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CURSO DE FORMAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL

POLÍCIA PENAL – MG

1
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 03

2 ALTERNATIVAS PENAIS 05

2.1 - A execução do Direito Penal no Brasil 09

2.2 - Alteração de Penas Alternativas às Alternativas penais 11

2.3 - Modelo de Gestão em Alternativas Penais 13

2.4 - Princípios e diretrizes para as alternativas penais 15

2.4.1 - Primeiro postulado: intervenção penal mínima, desencarceradora e restaurativa 16

2.4.2 - Segundo postulado: dignidade, liberdade e protagonismo 18

2.4.3 - Terceiro postulado: ação integrada entre entes federativos 20

3 OS DESAFIOS DAS PRÁTICAS RESTAURATIVAS NAS PRISÕES 21

3.1- Contribuições da Justiça Restaurativa: democratizando o sistema de justiça 23

3.2 – Possibilidades e desafios: práticas restaurativas no ambiente prisional 25

3.3 – A Justiça Restaurativa em conflitos da Lei Maria da Penha em Minas Gerais 29

3.3.1 - O Programa Central de Acompanhamento de Alternativas Penais (Ceapa) em MG 31

2
REVISANDO 33

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 35

REFERÊNCIAS 36

1 INTRODUÇÃO

Conforme Diretrizes para a Política de Alternativas Penais do Conselho


Nacional de Justiça1, o Brasil possui uma taxa de encarceramento de
aproximadamente 300 pessoas por grupo de 100.000 habitantes, que se situa como
o dobro da média mundial.

De fato, no referido estudo mostra uma realidade que se mantém presente.


Conforme o CNMP, a partir do Sistema Prisional em Números2, o Brasil contabiliza

1 BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, acesso em 14 de maio de 2023.


https://dspace.mj.gov.br/bitstream/1/5394/1/diretrizesparaapoliticadealternativaspenais1.pdf
2 BRASIL. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, acesso em 14 de maio de 2023.

https://public.tableau.com/app/profile/cnmp/viz/SistemaPrisionalemNmeros-
apartirde2022/CumprimentoResoluo56
3
aproximadamente 650 mil pessoas privadas da liberdade, doravante, denominadas
de Indivíduos Privados de Liberdade (IPL).

O indicador de 2023 demonstra que o nível de encarceramento de nossa


sociedade, a despeito de inovações no sistema de execução das penas e de políticas
de desencarceramento e despenalização, atinge cerca de 302 pessoas por grupo de
100.000 pessoas, ou seja, continuamos numa sociedade que contempla a privação
da liberdade como meio mais importante para punição para quem viola a legislação
penal.

O Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN-UNIÃO), relata que o


Brasil é o terceiro país que mais encarcera no mundo, enfatizando que a política
criminal possui uma marcada tendência em impingir a pena privativa de liberdade
(PPL) como reprimenda mais importante do sistema.

Além disso, a população encarcerada é majoritariamente formada por


negros, robustecendo e dissimulando violências estruturais relacionadas a fatores
culturais e ideológicos que a cada ano mais vem fortalecendo o genocídio e a exclusão
da população negra no Brasil, via criminalização.

Nesse sentido orientamos ao candidato a leitura de matéria do CNJ sobre


a questão, do ano de 2017, demonstrando o caráter histórico desse processo3.

A legislação penal determina o que é transgressão penal e a lei atribui a


cada uma delas uma pena, mas o sistema jurídico demonstra que criminalizar um ato
e aplicar uma pena não é a única resposta, mas uma dentre diversas soluções
possíveis para lidar com condutas sociais consideradas indesejáveis, seleta num
determinado tempo histórico.

Nesse sentido, uma mesma ação, em grupos sociais ou tempos históricos


distintos, pode não debelar nenhum tipo de impedimento legal, ser acondicionado por
normas do direito privado ou reprimido por regras do direito penal.

De fato, vivemos em um extrato da sociedade, que possui características


próprias. Os processos históricos e a enormidade de grupos sociais distintos,
determinam que momentos e grupos elejam leis específicas para lidarem com

3BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, acesso em 16 de maio de 2023. https://www.cnj.jus.br/o-


encarceramento-tem-cor-diz-especialista/

4
condutas consideradas indesejáveis, tanto no campo jurídico (penal, civil, ambiental,
tributário, entre outros), quanto no campo moral, contando com protocolos próprios
para resolver demandas relativas à transgressão dessas regras.

Na visão do professor Alessandro Baratta4, a aplicação de uma pena se


constitui em afetação à liberdade da pessoa punida e, quando imposta por uma
estrutura jurídica como o Poder Judiciário, se reveste como violência institucional,
limitando direitos e empregando a punição com a coerção.

Conforme estudos da professora Vera Regina Andrade5, “a função da


prisão não é coibir a criminalidade”, mas, atuar de maneira a selecionar
(seletivamente) os indivíduos indesejáveis.

Nesse sentido, a execução penal reportaria um tipo de marginalização


primária relativa à exclusão histórica aos direitos fundamentais de parcela da
sociedade (negros e pobres), concebendo mais uma estrutura de exclusão social.

Nesse sentido, o professor Jorge Tassi, em sua obra6, concebe que a


legislação é constituída por uma classe de pessoas, que se posiciona em uma ordem
moral e que elege condutas mais comuns à outras ordens morais, consideradas como
inferiores, para que sejam crimes efetivamente, concebendo uma relação direta entre
quem manda, quem deve cumprir, e o que ocorre quando não se cumpre.

O notável criminólogo Eugênio Zaffaroni, em sua obra7, discorre sobre a


pena e as novas alternativas à aplicação da prisão, que ainda se constitui como
punição central da política criminal da nossa sociedade.

A lógica do Direito Penal é, numa visão minimalista, de solucionar os


conflitos jurídicos de sua alçada (criminal) por meio de punições (penas), e a
disposição contemporânea mais perceptível em nossa sociedade diz respeito à
reflexão sobre a eficiência da privação da liberdade para prevenir que outros crimes
venham a acontecer.

4 BARATTA, Alessandro. Princípios do direito penal mínimo. Para uma teoria dos direitos humanos
como objeto e limite da lei penal. Tradução de Francisco Bissoli Filho. Doctrina Penal. Teoria e
prática em las ciências penais. Ano 10, n.87. P. 623-650.
5 ANDRADE, Vera Regina. Pelas mãos da criminologia. Coleção Pensamento Criminológico.

Instituto Carioca de Criminologia. Rio de Janeiro, 2012.


6 TASSI, Jorge. O ser humano no Estado de Exceção. Suprema Cultura: São Paulo, 2008.
7 ZAFFARONI, Eugenio Raúl, Manual de direito penal brasileiro: parte geral / Eugenio Raúl Zaffaroni, José
Henrique Pierangeli. - 5. ed, rev. e atual. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004
5
Exemplos, como a Lei Federal nº 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais
Criminal (JECRIM), sendo ampliado pela lei 9.714/98, trouxeram novas configurações
de alternativas penais ao ordenamento penal brasileiro, mas se enquadram como
meios de o Estado estender sua zona de controle social para fora das unidades
prisionais.

De outra sorte, é notável o surgimento da Justiça Restaurativa (JR), que


vem contribuindo de maneira ímpar para que relações jurídicas, inclusive no campo
penal, possam ser solucionadas com menor rigor e diante de um ambiente de
conciliação.

Nesse sentido, a JR induz a que todo o Estado se envolva na concepção


de práticas restaurativas, de maneira que a busca por alternativas ao encarceramento
e, até mesmo, à penalização de determinadas condutas se consolidou como uma
estratégia social e jurídica a contrapor os modelos que conferem primazia do
encarceramento.

Na mesma toada, o Ministério da Justiça (MJ), em conjunto com o Conselho


Nacional de Justiça (CNJ) e o DEPEN-UNIÃO, lançaram em 2016 uma obra que
discorre sobre a Política Nacional de Alternativas Penais8, cuja leitura é indicada ao
futuros Policiais Penais.

Os estudos fomentaram a inquietação em relação a política criminal de


encarceramento em massa, de maneira que incentivaram o firmamento de acordos
de cooperação técnica para o fortalecimento de práticas alternativas à PPL, em todo
o país, conforme preceitua o trabalho citado, que sedimentou a concepção de uma
Política Nacional de Alternativas Penais.

Nessa esteira, os órgãos de execução penal, em um caráter especial


aqueles que atuam com a execução das alternativas penais no país, e os Centros
Judiciários de Mediação de Conflitos e Cidadania são considerados campos
singulares, nos quais as práticas de justiça restaurativa venha a prosperar, a fim de
colaborar com a desoneração processual criminal do poder judiciário no pais,
somando a questão do enfrentamento coletivo em prol da diminuição dos números do
encarceramento em nosso país.

8BRASIL, Ministério de Justiça. Postulados, Princípios e Diretrizes para a Política de Alternativas Penais.
https://dspace.mj.gov.br/bitstream/1/5394/1/diretrizesparaapoliticadealternativaspenais1.pdf
6
Desse modo, torna-se imperioso expandir as respostas para o
enfrentamento das violências e dos crimes, sendo que uma boa parte dos
instrumentos para essa mudança estão sistematizadas neste material, que é
considerado de formação, mas acima de tudo é um material de sensibilização.

Assim, é possível e indispensável trabalhar por meio da responsabilização


do indivíduo, mas para isso é preciso acreditar no ser humano, e principalmente em
sua disposição de mudanças e reversões de caminhos, investindo em trajetórias de
participação e intervenção, no acesso aos direitos fundamentais, na sustentação de
vínculos e fortalecimento familiares e comunitários e especialmente, na
restauração/reparo dos danos e das relações sociais.

