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CURITIBA
2008
IBERACI APARECIDO DE PONTES – Cap QOPM
CURITIBA
2008
Dedico este trabalho
a minha querida filha Pâmela
a maior razão da minha vida
AGRADECIMENTOS
.
A todos que de forma direta ou indireta ajudaram para realização deste trabalho, que
o Senhor com sua infinita graça há de recompensá-los.
Devemos visar essencialmente transformar o Estado
Megalomaníaco que criamos em um Estado Moderno, muito
mais inteligente, buscando colocar-se a serviço da sociedade e
não a comandá-la.
Michel Crozier
RESUMO
*proativo, termo relativamente novo em língua portuguesa, com origem no inglês "pro-
active/proactive" e que se refere a algo ou alguém que antecipa futuros problemas,
necessidades ou mudanças, que seja capaz de mudar eventos em vez de reagir a eles,
fazendo com que as coisas aconteçam; é ser ágil e competente.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 10
1.1. Aspectos gerais................................................................................................ 10
1.1.2. Curitiba e Região Metropolitana.................................................................... 12
1.1.3. Da metodologia utilizada................................................................................ 13
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................. 15
2.1. CONTEXTO ATUAL NO MUNDO.................................................................... 15
2.1.1. A Migração Humana para os grandes Centros Urbanos............................... 15
2.1.2. A Marginalização das Periferias.................................................................... 18
2.1.3 O Brasil no Contexto Mundial......................................................................... 20
2. CONTEXTO ATUAL DE CURITIBA..................................................................... 22
2.1 Curitiba e Região e sua formação cultural......................................................... 22
2.2. Curitiba e a realidade atual............................................................................... 22
2.3. A CRIMINALIDADE E A 28
VIOLÊNCIA................................................................
2.3.1 A Cultura da 28
Violência....................................................................................
2.3.2 A lucratividade da atividade Criminosa.................... ...................................... 29
2.3.3 O Medo do Crime............................................................................................ 29
2.3.4 As Conseqüências do Crime.. 30
........................................................................
2.3.5 As Causas do Crime....................................................................................... 32
2.4. FATORES GERADORES DE CRIME E VIOLÊNCIA EM CURITIBA............... 34
2.4.1 A Impunidade.................................................................................................. 34
2.4.2 O Anonimato................................................................................................... 35
2.4.3 A Oportunidade............................................................................................... 36
2.4.4 As Causas Sociais.......................................................................................... 37
2.5. O ESTADO PARALELO.................................................................................. 40
2.5.1. Estado Paralelo uma Ficção. ........................................................................ 40
2.5.2. O Mecanismo do Tráfico................................................................................ 41
2.5.3. Estado Paralelo em Curitiba.......................................................................... 42
2.6. O CUSTO DA VIOLÊNCIA E A 44
CRIMINALIDADE............................................
2.6.1 Por que calcular o Custo da Violência e Criminalidade.................................. 44
2.6.2. O Custo Social.............................................................................................. 44
2.6.3 O Custo Econômico........................................................................................ 45
2.7. A POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ................................................................... 48
2.7.1 Breve Histórico................................................................................................ 48
2.7.2 A estruturação da Policia Militar..................................................................... 49
2.7.3. Da Missão da PMPR...................................................................................... 50
2.7.4 A Base Legal da PMPR................................................................................. 52
2.7.5 As mudanças no Sistema de Policiamento.................................................... 54
2.8. DESMILITARIZAÇÃO DAS POLICIAIS MILITARES....................................... 59
2.8.1.Desmilitarização.............................................................................................. 59
2.8.2. Das conseqüências da desmilitarização........................................................ 62
2.8.3.O Sistema Policial no Mundo. ........................................................................ 64
2.9. A POLÍCIA COMUNITÁRIA COMO BASE PARA UMA NOVA VISÃO DE
POLICIAMENTO OSTENSIVO................................................................................ 66
2.9.1. A Origem do Policiamento Comunitário......................................................... 66
2.9.2.Polícia Comunitária. ....................................................................................... 66
2.9.3. A Polícia Moderna.......................................................................................... 67
2.9.4. A Reaproximação com a População.............................................................. 68
2.9.5. A Nova Visão de Policiamento Ostensivo...................................................... 69
2.9.5.1.Do conceito de policiamento........................................................................ 69
2.9.5.2. A visibilidade policial como forma de presença do Estado......................... 71
2.9.5.3. Atuar proativamente dentro de uma nova visão de policiamento.............. 72
2.10. O POLICIAMENTO NOS BOLSÕES DE POBREZA EM OUTROS
ESTADOS................................................................................................................ 74
2.10.1. O Caso Jardim Ângela em São Paulo. ....................................................... 74
2.10.2. Favela Morro das Pedras............................................................................. 76
2.10.3.Morro do Cavalão em Niterói Rio de Janeiro................................................ 79
2.11. DA ACEITABILIDADE DO PROJETO. .......................................................... 83
2.11.1. Da Aplicação dos questionários................................................................... 83
2.11.2 A aceitabilidade do projeto pelos Policiais 83
Militares......................................
2.11.3. Uma Visão Geral do grupo pesquisados. . ................................................. 85
2.11.4. Da aceitação pela População de bolsões de pobreza................................. 87
2.11.4.1. Da aplicação do questionário externo....................................................... 87
2.12.UMA NOVA VISÃO DE POLICIAMENTO: PROPOSTAS....... ....................... 90
2.12.1. O trabalho da Polícia. 90
..................................................................................
2.12.2. Da intervenção em áreas de invasão (onde se localizam bolsões de pobreza).. 91
2.12.3. O Controle Estatal dessas Comunidades. .................................................. 92
2.12.4. A fixação da Polícia Militar em bolsões de pobreza................................... 92
2.12.5. A Coordenação do Serviço Social pela Polícia Militar................................. 94
2.12.6. Como Funcionaria o Centro de Atividades (Base Comunitária).................. 94
2.12.6.1 O policiamento e o Centro de Atividades................................................... 94
2.12.6.2 Na Área da 95
Saúde......................................................................................
