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10/08/2020

Cursos On-line FGV – Horas Complementares PUCRS

Lâmina 1

Vídeo

Clique em cada um dos atributos das disciplinas on-line para conhecê-los:

FOCO EM COMPETÊNCIAS
Disciplina planejada de forma a desenvolver as competências específicas da disciplina e
do curso.

MOBILIDADE
Conteúdos com pleno acesso em quaisquer dispositivos móveis – telefones celulares
e tablets (design responsivo).

QUALIDADE FGV
As disciplinas on-line da FGV são conhecidas pelos:
 professores altamente qualificados e renomados no mercado;
 conteúdos chancelados academicamente pelas Escolas da FGV e adequados à proposta
pedagógica dos cursos.

ACOMPANHAMENTO CONSTANTE DO ALUNO


Acompanhamento constante dos alunos com tutoria proativa, por meio da qual o Tutor:

 estimula o diálogo e a reflexão crítica sobre o conteúdo programático nos encontros


síncronos e nas discussões assíncronas;
 estimula a aprendizagem colaborativa;
 esclarece dúvidas acerca do conteúdo;
 orienta e dá suporte para a realização das atividades propostas na disciplina.

INTEGRAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA


O e-book (ou apostila) apresenta toda a referência conceitual da disciplina que é
amplamente complementada por:
 exemplos, cases;
 situações para aplicação prática dos conteúdos;
 atividades e exercícios;
 demonstrações;
 comentários críticos e avaliativos do professor, etc.
Todos os recursos estão disponíveis na tela do seu computador, tablets ou mobile.

DIVERSIDADE DOS ESTILOS DE APRENDIZAGEM


Multiplicidade de linguagens e recursos na apresentação dos conteúdos (favorecendo os
diferentes estilos de aprendizagem dos alunos), como:

 vídeos;
 textos;
 áudios;
 imagens e gráficos;
 materiais complementares para o aprofundamento no conteúdo.

ÊNFASE EM VIDEOAULAS
As videoaulas das disciplinas on-line propiciam:
 análises críticas, relatos pessoais de experiências, demonstrações de gráficos ou cálculos
e comentários avaliativos com mais eficiência;
 estabelecimento da proximidade na relação entre professor e aluno;
 manutenção da atenção do aluno – mais conteúdo relevante em pouco tempo.

Lâmina 2
DIREITO ELEITORAL
A Série Conceitos da FGV Direito Rio pretende
trazer algumas noções sobre institutos elementares
do Direito Eleitoral para que, a partir deles, você
possa direcionar a sua pesquisa.
O Direito Eleitoral é um ramo do Direito Público que vem ganhando relevância
acadêmica nos últimos anos em virtude da intensa judicialização dos processos
eleitorais.

Os tópicos tratados neste objeto de aprendizagem têm o propósito de abranger os


conceitos básicos mais relevantes acerca do Direito Eleitoral, sem descurar das recentes
reformas legislativas que vêm alterando, gradativamente, o quadro normativo brasileiro.

COMPETÊNCIAS
Conheça as competências que você deverá desenvolver ao longo deste objeto de
aprendizagem:

 identificar os institutos básicos do Direito Eleitoral e


 analisar as principais características do Direito Eleitoral.

BIBLIOGRAFIA
A seguir, você pode acessar a bibliografia recomendada pela professora deste objeto de
aprendizagem.

BIBLIOGRAFIA
 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. São Paulo: Atlas, 2018.
A obra traz uma abordagem teórica acerca do tema, sem desprezar os aspectos práticos,
conferindo racionalidade e funcionalidade aos institutos do Direito Eleitoral.
 ZILIO, Rodrigo Lopes. Direito Eleitoral. São Paulo: Verbo Jurídico, 2018.
A obra abrange um vasto espectro dos institutos do Direito Eleitoral, abordando
aspectos teóricos e práticos com atualizações constantes.

SILVANA BATINI CESAR GÓES


FORMAÇÃO ACADÊMICA

 Doutora em Direito Público pela PUC-RJ.


 Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-RJ.
 Bacharel em Direito pela UEL.
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

 Professora da Escola de Direito Rio da Fundação Getulio Vargas.


 Procuradora Regional da República.

Unidade 1

INELEGIBILIDADE
Inelegibilidades são critérios que podem barrar o
acesso de cidadãos ao processo eleitoral. A Lei da
Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135/2010), alterando a Lei
Complementar nº 64/1990, inaugurou um novo cenário de
inelegibilidades no Brasil. No entanto, trouxe consigo
uma série de questionamentos.
Nesta unidade, enumeraremos algumas dessas controvérsias e indicaremos caminhos
para você saber o que está em discussão e o que o TSE e o STF vêm decidindo sobre o
tema.

OBJETIVOS
Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de:

 apresentar o quadro geral das condições de elegibilidade e os fatores de inelegibilidade tanto


constitucionais quanto infraconstitucionais e
 esclarecer os critérios do legislador e as principais controvérsias quanto ao tema.

Lâmina 4

1.1 CRITÉRIOS DE INELEGIBILIDADE


INELEGIBILIDADE
Assista à videoaula a seguir para entender as condições que tornam uma pessoa elegível
e os critérios que a tornam inelegível tanto no plano constitucional quanto no
infraconstitucional, aqui incluída a chamada Lei da Ficha Limpa.
Elegibilidade é, portanto, o direito público subjetivo, atribuído ao cidadão, de disputar
cargos público-eletivos e integra o status político eleitoral do cidadão.

Condições de elegibilidade estão dispostas no art.14 §3° da CF

A inelegibilidade pode ser

Absoluta:
Eleições em geral
Relativa:
Mandato determinado

A inelegibilidade reflexa é aquela prevista nas hipóteses do art. 14 §7° da CF. A norma
estabelece que são inelegíveis: o cônjuge; parentes consanguíneos ou afins, até o
segundo grau ou por adoção...
Assim como inelegibilidade em geral, a de cônjuges e parentes de prefeitos,
governadores de estado, presidente da república, constitui impedimento ao exercício da
capacidade eleitoral passiva, isto é, a candidatura a mandato eletivo.
A interpretação desse dispositivo constitucional, no que diz respeito ao cônjuge, evoluiu
para abranger outras situações não previstas expressamente, casamento eclesiástivo,
concubinato, união estável, casamento. A companheira de um governador de estado, por
exemplo, não pode se candidatar a qualquer cargo neste mesmo estado enquanto seu
companheiro estiver no cargo.

Conforme define o artigo 14 § 9º, da Constituição da República, a Lei complementar


poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade, devendo pautar-se pelo princípios
de: proteção da probidade administrativa; proteção da moralidade para exercício de
mandato (considerada a vida pregressa do candidato); preservação da normalidade e
legitimidade das eleições. 4:31

Inelegibilidades legais relativas e desincompatibilização

As inelegibilidades relativas, àquelas estabelecidas no art 1.°, incisos de II a VII, da Lei


das Inelegibilidades, causam impedimentos apenas a alguns cargos ou impõem
restrições a candidatura, geralmente referem-se à função exercida pelo pré-candidato,
exigindo a desincompatibilização para concorrer a determinado cargo eletivo. A
desincompatibilização é o ato pelo qual o pré-candidato se afasta de um cargo ou uma
função, cujo exercício dentro do prazo definido em lei gera inelegibilidade. Servidores
públicos em geral que desejam se candidatar, por exemplo, precisam se afastar de seus
cargos por prazo determinado por lei para que suas funções públicas não interfiram em
suas candidaturas, a falta de desincompatibilização dentro do prazo legal enseja a
impugnação do registro do candidato, podendo ser feita por outro candidato, partido
político, coligação, ou pelo ministério público.

Lei da Ficha Limpa

Lei da Ficha Limpa é o nome que popularizou a Lei Complementar 135/2010, que
alterou profundamente alguns dispositivos da lei complementar 64 para incluir novas
espécies de obstáculos a candidaturas, a lei foi fruto de iniciativa popular idealizada em
um movimento amplo...

Terminar descrição do vídeo.

Questão:

Prefeitos que tenham as suas contas rejeitadas pelo TCE, mas aprovadas pelas Câmaras
de Vereadores, podem candidatar-se?

Essa questão envolve a interpretação do art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 64, de
1990.

Resposta:

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu hoje (10) que candidatos a prefeito que
tiveram contas rejeitadas somente pelos tribunais de Contas estaduais podem concorrer
às eleições de outubro. De acordo com o entendimento firmado pela Corte, os
candidatos só podem ser barrados pela Lei da Ficha Limpa se tiverem as contas
reprovadas pelas câmaras municipais

No julgamento, por 6 votos a 5, a maioria dos ministros entendeu que a decisão dos
tribunais que desaprova as contas do governo deve ser tratada apenas como um parecer
prévio, que deve ser apreciado pelos vereadores. Para os ministros, o Legislativo local
tem a palavra final sobre a decisão que rejeita ou aprova as contas. Dessa forma,
somente após decisão desfavorável dos vereadores, um candidato pode ser impedido de
concorrer às eleições.

A Lei da Ficha Limpa diz que as pessoas que tiverem as contas relativas ao exercício de
cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável ficam inelegíveis por
oito anos a partir da decisão.

Seguiram o entendimento os ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia,


Marco Aurélio, Celso de Mello e o presidente, Ricardo Lewandowski.
O ministro Gilmar Mendes seguiu a maioria e entendeu que a palavra final é da Câmara
Municipal. Além disso, Mendes ressaltou que a composição dos tribunais de Contas é
politizada e formada, na maioria dos casos, por pessoas que passaram pelo Legislativo.

