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Lei 14.

211/2021: restrição à competência normativa do TSE,


retirada menções às coligações proporcionais da lei eleitoral
e alterações no art. 109 do Código Eleitoral
Categoria: Direito Eleitoral

A Lei nº 14.211/2021 alterou o Código Eleitoral e a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/97) para tratar
sobre quatro assuntos:

1) Restrição à competência normativa regulamentar do TSE;


2) Atualização do texto do Código Eleitoral e da Lei das Eleições à proibição de coligações nas
eleições proporcionais;
3) Alteração no inciso I do art. 109 do CE para atender ao que foi decidido pelo STF na ADI
5420/DF

4) Alteração no § 2º do art. 109 do CE (restrição à participação dos partidos na sobra eleitoral)


Vejamos o que mudou.

 
1. RESTRIÇÃO À COMPETÊNCIA NORMATIVA REGULAMENTAR DA JUSTIÇA ELEITORAL
Em que consiste
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode editar resoluções com o objetivo de detalhar as regras que
deverão ser observadas nas eleições. Trata-se do chamado “poder regulamentar” do TSE, ou seja,
a competência que possui para baixar instruções regulamentando as normas legais de Direito
Eleitoral.
Desse modo, pode-se dizer que a justiça eleitoral é uma justiça sui generis, porque possui três
funções:
a) judicante ou jurisdicional;
b) administrativa; e
c) regulamentar.
 

Previsão legal
A autorização para que o TSE exerça seu poder regulamentar encontra-se prevista em duas leis:

· Código Eleitoral;

· Lei das Eleições (Lei nº 9.504/97).


Código Eleitoral:

Art. 1º (...)
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral expedirá instruções para sua fiel execução.

Art. 23. Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior:

(...)
IX — expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste Código;

 
Lei nº 9.504/97:

Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral, atendendo
ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das
previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel
execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes
dos partidos políticos.

 
As resoluções do TSE não podem dispor de forma contrária à lei. Isso porque, como já dito, trata-
se de um poder regulamentar, ou seja, deve restringir-se a detalhar, explicar, especificar as normas
legais.
 
Reação legislativa
Vale ressaltar, contudo, que nem sempre as resoluções do TSE são bem recebidas no meio
político.
Algumas vezes são feitas críticas ao que seria um excesso de regulamentação por parte da
Justiça Eleitoral, especialmente no que tange à organização dos partidos políticos.
Diante desse cenário, a Lei nº 14.211/2021 inseriu o art. 23-A ao Código Eleitoral restringindo a
competência normativa da Justiça Eleitoral. O novo dispositivo afirmou que:

· o TSE somente pode expedir resoluções ou outros atos normativos sobre matérias que tenham
sido especificamente autorizadas pela lei. Assim, não existe uma autorização genérica para a
Justiça Eleitoral regulamentar todo e qualquer assunto que diga respeito à matéria eleitoral;

· o TSE não pode expedir resoluções ou outros atos normativos tratando sobre organização dos
partidos políticos.

Confira o dispositivo inserido:

Art. 23-A. A competência normativa regulamentar prevista no parágrafo único do art. 1º e no


inciso IX do caput do art. 23 deste Código restringe-se a matérias especificamente autorizadas
em lei, sendo vedado ao Tribunal Superior Eleitoral tratar de matéria relativa à organização dos
partidos políticos.

 
Esse dispositivo irá gerar uma série de controvérsias na prática. Isso porque nem sempre será
fácil identificar se a abrangência da autorização que conferida pela lei. Um exemplo é o art. 105 da
Lei nº 9.504/97, que diz:

Art. 105.  Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral, atendendo
ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das
previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel
execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes
dos partidos políticos.

Esse art. 105 autoriza que, de dois em dois anos, até o dia 05 de março, o TSE edite uma
resolução regulamentando as eleições vindouras. A autorização para regulamentação de uma
eleição é algo bem amplo, sendo difícil definir, com precisão, todas as matérias que estão aí
incluídas.
 
Derrogação do art. 61 da Lei nº 9.096/95
A Lei nº 9.096/95 é o diploma que rege os partidos políticos no Brasil. Juntamente com o art. 17
da CF/88, esta lei representa o regime jurídico dos partidos políticos.
O Título II da Lei nº 9.096/95 trata sobre a “Organização e Funcionamento dos Partidos Políticos”.
O ponto interessante vem agora. Confira o que diz o art. 61 da Lei nº 9.096/95:

Art. 61. O Tribunal Superior Eleitoral expedirá instruções para a fiel execução desta Lei.