2.12.6.3 Na Área de Atividades Esportivas. 95
............................................................
2.12. 6.4. Espaço Cultural........................................................................................ 96
2.12.6.5. Na Área da Assistência Social.................................................................. 96
2.12.6.6. Na Área da Educação Profissional........................................................... 96
2.12.6.7. A Execução das Atividades Sócioeducativas.......................................... 97
2.12.6.8. Da Urbanização da área de bolsões de pobreza...................................... 97
2.12.6.9. Proposta para um Projeto Experimental................................................... 98
CONCLUSÃO.......................................................................................................... 100
3.1. Desenvolvimento das 100
pesquisas.......................................................................
3.2. Conclusões finais.............................................................................................. 100
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 102
.
APÊNDICE 01......................................................................................................... 106
APÊNDICE 02......................................................................................................... 109
APÊNDICE 03......................................................................................................... 111
10
1. INTRODUÇÃO
1
Disponível em http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/Faixa_Etaria.pdf.
12
tempo o seu grande financiador, tem como “habitat” preferido e fértil para desenvolver-
se, justamente os grandes bolsões de miséria onde recrutam jovens e crianças, os
quais engrossam as fileiras desse crime. Dá a essas crianças e jovens a sensação e a
esperança que a sociedade formal não oferece, juntamente com a possibilidade de
poder e dinheiro, o que para eles é um horizonte impossível de vislumbrar, pelo
meios legais e honesto de estudo e trabalho.
Cria-se assim um círculo vicioso: de pobreza, marginalidade, falta de
expectativa, facilidade de se marginalizar, poder e dinheiro fáceis, que se locupletam e
passam de geração a geração nas populações jovens daquelas localidades,
realimentando esse ciclo pernicioso, deixando-nos todos a questionar o que fazer
para refrear tal situação.
Neste crítico cenário, a Polícia Militar, como instituição encarregada da
Manutenção da Ordem e da Segurança Pública, atua justamente no sentido de
socorrer a sociedade, dando amparo e energia necessários para atuar contra os
fatores nocivos ao bem comum. Dentro de sua missão, está implícita a idéia de
atuação contra organismos avessos ao bem comum e também uma idéia sólida de
valores, os quais norteiam os conceitos de uma sociedade justa, o Estado
Democrático de Direito, entre outros valores. Como desdobramento de sua missão
Constitucional, verifica-se a atuação da Polícia Militar no policiamento ostensivo,
colocando a seguinte questão: Como nessa conjuntura, poderia a Polícia Militar
desenvolver suas atividades dentro dos limites de sua missão legal e constitucional,
de forma eficiente, visando fazer frente a crescente desordem e o possível
desenvolvimento de um estado paralelo, que se percebe no cenário descrito,
considerando uma atuação coordenada pela Polícia Militar, convergindo para uma
mesma finalidade, juntamente com as forças vivas da sociedade, outros órgãos
governamentais de todos os níveis e órgãos não governamentais?
REVISÃO DE LITERATURA
2
Relatório do UNFA (Fundo de Populações da Nações Unidas).
16
Segunda Onda
Desde então, ocorreram duas grandes ondas de urbanização. A primeira
17
3
Clichy-sous-Bois, bairro da periferia parisiense, onde em outubro de 2005 ocorreu a revolta da
população da periferia em Paris.
4
Valor médio de renda mínima atribuída às famílias francesas-IPEA Dezembro de 2007.
19
A chegada:
“...A cidade triplicou nos últimos annos. Quem lá não esteve ao inaugurar-se a
estrada de ferro em 1885, nem pode hoje imaginar o que eram a rua principal
e a praça onde depois se erigiu a cathedral. O último recenseamento dá
53.000 habitantes para o município; muitas ruas são calçadas, algumas de
pararellelipipedos; a praça da cathedral é ajardinada; toda a cidade e
arredorres, illuminados a luz eléctrica e servidos de bondes; as construções já
tem melhor aspecto, e grandes prédios de boa architetura são dignos de
figurar em maiores cidades. ...”
“... Chove muito na cidade, mais de duzentos dias no anno, e como há muitas
23
5
Disponível em http://www.ibge.gov.br
6
Fonte: 3ª Seção EM-Comando do Policiamento da Capital.
25
12000
10000
ANO
2005
8000 2004
2003
2002
6000
2001
2000
4000
2000
0
UBERABA
AGUA VERDE
CAJURU
BOQUEIRAO
PINHEIRINHO
INDUSTRIAL - 1
SITIO CERCADO
CENTRO
PORTAO
XAXIM
CIDADE
BAIRRO
100000
ANO
80000
2005
2004
60000 2003
2002
2001
40000
2000
20000
0
ARAUCARIA
PINHAIS
PIRAQUARA
ADRIANOPOLIS
BALSA NOVA
SAO JOSE DOS PINHAIS
DOUTOR ULYSSES
CAMPINA GRANDE DO SUL
BOCAIUVA DO SUL
FAZENDA RIO GRANDE
CERRO AZUL
COLOMBO
CURITIBA
CAMPO LARGO
QUATRO BARRAS
CAMPO MAGRO
CONTENDA
MANDIRITUBA
TUNAS DO PARANA
ITAPERUCU
TIJUCAS DO SUL
ALMIRANTE TAMANDARE
MUNICÍPIO
7
Estruturado como empresa, atuando em grandes grupos,com chefia, planejamento e logística.
8
Atuam em pequenos grupos, tem meios e distribuição de tarefas, mas não chegam a se organizar
como empresa.
29
altamente lucrativo.
9
Entrevista dada a www1.folha.uol.com.br em 01 de setembro de 2004.
