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CENTRO UNIVERSITÁRIO TABOSA DE ALMEIDA – ASCES/UNITA

BACHARELADO EM DIREITO

AS FALHAS ESTRUTURAIS DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO EM


RELAÇÃO AS VERBAS ORIUNDAS DO ESTADO E AS POLÍTICAS
PÚBLICAS

MARIA EDUARDA DE LUCENA LEITE FREIRE

CARUARU
2022
CENTRO UNIVERSITÁRIO TABOSA DE ALMEIDA – ASCES/UNITA
BACHARELADO EM DIREITO
AS FALHAS ESTRUTURAIS DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO EM
RELAÇÃO AS VERBAS ORIUNDAS DO ESTADO E AS POLÍTICAS
PÚBLICAS

MARIA EDUARDA DE LUCENA LEITE FREIRE

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao


Centro Universitário Tabosa de Almeida –
ASCES/UNITA, como requisito parcial, para a
obtenção do grau de bacharela em Direito, sob a
orientação do professor especialista

CARUARU
2022

BANCA EXAMINADORA
Aprovada em: __/__/2022.

____________________________________________________________
Presidente: Prof. Esp.

_____________________________________________________________
Primeiro Avaliador: Profº.

_____________________________________________________________
Segundo Avaliador: Profº.

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
2 CUSTOS PRISIONAIS
3 QUALIDADE/EFETIVIDADE DA POLÍTICA PRISIONAL
4 AVANÇOS NECESSÁRIOS PARA EVITAR FALHAS ESTRUTURAIS E
AUMENTAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS

RESUMO

O sistema prisional brasileiro vem apresentando ao longo dos anos significativas falhas,
tendo em vista não adequar-se a realidade social do nosso País. Conforme constata-se
dos estudos já realizados, é o próprio sistema penitenciário que contribui expressivamente
para o crime, haja vista que o condenado ao cumprir sua pena é submetido a tratamento
desumano, há graves violações de seus direitos constitucionais, a superlotação, dentre
outros fatores que envolvem o citado sistema e dificultam de forma significativa a
ressocialização do preso. O Governo Federal dispõe de recursos da ordem do Fundo
Nacional do Sistema Penitenciário para fazer a gestão dos presídios brasileiros, mas
esses recursos não são empregados de maneira racional, o que em grande medida
explica o estado caótico das nossas prisões. Se comparados os recursos aplicados à
educação básica, torna-se quatro vezes maior e mesmo assim insuficientes para resolver
os problemas oriundos do sistema prisional. O que se questiona é qual o destino do
dinheiro aplicado no sistema penal, se está sendo utilizado incorretamente ou é realmente
insuficiente para resolver as problemáticas dos presídios brasileiros.

PALAVRAS-CHAVES: Sistema Prisional. Detentos. Custos. Política Prisional

ABSTRACT

The Brazilian prison system has been presenting significant flaws over the years, in view
of not adapting to the social reality of our country. As evidenced by the studies already
carried out, it is the prison system itself that contributes significantly to the crime, given
that the convict, while serving his sentence, is subjected to inhumane treatment, serious
violations of his constitutional rights, overcrowding, among other factors. that involve the
aforementioned system and significantly hinder the resocialization of the prisoner. The
Federal Government has resources from the National Penitentiary System Fund to
manage Brazilian prisons, but these resources are not used rationally, which largely
explains the chaotic state of our prisons. If the resources applied to basic education are
compared, it becomes four times greater and still insufficient to solve the problems arising
from the prison system. What is questioned is the destination of the money applied in the
penal system, if it is being used incorrectly or if it is really insufficient to solve the problems
of Brazilian prisons.

KEY WORDS: Prison System. Detainees. Costs. Prison Policy

INTRODUÇÃO

O presente artigo jurídico trata de uma preocupação cada vez mais crescente dos
cidadãos, com os reflexos oriundos do sistema penal brasileiro, a crise carcerária no país
e os gastos com políticas prisionais. Calcular com precisão os custos prisionais, se
apresenta como um verdadeiro desafio.
A escolha pelo debate dessa temática provém do fato de ser uma questão muito
polêmica quando levada ao debate do conhecimento dos custos do governo, que é
essencial para adoção de mudanças dos métodos aplicados à gestão das políticas e dos
programas governamentais. As más condições dos estabelecimentos penais reforça a
negligência do governo com relação aos detentos e evidencia a superlotação do sistema
prisional.
Far-se-á breve menção sobre o sistema penitenciário brasileiro, suas
problemáticas, a questão do déficit de vagas, a Dignidade da Pessoa Humana, o respeito
a integridade física e moral dos presos, a situação do atual sistema prisional e atuação do
governo frente a essa problemática.
Posteriormente, será abordado os custos prisionais de um detento e de toda
estrutura carcerária, fazendo um comparativo das verbas aplicadas em presídios com as
verbas aplicadas na educação.
Necessariamente, se fará uma abordagem sobre a qualidade/efetividade da política
prisional em relação a superlotação do sistema carcerário.
Por fim, discutiremos os avanços necessários para evitar falhas estruturais e
aumentar as politicas públicas.
Em verdade, em nossa abordagem, com os cuidados de não esgotar as polêmicas,
discutiremos os verdadeiros efeitos do sistema prisional, os gastos elevados do governo,
a superlotação e as condições precárias e insalubres nas penitenciárias brasileiras.
A nossa pesquisa, se vale de abordagem dedutiva e levantamento bibliográfico e
documental, em especial dos dados numéricos do sistema prisional brasileiro produzidos
pelo Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ). Fazendo-se uma análise da quantidade e dos custos de cada detento.

