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POUSO ALEGRE
2022
RAIANY ALVES DOS SANTOS
FDSM – MG
2022
FICHA CATALOGRÁFICA
CDU 340
RESUMO
A superlotação do sistema carcerário brasileiro é um fato que tem sido abordado de maneira
muito superficial durante os anos. Isto se dá pelo fato de que a sociedade e os eleitos
democraticamente por esta não tem dado e devido valor aos grandes propósitos deste sistema
de restituição e ressocialização. Dentre os muitos cenários que os cárceres nacionais infringem
sobre os que a eles pertencem temporariamente, pois no Brasil não há prisão perpétua, a
superlotação será o enfoque deste trabalho, contrapondo-se aos direitos inerentes a qualquer ser
humano, como os humanos e os fundamentais. Baseando-se nas doutrinas majoritárias e
contraposições a estas, código que tratam especificamente do assunto e pesquisas amplas, o
trabalho buscará medidas possíveis para a solução da situação supracitada. Não obstante, não
será negligenciado que, apesar das condições impostas aos encarcerados, as leis que regem tal
assunto tem grande valor e são deveras bem elaboradas, necessitando de não tantas mudanças,
mas sim de aplicadores que tenham conhecimento e entendam seus objetivos. Com isto, as
sugestões serão fortemente feitas sobre as ações de agentes do que na lei propriamente dita. A
base de força deste presente estudo tem por objetivo a própria Constituição Federal de 1988,
como uma das melhores constituições do mundo, não apenas, mas o texto mundialmente
conhecido, Direitos Humanos, e enfatizado em diversos momentos para que se evite quaisquer
regressões quanto o caráter humano de cada ser.
2.2. Pacto Internacional sobre Direitos Civil e Políticos e Convenção Americana sobre
Direitos Humanos ..................................................................................................................... 18
2.3. Legislação Ordinária - Aplicação da Lei Ordinária, Com o Viés Dos Direitos
Humanos e Outros Acordos, aos Encarcerados ........................................................................ 19
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 30
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 33
INTRODUÇÃO
As condições precárias as quais os prisioneiros são sujeitados não cumpre com a função
social do cárcere, conforme explicitado no Art. 1º da Lei de Execução Penal5 . Como visto
historicamente, essa é uma das condições de rebelião em presídios, grade causadora de mortes,
em específico, daqueles que deveriam viver para a ressocialização.
Desde a instituição dos Direitos Humanos individualizados a cada ser humano vivente,
princípios da dignidade humana e o princípio da legalidade sendo como essenciais nos direitos
individuais, tornou-se obrigação do Estado ser o ente garantidor destes aos que o dão poder,
mesmo que infratores de leis.
1 Constituição da República de 1988, Art 5º XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito;
2 Constituição da República de 1988, Art 5º XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre
outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade
3 Constituição da República de 1988, Art 5º XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de
moral
5 Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
A administração pública é quem deverá cumprir com seu papel de buscar maneiras de
sanas tais problemas, como os supra, e assim garantir um melhor convívio social aqueles que
não cometem delitos, ainda assim respeitando e garantindo os direitos dos infratores.
8
1. SISTEMA PRISIONAL NACIONAL
1.1. Conceito
É claro o fato de que o Brasil tem por obrigação, quando se trata da execução de suas
leis referentes ao Código Penal, ao aplicarem-se aos infratores, reprovar o ato e prevenir que
este aconteça, o que é simples de entender quanto a obrigação de não acontecer novamente.
Surge, portanto, a problemática. Muitos detentos são reinseridos na sociedade sem que
a ressocialização tenha sido realizada, mas não por falta de tempo, mas de execução competente
com meio dos agentes selecionados para estar em responsabilidade para com os encarcerados.
6 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, (2015, pg. 55). “Ele está em cela coletiva com dezoito pessoas, é
muito difícil. (...) Você não anda, quando eu tenho um livro para ler, se você levantar para ir ao banheiro, não
tem lugar para sentar (Preso em unidade comum).”