 
Com o novo art. 23-A do Código Eleitoral, esse art. 61 da Lei nº 9.096/95 foi derrogado. Isso
porque o TSE foi proibido de, no exercício de sua competência normativa, tratar sobre “matéria
relativa à organização dos partidos políticos”.

Logo, o TSE não poderá editar resoluções sobre os assuntos mencionados nos arts. 8º a 29 da Lei
nº 9.096/95 nem sobre quaisquer outros que estejam diretamente relacionados com a
organização dos partidos políticos.

 
Resoluções do TSE potencialmente impactadas com a mudança
Há, no mínimo, três resoluções do TSE diretamente impactadas, pois tratam de temas ligados à
organização dos partidos políticos:

· Resolução TSE nº 23.571/2018: dispõe sobre a criação, organização, fusão, incorporação e


extinção de partidos políticos;

· Resolução TSE nº 23.596/2019: disciplina a filiação partidária;

· Resolução TSE nº 23.604/2019: trata das finanças e contabilidade dos partidos políticos,
inclusive prestação de contas partidárias (anuais).
 
Como será que vai ficar daqui para frente? Essas resoluções perderão a validade? São indagações
para as quais não há, infelizmente, uma resposta segura, por enquanto.

 
2. ATUALIZAÇÃO DO TEXTO DO CÓDIGO ELEITORAL E DA LEI DAS ELEIÇÕES À PROIBIÇÃO DE
COLIGAÇÕES NAS ELEIÇÕES PROPORCIONAIS
Antes de verificar a alteração promovida pela Lei nº 14.211/2021 neste ponto, é indispensável
contextualizar o tema e explicar o fim das coligações nas eleições proporcionais, o que foi feito
pela EC 97/2017.

 
Sistemas eleitorais
Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas pela CF e pela lei para disciplinar a
forma como os candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.
No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais:

a) MAJORITÁRIO b) PROPORCIONAL

   

O mandato eletivo fica com o candidato ou partido Terminada a votação, divide-se o total de votos
político que obteve a maioria dos votos. válidos pelo número de cargos em disputa,
obtendo-se assim o quociente eleitoral. Ex: na
 
eleição para vereador houve 100 mil votos válidos e
Ganha o candidato mais votado, eram 20 vagas. Logo, o quociente eleitoral será 5
independentemente dos votos de seu partido. mil (100.000 : 20 = 5.000).

   

  Em seguida, pega-se os votos de cada partido ou


coligação* e divide-se pelo quociente eleitoral,
obtendo-se assim o número de eleitos de cada
partido (quociente partidário). Ex: o Partido X e
seus candidatos tiveram 20 mil votos. Esses 20 mil
serão divididos pelo quociente eleitoral (5 mil).
Logo, esse partido terá direito a 4 vagas de
Vereador (20.000 : 5.000 = 4).

Os candidatos mais bem votados desse partido


irão ocupar tais vagas.

No Brasil, é o sistema adotado para a eleição de No Brasil, é o sistema adotado para a escolha de
Prefeito, Governador, Senador e Presidente. Vereador, Deputado Estadual/Distrital e Deputado
Federal.

* antes da EC 97/2017.
 

Eleições proporcionais
Quando se fala em “eleições proporcionais” está se referindo às eleições que adotam o sistema
proporcional acima explicado. É o caso das eleições para Vereador, Deputado Estadual, Deputado
Distrital e Deputado Federal.

 
Coligações partidárias
Coligação partidária consiste na aliança (acordo) feita entre dois ou mais partidos para que eles
trabalhem juntos em uma eleição apresentando o mesmo candidato.

Ex: nas eleições presidenciais de 2014, foi feita uma coligação denominada “Coligação com a
força do povo” para apresentar a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Esta
coligação era formada por 9 partidos (PT, PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PC do B e PRB).
Ex2: nas eleições presidenciais de 2018, foi feita uma coligação denominada “Brasil acima de
tudo, Deus acima de todos” para apresentar a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da
República. Esta coligação era formada por 2 partidos (PSL e PRTB).
 

É possível a realização de coligações partidárias tanto para eleições majoritárias como


também proporcionais?
Antes da EC 97/2017 Depois da EC 97/2017 (ATUALMENTE)

SIM. Era permitida a realização de coligações NÃO. Atualmente só se permite coligação


partidárias tanto para eleições majoritárias como partidária para eleições majoritárias.
também proporcionais.