1. Sistema Prisional Brasileiro: Aspectos Gerais

O regramento do sistema penitenciário brasileiro está disposto na Lei n.º 7.210/84,


denominada de Lei de Execuções Penais, a qual institui diretrizes a serem seguidas
quanto à execução da pena, a qual tem por objetivo, segundo o art. 1º do referido ato
normativo, “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. Vários
instrumentos são postos a disposição do juiz, ao qual compete a execução da pena, a fim
de cumprir tal objetivo, além de estarem previstas vários dispositivos de cunho
assistencial ao condenado, disposto em sessões. Conforme as palavras de Andreia
Almeida Torres:
A LEP determina como deve ser executada e cumprida a pena de privação de
liberdade e restrição de direitos. Contempla, juntamente com os conceitos
tradicionais da justa reparação pelo crime que foi cometido e o caráter social
preventivo da pena, a idéia de reabilitação.

É imprescindível discorrer acerca das espécies de pena existentes no


ordenamento jurídico pátrio. Conforme dispõe o art. 32, incisos I, II e III do Código Penal
brasileiro, as espécies de pena são: privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa.
Julio Fabbrini Mirabete, ao discorrer sobre as modificações trazidas pela Lei n.º 7.209/84,
que modificou o texto original do Decreto-Lei n.º 2.848/40, o qual instituiu o Código Penal,
disse:

Abandonou-se, no Código Penal, com a reforma operada pela Lei n.º 7.209, a
distinção entre penas principais (reclusão, detenção e multa) e acessórias (a
perda da função pública, as interdições de direitos e a publicação da sentença)
[...] Podem-se, porém, distinguir na nova lei as penas comuns, que são as
privativas de liberdade (reclusão e detenção) e a multa; e as penas alternativas
ou substitutivas (restritivas de direitos). A multa, porém, pode ser utilizada como
substitutivas da pena privativa de liberdade aplicada.

Contudo, interessa para o presente trabalho, especificamente, a pena privativa de


liberdade, tendo em vista que é esta espécie de pena que leva o condenado ao
encarceramento, e o faz passar por todos os problemas existentes no sistema carcerário
brasileiro.
Existem três espécies de pena privativa de liberdade: reclusão, detenção e prisão
simples, estando as duas primeiras previstas no Código Penal, em seu art. 33, caput,
com a redação dada pela Lei n.º 7.209/84, e a de última com previsão na Lei n.º
3.688/41. A pena de reclusão e de detenção são aplicadas aos crimes, já a de detenção
às contravenções, conforme o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, que
estabelece a distinção entre crime e contravenção. Sobre tais espécies de pena,
preceitua Rogério Greco:
A pena privativa de liberdade vem prevista no preceito secundário
de cada tipo penal incriminador, servindo à sua individualização,
que permitirá a aferição da proporcionalidade entre a sanção que é
cominada em comparação com o bem jurídico por ele protegido.

Assim, após o magistrado, decidindo pela condenação do agente, proceder à


devida dosimetria da pena, atendendo aos critérios estabelecidos no art. 68 do Código
Penal pátrio, fixará o regime inicial do cumprimento da pena, os quais podem ser o
fechado, semiaberto ou aberto, conforme dispõe o art. 59, inciso III do mesmo codex. O
regime prisional será aplicado conforme a espécie de pena privativa de liberdade. Assim,
a pena de reclusão será cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto, e a de
detenção em regime semiaberto ou aberto, de acordo com o que dispõe o art. 33, caput,
do Código Penal brasileiro. Já a pena de prisão simples será cumprida em regime
semiaberto ou aberto, em estabelecimento especial ou em seção especial de uma prisão
comum, conforme dispõe o art. 6º da Lei de Contravenções Penais, com redação
determinada pela Lei n.º 6.416/77.

Porém, alguns critérios necessitam ser observados, tendo em vista que a


execução da pena privativa de liberdade deverá ser executada de maneira progressiva,
de acordo com o mérito do condenado, conforme dispõe o §2ª do art. 33 do Código Penal
pátrio. Alguns deles estão disciplinados nas alíneas “a”, “b” e “c” do referido dispositivo:
quando a condenação for superior a oito anos, o condenado deverá iniciar o
cumprimento em regime fechado; o condenado que não for reincidente, cuja pena for
superior a quatro anos e não exceder a oito, poderá cumprir a pena, inicialmente, em
regime semi-aberto; e o condenado, que também não for reincidente, e cuja pena seja
igual ou inferior a quatro anos, poderá desde o princípio cumpri-la em regime aberto.

O art. 112 da lei de Execução Penal também elencou alguns critérios, quais sejam:
cumprimento de pelo menos 1/6 da pena no regime anterior, e apresentar bom
comportamento no cárcere, comprovado por meio do diretor do estabelecimento
prisional, e respeitadas as regras que vedam a progressão. Ademais, conforme dispõe o
§3º do art. 33 do Código Penal, o legislador condicionou a determinação do regime inicial
do cumprimento da pena à observância dos critérios elencados no art. 59 do Código
Penal. Merece também destaque a regra contida no art. 111 da Lei de Execução Penal, a
qual preceitua que em caso de condenação em mais de um crime, independentemente
de ser no mesmo processo ou não, o regime de cumprimento da pena será determinado
pelo resultado da soma ou unificação das penas, com observância, conforme o caso, da
detração e remição.

