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MINAS GERAIS
2022
1
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 4
2. HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ÀS PESSOAS PRIVADAS DE
LIBERDADE ....................................................................................................... 7
2.1. Conceitos Importantes ........................................................................................ 10
2.1.a. Humanização ...................................................................................................... 10
2.1.b. Política Públicas ................................................................................................. 11
2.1.c. Programas de Atenção ....................................................................................... 12
2.1.d. Vulnerabilidade ................................................................................................... 12
2.1.e. Da Violência Simbólica do Cárcere .................................................................... 13
2.2. Da Superintendência de Humanização de Atendimento (SHUA) ....................... 16
2.2.a. Da Diretoria de Trabalho e Produção ................................................................. 18
2.2.b. Da Diretoria de Ensino e Profissionalização ....................................................... 18
2.2.c. Da Diretoria de Saúde e Psicossocial ................................................................ 19
2.2.d. Da Diretoria de Articulação e Atendimento Jurídico .......................................... 19
2.2.e. Da Diretoria de Classificação Técnica ................................................................ 20
2.2.f. Da Diretoria de Assistência à Família ................................................................ 21
2.2.g. Da Diretoria de Atenção ao Paciente Judiciário ................................................. 21
2.2.h. Conheça a SHUA ............................................................................................... 22
3. DIREITOS E GARANTIAS DOS SUJEITOS PRIVADOS DE LIBERDADE ..... 23
3.1. Distinção entre as prisões e regimes de condenados e presos provisórios....... 23
3.2. Dos direitos dos IPL ........................................................................................... 25
3.2.a Da individualização da pena .............................................................................. 25
3.2.b. Dos Direitos e Garantias Fundamentais ............................................................ 25
3.2.c. Dos direitos descritos na LEP ............................................................................ 32
3.2.d. Estudo de Caso: A importância dos direitos à saúde dos IPL ............................ 33
3.2.e. A humanização do profissional policial penal .................................................... 38
4. PRINCIPAIS PROGRAMAS E POLÍTICAS DE ATENÇÃO ÀS PESSOAS 40
PRIVADAS DE LIBERDADE .............................................................................
4.1. Qualidade de Atendimento ................................................................................. 40
4.2. Ações de trabalho e inclusão ............................................................................. 42
4.2.a. Programa Artesanato na Cela ........................................................................... 44
4.2.b. Parcerias de Trabalho ........................................................................................ 44
4.2.c. Trabalhando a Cidadania ................................................................................... 47
4.2.d. Programa de Ensino e Capacitação .................................................................. 49
4.2.e. Suporte à Visitação dos IPL ............................................................................... 50
4.2.f. Programas Parceiros .......................................................................................... 52
4.3. Os benefícios como fatores de humanização da pena ...................................... 53
4.3.a. Humanização pelo tempo de cumprimento de pena ................... 53
4.3.b. Humanização pela PROGRESSÃO DO REGIME de pena ............................... 55
4.3.c. Humanização pela LIBERDADE CONDICIONAL .............................................. 56
Referências ...................................................................................................................... 58
2
ÍNDICE DE TABELAS
Tab. 1 Sistema carcerário em Minas Gerais 24
Tab. 2 Perfil dos encarcerados em Minas Gerais 35
Tab. 3 Espécie de assistência aos sujeitos privados de liberdade 36
Tab. 4 Acesso à saúde sistema carcerário - região sudeste 38
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1 Espécies de prisão no processo penal 7
Fig. 2 Humanização do Sistema Único de Saúde 8
Fig. 3 Aspectos da Humanização 33
Fig. 4 Tríplice inclusão no processo de humanização 34
3
1. INTRODUÇÃO
5
excelência, treinado, apto a proceder legalmente sempre que requisitado e,
essencialmente, um protetor dos direitos humanos, posto que ao Estado NÃO é
dado delinquir, pelo contrário, nossa obrigação é a de promover a dignidade, as
leis e o desenvolvimento das pessoas com que nos relacionamos!
O que a SEJUSP frisa como CULTURA essencial para o novel Policial
Penal do Estado é que ele seja um promotor da dignidade da pessoa humana e
que, através de seu trabalho cotidiano, ele possa contribuir para a diminuição
dos indicadores de reincidência através do apoio às ações de humanização do
atendimento nas unidades prisionais do Estado.
6
2. HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ÀS PESSOAS PRIVADAS DE
LIBERDADE: DO CONTEXTO DO BRASIL AO CONTEXTO DE MINAS
GERAIS
Inicialmente, estabelecemos algumas premissas, relacionadas ao
mapeamento do sistema carcerário no estado de Minas Gerais para entender o
processo de humanização do atendimento às pessoas privadas de liberdade,
também denominadas indivíduos privados de liberdade, indicadas
respectivamente, pelas siglas PPL e IPL.
Segundo informações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
decorrente do Sistema de Geopresídios que utiliza dados advindos do Relatório
Mensal do Cadastro Nacional de Inspeções nos Estabelecimentos Penais
(CNIEP)1, Minas Gerais possui atualmente, cerca de 66.000 (sessenta e seis mil)
pessoas privadas de liberdade, distribuídas em 218 unidades prisionais, com
déficit de cerca de 22.000 (vinte e duas mil) vagas, ou seja, possuindo cerca de
50% a mais de IPL do que vagas disponíveis.
1
Brasil. Conselho Nacional de Justiça. Geopresídios
https://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/gera_relatorio.php?tipo_escolha=comarca&opcao_escol
hida=18&tipoVisao=estabelecimento
7
específicas, que considere os perfis reais e atenda às pessoas, a partir de suas
demandas e características.
Adolescentes 00 0,0%
Indígenas 24 0,04%
Estrangeiros 47 0,07%
8
da liberdade de convivência no seio da sociedade possui efeitos acessórios
declarados pela lei e efeitos práticos devastadores para qualquer indivíduo.
Assim, uma das missões mais importantes de um órgão como a
Polícia Penal, não é de apenas fazer cumprir as restrições de direitos impostos
pelas decisões judiciais, mas de garantir que os demais direitos da pessoa
humana sejam respeitados, não apenas pela própria estrutura do Estado (o
que inclui os membros da própria Polícia Penal), mas também, pelos outros IPLs.
A premissa inicial que orienta os conceitos de humanização é a ideia
de que não é permitido limitar direitos, sejam eles fundamentais (constitucionais)
ou infraconstitucionais, senão os delineados pela legislação e pelas decisões
judiciais atinentes aos IPLs.