Essa era a redação vigente da Lei nº 9.504/97: O § 1º do art. 17 da CF/88 foi alterado pela EC
97/2017 e passou a prever que é vedada a
Art. 6º É facultado aos partidos políticos, dentro
celebração de coligações nas eleições
da mesma circunscrição, celebrar coligações para
proporcionais.
eleição majoritária, proporcional, ou para ambas,
podendo, neste último caso, formar-se mais de Com isso, o art. 6º da Lei nº 9.504/97 não foi
uma coligação para a eleição proporcional dentre recepcionado pela EC 97/2017. Em linguagem
os partidos que integram a coligação para o pleito comum, mas atécnica, diz-se que o referido art. 6º
majoritário. foi “revogado” pela EC 97/2017.

 
Qual foi o grande objetivo por trás dessa mudança?
A intenção foi a de fortalecer os grandes partidos. Isso porque não sendo permitida a coligação
em eleições proporcionais, dificilmente partidos muito pequenos irão conseguir atingir um
quociente partidário que supere o quociente eleitoral. Significa dizer que, sozinhos, ou seja, sem
coligações, partidos pequenos terão muito dificuldade de eleger Vereadores e Deputados.

Além da dificuldade de atingir o quociente eleitoral, os partidos pequenos terão poucos segundos
no horário eleitoral, diminuindo sua visibilidade.

 
Essa proibição de coligações para eleições proporcionais produziu efeitos a partir de quando?
A partir das eleições de 2020. Confira o que disse o art. 2º da EC 97/2017:

Art. 2º A vedação à celebração de coligações nas eleições proporcionais, prevista no § 1º


do art. 17 da Constituição Federal, aplicar-se-á a partir das eleições de 2020.

Dessa forma, em 2018 ainda foram permitidas coligações para eleições proporcionais.
 
Houve alguma mudança no regime das coligações para eleições majoritárias?
NÃO. As coligações para eleições majoritárias continuam sendo permitidas sem qualquer
alteração. Ex: coligação para eleição de Presidente da República.
 

Compare as mudanças operadas pela EC 97/2017 no texto constitucional:


Redação anterior Redação ATUAL (dada pela EC 97/2017)

Art. 17. (...) Art. 17 (...)

§ 1º É assegurada aos partidos políticos § 1º É assegurada aos partidos políticos


autonomia para definir sua estrutura interna, autonomia para definir sua estrutura interna e
organização e funcionamento e para adotar os estabelecer regras sobre escolha, formação e
critérios de escolha e o regime de suas coligações duração de seus órgãos permanentes e
eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação provisórios e sobre sua organização e
entre as candidaturas em âmbito nacional, funcionamento e para adotar os critérios de
estadual, distrital ou municipal, devendo seus escolha e o regime de suas coligações nas
estatutos estabelecer normas de disciplina e eleições majoritárias, vedada a sua celebração
fidelidade partidária. nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade
de vinculação entre as candidaturas em âmbito
nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo
seus estatutos estabelecer normas de disciplina e
fidelidade partidária.

 
Repare que, além de proibir a realização de coligações em eleições proporcionais, o novo § 1º do
art. 17 prevê expressamente que os partidos políticos gozam de autonomia para estabelecer
regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios.
 
O que fez a Lei nº 14.211/2021?
Alterou o Código Eleitoral e a Lei nº 9.504/97 para atualizar seu texto a essa proibição. Em outras
palavras, a EC 97/2017 vedou as coligações para as eleições proporcionais, mas o Código
Eleitoral e a Lei nº 9.504/97 ainda falavam, formalmente, sobre o assunto. Por mais que esses
dispositivos legais não mais estivessem válidos (não recepcionados pela EC 97/2017), o
legislador, agora em 2021, resolveu alterá-los formalmente para adequá-los ao atual texto
constitucional:
CÓDIGO ELEITORAL

Redação anterior Redação dada Lei nº 14.211/2021

Art. 91 (...) Art. 91 (...)

Não havia § 3º. § 3º É facultado aos partidos políticos celebrar


coligações no registro de candidatos às eleições
majoritárias. (Incluído pela Lei nº14.211/2021)

Art. 105. Fica facultado a 2 (dois) ou mais Revogado.


Partidos coligarem-se para o registro de
candidatos comuns a deputado federal, deputado
estadual e vereador.