Ademais, o sistema prisional brasileiro enfrenta muitas dificuldades, principalmente


referente ao alcance de seu objetivo ressocializador. A crise penitenciária coloca em
discussão os princípios do Estado Constitucional e Democrático de Direito, tendo em
conta que seu princípio fundamental, a Dignidade da Pessoa Humana, é constantemente
violado nos diversos presídios do país e do mundo. Nesse Estado Constitucional e
democrático de direito é que encontraremos o fundamento de validade do ius puniendi,
bem como suas limitações. É um Estado em que os direitos humanos deverão ser
preservados a qualquer custo, Como diz precisamente Norberto Bobbio, “o
reconhecimento e a proteção dos direitos do homem estão na base das Constituições
democráticas”.
Um dos maiores defensores desta proporcionalidade e da humanização da pena é
o autor Cesare de Beccaria que, em sua obra “Dos Delitos e das Penas”, retrata a
aplicação deste princípio em relação às penas em vigor e a sua real função. O autor
afirma que a prevenção geral da pena seria alcançada com a sua eficácia e certeza de
aplicação, e não com o seu horror.
A palavra “pena” provém do latim poena e do grego poiné, e tem o significado de
inflição de dor física ou moral que se impõe ao transgressor de uma lei. Conforme as
lições de Enrique Pessina, a pena expressa “um sofrimento que recai, por obra da
sociedade humana, sobre aquele que foi declarado autor de delito”.
A vista do exposto, o Brasil possui vários estabelecimentos penais para que sejam
cumpridas determinadas penas, porém devida a superlotação e a falência do sistema
prisional brasileiro, tais estabelecimentos não oferecem o mínimo de dignidade e respeito
a integridade física e moral do preso, o que é assegurada pela Constituição Federal em
seu art. 5°, inciso XLIX.
Insta salientar que de acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen)
e o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) de 2019,no Brasil, o
déficit de vagas no sistema carcerário brasileiro cresceu de janeiro a junho de 2019,
apesar da criação de 6.332 vagas no período.

Até junho de 2019, eram pouco mais de 461.000 vagas para abrigar os quase 800.000
detentos – as informações levam em conta presos em diversos regimes de cumprimento
de pena e incluem até acusados contra os quais foram impostas medidas de segurança.
O déficit prisional referido está ligado diretamente ao uso e abuso das prisões provisórias
que, de modo geral, são desproporcionais e descabidas.

Já no ano de 2020, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) relata que é preciso


ponderar com cautela os dados de 2020, ano atípico para o sistema prisional em função
da pandemia de Covid-19, observando tendências e variações dos últimos anos. Os
gráficos indicam o aumento crescente da população prisional, da taxa de encarceramento
e do quantitativo de estabelecimentos superlotados – com queda de 11,6% na quantidade
de estabelecimentos superlotados entre 2009 e 2014 e aumento de 15,6% entre 2014 e
2020 segundo o CNIEP.
Ainda de acordo com o informe do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é possível
observar há uma seletividade penal no perfil das pessoas privadas de liberdade, observa-
se também agravantes na área da saúde e tratamentos cruéis e desagradantes o que
torna nítida a violação dos direitos humanos às pessoas privadas de liberdade.

Enquanto a sociedade espera que essas pessoas se ocupem para reintegração pós-
cárcere, a ausência de estrutura física e de recursos humanos nas unidades prisionais
segue como um dos principais entraves para que esse ideal se concretize. (CNJ, 2021)

2. Custos Prisionais

O sistema prisional/carcerário do Brasil nunca deixou de ser enfoque de grandes


problemas e déficit de funcionamento. A constante ineficiência das penitenciárias não está
em consonância com o investimento e repasses financeiros ao setor. O Investimento,
mesmo sendo de alto custo, não gera resultado no objetivo final que é a promessa de
ressocialização dos detentos e a diminuição da superlotação nos presídios.
O custo de um preso é em torno de R$2.400 reais, segundo o CNJ (Conselho
Nacional de Justiça) podendo esse valor variar de acordo com cada estado. O valor é
destinado ao funcionamento das unidades prisionais e serviços como a contratação de
agentes, infraestrutura, bem como manutenção médica e jurídica, vestuário e alimentação
dos presos. Mas se todo o investimento é feito, por que não há sinais de melhoramento?
Diante de toda a problemática que envolve o sistema prisional, uma delas está
relacionada diretamente com os responsáveis pelo andamento e funcionamento dos
presídios. A conduta relapsa no repasse de dados pelos diretores das unidades acaba
dificultando e encarecendo ainda mais os gastos com os detentos, sem nenhuma melhora
palpável e eminente. É sabido que todos os estados e DF devem informar ao Depen os
custos relativos a todas as atividades prisionais, conforme determinação do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciário (CNPCP). Esses dados são elementares
para uma boa distribuição e destinação de todo o dinheiro repassado ao sistema
penitenciário. Mas ainda é uma orientação que muitos diretores não seguem, fazendo
com que o dinheiro repassado não tenha uma aplicação correta para as demandas mais
urgentes. Não há uma lei que assegure a efetividade desse dever, não há uma sanção
adequada para aqueles que não o cumprem.
Além do mais, a própria Lei de Execução Penal, uma lei atual e bastante elogiada
pela sua amplitude e diretrizes gera problemas pela sua ineficácia diante da não aplicação
dentro do sistema penitenciário. A LEP preza pela efetiva sanção aplicada pelo Estado
com a finalidade de ressocialização do preso, com o objetivo de retirar o detento da vida
criminosa, onde seus maiores objetivos dentro do período de cárcere é respeitar a
dignidade do prezo, fazendo com que ele entenda a punição e procure progredir no
regime com trabalho e estudo a fim de edificar o caráter do detento para que no futuro ele
não se torne um reincidente.
Todavia, a lei se torna ineficaz no sentido de melhorar as unidades, diante da
realidade do sistema prisional, uma vez que a progressão de regime, a remissão de pena
com trabalho e estudo são observadas e efetivas dentro das unidades prisionais. Não há
de se falar em ressocialização quando os detentos vivem em situação de pura
insalubridade dentro dos presídios e penitenciárias diante da desordem administrativa.
OLIVEIRA enfatiza:
A Lei de Execução Penal é, de uma maneira geral, inexequivel. Suas disposições
consubstanciam, sem dúvida o resultado dos estudos mais avançados sobre a
matéria, mas não houve a preocupação de se alevantarem as estruturas
existentes e necessárias para a sua efetivação, construindo-se mais, em uma lei
de caráter útopico, sem o devido embasamento na realidade social do nosso país.