2 ALTERNATIVAS PENAIS

Em 1990, foi realizado o Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção


do Delito e Tratamento do Delinquente, as Regras das Nações Unidas sobre Medidas
Não-Privativas de Liberdade, conhecidas internacionalmente como Regras de
Tóquio. 9

As Regras de Tóquio são o resultado de um processo histórico de análise,


apreciação e discussão, recomendando o emprego de penas restritivas de liberdade
a pessoa condenada pela prática de crime, apenas, em último caso e, somente nas
hipóteses de crimes graves e com alta periculosidade, sendo que, para outras
infrações, sugere medidas e penas alternativas.

O advento do movimento internacional influenciou que o tema


ALTERNATIVAS PENAIS à privação da liberdade se ramificasse e ocupasse grande
parte das legislações dos países ocidentais.

Contudo, as alternativas penais, ao invés de apresentarem resultado na


diminuição da população carcerária, firmaram-se apenas como um modo de

9ONU. Regras de Tóquio.


https://www.tjsc.jus.br/documents/10181/369487/Regras+de+T%C3%B3quio/0d5a2d2c-0ee9-4a21-ba11-
5503a0fd6596
7
complementação ao sistema penal, alargando o controle através das penas
substitutivas para além dos muros do aprisionamento.

No mesmo sentido esponta Lúcia Karam10, que em sua obra destaca que
o aparecimento das penas alternativas e a criação dos JECRIM, ampliaram o rol de
punições sobre uma população de infratores, cujo número anterior era de menor
representação, e na mesma visão de Zaffaroni, entendeu que a legislação dos
juizados criminais apenas aumentaria a rede do controle penal, para inclusão na área
da criminalização secundária daqueles que antes resistiriam a ela.

Na visão da pesquisadora Fabiana Leite, inserida na obra referenciada do


MJ e do CNJ, sobre a Política de Alternativas Penais11, nas décadas de 60 e 70, as
únicas previsões legais de flexibilização da PPL eram a interrupção da pena e a multa.
Em 1977, segundo a autora, foram introduzidos no sistema de execução
penal a “prisão aberta” e a “prisão albergue”, que funcionaram até a edição da LEP,
em 1984, e esse ano foi marcante, porquanto se sucederam a reforma da Parte Geral
do Código Penal e a promulgação da Lei de Execução Penal, havendo uma ampliação
das penas alternativas para efetuar a reparação do dano motivado e a prestação de
serviço à comunidade.
Foram, aos poucos, criadas condições para a materialização de um sistema
jurídico que permitisse a sua aplicação e cumprimento. As alterações no Código
Penal, em 1984, abarcaram as modalidades de penas restritivas de direitos, o qual
estava prevendo a prestação de serviços à comunidade, embargo temporário de
direitos e restrição de final de semana.
Conforme os estudos da pesquisadora, a inovação continuou com a
instituição da Lei Federal nº 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Criminais, que
ofertou no âmbito penal medidas como a composição dos danos civis, a transação
penal e a suspensão condicional do processo.
Em outra inovação, no ano de 1998, foram incluídas no art. 43 do CP a
prestação pecuniária em benefício da vítima, a perda de bens e valores, e a proibição
de frequentar determinados locais.

10KARAM, Maria Lúcia. Juizados especiais criminais: a concretização antecipada do poder de punir. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004.
11LEITE, Fabiana de Lima. Postulados, princípios e diretrizes para a política de
alternativas penais. Brasília: Ministério da Justiça; CNJ, 2016.
8
Percebe-se, porém, que mesmo com o avanço substantivo das
possibilidades de medidas alternativas à privação da liberdade, estas ainda não
conseguiram diminuir a expansão progressiva da população carcerária.
Leite destaca, por fim, que vários fatores concorrem para essa finalidade,
com primazia do movimento da lei e da ordem, do novo realismo criminológico e do
neorretribucionismo penal, com teorias que defendem medidas repressivas de
extrema severidade e da formulação dos tipos criminais.
Importante salientar que em oposição direta às alternativas penais, esses
movimentos percorrem tomam caminho oposto, com propostas de legislações cada
vez mais rigorosas, e aprofundamento do controle social via sistema carcerário.
Para tanto, regem-se por estruturas como o regime fechado, as prisões de
segurança máxima, as proibições de liberdade provisória, as restrições ao direito de
impugnação de sentença, a redução da maioridade penal, a ampliação dos tipos penal
e da quantidade de pena privativa de liberdade, e que culminaram, por exemplo, com
concepção de crimes denominados de "hediondos", dentre outros.
Por fim, Leite relata que a efetividade das penas alternativas, como
diminuição do encarceramento no Brasil, sofre entraves legais.
Em investigação realizada pelo Instituto Latino-Americano das Nações
Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD) foi
evidenciado que, apesar de ampliar a permissão legal para a imposição de pena
restritiva de direito em substituição de PPL de até (quatro) anos, o instituto se mostra
ineficaz, pois muitos magistrados compreendem que somente deva ser aplicado para
penas com duração de até 2 anos.
No mesmo estudo do ILANUD, na obra citada, constata-se outro obstáculo,
como as restrições legais de emprego para crimes cometidos por meio de intimidações
(ameaças) e violência, e ao crime de roubo.
Na visão da pensadora, essas restrições eliminam do universo das penas
alternativas uma grande parte dos delitos que poderiam receber, sem alterar a
realidade do sistema carcerário brasileiro.
Ainda, destaquemos que as normas jurídicas brasileiras preservam uma
área de excessiva discricionariedade judicial. A lei apresenta lacunas para
interpretações não-objetivas, permitindo que o juiz não a aplique ao caso concreto,

9
eis que, se o condenado não cumprir os requisitos objetivos, a sua pena privativa de
liberdade não será substituída.
Entretanto, o juiz pode rejeitar a substituição com base em elementos
subjetivos, previstos no artigo 59 do CP, que por sua vez, prevê que o juiz leve em
consideração a culpa, o histórico, a conduta social, a individualidade do autor do crime,
os motivos, as circunstâncias e as consequências do crime e o comportamento da
vítima.
Em análise do artigo 33 do CP, é possível compreender esse raciocínio
analisando os verbos, sendo eles obrigatórios caso se queira impor a pena privativa
de liberdade e facultativos caso seja proposta pena restritiva.
Sendo assim, a item ‘a’ do § 2º “impõe" que o sujeito que foi condenado à
pena maior que 8 anos "deverá" iniciar o seu cumprimento em regime fechado, porém
os itens ‘b’ e ‘c’ “recomendam" que o sujeito que não seja reincidente, cuja pena seja
maior que 4 anos e não ultrapasse 8 anos, e o que não tenha reincidido, cuja pena
seja igual ou maior a 4 (quatro) anos, "poderão", desde o começo, cumprir em regime
semiaberto na primeira ocorrência e em regime aberto na segunda.
Cursando a legislação penal, percebe-se a “timidez” do legislador em
escolher pelos substitutivos da pena privativa de liberdade. Bastaria que o corpo da
lei aplicasse maior imperatividade e as restritivas certamente teriam maior efetividade.
Foucault, por meio de sua obra “Vigiar e Punir”12, pondera sobre o controle
penal para além do alcance espaço-corporal, numa tendência de extinguir o corpo
como alvo principal da repressão penal.
Segundo o autor, a punição vai-se tornando “a parte mais velada do
processo penal, provocando várias consequências: deixa o corpo da percepção quase
diária e entra no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade, não
à sua intensidade visível”.
Foucault trabalhou para uma nova visão das instituições prisionais e da
sociedade contemporânea no tratamento das prisões, a ponto de levar o seu leitor a
questionar, se horrorizar, a recusar e, ao mesmo tempo, percebem assimilações e
buscam mudanças nos mecanismos de aprisionamento.

Para Arraz, a experiência de Foucault revela a estrutura material da prisão, e


oferece um melhor entendimento sobre a configuração e as nuances da execução da

12 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2012.


10
pena, que se desdobram como uma experiência-limite, ressaltando que a sociedade
não reconhece os sujeitos encarcerados como parte do corpo social, embora todos os
subsídios que compõem a forma de prisão estejam presentes em todas as instâncias
desta sociedade.

Em sua dissertação de mestrado, Souza13 os discursos no campo das


alternativas penais, principalmente a partir de uma apreciação centrada nos
documentos institucionais da política nacional, historicamente.

O autor demonstra as diferenças entre as perspectivas gerencial e


reabilitadora. Além disso, aponta que recorrentemente a associação com discursos
pautados na periculosidade das questões, a fim de distinguir quem deve ou não
receber uma punição ou medida alternativa.

Para o autor, é importante desvendar as armadilhas que se encontram no


plano simbólico, que acabam por reproduzir e vincular os mesmos paradigmas que as
alternativas penais procuram combater.

Na mesma seara, Andrade (2012), na Conferência de Encerramento do VII


Congresso Nacional de Alternativas Penais, apontou a alteração de percepção da
atual política de Penas Alternativas, e que o Ministério da Justiça consegue
reconhecer que estamos em um momento importante e que devemos seguir em
frente, ou seja, o tempo presente é de progredir e radicalizar o caminho que já foi
decorrido, das alternativas à punição para a constituição de mecanismos alternativos,
ao próprio modelo de punição.