Ao Estado cumpre o dever de fazer cumprir as penas aplicadas, a
partir do monopólio do direito de punir do Estado (Ius Puniendi), e tais penas não
delimitadas pela lei e pela sentença judicial aplicadas. Isto posto, é papel da
Polícia Penal garantir que o cumprimento da pena aplicada pelo Estado (a partir
do que denominamos de IUS PUNIENDI – Direito de Punir) respeite a dignidade
da pessoa humana e a integridade física e psíquica do apenado, e mais do que
isso.
O art. 1º da Lei de Execução Penal2, ipsi in verbis, determina que“...a
execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado.”
Assim, o cumprimento da pena não é um mero exercício das punições
determinadas na sentença judicial condenatória, mas um amplo e complexo
exercício de transformação do indivíduo privado de liberdade, para que ele possa
compreender papéis e regramentos sociais e a importância de exercê-los, para
que constitua uma vida qualificada.
Nesse sentido, compreendemos que a própria denominação da
disciplina deva ser absorvida pelo futuro policial penal do Estado como sendo
um exercício de transformação do processo de cumprimento da pena.
2
Lei Federal nº 7210/1986 – Lei de Execução Penal. Acesso em
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7210.htm , em 07 de maio de 2023.
9
2.1. Conceitos Importantes
2.1.a. Humanização
O conceito de humanização é bastante simples como retórica, muito
complicado em sua acepção prática. Humanizar é tornar mais humano um
relacionamento, uma estrutura, um projeto, uma ação específica.
A humanização é possível na medida em que os relacionamentos,
estruturas, projetos ou ações incorporem valores que priorizem a dignidade e a
eficiência do exercício dos direitos das pessoas. A temática é muito discutida no
âmbito da saúde, mas é pouco explorada no ambiente do sistema prisional.
Contudo, frisemos que a ideia de humanização foi apropriada pela
área de Saúde da Sociologia, incorporando preceitos de participação das
pessoas nos processos de gestão, a possibilidade de interação entre usuários e
profissionais e o protagonismo das pessoas nos processos.
No material complementar, indicamos a leitura do site Rabisco da
História3, que nos situa de maneira didática acerca do conceito de humanização.
No seio de uma unidade prisional, humanizar se relaciona com o
introjetar uma cultura de humanização no âmbito da prisão. Esse é um trabalho
árduo, cuja finalidade é propiciar que as relações humanas oriundas dos
processos atinentes ao cumprimento da pena possam indicar o aperfeiçoamento
dos seres humanos envolvidos no processo.
Destaque-se, nesse sentido, que NÃO estamos apenas construindo
nosso discurso no sentido de propiciar a proposta de “harmônica integração
social” do preso e do condenado, como nos cita a lei. A proposta de harmonia
para a integração dos IPLs imprescinde da construção de um ambiente
harmônico entre o IPL e o policial penal, para que cada um compreenda o papel
e a posição do outro, numa concepção de alteridade.
Como cultura, humanizar é o meio de efetivar o cumprimento da pena,
de fazer o IPL entender que a punição pode transformá-lo em uma pessoa mais
apta a cumprir papéis sociais, como uma alternativa à vida voltada para a
criminalidade.
3
Acesso em https://rabiscodahistoria.com/para-a-sociologia-ser-um-individuo-humanizado-
significa/
10
A humanização no Sistema Prisional é uma busca efetiva da SEJUSP,
tanto que o assunto compõe parte essencial do conteúdo instrucional do
presente curso de formação do futuro policial penal.
44
Acesso em https://www.cnnbrasil.com.br/politica/politicas-publicas/
11
2.1.d. Vulnerabilidade
Vulnerabilidade é a situação de quem está vulnerável, ou seja,
exposto a uma situação que dificulta o exercício pleno de direitos. Tem-se por
vulnerabilidade a condição de indivíduos ou grupos sociais que estão submetidos
a exclusão social, e seus direitos à mercê de fatores aleatórios, que dificultam
de maneira específica o seu exercício.
No sentido sociológico, a vulnerabilidade diz respeito, mormente, às
dificuldades de ordem socioeconômica que dificultam acesso à moradia,
educação, trabalho qualificado, alimentação, transporte e outros direitos sociais
e individuais fundamentais. Um dos fatores marcantes da vulnerabilidade é o de
que a pessoa ou o grupo vulnerável possui restrições de representatividade
social e de oportunidades para se desenvolver.
Indicamos a leitura do site Politize, acerca do tema5. Em específico,
destacamos que a vulnerabilidade do IPL é reconhecida como grande argumento
para o desenvolvimento e atuação de facções criminosas no seio do sistema
prisional de todo o país.
Não podemos, é fato, generalizar, tampouco “tapar o céu com a
peneira”. Temos um sistema prisional que precisa se reestruturar, que oferece
desafios e obstáculos para que possamos construir uma sociedade mais justa,
como podemos compreender, a partir da citada pesquisa do Geopresídios,
tamanha a superlotação de diversas unidades prisionais em todo o Brasi, bem
como, um excesso de ocupação, em todo o país.6l.
Por isso, a SEJUSP enfoca na humanização do atendimento ao IPL,
para que possamos construir uma política pública de execução penal e,
principalmente, uma política de inclusão que diminua a vulnerabilidade dessas
pessoas encarceradas.
Policiais Penais humanizadores buscarão a reintegração de mais e
mais condenados, e por fim, as experiências para que a sociedade perceba a
importância de as unidades prisionais serem espaços de desenvolvimento de
5
Acesso em https://www.politize.com.br/vulnerabilidade-social/
6
BRASIL, Conselho Nacional de Justiça – GEOPRESÍDIOS. Acesso em 15 de maio de 2023.
https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=e28debcd-15e7-4f17-ba93-
9aa3ee4d3c5d&sheet=985e03d9-68ba-4c0f-b3e2-3c5fb9ea68c1&lang=pt-BR&opt=ctxmenu,currsel
12
humanidade, quando, infelizmente, teima compreender como espaço de
vingança.
13
Esses são apenas alguns exemplos. Contudo, é importante
esclarecer que o policial penal é por ele interpretado como a pessoa que
representa diuturnamente a pena que a ele foi imposta.
Quando estamos diante de uma unidade prisional em desequilíbrio,
em que as regras de humanização não são sequer mencionadas, conquanto
aplicadas, a figura do policial penal se confunde com a do carrasco, responsável
direto por todas as mazelas que o IPL sofre em sua “nova vida” ou “vida atual”.
Essa posição do policial penal enfatiza que o cárcere é envolto em um
estado de VIOLÊNCIA SIMBÓLICA permanente. O tema em questão foi debatido
na disciplina MEDIAÇÃO DE CONFLITOS, no EAD.