A própria exposição de motivos 213 de 9 de maio de 1983 cita os obstáculos que a


LEP enfrenta, diante da superlotação carcerária que acaba impossibilitando a distribuição
por classificação dos detentos em grupos e sua consequente e correta distribuição em
estabelecimentos distintos, onde se realize o tratamento adequado.
Enfatiza também sobre as espécies de assistência dos presos que também está
em total dissonância do que versa a lei de execução penal e mais uma vez, como já
mencionado, não reflete todo o repasse de verbas feitos ao sistema carcerário.
“Tem, pois, esta singularidade o que entre nós se denomina sistema penitenciário:
constitui-se de uma rede de prisões destinadas ao confinamento do recluso,
caracterizadas pela ausência de qualquer tipo de tratamento penal e penitenciárias
entre as quais há esforços sistematizados no sentido da reeducação do
delinquente. Singularidade, esta, vincada por característica extremamente
discriminatória: a minoria ínfima da população carcerária, recolhida a instituições
penitenciárias, tem assistência clínica, psiquiátrica e psicológica nas diversas
fases da execução da pena, tem cela individual, trabalho e estudo, pratica
esportes e tem recreação. A grande maioria, porém, vive confinada em celas, sem
trabalho, sem estudos, sem qualquer assistência no sentido da ressocialização”
(Diário do Congresso Nacional, Suplemento ao no 61, de 4-6-1976, p. 2)

O funcionamento organizado de um presídio é de fundamental importância para a


redução da população carcerária que já ultrapassou a marca de 720 mil presos e também
para eficácia dos valores investidos nas políticas públicas de ressocialização.
A não prestação dos direitos e tarefas designadas aos presos previstos na Lei de
Execução Penal acarreta indignação e revolta aos apenados e aos familiares que também
acabam sendo afetados pela má gestão. A falta de profissionais qualificados, a
superlotação, a falta de infraestrutura e condições básicas de higiene e habitação, além
dos demais problemas que ocasionam um verdadeiro colapso e falência do sistema
prisional.
Ainda, partindo da premissa dos valores investidos e no sistema carcerário, porém
agora fazendo um comparativo com outro sistema também muito questionado sobre seu
funcionamento e efetividade que tem importante influência na população carcerária do
Brasil – o sistema educacional. A negligencia com a educação é um dos motivos da alta
taxa de criminalidade no Brasil.
Um levantamento feito pelo Ministério de Segurança pública estima que na esfera
federal um detento custa em média R$4.8 mil, já no estadual custo é de R$1,8 mil. Em
2020 o custo com um detento chegou em média a R$2,5 mil reais por mês. Levando em
consideração a população carcerária atual, segundo o DEPEN mesmo com a redução de
0,7% da superlotação, o total é de 682,2 mil pessoas privadas de liberdade em todos os
regimes, é um número bastante significativo.
Em 2021 o percentual dos custos anuais com um estudante foi de R$ 3.349,56 por
ano, valor esse que foi reduzido em 8,6%. O que acontece no cenário atual é a
discrepância de gastos entre os dois sistemas e mesmo assim, ambos seguem o mesmo
caminho de ineficácia. Partindo da premissa que a educação é fundamental para
diminuição da violência e marginalização, melhorar a eficiência da gestão educacional é
de extrema importância.
O Estado ainda não investe o suficiente na educação, enquanto o sistema
penitenciário carece de organização, o âmbito educacional necessita de mais
investimento e direcionamento de ensino pois o investimento na educação básica ainda é
abaixo do ideal comparado a outros países.
“Mozart Neves Ramos, do programa Todos pela Educação e do Conselho Nacional
de Educação (CNE), fala que o gasto com educação poderia melhorar com maior foco na
aprendizagem e ainda afirma que: “Melhorar a eficiência da gestão dos recursos é
importantíssimo. Uma boa gestão pode criar uma escola motivadora. E um aluno que tem
sucesso escolar raramente abandona a escola e está mais longe de ser preso.”
A educação inicial do Brasil ainda recebe um investimento muito abaixo do ideal
comparado ao ensino particular, a variação discrepante entre o investimento feito em
algumas regiões também condiciona o aumento da marginalização nesses mesmos
locais.
Segundo uma pesquisa feita pelo CAQi (Custo Aluno-Qualidade) que é um
mecanismo de políticas sociais, criado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
que revela em valores quanto o Brasil precisa investir por ano em cada aluno na
educação de ensino fundamental e médio para garantir o padrão mínimo na qualidade de
ensino, mostra que para garantir uma educação de qualidade é preciso investir cinco
vezes mais do que se gasta atualmente.
É impossível combater a marginalidade e consequentemente alavancar o processo
de socialização sem uma base sólida de educação. Um aluno sem o devido estímulo, sem
um ensino de qualidade e uma boa infraestrutura não irá se interessar pelo aprendizado e
irá largar a escola precocemente. A maioria dos detentos cumprindo pena, deixaram a
escola sem ao menos completar o ensino fundamental I. É justamente nessa fase que o
abandono a escola pode vir a ser um problema futuro, pois é a fase que muitos
adolescentes são apresentados ao mundo do crime.
O problema ainda se alastra pela falta de infraestrutura, profissionais e professores
realmente qualificados que consigam garantir uma educação contínua até o ensino médio
e talvez ao ensino superior. Não há garantia de êxito em aumentar os gastos e
consequentemente os impostos pagos com segurança pública, enquanto o Brasil ainda
carecer de um bom ensino. É imprescindível que para qualquer política pública voltada a
combater a violência e criminalidade obter êxito na sua atuação faz-se necessária uma
base sólida nos mecanismos voltados para esse fim. O ensino de qualidade é um desses
pilares.
Estudos apontam que quanto maior a taxa de escolarização, menor a taxa de
criminalização, a educação deve servir como uma barreira, um escudo protetor para
crianças e adolescentes terem oportunidades dignas. A criminalização não acontece de
forma isolada, ela é decorrente de uma série de fatores, entre eles a desigualdade social,
a falta de recursos, a falta de garantia dos direitos fundamentais.
Uma pesquisa feita pelo economista e PhD Ricardo Paes de Barros demonstra o
custo de um jovem quando não conclui a educação básica. De acordo com seu estudo,
perde-se cerca de R$372 mil reais ao ano por cada jovem que deixa de concluir o ensino
médio. Ele calcula os custos da evasão escolar e os efeitos que ela causa. Também
menciona sobre a necessidade de equalizar os gastos em relação a educação no Brasil.
Com a uniformização do ensino, aumenta-se a qualidade de vida dos jovens que
terão mais oportunidades de empregos formais, diminuindo a taxa de criminalização e
violência.