§ 1º A deliberação sobre coligação caberá à


Convenção Regional de cada Partido, quando se
tratar de eleição para a Câmara dos Deputados e
Assembleias Legislativas, e à Convenção
Municipal, quando se tratar de eleição para a
Câmara de Vereadores, e será aprovada mediante
a votação favorável da maioria, presentes 2/3
(dois terços) dos convencionais, estabelecendo-
se, na mesma oportunidade, o número de
candidatos que caberá a cada Partido.

§ 2º - Cada Partido indicará em Convenção os


seus candidatos e o registro será promovido em
conjunto pela Coligação.

Art. 107. Determina-se para cada Partido ou Art. 107. Determina-se para cada partido o
coligação o quociente partidário, dividindo-se pelo quociente partidário dividindo-se pelo quociente
quociente eleitoral o número de votos válidos eleitoral o número de votos válidos dados sob a
dados sob a mesma legenda ou coligação de mesma legenda, desprezada a fração.
legendas, desprezada a fração.

Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos
registrados por um partido ou coligação que registrados por um partido que tenham obtido
tenham obtido votos em número igual ou superior votos em número igual ou superior a 10% (dez por
a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, cento) do quociente eleitoral, tantos quantos o
tantos quantos o respectivo quociente partidário respectivo quociente partidário indicar, na ordem
indicar, na ordem da votação nominal que cada da votação nominal que cada um tenha recebido.
um tenha recebido.
Art. 109.  Os lugares não preenchidos com a Art. 109.  Os lugares não preenchidos com a
aplicação dos quocientes partidários e em razão aplicação dos quocientes partidários e em razão
da exigência de votação nominal mínima a que se da exigência de votação nominal mínima a que se
refere o art. 108 serão distribuídos de acordo com refere o art. 108 serão distribuídos de acordo com
as seguintes regras: as seguintes regras:

   

I - dividir-se-á o número de votos válidos I - dividir-se-á o número de votos válidos


atribuídos a cada partido ou coligação pelo atribuídos a cada partido pelo número de lugares
número de lugares definido para o partido pelo por ele obtido mais 1 (um), cabendo ao partido
cálculo do quociente partidário do art. 107, mais que apresentar a maior média um dos lugares a
um, cabendo ao partido ou coligação que preencher, desde que tenha candidato que atenda
apresentar a maior média um dos lugares a à exigência de votação nominal mínima;
preencher, desde que tenha candidato que atenda
 
à exigência de votação nominal mínima;
 
 
(...)
(...)
 
 
III - quando não houver mais partidos com
III - quando não houver mais partidos ou
candidatos que atendam às duas exigências do
coligações com candidatos que atendam às duas
inciso I deste caput, as cadeiras serão distribuídas
exigências do inciso I, as cadeiras serão
aos partidos que apresentarem as maiores
distribuídas aos partidos que apresentem as
médias.
maiores médias.
 
 
§ 1º O preenchimento dos lugares com que cada
§ 1º O preenchimento dos Iugares com que cada
partido for contemplado far-se-á segundo a ordem
Partido ou coligação for contemplado far-se-á
de votação recebida por seus candidatos.
segundo a ordem de votação recebida pelos seus
candidatos.  

   

§ 2º Poderão concorrer à distribuição dos lugares § 2º Poderão concorrer à distribuição dos lugares
todos os partidos e coligações que participaram todos os partidos que participaram do pleito,
do pleito. desde que tenham obtido pelo menos 80%
(oitenta por cento) do quociente eleitoral, e os
 
candidatos que tenham obtido votos em número
igual ou superior a 20% (vinte por cento) desse
quociente.

Art. 111. Se nenhum Partido ou coligação Art. 111. Se nenhum partido alcançar o quociente
alcançar o quociente eleitoral, considerar-se-ão eleitoral, considerar-se-ão eleitos, até serem
eleitos, até serem preenchidos todos os lugares, preenchidos todos os lugares, os candidatos mais
os candidatos mais votados. votados.

 
LEI 9.504/97

Redação anterior Redação dada Lei nº 14.211/2021

Art. 6º É facultado aos partidos políticos, dentro Art. 6º É facultado aos partidos políticos, dentro
da mesma circunscrição, celebrar coligações para da mesma circunscrição, celebrar coligações para
eleição majoritária, proporcional, ou para ambas, eleição majoritária.
podendo, neste último caso, formar-se mais de
uma coligação para a eleição proporcional dentre
os partidos que integram a coligação para o pleito
majoritário.