13 Souza, Guilherme Augusto Dornelles de. “Punir menos, punir melhor: Discurso sobre crime e punição na

produção de alternativas à prisão no Brasil. Dissertação de Mestrado, PUCRS, 2014. Acesso em


https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/4968

11
2.1 A execução do Direito Penal no Brasil

Em sua obra, o professor Guilherme Nucci14, destaca que o Direito (e o


direito penal), é composto por princípios, que delineiam as regras para interpretar e,
principalmente, aplicar o direito positivo.

Os princípios penais são elementos basilares e limitadores para a aplicação


da lei penal, uma vez que é garantido ao Estado o poder/dever de uso legítimo da
força.

Sendo assim, a gestão dos conflitos sociais é uma função histórica que dá
origem ao Estado Moderno. De acordo com as premissas liberais, Estado só tem o
dever de intervir nas relações sociais quando a lei da reciprocidade é transgredida
pelos indivíduos.

Assim, o poder/dever do Estado de interferir no âmbito da vida social se


justifica, sob essa perspectiva, quando a paz e a assistência mútua entre os seus
membros são colocadas em risco.

Essa premissa liberal encontra seu eixo na regulação das relações civis e
se reproduz também âmbito penal. Por outro lado, analisando-se a instituição estatal
sob outros prismas teóricos críticos da visão liberal, o Estado é identificado como a
instituição que realiza a intermediação das relações sociais, portanto não é neutro em
relação à sua produção e reprodução no cotidiano da vida social, mas se confunde
com ela na medida em que reproduz em seus fundamentos e formas de ação às
mesmas incoerências que existem na estrutura da sociedade disponível.

Destaque-se, segundo Faleiros15, o Estado não é um julgador neutro, nem


um julgador do bem-estar dos cidadãos. Tampouco é um aparelho ou ferramenta nas
mãos das classes dominantes para promover seus interesses.

Assim, o Estado é um campo de batalha onde as diversas facções da


burguesia e os interesses particulares do grupo de poder se confrontam e se conciliam
com os interesses particulares das classes dominadas. O Estado é ao mesmo tempo
um lugar de poder político, um aparato coercitivo e integrador, uma organização

14
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal, Forense: Rio de Janeiro, 2014
15 FALEIROS, Vicente de Paula. A política social do Estado Capitalista. 8.ed.rev. São Paulo: Cortez, 2009.

12
burocrática, um mediador da prática social capaz de organizar o que parece ser o
interesse geral de um determinado território.

No entanto, o aparato do Estado não é apenas do interesse da classe


dominante. Pode integrar, dominar, aceitar mudanças, estimular certos interesses das
classes dominadas.

O Estado é hegemonia e dominação, é o lugar onde se correlacionam as


forças sociais, mediadas pelas instituições, pelas forças políticas e militares do poder
estatal.

Assim, o direito penal institucionaliza o uso da força estatal contra as


pessoas que contrariam a lei, violando preceitos da convivência ética em sociedade,
e dotado de legitimidade, o Estado que tem o poder/dever de usar as armas físicas e
força concretizada, de maneira controlada, para que não haja abuso de seu poder
sobre a sociedade.

Mello (2014) explica que o direito penal envolve um conflito entre liberdade
e intervenção, dando destaque a outro princípio, o princípio da proporcionalidade, que
implica a adequação da norma, necessidade e intervenção estatal na vida do
indivíduo, que deve ser mínima.

Entende-se que a violência é inerente ao direito penal e é aceitável na


medida em que importantes bens jurídicos são protegidos. As intervenções do direito
penal, no entanto, devem ser uma exceção, porque os direitos fundamentais são
sempre vulneráveis.

Assim, entende-se que o direito penal é o último recurso como meio de


controle social. Este controlo concretiza-se socialmente através de uma área
específica do direito penal, nomeadamente a execução de penas, que assenta em
diferentes teorias e finalidades.

Segundo Capez (2004), existem três finalidades da pena:

a) Teoria absoluta ou da retribuição: a finalidade da pena é


punir o autor de uma infração penal. A pena é a retribuição do
mal injusto, praticado pelo criminoso, pelo mal justo previsto no
ordenamento Jurídico; b) Teoria relativa, finalista, utilitária ou
da prevenção: a pena tem um fim prático e imediato de
prevenção geral ou especial do crime. A prevenção é especial
porque a pena objetiva a readaptação e a segregação sociais do

13
criminoso corno meios de impedi-lo de voltar a delinquir. A
prevenção geral é representada pela intimidação dirigida ao
ambiente social (as pessoas não delinquem porque têm medo
de receber a punição); c) Teoria mista, eclética, intermediária
ou conciliatória: a pena tem dupla função de punir o criminoso
e prevenir a prática do crime, pela reeducação e pela intimidação
coletiva (CAPEZ, 2004, p. 339-340 – grifos nosso).

A teoria adotada no Brasil é a mista. De acordo com esta teoria, ao impor


e executar uma pena, o Estado deve agir de forma a implementar elementos de
punição do crime cometido e de prevenção e reeducação criminal em geral.

Portanto, envolve responsabilidade e educação. Esses são requisitos


específicos da noção de ressocialização ancorada na perspectiva da teoria mista.
Havendo necessidade de ação penal, o princípio da intervenção mínima é decisivo
que “a discricionariedade judicial opte pela medida menos gravosa, aquela que menos
expõe à vulnerabilidade os direitos fundamentais” (MELLO, 2014, p. 252).

Wanderley (2013) esclarece que a imposição de punições invasivas afeta


diretamente os direitos do indivíduo, portanto, privar-se da liberdade física suspende
os direitos fundamentais em situação de risco.

Desse entendimento advém a importância do princípio da intervenção


mínima, que garante que os direitos fundamentais só sejam colocados em risco
quando estritamente necessário, e mesmo que a sanção tenha que ser imposta, deve
ser feita com mais tranquilidade para cumprir seu papel, mas com um impacto mínimo
nos direitos fundamentais.

Embora um rol de princípios penais seja constitucionalmente garantido no


Brasil, incluindo os princípios da intrusão mínima e da proporcionalidade da punição
em função do crime cometido, a realidade histórica do sistema prisional brasileiro
mostra certa ineficácia social dos respectivos dispositivos.

2.2 Alteração de penas alternativas às alternativas penais

O início da Política Nacional de Penas e Medidas Alternativas foi marcado


em 2000 com a criação do Centro Nacional de Apoio e Fiscalização de Penas e

14
Medidas Alternativas (CENAPA), administrado por uma gestão que fazia parte da
Secretaria Nacional de Justiça, no Ministério da Justiça.

Em 2002 foi criada a Comissão Nacional de Penas e Medidas Alternativas


(CONAPA), instituída pelo Decreto 153/2002, esta Comissão durou até 2011, com
composição a cada 2 (dois) anos, formada por funcionários do sistema judiciário
(juízes, promotores, advogados de defesa e técnicos de diversos estados); e visa
promover políticas alternativas de punição, fornecer apoio institucional e fortalecer
iniciativas nos países.

Em 2005, o DEPEN-UNIÃO passou a integrar o Ministério da Justiça, como


órgão específico que manteve a administração do CENAPA em sua estrutura, como
medida da Coordenação-Geral de Reinserção Social.

Assim, a política de penas e medidas alternativas deixou de fazer parte das


atribuições da Coordenação-Geral de Reinserção Social em 2007, quando foi
instituída a Coordenação-Geral de Penas e Medidas Alternativas (CGPMA), vinculada
à Diretoria de Política Penitenciária (DIRPP) juntamente com o DEPEN no Ministério
da Justiça, a atual estrutura administrativa da política nacional de alternativas penais.

O foco principal da implementação da política nacional foi apoiar o


estabelecimento de estruturas para monitorar penalidades e medidas alternativas nos
países. Para tanto, o governo federal firmou convênios que tinham como objeto o
repasse de recursos para a criação dos Centros de Atendimento e Fiscalização de
Penas e Medidas Alternativas (CEAPA).

Essas estruturas foram criadas com o poder judiciário, o ministério público,


a defensoria pública ou o executivo responsável pela execução dos projetos a partir
de convênios firmados com o poder judiciário e levando em consideração as iniciativas
e especificidades de cada estado.

O modelo das CEAPA tem sido reconhecido como um importante mecanismo


metodológico de monitoramento de penas e medidas alternativas e de inclusão social
do público atendido.

A Resolução nº 06 de 25 de novembro de 2009 do Conselho Nacional de


Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e a Resolução nº 101 de 15 de dezembro

15
de 2009 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afirmam e recomendam esse modelo
de promoção de políticas punitivas e medidas alternativas.

A composição desses órgãos proporcionou uma compreensão crítica dos


rumos da política nacional de alternativas penais, pois ano a ano os dados apontavam
para a incapacidade de penas alternativas e medidas para reduzir o encarceramento
das pessoas.

Em outra direção, paralelamente à expansão das penas alternativas, a


realidade também mostrou que, felizmente, práticas extrajudiciais de solução de
conflitos e justiça restaurativa foram instituídas, mas estas não foram adotadas pelo
judiciário, apesar das possibilidades de aplicação como alternativa para a prisão, em
um sentido abrangente.

Diante desse cenário, o DEPEN-UNIÃO formou um grupo de trabalho com


a CGPMA em 2011 com o objetivo de consolidar um sistema nacional de alternativas
penais - SINAPE - baseado em estudos, desenvolvimento de métodos e
monitoramento de iniciativas legislativas.

