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CAPÍTULO 1 ......................................................................................................................... 3
A LIDERANÇA FEMININA NAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA............................. 3
CAPÍTULO 2 ....................................................................................................................... 11
DA “IDEOLOGIA” À PARIDADE DE GÊNERO NA POLÍTICA BRASILEIRA: uma relação
paradoxal ................................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 3 ....................................................................................................................... 21
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: Brasil, um caso entre democracia e autoritarismo .............. 21
CAPÍTULO 4 ....................................................................................................................... 36
CONFLITOS INTERGERACIONAIS SOB O VIÉS DA INTERDISCIPLINARIDADE:
reflexões e ponderações .............................................................................................................. 36
CAPÍTULO 5 ....................................................................................................................... 51
ASSÉDIO MORAL ORGANIZACIONAL DO GÊNERO FEMININO À LUZ DO
PROTOCOLO PARA JULGAMENTO COM PERSPECTIVA DE GÊNERO ............................... 51
CAPÍTULO 6 ....................................................................................................................... 55
A INFLUÊNCIA DA PORNOGRAFIA DIGITAL NO COMPORTAMENTO SEXUAL DOS
JOVENS .................................................................................................................................... 55
CAPÍTULO 7 ....................................................................................................................... 64
BULLYING DE GÊNERO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: QUAL A SAÍDA? ....................... 64
CAPÍTULO 8 ....................................................................................................................... 72
UBER E MOTORISTAS: uma relação em crise .................................................................... 72
CAPÍTULO 9 ....................................................................................................................... 87
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, BULLYING E CYBERBULLYING: MECANISMOS DE
COMBATE À VIOLÊNCIA DE GÊNERO .................................................................................. 87
CAPÍTULO 10 ..................................................................................................................... 97
O USO DE AGROTÓXICO NO SÍTIO RIACHO DO UMBUZEIRONO MUNICÍPIO DE SÃO
JOÃO–PE .................................................................................................................................. 97
CAPÍTULO 11 ................................................................................................................... 117
NOTAS CRÍTICAS À MINUTA DO PARECER DO NOVO ENEM: OLHARES DE JOVENS
PESQUISADORAS DA ÁREA DA EDUCAÇÃO ...................................................................... 117
CAPÍTULO 12 ................................................................................................................... 129
A FORMAÇÃO DO CIDADÃO E OS PRINCÍPIOS NEOLIBERAIS: vislumbrando
possibilidades ........................................................................................................................... 129
CAPÍTULO 13 ................................................................................................................... 139
LITERATURA DAS DIÁSPORAS AFRICANA: uma análise nos poemas sangue negro e mãe
preta de Noemia de Sousa e Bruno de Menezes ......................................................................... 139
CAPÍTULO 14 ................................................................................................................... 153
A RELAÇÃO ENTRE O USO DE ÁLCOOL POR ADOLESCENTES E ACIDENTES DE
TRÂNSITO EM CAXIAS – MA ................................................................................................ 153
CAPÍTULO 15 ................................................................................................................... 166
HERANÇA MEMORIAL DO CONFLITO DO JENIPAPO ................................................ 166
CAPÍTULO 16 ................................................................................................................... 177
A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NA PRÁTICA DE ALFABETIZAÇÃO PARA OS
ANOS INICIAIS ...................................................................................................................... 177
CAPÍTULO 17 ................................................................................................................... 189
A RELAÇÃO DO CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................. 189
CAPÍTULO 18 ................................................................................................................... 201
EDUCAÇÃO E PANDEMIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS ........................................... 201
CAPÍTULO 19 ................................................................................................................... 211
O PAPEL DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) E DOARTIGO 26 DA
RESOLUÇÃO NÚMERO 03 DO CNE/CEB .............................................................................. 211
CAPÍTULO 20 ................................................................................................................... 221
POLÍTICAS PÚBLICAS COMO UM MECANISMO DE COMBATE À VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA EM TEMPOS DE COVID-19 ............................................................................. 221
CAPÍTULO 21 ................................................................................................................... 233
VIOLÊNCIA SEXUAL NA COMUNIDADE ÍNDIGENA: Uma Visão Casuística Na Cidade De
Campinápolis Mato Grosso ....................................................................................................... 233
CAPÍTULO 22 ................................................................................................................... 249
DECOLONIALISMO FEMININO E A VISIBILIDADE DA MULHER NEGRA NAS REDES
SOCIAIS .................................................................................................................................. 249
CAPÍTULO 23 ................................................................................................................... 259
PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A COORDENAÇÃO MOTORA DAS
CRIANÇAS .............................................................................................................................. 259
CAPÍTULO 24 ................................................................................................................... 271
O PODER DA LINGUAGEM E DAS REDES NA MANIPULAÇÃO DOS DIRIGENTES
SOCIAIS: um alerta a respeito da imposição ideológica na obra 1984, de George Orwel, e no
Discurso sobre a servidão voluntária, de Étienne de La Boétie ................................................... 271
CAPÍTULO 25 ................................................................................................................... 283
CONTRIBUIÇÕES DA BIOPOLÍTICA NA ATUALIDADE ............................................... 283
CAPÍTULO 26 ................................................................................................................... 289
RECRUTAMENTO E SELEÇÃO: UMA ANÁLISE DO ALINHAMENTO ESTRATÉGICO
EM UMA EMPRESA DO SEGMENTO BANCÁRIO................................................................ 289
3
CAPÍTULO 1
A LIDERANÇA FEMININA NAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA
INTRODUÇÃO
1 Especialista em Língua Portuguesa e Literatura, Especialista em Estudos Africanos, pela FAVENI, Pós-
Graduando em Direito Penal pela FAVENI, Beletrista pela FAFIBE, Graduando em Estudos Africanos-UFMA,
Bacharel em Assuntos Jurídicos- FUTURA, Graduando em Direito-FACSUR, Membro da Comissão da Verdade
da Escravidão Negra e da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/MA- profcarlos74@gmail.com
2 Bacharela em Direito pela Universidade Ceuma. Advogada inscrita na secional Maranhão. Especialista em
Direito do Trabalho pela Estácio de Sá. Vice-presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra OAB/MA,
Autora do livro: Empregados Domésticos, quais são seus direitos?
3 Advogada inscrita na secional Maranhão. Presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil-
OAB/MA. Graduanda em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros.
4
casa exigem um tempo maior dos iniciados. É uma dinâmica de ocupação do espaço
interessante, especialmente porque é dividido com os deuses. É comum em dias de cerimônias
religiosas, as atividades transcorrerem de forma natural e em meio a essa situação um filho
receber determinado orixá que tenha a ver com o momento ritualístico, funcional ou litúrgico.
Então, temos deuses e humanos dividindo um lugar de poder.
Os corpos iniciados são captadores, transportadores e emanadores das potências
cultuadas no terreiro. A naturalização dessas presenças faz-se com tanta força e permanência
que o indivíduo se percebe múltiplo, em si e enquanto comunidade. Múltiplo em si, por seus
caminhos de axé, nas encruzilhadas, por sua orixalidade, por seus protetores, por seus
padrinhos, pela ancestralidade que nele se manifesta. Múltiplo na comunidade porque em um
terreiro, todos os dias, em todas as tarefas, a primeira lição é de que “nada se faz sozinho” ou
de que “sozinhos não temos a dinamização do axé”. Axé é essa força vital capaz de transformar
a dinâmica da vida e da morte.
Embora o Brasil não venha conseguindo fazer cessar a violência religiosa a fim de
garantir que todas as pessoas que estejam em território nacional possam comungar e praticar a
sua fé, verifica-se que a elaboração de estratégias para o enfrentamento ao racismo religioso,
são desenvolvidas nos próprios terreiros, nos próprios locais em que se preservam esse
patrimônio cultural, nos templos religiosos de matrizes afro-brasileira e afro-indígena. Essas
estratégias de resistência que garantem a existência dessas religiões ainda hoje no Brasil,
também vão dando destaque às mulheres negras em lugares de representatividade, não apenas
nos lugares de comando e gestão, bem assim de líderes espirituais.
O SINCRETISMO RELIGIOSO
Nas terras brasileiras, as mulheres negras adotaram, além da fé nos deuses, o culto à
Nossa Senhora da Boa Morte e interessante registrar que após a realização da missa em
dedicação à Virgem Maria, elas se dirigiam aos barracões localizados nos fundos das igrejas
para louvar, tocar e dançar com seus Orixás. PRANDI (2003) ressalta que: ―desde o início as
religiões afro-brasileiras se fizeram sincréticas, estabelecendo paralelismos entre divindades
africanas e santos católicos, adotando o calendário de festas do catolicismo, valorizando a
frequência aos ritos e sacramentos da igreja‖ (PRANDI, 2003, p. 15).
Ribeiro (2012) explica que por força do processo colonizatório e seus males, o
sincretismo foi uma alternativa para os povos colonizados para pensar uma forma de manter
suas crenças africanas em um contexto brasileiro com imposições culturais e religiosas
6
europeias, foi fazer desta nova realidade a estratégia certa de continuidade da fé e da cultura
negra:
Os povos africanos conseguiram manter a essência de sua cultura mesmo com todo o
sincretismo vivido. Uma prova disso é a mulher ser chefe de um Ilê, mesmo residindo em um
país onde o patriarcado prevalece, a mulher é o pilar das religiões afro-brasileiras, ocupando as
mais variadas posições hierárquicas, como elas, duplamente oprimidas, por serem mulheres
negras e conseguiram ocupas um lugar de destaque em uma casa de santo? (ELIDA, 2014).
MULHERES DE TERREIRO
O gênero feminino no Candomblé é também uma busca por entender como aconteceram
os primeiros cultos aos Orixás26, sendo necessário considerar a vivência cotidiana de um ilê, o
relacionamento de seus membros, a sabedoria, experiência e os conhecimentos das yalorixás27
e seus filhos e, se for permitido, entender alguns fundamentos da religião:
Do final do século XIX, até o início do século XX, as mães de santo iniciaram
a organização de uma religião brasileira, de matriz africana, o candomblé.
Congregando um caráter sincrético fortíssimo, essas representantes religiosas
buscaram acima de tudo as alianças necessárias para o resgate, a manutenção
e o respeito às práticas religiosas de origem africana. As alianças eram
fundamentais, uma vez que a perseguição policial aos cultos africanos era
intensa. E, neste sentido, a criatividade mais uma vez prevaleceu na criação
de cargos ministeriais nos terreiros, atribuindo aos homens, muitas vezes
brancos, ocupantes de cargos de destaque na vida pública, a proteção e o
diálogo dos terreiros com as instituições constituídas. Os cargos religiosos
principais, tanto Bernardo quanto Amaral destacam bem: continuaram sob o
domínio das mulheres. (REIS; FREITAS, 2010, p. 12).
Quando o tema se refere aos cultos afro-brasileiros é possível encontrar uma vasta
bibliografia, especialmente as de cunho antropológico, psicológico e sociológico. Contudo,
quando se trata do tema de gênero dentro dessas abordagens, a bibliografia se mostra mais
restrita. Com relação a textos que destacam a atuação e papéis sociais desempenhados pelas
mulheres dentro de suas relações rituais, sociais e de gênero essa é ainda menor.
Ruth Landes (1947-1967) é a primeira autora a abordar a questão do gênero no
candomblé, mas, expressamente, traz em seu trabalho a afirmação de que os candomblés
da cidade de Salvador, na Bahia, funcionavam sobre o regime de matriarcado em que
as mulheres tinham plenos poderes e independência com relação aos homens.
Nas casas de culto de matriz africana do Maranhão definidas como Tambor de Mina a
mulher, além de ser maioria, costuma ter posição muito elevada, o que nem sempre ocorre em
outros contextos da sociedade brasileira marcada pelo machismo. Essa posição vantajosa da
mulher é também encontrada no Candomblé da Bahia e em outras denominações religiosas
afro-brasileiras.
Como lembra Maria Lina Teixeira:
tantas mulheres de santo, temos um número muito pequeno de mulheres visíveis na sociedade
brasileira.
Por essa razão, o aspecto histórico é fundamental para a compreensão do tema, evitando
assim de cair no esquecimento toda a trajetória que essas mulheres construíram ao longo dos
anos, o que não foi nada fácil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
comunidade, que, muitas vezes, vê nos terreiros só seu porto seguro, onde pode buscar ajuda
para as suas demandas. É nos terreiros que, não raro, essa comunidade busca alimentação,
remédios, conselhos e um olhar e atenção que nem sempre encontra, seja por parte do Estado,
seja de outras instituições. Dito isso, acreditamos que as mulheres de terreiro são de
fundamental importância para o equilíbrio do terreiro/comunidade, por seu olhar amoroso para
com o seu povo e por sua capacidade de agregar valores capazes de transformara vida das
pessoas.
Que essa leitura nos inspire a seguir mobilizando uma produção intelectual que nos faça
transitar dos terreiros à universidade, em diálogo direto com os conhecimentos e teorias que as
mulheres de axé sempre criaram, mobilizaram e continuam mobilizando. Salve nossas
ancestrais! Axé!
REFERÊNCIAS
BASTOS, Ivana Silva. Mulheres Iabás: Sexualidade, transgressão no candomblé. - João Pessoa:
UFPB, 2011.
BIRMAN, Patrícia. Percursos afro e conexões sociais: negritude, pentecostalismo e
espiritualidades. in TEIXEIRA, F. & MENEZES, R. (org.) As Religiões no Brasilcontinuidades
e rupturas. Petrópolis, Vozes, 2006.
LIMA, Elida R.S. Mulheres do Axé: a liderança feminina nos terreiros de candomblé, 2014.
MOURA, Carlos Eugenio M. de (org.). Candomblé: religião do corpo e da alma: tipos
psicológicos nas religiões afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2000
PRANDI, Reginaldo. Raça e Religião. Novos Estudos Cebrap, n. 42. pp. 113-129, São Paulo,
1995.
VAN DER PORT, M. Sacerdotes Midiáticos: O candomblé, discursos de celebridade e a
legitimação da autoridade religiosa na esfera pública baiana in Religião e Sociedade, 25 (2).
Rio de Janeiro, ISER. P. 32-61, 2004.
REIS, Joselia Ferreira; FREITAS, Rita de Cássia Santos. De matriz africana: o papel das
mulheres negras na construção da identidade feminina. Seminário Internacional Fazendo
Gênero, 9. UFSC, 2010
RIBEIRO, Arilda I. Miranda. Mulheres e educação no Brasil-Colônia: histórias entrecruzadas.
In: LOMBARDI et al. (Orgs.). Navegando pela História da Educação Brasileira. Campinas, SP:
Graf. FE: HISTEDBR, 2006.
SEGATO, Rita L. “Género, política e hibridismo en la transnacionalización de la cultura Yoruba”.
In: Estudos Afro-Asiáticos, Ano 25, no 2, pp. 333-363, 2003.
11
CAPÍTULO 2
DA “IDEOLOGIA” À PARIDADE DE GÊNERO NA POLÍTICA
BRASILEIRA: uma relação paradoxal
Cleidi Pereira4
INTRODUÇÃO
Durante muito tempo, o pleno exercício da cidadania foi negado às mulheres, que só viriam a
ter direito ao voto muito mais tarde do que os homens. A desigualdade de gênero não é um fenômeno
4
Jornalista. E-mail: cleidicris@gmail.com
12
restrito à esfera política, contudo parece ser muito mais persistente nos lugares de decisão. Apesar do
significativo aumento na taxa global de participação feminina na força de trabalho nos últimos 20 anos,
elas ainda estão sub-representadas nos órgãos de poder político – fato que é interpretado como um défice
democrático que debilita a legitimidade do processo de tomada de decisão.
São inúmeros os fatores condicionantes da participação das mulheres na elite política, os quais
perpassam por questões sociais e históricas, socioeconômicas e de ordem política, o que reforça a
importância de se analisar a questão a partir de uma abordagem interdisciplinar. Afinal, “com a
complexificação e a hibridação da realidade contemporânea, torna-se cada vez mais evidente que as
dimensões humanas e materiais dos problemas aos quais a ciência se enfrenta estão estreitamente
intricadas” (RAYNAUT, 2014, p. 8).
O reconhecimento das assimetrias tem levado inúmeros países a adotar políticas de ações
afirmativas, como as cotas legislativas. Isso ocorreu de forma preponderante após a Declaração e
Plataforma de Ação de Pequim, aprovada na IV Conferência Mundial sobre as Mulheres, em 1995, que
estabeleceu a desigualdade em relação à participação no poder político e nas instâncias decisórias como
uma das doze áreas de preocupação prioritária. Embora tenha sido um dos primeiros países a estabelecer
o sufrágio feminino, em 1932, o Brasil permanece há muitos anos entre os últimos colocados no ranking
mundial de representação parlamentar feminina. O mau desempenho do país perdura mesmo duas
décadas após a adoção de uma política de cotas.
Nas últimas décadas, o tema da sub-representação feminina tem sido analisado por inúmeros
autores, tanto no campo dos feminismos como no da ciência política. Atendendo a orientações de órgãos
internacionais, como Nações Unidas, os países têm adotado políticas para promover a igualdade entre
homens e mulheres. Atualmente, 118 nações e territórios em todo o mundo – mais da metade do total –
possuem algum tipo de quota de gênero para os cargos eleitos (DAHLERUP et al., 2013).
A política de cotas está inserida no campo das chamadas ações afirmativas que buscam – como
medida compensatória em um primeiro momento – reconhecer discriminações existentes e atuar no
sentido de impedir que elas se perpetuem (GROSSI; MIGUEL, 2001). A maioria dos países adotou esta
política nos últimos 15 anos e os termos utilizados para designá-la variam (assentos reservados, cotas
partidárias e cotas legislativas). Conforme Franceschet, Krook and Piscopo (2012), há na literatura
quatro explicações sobre como o tema das cotas tem alcançado a agenda política, que são
resumidamente: a partir da mobilização das mulheres, por razões estratégicas da elite, devido a motivos
ideológicos dos próprios partidos ou como resultado de pressão de organizações internacionais.
Embora não seja o objetivo deste trabalho examinar profundamente as causas da baixa
participação feminina nas instâncias de poder e de tomada de decisão, vale citar algumas possíveis
explicações encontradas na literatura. Uma delas diz respeito à genderização assumida pela dicotomia
público-privado, fundamento das teorias liberais. Pateman (1993) afirma que tais esferas – também
interpretadas como feminina (natural) e masculina (civil) – “são contrárias, mas uma adquire significado
13
a partir da outra, e o sentido de liberdade civil da vida pública é ressaltado quando ele é contraposto à
sujeição natural que caracteriza o domínio privado” (p. 28).
Além disso, de acordo com Okin (2008), para entender as mais variadas esferas públicas, é
preciso considerar o fato de que “foram construídas sob a afirmação da superioridade e da dominação
masculinas e de que elas pressupõem a responsabilidade feminina pela esfera doméstica” (p. 320). Nesse
sentido, a autora questiona se as políticas seriam as mesmas se os que nela “estão engajados fossem
pessoas que também tivessem responsabilidades cotidianas significativas voltadas para os cuidados dos
outros” (p.320)
Referência no debate sobre desigualdade de gênero, Pateman foi quem introduziu na teoria
política, no início dos anos 1990, o conceito de “contrato sexual”, que faz uma reinterpretação do
contratualismo sob uma perspetiva feminista e bidimensional. Se o contrato social explica o governo
dos cidadãos pelo Estado, é o “contrato sexual” – inicialmente omitido, mas depois recuperado pelos
contratualistas por meio do contrato de matrimónio – que justifica “o governo das mulheres pelos
homens e, portanto, a estrutura patriarcal do Estado moderno” (PATEMAN, 2015).
Posteriormente, analistas passaram a citar a teoria do contrato sexual como um potencial
explicação para as desigualdades entre homens e mulheres. Bedia (2008) vai nesta linha ao analisar, a
partir da hermenêutica feminista, as teorias de Hobbes, Locke e Rousseau sobre o contratualismo e
concluir que nas obras destes autores estão as “chaves significativas sobre as origens do patriarcado
moderno e da exclusão das mulheres da democracia” (p.49).
Uma exclusão tão radical dessa nova distribuição de poder não poderia realizar-se por parte dos que
mais ativamente defenderam a igualdade natural dos indivíduos sem que se produzam quebras analíticas
em suas teorias. (…) Os três conceitualizam o homem como cidadão – com mais ou menos limitações
– e a mulher como súdita. Suas universais propostas de liberdade e igualdade deixam de ser universais
quando hão de ser aplicadas às mulheres.” (p.50)
O Brasil ocupa atualmente o 133° lugar no ranking mundial da União Interparlamentar sobre
representação parlamentar feminina em parlamentos nacionais, em uma lista composta por 193 países.
É um dos piores índices das Américas, embora a maioria do eleitorado seja composta por mulheres.
Enquanto em alguns países, sobretudo europeus, a percentagem de mulheres na política tem aumentado
desde os anos 1990, os resultados eleitorais dos últimos anos parecem demonstrar que a política de cotas
tem sido ineficaz no Brasil. Falsas candidaturas e ausência de punição para os partidos que descumprem
a regra são algumas das possíveis razões.
A evolução da paridade tem progredido, mas ocorre a um ritmo lento. Com a eleição que definiu
a composição do Congresso Nacional Constituinte, o percentual de mulheres na Câmara dos Deputados
passou de 1,7% em 1982 para 5,3% em 1986 e manteve-se relativamente estável nos pleitos
14
subsequentes, atingindo o recorde de 15% na eleição de 2018, como pode ser verificado no gráfico
abaixo.
90
80
77
70
60
50 51
46 44
40 42
30 32
29 29
26
20
15
10 8 8,2 9 8,6 9,9
4 5,3 5,8 6,2 5,7
0 1
0 1 1,7
1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002 2006 2010 2014 2018
Entretanto, a norma continuou sem prever sanções para os casos de descumprimento, sendo incumbência
dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) avaliar as candidaturas apresentadas pelos partidos e
estabelecer eventuais punições.
O resultado foi que os partidos continuaram a lançar candidaturas de mulheres apenas para
preencher a quota, sem investir em suas campanhas, segundo avaliação do próprio TSE. Em uma nova
investida, com foco nas eleições gerais de 2018, o Tribunal determinou, através da resolução
23.553/2017, que as siglas destinariam ao financiamento de campanhas de suas candidatas no mínimo
30% do total de recursos do Fundo Partidário. E a medida surtiu efeito: nas eleições de 2018, o número
de mulheres eleitas aumentou 52,6% em relação a 2014. Segundo dados do TSE, 9.204 (31,6%)
mulheres concorreram a um cargo eletivo em 2018, sendo que, destas, 290 foram eleitas.
Passadas pouco mais de duas décadas da adoção das cotas para todos os cargos eletivos no
Brasil, o que a literatura e os resultados das eleições demonstram é que, na prática, a legislação teve um
efeito incipiente. Entre os fatores apontados como possíveis explicações para a ineficácia da lei das
cotas, estão a ampliação do número global de candidaturas (de 100 para 150% das vagas, aprovada junto
com as cotas) e, principalmente, a ausência de punição para os partidos e as coligações que descumpram
as regras, como já mencionado anteriormente.
Os números relativos a candidaturas de mulheres no Brasil entre 1996 e 2018, conforme os
gráficos abaixo, indicam que o percentual mínimo estabelecido em lei somente começa a ser cumprido
a partir dos pleitos de 2012 (no âmbito municipal) e de 2014 (estadual/federal) e mais especificamente
no poder Legislativo. Tal mudança decorre da alteração no texto da lei das cotas de gênero, em 2009,
também já citada. Mesmo que ainda não estabeleça sanções, a nova roupagem da norma conferiu-lhe
um caráter de obrigatoriedade.
No entanto, ao voltarmos o foco para a quantidade de mulheres eleitas, observamos que a
legislação ainda se apresenta improfícua. Nas últimas eleições (2016 e 2018), apenas 13,5% dos
vereadores eleitos eram do sexo feminino, bem como 11,6% dos prefeitos, 15,5% dos deputados
estaduais, 3,7% dos governadores, 15% dos deputados federais e 13% dos senadores. Chama a atenção
o fato de que, nas Assembleias e Governos Estaduais, o aumento de candidaturas femininas resultou em
diminuição na quantidade de eleitas nos últimos pleitos.
Quando são projetados os panoramas futuros, a ineficiência da lei das cotas brasileira fica ainda
mais clara. Alves (2010) aponta três possíveis cenários para a paridade na Câmara dos Deputados: 1) no
mais otimista deles, que considera a média do número de deputadas eleitas entre 2006 e 2010, o país
teria metade do seu parlamento formado por mulheres no ano 2054; 2) no intermediário, com a média
de 1982 a 2006, a equidade seria atingida em 2150; 3) no mais pessimista, levando em conta a média
entre 1986 e 2006, a paridade seria alcançada somente em 2218.
16
Retomando às causas da fragilidade da lei das cotas brasileira, estudos verificaram já nas
primeiras eleições após a implementação da norma a resistência dos partidos em apoiar candidaturas
femininas. Grossi e Miguel (2001) coletaram testemunhos e identificaram casos em que, mesmo que as
mulheres tivessem mais chances de ganhar, prevaleceu a lógica sexista sob a eleitoral. Entre as
dificuldades encontradas pelas mulheres para uma maior participação na política, muitas destacaram “a
falta de apoio financeiro e de recursos materiais para as campanhas, colocando-as, também nesse
momento, em situação de desvantagem em relação aos homens” (p. 177).
Tal resistência possivelmente leva a outra questão relevante para a compreensão dos baixos
índices de feminização da política brasileira: as chamadas candidaturas “laranjas” ou listas falsas, em
que os partidos registram mulheres como candidatas apenas para preencher a quota mínima de 30%.
Nas eleições municipais de 2016, as mulheres representavam 89,4% dos 16.131 candidatos em todo o
país que não receberam um único voto no pleito, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) .
Mas ainda há um outro elemento que não pode ser ignorado: as características do sistema
eleitoral brasileiro. Rule (1994) concluiu que o sistema de representação proporcional tende a ser o mais
favorável para a eleição de mulheres, em comparação com o majoritário (menos favorável) e misto
(pouco favorável). O Brasil possui um sistema de representação proporcional, mas com lista aberta, que
não seria o formato mais benéfico para as mulheres, devido ao voto personalista.
De acordo com Araújo (2001), há uma relação estreita entre sistemas de lista e eficácia das cotas,
em que sistemas de listas fechadas ou semifechadas são mais positivos. A autora defende que, diante
dos limites observados, os estudos sobre gênero e política deveriam incorporar às suas análises,
geralmente centradas no tema da "resistência masculina", uma leitura crítica sobre as características do
sistema eleitoral brasileiro e da legislação aprovada.
ELEIÇÕES DE 2018: o avanço (numérico) rumo à paridade?
No ano em que o 57,8 milhões de brasileiros elegeram como 38º presidente da República o
candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, que se tornou conhecido por declarações machistas,
sexistas, racistas e homofóbicas, o país também viu aumentar significativa e paradoxalmente o número
de mulheres na elite política. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam para um crescimento
de 52,6% no número de mulheres eleitas nas Eleições Gerais de 2018, em comparação com o pleito de
2014.
Na Câmara dos Deputados, foram eleitas 77 parlamentares, atingindo o percentual recorde de
15% do total de cadeiras. Uma mulher, a ex-jornalista Joice Hasselmann (PSL), também foi a segunda
mais votada, superando a marca de 1 milhão de votos. Contudo, uma maior participação de mulheres na
política não necessariamente significa que as bandeiras da luta por igualdade de gênero serão levadas
adiante, ou, conforme Scott (2019), que elas “foram mobilizadas como mulheres”.
O caso da deputada que se tornaria líder do governo Bolsonaro é um exemplo emblemático. Nas
suas redes sociais, antes e durante a campanha eleitoral de 2018, Joice foi, nos termos de Miskolci e
Campana (2017), uma das “empreendedoras morais” responsáveis por amplificar o discurso da
17
“ideologia de gênero”, disseminando um “pânico moral” que, em última instância, visa a manutenção
do status quo, ou seja: “(…) o Estado como espaço masculino e heterossexual, portanto refratário às
demandas de emancipação feminina e de expansão de direitos e cidadania àqueles e àquelas que
consideram ameaçar sua concepção de mundo tradicional” (MISKOLCI e CAMPANA, 2017, p. 743).
Os autores, ao mapearem debates envolvendo questões de gênero e sexualidade na América
Latina, identificaram três elementos comuns, relativos aos contextos em que a discussões ganharam
relevância: ocorreram a partir da virada do milênio; emergiram em países que passaram a ter governos
de esquerda; e deflagraram-se em torno de reformas educacionais e legais. No Brasil, segundo eles, a
“ideologia de gênero” ganhou terreno a partir de 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF)
reconheceu a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O caso de Joice remete ao fato de que o acesso a posições nos corpos representativos é um passo
importante, mas não suficiente. Miguel (2012) também acrescenta que, apesar de serem formalmente
iguais, dois representantes podem ter diferentes níveis de prestígio, influência e habilidade para legislar.
Uma das prováveis causas seria o comportamento feminino no Legislativo brasileiro, já que, conforme
o autor, as mulheres seriam mais “propensas” a focar em temas sociais do que em questões mais notórias
como economia e infraestrutura. Ou seja, mesmo no espaço público, é reservado às mulheres uma área
mais privada. Uma análise mais aprofundada sobre esta questão deveria considerar a relação entre afeto
e política, conforme Solana e Vacarezza (2020) sugerem.
Por outro lado, a ampliação da participação política mulheres no Brasil teve continuidade nas
eleições municipais de 2020 (o percentual nas câmaras passou de 13% para 16%), paralelo a um outro
fenômeno: uma espécie de apropriação do discurso da representatividade por setores conservadores.
Guardiã das pautas morais do governo Bolsonaro, Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, lançou a campanha “Mais Mulheres na Política” com o objetivo de eleger pelo menos
uma vereadora em cada cidade brasileira. “Eu tive todos os motivos do mundo para desistir da política,
mas não desisti. Hoje, eu tenho certeza de que se não fosse a persistência, teriam me tirado da política
porque nós víamos homens assumindo com maior facilidade. A vontade de lutar para que a mulher tenha
voz e vez fez com que eu continuasse”, afirmou durante o evento de lançamento.
Advogada e pastora evangélica, Damares é uma figura central do governo Bolsonaro, que
ostenta um dos piores índices de participação feminina no Executivo entre todos os países do mundo,
segundo União Interparlamentar. Se a nova direita cristã brasileira fosse representada por uma pessoa,
ela certamente seria uma mulher com uma bíblia embaixo do braço. Exatamente como Damares. Diante
do inevitável avanço da participação feminina na política partidária e representativa, os movimentos
conservadores e religiosos parecem ter optado por surfar na onda, subvertendo e apropriando-se de
discursos. A estratégia de disseminar o pânico moral a partir do suposto combate à “ideologia de gênero”
pode ser apontado como um dos fatores responsáveis, paradoxalmente, pelo aumento numérico de
mulheres na arena política.
18
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na prática, a lei de cotas brasileira foi uma espécie de “cavalo de Troia”, fruto da negociação
com a bancada masculina, que diluiu o efeito da lei de gênero, como demonstram as estatísticas e
resultados das eleições realizadas ao longo de duas décadas. Somam-se a isso as características do
sistema eleitoral brasileiro (representação proporcional e lista aberta) e de uma cultura política
clientelista, marcada por perceções de gênero que naturalizam as desigualdades (ARAÚJO, 2001).
Por um lado, a aprovação da lei sem que houvesse um debate público sobre a sub-representação
feminina e demais disparidades não contribuiu para conscientizar a sociedade brasileira sobre esta
problemática. Por outro, permite que a legislação permaneça ineficaz e sem alterações significativas no
sentido de garantir que os objetivos sejam atingidos, como a inclusão de sanções para partidos e
coalizões que descumpram as regras.
Autores como Araújo (2001) têm sugerido alguns desdobramentos práticos, como a formulação
de uma proposta normativa de sistema eleitoral que melhor responda às cotas ou, face às limitações
impostas pelo atual sistema vigente, repensar a política em termos do lugar que ocupa na agenda dos
movimentos feministas. Contudo, a resposta para a apatia legislativa da Câmara dos Deputados – cuja
composição é predominantemente masculina – pode estar na resistência à conquista do espaço público
pelas mulheres, na ausência de pressões externas e na heterogeneidade do próprio movimento feminista
brasileiro.
Quanto ao percentual de mulheres eleitas nas últimas décadas para os diversos cargos eletivos
no Brasil, chama atenção o fato de que a presença feminina é geralmente mais expressiva no Legislativo
(Câmaras Municipais, Câmara e Federal e Senado Federal) do que no Executivo (Prefeituras Municipais
e Governos Estaduais). A exemplo do trabalho de Lisboa e Teixeira (2016), cabe aqui recuperar a análise
do modelo de não-proporcionalidade de Maurice Duverger (1955) e afirmar que os dados também
“revelam um afastamento das mulheres, em termos proporcionais, das várias instâncias de participação
política, tanto maior quanto mais elevado o grau de poder de decisão” (p. 113).
Por fim, as estatísticas eleitorais corroboram com as análises que indicam que as instituições
são herdeiras de valores patriarcais e reproduzem hierarquias e relações de dominação, excluindo as
mulheres dos lugares de decisão (Riot-Sarcey, 1994; Viegas e Faria, 2001). Portanto, a desigualdade de
gênero no âmbito da política brasileira trata-se também de uma questão estrutural: mais do que cotas, é
necessário reformular as ideias sobre os papeis de gênero, o que, como diversos estudos sugerem, está
intimamente associado ao aumento de mulheres nos cargos eleitos. Mas é preciso ir além.
Partindo do pressuposto de que a igualdade de gênero é uma questão de direitos humanos e uma
condição para a justiça social, a conquista de uma representação política mais equilibrada é um desafio
a ser enfrentado em qualquer sociedade que busca ser democrática. Entretanto, mais do que
quantitativamente, a paridade precisa ser real e engajada. E é justamente nesse gap que as diferentes
19
vertentes do feminismo precisam atuar, encontrando pontos de convergência. Mais do que nunca, o
pessoal é político e se faz urgente reinventar a política como espaço feminista.
REFERÊNCIAS
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and Sexuality Studies. John Wiley & Sons, Ltd, 2015. Disponível em
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/9781118663219.wbegss468. Acesso em 5
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PINTO, Céli Regina Jardim. Paradoxos da participação política da mulher no Brasil. Revista
USP, n. 49, p. 98-112, 2001. Disponível em:
http://www.periodicos.usp.br/revusp/article/viewFile/32910/35480
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Brasília, 2014. Disponível em:
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RIOT-SARCEY, Michèle. A democracia representativa na ausência das mulheres. Estudos
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em 8 ago. 2020.
RULE, Wilma. Women's underrepresentation and electoral systems. PS: Political Science &
Politics, v. 27, n. 4, p. 689-692, 1994. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/420369.
Acesso em 13 maio 2020.
VIEGAS, José Manuel Leite; FARIA, Sérgio. As Mulheres na Política. Oeiras: Celta, 2001.
SCOTT, Joan W. 2019. Outras reflexões sobre gênero e política. Revista Crítica Histórica,
v. 10, n. 19, p. 10-38, 2019. Disponível em:
https://www.seer.ufal.br/index.php/criticahistorica/article/view/8333. Acesso em: 7 ago. 2020.
SOLANA, Mariela; VACAREZZA, Nayla Luz. Sentimientos feministas. Revista Estudos
Feministas, v. 28, n. 2, 2020. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/1806-9584-2020v28n272445. Acesso em
22 ago. 2020.
21
CAPÍTULO 3
REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: Brasil, um caso entre democracia e
autoritarismo
Raiane Santos5
Ítalo Gordiano6
INTRODUÇÃO
5
Mestranda em Sociologia pelo PPGS/UFS. Graduada em Ciências Sociais pelo DCS - UFS
6
Mestrando em Sociologia pelo PPGS/UFS. Graduado em Ciências Sociais pelo DCS - UFS
7
Conceito atribuído pelo teórico Boaventura de Sousa Santos. Segundo o autor, “[...] o primeiro elemento
importante da democracia participativa seria o aprofundamento dos casos nos quais o sistema político abre mão
de prerrogativas de decisão em favor de instâncias participativas.” (p.77)
22
entre ambos pela razão mútua a qual evidenciou a simpatia e semelhança entre as formas
adotadas de se governar. Fukuyama (2018) ressalta que representantes e simpatizantes pelo
autoritarismo se reconhecem uns nos outros.
O referencial teórico escolhido passa por autores que explanam a ideia de identidade
nacional e identidade cultural enquanto categoria representativa; teoria do reconhecimento
enquanto condição necessária para a visibilidade de identidades e dignidades; a política do
ressentimento como efeito pelo não reconhecimento de dignidades individuais bem como
grupais; tendência à submissão e a execução de fatores autoritários, e, ainda, autores que versam
sobre os dilemas do campo democrático e os fazeres necessários para evitar a desestabilização
de democracias em detrimento de sistemas autoritários.
Diante disso, o que se buscou através desse diálogo de abordagens foi compreender de
que modo o comportamento autoritário de representantes em governos presidencialistas pode
ser gerenciado a partir da conexão com que tais comportamentos possam estar colocando as
democracias em risco, sobretudo a democracia brasileira, a qual ganha foco na presente
discussão.
8
SCRUTON, Roger. Authority and allegiance. ln Donald, J. and Hall, S.(orgs.) Politics andideology. Milton
Keynes: Open University Press, 1986.
23
determinada identidade à indivíduos como fator natural, onde, em muitos casos, o aspecto
cultural acaba sendo limitado. Em vias de compreensão, o autor visualiza a identidade como
um processo de formação e transformação a partir da representação, de modo que este conceito
atravessa também a ideia de cultura nacional a partir da representação. Posto isso, Hall (2006)
salienta que
[...] as culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais,
mas também de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um
discurso - um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto
nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos. (HALL, 2006, p.
50)
Assim como Stuart Hall (2006) pré-determinou que a discussão sobre identidades é
múltipla, principalmente diante do fenômeno da modernidade, Francis Fukuyama (2018)
interage com essa ideia de multiplicidade na medida em que associa o conceito de identidade
ao reconhecimento de dignidades. Segundo o autor, “temos identidades definidas por raça,
gênero, local de trabalho, educação, afinidades e nação.” (FUKUYAMA, 2018, p.187).
Considerando parâmetros subjetivos diante das experiências que cada indivíduo ou grupo
vivencia, a condição de exigência por dignidades ocorre a partir da ausência de consideração
destas especificidades sejam elas individuais ou grupais, gerando, desse modo, ressentimentos.
O cientista político Javier Amadeo (2017) em seu estudo sobre o processo de
identidades e as interfaces do reconhecimento, faz uma análise destas perspectivas à luz das
teorias de Charles Taylor, Axel Honneth e Nancy Fraser – autores que dialogam sobre tais
questões em diferentes panoramas. Para Amadeo, o reconhecimento está pautado sobretudo na
circunstância de reivindicação de individualidades, seja de maneira interpessoal ou por
intermédio de instituições. À vista disso, o autor cita Charles Taylor (2000) ao delinear seu
pressuposto principal sobre a teoria do reconhecimento:
vertical entre as partes. Um fato relevante é que a tendência assim como a afinidade pelo
autoritarismo surge no âmago de representações constituídas hierarquicamente. Fukuyama
(2018) ao falar sobre a política de ressentimento, menciona casos em que o autoritarismo surge
como uma “réplica” à ausência de dignidades. O autoritarismo desencadeado dentro de
parâmetros antidemocráticos é exemplificado quando o autor cita o caso do fundador da Al
Qaeda:
Quando o fundador da Al Qaeda, Osama Bin Laden, tinha catorze anos, a mãe
dele encontrou-o de olhos fixados na Palestina “lavado em lágrimas enquanto
via televisão na sua casa da Arábia Saudita.” A sua cólera pela humilhação
dos mulçumanos foi mais tarde ecoada pelos seus jovens correligionários que
se voluntariaram para combater na Síria em nome de uma religião que lhes
creem ter sido atacada e oprimida em todo o mundo. Esperavam recriar no
Estado Islâmico as glórias de uma anterior civilização islâmica. (2018, p.26)
Em vista do que foi exposto até o momento, é importante destacar que autoritarismo e
democracia são dois conceitos divergentes e isso soa em tamanha obviedade, entretanto, dentro
do que David Runciman (2018) chama de “autoritarismo pragmático do século XXI” (p.156),
pode-se afirmar que personalidades autoritárias ganharam e continuam ganhando visibilidade
e poder dentro de novas facetas do autoritarismo em contraste com o autoritarismo enquanto
“corrente do pensamento político alemão do século XIX.” (BOBBIO, et al., 1998, p.96)
O chamado “autoritarismo pragmático'' têm ocorrido também a partir dos surtos de
aprovação de líderes populistas, como ressalta Fukuyama (2018). Acontece que candidaturas
baseadas em promessas gera um sentimento de mudança enquanto possibilidade alcançável.
Este mesmo efeito ocorreu nas eleições do Brasil, em 2018, quando Bolsonaro foi eleito. Uma
das principais razões para a justificativa da eleição de Bolsonaro dentro do senso comum é de
que os brasileiros estavam saturados do rumo que a política nacional estava tomando, sobretudo
no viés econômico, necessitando, portanto, de uma nova faceta. Para que de fato exista um bom
funcionamento das representações democráticas, é necessário um equilíbrio entre a igualdade
e a liberdade no sentido de coexistir participação política dos indivíduos paralelamente à
liberdade de posicionamento sem que a participação política seja considerada única e
exclusivamente a partir do exercício do direito ao voto.
O politicamente correto é apontado como um dos maiores problemas identitários, de
modo que o respeito e reconhecimento de dignidades individuais e grupais ocorre de forma
velada. Trump publicizou suas manifestações através de um diálogo que chamou a atenção de
muitos dos seus seguidores, afinal, o dito líder populista engajado de carisma, fala sobre fatores
que muitos outros se recusam em nome dos bons e velhos costumes, ou, muito provavelmente
para desviar do campo coercitivo em termos morais.
A simpatia do então presidente do Brasil, Bolsonaro, com o Trump não é um fator
eventual. Fukuyama (2018) ressalta que figuras autoritárias e simpatizantes pelo autoritarismo
se reconhecem uns nos outros. Ambos sinalizam a mesma condição de “fazer política”.
Enquanto o Trump, durante sua campanha eleitoral foi acusado de zombar de uma jornalista
deficiente e afirmar que havia apalpado algumas mulheres, o Bolsonaro em palestra realizada
no clube Hebraica no Rio de Janeiro, em 2017, afirmou ter ido em um Quilombo e que os
afrodescendentes não serviam nem para procriar. Além disso, fez comentários machistas e
sexistas onde ele afirmou: “Eu tenho cinco filhos, foram quatro homens, na quinta dei uma
27
fraquejada e veio uma mulher”.9 Mesmo diante destas e outras atrocidades ditas por Bolsonaro
e Donald Trump, ambos foram eleitos. O que é evidenciado com estes resultados em números
majoritários, é que os grupos os quais tem suas dignidades desconsideradas e reconhecimentos
não atribuídos, têm grandes apoiadores contrários e sentem-se representados quando vozes
importantes na visão hierárquica falam aquilo que muitos se recusam a verbalizar, não por
serem contrários, mas sim com o intuito de manterem-se numa bolha de proteção no sentido
moral.