Art. 10.  Cada partido ou coligação poderá Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos
registrar candidatos para a Câmara dos para a Câmara dos Deputados, a Câmara
Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativa, as Assembleias Legislativas e as
Legislativas e as Câmaras Municipais no total de Câmaras Municipais no total de até 100% (cem
até 150% (cento e cinquenta por cento) do número por cento) do número de lugares a preencher mais
de lugares a preencher, salvo: 1 (um).

I - nas unidades da Federação em que o número I - (Revogado);


de lugares a preencher para a Câmara dos
II - (Revogado).
Deputados não exceder a doze, nas quais cada
partido ou coligação poderá registrar candidatos a  
Deputado Federal e a Deputado Estadual ou
 
Distrital no total de até 200% (duzentos por cento)
das respectivas vagas;

II - nos Municípios de até cem mil eleitores, nos


quais cada coligação poderá registrar candidatos
no total de até 200% (duzentos por cento) do
número de lugares a preencher.

Art. 15 (...) Art. 15. (...)

§ 3º Os candidatos de coligações, nas eleições § 3º Os candidatos de coligações majoritárias


majoritárias, serão registrados com o número de serão registrados com o número de legenda do
legenda do respectivo partido e, nas eleições respectivo partido.
proporcionais, com o número de legenda do
respectivo partido acrescido do número que lhes
couber, observado o disposto no parágrafo
anterior.
Art. 46. Independentemente da veiculação de Art. 46. Independentemente da veiculação de
propaganda eleitoral gratuita no horário definido propaganda eleitoral gratuita no horário definido
nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora
de rádio ou televisão de debates sobre as eleições de rádio ou televisão de debates sobre as eleições
majoritária ou proporcional, assegurada a majoritária ou proporcional, assegurada a
participação de candidatos dos partidos com participação de candidatos dos partidos com
representação no Congresso Nacional, de, no representação no Congresso Nacional, de, no
mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos mínimo, cinco parlamentares, e facultada a dos
demais, observado o seguinte: demais, observado o seguinte:

(...) (...)

II - nas eleições proporcionais, os debates poderão II - nas eleições proporcionais, os debates deverão
desdobrar-se em mais de um dia e deverão ser ser organizados de modo que assegurem a
organizados de modo que assegurem a presença presença de número equivalente de candidatos de
de número equivalente de candidatos de todos os todos os partidos a um mesmo cargo eletivo e
partidos que concorrem a um mesmo cargo poderão desdobrar-se em mais de um dia,
eletivo, respeitada a proporção de homens e respeitada a proporção de homens e mulheres
mulheres estabelecida no § 3º do art. 10 desta Lei; estabelecida no § 3º do art. 10 desta Lei;

(...) (...)

§ 5º Para os debates que se realizarem no § 5º Para os debates que se realizarem no


primeiro turno das eleições, serão consideradas primeiro turno das eleições, serão consideradas
aprovadas as regras, inclusive as que definam o aprovadas as regras, inclusive as que definirem o
número de participantes, que obtiverem a número de participantes, que obtiverem a
concordância de pelo menos 2/3 (dois terços) dos concordância de pelo menos 2/3 (dois terços) dos
candidatos aptos, no caso de eleição majoritária, e candidatos aptos, no caso de eleição majoritária, e
de pelo menos 2/3 (dois terços) dos partidos ou de pelo menos 2/3 (dois terços) dos partidos com
coligações com candidatos aptos, no caso de candidatos aptos, no caso de eleição proporcional.
eleição proporcional.

Art. 47 (...) Art. 47 (...)

§ 2º Os horários reservados à propaganda de § 2º Os horários reservados à propaganda de


cada eleição, nos termos do § 1º, serão cada eleição, nos termos do § 1º, serão
distribuídos entre todos os partidos e coligações distribuídos entre todos os partidos e coligações
que tenham candidato, observados os seguintes que tenham candidato, observados os seguintes
critérios: critérios:

I - 90% (noventa por cento) distribuídos I - 90% (noventa por cento) distribuídos
proporcionalmente ao número de representantes proporcionalmente ao número de representantes
na Câmara dos Deputados, considerados, no caso na Câmara dos Deputados, considerado, no caso
de coligação para eleições majoritárias, o de coligação para as eleições majoritárias, o
resultado da soma do número de representantes resultado da soma do número de representantes
dos seis maiores partidos que a integrem e, nos dos 6 (seis) maiores partidos que a integrem;
casos de coligações para eleições proporcionais,
o resultado da soma do número de representantes
de todos os partidos que a integrem;

