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HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO, POLÍTICAS

PÚBLICAS E PROGRAMAS DE ATENÇÃO PARA AS


PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE

CURSO DE FORMAÇÃO TÉCNICO-


PROFISSIONAL
POLÍCIA PENAL – MG

MINAS GERAIS
2022

1
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 4
2. HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ÀS PESSOAS PRIVADAS DE
LIBERDADE ....................................................................................................... 7
2.1. Conceitos Importantes ........................................................................................ 10
2.1.a. Humanização ...................................................................................................... 10
2.1.b. Política Públicas ................................................................................................. 11
2.1.c. Programas de Atenção ....................................................................................... 12
2.1.d. Vulnerabilidade ................................................................................................... 12
2.1.e. Da Violência Simbólica do Cárcere .................................................................... 13
2.2. Da Superintendência de Humanização de Atendimento (SHUA) ....................... 16
2.2.a. Da Diretoria de Trabalho e Produção ................................................................. 18
2.2.b. Da Diretoria de Ensino e Profissionalização ....................................................... 18
2.2.c. Da Diretoria de Saúde e Psicossocial ................................................................ 19
2.2.d. Da Diretoria de Articulação e Atendimento Jurídico .......................................... 19
2.2.e. Da Diretoria de Classificação Técnica ................................................................ 20
2.2.f. Da Diretoria de Assistência à Família ................................................................ 21
2.2.g. Da Diretoria de Atenção ao Paciente Judiciário ................................................. 21
2.2.h. Conheça a SHUA ............................................................................................... 22
3. DIREITOS E GARANTIAS DOS SUJEITOS PRIVADOS DE LIBERDADE ..... 23
3.1. Distinção entre as prisões e regimes de condenados e presos provisórios....... 23
3.2. Dos direitos dos IPL ........................................................................................... 25
3.2.a Da individualização da pena .............................................................................. 25
3.2.b. Dos Direitos e Garantias Fundamentais ............................................................ 25
3.2.c. Dos direitos descritos na LEP ............................................................................ 32
3.2.d. Estudo de Caso: A importância dos direitos à saúde dos IPL ............................ 33
3.2.e. A humanização do profissional policial penal .................................................... 38
4. PRINCIPAIS PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ATENÇÃO ÀS PESSOAS 40
PRIVADAS DE LIBERDADE .............................................................................
4.1. Qualidade de Atendimento ................................................................................. 40
4.2. Ações de trabalho e inclusão ............................................................................. 42
4.2.a. Programa Artesanato na Cela ........................................................................... 44
4.2.b. Parcerias de Trabalho ........................................................................................ 44
4.2.c. Trabalhando a Cidadania ................................................................................... 47
4.2.d. Programa de Ensino e Capacitação .................................................................. 49
4.2.e. Suporte à Visitação dos IPL ............................................................................... 50
4.2.f. Programas Parceiros .......................................................................................... 52
4.3. Os benefícios como fatores de humanização da pena ...................................... 53
4.3.a. Humanização pelo tempo de cumprimento de pena ................... 53
4.3.b. Humanização pela PROGRESSÃO DO REGIME de pena ............................... 55
4.3.c. Humanização pela LIBERDADE CONDICIONAL .............................................. 56
Referências ...................................................................................................................... 58

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ÍNDICE DE TABELAS
Tab. 1 Sistema carcerário em Minas Gerais 24
Tab. 2 Perfil dos encarcerados em Minas Gerais 35
Tab. 3 Espécie de assistência aos sujeitos privados de liberdade 36
Tab. 4 Acesso à saúde sistema carcerário - região sudeste 38

ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1 Espécies de prisão no processo penal 7
Fig. 2 Humanização do Sistema Único de Saúde 8
Fig. 3 Aspectos da Humanização 33
Fig. 4 Tríplice inclusão no processo de humanização 34

3
1. INTRODUÇÃO

Como estudamos em outras disciplinas, a privação da liberdade é


uma forma de punição aplicada em relação ao ser humano que pratica um ou
mais delitos. Como punição, a privação da liberdade foi aos poucos substituindo
modelos punitivos que agregavam tortura e morte, bem como, modelos punitivos
que visavam apenas excluir o culpado e nada mais.
Uma sociedade democrática que comporta um modelo jurídico de
respeito à dignidade da pessoa humana não pode conceber a existência de
unidades prisionais em que, além da privação da liberdade, a pessoa que sofre
a punição por intermédio da sentença, tenha suprimidos direitos e garantias
fundamentais, como da saúde, educação, trabalho, higiene e alimentação, entre
outros.
Há muito preconceito e desinformação no seio da sociedade, que
concebe uma visão de que a pessoa que pratica um crime deva sofrer
permanentemente no cárcere e, mais, para sempre! Isso é produto dos
fenômenos sociais relacionados relações entre grupos e pessoas, como
constructo social que constitui o que reconhecemos como preconceito
estruturantes.
Essa visão não é uma opção para o futuro policial penal, posto que
ele precisa compreender o seu papel como profissional de segurança pública.
O trabalho do sistema prisional é absolutamente essencial para evitar
a escalada do crime organizado, como superestrutura que visa cooptar pessoas
no âmbito de unidades prisionais, para que sirvam aos seus mandamentos, e se
constituam em massa de manobra, como soldados do crime.
Humanizar o atendimento das unidades prisionais não é uma opção
ideológica ou política de um Estado, mas uma obrigação para com os deveres
insculpidos na Constituição Federal, sendo inadmissível que as unidades
prisionais do Estado de Minas Gerais desenvolvam ações de rotina como
deturpadoras dos direitos fundamentais das pessoas.
O que rege a política do Governo do Estado, da Secretaria de Justiça
e Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (SEJUSP), por meio do
Departamento Penitenciário do Estado de Minas Gerais (DEPEN) é a
4
humanização de todo o sistema, e a disseminação de conhecimento sobre a
temática, para que as pessoas possam refletir e, aos poucos, mudarem essa
concepção!
Nesse sentido, surge o foco na formação do policial penal do Estado
de Minas Gerais, para que seja um profissional de humanização, para que
compreenda que o indivíduo privado de liberdade (IPL) é, mais do que tudo, um
pai/mãe, um filho/filha, alguém cheio de direitos, dores, problemas, tristezas,
capacidade, oportunidades, mas, essencialmente, um ser humano!
É certo, há séculos de circunstâncias que impõem motivos complexos
para a edificação da violência em nossa sociedade, cumprindo a polícia penal,
como instituição de segurança, o exercício de um papel específico, como
veremos em outro momento.
Nesse sentido, muito pode ser feito, a partir da construção de uma
Política Criminal e, principalmente, da HUMANIZAÇÃO NAS RELAÇÕES NO
ÂMBITO PRISIONAL.
Se aos olhos de membros da sociedade, muitas vezes, os IPL são
considerados monstros, pessoas indignas, que precisam ser execradas por seus
atos, por outro lado, a inexistência de penas capitais (de morte) e penas
perpétuas (para sempre) determinam que um dia, a pessoa privada de liberdade
deva retornar ao seio da sociedade.
Pergunta-se: COMO ESTARÁ O SER HUMANO QUANDO
EGRESSAR DO SISTEMA PRISIONAL?
Sem a intenção de responder, por agora, destaquemos outra
indagação que será objeto de nosso estudo, e que precisa ser objeto de reflexão.
Com unidades prisionais aptas somente a torturar, destruir
humanidade, causar sofrimento, doença e exclusão social às pessoas apenadas,
QUAL SERÁ O COMPORTAMENTO DESSAS PESSOAS AO LONGO DO
CUMPRIMENTO DA PENA?
Certamente, se agirmos no horror acima descrito, os episódios de
violência, motins, rebeliões, ações de organização criminosa serão fortalecidos,
senão incentivados, em razão de nossa própria falta de consciência.
Não é essa a nossa postura! O Policial Penal que pretendemos ter
nas fileiras da Polícia Penal do Estado de Minas Gerais é um profissional de

5
excelência, treinado, apto a proceder legalmente sempre que requisitado e,
essencialmente, um protetor dos direitos humanos, posto que ao Estado NÃO é
dado delinquir, pelo contrário, nossa obrigação é a de promover a dignidade, as
leis e o desenvolvimento das pessoas com que nos relacionamos!
O que a SEJUSP frisa como CULTURA essencial para o novel Policial
Penal do Estado é que ele seja um promotor da dignidade da pessoa humana e
que, através de seu trabalho cotidiano, ele possa contribuir para a diminuição
dos indicadores de reincidência através do apoio às ações de humanização do
atendimento nas unidades prisionais do Estado.

6
2. HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ÀS PESSOAS PRIVADAS DE
LIBERDADE: DO CONTEXTO DO BRASIL AO CONTEXTO DE MINAS
GERAIS
Inicialmente, estabelecemos algumas premissas, relacionadas ao
mapeamento do sistema carcerário no estado de Minas Gerais para entender o
processo de humanização do atendimento às pessoas privadas de liberdade,
também denominadas indivíduos privados de liberdade, indicadas
respectivamente, pelas siglas PPL e IPL.
Segundo informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
decorrente do Sistema de Geopresídios que utiliza dados advindos do Relatório
Mensal do Cadastro Nacional de Inspeções nos Estabelecimentos Penais
(CNIEP)1, Minas Gerais possui atualmente, cerca de 66.000 (sessenta e seis mil)
pessoas privadas de liberdade, distribuídas em 218 unidades prisionais, com
déficit de cerca de 22.000 (vinte e duas mil) vagas, ou seja, possuindo cerca de
50% a mais de IPL do que vagas disponíveis.

Tabela 1. Sistema carcerário em Minas Gerais


QUADRO RESUMO DE SITUAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL – MG
FATOR INDICADOR
Quantitativo de Estabelecimentos 218
Quantidade de Vagas 43.734
Quantidade de IPL 66.536
Quantidade de fugas 85
Estabelecimentos avaliados como péssimos / ruins 77 / 11
Estabelecimentos avaliados como bons e excelentes 52 /12
Fonte: Geopresídios-CNJ
Junto ao site do CNMP, o candidato consegue visualizar dados
importantes a respeito do perfil dos IPL, no sistema prisional, de cada unidade
da federação e, em especial, do Estado de Minas Gerais.

A compreensão do perfil dos IPL é fundamental para que possamos


situar políticas públicas que atendam exatamente o público atendido. A
concepção de políticas públicas de inclusão de IPL precisa, então, considerar
quem é o ser humano que cumpre pena, para que possa desenvolver ações

1
Brasil. Conselho Nacional de Justiça. Geopresídios
https://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/gera_relatorio.php?tipo_escolha=comarca&opcao_escol
hida=18&tipoVisao=estabelecimento

7
específicas, que considere os perfis reais e atenda às pessoas, a partir de suas
demandas e características.

Verifica-se, ainda, o perfil dos encarcerados no estado de Minas


Gerais, tal como apresentado na tabela a seguir:

Tabela 2. Perfil dos encarcerados em Minas Gerais


Perfil carcerário (ano-base 2022) Total do perfil Percentual

Pessoas maiores de 60 anos 1.046 1,58%

Adolescentes 00 0,0%

Indígenas 24 0,04%

Estrangeiros 47 0,07%

Mulheres grávidas 24 0,98%


Fonte: Sistema Prisional em Números (CNMP, 2023).

A partir dos elementos colacionados, podemos estabelecer premissas


que vão orientar o estudo do presente capítulo que é entender os principais
conceitos sobre humanização do atendimento no Sistema Prisional do Estado
de Minas Gerais.
Devemos considerar uma variável importante, que será retomada
durante todo o trabalho: a falta de reconhecimento dos direitos de pessoas
encarceradas.
Há, de fato, uma série de imposições legais decorrentes da legislação
penal e processual penal, seja no curso do cumprimento de prisão cautelar, seja
do cumprimento de prisão-pena.
Destaque-se que os indivíduos privados de liberdade, doravante
denominados pela sigla IPL, têm uma rede de direitos restringidos em razão da
imposição de medidas legais, sendo a privação da liberdade de ir, vir e
permanecer – o direito à deambulação – suspenso enquanto dure o cumprimento
da pena, em seu máximo rigor.
Seja em face de prisões cautelares (flagrante delito, prisão temporária
ou prisão preventiva), seja em razão de condenações definitivas (por intermédio
de sentenças judiciais transitadas, com imposição de prisão-pena), a privação

8
da liberdade de convivência no seio da sociedade possui efeitos acessórios
declarados pela lei e efeitos práticos devastadores para qualquer indivíduo.
Assim, uma das missões mais importantes de um órgão como a
Polícia Penal, não é de apenas fazer cumprir as restrições de direitos impostos
pelas decisões judiciais, mas de garantir que os demais direitos da pessoa
humana sejam respeitados, não apenas pela própria estrutura do Estado (o
que inclui os membros da própria Polícia Penal), mas também, pelos outros IPLs.
A premissa inicial que orienta os conceitos de humanização é a ideia
de que não é permitido limitar direitos, sejam eles fundamentais (constitucionais)
ou infraconstitucionais, senão os delineados pela legislação e pelas decisões
judiciais atinentes aos IPLs.
Ao Estado cumpre o dever de fazer cumprir as penas aplicadas, a
partir do monopólio do direito de punir do Estado (Ius Puniendi), e tais penas não
delimitadas pela lei e pela sentença judicial aplicadas. Isto posto, é papel da
Polícia Penal garantir que o cumprimento da pena aplicada pelo Estado (a partir
do que denominamos de IUS PUNIENDI – Direito de Punir) respeite a dignidade
da pessoa humana e a integridade física e psíquica do apenado, e mais do que
isso.
O art. 1º da Lei de Execução Penal2, ipsi in verbis, determina que“...a
execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado.”
Assim, o cumprimento da pena não é um mero exercício das punições
determinadas na sentença judicial condenatória, mas um amplo e complexo
exercício de transformação do indivíduo privado de liberdade, para que ele possa
compreender papéis e regramentos sociais e a importância de exercê-los, para
que constitua uma vida qualificada.
Nesse sentido, compreendemos que a própria denominação da
disciplina deva ser absorvida pelo futuro policial penal do Estado como sendo
um exercício de transformação do processo de cumprimento da pena.