A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA é a que retrata a tensão permanente
vivida entre os IPLs e os policiais penais, posto que os primeiros, enquanto
privados de sua liberdade, vivem num estado permanente de punição, enquanto
o policial penal, por ser o representante do Estado, é o responsável não menos
permanente pela aplicação da pena.
7
Decreto Estadual nº 47.795/2019, disponível em: < https://www.almg.gov.br/legislacao-
mineira/texto/DEC/47795/2019/?cons=1>
15
PARA CONTEXTUALIZAR
16
humanização até a definição de áreas e estruturas e materiais para atendimento
e assistência nas unidades prisionais.
17
educação básica, profissional e tecnológica, até o ensino superior e atividades
complementares e socioculturais/esportivas.
18
A diretoria é, ainda, responsável pela coleta, processamento e
armazenamento de dados sobre os atendimentos de saúde e procede a
orientação e fiscalização das atividades desenvolvidas pelas diversas unidades
prisionais do Estado, incluindo o acompanhamento social, atendimento clínico,
terapêutico e hospitalar, seja no âmbito do DEPEN-MG, seja em integração com
o sistema SUS.
19
2.2.e. Da Diretoria de Classificação Técnica
20
2.2.g. Da Diretoria de Atenção ao Paciente Judiciário
8
Lei Federal nº 10.216/2001, acesso em 07 de maio de 2023.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm
21
Estadual nº 47.795/2019, que dispõe sobre a SEJUSP. Para tanto,
recomendamos que navegue pelos links abaixo, ambos do DEPEN:
QUEM É QUEM
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/index.php/o-departamento/quem-e-
quem
ORGANOGRAMA
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/index.php/o-
departamento/organograma
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Por sua vez, a condenação judicial transitada em julgado tem um título
permanente, posto que o fato motivador da decisão já foi objeto de recurso, até
esgotadas as vias de reavaliação judicial do ato, e alcança um grau de
imutabilidade muito elevado (somente uma ação de revisão criminal pode
reverter tal decisão).
Formalmente, condenada é a pessoa que foi sentenciada
judicialmente em definitivo a uma pena estipulada nas leis penais, sem direito a
recorrer da decisão judicial.
Dos conceitos supracitados, surge uma primeira constatação: os IPL
que cumprem prisões cautelares têm, ainda, o direito de recorrer da pena, bem
como, a decisão que impôs a prisão cautelar não determina a aplicação dos
efeitos da condenação judicial, expressos nos art. 91, 91-a e 92 do Código Penal
(CP), ou seja, sua limitação de direitos é diferente da imposta pela condenação
judicial com trânsito em julgado.
Apenas para ilustrar alguns os efeitos específicos que diferenciam as
limitações de direitos entre presos cautelares e condenados, e que fique claro,
conforme determinado em sentença, é que, em determinados processos, o
condenado tem:
a) Obrigação certa de indenizar a vítima;
b) Perda dos instrumentos relacionados, produtos, bens ou valores
auferidos na prática do delito;
c) Limitação a bens de sua titularidade, para pagamento de
indenizações;
d) Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo;
e) Perda do poder familiar em relação aos filhos; e
f) Inabilitação para condução de veículo automotor.
Contudo, é fundamental destacar que na vivência do dia-a-dia junto
ao cárcere, não há diferenças essenciais entre os direitos de IPL condenados ou
em prisão-cautelar, certo de que o regime da prisão domiciliar, por certo, é o
FECHADO, posto que seria extremamente incoerente acautelar uma pessoa que
está sendo investigada e oferecer-lhe, ao mesmo tempo, o direito de estudar ou
trabalhar fora do ambiente prisional, principalmente, porque dentre alguns dos
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fundamentos da prisão estão a garantia da ordem pública, da instrução
processual e, por fim, para que a pessoa não fuja à aplicação do Direito.
. Frise-se, porém, o direito expresso do preso provisório, conforme
disposições contidas no art. 300 do CPP, de que consta que “...as pessoas
presas provisoriamente ficarão separadas das que estiverem definitivamente
condenadas, nos termos da lei de execução penal.”
Prisão temporária
Prisão pena
24
Tal princípio se mostra bastante eficiente na execução da pena, nos
transmitindo a ideia real de que a execução penal é um processo individualizado,
e deve atender a questões objetivas (quantidade de pena, regime inicial de
cumprimento e efeitos da condenação) e subjetivas (questões relativas ao sujeito
que iniciará o cumprimento da reprimenda penal).
A individualização preconiza que o condenado será classificado
conforme personalidade e antecedentes, e em caso de falta cometida no seio da
execução, garante-se a ele a submissão a procedimento administrativo para sua
apuração, certo de que a aplicação de sanções jamais poderá ser de ordem
coletiva.
A individualização será melhor trabalhada adiante, no tópico acerca
da Ressocialização e do Programa Individualizado de Ressocialização.
9
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 2015).
25
Dentre tais direitos, frisemos deveres do Estado, determinados na
própria Carta Magna:
a) Educação (Art. 205 da CF) para o pleno desenvolvimento da
pessoa, do preparo para o exercício da cidadania e qualificação
para o trabalho;
b) Trabalho (Art. 193 da CF), reconhecendo a importância para a
ordem social, visando o bem-estar e a justiça social, devendo o
Estado desenvolver políticas sociais nesse sentido e, assim
sendo, na capacitação profissionalizante; por ser o trabalho uma
importante alternativa de opção de vida fora da criminalidade;
c) Saúde (Art. 196 da CF), sendo dever do Estado o desenvolvimento
de Políticas Públicas para redução do risco de doenças e o acesso
universal e igualitário aos serviços de saúde.
d) Lazer (Art. 217, §3º da CF), que lista o lazer como meio de
promoção social e, nesse sentido, essencial para a
ressocialização do IPL.
e) Segurança (Art. 144 da CF), em que o Estado tem o dever de
preservar a Ordem Pública e a incolumidade (integridade) das
pessoas, e no caso, como o IPL está acautelado, o Estado é
objetivamente obrigado a proteger sua integridade física, mental e
moral;
f) Assistência aos Desamparados (Art. 3º, inc. III, da CF), que
destaca como um dos objetivos fundamentais do Estado Brasileiro
a erradicação da pobreza e da marginalização. Observa-se
população carcerária é composta, predominantemente, de
pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente de diversas
questões, sejam elas sociofamiliares, sócio-históricas,
socioeconômicas, biopsicossociais ou decorrentes da
criminalidade ocasional. A atuação do Estado perante o
encarceramento compreende ações intramuros e extramuros,
abarcando o desenvolvimento de Políticas Públicas que
contemplem, além das pessoas privadas de liberdade, também
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suas famílias tomadas pela situação de vulnerabilidade e risco
social.