 
3. ALTERAÇÃO NO INCISO I DO ART. 109 DO CE PARA ATENDER AO QUE FOI DECIDIDO PELO
STF NA ADI 5420/DF
Além de atualizar o texto do Código Eleitoral para retirar as menções feitas às coligações
proporcionais, a Lei nº 14.211/2021 aproveitou a oportunidade para modificar o inciso I e o § 2º
do art. 109 do CE.
A alteração no inciso I não tem grande relevância prática porque o STF já havia decidido nesse
sentido.
Por outro lado, a mudança no § 2º promoverá uma relevante restrição na participação dos
partidos na sobra eleitoral.
 

Etapas necessárias para se conhecer os eleitos no sistema proporcional


Como vimos acima, no Brasil, existem dois sistemas eleitorais: majoritário e proporcional.
Para se definir os eleitos no sistema majoritário, é muito simples: ganha quem, necessariamente,
teve mais votos.
Por outro lado, no sistema proporcional, isso nem sempre é verdade. Para se definir os eleitos é
necessária a realização de uma série de cálculos que irei aqui separar em quatro etapas.
 

1ª etapa: quociente eleitoral


Quociente eleitoral significa o número mínimo necessário de votos que o partido deve ter para
conseguir 1 (uma) vaga na casa legislativa.
O cálculo do quociente eleitoral (QE) é o seguinte:

QE = número de votos válidos ÷ número de vagas a preencher

O resultado dessa divisão é a quantidade de votos necessários atribuídos ao partido para que ele
tenha direito a uma cadeira no parlamento.

Assim, terminada a votação, divide-se o total de votos válidos pelo número de cargos em disputa,
obtendo-se assim o quociente eleitoral.
Veja o que diz o art. 106 do Código Eleitoral:

Art. 106. Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos


apurados pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a
fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior.

Ex: na eleição para vereador houve 134 mil votos válidos e eram 20 vagas. Logo, o quociente
eleitoral será 6.700 (134.000 ÷ 20 = 6.700).

þ (Juiz TJRJ 2016 VUNESP) O quociente eleitoral é instrumento do sistema proporcional, sendo
determinado dividindo-se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a preencher em
cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se
superior. (CERTO)
 

2ª etapa: quociente partidário


Depois de obter o valor do quociente eleitoral, deve-se calcular o quociente partidário.

Pega-se os votos de cada partido e divide-se pelo quociente eleitoral, obtendo-se assim o número
de eleitos de cada partido (quociente partidário).

O cálculo do quociente partidário (QP) é o seguinte:


QP = número de votos válidos atribuídos ao partido ÷ quociente eleitoral.

O resultado dessa divisão é o número de vagas a serem preenchidas pelo partido.

Essa segunda etapa está prevista no art. 107 do Código Eleitoral:

Art. 107. Determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo
quociente eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda, desprezada a
fração. (Redação dada pela Lei nº 14.211/2021)

 
Ex: o Partido X e seus candidatos tiveram 30 mil votos. Esses 30 mil serão divididos pelo
quociente eleitoral (6.700). Logo, esse partido terá direito a 4 vagas de Vereador (30.000 ÷ 6.700 =
4,477611940298507).
 

3ª etapa: verificar os mais votados no partido


Verifica-se quantas vagas cada partido obteve (quociente partidário) e depois examina-se os mais
votados naquele partido, sendo estes os eleitos.
Exs: o quociente partidário do Partido X foi 4; significa que ele terá 4 vagas no parlamento; os 4
candidatos daquele Partido mais bem votados serão considerados eleitos.
Vale ressaltar, no entanto, que, para ser eleito, o candidato deverá ter recebido votos em número
igual ou superior a 10% do quociente eleitoral.

Essa terceira etapa está prevista no art. 108 do Código Eleitoral:

Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que tenham
obtido votos em número igual ou superior a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral,
tantos quantos o respectivo quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal
que cada um tenha recebido. (Redação dada pela Lei nº 14.211/2021)

 
Assim, só será eleito o candidato que obtiver votos em número igual ou superior a 10% do
quociente eleitoral.

A pessoa que está sendo eleita pelo partido tem que ter o mínimo de representatividade popular e,
por isso, se estabeleceu esses 10%.