10
Disponível em:http://veja.abril.com.br/240506/p_042.html
30
Os reflexos do medo:
1. 5.100 ônibus pararam de circular, deixando 5 milhões de pessoas sem
transporte;
2. 40% das escolas particulares e públicas de ensino fundamental e
médio da capital suspenderam as aulas;
3. 12 universidades fizeram o mesmo;
4. 12 shoppings centers fecharam suas portas;
5. Todas as 3.000 lojas da Rua 25 de Março encerraram o expediente no
meio da tarde. Outros centros de comércio importantes, como as ruas
Teodoro Sampaio e Oscar Freire fizeram o mesmo;
6. O Aeroporto Santos Dumont, no Rio, cancelou 15 vôos para São
Paulo, alegando falta de segurança;
7. Com toda população correndo para casa, às 17h30 o
congestionamento na cidade era quatro vezes maior do que o normal,
chegando a 195 quilômetros;
8. Às 22 horas, já não se viam carros nem pedestres nas ruas. Avenidas
como a Paulista e a Rebouças estavam desertas.(BONDARUK, 2007, p.53).
11
Disponível em http://veja.abril.com.br/240506/p_042.html.
31
2004 2005
Taxa por
INDICADORES CRIMINAIS Número de 100 Número de Taxa por 100
Ocorrências mil hab. Ocorrências mil hab.
12
Como Ana Paula Jorge Souza, de 21 anos, estudante de classe média alta, chefe de quadrilha
presa em março de 2007 na cidade de Campinas-SP.
13
Entrevista concedida a revista ISTO É edição 1575, 04 de Junho de 2003, p27.
32
14
Entrevista concedida a revista SUPER ESPECIAL SEGURANÇA edição Abril de 2002, p.10.
33
2.4.1 A Impunidade
Curitiba e região, se comparada a outras capitais do Brasil, é ainda uma
cidade que pode ser chamada de segura, pois apesar de seu tamanho o Estado tem
ainda o controle da cidade, que embora grande, tem na sua cultura de formação
pessoas trabalhadoras em sua grande maioria.
Percebe-se que os elementos geradores de crime e violência na cidade, são
parecidos, se não iguais aos de outras cidades do Brasil, pois os crimes, apesar das
diferenças geográficas, acontecem via de regra pelos mesmos motivos.
A impunidade parece ser um dos principais motivos da criminalidade aqui,
bem como em qualquer lugar do Brasil, pois as chances de alguém que comete um
delito grave ser devidamente processado, julgado e cumprir pena é muito pequena e
em delitos de menor potencial ofensivo essa possibilidade é quase nenhuma.
Quem matar alguém no Brasil tem nove chances de ficar impune contra uma
de ser pego. A alta taxa de impunidade decorre do mísero índice de 8% de solução
dos homicídios. Ou seja: 36 mil assassinatos cometidos por ano no país são
simplesmente arquivados. Já em Curitiba, as chances do homicida escapar ileso
caem para oito em dez: dos 4.237 inquéritos abertos nos últimos seis anos em
Curitiba, 45% não têm sequer autoria conhecida; os 884 casos que foram a júri
perfazem 20% desse total representam o dobro da média nacional, mas não há
motivo para comemoração, já que para cada dez casos só dois são concluídos15.
Essa sensação de impunidade se traduz em números, quando vemos que em
Curitiba no ano de 2000 ocorreram 406 homicídios, contra 715 ocorrências desse tipo
em 2005, um aumento de 51,4%; e 12.058 ocorrências de roubo em 2000, sendo
20.802 ocorrências de mesma natureza em 2005, um aumento de 75,2%, com
tendência de aumento em todas as ocorrências de natureza violenta.16
Ainda sobre a impunidade no Brasil, num comentário a respeito da estrutura
15
Crime nas Sombras, Gazeta do Povo 25 de Fevereiro de 2007.
16
Fonte 3ª Seção do EM CPC.
35
da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Rolim em sua obra, cita José Vicente Filho, que
diz o seguinte:
2.4.2 O Anonimato
O tamanho das cidades tem um papel significativo na probabilidade de
punição reduzindo a possibilidade da mesma. Isto pelo anonimato existente em
grandes cidades. Inicialmente, não existe uma ligação entre a polícia e os residentes,
ou seja, diferentemente de uma cidade pequena, em que a polícia conhece
praticamente toda a população, em cidades maiores os policiais têm dificuldades para
identificar criminosos potenciais. Além disso, o anonimato diminui muito a chance de
reconhecimento do criminoso por parte da vítima.
O anonimato é certamente um componente que integra os fatores que geram
crime em Curitiba, pois as grandes aglomerações humanas proporcionam aos
agentes delituosos a possibilidade de se homiziarem incógnitos na grande massa
humana que é hoje Curitiba e região.
Assim, após a ocorrência de um crime, o processo de investigação fica
prejudicado em uma grande cidade, pois torna-se difícil restringir o número de
suspeitos. Isto gera um grande número de crimes que não são solucionados em
36
2.4.3 A Oportunidade
Outro elemento de relevância no cometimento do crime é a “oportunidade”,
pois principalmente crimes contra o patrimônio, como o furto por exemplo, ocorrem
geralmente quando a vigilância sobre o objeto do delito diminui ou inexiste. Ainda
sobre a oportunidade, tem que se observar a chance que é dada àquele indivíduo que
se torna um criminoso, porque, quando tratamos de criminalidade em cidades é
necessário considerar que a decisão de cometer um crime envolve um processo
evolutivo anterior ao momento da decisão, em que o ambiente de cada cidade é
fundamental neste processo. Uma cidade constitui um macro-sistema próprio que
afeta não somente o custo moral, mas também o custo de oportunidade.
Cada cidade possui um mercado de trabalho lícito que determinará o custo de
oportunidade de ingressar no mercado ilícito. A cidade também tem influência na
história do indivíduo, pois o seu acesso ao mercado de trabalho pode depender, por
exemplo, do seu acesso à escola, que depende de uma decisão individual ou da
família, como também depende fundamentalmente das condições oferecidas pelo
setor público.
Neste caso, cada cidade tem as suas características, pois a inexistência de
uma escola, de cursos qualificantes, de uma instituição com ensino superior, não são
determinadas pelo indivíduo e sim pelo contexto em que está inserido.