A observância desses direitos é imperiosa para que o IPL compreenda
que o fato de ter sido penalmente punido é um ato de afirmação da legalidade,
ou seja, que o Estado está retribuindo nos moldes legais a conduta por ele
perpetrada como meio de diminuir a violência na sociedade, buscando, por meio
das ações de ressocialização promover sua reintegração social.
REFLEXÃO IMPORTANTE
Não há pena perpétua (Art. 5º, inc. XLVII, letra “b” da CF) e, então,
a pessoa submetida à privação de liberdade, normalmente, deixará a cadeia e
retomará a condição de liberdade. QUEM ESSA PESSOA SERÁ? Como
vimos, a LEP espera que seja alguém reintegrado à sociedade. Mas a LEP é
uma lei, e precisa de atores que tornem seus preceitos reais!
27
Os art. 126 e seguintes da LEP dispõem nesse sentido, para o
reconhecimento do mérito de uma pessoa que foi punida pelo Estado e que
procura se transformar em alguém proativo para sua família e sociedade.
A concessão de benefícios, nesse sentido, são meios de distinção
diferidos àqueles IPL que se dedicam ao processo de reintegração de maneira
mais disciplinada e, se assim não fosse, certamente, NÃO haveria estímulo para
proceder mudanças em suas vidas! Assim, os benefícios devem ser
interpretados como perspectivas, que influenciam diretamente na motivação de
uma pessoa busca o autodesenvolvimento.
Segundo informações da Agência Minas10, existem 124 (cento e vinte
quatro) escolas nas unidades prisionais e nas Associações de Proteção e
Assistência aos Condenados (APACs), contando com 1.600 (mil e seiscentos)
professores e 7.000 (sete mil) presos matriculados no ensino fundamental, médio
e superior. (CONHEÇA O SITE DA AGÊNCIA MINAS)11
A unidade prisional com o maior número de indivíduos matriculados
está localizada na cidade de Três Corações (445 alunos), funcionando com dois
turnos e 13 (treze) salas de aula, bibliotecas e computadores.
Os professores que integram as escolas instaladas nas unidades
prisionais e APACs, Associações de Proteção e Assistência aos Condenados,
estão subordinados à Secretaria de Estado de Educação, inclusive contando
com pedagogos do próprio Sistema Prisional, que balizam as diretrizes
educacionais.
Quanto ao direito à saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS),
constituído, como vimos, a partir dos deveres do Estado do art. 196 da CF,
também está consubstanciado em leis infraconstitucionais, tais como as Leis
Federais nº 8.142/1990 e nº 8080/1990.
De acordo com dados da própria Secretaria de Saúde, o SUS atende
aproximadamente 190 milhões de pessoas. Desse percentual, acredita-se que
quase 80% de indivíduos dependem exclusivamente desse sistema (MINAS
10
Acesso em 28 de abril de 2023. https://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/governador-e-
representantes-dos-poderes-assinam-protocolo-de-intencoes-em-apoio-as-apacs-em-minas
11
Acesso em 07 de maio de 2023. https://www.agenciaminas.mg.gov.br/
28
GERAIS, 2022), cujo financiamento é realizado através de recursos da União,
dos Estados e Município por meio de impostos e outras fontes de financiamento,
conforme art. 4º da Lei n. 8.080/1990:
REFLEXÃO IMPORTANTE
29
Naturalmente, o regime de pena de cada IPL implica especificamente
em limitações ao exercício do trabalho. No regime fechado, por exemplo, não há
autorização para que o IPL exerça atividades junto à iniciativa privada fora das
extensões da unidade prisional, porquanto o seu regime determina que o
cumprimento integral da pena seja realizado em uma área de reclusão plena.
Guardadas as devidas peculiaridades o trabalho exercido por pessoas
privadas de liberdade necessita de atender às mesmas normas do trabalho
desenvolvido fora das unidades prisionais.
Contudo, o trabalho dos IPL não se sujeita às normas estabelecidas
pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sendo remunerado com uma
quantia mínima de três quartos do salário mínimo, sendo o produto auferido
empregado para cobrir a indenização dos danos causados pelo crime,
assistência à família, despesas pessoais e o ressarcimento ao Estado, conforme
descrito na legislação.
A LEP prevê duas hipóteses para o trabalho: o interno e o externo.
O trabalho interno é uma obrigação do IPL; exceto no caso de IPL
em prisão-cautelar, em que o trabalho é facultativo e só pode ser realizado dentro
do estabelecimento prisional.
Já o trabalho externo só poderá ser realizado por presos em regime
fechado em obras ou em serviço da Administração Direta ou Indireta, desde que
a administração penitenciária tenha a capacidade de organizar a logística que
previna fugas e promova a disciplina.
Dados recentes apontam que, em Minas Gerais12, aproximadamente
12.231 (doze mil, duzentos e trinta e um) IPL exercem diversos tipos de
atividades laborais, desde limpeza e manutenção das unidades prisionais até
trabalho em empresas instaladas e com parcerias nesses locais.
Empresas que firmam parceria com unidades prisionais recebem o
"SELO RESGATA”, uma iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública,
como forma de reconhecimento de suas responsabilidades sociais. No ano de
2018, o estado de Minas Gerais registrou 106 empresas, totalizando 53% de
12
MINAS GERAIS. Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional de Minas Gerais. Secretaria de Estado de Educação e
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública. Belo Horizonte, 2021.
30
certificação das instituições no país, o que demonstra o valoroso empenho da
SEJUSP em promover a humanização no cumprimento da pena.
O trabalho possui dupla função, a de estabelecer a responsabilidade
social das empresas e, por outro, auxiliar os IPL a cumprirem sua sentença e
buscarem a integração social, por meio da experiência do trabalho, da inclusão
própria de se constituir como um ser humano produtivo e de ter oportunidades
profissionais futuras, em razão da capacitação apurada, a partir do conhecimento
adquirido.
IMPORTANTE: Assim, como a educação, o trabalho também se
relaciona diretamente com a REMIÇÃO da pena. a LEP, como vimos, no art. 126
e seguintes, as regras para que o IPL que trabalhe venha a remir a pena a que
deve cumprir.
Notemos, então, que a palavra-chave que expressa a questão
relativa à preservação dos direitos do IPL e humanização, de fato, é a de
que eles são seres humanos em extrema vulnerabilidade e, apenas por
limitar a liberdade da pessoa, a PRISÃO é uma estrutura que coloca em
risco o exercício dos seus direitos.