7 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, (2015, pg. 55). “Não pode trazer livro para a gente ler. A professora
tenta trazer um livro e eles não deixam. Difícil. A gente que gosta de ler, quer estudar, está complicado. Estou no
segundo ano, mês que vem nós vamos fazer o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], mas eu estou querendo
fazer igual, eu conversei com o psicólogo: se eu passar, eu vou me inscrever lá na rua, vou deixar trancado
(Preso em unidade comum).”
9
Soares, exemplifica as causas da criminalidade:
O detento que cumpre sua pena, espera por ressocialização. O cidadão que aqui fora está
deve ter por consciência isto, e lutar pela aplicação correta da punição e da ressocialização,
conforme somos lembrados a seguir:
Ao analisar o homem vivendo em sociedade, pois este tem características de ser social,
necessitava de leis para regularem este convívio. Norma gerais de cada âmbito foram então
sendo construídas com a evolução histórica da sociedade, tal como o âmbito civil, trabalhista,
penal, entre outros. Estas normas traziam consigo sanções punitivas para averiguar que a ordem
manter-se-ia dentre os cidadãos.
Lembrem-se de que como as leis vieram evoluindo, a princípio a lei tinha uma
característica apenas punitiva, e deveras desproporcional, conforme argumenta o ilustre
Beccaria:
8 SOARES, Luiz Eduardo. Segurança pública: presente e futuro. Estudos avançados, v. 20, n. 56, p. 91 -106, 2006.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/9SRD5P9K7FvFYsv6vmg3 Ykn/?format=pdf&lang=pt Acesso em:
26/08/2021, p. 94
9 Assis, Rafael Damaceno de. A Realidade Atual Do Sistema Penitenciário Brasileiro. Disponível em:
http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/espen/ARealidadeatualdoSistemaPenitencirioBrasileiro2008.pdf
pag. 5. Acesso em: 26/08/2021
10
Cansados de só viver no meio de temores e de encontrar inimigos por toda parte,
fatigados de uma liberdade que a incerteza de conservá -la tornava inútil, sacrificaram
uma parte dela para gozar do resto com mais segurança.
Não bastava, porém, ter formado esse depósito; era preciso protegê-lo contra as
usurpações de cada particular, pois tal é a tendência do homem para o despotismo,
que ele procura sem cessar, não só retirar da massa comum sua porção de liberdade,
mas ainda usurpar a dos outros.
Eram necessários meios sensíveis e bastante poderosos para comprimir esse espírito
despótico, que logo tornou a mergulhar a sociedade no seu antigo caos. Esses meios
foram as penas estabelecidas contra os infratores das leis’’. 10
Penas mais humanas que tinham como fito substituir a modalidade punitiva corporais
para um sistema de privação de liberdade, como modo de humaniza-la e trazer contigo direitos
humanos, inicia-se com o marco da Revolução Francesa. O respeito a dignidade da pessoa
humana tem seu início, portanto.
Como seres humanos, todos tem direitos, liberdades e garantias, sendo deveras
imprescindível que o Estado proteja, para progresso de seus cidadãos. A ideia de liberdade de
pensamento de expressão, igualdade diante da lei e outros, são princípios que podem ser
considerados como fonte de inspiração para proteger, na esfera internacional, os direitos de uma
vida digna, respeito e vida. Não apenas, mas a saúde, a terra, a moradia e a educação são pontos
fortes destes direitos.
10BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Rio de Janeiro: Duetto, 2004, pp. 9-10.
11ALMEIDA, Fernando Barcellos de, in Teoria Geral dos Direitos Humanos, Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris
Editor, 1996, p. 24.