2
Lei Federal nº 7210/1986 – Lei de Execução Penal. Acesso em
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210.htm , em 07 de maio de 2023.

9
2.1. Conceitos Importantes
2.1.a. Humanização
O conceito de humanização é bastante simples como retórica, muito
complicado em sua acepção prática. Humanizar é tornar mais humano um
relacionamento, uma estrutura, um projeto, uma ação específica.
A humanização é possível na medida em que os relacionamentos,
estruturas, projetos ou ações incorporem valores que priorizem a dignidade e a
eficiência do exercício dos direitos das pessoas. A temática é muito discutida no
âmbito da saúde, mas é pouco explorada no ambiente do sistema prisional.
Contudo, frisemos que a ideia de humanização foi apropriada pela
área de Saúde da Sociologia, incorporando preceitos de participação das
pessoas nos processos de gestão, a possibilidade de interação entre usuários e
profissionais e o protagonismo das pessoas nos processos.
No material complementar, indicamos a leitura do site Rabisco da
História3, que nos situa de maneira didática acerca do conceito de humanização.
No seio de uma unidade prisional, humanizar se relaciona com o
introjetar uma cultura de humanização no âmbito da prisão. Esse é um trabalho
árduo, cuja finalidade é propiciar que as relações humanas oriundas dos
processos atinentes ao cumprimento da pena possam indicar o aperfeiçoamento
dos seres humanos envolvidos no processo.
Destaque-se, nesse sentido, que NÃO estamos apenas construindo
nosso discurso no sentido de propiciar a proposta de “harmônica integração
social” do preso e do condenado, como nos cita a lei. A proposta de harmonia
para a integração dos IPLs imprescinde da construção de um ambiente
harmônico entre o IPL e o policial penal, para que cada um compreenda o papel
e a posição do outro, numa concepção de alteridade.
Como cultura, humanizar é o meio de efetivar o cumprimento da pena,
de fazer o IPL entender que a punição pode transformá-lo em uma pessoa mais
apta a cumprir papéis sociais, como uma alternativa à vida voltada para a
criminalidade.

3
Acesso em https://rabiscodahistoria.com/para-a-sociologia-ser-um-individuo-humanizado-
significa/

10
A humanização no Sistema Prisional é uma busca efetiva da SEJUSP,
tanto que o assunto compõe parte essencial do conteúdo instrucional do
presente curso de formação do futuro policial penal.

2.1.b. Política Públicas


Políticas públicas são ações empreendidas pela estrutura de Estado
com a finalidade de garantir direitos fundamentais à população, vencendo
vulnerabilidades que dificultam acesso à determinados direitos, proporcionando
opções de lazer, educação, trabalho, transporte, saúde e outros direitos, visando
a promoção da qualidade de vida para os indivíduos e melhoria do bem-estar
para a sociedade.
No âmbito do sistema prisional, políticas públicas são ações
orquestradas com a finalidade de garantir direitos fundamentais à população
carcerária e seus familiares, para promover a dignidade da pessoa humana e a
reintegração social harmônica do condenado ou internado.
Indicamos para o nosso futuro Policial Penal que analise o material
complementar a este trabalho, sobre políticas públicas, no site da CNN4.
Importante destacarmos que a SEJUSP, ainda, desenvolve diversos
estudos e ações práticas para a valorização do trabalho dos profissionais de
segurança pública.

2.1.c. Programas de Atenção


Mais um conceito empregado junto ao sistema SUS, os programas de
atenção são um conjunto de políticas públicas empregado de maneira sistêmica,
com a finalidade de fortalecer culturalmente a sociedade, no que condiz à uma
área de vulnerabilidade destacada.
Há programas de atenção ao desemprego, uso e abuso de drogas,
saúde do idoso/criança/deficiente, e no caso, programas de saúde da pessoa
privada de liberdade.

44
Acesso em https://www.cnnbrasil.com.br/politica/politicas-publicas/

11
2.1.d. Vulnerabilidade
Vulnerabilidade é a situação de quem está vulnerável, ou seja,
exposto a uma situação que dificulta o exercício pleno de direitos. Tem-se por
vulnerabilidade a condição de indivíduos ou grupos sociais que estão submetidos
a exclusão social, e seus direitos à mercê de fatores aleatórios, que dificultam
de maneira específica o seu exercício.
No sentido sociológico, a vulnerabilidade diz respeito, mormente, às
dificuldades de ordem socioeconômica que dificultam acesso à moradia,
educação, trabalho qualificado, alimentação, transporte e outros direitos sociais
e individuais fundamentais. Um dos fatores marcantes da vulnerabilidade é o de
que a pessoa ou o grupo vulnerável possui restrições de representatividade
social e de oportunidades para se desenvolver.
Indicamos a leitura do site Politize, acerca do tema5. Em específico,
destacamos que a vulnerabilidade do IPL é reconhecida como grande argumento
para o desenvolvimento e atuação de facções criminosas no seio do sistema
prisional de todo o país.
Não podemos, é fato, generalizar, tampouco “tapar o céu com a
peneira”. Temos um sistema prisional que precisa se reestruturar, que oferece
desafios e obstáculos para que possamos construir uma sociedade mais justa,
como podemos compreender, a partir da citada pesquisa do Geopresídios,
tamanha a superlotação de diversas unidades prisionais em todo o Brasi, bem
como, um excesso de ocupação, em todo o país.6l.
Por isso, a SEJUSP enfoca na humanização do atendimento ao IPL,
para que possamos construir uma política pública de execução penal e,
principalmente, uma política de inclusão que diminua a vulnerabilidade dessas
pessoas encarceradas.
Policiais Penais humanizadores buscarão a reintegração de mais e
mais condenados, e por fim, as experiências para que a sociedade perceba a
importância de as unidades prisionais serem espaços de desenvolvimento de

5
Acesso em https://www.politize.com.br/vulnerabilidade-social/
6
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça – GEOPRESÍDIOS. Acesso em 15 de maio de 2023.
https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=e28debcd-15e7-4f17-ba93-
9aa3ee4d3c5d&sheet=985e03d9-68ba-4c0f-b3e2-3c5fb9ea68c1&lang=pt-BR&opt=ctxmenu,currsel

12
humanidade, quando, infelizmente, teima compreender como espaço de
vingança.

2.1.e. Da Violência Simbólica do Cárcere


Ultimamos, no subitem acima, o estudo sobre vulnerabilidade. Não
deixemos, então, de relacionar a vulnerabilidade com a Violência Simbólica
representada pela PRISÃO.
A pessoa privada de liberdade em razão de uma condenação criminal
foi submetida a um processo penal. O processo penal é altamente
constrangedor, pois exige muito esforço de quem a ele é submetido e, muitas
vezes, as pessoas que o respondem não têm condições financeiras de arcar com
uma defesa qualificada, sem que estejamos a desdenhar das defensorias
públicas ou defensores dativos.
Ao final, quando sobrevém uma condenação, apesar de todo o
esforço, a pessoa é levada à privação de liberdade, delineada por uma sentença
judicial composta por diversos comandos normativos, que limitam direitos de
diversas espécies da pessoa condenada.
Ocorre que as limitações de direito efetivamente aplicadas deveriam
ser exatamente as delineadas em sentença ou nos termos legais, e não outras,
conforme se apura na prática. Uma limitação de direito é, de fato, um
“constrangimento de direito”, e consequentemente, um constrangimento à
pessoa humana!
Destaquemos algumas situações (em exemplos), que o IPL sofre de
maneira informal, e que culminam por fortalecer a violência imposta pela prisão:
a) Seus filhos e cônjuges viram objeto de bullyings, comentários e
chacotas;
b) Sua família sofre financeiramente;
c) Sobrevém a ele um sentimento contínuo de traição (dos filhos,
parentes, cônjuges/companheiros e amigos), e abandono;
d) Ele é submetido por um sistema de exclusão de oportunidades de
relacionamentos, trabalho, educação, lazer, prazer, esporte,
espiritualidade, ao mesmo tempo em que se envolve em um ciclo
pernicioso de relacionamentos

13
Esses são apenas alguns exemplos. Contudo, é importante
esclarecer que o policial penal é por ele interpretado como a pessoa que
representa diuturnamente a pena que a ele foi imposta.
Quando estamos diante de uma unidade prisional em desequilíbrio,
em que as regras de humanização não são sequer mencionadas, conquanto
aplicadas, a figura do policial penal se confunde com a do carrasco, responsável
direto por todas as mazelas que o IPL sofre em sua “nova vida” ou “vida atual”.
Essa posição do policial penal enfatiza que o cárcere é envolto em um
estado de VIOLÊNCIA SIMBÓLICA permanente. O tema em questão foi debatido
na disciplina MEDIAÇÃO DE CONFLITOS, no EAD.
A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA é a que retrata a tensão permanente
vivida entre os IPLs e os policiais penais, posto que os primeiros, enquanto
privados de sua liberdade, vivem num estado permanente de punição, enquanto
o policial penal, por ser o representante do Estado, é o responsável não menos
permanente pela aplicação da pena.

Nesse sentido, o policial penal representa o IUS PUNIEDI (o direito


de punir do Estado) e é, de certa forma, natural que o IPL compreenda que o
policial penal queira apenas exercer a força da punição, agindo sempre de
maneira coativa (por meio da força), ainda que exercida apenas sem vigor físico
e sem arbitrariedade.

Assim, a atuação do policial penal é muito mais evidente quando ele


fiscaliza celas, revista os IPLs (e aos seus familiares), expressa ordens de
trabalho ou adverte sobre comportamentos indevidos, pune transgressões e os
prende, quando atuam de maneira ilegal. Notemos, que há violência simbólica
na atuação do policial penal, ainda quando ele atua conforme a lei.

Atos como socorrer o IPL, encaminhar suas demandas e a dos seus


familiares ao assistente social ou psicólogo, tratar com educação seus familiares,
orar ao lado do IPL em um momento específico, respeitar seu momento de
descanso ou travar com ele uma conversa casual e respeitosa são
compreendidos como exceções e, nada mais.

Indicamos a releitura do ponto específico sobre o assunto


naquela apostila. (Mediação de Conflitos).
14
Assim, um dos grandes desafios deste curso, de fato, é fortalecer a
cultura de que o policial penal e os gestores do sistema prisional podem mitigar
essa situação permanente de violência simbólica e, para tal, o objeto para
eficiente é o da HUMANIZAÇÃO!

2.2. Da Superintendência de Humanização de Atendimento (SHUA)


O Decreto Estadual nº 47.795/197, de leitura e conhecimento
obrigatório do futuro polícia penal, constituíram a Superintendência de
Humanização de Atendimento (SHUA), como órgão subordinado ao
Departamento Penitenciário (em nível de Subsecretaria – DEPEN).
Destaque-se que a SHUA foi dividida internamente em diretorias, que
se consubstanciaram como áreas de atenção específica da pessoa privada de
liberdade, senão vejamos:
• Trabalho e Produção (Diretoria de)
• Ensino e Profissionalização (Diretoria de)
• Saúde e Psicossocial (Diretoria de)
• Articulação e Atendimento Jurídico (Diretoria de)
• Classificação Técnica (Diretoria de)
• Assistência a Família (Diretoria de)
• Atenção ao Paciente Judiciário (Diretoria de)

Notemos que a SHUA é uma estrutura gerada para operacionalizar


deveres que são da própria SEJUSP e, principalmente, do DEPEN, e que atende
todo o sistema prisional do Estado de Minas Gerais, incluindo NÃO apenas todos
os IPL, mas também os profissionais Policiais Penais, que precisam de suporte
para o desenvolvimento de suas atividades profissionais, incluindo a capacitação
em termos de humanização.