Como vimos na reflexão acima, uma série de direitos é condicionada
à liberdade de locomoção das pessoas e, assim, a impossibilidade de exercitar
o direito à liberdade, culmina por acarretar uma série de deficiências no processo
decisório acerca do que se pode / necessita fazer. Um IPL precisa consultar a
estrutura do Sistema Prisional e, muitas vezes, o Juiz das Execuções, para
quaisquer situações que não sejam usuais (rotineiras) no dia-a-dia do
cumprimento da pena.
Assim, o IPL está em uma situação de permanente dependência
das burocracias do sistema prisional para que o exercício de seus direitos
se efetive. É nesse sentido que ele permanece numa condição de
permanente vulnerabilidade.
31
dos direitos registrados na legislação, com a finalidade de garantir direitos do
apenado:
32
tratamento médico de emergência, apenas 113 (cento e treze) a assistência
odontológica e não mais do que 19 (dezenove) os serviços de maternidade
infantil (BRASIL, 2018).
33
oferecer uma visão perfeita do tema de humanização do atendimento em
unidades prisionais.
Apenas como exemplo, o PNH empreende seus esforços a partir de
preceitos de alteridade13, oferecendo cuidados e respeito aos IPLs e a qualquer
pessoa, na sociedade, sendo uma política capaz de influenciar culturalmente a
percepção do que é política pública (SANTA CATARINA, 2014b).
Deve-se alertar que este trabalho utiliza o conceito de alteridade como
sendo a capacidade de reconhecer a natureza ou condição do que é outro, do
que é distinto, situação, estado ou qualidade que se constitui por meio de
relações de contraste, distinção e diferença.
13
ALTERIDADE: qualidade do que pertence ou é de outro (envolvendo o altruísmo de perceber
a vontade, o entendimento, necessidade da outra pessoa, e não apenas a própria vontade ou
necessidade). Acesso em https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/conceito-alteridade.htm
14
Disponível em https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e-sociologia/o-que-e-etica.htm. Acesso em
07 de maio de 2023.
34
Pela ESTÉTICA, a humanização está relacionada com as práticas
criativas nas atividades de saúde, aplicáveis sob quaisquer hipóteses, em
quaisquer lugares, para quaisquer usuários.
E pela POLÍTICA, a humanização estrutura-se com a “organização
social e institucional das práticas de atenção e gestão na rede dos SUS”.
Fonte: Autores.
REFLEXÃO IMPORTANTE
35
Destarte, a consecução dos objetivos de humanização a partir dos
três aspectos supramencionados envolve tríplice inclusão. Vejamos exemplos
relativos aos serviços prestados pelas Unidades Prisionais do Estado:
1º PLANO: a inclusão de todos os sujeitos, haja vista o princípio da
alteridade e do respeito aos direitos individuais, nesse sentido, do IPL que
precisa ter seus direitos básicos respeitados pelo Estado (saúde,
alimentação, provimento material básico, educação, trabalho).
2º PLANO: a inclusão dos coletivos, redes e movimentos sociais; que
no contexto atual influenciam na tratativa de alguns grupos, principalmente os
mais vulneráveis, sejam eles social, econômico ou político, tais como
organizações que trabalham pela inclusão, educação ou desenvolvimento de
IPL.
3º PLANO: a inclusão dos próprios policiais penais e gestores do
sistema prisional, cujas atividades têm como finalidade o controle da
aplicação da pena, mas também, do eficiente exercício dos direitos e
obrigações dos IPLs, permitindo a sensação ao próprio policial penal de
que está fazendo o melhor, DE QUE ESTÁ CUMPRINDO A LEI, e que há uma
esperança real de que as relações no âmbito do cárcere se revistam de
preceitos de humanidade, diminuindo a VIOLÊNCIA SIMBÓLICA que tende
a ser a marca permanente do que ocorre no cárcere.
36
3.2.e. A humanização do Policial Penal
Não poderíamos deixar de lado esse viés da ideia de humanização.
Não se faz humanização em uma organização sem que se possa oferecer
humanização para os profissionais que militam junto ao sistema prisional.
Compreender a complexidade da situação do IPL, a vulnerabilidade a
que está submetido, o risco permanente de ter seus direitos subvertidos é uma
obrigação do Policial Penal, mas é essencial que possamos capacitá-lo para
oferecer-lhe mais e melhor e, para isso, vale o seguinte dizer popular: NINGUÉM
DÁ O QUE NÃO TEM!
As ações de humanização são conectadas, transversais e
capilarizadas, de forma que a SEJUSP compreende que a capacitação e o
respeito ao Policial Penal são essenciais para que possa ofertar as melhores
respostas às demandas operacionais de rotina do serviço no cotidiano prisional.
Dessa forma, a Superintendência de Humanização do Atendimento -
SHUA possui uma série de cuidados com a formação dos profissionais que
atuam no Sistema Prisional. Por isso, a importância dessa temática ána
formação do futuro policial penal do Estado de Minas Gerais.
De fato, cada unidade do sistema prisional possui características
próprias, mas há amostras de questões que se repetem e que demandam
atenção do policial penal. Elencamos algumas dessas circunstâncias:
a) IPL com problemas familiares graves: adoecimento ou falecimento
de parente próximo, fome, abandono familiar, família sob ameaça do crime
organizado, família extorquida por policiais corruptos;
b) IPL vítima de violência no ambiente prisional: homicídio, tortura,
induzimento ao suicídio, violação sexual, limitação de direitos imposta por outros
IPL;
c) IPL em sofrimento mental ou físico: deficiência física/mental,
adoecimento (câncer, problemas cardíacos ou respiratórios, entre outros),
adicção (dependência química por drogas de abuso), alta ansiedade, extrema
solidão, depressão profunda, problemas relacionados à sexualidade.
d) IPL e a gravidez: mulheres que podem ter sido abandonadas pelo
parceiro, muitas vezes abandonada pela família, que passam pelo rigor de um
37
processo pré-natal (antes do nascimento), no parto e pós-parto, muitas vezes,
sem suporte familiar, apesar das estruturas a disposição, posto que o abandono
familiar é uma das marcas mais importantes em relação à mulher apenada,
sendo muito desolador o sofrimento da pessoa, do nascituro e o futuro que se
apresenta.
Destaquemos que o Policial Penal também é um ser humano, e como
tal, é vítima do mesmo processo de violência simbólica, ao deparar com pessoas
em sofrimento, rotineiramente.
O fato de o policial penal se sentir incapaz de ajudar o ser humano-
IPL tem PODER de afetar o próprio profissional. Não é sem motivo que há
programas de proteção e de suporte emocional ao profissional Policial Penal,
posto ele lida com essa violência simbólica todos os dias!