O sistema eleitoral de ambos os presidentes citados acima, corresponde à democracia
de forma em que a população apta ao voto se manifesta de quatro em quatro anos durante as
eleições que colaboram para a manutenção institucional da democracia. Assim como Donald
Trump, seria Bolsonaro uma ameaça à democracia? Para tal pergunta, precisamos entender
como a democracia se comporta em situações como estas, de desestabilização e intolerância
dentro do jogo político.
AUTOPROTEÇÃO DEMOCRÁTICA
9
Matéria em que as afirmações do presidente Jair Bolsonaro foram registradas. Disponível em:
https://revistaforum.com.br/noticias/bolsonaro-eu-tenho-5-filhos-foram-4-homens-a-quinta-eu-dei-uma-
fraquejada-e-veio-uma-mulher-3/ acessado em: 15/07/2021
28
10
Disponível em: https://www.economist.com/graphic-detail/2021/02/02/global-democracy-has-a-very-bad-year
29
surgem medidas de proteção democrática para assegurar que não haja abuso de poder por parte
do representante chefe do estado, são essas “grades de proteção” chamados de pesos e
contrapesos que consistem em tolerância mútua e reserva institucional.
Esses pesos e contrapesos são medidas funcionais para contenção do executivo,
geralmente mais usadas em sistemas presidencialistas, portanto, uma medida de proteger
interesses e evitar ameaças à democracia por parte de uma figura autoritária. A organização
burocrática constitucional é imposta para que medidas de contenção sejam levantadas em
circunstâncias de abuso do poder presidencial, o que tem se mostrado eficiente nos Estados
Unidos, segundo os autores. Até a eleição de Donald Trump, nos EUA, a qual fez com que eles
discutissem a forma com que as democracias se comportam em situações envolvendo
demagogos e outsiders políticos, com inclinações autoritárias, quando empossados de cargo do
Estado.
Se a forma de tomar o poder no início do século XX foi feita de forma espetacular, como
demonstra David Runciman (2018) ao descrever sobre o golpe militar da cidade de Atenas em
1967, onde músicas marciais eram tocadas nas rádios e tanques pairavam pela cidade,
atualmente tem-se feito de forma diferente. O enredo militarizado foi sendo ofuscado, apesar
de sua relevância e atividade, assim, dando espaço para a forma autocrática de subversão do
status quo da democracia.
Figuras surgem do plano de fundo, por meio das eleições nacionais e geralmente estão
acompanhadas por uma crise econômica, política, social, sanitária e etc., como no Peru na
década de 90 com a eleição de Alberto Fujimori, do qual teve inflação e insegurança nacional
como pontos importantes de sua eleição (LEVITSKY e ZIBLATT, 2018) ou como no Brasil
em 2018 nas eleições nacionais após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em uma
crise política ideológica ocasionando a eleição do atual presidente Jair Messias Bolsonaro, até
então deputado e ex-militar, eleito por uma série de fenômenos favoráveis ao fato dele surgir
em meio a uma crise da política nacional e centralizar seus interesses a fatores como
antipetismo, saudosismo militar e intolerância aos adversários políticos.
Portanto, Levitsky e Ziblatt (2018) apontam como as democracias tendem a rachar e
minar através do processo democrático eleitoral, assim, “uma abordagem comparativa também
revela como autocratas eleitos em diferentes partes do mundo empregam estratégias
notavelmente semelhantes para subverter as instituições democráticas.” (Levitsky; Ziblatt,
2018, p. 15). Os autores voltaram suas atenções para os estudos acerca da Europa nos anos 30
e a América Latina com ascensão autoritária na década de 70. Exemplos como Alberto
Fujimori, Hugo Chávez e Juan Perón, respectivamente no Peru, na Venezuela e na Argentina,
30
assim como na Europa, com Putin na Rússia, Recep Erdogan na Turquia e Viktor Orban da
Hungria, são situações políticas semelhantes das quais os autocratas têm em comum sobre as
jogadas políticas como aparelhamento do Supremo Tribunal, cooptação da mídia, dos cargos
públicos, desrespeito a mídia e ao establishment político. Desse modo, manipulando os cargos
públicos e colocando sectários para assumirem posições decisivas em órgãos reguladores e
fiscalizadores. Os autores descrevem sobre a infiltração do poder de forma que:
11
Disponível em: https://youtu.be/8bX7EdK0-1M
32
concorrente à presidência, Jair Messias Bolsonaro. Trouxemos este exercício aqui para
mostrarmos a não coincidência entre ações e narrativas expelidas por Bolsonaro durante sua
jornada política. Este, que ao ser expulso do exército brasileiro, conseguiu firmar-se enquanto
deputado e ficou em tal função até eleger-se presidente em 2018 com 57% dos votos nas urnas
durante as eleições nacionais.
Nesta palestra dada a Fundação FHC, foi possível coletar através da falar do autor, e
demonstrar neste artigo, pontos que traduzem o diagnóstico em passos dados pelos autocratas
em ascensão ao poder, estes passos se caracterizam por: (1) rejeição das regras democráticas,
(2) intolerância ou incentivo à violência (3) negação da legitimidade dos rivais partidários (4)
restringir a liberdade civil dos adversários, inclusive a mídia. Tais sintomas caracterizam a
representação de um autoritário em suas ações. E como este se apresenta e representa uma
identidade autoritária diante da vida pública, ou seja, agindo de acordo com o que acham ser
melhor para si, perante suas visões de mundo e acreditando em um apoio nacional.
A primeira regra se encaixa em uma entrevista dada em maio de 1999 ao programa
Câmera Aberta 12, onde Bolsonaro deixou claro que era a favor da ditadura militar, e que só
com a morte de 30 mil ou mais pessoas seria possível uma mudança no Brasil, afirmando, ainda,
que caso fosse eleito, prezaria pela dissolução do congresso e a instauração da ditadura. Na
mesma entrevista, propõe a tortura como método de punição e abertamente defende o porte de
armas, o que já configura a segunda regra descrita por Steven Levitsky.
Os insultos à mídia como traço comportamental da representação autoritária, não
deixaram de estar presentes na narrativa bolsonarista, ficando claramente aberta a rejeição ao
Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Lula – ex-presidente do partido opositor, incentivando a
violência e a prisão do mesmo, bem como dos membros filiados ao referido partido, chamando-
os de “vagabundos”. A terceira e quarta regra demonstram que a configuração da forma de se
comportar diante a política é uma representação fiel do comportamento autoritário do então
presidente do Brasil.
Embora medidas dentro do constitucionalismo sejam efetuadas e praticadas como
ferramenta para a contenção de regimes autoritários bem como o enfraquecimento gradativo
das democracias, Levitsky e Ziblatt (2018, p. 115) ressaltam que “constituições são sempre
incompletas. Como qualquer conjunto de regras, elas têm inúmeras lacunas e ambiguidades”.
Essas lacunas podem ser identificadas como um risco para a democracia, no sentido que o
cientista político Fukuyama (2018) pontua como a relação igualdade-liberdade. Em muitos
12
Disponível em: https://youtu.be/VRzVMcOdK1I
33
casos, falas que infringem indivíduos e/ou grupos já foram feitas a partir de linguagens com a
justificativa de que a liberdade de expressão é um direito constitucional, e de fato o é.
Para que de fato exista um bom funcionamento das democracias, é necessário um
equilíbrio entre a igualdade e a liberdade, no sentido de coexistir participação política dos
indivíduos junto à liberdade de posicionamento sem que a participação política seja considerada
única e exclusivamente a partir do exercício do direito ao voto. As chamadas grades de
contenção, a partir da interferência dos campos judiciário e legislativo possuem grande
finalidade quando analisamos esta perspectiva no campo nacional. Segundo o site jornalístico
Gazeta do Povo, em 2019 o então presidente Jair Bolsonaro queixou-se que o Congresso queria
torná-lo uma espécie de “rainha da Inglaterra” 13
, comparando seu governo ao sistema
monárquico britânico, que reina, mas não governa, isso porque o presidente teve medidas
barradas pela câmara de deputados, controlando, portanto, seus passos e minando seus
interesses.
Um caso que podemos trazer para elucidar essa questão foi a tentativa do presidente de
mudar a demarcação das terras indígenas da FUNAI para o Ministério da Agricultura por meio
da Medida Provisória (MP) 807 em maio de 2019. A qual foi barrada pelo legislativo e,
determinando então que a demarcação das terras ficasse sob a responsabilidade da FUNAI,
junto ao Ministério de Justiça. Em junho a MP foi enviada novamente ao congresso, sendo
devolvida pelo senado sob o argumento de não poder haver uma edição na MP já rejeitada no
mesmo ano. Portanto, a demarcação das terras segue sob responsabilidade da FUNAI,
mostrando a possibilidade do frear dos passos presidenciais.
Com esses exemplos podemos mensurar como tem sido a representação de Bolsonaro
enquanto presidente. O modelo autoritário segue em fluxo a continuidade do exercício em
presidência, as grades de proteção mantêm-se na medida em que podem ser acionadas contra
as vontades perplexas do então presidente. O legislativo exerce sua função de posicionar-se
contramedidas descabidas do executivo, visando a proteção e continuidade da estabilidade
democrática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
13
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/congresso-projetos-de-bolsonaro-barrados-
rainha-da-inglaterra/
34
A democracia no Brasil foi dominada no século anterior por regimes militares, passando
de Getúlio Vargas na primeira metade do século XX à ditadura militar de 1964 até 1985, quando
o então processo de democratização começa a atribuir ao povo o direito à escolha do
representante por meio do voto direto. Eleições diretas foram puxadas e os militares foram
colocados à retaguarda da administração do país. O esquecimento faz parte do processo de
nacionalização, e isso tem acontecido com o Brasil enquanto nação. É inimaginável pensarmos
que um país onde houve uma ditadura por tanto tempo, por cima de tantas vidas, pudesse,
atualmente, colocar um presidente com viés antidemocrático e abertamente autoritarista.
O ressentimento que faz parte da narrativa de Bolsonaro é apontar para supostos ladrões
da nação e comunistas que querem destruir a moral e os bons costumes da família tradicional
brasileira. As ameaças são de todos os lados e recentemente a maior tem sido no processo
eleitoral. O presidente tem insistido repetidamente em suas entrevistas que há fraude nas
eleições e que só dessa forma Lula voltaria a governar a presidência. O próprio STF (Supremo
Tribunal Superior) junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) já admitiu não haver tal
possibilidade, assegurando a não necessidade de substituição do formato das eleições e mesmo
assim há constante ataque às instituições, tentando deslegitimá-las.
Contudo, a representação que Bolsonaro faz enquanto chefe de estado, na melhor das
hipóteses beira a insanidade, e não é repentino tal comportamento. Desde antes mesmo da
corrida eleitoral em 2018, o então deputado já se posicionava de forma bruta e áspera diante
das instituições democráticas, o sistema político e seus colegas de congresso, deixando explícito
qual tipo de representação era almejada, a autoritarista.
Desse modo, resta à nação brasileira o despertar de 2022, na esperança de que a figura
autocrata seja substituída e a democracia possa respirar de forma a não ficar aprisionada as
grades de contenção como medida extrema para evitar o abuso do poder executivo. Entretanto,
ao menos essa tem se mostrado eficiente, como acima citado.
REFERÊNCIA
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Carmen C. Varrialle, Gaetano Loiai Mônaco; coord. trad. João Ferreira; rev. geral: João Ferreira e Luis
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Editora Globo. Dicionário de Sociologia. 1ª Edição. Porto Alegre. 1974.
FUKUYAMA, Francis. Identidades: a Exigência de Dignidade e a Política de Ressentimento. Lisboa:
Dom Quixote, 2018.
35
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LEVITSKY S., ZIBLATT, D. Como as Democracias Morrem, Zahar, 2018.
RUNCIMAN, David. Como a democracia chega ao fim. Tradução: Sergio Flaksman, São Paulo:
Todavia, 1. ed., 2018.
SANTOS, Boaventura de S. Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa.
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.
36
CAPÍTULO 4
CONFLITOS INTERGERACIONAIS SOB O VIÉS DA
INTERDISCIPLINARIDADE: reflexões e ponderações
Este artigo tem como objetivo analisar a geração da década de 90, intitulada de geração
“mimimi” e suas frequentes repercussões nas redes sociais. Se trata de um artigo reflexivo, que
utiliza a metodologia de revisão de literatura e observação empírica do espaço virtual e
midiático. É certo que a discussão aqui proposta não buscar esgotar o tema, até mesmo porque,
a geração assim intitulada é um fenômeno recente e que não conta com vasta literatura
acadêmica.
É papel das ciências sociais, nesse sentido, estudar e tentar compreender o tempo em
que se está inserto. Assim como é papel das ciências humanas analisar o comportamento
humano perante as diferentes condições de existência social entre os seres humanos (CASTRO
& DIAS, 1992). Esse artigo, deste modo, nasce no bojo do pensamento sociológico para
adentrar em outras áreas, como a geografia, o direito e a história.
A percepção da necessidade de se escrever a respeito, se deu, em especial pelos
embates acalorados adentrados nas redes sociais atualmente. O ano de 2021, em especial,
fomentou discussões de grandes proporções com o programa televisivo Big Brother Brasil. O
programa que já conta com várias edições, teve grande salto de audiência ao colocar na casa,
além de pessoas comuns que buscam fama e dinheiro, também outras que já são famosas no
meio televisivo e midiático.
Deste modo, o avistamento de que a televisão ainda é um dos meios de comunicação
de massa mais difundidos entre a sociedade, pode ser facilmente constatada graças a
visibilidade do programa supramencionado. Não obstante, a seleção dos participantes dele,
conta com pessoas imbuída de pensamentos, convicções e ideologias díspares, além de
diferenças étnico-raciais e sexuais. Ademais, devido ao grandioso tamanho do país, a
multiculturalidade regional é muito presente e notável entre os participantes do Big Brother
14
Doutoranda em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG), Mestre em Gestão do Território (UEPG), Especialista em
Direito Aplicado (EMAP-PR), bacharel em direito e geografia. Licenciada em história.
37
Brasil. Tais vivências diversas, tornaram também o programa recheado de embates sociais, que
desencadeiam grandes repercussões entre os brasileiros “fora da casa”.
Os embates do programa, trazem para o espectador a absorção de mensagens que
instigam o induzimento de mensagens seletivas (porque o programa faz cortes do que acontece
durante o dia e o reduz a poucos minutos diariamente15) e ditames mercadológicos (em especial
pelas propagandas de marcas e produtos do programa). Para além do poder de persuasão da
mídia, as opiniões expostas nas redes sociais, em especial twitter, facebook e instagram, entre
os espectadores acerca de diversos temas fomentados no programa, é nítida.
A rapidez com que esses espaços virtuais dão vozes para seus usuários, acarretam
também em discussões e entendimentos divergentes em relação a situação abordada. Como
resultado, assuntos que outrora já foram considerados adjacentes e tabus no Brasil, como é o
caso do racismo, machismo, minorias, sexualidade e gênero, atualmente estão entre os mais
falados no país. O programa, deste modo, tem o papel fundante de alavanca dessas temáticas.
E, de certa forma, essa repercussão se mostra impreterível, na medida em que o embate
acerca desses temas faz parte do contexto atual e da geração pós-moderna. Ocorre que, o
público mais crítico no sentido da militância, tende a se posicionar contra os anseios mais
tradicionais e conservadores do país. Deste modo, constantemente esse público é taxado como
forma depreciativa de geração “mimimi”, ou ainda geração “nutella”.
Essa nomenclatura se refere a uma geração que não quer mais se calar diante de tantas
contradições e subjugações humanas do passado. No entanto, essa denominação pelos usuários
cibernéticos e difundida entre aqueles mais conservadores, tem caráter pejorativo, na medida
em que se refere como geração “chata”, geração que não tolera mais qualquer brincadeira, ou
ainda, a geração que tudo politiza e milita. Os mais conservadores e tradicionais ainda, apontam
que não podem mais falar nada que tudo é alvo de críticas, discordâncias e “mimimi”.
O termo geração “mimimi” certamente não está no dicionário. Trata-se de um termo
difundido atualmente e que retrata o choque de ideias entre a geração mais crítica (e, pode-se
dizer também, em grande parte, mais nova) em confronto com a geração conservadora e
tradicional (que também, por vezes, é a população de mais idade no país). Confronto, mais
especificamente de ideias, comportamentos, ideologias, tradições e que hão de refletir em
vestimentas, movimentos sociais e grupos que se identificam por uma causa ou pensamento.
15 Sabe-se que existe a opção de pagar o “Globo Play” para assistir o Big Brother Brasil 24 horas por dia. Porém,
além da maioria do público não assinar tal serviço, ainda existe a reclamação de vários assinantes que as vezes as
transmissões ficam fora do ar por determinado período, ou ainda, que as câmeras não ficam disponíveis para os
assinantes em determinados lugares.
38
A geração “mimimi” é aquela inquieta e, por isso, incomoda setores que auferem
vantagens na conformação e no silêncio social. É, portanto, a geração que não se cala mais e
não se conforma diante de atitudes e falas que reproduzem comportamento opressor. É a
geração do inconformismo e, consequentemente, se torna essencial para o rompimento de
paradigmas e também para a superação de pensamentos que submetem o ser humano em
condição desigual. É uma trajetória, por conseguinte, necessária, ainda que encontre resistência
e percalços entre aqueles que preferem os estagnantes e estratificantes sociais.
Os conteúdos passam a ser considerados velhos e programados para durarem até certa data
(BAUMAN, 2005; SANTOS, 2010).
Em meio a essa situação posta, a geração “mimimi” é aquela que nasce no âmago das
transformações mundiais revolucionárias tecnológicas, qual seja na década de 90. Os saltos
tecnológicos na Tecnologia da Informação (TI) possibilitaram a disseminação dos
computadores e das redes informacionais, assim como a propagação da internet. É certo,
portanto, que essa geração já nasce em um contexto mundial diverso de qualquer outro já
vivenciado até o momento.
As redes sociais, portanto, fazem parte da rotina dessa geração, que desde cedo têm
muito acesso a qualquer acontecimento em qualquer lugar do globo terrestre. A sensação de
que se tem mundo todo em suas mãos, é algo que muito presente nessa geração. E não é para
menos. A facilidade informacional e de fluxo atual é, de fato, impressionante. O que outrora
demorava-se dias, meses e até mesmo anos, recentemente em segundos pode-se obter o mesmo
resultado.
É fato então, que a geração dos anos 90 possui uma amplitude e facilidade
informacional nunca vista antes. Mas, vai mais além. O contexto da década de 80 e 90 também
é marcado por vários acontecimentos históricos, como é o caso, do já citado, esfacelamento do
Estado de bem-estar social. Para além disso, a onda do neoliberalismo e privatista se alastrou
mundo afora, em especial após a queda da União Soviética (URSS). Logo, a tendência de
comprimir os direitos sociais já conquistados é extremamente presente ainda hoje.
No caso do Brasil ainda, essa geração é a geração que nasceu em um mundo pós-
ditadura militar. A influência disso, é a liberdade de expressão muito valorizada. E não só isso!
É a que vive em uma democracia e em um governo sem censura. Logo, o extravasamento do
que já foi coibido e visto como conotação negativa, é, por certo, escancarado atualmente. O
choque cultural entre as gerações, evidentemente se torna inevitável.
Outro ponto que também é importante mencionar, é que a geração dos anos 90 gasta
boa parte do seu tempo em rede social. Ora, é por isso, que a própria geografia vem estudado a
remodelação do conceito de espaço, graças a amplitude digital e a forma de interação entre os
seus usuários byte a byte. A rede social, portanto, se tornou um novo estilo de vida, que além
de ditar tendências e abrir horizontes para novos mercados, tornou-se também um espaço de
exposição de ideias e debates calorosos.
Não é à toa, que a propagação de notícias falsas e ideias sem embasamento científico
ganharam amplitude nessa nova espacialidade, na medida em que qualquer um fala o que quer
e como pensa, sem qualquer repressão. O nível de exposição social tornou-se muito mais
40
dessa geração, uma nova espacialidade informacional se fixa como habitual em seu cenário
diário.
É certo, portanto, que uma geração com essas características, acaba tendo resistência
de outra geração dotada de uma vivência histórica de censura, sem exposição, acrítica e alienada
no sentido da palavra de desconhecimento da realidade a sua volta. Qualquer movimentação
que saísse fora dos preceitos militares tendia a repressão. Deste modo, a geração anterior é a
geração da quietude, enquanto a geração mimimi é a geração da exposição.
Diante desse cenário, se analisa a geração “mimimi” no Brasil, um país que a
conjuntura global se insere nos traços étnicos-singulares próprios e marcantes. O choque de
ideias geracionais não poderia ser diferente. Até mesmo porque, a geração “mimimi” tem pais
e criadores que derivam de outras gerações, logo a colisão e formas de ver o mundo tornar-se-
iam evidentes e, por vezes, críticas.
Programas televisivos como o Big Brother Brasil, do ano de 2021, fomentam o debate
em torno de vários assuntos, tais como sexualidade, feminismo e, também, racismo. As opiniões
da internet são controversas e os debates são certeiros. O choque cultural e de posicionamentos,
é o que despertou o desejo desse artigo e a inquietude acerca de assuntos tão importantes, é o
que se pretende refletir e pontuar.
Que o Brasil tem suas raízes na escravidão, não é novidade para ninguém. Afinal,
foram quase quatrocentos anos de imposição de uma cultura eurocêntrica subordinadora em
face de outra, que por sua vez, passou a inferiorizar seus traços, costumes, religião, crenças e
assim por diante. Além da escravização indígena, ou seja, dos povos nativos aqui habitados, o
afrodescendente também foi tirado a força de sua terra natal visando tão somente o suprimento
de uma mão-de-obra que satisfizesse a economia capitalista europeia.
A estrutura social do Brasil, deste modo, já é emblemática desde a sua consolidação
como colônia de exploração de Portugal. O escravismo aqui, não foi simplesmente uma
imposição temporária, mas sim um processo histórico de longa duração. Desde a abolição da
escravatura, em 1888, não se vislumbraram medidas eficientes ou até mesmo capazes de
reverter o resultado da escravidão no país. Logo, não há como negar que um dos problemas do
Brasil é o racial, juntamente com o passado insuperado dos preconceitos e estratificações
humanas.
42
16 É o que prevê a Lei do Ventre, ou Lei 2040, publicada em 28 de setembro de 1871. Dispõe o art. 1º, §1. Os
ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão obrigação de
criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe
terá a opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a
idade de 21 anos completos. No primeiro caso o governo receberá o menor, e lhe dará destino, em conformidade
da presente lei. A indenização pecuniária acima fixada será paga em títulos de renda com o juro anual de 6%, os
quais se considerarão extintos no fim de trinta anos. A declaração do senhor deverá ser feita dentro de trinta dias,
a contar daquele em que o menor chegar à idade de oito anos e, se a não fizer então, ficará entendido que opta pelo
arbítrio de utilizar-se dos serviços do mesmo menor.
43
mantivessem suas condições análogas as de escravos. Aos recém-libertos, não foi dado escola,
terra ou emprego, o que fez com que, na prática, os ex-escravos tivessem que regressar as
fazendas e retomar seu posto ombreiro, em troca de salários baixos.
Aqueles libertos mais corajosos, restava a ida à cidade em troca de emprego, porém o
novo cenário social é a substituição da mão-de-obra escrava pelo imigrante europeu. Deste
modo, a ocupação imigrante em postos de trabalho na agricultura e nas indústrias, fez com que
os ex-escravos fossem expulsos ou ablegado a postos de trabalhos mais brutos e miseráveis.
Segundo Murilo de Carvalho (2016) consequência disso tudo, se perdura até os dias atuais, pois
o que se vê no Brasil é que a população negra ainda “ocupa posição inferior em todos os
indicadores de qualidade de vida” (p. 58).
A inferiorização da raça afrodescendente no Brasil, é uma realidade cultural que
infelizmente foi reproduzida durante muito tempo. A carência de políticas públicas voltadas
para dirimir essa discrepância social faz com que ainda na contemporaneidade haja uma
reprodução determinista social. Ou seja, a carência de ações positivas para os afrodescendentes
faz com que esses indicadores de qualidade de vida não consigam ser superados. O ambiente
social influencia no indivíduo, na medida em que, segundo Carvalho (2016) os negros ocupam
os mais baixos índices de escolaridade, os empregos menos qualificados, os salários mais
baixos e os piores índices de ascensão social.
Para além da questão racial, vejamos a questão das mulheres. As mulheres também
foram marginalizadas nas políticas públicas brasileiras. O direito ao voto, inclusive, só veio a
ser conquistado na Constituição Brasileira de 1934. Mais do que isso, a mulher teve seu trabalho
precarizado por muito tempo por todo o globo. A ideia incutida no american way of life (estilo
de vida norte-americano no mundo pós-guerras), trazia a ideia de padronização social de que a
mulher deveria ficar em casa enquanto o homem deveria trabalhar.
Para além desse pensamento inseminado no mundo moderno pós-guerra, a mulher
passa a ser vista como papel central dos afazeres domésticos. Há ainda, toda uma cultura de
indução de propaganda massiva, que colocava a mulher frente de revistas e catálogos de
eletrodomésticos, tais como ferro de passar roupa, liquidificadores e assim por diante. O papel
da mulher se resumia ao casamento, cuidar dos filhos e dos afazeres domésticos. Isto fez
também com que mulher fosse “ignorada” da ciência no decorrer da produção do conhecimento.
No Brasil, o primeiro Código Civil, promulgado em 1916, foi fruto de uma obra
imperiosa confeccionado por Clóvis Beviláquia. No entanto, é certo que seu texto reproduzia
ideais condizentes com a época em que foi escrito. Deste modo, o papel da mulher no mesmo
é o de subjugação perante seu cônjuge, sendo que após a contrair matrimônio, precisava de
44
autorização do cônjuge para trabalhar. Até mesmo no cadastro de pessoas físicas (CPF) a
mulher perdia sua individualidade, passando a utilizar o mesmo do marido (DINIZ, 2012;
DIAS, 2010).
Preceitos conservacionistas e tradicionalistas são características dessa época e a figura
da mulher se mostra afetada como um todo. Se a mulher engravidasse e não fosse casada, seu
filho era considerado bastardo e a mulher mãe solteira, era onerada ao sustento sozinho do filho,
eis que sua desonra ao ter um filho bastardo deveria ser punida. E mais, se a mulher não fosse
considerada virgem na constância do casamento, poderia o marido pleitear em juízo a anulação
do casamento, em até dez dias (DIAS, 2010).
Para além de outras situações jurídicas, é fato que a mulher foi durante muito tempo
ao longo da história, considerada como ser inferior, inclusive tendo sua inferioridade
chancelada pelas normas do Estado. Ora, a mesma lei que atualmente prevê a igualdade, mostra-
se muito eficaz também em reproduzir condições de desigualdade. A propositiva inicial do
direito, neste sentido, é a de materializar condições desiguais na fábula de que o Estado busca
à igualdade dos seus cidadãos. O próprio artigo inicial da Constituição Federal “Art. 5º Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...)”, já se põe como
contraditório, na medida em que afirma a igualdade sem considerar as singularidades e
condições desiguais.
Tal propositiva inferiorizada feminina, fez com que a mulher tenha sido “ignorada” da
ciência no decorrer da produção do conhecimento. De fato, desde os mais renomados físicos,
matemáticos, filósofos, sociólogos, economistas, músicos, dentre outros campos de saber, o
papel feminino é muito pequeno. Desde Aristóteles, Einstein, Newton, Adam Smith, Hegel,
Marx, dentre tantos outros nomes importantes, o esquecimento da mulher é notório (SCOTT,
1990).
Esta posição sexista ao longo da história acabou por naturalizando os homens como
dominantes e as mulheres como dominadas, sendo que a dominação é socialmente construída
e não biológica. No artigo “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”, Joan Scott (1990)
discorre que estudar as mulheres como se elas fossem separadas na história, apenas perpetua o
mito de que um sexo nada tem a ver com o outro.
O machismo, neste sentido, nada mais é do que uma reprodução de pensamento que
advém do passado histórico. É o pensamento de que o homem possui condição superior perante
a mulher. Ganha substância o machismo com o controle de comportamentos e subjugações da
existência da mulher e do seu papel. Através do machismo, corporaliza-se a apropriação do
45
encontrando cada vez mais obstáculos em uma geração nascida na era informacional. A
mudança faz parte da realidade e da rotina dessa geração.
A sensação de perda de controle do mundo, ou talvez, dos freios do que outrora era
considerado tradicional e de “bom grado”, talvez seja uma explicação do porquê a geração mais
antiga e conservadora resiste tanto aos pensamentos da geração “mimimi”. Todo rompimento,
ruptura, quebra, traz consigo o sentimento de insegurança e incerteza. A impressão de mudança
rápida e brusca inverte a lógica da cultura do aprendizado que outrora dominava o pensamento
da modernidade sólida e duradoura que o mundo da metade do século XX vivenciava (HALL,
2001).
É certo que havia toda uma conjuntura mundial que possibilitava essa postura
reconfortante de que dava a impressão de que as coisas e rotinas duravam. Não obstante, o final
do século XX é aquele que corrobora e prega a cultura do esquecimento e não a cultura do
aprendizado. Essa cultura capitalista pós-moderna é a cultura da liquidez, da obsolescência
programada, da efemeridade e da inovação constante. É certo, portanto, que aquela geração
mais antiga tende a não acompanhar todas as inovações atuais (HALL, 2001).
Juntamente com as inovações desse mundo contemporâneo e complexo, uma nova
onda de pensamentos libertários e críticos invadem os modelos educacionais no Brasil.
Assuntos que antes eram considerados periféricos, tais quais a mulher ter o direito em se
48
divorciar, ou de continuar com o CPF próprio após o casamento, de escolher uma profissão e
exigir equiparação salarial com o homem, tomaram as pautas atuais. A mulher, inclusive, pôde
votar, se candidatar à presidência e até mesmo sair vitoriosa de uma eleição! Evidentemente
tais conjunturas eram impensadas há poucas décadas.
Além disso, no século XXI as relações acerca da sexualidade também estão sendo
amplamente debatidas. É comum pessoas homossexuais assumirem seus desejos, andarem de
mãos dadas pelas ruas e frequentarem lugares públicos assumidamente. Para além disso, temos
dois homens ou duas mulheres (no sentido do biológico da palavra) querendo casar-se, adotar
e andar com a vestimenta que melhor lhe convém. Ora, tais posturas são totalmente diferentes
daquelas consolidadas tradicionalmente décadas atrás. O Brasil, para além de um país machista
e patrimonialista, continua sendo também um país com fortes influências religiosas, em especial
o catolicismo.
Tais circunstâncias, fazem com que os espaços públicos frequentados por gerações de
diferentes pensamentos se mostrem, por vezes, tencionadas. Os espaços virtuais, por outro lado,
permitem maior visibilidade e exposição de ideias, fazendo com que mesmo aquele sujeito mais
conservador e de resistência, não tenha outra saída que senão aceitar em silêncio, “deletar” ou
“deixar de seguir” a pessoa ou ainda, fomentar debates virtuais.
A questão racial também aborda ideais de aceitação e exteriorização. A geração
“mimimi” não quer mais esconder seu cabelo biológico, ou ainda, permanecer a margem do
sistema. O discurso de que o negro faz parte historicamente da classe oprimida brasileira perfaz
presente na luta racial. E, por isso, a ocupação dos espaços educacionais, midiáticos, ou de
destaque qualquer, tendem gerar desconforto para aquela geração que estava acostumada com
o negro segregado e periférico. As políticas afirmativas, infelizmente, são insuficientes, mas
ainda assim necessárias dada a dívida histórica que o Brasil possui com este povo oprimido e
subjugado por tanto tempo.
De fato, as rupturas são impiedosas porque derivam de uma condição sem precedente.
Logo, a explicação da geração “mimimi”, incomodar tanto, deriva da própria complexidade
atual do tempo presente. O contexto mundial de insegurança já é próprio da pós-modernidade,
posta em um mundo global e rápido. Juntamente com as mudanças políticas, sociais e
econômicas que o capitalismo do século XXI conduz, há também pleitos de uma geração que
“mal nasceu”, mas já exige posturas libertárias, ações inclusivas, políticas redistributivas e
pensamento crítico.
Muito se fala que a geração “mimimi” é aquela que não tolera ao menos uma piada.
Pois bem, pode ser que em determinadas circunstâncias haja, de certa forma, uma militância
49
exacerbada por parte da geração aqui discutida. Entretanto, o que se deve ponderar, é que não
se trata de uma piada, de uma tiração de sarro ou de um comentário qualquer, mas sim de
situações reais e opressoras que ainda se mantém em um país desigual.
Por certo, a brincadeira ou a piada saudável deve existir, mas somente em uma hipótese
idearia de uma sociedade que já conseguiu reparar todas as mazelas subjacentes de um passado
segregador. Caso contrário, não se trata de uma piada, mas sim da reprodução de um
pensamento consolidado historicamente perante uma classe oprimida. Assim como comentários
machistas, racistas, xenofóbicos, apelidos depreciativos e dentre outros tantos passaram a
incomodar e devem ser combatidos. A empatia e o respeito devem caminhar em paralelo com
a luta social, assim como o combate à desigualdade e as injustiças daqueles reprimidos.
CONCLUSÃO
A resistência as rápidas mudanças sociais são situações muito presentes que a geração
mais consciente e esclarecida do contexto a sua volta enfrenta. A tentativa de retorno ao
tradicional e ao conservadorismo, é muito vislumbrada no contexto político atual, por exemplo.
O movimento bolsonarista no Brasil, nada mais é que um pensamento retrogrado, conservador
e patrimonialista, que tenta manter as velhas espacialidades brasileiras. Munido de um discurso
de volta aos bons costumes e a família tradicional, o bolsonarismo se põe como uma cultura de
resistência em face a geração “mimimi”.
A ruptura e a mudança paradigmática, portanto, geram desconfortos que transcendem
tão somente a condição de insegurança intrínseca da pós-modernidade. Isto pois, o medo do
desconhecido e da perda de privilégios é o moto próprio desse incômodo. Para além do passado
histórico-cultural brasileiro, a geração “mimimi” causa incômodos pela luta incessante de um
mundo livre de preconceitos e ideias que não condizem mais com o tempo presente.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 21. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2016. 254 p.
50
CASTRO, A. M.; DIAS, E. F. (org). Introdução ao pensamento sociológico. 9 ed. São Paulo:
Editora Moraes, 1992.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do direito civil. 29. ed.
São Paulo: Saraiva, 2012. 622 p.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 59ª ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2015.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: Record, 2010. 174 p.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, Nova
York, v. 15, n. 2, p. 71-99, jul. 1990. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/71721/40667. Acesso em: 20 ago. 2020.
UOL. Redes sociais deram voz a legião de imbecis, diz Umberto Eco. 2015. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2015/06/11/redes-sociais-deram-voz-a-
legiao-de-imbecis-diz-umberto-eco.jhtm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 28 mar. 2021.
51
CAPÍTULO 5
ASSÉDIO MORAL ORGANIZACIONAL DO GÊNERO FEMININO À
LUZ DO PROTOCOLO PARA JULGAMENTO COM PERSPECTIVA DE
GÊNERO
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
17
Acadêmica de Direito, do 6o período, pela Escola Superior da Amazônia - ESAMAZ.
18
Advogada, formada pela Faculdade de Direito de Itu, pós-graduanda em Advocacia Extrajudicialpela faculdade
LEGALE.
52
O assédio moral organizacional é uma nova modalidade de assédio que decorre de uma
estrutura capitalista e neoliberal. Está diretamente ligado a organização, sendo os próprios
métodos de gestão adotados pela empresa, com o objetivo de aumentar a produtividade e
consequentemente os lucros.
O autor do assédio moral age com a intenção de prejudicar o trabalhador de alguma
forma, podendo agir de maneira isolada, ou seja, atingindo um trabalhador em específico, no
assédio organizacional, todo um grupo é atacado, não existe um ataque individualizado, mas
sim um ataque no coletivo, no entanto, mesmo nesse tipo de assédio que tem como alvo o
coletivo, verifica-se que as mulheres podem sofrer danos ainda maiores com esse tipo de
assédio.
A importância de se compreender o assédio moral organizacional a partir de uma
perspectiva de gênero é de extrema importância. A formação histórico-cultural reproduz a ideia
de que a mulher não deve estar inserida no mercado de trabalho, imputando-lhe o papel de
trabalho doméstico e não remunerado, exercendo também o seu papel reprodutor, pois a
reprodução fomenta o capitalismo.
Quando a mulher consegue uma posição no mercado de trabalho, não é raro que logo
sofra algum tipo de assédio, principalmente o sexual,refletindo a ideia que o corpo da mulher é
domínio público, reduzido a objetificação sexual, isso se agrava quando a mulher em pleno
século XXI, é coagida a usar uma roupa sensual, para que desta forma atraia mais clientes para
a instituição bancária. A recente decisão do TST condenou o Banco Itaú, pelo assédio moral
que uma funcionária sofria,ao ser coagida a usar roupas “sensuais”, batom vermelho e salto
mais alto, com a alegação de se tornar mais sensual e de atrair novos clientes,bem como seduzi-
los para que contratassem mais serviços bancários. Talcondenação é exemplo de um assédio
organizacional feminino, uma vez que tais exigências de vestimentas não seriam propostas à
algum funcionário do sexo masculino.
O Protocolo para Julgamento com perspectiva de Gênero 2021, lançado pelo Conselho
Nacional de Justiça, alcança esse entendimento colocando que “Violência e assédio no mundo
do trabalho têm estreita conexão com a perspectiva de divisão do trabalho, com bases sexistas”.
53
DISCUSSÃO DE RESULTADO
de violência patrimonial por exemplo, no entanto, quando essa mulher ingressa no mercado do
trabalho e se depara com mais esse tipo de agressão, tira-se dela um direito a sub existir e resistir
dentro de uma sociedade pautada no machismo e no patriarcado.
Busca-se com esse resumo demonstrar a importância de se compreender não só os tipos
de assédio no local de trabalho, mas também, de compreender a importância de uma narrativa
de gênero, buscando-se o amparo legal adequado para que mulheres tenham seus direitos
garantidos e respeitados e quando preciso reivindicá-los que não será mais uma vítima
institucional, mas sim que vai ter ali um direito protegido.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 6
A INFLUÊNCIA DA PORNOGRAFIA DIGITAL NO
COMPORTAMENTO SEXUAL DOS JOVENS
Bruna Maria do Nascimento
Jose Henrique Monte Galvão
Paloma da Silva Fernandes
Orientador(a): Juliana Linhares de Alencar
INTRODUÇÃO
conteúdo tem conquistado bastante espaço, principalmente entre os jovens. Como demonstrado
por Muller et al (2021), o seu consumo é um comportamento adquirido e perpetuado na
sociedade. Sendo encontrada facilmente em fotos, revistas, músicas, vídeos, na televisão e
principalmente em plataformas online através de sites pornográficos. Fator esse que leva
também ao sexo um caráter comercial, uma vez que esse agora pode ser oferecido não somente
através de tais representações como também através de produtos e serviços. (SILVA, 2015 apud
TALISSA, 2021).
De acordo com Baumel et al (2019), as consequências do uso da pornografia são pouco
estudadas no Brasil apesar do alto consumo do conteúdo no país. “Informações divulgadas pelo
site Pornhub, que oferece conteúdo pornô gratuito, indicam que o Brasil é o 8º colocado no
mundo em número de visitantes por dia, com cerca de 200 milhões de acessos”. (PORNHUB
TEAM, 2015 apud BAUMEL et al, 2019).
Já para Muller et al (2021), apresenta apenas aspecto negativo: considera-se que, o consumo de
pornografia condiciona comportamento degradantes, objetificando o corpo feminino e acentuando ainda
mais a submissão e a inferioridade, não favorecendo a vivência qualitativa da sexualidade.
Portanto, o acesso de forma indiscriminada por parte do jovem pode inferir na vivência da sua
sexualidade nessa fase do desenvolvimento que ainda é repleta de descobrimentos. Baumel et al (2019),
em sua pesquisa, aponta os malefícios do consumo de pornografia por jovens, dentre eles, violencia
contra a mulher, comportamento sexual agressivo, vicio, restrição dos meios de exitação, entre outros.
Muller et al (2021), afirma que os filmes pornograficos reforçam esteriotipos de beleza tanto
femininos como masculinos. Bem como a submissão feminina e a idealização do ato sexual, que se
57
apresenta bem diferente da realidade. Apresenta ainda, que esse reforço idealizado pode causar
frustrações, atrapalhar relacionamentos e ainda consolidar um imaginário de violência ligada ao prazer.
Diante disso, cabe o questionamento: Como a pornografia digital afeta o comportamento sexual dos
jovens?
Frente a tal questão problema essa pesquisa tem como objetivo geral sintetizar outros estudos
elucidando uma visão crítica acerca da influencia da pornografia digital no comportamento dos jovens,
já que a é um conteúdo de acesso considerávelmente facilitado pela tecnologia e um assunto
pouco discutido no Brasil. E como objetivos específicos, responder as seguintes hipoteses: “A
pornografia digital incita a violência?” e “Há uma distorção na representação pornografica de
como são as reais relações sexuais?”
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Pesquisa bibliográfica de teor exploratório, foi realizada acessando conteúdos das plataformas:
Google Acadêmico, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO)
e a Biblioteca Regional de Medicina (BIREME) e Livros. Foram abordados conteúdos nacionais e
internacionais. Os estudos foram selecionados a partir dos descritores “ Mídia”, “Pornografia”,
“Comportamento Sexual”, “Sexualidade” e “Jovens”. Como critério de inclusão utilizamos
conteúdos das, já citadas, plataformas com referências bibliográficas que respondem à questão
norteadora datadas entre 2013 e 2021.
REFERENCIAL TEÓRICO
E caí na pornografia
Essa porra só vicia
Te suga a alma, te esvazia
E quando vê passou o dia
E você pensa que devia
Ter outro corpo, outra pica
A ansiedade vem e fica
Caralho, isso não é vida!
(IORC, 2021)
A pornografia parece ser uma fonte de informação sobre sexo e ter uma
influência nas práticas sexuais. Os prejuízos apontados seriam decorrentes da
comparação de uma sexualidade cinematográfica com uma sexualidade real.