7
Decreto Estadual nº 47.795/2019, disponível em: < https://www.almg.gov.br/legislacao-
mineira/texto/DEC/47795/2019/?cons=1>

15
PARA CONTEXTUALIZAR

Para cuidar do policial penal, frise-se que o Decreto Estadual nº


47.795/2019 constituiu uma estrutura própria, denominada de
Superintendência de Recursos Humanos, e em específico, nos termos do art.
59 da referida norma, uma Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor, que
dentre as suas missões visa atuar na assistência do policial penal (no caso, de
todos os profissionais de segurança pública do Estado), buscando parcerias
para cuidados e tratamentos, desenvolvendo projetos, campanhas e
intervenções para promover saúde e qualidade de vida no trabalho, bem como,
acolhimento e orientação biopsicossocial.

Assim, destaquemos que, apesar das atribuições da SHUA focarem


o grupo de IPL, a SEJUSP conta com uma estrutura própria para cuidar da
saúde mental e física do profissional que trabalha com os IPL, e que sofre,
como vimos, repercussões relativas ao stress natural da violência simbólica no
âmbito do sistema prisional, incluindo ações para suporte familiar do policial
penal.

O caput do art. 65 do Decreto Estadual nº 47.795/19, prevê a


humanização do atendimento e a ressocialização dos IPL como atribuições do
DEPEN, incluindo a promoção das condições efetivas para a reintegração social
dos IPL, agregando a visão de parcerias com entidades públicas e privadas, bem
como, articulações institucionais com outras polícias e órgãos de Estado.

Em específico, as missões da SHUA estão disciplinadas nos termos


do art. 72 e seguintes do Decreto Estadual nº 47.795/19, sendo ela competente
para gerir os processos de humanização do atendimento e inclusão social dos
IPL, em sintonia com a LEP.

Estão sob supervisão da SHUA os processos de humanização, bem


como, o auxílio ao planejamento da política penitenciária do Estado de Minas
Gerais nesse sentido. O planejamento envolve desde as novas diretrizes de

16
humanização até a definição de áreas e estruturas e materiais para atendimento
e assistência nas unidades prisionais.

As parcerias institucionais, seja com entidades públicas ou privadas,


ou ainda, a articulação de políticas públicas aplicadas para humanização da
custódia e ressocialização dos IPL, desde os seus estudos preliminares, até sua
formalização, aplicação, aferição e controle são atributos da SHUA, incluindo
atividades educacionais, laborativas, de assistência social, de saúde,
biopsicossociais, de atenção ao paciente judiciário e religiosas.

2.2.a. Da Diretoria de Trabalho e Produção

A Diretoria de Trabalho e Produção da SHUA coordena e fiscaliza as


atividades relativas ao trabalho e produção dos IPL, sendo responsável pela
constituição de critérios para a produção artesanal, industrial e agrícola em
unidades prisionais do Estado de Minas Gerais.

Para tanto, a Diretoria de Trabalho e Produção controla


equipamentos, insumos e espaços destinados para o trabalho e produção dos
IPL, bem como, os resultados obtidos das operações desenvolvidas. Nesse
sentido, ressalte-se o caráter auxiliar na abertura de postos de trabalho para IPL
nas unidades prisionais, por meio das parcerias desenvolvidas pelo SHUA.

Em sintonia com os postos de trabalho e as demandas de mercado,


a diretoria propõe ações de capacitação e profissionalização, bem como,
estabelece as diretrizes para a alocação dos IPL, de lançamento de frequência
e acompanhamento in loco das parcerias de trabalho, desde a adimplência em
relação ao IPL trabalhador, como a apuração de sua atuação regular, em sintonia
com a LEP.

2.2.b. Da Diretoria de Ensino e Profissionalização

A Diretoria de Ensino e Profissionalização da SHUA coordena e


fiscaliza as atividades relativas à assistência educacional dos IPL, desde a

17
educação básica, profissional e tecnológica, até o ensino superior e atividades
complementares e socioculturais/esportivas.

Nesse sentido, é de sua competência fomentar a formação


educacional em amplo sentido do IPL, visando a sua harmônica reintegração
social, se articulando com entidades públicas e privadas para a constituição de
um sistema de ensino presencial ou EAD que atenda às necessidades de
desenvolvimento humano, com qualidade e eficiência, tanto para a formação
acadêmica, quanto profissional.

O sistema educacional em questão tem a pretensão de valorizar


individualmente as qualidades do indivíduo, e orientar às unidades prisionais à
adoção de uma política de ampliação e melhoria contínua, com amplo controle
estatístico.

Nesse sentido, é sensível à implantação da cultura da leitura, como


meio de aperfeiçoamento do indivíduo, concebendo e gerindo as ações de
remição da pena a partir de programas de leitura coordenada.

2.2.c. Da Diretoria de Saúde e Psicossocial

A Diretoria de Saúde e Psicossocial da SHUA tem seu foco na


coordenação e fiscalização de atividades de assistência à saúde dos IPL
reclusos nas Unidades Prisionais, sendo responsável pela articulação com
outros órgãos públicos de documentos civis de cada IPL, para exercício dos
direitos atinentes à saúde.

Em sintonia com o SUS, a diretoria propõe ações de atenção básica,


no âmbito individual ou coletivo (como exames periódicos e vacinações), que
visam a constituição de um ambiente sanitariamente mais adequado para o
cumprimento da pena, bem como, visam promover a prevenção e proteção da
saúde, o diagnóstico antecipado de doenças, a redução de danos, o tratamento
e a reabilitação de enfermos, respeitando as orientações das ciências médicas
e do exame criminológico, quando for o caso, se articulando com órgãos públicos
e privados nesse sentido.

18
A diretoria é, ainda, responsável pela coleta, processamento e
armazenamento de dados sobre os atendimentos de saúde e procede a
orientação e fiscalização das atividades desenvolvidas pelas diversas unidades
prisionais do Estado, incluindo o acompanhamento social, atendimento clínico,
terapêutico e hospitalar, seja no âmbito do DEPEN-MG, seja em integração com
o sistema SUS.

2.2.d. Da Diretoria de Articulação e Atendimento Jurídico

A Diretoria de Articulação e Atendimento Jurídico têm missões


atinentes à coordenação, orientação e fiscalização da assistência jurídica
oferecida aos IPL, auxiliando as unidades prisionais, se articulando com outros
órgãos de Estado, instituições privadas ou da sociedade civil organizada para
oferecer qualidade de atendimento.

A diretoria possui atribuições de constituir projetos que possam


melhorar o atendimento oferecido e, para tanto, processa todo o conhecimento
apurado a partir das atividades de assistência jurídica ao IPL.

Além disso, coordena a figura dos Conselhos Disciplinares nas


unidades prisionais, que por sua vez são órgãos responsáveis pelo exercício do
Poder Disciplinar, nos termos dos regulamentos e da LEP, em relação ao preso
que pratique transgressões no cumprimento da pena, tendo funções
disciplinares, como órgão recursal em razão das decisões administrativas
proferidas em primeiro grau pelos Conselhos.

A diretoria, ainda, é responsável por orientar e reavaliar


procedimentos das unidades prisionais acerca das rotinas de assistência
jurídica, bem como, acerca da classificação jurídica dos IPL, sendo sua função
munir o sistema de informações com os dados atinentes e, por fim, de assessorar
e orientar as seções penais das unidades sobre impedimentos e benefícios
diversos, relativos à execução penal, de cada IPL.

19
2.2.e. Da Diretoria de Classificação Técnica

A Diretoria de Classificação Técnica tem atribuições para


coordenação e fiscalização do trabalho das Comissões Técnicas de
Classificação (CTC) de IPL. As CTC, conforme estudaremos adiante, são
comissões compostas por profissionais multidisciplinares que elaboram um
Plano Individualizado de Ressocialização (PIR) dos IPL.

A diretoria cuida para que as CTC das unidades prisionais operem em


respeito às normas vigentes, com profissionais adequados e respondendo a
critérios técnicos para a elaboração do PIR, cuidando para que os dados
atinentes sejam controlados e o sistema se articule com o Poder Judiciário.

Cumpre-nos esclarecer que o PIR substitui o exame criminológico,


quando não for caso de aplicação desse e, nesse sentido, a diretoria deve cuidar
de todas as unidades prisionais do Estado, para que o plano seja efetivado, ainda
que essa não disponha de CTC.

2.2.f. Da Diretoria de Assistência à Família

A Diretoria de Assistência à Família tem competência para discernir


sobre a assistência social prestada à família dos IPL, orientando e fiscalizando-
as na realização do credenciamento e cadastramento de agendamentos de
visitas sociais, visitas sociais assistidas e visitas íntimas aos IPL.

A diretoria orienta e fiscaliza o processamento de atestados


carcerários para remição de pena e fornecimento de auxílio reclusão aos IPL e
familiares, executando ações de assistência social à família do condenado.

Nesse sentido, como as demais diretorias, tramita parcerias com


outros órgãos de Estado e instituições privadas, para suporte à família da pessoa
privada de liberdade, bem como, se integra à Superintendência de Segurança
Prisional para zelar para que o ambiente de visitação seja seguro, salubre e
digno, propiciando bons momentos entre os IPL e seus familiares e, como todas
as demais diretorias, é responsável por munir o sistema de inteligência de
informações relativas aos atendimentos efetivados.

20
2.2.g. Da Diretoria de Atenção ao Paciente Judiciário

A Diretoria de Atenção ao Paciente Judiciário tem missões atinentes


ao acompanhamento social e atendimento clínico, terapêutico e hospitalar aos
IPLs com incidente de insanidade mental instaurados ou em cumprimento de
medida de segurança.

Nesse sentido, é responsável por empreender uma política de saúde


mental nas unidades prisionais do Estado e oferecer atendimento necessário à
pessoa privada de liberdade com incidente de insanidade mental instaurado e/ou
em cumprimento de medida de segurança, visando direcionar os órgãos do
DEPEN-MG para aplicação das diretrizes da Lei Federal nº 10.216/2001 8, que
versa sobre o tratamento das pessoas com transtorno mental.

A diretoria, então, controla, em conjunto com a Diretoria de Gestão de


Vagas, a admissão e movimentação de IPL nessas condições junto às unidades
prisionais, coordenando as atividades médico-periciais e internações em todo o
Estado, possuindo caráter consultivo para a criação de normas que permitam o
gerenciamento do fluxo de internações, atendimentos e altas nas Unidades
Prisionais Médico-Penais.

É sua missão se articular com os demais órgãos de Estado, bem


como, instituições privadas e da sociedade civil organizada, para contribuírem,
no que couber, com as atividades de acompanhamento social, atendimento
clínico, terapêutico e hospitalar dos IPL, incluindo ações comuns às Diretorias
de Trabalho e Produção / Ensino e Profissionalização, com finalidades laborais,
profissionalizantes e educacionais para pessoas nessa condição.

2.2.h. Conheça a SHUA

Convidamos, então, o futuro policial penal a conhecer a SHUA e, por


que não, a estrutura completa do DEPEN, conforme preceitua o Decreto

8
Lei Federal nº 10.216/2001, acesso em 07 de maio de 2023.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm

21
Estadual nº 47.795/2019, que dispõe sobre a SEJUSP. Para tanto,
recomendamos que navegue pelos links abaixo, ambos do DEPEN:

QUEM É QUEM

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/index.php/o-departamento/quem-e-
quem

ORGANOGRAMA

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/index.php/o-
departamento/organograma

3. DIREITOS E GARANTIAS DOS SUJEITOS PRIVADOS DE LIBERDADE

3.1. Distinção entre as prisões e regimes de condenados e presos


provisórios
Ao tratar de direitos e garantias dos IPL, necessitamos entender o
motivo que levou essas pessoas ao cárcere. Penalmente, uma pessoa somente
pode ser presa no Brasil em razão de uma prisão cautelar ou de uma
condenação criminal transitada em julgado, depois de um processo judicial.
O nome já diz, a prisão cautelar, como discutido em outras disciplinas,
é anterior à condenação criminal irrecorrível, então, é uma prisão a título
precário, que pode ser revertida judicialmente por meio de várias ferramentas
(por meio de relaxamento da prisão, habeas corpus, liberdade provisória com ou
sem fiança, ou ainda, pela aplicação de medidas cautelares diversas da prisão).
Nesse sentido, esse tipo de prisão será revertido por uma ordem
judicial sem a estrutura jurídica de uma sentença.