38
de cada unidade, que estão em contato permanente com a superintendência e,
principalmente, reconhecem as possibilidades locais.
Destaquemos, então os principais programas a partir de estudos de
casos e normas vigentes, que demonstram de maneira transparente o vigor da
SEJUSP e do DEPEN em empreender, em conjunção com a SHUA, uma rede
de ações, políticas e programas que transformem paulatina e progressivamente
o Sistema Prisional do Estado de Minas Gerais, a partir da humanização do
atendimento geral ao IPL, seus familiares e, por que não, do próprio Policial
Penal envolvido nas ações.
15
Resolução nº 1618/2016, disponível em
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariadeadministracaoprisi
onal/Resolucao-07-07-2016.pdf
39
Destacamos indagações que são efetivamente respondidas em
outras disciplinas do curso, mas é essencial que contextuemos como preceitos
de humanização, para que o novel Policial Penal possa identificar com clareza
como a eficiência é essencial para a obtenção dos melhores resultados.
Indaguemos, então, certos de que não vamos responder a essas
questões, mas demonstrarmos a importância do sistema de qualidade, que
padroniza procedimentos, para humanizar o atendimento junto ao sistema
prisional:
a) Como proceder na acolhida do IPL na unidade prisional?
R: O IPL que chega a um novo estabelecimento, normalmente, tem
mais dúvidas do que certezas, se sente acuado. Um procedimento sobre
acolhida determina um padrão de diálogo a ser seguido, que possibilita
segurança ao IPL e diminuição da tensão sobre o ingresso no estabelecimento.
b) Como é o cadastro do parente do preso para a visitação?
R: O parente do preso é uma pessoa, muitas vezes, vulnerável e
que desconhece sobre como proceder, principalmente, quando está diante do
sistema ou de um estabelecimento prisional pela primeira vez. Quando o parente
é bem recebido pelo Policial Penal, ele transmite uma boa mensagem para o IPL
e diminui a tensão do sistema. Um procedimento padrão sobre acolhimento
determina comportamentos do Policial Penal, inclusive de apoio e de
comunicação, fortalecendo a cultura para melhoria e humanização geral do
atendimento.
c) Quais são ações corretas para movimentação interna dos IPL?
R: A movimentação interna dos IPL pode acontecer diante de
diversas circunstâncias. Num exemplo em que decorra de um desentendimento,
de uma briga, determina uma imediata transferência de um IPL para outra ala da
unidade. Isto determina como o Policial Penal deve seguir um padrão que
demonstre ao IPL total controle de ações, capacidade de intervenção e
segurança plena de procedimentos. Um procedimento padrão, seguido à risca
diminui a necessidade de emprego de força física e transmite a imagem de
eficiência para os demais IPL.
40
d) Como deve ser a revista e a algemação do IPL?
R: Todos os dias, jornais de televisão mostram abordagens
policiais desastradas, sem um procedimento delineado, com profissionais
atuando separadamente, sem um senso de equipe. Um procedimento bem-
sucedido de revista e algemação, além de diminuir a necessidade do emprego
de força por parte do Policial Penal, mitiga os riscos na atuação e demonstra ao
IPL eficiência a partir da disciplina de procedimento, respeito pela legalidade
estrita nas ações e pelo diálogo.
e) Como são distribuídas as funções entre os Policiais Penais em
uma escolta externa?
R: Um IPL e quatro Policiais Penais dentro de uma viatura policial.
O IPL não pode ser o único a saber exatamente o que fazer. A distribuição de
funções permite menor fluxo de comunicação, menor necessidade de
intervenção, menos estresse e a certeza de que a equipe é forte e respeitosa em
relação aos procedimentos e a lei.
41
O PIR inclui perspectivas de atitudes para que o IPL possa
desempenhar papéis de trabalho e capacitação, visando demonstrar resultados
em favor de sua ressocialização. Há, nesse sentido, uma relação direta entre
plano, comportamento e conduta do IPL, a concessão de benefícios e o
envolvimento dele em projetos de inclusão e de integração social.
Destaque-se que o CTC possui cuidado permanente em relação às
minorias e grupos mais vulneráveis, no ambiente prisional. O NUGE+, como é
denominado o Núcleo de Atenção às Mulheres e Grupos Específicos (idosos,
homossexuais, transsexuais, bissexuais, lésbicas, gays, queer, intersexuais,
assexuais e não-binários, pessoas com deficiência, estrangeiros, indígenas e
quilombolas, pessoas com transtorno mental, entre outros) atua no
monitoramento de demandas relacionadas a esses grupos e no desenvolvimento
de ações de inclusão e de proteção a essas pessoas.
O ambiente interno de uma unidade prisional possui características
bem próprias, que podem gerar processos de exclusão muito severos a
determinados grupos, acarretando violências diversas, como homicídios,
perversidades, tortura, violência sexual e uso de drogas de abuso, entre outros
delitos, que culminam por afetar essas pessoas, em específico, pela condição
que ostentam.A SEJUSP, a partir do SHUA e da DCT, auxiliada pela CTC,
elaboraram uma série de normas e procedimentos específicos, com fulcro na
proteção desses grupos, a saber:
a) Aos LGBTQI+ está em vigor a Resolução SEJUSP nº 173, de 21 de
julho de 2021;
b) Aos IPL estrangeiros, vige o Memorando Circular nº
550/2020/SEJUSP/DSP;
c) Aos idosos, aplica-se o Estatuto da Pessoa Idosa, Lei nº 10.741,
de 1º de outubro de 2003;
d) Em relação aos indígenas, entre outras normas, está em vigor a
Nota Técnica n.º 53/2019/DIAMGE/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MJ;
42
e) Quanto às mulheres, além da área específica da LEP, está em
plane vigência a Nota Técnica n.º
17/2020/DIAMGE/CGCAP/DIRPP/DEPEN/MJ, sobre o assunto.
16
Disponível em
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariadeadministracaoprisional/Cartil
ha-Artesanato-na-Cela.pdf
43
O projeto é uma grande inovação e uma ação de humanização, com
certeza! Indicamos ao futuro Policial Penal que acesse o material indicado e
perceba que a capacitação é desenvolvida a partir de monitoria, cuja ocupação
é de um IPL escolhido pela CTC, a partir da capacidade reconhecida em explicar,
coordenar trabalhos e envolver positivamente os demais.
Outra inovação ocorre em face de que os produtos são transmitidos
aos familiares, para que, em feiras, possam comercializá-los e auferirem uma
receita específica. O projeto induz positivamente o empreendedorismo e remete
o IPL a posição de colaborador de sua família!