“Hoje, um governador, que domina uma assembleia, e o tribunal de Contas podem


rejeitar as contas de maneira banal para causar a inelegibilidade de um prefeito. Temos
que ter muito cuidado com isso. Não queria entrar nesse assunto, mas, se era para tratar
de realidade constitucional, mas falar com toda a abertura”, disse o ministro.

Durante o julgamento, o ministro Luís Roberto Barroso, um dos votos divergentes,


criticou a decisão por entender que prefeitos acusados de desviar recursos podem ter as
contas aprovadas por terem apoio político da maioria dos integrantes do Legislativo
local.

“Não me parece razoável a tese em que alguém possa dizer que, comprovadamente, o
prefeito desviou dinheiro, mas a Câmara Municipal, politicamente, como ele tem
maioria, achou que está bem assim. ”, disse Barroso.

A questão chegou ao Supremo por meio de um recurso apresentado por José Rocha
Neto, candidato a deputado estadual em 2014. A candidatura dele foi barrada por ter as
contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Ceará no período em que foi prefeito de
Horizonte, no Ceará. Após a desaprovação, a Câmara Municipal não seguiu o parecer
do tribunal e aprovou as contas.

Pessoas que tenham sido condenadas por atos de improbidade administrativa por dano
ao erário, e não por enriquecimento ilícito, estão inelegíveis?

Para responder a essa questão, deve ser levado em consideração o valor da conjunção
“e” no inciso do art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 64, de 1990, que pode ser
interpretada como aditiva ou alternativa.

LEI COMPLEMENTAR Nº 64, DE 18 DE MAIO DE 1990

Estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º da


Constituição Federal, casos de
(Vide Constituição art. 14 §9) inelegibilidade, prazos de cessação, e
determina outras providências.

Art. 1º São inelegíveis:

I - para qualquer cargo:

e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão


judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o
cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio
público; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)

A condenação por órgão colegiado (segundo grau de jurisdição) na ação de improbidade


pode levar a causa de inelegibilidade, impossibilitando o agente de obter sua
candidatura (artigo 1º, I, l, da LC nº 64/90). Nesse ponto, executa-se provisoriamente
parte da decisão que projeta seu efeito especial, ou seja, a inelegibilidade por
improbidade. Não há violação ao princípio da presunção da inocência (artigo 5º, LVII,
da Carta Magna). Trata-se de um critério político-jurídico, adotado pelo legislador, que
protege a probidade administrativa nas eleições e a lisura do mandato eletivo no devido
processo legal.

LEITURA
Leia o texto a seguir, que esclarece o tema da improbidade administrativa.

Clique para acessar o texto TSE e a improbidade: entre a gramática, a lógica e a

retórica , de Silvana Batini.

PARCERIA DE CONTEÚDO
Pesquisadores de variadas expertises se unem para, com independência, conciliar a
agenda acadêmica com a velocidade da imprensa no debate da conjuntura política
nacional.

São três as espécies de improbidade administrativa: o servidor se


enriquece indevidamente, usando o cargo; o servidor causa um
prejuízo ao erário; o servidor viola um princípio sem levar vantagens
com isto e sem causar prejuízo econômico aos cofres públicos. As três
hipóteses podem existir isoladamente ou cumulativamente, tudo a
depender da circunstância.

Nesta semana o TSE decidiu que o agente público só será um “ficha


suja” e, portanto, inelegível, se seu ato produzir, cumulativamente,
enriquecimento próprio ou de terceiro e prejuízo ao erário. Levou em
conta a interpretação gramatical da lei que prevê a inelegibilidade em
casos de “ ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão
ao patrimônio público e enriquecimento ilícito”. No caso, valorou a
conjunção “e” que une as duas categorias de improbidade, atribuindo-
lhe a função de adição.

JOTA PRO PODER


Nesta crise, o papel do Estado é ainda mais crucial para seus negócios.
Com as informações e análises do JOTA, as decisões do poder não te
surpreendem.
CLIQUE PARA SABER MAIS

Curioso notar que foi também uma classe gramatical que alimentou a
controvérsia em torno da inelegibilidade não decretada no processo de
impeachment da ex-Presidente Dilma. Naquela oportunidade o
Senado preferiu desprezar o valor da preposição “com” presente no §
4º do artigo 52 da Constituição, e considerar que a perda do cargo e a
suspensão dos direitos políticos podem subsistir um sem o outro.

Questões gramaticais à parte, a decisão do TSE reafirma uma


jurisprudência que já vinha sendo empregada nos últimos anos pelo
tribunal.

Nesta semana o Ministro Herman Benjamin tentou mudar o


entendimento da Corte, para se reconhecer, doravante, que a
inelegibilidade pudesse decorrer de uma condenação colegiada por
improbidade com enriquecimento ilícito ou dano ao erário, não
cumulativamente.

De fato, o texto da lei não indica necessariamente que ambas as


circunstâncias devam coexistir. Antes, mais parece excluir a terceira
modalidade (a violação simples de princípios), por se tratar de
hipótese, via de regra, menos grave.

Além disso a ideia do Ministro Herman Benjamin acolhia uma lógica


irrefutável: há gravíssimas condutas de improbidade que enriquecem
servidores públicos sem que os cofres públicos sejam diretamente
afetados. Imagine-se um deputado que exija parte do valor de um
contrato público firmado entre uma empreiteira e uma estatal, sem que
haja indícios de superfaturamento no tal contrato. Haverá alguém
capaz de negar a gravidade de tal conduta?
O inverso também é verdadeiro e não de todo raro, quando prejuízos
graves são impostos ao patrimônio público, sem que se possa apontar
qualquer vantagem indevida do agente. O caso trazido pelo Ministro
Gilmar, envolvendo José Serra, Pedro Malan e Pedro Parente,
retomado pelo STF após longo tempo de estagnação, é exemplo
disto.

A lógica dos argumentos do Ministro Bejamin, lamentavelmente, não


convenceu seus pares. O TSE, por maioria, insistindo no apego
gramatical à conjunção, decidiu que continuará permitindo que
condenados por este tipo de conduta, ainda que por órgãos
colegiados, possam se candidatar a cargos eletivos. São fichas
limpas.

O julgamento ainda deu pretexto ao Ministro Gilmar Mendes para mais


um ataque intenso contra o ministério público e a magistratura, a
quem acusou de chantagearem políticos com a lei de improbidade.
Também defendeu a adoção de uma lei de abuso de autoridade, hoje
apadrinhada pelo Presidente do Senado, Renan Calheiros.

Pela relevância do cargo que ocupa e da cadeira da qual falou – a


presidência do TSE – as palavras do Ministro Gilmar haveriam de
causar um grande impacto desembocar em providências mais sérias e
imediatas. Quem seriam os chantageadores? Quem seriam os
chantageados?

Todavia, afora as justas reações corporativas de praxe, nada mais


aconteceu. Talvez porque o Brasil já tenha se acostumado com a
exagerada retórica do Ministro.

SILVANA BATINI – Professora da FGV Direito Rio e procuradora regional da


República

O Presidente Jair Bolsonaro tem três filhos e todos são políticos com cargos eletivos. Os
filhos poderão participar das eleições municipais, disputando alguma prefeitura? Essa
pergunta refere-se ao que chamamos de inelegibilidade reflexa (art. da CR).
Para ver um caso em que esse tema foi enfrentado, leia o texto a seguir.

Conforme o art. 14 § 7.° São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge


e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente
da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito
ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

VAMOS PRATICAR?
O ex-presidente Lula não pôde disputar as eleições de 2018 porque foi considerado
inelegível. Você sabe dizer qual foi a causa da sua inelegibilidade?
Minha resposta: O que deixou Lula inelegível em 2018 foi sua condenação em 2º grau
no caso do triplex do Guarujá.

O ex-presidente Lula não disputou as eleições porque tinha contra si uma condenação
criminal proferida por órgão colegiado, o TRF4, que confirmou, em grau e apelação, a
sentença condenatória de primeira instância.

Essa circunstância configura a causa de inelegibilidade prevista no art. 1º, parágrafo I,


da Lei Complementar nº 64, de 1990, com a redação dada pela Lei Complementar nº
135, de 2010 (Lei da Ficha Limpa).

Lâmina 5

UNIDADE 2

INFRAÇÕES ELEITORAIS:
ABUSO DE PODER POLÍTICO
E ECONÔMICO
Algumas práticas são consideradas nocivas ao
processo eleitoral e podem levar à cassação do
registro do candidato. Caso o candidato tenha sido
eleito, cassa-se o seu diploma, o que equivale a
cassar o seu mandato.
Nas eleições de 2014, o Brasil vivenciou uma discussão vigorosa em torno do abuso de
poder econômico e político envolvendo uma chapa presidencial: a chapa Dilma/Temer.
Acusada de abusos, a chapa foi julgada pelo TSE, em junho de 2017, que afastou as
acusações por julgar as ações improcedentes.

O processo entrou para a história do Direito Eleitoral, não apenas porque se tratava de
um julgamento sobre chapa presidencial (pela primeira vez, havia risco de cassação de
um Presidente pela Justiça Eleitoral) mas também porque se debruçou sobre uma série
de questões envolvendo essas espécies de ilícito.

OBJETIVOS
Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de conhecer as diferentes
espécies de abuso de poder em campanhas e as suas consequências.