A essa altura já havia um entendimento crítico da CGPMA, concretizado


junto ao Grupo de Trabalho, sobre a impossibilidade de coibir o encarceramento por
meio de penas e medidas alternativas, o que implicava promover uma mudança na
concepção da política de penas alternativas.

São muitos os desafios para que alternativas prisionais contribuam


efetivamente para a reversão da atual cultura carcerária no Brasil. O Estado deve
garantir de forma efetiva o acesso aos direitos fundamentais, além de buscar criar
mecanismos de resolução de conflitos e violência que não sejam a prisão, tendo como
foco os pilares constitucionais da dignidade e da liberdade da pessoa humana.

2.3 Modelo de gestão em alternativas penais

Segundo dados do Sistema Prisional em Números16, do CNMP, tornou-se


rotina nos ambientes prisionais encontrar condições que apresentam precariedade,

16BRASIL. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, acesso em 14 de maio de 2023.


https://public.tableau.com/app/profile/cnmp/viz/SistemaPrisionalemNmeros-
apartirde2022/CumprimentoResoluo56
16
falta de respeito e de higiene, carência por profissionais bem treinados e, até mesmo,
muitas doenças em série, sendo este um dos grandes desafios dos gestores do
ambiente prisional para mitigar essas situações que têm sido constantes nos
ambientes prisionais.

Seguindo essa esteira, Greco (2011) realiza diversas indagações:

como o Estado quer levar a efeito o programa de ressocialização


do condenado, se não consegue cumprir as suas funções sociais
que lhe são atribuídas, normalmente, pela Constituição? De que
adianta ensinar um ofício ao condenado durante o cumprimento
de sua pena se, ao ser colocado em liberdade, não conseguirá
emprego e, o que é pior, muitas vezes voltará ao mesmo
ambiente que lhe propiciou o ingresso na "vida do crime"? O
Estado não educa, não presta serviços de saúde, não fornece
habitação para a população carente e miserável, é negligente
em todos os aspectos fundamentais no que diz respeito à
preservação da dignidade da pessoa humana (GRECO, 2011, p.
443-444).

Diante da situação de encarceramento em massa que sempre assolou o país,


o Ministério da Justiça e o CNJ firmaram em 2015 o Termo de Cooperação 006/2015,
que visa ampliar e aplicar alternativas penais. O termo em questão define o que são
alternativas penais: penas que limitam direitos; transações criminosas e demissões
condicionais; suspensão da prisão; técnicas de conciliação, mediação e justiça
restaurativa; outras medidas cautelares que não a prisão; e medidas de proteção
urgentes. As finalidades do termo incluem a autodeterminação responsável do
responsável pela prática criminosa, a promoção da cidadania e o incentivo à
participação da comunidade na resolução de conflitos (BRASIL, 2015).

O CNJ se comprometeu a introduzir alternativas penais na realidade do


judiciário, por meio de oficinas, aulas na escola de justiça, campanhas de
conscientização, aplicação de negociações de custódia, etc.

Na mesma lógica de atuação, o Ministério da Justiça publicou a Portaria n. 495


de 28 de abril de 2016, como citamos, a Política Nacional de Alternativas Penais, que
em seu art. 1º declara sua instituição com o objetivo de desenvolver ações, projetos
e estratégias voltadas para o enfrentamento do encarceramento em massa e a
ampliação do uso de penas alternativas à prisão com enfoque restaurativo e não
prisional da liberdade.
17
As alternativas penais caracterizam-se como uma aplicação prática do
princípio da interferência mínima, pois criam uma experiência de prevenção de
danos aos direitos fundamentais por meio do encarceramento.

Assim, impõe-se uma medida penal ao autor da infração, mas de forma


mais branda, evitando-se assim a temida violação de direitos fundamentais. Nesse
sentido, o enfoque restaurativo contido no referido instituto, torna-se uma alternativa
primordial na aplicação e cumprimento das alternativas penais no Brasil.

Considerando a realidade nacional do encarceramento em massa, pode-


se dizer que o Estado brasileiro tem o dever moral e jurídico de aceitar as disposições
da Política Nacional de Penas Alternativas, nos termos do art. 3º, são objeto da
Política Nacional de Alternativas Penais:

I - O incentivo à participação da comunidade e da vítima na


resolução de conflitos; II - A dignidade, a autonomia e a liberdade
das partes envolvidas nos conflitos; III - A responsabilização da
pessoa submetida à alternativa penal, e a manutenção de seu
vínculo com a comunidade, garantindo seus direitos individuais
e sociais; IV - O fomento à mecanismos horizontalizados e
autocompositivos, a partir de soluções participativas e ajustadas
às realidades das partes envolvidas; e V - A restauração das
relações sociais e a promoção da cultura de paz. (BRASIL, 2016,
Art. 3º).
Assim, por meio dos elementos acima considerados, os postulados de
alternativas penais no Brasil pretendem representar uma intervenção penal mínima
para a libertação baseada na liberdade e no protagonismo do povo, visando assim o
desenho de uma ação integrada e o controle político de alternativas.

A resolução incorpora elementos de justiça restaurativa. Nesse sentido,


Jaccoud17 disserta que JR é uma justaposição que favorece qualquer forma de ação,
individual ou coletiva, voltada para a redução das consequências sofridas em
decorrência de uma violação, da resolução de um conflito ou da reconciliação dos
portadores de uma desordem.

17 JACCOUD, Mylène. Princípios, Tendências e Procedimentos que Cercam a Justiça Restaurativa. In: SLAKMON,
C.; DE VITTO; PINTO, Renato Sócrates Gomes (Orgs.). Justiça Restaurativa. Brasília-DF: Ministério da Justiça
e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, 2005. p. 163-186.

18
Assim, ao incorporar à política a perspectiva de participação comunitária,
horizontalidade, compromisso com o restabelecimento das relações sociais e
promoção de uma cultura de paz, percebe-se que o Estado brasileiro assume a
liderança em algumas propostas legislativas que impõem importantes desafios para a
implementação de medidas alternativas e penalidades no país.

Há, então, o desafio de incluir os elementos da JR na execução penal, o


que impõe aos gestores públicos a obrigação de implementar medidas que visem a
mudança e/ou transformação de suas práticas de atendimento ao público.

Duas frentes de trabalho se abrem: uma na perspectiva de complementar


o sistema retributivo com práticas restaurativas; e outra voltada para a mudança do
próprio modelo de aplicação e execução da punição, ou seja, a superação do modelo
retributivo.

Para Jaccoud, tudo depende da construção das ações realizadas pelas


frentes de trabalho no âmbito das alternativas penais e se estas visam reparar as
consequências do crime para os diversos sujeitos envolvidos ou se são práticas de
JR essas são cumulativamente incorporadas ao cumprimento de penalidades
retributivas.

A autora alerta, portanto, para o risco de práticas restaurativas que


contribuam para o agravamento da pena se surgirem como complemento da punição
tradicional.

2.4 Princípios e diretrizes para as alternativas penais

Leite, em obra citada18, apresenta alguns princípios relacionados à área da


justiça alternativa, que constituem as diretrizes de avaliação, nas quais devem se
basear essas práticas. Esses princípios são estruturados em torno de postulados
gerais nos quais se baseiam esses princípios, com o objetivo principal de reduzir o
encarceramento no Brasil, sendo eles:

18 Conforme os estudos de Leite (2016), intitulado: postulados, princípios e diretrizes para a política de alternativas
penais (brasil, 2016).

19
2.4.1 Primeiro postulado: intervenção penal mínima, desencarceradora e
restaurativa

Segundo estudos de Leite (2016), o primeiro postulado é dividido em dois


níveis. O primeiro nível de intervenção, como forma de promover a redução do
encarceramento no Brasil, exige mudanças legislativas capazes de descriminalizar
condutas que podem e devem ser resolvidas por outras formas de controle social
formal ou informal.

Num segundo nível de intervenção, destacam-se os procedimentos


residuais, em que se considera ainda a necessidade de uma intervenção penal
mínima para garantir a liberdade das pessoas através de mecanismos alternativos
com abordagens restaurativas.

Nessa esteira esses dois elementos tornam necessário mapear e localizar


as modalidades de direito penal alternativo e estabelecer a partir disso o conceito de
direito penal alternativo.

Conforme a autora, as instituições penais alternativas à prisão são


determinadas na legislação brasileira com base na quantidade de pena aplicada,
determinando assim a composição das estruturas do sistema judiciário que devem
atuar sobre os criminosos:

20
i) Os crimes com pena máxima aplicada em até dois anos
considerados de menor potencial ofensivo, serão recebidos
pelos Juizados Especiais Criminais (JECRIM) e para eles
poderão ser aplicados a transação penal e a suspensão
condicional do processo. ii) Os crimes com pena máxima
aplicada em até dois anos, com ou sem violência, poderão
receber suspensão condicional da pena. iii) Os crimes com pena
máxima aplicada em até quatro anos, sem violência ou grave
ameaça, poderão receber uma pena restritiva de direito

Assim, as modalidades de alternativas penais, conforme a Portaria MJ 495,


de 28/04/2016, em seu artigo 1º: I – Penas restritivas de direitos; II – Transação penal
e suspensão condicional do processo; III - Suspensão condicional da pena privativa
de liberdade; IV – Conciliação e práticas de justiça restaurativa; V – Medidas
cautelares diversas da prisão; VI – Medidas protetivas de urgência.