22
Por sua vez, a condenação judicial transitada em julgado tem um título
permanente, posto que o fato motivador da decisão já foi objeto de recurso, até
esgotadas as vias de reavaliação judicial do ato, e alcança um grau de
imutabilidade muito elevado (somente uma ação de revisão criminal pode
reverter tal decisão).
Formalmente, condenada é a pessoa que foi sentenciada
judicialmente em definitivo a uma pena estipulada nas leis penais, sem direito a
recorrer da decisão judicial.
Dos conceitos supracitados, surge uma primeira constatação: os IPL
que cumprem prisões cautelares têm, ainda, o direito de recorrer da pena, bem
como, a decisão que impôs a prisão cautelar não determina a aplicação dos
efeitos da condenação judicial, expressos nos art. 91, 91-a e 92 do Código Penal
(CP), ou seja, sua limitação de direitos é diferente da imposta pela condenação
judicial com trânsito em julgado.
Apenas para ilustrar alguns os efeitos específicos que diferenciam as
limitações de direitos entre presos cautelares e condenados, e que fique claro,
conforme determinado em sentença, é que, em determinados processos, o
condenado tem:
a) Obrigação certa de indenizar a vítima;
b) Perda dos instrumentos relacionados, produtos, bens ou valores
auferidos na prática do delito;
c) Limitação a bens de sua titularidade, para pagamento de
indenizações;
d) Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo;
e) Perda do poder familiar em relação aos filhos; e
f) Inabilitação para condução de veículo automotor.
Contudo, é fundamental destacar que na vivência do dia-a-dia junto
ao cárcere, não há diferenças essenciais entre os direitos de IPL condenados ou
em prisão-cautelar, certo de que o regime da prisão domiciliar, por certo, é o
FECHADO, posto que seria extremamente incoerente acautelar uma pessoa que
está sendo investigada e oferecer-lhe, ao mesmo tempo, o direito de estudar ou
trabalhar fora do ambiente prisional, principalmente, porque dentre alguns dos

23
fundamentos da prisão estão a garantia da ordem pública, da instrução
processual e, por fim, para que a pessoa não fuja à aplicação do Direito.
. Frise-se, porém, o direito expresso do preso provisório, conforme
disposições contidas no art. 300 do CPP, de que consta que “...as pessoas
presas provisoriamente ficarão separadas das que estiverem definitivamente
condenadas, nos termos da lei de execução penal.”

Apenas Figura 1. Espécies de prisão no processo penal


PRISÃO NO DIREITO PROCESSUAL PENAL
para registro, a figura
ao lado distingue as
Prisão em flagrante
espécies de prisão no
processo penal: Prisão preventiva

Prisão temporária

Prisão pena

Fonte: elaborada pelos autores

3.2. Dos direitos dos IPL


3.2.a. Da individualização da pena
A lei afirma uma série de direitos da pessoa privada de liberdade, bem
como, veda outros direitos. Esclareça-se que, as decisões e sentenças judiciais
são atos limitados aos preceitos legais e, nesse sentido, a atuação da Polícia
Penal, na execução da pena, além de se submeter aos preceitos da legislação,
deve se ater aos preceitos das determinações judiciais, sendo uma atividade
extremamente vinculada, ou seja, com baixíssimas oportunidades para exercício
da discricionariedade.
A limitação imposta pela sentença judicial ou decisão de prisão
provisória estão condicionadas a um princípio essencial do Direito Penal, que é
o PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.
Direito e garantia fundamental à individualização da pena está
previsto na Constituição de 1988, no art. 5º, inciso XLV: “nenhuma pena passará
da pessoa do condenado [...];” (BRASIL, 1988).

24
Tal princípio se mostra bastante eficiente na execução da pena, nos
transmitindo a ideia real de que a execução penal é um processo individualizado,
e deve atender a questões objetivas (quantidade de pena, regime inicial de
cumprimento e efeitos da condenação) e subjetivas (questões relativas ao sujeito
que iniciará o cumprimento da reprimenda penal).
A individualização preconiza que o condenado será classificado
conforme personalidade e antecedentes, e em caso de falta cometida no seio da
execução, garante-se a ele a submissão a procedimento administrativo para sua
apuração, certo de que a aplicação de sanções jamais poderá ser de ordem
coletiva.
A individualização será melhor trabalhada adiante, no tópico acerca
da Ressocialização e do Programa Individualizado de Ressocialização.

3.2.b. Dos Direitos e Garantias Fundamentais


As penas aplicadas pelo direito são limitadas aos próprios preceitos
legais, como já discutimos. Assim, lastreado no brocardo jurídico NULLUN
CRIME, NULLA POENA, SINE LEGE (Não há crime sem lei anterior que o
defina, não há pena sem prévia cominação legal), todos os direitos e garantias
fundamentais da pessoa submetida a privação de liberdade devem ser objeto de
cuidado e observância por parte do Estado.
Mais, a Polícia Penal tem o dever de zelar para que os direitos e
garantias fundamentais do IPL, que não tenham sido limitadas ou condicionadas
na aplicação na lei, por meio de sentença ou decisão judicial, sejam efetivamente
cumpridas, em sua plenitude.
Assim, direitos como os relativos à educação, trabalho, saúde,
alimentação, moradia, transporte, lazer, segurança e assistência aos
desamparados, previstos no art. 6º das Constituição Federal9 (CF), além de
serem garantidos aos IPL, são deveres do Estado e da Polícia Penal atuar na
garantia desses direitos.

9
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 2015).

25
Dentre tais direitos, frisemos deveres do Estado, determinados na
própria Carta Magna:
a) Educação (Art. 205 da CF) para o pleno desenvolvimento da
pessoa, do preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para o trabalho;
b) Trabalho (Art. 193 da CF), reconhecendo a importância para a
ordem social, visando o bem-estar e a justiça social, devendo o
Estado desenvolver políticas sociais nesse sentido e, assim
sendo, na capacitação profissionalizante; por ser o trabalho uma
importante alternativa de opção de vida fora da criminalidade;
c) Saúde (Art. 196 da CF), sendo dever do Estado o desenvolvimento
de Políticas Públicas para redução do risco de doenças e o acesso
universal e igualitário aos serviços de saúde.
d) Lazer (Art. 217, §3º da CF), que lista o lazer como meio de
promoção social e, nesse sentido, essencial para a
ressocialização do IPL.
e) Segurança (Art. 144 da CF), em que o Estado tem o dever de
preservar a Ordem Pública e a incolumidade (integridade) das
pessoas, e no caso, como o IPL está acautelado, o Estado é
objetivamente obrigado a proteger sua integridade física, mental e
moral;
f) Assistência aos Desamparados (Art. 3º, inc. III, da CF), que
destaca como um dos objetivos fundamentais do Estado Brasileiro
a erradicação da pobreza e da marginalização. Observa-se
população carcerária é composta, predominantemente, de
pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de diversas
questões, sejam elas sociofamiliares, sócio-históricas,
socioeconômicas, biopsicossociais ou decorrentes da
criminalidade ocasional. A atuação do Estado perante o
encarceramento compreende ações intramuros e extramuros,
abarcando o desenvolvimento de Políticas Públicas que
contemplem, além das pessoas privadas de liberdade, também

26
suas famílias tomadas pela situação de vulnerabilidade e risco
social.
A observância desses direitos é imperiosa para que o IPL compreenda
que o fato de ter sido penalmente punido é um ato de afirmação da legalidade,
ou seja, que o Estado está retribuindo nos moldes legais a conduta por ele
perpetrada como meio de diminuir a violência na sociedade, buscando, por meio
das ações de ressocialização promover sua reintegração social.

REFLEXÃO IMPORTANTE

Não há pena perpétua (Art. 5º, inc. XLVII, letra “b” da CF) e, então,
a pessoa submetida à privação de liberdade, normalmente, deixará a cadeia e
retomará a condição de liberdade. QUEM ESSA PESSOA SERÁ? Como
vimos, a LEP espera que seja alguém reintegrado à sociedade. Mas a LEP é
uma lei, e precisa de atores que tornem seus preceitos reais!

O Policial Penal humanizador é um profissional que tem, prima


facie, a ardorosa e fundamental missão, capaz de possibilitar que seres
humanos marginalizados possam se constituir como pessoas úteis e
vocacionadas ao bem-comum, e dessa maneira propiciar a prevenção da
violência social e a construção de um país mais digno para os brasileiros.

Continuando, a legislação infraconstitucional, ainda, reserva diversos


direitos à pessoa, naturalmente, em sintonia com as recomendações
constitucionais.
O art. 3º da LEP impede qualquer discriminação de natureza racial,
social, religiosa ou política no cumprimento da pena (e das prisões cautelares),
devendo serem assegurados todos os direitos não limitados por lei ou sentença.
Ainda, na LEP, os IPL têm direito ao estudo e ao trabalho, que
impulsionem REMIÇÃO DE PENA, e que proporcionem mais eficiência ao
processo de progressão de regime. Estudar e trabalhar são constatações de
esforço e de potencialização de um ser humano, que precisam ser valorizadas
no processo de percepção sobre a reintegração da pessoa privada de liberdade.

27
Os art. 126 e seguintes da LEP dispõem nesse sentido, para o
reconhecimento do mérito de uma pessoa que foi punida pelo Estado e que
procura se transformar em alguém proativo para sua família e sociedade.
A concessão de benefícios, nesse sentido, são meios de distinção
diferidos àqueles IPL que se dedicam ao processo de reintegração de maneira
mais disciplinada e, se assim não fosse, certamente, NÃO haveria estímulo para
proceder mudanças em suas vidas! Assim, os benefícios devem ser
interpretados como perspectivas, que influenciam diretamente na motivação de
uma pessoa busca o autodesenvolvimento.
Segundo informações da Agência Minas10, existem 124 (cento e vinte
quatro) escolas nas unidades prisionais e nas Associações de Proteção e
Assistência aos Condenados (APACs), contando com 1.600 (mil e seiscentos)
professores e 7.000 (sete mil) presos matriculados no ensino fundamental, médio
e superior. (CONHEÇA O SITE DA AGÊNCIA MINAS)11
A unidade prisional com o maior número de indivíduos matriculados
está localizada na cidade de Três Corações (445 alunos), funcionando com dois
turnos e 13 (treze) salas de aula, bibliotecas e computadores.
Os professores que integram as escolas instaladas nas unidades
prisionais e APACs, Associações de Proteção e Assistência aos Condenados,
estão subordinados à Secretaria de Estado de Educação, inclusive contando
com pedagogos do próprio Sistema Prisional, que balizam as diretrizes
educacionais.
Quanto ao direito à saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS),
constituído, como vimos, a partir dos deveres do Estado do art. 196 da CF,
também está consubstanciado em leis infraconstitucionais, tais como as Leis
Federais nº 8.142/1990 e nº 8080/1990.
De acordo com dados da própria Secretaria de Saúde, o SUS atende
aproximadamente 190 milhões de pessoas. Desse percentual, acredita-se que
quase 80% de indivíduos dependem exclusivamente desse sistema (MINAS

10
Acesso em 28 de abril de 2023. https://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/governador-e-
representantes-dos-poderes-assinam-protocolo-de-intencoes-em-apoio-as-apacs-em-minas
11
Acesso em 07 de maio de 2023. https://www.agenciaminas.mg.gov.br/

28
GERAIS, 2022), cujo financiamento é realizado através de recursos da União,
dos Estados e Município por meio de impostos e outras fontes de financiamento,
conforme art. 4º da Lei n. 8.080/1990:

Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos


e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da
Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder
Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).
§ 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas
federais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e
produção de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e
hemoderivados, e de equipamentos para saúde (BRASIL, 1990).

REFLEXÃO IMPORTANTE

O IPL tem suprimida sua liberdade e, assim, uma série de direitos


que, apesar de não constarem em sentença judicial, ou ainda, nos termos da
lei, imprescindem da liberdade para o seu exercício. COMO COMER SEM TER
ONDE BUSCAR ALIMENTO? COMO SE PROTEGER DO FRIO, SEM
ACESSO A ROUPAS? COMO IR AO MÉDICO SEM AUTORIZAÇÃO PARA
SAIR DE ONDE ESTÁ? Essas perguntas são fáceis de serem respondidas!
Como esses direitos do ser humano NÃO são condicionados pela aplicação
da pena, o DEVER LEGAL de oferecer acesso a eles é do ESTADO e, nesse
sentido, da POLÍCIA PENAL.

É a estrutura do Sistema Prisional a responsável pela alimentação


adequada do IPL, o oferecimento de roupas e agasalhos suficientes para seu
uso e conforto e a oferta de meios de saúde e, inclusive, de condução aos
serviços de saúde para o IPL que assim necessite.
Estruturas como o SUS reconhecem a vulnerabilidade das pessoas,
o que não é diferente em relação aos IPL. Por isso, o SUS é uma política pública
de saúde e assistência às pessoas que necessitem de alguma forma de
tratamento à saúde (BRASIL, 1990).
Cabe, ainda, menção fundamental ao Direito ao Trabalho. É o direito
social citado pelo art. 7º da CF. A LEP o considera um dever social, com
finalidade educativa e produtiva, totalmente relacionado ao princípio da
dignidade da pessoa humana.

