Managerial Economics Research Center, da Universidade
de Rochester, e pela Division of Research, da Harvard Business School. Agredecemos as observações e
comentários de muitas pessoas, incluindo Chris Argyris, George Baker, Fischer Black, Donald Chew,
Perry Fagan, Donna Feinberg, Amy Hart, Karin Monsler, Kevin Murphy, Natalie Jensen, Steve-Anna
Stephens, Richard Tedlow, Robin Tish, Karen Wruck and Abraham Zaleznik.

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A Natureza do Homem Jensen e Meckling (1994)

certo hoje. Dispomo-nos a substituir uma bicicleta por uma aparelhagem estéreo como
prenda de anos. Permitimos que um empregado vá mais cedo hoje para casa se tal tem-
po vier a ser compensado na próxima semana.
Se o nosso modelo especificasse que os indivíduos nunca estariam dispostos a trocar
uma certa quantidade de um bem por certas quantidades de outros bens, ele rapidamente
era contrariado pelas evidências. Admitimos mesmo que tal modelo não explicaria mui-
tos dos comportamentos humanos. Ainda que possa parecer disparatado caracterizar o
indivíduo como alguém que recusa permutas, essa perspectiva do comportamento
humano não está distante de modelos amplamente aceites e usados por muitos investi-
gadores no campo das ciências sociais (como a hierarquia das necessidades humanas de
Maslow (1943) ou os modelos dos sociólogos que caracterizam o indivíduo como exer-
cendo um papel determinado pela cultura ou como vítimas sociais).
Analisámos cinco modelos alternativos do comportamento humano que são frequen-
temente usados, se bem que por vezes apenas implicitamente, na literatura das ciências
sociais e em discussões públicas dignas de atenção. Identificámos tais modelos da
seguinte forma:
• O Modelo da Criatividade, Análise e da Optimização do Bem-Estar (REMM);
• O Modelo Económico (ou da Maximização do Lucro);
• O Modelo Sociológico (ou da Vítima Social);
• O Modelo Psicológico (ou da Hierarquia das Necessidades Humanas);
• O Modelo Político (ou do Agente Perfeito).
Estes modelos alternativos serão aqui caracterizados de uma forma limitada aos seus
aspectos essenciais. Somos sensíveis aos riscos que corremos ao fazê-lo e admitimos
mesmo que tal caracterização não reproduza a complexidade das perspectivas dos cien-
tistas de cada um dos ramos. Isoladamente, nenhum destes modelos é usado por cada
um dos economistas, dos sociólogos, dos psicólogos, etc., como o respectivo modelo do
comportamento humano. Todavia, acreditamos serem eles suficientemente usados por
todas as ciências sociais, e até pelas pessoas em geral, para justificar a sua análise nestas
páginas.

1. Modelo da Criatividade, da Avaliação e da Optimização (REMM)


O primeiro modelo é o REMM: Modelo da Criatividade, da Avaliação e da Optimi-
zação. A sua designação é nova, porém o conceito não. O REMM é o produto de mais
de 200 anos de investigação e debate na economia e na filosofia, assim como em outras
ciências sociais. Como resultado, o REMM é agora definido em termos muito precisos,
ainda que aqui nos limitemos a apresentar uma síntese do conceito. Muitas especifica-
ções podem ser acrescentadas para enriquecer a descrição do conteúdo, porém nunca
sacrificando os fundamentos básicos que aqui proporcionamos.
Postulado I. Cada indivíduo preocupa-se; ele ou ela é um avaliador.
a) O indivíduo preocupa-se a propósito de quase tudo: conhecimento; indepen-
dência, com os problemas dos outros, com o ambiente, com a honra, com as
relações interpessoais, com o status social, com a aprovação dos pares, com as
normas de grupo, com a cultura, com a riqueza, com as regras de conduta, com
o tempo, com a música, com a arte, e por aí adiante.
b) O REMM reconhece a permanente disponibilidade para o ser humano realizar

Tradução de António J. B. Ramalho Página 3 de 4

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A Natureza do Homem Jensen e Meckling (1994)

transacções e substituições. Cada indivíduo está sempre disponível para ceder


uma determinada quantidade de um qualquer bem (laranjas, água, ar, aloja-
mento, honestidade ou segurança) em troca por uma quantidade suficientemen-
te grande de outros bens. Por outro lado, a avaliação é relativa no sentido em
que o valor de uma unidade de um bem em particular decresce à medida que o
indivíduo revela preferência relativamente a outros bens.
c) As preferências individuais são transitivas – ou seja, se A é preferido a B, e B é
preferido a C, então A é preferido a C.
Postulado II. Os anseios individuais são ilimitados.
a) Se designarmos aquelas coisas que avaliámos como desejáveis por “bens”,
então ele ou ela prefere mais bens a menos. Os bens podem ser qualquer coisa
desde peças de arte até normas éticas.
b) O indivíduo é insaciável. Ele ou ela sempre deseja mais de certas coisas, sejam
elas materiais tais como arte, escultura, castelos e pirâmides; ou imateriais
como a quietude, o companheirismo, a honestidade, o respeito, o amor, a fama
e a imortalidade.

Tradução de António J. B. Ramalho Página 4 de 4

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