3. Qualidade/Efetividade do Sistema Prisional


A criminalidade no Brasil vem crescendo disparadamente. Apesar de não ser um
problema atual, pode-se dizer sem dúvida alguma que ela está longe de ser controlada
pelo Estado. Diversos fatores contribuem para o avanço da criminalidade, tais como o
desemprego, educação insuficiente, falta de moradia, dentre outros, os quais podem ser
atribuídos à omissão do Estado em oferecer condições dignas de sobrevivência aos mais
necessitados. Além desses fatores, o próprio Sistema Penitenciário contribui
significativamente para o crime. Como bem enfatiza Adeildo Nunes, “para alguns, as
cadeias brasileiras mais parecem um zoológico, já que pessoas humanas são tratadas
como animais selvagens, ademais após algum tempo de prisão o detento transforma-se
numa fera”.
Apesar de o objetivo de ressocialização do condenado ser uma ideia basilar no
ordenamento jurídico pátrio, infelizmente a sua concretização esbarra em vários
problemas que circundam o Sistema Penitenciário brasileiro. O arcabouço legislativo
criado para regular a execução da pena, não consegue, de maneira efetiva, combater os
problemas inerentes à sua execução. Deste modo, é imperioso discorrer sobre alguns
deles, a fim de se ter uma visão global e sucinta dos problemas existentes nas prisões
brasileiras.

3.1 A Superlotação

Pode-se dizer sem medo de errar que este é o maior problema do Sistema
Penitenciário pátrio. Em decorrência do avanço da criminalidade, resta evidente que o
número de detentos tende a aumentar. No entanto, não há no Brasil prisões suficientes
para abarcar toda a demanda, fator que inviabiliza o tratamento individualizado de cada
preso e, por conseguinte, afrontam-se os direitos destes, assim como impossibilita a
ressocialização dos apenados. Conforme enfatiza Julita Lemgruber, “a falta de vagas é a
principal causa para a superlotação que caracteriza os presídios brasileiros. A lotação
impede que haja socialização e atendimento correto da população carcerária, o que
acaba criando tensão e violência”.
Além disso, as penitenciárias são destinadas apenas para os presos que cumprem
pena de reclusão em regime fechado, conforme preconiza o art. 87, caput, da Lei de
Execução Penal. Contudo, não é o que se observa na realidade. Além dos presos com
condenação penal já transitada em julgado, os presos provisórios e temporários também
são alojados nas penitenciárias, fator que também provoca a superlotação carcerária. O
ideal seria que os presos provisórios e temporários permanecessem presos em cadeias
públicas, conforme dispõe o art. 102, como também o art. 103, ambos da Lei de
Execução Penal.

3.2 A Tortura e os Maus Tratos

Sobre uma definição para tortura, Heleno Cláudio Fragoso define-a como sendo
uma imposição de aflições ou martírios desnecessários. Sabe-se bem que a tortura não é
um problema atual. No entanto, apesar de a sociedade ter avançado em alguns aspectos
sociais, neste ainda persiste, como demonstra tais comportamentos arcaicos, que
remontam civilizações imbuídas de ignorância. A vida, assim como a integridade física e
moral, é direito inerente a qualquer nacional, mesmo que um deles seja um delinqüente,
pois vigora no sistema jurídico pátrio o princípio da isonomia, o que se pode visualizar
pela leitura do art. 5º, incisos III, XLVII e XLIX da Constituição Federal de 1988. Sobre a
prática de tortura em interrogatório, com propriedade discorre Adeildo Nunes:

A proibição da tortura é particularmente importante para lugares em que as


pessoas sujeitas a um interrogatório ou investigação estão detidas, uma vez que
pode haver a tentação de usar a coerção a fim de obter informações essenciais à
resolução de um caso criminal. O exemplo mais óbvio disso, é a situação em que
um preso confessa ter cometido um crime, em consequência direta dos maus
tratos, sofridos durante a investigação. [...] É dentro do ambiente prisional que as
torturas e os maus tratos são muito mais facilmente concretizados, porque o
preso já está sob a custódia do torturador. Sem qualquer oportunidade de defesa,
o recluso padece e muitas vezes leva consigo os castigos da tortura para o resto
da vida, até muito depois do cumprimento da pena.

O Código Penal pátrio, em seu art. 38, impõe às autoridades o respeito à


integridade física e moral. Assim, apesar da proibição constitucional à tortura, percebe-se
que o condenado sofre toda forma de tortura no cárcere, tais como a lavagem cerebral,
aplicação de drogas, imposição de silêncio e violência física. Deste modo, o encarcerado
nada pode fazer contra as investidas do Estado, o qual se encontra numa posição de
superioridade frente ao condenado.