29
Naturalmente, o regime de pena de cada IPL implica especificamente
em limitações ao exercício do trabalho. No regime fechado, por exemplo, não há
autorização para que o IPL exerça atividades junto à iniciativa privada fora das
extensões da unidade prisional, porquanto o seu regime determina que o
cumprimento integral da pena seja realizado em uma área de reclusão plena.
Guardadas as devidas peculiaridades o trabalho exercido por pessoas
privadas de liberdade necessita de atender às mesmas normas do trabalho
desenvolvido fora das unidades prisionais.
Contudo, o trabalho dos IPL não se sujeita às normas estabelecidas
pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sendo remunerado com uma
quantia mínima de três quartos do salário mínimo, sendo o produto auferido
empregado para cobrir a indenização dos danos causados pelo crime,
assistência à família, despesas pessoais e o ressarcimento ao Estado, conforme
descrito na legislação.
A LEP prevê duas hipóteses para o trabalho: o interno e o externo.
O trabalho interno é uma obrigação do IPL; exceto no caso de IPL
em prisão-cautelar, em que o trabalho é facultativo e só pode ser realizado dentro
do estabelecimento prisional.
Já o trabalho externo só poderá ser realizado por presos em regime
fechado em obras ou em serviço da Administração Direta ou Indireta, desde que
a administração penitenciária tenha a capacidade de organizar a logística que
previna fugas e promova a disciplina.
Dados recentes apontam que, em Minas Gerais12, aproximadamente
12.231 (doze mil, duzentos e trinta e um) IPL exercem diversos tipos de
atividades laborais, desde limpeza e manutenção das unidades prisionais até
trabalho em empresas instaladas e com parcerias nesses locais.
Empresas que firmam parceria com unidades prisionais recebem o
"SELO RESGATA”, uma iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública,
como forma de reconhecimento de suas responsabilidades sociais. No ano de
2018, o estado de Minas Gerais registrou 106 empresas, totalizando 53% de

12
MINAS GERAIS. Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional de Minas Gerais. Secretaria de Estado de Educação e
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Belo Horizonte, 2021.

30
certificação das instituições no país, o que demonstra o valoroso empenho da
SEJUSP em promover a humanização no cumprimento da pena.
O trabalho possui dupla função, a de estabelecer a responsabilidade
social das empresas e, por outro, auxiliar os IPL a cumprirem sua sentença e
buscarem a integração social, por meio da experiência do trabalho, da inclusão
própria de se constituir como um ser humano produtivo e de ter oportunidades
profissionais futuras, em razão da capacitação apurada, a partir do conhecimento
adquirido.
IMPORTANTE: Assim, como a educação, o trabalho também se
relaciona diretamente com a REMIÇÃO da pena. a LEP, como vimos, no art. 126
e seguintes, as regras para que o IPL que trabalhe venha a remir a pena a que
deve cumprir.
Notemos, então, que a palavra-chave que expressa a questão
relativa à preservação dos direitos do IPL e humanização, de fato, é a de
que eles são seres humanos em extrema vulnerabilidade e, apenas por
limitar a liberdade da pessoa, a PRISÃO é uma estrutura que coloca em
risco o exercício dos seus direitos.
Como vimos na reflexão acima, uma série de direitos é condicionada
à liberdade de locomoção das pessoas e, assim, a impossibilidade de exercitar
o direito à liberdade, culmina por acarretar uma série de deficiências no processo
decisório acerca do que se pode / necessita fazer. Um IPL precisa consultar a
estrutura do Sistema Prisional e, muitas vezes, o Juiz das Execuções, para
quaisquer situações que não sejam usuais (rotineiras) no dia-a-dia do
cumprimento da pena.
Assim, o IPL está em uma situação de permanente dependência
das burocracias do sistema prisional para que o exercício de seus direitos
se efetive. É nesse sentido que ele permanece numa condição de
permanente vulnerabilidade.

3.2.c. Dos direitos descritos na LEP


Senhores e senhoras, acostumem-se com a nomenclatura LEP. Ela é
a lei que regula a estrutura do sistema prisional. Destaquemos, então, alguns

31
dos direitos registrados na legislação, com a finalidade de garantir direitos do
apenado:

Tabela 3. Espécie de assistência aos sujeitos privados de liberdade

Espécie de assistência Fundamento jurídico Tipo de assistência

MATERIAL Artigo 12 da LEP. Alimentação, vestuário, instalações e


materiais de higiene
SAÚDE Artigo 14 da LEP. Ações de caráter preventivo e curativo,
compreendendo atendimento médico,
farmacêutico e odontológico.
- Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária,
essa será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento.
- Acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e pós-parto, extensivo ao recém-nascido.
JURÍDICA Artigo 15 da LEP. Defensoria Pública para presos e
internados sem recursos financeiros para
constituir advogado.
EDUCACIONAL Artigo 17 da LEP. Instrução escolar e profissional, inclusive
superior
SOCIAL Artigo 22 da LEP. Amparar o preso e o internado e
prepará-los para o retorno à liberdade.
RELIGIOSA Artigo 17 da LEP. Liberdade de culto e de posse de livros de
instrução religiosa.
- Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa.

ASSISTÊNCIA AO EGRESSO Artigo 25 da LEP. Orientação e apoio para reintegração


social, se necessário, com fornecimento de
alojamento e alimentação por 2 (dois)
meses, prorrogáveis por igual período
Fonte: Dos autores – Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/1984).

3.2.d. Estudo de Caso: A importância dos direitos à saúde dos IPL

Esclareçamos que poderíamos discernir acerca de quaisquer direitos


fundamentais da pessoa privada de liberdade. Escolhemos o case do direito à
saúde, porque superamos há pouco uma crise sanitária que acendeu o sinal
amarelo da sociedade acerca dos problemas relativos ao sistema prisional.

É muito grande o desafio!

Em específico, segundo o estudo “Sistema Prisional em Números”,


elaborado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), no Brasil,
haviam 168 (cento e sessenta e oito) unidades prisionais aptas a fornecerem

32
tratamento médico de emergência, apenas 113 (cento e treze) a assistência
odontológica e não mais do que 19 (dezenove) os serviços de maternidade
infantil (BRASIL, 2018).

De outra sorte, porém, o mesmo estudo (BRASIL, 2018) destacou que


94,78% dos IPLs da região sudeste participaram dos Programas SUS de
Vacinação, esse é uma importante política pública para oferecer dignidade a
pessoa do condenado.

Apenas para ilustrar, situamos tabela com outras espécies de


tratamento de saúde oferecidas na região sudeste para instruir o estudo.

Tabela 4. Acesso à saúde sistema carcerário - região sudeste


Espécie de tratamento de saúde (ano-base 2018) Total Percentual

Tratamento médico emergencial 168 73,04%

Assistência médica 145 63,04%

Assistência odontológica 113 49,13%

Assistência farmacêutica 136 59,13%

Vacinação 218 94,78%

Medicamentos de uso contínuo 201 87,39%

Presos com doenças infectocontagiosas 94 40,87%

Presos com doenças sexualmente transmissíveis 151 65,65%

Medicamentos para doenças infectocontagiosas e doenças 181 78,70%


sexualmente transmissíveis ou AIDS
Fonte: Sistema Prisional em Números (CNMP).

Humanizar junto ao sistema prisional é perceber e trabalhar pela


valorização das pessoas privadas da liberdade, sendo uma ação como essa
– a partir do sistema de saúde – uma relação entre o usuário (IPL), os
profissionais Analistas, Assistentes e Técnicos, o policial penal e a alta
gestão do sistema prisional do Estado.
O SUS – Sistema Único de Saúde – é meramente uma das políticas
públicas envolvidas no PNH – Programa Nacional de Humanização, que não
possui um viés específico para as unidades prisionais, mas que pode nos

33
oferecer uma visão perfeita do tema de humanização do atendimento em
unidades prisionais.
Apenas como exemplo, o PNH empreende seus esforços a partir de
preceitos de alteridade13, oferecendo cuidados e respeito aos IPLs e a qualquer
pessoa, na sociedade, sendo uma política capaz de influenciar culturalmente a
percepção do que é política pública (SANTA CATARINA, 2014b).
Deve-se alertar que este trabalho utiliza o conceito de alteridade como
sendo a capacidade de reconhecer a natureza ou condição do que é outro, do
que é distinto, situação, estado ou qualidade que se constitui por meio de
relações de contraste, distinção e diferença.

Figura 2. Humanização do Sistema Único de Saúde

Fonte: Universidade Federal de Santa


Catarina (Adaptado pelos autores).

Aplicada ao sistema prisional, uma política de humanização como o


PNH/SUS obedece a três aspectos principais: ético, estético e político.
A ÉTICA representa “as razões que ocasionam, alteram ou orientam
a maneira de agir do ser humano, especialmente as que estão na base de
quaisquer regras, preceitos ou normas sociais”14. O aspecto ético representa o
compromisso e a responsabilidade dos usuários, trabalhadores e gestores do
sistema e, no caso, dos IPLs, policiais penais e a alta gestão do sistema prisional
do Estado.

13
ALTERIDADE: qualidade do que pertence ou é de outro (envolvendo o altruísmo de perceber
a vontade, o entendimento, necessidade da outra pessoa, e não apenas a própria vontade ou
necessidade). Acesso em https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/conceito-alteridade.htm
14
Disponível em https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e-sociologia/o-que-e-etica.htm. Acesso em
07 de maio de 2023.

34
Pela ESTÉTICA, a humanização está relacionada com as práticas
criativas nas atividades de saúde, aplicáveis sob quaisquer hipóteses, em
quaisquer lugares, para quaisquer usuários.
E pela POLÍTICA, a humanização estrutura-se com a “organização
social e institucional das práticas de atenção e gestão na rede dos SUS”.

Figura 3. Humanização do Sistema Prisional no Estado de Minas Gerais

HUMANIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL

ÉTICA ESTÉTICA POLÍTICA

Fonte: Autores.

REFLEXÃO IMPORTANTE

Apenas para contextualizar, a ampla aplicação dos conceitos


situados acima, adotemos o viés da LIBERDADE CULTO no ambiente
prisional.

Em ÉTICA, há um conjunto de normas jurídicas, que tem origem no


inc. VI, do art. 5º da CF, que determinam a LIBERDADE DE CULTO como
direito fundamental do ser humano e, nesse sentido, do IPL.

Na ESTÉTICA, as unidades prisionais constituem espaços para


que os IPL possam se reunir de maneira organizada e proativa, para a
celebração de cultos religiosos, bem como, autorizam e permitem acesso a
bibliotecas internas, para que tenham consigo livros para instrução religiosa.

Na POLÍTICA, os órgãos de Estado e a sociedade civil


compreendem que o exercício da religiosidade é um meio de o indivíduo se
desenvolver, principalmente no que condiz ao cumprimento de
responsabilidades e da ressocialização, tanto que o Estado possui parceria
com diversas organizações religiosas, incluindo a APAC (com origem na Igreja
Católica), que buscam diminuir a vulnerabilidade do indivíduo e seu resgate do
meio da criminalidade.

35
Destarte, a consecução dos objetivos de humanização a partir dos
três aspectos supramencionados envolve tríplice inclusão. Vejamos exemplos
relativos aos serviços prestados pelas Unidades Prisionais do Estado:
1º PLANO: a inclusão de todos os sujeitos, haja vista o princípio da
alteridade e do respeito aos direitos individuais, nesse sentido, do IPL que
precisa ter seus direitos básicos respeitados pelo Estado (saúde,
alimentação, provimento material básico, educação, trabalho).
2º PLANO: a inclusão dos coletivos, redes e movimentos sociais; que
no contexto atual influenciam na tratativa de alguns grupos, principalmente os
mais vulneráveis, sejam eles social, econômico ou político, tais como
organizações que trabalham pela inclusão, educação ou desenvolvimento de
IPL.
3º PLANO: a inclusão dos próprios policiais penais e gestores do
sistema prisional, cujas atividades têm como finalidade o controle da
aplicação da pena, mas também, do eficiente exercício dos direitos e
obrigações dos IPLs, permitindo a sensação ao próprio policial penal de
que está fazendo o melhor, DE QUE ESTÁ CUMPRINDO A LEI, e que há uma
esperança real de que as relações no âmbito do cárcere se revistam de
preceitos de humanidade, diminuindo a VIOLÊNCIA SIMBÓLICA que tende
a ser a marca permanente do que ocorre no cárcere.