LEITURA
Para obter detalhes sobre o julgamento do processo de cassação da chapa Dilma-Temer,
leia o texto a seguir.

Clique para acessar o texto Julgamento do TSE: o voto de cada ministro sobre a

chapa Dilma-Temer , do jornal El País.

SÃO PAULO - 09 JUN 2017 - 18:34 BRT

MAIS INFORMAÇÕES

 AO VIVOJulgamento da chapa Dilma-Temer no TSE

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julga o processo de cassação da chapa Dilma-Temer (que elegeu Dilma Rousseff e Michel
Temer nas eleições presidenciais de 2014), é formado por sete ministros: são três magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) —Gilmar
Mendes, Rosa Weber e Luiz Fux—, dois do STJ (Superior Tribunal de Justiça) —Herman Benjamin e Napoleão Nunes—; e dois membros
da classe dos advogados —Admar Gonzaga e Tarcisio Neto—, que foram recentemente indicados pelo Planalto.

Acompanhe, voto a voto, a decisão de cada ministro no julgamento:

Herman Benjamin - a favor da cassação da chapa


A ORDEM DE VOTAÇÃO

1° votante: ministro relator (mais antigo do STJ) - Herman Benjamin

2° votante: ministro mais novo do STJ - Napoleão Maia


3° votante: ministro mais antigo dos advogados - Admar Gonzaga

4° votante: ministro mais novo dos advogados - Tarcísio Vieira

5° votante: ministro mais antigo do STF - Rosa Weber

6° votante: ministro mais novo do STF - Luiz Fux

7° votante: presidente do TSE - Gilmar Mendes

Relator do processo. Ocupa uma das vagas destinadas ao Supremo Tribunal de Justiça, para o qual foi indicado ministro em 2006 pelo ex-
presidente Lula, que o escolheu em uma lista feita por seus pares

O voto: "A verdade é que a consideração das provas em conjunto torna incontestável a ocorrência de tais ilícitos [de abuso de poder político
e econômico]", diz Benjamin. "Meu voto é, no sentido, da cassação da chapa presidencial eleita em 2014 pelos abusos que foram
apurados nestes processos. E conclui que deve decidir que a chapa é única. Portanto, Dilma e Temer não podem ser punidos separadamente.

Napoleão Nunes Maia Filho - contra a cassação da chapa

Também membro do STJ, também escolhido por Lula por encabeçar a lista feita por seus pares, em 2007. Ele foi citado por um dos delatores
da JBS por ter, segundo o executivo da empresa Francisco de Assis e Silva, ter intercedido em favor da gigante frigorífica em um processo.
Ele nega.

O voto: “Voto pela improcedência total dos pedidos formulados nas quatro ações eleitorais”. Ao encerrar seu voto, Napoleão ainda pediu
desculpas por ter se excedido. Ao que o presidente da Corte Gilmar Mendes respondeu que ele não precisa pedir escusas, porque sua "ira
é santa".

Admar Gonzaga Neto - contra a cassação da chapa

O advogado ocupa outra das vagas de sua classe. Ele está na Corte deste 2013, quando passou a atuar como ministro substituto, indicado por
Dilma. No início deste ano, ganhou a vaga permanente após indicação de Michel Temer. Já trabalhou na assessoria jurídica de diversos
partidos e campanhas, incluindo a da própria Rousseff, em 2010

O voto: Depois de um voto de cerca de 50 minutos, o juiz terminou seu voto contrário a cassação dizendo: "Não reconheço a prática de
abuso de poder em decorrência dos fatos em análise"

Tarcísio Vieira de Carvalho Neto - contra a cassação da chapa

Advogado, foi indicado recentemente para a vaga principal por Michel Temer. Ele ocupava a vaga de juiz substituto desde 2014. É membro
da Comissão Especial de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil e professor adjunto da Universidade de Brasília

O voto: "Voto totalmente improcedentes as ações", disse o ministro depois de um longo voto

Luiz Fux - a favor da cassação da chapa

Vice-presidente do TSE, também é ministro do STF, indicado para por Dilma Rousseff, em 2011

O voto: "Como brasileiro que ama esse país, porque o Brasil é o ar que nós respiramos, é o berço dos nossos filhos e netos", começou Fux,
"eu acompanho o iminente ministro relator e julgo os pedidos deduzidos procedentes para cassar integralmente a chapa", concluiu.

Rosa Weber - a favor da cassação da chapa

Ocupa a terceira cadeira dedicada ao STF e também foi indicada para a Corte pela ex-presidenta

O voto: "Não tenho como não endossar a leitura dos autos feita pelo relator", vota a ministra Rosa Weber. Ela não vê ampliação do
escopo do processo ao considerar, no julgamento, fatos que foram conhecidos após a apresentação da ação do PSDB contra a chapa Dilma-
Temer
Gilmar Mendes - contra a cassação da chapa

Ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente desde maio de 2016 do TSE. Polêmico por sua aproximação com os tucanos e com o
presidente Michel Temer.

O voto: Contra a cassação

Para saber sobre o teste de legitimidade da decisão judicial no julgamento, leia o texto a
seguir.

Roberta Gresta e Fernando Neisser


especialistas em Direito Eleitoral

Sexta-feira, 16 de junho de 2017

Análise completa do julgamento da


chapa Dilma-Temer pelo TSE
 Total: 5

 0

 3

 2

Concluído no dia 09 de junho de 2017 o julgamento das quatro ações eleitorais


contra a chapa Dilma-Temer com decisão pela improcedência dos pedidos em
todas elas[1], um certo anticlímax toma conta dos que ansiavam pela
consumação do “Fora, Temer”.

Parte dos que se frustraram desabafa: “a decisão foi política, não jurídica”.
Apesar do ineditismo de se haver julgado o mérito de pedido de cassação
dirigido contra um mandato presidencial, aquela afirmação é o mais frequente
bordão dito ao final de julgamentos da Justiça Eleitoral. Seja quando se conclui
pela cassação, seja quando se conclui pela manutenção do eleito, é muito
possível que se ouça esse veredicto. Mas o que anima esse tipo de afirmação?

Mais frequentemente, trata-se de uma reação à insatisfação com o resultado


previamente esperado. O dispositivo da decisão, se contrário à expectativa do
indivíduo, corre sério risco de ser tachado de “político”. Raramente promove-se
o adequado teste de legitimidade de uma decisão judicial: o exame da
fundamentação adotada na decisão.

É esse teste que o presente artigo se propõe a efetuar, com as naturais


limitações de uma análise empreendida antes da publicação do acórdão.
Portanto, não serão aqui escrutinadas eventuais intenções dos Ministros de
interferir no contexto político. Estarão em análise as teses jurídicas debatidas,
tanto na etapa de exame das preliminares, quanto no julgamento do mérito.

Autos do TSE no carrinho para julgamento. Foto: Evaristo Sá/AFP

Fase preliminar do Julgamento

Dos quatro dias de julgamento no TSE, praticamente três foram tomados com o
exame de questões processuais. Isso porque ali estava concentrada a principal
tensão a ser resolvida: se a ação seria julgada com base apenas em fatos
aduzidos nas petições iniciais ou se outros, alegados posteriormente, deveriam
ser levados em consideração.

O debate girava em torno da “estabilização da demanda”, prevista atualmente


no art. 329 do CPC/2015[2], em função da qual a causa de pedir fática e a
jurídica se tornam imutáveis a partir da conclusão da fase postulatória do
processo. Há um objetivo de eficiência processual comumente associado à
estabilização, que é evitar a prática de atos inúteis – porquanto sem relação
como o que será julgado – na fase instrutória. Mas há também um viés
garantista na regra: uma vez que vincula também o juiz, a estabilização
consolida a preclusão pro judicato, assegurando que a decisão final atenda ao
princípio da não-surpresa.

A regra processual não era, certamente, desconhecida de qualquer dos


Ministros. Mas o debate se travou sobre:

1) a possibilidade de desconsideração dessa regra no âmbito das ações eleitorais;

2) a existência de prévia decisão pelo alargamento da demanda, em Agravo Interno julgado na

AIME 7-61;

3) o destino a ser dado às provas da denominada “fase Odebrecht”.

A estabilização da demanda poderia se aplica às ações eleitorais?

A estabilização da demanda é própria de ações judiciais, integrando o conjunto


de regras que asseguram a observância da imparcialidade da jurisdição. A
partir dela, a marcha procedimental tem curso tomando por parâmetro uma
“fotografia” da realidade no momento da postulação. Postas as questões
centrais de fato e de direito, estas é que deverão ser resolvidas pela decisão
judicial.

Tal não se passa nas investigações. Estas se orientam para a coleta de


elementos indicativos de práticas ilícitas. A autoridade investigante move-se
com desenvoltura e em direções diversas. Não é imparcial, no sentido
empregado para se referir à jurisdição. Não lhe compete bater a “fotografia”,
mas, sim, compor o cenário.

Por isso, atribuir a um procedimento natureza investigativa é, por si, suficiente


para afastar a incidência da regra de estabilização da demanda.

Mas se tratamos de ações eleitorais, como prevaleceria o reconhecimento de


sua natureza investigativa, em uma espécie híbrida de ação-investigação?