Relata que as alternativas penais podem e devem ser aplicadas em


qualquer fase de intervenção penal:

1) Momento anterior ao processo penal, realizada no sistema de


justiça e com a possibilidade de resultar em acordos que
impedem a instauração de um processo penal: a) mediação de
conflito; b) justiça restaurativa; c) conciliação.
2) Substitutiva de uma prisão provisória: a) medidas cautelares
diversas da prisão; b) medidas protetivas de urgência; 3) Como
suspensão do processo ou substitutiva de uma pena de prisão:
a) Transação penal; b) Suspensão condicional do processo; c)
Suspensão condicional da pena; d) Pena restritiva de direito
(BRASIL, 2016, p. 18).

Assim, alternativas penais são práticas já existentes no mundo jurídico ou


consolidadas como experiências não punitivas. A legislação relativa às alternativas
penais é mencionada nestas legislações:

● Lei 7.209/84 relativa à reforma do Código Penal;


● Lei da Execução Penal, 7.210/84;
● Artigo 5º da Constituição Federal (1988), quando dispõe sobre a
prestação social alternativa;
● Lei 9.099/95 sobre os Juizados Especiais Criminais;
● Lei 9.714/98, das Penas Alternativas;
21
● Lei 10.259/01, sobre os Juizados Especiais no âmbito da Justiça
Federal;
● Lei Maria da Penha, 11.340/06;
● Lei 12.403/11, das Medidas Cautelares;
● Código Penal nos artigos 77º a 80º, ao tratar da suspensão
condicional da pena.

Destaque-se a atuação, por parte da autora, dos Institutos de Mediação de


Conflitos e Justiça Restaurativa, que incorporaram experiências nos JECRIM, embora
ainda não possuíssem previsão legal, amparando alternativas penais de forma
transversal, sendo utilizados como espécie de método, o que é adequado para alterar
um defeito estrutural no processo penal.

Portanto, as práticas de mediação de conflitos ou justiça restaurativa


desenvolvidas fora do sistema penitenciário devem ser incentivadas por órgãos
governamentais, pelo sistema de justiça não punitivo ou por organizações da
sociedade civil para que possam contestar o escrutínio criminal.

Dessa forma, Achutti19 demostra que a criminalização, sendo seletiva,


impõe desafiadoramente uma política penal alternativa que reduza a vulnerabilidade
dos criminosos ao próprio sistema penal.

Portanto, a abordagem restaurativa aliada à intervenção mínima da justiça


criminal deve fornecer aos principais atores – vítima, perpetrador e grupo social
diretamente afetado pelo crime – oportunidades suficientes para entender e lidar com
a violação.

Nesse contexto, Leite aponta a necessidade e o desafio de mudar


radicalmente a forma como o sistema prisional se relaciona historicamente com o
acusado e a vítima, como essa mudança na Estratégia Nacional de Alternativas à
Pena – ENAPE, por meio do Decreto 2.594, de 24/11/2011, do Ministério da Justiça.

O projeto de lei que cria o SINAPE estabelece os objetivos e elenca as


finalidades da política de punição alternativa. Nesse sentido, as finalidades das

19 ACHUTTI, Daniel. Justiça Restaurativa e Abolicionismo Penal: contribuições para um novo modelo de
administração de conflitos no Brasil. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2016

22
alternativas penais são: “incentivo à participação da comunidade e da vítima na
resolução de conflitos; responsabilização da pessoa que recebe uma medida e a
manutenção do seu vínculo com a comunidade; e a restauração das relações sociais”
(LEITE, 2016, p. 19).

Diante dos elementos acima considerados, e preocupada em promover


mudanças, celebrou convênio de colaboração com o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), por meio do Ministério Público, com o objetivo de ampliar o uso de alternativas
penais com abordagem restaurativa que substitua a prisão e contribua para o
enfrentamento do processo de encarceramento.

O primeiro postulado revela os seguintes princípios: resposta não


contingente; prevenção social; subsidiariedade; intervenção penal mínima; reserva da
lei; presunção da inocência; irretroatividade; proporcionalidade; idoneidade;
individuação; horizontalidade e autocomposição; celeridade; normalidade; imputação
pessoal; responsabilidade pelo fato; primado da vítima; instrumentalidade e
simplicidade dos atos e das formas; provisoriedade; limites do poder discricionário;
separação de competências; economia.20

2.4.2 Segundo postulado: dignidade, liberdade e protagonismo

No segundo postulado, Leite expressa maior preocupação com a questão dos


presos no Brasil e com a existência de um número significativo de pessoas
aguardando julgamento e que grande parte dessas pessoas sejam absolvidas ou
condenadas a pena restritiva aplicada.

Assim, a Lei das Cautelares (Lei 12.403/11) foi editada com o objetivo de alterar
o Código de Processo Penal e coibir o uso indiscriminado da prisão preventiva,
ampliando as possibilidades de medidas preventivas e introduzindo no sistema de
justiça criminal diversas alternativas à prisão e liberdade condicional.

Nesse sentido, de acordo com a dispersão das audiências de prisão no Brasil,


que tem como foco uma manifestação mais célere do preso perante um juiz, no caso

20 Para saber um pouco mais sobre cada princípio, leia a obra de (LEITE, 2016, p. 27-30).

23
de prisões em flagrante, é possível, mas também necessário, assegurar que as
medidas de isenção sejam aplicadas.

Leite (2016) aponta que as alternativas penais precisam romper com a


noção de retaliação fiscalizadora e de vigilância estatal, pois as alternativas penais
precisam agregar novos paradigmas sob a condição de assegurar a responsabilização
dos envolvidos e reparar os danos, ou seja, a adequação e execução da pena
traduzem-se na resolução do conflito para as pessoas que participaram da causa
trazida à esfera criminal.

Segundo a autora, para que esses objetivos sejam alcançados, é essencial


“a inserção da mediação e do enfoque restaurativo no escopo da política de
alternativas penais”.

Os princípios referem-se à consideração do caráter holístico da dignidade


e da liberdade da pessoa humana em alternativas penais, que não representem
nenhuma forma de subjugação física.

Portanto, de acordo com os princípios constitucionais, a dignidade da


pessoa humana deve ser cumprida em seu sentido literal, levando em consideração
as vulnerabilidades sociais e a necessidade de promover o acesso aos direitos
fundamentais, com o objetivo de encontrar condições adequadas e não violentas
soluções para os problemas e conflitos, que são levados às instâncias penais
alternativas.

As alternativas penais devem garantir os direitos humanos das


pessoas, considerando as diversidades, o que determina a
promoção de uma concepção da sociedade antitotalitária e com
respeito à equidade, como as relativas a raça, etnia, gênero,
geracional, dentre outras (LEITE, 2016, p. 22)

No que diz respeito à liberdade enfatizada, a autora relata um direito penal


que visa também a dignidade, a reparação e o alcance justo de todos os envolvidos,
com garantia do respeito às diferenças e aos direitos humanos.

Assim, menciona os seguintes princípios: dignidade e liberdade; respeito


as trajetórias individuais e reconhecimento das potencialidades; respeito a equidade
e promoção das diversidades; descriminalização da pobreza e da população negra;
respeito as diversidades de gênero; promoção da equidade, proteção social e

24
necessidades reais; autonomia, consensualidade e voluntariedade; e
responsabilização.

2.4.3 Terceiro postulado: ação integrada entre entes federativos

No que condiz ao terceiro postulado, relata que para haver aplicação de


alternativa penal no âmbito do sistema judiciário, não se deve depender apenas do
tipo penal a ser determinado, mas sobretudo dos conflitos ou da violência trazida à
justiça, a fim de compreender melhor o contexto social dos sujeitos envolvidos e suas
demandas, com o objetivo de romper ciclos contraditórios e violentos e restabelecer
relações.

Nesse sentido, a autora mostra que o judiciário deve oferecer suporte


adequado junto a esse arcabouço para a aplicação das alternativas penais, para que
as decisões com as partes envolvidas possam ser acolhidas e surtir efeito.

Portanto, é preciso entender que não se trata de mera execução de


sentença, mas sim de “efetividade de redes sociais bastante amplas, que envolvem a
construção de pactos e rotinas de trabalhos entre diversas frentes de políticas
públicas, além da participação efetiva da sociedade civil.”

Portanto, a referida autora relata que por alternativas penais, dados todos
os elementos considerados, pode-se compreender os mecanismos de intervenção no
conflito e na violência fora do sistema prisional, no quadro do sistema prisional que
visa restabelecer relações e promover uma cultura de paz, baseada na
responsabilidade com dignidade, autonomia e liberdade. No que se refere aos
princípios do terceiro postulado, a autora revela: interinstitucionalidade; interatividade
ou participação social; e interdisciplinaridade.

3 OS DESAFIOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA (JR) NAS PRISÕES

A Justiça Restaurativa (JR) propõe uma superação do sistema de justiça


criminal tradicional, que aceita a punição como a única resposta possível do Estado

25
ao autor de um crime. De acordo com os estudos citado de Achutti (2016), não há um
consenso adequado entre os autores que pesquisam a definição de JR, pois é
entendida como um valor indissociável que impulsiona esse novo modelo de justiça
com a participação ativa de todas as partes interessadas.

Toews21 relata que é importante enfatizar que o JR e o sistema de justiça


tradicional tentam responsabilizar o agente, mas há visões conflitantes sobre como
atingir esse objetivo.

Segundo o autor, a JR é vista como um tema polêmico internacionalmente,


pois a questão restaurativa surge como uma alternativa à prisão. Nesse sentido, o
desenvolvimento de projetos restaurativos em presídios parece ser entendido como
algo contraditório.