Essa discrepância aponta para a necessidade de incluir o uso de pornografia
como tópico de educação sexual, ensinando sobre as influências da mídia e o
não realismo desse material, sobre a sexualidade representada e a sexualidade
vivida, discutindo sobre o que leva ao uso e quais são os possíveis benefícios
e efeitos nocivos desse tipo de consumo, (p. 10).
A educação sexual pode ser entendida como um processo formal pelo qual se é possível
intervir e fornecer informações acerca da sexualidade. Podendo ser a mobilizadora das
discussões necessárias sobre tabus e preconceitos. Um espaço onde sua difusão seria possível é
a escola, por ser um ambiente humanizador e propiciador do pensamento crítico através do
processo educacional (MAIA et al, 2012).
59
Uma possível forma de mediação entre o caráter educativo que a pornografia tem e a
realidade das práticas sexuais fora do meio digital é a educação sexual, que deve ser
desmistificada como algo não científico e ilegítimo para a educação básica e os currículos
escolares. Pois, só a partir dela os sujeitos poderão compreender a si mesmos e aos outros com
os quais se socializam e relacionam-se (SILVA et al, 2013). Através da abordagem deste tema,
necessária a partir do desenvolvimento infantil, é possível que o indivíduo possa romper e gerar
novas ideias sobre relações humanas, de forma a questionar padrões comportamentais
relacionados ao sexo normalizados. (MEIRA; QUEIROZ; OLIVEIRA; MORAES;
OLIVEIRA, 2006).
Os países que apresentam menores taxas de coerção sexual possuem um plano de
ensino, no que se refere ao âmbito sexual, fundamentado na abordagem de temas como
responsabilidade social e equidade de gênero. Mostrando que intervenções vindas de programas
como este são capazes de desmistificar estereótipos propagados pela pornografia (LOTTES;
WEINBERG, 1996 apud TALISSA, 2021).
A internet é a maior fonte de exposição de pornografia. (Lude, Pittet, Berchtold, Akré,
Michaud, & Surís, 2011 apud Pacheco, 2014) De acordo com Da Silva (2019), o consumo de
representações sexuais fictícias tem tanto ou mais influência que algumas das instituições
tradicionais de formação do sujeito. E o que acaba por reforçar isso é a ausência do diálogo
sobre assuntos como gênero, sexualidade, orientação sexual e prática sexual pela família e
escola, criando a necessidade de busca por informações, espaço ocupado pelos meios de
comunicação com as revistas, televisão e, hoje, a internet como protagonista. (BISPO, 2017, p.
56)
É preocupante, como a imitação das cenas das pornografias forma sujeitos que
não compreendem o que é e como funcionam os corpos, não são estimulados
a perceber seu corpo e suas vontades, seus limites e suas possibilidades e, por
vezes, sofrem com imposições e demandas que a própria mídia apresenta,
como o entendimento de sexo nesses aparatos midiáticos.
A influência que a indústria midiática possui lhe confere também muita responsabilidade pela
sexualização e objetificação do corpo feminino em suas campanhas publicitárias. Se essa indústria, por
60
si só, não usa seu poder para fortalecer a emancipação das mulheres, existem movimentos que discutem
tais questões. O feminismo através das Sex wars, traz a discussão a partir de dois pontos de vista opostos:
tanto pela visão das que veem o sexo com caráter libertador para as mulheres e por isso não deve ser
censurado, defendendo o direito de escolha, como pelo lado das que enxergam a pornografia como
perpetuadora da desigualdade de gênero e submissão feminina. (TALISSA, 2021).
Como pontuado por Bispo (2017), A pornografia na internet configura-se como um dos
espaços de reprodução e perpetuação dessa desigualdade de gênero, de diferentes maneiras.
(p.38). Prado (2021), nos lembra como os roteiros sexuais impostos e normalizados na
sociedade estão inteiramente relacionados à cultura machista predominante na sociedade.
Talissa (2021) nos traz informações relevantes acerca do documentário “Hot Girls
Wanted” que aborda como é e como lucra a indústria pornográfica, assim como o dia a dia das
pessoas que se inserem neste meio. Apontando que plataformas de streaming como Netflix e
Amazon juntamente a rede social Twitter juntas não somam mais acessos mensais do que sites
que armazenam conteúdos pornográficos. Por vezes, os vídeos mais vistos disponíveis nos sites
pornográficos contêm: agressão verbal e física contra mulheres, objetificação corporal,
subordinação feminina e prazer sexual focado apenas no homem Bispo (2017). Paulino (2021),
traz também em sua pesquisa a pornografia e suas problemáticas, ressaltando a forma como a
mulher perde seu caráter de indivíduo, passando a representar apenas um objeto sexual, e como
as violências sofridas pelas mesmas são normalizadas em tais conteúdos. (p.1) Corroborando
com essas afirmativas D’Abreu (2013) apud Bispo (2017), cita que a forma mais grave de
representação da desigualdade de gênero aparece na pornografia através da violência contra a
mulher.
da tela”. Isso porque como apontado pela aprendizagem social quando há exposição ao
comportamento de outra pessoa o indivíduo pode ter seu comportamento afetado. Sobretudo,
se esse comportamento for socialmente aceito, sendo reforçados de acordo com as
consequências presentes. Em concordância, Prado (2021) ressalta que “emitir o mesmo
comportamento que outras pessoas aumenta a probabilidade de ser reforçado, o que poderá
explicar se o presente estudo constatar alguma tendência a reproduzir na prática sexual real o
que se assiste na pornografia”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista que a pornografia digital é uma fonte de informações bastante utilizadas pelos
jovens e que esses jovens a utilizam como referencial para suas relações sexuais. Essa pesquisa expõe a
problemática envolvida nessa questão. E ressalta a necessidade de maior atenção ao assunto, que é pouco
explorado no Brasil, levando a uma limitação na criação de propostas políticas e sociais no país
(TALISSA, 2021).
A maneira como cada indivíduo vivencia sua sexualidade é particular e engloba todos os fatores
biopsicossociais envolvidos no desenvolvimento do ser humano. Baumel, et al (2019) realizaram um
estudo com 20 brasileiros, sendo 10 homens e 10 mulheres entre 20 e 30 anos de idade, onde os
entrevistados de ambos os sexos relataram de modo semelhante os benefícios e prejuízos do uso de
materiais pornográficos, e sugeriram que características individuais podem ser elementos relevantes
neste tipo de investigação.
A pornografia digital estimula comportamentos violentos, a subordinação feminina (reforçando
a desigualdade de gênero) e traz uma perspectiva fantasiosa acerca de como ocorre as relações sexuais
na realidade. Portanto, afeta o comportamento sexual dos jovens de maneira majoritariamente negativa
(SÁ et al, 2021). Foi constatado que pessoas que consomem pornografia, independente do sexo,
possuem menos autoestima, mais insegurança e maior dificuldade com a prática sexual.
Os estudos produzidos até o momento apontam que formas de intervenção, prevenção
e mediação das consequências envolvidas no consumo da pornografia podem surgir de
discussões inseridas através de programas que envolvam a Educação Sexual seja nos períodos
escolares por meio da inserção da temática nos currículos escolares ou por meio de atividades
contraturno (BRANCALEONI; OLIVEIRA, 2016). Sendo o ambiente escolar o meio mais
propício para alcance de indivíduos de todas as idades e recortes sociais, e desconstrução de
ideias que de alguma forma, direta ou indiretamente, foram influenciadas pela pornografia.
REFERÊNCIAS
62
CAPÍTULO 7
BULLYING DE GÊNERO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: QUAL A
SAÍDA?
INTRODUÇÃO
Todas as pessoas nascem livres e com direitos e garantias, conforme garante o artigo
quinto da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, p. 1). Dessa feita, o valor atribuído à
pessoa humana, cuja base está nos direitos humanos, faz parte das garantias legais a todas as
pessoas (LAFER, 1988, p. 163).
Por outro lado, para que uma pessoa atinja uma vida digna, ela necessitará, além do
respeito, condições de trabalho que possam mantê-la em requisitos mínimos de sua vida, tais
65
como: moradia, alimentação, salário, segurança, entre outros. Percebe-se que a sociedade,
apesar das evoluções tecnológicas e sociais, ainda carrega o retrocesso no tocante ao gênero.
Em alguns casos, ocorre a exclusão da mulher de algumas categorias de trabalho, já
em outras, o salário é menor do que o recebido por homens. Esse fato gera desconforto e
indignação, pois uma pessoa altamente qualificada pode receber salário menor em função do
gênero.
De fato, essa igualdade constitucional passa por diversos questionamentos, pois o
direito ainda não conseguiu alcançar o fato social. Existe nesse caso um binômio a ser discutido:
a igualdade e a diferença. Assim, se as pessoas não fossem iguais, não haveria o entendimento
entre elas, mas, se não fossem diferentes, não necessitariam nem de palavras para travar
diálogos (LAFER, 1988, p. 209). No mesmo sentido:
[...] A história da mulher não é somente sobre sua opressão. É também uma
história de luta e resistência, na tentativa de banir preconceitos, recuperar sua
condição de vida como ser humano igual, autônomo e digno. Hoje, as
mulheres são a maioria da população brasileira. E como os homens
trabalham no campo ou nas indústrias, nos escritórios e órgãos públicos, são
empregadas ou empresárias e, por isso, merecem o mesmo respeito que o
homem (GITAHY, 2007, p. 74).
[...] Neste contexto, bem refutando a tese de que a dignidade não constitui um
conceito juridicamente apropriável e que não caberia — como parece sustentar
Habermas —, em princípio, aos juízes ingressar na esfera do conteúdo ético
da dignidade, relegando tal tarefa ao debate público que se processa
notadamente na esfera parlamentar, assume relevo a percuciente observação
de Denninger de que — diversamente do filósofo, para quem, de certo modo,
é fácil exigir uma contenção e distanciamento no trato da matéria — para a
jurisdição constitucional, quando provocada a intervir na solução de
determinado conflito versando sobre as diversas dimensões da dignidade, não
existe a possibilidade de recusar a sua manifestação, sendo, portanto,
compelida a proferir uma decisão, razão pela qual já se percebe que não há
como dispensar uma compreensão (ou conceito) jurídica da dignidade da
pessoa humana, já que desta — e à luz do caso examinado pelos órgãos
judiciais — haverão de ser extraídas determinadas consequências jurídicas,
muitas vezes decisivas para a proteção da dignidade das pessoas
concretamente consideradas (SARLET, 2007, p. 365).
Os direitos das mulheres enfrentam diversos obstáculos, de forma geral, todos eles são
regados pela discriminação. Como se uma mulher não pudesse assumir as cadeiras mais
66
O bullying é uma espécie de violência que pode ocorrer em diversos espaços sociais.
Um deles é a escola, mas nem sempre essa violência encerra após o período escolar, pois ele
retorna na universidade, nos programas de pós-graduação e no mercado de trabalho. No entanto,
qual a ligação do bullying com a violência doméstica?
Ocorre que o ciclo de violência atua como estimulante. Em outros termos, a criança
ou o adolescente que presencia violência doméstica em sua casa tenderá a replicar o ato. Essa
reprodução violenta e sem a mínima pacificação de conflitos pode gerar situações mais
complexas, uma delas é justamente o homicídio e o suicídio. A esse respeito:
Também outra ação executada pela Professora Dra. Heloísa Helena de Almeida
Portugal, em parceria com o Professor Michel Canuto de Sena, é o Laboratório de
Desenvolvimento Humano (LDH – UFMS). Este tem como missão, além da realização dos
cursos de extensão para os alunos e a população, a identificação de problemas sociais e a
resolução por meio de equipes multidisciplinares, ou seja, composta por profissionais do direito,
medicina, psicologia e educação.
Ainda, no Estado de Mato Grosso do Sul, a casa da mulher brasileira 21 é uma
instituição de proteção a mulheres e é conhecida como uma política pública de combate. Dessa
forma, desde a inauguração da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (IDEAM), o
atendimento direcionado às vítimas de violência doméstica começou a funcionar 24 horas por
dia, além do atendimento de segunda a segunda (DE CARVALHO; BERTOLIN, 2016, p. 78). O
objetivo é de atendimento a mulheres vitimizadas, além das providências jurídicas cabíveis.
Dessa feita:
Além disso, no ano de 2015, a Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande (MS)
inaugurou a primeira Vara Especializada em Medidas Protetivas e Execução de Penas do país.
A gestão é compartilhada, ou seja, a gestão está a cargo dos governos federal, estadual e
municipal e, ainda, das subsecretarias municipais de políticas para mulheres (SEMU) e da
prefeitura municipal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente ao exposto, todas as ações que são executadas por meio de leis ou até mesmo
por intermédio de universidades no combate à violência são eficazes, tendo em vista que se
cada pessoa fizer a sua parte, ou seja, denunciando e tentando de alguma forma ajudar a vítima,
o cenário pode mudar.
Os casos de bullying de gênero e violência doméstica aumentaram com a pandemia de
COVID-19, o que pode justificar? Justamente o cenário violento que é colocado dentro das
casas, fazendo que crianças e adolescentes presenciem atos de violência em um lar que deveria
ser a base de construção de afeto e pacificação.
Orgulhamo-nos pelos projetos que desenvolvemos juntamente com diversos Estados
e municípios no combate à violência. Dessa forma, a cada evento e a cada intervenção, temos
a certeza de que a caminhada é longa, mas o caminho em conjunto pelo bem comum é maior.
REFERÊNCIAS
SOBRE OS AUTORES
GRACIELE SILVA
Graduada em Direito, especialista e mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Saúde e
Desenvolvimento na Região Centro-Oeste da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS).
VANESSA CHRIST
Graduada em Matemática aplicada e computacional. Pós-graduada em gestão escolar.
Coordenadora Executiva de Ensino de Sidrolândia (MS).
CAPÍTULO 8
UBER E MOTORISTAS: uma relação em crise
INTRODUÇÃO
A UBERIZAÇÃO
73
com trabalhos sob demanda e remuneração por serviços. (IPEA, 2021, grifo
nosso).
Abílio (2017, grifo nosso) analisa com precisão a realidade vivenciada por milhões de
trabalhadores do país:
Até o presente momento, no entanto, não existe lei disciplinando a relação travada entre
os motoristas de aplicativos e as empresas que atuam através das plataformas e aplicativos.
Ao se cadastrarem como motoristas usuários da plataforma, cabe a eles tão somente
aderir aos termos de uso, elaborados de forma unilateral pela empresa. A relação travada entre
motoristas de aplicativos e Uber, aqui tomada como exemplo, é de natureza cível, como
esclarece os termos gerais de uso ao qual aderem os motoristas, em sua cláusula 2:
separado com você, os Serviços são disponibilizados para seu uso pessoal e
não comercial. VOCÊ RECONHECE QUE A UBER NÃO É
FORNECEDORA DE BENS, NÃO PRESTA SERVIÇOS DE
TRANSPORTE OU LOGÍSTICA, NEM FUNCIONA COMO
TRANSPORTADORA, E QUE TODOS ESSES SERVIÇOS DE
TRANSPORTE OU LOGÍSTICA SÃO PRESTADOS POR
PARCEIROS INDEPENDENTES, QUE NÃO SÃO
EMPREGADOS(AS) E NEM REPRESENTANTES DA UBER, NEM
DE QUALQUER DE SUAS AFILIADAS. (UBER, 2021, grifo nosso)
(BRASIL, 2021)
precarização. "É preciso que o Estado elabore regras específicas para esse
tipo de trabalho e que os direitos garantidos na Constituição de 1988
cheguem aos trabalhadores", observa Lima. (Revista
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA
LEI Nº 13.467/2017.
1. VÍNCULO DE EMPREGO. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR
QUE DENEGA SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. NÃO
DEMONSTRAÇÃO DO PREENCHIMENTO DOS PRESSUPOSTOS DE
ADMISSIBILIDADE DO RECURSO DE REVISTA. AUSÊNCIA DE
TRANSCENDÊNCIA. CONHECIMENTO E NÃO PROVIMENTO. I.
Fundamentos da decisão agravada não desconstituídos. II. Com relação ao
pedido de reconhecimento de “vínculo de emprego”, evidencia-se ter a Corte
Regional decidido a partir do exame da prova. Aplica-se a Súmula nº 126 do
TST. III. Agravo de que se conhece e a que se nega provimento, com aplicação
da multa de 2% sobre o valor da causa atualizado pela SELIC, em favor da
parte Agravada, com fundamento no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015. (BRASIL,
Tribunal Superior do Trabalho. (Ag-AIRR-101036-14.2017.5.01.0042, 4ª
Turma, Relator Alexandre Luiz Ramos, DEJT 01/10/2021 grifo nosso)
AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017.
VÍNCULO DE EMPREGO. MOTORISTA DE APLICATIVO. UBER.
AUSÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
RECONHECIDA. Conforme já exposto na decisão agravada, os elementos
constantes dos autos revelam a inexistência do vínculo empregatício, tendo
em vista a autonomia no desempenho das atividades do autor, a
descaracterizar a subordinação. Isso porque é fato indubitável que o
reclamante aderiu aos serviços de intermediação digital prestados pela
reclamada, utilizando-se de aplicativo que oferece interface entre motoristas
previamente cadastrados e usuários dos serviços. E, relativamente aos termos
e condições relacionados aos referidos serviços, esta Corte, ao julgar
processos envolvendo motoristas de aplicativo, ressaltou que o motorista
percebe uma reserva do equivalente a 75% a 80% do valor pago pelo usuário.
O referido percentual revela-se superior ao que esta Corte vem admitindo
como bastante à caracterização da relação de parceria entre os envolvidos,
uma vez que o rateio do valor do serviço em alto percentual a uma das partes
evidencia vantagem remuneratória não condizente com o liame de emprego.
Precedentes. Ante a improcedência do recurso, aplica-se à parte agravante a
multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC. Agravo não provido, com
imposição de multa" (BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Ag-AIRR-
1001160-73.2018.5.02.0473, 5ª Turma, Relator Ministro Breno Medeiros,
DEJT 20/08/2021, grifo nosso).
RECURSO DE REVISTA OBREIRO - VÍNCULO DE EMPREGO ENTRE
O MOTORISTA DE APLICATIVO E A EMPRESA PROVEDORA DA
PLATAFORMA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (UBER) -
IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DIANTE DA AUSÊNCIA
DE SUBORDINAÇÃO JURÍDICA - TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
RECONHECIDA - RECURSO DESPROVIDO. 1. Avulta a transcendência
jurídica da causa (CLT, art. 896-A, § 1º, IV), na medida em que o pleito de
reconhecimento do vínculo de emprego envolvendo os recentes modelos de
contratação firmados entre motoristas de aplicativo e empresas provedoras de
plataformas de tecnologia por eles utilizadas ainda é nova no âmbito desta
Corte, demandando a interpretação da legislação trabalhista em torno da
questão. 2. Ademais, deixa-se de aplicar o óbice previsto na Súmula 126 desta
Corte, uma vez que os atuais modelos de contratação firmados entre as
79
que não acarreta violação do disposto no art. 1º, III e IV, da Constituição
Federal . VII. Agravo de instrumento de que se conhece e a que se nega
provimento. (BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. AIRR-10575-
88.2019.5.03.0003, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT
11/09/2020, grifo nosso).
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
MOTORISTA DE APLICATIVO. AUTONOMIA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. VÍNCULO EMPREGATÍCIO NÃO CONFIGURADO. O
Tribunal Regional consignou que os elementos dos autos demonstram
autonomia do reclamante na prestação dos serviços, especialmente pela
ausência de prova robusta acerca da subordinação jurídica. Ademais, restando
incontroverso nos autos que, " pelos serviços prestados aos usuários, o
motorista do UBER, como o reclamante aufere 75% do total bruto arrecadado
como remuneração, enquanto que a quantia equivalente a 25% era destinada
à reclamada (petição inicial - item 27 - id. 47af69d), como pagamento pelo
fornecimento do aplicativo ", ressaltou o Tribunal Regional que, " pelo critério
utilizado na divisão dos valores arrecadados, a situação se aproxima mais de
um regime de parceria, mediante o qual o reclamante utilizava a plataforma
digital disponibilizada pela reclamada, em troca da destinação de um
percentual relevante, calculado sobre a quantia efetivamente auferida com os
serviços prestados ". Óbice da Súmula nº 126 do TST. Incólumes os artigos
1º, III e IV, da Constituição Federal e 2º, 3º e 6º, parágrafo único, da CLT.
Agravo de instrumento conhecido e não provido (BRASIL, Tribunal Superior
do Trabalho. AIRR-11199-47.2017.5.03.0185, 8ª Turma, Relatora Ministra
Dora Maria da Costa, DEJT 31/01/2019, grifo nosso).
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INCIDENTE MANEJADO
SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.
REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS AJUIZADA POR
MOTORISTA DE APLICATIVO UBER. RELAÇÃO DE TRABALHO
NÃO CARACTERIZADA. SHARING ECONOMY. NATUREZA
CÍVEL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ESTADUAL. 1. A competência
ratione materiae, via de regra, é questão anterior a qualquer juízo sobre outras
espécies de competência e, sendo determinada em função da natureza jurídica
da pretensão, decorre diretamente do pedido e da causa de pedir deduzidos em
juízo. 2. Os fundamentos de fato e de direito da causa não dizem respeito
a eventual relação de emprego havida entre as partes, tampouco veiculam
a pretensão de recebimento de verbas de natureza trabalhista. A
pretensão decorre do contrato firmado com empresa detentora de
aplicativo de celular, de cunho eminentemente civil. 3. As ferramentas
tecnológicas disponíveis atualmente permitiram criar uma nova modalidade
de interação econômica, fazendo surgir a economia compartilhada (sharing
economy), em que a prestação de serviços por detentores de veículos
particulares é intermediada por aplicativos geridos por empresas de
tecnologia. Nesse processo, os motoristas, executores da atividade, atuam
como empreendedores individuais, sem vínculo de emprego com a
empresa proprietária da plataforma. 4. Compete a Justiça Comum
Estadual julgar ação de obrigação de fazer c.c. reparação de danos
materiais e morais ajuizada por motorista de aplicativo pretendendo a
reativação de sua conta UBER para que possa voltar a usar o aplicativo
e realizar seus serviços. 5. Conflito conhecido para declarar competente
a Justiça Estadual. (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. CC nº 164544 /
MG (2019/0079952-0, Segunda Seção, Relator Ministro Moura Ribeiro, DJE
04/09/2019, grifo nosso).
82
Tal convencimento parece, ainda, se encontrar em harmonia com aquele que já foi
exposto pelo Supremo Tribunal Federal, como explica Pinheiro e Veiga (2021, grifo nosso):
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que observe as especificidades desta atividade e que seja capaz de lhes conferir segurança
jurídica no exercício de seus misteres e nos momentos de infortúnios, como doença,
incapacidade, acidentes de trabalho.
E que fique claro: a ausência do reconhecimento de uma relação empregatícia não
implica em exclusão da responsabilidade das empresas que exploram o transporte por
aplicativos em relação aos seus motoristas parceiros, é preciso se estabelecer clara e legalmente
os limites desta responsabilidade.
REFERÊNCIAS.
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BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.
Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 01 mai. 1943. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 25 nov. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.640, de 23 de março de 2018. Altera a Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, para
regulamentar o transporte remunerado privado individual de passageiros. Brasília, DF: Presidência da
República, [2018]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/l13640.htm. Acesso em: 24 nov. 2021.
BRASIL. Projeto de lei nº 3055, de 01 de setembro de 2021. Altera a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 para dispor sobre as
relações de trabalho entre as empresas operadoras de aplicativos ou outras plataformas eletrônicas de
comunicação em rede e os condutores de veículos de transporte de passageiros ou de entrega de bens
de consumo, e dá outras providências. Brasília, DF: Senado Federal, [2021]
Disponível em: https://www.congressonacional.leg.br/materias/materias-bicamerais/-/ver/pl-
3055-2021. Acesso em: 26 nov.2021
CALCINI, R.; LEPPER, F.A.O. As relações jurídicas uberizadas e os efeitos trabalhistas. Revista
eletrônica Consultor Jurídico, 01 abr. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-abr-
01/pratica-trabalhista-relacoes-juridicas-uberizadas-efeitos-trabalhistas.
MPT ajuíza ACPs pedindo vínculo entre aplicativos e trabalhadores. Revista Consultor Jurídico, 08
nov.2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-nov-08/mpt-ajuiza-acps-pedindo-vinculo-entre-aplicativos-
trabalhadores. Acesso em: 24 nov. 2021.
Uber do Brasil Tecnologia Ltda. Termos Gerais de uso, última atualização em19/07/2021. Disponível
em: https://www.uber.com/legal/pt-br/document/?country=brazil&lang=pt-br&name=general-
terms-of-use. Acesso em: 25 nov. 2021
PINHEIRO, L.A.; VEIGA, M.F.C. STF diz: Justiça do Trabalho é incompetente para reconhecer
vínculo de emprego. Revista Consultor Jurídico, 14 abr. 2021. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-abr-18/veiga-pinheiro-stf-competencia-justica-trabalho. Acesso em
27 nov. 2021
1,4 milhão de entregadores e motoristas no Brasil estão na Gig economy. Instituto de Pesquisa
Econômica aplicada, 07 out. 2021. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=38565&cat
id=3&Itemid=3. Acesso em: 28 nov. 2021
CAPÍTULO 9
INTRODUÇÃO
humanidade, pois facilita a vida das pessoas, por exemplo, a velocidade para se comunicar; ler
informações interessantes; ter novas ideias fazer ou realizar negócios; aproximar pessoas;
encontrar amigos, familiares, colegas de trabalho e até relacionamento afetivo (MISKOLCI,
2011, p. 11).
No mesmo sentido, outras ferramentas utilizadas são vídeos e texto, por meio de
dispositivo eletrônico, com cunho informativo ou despretensioso, eles podem ser utilizados para
mobilizar as pessoas com uma velocidade inestimável e podem trazer benefícios ou malefícios.
Por exemplo, as recentes manifestações em redes sociais que mobilizam pessoas para
reivindicar direitos próprios ou direitos de outros (MISKOLCI, 2011, p. 14). No mesmo
sentido:
Assim, uma das ferramentas usuais eram os aparelhos celulares, cuja função era
somente de realizar chamada, mas com a evolução das tecnologias novas funções surgiram e,
com elas, novas possibilidades de aproximação (KENSKI, 2003, p. 32). Esse movimento traz à
tona um novo tipo de comunicação, que mormente eram dominadas apenas pelos meios de
comunicação remota, por exemplo, rádio, televisão, mídias sociais dentre outros.
Verifica-se que as mídias sociais representam a evolução dos meios de
comunicação, aproximando as pessoas umas das outras, tanto profissionalmente quanto nas
relações interpessoais e institucionais (KENSKI, 2003, p. 34). Desta forma, as relações sociais
passam por momentos de fragilidade, tendo em vista que a Internet, ao mesmo tempo que traz
o avanço, por outro lado, traz o retrocesso por meio de ações ofensivas, ataques verbais e
sexuais regados de violência e, ainda, a violação dos direitos fundamentais da mulher, a título
de exemplo, direito à imagem, direito ao próprio corpo, direito à liberdade e, sobretudo, as
condições mínimas de uma vida digna em sociedade.
Os direitos fundamentais da mulher são mecanismos invioláveis que não podem ser
corrompidos. No meio virtual, apesar da liberdade de expressão, existem limitações sobre as
manifestações que, em muitos casos, tornam-se verdadeiros ataques. Uma das vítimas é
justamente a mulher que, independentemente de sua classe social, de sua formação e de sua
capacitação, sofre violações dos seus direitos basilares. Assim, a infância, o desenvolvimento
da fase adulta, o casamento e o trabalho, em uma visão machista e enraizada, colocam a mulher
em posição de um ser inferior (NUNES; COSTA, 2020, p. 5).
No mundo virtual, duas formas de violência vêm se destacando, sendo elas, a
pornografia de vingança e o cyberbullying, também conhecido como cybervingança. Esta
modalidade ocorre com a disseminação de comentários discriminatórios ou compartilhamento
de vídeos, fotos, imagens íntimas e outros meios que são utilizados para a vingança
pornográfica. Assim esta exposição pode tomar uma proporção desenfreada, ganhando força e
alcançando centenas de sites e milhares de pessoas em um curto período (NUNES; COSTA,
2020, p. 7).
Por mais que na Constituição Federal de 1988 estejam assegurados, no artigo
quinto, estes direitos fundamentais: direito à inviolabilidade da intimidade, à vida privada, à
honra e à imagem das pessoas, lamenta-se, cresce o número de mulheres que têm sua intimidade
violada. Por outro lado, estes casos de exposição da mulher na forma digital, além do
crescimento, trazem outro dado alarmante, pois, na maioria dos casos, o autor ou a autoria
envolve pessoas próximas à vítima (NUNES; COSTA, 2020, p. 6).
Esses casos de exposição da mulher por fotos ou vídeos íntimos, publicados na rede,
têm crescido alarmantemente e são provocados, frisa-se, por pessoas bem próximas à vítima,
ou seja, por parceiros que não aceitam o fim do relacionamento e procuram atingir a integridade
física, moral e psicológica (CAVALCANTE; LELIS, 2016, p. 60).
Após a divulgação das imagens íntimas, a interatividade proporciona um
julgamento moral em que milhares de pessoas desconhecidas comentam as imagens,
compartilham e promovem um ciclo de violência contínua às vítimas, que não atinge
supostamente apenas a uma vida virtual, mas sobretudo a sua vida real, no seu cotidiano, por
meio de humilhações e ameaças virtuais ou físicas (CAVALCANTE; LELIS, 2016, p. 62).
Por se tratar de um fenômeno novo, as ferramentas disponibilizadas ainda são
insuficientes para este tipo de agressão qualificada. Muitas vítimas não conseguem reagir
mediante a humilhação dos fatos, além da falta de apoio das pessoas próximas, da ausência de
leis com maiores abrangências e métodos que possam efetivamente punir autores
(CAVALCANTE; LELIS, 2016, p. 63). Isso pode provocar uma sensação de impunidade que
90
acaba por levar a vítima a terríveis momentos, não conseguindo enfrentar os familiares nem a
sociedade, pois essa ação de exposição da sua intimidade é algo irreversível, é um fardo que a
vítima terá de levar para a sua vida e com desfechos muitas vezes irreparáveis, como o suicídio.
A esse respeito, segue:
[...] Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio,
conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e
privado sem autorização dos participantes: (Incluído pela Lei nº 13.772, de
2018).
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em
fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa
em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo (BRASIL,
1940, p. 1).
mantinham relação afetiva; ou, de forma ainda mais violenta, expor imagens de atos perpetrados
contra a vítimas, muitas vezes estupros coletivos, tendo autores do crime eletrônico participado
ou assistido ao evento criminoso (SENA et al., 2020, p. 47).
O fato é que é impossível não reconhecer o avanço tecnológico, mas também a
discrepância na demora da legislação para prevenir e punir a violência sexual cometida contra
as mulheres nas mídias sociais. É importante salientar que, com o avanço tecnológico, não se
abandonaram as raízes patriarcais (SENA et al., 2020, p. 49).
Percebe-se que os criminosos são as mesmas pessoas da sociedade que fazem uso
da Internet, ou seja, a que a pessoa é na sua essência, no seu cotidiano social é o que a pessoa é
no mundo virtual, podendo ser chamado de um patriarcado contemporâneo ou moderno, em
que se transfere para o mundo virtual a relação desigual entre homens e mulheres, resultando
na opressão e exploração das mulheres, tendo em vista a demora em se criar punições que as
protejam da naturalização da violência virtual (DELFINO; DE PINHO NETO; DE SOUZA,
2019, p. 12).
As mídias sociais revelam ainda outros aspectos dos seres humanos, a sensação de
segurança e anonimato que o computador ou smartphone dá para quem fica por detrás dele, o
que agrava ainda mais o cenário virtual. A intimidação e a violência na Internet, utilizadas
geralmente pelas redes sociais, expõem a todo o tempo as mulheres. Em geral, o ex-
companheiro é envolvido nos atos violentos que podem gerar para a vítima situações
constrangedoras, por exemplo humilhações, ameaças e até mesmo o homicídio qualificado
(DELFINO; DE PINHO NETO; DE SOUZA, 2019, p. 13).
É importante enfatizar que a sexualidade da mulher ainda é vista pela sociedade
como um tabu. Desta feita, a mulher ainda carrega o estigma de servir sexualmente ao homem,
destinada aos serviços doméstico e à função de ser mãe independentemente de sua vontade
(DELFINO; DE PINHO NETO; DE SOUZA, 2019, p. 15). Esses fatores, além de trazerem
indignações, colocam em risco não somente a geração da mulher discriminada e excluída, mas
sim diversos ramos. Dentre eles, a educação, que necessita ser igualitária; a política que sofre
com disparidade, local predominantemente dominado por homens e a desigualdade salarial que
não possui parâmetros legais para justificar esta injustiça, sobretudo a igualdade de gêneros.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226, dispõe que o Estado tem o dever
de assegurar assistência à família e às pessoas integrantes dela. Ainda, tem o objetivo de garantir
92
mecanismos para uma vida pacificada e livre de conflitos, sobretudo de atos violentos
(BRASIL, 1988, p. 1).
A violência contra a mulher surge justamente para fortalecer uma cultura machista
e violenta, colocando a mulher em posição de vulnerabilidade. Por outro lado, além da garantia
constitucional, a lei n. 11.340 de 2006 surgiu como uma forma não somente de conscientizar as
pessoas, mas também de punir agressores (BRASIL, 2006, p. 1).
A lei Maria da Penha tutela os atos de violência física, psicológica, patrimonial,
moral e sexual. Essa ferramenta permite que a mulher, em caso de violação de seus direitos
fundamentais, recorra a uma legislação. Importante destacar que esta proteção, apesar de ser
apresentada como um avanço legislativo, ao mesmo tempo representa um retrocesso social, pois
a mulher que, assim como o homem, nasceu para ser uma pessoa dotada de direitos, passa
constantemente por atos que não somente agridem o seu corpo, mas colocam em risco todo o
seu desenvolvimento (DIAS, 2015, p. 64).
Percebe-se que todo mecanismo jurídico é dotado de um fato social e tem como
objetivos a prevenção, a assistência e políticas públicas em defesa das mulheres. Esse avanço
legislativo coloca em pauta um questionamento: Até quando o machismo vai servir para
justificar agressões?
Ainda sobre a lei Maria da Penha, foram criadas diversas ferramentas para
afastar ou comunicar os atos violentos. A título de exemplo, o aplicativo Maria da Penha,
desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o objetivo de agilizar e ofertar
medidas protetivas de urgência para as mulheres em situação de perigo, residentes no Rio de
Janeiro (DIAS, 2015, p. 67).
O aplicativo pode ser acessado por meio do link:
https://www3.tjrj.jus.br/mariapenhavirtual/, possibilitando assim menor contato com a vítima e com o
agressor. Vale lembrar que o Brasil passa por crises econômicas, esse fator pode levar, em
alguns casos, a dificuldades com relação à alimentação, vestimentas, moradia e a ausência de
uma ferramenta indispensável para a utilização do aplicativo, ou seja, o acesso a um dispositivo
eletrônico e acesso à Internet, pois é sabido que, além da vulnerabilidade, as
questões socioeconômicas podem impedir a utilização dessa ferramenta (ELIAS;
MACHADO, 2015, p. 90).
Outra ferramenta é o botão do pânico. Trata-se de um dispositivo no combate à
violência doméstica que, quando acionado em situações de iminente agressão, o equipamento
emite um sinal de alerta para que a vítima seja socorrida. Apesar de ser uma ferramenta eficaz,
ainda não é utilizada em todo o território brasileiro. O dispositivo é utilizado nos Tribunais de
93
Justiça do Espírito Santo, São Paulo, Paraíba, Maranhão e Pernambuco, mas se percebe que os
demais Estados ainda não contam com essa ferramenta (DE CAMPOS; TAVARES, 2018, p.
397). No mesmo sentido:
Dessa feita, o botão do pânico poderia ser utilizado em todo território brasileiro com
dois objetivos: inibir agressores e encorajar as mulheres em situação de sensibilidade e
vulnerabilidade a retornarem às suas rotinas. De tal modo, a mulher que não tem tranquilidade
para exercer sua vida livremente passa constantemente por um processo de tortura física e
psicológica. Assim, espera-se que os demais Estados possam adotar essa ferramenta eficaz (DE
CAMPOS; TAVARES, 2018, p. 402).
Outra ferramenta que pode ser utilizada é a lei n. 13.185 de 2015, conhecida como
Lei de Bullying. A intimidação sistemática é uma das formas de violência e a presente legislação
dispõe de diversos verbetes, tais como intimidação, humilhação e discriminação. Ocorre que o
bullying também pode ser cometido em função de gênero, ou seja, os atos violentos e
intimidatórios contra a mulher (BRASIL, 2015, p. 1).
A presente lei não dispõe de atos que possam reeducar o agressor, bastando somente
do texto da lei passagem como diagnóstico e prevenção (BRASIL, 2015, p. 1). Talvez, a dor de
uma agressão não possa ser direcionada em um texto de lei, mas a ausência de regulamentação
e aprofundamento desse mecanismo faz que a vítima passe por isolamentos intermináveis
e, em muitos casos, passa por uma idealização suicida ou suicídio consumado.
Neste compasso, tem-se a necessidade, por meio da lei, de mudar a cultura de
tratamento dado à mulher, porque, de certo modo, ao sentirem-se repreendidos, os indivíduos
tendem a mudar seu comportamento. O rigor legislativo é apenas um ponto de partida para
94
abolir a violência contra a mulher e efetivar a proteção à mulher vítima de violência doméstica,
uma vertente forte da violência de gênero que vem se expandindo nas mídias sociais (BORGES;
LUCCHESI, 2015, p. 219).
Como um início da mudança legislativa e, consequentemente, cultural no
tratamento dado a mulher, será possível iniciar um novo processo social de igualdade de gênero,
porém ainda há de se reconhecer que demandará um longo caminho a ser percorrido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
95
BRASIL. Lei n. 12.737, de 30 de novembro de 2012. Dispõe sobre a tipificação criminal de delitos
informáticos; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; e dá
outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12737.htm. Acesso em: 26 nov. 2021.
BRASIL. Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o Código Penal. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm. Acesso em: 26 nov. 2021.
BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Dispõe sobre a Lei Maria da Penha. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 26 nov. 2021.
DELFINO, Samyr Santos; DE PINHO NETO, Júlio Afonso Sá; DE SOUSA, Marckson
Roberto Ferreira. Desafios da sociedade da informação na recuperação e uso de informações
em ambientes digitais. RDBCI: Revista Digital De Biblioteconomia E Ciência Da
Informação, v. 17, p. 1 - 16, 2019.
DIAS, Maria Berenice. Lei Maria da penha. São Paulo: Ed. Revistas dos Tribunais, 2015.
ELIAS, Maria Lígia Granado; MACHADO, Isadora Vier. A construção social da liberdade e
a Lei Maria da Penha. Revista Sul-Americana de Ciência Política, v. 3, n. 1, p. 88-109,
2015.
SENA, Michel Canuto de. et al. Mediação de conflito escolar como ferramenta de prevenção
ao bullying: ação em saúde pública. Multitemas, p. 45-69, 2020.
SOBRE OS AUTORES
MARCELO CIPRIANO DO NASCIMENTO
Graduado em direito pela Universidade de Franca (SP). Especialista em direito constitucional,
penal e processo penal (Damásio).
CAPÍTULO 10
O USO DE AGROTÓXICO NO SÍTIO RIACHO DO UMBUZEIRONO
MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO–PE
INTRODUÇÃO
na agricultura brasileira que se desenvolve num cenário econômico, social, ideológico e cultural
caracterizado pela intensa concentração fundiária, pelo aumento da produtividade, de
monoculturas, pela inclusão de tecnologias mecanizadas e o intensivo uso de agrotóxicos nas
lavouras com grande impacto sobre a saúde humana e ambiental. O terceiro capitulo caracteriza
o estudo de caso, com analise do objeto do estudo, envolvendo os efeitos dos agrotóxicos sobre
a saúde dos trabalhadores rurais que podem ser de diversas formas, por estarem expostos
diretamente a estes produtos, já que eles estão convivendo com todo tipos de exposição possível
aos agrotóxicos, desde o manuseio até o consumo de alimentos contaminados, podendo causar
sérios problemas de saúde de uma intoxicação até um tumor cancerígeno. Mas, os agroquímicos
têm como finalidade beneficiar o cultivo através do aumento da produção agrícola e eliminar
as pragas e ervas invasora.
METODOLOGIA
JUSTIFICATIVA
99
Este trabalho e de grande relevância, pois tendo em vista toda a “problemática” dos
agrotóxicos na agricultura, sendo utilizado anualmente em alta escala pelos agricultores sem
nenhuma proteção segura, nem fiscalização dos órgãos competente. A importância do tema se
baseia no fato de que, os trabalhadores rurais, em sua maioria, não têm o conhecimento básico
sobre os riscos que os agrotóxicos oferecem a sua saúde, nem projetos de políticas públicas
voltadas para o desenvolvimento de ações alternativas, assim, surgiu à necessidade de realizar
está pesquisa como uma forma de contribuição e transformação na vida dos trabalhadores rurais
do sítio riacho do umbuzeiro município de São João - PE.
A pesquisa é expressiva, porque pode ser modificado o modelo de produção agrícola do
Sítio Riacho do Umbuzeiro através de uma conscientização aos agricultores do município
mostrando a sua realidade, em relação aos riscos à sua saúde, na exposição aos agrotóxicos,
promovendo o uso de alternativas e práticas ecologicamente corretas na produção agrícola. O
objetivo desta análise constitui em prevenir o trabalhador rural contra intoxicação e acidentes
que podem colocar sua vida em risco durante o manuseio dos agrotóxicos, determinando
práticas e estratégias de educação e informação que mobilizem os trabalhadores rurais na
discussão da questão da utilização dos agrotóxicos como uma forma de aprendizagem
constituindo em aprendizado, podendo assim contribui para uma vida mais saudável, reduzindo
os custos de produção das lavouras com o uso racional dos agrotóxicos e oferecendo alimentos
seguros à sociedade, e cuidando da preservação do meio ambiente.
Esse trabalho buscou agrega conhecimento aos trabalhadores rurais numa visão
esclarecedora, buscando trazer informações precisas e valiosas para delinear o caminho do
desenvolvimento sustentável do município analisando as informações estudadas; e formulando
sugestões e estratégias de desenvolvimento que possibilite o fortalecimento da economia da
região. Após as análises e interpretação dos resultados da pesquisa, este trabalho culminará
como uma relevância de estudo e de conhecimento para a sociedade. Pois, a pesquisa
contribuirá para o “conhecimento” e para sociedade, onde subsidiará o conhecimento científico
já existente, e para a sociedade de maneira geral, especificamente na sua prática, de trabalho
agrícola. E que possa ser uma contribuição futura para outras pesquisas.