A abertura do voto do Ministro Herman Benjamin encaminhou-se no sentido de


reivindicar o tratamento da AIJE como investigação. Destacando a
nomenclatura “ação de investigação judicial eleitoral”, trazida no art. 22 da LC
64/90, afirmou ele que o procedimento tem por finalidade última descortinar e
punir ilícitos, tanto alegados inicialmente quanto revelados no curso da ação.
Sustentou ainda que as ações eleitorais, pelo interesse público de seu objeto,
devem possibilitar a apuração da chamada “verdade real”. E ressaltou que
essa compreensão é respaldada pelo art. 23 da LC 64/90, que chega a permitir
ao Tribunal decidir com base em quaisquer indícios, presunções,
circunstâncias e fatos que “preservem o interesse público de lisura eleitoral”,
mesmo aqueles não indicados ou alegados pelas partes[3].

É possível refutar cada um dos argumentos.

A ação de investigação judicial eleitoral é ação, não investigação

O nomen juris da AIJE é uma reminiscência do Código Eleitoral de 1965, que


previa em seu art. 237, §2º uma investigação judicial eleitoral destinada a
reunir provas do “uso indevido do poder econômico, desvio ou abuso do poder
de autoridade, em benefício de candidato ou partido político”. Tratava-se de um
procedimento de “natureza pré-processual de inquérito, de cunho
administrativo, que servia para produzir as provas necessárias para posterior
manejo de recurso contra a diplomação” [4]. Podia ser, inclusive, iniciado de
ofício pelo Corregedor. A conclusão se dava com um relatório contendo
indicação de providências, ato desprovido de conteúdo decisório.

Já em 1993, Fávila Ribeiro constatara que o procedimento de investigação


judicial eleitoral havia sido extinto com o advento da LC 64/90, que criou a AIJE
como ação e passou a:

a) exigir a provocação da atuação jurisdicional pelo Ministério Público, por partidos ou candidatos;

b) concluir com decisão de mérito sobre a prática ilícita e a aplicação de sanções.

O autor considerou a novidade um retrocesso: “as atividades de investigação


se eclipsaram, desaparecendo toda a funcionalidade administrativa que lhes
era inerente e com ela a capacidade de esmiuçar todos os pontos onde
pudessem ser encontrados dados elucidativos dos cometimentos ilícitos e de
seus responsáveis […]”[5]. Mas reconhecia mudança.

Note-se que posteriores alterações da legislação eleitoral confirmam o


sepultamento da investigação judicial eleitoral. Primeiro, a eliminação da
necessidade de propositura de outra ação, a AIME, quando julgada a AIJE
após as eleições, para lograr a cassação de mandato[6]. Segundo, a supressão
da possibilidade de manejo de recurso contra a expedição de diploma em caso
de “manifesta contradição com a prova dos autos” em que fosse apurada
fraude, coação, abuso de poder econômico e outros ilícitos – referidos autos
eram, precisamente, os autos da investigação[7].

Assim, a despeito da denominação, inequívoco que atualmente a AIJE compõe


o rol das ações eleitorais típicas, que provocam a atuação da função
jurisdicional e, portanto, submetem o juiz ao regime de imparcialidade na
condução do feito.

Em Estado Democrático de Direito, não subsiste processo voltado para a


busca de “verdade real”

Historicamente, a verdade real surgiu como objetivo a ser perseguido pelo


modelo de processo inquisitorial, que tem origem na Idade Média, entre os
séculos XII e XIII. Tratou-se, à época, de avanço em relação a regras
sobrenaturais (metafísicas) que antes bastavam à condenação de práticas
puníveis, como ocorria nas Ordálias. A festejada racionalidade do modelo
estava na busca de evidências – elementos captáveis pelos sentidos físicos –,
tais como a confissão, então prestigiada como rainha das provas.

Ocorre que o processo medieval inquisitorial era abertamente direcionado à


coleta de subsídios para a condenação do réu.

Sua matriz é verificacionista: a culpa, já anunciada aos ouvidos da


autoridade eclesiástica, era o que inspirava a própria instalação do
processo, e o juiz agia parcialmente, buscando confirmar a culpa.

O juiz que persegue a verdade real é, portanto, parcial em sua busca por
elementos que corroborem as imputações feitas ao réu, pressupondo que
o interesse público é sinônimo de condenação. Isso é suficiente para
demonstrar sua inadequação à presunção de não-culpabilidade, presente no
Estado Democrático de Direito – ou, no caso específico do âmbito eleitoral, à
presunção de legitimidade do mandato conquistado por expressão da
soberania popular.
O art. 23 da LC 64/90 não pode ser interpretado como cláusula legal que
autorize a quebra da imparcialidade do juiz

O citado dispositivo legal é, sem dúvida, eco do processo inquisitorial. Bem


faria o STF, no julgamento da ADI 1082, em 2014, se declarasse sua
inconstitucionalidade. Mas, como destacado pelo Ministro Herman Benjamin, o
art. 23 da LC 64/90 foi declarado constitucional.

Ainda assim, observa-se que o STF não acolheu a interpretação mais ampla do
dispositivo. O voto de relatoria do Ministro Marco Aurélio, sinteticamente
estabeleceu que, se manejado em associação à fundamentação adequada, a
recorribilidade da decisão seria suficiente para assegurar o devido processo
legal.

Coube na ocasião ao Ministro Luiz Fux esclarecer que o art. 23 da LC 64/90


não permitia o redesenho da ação originariamente proposta. Em trecho do voto
então proferido, que destacou no julgamento do TSE, pontuou que o dispositivo
não se presta à indicação de uma nova causa de pedir, “porque nós sabemos
que a regra é a de que o juiz não pode proferir uma decisão fora do pedido ou
da causa petendi; são fatos relativos ao pedido e à causa petendi que o juiz
pode conhecer”. Com esses termos, o Ministro Fux pronunciava, ainda que
indiretamente, a aplicação da estabilização da demanda às ações eleitorais.

Como concluiu o TSE?

O principal contraponto à tese do Relator foi subsidiado por parecer


apresentado pela defesa de Michel Temer, subscrito pelo advogado Luiz
Fernando Pereira. O argumento é que, consumada a decadência da
propositura das ações eleitorais, o mais tardar, em 15 dias após a diplomação,
nenhum novo ilícito poderia ser apresentado.

Em cuidadosa análise do Direito comparado, o parecerista destaca que esse


limite temporal não discrepa do fixado em democracias mundo afora, vigorando
como garantia de estabilidade governamental. Impede-se que, ao longo de
todo o mandato, a continuidade deste fique à mercê de questionamentos
casuísticos acerca da validade das eleições.
É importante ressaltar que Pereira é adepto de alguma possibilidade de
flexibilização da estabilização da demanda, nos casos em que por simples
economia se traga para a ação em andamento matérias que poderiam ser
ajuizadas em ação autônoma. Mas aponta que a decadência consiste em
barreira intransponível para o alargamento dos limites objetivos da ação.

Nessa linha votaram os Ministros Napoleão Maia, Admar Gonzaga, Tarcisio


Vieira e Gilmar Mendes. Os demais Ministros insistiram que, uma vez já
ajuizadas as ações, esse aspecto constituiria filigrana. Nas palavras do Min.
Luiz Fux, seria “impossível uma corte descobrir e não levar em consideração.
Nós somos uma corte. Avestruz é que enfia a cabeça no chão”.

Mas a alegação de decadência está longe de constituir filigrana e


conta, inclusive, com adesão consistente do TSE.

É por força da decadência que se impede a ampliação subjetiva da demanda


após o transcurso do prazo de propositura, o que, em casos de litisconsórcio
necessário – como entre os componentes da chapa majoritária – a não
inclusão tempestiva do vice acarreta a extinção do processo sem resolução do
mérito. Não há fundamento para que a mesma lógica deixe de ser aplicada aos
limites objetivos da demanda.

Um aspecto não explorado no julgamento é o de que a decadência é distinta da


prescrição. Aquela atinge a ação apenas reflexamente, exatamente por, antes,
haver fulminado o suporte material da ação. No caso das ações eleitorais, a
decadência torna os fatos não apresentados a tempo inservíveis como
narrativa de práticas ilícitas que violariam a legitimidade do pleito. É, como dito,
a opção pela estabilidade dos mandatos eletivos. Por isso, a existência de uma
ação eleitoral não funciona como um canal aberto para a captura de novos
fatos revelados, como poderia ser se o caso fosse de mera interrupção da
prescrição.
Ministro Napoleão Nunes Maia em seu voto. Foto: Evaristo Sá/AFP

A decisão da maioria foi contraditória com aquela proferida no Agravo


Interno julgado na AIME 7-61?

Desde o primeiro dia de julgamento, estabeleceu-se um antagonismo entre os


Ministros Herman Benjamin e Gilmar Mendes, quanto à existência ou não de
prévia decisão na AIME 7-61 que haveria alargado a causa de pedir fática. A
protagonização do embate pelo Ministro Gilmar Mendes se explica: fora ele o
Relator do citado acórdão, prolatado em Agravo Interno interposto contra
decisão monocrática da Ministra Maria Thereza de Assis Moura que, em 18 de
fevereiro de 2015, extinguira a AIME.

O fundamento da extinção havia sido o desatendimento dos critérios do art. 14,


§ 10º da CR/88, vez que “os autores apresentam de forma genérica supostos
fatos ensejadores de abuso de poder econômico e fraude, e, lado outro, não
apresentam o início de prova que pudesse justificar o prosseguimento de ação
tão cara à manutenção da harmonia do sistema democrático”. Conduzindo a
divergência vitoriosa, em 06 de outubro de 2015, o Ministro Gilmar Mendes
afirmara, contrariamente, que havia sérios indícios de graves ilícitos, fazendo
referência expressa ao “Financiamento de campanha com dinheiro oriundo de
corrupção/propina da Petrobrás”.