Os candidatos poderão reconhecer que a Secretaria de Justiça e


Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (SEJUSP) desenvolve um
trabalho de excelência e indicamos que o futuro Policial Penal possa apurar os
conhecimentos em humanização, a partir da respectiva apostila (Humanização
do Atendimento de Pessoas Privadas de Liberdade).

A eficácia da reparação requer conhecer as necessidades das vítimas,


entender os motivos que levaram o indivíduo a cometer o crime e aceitar a
responsabilidade das partes, bem como o choque que causados por danos ao meio
ambiente, ou seja, à comunidade.

Portanto, só é possível conhecer tais circunstâncias em um ambiente


propício ao diálogo e no qual se possa estabelecer um encontro edificante. Revelam
ainda estes autores que dada a precisão de garantir o diálogo entre as partes, o início
é considerado difícil, acreditando que não será possível aplicar práticas restaurativas
aos crimes mais graves – crimes contra a dignidade sexual ou contra a vida ou mesmo
os previstos, por exemplo, na lei que define os crimes de tortura.

21
TOEWS, Barb. Justiça restaurativa para pessoas na prisão: construindo as redes de relacionamento.
Tradução de Ana Sofia Schmidt de Oliveira. São Paulo: Palas Athena, 2019 (Série Da reflexão à ação).

26
No entanto, a experiência mostra que esse entendimento não corresponde
à realidade, razão pela qual é preciso desmistificar o mito de que o uso de JR se limita
apenas a crimes considerados de menor potencial, ou seja, leve.

Além disso, é importante ressaltar que a JR não visa agilizar ou reduzir


processos no judiciário – tais resultados podem eventualmente ser alcançados por
meio de práticas restaurativas, mas não se confundem com suas finalidades. Porque
a qualidade do encontro restaurador e a profundidade do diálogo entre perpetrador e
vítima não devem ser prejudicados pela busca incessante da velocidade.

A JR alcança seus objetivos quando as partes conseguem assumir sua


responsabilidade pelo ocorrido e quando há efetiva reparação do dano causado.
Assim, quando o Estado abdica parte da autoridade pertinente à administração da
justiça para a sociedade civil, há também uma sinergia entre os dois, o que pode vir a
potencializar a democracia.

Com base nos princípios e valores que regem a JR, pretende-se mostrar
como esse novo paradigma pode contribuir para a construção social da cidadania e o
fortalecimento da democracia. Sendo assim, a JR se pauta:

em princípios aptos ao fortalecimento da democracia, inúmeros


desafios representam entraves à sua efetiva implementação. No
intuito de romper com a seletividade inerente ao sistema de
justiça criminal tradicional, bem como desconstruir a ideia de que
apenas os crimes mais leves – sobretudo aqueles cometidos
sem violência ou grave ameaça – seriam submetidos ao
encontro restaurativo (TERRA, SILVA e SOARES, 2021, p. 3)

Os desfechos reabilitadores nas execuções penais requerem séria


consideração das circunstâncias vivenciadas pelas vítimas, principalmente no que diz
respeito aos crimes classificados como graves.

Deve-se notar que as vítimas de crimes graves estão desamparadas em


prisões que não são utilizadas como locais de recuperação para os perpetradores, as
vítimas e seus grupos.

Nesse sentido, todo projeto de JR dentro dos presídios passa por certas
dificuldades, uma delas é que determinado ambiente prisional é pautado na visão
punitiva e não adere ao objetivo da ressocialização e não preconiza o processo

27
ressocializador do preso. Estamos, portanto, diante de uma questão que expressa
valores difundidos na sociedade.

Desse modo, torna-se necessário apresentar uma abordagem que


apresente os desafios para o encontro restaurativo a fim de conseguir reduzir o ciclo
normalizado de violência dentro do sistema prisional brasileiro.

Assim, a JR volta sua atenção para o encontro entre ofendido e vítima,


abrindo esforços para sanar os agravos com base na responsabilidade de quem
agrediu e nas necessidades de quem sofreu a agressão, pelo diálogo em que
conseguiremos reconhecer os danos sofridos pela vítima e também os conflitos
causados no grupo diretamente afetado e incentivar o agressor a assumir/assumir a
responsabilidade pelos danos motivados.

O envolvimento direto das partes que são consideradas protagonistas gera


a possibilidade de construção de um processo humanístico de instaurar o diálogo
entre as partes interessadas e, acima de tudo, capaz de trazer contribuições efetivas
para a reparação do dano praticado no crime.

Por sorte, a visão da SEJUSP é de transformar o sistema, e é isso que


enfoca o trabalho de formação do novel Policial Penal, para que ele seja o portador
de uma nova cultura, que humanize, que transforme as unidades prisionais do Estado
de Minas Gerais em espaços para o desenvolvimento humano e integração harmônica
da pessoa privada de liberdade.

3.1 Contribuições da Justiça Restaurativa (JR)

Para que a população possa confiar nas instituições que apoiam a


democracia de forma sensata, as instituições devem demonstrar sua capacidade de
lidar com as preocupações da comunidade e oferecer um retorno considerado cabível
aos conflitos.

Uma das novas experiências para contrariar a falta de igualdade de acesso


no domínio da justiça é, pois, a JR, que tem sabido demonstrar a sua capacidade de
responder às aspirações de determinados grupos ao oferecer novos mecanismos de
repatriamento penal que visam esta democracia com caráter inclusivo.
28
Segundo estudos de Oxhorn e Slakmon22, países como o Canadá e a Nova
Zelândia, cujas instituições judiciais gozam de altos níveis de virtude social e
confiabilidade, criaram sistemas jurídicos igualitários para que os atores da sociedade
apresentem uma melhor resposta às necessidades socioeconômicas e culturais de
grupos, que se sentem excluídos.

Esses autores demostram que, ao contrário de inclusão social, um sistema


de justiça autoritário tende a perpetuar as diferenças estruturais.

Os que se sentem excluídos do sistema de justiça porque acreditam na


capacidade desse sistema de fornecer respostas satisfatórias aos conflitos tendem a
buscar seus próprios julgamentos, muitas vezes levando aos meios viciosos da
criminalização.

Nesse sentido, a JR tem potencial suficiente para ajudar a construir um


ambiente democrático também no âmbito do sistema de justiça criminal, pois estimula
o diálogo a partir da escuta genuína dos envolvidos, de forma que busca compreender
diferentes visões de mundo, ideias e pensamentos.

A participação das partes em conflito na relação processual é considerado


importante e contribui para a construção de uma solução democrática, tendo em vista
que as pessoas que vivenciam situações de conflito no dia a dia precisam participar e
se responsabilizar junto ao processo.

Santos e Santana23 defendem que o modelo de resposta ao crime envolve


uma mudança na política criminal e na visão da própria sociedade. Nesse sentido, a
JR se estrutura como um aparato de participação popular que legitima ainda mais
sistema judiciário.

22 OXHORN, Philipe; SLAKMON, Catherine. Micro-Justiça, Desigualdade e Cidadania Democrática: a


construção da sociedade civil através da Justiça Restaurativa no Brasil. In: BASTOS, Márcio Thomaz;
LOPES, Carlos; RENAULT, Sérgio Rabello (orgs.). Justiça Restaurativa: coletânea de artigos. Brasília: MJ: PNUD,
2005.

23 SANTOS, Caio Vinícius de Jesus Ferreira dos; SANTANA, Selma Pereira de. Constitucionalismo brasileiro tardio
e a racionalidade penal moderna: A Justiça Restaurativa como mecanismo de formação e revitalização da
cidadania. Revista do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFBA, [S. l.], v. 28, n. 1, p. 150-171, 2018.

29
Para tanto, é essencial (re)adaptar das práticas restaurativas importadas
ao contexto sociocultural brasileiro, é necessário avaliar adequadamente os
movimentos sociais e comunitários, para que haja adequação para a nossa realidade,
para as pessoas envolvidas, para as características das relações sociais de cada
regionalidade.

3.2 Práticas restaurativas no ambiente prisional: possibilidades e desafios

Segundo estudos de Pallamolla24, os efeitos encarceramento destroem


relações sociais e não atingem apenas indivíduos privados de liberdade. Assim, faz-
se necessário analisar as potencialidades e os desafios para a implementação das
práticas restaurativas na busca de soluções para os conflitos que surgem nas prisões.

Para focalizar a JR nos conflitos de natureza penal que ocorrem no sistema


penal brasileiro, é necessário romper com o mito de que as práticas restaurativas são
aplicáveis apenas a crimes considerados menos graves.

De acordo com a autora, sendo um ambiente hostil e que viola direitos e


garantias constitucionais, não é incomum que crimes graves sejam cometidos no
sistema prisional brasileiro, haja vista o conflito existente neste ambiente. Diante
disso, é preciso desconstruir a ideia de que a JR se limita a trazer mais celeridade ao
sistema penal tradicional.

Discute-se, ainda que a JR atrapalha a celeridade do processo regular.


Andrade25 relata a visão de que a JR como a exoneração do judiciário é comum por
ser mais informal, simplificada e mais rápida. De fato, a JR possui sua própria
velocidade. Portanto, a JR se materializa como um novo modelo de resposta ao
conflito penal.

24 PALLAMOLLA, Raffaella da Porciuncula. As práticas restaurativas no sistema prisional brasileiro. In: VITTO,

Renato C. P. de; DAUFEMBACK, Valdirene. (orgs.). Para além da prisão: reflexões e propostas para uma nova
política penal no Brasil. Belo Horizonte: Letramento/Caso do Direito, 2018. 1 v. Cap. 7. p. 185-202.