Figura 4. Tríplice inclusão no processo de humanização

Fonte: Dos autores

36
3.2.e. A humanização do Policial Penal
Não poderíamos deixar de lado esse viés da ideia de humanização.
Não se faz humanização em uma organização sem que se possa oferecer
humanização para os profissionais que militam junto ao sistema prisional.
Compreender a complexidade da situação do IPL, a vulnerabilidade a
que está submetido, o risco permanente de ter seus direitos subvertidos é uma
obrigação do Policial Penal, mas é essencial que possamos capacitá-lo para
oferecer-lhe mais e melhor e, para isso, vale o seguinte dizer popular: NINGUÉM
DÁ O QUE NÃO TEM!
As ações de humanização são conectadas, transversais e
capilarizadas, de forma que a SEJUSP compreende que a capacitação e o
respeito ao Policial Penal são essenciais para que possa ofertar as melhores
respostas às demandas operacionais de rotina do serviço no cotidiano prisional.
Dessa forma, a Superintendência de Humanização do Atendimento -
SHUA possui uma série de cuidados com a formação dos profissionais que
atuam no Sistema Prisional. Por isso, a importância dessa temática ána
formação do futuro policial penal do Estado de Minas Gerais.
De fato, cada unidade do sistema prisional possui características
próprias, mas há amostras de questões que se repetem e que demandam
atenção do policial penal. Elencamos algumas dessas circunstâncias:
a) IPL com problemas familiares graves: adoecimento ou falecimento
de parente próximo, fome, abandono familiar, família sob ameaça do crime
organizado, família extorquida por policiais corruptos;
b) IPL vítima de violência no ambiente prisional: homicídio, tortura,
induzimento ao suicídio, violação sexual, limitação de direitos imposta por outros
IPL;
c) IPL em sofrimento mental ou físico: deficiência física/mental,
adoecimento (câncer, problemas cardíacos ou respiratórios, entre outros),
adicção (dependência química por drogas de abuso), alta ansiedade, extrema
solidão, depressão profunda, problemas relacionados à sexualidade.
d) IPL e a gravidez: mulheres que podem ter sido abandonadas pelo
parceiro, muitas vezes abandonada pela família, que passam pelo rigor de um

37
processo pré-natal (antes do nascimento), no parto e pós-parto, muitas vezes,
sem suporte familiar, apesar das estruturas a disposição, posto que o abandono
familiar é uma das marcas mais importantes em relação à mulher apenada,
sendo muito desolador o sofrimento da pessoa, do nascituro e o futuro que se
apresenta.
Destaquemos que o Policial Penal também é um ser humano, e como
tal, é vítima do mesmo processo de violência simbólica, ao deparar com pessoas
em sofrimento, rotineiramente.
O fato de o policial penal se sentir incapaz de ajudar o ser humano-
IPL tem PODER de afetar o próprio profissional. Não é sem motivo que há
programas de proteção e de suporte emocional ao profissional Policial Penal,
posto ele lida com essa violência simbólica todos os dias!

4. PRINCIPAIS PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ATENÇÃO ÀS PESSOAS


PRIVADAS DE LIBERDADE
Como há um conjunto de diretivas que partem da SHUA, as unidades
prisionais do Estado de Minas Gerais, em regra, desenvolvem as atividades de
humanização considerando as orientações e resoluções oficiais.
Contudo, a dinâmica e a disposição da estrutura do sistema prisional
ao longo do imenso território do Estado determinam que seja normal que as
diretrizes sofram adaptações pertinentes, de acordo com as características da
região e estrutura de parcerias que logram empreender.
Assim, é normal que uma unidade prisional em Governador Valadares
constitua ações distintas de uma unidade em Caxambu. As peculiaridades e
oportunidades devem ser orientadas pela SHUA, em parceria com os diretores

38
de cada unidade, que estão em contato permanente com a superintendência e,
principalmente, reconhecem as possibilidades locais.
Destaquemos, então os principais programas a partir de estudos de
casos e normas vigentes, que demonstram de maneira transparente o vigor da
SEJUSP e do DEPEN em empreender, em conjunção com a SHUA, uma rede
de ações, políticas e programas que transformem paulatina e progressivamente
o Sistema Prisional do Estado de Minas Gerais, a partir da humanização do
atendimento geral ao IPL, seus familiares e, por que não, do próprio Policial
Penal envolvido nas ações.

4.1. Qualidade de Atendimento


A SEJUSP editou a Resolução nº 1618/201615, na qual preconiza o
desenvolvimento de um sistema de gestão pela qualidade, pela importância da
procedimentalização da atuação do Policial Penal, em diversas searas da rotina
no âmbito da estrutura prisional.
Dentre os vários motivos, a política de qualidade impõe processos de
capacitação permanente, com o fito de aumentar a eficiência das ações dos
policiais penais e, nesse sentido, a diminuição dos pontos de estresse
decorrentes do trabalho mau desenvolvido, em desrespeito ao rigor técnico.
O Policial Penal executa ações internas e externas à unidade
prisional, se relaciona com os IPL, mas também com profissionais de diversas
áreas, como advogados, médicos, policiais civis e militares, juízes e promotores,
empresários interessados em parcerias ou com empreendimento instalados
junto ao sistema prisional, organizações sociais que militam na seara dos direitos
humanos, religiosos, entre outros, mas principalmente, com os familiares e
amigos dos IPL.
Um sistema de qualidade em atendimento prisional é uma poderosa
ferramenta para determinar padrões mínimos de desempenho nas diversas
rotinas da atuação.

15
Resolução nº 1618/2016, disponível em
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariadeadministracaoprisi
onal/Resolucao-07-07-2016.pdf

39
Destacamos indagações que são efetivamente respondidas em
outras disciplinas do curso, mas é essencial que contextuemos como preceitos
de humanização, para que o novel Policial Penal possa identificar com clareza
como a eficiência é essencial para a obtenção dos melhores resultados.
Indaguemos, então, certos de que não vamos responder a essas
questões, mas demonstrarmos a importância do sistema de qualidade, que
padroniza procedimentos, para humanizar o atendimento junto ao sistema
prisional:
a) Como proceder na acolhida do IPL na unidade prisional?
R: O IPL que chega a um novo estabelecimento, normalmente, tem
mais dúvidas do que certezas, se sente acuado. Um procedimento sobre
acolhida determina um padrão de diálogo a ser seguido, que possibilita
segurança ao IPL e diminuição da tensão sobre o ingresso no estabelecimento.
b) Como é o cadastro do parente do preso para a visitação?
R: O parente do preso é uma pessoa, muitas vezes, vulnerável e
que desconhece sobre como proceder, principalmente, quando está diante do
sistema ou de um estabelecimento prisional pela primeira vez. Quando o parente
é bem recebido pelo Policial Penal, ele transmite uma boa mensagem para o IPL
e diminui a tensão do sistema. Um procedimento padrão sobre acolhimento
determina comportamentos do Policial Penal, inclusive de apoio e de
comunicação, fortalecendo a cultura para melhoria e humanização geral do
atendimento.
c) Quais são ações corretas para movimentação interna dos IPL?
R: A movimentação interna dos IPL pode acontecer diante de
diversas circunstâncias. Num exemplo em que decorra de um desentendimento,
de uma briga, determina uma imediata transferência de um IPL para outra ala da
unidade. Isto determina como o Policial Penal deve seguir um padrão que
demonstre ao IPL total controle de ações, capacidade de intervenção e
segurança plena de procedimentos. Um procedimento padrão, seguido à risca
diminui a necessidade de emprego de força física e transmite a imagem de
eficiência para os demais IPL.

40
d) Como deve ser a revista e a algemação do IPL?
R: Todos os dias, jornais de televisão mostram abordagens
policiais desastradas, sem um procedimento delineado, com profissionais
atuando separadamente, sem um senso de equipe. Um procedimento bem-
sucedido de revista e algemação, além de diminuir a necessidade do emprego
de força por parte do Policial Penal, mitiga os riscos na atuação e demonstra ao
IPL eficiência a partir da disciplina de procedimento, respeito pela legalidade
estrita nas ações e pelo diálogo.
e) Como são distribuídas as funções entre os Policiais Penais em
uma escolta externa?
R: Um IPL e quatro Policiais Penais dentro de uma viatura policial.
O IPL não pode ser o único a saber exatamente o que fazer. A distribuição de
funções permite menor fluxo de comunicação, menor necessidade de
intervenção, menos estresse e a certeza de que a equipe é forte e respeitosa em
relação aos procedimentos e a lei.

4.2. Humanização e Individualização da Pena


Nas unidades prisionais do Estado de Minas Gerais, é concebido o
PIR – Plano Individualizado de Ressocialização, por uma comissão técnica
multidisciplinar, que avalia os antecedentes e a personalidade, nos termos do
art. 5º e seguintes da LEP.
O PIR é realizado pela CTC – Comissão Técnica de Classificação,
aplicada tanto ao IPL apenado, quanto ao provisório. Indicamos que o futuro
Policial Penal acesso o presente link, que apresenta conceitos e documentos
importantes para o seu conhecimento.

A comissão é composta, nos termos legais, por 2 (dois) Policiais


Penais chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente
social, mas é normal no Estado de Minas inclua o diretor de atendimento e
psicossocial da unidade prisional, 1(um) enfermeiro, 1(um) pedagogo, o gerente
de produção da unidade prisional e o secretário da CTC, sendo presidida pelo
diretor da unidade prisional, em relação ao IPL condenado.

41
O PIR inclui perspectivas de atitudes para que o IPL possa
desempenhar papéis de trabalho e capacitação, visando demonstrar resultados
em favor de sua ressocialização. Há, nesse sentido, uma relação direta entre
plano, comportamento e conduta do IPL, a concessão de benefícios e o
envolvimento dele em projetos de inclusão e de integração social.
Destaque-se que o CTC possui cuidado permanente em relação às
minorias e grupos mais vulneráveis, no ambiente prisional. O NUGE+, como é
denominado o Núcleo de Atenção às Mulheres e Grupos Específicos (idosos,
homossexuais, transsexuais, bissexuais, lésbicas, gays, queer, intersexuais,
assexuais e não-binários, pessoas com deficiência, estrangeiros, indígenas e
quilombolas, pessoas com transtorno mental, entre outros) atua no
monitoramento de demandas relacionadas a esses grupos e no desenvolvimento
de ações de inclusão e de proteção a essas pessoas.
O ambiente interno de uma unidade prisional possui características
bem próprias, que podem gerar processos de exclusão muito severos a
determinados grupos, acarretando violências diversas, como homicídios,
perversidades, tortura, violência sexual e uso de drogas de abuso, entre outros
delitos, que culminam por afetar essas pessoas, em específico, pela condição
que ostentam.A SEJUSP, a partir do SHUA e da DCT, auxiliada pela CTC,
elaboraram uma série de normas e procedimentos específicos, com fulcro na
proteção desses grupos, a saber:
a) Aos LGBTQI+ está em vigor a Resolução SEJUSP nº 173, de 21 de
julho de 2021;
b) Aos IPL estrangeiros, vige o Memorando Circular nº
550/2020/SEJUSP/DSP;
c) Aos idosos, aplica-se o Estatuto da Pessoa Idosa, Lei nº 10.741,
de 1º de outubro de 2003;
d) Em relação aos indígenas, entre outras normas, está em vigor a
Nota Técnica n.º 53/2019/DIAMGE/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MJ;

42
e) Quanto às mulheres, além da área específica da LEP, está em
plane vigência a Nota Técnica n.º
17/2020/DIAMGE/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MJ, sobre o assunto.

A SHUA, a partir da Diretoria de Classificação Técnica – DCT, orienta


e fiscaliza a atuação das CTC, nas diversas unidades, para que não haja
afrouxamento das perspectivas de reintegração social das pessoas privadas de
liberdade no Estado.
O sistema prisional precisa manter sempre o foco, posto que a
violência simbólica é PERMANENTE, e o IPL precisa ser envolvido em ações
práticas rotineiramente, caso contrário, a letargia do sistema, numa concepção
aproximada do dito popular “a mente desocupada é oficina do diabo”, dificulta as
transformações necessárias para que o IPL se reintegre socialmente.
Bem executado, pela CTC, pela unidade prisional e pelo IPL, o PIR
tem o potencial de incluir o IPL em projetos, cursos, ações de capacitação,
estudo dirigido, desenvolvimento humano e trabalho efetivo. Nesse sentido,
vejamos algumas ações da SEJUSP, sob tutela do DEPEN, a partir da SHUA,
que possuem a finalidade de atender aos preceitos do art. 1º da LEP, no que
tange a harmônica integração social.
Na LEP (art. 28), o trabalho é condição de respeito à dignidade da
pessoa humano e sua finalidade é educativa e produtiva, ou seja, para capacitar
e fortalecer a ideia de que é possível viver de maneira sustentável, sem recorrer
ao crime como maneira de satisfação econômica.

4.2.a Programa Artesanato na Cela


O projeto ARTESANATO NA CELA16, concebido em 2013, é uma
ação presente em diversas unidades prisionais do Estado, cuja finalidade é
envolver o IPL em oficinas de produção de capacitação para a produção de
peças artesanais, que poderão ser comercializados.

16
Disponível em
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariadeadministracaoprisional/Cartil
ha-Artesanato-na-Cela.pdf

43
O projeto é uma grande inovação e uma ação de humanização, com
certeza! Indicamos ao futuro Policial Penal que acesse o material indicado e
perceba que a capacitação é desenvolvida a partir de monitoria, cuja ocupação
é de um IPL escolhido pela CTC, a partir da capacidade reconhecida em explicar,
coordenar trabalhos e envolver positivamente os demais.
Outra inovação ocorre em face de que os produtos são transmitidos
aos familiares, para que, em feiras, possam comercializá-los e auferirem uma
receita específica. O projeto induz positivamente o empreendedorismo e remete
o IPL a posição de colaborador de sua família!
Diversas unidades contam com o projeto, dentre elas as situadas em
Araçuaí, em Araxá, Caxambu, em Contagem e Montes Claros, entre outras
localidades.