11
O cumprimento destes preceitos deve ser de grande valia e com teor de urgência,
portanto, dentro das prisões. As penitenciárias tem tido carta branca para descumprirem com
pontos tão importantes e de alcance internacional, o que tem contribuído para o declínio social
o qual a nação brasileira tem vivido.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do d ireito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
(Grifo meu)
IV – constituição de pecúlio;
XI – chamamento nominal;
13
Ademais, no art. 1º, III, da Constituição, encontramos a declaração da dignidade da
pessoa humana como fundamento sobre o qual se constrói o Estado Democrático de Direito o
qual vivemos, o que representa o inequívoco reconhecimento de todo indivíduo pelo nosso
ordenamento jurídico, como sujeito autônomo, capaz de autodeterminação e passível de ser
responsabilizado pelos seus próprios atos.
Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser
humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado
e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais
mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa
co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais
seres humanos.14
Assim sendo, compreende-se que o ser humano não deve ser tratado como qualquer
objeto. Ele é dotado de direitos e garantias, inerentes a sua pessoa e devem ser analisados com
primazia para a elaboração das regras sociais, descritas em leis, que garantem o bom convívio
interpessoal.
Nesta ótica, o sistema carcerário brasileiro tem por obrigação viver dentro da
constitucionalidade admitida no ordenamento jurídico brasileiro. A Constituição de 1988 tem
por base os direitos humanos e se estende, em seus direitos fundamentais, para as grandes
peculiaridades da nação brasileira e os que neste território se encontram.
14 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2001, p. 60
15 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo -se aos brasileiros e aos
Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 106.
14
Em consonância com o tópico anterior, o tratamento digno que os encarcerados devem
receber encontra-se explicitado no inciso III do artigo 5º da Constituição “ninguém será
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;”. Claramente é proibido
qualquer tipo de pena cruel.
Com grande segurança, Moraes17 entende que o Estado não deve prever e aplicar penas
que provoquem o intenso sofrimento ou humilhação aos encarcerados, visto o princípio
ressocializador.
A reclusão periódica à vida privada é uma necessidade de todo homem, para a sua
própria sanidade mental. Além disso, sem privacidade, não há condições propícias
para o desenvolvimento livre da personalidade. Estar submetido ao constante crivo da
observação alheia dificulta o enfrentamento de novos desafios. A exposição diuturna
dos nossos erros, dificuldades e fracassos à crítica e à curiosidade permanente de
terceiros, e ao ridículo público mesmo inibiria toda tentativa de auto -superação.18
Não há dúvidas quanto ao supracitado e descrito, ainda assim, resta ao Estado assegurar
ao preso, integridade moral e física. Stoco elucida de maneira simples quanto ao assunto:
Percebe-se que de fato o Estado tem responsabilidade de presar pela vida digna de
detento, em quaisquer circunstâncias, a partir do momento que ele se encontra sob sua tutela.
Garantir a segurança enquanto a aplicação da pena anda concomitância com a garantia dos
direitos humanos de cada encarcerado.
17 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos artg. 1ºa 5ºda
Constituição da Republica Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003 , p. 243.
18 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008 , p. 378.
19 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil: doutrina e jurisprudência. 7 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Não apenas isto, mas o direito as efetivações dos tratados internacionais aplicáveis a
ordem interna, os quais signatárias a República Federativa do Brasil, como os Direitos
Humanos.
Direitos humanos, ou conhecido também como direitos do homem, tratando de algo que
é a própria condição humana, Luño conceitua tais direitos:
A ideia de Mazzuoli, o qual menciona em sua obra, trata de maneira simples do tema:
20 Dispositivo constitucional que não pode ser alterado nem mesmo por Proposta de Emenda à Constituição
(PEC). As cláusulas pétreas inseridas na Constituição do Brasil de 1988 estão dispostas em seu artigo 60, § 4º.
São elas: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e
os direitos e garantias individuais. Fonte: Agência Senado. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/clausula -petrea Acesso em: 23/08/2021
21 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos artg. 1ºa 5ºda
Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003 . p. 35.