25 ANDRADE, Vera Regina Pereira de (coord.). Pilotando a Justiça Restaurativa: o papel do Poder Judiciário.
Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2018.

30
Assim, devido ao fracasso das respostas oferecidas pela justiça criminal
tradicional, torna-se necessário adotar uma nova forma de lidar com conflitos de
natureza criminal e criar espaço para implementar práticas restaurativas, sendo um
espaço de integração, capaz de arrefecer ânimos, de diminuir discriminações e
preconceitos.

Ainda de acordo com o autor supracitado, cabe questionar se a JR, como


estrutura capaz de conferir maior autonomia aos sujeitos envolvidos em crimes de
conflito, é passível de aplicação no contexto de crimes cometidos com violência e
graves ameaças. Para responder a essa pergunta, vale lembrar alguns valores que
estão indissociavelmente ligados às práticas restaurativas.

Da obra de Pallamola, ainda, um dos preceitos de JR mais importantes é


de que toda pessoa tem direito de ser respeitada ouvida e compreendida,
independentemente da gravidade do delito que tenha praticado, sendo o diálogo uma
ferramenta de solução para o conflito em uma conversa restaurativa.

De fato, a JR permite e depende da voluntariedade dos envolvidos, não


sendo eficiente diante de obrigações de comparecimento ou de participação em
reuniões de recuperação. Compreendemos, contudo, ser pertinente a implementação
de práticas restaurativas em unidades prisionais do Brasil e, em especial, do Estado
de Minas Gerais, abrindo-se oportunidade para que alternativas penais possam ser
implementadas a qualquer momento, inclusive depois da aplicação da pena, como
para a reparação de danos provenientes da prática de um crime.

Na visão de Barb Toews26, encontros restaurativos no contexto de privação


de liberdade permitem que agressor e vítima se aproximem e dissolvam remorsos
entre si. Não é necessária confissão do condenado na reunião restaurativa, pois a
reunião deve ocorrer sem barreiras. O importante é que cada um enxergue o ser
humano na presença do outro, permitindo que possam construir respeito mútuo.

A SEJUSP, de fato, como demonstra a apostila da disciplina de


Humanização de Atendimento ao Indivíduo Privado de Liberdade, está absolutamente
focada em ações que permitam inclusão e valoração na vida da pessoa do condenado,
independente da gravidade da conduta que o levou ao cárcere. Ressalte-se que esta

26TOEWS, Barb. Justiça restaurativa para pessoas na prisão: construindo as redes de relacionamento.
Tradução de Ana Sofia Schmidt de Oliveira. São Paulo: Palas Athena, 2019 (Série Da reflexão à ação).
31
é a indicação do presente curso, oferece ao instruendo a possibilidade de
compreender que inovações em humanização são práticas rotineiras e buscas de
melhoria contínua na execução da pena.

A crítica de Barb Toews, de que a unidade prisional pode não ser um


espaço propício ao diálogo é um grande desafio, proposto para o novo Policial Penal,
para a transformação das estruturas de cumprimento de pena em um local realmente
em que o Direito (e os Direitos Fundamentais) sejam respeitados e incentivados, no
intuito de diminuir a invisibilidade e a normalização do ciclo da violência.

Com a JR no ambiente prisional, além de serem incentivados os seus


princípios, os conflitos inerentes ao próprio ambiente do cárcere podem ser
submetidos à reflexão própria da JR, diminuindo a tensão atinente às relações que
envolvem atores como os IPL e os próprios Policiais Penais. Destaquemos que as
práticas restaurativas podem ser utilizadas para lidar, ainda, com conflitos interiores e
esse é um bom motivo para usar a justiça restaurativa dentro dos muros da prisão.

Assim, a JR pode incluir, inclusive, o ciclo de conflitos que ocorre no


ambiente prisional, entre IPLs, IPLs e Policiais Penais, e Policiais Penais entre si.
Como a apostila de Mediação de Conflitos nos ensina, o Policial Penal é um gestor de
conflitos e, dessa forma, um profissional que precisa atuar na solução de demandas
que possam assoberbar a violência nas unidades, principalmente, nas zonas de
reclusão.

Convidando o futuro policial penal para estudar o presente em conjunto


com a apostila da disciplina Mediação de Conflitos, é entendimento da SEJUSP que
práticas restaurativas e de gestão de conflitos são essenciais em um ambiente como
o prisional. Para tanto, alguns princípios são essenciais, como o empoderamento das
partes, o protagonismo dos envolvidos no diálogo, a estabelecimento de limites
máximos para o que pode ser imposto (sanções), escuta respeitosa e cuidado igual
para todos os envolvidos. Segundo Pallamolla27, na obra citada:

“...É possível reduzir não só a incidência de conflitos, mas a


forma como esses conflitos são geridos pelas unidades
prisionais. Uma das políticas que podem contribuir com essas

27PALLAMOLLA, Raffaella da Porciuncula. As práticas restaurativas no sistema prisional brasileiro. In: VITTO,
Renato C. P. de; DAUFEMBACK, Valdirene. (orgs.). Para além da prisão: reflexões e propostas para uma
nova política penal no Brasil. Belo Horizonte: Letramento/Caso do Direito, 2018. 1 v. Cap. 7. p. 185-202.
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mudanças são as práticas restaurativas, na medida em que
possibilitam, por meio da introdução do diálogo em ambientes
que não raras vezes são geridos pela lei da força e pela
violência, que se estabeleça uma nova forma de comunicação
na gestão dos conflitos, contribuindo, assim, para a redução da
tensão no ambiente prisional e para a horizontalização da
comunicação e das relações entre presos e entre os servidores.”

Segunda a revista da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR, em texto


produzido por Terra, Silva e Soares28, a JR introduz uma nova resposta aos conflitos
que ocorrem nas unidades prisionais, trazendo respeito onde o desacato era a ordem,
e isso é possível na medida que há o engajamento pelo diálogo e uma solução
consensuada.

Pela leitura da citada revista, na obra de Pallamolla, percebe-se que a JR


evolui em três frentes: 1) na redução da tensão no ambiente prisional; 2) no resgate
das redes afetivas enfraquecidas pelo encarceramento; e 3) na atenção às vítimas de
crimes e construção da percepção de humanização na relação entre autor e vítima,
delineando-se 5 pilares a serem conhecidos:

“...1º pilar - consiste no oferecimento de um serviço de


administração de conflitos no âmbito dos estabelecimentos
prisionais de regime fechado, semiaberto ou aberto. A
preparação do encontro restaurativo, a compreensão do papel
do facilitador, bem como a criação de um espaço profícuo ao
diálogo entre as partes são pontos de extrema importância para
que a prática restaurativa alcance os resultados pretendidos; 2º
pilar - consiste na necessária cooperação entre as unidades
prisionais, a sociedade civil organizada e os órgãos de execução
penal, previstos na Lei n. 7.210/84. Para que a Justiça
Restaurativa seja capaz de transformar a cultura prisional, e
reparar de forma efetiva os danos oriundos de conflitos que
surgem nesse espaço, é fundamental que haja cooperação entre
os envolvidos; 3º pilar - pressupõe que as unidades prisionais
sejam devidamente estruturadas e adequadas à política de
práticas restaurativas: estruturação e adequação da secretaria
de estado responsável pela administração penitenciária e das
unidades prisionais à política de práticas restaurativas no
sistema prisional. Assim se torna necessária a criação de
espaços institucionais que sejam capazes de estruturar a política

28REVISTA UEPG. Dossiê – Justiça Restaurativa. V.29. Ponta Grossa, 2021.


https://revistas.uepg.br/index.php/sociais/issue/view/855

33
de práticas restaurativas e disponibilizar aos presos e agentes
públicos um efetivo serviço de administração de conflitos
baseado no diálogo; 4º pilar - a criação de um Comitê Gestor da
Política de Práticas Restaurativas no nível da secretaria de
estado responsável pela política penitenciária, o qual será
integrado pelos órgãos e instituições responsáveis pela
execução penal. O objetivo precípuo desse Comitê seria a
discussão dos desafios que possam inviabilizar a
implementação das práticas restaurativas no âmbito do sistema
prisional; 5º pilar - a importância do desenvolvimento de ações
de sensibilização de servidores penitenciários e de presos em
relação à política de práticas restaurativas. Essas ações podem
se aperfeiçoar a partir de cursos e palestras destinadas
especialmente aos indivíduos que compõem o sistema prisional
brasileiro, na condição de presos ou como servidores.

O que esperamos? Que a JR exerça seu potencial para dar respostas


eficazes aos conflitos de natureza criminal, dentro e fora do ambiente prisional,
permitindo às partes em conflito a construção de diálogo assistido e respeitoso, para
que um construa uma imagem de humanização em relação ao outro, não sendo a
gravidade da transgressão o fator determinante da possibilidade e efetivação do
encontro restaurativo, mas a constituição de um ambiente capaz de romper com um
tipo de violência normalizada.

3.3 A Justiça Restaurativa aplicada aos conflitos da Lei Maria da Penha em


Minas Gerais

A aplicação da JR em relação à violência doméstica, é muito importante,


porque nesses casos ela tem potencial de permitir a cura de doenças e o resgate de
relacionamentos que, um dia, podem ter sido muito bons. A JR tem uma ação muito
proativa na proteção das vítimas e no atendimento de suas necessidades, conduzindo
negociações em torno do conflito, de natureza familiar.