O município de São João divide-se em duas regiões com aspectos físicos caracterizados
por: Mata e Agreste, a área da Mata destaca-se pela pecuária bovina, a criação de gado para
100
corte, leite e a plantação de hortaliças por ser uma região fitogeográfica úmida e a área do
Agreste que se insere como o maior centro produtor de feijão do Estado de Pernambuco.
Leg
enda:
São João-PE
Área do Agreste
três variedades predominantes, estendendo-se até junho. Havendo novo plantio de feijão de
corda no segundo semestre, entre julho e setembro. A colheita do plantio realizado no primeiro
semestre ocorre entre os meses de julho e setembro, enquanto, há do segundo semestre ocorre
entre os meses de outubro e dezembro, conforme mostra a Tabela abaixo.
OUTROS
TIPOS DE FEIJÃO
PLANTIO COLHEITA
Fonte: Tabela organizada Por Maria do Carmo a partir de dados coletados no IPA.
algum tipo de receio para acessar esses créditos do governo, por falta de conhecimento e de
interesses bnos programas governamentais. De acordo com o IPA os transgênicos têm como
objetivo deixar a planta resistente às pragas, e produzir mais a partir da modificação genética
da semente utilizando principalmente agrotóxicos diretamente na semente alterando assim a
estrutura biológica da planta. O agricultor moderno, aquele que tem acesso a novas tecnologias
no exercício da atividade agrícola, ainda conta com uma importante ferramenta: a informação,
que passou a ser rápida e cientificamente fundamentada, para o produtor produzir cada vez
mais. No Sítio Riacho do Umbuzeiro no período de plantio sempre têm encontro de
representantes do IPA com os agricultores para explicar quais e como ter acesso aos tipos de
créditos que estão disponíveis, além de informar o melhor período para o plantio através de
estudos feitos tanto no clima como no solo.
Os principais programas desenvolvidos pelo IPA para beneficiar o plantio dos
produtores do município de São João são: distribuição de sementes de feijão para plantio;
programa terra pronta através da aração de terras com dispensa de custos, liberação de crédito
rural para a agricultura familiar pelo PRONAF, assistência técnica a agricultores, instalação de
beneficiamento de feijão pelo Pro rural para favorecimento de famílias, seguro safra que protege
de riscos causados por adversidades climáticas. Faz ainda, pesquisa através de testes no feijão
para melhoramento genético da semente com o objetivo de aumentar a produção, por meio de
um campo experimental de sementes de feijão e na unidade demonstrativa da mandioca.
Segundo o IPA, localizado no município de São João – PE, o tipo de agricultura predominante
no Sítio Riacho do Umbuzeiro, é o modelo convencional, caracterizada pelo uso intensivo de
agrotóxicos nas lavouras cultivadas e utilização de tecnologia mecanizada para plantio e
colheita. A agricultura convencional caracterizada pelo intensivo uso de agrotóxicos nas
plantações cultivadas no Sítio Riacho do Umbuzeiro visa acima de tudo á produção, deixando
em segundo plano a preocupação com a conservação do meio ambiente e a qualidade nutricional
dos alimentos. De acordo com informações coletadas no IPA, o próprio município faz o
melhoramento genético das sementes (transgênicos), através do Instituto Agronômico de
Pernambuco da cidade de São João. As plantas escolhidas para o melhoramento genético
geralmente são as que melhor respondem à adubação mineral e aos agrotóxicos. Os testes são
feitos, no campo experimental de sementes de feijão e na unidade demonstrativa da mandioca
localizados no município de são João.
Este processo tecnológico dos transgênicos faz com que seja necessária a aplicação
frequente de adubos químicos e agrotóxicos na lavoura, ocasionando desequilíbrio natural no
solo.
104
O uso dos agrotóxicos no mundo deu-se com a Revolução Verde que aconteceu na
década de 1940, e trouxe grandes mudanças no processo tradicional de produção agrícola
mundial, com aplicação e inserção de novas tecnologias visando o uso intensivo de agrotóxicos
105
apareceram devido ao uso extensivo dos agrotóxicos que proporcionou grandes danos
ambientais tais como impactos ambientais provocados pelo uso de máquinas e fertilizantes
químicos, como agrotóxicos fungicidas e herbicidas. No Brasil, a Revolução Verde foi
implantada durante a ditadura militar. Nesta época havia uma grande discussão a respeito do
caminho que o país deveria seguir para conseguir aumentar a sua produtividade agrícola.
A revolução verde surgiu no Brasil na década de 1960 a 1970, constituiu-se por meio
da determinação das fábricas de agrotóxicos e do governo nacional, a partir do financiamento
bancário para adquirir as sementes só seria concedido apenas se o agricultor adquirisse o
agrotóxico e o adubo químico, onde se pregava o desenvolvimento tecnológico e o fim da fome,
por meio dos agroquímicos. Mas essa atitude resultou em contaminação do solo e a fome não
acabou. A inserção de tecnologias no setor agrícola trouxe profundas mudanças para o campo.
No entanto, também ocorreram grandes consequências principalmente para os pequenos
agricultores que, por não conseguirem se adaptar às novas técnicas de produção, não atingiram
uma produtividade suficiente capaz de disputar com as grandes empresas agrícolas, contraindo,
portanto, dívidas através de empréstimos bancários feitos com a pretensão de investir na
mecanização das atividades tendo, desta maneira, como única alternativa, vender suas terras
para outros proprietários agrícolas, formando assim os grandes latifúndios. Houve sim o
aumento da produção agrícola. Mas o problema da fome não foi resolvido, pois a produção nos
países em desenvolvimento é voltada principalmente para países já desenvolvidos e com fortes
indústrias.
Esse ciclo de inovações se iniciou com os avanços tecnológicos do pós-guerra, embora
o termo revolução verde só tenha surgido na década de 1970. Desde esta época,
pesquisadores de países industrializados prometiam, através de um conjunto de técnicas,
aumentar estrondosamente as produtividades agrícolas e resolver o problema da fome
nos países em desenvolvimento (SANTOS, 2006, p. 02, Apud Gaspi, Lopes, 2007).
De acordo com a Lei nº 8.629/93, no art. 4º, II, o módulo fiscal é o parâmetro
para a classificação fundiária do imóvel rural quanto a sua dimensão, sendo
entendido como minifúndio o imóvel rural de área inferior a 1 (um) módulo
fiscal; pequena propriedade o imóvel rural de área compreendida entre 1 (um)
e 4 (quatro) módulos fiscais; média propriedade aquele de área compreendida
entre 4 (quatro) e 15 (quinze) módulos fiscais; e grande propriedade com área
superior a 15 (quinze) módulos fiscais.
Módulo fiscal é à área mínima necessária em uma propriedade rural para que sua
exploração seja economicamente viável. A agricultura familiar pode ser definida como o
conjunto das unidades produtivas agropecuárias com exploração em regime de economia
familiar, compreendendo aquelas atividades realizadas em pequenas e médias propriedades,
com mão de obra da própria família. A agricultura familiar corresponde a uma unidade de
produção agrícola onde propriedade e trabalhos estão profundamente ligados à família, ou seja,
os empreendimentos familiares tendo duas características principais: administração e trabalho
familiar. No Brasil, de acordo com Gehlen (2004, p.03), “parte da agricultura familiar
modernizou-se, incorporando tecnologias e entrando num mercado de competitividade e de
profissionalização”.
Segundo o Censo da Agricultura Familiar realizado pelo IBGE em 2006, a produção
total agrícola nordestina conta com a forte contribuição da agricultura familiar. 92,7% do total
de estabelecimentos rurais do Nordeste pertence a este segmento. Este dado quando
confrontado com a média nacional, que é de 87,5% dos estabelecimentos rurais, mostra como
a agricultura familiar é forte na região. Apenas uma pequena parte dos agricultores do
município de São João utilizam tecnologias como: sementes selecionadas, análise do solo,
plantio e colheita mecanizada, na produção do feijão e da mandioca. Essa tecnologia é acessível
primordialmente aquele agricultor que tem maior quantidade de terras para plantio de feijão e
mandioca, facilitando o cultivo das lavouras e consequentemente aumentando a produção
agrícola em números significativos. O pouco acesso nas modernas tecnologias pelos pequenos
produtores deve-se talvez à falta de interesse e, sobretudo aos custos que ainda são altos neste
tipo de tecnologia. De acordo com informações coletadas diretamente na sede do Instituto
109
Feijão 3 Meses
Mandioca 15 Meses
Milho 4 Meses
É de suma relevância salientar que, o tempo de plantação e de colheita de cada uma das
culturas mencionada acima, não é determinado especificamente pelos produtores rurais, e sim,
pelos fatores climáticos que influenciam no desenvolvimento e tamanho da produção. A
pequena produção do Sítio Riacho do umbuzeiro tem características diversificadas, com o
cultivo de lavouras como feijão, mandioca e milho. Tendo o feijão como a principal base da
economia, obtendo, assim, uma significativa importância e representação, econômica e social,
compondo o cenário do município de maior produtor de feijão do Estado.
110
Fonte: Organizado por Maria do Carmo a partir de informações coletadas dos produtores rurais.
tornando menos produtivo pelo uso indiscriminado de agrotóxicos na produção agrícola, além
de deixar as culturas contaminadas pelos resíduos dos agrotóxicos. Os efeitos dos agrotóxicos
sobre a saúde dos trabalhadores rurais podem ser de diversas formas, por estarem expostos
diretamente a estes produtos, já que eles estão convivendo com todo tipos de exposição possível
aos agrotóxicos, desde o manuseio até o consumo de alimentos contaminados, podendo causar
sérios problemas de saúde de uma intoxicação até um tumor cancerígeno.
As exposições que os produtores estão sujeitados durante a pulverização podem,
influenciar nas manifestações agudas e crônicas pela falta do equipamento de proteção
individual (EPIs) e principalmente por falta de noção da realidade do perigo que ele está
vulnerável durante esse processo. Os fatores de vulnerabilidade que influenciam ao uso dos
agrotóxicos são: O sexo masculino, seguidos pelo perfil socioeconômico e baixa escolaridade
são as causas que contribuíram para que os agricultores, mesmo com a incidência de
intoxicação, ainda fazem uso destes produtos tóxicos frequentemente. Essas causas são
adotadas por falta de informação técnica e pela questão cultural.
Figura 06: Trabalhador rural do sítio Riacho do Umbuzeiro pulverizando a lavoura de feijão sem o EPI.
ainda não está bem estabelecida devido à falta de informação, tomando, como referência, que
os recursos naturais se esgotam e que o homem é o principal responsável pela sua degradação
e os efeitos nocivos na sua saúde. A população do Sítio Riacho do Umbuzeiro pode ainda não
ter percebido os efeitos maléficos de forma mais agravada dos agrotóxicos, mas no futuro
poderá sentir todas as consequências de ter se exposto aos seus efeitos como: impactos no meio
ambiente que já são perceptíveis e principalmente na saúde da população do Sítio. A falta de
informações no que diz respeito às consequências mais graves na saúde do trabalhador rural é
pela ausência de exames médicos dos produtores, segundo relatos de alguns agricultores quando
acontecem às intoxicações por agrotóxicos eles mesmos fazem a sua medicação como: tomar
leite ou água com açúcar, para eliminar os efeitos da intoxicação segundos os agricultores, em
vez de procura um médico para examiná-lo, isso mostra que as consequências podem ser muito
mais graves do que mostrar-se.
possamos formar cidadãos que não aceitem informações, ideias e teorias de modo passivo, sem
questionamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
verdade, falta uma política pública voltada principalmente para os agricultores, destacando o
papel dos agrotóxicos no aumento e no barateamento da produção agrícola, a partir de
orientação e capacitação dos produtores rurais, visto que as manifestações agudas foram
totalmente comprovadas, já as manifestações crônicas têm algumas comprovações, mais faltam
dados concretos que realmente comprovem que as tais manifestações são ocasionadas pela
manipulação dos agrotóxicos. Que este trabalho possa contribuir para a redução dos riscos de
exposições e intoxicação por agrotóxicos aos agricultores, visando uma melhor qualidade de
vida para os trabalhadores rurais do Sítio Riacho do Umbuzeiro São João-PE, através de
orientação e capacitação por pessoas competente. Que está pesquisa possa ser uma contribuição
futura para outras pesquisas acadêmicas relacionadas aos agrotóxicos.
Bibliografia da autora
Licenciada em ensino de Geografia UPE/PE
Especialista no ensino de geografia UPE/PE
Email: carminha.santos@outlook.com
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 11
NOTAS CRÍTICAS À MINUTA DO PARECER DO NOVO ENEM:
OLHARES DE JOVENS PESQUISADORAS DA ÁREA DA
EDUCAÇÃO22
INTRODUÇÃO
Este não é um texto acadêmico tradicional. Ele não é puramente fruto de uma
investigação científica específica. Trata-se, pois, de uma reunião de sete jovens pesquisadoras
da área da Educação (uma doutora, quatro doutorandas e duas graduandas) para analisar o
documento-base utilizado na mais recente consulta pública realizada pelo Conselho Nacional
de Educação (CNE) em torno da construção do Novo Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM). Nesse sentido, o presente capítulo é, na verdade, um movimento diferente dentro da
academia: um diálogo entre pesquisadoras que se dedicam a estudar diferentes questões sobre
a última etapa da educação básica, com vistas a garantir um importante elo entre ciência e
política por meio da participação nesta consulta.
Com edital de chamamento à consulta pública lançado em 11/11/2021, o CNE convocou
toda a sociedade a enviar suas contribuições fundamentadas e circunstanciadas até o dia
26/11/2021. A Comissão Bicameral que trata da Avaliação da Educação Básica disponibilizou
a Minuta que trata do Parecer e das Recomendações ao Novo ENEM por meio da página
eletrônica do Ministério da Educação (MEC)23. Desse modo, garantindo amplo acesso ao
documento e devida divulgação da chamada, as entidades representativas do campo educacional
foram convidadas a enviar seus destaques.
22
Este estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
23 O documento pode ser consultado em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=227221-proposta-de-
recomendacoes-ao-novo-enem&category_slug=novembro-2021-pdf&Itemid=30192.
118
Este foi, pois, o motivo que reuniu as autoras deste capítulo no exercício de analisar o
documento supracitado. São todas pesquisadoras ligadas à Faculdade de Educação (FACED) e
ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM), cujas investigações objetivam temas como reforma do ensino médio, avaliação da
educação básica, sucesso e insucesso escolar, juventudes, políticas curriculares, entre outros.
Com o objetivo de apresentar os destaques enviados ao CNE por este grupo de jovens
pesquisadoras, o presente capítulo ratifica a importância social da participação das mulheres
em dois campos sociais que historicamente são marcados por relações hierárquicas complexas
baseadas no sexo e no gênero dos indivíduos: o campo científico e o campo político.
Nos últimos vinte e cinco anos, o Ensino Médio brasileiro vem sendo tomado como
objeto de políticas públicas que visam reformá-lo e endereçar problemáticas históricas que se
119
colocam como imperativos para esta etapa da Educação Básica. Sua função social, suas
finalidades, sua ligação concomitante com as etapas que lhe precedem (Ensino Fundamental e
Educação Infantil) e com aquela que lhe sucede (Ensino Superior), bem como seus caráteres
propedêutico e profissionalizante são exemplos de questões que têm reverberado em uma
dualidade que se consolidou no Ensino Médio a partir de uma sociedade de classes.
A mais recente dessas reformas “[...] propôs uma mudança ampla que pretende alterar
desde aspectos de sua organização em termos de carga horária, até questões relativas ao
currículo e às suas finalidades” (FERREIRA; RAMOS, 2018, p. 1176). Estamos a falar da
reforma que homologou o chamado “Novo Ensino Médio” no Brasil, a qual demonstra um
processo complexo de lutas em torno do desenho para esta etapa de ensino, em que observamos
posicionamentos contrários ao texto e à dinâmica de construção e homologação da reforma por
parte de intelectuais da educação, de estudantes e docentes, sindicatos e movimentos sociais.
Nesse sentido, se a literatura especializada já apontava há bastante tempo a educação e
a escola como peças-chave na disputa social, incluindo aqui o campo e os agentes econômicos
nacionais e internacionais como parte interessada (MACEDO, 2018; COSTA; SILVA, 2019),
o Ensino Médio acaba figurando como um espaço estratégico para a hegemonia no sentido do
direcionamento das políticas educacionais. Com a ruptura institucional que o Brasil desenhou
com o golpe de 2016 e o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o aprofundamento do
neoliberalismo ganha terreno e se consolida por meio de medidas e reformas apressadas que
extinguem e/ou enfraquecem direitos em todos os setores da vida social. No âmbito da
educação,
Velhas soluções são trazidas no bojo do que se pretende apresentar como “novo” no
âmbito do Ensino Médio e de sua base curricular, conceitos como competências, autonomia e
liberdade de escolha, conteúdos mínimos, educação integral, formação para o mercado de
trabalho, entre outros, são requentados nessas reformas. E, dessa forma, conforme Süssekind
(2019), temos que as reformas da BNCC e no Novo Ensino Médio vendem a solução para o
problema que fabricam.
A ideia de um currículo mínimo e de itinerários formativos diversificados é
propagandeada como uma solução miraculosa para os descompassos entre as culturas juvenis,
a escola e o mercado de trabalho. Porém, são ignoradas completamente as desigualdades sociais
que estão na esteira de problemáticas que atingem sobremaneira os/as jovens brasileiros das
classes baixas. As fantasias da livre escolha e da meritocracia, que se colocam na base do Novo
Ensino Médio, tornam turvas as reais condições da proposta de flexibilização que aí está
colocada, para Krawczyk e Ferreti (2017), estamos mais uma vez frente a uma solução
economicista para pensar a educação.
Os mecanismos de customização do Novo Ensino Médio e de seu currículo são
apontados como soluções para uma escola considerada “ultrapassada” – crítica recorrente no
campo empresarial para tratar da relação entre trabalho (no sentido histórico) e educação. Dessa
forma, vão se evidenciando os atores das reformas em questão, os quais vão desde organismos
internacionais ligados à cultura, educação e ao mercado financeiro até os empresários e o
terceiro setor nacional. A disputa, então, pelo desenho desta etapa da educação básica parece
expressar a compreensão do campo econômico do valor do nicho de mercado que o Ensino
Médio pode vir a representar, seja no âmbito da privatização, seja no âmbito da criação e venda
de “espaços de educação integral”, cursos preparatórios para o Novo ENEM, complementação
de itinerários formativos, entre outros.
A partir do entendimento da política pública como espaço de disputa, compreendemos
que o Novo Ensino Médio, a exemplo da BNCC, continua em construção pós-homologação
legal. Isso significa que as lutas em torno dos direcionamentos da política educacional para a
Educação Básica não se esgotam no texto da lei, elas continuam no cotidiano escolar e nos
processos de implementação em todo o território nacional, os quais podem representar espaços
de resistência e de criação para além da prescrição dessas reformas.
Ademais, a complementaridade entre Novo Ensino Médio, BNCC e Novo ENEM é
reveladora da rede de políticas educacionais que vem sendo acionada para reestruturação da
Educação Básica nacional no cenário contemporâneo. Este movimento não se esgota nessas
políticas, posto que a formação de professores/as, a concepção e organização das escolas, os
121
saberes aqui privilegiados e a relação com o Ensino Superior vão sofrendo paulatinas alterações
estruturais que desencadearão novas reformas de adequação a este processo de reestruturação.
Esta seção apresenta ao leitor/a os destaques que ganharam corpo na resposta à Consulta
Pública do CNE. Chamamos atenção para a organização da Minuta que serviu de base para o
apontamento dos destaques que ganham espaço mais abaixo: trata-se de um texto de 43
(quarenta e três) páginas, de autoria da Comissão Bicameral de Avaliação da Educação
Básica24 e está organizado em oito partes – i) Histórico; ii) A implementação do ENEM; iii)
Exames de acesso ao ensino superior: algumas experiências internacionais; iv) O que dizem os
especialistas em avaliação; v) Estado da arte dos itinerários formativos nos referenciais
curriculares estaduais do novo ensino médio; vi) O itinerário de formação técnica e profissional
e o Novo ENEM; vii) Lições do PISA: inspiração para a primeira etapa do ENEM (OECD,
2018); viii) Contribuições recebidas nas audiências públicas da comissão do ENEM.
Como nosso objetivo no capítulo vai de encontro à apresentação dos destaques que
conferimos ao texto da Minuta do Novo ENEM, vale a pena destacar que as notas críticas que
marcam esta seção trazem muito mais problematizações e apontamentos em torno de elementos
nebulosos do documento do que respostas. Ao leitor/a, portanto, trata-se de um convite à
reflexão em torno da reestruturação em curso do Exame Nacional do Ensino Médio.
24 Composição da Comissão: Amábile Pacios (presidente); Maria Helena Guimarães de Castro (relatora); Alysson
Massote; Augusto Buchweitz; Fernando Capovilla; Gabriel Gianattasio; José Barroso Filho; Luiz Curi; Mauro
Rabelo; Mozart Ramos; e Suely Menezes (membros).
122
O documento em questão assevera que o marco legal do ensino médio tem como base
quatro pilares fundamentais que visam orientar as novas formas de oferta curricular, e no
terceiro pilar do novo ensino médio situa-se a formação integral. O tema da educação integral
está expresso e vem sendo discutido também nos documentos da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) e nos chamados currículos subnacionais – a exemplo do estado do
Amazonas, com o seu Referencial Curricular Amazonense (RCA). Tanto na BNCC como no
RCA, a formação integral ou educação integral se revela como um princípio a ser desenvolvido
ao longo de toda a educação básica, com o intuito de formar e desenvolver os indivíduos em
seus múltiplos aspectos e dimensões.
O texto da Minuta ressalta que não se pode confundir o conceito de educação em tempo
integral com escola em tempo integral, e que segundo a Lei n° 13.415/2017 – que institui a
Reforma do Ensino Médio – ainda que se crie e estimule um programa de fomento para a escola
de tempo integral, reconhece-se que essa transformação de todas as escolas de ensino médio
em escolas de tempo integral seria algo inviável por diversos fatores, tanto econômicos como
culturais. Entretanto, para os autores da Minuta, essa lei se torna inovadora ao passo que
introduz diversos dispositivos que permitem que os processos de ensino e aprendizagem se
apresentem em ambientes diversos da escola de matrícula do aluno, possibilitando também a
computação de atividades extra escola como carga horária do estudante, mediante a relação
entre as competências e habilidades que o currículo do ensino médio da escola pretende
desenvolver. Com essa perspectiva se consolidaria assim o conceito de educação em tempo
integral.
Nesse sentido, nossas dúvidas consistem em: que ambientes diversos seriam estes
citados no documento da Minuta? Estes ambientes serão relacionados com o currículo do ensino
médio que os estados da federação e as escolas irão desenvolver? Quais seriam estes espaços
em cada itinerário formativo, dentre eles os eixos estruturantes I, II, III, IV, V e VI? A quem
caberia a incumbência para a elaboração e construção desses ambientes e atividades? E quem
forneceria os fomentos para essa construção? Pensando na realidade das escolas públicas, como
equiparar escolas que possuem diferentes turnos (matutino, vespertino e/ou noturno) com
escolas em tempo integral que, via de regra, já possuem uma estrutura de espaços e ambientes
minimamente adequados para uma formação integral dos estudantes?
Nossas questões estão pautadas na busca pelo esclarecimento e detalhamento dos
ambientes e atividades presentes na minuta como propostas inovadoras da Lei n° 13.415 de
2017, de forma a consolidar os conceitos de educação integral, educação em tempo integral e
ambientes da educação integral.
123
✓ Realização das provas diversas vezes ao ano, bem como não divulgação dos itens –
problematizamos aqui os argumentos utilizados para a definição dessas duas propostas
colocadas no documento da Minuta:
A Minuta traz a indicação de que o exame seja realizado até 3 (três) vezes em um mesmo
ano. Porém, não fica claro como esta proposta poderia se operacionalizar no que diz respeito
aos custos das aplicações das provas – esse esclarecimento nos parece relevante, posto que é
recorrente no documento uma argumentação em torno da necessidade de cortar custos ligados
à realização do ENEM. Além disso, questiona-se como se daria o acesso à universidade pública
por meio das três oportunidades de ingresso, visto que as universidades federais, em geral,
abrem novas turmas a cada semestre, portanto, no máximo duas vezes ao ano. No caso do estado
do Amazonas, por exemplo, este acesso ocorre apenas uma vez ao ano, e considera-se que um
aumento na frequência do ingresso ensejaria a necessidade da elevação da capacidade de
atendimento na Universidade.
O texto ainda apresenta como condição para viabilizar o aumento na frequência da
aplicação do exame a não divulgação dos itens das provas, como forma de reduzir custos.
Entende-se que, ao não promover tal publicidade, descumpre-se o que dispõe no Art.3º da Lei
nº 12.527/2011, a qual regulamenta sobre o acesso a informações. Conforme a Lei, na
administração pública, a observância da publicidade deve ser considerada preceito geral,
enquanto o sigilo deve ser apenas exceção. Além disso, a Lei preconiza que a divulgação de
informações de interesse público, como é o caso dos itens das provas do ENEM, deve ocorrer
independentemente de solicitações. Acredita-se que, ao manter a divulgação dos itens, preserva-
se a diretriz, também prevista na referida Lei, do desenvolvimento do controle social da
administração pública.
Ademais, considera-se que a não divulgação dos itens das provas pode comprometer o
processo formativo de professores e estudantes durante a preparação para esta avaliação.
Estudos como os realizados por Oliveira (2011) e Santos et al. (2016) demonstram que a prática
de estudar provas anteriores, dentre outros benefícios, pode gerar o efeito emocional de trazer
maior confiança aos participantes do ENEM. Nesse sentido, a não divulgação dos itens iria na
contramão de um processo formativo que se consolidou no Brasil nos bastidores cotidianos da
preparação dos nossos/as jovens para o ENEM, estamos a falar do uso das provas de anos
anteriores para fins de estudo e de preparação para as provas do ENEM.
124
✓ As questões dissertativas podem ser consideradas uma inovação significativa nas provas
para o Novo ENEM, contudo, não há maior detalhamento na Minuta em torno dessa
proposta:
125
organização do ensino superior brasileiro e das pesquisas realizadas no interior das instituições
desse nível de ensino, trata-se na verdade da necessidade de uma interlocução mais profunda
entre o Ensino Médio e o Ensino Superior, e acreditamos que o meio termo entre aquilo que se
consolidará como itinerários formativos na última etapa da educação básica e aquilo que já está
consolidado nas instituições de ensino superior passa necessariamente por uma mediação entre
os dois níveis de ensino do sistema educacional do país.
Acreditamos que a promoção desse diálogo pode deixar mais claro para os/as jovens
que farão o Novo Ensino Médio que caminhos se coadunam com seus planos formativos e
profissionais, além de apresentar um potencial para fazer avançar esse histórico hiato entre a
Educação Básica e o Ensino Superior.
✓ Prova Digital – nossa preocupação aqui vai de encontro à garantia de condições em todo
o território nacional para a realização dessa modalidade de prova, bem como ao
esclarecimento se caberá aos estudantes definir se desejam realizar a prova no formato
digital:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
reformas têm se materializado, quanto do fato de elas ainda estarem em andamento e, por isso,
em disputa. Neste capítulo buscamos unir ciência e política em um exercício analítico
enfrentado por sete jovens pesquisadoras da área da Educação: lançar uma mirada crítica para
o processo de reestruturação do Exame Nacional do Ensino Médio, que, frente ao chamado
“Novo Ensino Médio” e à Base Nacional Comum Curricular, passa a ser o mais novo alvo de
adequações a essa série de reformas voltadas para a Educação Básica brasileira.
Nossas análises incidiram sobre a Minuta que trata do Parecer e das Recomendações ao
Novo ENEM, ainda em discussão no Conselho Nacional de Educação e posta à Consulta
Pública em novembro de 2021. E nossos destaques englobam questões ligadas às necessidades
de melhor definição da segunda etapa das provas (ligadas aos itinerários formativos) e dos
conceitos de educação integral; do lugar dos itinerários técnico e profissional, que por ora não
estão contemplados no Novo ENEM; da parca ligação entre ensino médio e superior; da prova
digital e da novidade em torno das questões dissertativas; bem como da quantidade de provas
aplicadas a cada ano e da transparência envolvida na divulgação dos itens das provas.
Ademais, levando em consideração as dificuldades de promover uma análise em torno
do Novo ENEM, posto que ele se encontra em pleno processo de discussão e construção,
consideramos pertinente o registro do processo de debate com a sociedade em torno dos
contornos que esta avaliação externa de larga escala e que angariou como grande tarefa a
entrada no ensino superior no país vai ganhando. E ainda, destacamos a importância de estreitar
os laços entre os campos acadêmico e político no sentido da construção das políticas
educacionais, pelo que a participação de discentes e docentes de uma Faculdade de Educação e
de um Programa de Pós-Graduação em Educação, como esta que ensejou este capítulo, é crucial
para um entrelaçamento desses campos e para uma formação de pesquisadores e pesquisadoras
comprometidos/as com as lutas sociais que estão na base das políticas públicas.
REFERÊNCIAS
COSTA, Marilda de Oliveira; SILVA, Leonardo Almeida da. Educação e democracia: Base
Nacional Comum Curricular e novo ensino médio sob a ótica de entidades acadêmicas da área
educacional. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 24, p. 1-23, 2019.
128
FERREIRA, Rosilda Arruda; RAMOS, Luiza Olívia Lacerda. O projeto da MP nº 746: entre
o discurso e o percurso de um novo ensino médio. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de
Janeiro, v. 26, n.101, p. 1176-1196, out./nov. 2018.
KRAWCZYK, Nora; FERRETI, Celso João. Flexibilizar para quê? Meias verdade da
“reforma”. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 11, n. 20, p. 33-44, jan./jun. 2017.
MACEDO, Elizabeth. “A base é a base”. E o currículo o que é? In: AGUIAR, Márcia Ângela;
DOURADO, Luiz Fernandes (Orgs.) A BNCC na contramão do PNE 2014-2024: avaliação
e perspectivas. Recife: Anpae, 2018. p. 28-33.
OLIVEIRA, D.S. Preparando Alunos do Ensino Médio para o Enem e para o Vestibular.
ANAIS DO SEMEX, 4(4). 2011. Disponível em:
https://anaisonline.uems.br/index.php/semex/article/view/490. Acesso em: 25 nov. 2021.
SANTOS, G.L.; PINTO, J.F.; GIL, M.; DREY, R. Entender para explicar: por que estudar a
prova do Enem? Viver IFRS. Nº4. 2016. Disponível em:
https://periodicos.ifrs.edu.br/index.php/ViverIFRS/article/view/1650/1293. Acesso em: 25
nov. 2021.
CAPÍTULO 12
A FORMAÇÃO DO CIDADÃO E OS PRINCÍPIOS NEOLIBERAIS:
vislumbrando possibilidades
INTRODUÇÃO25
25
Este texto foi construído a partir do Resumo Expandido denominado As Reformas Educacionais e os Princípios
do Neoliberalismo: A Literatura em Foco publicado nos Anais do II Simpósio On-Line de Educação – Educação,
resistência e novos paradigmas: diálogos e possibilidades do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte - Campos Ipanguaçu, no ano de 2021.
130
local pelos custos e pela qualidade do ensino; o estabelecimento da fixação do currículo que
privilegiasse o ensino da Matemática e do Português, matérias necessárias para a propriedade
da prestação de serviços; o chamamento da sociedade para o alcance de uma educação de
qualidade – o que leva os indivíduos a acreditarem que uma boa educação só será alcançada
por meio do empenho de todos e faz com que eles atraiam para si a responsabilidade pelo
sucesso ou não da educação. Por fim, estabelece a chamada performatividade, que permite ao
Governo um controle indireto da educação por meio do estabelecimento de um currículo e das
avaliações feitas aos alunos durante e ao final do período de estudo (OLIVEIRA, 2009).
A descentralização oferece à escola uma falsa autonomia, pois, em que pese tenha dado
maior liberdade à gestão, atribuindo-lhe um papel de destaque, o Estado restringe a
disseminação de conteúdos, ao passo que impõe aos alunos as avaliações externas que são feitas
com base no currículo previamente estabelecido com avaliações como o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Provão e, finalmente, o Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM). Assim, o governo tem a possibilidade de controlar a educação como um todo,
ainda que tenha retirado de si a responsabilidade pela qualidade e pelo financiamento.
Importante pontuar que durante o governo de FHC houve um distanciamento entre a
educação e as garantias previstas pela Constituição da República Federativa do Brasil, que
estabeleciam uma preocupação equânime com a formação do indivíduo, ou seja, uma
preocupação com a educação completa, que agora passa a ficar em segundo plano, em razão da
priorização do ensino fundamental, necessário ao bom desempenho no trabalho. O que antes
era garantido a todos, agora passa a ser focalizado, direcionado apenas a uma parte da educação,
conforme expõe Oliveira (2009). Com isso, pudemos observar a priorização do ensino do
português e da matemática básicos, necessários para um bom desempenho no trabalho.
Ainda nesse sentido, o governo atribuiu à educação importante fator no
alcance/tratamento aos vulneráveis, isto é, os que estão em situação de extrema pobreza e,
consequentemente, que detêm um déficit na educação. Esse comportamento se clarifica por
meio de políticas públicas como a famigerada bolsa-escola, implementada em 2001 pelo
governo de FHC – que, no governo Lula, em 2003, foi incorporada aos programas Cartão
Alimentação, Auxílio-gás e ao novo Programa Bolsa Família, unindo-as a um único sistema de
mesmo nome.
É certo que FHC se valeu da situação em que o Brasil se encontrava bem como da para
empreender diretrizes neoliberais nas políticas educacionais brasileiras, mas com a chegada de
Luís Inácio Lula da Silva, o cenário educacional não se alterou. Tendo a possibilidade de romper
com as reformas estabelecidas no último governo ou andamentá-las, Lula optou pela segunda
131
opção ao passo que seu primeiro mandato foi marcado pela continuidade das reformas
educacionais segundo as diretrizes já mencionadas.
No segundo mandato, Lula se distanciou sensivelmente das propostas de FHC e
aproximou suas ações às garantias elencadas pela Constituição de 1988. Todavia, ao contrário
do esperado, conforme aponta Oliveira (2009), Lula manteve a ideia de priorização das
minorias/vulneráveis e sedimentou essas características às mais variadas políticas, fixando-as
como um modelo. A consequência para a educação a essa exposição foi a precarização, baseada
em resultados imediatos – o que seria ratificado pelas avaliações externas realizadas em
consonância com os princípios previamente estabelecidos – a fim de alcançar o bom
desempenho na educação em termos de números, no trabalho e melhorar a economia,
resolvendo o problema da miserabilidade com a transferência de renda direta.
Assim, surgem os currículos que visam a orientar a educação no Brasil, que são
visivelmente marcados pelos ideais que o país se propôs a alcançar. Libâneo (2019) faz um
trabalho profundo com a descrição e exposição dos diferentes currículos. Quanto ao currículo
do acolhimento e da integração, que segue a linha dos ideais já elencados, o autor o põe em
xeque, uma vez que percebe que o acolhimento se sobressai em detrimento do aprendizado. O
autor afirma que
O autor afirma que muitas das orientações baseadas nesses modelos foram assumidas
pelo governo brasileiro desde 1990 e temos razões para acreditar que elas ainda estão
incorporadas às políticas educacionais oficiais brasileiras.
Outro fator contrário ao desenvolvimento humano é a exacerbação do tecnicismo
pedagógico e a consequente banalização do processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido,
o indivíduo se torna um depositário do conhecimento, isto é, um mero recipiente, enquanto o
seu papel ativo – interativo desenvolvido por Vygotsky – é ignorado no processo de
aprendizagem. Nessa perspectiva, os fatores externos ao contexto escolar – saberes que fogem
do padrão instituído – são desconsiderados por completo e os alunos que não o detêm são
cobrados de igual forma, o que, sem dúvidas, prejudica os alunos que, por falta de condições
financeiras e/ou sociais, não tiveram acesso a esse capital intelectual que lhes é exigido.
Quanto à responsabilização do corpo docente, além das avaliações externas, o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que foi criado em 2007, reúne em um único
indicador os resultados de dois conceitos importantes para demonstrar a qualidade da educação
são eles: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O IDEB foi criado pelo
MEC para monitorar o cumprimento de metas, tal como a garantia do acesso à educação para
as crianças até o ano de 2022. Ocorre que, mais uma vez, tal conquista não se reflete nos anos
finais da educação e por isso deve ser repensado.
133
26 Violência simbólica é a violência invisível, ignorada, não percebida como arbitrária e, portanto, legitimada
(BOURDIEU, 1983).
27 Esses alunos não se sentem à vontade com o ambiente escolar por não estarem acostumados com a formalidade
dispensada por ele, o que também o prejudica. Aliás, a própria linguagem formal utilizada na escola tem efeitos
distintos para cada aluno e muitos têm dificuldade de compreender o seu uso formal.
135
físico, por indivíduos multifacetados, capazes de exercer múltiplas funções dentro do mercado
de trabalho. Esse domínio de diferentes funções é alcançado por meio da formação integral.
Através dos escritos de Marx, Moura, Lima Filho e Silva (2015) concluíram que o
conceito de politecnia pode abarcar a ideia de formação humana integral. Assim, por intermédio
da formação politécnica alcançaríamos a formação intelectual, física e tecnológica. De acordo
com essa teoria, apenas com o domínio dessas três áreas que explicam e fundamentam o
trabalho produtivo seria possível levar a classe operária a um nível superior ao do nível das
classes superior e média.
Os autores sustentam que independente da visão adotada pelos autores que lidam com a
politécnica, em seus mais amplos conceitos, rupturas e aproximações, o ensino politécnico
compreende a formação direta dos indivíduos e a contribuição para o desenvolvimento de
condições objetivas de transformação da sociedade. Logo, tendo como pressuposto esse
formato de ensino, ambos os objetivos seriam alcançados de forma simultânea. Ademais,
defendem que a politécnica poderia ser utilizada como uma solução para a
compartimentalização pela qual as disciplinas passaram, tendo sido influenciada pelo
pensamento cartesiano, que teve grande impacto no desenvolvimento do conhecimento
científico, e foi impulsionada pela Revolução Técnico-Científica.
Nesse sentido, somos levados a crer que, do ponto de vista emancipatório, não há espaço
para a profissionalização, no sentido estrito, na formação de adolescentes. A verdade é que, a
exigência de uma profissionalização precoce, inviabiliza a possibilidade de escolha e de
formação intelectual por parte dos adolescentes, que integram a classe trabalhadora, o que a
leva a permanecer no status quo.
No Manifesto Comunista (1997), Marx e Engels revelam acreditar na possibilidade de
unificação entre a produção material e a educação em uma sociedade futura. Para tanto, a classe
trabalhadora deveria ter arrancado o poder da burguesia e concentrado os meios de produção
nas mãos do Estado. Apesar disso, diante das contradições próprias do movimento a partir do
conflito entre capital e trabalho, somos levados a compreender que seria possível avançar na
direção da unificação entre a educação e a produção, ainda na sociedade burguesa – visto que
a burguesia permanece no poder político até os dias atuais – aproveitando-se das contradições
do modo de produção capitalista. Isso poderia ser materializado por meio do ensino médio
integrado, que atingiria toda a sociedade.
Entretanto, na obra Crítica ao Programa de Gotha (1982b), escrita trinta anos depois do
Manifesto, Marx revela não acreditar na possibilidade de uma educação igualitária para todas
as classes, visto que essa igualdade não se daria sem o risco de redução da qualidade da
136
CONCLUSÕES
É certo que para se alcançar o desenvolvimento humano através das escolas é preciso
que ela seja justa, que lide com os mais variados indivíduos com respeito, promova a inclusão
e ofereça a eles o conhecimento cognitivo necessário para permitir a igualdade entre os
cidadãos, independentemente de suas raízes, sua formação, seu meio sociocultural e,
especialmente, socioeconômico.
Logo, faz-se necessário rever os princípios da educação brasileira a fim de propiciar um
ensino de qualidade e viabilizar a reflexão e compreensão do mundo de forma holística. A
educação não deve se limitar aos interesses do mercado para apenas formar mão de obra barata,
ao contrário, deve guiar os sujeitos rumo à verdadeira cidadania.
Contudo, cientes de que isso demanda uma mudança estrutural e não apenas interna,
enquanto essa reforma não acontece, acreditamos que a literatura, tanto a narrativa quanto a
lírica, podem colaborar significativamente para a formação do ser humano, pois ela possibilita
novos olhares, novas sensações e novas interpretações. Tendo como principal função a função
humanizadora, a literatura nos faz viver ao passo que nos tira da zona de conformo e permite a
problematização da realidade.
A literatura viabiliza o que conhecemos como heterotopia, que nada mais é do que o
deslocamento do lugar de origem. Boaventura de Souza Santos (1999) sugere um deslocamento
radical dentro de um mesmo lugar, o nosso lugar. Um deslocamento do centro para a margem.
O autor afirma que o objetivo desta deslocação é “tornar possível uma visão telescópica do
centro e, do mesmo passo, uma visão microscópica do que ele exclui para poder ser centro.
137
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. Sociologia (organizado por Renato Ortiz). São Paulo: Ática, 1983.
LIBÂNEO, José Carlos. Finalidades educativas escolares em disputa, currículo e didática. In:
LIBÂNEO, J. C.; ECHALAR A. D. L. F.; SUANNO, M. V. R.; ROSA, S. V. L. (orgs.). Em
defesa do direito à educação escolar: didática, currículo e políticas educacionais em debate. VII
Edipe. Goiânia: Editora da UFG, 2019.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Prólogo de José Paulo
Netto. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 1998.
MARX, Karl. Crítica do Programa de Gotha. Lisboa: Avante Edições, 1982b. Disponível
em: <http://www.marxists.org/portugues/marx/1875/gotha/index.htm>. Acesso em: 18 ago.
2021.
138
MOURA, Dante Henrique; LIMA FILHO, Domingos Leite e SILVA, Mônica Ribeiro.
Politecnia e formação integrada: confrontos conceituais, projetos políticos e contradições
históricas da educação brasileira. Revista Brasileira de Educação. v. 20 n. 63 out. - dez, 2015.
Disponível em: <
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/XBLGNCtcD9CvkMMxfq8NyQy/?format=pdf&lang=pt>.
Acesso em 18 ago. 2021.
Veralúcia Pinheiro
Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação stricto sensu Interdisciplinar
em Educação, Linguagem e Tecnologias pela Universidade Estadual de Goiás. E-mail:
veraluciapinheiro27@gmail.com.
CAPÍTULO 13
LITERATURA DAS DIÁSPORAS AFRICANA: uma análise nos poemas
sangue negro e mãe preta de Noemia de Sousa e Bruno de Menezes
INTRODUÇÃO
ser escritos num diálogo fecundo com a história e a memória desses povos, revitalizando o
passado e trazendo-o para a reflexão crítica.
Na literatura afro-brasileira, a imagem da Mãe-África surge nos textos dos escritores
negros após a difusão, no Brasil, das ideias oriundas dos movimentos culturais negros
panafricanistas, ocorrida na década de 50.