Falando do “crime” e a “oportunidade” em seu livro, Bondaruk listou dez
princípios extraídos de um artigo chamado Opporttunity makes the thief (A
oportunidade faz o ladrão) traduzidos para o Português, pelo autor:
17
Sub-denúncia, são as ocorrências não informadas à Polícia.
37
Paraná. 18
Segundo balanço da Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura), o Brasil está ao lado de países como Egito,
Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria como
país com mais de 10 milhões de analfabetos. A PNAD aponta que em 2006 o Brasil
tinha 14,9 milhões de pessoas que não sabiam ler e escrever.
No Brasil o analfabetismo está concentrado entre os mais pobres, mais
idosos, negros ou pardos e em áreas mais pobres. A PNAD mostra que dos
analfabetos, 67,4% eram negros ou pardos, enquanto 32% eram brancos; ainda
segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) o Brasil
ocupa o 9º lugar no ranking do analfabetismo.
A falta de planejamento familiar nas populações de baixa renda, delinqüência
juvenil e o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos são problemas que
englobam as causas sociais, que se relacionam entre si e agravam seriamente a
situação da Segurança Pública, conseqüentemente aumentam o índice de
criminalidade nos grandes centros urbanos e suas regiões metropolitanas,
particularmente em Curitiba e região.
Observa-se então que essa situação, exposta acima, bem como as causas
sociais, geram crimes e criminosos. Muito se tem discutido na mídia e opinião pública,
mas na realidade, pouco se tem feito com efetividade para resolver tais problemas,
entretanto, sabe-se que uma vez trabalhando para reverter tal situação, poderiam ser
resolvidos ou diminuídos os problemas de Segurança Pública nas cidades.
18
Disponível em http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/Faixa_Etaria.pdf.
40
19
Repórter da Rede Globo morto pelo traficante Elias Maluco em junho de 2002 na favela Vila
Cruzeiro-Rio de Janeiro.
20
Situação em que traficantes queimam suas vítimas envolta em pneus.
41
21
Como são chamados pelos moradores as quadrilhas de traficantes nas regiões onde moram e
atuam.
42
aqui instalado o crime organizado da maneira como é estruturado em São Paulo; mas
há três aspectos importantes a serem observados: primeiro, em razão do crime
organizado não ser expressivo em Curitiba e região, existe uma grande lacuna, que
facilita a inserção desse tipo de crime, que aqui se instale ou venha a nossa capital
atuar22, como freqüentemente tem ocorrido; segundo, em razão da distância da capital
paulista, pois em poucas horas pode-se vir de lá até Curitiba; e terceiro, bandidos
como “Geleião" já estiveram presos no sistema penitenciário do Paraná, onde teriam
criado uma extensão do PCC.23
Notícias das atuações do PCC na cidade e região não são novidade, já se
tem verificado há algum tempo, inclusive em jornais locais. A SEJU (Secretaria
Estadual da Justiça e Cidadania) no dia 26 de maio de 2006 24 emitiu nota alertando
para a presença do PCC, também em maio de 2006 um advogado foi preso por
passar determinação do referido grupo para iniciar rebelião em presídio de São José
dos Pinhais25.
Esse chamado “Estado Paralelo”, embora não exista em Curitiba e região,
ainda, é uma possibilidade que se não for vista com atenção e cuidado pelas
autoridades; quer pela proximidade com a capital paulista, quer pela ausência de algo
similar na região que possa concorrer com esse tipo de crime, ou pela própria
existência de bolsões de pobreza no entorno da capital, que é terreno fértil para
proliferação desse tipo de situação, poderá trazer problemas para a Segurança
Pública da região, sérios problemas como conseqüência da atividade do crime semi-
organizado.
22
PF prende mais dois acusados de integrar quadrilha de assaltos a banco- 13 de fevereiro de 2008-
Gazeta do Povo.
23
José Márcio Felício, ex-lider do PCC conhecido como “Geleião”, que esteve preso em Curitiba, em
março de 1998.
24
Documento alerta sobre a presença do PCC no Paraná- 19 de junho de 2006- Gazeta do Povo.
25
Paraná registra nova rebelião supostamente ligada ao PCC- 15 de maio de 2006- Gazeta do Povo.
44
capital físico ocasionadas por mudanças de hábitos que inibem, além do turismo
interno e externo, o consumo de determinados bens e serviços, fazendo com que
potenciais vítimas passem a fazer menos atividades de lazer em locais públicos;
consumir bens mais baratos, que não atraiam muito a atenção dos criminosos. Do
lado da oferta, o custo da proteção leva as empresas a aumentarem os preços dos
seus bens e serviços, o que gera uma diminuição dos negócios.
Muitas vezes, em situações extremas e localizadas, onde a desordem e a
criminalidade dominam, algumas empresas são mesmo forçadas a abandonar
determinadas operações e mudar de região, o que impõe custos de mobilização do
capital.
A perda de capital humano ocasionada pela violência em si ou pela
expectativa da violência é um fenômeno ainda mais grave. Isso além das milhares de
pessoas mortas, e da morbidade física e psicológica, que suscitam diminuição de
produtividade, uma maior taxa de mortalidade juvenil e conseqüente prejuízo do
investimento do capital humano feito pelos pais e também pelo próprio país.
Isso tem um custo enorme para o país, em perdas de vidas, gastos com
tratamento de saúde de vítimas de violência, despesas com segurança,
desestímulos à atividade econômica. O tamanho desse custo permanecia
uma variável desconhecida, por falta de pesquisas de abrangência nacional.
Apenas estudos sobre o custo da violência em três grandes cidades
brasileiras - São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte - haviam sido feitos
até agora. Essa lacuna acaba de ser preenchida. Pela primeira vez, graças a
um trabalho de dois anos do Grupo de Estudos da Violência do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), um órgão do governo federal, o custo
da violência no Brasil pôde ser calculado com método e rigor científico.
Resultado: o crime custa cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), o
46
capita**
capita**
Perda de Capital Humano****
23.868 1,35% 131,44
segurança Privada
14.317 0,80% 79,94
Seguros
12.709 0,75% 80,30
Transferências por Roubos e
Furtos 9.419 0,53% 51,87
26
http://www.pt.wikipédia.org/wiki/economiacuritiba.