O Ministro Herman Benjamin por diversas vezes releu trechos do acórdão,


afirmando que a injeção de recursos desviados da Petrobrás na campanha
para maquiar o pagamento de propina, cujos indícios teriam surgido justamente
na “fase Odebrecht”, fora assim expressamente reconhecida como objeto da
demanda. No outro corner, o Ministro Gilmar Mendes reivindicava interpretação
dos trechos no contexto em que proferido o voto, afirmando que, por certo, não
estava a se referir a fatos à época desconhecidos.

A leitura do acórdão do dia 06 de outubro de 2015 parece dar razão ao Ministro


Gilmar Mendes. As alegações de fato associadas ao “financiamento de
campanha com dinheiro oriundo de corrupção/propina da Petrobrás” não
contemplam qualquer indicativo de doação direta destinada a mascarar o
pagamento de propina. São discriminados, sim, valores desviados que teriam
sido doados aos partidos da base do governo por empresas envolvidas na
operação Lava Jato entre 2012 e 2013 e, ainda, que teriam sido repassados
diretamente ao PT entre 2003 e 2013.

Não há menção a doações eleitorais diretas feitas como contrapartida a


favorecimentos, mesmo que por caixa 2, no ano de 2014. O quadro fático-
jurídico então emoldurado pelo Ministro Gilmar Mendes é “lavagem de dinheiro
na Justiça Eleitoral, corrupção na Petrobras resulta em lavagem de dinheiro na
doação. Isso precisa ser esclarecido, com efeito prático para a história do país.”

Esse trecho do acórdão proferido no agravo interno é bastante elucidativo para


dirimir outra questão: a posterior alegação de que valores desviados da
Petrobrás foram diretamente injetados na campanha presidencial para pagar
propina constitui novo e autônomo ilícito ou seria mero desdobramento daquele
trazido na petição inicial?

No já citado parecer de Luiz Fernando Pereira, a questão foi respondida


distinguindo-se fatos “simples ou contíguos” e fatos “substanciais”. Os
primeiros, desdobramentos da causa de pedir já deduzida, podem ser
conhecidos como fatos supervenientes, nos termos do art. 493 do CPC. Os
últimos têm em si os elementos definidores de uma causa de pedir autônoma,
sendo fulminados pela decadência.

O Ministro Herman Benjamin considerou, de modo compatível com a premissa


inquisitorial que adotou, que todo e qualquer fato relacionado a dinheiro
desviado da Petrobrás e que pudesse ser tipificado como abuso de poder
econômico estava albergado na ação. Mas o ilícito imputado na petição inicial é
bastante distinto daquele que se delinearia a partir dos indícios coletados na
“fase Odebrecht”.

A imputação inicial é que, por anos, propina foi paga pela Petrobrás à certas
empresas e ao Partido dos Trabalhadores, perfazendo um capital que pôde,
em 2014, ser transferido à chapa presidencial por meio de doações declaradas
de campanha. A prova exigida para confirmar o ilícito é complexa: além de
demonstrar a propina repassada a empresas e partidos, é preciso comprovar a
finalidade eleitoreira dessa captação prévia de recursos e seu efetivo repasse à
campanha.

Conforme o volume de repasse acaso comprovado, teriam ainda os Ministros


que definir se qualquer montante seria suficiente para acarretar uma
contaminação completa dos recursos (o que poderia, por exemplo, ser acolhido
na RP 8-46) ou se somente um valor significativo deveria ser levado em conta
(algo, a princípio, fundamental para a configuração do abuso de poder
econômico). Mas não é só. Já que se está diante de fonte direta lícita (doações
eleitorais registradas, vulgo caixa 1, a procedência do pedido dependeria ou da
comprovação de que os candidatos beneficiados tinham ciência da ilicitude da
fonte indireta, ou do acolhimento de uma tese de responsabilidade objetiva – o
que importaria afirmar que quaisquer candidatos devem rastrear a origem
última dos recursos financeiros que recebem.

Outro cenário, mais favorável à cassação, se delinearia diante da pura e


simples imputação de pagamento de propina no contexto da campanha
presidencial de 2014, por doações de campanha feitas de forma não declarada
(caixa 2). O fato a ser provado aqui seria, apenas, a injeção dos recursos.
Como o caixa 2 é, em si, prática ilícita, dificilmente seria exigida a comprovada
ciência dos candidatos ou, mesmo, demonstração do volume efetivamente
recebido. Portanto, trata-se de causa de pedir autônoma, fulminada pela
decadência.

Ministro Gilmar Mendes. Foto: Evaristo Sá/AFP

Qual o destino a ser dado às provas da denominada “fase Odebrecht”?

O embate entre os Ministros Herman Benjamin e Gilmar Mendes ainda não se


esgotaria no ponto anterior. Pendente estava a questão sobre o destino a ser
dado às provas produzidas na “fase Odebrecht”, em especial documentos
oriundos da Operação Lava-Jato e prova testemunhal.

Em boa técnica processual, a resposta a essa questão deveria ser dirimida


pela compreensão do instituto da prova, que é elemento de demonstração
de alegações de fato. No processo, o “fato” somente surge do cotejo entre a
alegação admitida em juízo e a prova que o confirma. Parte-se da alegação,
para então examinar a prova. Ora, se a conclusão é de que determinadas
alegações não compunham a causa de pedir, não há que se falar em “prova
dos fatos”. O não conhecimento das alegações (objeto de prova) tem por efeito
a inadmissibilidade do meio de prova (suporte material) destinado e
demonstrar a veracidade daquelas.

O caso seria, então, de fixar em preliminar:


1º) o não conhecimento das alegações de fato consideradas, pela maioria dos Ministros, como não

abrangidas pela causa de pedir;

2º) a inadmissibilidade dos meios de prova que tinham por objeto as alegações não conhecidas, o

que seria mero consectário técnico da resolução da questão anterior. Na sequência, todos os

Ministros, fossem vencedores ou vencidos na preliminar, estariam vinculados a esses limites, ao

prolatar seu voto de mérito.

Não foi esse, porém, o rumo tomado pelo TSE. Aqui, à unanimidade,
concordaram os Ministros que caberia a cada um “dar o valor que considerar
devido à prova”. O problema, como visto, é que a prova não subsiste como
entidade autônoma no processo, mas sempre correlacionada às alegações que
pretende demonstrar. Subvertendo essa lógica, o TSE estabeleceu que dos
meios de prova poderiam brotar “fatos”, tratados então como “notórios” ou
“supervenientes”, de modo a que pudessem, conforme o entendimento pessoal
de cada Ministro, serem levados em consideração.

Com isso, uma questão eminentemente processual, cuja decisão


vincularia todos os Ministros, acabou sendo diluída na apreciação do mérito. E,
como cada Ministro é livre para proferir voto sem obrigatoriedade de dialogar
com os demais já proferidos, cada voto, isoladamente, conteve um deslinde
próprio, conforme posição pela dilatação ou não da causa de pedir.

O episódio revela um dos maiores óbices à formação de precedentes no Brasil:


o modelo decisório seriatim, ou seriado. Neste modelo, cada juiz de órgão
colegiado pode votar como se proferisse uma decisão monocrática; como se
fosse juiz singular. Ao final, coletados os votos, a decisão é fixada com base no
teor do dispositivo prevalecente, por exemplo, a improcedência. Quanto à
fundamentação, todos os votos apresentados são colacionados,
independentemente de dialogarem entre si. Não há obrigatoriedade – ao
contrário do que ocorre no modelo per curiam – de que a maioria vencedora
fixe consenso sobre as razões determinantes para se votar em determinado
sentido. Por isso, muitas vezes, é difícil definir qual tese jurídica prevaleceu.

No caso das ações eleitorais julgadas contra a chapa presidencial, a liberdade


dada a cada Ministro para, na prática, definir quais alegações conheceria e
quais meios de prova admitiria, produziu um certo espelhamento: Ministros que
prestigiaram a estabilização da demanda não admitiram as provas da “fase
Odebrecht” e julgaram improcedentes os pedidos formulados em todas as
ações; Ministros que ampliaram a causa de pedir admitiram aquelas provas e
julgaram os pedidos de três das quatro ações procedentes.

Na prática, permitiu-se aos Ministros vencidos na questão preliminar relativa à


estabilização da demanda desconsiderar o resultado da decisão colegiada a
respeito. Pode-se portanto cogitar que, caso corretamente pronunciada, em
caráter prévio, a inadmissibilidade do exame de parte da matéria fática
efetivamente examinada pelo Relator, o placar de votação viesse a ser até
mesmo mais dilatado em favor da improcedência dos pedidos.

Ministro Herman Benjamin. Foto: Evaristo Sá/AFP

Fase do Julgamento de Mérito

A análise do mérito das ações teve início com o voto do relator, que apreciou
um a um os alegados atos constitutivos de abuso de poder político e
econômico praticados pela chapa Dilma/Temer. Conforme assentado no item
anterior, o modelo decisório seriatim, adotado nos tribunais brasileiros, permite
que os membros das cortes profiram seus votos sem necessária identidade de
fundamentos. Por essa razão, a análise pormenorizada dos supostos ilícitos
não se repetiu em todos os votos, impossibilitando uma comparação mais
acurada dos entendimentos de cada Ministro.