3.3 Assistência Material Insuficiente

O fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas é dever do


Estado, conforme preconiza o art. 12 da Lei de Execução Penal. Entretanto, na realidade
das prisões brasileiras, não é o que vigora. Os presos têm a sua disposição alimentação
de má qualidade e péssimas condições de higienização, indo de encontro com os
objetivos de ressocialização e prevenção da criminalidade, de acordo com o art. 10 da
supracitada legislação especial. A respeito da precariedade da alimentação fornecida nos
presídios do país e as péssimas condições de higienização, comenta Drauzio Varella:

[...] a comida servida pela casa é triste. Depois de alguns dias, não há cristão que
consiga digeri-la; a queixa é geral. Os que não têm ganha-pão na própria cadeia
ou família para ajudar, sofrem [...]Toda cela tem um vaso sanitário velho,
geralmente limpo, o “boi”, de formas variadas. Alguns são daqueles antigos, do
tipo francês, com um buraco e dois apoios para os pés; outros são os clássicos
vasos de louça encravados num cone invertido de concreto. As privadas
terminam num buraco seco, por onde corre a descarga. Por asseio, os presos
jogam água fervente depois que o último usou o banheiro, à noite. Os mais
cuidadosos tapam o buraco da privada com um saco plástico cheio de areia, para
evitar odores, baratas e os ratos do encanamento. Para não manipular
diretamente o saco, prendem-no a uma cordinha que passa por uma roldana
fixada à parede [...].

Vale ressaltar que a alimentação é um direito social, que deve ser garantido a
todos indistintamente, conforme dispõe o art. 6º da Constituição Federal de 1988.

3.4 Deficiência na Assistência à Saúde

Outro problema que afeta a comunidade carcerária é a saúde dos apenados. O


inchaço nas prisões, a falta de higienização, o homossexualismo, a violência sexual, o
sedentarismo e o uso de drogas injetáveis podem ser considerados os principais fatores
que acarretam a propagação de vários tipos de doenças, tais como: as ligadas ao
aparelho respiratório; doenças venéreas, principalmente a AIDS; hepatite, dentre outras.
Rafael Damasceno de Assis, ao discorrer sobre o tema, enfatiza:

Além dessas doenças, há um grande número de presos portadores de distúrbios


mentais, de câncer, hanseníase e com deficiências físicas (paralíticos e
semiparalíticos). Quanto à saúde dentária, o tratamento odontológico na prisão
resume-se à extração de dentes. Não há tratamento médico-hospitalar dentro da
maioria das prisões. Para serem removidos aos hospitais, os presos dependem de
escolta da PM, a qual na maioria das vezes é demorada, pois depende de
disponibilidade. Quando o preso doente é levado para ser atendido, há ainda o
risco de não haver mais nenhuma vaga disponível para o seu atendimento, em
razão da igual precariedade do nosso sistema público de saúde. Acaba ocorrendo
a dupla penalização do condenado: a pena de prisão propriamente dita e o
lamentável estado de saúde que ele adquire durante a sua permanência no
cárcere.

Ademais, o art. 41, em seu inciso VII, da Lei de Execução Penal, prevê a
assistência a saúde como direito do preso, o que, na realidade, não se vislumbra,
ocorrendo a flagrante afronta aos dispositivos da referida legislação especial. Assim, se o
Estado já retira a liberdade do condenado à pena de prisão, como forma de retribuição
ao crime por ele cometido, o mínimo que ele deve garantir é condições dignas de
sobrevivência, incluindo nesse rol a saúde, que é um direito social garantido a todos sem
distinção.
O anúncio da pandemia do novo coronavirus no mundo e a sua chegada no Brasil
tornou mais grave as condições já precárias da população carcerária e lançou uma luz
mais forte sobre as falhas da gestão penitenciaria e a falência sistêmica do sistema
prisional. Segundo informações divulgadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
referentes ao início do mês de junho de 2020, foram registradas nas unidades prisionais
brasileiras um aumento de 800%, em relação ao mês anterior, no número de casos de
infecção pelo novo coronavirus entre os apenados e agentes penitenciários. Ainda
segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), disponibilizados pelo Depen, até
o dia 17 de junho de 2020, os números do Covid-19 nas unidades prisionais são: 2.351
presos diagnosticados com o Covid-19, 727 a quantidade de casos suspeitos a espera
de confirmação, 8.924 testes realizados (1,2% da população carcerária), o que comprova
uma situação preocupante em relação à subnotificação.

3.5 Deficiência na Assistência Jurídica

A Lei de Execução Penal, em seu art. 15 garante ao preso, que não possui
recursos suficientes para constituir advogado, assistência jurídica, além de dispor em seu
art. 16 que as Unidades da Federação deverão ter de forma integral e disponível
gratuitamente assistência jurídica. A própria Constituição Federal de 1988 assegura a
todos, presos ou não, a citada assistência de forma gratuita, conforme dispõe o art. 5º,
inciso LXXIV. Contudo, a realidade é outra. Devido ao número exacerbado de presos nas
prisões, acima do limite previsto, essa assistência jurídica torna-se insuficiente.

Algumas faculdades, a exemplo da Associação Caruaruense de Ensino Superior, com o


Projeto de Adoção de Presos, se propõem em prestar assistência jurídica aos presos
carentes de recursos financeiros, ajudando de certa maneira a diminuir a superlotação
das prisões. Conforme a estudiosa Perpétua Dantas, o aluno desta faculdade “adota” um
preso, estuda seu caso e com ele interage, a fim de entender os problemas jurídicos pelos
quais o mesmo passa e, com isso, busca promover a justiça, com a realização de, ao
menos, o seu julgamento.

3.6 Falta de Suporte ao Egresso


A Lei n.º 7.210/84, que instituiu a Lei de Execução Penal, define o egresso em seu
art. 26, inciso I e II, ao dispor que é o liberado definitivo pelo período de um ano, prazo
este contado a partir da saída do preso do estabelecimento; e aquele que goza de
condicional, enquanto durar o período de prova. Assim, tal figura vem a ser “o condenado
solto, mas que persiste sob a custódia do Estado que o puniu”. Neste diapasão, a Lei de
Execução Penal, em seu art. 25, inciso I e II, e parágrafo único, trouxe algumas medidas
que devem ser efetuadas em apoio ao egresso, que são: orientação e colaboração para
sua reintegração à vivência em liberdade; concessão de alojamento e alimentação por
dois anos, prorrogável por igual período uma única vez, em estabelecimento adequado.