47
para quem faz dele seu meio de vida. Contudo se pensássemos de forma preventiva,
atuando principalmente junto aos jovens e crianças, o investimento ao longo do tempo
geraria economia de recursos e, portanto, lucros incalculáveis à sociedade, não só
econômicos, mas em forma de paz social e segurança.
27
Fonte 1ª Seção do Estado Maior da Polícia Militar.
28
Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência.
50
PM - 1
COMANDANTE GERAL DA PMPR
PM - 2
ÓRGÃO DE CHEFE DO ESTADO MAIOR DA PMPR PM - 3
DIREÇÃO
PM - 4
SUBCHEFE DO ESTADO MAIOR DA PMPR PM - 5
PM - 6
LINHA DE “STAFF”
LINHA DE EXECUÇÃO E POR FUNÇÃO
DIRETORIA DE PESSOAL
DIRETORIA DE ENSINO
ÓRGÃOS DE APOIO
ÓRGÃOS DE
EXECUÇÃO
DIRETORIA DE FINANÇAS
DIRETORIA DE SAÚDE
Missão Geral
Exercer no Estado do Paraná, dentro das respectivas regiões de
responsabilidade territorial, inerente a cada Comando Intermediário, o
exercício de Polícia Ostensiva de Preservação da Ordem Pública e atividades
de Bombeiro, de acordo com os preceitos constitucionais, cabendo-lhes,
portanto, planejar, organizar, dirigir e controlar o emprego de suas unidades
subordinadas.
c. Missão Particular
1) Executar as atividades de socorrimento público inerentes à PMPR como
integrante do sistema estadual de defesa civil, através de medidas
preventivas, de socorro, de assistência e recuperativas;
2) Executar ações/operações policiais militares, preventivas ou repressivas
51
d. Missão Eventual
1) Realizar operações de contraguerrilha urbana e rural;
2) Realizar operações anti-terrorismo;
3) Realizar operações contra sabotagem.
4) Realizar operações cívico comunitárias;
5) Realizar reintegração de posse;
6) Defesa de pontos sensíveis e instalações vitais; e
7) Atender a convocação das Forças Armadas(PARANÁ, 2000)
52
I - polícia federal;
IV - polícias civis;
I - Polícia Civil;
II - Polícia Militar;
III - Polícia Científica.
Inciso acrescentado pela Emenda Constitucional nº 10/2001.
[...] Art. 48. À Polícia Militar, força estadual, instituição permanente e regular,
organizada com base na hierarquia e disciplina militares, cabe a polícia
ostensiva, a preservação da ordem pública, a execução de atividades de
defesa civil, prevenção e combate a incêndio, buscas, salvamentos e
socorros públicos, o policiamento de trânsito urbano e rodoviário, o
policiamento ferroviário, de florestas e de mananciais, além de outras formas
e funções definidas em lei.[...] (PARANÁ, 1999).
[...]Definição e competência
e) além dos casos previstos na letra anterior, a Polícia Militar poderá ser
convocada, em seu conjunto, a fim de assegurar à Corporação o nível
necessário de adestramento e disciplina ou ainda para garantir o
cumprimento das disposições deste Decreto-lei, na forma que dispuser o
regulamento específico. (Incluída pelo Del nº 2010, de 12.1.1983)
54
módulo.
Era dotado de mobilidade relativa dentro de áreas especificadas pelo pré-
planejamento, obrigava, graças à relativa mobilidade, a alocação de policiais militares
que residiam próximos e que fossem conhecidos na área onde iriam atuar, reduzindo,
dispêndios com uma excessiva fiscalização de parte da Polícia Militar que passava, a
ser, em muito, auxiliada pela população dos bairros onde o policiamento estava
atuando.
2.8.1. Desmilitarização
A característica militar das Policiais Militares, que foi durante a Constituinte de
1988 mantida com muito esforço de convencimento aos então constituintes, vem
sendo até os dias de hoje objeto de discussão no sentido da desmilitarização das
Polícias Militares em todo o Brasil, que contam hoje com um efetivo de
aproximadamente 400.000 homens.
Após a Constituinte várias foram as propostas de emenda constitucional
tentando desmilitarizar as Polícias Militares do Brasil, muitas delas deixando um
explícito revanchismo, pois elaboradas por ex-perseguidos políticos; ficando evidente
o ressentimento contra a instituição, esquecendo seus mentores que o momento
político social no Brasil é outro; e não é a característica militar das Políciais que gera
a crise na Segurança Pública, como defendem alguns, e talvez esta característica seja
a que ainda dê sustentabilidade à Segurança Pública Nacional.
Uma das propostas e a mais difundida delas, principalmente pela PEC 21 de
59
29
Ciclo completo de Polícia, situação em que o policial inicia e conclui a ocorrência, desde primeiro
atendimento ao fim da investigação.
60
comunidade:
30
Fonte: 1ª Seção do Estado Maior da Polícia Militar.
31
A greve e sindicalização é proibida pelo Art. 142 §3º da Constituição Federal.
63
importantes, dos quais pode se observar abaixo o trecho da obra “Estudos de Direito
Administrativo”.
Isso não está a indicar que o Brasil mantém um modelo exótico de polícia
com as suas Polícias Militares. Os militares de polícia - observa-se que é
militar de polícia e não polícia de militar – como foi explicado, são
encontrados em países da Europa e de outros continentes, cuidando da
ordem pública e integrados nos respectivos sistema de defesa nacional, tudo
em perfeita harmonia. Em todos esses países democráticos e
indiscutivelmente evoluídos como sociedade, funciona bem o sistema de
segurança pública, com índices de contenção criminosa considerados
satisfatórios.(LAZZARINI, 1999, p.113)
2.9.2.Polícia Comunitária
Para falar sobre Polícia Comunitária é interessante entender que Polícia
Comunitária, conceitualmente é diferente de Policiamento Comunitário. Para
entendermos melhor nos socorremos na obra POLÍCIA COMUNITÁRIA POLÍCIA
CIDADÃ PARA UM POVO CIDADÃO, que nos traz os seguintes conceitos:
66
32
Mídia e Violência, Gazeta do Povo , 12 de Março de 2007.