O panafricanismo é um complexo movimento de ideias, teorias, arranjos e
visões de mundo surgido na primeira metade do século XIX, a partir dos
contatos entre negros da Grã-Bretanha, Antilhas, EUA e lideranças do
continente africano. Trata-se uma resposta às teorias raciais desenvolvidas ao
longo do século XIX, a exemplo da poligênica e do darwinismo social
(HERNANDEZ, 2005; APPIAH, 1997; DECRAENE, 1962). O
panafricanismo tem como uma de suas principais questões a ideia de que a
África deveria ser transformada nos Estados Unidos da África,
preferencialmente usando a língua inglesa e professando o cristianismo. Os
teóricos do panafricanismo inventaram a África una, homogênea e indistinta,
que ainda hoje está presente nos textos de vários autores africanistas, que
tratam o continente no singular, esquecendo de suas diversidades e realidades
distintas. Esta África, nessa perspectiva, é tida como a origem de todas as
práticas, costumes, culturas e religiões dos negros e negras da diáspora
(LIMA, 2011, p.2).
Assim, tendo como base a África como berço da humanidade, das crenças, berço da
grande Mãe, os poemas a seguir buscarão refletir essa temática, com base nas teorias de
Gonzaga Motta e de Bakhtin.
O MATRIARCADO: Conceitos
inferioridade biológica das mulheres, que tem origem na família, cujo comando por milênios
foi exercido pelo pai.
Engels em seu livro “A origem da família, da propriedade privada e do Estado”, escrito
em 1884, relata que a valorização da propriedade privada fomentou o processo de
reconfiguração da organização familiar, que deixou de ser matriarcal - chefiada pelas mulheres
para ser patriarcal regida pelos homens. Assim, as mulheres foram impelidas a trocar a liberdade
sexual pela monogamia e pelo casamento e os homens passaram a requisitar a castidade
feminina, a fidelidade, para resguardar a sucessão dos bens aos filhos que possuíam laços de
consanguinidade (MENDES, 2012, p. 102)
Quanto à repressão sexual, esta é consequência de uma cultura baseada em uma moral
compulsiva, que nega e dessacraliza o sexo. A estrutura humana constrói-se no conflito entre
as necessidades humanas e a moral social. Assim, a repressão sexual é pré-requisito somente
para a formação da cultura patriarcal autoritária e não de toda cultura, haja vista que nas
estruturas sociais matriarcais, os códigos de conduta não possuem proibições sexuais.
Desse modo, cabe a pergunta? Qual a situação atual da Deusa? Como ela se manifesta na
África? Ford (1999) ressalta que após estudar os ritos de iniciação masculina e feminina entre
os ndembus da África Central nos anos 50, concluiu que a cultura ndembu se fundava em um
princípio maternal que permeia a sociedade e a natureza. A imagem da deusa passa então a ser
compreendida muito mais como um arquétipo: “uma imagem primordial que habita em nós e
se expressa em nossos sentimentos e atos” (FORD, 1999, p.170). A Grande Deusa, mãe da
criação, revela-se em três símbolos: árvore, terra e pedra e é através desses três símbolos que
se pode detectar a presença da Deusa no mito sagrado africano. Conforme mencionado acima,
a adoração à deusa foi quase que totalmente substituída pela adoração a um Deus ou a deuses,
portanto, escrever poemas exaltando à deusa grande mãe significa transcender o cânone
literário, assim como desconstruir colonialidades por meio da escrita. A seguir, observaremos
de que forma os autores em análise constroem a imagem da deusa em suas narrativas.
Observaremos de que forma a escrita foi costurada no intuito de desconstruir padrões de gênero
e colonialidades que subalternizam mulheres, principalmente as mulheres negras.
Luiz Gonzaga Motta (2013) afirma que a enunciação se constitui como ato produtor da
narrativa, pois representa a atividade de linguagem exercida por aquele que fala no momento
em que fala. Para o autor, os sujeitos interlocutores criam o sentido por meio das performances
linguísticas, ou seja, marcas de enunciação presentes no texto que demarcam a relação entre os
interlocutores, assim como seu lugar de fala.
O autor reitera que a narrativa é um dispositivo argumentativo que busca seduzir e
envolver o interlocutor, desvelando intencionalidades que lhe são implícitas. Assim, ela se
caracteriza por sua composição heterogênea, pluridiscursiva e dialógica e revela correlações de
poder em sua constituição.
A narratologia, de acordo com a metodologia de Motta, pode ser utilizada não apenas para
a crítica de textos ficcionais, mas também como um procedimento analítico que compreende os
valores subjetivos, as ideologias e a política de uma sociedade. Desse modo, utilizamos essa
metodologia para a análise de poemas, pois são narrativas, na medida em que possuem uma
intriga e uma intencionalidade. Nelas, o poder se manifesta nas relações discursivas e nas
situações narrativas e muda de lugar, pois passa a centralizar-se na imagem da grande deusa
mãe, revelando sua importância.
Motta ressalta que há elementos da estória e da narrativa que devem ser analisados,
assim como recursos argumentativos que apresentam diversas finalidades, tais como seduzir
sensibilizar, cooptar, surpreender, atemorizar e também divertir o interlocutor. Essas intenções
pragmáticas do narrador constroem o texto, direcionando-o a uma finalidade. Os recursos
retóricos são estrategicamente utilizados afim de convencer seus interlocutores de que aquilo
que falam é convincente Assim, no ato de configurar um discurso o narrador utiliza uma força
elocutória e perlocutiva, construídas a partir de recursos linguísticos, tais como as figuras e
jogos de linguagem, os dêiticos nos atos de fala, a retórica utilizada e a narratividade encoberta.
Paul Ricoeur explica que em toda narrativa existe uma intriga, haja vista que ela
possibilita que o texto tenha um contorno. Nela, existe o elo entre a ética (o mundo real) e a
estética (mudo imaginário) onde é possível observar o factual perpassado pela camada
imaginária, construída intencionalmente no enredo e substancializada nos personagens com a
intenção de provocar efeitos sobre o leitor/ telespectador, uma vez que o “persuasivo nasce da
interseção entre o dissonante e o verossímil: nasce das emoções trágicas que ocorrem no
espectador” (MOTTA, 2013, p76)
Dentre as instâncias de análise, Motta cita três planos que são: 1) plano da expressão, plano da
estória e plano da metanarrativa. No plano da expressão, serão observadas as linguagens: verbal, sonora,
visual e os recursos linguísticos usados estrategicamente na narrativa. No plano da estória, serão
143
analisadas questões como: enredo, intriga, personagens e cenários. Por fim, o plano da metanarrativa
realiza uma análise profunda do texto, observando os temas de fundo ético e moral que integram a
narrativa.
BAKHTIN E O ESTUDO DOS GÊNEROS DO DISCURSO
Bakhtin analisa o emprego da língua a partir de enunciados concretos e únicos que refletem as
condições específicas e as finalidades de cada campo por sua construção composicional. O autor observa
a existência de uma extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso e a existência de gêneros
discursivos primários (simples) e secundários (complexos). Os gêneros discursivos secundários
(romances, dramas, pesquisas científicas, etc.) surgem em situações de convívio mais complexo e
relativamente mais desenvolvido. No processo de formação eles “incorporam e reelaboram diversos
gêneros primários (simples)” (BAKHTIN, 2002, p.264).
A poesia pode ser considerada um gênero discursivo complexo, na medida em que há uma maior
elaboração discursiva em sua construção. Nas poesias em análise, o plano estilístico é construído a partir
da junção com o plano de conteúdo, entrelaçados ao subjetivismo do autor. Nem sempre uma poesia
concretiza temáticas, as vezes apenas serve para o deleite porém é um gênero complexo porque
conforme afirma Barthes (2002), a poesia moderna destrói a natureza espontaneamente funcional da
linguagem, pois ela contém “um encadeamento geológico de existencialidade [...] cada palavra poética
é um objeto inesperado, caixa de pandora onde surgem todas as categorias de linguagens” (BARTHES,
2002, p. 6). Os poemas de Bruno de Menezes e de Noémia de Sousa a seguir, em sua construção,
agregaram conteúdo em forma poética, costurando-os cuidadosamente nos textos. Como são poemas,
estão intrinsicamente ligados ao enunciado e às suas formas típicas, como por exemplo, à musicalidade,
ritmo e ênfase ao plano da expressão, diferentemente da novela que não costuma dispor do amplo uso
de metáforas e de musicalidade em sua construção.
Para Bachelard (1995), a poesia é uma metafísica instantânea, enquanto o tempo da
prosódia é horizontal, o tempo da poesia é vertical e o instante poético é uma relação harmônica
entre contrários, o qual o poeta “se despoja de toda vida inútil, experimenta a ambivalência
abstrata do ser e do não-ser” (BACHELARD, 1995, p. 3). Portanto, o gênero poético tem como
uma das suas características o uso conotativo da linguagem, predominantemente expressiva e
subjetiva, com o maior uso de recursos retóricos, conforme observaremos nos poemas em
análise.
Por outro lado, Bakhtin reitera que cada enunciado é um elo na corrente com outros
enunciados, ou seja, ele não é uma unidade convencional, mas uma unidade real, delimitada da
alternância dos sujeitos do discurso. Os enunciados são construídos com “o auxílio das unidades
da língua: Palavras, combinações de palavras, orações; ademais, o enunciado pode ser
144
construído a partir de uma oração, de uma palavra, por assim dizer, de uma unidade do discurso”
(BAKHTIN, 2002, p.278).
Desse modo, cada obra está vinculada a outras obras- enunciados, ela está separada
daquelas pela alternância dos sujeitos dos discursos, muitas vezes implícitos na narrativa e
apresenta uma intenção discursiva que determina o todo do enunciado. Essa intenção, segundo
Bakhtin, revela o caráter dialógico do enunciado, assim como sua extrema heterogeneidade.
Um enunciado está organizado pela alternância dos sujeitos do discurso e reflete a realidade
extraverbal, materializando-se em um poema por suas peculiaridades estilístico-
composicionais, determinadas pelo elemento expressivo que consiste em uma relação subjetiva
do falante com o objeto do seu discurso, transfigurada pelo uso de recursos linguísticos, tais
como elementos lexicais, morfológicos e sintáticos que exprimem a posição emocional do
falante, é o que Motta ressalta como plano da expressão na narrativa.
Por fim, o gênero do discurso é uma forma típica do enunciado e inclui certa expressão
típica a ele inerente. Por meio dos enunciados, há uma constante interação com os enunciados
individuais dos outros, ou seja, todo o enunciado é pleno das palavras dos outros, portanto, a
seguir analisaremos esse constante dialogismo presente nos poemas em análise, observando os
diversos planos que os compõem.
Com base nos conceitos anteriormente estudados, cabe enfatizar que de acordo com a
teoria narrativa de Motta, é de fundamental importância observar dêiticos nos atos de fala, pois
estes fazem parte do plano da expressão e consisteem elementos linguísticos que indicam o espaço
físico, o tempo em que um enunciado é produzido, os participantes de uma situação do enunciado
(eu/tu/ele/nos), a hierarquia entre os sujeitos da enunciação e suas condicionantes na interlocução,
tais como suas identidades e intenções e as circunstâncias culturais, crenças, ideologias e
circunstâncias históricas em que o ato ocorreu.
No poema de Noémia de Sousa, ao observarmos os dêiticos de fala contidos no plano
da expressão, conforme afirma Gonzaga Motta, notamos a presença do pronome em primeira
pessoa (eu) unido ao pronome possessivo (minha). O eu-lírico, provido de existência real
assume sua identidade africana ao declamar seu amor pela nação africana: Ó minha África
misteriosa, natural! Minha virgem violentada! Minha mãe!
O uso da aliteração minha dá musicalidade ao poema e representa uma assunção
identitária do eu-poético, um reconhecimento de sua nação, violentada e abusada pelos
colonizadores, mas reconhecida por seus filhos.
Por outro lado, o uso da exclamação, de acordo com Bakhtin representa uma enunciação
valorativa que traduz sua exaltação pela nação africana. Na exclamação há uma força
ilocucionária, pois indica o teor de exaltação do eu-lírico à nacionalidade, à Mãe-África tão
desvalorizada pelo ocidente. No poema, observa-se um eu-lírico que outrora esqueceu sua
pátria, sofreu assimilação, esteve no entrelugar, mas reassumiu sua identidade étnica. Ele
ideologicamente busca desconstruir estereótipos e colonialidades estabelecidos na nação
africana. Por meio do uso do verbo no pretérito imperfeito (andava) é possível observar uma
condição do eu-lírico não mantida, ou seja, antes desvalorizava a Mãe-África, mas passou a
exaltá-la quando reconheceu suas raízes.
O uso da figura sonora [ó] de [ó minha África misteriosa] é uma onomatopeia que
representa graficamente sons e ruídos. Seu uso é muito comum no gênero poético, tem como
peculiaridade estilístico-composicional o uso de enunciados predominantemente conotativos e
expressivos que buscam preencher a ausência do recurso sonoro no texto escrito.
146
dispersão de grupos para que não existisse linguagem comum e a remoção de qualquer sinal
visível de patrimônio africano” (HOOKS, 2010, p.18).
Quanto à mulher negra, era propriedade do seu dono, sendo obrigada a ser subserviente
a sua vontade. No ensino do fundamentalismo cristão, as mulheres eram retratadas como
sedutoras, trazendo o pecado ao mundo, por isso o uso do termo “escrava sensual” e “pagã” no
poema de Noemia de Sousa. A rememoração dos estereótipos tem como finalidade interrogar
sobre o papel exercido pela mulher negra, retrato da África, desde o processo colonizador.
Bell Hooks no livro Não sou eu uma mulher afirma que foi a escravização do povo
africano na América que marcou o início da mudança do status social da mulher branca. Antes
da escravatura, a lei patriarcal decretou as mulheres brancas como seres inferiores, os mais
baixos da sociedade. A subjugação do povo negro permitiu-lhes, no entanto, desocupar essa
posição e assumir um papel superior. “Era na sua relação com a mulher negra escrava que a
mulher branca podia afirmar melhor o seu poder [...] se as mulheres brancas lutassem para
mudar o destino das mulheres negras escravizadas, sua própria posição social na hierarquia da
raça-sexo seria alterada”. (HOOKS, 2010, p.111)
Assim, para que a estrutura do apartheid fosse mantida, os colonizadores brancos,
homens e mulheres, criaram uma variedade de estereótipos para diferenciar mulheres negras de
brancas. Com isso, os racistas brancos e alguns negros que absorveram a mentalidade do
colonizador, caracterizaram a mulher branca como ícone da perfeita natureza feminina e
encorajaram as mulheres negras a se esforçarem para atingir este modelo usando a mulher
branca como modelo.
A dicotomia entre a mulher branca e a negra foi demonstrada na casa da senhora e do
senhor branco onde a mulher negra trabalhou como empregada doméstica. Destarte, os homens
brancos promoveram a hostilidade e divisão entre as mulheres brancas e negras por meio de um
sexismo institucionalizado, acatado até mesmo pela maioria das mulheres brancas que
148
alegavam, por meio da ideologia sexista, que as mulheres virtuosas não tinham impulsos
sexuais.
A autora afirma que os donos de escravos usualmente tentavam corromper as mulheres
negras, colocando-as como prostitutas. As escravas não podiam reclamar, muito menos resistir,
senão seriam penalizadas.
Havia atos de misoginia sádica de crueldade e brutalidade que iam muito além
da sedução- a violação, a tortura até o assassinato orgásmico e necrofilia. Há
uma atração pela perversão, pelo tabu, a associação à negritude com prazerosa
perversidade [...] pareceu haver uma medida de agressividade e até de sadismo
na sexualidade masculina. A passividade e a indefensibilidade pareciam ser
frequentes no realce da desejabilidade do objeto sexual, que era o que a mulher
negra representava para o seu dono branco. (HOOKS, 2010, p. 21)
A autora reitera que foram difundidos dois estereótipos para impedir o casamento inter-
racial entre negros e brancos: o estereótipo da mulher negra má e sexualmente perdida e o
estereótipo do violador negro. O estereótipo dos homens negros como violadores deixou de
dominar a consciência do público americano nos anos 70, porém perdurou o estereótipo da
mulher negra prostituta. Destarte, as imagens positivas das mulheres negras são aquelas que as
retratam como religiosas, sofredoras, figuras maternais que se sacrificam e se auto- negam em
prol dos que ama. Desse modo, muitos desses estereótipos afetaram a forma pela qual as
mulheres negras se autopercebiam.
Outro estereótipo bastante difundido, segundo Hooks, foi a noção de que as negras eram
todas criaturas sub-humanas masculinizadas devido a habilidade que tinham em sobreviver sem
a ajuda direta de um homem, além de sua capacidade em realizar tarefas que eram culturalmente
definidas como trabalho “másculo”. Com isso, foram denominadas “matriarcas” sem nunca
terem sido, na realidade, pois Angela Davis descreve que essa denominação é um termo que
ignora o profundo trauma que a mulher negra experimentou quando teve de desistir de
engravidar para servir ao interesse econômico desigual de servir aos senhores. O estereótipo da
matriarca foi empregado com o intuito de convencer as mulheres negras de que elas
ultrapassavam os vínculos da feminilidade porque trabalhavam fora de casa para prover apoio
econômico às suas famílias e por meio disso, elas desmasculinizavam os homens negros. Aos
homens negros foi dito que eram fracos, afeminados e castrados porque suas mulheres estavam
exercendo trabalhos servis.
Conclui-se, desse modo, que o caráter dialógico e heterogêneo do enunciado, citado por
Bakhtin, se materializa nas diversas abordagens da mulher negra escravizada, memória da Mãe-
África, oculta dos livros de história. O eu-lírico questiona esses estereótipos e busca elevar a
149
bebendo a vida, E que nos honramos com teu amor. TUA BENÇÃO, MÃE
PRETA! (MENEZES, 2015, p.32-33).
ressacralizada pela mitologia africana, ainda que sua sacralização não adentre nas mentes
colonialistas do Ocidente e na religião cristã, pois sapateia ritualmente no batuque do
candomblé e da umbanda e com isso reatualiza o mito e descoloniza o saber.
A intriga narrativa, dentro do plano da estória, é encontrada no confronto entre o caráter
sagrado e universal da Mãe Preta. Ora, vozes agregam seu valor, ora vozes o questionam, é uma
Deusa ou um Deus o padrão a ser seguido? O poema universaliza o sagrado feminino, a mãe
preta é quem nutre, quem cuida e quem sustenta a nação. Por fim, após sua ressacralização no
poema, o eu-lírico finaliza pedindo a bênção da Grande-Mãe. O uso dos enunciados
exclamativos expressivos e do vocativo, mãe, Tua Benção, Mãe Preta! conclamam a imagem
da grande deusa africana que subverte os padrões patriarcais e o sexismo institucionalizado e
assim, transcende padrões erroneamente instituídos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
152
CAPÍTULO 14
A RELAÇÃO ENTRE O USO DE ÁLCOOL POR ADOLESCENTES E
ACIDENTES DE TRÂNSITO EM CAXIAS – MA
INTRODUÇÃO
provocando tais fatalidades (DAVOREN et al., 2016; PONCE et al., 2019; ROBISON et al.,
2020).
A presente pesquisa tem a pretensão de desenvolver um estudo sobre a relação entre o
uso de álcool por adolescentes e acidentes de trânsito em Caxias, município do estado do
Maranhão. Neste sentido, entende-se que o consumo de álcool reduz o reflexo corporal aos
estímulos externos. Além disso, grande parte dos acidentes de trânsito ocorre entre jovens e
adolescentes que não possuem habilitação e realizam a ingestão de bebidas alcoólicas (LOPES
et al., 2012).
No entendimento de Melo (2018) e Smailovic et al. (2019) recentemente pode-se
observar um aumento significativo no número de motocicletas e condutores de veículos, bem
como uma tendência decrescente na categoria de pedestres e um aumento da mortalidade em
todos os anos e em todas as categorias, especialmente para motocicletas e ocupantes de
automóveis. O aumento da taxa de mortalidade por acidentes de trânsito consiste em um
fenômeno mundial na última década, principalmente em países de baixa e média renda
A lei nº 9.503, de 23/09/97 que estabelece o Código de Trânsito Brasileiro (CTB),
conceitua trânsito como o uso das vias terrestres por veículos, pessoas e animais, em grupos ou
isolados para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.
Complementando, o Departamento de Informática do SUS (DATASUS) utiliza o conceito da
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde para
conceituar e classificar os acidentes de transporte (BRASIL, 1997).
Diante dessa realidade, este estudo tem como problemática: “Qual o impacto do uso de
álcool por adolescentes nos acidentes de trânsito?”. Desse modo, a pesquisa possui como
objetivo a caracterização da prevalência de acidentes de trânsito em adolescentes que realizam
o consumo de álcool, bem como a realização de um levantamento dos índices de acidentes de
trânsito entre pessoas com níveis de idades variados, além de analisar a relação entre a
incidência de AT e o uso de bebida alcoólica no município de Caxias – MA.
A escolha dessa temática se deu pelo fato de que o consumo de bebidas alcoólicas
aumenta consideravelmente as chances de um acidente de trânsito seja ele por meio de uma
colisão, atropelamento ou queda, no qual o consumo de álcool se caracteriza como responsável
pela redução da velocidade de reação aos estímulos externos, além de que o fator experiência
no trânsito se torna crucial para o desenvolvimento de um acidente. Cabe ainda ressaltar que
esse estudo é relevante para os mais diversos profissionais da saúde, bem como para a própria
população, tornando-se assim possível ampliar seus conhecimentos mediante os mais diversos
155
METODOLOGIA
TIPO DE PESQUISA
A pesquisa foi realizada no Complexo Hospitalar Municipal Gentil Filho que fica
localizado no município de Caxias, que está situada na região leste do estado do Maranhão a
156
374 km da capital maranhense, São Luís e 76 km da capital do Piauí, Teresina, com área
territorial em 2015 de 5.196,771 km².
De acordo com o hospital em questão, ele apresenta a capacidade de atender os mais
diversos pacientes do município e abrange a região (Aldeias Altas, Coelho Neto, São João do
Sóter, Buriti entre outros). Complexo Hospitalar Municipal Gentil Filho que fica localizado na
Rua Rio de Janeiro, na cidade de Caxias-MA, ressaltando que a unidade realiza
aproximadamente 300 atendimentos por dia. Foram parte do estudo as fichas dos pacientes
atendidos entre o período do dia 1 de agosto de 2019 a 31 de dezembro de 2019.
Os critérios de inclusão foram: pacientes que tenham sofrido acidentes de trânsito entre
as datas de 1º de agosto de 2019 e 31 de dezembro de 2019.Os critérios de exclusão foram:
pacientes também que não possuam atendimento realizado no Complexo Hospitalar Municipal
Gentil Filho, fichas rasuradas ou que impossibilitem sua compreensão.
ASPECTOS ÉTICOS
157
A pesquisa acatou todos os aspectos éticos que envolvem os estudos dessa natureza,
conforme o deliberado pelo Conselho Nacional de Saúde, com o devido respaldo da resolução
466/2012. O presente estudo foi submetido à Plataforma Brasil e ao Comitê de Ética e Pesquisa
(CEP) do Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão – UNIFACEMA,
parecer: 3.896.266, aprovado com o CAAE: n° 28300620.2.0000.8007. Conforme a resolução
de n° 466/12, que tem o objetivo de garantir os direitos deveres dos participantes da pesquisa
(BRASIL, 2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
aqueles que têm idades de 21 a 30 anos, que é de 19,4%, com 15,9% as pessoas com idade entre
31 e 40 anos, já os pacientes com idade entre 41 e 50 anos possuem o número amostral de
10,2%, valor idêntico com aqueles que têm faixa etária entre 51 a 60 anos, e o valor de 1,1%
corresponde aos indivíduos que tenham acima de 61 anos.
Na tabela 4, pode-se observar que foram analisadas ao total 112 fichas ambulatoriais
correspondentes ao número de acidentes de trânsito ocorridos no mês de Novembro de 2019,
no qual, 23,3% representa o valor percentual da quantidade de pessoas entre 12 e 20 anos que
159
se envolveram em acidentes, com valor de 41,9% estão as pessoas com idade entre 21 e 30
anos, número esse que decresce em relação à quantidade de pacientes com faixa etária de 31 a
40 anos, que é de 18,8%, com idade entre 41 e 50, o valor representativo é de 9,8%, já aqueles
que possuem idade entre 51 e 60 anos, tem como valor característico 3,6%, e acima de 61 anos,
apenas 2,6%.
Na tabela 5, foram observadas 120 fichas ambulatoriais, visto que as pessoas com idades
entre 12 e 20 anos apresentaram um percentual de 39,1% em relação ao total de acidentes
acorridos no mês de dezembro de 2019, entre os 21 e 30 anos, o valor cai para 27,5%, que
decresce à medida que a faixa etária parte para 31 a 40 anos, que corresponde apenas 9,1% do
valor total, assim como os pacientes que possuem idade entre 41 e 50 anos que expõem uma
parcela de 7,5%, as pessoas com idade entre 51 e 60 anos aumentaram significativamente em
relação ao seu antecessor, com uma taxa de 11,8%, e as pessoas acima dos 61 anos representam
apenas 5% do total da pesquisa.
No gráfico 1, têm-se uma representação geral dos dados analisados, a partir do mês de
agosto até dezembro de 2019, de forma que fez-se uma somatória total e sua divisão perante a
faixa etária amostral, como pode-se observar, foram coletados 165 fichas ambulatoriais, com
idades entre 12 e 20 anos, representando assim 36% no total dos dados presentes. A próxima
160
série de idades analisadas foi de 21 a 30 anos, tendo também grande representatividade, com
129 fichas ambulatoriais no total, portanto, apresentando um número amostral de 28%, já a
faixa etária de 31 até os 40 anos mostrou um total de 70 fichas analisadas, constituindo 16% de
todo o cálculo amostral, as idades de 41 até os 50 anos continuaram decrescendo, em vista que
o número de fichas ambulatoriais e prontuários examinados foram de apenas 47, fornecendo
assim apenas 10% de sua totalidade e com apenas 33 fichas observadas e constituindo 7% do
total das pesquisas ficaram as pessoas com idade entre 51 e 60 anos, e aquelas acima de 61 anos
representaram apenas 3% do total de acidentes, com 12 fichas avaliadas.
7%
10%
36% 12 - 20 ANOS
21 - 30 ANOS
16% 31 - 40 ANOS
41 - 50 ANOS
51 - 60 ANOS
<60 ANOS
28%
Nesse enfoque, Andrade e Jorge (2016) e Rocha et al. (2019) demonstram que em suas
análises, as vítimas dos acidentes de trânsito ocorrem com mais frequência em jovens e adultos,
no qual essa situação pode ser explicada pelo consumo abusivo de bebidas alcoólicas, após isso,
se expõem ao risco de dirigir.
Muitas vezes o consumo de bebida alcoólica por adolescentes é influenciado pelo
próprio ambiente familiar, pois ele estimula o desenvolvimento da conduta e da personalidade.
Além disso, são influenciados também pelo grupo de amigos, por sentirem a necessidade de
serem aceitos (BENINCASA et al., 2018; FERREIRA et al., 2019).
Na tabela 6, apresenta-se o expositivo que relaciona o número de pessoas com faixa
etária de 12 a 20 que sofreram algum acidente de trânsito, com o número de adolescentes que
fizeram o uso de bebidas alcoólicas, em um período compreendido entre agosto e dezembro de
2019, de forma que, é possível observar que foram examinadas um total de 165 fichas
ambulatoriais, nas quais 93 abrangem pessoas que fizeram o uso de álcool, mostrando assim
uma amostra percentual de 53,3% da totalidade. Nos meses analisados, dezembro possui sua
161
maior quantidade com 47 acidentes de trânsito, destes, 34 são de adolescentes que consumiram
álcool, mostrando uma taxa de 20,6% do total analisado.
O uso do álcool com a ocorrência de acidentes e violências deixa claro que o seu uso
favorece a inclusão do indivíduo em comportamentos alterado, além do que, referem que jovens
que abusam de bebida alcoólica apresentam até três vezes mais chance de desenvolverem algum
acidente motociclístico, quando comparados aos que não fazem o consumo dessa substância
(SOARES et al., 2012; SANTOS, 2014).
O gráfico 2 e 3 constituem um comparativo, de forma que eles apresentam a disposição
dos dados obtidos entre o mês de agosto a dezembro de 2019, no entanto, expressando em
números a quantidade de homens e mulheres com faixa etária de 12 a 20 anos, acidentados entre
o período pesquisado, comparando assim com o número de pessoas com a mesma faixa etária,
que tenham realizado o uso de bebidas alcoólicas.
O mês de agosto teve apenas 21 acidentes de trânsito envolvendo pessoas com idade
entre 12 e 20 anos, dentre eles 16 homens (6 fizeram uso de bebidas alcoólicas) e 5 mulheres
(apenas 1 relata o uso de álcool), o mês de setembro teve um aumento, com 38 acidentes, sendo
31 homens (um total de 12 homens relatam o uso de bebidas) e 7 mulheres (um total de 4
confirmaram o uso de álcool), o mês de outubro verifica um total de 33 acidentes, com 22
homens (sendo que 18 ingeriram álcool) e 11 mulheres (apenas 5 descreveram o uso de bebidas
alcoólicas), no mês de novembro o número total de acidentes envolvendo adolescentes foi de
26, composto por 15 homens (10 referem o uso de álcool) e 11 mulheres (apenas 3 referem o
uso do álcool), em dezembro, o último mês estudado, apresentou-se um aumento perante o
número de acidentados, 47 no total, com prevalência de homens, com 39 indivíduos (28
constatam o uso do álcool) e apenas 8 mulheres (sendo que 6 relataram o uso de álcool).
162
Os adolescentes estão mais expostos, por conta que são movidos pela curiosidade e as
sensações de prazer, de forma que, apresentam-se com maior evidência no sexo masculino,
assim como a predominância no trânsito, explicado pelos mais diversos fatores, sejam sociais,
culturais e econômicos (ANDRADE; JORGE, 2016; MOISE, 2020). No Brasil, o risco de
acidentes com veículos associados ao uso de álcool pode ser considerado um importante
problema de saúde pública, com grande impacto na morbimortalidade (OLIVEIRA et al., 2020).
25 23
20 18
16
15 12 13
10
10 7 6 5 6
4 3
5
1
0
Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Total Homens Mulheres
CONCLUSÃO
saúde pública, que tenha como objetivo principal, minimizar o desenvolvimento dessa prática,
para obter, uma melhor perspectiva de vida e o bem comum em presença de todos.
REFERÊNCIAS
BENINCASA, M. et al. A influência das relações e o uso de álcool por adolescentes. Rev.
Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog., [S.I.], v. 14, n. 1, p. 5-11, 2018.
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United Kingdom from 2002 to 2014: A Systematic Review. BMC Public Health, [S.I.], v. 16,
n. 173, p. 1-13, 2016.
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FERREIRA, L. F. O. et al. Perception of adolescents about alcohol consumption. Rev Enferm UFPI,
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FLICK, U. Introdução à Metodologia de Pesquisa: um guia para iniciantes. 1. ed. Porto Alegre: Penso,
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Inj Prev, [S.I.], v. 20, n. 4, p. 343-347, 2019.
CAPÍTULO 15
HERANÇA MEMORIAL DO CONFLITO DO JENIPAPO
INTRODUÇÃO
A memória situa-se como instrumento básico para relembrar o passado, com ela que
construímos nossa própria identidade, e nós constituímos no mundo, porém, não é possível
lembrarmos tal qual aconteceu apenas lapso do ocorrido, fragmentos que não se pode
reconstruir, podendo ser transmitida, segundo Pollack (p. 10, 1992) por meio da memória vivida
e herdada, respectivamente, a primeira refere-se aos acontecimentos vividos individualmente,
e o segunda relativa a fato que o indivíduo não presenciou, mas conheceu por meio da cultura
em que ele está inserido, construindo uma memória de pertencimento, conservada nas
lembranças permeadas em estruturas materiais ou imateriais como imagens, inscrições,
desenhos, documentos, monumentos, etc. que constitui a História de um povo. Segundo Paulina
Maria de Jesus e Francisco Alcides do Nascimento (2016, p. 213):
A Independência do Brasil, não foi uma mudança não estrutura sociopolítica brasileira
que se concretizou somente como a proclamação as margens do Rio Ipiranga, foi o resultado
de um percurso conturbado e violento que envolveu as regiões que constitui o país, em busca
de liberdade e autonomia de Portugal. Insuflar na população a unidade nacional foi só um desejo
que demorou em ser concretizado, tentado que custar a morte de muitos brasileiros que deram
a vida pela nação. O agitado período posterior à proclamação, recheado de conflitos, brigas em
torno de uma fragmentação territorial como na ex-colônia espanhola ocorrerá.
A diferença de como se deu a adesão das províncias do Brasil a independência foi
diferente, principalmente a discrepância entre as regiões do Norte e sul do país. Acentuada pelas
dificuldades de comunicação entre uma e outra, o que dificultava a expulsão dos portugueses
do território. Além do mais, a elite local estava fortemente ligada a Portugal e dominavam toda
a dinâmica política da época.
No Piauí, os portugueses, queria manter o domínio por se tratar, na época, de uma região
rica, que era conhecida por ser uma das maiores fornecedora de gado para as regiões do sul e
para o exterior. Fonte de riqueza para os lusos, que diante da eminente independência e após D.
João VI voltar a Portugal em 1821 e encontrar a região mergulha em problemas econômicos e
políticos, o rei português começa a articular um plano para manter o domínio no norte e nordeste
do Brasil, além disso, o Piauí era geograficamente uma posição estratégica, pois, ficava próxima
a duas províncias historicamente apoiadoras de Portugal, como Maranhão e Pará, nessa região
a resistência portuguesa a força da independência ganhariam folego. Diante do começo da
efervescência de ideais favoráveis à emancipação política pela elite piauiense, D. João VI,
nomeou, no dia 9 de dezembro de 1821, seu afilhado e veterano de guerra contra Napoleão
Bonaparte, o Major João José da Cunha Fidié como Governador das Armas do Piauí. Segundo
Neves (2006, p.59):
30 No dia 04 de fevereiro de 1822, recebeu o Governador Provisório uma portaria do Ministério de Estado dos
negócios da Marinha e Ultramar exigindo a formação de uma Junta Provisória do Governo, para auxiliar o
governador.
169
público sossego com arruaças e crimes. Mas a onda violenta das paixões
crescia, avolumada pelos escachôos dos ódios e desrespeitos e subia
grunhindo ameaças que tiveram a mais funesta consequência. Ainda não
estava declarada a luta e já as hostilidades se chocavam alarmantes e ruidosas.
Portugueses e brasileiros mediam-se, a distância, trocando mútuas
represálias... Fidié chegou a 8 de agosto e, no dia seguinte, empossou-se, no
meio do entusiasmo festivo de uns, e da retração cautelosa de outros. Como
era de prever, sua chegada trouxe uma trégua passageira, durante a qual a
província se manteve na expectativa dos seus primeiros atos. (NEVES, 2006,
p. 59).
Dessa forma, mesmo ante da Independência o Brasil, já passava por uma onda de
rejeição aos portugueses, considerados sinônimos de atrasos e empecilhos para o futuro da
região. E no Piauí não foi diferente, espalhou-se uma verdadeira guerra contra os lusos. Com a
vinda de Fidié entrou em um clima de apaziguamento dos ânimos raivosos.
A culminância da aversão aos lusos e o desejo pela emancipação política de Portugal no
dia 19 de outubro de 1822 quando a Vila de Parnaíba por meio de seus eleitores da paroquia da
Parnaíba, reunidos em número elevado no paço da Câmara programa a adesão a Independência
do Piauí de Portugal. Um dos líderes desse ato foi o alferes Leonardo de Carvalho Castelo
Branco e os maçons Simplício Dias da Silva e Cândido de Deus e Silva. Se os portugueses e
apoiadores de Portugal achavam que os piauienses estariam aéreos em relação à independência
pelo contrário como mostra Neves (2006, p.65):
[...] Portugal não pretendia cruzar os braços diante dos fatos, e o Piauí, por sua
situação geográfica, era um magnífico posto estratégico donde Pernambuco,
a Bahia e o Ceará seriam atacados. Desde que esta Província recebesse força
bastante para invadir as províncias limítrofes, em vão tentariam elas uma
resistência inútil, podendo ser feridas de uma vez e em diferentes pontos. O
bloqueio dos portos secundaria a ação das forças de terra e a emancipação
correria iminente o risco de ser jugulada. (NEVES, 2006, p. 66).
Como esse orgulho patriota que os piauienses foram ao encontro de Fidié e sua tropa,
marchado rumo às margens do rio Jenipapo, os revolucionários esconderam-se no próprio leito
do rio, que estava seco por causa da falta de chuva. Segundo Furquim (2011, p.20-21):
As tropas patriotas eram, em sua maioria, homens simples que não tinha contato com os
treinamentos militares e encontram um grupo de soldados treinado para o exercício da guerra.
Parecia loucura mais era justificado pelo patriotismo que emanava da sua coragem para
enfrentar o exército luso. A estratégia utilizada para o enfretamento foi sobre comando de
171
Rodrigues Chaves que mandou patrulhar a estrada da direita, enquanto mantinha homens em
posição na estrada da esquerda. Por lá descia um pelotão de cavalaria de Fidié, destacado dos
demais integrantes do corpo de guerra português. Ao avista os patriotas abriu fogo contra eles.
Ao ouvir os tiros os demais não atenderam ao comando, abandonaram a posição defensiva e
foram ao ataque para o local dos disparos. Contudo, a cavalaria portuguesa retrocedeu temendo
enfrentar um combate sem saber quantos homens teria a frente. Quando os piauienses chegaram
não havia nada de cavalaria.
Fidié resolveu aproveitar-se do desespero brasileiro e assim transferiu suas tropas para ao
lado oposto do primeiro conflito, conseguindo estabelecerem uma posição favorável e defensiva
que antes era dos revolucionários, sendo tarde para rebelados para uma reação depois dos
equívocos, pois os 1100 portugueses estavam armados de granadeiros e 11 peças de artilharia
dispostos a apertar o gatilho. Segundo NEVES (2006, p. 148):
Desta forma, ao anoitecer do dia 13 o líder das tropas português marcha ao redor das
terras de Campo Maior sem ânimo e confiança para tomar a Vila ao seu poder, sendo o roubo
da bagagem o responsável pela decisão de não enfrentar um novo combate sem reservas, se
recrutando na fazenda Tombador, localizado nas a proximidades do local de conforto. Uma
estadia de duração de três dias, servido para descanso, recuperação dos homens feridos e
sepultamento das baixas, concluído que não havia como deter e reverter à onda das ideias
revolucionárias, assim partiu em direção ao rio Parnaíba com destino a Caxias no Maranhão
controlada pelos portugueses, desistindo de prosseguir para capital Oeiras.
foram se jogar a morte em um campo de batalha contra uma tropa treinada em pros do sonho
de viver em país independente. Ao observar que 33% apenas ouviram comentários, expõem a
conclusão que mesmo havendo um tímido debate a acerca dela, ainda é vista de forma comum,
sem a preservação dos paradigmas da importância de se buscar conhecer a sua própria história,
pois a construção da memória como destaca Pereira (2001, p.20) “está estreitamente vinculada
ao acesso a informações, que por sua vez está vinculada à organização dos seus suportes
materiais”.
A maioria totalizado em 79% afirma que está conflito foi trabalhando durante o seu
percurso escolar e destacam que foi transmitida como um conflito muito importante, entretanto
não tiveram uma absolvição do que de fato se foi a Batalha do jenipapo, assim julga-se certa
ineficácia do meio educacional por não conseguir desenvolver uma aprendizagem cognitiva,
aonde o ensino seja voltado para conhecimento critico. Embora as escolas piauienses trabalhem
a batalha no seu dia a dia escola, não consegue promover no ensino de história esse elo presente
e passando, ficando as memórias presa nos livros, como a firma Barros e Amélia (2009. P. 57)
“deletou ao arquivo a função de mantê-la viva, de forma a desacelerar o desaparecimento de
sinais do que se deseja manter, em face da necessidade de lembrar”.
62% da população teve uma margem de acertos, sendo assim os outros 38% não
reconhece que essa luta foi ocorrida em Campo Maior. Vale salientar que os 20 entrevistados
de Campo Maior e de Cabeceiras tiveram sua margem de acertos total. Apesar da menor
quantidade de pessoas que não sabem a localização do conflito, é preocupante que haja tanto
desconhecedoras de uma informação considerada simples, podendo ser correlacionando com o
contexto que esse entrevistado está inserido, levando em conta que em Campo Maior há uma
política de valorização a data, por ser a sede do conflito, no entanto Cabeceira impressionada
por se diferenciar das demais, evidenciando assim que a memória é uma construção de acordo
Moreira (2005, p.1) “psíquica e intelectual que acarreta de fato uma apresentação seletiva do
passado, que nunca é somente aquela do individuo, mas de um indivíduo inserido num
contexto”.
Como mostra grande parcela dos entrevistados não tem conhecimento da Lei Estadual
n°5507, de 17 de novembro de 2005 que declara a data do conflito a ser estampada na bandeira
do Piauí, vale ressaltar o total de 75% dos abordados demostravam insegurança em responder,
em sua maioria afirmavam esta “testando a sorte”, ou seja, respondendo de maneira aleatória,
sem apresentar nenhum conhecimento prévio, evidenciando a ineficiência da divulgação da lei
programada com intuído de corresponder às reivindicações da classe acadêmica de dar maior
importância e reconhecimento da batalha do dia 13 de maio de 1883. No entanto mesmo com
174
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 16
A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NA PRÁTICA DE
ALFABETIZAÇÃO PARA OS ANOS INICIAIS
INTRODUÇÃO
• Alfabetização
• Letramento
• Dificuldade entre à Alfabetização e o Letramento
• Como transformar um educando alfabetizado em letrado
A aprendizagem no processo de escrita deve ser iniciada antes mesmo que a criança
frequente o espaço escolar, a criança precisa ser inserida no mundo letrado de uma forma sutil
e orgânica, seja visualizando objetos em casa ou até mesmo vendo seus pais conversando, que
os pequenos já começam a falar algumas palavras, porém, é na escola, mediante conhecimentos
sistematizados, que são alfabetizados e letrados. Para tanto o processo de alfabetização se dá
por ciclos que tem como objetivo fundamental em todo o percurso do Ensino Fundamental
conforme a divisão abaixo:
Vale ressaltar que esses ciclos podem não se aplicar para alguns estudantes, pois cada
criança tem um ritmo para ser alfabetizada e letrada na qual eles precisam ser respeitados pelo
o mediador para que o seu aprendizado aconteça. Destacando outros pontos a serem levados
em consideração para o planejamento das aulas, são três tipos de desenvolvimento que
acontecem junto ao processo de alfabetização e letramento. São elas:
• Desenvolvendo a consciência fonológica
• Por meio da Psicogenética
• Promovendo o conhecimento das letras.