Quatro questões, contudo, podem ser objeto de análise neste balanço


preliminar, permitindo compreender os principais pontos decididos. São eles:

1) a configuração do abuso de poder econômico em razão do recebimento da chamada propina-

gordura ou propina-poupança;

2) a possibilidade (ou não) de sopesamento das provas que apontaram o recebimento de recursos

por fora da contabilidade oficial das campanhas, uma vez que a inicial não apontara esta conduta;

3) o suposto ilícito decorrente do superfaturamento de gastos com algumas das empresas

contratadas pela campanha; e

4) a condenação pelo chamado “contexto de abuso” ou “conjunto da obra”, uma somatória

assistemática de diversos ilícitos para conformação da gravidade necessária à procedência das

ações.

1) O que é a propina-gordura ou propina-poupança? Esta modalidade de


ilícito foi apontada na imputação contida nas iniciais, permitindo embasar
um decreto condenatório?

Conforme reconhecido pelo relator, Ministro Herman Benjamin, foi comprovado


ao longo da instrução que alguns partidos da base do primeiro governo Dilma
Rousseff, especialmente PT, PMDB e PP, teriam recebido vastas quantidades
de recursos ao longo dos anos anteriores a 2014, especialmente 2012 e 2013.
Tais recursos, doados por diversas empreiteiras[8], foram direcionados
oficialmente aos referidos partidos, em doações declaradas à Justiça Eleitoral.

Nos termos de delações já existentes à época do ajuizamento das ações,


especialmente a de Paulo Roberto Costa, os valores não eram doações
espontâneas e regulares, mas representavam o pagamento de propinas que
variavam de 1% (um ponto percentual) e 3% (três pontos percentuais) sobre os
montantes de contratos obtidos ilicitamente – alguns dos quais superfaturados
– junto à Petrobrás e suas subsidiárias.

Tais partidos, portanto, ao longo dos anos que precederam a eleição de 2014,
teriam conseguido se diferenciar dos demais, tanto no volume de suas próprias
atividades partidárias, no custeio de campanhas municipais de 2012, que
incrementaram a sua base de apoio, quanto na formação de reservas
financeiras aptas a serem aplicadas na eleição presidencial. Conforme constou
da inicial, “é óbvio que esses recursos foram utilizados para alavancar a
imagem dos candidatos e lideranças dos partidos; garantir e financiar as
campanhas de candidatos a prefeitos e vereadores das eleições de 2012 com
vistas a obter apoio nas eleições de 2014, além de garantir apoio financeiro a
candidatos majoritários e proporcionais neste ano, dentre outros”.

Resta fora de dúvida que a acusação constou expressamente da causa de


pedir fática delineada em momento oportuno, trazendo a inicial da AIJE 1943-
58, no seu item I.2.2. (fls. 26 a 32), a narrativa e as informações que davam
conta da somatória de recursos canalizados para os partidos políticos.

Na compreensão do relator, este acúmulo de recursos teria permitido a compra


de apoio de partidos para incrementar a coligação majoritária ré, ampliando em
consequência o seu acesso à propaganda eleitoral. Como disse, “os dois
partidos da coligação usufruíram, ao longo dos anos, de valores ilícitos,
derivados de práticas corruptas envolvendo a Petrobrás”, para concluir que
“trata-se de abuso de poder político e ou econômico em sua forma continuada,
cujos impactos, sem dúvida, são sentidos por muito tempo no sistema político
eleitoral”.

Os Ministros Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira trouxeram o contraponto ao voto


do relator, asseverando a impossibilidade de se presumir que aqueles recursos
que verteram ilicitamente para o caixa oficial dos partidos políticos em anos
anteriores eram os mesmos que abasteceram, posteriormente, a campanha de
2014. Conforme sustentado pelo Ministro Tarcísio Vieira, “ficou realmente
demonstrado um esquema duradouro de distribuição de recursos ilícitos,
oriundos de percentuais sobre contratos celebrados com a Petrobras, mas não
ficou comprovado de forma cabal o incremento direto na campanha de 2014“.

O debate instaurado diz respeito ao tema da mescla de recursos lícitos e ilícitos


e à dificuldade de separação posterior da origem dos recursos, uma vez se
tratar o dinheiro de bem por essência fungível. No entendimento dos votos da
minoria, o ingresso de valores oriundos de propinas no caixa oficial dos
partidos seria suficiente para macular a integralidade dos recursos ali
depositados, tornando desnecessária uma particularização dos montantes
destinados à campanha eleitoral.

Os votos vencedores, contudo, apontam solução mais concordante com as


premissas do devido processo e, especialmente, com a impossibilidade de se
admitir presunção em desfavor do acusado nos processos sancionatórios.

Isso porque é certo que aqueles partidos auferiram quantidades significativas


de recursos em relação aos quais não se apontou qualquer irregularidade.
Tanto aqueles advindos do Fundo Partidário, quanto as doações de pessoas
físicas e jurídicas, permitidas àquele tempo.

Deste modo, era ônus da acusação, ainda que não seja tarefa simples,
identificar as transações adequadamente, de modo a poder imputar aos
acusados o carregamento dos valores espúrios para o direto incremento da
campanha eleitoral de 2014. Não tendo havido prova segura neste sentido, a
solução adequada era mesmo a improcedência com relação a esta causa de
pedir.

2) O recebimento de recursos por fora da contabilização oficial foi


apontado na imputação contida nas iniciais, permitindo embasar um
decreto condenatório?

O ponto mais polêmico do julgamento tratou da alegada comprovação do


ingresso de recursos de empresas à campanha da chapa Dilma/Temer,
direcionados à margem da contabilização oficial, o chamado caixa 2. A prova
deste fato teria advindo essencialmente dos depoimentos da “fase Odebrecht”
e corroborados por João Santana e Mônica Moura, marqueteiros da campanha,
que teriam recebido parte de tais valores.

Como já ressaltado quando da análise das preliminares, a maioria do tribunal


se formou no sentido de reconhecer que o abuso de poder econômico
perpetrado pelo recebimento na campanha de recursos pelo caixa 2 não
compôs originalmente a causa de pedir fática.

Mesmo quando a inicial descreve que “o dinheiro desviado da Petrobrás


financiou direta e indiretamente a campanha dos requeridos”, o faz em outro
contexto, reafirmando tratar exclusivamente das doações feitas em anos
anteriores aos “dois partidos que mais receberam recursos das empreiteiras
envolvidas”. A dicotomia diretamente x indiretamente, aqui, refere-se a
recursos que teriam sido carregados como doações dos partidos à campanha
(diretamente) e aqueles que beneficiaram indiretamente a campanha, como
aqueles utilizados para reforçar nos anos anteriores a imagem dos candidatos
e a sedimentar um maior apoio político desde a eleição municipal de 2012.

Deste modo, não se pode corretamente falar em prova, uma vez ser
inadmissível sua produção em relação a fatos não alegados. E a análise da
inicial denota que efetivamente esta narrativa não foi trazida a tempo e modo,
dentro do prazo decadencial estipulado na Constituição Federal.

Em seu voto, o relator sustentou a impossibilidade de separação dos valores


destinados oficialmente e ao caixa 2, afirmando que ambos compunham um
“abraço de siameses”. Esta leitura, contudo, esbarra no óbice do entendimento
da maioria, vez que aquilo que não foi alegado e, portanto, fulminou-se pela
decadência, não pode se prestar a corroborar a condenação.

3) O pagamento a maior por serviços prestados para as campanhas


eleitorais configura ilícito apto a ser apurado e apenado na seara
eleitoral?

Parte relevante das manifestações dos Ministros direcionou-se à análise do


suposto desvio de recursos pagos as gráficas VTPB e Rede Seg e à empresa
de montagem de palcos Focal. Afirmou-se no voto do relator que referidas
empresas não dispunham de capacidade interna para a devida contraprestação
de todos os serviços contratados, o que denotaria o desvio de recursos das
campanhas para particulares e o consequente enriquecimento ilícito de
terceiros.

A resposta mais detida quanto ao tema se deu no voto do Ministro Admar


Gonzaga, que destacou não se ter prova contundente de que os recursos
supostamente pagos a maior para aquelas empresas tenham sido canalizados,
posteriormente, para a consecução de algum ato com repercussão nos bens
jurídicos tutelados pelas normas eleitorais. No mesmo sentido seguiu o
raciocínio do Ministro Tarcísio Vieira, compreendendo que “não houve lesão
aos bens jurídicos protegidos pela norma, normalidade e legitimidade das
eleições, bem como isonomia entre os concorrentes”.

Efetivamente, ante o princípio da independência das instâncias de apuração e


apenamento de atos ilícitos, não se vislumbra lesão ou colocação em risco de
lesão pelo comportamento daquele candidato que paga preço maior do que a
média de mercado por serviço ou bem destinado à sua campanha.

Situação diversa ocorreria se para tanto o candidato utilizar recursos oriundos


do Fundo Partidário, com prestação de contas específica e maior
sindicabilidade quanto ao mérito das despesas efetuadas. Não sendo essa a
hipótese, como não era no caso vertente, falece a esta moldura fática a
capacidade de configurar-se em ilícito eleitoral.

Em outras palavras, conquanto se possa apurar, em outras searas, possíveis


ilícitos tributários, cíveis ou mesmo criminais, nenhuma relevância tem para o
âmbito eleitoral se alguém se enriquece com recursos auferidos nas
campanhas, desde que, naturalmente, não os utilize posteriormente para a
prática de algum ilícito tipicamente eleitoral.