Diversas unidades contam com o projeto, dentre elas as situadas em
Araçuaí, em Araxá, Caxambu, em Contagem e Montes Claros, entre outras
localidades.
Acesse:
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Artesanato-na-Cela.pdf
44
organizar ações mais complexas, podendo atender um maior número de IPL, na
prática, obtendo resultados mais eficientes e apurados.
O programa é regulado a partir da uma cartilha, constante no site do
DEPEN17. Constam do programa uma rede de ações e projetos, resumidos
abaixo:
a) CARTÃO TRABALHANDO A CIDADANIA: pelo programa, a
remuneração do IPL, que antigamente era manipulada pelo Policial Penal (na
época denominado agente de segurança prisional), passou a ser depositada em
uma agência do Banco do Brasil, possibilitando repasse mais coerente para o
emprego da família do IPL;
Acesse:
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Conta-Beneficio.pdf
17
Disponível em
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariadeadministracaoprisional/Cartil
ha-Parcerias-de-Trabalho.pdf
45
C) OFICINAS DE TRABALHO: nas diversas unidades prisionais, em
todo o Estado de Minas Gerais, o sistema prisional agrega às estruturas uma
rede de oficinas que prestam serviço permanente para a própria unidade,
fornecendo produtos e serviços para o sistema, bem como, para a comunidade
onde estão inseridas, de acordo com as peculiaridades de cada uma.
As oficinas, muitas vezes, dependem da formação de parcerias entre
a unidade prisional e a comunidade ou a iniciativa privada. Esse trabalho é
acompanhado permanentemente pela SHUA, a partir de suas diretorias técnicas.
As unidades dispõem de oficinas diversas com a finalidade de
oferecer trabalho, capacitação e visão de como o empreendedorismo social e
lícito pode gerar bons resultados, a saber:
• Marcenarias
• Corte-Costura
• Padaria
• Oficinas Mecânicas
• Serralheria
• Tornearia
• Fabricação de pré-moldados
• Construção civil
• Materiais esportivos
• Circuitos eletroeletrônicos
• Artigos de plásticos e papéis, entre outras.
46
e as férias, sendo a remuneração do IPL limitada a ¾ (três quartos) do salário-
mínimo vigente.
As unidades prisionais disponibilizam espaço físico e estrutura para
abertura dos modelos de negócio, além da existência de incentivos fiscais para
a comercialização de alguns produtos.
Para o IPL, o trabalho permite, além da ressocialização, ajudar sua
família a partir da remuneração do seu trabalho; remição de parcela de sua pena,
experiência profissional e a consubstanciação de dignidade, tudo sob tutela da
DTP (Diretoria de Trabalho e Produção), da SHUA.
Acesse:
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Parcerias-de-Trabalho.pdf
47
sistema prisional, em prol de uma sociedade mais justa e menos voltada à
violência e a criminalidade.
O programa inclui diversas ações, a saber:
• Cultos ecumênicos e assistências multi religiosas;
• Orientação sobre drogas de abuso;
• Assistência jurídica integrada
• Orientações de saúde e psicossocial
• Ensino integrado e capacitação profissional
• Ciclos de palestras
• Programas de vacinação
• Exames médicos periódicos
• Dobradinha – para erradicação do analfabetismo
• Festipen – Festival de música na penitenciária
• Centro de Referência ao Atendimento à Gestante
Por fim, o Governo do Estado de Minas Gerais, em conjunto com a
SEJUSP, o DEPEN e a SHUA, desenvolveram um Plano Estadual de Trabalho
e Renda no âmbito do sistema prisional, fundamental para aprofundar as
mudanças e viabilizar a humanização do atendimento nas unidades de maneira
que se constituam em espaços de regaste de vida humanas desviadas da
sociedade,
Acesse:
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/2022/Abril/MODELO_PLANO
_ESTADUAL___15_07_2021___17_41_1.doc.pdf
TRABALHANDO A CIDADANIA
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Trabalhando-a-Cidadania.pdf
ASSISTÊNCIA JURÍDICA
48
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Atendimento-Juridico.pdf
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Assistencia-Religiosa.pdf
49
Por fim, o Estado de Minas Gerais concebeu um Plano de Educação
Especializado, retratando com profundidade os aspectos delineados nesta
apresentação (Plano Estadual de Educação para Pessoas Privadas de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional de Minas Gerais – 2021), cujo link se
encontra listado abaixo, para consulta do nosso futuro Policial Penal.
Acesse:
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/2021/MAIO/Plano_27833794
_PLANO_DE_EDUCACAO_de_MG_com_ajustes_07.04.pdf
http://www.depen.seguranca.mg.gov.br/images/Publicacoes/Subsecretariade
administracaoprisional/Cartilha-Ensino-e-Profissionalizacao.pdf
50
O estudo específico sobre como proceder ocorre na disciplina de
Regulamentos e Normas do Sistema Prisional (RENP), e o que nos cumpre é o
destaque para que as ações de polícia, sobretudo, apesar de serem pontos de
tensão reais no ambiente prisional, podem (devem) ser efetivadas com respeito
e educação.
O Policial Penal deve dar atenção ao Procedimento Operacional,
verificar pertences e visitantes, contudo, demandas sensíveis que fogem ao
protocolo são comuns e requerem atenção e tratamento significativo. É comum
a existência de visitantes como crianças, adolescentes, idosos, pessoas com
deficiência física ou mental, analfabetos, pessoas autodeclaradas homossexuais
e transsexuais, entre outras questões que requerem sensibilidade do
profissional.
Alteridade, é o que o Policial Penal deve sentir! Colocar-se na
condição do outro é perceber que são pessoas vulneráveis, com dificuldades,
precisam de um suporte especial, que requerem controle (é fato), mas respeito,
sempre!
Por exemplo, quanto a visitação. Há um direito formal de o IPL receber
visitas. Contudo, há costumes e regras importantes que estão além do direito,
que dizem respeito à dignidade das pessoas! Os IPL devem ser respeitados na
preparação da área de visitação. É normal que queiram lavar o chão, preparar o
espaço para a acolhida aos seus parentes, que tenham sentimentos alterados
em relação à visita, no antes, durante e depois.
Esse é um momento em que a limitação de direitos, apesar de
essencial, deve se ater à mínima necessária, devendo o Policial Penal na medida
do possível, permitir que as pessoas possam ter bons momentos juntos,
valorizando a família e a perspectiva que o IPL possa nutrir acerca da liberdade.
Saibamos, a lei é um requisito de dignidade e humanização, mas ela
é uma baliza, ou seja, há outros regramentos não menos importantes, como
educação, respeito e moral.
51
administração pública. Poderíamos elencar dezenas de programas, mas a visão
de humanizar é mais importante do que estudar todos os programas.