Entretanto, tal assistência não vem sendo posta em prática. O índice de


reincidência mostra a verdadeira face de um sistema penitenciário, pois quanto maior o
índice, mais latente a incompetência estatal em ressocializar o egresso. No Brasil,
infelizmente, este indicador é alto. Conforme assevera Adeildo Nunes:

Em janeiro de 2003, auditores do Tribunal de Contas da união entregaram às


autoridades de Brasília, documento relatando os principais motivos da violência
crescente no País. Pelo texto, 70% da população carcerária brasileira é de
reincidentes. O relatório cita algumas informações importantes: 1) A Lei de
Execução Penal virou letra morta [...] 2) Os nossos estabelecimentos prisionais
não foram planejados para desenvolver atividades de educação,
profissionalização e trabalho; 3) Há, no País 46,5 mil agentes penitenciários:
somente cinco mil deles atuam em atividades que propiciam a ressocialização do
criminoso [...] 4) Das dezoito penitenciárias visitadas em nove Estados, cento e
oito presos foram entrevistados: 70% deles não estudam; onde há ensino básico
ele é precário e descontinuado; 5) Em São Paulo, com quase metade da
população carcerária nacional e o Estado mais rico da Federação, somente17%
dos seus presos freqüentam escolas; [...] 7) A qualificação profissional entre os
detentos é praticamente inexistente [...] 8) O preso que eventualmente
trabalhasse, deveria receber pelo menos 70% do salário mínimo. Nem sempre
recebe [...] 9) São poucas as experiências desenvolvidas nas nossas prisões que
efetivamente colaborem com a recuperação do criminoso, mas muitas as ações
no sentido de fazê-lo retornar ao crime.

Além desses fatores, outros podem ser elencados, como a falta de moradia, a
descriminação com o ex-detento e o desemprego. É certo que a sociedade contribui para
a reincidência, mas o fator determinante é a inércia estatal na efetivação das medidas de
apoio ao egresso para a sua volta ao convívio social.

4. Avanços necessários para evitar falhas estruturais e aumentar as políticas


públicas

Diante das falhas estruturais apontadas no capítulo anterior, é notória a situação


de falência sistemática. O Brasil é destaque negativo quando o assunto é nosso sistema
prisional. Nos últimos anos o crescimento da população carcerária foi muito expressivo e
preocupante, fazendo com que, infelizmente, o Brasil faça parte do grupo de países com
a maior população carcerária do mundo, com a agravante de oferecer aos encarcerados
as piores condições para o cumprimento de sua pena.
As finalidades do cumprimento da pena se baseiam na ressocialização do preso e
na prevenção da reincidência, visto que se busca a reinserção desse indivíduo na
convivência em sociedade e que ele não cometa outros atos ilícitos. Portanto, fica claro
que a garantia de uma execução penal adequada pelo sistema penitenciário é essencial
para as politicas de segurança, pois, sendo feito dentro dos parâmetros e prerrogativas
legais, diminui a criminalidade e a violência urbana.
Outrossim, demonstra-se necessário comentar sobre os princípios que devem ser
respeitados pelas políticas prisionais. Neste sentido, destacam-se os princípios da
Dignidade da Pessoa Humana e o da Individualização da Pena, que estão dispostos na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento internacional que o Brasil é
signatário. Essas prerrogativas, respectivamente, defendem que, apesar de ter o seu
direito à liberdade restringido, ao condenado devem ser preservados todas as outras
garantias, além do fato de que a pena não pode passar da pessoa do réu. Esses
princípios buscam a efetividade dos objetivos da execução penal, bem como adequar o
sistema penitenciário aos preceitos humanitários existentes.
Destarte, é fulcral comentar sobre a assistência que deve ser assegurada aos
presos tendo em vista os seus direitos e a sua ressocialização. Conforme as regras
mínimas para o tratamento de pessoas presas da ONU, “regras de Mandela”, devem ser
garantidas a assistência educacional, profissional, jurídica, social e à saúde. Dentre essas
prerrogativas, destacam-se as relacionadas à educação e ao trabalho, pois a LEP
concede a possibilidade de remissão de pena, desde que sejam atendidos os pré-
requisitos. Ademais, esses benefícios visam assegurar, de maneira eficiente, a reinserção
do apenado ao meio social, bem como garantir todos os direitos não cerceados pela
execução da pena, além de preservar o princípio da Dignidade da Pessoa Humana
disposto na DUDH e na carta magna brasileira. Afinal, uma sociedade que respeita os
valores da declaração universal é uma sociedade justa e equilibrada.
Ante o exposto, faz-se necessária a adoção de políticas públicas efetivas para
diminuir a criminalidade e consequentemente as falhas estruturais dentro do sistema
prisional brasileiro. Mas, afinal o que são políticas públicas?
Segundo a Assembleia Legislativa do Estado, Políticas públicas são ações e
programas que são desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos
que são previstos na Constituição Federal e em outras leis. São medidas e programas
criados pelos governos dedicados a garantir o bem-estar da população.
Além desses direitos, outros que não estejam na lei podem vir a ser garantidos
através de uma política pública. Isso pode acontecer com direitos que, com o passar do
tempo, sejam identificados como uma necessidade da sociedade. O planejamento, a
criação e a execução dessas políticas é feito em um trabalho conjunto dos três Poderes
que formam o Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário.