Corredores do TSE. Funcionário leva autos para o quarto dia de julgamento. Foto: Evaristo Sá/AFP
4) Qual foi a compreensão dada à somatória de ilícitos reconhecidos, sob
o contexto do denominado “conjunto da obra” ou “contexto de abuso”?

Não foram apenas as doações realizadas por empreiteiras – aos partidos ou à


campanha, oficialmente ou pelo caixa 2 – que mereceram a atenção do TSE.
Ainda que pouco tenha repercutido ao longo do período de tramitação do feito,
as ações imputaram à chapa vencedora de 2014 a prática de uma série de
supostos ilícitos, a saber:

1) a convocação indevida e com desvio de finalidade de rede nacional de emissoras de rádio e

televisão, com quebra do princípio da impessoalidade;

2) a manipulação e represamento de índices socioeconômicos produzidos pelo IPEA – Instituto de

Pesquisas Econômicas Aplicadas;

3) o uso indevido de prédios e equipamentos públicos para a realização de campanha;

4) a veiculação de propaganda institucional em período vedado;

5) a extrapolação dos gastos de campanha pelo período de três dias, corrigidos apenas depois de

deferimento do incremento do montante previsto pelo TSE;

6) a realização de atos de propaganda eleitoral por entidades sindicais e;

7) o uso indevido dos meios de comunicação social, mediante a veiculação de “deslavadas

mentiras”no horário eleitoral gratuito.

Conforme ponderado no início da análise do julgamento de mérito, os Ministros


não se detiveram, todos, na apreciação de cada um destes alegados ilícitos
perpetrados pela chapa Dilma/Temer. Salutar, neste sentido, destacar que a
própria acusação, reconhecendo a fragilidade de ao menos parte dos
episódios, pleiteou sua consideração em conjunto: “mesmo as questões que,
isoladamente, não sejam consideradas suficientes para comprometer a lisura
do pleito, devem ser analisadas conjuntamente entre si e os demais fatos
reconhecidos como já provados nos autos […]”.

A argumentação encontra amparo na paradigmática decisão do RO 510[9],


relatado pelo Ministro Nelson Jobim, que culminou com a cassação pelo TSE
do então Governador do Piauí, Francisco de Assis Moraes Souza, conhecido
por “Mão Santa”. A autoexplicativa ementa aponta ter sido julgada procedente
a ação por “fatos que, em seu conjunto, configuram abuso de poder econômico
e político com potencialidade para influir no resultado das eleições”.

A questão tornou-se mais relevante com a alteração promovida no art. 22 da


LC 64/90 pela LC 135/10, retirando a necessidade de se comprovar a
potencialidade das condutas ilícitas de alterar o resultado do pleito e
substituindo-a pelo vago conceito de “gravidade” das condutas.

Deste modo, o cotejo do entendimento jurisprudencial que se seguiu ao RO


510 com o fluido conceito de “gravidade” incentivou os atores do jogo eleitoral a
amealharem tantos supostos ilícitos quantos fosse possível na inicial, de modo
a sustentar um quadro de cenário abusivo. Assim, ainda que não se pudesse
atribuir a gravidade necessária para levar à procedência da ação a qualquer
daqueles fatos, individualmente considerados, sua somatória teria o efeito de
impressionar o julgador.

Este foi o entendimento do Ministro Herman Benjamin, que “lembrou que a


jurisprudência do TSE determina que mesmo que não houvesse nenhum ilícito
individualmente muito grave, a multiplicidade dos crimes menores, pelo
“conjunto da obra”, justificaria a cassação de mandato”. Na mesma linha seguiu
a Ministra Rosa Weber, não sem antes afirmar inexistir uma forma de dosar os
atos ilícitos para aferir-lhes a gravidade.

Conforme já afirmado, a maioria do TSE deu compreensão diversa ao tema,


seja refutando individualmente alguns dos alegados ilícitos, seja afirmando que
a totalidade do que foi levantado ao longo da instrução não denotava a
gravidade necessária para a cassação da chapa e a decretação da
inelegibilidade dos seus membros.

De toda forma, em prol de um Direito Eleitoral com maior grau de


previsibilidade impõe louvar a parcimônia com a qual a matéria foi tratada,
especialmente em razão do amplo grau de subjetividade decorrente da
possibilidade de somar atos individualmente inócuos para a configuração da
gravidade exigida pela lei. Parece melhor, nesse contexto, construir, com a
doutrina, parâmetros e balizas seguros para que se reconheça ou exclua a
gravidade da conduta, como faz Joel Cândido na demarcação de requisitos
mínimos específicos e genéricos[10].
Considerações Finais

Embora o texto não analise o embate político subjacente ao julgamento do


TSE, não se nega que ele exista. As coisas não se excluem. Pode um Ministro
politicamente motivado proferir um voto jurídico correto. Mas o ponto é que
decisões juridicamente corretas são aquelas respaldadas em escolhas políticas
prévias, consolidadas na Constituição e nas leis. E, assim, se legitimam
perante o Estado Democrático de Direito, a despeito das intenções íntimas dos
que as proferem.

A improcedência das quatro ações, nos termos e limites da análise aqui


empreendida, mostra-se correta sob o ponto de vista jurídico. Ainda que não se
possa aferir a adequação de uma decisão judicial pelas suas consequências
para eventos futuros, neste caso ambas as características caminham juntas.

Eventual decisão em sentido contrário, especialmente se fundada na admissão


da alteração extemporânea da causa de pedir fática, poderia desencadear um
cenário de ainda mais contundente judicialização das disputas políticas do que
o vivido atualmente no Brasil.

Candidatos derrotados teriam todo incentivo para ajuizar demandas vagas,


fundadas em acusações genéricas, desde que imputassem abertamente aos
seus adversários a prática de toda sorte de abusos. Bastaria, então, aguardar o
transcurso do mandato e torcer que, neste interregno, fosse trazido ao
conhecimento público atos ilícitos praticados no período eleitoral, para então
preencher de sentido a vagueza do pleito inicial.

Este tipo de comportamento, longe de representar um compromisso dos


candidatos com a busca por uma maior lisura nas eleições, seria mera
instrumentalização da Justiça Eleitoral para fins individuais, tarefa à qual ela
jamais deve se prestar a assumir.

Roberta Maia Gresta é Doutoranda em Direito Político (UFMG) e Mestre em


Direito Processual (PUC Minas). É assessora de Juiz Membro da Corte
Eleitoral do TRE/MG, professora e membro-fundadora da Academia Brasileira
de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP).
Fernando Gaspar Neisser é Mestre e Doutorando em Direito Penal (USP). É
advogado, Coordenador Adjunto da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e
Político (ABRADEP) e Presidente da Comissão de Direito Político e Eleitoral do
Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).

[1] Foram julgadas, conjuntamente, quatro ações: as Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJEs)

1547-81 e 1943-58, a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) 7-61 e a Representação por

captação ou gasto ilícito de recurso (RP) 8-46. Todas tramitam perante a Relatoria da Min. Herman

Benjamin, em substituição à Ministra Maria Thereza de Assis Moura, que antes ocupava o cargo de

Corregedora.

[2] “Art. 329. O autor poderá: I – até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir,

independentemente de consentimento do réu; II – até o saneamento do processo, aditar ou alterar o

pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a

possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento

de prova suplementar.”

[3] “Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios,

dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não

indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral.”

[4] COSTA, Adriano Soares da. Instituições de direito eleitoral: teoria da inelegibilidade e direito

processual eleitoral, 10. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2016, p. 373.

[5] RIBEIRO, Fávila. Abuso de poder no direito eleitoral. 2. ed.. Rio de Janeiro: Forense, 1993, p.

116.

[6] Revogação do inciso XV do art. 22 da LC 64/90, pela LC 135/2010.

[7] Nova redação dada ao art. 262 pela Lei 12.891/2013.

[8] Nominalmente: Andrade Gutierrez, UTC, OAS, Galvão Engenharia, IESA, Queiroz Galvão,

Engevix, Camargo Corrêa, Constran, Construcap, Odebrecht, Norberto Odebrecht e Engeform.

[9] Recurso Ordinário nº 510. Rel. Min. Nelson Jobim. DJ em 16.11.2001.

[10] CÂNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 16ª Ed. São Paulo: Edipro, 2016, p. 160.
INFRAÇÕES ELEITORAIS
Para conhecer os conceitos mais relevantes que envolvem o abuso de poder econômico
e político nas campanhas, saber como eles são tratados na legislação eleitoral e
compreender as consequências que podem trazer aos candidatos, assista à videoaula a
seguir.

Vídeo

Pode haver propaganda das estatais, desde que esta não ultrapasse o limite comercial.
Como se sabe, em anos eleitorais, a propaganda institucional está proibida a partir de
julho (art. 73, parágrafo VI, alínea b, da Lei nº 9.504/97). No entanto, empresas públicas
e sociedades de economia mista, por concorrerem no mercado, podem fazer circular
propagandas do seus produtos e serviços no limite da atividade comercial. É preciso,
portanto, um cuidado redobrado por parte da fiscalização, de forma que essas
propagandas não sejam uma via indireta de propaganda institucional. Nesse caso, é
necessário estar atento à natureza da propaganda, aos valores gastos, quando
comparados aos anos não eleitorais, e também à própria mensagem veiculada.