Nesse sentido, a SEJUSP, o DEPEN e a SHUA atuam em parceria
com o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) em um programa
denominado PROGRAMA NOVOS RUMOS18.
O Novos Rumos opera em favor da humanização, auxiliando no
fomento (investimento) em projetos de inclusão e humanização no âmbito
prisional e socioeducativo visando a reinserção social, sobretudo.
O programa possui forte participação das APACs que em outras
disciplinas são objetos específicos de estudo como estruturas da sociedade civil
que operam junto à inclusão de pessoas condenadas. O programa também atua
junto às pessoas privadas de liberdade acometidas por adoecimento mental,
com o Programa de Atenção ao Paciente Judiciário (PAI-PJ).
O Novos Rumos monitora as ações das unidades do sistema prisional
e possui contato direto com o SHUA, no processo de fiscalização e edificação
de políticas públicas.
Conheça o NOVOS RUMOS, acessando o link abaixo:
Acesse:
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/acoes-e-programas/programa-novos-
rumos.htm#.ZFa3CHbMK3A
18
Disponível em https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/acoes-e-programas/programa-novos-
rumos.htm#.ZFa3CHbMK3A
52
Há um processo muito semelhante com os indivíduos privados de
liberdade, como se fosse um concurso permanente, ao qual eles estão
submetidos, no curso do cumprimento da reprimenda judicial publicada em
sentença.
De acordo com a sua postura, compostura e empenho no
cumprimento da pena, o IPL terá direitos que o distinguirão a partir do seu mérito.
Destacamos abaixo algumas ferramentas legais que são, efetivamente, marcas
da humanização, essenciais para a ressocialização e harmônica integração do
IPL perante a sociedade.
Os senhores estudaram tais ferramentas em outras disciplinas do
curso, de maneira que, o único foco do presente estudo, é a compreensão da
essencialidade dessas ferramentas jurídicas como meios de ressocialização e
humanização do atendimento às pessoas privadas da liberdade
53
tendo sua pena perdoada parcialmente de acordo com o seu mérito, tudo pelo
fato de que sua postura demonstra que ele quer ser melhor do que é, que
ele procura uma nova forma de viver em meio a sociedade!
B) PELA LEITURA19: O IPL tem o direito regulamentado de remição
de sua pena a partir de uma leitura qualificada de obras selecionadas. Indicamos
a leitura do artigo do CNJ, retratando sobre a regulação da matéria, é mas
fundamental destacarmos que o fulcro da medida visa a implantação de uma
cultura positiva, que permeie o desenvolvimento humano e o conhecimento, para
que as mazelas da “vida no crime” diminuam suas influências na vida dos IPL.
Leia a matéria abaixo, constante da referência.
C) PELO TRABALHO: O IPL que se dedica ao trabalho, além de ter
reconhecido o direito a ser remunerado por suas atividades, também recebe o
direito da remição de pena, para que possa compreender que o trabalho
transforma a vida das pessoas, positivamente, e isso pode acontecer ao longo
de sua vida, depois de que deixar o cárcere, desde que desenvolva como ser
humano e profissional!
A estrutura da remição foi concebida com a finalidade de enredar o
IPL em um movimento positivo de desenvolvimento humano, para que ele possa
compreender que o estudo e o trabalho são reconhecidos em meio à sociedade,
e são fatores de inclusão social e de oportunidades positivas, capazes de
fortalecer o indivíduo e diminuir sua vulnerabilidade diante da vida!
19
Dispnível em https://www.cnj.jus.br/regulamentada-a-remicao-de-pena-por-estudo-e-leitura-na-prisao/
54
Não são “estórias”, mas histórias comuns! Podem não virem
acompanhadas de data/hora/local, mas são ocorrências reais em eventos ruins,
que demonstram o poder que medidas de benefício exercem sobre os IPL,
principalmente, quando são colocadas em risco!
A PROGRESSÃO DE REGIME é uma medida prevista no Código
Penal (art. 33 CP) e na LEP (art. 112 LEP), e sua finalidade é possibilitar a
passagem do IPL que está cumprindo pena para outro regime mais benéfico e
menos gravoso, atentando-se, contudo, para requisitos objetivos e subjetivos,
sendo neste último essencial a análise de comportamento.
Com a progressão, o IPL percebe uma mudança essencial no
exercício dos direitos, ao longo do cumprimento da pena! Há mudanças
fundamentais entre os REGIMES FECHADO, SEMIABERTO e ABERTO, desde
os locais em que o cumprimento de pena ocorre, as oportunidades de estudo e
trabalho e, mais a possibilidade de convivência com a sua família.
Um IPL em regime fechado, somente deixa as dependências da
unidade prisional para atender requisições judiciais, ou ainda, em situações de
permissão de saída, que não são momentos agradáveis, porquanto não surgem
de sua deliberação.
As permissões de saída estão disciplinadas no art. 120 da LEP,
apenas para atender ao falecimento ou doença grave de parente próximo ou
para tratamento médico não disponível na unidade, sempre sob custódia e por
tempo reduzido.
Por sua vez, o IPL que progride ao regime semiaberto passa a ter
direito às saídas temporárias. Com previsão situada no art. 122 da LEP e
seguintes, ela permite que o IPL deixe a unidade apenas para visitar a família (e
durma fora da unidade).
Além disso, permite que ele frequente cursos fora da unidade prisional
e conviva com pessoas em liberdade, sem que estejam no convívio previsto pela
visitação. Por fim, a norma cita autorização para que o IPL participe de
“atividades que concorram para o retorno ao convívio social”, o que demonstra
o viés da medida de aproximar o IPL da sociedade e, principalmente, que ele
possa estabelecer vínculos positivos para sua inclusão.
55
Sem a necessidade de aprofundamento, nesta disciplina, sobre o
funcionamento dessas medidas, nos cumpre ressaltar o ganho de qualidade de
vida para o IPL que muda de regime, de um mais gravoso, para um menos
gravoso.
Compreendamos que a gravosidade de um regime reside, de certo,
no grau de exclusão que ele determina, a partir das limitações à liberdade
impostas. Como vimos em outras oportunidades, direitos são tolhidos ao IPL
enquanto é submetido à perda da liberdade e, no decorrer da progressão de
regime, ele retoma paulatinamente o acesso ao que antes lhe era próprio.
56
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Planalto,
Brasília, 11 jul. 1984b. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc90.htm. Acesso
em: 20 nov. 2022.
57
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/acoes-e-programas/programa-novos-
rumos.htm#.ZDSja-zMJTY>. Acesso em: 07 abr. 2023.
58