22 PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de derecho y Constitución. 5. edição. Madrid: Editora
Não será inútil lembrar que a Declaração Universal dos Direitos do Homem começa
afirmando que “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da
família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da
liberdade, dá justiça e da paz no mundo”, e que, essas palavras se associa diretamente
a Carta da ONU, na qual, à declaração de que é necessário” salvar as gerações futuras
do flagelo da guerra”, segue-se logo depois a reafirmação da fé nos direitos
fundamentais do homem.25
23 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. - 4. ed. rev. atual. e ampl.- São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp. 57-58.
24 Informativo 531 do STF. Disponível em:
17
Quanto a esfera do direito interno, o ilustríssimo Mazzuoli27 identifica que a declaração
supra serviu de paradigma para a construção da Constituição da República de 1988, tendo esta,
em seu teor, copiado vários dispositivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
fazendo valer-se estes direitos aos brasileiros. A integração com os direitos internacionais de
proteção dos direitos humanos é realidade e deve ser posto em prática ao encarcerados.
Artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos humanos diz: “Ninguém será submetido
à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes”, tal como o inciso III,
do artigo 5º da Constituição Federal da República: “ninguém será submetido a tortura nem a
tratamento desumano ou degradante;”, para melhor esclarecimento do parágrafo supracitado.
2.2. Pacto Internacional sobre Direitos Civil e Políticos e Convenção Americana Sobre
Direitos Humanos
Este pacto, o Internacional sobre Direitos Civis e Políticos 28 , apresenta um rol mais
especifico e rigoroso, quanto aos direitos civis e políticos de maneira mais ampla, da Declaração
Universal, e obrigatórios para os Estados. Quanto ao importante artigo 10.1, impõe-se o
tratamento a ser outorgado sobre a pessoa encarcerada: “Toda pessoa privada de sua liberdade
deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana.”
Esta convenção tem por objetivo reconhecer e assegurar direitos civis e políticos
semelhante a firmada com o Pacto Internacional já mencionado, onde ressaltam-se, conforme
explicitado por Piovesan30 , a personalidade jurídica, direito à vida, direito a não se submeter a
escravidão, liberdade, julgamento justo, compensação em situações de erro judiciário,
27 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. - 4. ed. rev. atual. e ampl.- São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 810.
28 DECRETO No 592, DE 6 DE JULHO DE 1992.
29 DECRETO N° 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992.
30 PIOVESAN, Flávia (Coord.). Código de direito internacional dos direitos humanos anotado. São Paulo: DPJ
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos
ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito
devido à dignidade inerente ao ser humano.
Em vista da quantidade de vezes em que se firma acordos referentes a estes direitos, ora
tratados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, fazendo parecer ser repetitivo os
conceitos, é em vista de uma urgente característica, sendo este o fato de que os que ignoraram
tais princípios realizaram atrocidades, sendo assim, de grande valia repeti-los, redize-los,
reaprová-los e apresenta-los a todos em todos os tempos e momentos.
2.3. Legislação Ordinária - Aplicação da Lei Ordinária, Com o Viés Dos Direitos Humanos
e Outros Acordos, aos Encarcerados
Como é de se esperar, o marco norteador deste título é a própria Lei Execução Penal,
conhecida como LEP, nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Esta lei ordinário tem dois pilares que
devem ser observados de maneira concomitante, como já mencionad o superficialmente neste
trabalho, porém agora aprofundando, sendo estes a efetivação da sentença ou decisão criminal,
que se reflete no cumprimento correto da sentença condenatória ou absolutória imprópria, com
o fito na ressocialização de sujeito a qual ela sanciona, não deixando de lado a prevenção dos
delitos ora praticados, como Barcelos nos relembra (2008, p. 62). 31
31BARCELOS. Viviane Martins. A ineficácia do sistema penitenciário brasileiro em detrimento das normas
positivas existentes. Monografia. Curso de Direito. Universidade Católica de Brasília. 2008, p. 62.