A autocomposição em casos de violência doméstica permite o resgate da


dignidade das pessoas e da família, assolada pela violência conjuntural que envolve
a relação entre pessoas que, certamente, possuem interesses comuns. O foco não é
de apenas resolver o litígio, mas de restabelecer laços familiares e promover a
pacificação entre os membros do corpo familiar.

34
Convidamos os nossos alunos que estudem mais sobre o conteúdo, a partir
da apostila de Mediação de Conflitos, a qual preceitua fundamentos relativos ao seu
processamento e pode enriquecer a presente exposição, certo de que os conteúdos
conversam entre si e demonstram a circularidade dos assuntos.

Dessa forma, a mediação tenta pacificar o conflito e reconstruir os


sentimentos para que haja uma solução amigável, buscando uma solução profunda e
significativa, com o objetivo de não haver conflito futuro neste caso.

Por isso, a questão é objeto de preocupação do Judiciário, e o Tribunal de


Justiça de Minas Geras (TJMG) constitui o Núcleo Permanente de Métodos de
Resolução Consensual de Conflitos (NUPEMEC), para implementar as orientações da
Resolução CNJ nº 125/2010, que estabeleceu a política judiciária nacional para lidar
com conflitos de interesse e focou nos meios ditos consensuais que promovem a
autocomposição de litígios e a pacificação social.

Portanto, deve-se ressaltar que a vítima, muito mais do que uma punição,
exige reparação integral, também em relação ao seu aspecto moral, o que é
incompatível com as normas vigentes, o que bem possível com as práticas
restaurativas.

3.3.1 O programa Central de Acompanhamento de Alternativas Penais (Ceapa)


em MG

Programa criado em 2002, com o objetivo geral de contribuir para o


fortalecimento e consolidação de alternativas à prisão no estado de Minas Gerais e
direcionar ações de responsabilização com liberdade.

Os objetivos específicos do programa são: 1) aumentar a credibilidade dos


atores do sistema de justiça criminal para a aplicação de alternativas penais aos tipos
de crime apropriados; 2) a construção de uma rede de instituições parceiras que
compartilhem a responsabilidade pela efetiva implementação de alternativas penais;
3) aumentar as taxas de conformidade para alternativas criminais; 4) qualificar e
expandir as oportunidades de prestação de serviços comunitários para promover a
participação da comunidade e os papéis vicários da comunidade; 5) desenvolver

35
abordagens especializadas para tipos específicos de criminosos; 6) promover e
consolidar projetos e práticas de justiça restaurativa; 7) ampliar a capacidade de
intervenção em conflitos e violência.

Nos municípios onde o programa desenvolve suas atividades, a CEAPA se


estrutura por meio da implantação de Núcleos de Alternativas Prisionais, compostos
por profissionais formados em direito, psicologia e serviço social, atuando de forma
interdisciplinar.

O programa funciona em parceria com o Judiciário, Ministério Público e


Defensoria Pública, e em parceria com prefeituras, terceiro setor e sociedade civil.
Além da cooperação com o Judiciário, a rede parceira é formada por instituições
públicas e privadas nas áreas de saúde, educação, assistência social, geração de
renda e inclusão produtiva, que contribuem por meio do desenvolvimento de ações e
projetos, acolhimento de usuários e reivindicações para proteção social.

A CEAPA busca oferecer alternativas relacionadas ao rápido crescimento


da população carcerária e é responsável pela implementação e monitoramento de
penas alternativas.

As modalidades de justiça criminal alternativas desenvolvidas pelo


programa são: 1) prestação de serviços à comunidade; 2) projetos temáticos de
implementação de procedimentos penais alternativos de acordo com o tipo de crime
cometido (consumo de drogas, infrações de trânsito, crimes contra o meio ambiente e
pessoas em situação de conflito); 3) ações de responsabilidade de homens
processados e condenados pela Lei Maria da Penha; 4) projetos de acompanhamento
de pessoas de acordo com várias precauções relacionadas à prisão; 5) projetos e
práticas de Justiça Restaurativa.

Seminário apresenta êxitos da justiça restaurativa em MG

https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/seminario-apresenta-exitos-da-justica-
restaurativa-em-mg-8A80BCE57C12C870017C2941193128B6.htm#.ZDtf43bMLIU
36
Essa reportagem de 2021 apresenta aplicações de práticas restaurativas
demonstradas por magistrados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG),
intitulada “Aplicações da Justiça Restaurativa: casos práticos e experiências em Minas
Gerais”. O evento contou com a parceria entre a Escola Judicial Desembargador
Edésio Fernandes (Ejef) e a 3ª Vice-Presidência do TJMG, o qual teve como objetivo
trazer motivações para magistrados, servidores e pessoas que estivessem
interessadas a conhecer e realizar implementação de projetos restaurativos a partir
do contato com iniciativas bem-sucedidas em Minas Gerais.

Foram demonstrados o projeto Ciranda, desenvolvido na Universidade


Federal de Minas Gerais (UFMG), e usos da justiça restaurativa em casos de violência
doméstica, no sistema prisional e no Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente
Autor de Ato Infracional (CIA-BH). Vale a pena ler a reportagem completa e entender
melhor sobre a JR.

Para consolidar tais elementos de síntese, foram previamente


apresentados postulados como um tripé fundamental sobre o qual os princípios e
diretrizes são estabelecidos e levados em conta neste tripé: o mínimo penal, a
liberdade e o protagonismo do povo nas alternativas e a necessidade de um modelo
de gestão com articulação entre Judiciário, entes federados e sociedade civil.

A análise dos conflitos que envolvem a violência inerente ao ambiente


prisional demonstra que a JR tem grande potencial para solver de maneira satisfatória
muitos dos conflitos, permitindo o restabelecimento da confiança das partes em
relação às instituições judiciárias no Brasil.

Vale destacar também que projetos desse tipo ainda têm impacto relevante,
mesmo que ainda não sejam vistos como resultado de uma política pública definida.
Portanto, mesmo que falte essa definição de que eles têm experiências diferentes,
ainda que isoladas, mas que cumprem o objetivo de reparar danos e abrir portas para
políticas públicas efetivas.

37
É necessário antecipar a questão da implementação de projetos
restaurativos nas prisões, com particular atenção ao desenvolvimento de parceiros
institucionais e à questão da sensibilidade dos envolvidos: reclusos, vítimas e Policiais
Penais e, para tanto, a SEJUSP e o DEPEN preparam o caminho para a concepção
de uma cultura de humanização e de gestão de conflitos, para tornar mais harmônica
a integração social do indivíduo privado da liberdade.

Para que seja possível falar em uma prisão com projetos restaurativos, é
preciso que a execução das penas seja devidamente pautada pela aquisição de
capacidades e pela orientação aos presos, no intuito de dar impulso à recuperação de
suas vidas e o pleno exercício da cidadania.

Mas, para isso, a instituição deve estar pautada na capacidade de ouvir e


respeitar, construindo assim relações totalmente diferentes daquelas que vêm sendo
padronizadas nas instituições prisionais.

Assim, a JR pode ser um fator indutor da construção de um ambiente


favorável ao desenvolvimento humano dos IPL, reduzindo tensões no ambiente de
privação de liberdade, atenuando as desigualdades nas relações de poder e o
silenciamento das pessoas. Essa gestão de conflitos com práticas restaurativas testa
a sólida possibilidade de transformar os indivíduos e, assim, resgatar redes de afeto
fragilizadas pela prisão.

Como cita a apostila de Mediação de Conflitos, o trabalho do futuro Policial


Penal será árduo como gestor de conflitos, porquanto terá que induzir a implantação
e uma cultura, a partir de muito estudo e preparo. Para tanto, é fato, a SEJUSP e a
DEPEN, a partir da Superintendência de Humanização do Atendimento (SHUA),
ainda, buscam a indução do sistema prisional, a partir da cultura de humanização e
de mediação de conflitos.

Para isso, o próprio CFTP é um meio de investir em pessoal e em estruturas


que considerem a reparação das vítimas como parte da resolução de conflitos
criminais e métodos que valorizem o envolvimento da sociedade e a inclusão social
dos perpetradores na recuperação do dano causado; ou prestação de serviços à
comunidade; ou outras soluções alternativas que ofereçam oportunidades dentro da
estrutura legal, mas eliminem o encarceramento.

38
Ressalte-se que, em todos os casos, o vínculo com os familiares é
fundamental para atender ao que dizem nossos direitos fundamentais de nossa
Constituição para promover a inclusão e o convívio social dos presos de forma mais
humanizada.

Portanto, todos os envolvidos nestes esforços, confiam que é plausível


construir contramedidas eficazes aos conflitos da humanidade e, proativamente
solucionar problemas que nos assolam, especialmente no que diz respeito ao
enfrentamento da violência e da promoção da justiça e da paz social.

1) Conforme a Portaria MJ 495, de 28/04/2016, qual das alternativas NÃO é


considerada uma modalidade de alternativas penais?

a) Penas restritivas de direitos.

b) Transação penal e suspensão condicional do processo.

c) Conciliação sem práticas de justiça restaurativa.

d) Suspensão condicional da pena privativa de liberdade.

2) De acordo com Leite (2016), qual alternativa NÃO se refere ao primeiro postulado:
intervenção penal mínima, desencarceradora e restaurativa:

a) Irretroatividade.

b) Celeridade.

c) Imputação pessoal.

d) Interatividade.

39
3) Conforme os estudos de Leite (2016), qual alternativa se refere ao segundo
postulado: intervenção penal mínima, desencarceradora e restaurativa:

a) Responsabilização

b) Interdisciplinaridade

c) Economia

d) Provisoriedade

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