67
Vermelha” a polícia brasileira, tal como Alice no País das Maravilhas, corre, corre sem
sair do lugar; vendo a situação da Segurança Pública hoje, pode-se concordar em
parte com o autor, mas a polícia, em especial a militar, faz um trabalho hercúleo, que
se não tem grandes resultados, com certeza estaria a Segurança Pública em nível
muito mais caótico, sem a existência desse trabalho policial, que evidentemente
poderia ser melhorado se a polícia retomasse suas raízes, ou seja, a integração com
a comunidade.
Os três recursos trazidos pela tecnologia: o veículo de patrulha, o telefone e o
rádio, desconstituem a identidade que existia entre a população e a força policial
mudando radicalmente o perfil do policiamento moderno.
O que mudou na verdade foi a relação da Polícia com a comunidade, pois
antes do advento do automóvel, essa relação era muito mais próxima, embora
tenhamos que ressaltar que as populações e as cidades eram muito pequenas em
relação aos dias atuais, e após o automóvel, rádio e telefone, a relação com a
comunidade foi se desvinculando paulatinamente.
O uso de automóveis com rádios, para atender a chamadas enviadas pela
central de atendimentos isolou os policiais que fazem rondas num determinado bairro,
onde geralmente a dupla de policiais das viaturas está enclausurada dentro de um
veículo, eles estão como meros espectadores dos acontecimentos que passam pela
janela das viaturas em que se encontram, sem que realmente haja um resultado mais
eficaz na diminuição do crime.
Já citado neste trabalho, Marcos Rolim, em seu mesmo livro comenta sobre o
assunto do distanciamento entre Polícia e comunidade.
Jardim São Luís, conforma a região da cidade conhecida como M'Boi Mirim, também
denominação da Subprefeitura da referida região.
Já foi considerada pela ONU como a região urbana mais violenta do mundo.
Entretanto, ações da comunidade em conjunto com a polícia, o governo do Estado e a
Prefeitura Municipal ocasionaram uma drástica redução nos índices de criminalidade
da região33.
Oferecer cursos profissionalizantes e esporte a jovens de bairros com altos
índices de insegurança não diminui a exposição deles à violência, mas tende a fazer
com que eles pratiquem menos atos agressivos (como ameaça com arma de fogo e
roubo).
O projeto chamado RAC (Redescobrindo o Adolescente na Comunidade) é
aplicado no Jardim Ângela e abrange oficinas profissionalizantes de cabeleireiro e
pizzaiolo, cursos de inglês, música e teatro, além de acompanhamento de psicólogos
e assistentes sociais. No ano de 2004, 131 jovens se inscreveram, 97
permaneceram.
O NEV (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo)
avaliou a ação no Jardim Ângela. Fizeram pesquisas qualitativas e quantitativas com
os grupos participantes dos projetos e com adolescentes de uma escola pública,
dentro do mesmo bairro das ações, que não tinham relação com os programas
analisados, para ter uma base de comparação.
Em comparação com o grupo da instituição de ensino, os jovens envolvidos
com a atividade do Jardim Ângela receberam menos dinheiro por bens roubados
(1,9%, contra 3,2%), não foram presos por vender drogas (enquanto 1,1% dos
estudantes foi) e roubaram menos (3,8% contra 8,5%). Além disso, fizeram menos
ameaças com armas de fogo (1,9%, contra 2,1%), apesar de terem declarado ter mais
acesso a armamentos desse tipo (17,9%, contra 11,7%)34.
Outros tipos de atos violentos considerados “mais leves” pelos pesquisadores
foram mais freqüentes entre os adolescentes ligados ao RAC (Redescobrindo o
Adolescente na Comunidade) alguns deles cumprindo medidas sócio-educativas. Eles
participaram mais de brigas nas escolas (48,1%, contra 28,2%), começaram mais
brigas (30,2%, contra 21,8%) e arrombaram mais algum local para roubar (3,4%,
contra 1,1%). O envolvimento com o tráfico de drogas também foi maior neste grupo
33
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_%C3%82ngela_%28distrito_de_S%C3%A3o_Paulo%29
34
www.nevusp.org/portugues/index.php?option=com_content&task=view&id=1499&Itemid=29
74
35
http://www.pnud.org.br/seguranca/reportagens/index.php?id01=2492&lay=jse
75
36
Disponível em:http:www.crisp.ufmg.br/
76
Beato Filho, coordenador do CRISP. Por extensão, outros nove sumiram da favela ou passaram a viver
escondidos, disse ao CRISP um líder da comunidade. A integração entre as instituições possibilitou a
agilidade nas prisões. Cada um dos órgãos designou uma pessoa para o projeto. Tão logo as polícias
prendiam, um promotor fazia a denúncia, que era analisada por um juiz.
A UFMG, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, o Sebrae, a Câmara de Dirigentes
Lojistas, Organizações não governamentais, movimentos sociais e a comunidade cuidam da integração
social na favela. As instituições empresariais, por exemplo, ofereceram bolsas de estudo
profissionalizante e orientação para ações microempresariais.
A Prefeitura cuidou da assistência social e das melhorias em infra-estrutura, como iluminação
e praças públicas, organização não governamentais promoveram palestras, atividades culturais e
esportivas nas escolas, como teatro e cinema.
O projeto de "Controle de Homicídios" em áreas de risco de Minas, incorporado pelo Estado,
integra o Plano Emergencial de Segurança Pública, que tem verba da União. O custo das 16 ações,
entre elas a criação de um grupo para combater o crime organizado, será de 42 milhões de reais, 35
milhões de reais do Governo Federal. O projeto que menos exige grandes somas é o de implantação
do controle de homicídios nas favelas. Segundo o CRISP, o Fica Vivo no Morro das Pedras teve custo
“quase zero”.