Além disso, esse processo de aprendizagem visa a contribuir para a alfabetização das
crianças no meio letrado de diversas formas, antes que ela aprenda efetivamente a ler e a
escrever. O intuito disso é tornar a leitura e a escrita em uma sequência de atividades que
são promovidas pelos pais e pela pré-escola. Assim, a criança terá um relacionamento e uma
afinidade maior com o mundo da escrita e da leitura e, assim, reconhecerá as palavras por
meio destas ações lúdicas do dia a dia visando em alcançar os objetivos propostos para o
processo de alfabetização por meio do letramento que caminha lado a lado na perspectiva de
alfabetizar.
Se esse hábito não existe para fazer parte de seu cotidiano, é inútil alfabetizar e deixar
que as crianças aprendam. Portanto, lembrar algumas palavras não é saber ler nem escrever,
assim como a criança sabe que as letras só são inúteis como expressão na pintura. Ele precisa
saber que é um som para formar uma palavra, uma frase e um texto. Existem sete fases que a
criança deve passar até estar apta a ler e escrever:
• Icônica
• Garatuja
• Pré-silábica
• Silábica sem valor sonoro
• Silábica alfabética
• Alfabética
• Ortográfica
PROBLEMATIZAÇÃO
180
ALFABETIZAÇÃO
181
Intermediação do professor, na qual ele é o alicerce para auxiliar os seus educandos no processo de
desenvolvimento da escrita e da leitura.
É por meio do desenvolvimento das competências onde se dá início ao processo de aquisição
do alfabeto, no prestígio das letras a sua ligação entre as sílabas e a formação das palavras na
decodificação da leitura por meio da escrita.
Entretanto o objetivo da alfabetização é ler com compreensão e escrever de forma que seja
compreensível para o leitor, pois as atividades de uma composição gráfica são partes fundamentais na
formação das palavras, pois escrever significa transitar entre o código oral (dos fonemas) e o escrito
(dos grafemas). Entretanto, existe a defasagem de crianças que não conseguem ser alfabetizadas
na idade certa do ensino fundamental I, entretanto não adquiriram o domínio da leitura e da
escrita, aonde essas crianças vão passando para uma nova série com várias dificuldades, pois não
tiveram uma base essencial no início de sua aprendizagem para decifrar os códigos que levam a
codificação das sílabas.
LETRAMENTO
O referido trabalho por sua vez é designado na capacidade de suas competências para que o
discente possa adquirir a partir de uma função social de leitura e escrita no que diz respeito em um
contexto mais amplo, além da aprendizagem das letras e símbolos escritos, aprender a ler e escrever
requer compreender o mundo, o tempo, o espaço e a realidade em torno de si. Visa buscar subsídios
para uma melhor compreensão do processo de alfabetizar letrando, por meio de coleta de dados,
informações, pesquisas, e procurar entender as dificuldades dos mesmos que ainda não
desenvolveram as competências necessárias para está apto do mundo letrado.
Vale ressaltar que os objetivos propostos para alfabetizar e letrar ao mesmo tempo é
reconhecer a importância da leitura e escrita no processo de alfabetização aonde a criança vai
memorizando ou decifrando os códigos do alfabeto até chegar ao momento em que está em
desenvolvimento da fase inicial de letramento, para tanto compreender esse processo é intender
como se dá o processo inicial de alfabetização nas séries iniciais. A alfabetização é a referência central
em que o indivíduo aprende algumas habilidades como: Codificar os códigos e decodificar as sílabas de
forma individual. Diante esse contexto as crianças ampliam novos horizontes na demanda em que vão
tendo novas descobertas para a sua aprendizagem o processo de alfabetização envolve a linguagem de
maneira espontânea que visam em um determinado contexto. Conforme ressalta Ferreiro, “O
desenvolvimento da alfabetização ocorre sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais,
assim são recebidas passivamente pela criança.”. (FERREIRO, 2004 P. 22):
Sobretudo fica evidente que o conhecimento para a criança acontece na medida em que
ela vai interpretando e construindo gradativamente o que lhe é ensinado, pois os discentes
associam as letras e as sílabas até chegar a sua totalidade de maneira que sejam compreensíveis
as informações que lhes são adquiridas no cotidiano. A alfabetização e o letramento são termos
que se complementam, onde a criança faz de suas práticas sociais a capacidade de interpretar,
compreender, opinar de forma espontânea no ambiente na qual está inserido. O processo de
alfabetização junto do letramento é a referência central em que o indivíduo aprende algumas
habilidades como: Codificar os códigos e decodificar as sílabas de forma individual. Eles/elas
ampliam novos horizontes na demanda em que vão tendo novas descobertas para a sua
aprendizagem.
ALFABETIZAR LETRANDO
Alfabetizar e letrar são mais do que ensinar a ler e escrever, é fazer o uso da leitura e
da escrita no convívio social, sendo uma prática que faz parte da realidade social de cada sujeito.
Ressaltando-o, que o processo de alfabetização se inicia nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Visando alcançar os objetivos propostos na perspectiva de alfabetizar letrando,
em um ambiente aconchegante que interligue com o planejamento do educador com o intuito
de contextualizar os fundamentos para enfatizar que a sala do primeiro ano dos pequenos seja
um ambiente lúdico e que ofereça materiais disponíveis que instiguem as crianças a aprender a
ler e escrever.
Além disso, o ambiente em que o discente está inserido representa uma variedade de
lugares com o que se depara cotidianamente, entretanto antes mesmo da criança ser capaz de
ler, no sentido convencional no termo alfabetizar e letrar as crianças tentam interpretar as
pequenas palavras dos textos que encontram ao seu redor (livros, embalagens, comerciais,
cartazes de rua), títulos (anúncios de televisão, histórias em quadrinhos, etc...).
Salientando que para as classes de alfabetização deve haver um “canto ou área de
leitura” na qual se tenha em sala de aula os livros paradidáticos que têm por essência o
184
aperfeiçoamento do incentivo das crianças na leitura. Para tanto é de extrema importância que
o professor junto com os pais seja a base fundamental para incentivar as crianças a desenvolver
a leitura deles.
Na visão de Soares que menciona:
“Um sujeito letrado compreende a importância dessa prática em seu meio social e tem
domínio sob a leitura e escrita, ou seja, é um sujeito que utiliza a leitura e escrita como uma
prática social”. (SOARES 2003, p.39).
Para tanto os educandos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental compreende a leitura
e a escrita em seu contexto social, salientado que a escola, junto com os educadores, os pais e
a sociedade em geral fazerem parte da aquisição desse processo de desenvolvimento cognitivo
da criança no processo de alfabetização e letramento.
METODOLOGIA
RESULTADOS OBTIDOS
AVALIAÇÃO
Para a avaliação utilizamos três maneiras. Na primeira avaliamos em grupo por meio
contação de história na sala de leitura e em biblioteca com jogos lúdicos utilizando a
Gamificação em jogos digitais. Para a segunda avaliação usamos a leitura individual e sua
186
CONSIDERAÇÕES FINAIS
escolas pesquisadas, pode-se organizar um plano para atingir as metas e objetivos determinados
no projeto de política educacional. Para organizar, sugiro listar as áreas de experiência com
base na introdução da Base Nacional Comum Curricular.
Pode-se concluir que a alfabetização é um processo de natureza complexa, um fenômeno
de múltiplas facetas, que fazem objeto de estudo de várias ciências. Entretanto, só a articulação
e a integração dos estudos desenvolvidos no âmbito de cada uma dessas ciências podem
conduzir a uma teoria corrente da alfabetização.
REFERÊNCIAS
FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo/ Emília Ferreiro: (tradução Sara Cunha Lima, Marisa
do Nascimento para). – 15. Ed. – São Paulo: Cortez, 2004. P.22- 36.
188
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. 41ª ed. Cortez. 2001.p.34.
.
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Alfabetizar?
Letrar? Ou alfabetizar letrando? Qual é a diferença entre alfabetização e letramento?
Disponível em: http://www.editoradobrasil.com.br/educacaoinfantil/letramento_e_alfab. aspx.
Acesso em: 20 mar. 2021.
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO: ENTENDA AS DIFERENÇAS. Superautor – Um
Projeto Pedagógico Encantador. Disponível em: https://superautor.com.br/letramento-e-
alfabetizacao-entenda-as-diferencas/amp/ Acesso em: 28 de Ago. 2021.
LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO; Entenda as Diferenças- Superautor
Letramento e alfabetização: Entenda as diferenças. O processo de inserção da criança no mundo da
leitura e da escrita é muito importante Disponível em:.https://superautor.com.br/letramento-e-
alfabetizacao-entenda-as-diferencas/ Acesso em 28 de Ago. de 2021.
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2010. P.16.
SOARES, Magda. Letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. p.33 Acesso em 30/01/2021.
Acesso em: 12 abr. 2021.
CAPÍTULO 17
A RELAÇÃO DO CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
INTRODUÇÃO
Esse projeto de ensino tem como foco central em cuidar e o educar na educação infantil.
A educação infantil por si só é acolhedora, pois esse ambiente disponibiliza cuidados e
assistência para todas as crianças que estejam no contexto escolar, é valido afirmar que muitas
vezes os pais matrícula seu filho (a) muito cedo na creche ou pré-escola, muitos tem apenas
meses ou menos de 4 anos de idade, pois essas famílias precisam ir trabalhar e justamente por
não ter exatamente com quem deixar, elas contam com esse apoio da escola para que possam
ter cuidados com suas crianças. Conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nos
assegura sobre os campos de experiências no âmbito escolar que são divididos em cinco etapas
para que as experiências, os objetivos de ensino aprendizagem e desenvolvimento ocorram com
eficiência. Desse modo os saberes e o conhecimento dos campos de experiências são: O eu, o
outro e o nós; caracterizando em corpo, gestos, movimentos, traços, sons, cores e formas;
oralidade e escrita, espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
Perante esse contexto cuidar de crianças no ambiente escolar requer a integração de
conhecimentos nas diversas áreas além da cooperação de profissionais de diversas áreas. Já no
educar, os docentes criam métodos de aprendizagem para alcançar o desenvolvimento da
criança, assim como para as habilidades cognitivas, psicomotora e socioemocionais.
JUSTIFICATIVA
O presente trabalho tem como propósito em levar a reflexão sobre o cuidar e o educar
na educação infantil. Dessa forma sabemos que o cuidar e o educar andam lado a lado, para
ajudar na informação da criança como individuo e como aluno, pois a criança que se sente
191
cuidada tende a ser educada mais facilmente. De acordo com o foco que se deseja enfatizar, no
sentido de favorecer a compreensão das crianças, visto que o cuidar como um todo é cuidar da
higiene, segurança e alimentação. Já o educar está voltado para a relação do aprendizado, assim
como a maneira que essas crianças devem se comportar diante a sociedade.
É importante saber respeitar os limites, assim como, o direito do próximo, para que
assim, possam aprender que todos são iguais independentemente de gêneros, cor e etnia. Perante
esse contexto essas ações de cuidar e educar não podem ser separados, pois ambos se
complementam totalmente, sendo assim o cuidado é uma forma de educar e o educar é uma
maneira de cuidar. Justifica-se esse estudo pela importância da função dos pais, juntamente com
o apoio dos educadores durante essa etapa do desenvolvimento infantil dessas crianças.
Dessa forma quando as creches e as pré- escolas acolhem aquela criança, suas vivencias
e conhecimentos construídos pela família e pela comunidade que vive, quando é articulado para
essas informações nas propostas de ensino e aprendizagem no contexto pedagógico tem como
intuito em contextualizar o universo, suas experiências e conhecimentos na aprendizagem dessa
criança, conhecendo assim suas habilidades para que nesse contexto o educador possa
diversificar e consolidar nossas aprendizagens, complementado com a educação familiar e
principalmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem pequenas, pois
envolve a relação de mãe, para filho (a) que ainda são muitos próximos tanto no contexto
familiar como no escolar, sendo a socialização, a autonomia e comunicação dessa criança.
Portanto, esse estudo tem como relevância em refletir com a relação ao cuidado e
educação da criança de 0 a 6 anos de idades. É valido ressaltar que o cuidado e a educação em
suma é o saber do espaço e do tempo da vida das crianças e isso requer um determinado esforço
dos adultos a propósito em proporcionar um ambiente que desenvolvam a criatividade dessas
clientelas. O cuidar e educar na educação infantil permite que o educador compreenda que o
espaço e o tempo que a criança vive exigem muito do seu esforço, o professor deve zelar pelo
desenvolvimento de cada criança, para que assim, elas possam ao longo do processo para
construir sua própria identidade.
PARTICIPANTES
O projeto de ensino está voltado para educação infantil sendo creche para escola com faixa etária
de crianças que são matriculadas na creche e ocorre duas etapas diferentes de 0 a 1 ano e 6 meses com
crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses. Crianças entre 4 anos e 5 anos e 11 meses são
matriculados na pré-escola e durante esse processo de aprendizagem que ocorre, ao vivenciar cada etapa
192
as crianças vão aprimorando sua bagagem de conhecimento e colocando em prática os cinco campos de
experiências.
PROBLEMATIZAÇÃO
CUIDAR E EDUCAR
Diante esse contexto podemos salientar que o conceito de educação para o cuidado no
cotidiano da educação infantil é indissociável entenda de forma fragmentada como trabalho a
ser desenvolvido as crianças devem se voltar para sua singularidade e indivisibilidade.
Atualmente encontramos grandes desafios, pois os pais acham que é obrigação da escola
ensinar a ser educado, a respeitar e não apenas ensinar, vale salientar que a educação vem de
casa e o ensino vem da escolar. Quando ajudamos uma criança a tomar banho, vestir-se,
alimentar-se estabelecendo com ela uma boa relação afetiva. Com isso desenvolvemos um ato
educativo que irá promover o seu pleno desenvolvimento como pessoa.
Desenvolvemos a operacionalização das ações que estão voltadas para as satisfações
mecânicas das necessidades básicas da alimentação, repouso e higiene da criança. E essa rotina
nos proporciona momentos para estreiar o contato interativo com a criança, nas conversas, nas
brincadeiras e acolhendo-as.
Segundo ressalta o RCNEI, “a base do cuidado humano é compreender como ajudar o
outro a se desenvolver como humano, cuidar significa valorizar e ajudar o desenvolver e suas
capacidades” (RCNEI, 1988, P.24).
De certa forma o cuidar e o educar implica em reconhecer que o desenvolvimento, com
a construção dos saberes e do ser não ocorre em momentos e de maneira compartilhada.
O cuidar faz parte essencial das instituições de caráter educativo para crianças
pequenas, o RCNEI, corrobora que o cuidar envolve questões afetivas,
biológicas, como alimentação e cuidados com a saúde e higiene da criança
(RCNEI, 1988).
Deste modo, é valido ressaltar que o papel das instituições de educação infantil é
proporcionar condições para esse desenvolvimento, exigindo assim, atividades que passem por
um adequado planejamento, internacionalização, contextualização e atividades significativas,
para que as crianças possam usufruir da exigibilidade do cuidado, da educação e dos jogos.
Dessa maneira a criança pode fortalecer laços afetivos, sentir-se segura e acolhida no momento
de ser cuidada, mas ao mesmo tempo pode ser utilizada para ganhar novos aprendizados, e até
mesmo fazer com que os momentos de aprendizagem aconteçam de forma espontânea e
prazerosa. Salienta-se ainda que os jogos e as vivências sejam guiados por experiências
importantes e consistentes com sua faixa etária de cada criança.
METODOLOGIA
O presente estudo foi desenvolvimento numa perspectiva quantitativa, para melhor análise do
problema. A pesquisa aqui apresentada caracteriza-se por ser uma pesquisa do tipo bibliográfica em que
reúne as informações e dados que serviram como base para a construção dessa pesquisa que teve como
objetivo em identificar o processo de cuidar e educar, assim como em conhecer os desafios que os
professores enfrentam com relação ao cuidar e educar das crianças.
Este estudo é resultado de uma revisão bibliográfica que segundo Gil (2002, p.17) esse tipo de
pesquisa é “um procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos
problemas que são propostos”. Buscando aprimoramento em publicações cientificas da área no Google
Acadêmico e Scielo.
Conforme as analises bibliográficas podemos mencionar que o cuidar e o educar
metodologicamente são todo aquele processo que envolve desde o acolhimento, alimentação da
198
criança, a higiene, segurança, banho, descanso, o esperar a sua vez e brincar, quando estamos
cuidando da criança ela aprende, e ao brincar ela está sendo educada, dessa forma o cuidar,
educar e brincar na educação infantil é de grande relevância na qual pode contribuir
significativamente para a sua construção e desenvolvimento.
AVALIAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se assim que a educação infantil é algo mágico, único e indispensável na vida
humana. Educação e diversão são mais do que cuidar. As três palavras funcionam bem juntas
eles constituem os cidadãos de amanhã. A experiência marcará a experiência de sua vida e
experiência vai fortalecer a autoconfiança, a cooperação, Unidade e responsabilidade.
Experiência de educação infantil intervir ativa e significativamente no desenvolvimento e na
formação humana. Cidadãos que são criticados / reflexivos devido às consequências de
determinadas ações Como: Brincar é uma forma de comunicação, por meio desse
comportamento, as crianças podem produzir seu cotidiano. O comportamento do jogo torna o
processo possível Aprendizagem das crianças porque promove reflexão, autonomia e
Criatividade, estabelecendo assim a relação entre brincar e aprender.
O cuidar e o educar na educação infantil são responsáveis por incentivar e trabalhar com
a família para proporcionar relações sociais e desenvolvimento emocional. Os educadores
precisam ter em mente qual é a sua função e o que esperam dos alunos, se querem mesmo
formar cidadãos, vemos neste trabalho que os professores estão cientes de sua importância no
desenvolvimento e construção para educar essas crianças, e todos estão comprometidos e
fazendo o seu melhor, pois se devem cultivar cidadãos críticos / reflexivos, comprometidos com
a construção de uma A humanização é melhor para todos.
199
REFERÊNCIA
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC. 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf. Acesso em: 03 fev.
2020.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, p.17, 2002.
MASULLO, Virginia Flora; COELHO, Irene da Silva. As dificuldades dos professores da educação
infantil: questões estruturais e pedagógicas. UNISANTA Humanitas, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 72-97,
2015.
NEZI, Tatiane. Cuidar e Educar na Educação Infantil. Disponível em: https://bit.ly/3fFsCed. Acesso em:
nov. 2020.
RSCHULTZ, Andréia Moreira dos Santos. O cuidar e o educar como ações complementares
no desenvolvimento integral da criança na Educação Infantil. Revista FACEVV, Vila
Velha, n. 06, jan/jun. 2011.
CAPÍTULO 18
EDUCAÇÃO E PANDEMIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
INTRODUÇÃO
33
Procedimento organizado que conduz a certo resultado. 2. Processo ou técnica de ensino.
202
DESCREVENDO EXPERIÊNCIAS
pedagógicas e montaram kits com apostilas para os alunos buscarem. Esta proposta teve como
objetivo auxiliar os discentes sem acesso à internet.
Sabemos que esta realidade alcança grande parte dos interiores e, inclusive, das capitais
do Brasil, causando desânimo em muitos estudantes devido à precariedade em que se encontram
e a impossibilidade das instituições públicas oferecerem os aparatos tecnológicos necessários
para que os conteúdos programáticos sejam disponibilizados aos discentes. Já os educadores,
têm inovado e aprendido a lidar com as ferramentas tecnológicas movidos pela necessidade do
cenário atual. Nesse sentido, tiveram que romper e adequar seus métodos ao ambiente virtual
ou online, mesmo não acreditando na efetividade dessa modalidade de ensino.
A pesquisa realizada pela Nova Escola34 entre os dias 16 e 28 de maio de 2020, buscou
mapear cenários vivenciados por educadores e identificar as necessidades dos professores e
gestores da educação básica. Ela foi dividida em quatro eixos: situação dos professores, situação
da rede, participação dos alunos e famílias nas atividades e perspectivas para o retorno das
atividades presenciais.
Os principais pontos desafiadores foram: a saúde emocional dos professores, já que
muitos relataram impacto na saúde emocional devido ao cenário instável e o crescente número
de mortos pela Covid-19; a falta de habilidade dos professores em lidar com as tecnologias
digitais e a consequente experiência negativa declarada por 30% dos pesquisados; a falta de
formação adequada para lidar com ensino remoto, já que mais de 50% dos educadores
afirmaram não ter recebido qualquer instrução; a baixa participação dos alunos da rede pública,
pois, na rede particular, os professores disseram que 58% das famílias estão participando do
que é proposto, enquanto na rede pública o número é de 36% e, quanto à volta às aulas, 74%
dos professores acreditavam que voltariam para as salas de aula no segundo semestre de 2020
e apenas 19% achavam que o retorno se daria em 2021. (BIMBATI, 2020).
Diante da impossibilidade de manter as aulas presenciais, os docentes, inicialmente
resistentes à nova realidade, não se adequaram ao que fora ordenado – continuidade imediata –
e por isso passaram alguns meses sem que houvesse aulas. Durante esse período, várias
pesquisas foram realizadas visando a conhecer a condição dos alunos para o acompanhamento
das aulas de forma remota.
A falta de habilidade em lidar com as tecnologias que possibilitam pôr em prática as
aulas remotas alcançou uma grande parcela dos docentes. Por outro lado, a familiarização, que
34
A pesquisa “A situação dos professores no Brasil durante a pandemia” foi realizada entre os dias 16 e 28 de
maio de 2020 por meio de um questionário on-line disponível no site de NOVA ESCOLA. Ao todo, foram
coletadas 9.557 respostas, sendo 8.121 (85,7%) delas de professores da Educação Básica.
205
só ocorre com o tempo e persistência, tem tornado possível a utilização de ferramentas como o
Google Meet e o Zoom, que viabilizam reuniões e encontros, especialmente no contexto das
Universidades.
Outra ferramenta importante para as aulas é o Google Classroom, que tem servido como
um ambiente apto para a postagem de atividades e deveres e como depósito dos resultados. O
Moodle, antes bastante utilizado como plataforma dos cursos a distância, se mostrou eficiente
inicialmente, mas em razão da intenção de se trabalhar com aulas síncronas – simultâneas –,
acabou perdendo espaço para o Google Meet, que permite esse tipo de interação.
Algumas disciplinas, estruturadas em textos e debates, sofreram menos prejuízos se
comparadas às demais, pois o material pôde ser disponibilizado on-line, seja pela
disponibilidade prévia do material ou pela digitalização e posterior partilha pelos professores
via WhatsApp, e-mail ou depósito nas salas virtuais. Logo, há instituições que seguiram com
as aulas e, apesar da forma tardia, tem colhido bons frutos.
Resta claro que ao longo do caminho inúmeras dúvidas surgiram e ainda surgirão, seja
por parte do corpo docente ou do corpo discente, mas elas estão sendo sanadas com o auxílio
dos próprios participantes quando as aulas acontecem em tempo real. Porém, embora existam
tecnologias disponíveis e tenha havido sucesso por parte de algumas instituições, há várias
barreiras que precisam ser rompidas. No caso dos alunos, além da falta de habilidade inicial, há
a questão econômica que afeta diretamente a vida acadêmica.
Não se pode perder de vista que as desigualdades regionais e locais são sempre um
desafio no que diz respeito ao processo de democratização do ensino. Tratando-se da atual
modalidade de ensino, essa desigualdade fica ainda mais evidente. Não são raras as exibições
de entrevistas em que os participantes alegam ter apenas um celular em uma casa com três ou
quatro filhos em idade escolar. Outros, não dispõem nem disso, e diante dessa realidade, os
filhos têm acesso apenas aos materiais que são deixados na escola. Assim, não há possibilidade
de superar dúvidas ou receber explicações.
Justamente nesse momento de fragilidade emocional e psíquica, a adoção do ensino
remoto por parte das instituições, sejam elas públicas ou privadas, explicitou as desigualdades
sociais, trazendo à tona os desafios e as dificuldades enfrentadas pelas instituições neste
processo.
ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS
206
Todas estas mudanças bruscas, além do alto nível de cobranças, têm causado nos
discentes, tal como nos profissionais da educação, alto grau de estresse, frustração e exaustão,
afetando, consequentemente, a saúde mental de todos os atores envolvidos neste processo.
É inquestionável o aumento das horas de trabalho realizadas pelos profissionais, não
apenas da educação, mas também de outros setores, que hoje executam suas atividades em
home-office. A dinâmica relacionada às atividades acadêmicas se mistura com outras
relacionadas ao trabalho doméstico, pois ambas estão, neste momento, em um mesmo espaço
físico. Acreditamos que fazer esta conciliação entre vida profissional e familiar tem sido mais
um desafio devido à sobrecarga de trabalho principalmente das mulheres, tendo em vista que,
culturalmente, as atividades domésticas e os cuidados com filhos são direcionados a elas.
Salas (2020) descreve alguns depoimentos sobre a saúde mental dos profissionais da
educação e em um deles, uma professora do Rio de Janeiro afirma estar fragilizada e com a
sensação de culpa por estar vivendo em meio a uma pandemia. A docente relata que o excesso
de trabalho tem abalado a saúde mental, causando estresse, insônia e ansiedade. A docente
acrescenta que esses relatos são comuns entre os colegas de trabalho.
Outra sensação frequente entre os profissionais é a frustração, visto que a falta de
acesso à internet ou acesso limitado a ela é uma realidade dos alunos e para minimizar o impacto
de frustração entre os discentes, ela disponibiliza conteúdos acessíveis com o intuito de não
provocar muitas dúvidas. Contudo, a profissional afirma que a sensação é de que os objetivos
não estão sendo alcançados. Em outro relato, uma professora afirma que se preocupa com a
saúde de seus alunos e de seu filho, que integra a linha de frente do combate à Covid-19. Declara
que tem receio em relação à volta às aulas presenciais, pois, segundo ela, não há diretrizes ou
orientações relacionadas aos protocolos de segurança a ser adotados.
A falta de um direcionamento nacional também tem causado impactos negativos no
combate à pandemia no país. O número de mortes tem atingido altos índices, os sistemas de
saúde não têm mais sustentado a crescente demanda de pessoas contaminadas pelo vírus e a
falta de profissionais da saúde, bem como de oxigênio em hospitais públicos e privados têm
contribuído para o caos da saúde no Brasil.
Governadores e prefeitos têm anunciado medidas de restrição ainda mais duras na
tentativa de diminuir o número de pacientes nas UTIs e alcançar uma estabilidade em relação
ao contágio. Todavia, o país tem superado a cada dia o número de mortos pela Covid-19, tendo
atingido, recentemente – 26/03/2021 – a marca de três mil e seiscentas mortes em apenas 24
horas.
207
CONSIDERAÇÕES FINAIS
desigualdades sociais, já que parte dos discentes sequer tem acesso à internet e outra parcela
não conta com equipamentos que possibilitam acompanhar as aulas.
A saúde mental de parte da sociedade tem sido afetada durante a pandemia e conforme
relatos, tem sido comum os profissionais – da educação – declararem que estão estressados,
frustrados, exaustos e se sentindo sobrecarregados devido a cobranças e ao estado de tensão
relacionado ao Covid-19. É notório que este cenário tem afetado a saúde mental destes
profissionais e esta é mais uma barreira que deve ser superada enquanto o estado de pandemia
não é revertido.
REFERÊNCIAS
FRAGA, Lorena. Ensino remoto emergencial na rede pública traz muitos desafios. Correio
Braziliense, Brasília, 2020, 16 set. 2020. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-
estudante/ensino_educacaobasica/2020/07/02/interna-educacaobasica-2019,868923/ensino-
remoto-emergencial-na-rede-publica-traz-muitos-desafios.shtml. Acesso em: 20 out. 2020.
BIMBATI. Ana Paula. Qual é a situação dos professores brasileiros durante a pandemia? Nova
Escola. 01 jul. 2020. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/19386/qual-e-a-
situacao-dos-professores-brasileiros-durante-a-pandemia. Acesso em: 23 out.2020.
210
SALAS, Paula. Ansiedade, medo e exaustão: como a quarentena está abalando a saúde mental
dos educadores. Nova Escola. 01 jul. 2020. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/19401/ansiedade-medo-e-exaustao-como-a-quarentena-
esta-abalando-a-saude-mental-dos-educadores# . Acesso em: 29 dez. 2020.
JARON, Carolina. Carga horária ampliada para reforçar combate à Covid-19. Agência Brasília,
Brasília, 15 jul 2020, I Edição. Disponível em:
https://agenciabrasilia.df.gov.br/2020/07/15/carga-horaria-ampliada-para-reforcar-combate-a-
covid-19/. Acesso em: 28 out. 2020.
“TODOS que infringirem a lei serão presos”, diz Caiado sobre festas. Secretaria de
Comunicação - Governo de Goiás, Goiás, 29 mar. 2021. Disponível em:
https://www.goias.gov.br/servico/97-pandemia/124664-%E2%80%9Ctodos-que-infringirem-
a-lei-ser%C3%A3o-presos%E2%80%9D,-diz-caiado-sobre-festas.html%20. Acesso em: 29
mar. 2021.
O QUE é Covid-19? Ministério da Saúde. Brasil. Disponível em:
https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#como-se-proteger . Acesso em: 15 jan. 2021.
CAPÍTULO 19
O PAPEL DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) E DO
ARTIGO 26 DA RESOLUÇÃO NÚMERO 03 DO CNE/CEB
INTRODUÇÃO
Neste sentido é possível observa e relação entre a BNCC e o art.26 da resolução nº 3,21
de novembro de 2018 ambos têm a ideia de promover uma educação inovadora que tenha o
foco de prepara o aluno para a vida criando assim indivíduos ativos dentro dasociedade
212
a qual pertence. Diante disso o presente artigo visa lançar um olhar analítico sobreo papel da
BNCC assim como o art.26 da resolução nº3,21 de novembro de 2018 buscando entender o
funcionamento do currículo: BNCC e Itinerários, destacar a importância da ária de ciências
humanas e sociais aplicadas a educação e investigar o artigo 26 da resolução nº,21 de
novembro de 2018.
O presente trabalho justifica-se pelo interesse em estudar e demostrar a importância da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e do artigo 26 da resolução nº 3, 21 denovembro
de 2018 que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, na construção
de uma identidade educacional baseada na relação interativa entre a escola e a sociedade na
qual está inserida.
A versão final homologada da BNCC - Base Nacional Comum Curricular conta com a
inclusão do Ensino Médio, que já era um objetivo a ser atingido, tendo como Base a
aprendizagem de qualidade para toda a Educação Básica brasileira. Desenvolvida por
especialistas de várias áreas, a base é um documento completo e contemporâneo, que
corresponde às demandas do estudante desta época, preparando-o para o futuro, possibilitando
a sequência de adequação dos currículos regionais e propostas pedagógicas das escolas
públicas e particulares brasileiras e garante o conjunto de aprendizagens essenciais
aos estudantes brasileiros, seu desenvolvimento integral por meio das dez competências gerais
para a Educação Básica, apoiando as escolhas necessárias para a concretização dos seus
projetos de vida e a continuidade dos estudos.
A BNCC é um documento que define o conjunto orgânico e progressivode
aprendizagens essenciais que as escolas devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades
da Educação Básica, tendo assegurados aos alunos o direito de aprendizagem e
desenvolvimento, em conformidade com o Plano Nacional de Educação (PNE), aplicando-se
exclusivamente à educação escolar que define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)1, que visam à formação humana integral e à
construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado
nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN)2.
Na BNCC, a mobilização de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores é definida
como competências estas inter-relacionam-se e desdobram-se no tratamento didático proposto
para as três etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
213
habilidades será feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino
(BRASIL, 20178). Tratando-se, de maneiras diferentes e intercambiáveis para designar algo
comum, ou seja, aquilo que os estudantes devem aprender na Educação Básica, o que inclui
tanto os saberes quanto a capacidade de mobilizá-los e aplicá-los.
Para isso se concretizar é preciso tomar decisões que tenham intuito de adequar as
proposições da BNCC a realidade de cada região considerando as características das redes de
ensino e também as dos alunos.
Vale ressaltar que essas decisões precisam, igualmente, serem consideradas na
organização das distintas modalidades de ensino.
Nos últimos vinte anos mais de 50 % dos Estados e municípios veem criandocurrículos
para seus determinados sistemas de ensino buscando atender as especificidades de cada
modalidade. Se junta a isso a colaboração das escolas particulares e públicas, e as instituições
de ensino superior acumulando experiências com erros e acertos diante da criação de matérias
de apoio curricular. Assimilando assim práticas que culminaram em bons resultados.
Para alcançar seus objetivos a BNCC depende do adequado funcionamento do regime
de colaboração que foi formulado cobre coordenação do MEC. A partir da homologação da
BNCC, as redes de ensino e as escolas particulares irão ter que desenvolver currículos levando
em conta as atividades essências que consta na mesma.
No regime de colaboração, irá vigorar responsabilidades por meio dos entes federais
que complementem o processo que continuará sendo feito pela União, onde a mesma exerce a
função de coordenar ações para corrigir as desigualdades.
Por se tratar de um país com enormes dimensões e desigualdades a sustentabilidade da
BNCC depende do desenvolvimento de fortes instâncias técnico-pedagógicas, dando
prioridade aos que tem menos condições técnicas e financeiras. Algo que fica sob
responsabilidade do MEC junto com Undime e Consed.
CONSIDERAÇÕES
219
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 20
POLÍTICAS PÚBLICAS COMO UM MECANISMO DE COMBATE À
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM TEMPOS DE COVID-19
INTRODUÇÃO
No último ano, em razão da pandemia do Covid-19, a rotina das pessoas passou por
diversas mudanças na tentativa de conter a expansão e a transmissão da doença. Foi necessário
adotar o lockdown como uma medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde e isso
gerou impactos positivos para combater a doença, mas em contrapartida, gerou também
impactos negativos, como por exemplo, contribuindo para o aumento da violência doméstica
contra a mulher.
Nesse contexto, a mulher em muitos casos, teve a sua jornada de trabalho ampliada com
os filhos em casa em razão do fechamento das escolas; com o marido ou companheiro
trabalhando no regime de home office, e em algumas situações, ainda tendo a responsabilidade
de cuidar de idosos, que não puderam sair para realizar atividades diárias. Essas repercussões,
podem dificultar os relacionamentos interpessoais durante a pandemia, principalmente no que
se refere à suscetibilidade aumentada da mulher a sofrer a violência doméstica.
Entende-se que a violência doméstica é um problema de saúde pública anterior à
pandemia, mas que em razão da adoção de medidas de distanciamento social, criou-se o
contexto propício para que a situação piorasse, com o aumento exponencial do convívio dentro
de casa, da mulher e de seu agressor.
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo relacionar que a falta de políticas públicas
voltadas para a mulher, pode contribuir para aumentar a violência doméstica durante a
pandemia. Para isso, este estudo foi dividido em três partes. A primeira, aborda a efetivação
dos direitos das mulheres à luz do princípio da igualdade substancial e da não discriminação; a
segunda trata da violência doméstica contra a mulher em tempos de Covid-19, e a terceira
elucida sobre a importância da política pública no enfrentamento à violência contra as mulheres.
222
35
Disponível em: http://planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 21 abril 2021.
36
Disponível em: www.direitodoestado.com.br/codrevista.asp?cod=229. Acesso em 21 abril 2021.
224
37
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
71672021000800202&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em 24 abril 2020.
38
Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-
ed03-v2.pdf. Acesso em 05 out 2020.
39
Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-
ed03-v2.pdf. Acesso em 05 out 2020.
40
Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-
ed03-v2.pdf. Acesso em 05 out 2020.
41
Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-
ed03-v2.pdf. Acesso em 05 out 2020.
42
Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-
ed03-v2.pdf. Acesso em 05 out 2020.
226
43
Conforme evidencia a Nota Técnica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no que se refere a concessão
de medidas protetivas de urgência: “Em São Paulo, houve uma queda de 11,6% na concessão de medidas, que
passaram de 17.539 em 2019 para 15.502 em 2020. No Pará, o número de medidas concedidas foi de 1.965 em
2019 para 1.719 em 2020 – uma queda de 12,5%. Já no Rio de Janeiro o total de medidas protetivas concedidas
caiu 30,1%, passando de 7.706 em 2019 para 5.385 em 2020. Por fim, o Acre apresentou uma redução no de
30,7% na concessão de medidas do período acumulado, indo de 434 medidas concedidas entre março e maio de
2019 para 289 em 2020”. 43 Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-ed03-v2.pdf. Acesso em 05 out 2020.
44
Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-
ed03-v2.pdf. Acesso em 5 out 2020.
45
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jul-29/ana-tereza-basilio-violencia-domestica-durante-covid-
19. Acesso em 05 out 2020.
227
[...] Vale, assim, uma palavra, ainda que brevíssima, ao Preâmbulo da Constituição,
no qual se contém a explicitação dos valores que dominam a obra constitucional de
1988 [...]. Não apenas o Estado haverá de ser convocado para formular as políticas
públicas que podem conduzir ao bem-estar, à igualdade e à justiça, mas a sociedade
haverá de se organizar segundo aqueles valores, a fim de que se firme como uma
comunidade fraterna, pluralista e sem preconceitos [...]46.
Se há a obrigação e atuação estatal para esta finalidade, como isso será possível? A
concretização das ações estatais ocorre por meio da construção de políticas públicas, que
segundo Maria Paula Dallari Bucci, são programas de ações governamentais que buscam
coordenar os meios à disposição do Estados e as atividades privadas, para a concretização de
objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados47. Nesse contexto, acrescenta-
se que política pública não é somente controle do Estado, ela tem que dar resultado, promover
uma mudança qualitativa na vida das pessoas.
Ainda, Norberto Bobbio ressalta que:
46
ADI 2.649, voto da rel. min. Cármen Lúcia, j. 8-5-2008, P, DJE de 17-10-2008.] Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=2>. Acesso em: 09 dez. 2018
47
BUCCI, Maria Paula Dallari. Fundamentos para uma teoria jurídica das políticas públicas. São Paulo:
Saraiva, 2013, p. 14.
228
Tem-se que o Estado, portanto, possui uma obrigação positiva de promover políticas
públicas com o fim de promover melhorias na qualidade de vida da população, nos interessando
um enfoque para a minoria das mulheres, sendo vedado quaisquer tipos de retrocesso a esses
direitos sociais fundamentais garantidos, pois possíveis retrocessos poderiam gerar um abalo
na ordem jurídica, além de ferir de maneira brutal a dignidade de muitas pessoas necessitadas
da proteção estatal para garantia destes direitos.
Desta forma, não basta a legislação traduzir direitos é preciso vontade política e social
em fazer cumprir esses direitos garantidos, revelando muito mais uma questão política do que
jurídica, como bem descreve Konrad Hesse: “quanto mais intensa for a vontade de Constituição,
menos significativas hão de ser as restrições e limites impostos à força normativa da
Constituição”49.
De acordo com Pereira50, seguindo os ensinamentos de Howlett e Ramesh, esse ramo
do conhecimento possui três características principais:
Assim, cabe aos detentores do poder político e a própria sociedade assumirem essa
responsabilidade de buscar políticas públicas e ações para efetivar os direitos garantidos e não
48
BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2010, v. 1, p. 10.
49
HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris Editor, 1991, p. 24-25.
50
PEREIRA, P. A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito de cidadania.
In: BOSCHETTI, Ivanete. Política social no capitalismo: tendências Contemporâneas. São Paulo: Cortez,
2008, p. 103.
229
fecharem os olhos para essa realidade, pois é as mulheres compõem uma classe vulnerável e
que precisa de cuidado.
A Lei Maria da Penha é a expressão do reconhecimento da necessidade de
implementação de política pública de combate à violência contra a mulher, como bem descreve
o art. 35 do referido diploma legal:
Ainda que a Lei Maria da Penha tenha sido um grande avanço para o combate à
violência contra as mulheres, essa política de enfrentamento não pode ficar restrita, tão somente,
na construção de uma legislação. Pensando nisso, no ano de 2003, o Governo Federal reconhece
a importância da proteção das mulheres e cria a Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres (SPM), embora fosse uma secretaria possuía status ministerial.
Mencionada Secretaria resgatou a atuação do Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher da década de 1980, e avançou na interlocução dos movimentos de mulheres como uma
aliada na defesa de políticas públicas de mulheres51.
A violência, sendo um microproblema que resulta na dimensão macro da desigualdade
de gênero, situação assimilada como algo normal dentro da sociedade machista a que estamos
inseridos, a política pública de enfrentamento da violência doméstica passa a ser crucial,
principalmente porque o combate da violência é a via principal para a concretização do direito
fundamental à igualdade, uma vez que ela, por sua maioria, acaba ocorrendo por conta desta
desigualdade enraizada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
51
Disponível em https://violenciaesaude.ufsc.br/files/2015/12/Politicas-Publicas.pdf. Acesso em 07 maio 2021.
230
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Violência doméstica durante a pandemia de Covid-
19. Nota Técnica. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/wp-
231
BUCCI, Maria Paula Dallari. Fundamentos para uma teoria jurídica das políticas públicas.
São Paulo: Saraiva, 2013.
BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADI 2.649, voto da rel. min. Cármen Lúcia, j.
8-5-2008, P, DJE de 17-10-2008.] Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=2>. Acesso em: 09 dez. 2018.
COELHO, Elza Berger Salema; BOLSONI, Carolina Carvalho; CONCEIÇÃO, Thays Berger;
VERDI, Marta Inez Machado. Políticas públicas no enfrentamento da violência.
Florianópolis: UFSC, 2014.
OMMATI, José Emílio Medauar. Uma teoria dos direitos fundamentais. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2018.
PEREIRA, P. A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito
de cidadania. In: BOSCHETTI, Ivanete. Política social no capitalismo: tendências
Contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2008, p. 103.
Possui graduação em Direito pela Universidade de Itaúna (MG) - 2001. Especialista em Direito
Processual pelas Faculdades Integradas do Oeste de Minas - FADOM - Divinópolis (MG) -
2002; e Direito Processual Civil pela Universidade do Sul de Santa Catarina (RS) - 2008. Mestre
em Direito das Relações Econômicas - Empresariais pela Universidade de Franca (2005).
Especialista em Direito Notarial e Registral pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2011).
Professora Universitária na área de Direito, com ênfase em Direito Privado (Direito Civil e
Direito Empresarial). Doutoranda em Direito em proteção e efetivação dos direitos
fundamentais, linha de pesquisa em organizações internacionais e a proteção dos direitos
fundamentais pela Universidade de Itaúna (MG) - 2020. E-mail: dcsmattar@terra.com.br
CAPÍTULO 21
VIOLÊNCIA SEXUAL NA COMUNIDADE ÍNDIGENA: Uma Visão
Casuística Na Cidade De Campinápolis Mato Grosso
INTRODUÇÃO
No que tange ao método procedimental, o escolhido foi o monográfico, pois foi feita
uma análise detalhada sobre indagações referentes às condutas aderidas no meio social silvícola
diante das práticas de crimes sexuais e da conduta dos órgãos responsáveis nesses casos.