O Poder Legislativo ou o Executivo podem propor políticas públicas. O Legislativo


cria as leis referentes a uma determinada política pública e o Executivo é o responsável
pelo planejamento de ação e pela aplicação da medida. Já o Judiciário faz o controle da
lei criada e confirma se ela é adequada para cumprir o objetivo.
As políticas públicas afetam a todos os cidadãos, de todas as escolaridades,
independente de sexo, raça, religião ou nível social. Com o aprofundamento e a expansão
da democracia, as responsabilidades do representante popular se diversificaram. Hoje, é
comum dizer que sua função é promover o bem-estar da sociedade. O bem-estar da
sociedade está relacionado a ações bem desenvolvidas e à sua execução em áreas como
saúde, educação, meio ambiente, habitação, assistência social, lazer, transporte e
segurança, ou seja, deve-se contemplar a qualidade de vida como um todo.
Posto isso, é preciso considerar perspectivas que efetivamente produzam
resultados na realidade social e tragam maior controle dos instrumentos do crime,
melhoria das polícias, disseminação do uso de técnicas de perícia criminal, punição
efetiva de crimes com violência e grave ameaça e mecanismos alternativos de
cumprimento de pena para réus primários em crimes sem violência ou grave ameaça.
Para aumento do controle social, medidas legislativas alternativas à criação de
delitos são mais eficientes na redução de criminalidade do que novos tipos penais e
majorações de pena. Tomando como apenas um exemplo, os homicídios praticados com
arma de fogo, nota-se que 85% daquelas encontradas em posse dos criminosos são
anteriores ao Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, de 2003) e os números de
homicídios com armas de fogo tiveram significativa queda e redução da variação anual,
conforme gráfico do Mapa da violência de 2016 (WAISELFISZ, 2015).
Ademais, as incessantes alterações pontuais do Código Penal geram situações de
desproporcionalidade entre as penas em abstrato: não é proporcional que a violência
perpetrada contra o ser humano seja punida de maneira mais leve que a lesão a bens
patrimoniais. Tais incongruências derivam da proliferação de reformas meramente
endurecedoras que não levam em conta a integralidade da legislação atual.
Um mecanismo que revolucionou o processo penal brasileiro de forma positiva e
promoveu a humanização dos procedimentos penais foi a implementação das audiências
de custódia, tendo, por finalidade ajustar a legislação processual brasileira às exigências
de diplomas internacionais, combater práticas violentas no ato da prisão em flagrante e
reduzir a superlotação carcerária provisória. Contudo, ainda assim o número de pessoas
submetidas ao regime prisional Brasileiro continua aumentando gradativamente.
Observa-se também que a liberação de recursos públicos determinada pelo
Supremo Tribunal Federal para melhoria das condições da população carcerária não
surtiu muito efeito. Nota-se que muito pouco ou nada foi concretizado, mesmo com a
liberação de vultosos recursos. Não sendo mecanismo suficiente para resolver as falhas
estruturais do sistema prisional brasileiro.
Dessa forma, é perceptível que a implementação das políticas públicas não só
deve ocorrer no momento da prisão, mas devem agir antes da prisão, deve haver um
trabalho radical ao combate ao tráfico de drogas, a marginalização e a fome. Uma
organização maior quanto as questões relacionadas à saúde, trabalho, educação e
moradia. Deve se implementar políticas públicas em relação a ressocialização para que
os detentos voltem a sociedade com uma condição digna para continuar a vida e não
voltar a delinquir pela falta de oportunidades, implementando ações sócio-educativas com
a finalidade imediata de reinserção de valores sócio-culturais no condenado, e, como
finalidade mediata a reabilitação e a reintegração social do recluso de modo a evitar a sua
reincidência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Posto isso, infere-se que a situação carcerária no Brasil é caótica e o sistema


prisional brasileiro apresenta enormes falhas estruturais, o que acaba por violar garantias
fundamentais previstas na Constituição da República e nos tratados assinados pelo
Brasil. O índice de criminalidade em elevação constante e o evidente descrédito na ação
estatal de promoção da paz e tranquilidade públicas são grandezas que, na atualidade,
estão diretamente relacionadas.
Por mais que os recursos oriundos do Estado aplicados ao sistema prisional
brasileiro sejam vultosos em relação a outros setores como à educação básica, seguem
sendo insuficientes para um bom funcionamento e para implementação das políticas
públicas. A criminalização não acontece de forma isolada, ela é decorrente de uma série
de fatores, entre eles a desigualdade social, a falta de recursos, a falta de garantia dos
direitos fundamentais.
Para que as políticas públicas se tornem eficientes, faz-se necessário a conjugação
de vários elementos fundamentais tais como a implementação das referidas políticas
públicas por parte do Estado, a participação da comunidade de forma integrada e a ajuda
mútua entre os recuperandos durante todo o processo.
É preciso que se implante medidas que promovam o acesso ao emprego como
instrumento de reinserção social, através do ensino metódico, técnico e profissionalizante
dos detentos, pois é só a educação e o trabalho que podem restabelecer a dignidade
perdida daquelas vítimas das iniquidades sociais e do capitalismo opressor. A educação
de qualidade no sistema prisional contribui para a diminuição do analfabetismo e abre
oportunidades para o aprendizado de novas profissões com formação humanística social.
As políticas públicas sociais precisam promover cidadania, trabalho e acesso a
direitos básicos, para que as pessoas não sejam jogadas no mundo do tráfico, da
violência e de demais práticas delituosas. Um país que tenha uma economia forte, uma
política de incentivos à oferta de empregos e uma distribuição de renda mais equitativo
pode não precisar de tantos presídios para abrigarem aqueles vitimados da desigualdade
social.
Para que esse ciclo vicioso do crime e da opressão sejam combatidos, faz-se
necessário uma mudança na política e visão criminal do país, além de reformas sociais
pontuais e estratégicas.

REFERÊNCIAS

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A insuficiência das políticas públicas no sistema penitenciário para responder ao


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