A Universidade Federal de Minas Gerais no boletim Informativo Nº 1392 - Ano 29 -
17.04.2003, em matéria publicada no mesmo boletim e assinada por Jurandira Gonçalves, traz o
seguinte relato:
O Fica Vivo foi implantado em agosto de 2002 e, nos seus primeiros cinco
meses, registrou uma redução de 50% no número de homicídios, tentativas
de homicídios, roubos e assaltos a padarias e supermercados. As mortes
caíram de 17, no período de março a julho, para nove nos meses de agosto a
dezembro. No mesmo período, a taxa de homicídios em Belo Horizonte
aumentou em 11,6%. "É uma idéia inédita no Brasil. Muito já foi feito em
termos de mobilização social para reprimir o crime, mas o diferencial do
projeto é que ele consegue integrar todos os atores envolvidos", enfatiza o
pesquisador Róbson Sávio Reis Souza, um dos coordenadores do projeto.
Área-piloto
traficantes para evitar mais vítimas de projéteis perdidos, com política de Polícia
Comunitária, acompanhada de projetos sociais e urbanização.
O projeto Médico de Família, da prefeitura, já existe há 14 anos, mas antes da
paz se instalar no Cavalão nem sempre os médicos conseguiam cumprir a carga de
trabalho de 40 horas semanais. Mesmo quando era possível entrar na comunidade,
havia em toda parte homens armados. E quando a polícia subia, os médicos sentiam-
se sempre em risco - conta a médica Cláudia Capella que atende na favela do morro
do Cavalão, e atua há cinco anos e meio no bolsão de pobreza localizado entre dois
bairros nobres da Zona Sul da cidade, Icaraí e São Francisco.
Um dos fatores que mais faz a diferença no Morro do Cavalão é a Polícia
Comunitária. O posto do GPAE (Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais)
fica instalado dentro da comunidade, atuando em parceria com os moradores. O
resultado disso é a confiança mútua. “A gente não tem medo de falar com a polícia,
confiamos no Capitão Romeu”, diz Marcos Antonio da Conceição, presidente da
Associação de Moradores. 37
O sucesso do GPAE na favela do morro do Cavalão é por excelência um
sucesso de Policiamento Comunitário combinado com Ações Sociais, pois era no
passado uma das favelas mais problemáticas de Niterói e agora está há mais de três
anos sem troca de tiros entre a polícia e traficantes, em razão do sucesso desse
grupamento policial que atua dentro da favela. Conforme pelo Capitão da Polícia
Militar do Rio de Janeiro, Felipe Gonçalves Romeu, Comandante do GPAE (GRUPO
DE POLICIAMENTO DE ÁREAS ESPECIAIS) do Morro Cavalão em Niterói, em
entrevista ao autor, que constará como apêndice desta Monografia.
37
disponivel http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd040507.htm
79
acredita que sim, é possível recuperar marginais; outro disse não saber se é possível
a recuperação.
O único policial militar com mais de 30 anos de serviço pesquisado,
respondeu que não trabalhou no projeto POVO, mas acha a atividade de Polícia
Comunitária ótima, acredita que a Polícia Militar atuando diretamente nas favelas com
programas sociais diminuiria o surgimento de novos marginais e que seria voluntário
para participar de um trabalho dessa natureza, acredita também ser possível
recuperar jovens marginais e se acha preparado para trabalhar com moradores de
favelas.
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
ÓTIMA BOA RUIM NÃO TRABALHEI
16
14
12
10
8 SIM
6 NÃO
4 NÃO SEI
2
0
SIM
NÃO
NÃO SEI
NÃO SEI
NÃO
SIM
0 2 4 6 8 10 12
não sei
23%
sim
não
não sei
não sim
15% 62%
NÃO SEI
RUIM ÓTIMO
8%
8% BOM
RUIM
BOM ÓTIMO
27% 57% NÃO SEI
NÃO SEI
4%
ÓTIMO
BOM
31%
BOM
NÃO SEI
ÓTIMO
81%
rápida no mercado e que podem, a partir de suas próprias comunidades, iniciarem seu
próprio negócio gerando renda e com isso construindo riquezas.
Salas de aulas que teriam múltiplas funções, que iriam desde instruções à
tropa até programas de erradicação do analfabetismo. Cursos profissionalizantes
também seriam oferecidos aos pais desses jovens e crianças, público alvo deste
trabalho monográfico, mas que uma vez beneficiados, poderiam também gerar em
benefício a esses jovens e crianças.
3. CONCLUSÃO
98
problemas, mas contribuirá no tão sonhado estado de paz social que a sociedade
deseja, o futuro da cidade de Curitiba e Região Metropolitana em conseqüência do
próprio futuro da população local, dependerá do que se fizer no presente.
Constatou também o autor, durante o transcurso do trabalho, que embora por
ser teórico, não tratou de custos, que a implementação de soluções podem custar
pouco, em se falando de ação governamental ou até ter custo insignificante,
dependendo da ação que se proponha.
Dentro da realidade brasileira, as propostas aqui apresentadas, podem até
parecer fantasiosas, mas, se pelo algumas das idéias propostas nesta Monografia
fossem implementadas, como acontecem em projetos que ocorrem em outros Estados
brasileiros, já seria um grande avanço na promoção humana daquelas pessoas.
Com este modesto trabalho monográfico não se pretende resolver o problema
da Segurança Pública, porém agora chegando ao final do mesmo, entendemos por
cumprido, o proposto que foi encontrar um caminho para a prevenção da cooptação
de jovens e crianças pela criminalidade.
Tentou-se apresentar um caminho, para antecipar-se aos problemas de
Segurança que existem e surgirão, pois como foi falado anteriormente o que faz a
diferença do policiamento tradicional, da Nova Visão de Policiamento Ostensivo, é que
o Estado entrará nas áreas pobres da cidade, para se fixar através de bases
comunitárias, trazendo a promoção humana daquelas pessoas, através de ações
sociais.