Em síntese, a pesquisa se justifica pela importância de demonstrar que não é incomum
casos de crimes sexuais em que o autor ou a vítima seja índio, e ainda, o que é feito a respeito
tanto dentro da comunidade de acordo com as normas de conduta da aldeia quanto à efetividade
da legislação indígena fora da base territorial aborígene. Desse modo, possibilitou-se verificar
o reflexo na sociedade ao abordar o tema violência sexual e seus efeitos sobre a ótica legislativa
e social.
É de conhecimento geral que o órgão competente para cuidar dos direitos indígenas é a
Fundação Nacional Do Índio (FUNAI), que está vinculada ao Ministério da Justiça para que
possam executar as políticas indigenistas. Este é um órgão federal que foi criado em 05 de
dezembro de 1967, através da Lei n° 5.371, com intuito de promover políticas de proteção aos
interesses dos silvícolas. Sua atuação está munida de princípios como a língua, costumes e
tradições dos índios, garantindo a eles um estado pluriétnico e democrático.
Até os anos de 1988, a FUNAI não considerava os indígenas absolutamente capazes de
responder por seus atos praticados civil e/ou penalmente, e era ela que respondia então por tudo
que era relativo aos índios. Entretanto, desde 1988 em diante, a FUNAI entendeu que os índios
integralizados na comunidade poderiam responder por atos que eles próprios praticassem.
Assim, ela passou a responder somente para aqueles que são totalmente isolados da sociedade,
apesar de que, ainda, há órgãos governamentais que acreditam que a FUNAI atua como total
responsável por atos referentes aos índios.
Ao se tratar do processo e julgamentos atinentes aos índios, a Constituição Federal de
1988, em seu artigo 109, inc. XI, elenca a competência atinente aos processos que envolvem
índios, e o referido dispositivo expõe da seguinte forma “Art.109. Aos juízes federais compete
processar e julgar: XI- a disputa sobre direitos indígenas” (BRASIL, 1988), mas o referido
artigo fomenta sobre a competência de julgar e processar os casos referentes a bens, serviço ou
236
interesses da União, em que o índio é uma das partes. Isto é, esse julgamento ocorre na maioria
dos casos de assuntos territoriais.
Ao se falar em crimes penais relacionados à integridade física do indígena, cabe à Justiça
Estadual processar e julgar casos em que o índio seja autor e/ou vítima, isso de acordo com a
Súmula 140 do Superior Tribunal de Justiça, que dispõe o seguinte: “Compete à Justiça Comum
Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima” (BRASIL,
2007).
Percebe-se então uma divergência entre as competências, pois, segundo a Carta Magna,
é competência federal processar e julgar casos relativos aos índios somente quando houver um
interesse da União, e a Súmula referida diz que, por não haver interesses da União em casos de
lesão corporal ou homicídio praticado por ou contra o silvícola, compete à Justiça Estadual o
processo e julgamento do feito.
A título de exemplo de um entre várias atuações do Estado e da FUNAI relacionado ao
tema é o caso do índio Leandro, que foi denunciado pela sua filha por abuso sexual, e, conforme
o processo ia andando, a vítima apresentou duas versões diferentes: na primeira, dizia que havia
sido violentada sexualmente pelo pai e, na segunda versão, afirmou que a mãe a mantinha
confinada em casa e a obrigava a se prostituir.
A FUNAI, nesse caso, atuou como auxiliar da justiça e como apaziguadora de conflitos
entre os índios, pois um caso como esse haveria possibilidades de revolta entre as famílias.
Como a adolescente havia dado duas versões, a FUNAI, juntamente com os responsáveis pelo
caso, solicitou a presença de um psicólogo, para que averiguasse as duas versões. Esse caso
ocorreu na região de Barra do Garças-MT.
São poucos os casos que chegaram até o conhecimento do poder judiciário, por conta
da falta de denúncias por parte da vítima e da sua família. Entretanto, sabe-se que existem casos,
porém poucos foram registrados na região do Vale do Araguaia. Além do caso mencionado, há
um processo julgado no Tribunal de Justiça em Santa Catarina, onde o crime de estupro fora
praticado por um índio contra sua própria filha, que, na época, tinha 14 anos de idade.
O teor do processo conta que a vítima chegou ao hospital da cidade com dores
abdominais, e que, ao melhorar, foi liberada. Mas, já em sua residência, percebeu sangramentos
vaginais, e, ao voltar ao hospital, ficou internada até dia 24 de abril. Com os constantes exames
feitos, descobriu que a causa das dores e sangramento vaginal foram provocados pela perda de
um bebê. Após constantes indagações, a vítima confessou ter sido abusada pelo pai, que não a
deixava ir à escola, coagindo-a para ir com ele para o mato tirar cipó, e, ao chegarem lá, seu pai
a mantinha amarrada e praticava relações sexuais com ela.
237
O processo foi concluso com a prisão do réu. Conforme julgado abaixo mencionado:
O Código de Processo Penal, em seu artigo 213, diz que: “Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso” (BRASIL, 1940). O artigo mencionado não faz distinção
de sexo, etnia, raça ou cor, portanto, ninguém ficará impune ao cometer atos como esse,
independentemente de quem seja o autor do crime.
Em relação aos casos citados, pôde-se perceber a efetividade dos órgãos responsáveis
por cuidar das devidas providências a serem tomadas em casos como esses, o Poder Judiciário
promoveu a Justiça e a FUNAI presenciou todo o andamento do processo em que o índio foi
uma das partes, não o tratando como ser humano diferente dos demais e a lei penal teve também
sua aplicabilidade em face do índio.
Art. 2° Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos
das respectivas administrações indiretas, nos limites de sua competência, para
a proteção das comunidades indígenas e a preservação dos seus direitos:
VI - respeitar, no processo de integração do índio à comunhão nacional, a
coesão das comunidades indígenas, os seus valores culturais, tradições, usos
e costumes (BRASIL, 1973).
Conforme exposto, os índios têm assegurado em lei a preservação de sua cultura, não
podendo o Estado ou outro ente qualquer interferir nos seus costumes por acharem que as
atitudes que os índios tomam são dignas de interferência. Dando continuidade, a Declaração
Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, no artigo 35, diz o seguinte “Os povos indígenas
têm o direito de determinar as responsabilidades dos indivíduos para com sua comunidade”
(BRASIL, 1993).
No mesmo diapasão, o artigo 18 da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos
dos Povos Indígenas esclarece que:
do poder que este ainda possui e pela tradição de como sancionar seus demais membros, afinal
é a cultura deles e a forma como devem agir é ensinado desde o seu nascimento.
Assim, em virtude do que foi mencionado, deve sempre manter um equilíbrio ao se
falar da cultura indígena e do limite dela, porque determinados atos praticados em nome da
cultura ferem princípios fundamentais e intrínsecos da pessoa humana, índio ou não, pois os
indígenas falam que a forma como tratam o ato sexual, em alguns casos, é cultural
simplesmente para evitar que haja punição da justiça.
Em relação aos direitos humanos dos índios, que tem todo um histórico antecedente
de muitas lutas para conseguir assegurar vários dos direitos que obtiveram até hoje. Os
indígenas, como quaisquer outros, mantém seus direitos fundamentais garantidos, assim como
o seu desenvolvimento e manutenção da sua cultura, costumes e tradição. Dessa forma, a
Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, no parágrafo operatório parte 1(um),
deixa explicito que:
No mesmo paradigma, o art. 8 expõe que “os povos e indivíduos indígenas tem direito a
não sofrer assimilação forçada ou destruição de sua cultura” (BRASIL, 1993). Isto posto,
observa-se que a cultura indígena aufere amparo legal que protege em papel a manutenção dos
seus costumes. Ainda com respaldo na Legislação, o art. 231 da Carta Magna de 1988, aduz
que:
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens (BRASIL, 1988).
Entretanto, algumas culturas indígenas são severas quando se trata de punições, e isso
deixa um questionamento em aberto: Quando os Direitos Humanos irão intervir na cultura
indígena ao se tratar de desrespeito à sua integridade física? Não é fácil responder a essa
indagação, pois o ensinamento sobre costumes, tradições e culturas indígenas vem sendo
241
transmitido a eles desde o colo. Assim, o que, às vezes, para os não índios é errado, para eles é
certo.
Nessa linha de raciocínio, deve haver uma análise histórica grande em relação a atos
sexuais praticados entre eles, visto que fora forçada sua integralização com uma cultura
diferente da deles, havendo uma mudança radical de vida. Dessa forma, somente haverá a
interferência quando os limites forem ultrapassados e os atos desrespeitarem a lei que a eles
também tem eficácia e os ensinamentos ensinados por eles próprios.
Sobre a violência sexual nas comunidades indígenas, não se encontra muitas
discussões a respeito e muito menos amparo legal explícito sobre o assunto, porque alguns
casos, como já mencionado, são vistos como cultura pelos próprios índios e aceitas por seus
membros. Até o momento, na região do Vale Araguaia, não houve interferência do Estado na
cultura dos índios, pois, em casos relativos ao estudo, é quase zero o número de ocorrências
registradas e, consequentemente, não há repercussão, não havendo necessidade então de
interferência.
O que se observa é que é preciso verificar a gravidade do crime para que possa haver
uma interferência por parte do Estado para que não possa ocorrer atrito entre os direitos
conferidos aos índios de manterem sua cultura e a afronta à dignidade da pessoa humana ao
tratar da integridade física do índio, pois é sabido que, apesar de não levarem ao conhecimento
do poder judiciário, o número de abusos sexuais com crianças e adolescentes indígenas é muito
alto.
Não é muito fácil falar sobre crimes sexuais praticados nas comunidades indígenas,
visto que alguns são praticados fora das aldeias, e grande parte dos índios vive de forma isolada,
não tendo muito contato com os nãos indígenas, vivendo em grande parte nas aldeias em zonas
rurais, frequentando às vezes a zona urbana em casos de extrema urgência e necessidade.
Os índios encontram muita dificuldade para falar a língua portuguesa, mesmo que eles
tenham aulas nas aldeias para que possam falar o português de modo fácil e compreensível,
para que possam se comunicar com aqueles que não falam a língua indígena. E a maior
dificuldade em falar o português é das mulheres índias, pois são sempre tímidas e, devido à
timidez, encontram grande dificuldade em dialogar pela língua portuguesa assim como ter
contato com pessoas que não sejam da sua mesma etnia.
242
Nesse sentido, ao se tratar de assuntos referentes aos índios, estes podem e devem
participar, objetivando sua integração com os respectivos responsáveis por assegurar seus
direitos e deveres, garantindo também que não haja lisura por parte do Estado com os direitos
que se referem a eles, além de auxiliar na criação de novos direitos conforme suas necessidades.
frisar que as perguntas não visam à comparação das respostas deles; visam somente obter
conhecimentos sobre o crime mencionado na realidade atual.
A primeira entrevista de campo foi realizada na cidade de Campinápolis, Estado de
Mato Grosso, na localidade da CESAI, com a enfermeira Lucilene Alves de Oliveira,
profissional da área da saúde. Ressalta-se que ela autorizou citar o nome dela neste estudo; foi
escolhida para auxiliar nesta pesquisa por ter um contato direto e contínuo com os índios da
região e, assim, ter informações necessárias para o tema.
A segunda entrevista foi realizada também na localidade de Campinápolis-MT, só que
diretamente com o indígena Moacir Reiranawê, da etnia Xavante, cacique da Aldeia Campos
do Jordão, que só pôde se realizar, com a autorização dele. Como a pesquisa foi realizada com
foco nos índios, é e foi importante a entrevista feita com o próprio índio, para a análise mais
profunda do tema e adquirir conhecimentos através dele sobre eles mesmos.
A terceira e última entrevista foi realizada na cidade de Barra do Garças, também
Estado de Mato Grosso, diretamente na localidade da Coordenação Geral da FUNAI, com o
Senhor Carlos Henrique da Silva, Coordenador Geral Substituto da FUNAI, havendo a
necessidade de sua autorização, que, felizmente, fora positiva, e seu papel na pesquisa de campo
foi de extrema importância para demonstrar a função da FUNAI.
Na entrevista realizada com o cacique Moacir Reiranawê, pôde-se chegar a um
conhecimento mais claro de como funciona as normas de conduta dentro das aldeias. Ele
afirmou que o assunto sobre atos sexuais nas aldeias não é comentado com frequência, o que
ocorre é que, em casos de algum ato equivocado do índio, ele será reprimido pela aldeia, os
anciões mais velhos se reúnem para uma conversa no centro da aldeia, e só eles podem saber o
teor da reunião.
Logo após a reunião, e a aldeia se tornando ciente do assunto, ninguém da comunidade
pode tocar no índio infrator nem o machucar, mas apenas o amarrar com cordas e jogá-lo no
rio; ninguém da aldeia pode tirá-lo de dentro da água, nem mesmo a família, e, na maioria dos
casos, ele morre. Essa forma de punir acontece para quase todos os casos de desobediência nas
aldeias.
Esse método de punição não é igual para todas as comunidades indígenas, a cada caso
é uma forma de punir conforme a etnia e a aldeia. Há lugares em que os índios apenas batem e
aprisionam por uns dias ou, até mesmo, expulsam o índio que cometeu alguma falta grave
conforme a conduta da sua comunidade.
244
sexual, entre outros. Nesses movimentos, sempre tem a presença de um psicólogo para
acompanhar os relatos das mulheres, inclusive há relatos armazenados em arquivos.
Vale mencionar que alguns órgãos, como as Coordenações Técnicas Locais (CTLS),
que tem como função planejar, implementar ações e promover a proteção dos direitos sociais
dos índios da região, têm a participação do trabalho de cinco mulheres indígenas, demonstrando
então uma mudança do papel das indígenas na sociedade.
A título de exemplo da atuação da FUNAI em casos de abuso sexual, cita-se o caso do
indígena Leandro, que atualmente se encontra preso. Como mencionado anteriormente, ele foi
acusado de abusar sexualmente da própria filha, e assim que a família ficou ciente da situação
procurou a FUNAI, que tomou as devidas providências juntamente com a polícia e Conselho
Tutelar por se tratar de uma vítima menor de idade.
Ocorre que, como já descrito, a menina contou duas versões diferentes, a primeira que
o pai havia abusado dela sexualmente, e, na segunda versão, disse que foi sequestrada pelos
avós paternos, e eles alegavam que havia salvado a menina, pois a mãe a mantinha em regime
fechado e a obrigava a se prostituir, ao mesmo tempo em que sofria ameaças dos tios maternos.
No final, a FUNAI chamou um especialista para analisar as duas versões que a jovem
havia dado, ela então confessou ter relatado duas versões diferentes, e que não queria ficar com
nenhum dos genitores. Assim, no decorrer do processo, a menina ficou sob a guarda dos avós
paternos. Além do mencionado, foi verificado que o órgão responsável por trazer justiça e
cuidar dos interesses dos índios, no caso a FUNAI, tem feito sempre que possível seu papel,
garantindo uma segurança de apoio e auxílio aos índios.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Dada à importância de falar sobre abusos sexuais nas comunidades indígenas da região
onde o índio figure como autor ou vítima, a pesquisa propôs como objetivo geral a verificação
de práticas sexuais ou de qualquer ato libidinoso praticado contra os silvícolas. O trabalho não
se restringiu somente à teoria, foram realizadas pesquisas de campo com o intuito de analisar a
repercussão sobre o tema nas aldeias e nos institutos que trabalham diariamente com os índios
para saber como são tratadas as vítimas e autores de violência sexual pela FUNAI, pelo poder
judiciário, família e pela própria aldeia.
Constatou-se uma precariedade em fazer com que crimes como esses cheguem até o
conhecimento do poder judiciário, havendo somente dois casos registados que ainda correm na
246
justiça, dos quais os autores índios estão presos. Essa falta de denúncia é consequência de
variados motivos, tais como: a Língua Portuguesa que não é totalmente compreendida pelas
mulheres índias; o machismo que é predominante nas aldeias devido aos ensinamentos que eles
recebem desde o colo; a cultura dos índios já não é respeitada por eles mesmos como era antes
e não há fiscalização dentro das aldeias para que facilite a denúncia.
O Código de Processo Penal tem efetividade para qualquer cidadão brasileiro que
cometa algum ato tipificado como crime, sendo assim, é valido para os indígenas também, mas
ocorre que alguns índios não têm ciência do certo e errado nesse caso, acreditam ser da cultura
deles, isso é muito comum nas aldeias ao redor da região do Vale do Araguaia, dificultando
então que denunciem e que a justiça passe a ter conhecimentos desses casos.
À vista disso, é importante criar meios pelos quais os índios comecem a denunciar
esses abusos como as palestras realizadas pelo movimento das mulheres indígenas que aos
poucos vem crescendo, mas essas palestras são feitas na zona urbana, devendo expandir para a
zona rural, ainda mais nas aldeias onde as mulheres indígenas não têm nenhuma iniciativa.
Deve-se também inserir nas aldeias fiscais e até mesmo a polícia para que melhore os dados de
ocorrências registradas a respeito desse assunto, só assim para reverter a obscuridade dos crimes
de violência sexual sofrida pelos indígenas.
É importante mencionar que a Carta Magna tem como escopo um dos princípios
fundamentais, que é tratar o ser humano como pessoa digna de respeito, portanto, os índios
merecem respeito igual a qualquer outra pessoa. Assim, ao ferir um direito intrínseco à sua
integridade física, deve haver consequências ao autor, sendo ele índio ou não índio, não o
deixando à mercê da justiça, pois já não se está mais na época onde a justiça era compreendida
como “olho por olho, dente por dente”, a chamada lei de talião ou lei de retaliação, em que
havia reciprocidade entre crime e pena. Pelo contrário, a justiça deve ser feita de forma justa e
correta para todos.
Por fim, o trabalho foi de suma importância acadêmica e social, pois pôde-se
aprofundar o conhecimento sobre a presente realidade dos índios e a forma como o órgão
competente trata os crimes sexuais em que o indígena figure como vítima ou autor; os direitos
indígenas relativos à integridade física deles, verificando que o Estatuto do Índio pouco
menciona sobre os direitos deles.
REFERÊNCIAS
247
_______. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 140. Compete à Justiça Comum Estadual
processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima. Brasília, DF, Superior
Tribunal de Justiça, []. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/busca?q=S%C3%9AMULA+140/STJ.+COMPET%C3%8ANCIA+DA+JUSTI%C3%8
7A+ESTADUAL>. Acesso em: 25 set. 2019.
_______. Superior Tribunal de Justiça. Apelação Criminal. Santa Catarina. Crime praticado
por silvícola contra índia. Recorrente: Jesus Matos. Recorrido: Salete Matos. Relator: Sérgio
Paladino, data do julgamento 10/09/2002. Disponível em: <https://tj-sc.jusbrasil.
com.br/jurisprudencia/5073662/apelacao-criminal-reu-preso-apr-128398-sc-2002012839-8/
inteiro-teor-11555877?ref=juris-tabs>. Acesso em: 10 nov. 2019.
LIMA. Ianka Sandy Ferreira. O povo indígena e sua proteção legal. 03 jan. 2019. Disponível
em: <http://www.justificando.com/2019/01/03/o-povo-indigena-e-sua-protecao-legal-i/>.
Acesso em: 25 set. 2019.
MESSA, Ana Flávia. Direito Constitucional. 4. ed. São Paulo Rideel, 2016.
SOBRE OS AUTORES
No dia 30 de junho de 1997, minha mãe me deu a luz com apenas seis meses de gestação.
Nasci em uma pequena cidade conhecida como General Carneiro no Estado de Mato Grosso.
Como era muito pequenina, o médico do parto da minha mãe e que cuidou de mim, disse que
meu nome deveria ser Cíntia, pois era pequeno e forte assim como eu, pois devido as condições
da época, eu possuía poucas chances de sobreviver. E assim foi, me batizaram e registraram-
me com o nome de Cíntia Aparecida de Souza Silva.
248
Apesar de ter nascido em General, meu domicílio na infância foi na fazenda em que meus
avós moravam, na região de Campinápolis, também no estado de Mato Grosso, porquê em
poucos anos de vida, meus pais se separaram e minha mãe passou a morar sozinha, e com isso
precisava trabalhar, e por não aceitar ninguém cuidar de mim, meus avós me criaram até os 05
nos de idade. Ao completar a idade de adentrar na escola minha mãe me buscou para residir
com ela novamente, enquanto ela trabalhava eu estudava.
Os tempos se passaram e com o estudo veio a ambição de sair de uma vida simples para
uma vida melhor, com melhores condições. Com isso nasceu o desejo de me formar em um
curso superior, destarte, estudei e me formei na universidade de Direito na cidade de Barra do
Garças-MT, na Unicathedral. Grata à faculdade por me proporcionar momentos ruins no
processo de formação, pois estes momentos me proporcionaram forças e amizades que não
sabia existir, e por momentos incríveis como as homenagens e festas dedicadas aos alunos.
Minha vida foi e é difícil, mas o desejo de crescer e ser reconhecida por cada conquista é muito
grande. Minha biografia é muito extensa e cheia de muitas dores e percas. Acredito se
mencionar as tragédias da minha história, seria possível criar um livro extenso com vários
capítulos. Minha vida é cheia de superação, sei que a de todos são, mas a minha possui marcas
que jamais serão esquecidas e se eu possuísse a coragem de as mencionar, acredito fielmente
que vocês leitores gostariam de escrever ou fazer parte da escritura dela.
Meu artigo foi feito com base na minha vida cotidiana, na região que habito desde sempre
e por abusos que já passei. Me dediquei o máximo que consegui neste artigo com a cooperação
do professor Marcos Vinícius, e sei que possuo a capacidade de melhorar muito mais, ao ver a
publicação referente a oportunidade de publicar um artigo feito por ou com participação
feminina, vi uma oportunidade em demonstrar um pouco sobre os índios da minha região.
249
CAPÍTULO 22
DECOLONIALISMO FEMININO E A VISIBILIDADE DA MULHER
NEGRA NAS REDES SOCIAIS
INTRODUÇÃO
espaço digital, essas mulheres estão desempenhando forte influência e tornaram-se referências
para seu público.
Ou seja, a construção dos feminismos é, acima de tudo, uma relação social, “o pessoal
político” como assegura Sueth (2021), em que todas as ações que afetam diretamente o íntimo
da existência da mulher são de ordem política, e o próprio movimento é um campo de poder e
representação.
Ser mulher na nossa sociedade já implica um desafio, porém, ser mulher e negra amplia
esse desafio. Discutir feminismo e suas expressões sem fazer o recorte de raça/etnia é
desconsiderar e invisibilizar todo processo histórico no qual estas premissas se inserem. De
acordo com Albuquerque (2016), a situação da mulher negra ainda é muito desigual, pois o
253
sexo oposto, até este tempo, traz consigo a visão de mundo da mulher negra como uma escrava,
empregada ou pessoa que está sempre para servir, servir o branco, por conseguinte, essas
concepções acarretam em produção e reprodução do racismo, que as afetará,
independentemente, dos espaços que estejam ocupando.
Atualmente, um espaço muito ocupado é o das redes sociais, que por trazerem grandes
avanços tecnológicos, tornaram-se ferramenta útil e que pode ser utilizada como estratégia para
aumentar a visibilidade de pautas e conteúdos, que antes eram inacessíveis à determinados
contextos, como as discussões de gênero, o racismo, o sexismo, entre outros. Através do
advento da internet foi possível acessar muitos lugares e chegar à muitas pessoas, mas, assim
como os demais espaços, as redes sociais, também, reproduzem o racismo.
As relações assimétricas retratadas nas redes sociais, revelam a sociedade racista que
temos, por centralizar um estereótipo negativo sobre a população negra, na qual, essa população
só é vista em condições subalternas e nunca como protagonista, como já ocorre no cenário
fictício das dramaturgias.
Vivemos em uma estrutura patriarcal, onde se estipula um modelo a ser seguido, que
tenta moldar a sociedade aos seus padrões, depositando na mulher negra estereótipos que negam
sua representativa intelectual tanto no espaço social físico quanto também no digital.
Boakari (2010, p. 1) afirma que neste mundo, as mulheres negras constituem o grupo
mais marginalizado e explorado. Como no período da escravidão, elas ainda têm que enfrentar
as consequências de sua desumanização racial, discriminação social, exploração sexual e
inferiorização por causa de questões de gênero.
É notório que, temos um público diversificado nas redes sociais, no que tange o mundo
das influenciadoras digitais, as mulheres negras ainda são a minoria dessa realidade, pois esse
público é limitado a certos tipos de comerciais, são estigmatizadas a exercerem papéis ou
publicidades subalternizas ou com menor protagonismo.
Existe, no país, grandes influenciadoras digitais negras que levantam a bandeira da
representatividade, como por exemplo, Djamila Ribeiro, filósofa e escritora de pautas
envolvendo a população negra, temos Gabi de Pretas, Nátaly Neri, Josy Ramos, Roberta Freitas,
Camila de Lucas, Camila Nunes, Juliana Luziê, Monalisa Nunes, Ana Lídia Lopes, entre outras
que se destacam na internet, não apenas por seus conteúdos relacionados ao marketing digital,
mas, por levantar ideologias políticas, culturais, motivacionais, pautas sobre racismo,
feminismo; por dialogar sobre autoestima e aceitação da mulher negra.
É essencial que, essas influenciadoras alcancem com seus conteúdos mais visibilidade,
e que sejam lembradas não apenas em datas alusivas ao movimento negro, ou, quando houver
genocídio do povo negro, mas, sobretudo, é fundamental valorizar e fortalecer essas criadoras
de conteúdo, seja contratando para publicidades com maior impacto social, seja remunerando
de forma justa o trabalho que elas exercem, da mesmo forma que as mulheres brancas fazem e
têm uma melhor remuneração salarial.
255
Diversos profissionais e artistas tiveram seu potencial contestado devido sua cor, sendo
possível, por meio das redes sociais, acompanhar os perfis que atacavam e também os que se
utilizavam da sua força para a eliminação de qualquer forma de racismo.
Em 2020 a apresentadora do Jornal Hoje, Maria Julia Coutinho, sofreu um ataque
racista do empresário e ex-diretor da Band Rodrigo Branco, ele chegou afirmar em uma live
que a apresentadora só estava ocupando o atual cargo devido sua cor, o que esvazia toda a
história e competência da apresentadora; isso demonstra o incômodo de ver uma mulher negra
em espaços, predominantemente, ocupados por pessoas brancas.
Segundo Malta; Oliveira (2016) o espaço virtual tem sido fundamental para criar
lugares de resistência para as mulheres negras, como também é um ambiente onde o racismo
tem ecoado sua voz opressora e discriminatória.
Percebemos que a apropriação das mulheres negras pelo espaço cibernético amplia e
reverbera as vozes que foram historicamente negligenciadas e silenciadas. Utilizar a ofensa
sofrida, e a partir dela, levar às pessoas a compreenderem como a estrutura racializada da
sociedade perpetua violências, é uma forma de abrir caminhos para novas frentes de disputas e
combates (ROCHA, 2017). Em outras palavras, a internet propicia às mulheres negras uma
ferramenta em que a escrita se torna um ato político e contribui para que elas contem suas
próprias histórias, dando visibilidade à sua causa, fortalecendo suas reivindicações e
desconstruindo o discurso racista, sexista e classista.
CONCLUSÃO
256
REFERÊNCIAS
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universidade. São Paulo: Companhia das letras, 2018.
LISBOA, T. K. Gênero, feminismo e Serviço Social: encontros e desencontros ao longo da
história da profissão. Katálysis. v. 13 n. 1 (2010): Desigualdades e gênero.Periódico UFSC.
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LUGONES, María. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento feminista hoje:
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MALTA, Renata Barreto; OLIVEIRA, Laila Thaíse Batista de. Enegrecendo as redes: o
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OLIVEIRA, Tauani Susi Da Silva Marques de. Representação De Mulheres Negras No
Instagram: Análise Narrativa Dos Comentários Do Feed De Nátaly Neri, Preta Gil E Talíria
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Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo. Título original: Un féminisme décolonial. São
Paulo: Ubu Editora, 2020.
WOOD, Ellen Meiksins. A origem do capitalismo. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2001.
CAPÍTULO 23
PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A
COORDENAÇÃO MOTORA DAS CRIANÇAS
INTRODUÇÃO
Em seus estudos Koppity (1995), aborda que a motricidade ampla e fina leva a refletir
na consciência do próprio corpo, com um avanço na estrutura da formação no esquema corporal.
O autor busca sanar os problemas que envolvem a psicomotricidade da criança no ato de
desenvolver a escrita para obter uma boa coordenação motora fina ou ampla com o intuito em
fazer com esses movimentos repetitivos em movimentos que são trabalhados no decorrer do dia
a dia da criança.
Justifica-se a elaboração desse estudo por meio do aprimoramento e aperfeiçoamento
dando-lhe uma estrutura base para que a criança tenha todo o suporte ao desenvolver suas
habilidades motoras específicas na qual essas atividades mexem com o psicológico e o
emocional de cada criança, onde as mesmas vão desenvolver tal brincadeira até onde o seu fator
psicológico permitir, que podem ser dado apenas inicio ou até mesmo que a criança seja capaz
de desenvolver a atividade proposta até o final da brincadeira, sendo assim cada habilidade de
cada criança é única.
O artigo está estruturado da seguinte maneira, sendo demonstradas com o referencial
teórico, debatendo e compreendendo o desenvolvimento motor da motricidade na educação
infantil, falaremos também sobre a coordenação psicomotora e suas implicações, no decorrer
desse estudo explicaremos algumas atividades psicomotoras que devem ser desenvolvidas nos
anos iniciais, e por fim falaremos de habilidades motoras e práticas pedagógicas na educação
infantil.
Em seguida apresentaremos a metodologia de ensino aplicada nesta pesquisa, cuja
pesquisa foi explicativa através de um levantamento bibliográfico com pesquisas realizadas no
Google Acadêmico e Scielo para um aprofundamento teórico, para isso recorremos aos
conceitos de Velasco (1996), Maria (2012) e Gil (2007). Após análise nos artigos utilizados de
base, buscamos em realizar um questionamento contendo dez perguntas fechadas, na qual o
foco era saber o que o público alvo das redes sociais pensam sobre a psicomotricidade na
educação infantil, os resultados e discussão serão ilustrados por meio de porcentagem
demonstrando a quantidade do percentual de cada questão. E por fim finalizamos enfatizando
o enfoque central nas considerações finais.
que o trabalho desses movimentos é muito importante, pois as crianças devem se exercitar e ter
essa estrutura, para passar por todas as etapas do processo de desenvolvimento, incluindo
cognição motora. Dessa forma, pode-se afirmar que uma das muitas tarefas dos educadores e
até dos pais é estimular e desenvolver a coordenação motora.
Ao pensarmos na palavra psicomotricidade logo, nos faz refletirmos em movimento,
corpo, mente, espaço e ação, sobretudo o objetivo da psicomotricidade é estimular os indivíduos
a localizarem o próprio corpo, leva-los também a conhecer todas as suas potencialidades ou
limitações, assim atendendo às suas necessidades afetivas ou emocionais dos estudantes,
auxiliando no desempenho escolar, obtendo melhoras na consciência corporal e na lateralidade
por meio da noção de espaço e tempo, pois auxiliar o educando a superar suas dificuldades, por
meio de atividades, ajudando as crianças em seu processo de desenvolvimento corporal e sua
afetividade.
Para que isso ocorra é necessário saber o que fazer, pois uma criança pode ter mais
facilidade do que outra. Há uma relevância da temática, porém, ao vivenciar a referida temática
tendo em vista as peculiaridades do desenvolvimento desse artigo é trabalhar o esquema
corporal que é uma estratégia de grande valia para facilitar a aprendizagem de nossas crianças,
tais considerações corroboram com o fato de que para muitos estudiosos, que contextualiza uma
deficiência de aprendizagem no esquema corporal podem gerar transtornos nas áreas motoras.
Vale mencionar que uma pessoa com deficiência no esquema corporal pode desenvolver
dificuldade de coordenação motora; assim como pode apresentar também uma postura
inadequada, tendo um ritmo mais lento na realização de atividades, além de demonstrar
dificuldade para localizarem-se no tempo e no espaço diante desse contexto as crianças
desenvolvem certa dificuldade em relacionarem-se com as pessoas devido problemas com a
afetividade.
Como afirma Le Boulch que a importância da psicomotricidade deve ser trabalhada na
escola nas séries iniciais:
ainda, que é essencial trabalhar a localização de certos pontos de referência seja de cidade ou
de lugar, permitindo assim que elas tenham o comando para localizar e desenhar algo na direita
ou esquerda, assim como identificar acima e abaixo, para que isso aconteça é importante
contextualizar a lateralidade com trilhas como se estivessem no trânsito, pedindo para que os
estudantes virassem à esquerda ou à direita, entretanto deve-se utilizar o corpo para trabalhar,
o que podemos estar segurando com a mão direita ou esquerda, brincar de morto-vivo, baralho,
amarelinha, equilíbrio, dobraduras, entre outras diversas brincadeiras que podemos executar
para que as crianças desenvolvam sua psicomotricidade, pode-se dizer que a psicomotricidade
ela vem para auxiliar nos processos de aprendizagem, de forma integral, trabalhando com o ser
humano por meio de jogos e brincadeiras de uma maneira interativa, lúdica e prazerosa. Dessa
maneira os estudantes brincam, aprendem e desenvolvem sua coordenação motora.
Para Piaget (1971), “os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento
para gastar energias das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento
intelectual”. Piaget ressalta ainda que os jogos e as brincadeiras mexem com o raciocínio da
criança em diversas situações, pois ao executar um jogo ou uma determinada brincadeira, faz
com que essas crianças desenvolvam e conheçam suas habilidades e limitações.
Nesse contexto fica claro que quanto maior forem às vivências das crianças com o seu
meio, maior serão suas capacidades para a adaptação e aquisição no ensino aprendizagem.
Ressalta-se ainda que o brinquedo seja o suporte da brincadeira, sendo um meio indispensável
que leva a criança a mexer com sua imaginação além do faz de conta. Dessa forma temos o jogo
como uma ação lúdica, na qual é estruturada por meio de regras, que podem envolver diversos
tipos de matérias, deixando assim que o pedagogo (a) use sua criatividade para obter um
resultado satisfatório com relação à psicomotricidade de suas crianças.
Além disso, esse estudo visa em contextualizar a coordenação motora que pode ser
definida como a capacidade em utilizar os movimentos corporais, que podemos classificá-los
em movimentos amplos ou finos, em detrimento disso é a habilidade que nosso corpo permite
realizar diferentes movimentos assim como, desenhar, pintar, dançar, fazer dobraduras, brincar
de amarelinha, com bolas, correr com obstáculos, encher e esvaziar objetos, entrar e sair de
caixas, brincar com cantigas de roda, estátua, duro-mole, passar anel, além de brincar com pneus
e etc.
MATERIAIS E MÉTODOS
265
Ressaltando o nosso objetivo central desta pesquisa, esse estudo tem como intuito
estimular o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo da criança para que elas se
conscientizem e explorem diversas possibilidades de se expressar por meio do seu corpo. Para
o desenvolvimento da presente pesquisa foi utilizado um estudo explicativo, por meio de um
levantamento bibliográfico com pesquisas realizadas no Google Acadêmico e Scielo como
ferramentas para a obtenção do estudo de campo realizado por meio de perguntas fechadas por
meio de enquetes e formulários no Google Forms, para que os públicos-alvo das redes sociais
tivessem acesso a pesquisa de estudo. É válido mencionar que um dos métodos utilizados com
frequência para a realização de pesquisas acadêmicas é por meio de enquete, formulários no
Google Forms ou entrevistas.
Segundo Gil (2007) este tipo de pesquisa preocupa-se em identificar os fatores que
determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Ainda, a pesquisa explicativa
segundo Gil (2007, p. 43), pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação
de fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e
detalhado. Para a execução dos dados encontrados usamos a rede social (Instagram e o Google
formulário mais conhecido Google Forms). No questionário a seguir deixaremos entre
parênteses as opções colocadas para que as pessoas respondessem.
9. O jogo de brincadeira deve ocupar lugar em destaque na escola desde a educação infantil?
(para desenvolver as habilidades físicas e mentais, despertar o criar e auxiliar na formação
corporal é fundamental para a alfabetização).
10. A criança, durante o período da educação infantil, antes de iniciar a sistematização dos
conteúdos previstos no currículo, ao seu olhar: deve-se iniciar-se com? (a prática da
psicomotricidade deve ser vivenciada a psicomotricidade durante todo o processo de
desenvolvimento emocional, deve ser trabalhada a psicomotricidade apenas na educação
infantil, a psicomotricidade deve ser trabalhada em todas as séries, não sei opinar).
Fonte: Google
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para análise dos dados coletados pela enquete do Instagram e formulário do Google
Forms, visto que no quadro ilustrado acima, que consta dez perguntas e cada pergunta contém
quatro categorias para as respostas, sendo divididas em duas categorias para a enquete e as
outras duas categorias são destinadas para o Forms, dessa forma cada categoria terá um
percentual de 100%. Friso ainda, que a seguir nos resultados obtidos você terá dados que
compõem a enquete que serão os dois primeiros dados com percentual de 100% e
posteriormente na sequência, mais dois dados de percentual de 100% que compõem sobre o
formulário do Google Forms.
Perguntamos para esse público-alvo da rede social “Instagram” e pelo Google Forms-
formulário, dez perguntas das quais a primeira pergunta foi sobre a formação que essas pessoas
têm; diante das opções que foram destinadas obteve-se 57% para curso de Pedagogia, 43% para
Magistério, Letras apenas 19% e 81% para outros cursos. Com base na pergunta de número
dois dos quais com 91% atua como professor durante um ano, 9% atua há três anos, 92% atuam
em outras opções que não foram citadas e 8% lecionam na área de professor (a) a mais de oito
anos.
Na pergunta de número três perguntamos o que é a psicomotricidade na educação
infantil e 54% responderam que é o movimento mental da criança, 46% afirmam ser o
movimento das crianças, 29% não souberam opinar e 71% questionaram que são os
movimentos estipulados pelo corpo. Diante da pergunta anterior que está interligada com a de
número quatro, foi questionado o que se desenvolve na psicomotricidade, 93% responderam
para mente e gestos, com 7% apenas os movimentos do corpo, adquiriu-se empate de 50% para
conhecimento e domínio do próprio corpo, para desenvolvimento da linguagem.
267
O autor deixa claro que cada criança, com diversas idades tem suas peculiaridades
diferentes, assim como seus estágios de aprendizagem, visto que é fundamental que o docente
268
elabore e planeje seus planos de aulas de acordo com as suas habilidades de cada estudante.
Para que dessa maneira o aprendizado seja satisfatório, pois quando o educador aplica uma
determinada aula com o público-alvo infantil, que as mesmas têm diversas habilidades na
coordenação motora algumas demonstram ter atraso em seu desenvolvimento psicomotor e com
isso esse aluno vai demonstrar certa dificuldade e ficam desmotivados, com isso, acaba
atrapalhando no avançar de estágio de aprendizagem.
Maria, (2012) descreve que “a prática psicomotora ainda é pouco adotada no âmbito
escolar por desconhecimento dos professores”.
A autora relata sobre a prática psicomotora tendo certo escasso no ambiente escolar, ela
menciona ainda que isso ocorre devido o desconhecimento dos professores com relação à
psicomotricidade e por consequência algumas crianças desenvolvem o desenvolvimento
psicomotor tendo assim dificuldades de aprendizagem, além de alguns atrasos motores.
CONCLUSÃO
Perante esse contexto concluímos que as atividades motoras são de suma importância
para o desenvolvimento das crianças, visto que é por meio da execução que elas desenvolvem
a coordenação motora seja ela a coordenação motora fina ou ampla.
É válido ressaltar que a psicomotricidade na educação infantil ela contribui na formação
e estruturação do esquema corporal da criança, ao trabalhar o desenvolvimento motor e
cognitivo estamos incentivando a prática do desenvolvimento em todas as etapas da vida de
uma criança.
Propõe-se que este estudo faz necessário destacar que a psicomotricidade é
contextualizada como a educação que estuda os movimentos de cada ser além de procurar
melhorar as capacidades psíquicas, por meio das atividades sejam por jogos ou brincadeiras os
estudantes da educação infantil brincam, se divertem, criam, interpretam, se relacionam com o
mundo em que vivem, aprendem e desenvolvem suas habilidades seja ela motora ou cognitiva.
Portanto a psicomotricidade na educação infantil pode ser entendida como um suporte
para que as crianças possam tomar consciência de si próprias, de seu corpo e do espaço que
cada criança ocupa no mundo, pois as crianças estão em fases de crescimento e aprendizagem.
Conclui-se que a psicomotricidade na educação infantil está relacionada ao processo de
maturação onde o corpo da criança é a origem das aquisições cognitivas e afetivas.
Come esta pesquisa foi possível perceber o quanto a psicomotricidade é importante para
o desenvolvimento da criança, sobretudo na primeira infância, em razão de que nessa etapa
269
REFERÊNCIAS
KOPPITZ, E.M. El Dibujo de l a Figura Humana en los Niños. Buenos Aires, Ed. Guadalupe,
1995.
LE BOULCH, Jean. A educação pelo movimento: a psicocinética na idade escolar. Porto
Alegre: Artes Médicas, p24. 1984.
PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
VELASCO, Cacilda Gonçalves. Brincar: o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint, p. 27,
1996.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
CAPÍTULO 24
O PODER DA LINGUAGEM E DAS REDES NA MANIPULAÇÃO DOS
DIRIGENTES SOCIAIS: um alerta a respeito da imposição ideológica na
obra 1984, de George Orwel, e no Discurso sobre a servidão voluntária, de
Étienne de La Boétie
52
Compreendida a partir de uma leitura marxista como “idéias falsas que ajudam a legitimar um poder político
dominante; comunicação sistematicamente distorcida [...] falsa cognição, com a ideologia como ilusão, distorção
e mistificação” (EAGLETON, 2007, p. 15-16).
273
Isso nos leva a ratificar a compreensão de que a forma encontrada pelos governantes de
introduzir a concepção de mundo que eles detêm, ou a concepção de mundo que eles querem
criar, na sociedade se dá por meio da linguagem. E essa realidade se mantém. Os interlocutores
se constituem mutuamente por meio de práticas discursivas em meio a contextos históricos e
sociais. Para Bakhtin, “a palavra é o fenômeno ideológico por excelência” (1997, p. 36). Logo,
as identidades são construídas através das relações socioculturais, que são perpassadas pelos
discursos propagados nas diversas esferas de atividade humana, especialmente nas instituições
sociais, que detêm maior lugar de fala e, consequentemente, maior visibilidade.