Os lugares não preenchidos em razão da exigência da votação nominal mínima serão distribuídos
de acordo com as regras do art. 109.
Vale ressaltar que esse limite de 10% foi inserido pela Lei nº 13.165/2015, julgada constitucional
pelo STF (ADI 5920/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2020).
Antes dessa alteração, se um candidato tivesse muitos votos (ex: Deputado Federal Tiririca), o
quociente eleitoral do partido seria alto e, com isso, um candidato desse partido poderia ser eleito
mesmo tendo uma ínfima quantidade de votos. O candidato conhecido seria um “puxador de
votos”. Esse candidato conhecido conseguiria “eleger” outros bem menos votados. A Lei nº
13.165/2015 tentou colocar um limite para isso, prevendo que esse candidato menos votado
deverá ter um mínimo de votos (número igual ou superior a 10% do quociente eleitoral) para que
ele “mereça” ser eleito.
 

4ª etapa: vagas que sobraram


O número obtido nas etapas anteriores dificilmente será exato. Isso significa que será um número
fracionado (não inteiro), de forma que sobrarão vagas.
No exemplo hipotético que dei acima, o quociente partidário do Partido X deu
4,477611940298507. Ocorre que será considerado o QP como sendo 4 e esse restante
(0,477611940298507) será desprezado. Como isso ocorrerá também com os outros partidos, irão
sobrar vagas não preenchidas.

Assim, as vagas que sobraram após essas três etapas acima listadas são preenchidas com base
no art. 109 do Código Eleitoral. Aqui tivemos uma alteração profunda promovida pela Lei nº
14.211/2021.

 
Dividindo o art. 109 do CE em três momentos

CÓDIGO ELEITORAL

Redação dada pela Redação dada pela Redação dada pela


Lei nº 7.454/85 Lei nº 13.165/2015 Lei nº 14.211/2021

Art. 109. Os lugares não Art. 109. Os lugares não Art. 109.  Os lugares não
preenchidos com a preenchidos com a preenchidos com a
aplicação dos quocientes aplicação dos quocientes aplicação dos quocientes
partidários serão partidários e em razão da partidários e em razão da
distribuídos mediante exigência de votação exigência de votação
observância das seguintes nominal mínima a que se nominal mínima a que se
regras: refere o art. 108 serão refere o art. 108 serão
distribuídos de acordo distribuídos de acordo
 
com as seguintes regras: com as seguintes regras:
I - dividir-se-á o número de I - dividir-se-á o número de I - dividir-se-á o número de
votos válidos atribuídos a votos válidos atribuídos a votos válidos atribuídos a
cada Partido ou coligação cada partido ou coligação cada partido pelo número
de Partidos pelo número pelo número de lugares de lugares por ele obtido
de lugares por ele obtido, definido para o partido mais 1 (um), cabendo ao
mais um, cabendo ao pelo cálculo do quociente partido que apresentar a
Partido ou coligação que partidário do art. 107, mais maior média um dos
apresentar a maior média um, cabendo ao partido ou lugares a preencher, desde
um dos lugares a coligação que apresentar a que tenha candidato que
preencher; maior média um dos atenda à exigência de
lugares a preencher, desde votação nominal mínima;
que tenha candidato que
atenda à exigência de
votação nominal mínima;

 
Qual foi o “problema” dessa alteração promovida pela Lei nº 13.165/2015?

Ela foi declarada inconstitucional pelo STF.


O STF julgou parcialmente procedente o pedido para declarar a inconstitucionalidade da
expressão “número de lugares definido para o partido pelo cálculo do quociente partidário do art.
107”, prevista no inciso I do art. 109 do Código Eleitoral, com redação dada pela Lei nº
13.165/2015.

Ao declarar essa expressão inconstitucional, o STF determinou que fosse adotado o critério de
cálculo anterior, ou seja, o que vigorava antes da Lei nº 13.165/2015.

Para a Corte, a alteração realizada na redação do inciso I do art. 109 do Código Eleitoral acabou
por acarretar consequência que praticamente desnatura o sistema proporcional no cálculo das
sobras eleitorais.

Na lei anterior, o cálculo utilizado para obtenção da “maior média” entre os partidos (que é o
critério utilizado para distribuição das sobras eleitorais), tinha por denominador o “número de
lugares por ele [partido ou coligação] obtido, mais um”.

Desse modo, a regra previa que cada vaga remanescente distribuída a um partido era, em seguida,
levada em consideração no cálculo da distribuição das próximas vagas. Portanto, se um partido
recebeu a primeira vaga, isso entrava no cálculo da segunda, diminuindo as suas chances de obtê-
la e aumentando as chances de outros partidos recebê-la.