REFERÊNCIAS
BECARIA, César, De los delitos y de las penas. Libro Parcial, Madrid, 15 Maio de
2000, Disponível em: http://www.scribd.com/doc/335073/beccaria-espanol-libro-
parcial, Acesso em 10/11/2007.
CERQUEIRA, Daniel R.C e et. al. Análise dos custos e consequências da Violência
no Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada, Brasília, março 2007
Disponível em http://Epoca.globo.com/edic/466/criminalidade.pdf. Acesso 14/11/2007.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Tradução de: RAMALHETE Raquel. 24. ed.
Petrópolis, Vozes, 2001.
GOIS, A. População das cidades se iguala à rural no planeta. Folha de São Paulo,
São Paulo, 20 Junho 2007. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2806200706.html.Acesso em: 15/ 11/2007.
APÊNDICE - O1
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
APÊNDICE – O2
( ) – de 10 ( ) 11 a 20 ( ) 21 a 30 ( ) + de 30
4.Você acha que A Polícia Militar coordenando e apoiando serviços sociais nas
favelas ajudaria a diminuir o surgimento de novos marginais?
108
APÊNDICE – O3
incursionam, ficam um tempo e vão embora, não dando tempo para o morador
interagir.
Entrevistador: No Estado do Rio de Janeiro há outras unidades do GPAE em áreas
de favela?
Resposta: Sim, são eles:GPAE/2ºBPM – Morro do Cantagalo,Pavão e
Pavãozinho(Copacabana), GPAE/5º BPM- Morro da Providência(centro do Rio),
GPAE/6º BPM – Morros da Formiga,Casa branca e Chácara do Céu (Tijuca),
GPAE/12ºBPM – Morros do Cavalão e Estado(Município de Niterói), GPAE/16ºBPM –
Vila Cruzeiro (Penha), GPAE/18ºBPM – Favela de Rio das Pedras e bairro Gardênia
Azul(Jacarepaguá).
Entrevistador: O GPAE equivale, militarmente falando, a uma companhia, é uma
companhia independente, ou pertence ao 12º BPM (Batalhão de área de Niterói) da
PMRJ?
Resposta: O GPAE é um grupamento que só depende do 12ºBPM
administrativamente (tesouraria, P1, P2, P4 e publicações em boletim), P3 operações
e as demais são com o GPAE, ou seja, grande parte do seu efetivo fica destinado
somente para a atividade fim.
Entrevistador: Dentro do quartel do GPAE existe serviço de assistência médico-
odontológica. Se não existe, o senhor acha viável e há pretensão de disponibilizar tais
serviços à população carente?
Resposta: Dentro do GPAE existe um gabinete odontológico, que era um desejo da
comunidade, já que na comunidade já existe um Posto Médico.
Entrevistador:Dentro do quartel do GPAE existe serviço de assistência social ou
psicológica? Se não existe o senhor acha viável e há pretensão de disponibilizar tais
serviços à população carente?
Resposta: O GPAE trabalha em parceria com uma ONG que tem o serviço de
assistência social e psicologia, e a Prefeitura de Niterói tem o projeto Balcão de
Direitos o qual disponibiliza o serviço de advogado e assistência social.
Entrevistador:Dentro do quartel do GPAE existem atividades culturais, como dança,
oficina de música, teatro amador? Se não existe, o senhor acha viável e há pretensão
de disponibilizar tais serviços à população carente?
Resposta: A ONG que trabalha junto com o GPAE oferece à comunidade aulas de
dança, coral e ginástica.
Entrevistador: dentro do quartel do GPAE, se houver espaço físico, existem
111
atividades esportivas, como atletismo, futebol e outros? Se não existe, o senhor acha
viável e há pretensão de disponibilizar tais serviços à população carente?
Resposta: Dentro da base existe um espaço onde há aulas de jiu jitsu, ministradas
por um sargento do GPAE.
Entrevistador: Qual o nível médio de renda dos moradores do Morro do Cavalão?
Resposta: Nível de um salário mínimo.
Entrevistador:O Senhor confirma a informação de que não há troca de tiros há mais
de três anos no Morro do Cavalão?
Resposta: O penúltimo confronto armado foi em agosto de 2003, recentemente, em
fevereiro de 2008 houve um confronto armado e um marginal morreu, contudo a
comunidade voltou ao normal.
Entrevistador: Ainda existe o tráfico ou traficantes no Morro do Cavalão?
Resposta: O Morro do Cavalão localiza-se na zona sul de Niterói onde moram
pessoas de classe média alta e há um grande número de viciados; no Cavalão
residem bastante desempregados, logo, sempre vai existir alguém no morro
arrumando uma forma de traficar entorpecentes, pois existe o consumidor.
Entrevistador: É possível afirmar que a presença do quartel da Polícia Militar dentro
do morro afastou os traficantes e diminui a violência?
Resposta: Não é uma “receita de bolo”, porém a partir do momento em que a
comunidade passou a confiar na polícia, passou a denunciar os marginais, alguns
foram presos, outros morreram e outros acabaram mudando de endereço.
Entrevistador: Pode-se afirmar que com o afastamento dos traficantes além de
melhorar a Segurança Pública houve um afastamento do convívio de traficantes com
jovens e crianças do morro e tal medida previne o surgimento de novos traficantes ou
outros tipos de marginais?
Resposta: Com as ocorrências policiais e projetos para melhorar a qualidade de vida
dos moradores, os policiais passaram a ser exemplos positivos para as crianças, o
que antes eram os traficantes de drogas, é o trabalho de antecipação aos problemas,
hoje essas crianças com 6, 7 anos de idade formarão suas personalidades com uma
visão diferente da polícia e quando elas tiverem 16,17 anos, dificilmente estarão no
tráfico. É um trabalho que demora, porém os resultados são positivos, fato já
observado aqui no Cavalão, pois quando aqui chegamos há cinco anos atrás, crianças
com 10 anos e que hoje estão com 15 anos de idade nunca se envolveram com
nenhum tipo de delito, o que não é regra, pois já houve alguns casos(minoria).
112