Assim, determinada concepção é imposta pelos dirigentes e veiculada pelas redes
sociais, ou pela imprensa, e isso é absorvido pela sociedade. Mesmo a mídia que tem o papel
de informar e despertar a consciência da sociedade, podendo contribuir, portanto, de forma
significativa para a obtenção da cidadania, tem se mostrado incoerente ao adotar discursos que
vão de encontro aos seus princípios basilares. Por meio de recursos linguísticos e demais
estratégias discursivas, a mídia é capaz de convencer; de criar; de manter ou de modificar
opiniões e crenças.
Nesse sentido, a população passa a consumir – de todos os lados – informações que
viabilizam a naturalização da violência, do ódio, ou do que quer que seja de interesse dos
dominantes, o que os leva a aceitar tais imposições. Na obra Discurso sobre a servidão
voluntária La Boétie (2017) demonstra que é fácil aceitar o absurdo se você já nasce em meio
274
53
[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando a todas as experiências passadas,
funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização
de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas [...] (BOURDIEU, 1983,
p. 65).
275
Desta forma, resta claro que a população adota essa composição e passa a reproduzir os
significados construídos pelos discursos dominantes. Bourdieu (1992) explica esse sistema ao
afirmar que, a sociedade, habituada a essa compostura, a reproduz, sem qualquer esforço.
Berger e Luckmann caminham na mesma direção e nos alertam para o fato de que “as ações
tornadas habituais conservam seu caráter plenamente significativo para o indivíduo, embora o
significado em questão se torne incluído como rotina em seu acervo geral de conhecimentos,
admitindo como certos por ele e sempre à mão para os projetos futuros. O hábito fornece a
direção” (2002, p. 78).
Bourdieu (1983) entende que a reprodução da ordem social se explica pelas múltiplas
estratégias de reprodução que os diferentes agentes sociais colocam em ação para manter ou
melhorar a sua posição social. Assim, “as instituições, pelo simples fato de existirem, controlam
a conduta humana estabelecendo padrões previamente definidos de conduta, que a canalizam
em uma direção por oposição às muitas outras direções que seriam teoricamente possíveis”
(BERGER; LUCKMANN, 2002, p. 80).
Nessa lógica, a educação formal, ou seja, a escola, é compreendida como um excelente
meio para a construção de uma identidade hegemônica. Na obra A Reprodução: elementos para
uma teoria do sistema de ensino, Bourdieu e Passeron (1992) tratam dessa questão e colocam a
ação pedagógica como uma violência simbólica na qual os indivíduos são conduzidos a aceitar
as imposições vigentes, sem perceberem que estão sendo manipulados por uma violência
encoberta.
A cultura dominante no sistema de ensino é posta pelas autoridades pedagógicas. Essas
autoridades realizam um “trabalho pedagógico”, ou melhor, fazem os alunos naturalizarem as
arbitrariedades que são colocadas para que se realize, deste modo, uma “formação durável”.
Bem como a distopia – 1984 – o sistema educacional pouco mudou desde 1992 e a reprodução
social e a legitimação das desigualdades sociais ainda é uma realidade54.
Na escola, esse cenário é reforçado pelos livros didáticos, que difundem uma identidade
predominante e oportunizam a sua internalização e a consequente repetição. Ao tratar da
construção das identidades nas práticas discursivas, Carvalho e Campos (2018) realizaram um
levantamento bibliográfico sobre estudos acadêmicos que analisaram questões de gênero e
sexualidade nos livros usados em salas de aulas e selecionaram quatro deles.
54
É certo que essa não é a única função da escola, pois, assim como tudo no sistema capitalista, a escola é
contraditória e, ao mesmo tempo em que reproduz desigualdades, oferta possibilidades. Isso foi admitido,
inclusive, por Bourdieu, um pouco depois da publicação da obra mencionada. Contudo, a reprodução permanece
e pode ser percebida também em outros setores.
276
Essa realidade tem sido experienciada por boa parte do mundo, em especial o ocidental,
marcado pela onda neoconservadora. Neste sentido, pode-se perceber a atualidade do discurso
escrito por La Boétie há mais de quatrocentos anos. A população segue acreditando de forma
cega em afirmações infundadas, sem questioná-las, submetendo-se a uma servidão
voluntariamente.
La Boétie pleiteia que "Se pudermos, então, busquemos entender, por conjectura, como
essa obstinada vontade de servir tornou-se enraizada de tal forma que nem mesmo o amor à
liberdade parece ora tão natural assim." (2017, p. 43). O que parece é que, deliberadamente, a
sociedade tem se colocado ao lado de ideologias que vão de encontro à ciência. É como se este
tipo de comportamento partisse de uma escolha própria do povo, que tem se submetido
intencionalmente à servidão, uma vez que não há armas e não há um privilégio justificável para
tanto. É a escolha por estar preso e se subjugar, mesmo que não fisicamente, mas
ideologicamente, resultando, assim, em uma servidão voluntária.
Por outro lado, Berger e Luckmann (2002) retornam à noção de sujeito assujeitado de
Foucault e afirmam que a sociedade, habituada a determinada realidade, a reproduz, sem
nenhum esforço. Aqui é como se a escolha não fosse real/própria, mas sim perpassada pelo
poder do contexto.
Considerações Finais
O discurso não mais se concentra nas mãos de poucos. Todos se sentem no direito de
poder emanar suas opiniões, respaldadas ou não pela ciência. Muitas vezes os discursos têm
como fonte a fé, a inclinação político-partidária, e tantas outras ideologias, que atraem a
população, ou parte dela, com os seus ideais e encantos.
Tal fato desperta um alerta: atualmente, grande parte da elaboração das notícias não
parte de uma instituição jurídica passível de responsabilização. Temos ciência de que, mesmo
no passado, emissoras, revistas e jornais se valiam de técnicas para convencer ou desestimular
determinadas práticas pela sociedade que eles consideravam impertinentes. Hoje, o que
acontece é que, além dessas técnicas linguísticas e discursivas empregadas pela mídia, não há
uma preocupação legal, muito menos científica, com as matérias – que aqui devem ser
compreendidas como áudios, imagens, textos, memes e demais gêneros – que são divulgadas,
repassadas ou adotadas pela população.
Ainda hoje os animas e os homens agem da mesma forma. Em tom de revolta, La Boétie
questiona o motivo pelo qual o homem, que nasceu para viver em liberdade, se entrega,
enquanto os animais, que foram criados a serviço dos homens, não se acostumam com esta
situação de servidão. Outro ponto de destaque no texto é o fato de que quando os homens já
281
nascem sob o jugo, alimentados e criados na servidão, não sofrem como aqueles que tiveram
esta situação imposta a eles, destacando o fato de que o costume é mais forte que a natureza.
Podemos constatar essa ocorrência nos dias atuais. No contexto da educação, Monte
Mór explicita essa questão no livro The Development of Agency in a New Literacies Proposal
for Teacher Education In Brazil. Neste texto, a autora observou que três fortes influências da
história política no Brasil foram identificadas na educação: as perspectivas missionárias dos
jesuítas, o colonialismo que chegou com eles e outras pessoas que vieram depois e que
permaneceram no país, e, por fim, as visões autoritárias experienciadas no decorrer da ditadura.
Deste modo, para a autora, a população foi formada por estas três perspectivas e as
pessoas aprenderam a viver envolvidas por amarras trazidas por estas três vertentes, de modo
se tornou natural o desrespeito pela diversidade, a busca pela homogeneização, a desvalorização
da cultura local, dentre tantas outras marcas trazidas pela colonização.
Resta, para a atualidade, portanto, tanto para os pesquisadores quanto para os militantes
e afins, o desafio de romper com essas amarras, hoje naturalizadas, que impedem a liberdade
real do ser. A análise do discurso se mostra uma excelente ferramenta para o desvelar das
relações de poder que permeiam os discursos, muitas vezes hegemônicos. Como ensina La
Boétie (2017), devemos aprender a fazer o bem e erguer os olhos para o céu, seja por amor da
nossa honra, seja pelo amor da própria virtude...
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.
BOURDIEU, Pierre. Sociologia (organizado por Renato Ortiz). São Paulo: Ática, 1983.
EAGLETON, Terry. Ideologia uma introdução (trad. Luís Carlos Borges e Silvana Vieira). São
Paulo: Boitempo, 2007.
282
GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade (trad. Plínio Dentzien). Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2002.
LA BOÉTIE, Etienne de. Discurso sobre a servidão voluntária. São Paulo: Edipro, 2017.
MONTE MÓR, Walkyria. The Development of Agency in a New Literacies Proposal for
Theacher Education in Brazil, p. 126-146. In: E. S. Junqueira e M. E. K. Buzato (orgs) New
Literacies, New Agencies? A Brazilian Perspective on Mindsets, Digital Practices and Tools
for Social Action In and Out of School. Nova York: Peter Lang Publishers, 2013.
Hellen Steckelberg
Advogada. Especialista em Direito do Trabalho. Graduanda em Letras Português/Inglês pela
Universidade Estadual de Goiás. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e
voluntária no Programa Institucional de Iniciação Científica. E-mail:
hellensteck@hotmail.com.
CAPÍTULO 25
CONTRIBUIÇÕES DA BIOPOLÍTICA NA ATUALIDADE
Segundo os estudos de Bento (2016) sobre minorias sociais, o governo aparece como
um dispositivo desigual no reconhecimento da vida dos indivíduos. Assim, o conceito de
biopoder, construído por Michel Foucault (1976) sugere que as ações do Estado ocorrem de
uma maneira limitada, onde o direito de morte e de vida, é um direito histórico, absoluto e
assimétrico. Posto isso, dispor a morte de certos sujeitos tende a caracterizar-se como uma
técnica de poder que se encarrega da vida dos indivíduos.
Nesse contexto, os estudos sobre biopolítica compreendem que o foco central está em
torno da questão de uma política de vida ou modos de gerenciamento de vidas, onde sua
dinâmica se configura entre um fazer viver e, seu inverso, deixar morrer (FOUCAULT, 1976).
Ao que se refere ao biopoder, há a presença de autores importantes dentro desse campo como
Michel Foucault, Giorgio Agamben, Antonio Negri e Roberto Esposito. Pode-se compreender
que uma das críticas a um modelo de gestão biopolítico, diz respeito às formas de vidas
qualificadas e os configurados como não vivos, deixados a uma situação de descaso (SILVA,
2020).
Foucault (1976) conceitua a biopolítica em uma ideia de poder que se apoia em função
da regulação da vida e seu princípio seria sustentado por ações do Estado em torno das questões
biológicas da população. Além disso, seus papéis mais importantes são os de sustentar, garantir,
reforçar, multiplicar e colocar em ordem a vida. Justamente por se constituir um fenômeno
político, a vida adquire importância ao Estado onde são mortos aqueles que constituem um
perigo para a população.
Conforme o que foi exposto, Lima (2018) compreende a biopolítica como um
dispositivo político e, também, econômico, pois a questão central se encontra na regulação e
controle sobre a vida. Para o biopoder, a questão está relacionada a práticas majoritárias e
multiplicadoras sobre a vida dos indivíduos, onde medidas políticas são colocadas de maneira
controladas, vigiadas e reguladas (FOUCAULT, 1976).
A biopolítica, refere-se por uma “atuação do poder dirigida à produção, majoração e
multiplicação da vida biológica” (ARAÚJO, 2019, p.7). Se por um lado, a vida exige proteção,
proliferação e cuidado, a biopolítica também produz a exposição à morte para determinados
284
corpo, vida ou ser humano vivo e a política (instituições, leis, governo, poder, etc) pode se
configurar como uma política que exerce sobre e se ocupa sobre as vidas (SILVA, 2020).
Conforme Araújo (2019) a biopolítica está relacionada à uma prática normalizadora,
onde a disciplinarização de corpos está presente nesse contexto. Tanto quanto regular o
indivíduo, através de técnicas disciplinares quanto a população pela gestão biopolítica. Nesse
viés, poder disciplinar e biopolítica são interligadas às técnicas do biopoder, onde o movimento
e a liberdade dependem das fronteiras biopolíticas ligadas aos sistemas de segurança
governados nesse ambiente.
Os dispositivos que darão conta da governabilidade da biopolítica constituem conjuntos
heterogêneos, através de instituições, discursos, decisões, leis, saberes filosóficos, morais,
científicos e etc, e também, o que não se exercerá por práticas e discursos mas pelo silêncio e a
indiferença (FOUCAULT, 1976). Por esse viés, a biopolítica terá como objeto o corpo
individual através de sua própria autorregulação, bem como o controle da população pelo
Estado (ARAÚJO, 2020).
Sob esse contexto, Agamben (2004) esclarece que as técnicas biopolíticas são práticas
sofisticadas da atualidade, pois elas se iniciam como uma possibilidade de autorizar o genocídio
e proteger uma raça ou nação que se caracteriza como superior à outra, “onde na biopolítica
moderna, soberano é aquele que decide sobre o valor ou sobre o desvalor da vida enquanto tal
(AGAMBEN, 2004. p.135). Sendo assim, Lima (2018) percebe que a compreensão acerca da
biopolítica é necessária para se construir ferramentas que possam ajudar na leitura e análise de
fenômenos contemporâneos, expressos pelas violências e opressões, podendo citar entre eles, o
racismo.
Em relação aos indivíduos imigrantes, podemos identificar zonas biopolíticas em
relação ao cenário migratório atual, visto que há uma construção social de suspeita ao indivíduo
imigrante tanto quanto uma não hospitalidade. Essa questão, refere-se a estratégias biopolíticas
que produzem zonas de risco e preocupação com a segurança para a população, devido à
diferença étnica, religiosa, identitária ou política do imigrante. Além disso, há a produção de
estigmas de doenças ou preconceito, onde a segurança da população também dependerá de qual
será o inimigo estabelecido na situação presente (ARAÚJO, 2019).
A compreensão de biopolítica por Giorgio Agamben, se dá através de uma crítica a um
contexto de práticas distintas entre vidas que são reconhecidas (bio, vidas qualificadas) e vidas
abandonadas (zoé, a vida nua) (AGAMBEN, 2004). O Estado de exceção produz a vida nua,
onde a biopolítica, de acordo com Agamben, caracteriza-se por definir o que se é uma vida ou
uma “mera” vida. Além disso, as técnicas políticas são indiferentes à vida nua, onde a
286
ilegalidade e a desproteção imperam nesse contexto (RUCOVSKY, 2019). Todavia, sua crítica
também está atenta para uma atenção à vida em sua forma inseparável, não sendo possível isolar
o contexto da vida nua dentro da sociedade.
Foucault (1976) ainda evidencia que o desenvolvimento da biopolítica não teria
ocorrido se não fosse pelo avanço do capitalismo, tendo em vista que a criação de tecnologias
de controle alargou desde seu aparecimento. Para o referido autor, os indivíduos e seus corpos
nesse ambiente, transformam-se em “os corpos dóceis”, pois a ação principal é a atuação da
norma, e as leis funcionariam como dispositivos de ameaça que autorizam a morte para os que
não se adequam. Portanto, pode-se perceber “cada vez mais num contínuo de aparelhos
(médicos, administrativos etc.) cujas funções são sobretudo reguladoras. Uma sociedade
normalizadora é o efeito histórico de uma tecnologia de poder centrada na vida” (p. 137).
Silva (2020) analisa a construção do pensamento foucaultiano em momentos
específicos, nas quais estão os corpos individuais dentro da esfera do biopoder e o poder
disciplinar num âmbito maior, atuará através da governabilidade. Sendo assim, a biopolítica
dentro da esfera da governabilidade é definida como:
mortalidade, necessidades físicas e biológicas. Todavia, é visto que alguns contextos são
diferenciados: alguns corpos são mais protegidos e outros mais expostos. Nesse sentido,
podemos atribuir esse contexto à historicidade das relações econômicas e sociais, além das
gestões que se ocupam da organização e proteção da vida e da sociedade (SILVA, 2020).
Nesse sentido, a biopolítica se insere dentro de “uma nova racionalidade centrada na
questão da vida: sua conservação, seu desenvolvimento, sua administração” (NIELSSON,
2020, p.2). Além disso, variáveis como raça, gênero, sexualidade, classe social e nacionalidade
são fenômenos importantes para a compreensão dentro da biopolítica de vidas humanas ou não
humanas. Portanto, esses recortes são necessários para a compreensão de que maneira o
biopoder irá agir sobre cada corpo humano
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, G. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: Ed. da UFMG,
2004.
ARAÚJO, D. F. M. da S. de; SANTOS, W. C. da S. Raça como elemento central da política de
morte no Brasil: visitando os ensinamentos de Roberto Esposito e Achille Mbembe. Rev.
Direito Práx., Rio de Janeiro , v. 10, n. 4, p. 3024-3055, Dec. 2019.
BENTO, B. Necrobiopoder: Quem pode habitar o Estado-nação?. Cad. Pagu, Campinas, n. 53,
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BUTLER, J. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa
da assembléia. Tradução Fernanda Siqueira Miguens; revisão técnica Carla Rodrigues. - 1ª ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
DARDOT, P.; LAVAL, C.. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal.
São Paulo: Editora Boitempo, 2016.
ESPOSITO, R. Filosofia do Bíos. In: Bios: biopolítica e filosofia. Tradução Wander Melo
Miranda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. Cap: Direito de morte e
poder sobre a vida, p. 126-149. 21 ed. São Paulo: Graal, 1976.
LIMA, F. Bio-necropolítica: diálogos entre Michel Foucault e Achille Mbembe. Arq. bras.
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MBEMBE. A. Necropolítica - Biopoder soberania estado de exceção política da morte. Arte &
Ensaios – Revista do PPGA. EBA / URFJ: n. 32, 2016.
NIELSSON, J. G. Corpo Reprodutivo e Biopolítica: a hystera homo sacer. Rev. Direito Práx.,
Rio de Janeiro , v. 11, n. 2, p. 880-910, Apr. 2020.
RUCOVSKY, M. de M. Como produzir sentido a partir da precariedade? Bios-precário e vida
sensível. Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso. São Paulo , v. 15, n. 3, p. 34-56, Sept. 2020.
SILVA, L. da T. Indiferenciação por diferença: Implicações da governamentalidade neoliberal
para a teoria sociológica. Tempo soc., São Paulo , v. 32, n. 1, p. 247-264, abr. 2020.
CAPÍTULO 26
RECRUTAMENTO E SELEÇÃO: UMA ANÁLISE DO ALINHAMENTO
ESTRATÉGICO EM UMA EMPRESA DO SEGMENTO BANCÁRIO
INTRODUÇÃO
As instituições sempre agregam novas pessoas para incorporar suas equipes, com o intuito
de substituir funcionários que se desligam ou para ampliar a quantidade de pessoal em períodos
de crescimento e expansão (CHIAVENATO, 2008). O sistema de ingresso de pessoas envolve
práticas relacionadas com o Recrutamento, a Seleção e a socialização das pessoas no contexto
organizacional em uma perspectiva de ação integrada da entrada de pessoas em uma estrutura,
dinâmica social e cultura organizacional específica (GONDIM; SOUZA; PEIXOTO, 2013).
Recrutamento e Seleção são procedimentos direcionados ao preenchimento de vagas em
aberto, ou seja, da admissão de pessoal sendo requisitados de acordo com a movimentação de
pessoas na empresa seja por transferência, promoção, demissão ou contratação. A fase inicial
do Recrutamento e Seleção dispõe de uma vaga aberta que envolve um processo de buscar
candidatos à empresa. A busca de novos candidatos, baseia-se em requisições encaminhadas
por supervisores ou demanda do mercado de trabalho, onde compete aos empregadores,
referente a condições de trabalho salário, e benefícios e de outros profissionais, em relação a
qualificação pessoal inclui-se o conhecimento, habilidades, experiências e personalidade. Um
importante variável está relacionado à imagem projetada pela empresa no mercado de trabalho,
pois aquelas reconhecidas como um bom lugar para trabalhar terá um maior número de
candidatos (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002).
Os processos de Recrutamento iniciam-se como uma necessidade interna da organização,
no que resulta na contratação de novos profissionais em níveis a curto, médio e logo prazo, seja
por motivos de substituição ou aumento de quadro previsto ou não no budget, isso significa,
que de imediato a organização necessita em termos de reposição de pessoas, bem como, quais
são seus planos futuros no desenvolvimento e crescimento. Sua finalidade é a busca de
candidatos externamente e internamente da organização, objetivando municiar o sistema de
Seleção de pessoal no seu acolhimento aos clientes internos da empresa (MARRAS, 2011).
Para Carvalho et al. (2005), o Recrutamento compõe-se por um conjunto de atração de
290
candidatos qualificados para o cargo em questão por meio do qual a organização divulga e
oferece ao mercado a oportunidade de emprego.
A realização do Recrutamento poderá ser feita de duas formas: atração de pessoas já
efetivadas na empresa, mas que atuam em outros cargos e/ou buscando-se candidatos que não
têm vínculo com a empresa no mercado de trabalho, Recrutamento interno ou externo a
organização. Ambos apresentam vantagens e desvantagens, cabendo ao gestor dos recursos
humanos, à análise do que é melhor para a empresa. De qualquer forma, o Recrutamento deve
ser transparente e ter normas definidas, e conhecidas por todos para a diminuição dos eventuais
problemas.
Para Marras (2011), o Recrutamento interno é a busca de candidatos para preencher uma
vaga aberta da própria empresa e deve ser sustentada em procedimentos e política elaboradas
de forma transparente para que haja uma divulgação garantindo sua abrangência em todos os
níveis da estrutura organizacional, na medida em que pode gerar competição interna e
descontentamento. Por outro lado, o Recrutamento interno tem seu estimulo ao
desenvolvimento profissional oferecendo perspectivas de desenvolvimento na carreira dos
funcionários. Suas principais vantagens são; a redução de custo direto; um prévio conhecimento
do perfil de desempenho dos candidatos, a valorização do funcionário, incentivo da
permanência do funcionário e a fidelização à organização.
Já, o Recrutamento externo, é um processo de captação de candidatos disponibilizados no
mercado de trabalho, por fontes especificas para a ocupação do cargo. As vantagens que
deverão ser consideradas levando-se em conta o contexto em que a empresa está inserida no
momento são: novos talentos no banco de dados; inovação da composição das equipes de
trabalho/ atualização de estilo e tendências de mercado. Em geral, os custos diretos de
Recrutamento externo são maiores que os do interno (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO,
2002).
Os processos de Seleção, por sua vez, investigam entre os selecionados aqueles mais
qualificados aos cargos com disponibilidade na empresa, para manter ou aumentar a eficiência
e o desempenho do pessoal, bem como a eficácia da organização (CHIAVENATO, 2002).
Assim, o processo de Seleção que tem por finalidade escolher baseando-se em métodos
científicos, candidatos atendendo as necessidades da empresa (MARRAS, 2011). Trata-se da
busca do candidato mais adequado para a instituição, dentre os recrutados, a avaliação e
comparação dos dados, são realizados por meio de vários instrumentos de análise. Desta forma
isto indica que aqueles que mais convêm a determinado plano de ação, pois na maioria dos
291
casos os escolhidos não são mais os talentosos e sim os mais adequados a uma função na
situação predeterminada (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002).
Os processos relacionados ao Recrutamento e Seleção se inserem na obtenção de pessoas
no âmbito das relações macroeconômicas para a captação de mão-de-obra, que ao ser realizado
com o conhecimento das futuras necessidades ou excessos presentes quanto ao quadro de
pessoas garante o alinhamento entre a estratégia da empresa e a gestão do movimento de
pessoas, além de permitir melhor utilização dos recursos disponíveis tanto interna quanto
externamente, já que a empresa precisa ter clareza de sua necessidade de pessoal ao longo do
tempo em termos quantitativos e qualitativos (LIMONGI-FRANÇA & ARELLANO, 2002).
Nesta perspectiva, o Recrutamento e Seleção passam a ter um papel fundamental na renovação
ou confirmação da estratégia adotada na organização no sentido de contribuir para a consecução
de objetivos organizacionais.
De acordo com Spector:
Corroborando com o autor, Gondim; Queiroga (2013), asseveram que a decisão sobre o
procedimento de Seleção precisa estar alinhada com a estratégia organizacional. Para que haja
uma metodologia validada e assertiva, os profissionais deverão ser capacitados considerando
os objetivos estratégicos da organização (BAYLÃO; ROCHA, 2014).
Embora o Recrutamento e a Seleção de pessoas sejam considerados atividades tradicionais
da atuação dos profissionais da área, historicamente foram abordados no domínio técnico
instrumental, sendo ainda frequentemente relacionadas a abordagens padronizadas onde
procurava-se a pessoa certa para o lugar certo desconsiderando suas dimensões políticas e
estratégicas. Na prática, isso significa conceber o sistema de ingresso como um fim em si
mesmo, enquanto sistema fechado, sem articulação com ações dos demais sistemas de gestão.
Dentro do modelo estratégico de gestão espera-se que um sistema de Recrutamento, Seleção e
socialização tenha um alinhamento entre as competências e os objetivos estratégicos da
organização (GONDIM; SOUZA; PEIXOTO, 2013).
Para que haja um nivelamento entre a área de Recursos Humanos (RH) e a integração
estratégica e os negócios da organização, é necessário que toda a atividade do RH seja
direcionada verticalmente, de modo a alinhar-se aos imperativos estratégicos da empresa.
292
O processo de R&S, tem sido uma das maiores dificuldades organizacionais, pelo fato
de ser realizado por vezes, erroneamente ou distante da estratégia da empresa. A busca por um
processo seletivo eficaz torna-se um dos pré-requisitos para que a organização possa gerar
resultados a partir da disponibilidade da vaga, até o início efetivo do candidato. Mas, há uma
necessidade que ocorra um alinhamento estratégico com a organização, caso ocorra o oposto, a
organização poderá ter perdas estimadas (SPECTOR, 2010).
Para que haja um processo de R&S em alinhamento com a organização, destaca-se os
seguintes requisitos: autonomia do líder de R&S para desenvolver sua equipe de acordo com as
decisões estratégicas da organização; atualização contínua quanto as decisões estratégicas da
organização para a equipe de R&S (BAGATINI, 2014).
Embora exista uma ampla literatura informativa disponível acerca dos procedimentos
técnicos de Recrutamento e Seleção, há uma carência nos textos que abrangem reflexões
293
teóricas e críticas sobre o assunto. Além disso, a produção nacional não se dedica a avaliar a
eficácia dos procedimentos adotados em processos seletivos, para fins de aperfeiçoamento, e
novos métodos a serem adotados, sobretudo para que estejam em alinhamento aos objetivos
estratégicos da organização (GONDIM; QUEIROGA, 2013).
É de suma importância para que o processo seletivo seja bem alinhado com os objetivos
estratégicos da organização, a sintonia principalmente de dois departamentos da empresa, de
um lado o gestor de RH juntamente com sua equipe de R&S, do outro, a diretoria da empresa
com sua visão estratégica de seu negócio, pois com toda essa mudança mercadológica é
necessário ter uma visão mais ampla de que hoje se contrata um colaborador não para ficar
muito tempo em uma função especifica, o mercado exige mais, e faz-se necessário ter essa visão
ampla de como extrair esse desejo e como contribuir para o desenvolvimento desse novo
profissional.
Nesse sentido, o objetivo do estudo é analisar e descrever a percepção da área de gestão de
pessoas de uma empresa do segmento bancário, quanto ao alinhamento estratégico das práticas
de Recrutamento e Seleção.
PERCURSO
Segundo Garnica (1997), a pesquisa qualitativa é entendida como uma trajetória circular
em torno do que se deseja compreender, voltando o olhar para a qualidade e para os elementos
que são significativos para o pesquisador. Assim, este estudo apresenta características da
pesquisa qualitativa e utiliza a entrevista como instrumento de coleta de dados.
Lócus e Participantes:
Por se tratar de Recrutamento de uma grande Instituição Bancária, foi analisado o modus
operandi dessa empresa no segmento de R&S de forma interna e externa à organização, e
analisado como ocorre essa Seleção, métodos utilizados e estratégia da empresa em relação ao
grande assédio mercadológico nesse segmento. Foram entrevistados a empresa prestadora de
serviços, o Gerente Geral da Agência e o Gerente Regional.
Instrumentos:
Lógico e Redação, antes mesmo de ser acionado pelo departamento de Recrutamento e Seleção
terceirizado, contratado para suporte as etapas da contratação. Algumas diretrizes estratégicas
do Recrutamento são usadas para a efetiva contratação; objetivos do Recrutamento; processo
de realização do Recrutamento; avaliação dos candidatos recrutados; contribuição da prática de
Recrutamento para a organização; definições e metas da área de Recrutamento; indicadores
monitorados pela área de Recrutamento; envolvimento, plano de ações e metas dos gestores
para o processo de Recrutamento e Seleção; o mapeamento dos custos dos processos seletivos.
Mais adiante, a entrevista, que para Gil (1999), é seguramente o mais flexível de todos
procedimentos de coleta de dados de que dispõem as ciências sociais, corroborando com o
autor, Marconi e Lakatos (2002), refere-se a entrevista como obtenção de informações sobre
determinado assunto por meio de conversa profissional.
Procedimentos de coleta de dados:
A coleta de dados foi realizada em uma das agências da organização, localizada na cidade
de Trindade - Go, onde foi feita recentemente a contratação de um agente de atendimento,
cargo que foi selecionado para esse estudo, demonstrando como foi o processo de contratação
desse colaborador. Seguiu-se o passo a passo que a organização utilizou para a efetivação desse
novo colaborador no sistema, solicitou-se à direção da agência utilizar o tempo da funcionária
para o procedimento da entrevista a colaboradora, a fim de coletar os dados específicos para a
execução do trabalho. Após a anuência foi selecionado a participante pela entrevistadora, que
disponibilizou seu tempo em horário de trabalho. A entrevista foi feita individualmente,
realizada na sala de operações de retaguarda da agência. Os dados foram coletados através de
entrevista gravada e transcritos posteriormente. A entrevista deu-se na própria organização.
RESULTADOS
elaboração de provas especificas para cada cargo”. De acordo com a fala da gerente de Agência,
as práticas da área do R&S: “a área de Recrutamento e Seleção tem as diretrizes que são as
etapas que são feitas no processo seletivo, é, as pessoas envolvidas no processo além de empresa
terceirizada onde se faz a captação dos candidatos, onde aplicam as provas específicas, e
levantam o perfil já identificado para a vaga proposta, fazendo com que o candidato seja após
esse levantamento, levado para a segunda fase das entrevistas onde os candidatos já pré
selecionados sejam então entrevistados pelo Gerente Regional de Atendimento e
posteriormente pelo Gerente da Agência onde o candidato irá efetivamente desenvolver sua
atuação”.
Recrutamento e Seleção juntamente com a firma terceirizada que começa a captura de
candidatos através de redes sociais voltadas para relacionamentos profissionais como exemplo
Linkedin, e as estratégias são, começando primeiro pela Seleção de prováveis candidatos
através de análise curricular, posteriormente aplicação de prova de conhecimento específicos,
Apenas a gestora de agência que mencionou que o R&S na instituição é desenvolvido de acordo
com a missão, visão e valores criados pela direção.
No que se refere aos objetivos do R&S, os participantes afirmaram que, os objetivos são
conhecer e identificar as pessoas mais qualificadas que se encaixem na organização e designá-
las para as funções mais adequadas baseando-se com o perfil da vaga e do líder. Processo
afirmado com a fala da gestora do R&S “Ele serve para tentar buscar o candidato de acordo
com o que a líder peça né, abre-se a vaga na agência o gerente conversa com seu líder regional
delimitando a vaga, perfil específico, envia um e-mail para a empresa terceirizada para que
assim ela delimite as competências da função especificada pela direção do banco. O
Recrutamento e Seleção vai tentar buscar o candidato de acordo com o perfil do líder”.
O processo de R&S é descrito como um processo baseado nas competências de cargos e
líderes que foram mapeados sem mencionar quais foram as diretrizes da organização que
orientaram ou que amparam tal processo. De acordo com a gerente da agência: “Ele se relaciona
com as diretrizes estratégicas porque as competências que são avaliadas são feitas, e foram
feitas pelo mapeamento de competências da empresa também”.
Quando questionadas se é utilizado técnicas diferenciadas relatou-se em geral que sim, mas
é definida de acordo com o local para qual será direcionado o candidato, confirmado pela fala
do gerente regional. “Cada um tem o perfil do local. Que igual, tem local que gosta de pessoas
um pouco mais novas, outras pessoas mais velhas, outras com experiência, e outras sem”. O
processo seletivo a gente faz a triagem dos currículos, primeiro de tudo a gente recebe a
solicitação da vaga né, recebe a solicitação, tem o perfil, faz a divulgação nas redes sociais, ai
296
depois faz a triagem dos currículos, chama os candidatos pra participar, no primeiro contato por
conta da pandemia fazemos a entrevista te mesmo pelo Skype ou vídeo chamada pelo próprio
WhatsApp, primeiramente com entrevista pelo recrutador terceirizado, se o candidato se
encaixar pelo perfil solicitado, nesse momento o candidato já efetuou as provas especificas de
raciocínio lógico, língua portuguesa e redação.
Quando se é perguntado como são avaliadas as competências e o desempenho dos
candidatos, há uma concordância entre as entrevistadas de que essa avaliação é feita a partir da
triagem dos currículos, uma avaliação baseando-se nas competências dos candidatos relatado
também pela responsável técnica do R&S: “Então as competências e o desempenho dos
candidatos é avaliado desde o Recrutamento dos currículos, passando pela entrevista e
aplicação das provas, que o onde o desempenho deles e avaliados pelas competências que foram
escolhidas pelo solicitante da vaga”.
Ao serem questionados em como as práticas de R&S contribuem para a obtenção dos
objetivos da organização a logo prazo, as respostas das entrevistadas foram parecidas, relatado
pela gestora do R&S que atualmente há um grande fluxo de demissão na empresa devido a isto,
há uma busca por perfis que vão conseguir desenvolver a função oferecida. A recrutadora relata
sobre a importância da realização de um processo bem feito, isto trará uma contribuição
externamente para a empresa: “Então eu acredito que a partir do momento que a gente trabalha
né, com o perfil especifico que ele vai conseguir ocupar bem, a gente começa a contribuir pela
qualidade que ela vai ter no mercado, deixando assim essa empresa, digamos, no mercado de
trabalho sendo mais concorrente, sendo mais bem vista, demonstrando que tem qualidade para
a diminuição considerável na rotatividade da empresa. Ou seja, foi relatado que, ao recrutar
candidatos mais qualificados e competentes se tem uma diminuição na rotatividade.
Quando perguntado sobre se a empresa apoia e estimula o processo de Recrutamento e
Seleção, foi relatado pela recrutadora que: “Então, hoje o processo e mais otimizado, fazemos
através de plataformas on-line, no primeiro momento, mas ainda existe a parte presencial que
deixamos para os gerentes gerais hoje a visão da empresa para isso é diferente, até mesmo da
gestão, que antes não participava dos processos e hoje a gestão acompanha. Então acho que isso
é fundamental para gente poder pegar, as estratégias que estão sendo colocadas em práticas e
modificar tudo que estamos fazendo”. Se é relatado pela gestora de R&S que há momentos que
a empresa disponibiliza um profissional para treinamentos de desenvolvimentos da equipe de
R&S; “ Igual, atualmente se tem movimentado as equipes através de um treinamento por
segmento, acreditamos que através de troca de experiências entre nossos colaboradores agente
poderá construir um atendimento de excelência aos nossos clientes, para isso semanalmente
297
colocamos nossas equipes em pelo menos uma hora todos os nossos gerentes na nossa
plataforma online onde os mesmos trocam experiências e tiram suas dúvidas, essa interação
tem sido muito rica e podemos perceber a motivação das equipes em se doar a esse momento,
mesmo sabendo que tem as metas eles param e se entregam buscando a melhoria contínua de
nossa organização ”.
Quanto as metas relacionadas ao R&S, foi relatado pela gestora do R&S que não se tem
metas definidas: “Assim, a agente não tem meta por enquanto, mas mesmo sem não ter, não é
exigido, nós temos o controle, então eu tenho tudo no computador, tenho os indicadores, tem
quantos processos foram realizados, quantos vieram, quantos não vieram, quantos desistiram”.
A responsável técnica reforça a fala da gestora ao afirmar que “cada vez que aparece uma vaga
ela é preenchida, então assim não tem uma data certa, não tem um processo, não tem uma meta
certa definida não”. A única meta afirmada diz respeito ao tempo de preenchimento de vagas
em aberto. Estas relacionam apenas ao preenchimento de vagas em aberto: “As metas que os
gestores colocam e justamente quando é aberto uma vaga pra que seja feito o mais rápido
possível né, então isso é cobrado pra que seja, seja breve, e não tem mais nenhum outro, nenhum
outro tipo de pedido”.
Referente aos indicadores que a área monitora para apoiar as decisões estratégicas, foi
reafirmado pela gestora que “então, como eu falei como não é cobrado a gente não tem”, mas
foi relato tanto pela responsável técnica quanto pela recrutadora que os indicadores são feitos
através das demandas e acompanhamentos da rotatividade da organização. Relatado pelos
entrevistados que, em geral se observa, mas não se é cobrado. Mas foi informado que, os
indicadores lhes passam informações sobre o índice de desligamentos, segue a fala: “Em geral,
a gente observa.
Ao se perguntar se os gestores e supervisores tem envolvimento com a estratégia do R&S
relata-se que não diretamente e que precisam ser estimulados para tal, relato de acordo com a
gestora do R&S: “Bom, eles, a gente tenta estimular eles a estarem envolvidos, mas assim,
relatou-se a responsável técnica que: “os gestores participam do mapeamento de competências”,
a recrutadora complementa afirmando que “então hoje a gente tem solicitado os líderes para
participarem do processo seletivo para acompanhar toda dinâmica, todo processo e ajudar na
avaliação e na escolha final do candidato, nos da R&S apenas fazemos a primeira parte do
processo cabendo aos Gestores Regionais juntamente com os Gestores imediatos baterem o
martelo, afinal eles quem estão na ponta do processo sabem melhor como agregar valores aos
perfis selecionados”.
298
DISCUSSÃO
que se refere as práticas e Recrutamento e Seleção o que significa dizer que, há uma falta de
sintonia em relação aos diversos níveis hierárquicos da organização, no que se reflete aos
subsistemas do R&S, para que haja uma objetivação no entendimento do processo de R&S
(BARCELLOS, 2015).
Importante ressaltar, que mais do que preenchimento de vagas, o R&S é uma ferramenta de
gestão na medida em que uma empresa apenas atinge seus objetivos por meio de seu quadro de
pessoal, nesse sentido, as pessoas podem agregar valor organizacional, em um mundo de
negócios altamente competitivo. Sendo assim, tanto o Recrutamento quanto a Seleção
participam de um processo maior que é o de suprir a organização de talentos e competências
necessários de sucesso em um contexto altamente dinâmico e competitivo (BAYLÃO;
ROCHA, 2014).
Para além da importância do domínio de procedimentos técnicos relacionados à avaliação
de conhecimentos e habilidades dos candidatos Vargas (2005) diz que é importante que haja
ajustamento entre os mesmos e as estratégias organizacionais, porém não foi observado a
existência de uma consideração da estratégia do negócio sobre o planejamento e implementação
dos processos relacionados ao Recrutamento e Seleção. Além disso, a área de RH não possui
medidas de desempenho dos objetivos que sejam alinhadas aos objetivos do negócio. Para Cesar
et al. (2006), é preciso que a liderança da área de RH pense como gestores do negócio o que,
de acordo com os autores, tradicionalmente não ocorre, vez que gestores de RH ao não adotam
as crenças de outros altos gestores e não atuam como tal.
Neste contexto, a busca por elementos que contribuem para a efetividade e produtividade
de um processo de R&S estratégico torna-se uma meta direcionada ao RH, visando a
capacitação dos recrutadores para um processo seletivo mais eficaz, para que a organização não
seja prejudicada (GOMES, 2017). Um dos principais objetivos do RH é disponibilizar
candidatos para as vagas abertas na organização, mantendo pessoas qualificadas para aumentar
a eficiência do processo de R&S (RIBEIRO, 2013). Para tal, a área de RH deve adotar uma
função em destaque no desenvolvimento da estratégia da organização, para que possa
desenvolver as competências indispensáveis à concretização dos objetivos da organização
(ALBUQUERQUE, 2002).
Conclui-se que a área de Recrutamento e Seleção apresenta algumas falhas no processo, no
que se refere aos aspectos definidos como estratégicos. A área de RH precisa além de recrutar
dar um suporte maior aos gestores nessa parte que compete a eles, dando direcionamento a
buscarem o perfil do candidato alinhado ao perfil da empresa. Existem dificuldades para a
realização no quesito apoiar, acompanhar ou incluir-se na estratégia do negócio, a promoção, a
301
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa maneira, o trabalho contribui para demonstrar que a área de RH não conseguiu ainda,
na percepção dos entrevistados, efetuar o salto qualitativo que lhe confira um desempenho
efetivamente estratégico no que se refere ao processo de Recrutamento e Seleção. Tais achados
corroboram resultados de pesquisas realizadas no contexto brasileiro e que avaliaram práticas
de gestão.
302
Há estudos que contribuem sobre quais são os fatores que impedem a área de RH ser
estratégica, considerando inclusive o atual grau de capacitação dos responsáveis pela área para
atender esse desafio e a própria visão e concepção que possuem a respeito da área em que atuam.
Este é um primeiro passo, que carece a ser aprimorado para abranger o que necessita o
profissional dessa área, a fim de oferecer subsídios aos funcionários, para que a imagem interna
da área desfruta na instituição das ações exclusivas que empreendem, visto que estas, por vezes,
acabam por afetar todo o comportamento da organização. Reconhecer a posição paradoxal que
ocupam dentro das organizações, abrigando sua responsabilidade pela geração dos resultados
empresariais, ao mesmo tempo em que deve lidar com a obrigação de construir a confiança e o
comprometimento compartilhado dos empregados na administração desses mesmos desígnios.
Seria ainda interessante, investigar com os gestores de outras áreas que veem a área de RH
como contribuinte de maneira efetiva para gestão de transformações organizacionais.
No intuito de cuidar com mais propriedade, para manter e desenvolver as competências
imprescindíveis à realização dos objetivos organizacionais, faz-se importante a busca de novos
estudos que abordem a percepção de gestores, por ser esta uma forma extraordinária no
desenvolvimento da estratégia da organização, avaliando os métodos de Recrutamento
utilizados pela empresa. (ALBUQUERQUE, 2002)
Faz-se importante a implementação de critérios de mensuração de resultados para avaliação
do alinhamento da área de Recrutamento e seleção à estratégia da empresa, uma vez que permite
que os resultados sejam compartilhados dentro da organização, além de prover evidências da
contribuição da área. Ressaltando a importância de as organizações terem um planejamento
estratégico adequado e que inclua os processos de Recrutamento e Seleção.
REFERÊNCIAS
BIOGRAFIA DA AUTORAS