Pela sistemática da Lei nº 13.165/2015, apenas o “quociente partidário, mais um” (que é um dado
fixo) é que deverá ser utilizado para os seguidos cálculos de atribuição das vagas remanescentes,
desprezando-se a aquisição de vagas nas operações anteriores.

Logo, o partido político ou coligação que primeiro obtiver a maior média e, consequentemente,
obtiver a primeira vaga remanescente, acabará por obter todas as vagas seguintes, enquanto
possuir candidato que atenda à exigência de votação nominal mínima (pelo menos 10% do
quociente eleitoral). Ou seja, haverá uma tendência à concentração, em uma única sigla ou
coligação, de todos os lugares não preenchidos com a aplicação dos quocientes partidários e em
razão da exigência de votação nominal mínima.
Evidencia-se, pois, em tal regramento, a desconsideração da distribuição eleitoral de cadeiras
baseada na proporcionalidade (art. 45 da CF/88), que é intrínseca ao sistema proporcional, em
que as vagas são distribuídas aos partidos políticos de forma a refletir o pluralismo político-
ideológico presente na sociedade, materializado no voto.
A regra da Lei nº 13.165/2015, portanto, atribui unicamente a um mesmo partido político todas as
vagas remanescentes, viola, ainda, a distribuição de cadeiras legislativas às legendas
representativas de ideais minoritárias no seio social.
STF. Plenário. ADI 5420/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/3/2020 (Info 968).

Desse modo, a Lei nº 14.211/2021 faz com que a redação do inciso I do art. 109 do CE
praticamente volte a ser aquela anterior à Lei nº 13.165/2015, retirando o trecho declarado
inconstitucional pelo STF.

 
4. ALTERAÇÃO NO § 2º DO ART. 109 DO CE (RESTRIÇÃO À PARTICIPAÇÃO DOS PARTIDOS NA
SOBRA ELEITORAL)
A Lei nº 14.211/2021 também alterou o § 2º do art. 109 do CE.
Para entender a mudança, temos que voltar ao tema acima no qual estávamos tratando sobre a
sobra de vagas no cálculo das eleições proporcionais.
Como já mencionado anteriormente, as vagas não preenchidas com a aplicação dos quocientes
partidários ou em razão da exigência de votação nominal mínima a que se refere o art. 108, do
Código Eleitoral, devem ser distribuídas segundo as regras do art. 109.
 

Indaga-se: quais partidos poderão participar dessa distribuição das cadeiras remanescentes?
Todos os partidos políticos que disputaram as eleições podem ser beneficiados com essa
sobra eleitoral do art. 109 do CE?
A resposta está justamente no §2º do art. 109 do CE, que foi sucessivamente alterado, sendo
agora novamente modificado pela Lei nº 14.211/2021:

CÓDIGO ELEITORAL

Todos os partidos políticos que disputaram as eleições podem ser beneficiados

com a sobra eleitoral de que trata o art. 109 do CE?

Antes da Lei nº Depois da Lei nº Depois da Lei nº


13.488/2017: NÃO 13.488/2017: SIM 14.211/2021:
NÃO
Art. 109 (...) Art. 109 (...) Art. 109 (...)

§ 2º Somente poderão § 2º Poderão concorrer à § 2º Poderão concorrer à


concorrer à distribuição distribuição dos lugares distribuição dos lugares
dos lugares os partidos ou todos os partidos e todos os partidos que
as coligações que tiverem coligações que participaram do pleito,
obtido quociente eleitoral. participaram do pleito. desde que tenham obtido
pelo menos 80% (oitenta
por cento) do quociente
eleitoral, e os candidatos
que tenham obtido votos
em número igual ou
superior a 20% (vinte por
cento) desse quociente.

Vigência
As alterações promovidas pela Lei nº 14.211/2021 entraram em vigor na data de sua publicação
(01/10/2021).
 

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Como citar este texto

CAVALCANTE, Márcio André Lopes.


Lei 14.211/2021: restrição à competência normativa do
TSE, retirada menções às coligações proporcionais da lei eleitoral e alterações no art. 109
do Código Eleitoral.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://buscadordizerodireito.com.br/novidades_legislativas/detalhes/dc912a253d1e9ba40
e2c597ed2376640
(https://buscadordizerodireito.com.br/novidades_legislativas/detalhes/dc912a253d1e9ba40e
2c597ed2376640)>.
Acesso em: 17/11/2021

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