Acesse:
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Artesanato-na-Cela.pdf

4.2.b Parcerias de Trabalho


O programa PARCERIAS DE TRABALHO é um conjunto de ações
desenvolvidas pela SHUA e outras superintendências do DEPEN. Ressalta-se
que os programas e projetos sempre se desenvolvem a partir da elaboração do
Programa Individualizado de Ressocialização - PIR, desenvolvido pelas
Comissões Técnicas de Classificação - CTC, nas unidades prisionais, que têm o
viés de, através da individualização da pena e compreensão especializada,
buscar a inclusão do IPL em atividades correlatas as suas necessidades,
aspirações, perspectivas, personalidade e conduta. Dessa maneira, o IPL deve
ser alocado na atividade que melhor contribuirá para sua ressocialização intra
muros e reintegração social futura.
A diferença básica entre um projeto, uma ação e um programa, é que
o programa é um sistema de ações e projetos, ou seja, é uma forma de a SHUA

44
organizar ações mais complexas, podendo atender um maior número de IPL, na
prática, obtendo resultados mais eficientes e apurados.
O programa é regulado a partir da uma cartilha, constante no site do
DEPEN17. Constam do programa uma rede de ações e projetos, resumidos
abaixo:
a) CARTÃO TRABALHANDO A CIDADANIA: pelo programa, a
remuneração do IPL, que antigamente era manipulada pelo Policial Penal (na
época denominado agente de segurança prisional), passou a ser depositada em
uma agência do Banco do Brasil, possibilitando repasse mais coerente para o
emprego da família do IPL;

Acesse:

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Conta-Beneficio.pdf

b) ACOLHIDA DO PRESO AO TRABALHO: pelo programa, apenas o


IPL que tenha ensino fundamental completo ou, pelo menos, matriculado
no ensino médio, pode se candidatar ao trabalho. A ação visa conscientizar
sobre a essencialidade do estudo para o desempenho de trabalho lícito em meio
a sociedade.
A CTC, então, apurando a capacidade/experiência individual do IPL,
conforme delineado no PIR, classifica o IPL candidato como apto para ocupar
uma vaga de trabalho. Esse processo, em regra, é realizado no processo de
acolhida do recém-ingresso na unidade prisional.
A CTC avalia a evolução do IPL no período de 12 meses,
acompanhando o trabalho, estudo, saúde, e conduta no decorrer desse tempo,
sendo o resultado fundamental para discernimento posterior acerca do direito do
IPL receber benefícios, como a progressão de regime e a remição, naturalmente,
desde que sua situação recomende e seus atos permitam que os alcance.

17
Disponível em
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariadeadministracaoprisional/Cartil
ha-Parcerias-de-Trabalho.pdf

45
C) OFICINAS DE TRABALHO: nas diversas unidades prisionais, em
todo o Estado de Minas Gerais, o sistema prisional agrega às estruturas uma
rede de oficinas que prestam serviço permanente para a própria unidade,
fornecendo produtos e serviços para o sistema, bem como, para a comunidade
onde estão inseridas, de acordo com as peculiaridades de cada uma.
As oficinas, muitas vezes, dependem da formação de parcerias entre
a unidade prisional e a comunidade ou a iniciativa privada. Esse trabalho é
acompanhado permanentemente pela SHUA, a partir de suas diretorias técnicas.
As unidades dispõem de oficinas diversas com a finalidade de
oferecer trabalho, capacitação e visão de como o empreendedorismo social e
lícito pode gerar bons resultados, a saber:
• Marcenarias
• Corte-Costura
• Padaria
• Oficinas Mecânicas
• Serralheria
• Tornearia
• Fabricação de pré-moldados
• Construção civil
• Materiais esportivos
• Circuitos eletroeletrônicos
• Artigos de plásticos e papéis, entre outras.

D) CONSTITUIÇÃO DE PARCERIAS COM A INICIATIVA PRIVADA:


em cada localidade, o sistema prisional busca divulgar e induzir positivamente a
formatação de parcerias formais entre o sistema e empresas ou sociedades civis
interessadas na inclusão social e na empregabilidade de IPL em suas estruturas.
O procedimento é facilitado, em razão de que as empresas possuem
vantagens operacionais e econômicas de excelência, como a isenção de
encargos trabalhistas (pois o trabalho do IPL não é regido pela CLT, mas pela
LEP – art. 28, §2º), não incidindo sobre o valor do trabalho o FGTS, o 13º salário

46
e as férias, sendo a remuneração do IPL limitada a ¾ (três quartos) do salário-
mínimo vigente.
As unidades prisionais disponibilizam espaço físico e estrutura para
abertura dos modelos de negócio, além da existência de incentivos fiscais para
a comercialização de alguns produtos.
Para o IPL, o trabalho permite, além da ressocialização, ajudar sua
família a partir da remuneração do seu trabalho; remição de parcela de sua pena,
experiência profissional e a consubstanciação de dignidade, tudo sob tutela da
DTP (Diretoria de Trabalho e Produção), da SHUA.

Acesse:

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Parcerias-de-Trabalho.pdf

4.2.c Trabalhando a Cidadania


O programa TRABALHANDO A CIDADANIA é uma rede de ações
coordenada pela SHUA, com envolvimento de todas as suas diretorias, com a
finalidade de empreender ações de ressocialização em diversas áreas distintas,
concatenadas entre si, com a finalidade de eliminar o ócio, de gerar envolvimento
dos IPL e das famílias, de incluir cultura, saúde, assistência social e jurídica no
dia-a-dia das unidades.
Um dos aspectos mais importantes desse trabalho é a compreensão,
por parte dos IPL de que as unidades prisionais não são jaulas ou depósitos de
gente, e que eles não são meramente um ônus, mas um objetivo vivo trabalhado
pela SEJUSP, de induzir transformação e prevenção da violência, a partir da
conscientização e reintegração social dos IPL.
Pelo programa, pretende-se conceber laços entre os IPL e as
comunidades onde estão situadas as unidades prisionais. Esses laços oferecem
pertencimento do IPL à comunidade e, assim, são um freio para que ele volte a
delinquir no futuro. Esse é efetivamente um grande trabalho desenvolvido pelo

47
sistema prisional, em prol de uma sociedade mais justa e menos voltada à
violência e a criminalidade.
O programa inclui diversas ações, a saber:
• Cultos ecumênicos e assistências multi religiosas;
• Orientação sobre drogas de abuso;
• Assistência jurídica integrada
• Orientações de saúde e psicossocial
• Ensino integrado e capacitação profissional
• Ciclos de palestras
• Programas de vacinação
• Exames médicos periódicos
• Dobradinha – para erradicação do analfabetismo
• Festipen – Festival de música na penitenciária
• Centro de Referência ao Atendimento à Gestante
Por fim, o Governo do Estado de Minas Gerais, em conjunto com a
SEJUSP, o DEPEN e a SHUA, desenvolveram um Plano Estadual de Trabalho
e Renda no âmbito do sistema prisional, fundamental para aprofundar as
mudanças e viabilizar a humanização do atendimento nas unidades de maneira
que se constituam em espaços de regaste de vida humanas desviadas da
sociedade,

Acesse:

PLANO ESTADUAL PELO TRABALHO E RENDA NO ÂMBITO DO SISTEMA


PRISIONAL

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/2022/Abril/MODELO_PLANO
_ESTADUAL___15_07_2021___17_41_1.doc.pdf

TRABALHANDO A CIDADANIA

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Trabalhando-a-Cidadania.pdf

ASSISTÊNCIA JURÍDICA

48
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Atendimento-Juridico.pdf

ASSISTÊNCIA RELIGIOSA E POLÍTICAS SOBRE DROGAS

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Assistencia-Religiosa.pdf

4.2.d Programa de Ensino e Capacitação


Os programas de Ensino e Capacitação são desenvolvidos e
acompanhados pela SHUA a partir da Diretoria de Ensino e Capacitação, a partir
de processos englobando educação básica, profissional, tecnológica e
superiores, além de ações socioculturais e esportivas.
Os processos educacionais são realizados a partir de parcerias e
projetos regulares junto à Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais,
bem como, com organizações sociais vocacionadas à capacitação e
desenvolvimento humano.
O ideal é que cada unidade prisional possua seu próprio pedagogo,
mas a Diretoria de Ensino e Capacitação oferece suporte à todas as unidades
do Estado de Minas Gerais. A SHUA, ainda, desenvolve projeto voltado à leitura
dirigida, pela qual o IPL pode se aperfeiçoar em diversos segmentos, a partir de
títulos específicos, disponíveis nas bibliotecas situadas nas unidades prisionais
do Estado.
Saibamos que a educação, tanto quanto o trabalho, são ações que
propiciam a REMIÇÃO DE PENA, cuja importância será discutida no próximo
tópico, em que enfocaremos o caráter de ressocialização dessas medidas, bem
como, de outros benefícios obtidos ao longo do processo de cumprimento da
pena.
A assistência educacional está expressamente indicada no art. 17 e
seguintes da LEP, havendo obrigatoriedade do sistema em trabalhar pela
erradicação do analfabetismo, a partir da determinação de que devam
frequentar, ao menos, o ensino fundamental.
Registre-se, ainda, o dever de o Estado manter nos estabelecimentos
prisionais uma biblioteca ativa, com livros recreativos, didáticos e instrucionais.

49
Por fim, o Estado de Minas Gerais concebeu um Plano de Educação
Especializado, retratando com profundidade os aspectos delineados nesta
apresentação (Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional de Minas Gerais – 2021), cujo link se
encontra listado abaixo, para consulta do nosso futuro Policial Penal.

Acesse:

PLANO DE EDUCAÇÃO AOS IPL

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/2021/MAIO/Plano_27833794
_PLANO_DE_EDUCACAO_de_MG_com_ajustes_07.04.pdf

PROGRAMA DE ENSINO E PROFISSIONALIZAÇÃO

http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Ensino-e-Profissionalizacao.pdf

4.2.e. Suporte à Visitação dos IPL


Um dos direitos mais sensíveis a que os IPL sofrem diz respeito à
visitação. A visitação é o momento, principalmente para os IPL em regime
fechado, em que eles podem revivenciar amor, carinho e bons momentos com a
sua família e amigos.
Respeitar esse momento é uma obrigação do sistema prisional e,
principalmente, do Policial Penal. Para muitos, esse momento é quase sagrado,
pois é a oportunidade de se sentirem como parte de algo mais, como a família,
quando a solidão do cárcere impõe uma percepção de abandono, de traição, de
discórdia, de desprezo pela condição do IPL, ainda que isso não seja
efetivamente verdade.
Por isso, o recebimento dos parentes e amigos do IPL é um momento
importante, pois revela o tratamento oferecido pelo Estado e a sociedade,
responsáveis pela aplicação da pena.
Há procedimentos específicos para o recebimento, como ACOLHIDA
dos visitantes, ainda que esse procedimento tenha uma fase policial importante,
na fiscalização de coisas e pessoas, antes que a visita se efetive.

50
O estudo específico sobre como proceder ocorre na disciplina de
Regulamentos e Normas do Sistema Prisional (RENP), e o que nos cumpre é o
destaque para que as ações de polícia, sobretudo, apesar de serem pontos de
tensão reais no ambiente prisional, podem (devem) ser efetivadas com respeito
e educação.
O Policial Penal deve dar atenção ao Procedimento Operacional,
verificar pertences e visitantes, contudo, demandas sensíveis que fogem ao
protocolo são comuns e requerem atenção e tratamento significativo. É comum
a existência de visitantes como crianças, adolescentes, idosos, pessoas com
deficiência física ou mental, analfabetos, pessoas autodeclaradas homossexuais
e transsexuais, entre outras questões que requerem sensibilidade do
profissional.
Alteridade, é o que o Policial Penal deve sentir! Colocar-se na
condição do outro é perceber que são pessoas vulneráveis, com dificuldades,
precisam de um suporte especial, que requerem controle (é fato), mas respeito,
sempre!
Por exemplo, quanto a visitação. Há um direito formal de o IPL receber
visitas. Contudo, há costumes e regras importantes que estão além do direito,
que dizem respeito à dignidade das pessoas! Os IPL devem ser respeitados na
preparação da área de visitação. É normal que queiram lavar o chão, preparar o
espaço para a acolhida aos seus parentes, que tenham sentimentos alterados
em relação à visita, no antes, durante e depois.
Esse é um momento em que a limitação de direitos, apesar de
essencial, deve se ater à mínima necessária, devendo o Policial Penal na medida
do possível, permitir que as pessoas possam ter bons momentos juntos,
valorizando a família e a perspectiva que o IPL possa nutrir acerca da liberdade.
Saibamos, a lei é um requisito de dignidade e humanização, mas ela
é uma baliza, ou seja, há outros regramentos não menos importantes, como
educação, respeito e moral.