UNIDADE 4

NFRAÇÕES ELEITORAIS:
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE
SUFRÁGIO
A captação ilícita de sufrágio é um tipo de infração
bastante comum no Brasil. Trata-se da já conhecida
compra de votos.
A compra de votos já foi responsável pela cassação de governadores no nosso país. Um
dos primeiros e mais rumorosos casos ocorreu em 2009, no Maranhão, com o então
governador Jackson Lago.
OBJETIVOS
Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de identificar o instituto da
captação ilícita de sufrágio, assim como as suas nuances legais, doutrinárias e
jurisprudenciais.

4.1 CASOS DE PROCESSO


Para conhecer alguns casos de processo referentes à compra de votos, navegue pelas
setas a seguir.

O ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, foi condenado em ação penal


eleitoral por compra de votos, já que, além de ilícito eleitoral no sentido estrito, a
conduta também caracteriza crime (art. 299 do Código Eleitoral).

Para obter mais detalhes sobre a condenação do ex-governador Anthony Garotinho, leia
a matéria a seguir.

Clique para acessar a matéria Garotinho é condenado a 9 anos e 11 meses de prisão por
compra de votos, de Sérgio Rodas.

https://www.conjur.com.br/2017-set-13/garotinho-condenado-anos-11-meses-prisao-
corrupcao

Na ocasião do julgamento do ex-governador do Maranhão Jackson Lago, o


Ministro Lewandowski reforçou que “para caracterizar a captação ilícita, é necessária
comprovação da atuação direta do candidato, o que ficou claro no presente caso.”

Para obter mais detalhes sobre a cassação do mandato do ex-governador Jackson Lago,
leia a matéria a seguir.
https://www.migalhas.com.br/quentes/79329/mandato-do-governador-jackson-lago-e-
cassado-pelo-tse

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ratificou a tese defendida pelo Ministério Público
Eleitoral de que testemunhos consistentes são suficientes para provar a compra de votos
por candidatos.

Para obter mais detalhes sobre o posicionamento do TSE em relação à tese defendida
pelo Ministério Público Eleitoral, leia o texto a seguir.

http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/conjunto-consistente-de-provas-testemunhais-
pode-servir-de-base-unica-para-condenacoes-por-compra-de-votos

VAMOS PRATICAR?
Há formas mais sofisticadas de os políticos realizarem promessas em campanha que
podem, eventualmente, caracterizar a captação ilícita de sufrágio.

Para desafiá-lo, lançamos um problema a seguir.

Considere que o Ministério Público Eleitoral esteja ajuizando uma ação por captação
ilícita em face de Ben Hurna e Gino Scent. Tal ação requer a aplicação das sanções
respectivas a ambos. Na inicial, alega-se que Ben era candidato a governador e firmou
com o pré-candidato Gino Scent um acordo mediante o qual ofereceu dinheiro para que
este renunciasse à candidatura e passasse a apoiá-lo, o que efetivamente foi feito, com o
aval dos respectivos partidos.

Responda, fundamentadamente, se o pedido deve ser deferido.

A hipótese não é de captação ilícita de sufrágio, já que a vantagem oferecida não é para
obter o voto, mas a renúncia de candidatura. No entanto, pode caracterizar outro ilícito
eleitoral.

Comprar apoio de outros políticos não caracteriza a captação ilícita de sufrágio disposta
no art. 41-A da Lei das Eleições, mas pode caracterizar abuso de poder econômico,
segundo a jurisprudência do TSE.
http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/
artigos/revista-eletronica-eje-n.-3-ano-5/ilegitimidade-do-comite-financeiro-para-
interpor-recurso-eleitoral

UNIDADE 5

PARTIDOS POLÍTICOS

Partidos políticos são agremiações indispensáveis


ao jogo político. A Constituição exige que o
candidato tenha filiação partidária.
Embora sejam pessoas jurídicas de direito privado, os candidatos precisam ter registro
no TSE para participar de eleições e receber dinheiro público de financiamento. As
regras constitucionais e legais que regem os partidos políticos têm influência direta no
perfil dos governos e das relações entre os poderes.

OBJETIVOS
Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de identificar os conceitos mais
relevantes sobre partidos políticos, a sua conformação legal e o seu papel no direito
eleitoral.

A reforma eleitoral recente promoveu profundas alterações na regulação dos partidos


políticos. Entre tais alterações, podemos destacar:

1. a criação de um fundo especial para financiamento de


campanhas (além do já conhecido Fundo Partidário);
2. o fim das coligações eleitorais para candidaturas
proporcionais, regra que passará a valer a partir das eleições de
2020, e
3. a instituição de cláusulas de barreira para o funcionamento
de partidos.
No entanto, antes mesmo da reforma, o STF já havia promovido uma alteração profunda
no sistema de financiamento de campanhas. Essa alteração acabou tendo reflexos
relevantes na política interna dos partidos.

Ao proibir o financiamento por parte de pessoas jurídicas, o Supremo "empurrou" o


Congresso no sentido de criar um novo fundo público de financiamento de campanhas
(Lei nº 9.504, de 1997, Art. 16-C).
O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) é constituído por dotações
orçamentárias da União em ano eleitoral, em valor ao menos equivalente:

 ao definido pelo Tribunal Superior Eleitoral, a cada eleição, com base nos parâmetros
definidos em lei, e
 a 30% (trinta por cento) dos recursos da reserva específica de que trata o inciso II do §
3o do art. 12 da Lei no 13.473, de 8 de agosto de 2017).
A distribuição dos recursos dentro dos partidos provocou
um debate relevante, especialmente no que se refere ao
apoio financeiro às candidaturas femininas.

LEITURA
Na ADI 5617, o STF determinou que 30% dos recursos advindos do Fundo Partidário
devem ser destinados às candidatas mulheres. O TSE reconheceu que isso também se
aplica ao Fundo Especial de Financiamento de Campanhas.

Para obter mais detalhes a respeito da decisão do STF sobre os limites mínimos do
Fundo Partidário para candidaturas mulheres, leia o texto a seguir.

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=372485

Para ver as petições da professora Ligia Fabris, que coordenou um trabalho na FGV Direito Rio
como amicus curiae na ADI 5617, leia o texto a seguir.

LIGIA FABRIS
Professora da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV
Direito Rio) e doutoranda em Direito na Universidade Humboldt de Berlim
(Alemanha). Possui mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro e graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro.

http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/18922
Para saber o que é cláusula de barreira, leia o texto a seguir.

https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/clausula-de-barreira

Cláusula de Barreira
Também conhecida como cláusula de exclusão ou cláusula de desempenho, é uma
norma que impede ou restringe o funcionamento parlamentar ao partido que não
alcançar determinado percentual de votos. O dispositivo foi aprovado pelo Congresso
em 1995 para ter validade nas eleições de 2006, mas foi considerado inconstitucional
pela unanimidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), sob o argumento
de que prejudicaria os pequenos partidos. A regra determinava que os partidos com
menos de 5% dos votos nacionais não teriam direito a representação partidária e não
poderiam indicar titulares para as comissões, incluindo CPIs (Comissões Parlamentares
de Inquérito). Também não teriam direito à liderança ou cargos na Mesa Diretora. Além
dessas restrições, perderiam recursos do fundo partidário e ficariam com tempo restrito
de propaganda eleitoral em rede nacional de rádio e de TV.

Fonte: Agência Senado

PARTIDOS POLÍTICOS
Para saber como se inserem os partidos políticos nos planos constitucional e legal e
entender a relevância desse tema para a democracia, assista à videoaula a seguir.

Vídeo com problema.


VAMOS PRATICAR?
Suponha que determinado partido, em cumprimento à determinação do STF e do TSE,
tenha destinado 30% dos seus recursos a candidatas mulheres.

Posteriormente, descobriu-se que essas candidatas obtiveram um número bastante


reduzido de votos, que não fizeram campanha e que, na verdade, o dinheiro apenas
passou pelas suas contas, mas acabou alimentando candidaturas de homens,
caracterizando o que se convencionou chamar, popularmente, de “candidaturas laranja”.

Há irregularidade eleitoral nessa prática? Justifique.

Há irregularidades de diversas espécies, como o crime de falsidade ideológica eleitoral


(art. 350 do Código Eleitoral) e o abuso de poder econômico (art. 22 da Lei
Complementar nº 64, de 1990), além do ilícito tipificado no art. 30 da Lei nº 9.504, de
1997. O emprego indiscriminado de candidaturas fictícias para cumprir a cota mínima
de gênero prevista na Lei 9.504 é um desafio ao Direito Eleitoral. Embora,
teoricamente, seja uma conduta enquadrável nos ilícitos acima discriminados, na
prática, vem-se mostrando uma irregularidade muito difícil de ser enfrentada,
demandando uma mudança legislativa.

https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/os-possiveis-crimes-das-candidaturas-
laranjas-09032019

Chegamos ao final do objeto de aprendizagem Direito


Eleitoral.
Por meio dele, você teve a oportunidade de conhecer alguns institutos da matéria e
analisá-los no contexto da democracia brasileira.

Ao longo do conteúdo, vimos que o Direito Eleitoral vem adquirindo grande relevância
acadêmica, na medida em que os processos eleitorais passam a demandar cada vez mais
o controle judicial. Isso acontece porque as constantes reformas legislativas na área e a
intensa dinâmica da jurisprudência dificultam a formulação de bases teóricas estáveis
para o Direito Eleitoral.

Daí a importância de conhecer não só os institutos básicos do Direito Eleitoral mas


também as reformas que vêm alterando o quadro normativo brasileiro.

Obrigada pela companhia e bons estudos!

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