4.2.f. Programas Parceiros


A presente apostila destaca o intuito dos programas desenvolvidos
pela SHUA de se envolverem com outros órgãos da sociedade civil e da própria

51
administração pública. Poderíamos elencar dezenas de programas, mas a visão
de humanizar é mais importante do que estudar todos os programas.
Nesse sentido, a SEJUSP, o DEPEN e a SHUA atuam em parceria
com o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) em um programa
denominado PROGRAMA NOVOS RUMOS18.
O Novos Rumos opera em favor da humanização, auxiliando no
fomento (investimento) em projetos de inclusão e humanização no âmbito
prisional e socioeducativo visando a reinserção social, sobretudo.
O programa possui forte participação das APACs que em outras
disciplinas são objetos específicos de estudo como estruturas da sociedade civil
que operam junto à inclusão de pessoas condenadas. O programa também atua
junto às pessoas privadas de liberdade acometidas por adoecimento mental,
com o Programa de Atenção ao Paciente Judiciário (PAI-PJ).
O Novos Rumos monitora as ações das unidades do sistema prisional
e possui contato direto com o SHUA, no processo de fiscalização e edificação
de políticas públicas.
Conheça o NOVOS RUMOS, acessando o link abaixo:

Acesse:

PROGRAMA NOVOS RUMOS - TJMG

https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/acoes-e-programas/programa-novos-
rumos.htm#.ZFa3CHbMK3A

4.3. OS BENEFÍCIOS COMO FATORES DE HUMANIZAÇÃO


Vivemos em uma sociedade em que o mérito deve ser reconhecido.
Os senhores e senhoras, futuros Policiais Penais, estão estudando o presente
conteúdo em uma etapa instrucional de um competitivo concurso público, e o
bom desempenho, aliado à ética de trabalho dos senhores serão
recompensados, com uma ótima classificação final e, por conseguinte,
nomeação ao cargo de Policial Penal do Estado de Minas Gerais.

18
Disponível em https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/acoes-e-programas/programa-novos-
rumos.htm#.ZFa3CHbMK3A

52
Há um processo muito semelhante com os indivíduos privados de
liberdade, como se fosse um concurso permanente, ao qual eles estão
submetidos, no curso do cumprimento da reprimenda judicial publicada em
sentença.
De acordo com a sua postura, compostura e empenho no
cumprimento da pena, o IPL terá direitos que o distinguirão a partir do seu mérito.
Destacamos abaixo algumas ferramentas legais que são, efetivamente, marcas
da humanização, essenciais para a ressocialização e harmônica integração do
IPL perante a sociedade.
Os senhores estudaram tais ferramentas em outras disciplinas do
curso, de maneira que, o único foco do presente estudo, é a compreensão da
essencialidade dessas ferramentas jurídicas como meios de ressocialização e
humanização do atendimento às pessoas privadas da liberdade

4.3.a. Humanização pelo tempo de cumprimento de pena


Os senhores estudarão em outras disciplinas que a REMIÇÃO do
tempo de cumprimento de pena é, efetivamente, um perdão auferido pelo IPL
que cumpre determinadas situações. De fato, quando o IPL faz jus a tal direito,
seu bom comportamento, sua postura exemplar e seu conduta a partir das
indicações constantes do seu PIR determinam que ele seja inserido nas
atividades de ressocialização.
Nesse sentido, há uma relação direta entre DISCIPLINA DE
TRABALHO X CONDUTA EQUILIBRADA X RESULTADO, algo que foi
concebido junto às normas com o fito de oferecer ao IPL uma perspectiva de
escolher entre o certo e o errado, com a certeza de que as boas escolhas (as
escolhas certas) oferecerão a ele recompensas.
CUIDADO! Não estamos discorrendo sobre o instituto da
REMISSÃO, que se situa em outra temática penal, relacionada à
modalidade de extinção da punibilidade, sem qualquer relação com a
temática em questão.
A REMIÇÃO está prevista no art. 126 da LEP e seguintes.
A) PELO ESTUDO: Ela premia a disciplina de o IPL estudar
regularmente e, ainda mais, de completar sua formação em um curso formal,

53
tendo sua pena perdoada parcialmente de acordo com o seu mérito, tudo pelo
fato de que sua postura demonstra que ele quer ser melhor do que é, que
ele procura uma nova forma de viver em meio a sociedade!
B) PELA LEITURA19: O IPL tem o direito regulamentado de remição
de sua pena a partir de uma leitura qualificada de obras selecionadas. Indicamos
a leitura do artigo do CNJ, retratando sobre a regulação da matéria, é mas
fundamental destacarmos que o fulcro da medida visa a implantação de uma
cultura positiva, que permeie o desenvolvimento humano e o conhecimento, para
que as mazelas da “vida no crime” diminuam suas influências na vida dos IPL.
Leia a matéria abaixo, constante da referência.
C) PELO TRABALHO: O IPL que se dedica ao trabalho, além de ter
reconhecido o direito a ser remunerado por suas atividades, também recebe o
direito da remição de pena, para que possa compreender que o trabalho
transforma a vida das pessoas, positivamente, e isso pode acontecer ao longo
de sua vida, depois de que deixar o cárcere, desde que desenvolva como ser
humano e profissional!
A estrutura da remição foi concebida com a finalidade de enredar o
IPL em um movimento positivo de desenvolvimento humano, para que ele possa
compreender que o estudo e o trabalho são reconhecidos em meio à sociedade,
e são fatores de inclusão social e de oportunidades positivas, capazes de
fortalecer o indivíduo e diminuir sua vulnerabilidade diante da vida!

4.3.b. Humanização pela PROGRESSÃO DO REGIME de pena


A progressão do regime de pena, exaustivamente discutida em outras
disciplinas, desta feita, é apenas objeto de avaliação em relação à sua
capacidade de humanizar as estruturas da prisão.
Correm as “estórias” entre policiais penais mais antigos, acerca de
rebeliões. Dentre essas “estórias”, ocorrem regularmente relatos de que, em
meio a um caos, alguns IPL permanecem inertes, em suas celas, dobrando suas
roupas, efetuando leituras, orando, ou simplesmente conversando
pacificamente, enquanto outros estão “em pé de guerra”.

19
Dispnível em https://www.cnj.jus.br/regulamentada-a-remicao-de-pena-por-estudo-e-leitura-na-prisao/

54
Não são “estórias”, mas histórias comuns! Podem não virem
acompanhadas de data/hora/local, mas são ocorrências reais em eventos ruins,
que demonstram o poder que medidas de benefício exercem sobre os IPL,
principalmente, quando são colocadas em risco!
A PROGRESSÃO DE REGIME é uma medida prevista no Código
Penal (art. 33 CP) e na LEP (art. 112 LEP), e sua finalidade é possibilitar a
passagem do IPL que está cumprindo pena para outro regime mais benéfico e
menos gravoso, atentando-se, contudo, para requisitos objetivos e subjetivos,
sendo neste último essencial a análise de comportamento.
Com a progressão, o IPL percebe uma mudança essencial no
exercício dos direitos, ao longo do cumprimento da pena! Há mudanças
fundamentais entre os REGIMES FECHADO, SEMIABERTO e ABERTO, desde
os locais em que o cumprimento de pena ocorre, as oportunidades de estudo e
trabalho e, mais a possibilidade de convivência com a sua família.
Um IPL em regime fechado, somente deixa as dependências da
unidade prisional para atender requisições judiciais, ou ainda, em situações de
permissão de saída, que não são momentos agradáveis, porquanto não surgem
de sua deliberação.
As permissões de saída estão disciplinadas no art. 120 da LEP,
apenas para atender ao falecimento ou doença grave de parente próximo ou
para tratamento médico não disponível na unidade, sempre sob custódia e por
tempo reduzido.
Por sua vez, o IPL que progride ao regime semiaberto passa a ter
direito às saídas temporárias. Com previsão situada no art. 122 da LEP e
seguintes, ela permite que o IPL deixe a unidade apenas para visitar a família (e
durma fora da unidade).
Além disso, permite que ele frequente cursos fora da unidade prisional
e conviva com pessoas em liberdade, sem que estejam no convívio previsto pela
visitação. Por fim, a norma cita autorização para que o IPL participe de
“atividades que concorram para o retorno ao convívio social”, o que demonstra
o viés da medida de aproximar o IPL da sociedade e, principalmente, que ele
possa estabelecer vínculos positivos para sua inclusão.

55
Sem a necessidade de aprofundamento, nesta disciplina, sobre o
funcionamento dessas medidas, nos cumpre ressaltar o ganho de qualidade de
vida para o IPL que muda de regime, de um mais gravoso, para um menos
gravoso.
Compreendamos que a gravosidade de um regime reside, de certo,
no grau de exclusão que ele determina, a partir das limitações à liberdade
impostas. Como vimos em outras oportunidades, direitos são tolhidos ao IPL
enquanto é submetido à perda da liberdade e, no decorrer da progressão de
regime, ele retoma paulatinamente o acesso ao que antes lhe era próprio.

4.3.c. Humanização pela LIBERDADE CONDICIONAL


A própria ordem dos institutos, nesta apostila, foi escolhida para
demonstrar a preocupação com a progressiva reinclusão do IPL junto à
sociedade.
Na natureza da pena privativa de liberdade, a partir dos estudos que
os senhores podem fazer em disciplinas específicas, resta certificar que a prisão
de uma pessoa é a constatação judicial de que ela não reúne condições, naquele
momento, de conviver em sociedade.
A liberdade condicional, prevista no art. 83 CP, é uma faculdade do
Juiz das Execuções ao IPL que tenha cumprido parte essencial da pena privativa
de liberdade, e que tenha se mantido no bom comportamento e que demonstre
capacidade de se prover honestamente.
Há outras condições, o que nos interessa, nesta disciplina, é
discernirmos que o livramento condicional é o reconhecimento de que o IPL está
cumprindo as propostas e sugestões elencadas no PIR e que o seu mérito é
digno de permitir que retome ao seio da sociedade.
O que a Justiça reconhece, de fato, é que aquele ser humano está em
um processo de reconstrução que o dignifica a retornar à vida comum, aos
poucos. Ele ainda possui, lembremos, obrigações com o sistema prisional e com
a Justiça, mas o livramento é um benefício que demonstra que o sistema almeja
possibilitar que pessoas se recuperarem, para que elas possam viver em
sociedade, de maneira lícita e aptas a serem úteis e felizes!

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REFERÊNCIAS

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configuração de poder nas prisões na última década, Revista do FBSP, 2016. Acesso
em https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/cronologia-dos-ataques-de-2006-
e-a-nova-configuracao-de-poder-nas-prisoes-na-ultima-decada/

BRASIL. Geopresídios. Conselho Nacional de Justiça, Brasília, 2022. Disponível em:


https://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/gera_relatorio.php?tipo_escolha=comarca&opca
o_escolhida=18&tipoVisao=estabelecimento Acesso em: 20 nov. 2022.

BRASIL. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Planalto,
Brasília, 11 jul. 1984b. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc90.htm. Acesso
em: 20 nov. 2022.

BRASIL. Política Nacional de Humanização. Rede Humaniza SUS. Disponível em:


<https://redehumanizasus.net/politica-nacional-de-humanizacao/>. Acesso em: 07 nov.
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(CNMP), Brasília, 2018. Disponível em: <cnmp.mp.br/portal/relatoriosbi/sistema-
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https://www.cnnbrasil.com.br/politica/politicas-publicas/

MINAS GERAIS. Decreto n. 47.795, de 19 de dezembro de 2019. Dispõe sobre a


organização da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Assembleia
Legislativa de Minas Gerais, 19 dez. 2019a. Disponível em: <
https://www.almg.gov.br/legislacao-mineira/texto/DEC/47795/2019/?cons=1>. Acesso
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MINAS GERAIS. Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de Liberdade e


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MINAS GERAIS. Programa Novos Rumos na Execução Penal. Tribunal de Justiça de


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57
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POLITIZE. Vulnerabilidade. Acesso em 04 de maio de 2023.


https://www.politize.com.br/vulnerabilidade-social/

RABISCO DE HISTÓRIA, acesso em 03 de maio de 2023.


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SANTA CATARINA. Acolhimento e humanização nas práticas de gestão e atenção à


saúde de pessoas privadas de liberdade. Universidade Federal de Marta Verdi, Maria
Cláudia Souza Matias, Carlos Alberto Severo Garcia Junior (Org.). Florianópolis, 2014a.
Disponível em:
https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/7430/1/Acolhimento%20e%20Humanizac
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UOL – Brasil Escola. Disponível em https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e-


sociologia/o-que-e-etica.htm. Acesso em 07 de maio de 2023.

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