19
Além da própria Lei de Execução Penal, a CPI do Sistema Penitenciário concebeu leis,
decretos e portarias que auxiliam no extermínio das lacunas que estavam surgindo quando a
execução da Pena:
Decreto-lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal; Decreto-lei n.º 3.689,
de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal; Lei n.º 7.210, de 11 de julho de
1984 – Lei de Execução Penal; Lei Complementar n.º 79, de 7 de janeiro de 1994 –
Cria o FUNPEN (Fundo Penitenciário Nacional) e dá outras providências; Lei n.º
9.099, de 26 de setembro de 1995 – Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências; Lei n.º 10.259, de 12 de julho de 2001 – Dispõe
sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça
Federal; Lei n.º 10.693, de 25 de junho de 2003 – Cria a Carreira de Agente
Penitenciário Federal no Quadro de Pessoal do Ministério da Justiça e dá outras
providências. Por fim, no que guarda pertinência com a legislação infralegal, diversos
diplomas normativos hão de ser sobrelevados.Portaria n.º 033, de 22 de abril de 2005
– Define os objetivos, diretrizes e procedimentos operacionais do programa destinado
à construção de estabelecimentos penais nos Estados e Distrito Federal para aplicação
dos recursos do Fundo Penitenciário Nacional, integrantes do Orçamento Geral da
União do exercício de 2005. Manual de Diretrizes Gerais e Procedimentos
Operacionais. Outros diplomas normativos I – Resolução CJF/STJ nº 502, de 9 de
maio de 2006 – Regulamenta os procedimentos de inclusão e de transferência de
pessoas presas para unidades do Sistema Penitenciário Federal; 32 .
Ressalta-se que todos estes dispositivos ora mencionados acima, tem por objetivo cuidar
que todos os direitos humanos, constitucionais, civis etc., sejam observados em sua integridade,
devendo ser, portanto, cuidados por todos os Entes da Federação.
33 RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil: Lei nº10.406, de 10.01.2002. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007 ,
p. 355.
34 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do estado. 3. ed. rev., atual. e ampl São Paulo: Revista dos
p. 355-356.
21
parcialmente no plano civilístico: para dedução da responsabilidade pecuniária do
Poder Público, faz-se apelas às teorias do Código Civil, relativas aos atos dos
prepostos e mandatários; c) numa terceira fase, a questão se desabrocha e se
desenvolve no plano próprio do direito público; uma concepção original, desapegada
do direito civil, forma -se progressivamente no quadro jurídico da faute e do risco
administrativo.36
Com tais mudanças, fica explicito que o Estado, a primeiro momento, dividiu-se em
duas perspectivas subjetivamente falando: por um lado tem a qualidade de pessoa pública em
seus atos, como é de se supor, enquanto que por outro admite a qualidade de pessoa civil,
igualando-se a cidadão em questões de ser responsabilizado por ações errôneas. Isto significa
que o Estado passa a se reger por meio do Direito Público e pelo Direito Civil.
Com isto, a evolução dos direitos que trata sobre este assunto foi fatídica, onde então
passa-se a surgiu a separação da culpa do funcionário em contraposição a culpa do serviço em
si. Isto se deve ao fato de que normas de direito privado não poderiam ser admitidas sobre
assuntos de interesse público.
A evolução citada tratava de separar a culpa de cada qual, sendo objeto de prova pelo
prejudicado. A ideia pertence a teoria da Culpa do Serviço ou culpa Administrativa já
pertencentes às Teorias Publicistas sobre a responsabilidade deste Ente Estatal.
Assim sendo, com a evolução supracitada, o estado passou a intervir mais sobre a vida
dos administrados, tornando-se Estado social. Surge, portanto, a Teoria do Risco, baseada nas
circunstancias de responsabilidade objetiva do Estado, pois a possibilidade de ofensas de suas
atividades aumentou também. Criou-se a Teoria do Risco Administrativo e a Teoria do Risco
Integral.
36 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do estado. 3. ed. rev., atual. e ampl São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007, pp. 19-20
37 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 20. ed. rev. e atual. até a Emenda
Como é de supor, a diferença entre o Estado e o particular era extremamente grade, isto
pelo fator econômico e de poder. A teoria ora mencionada não era capaz de cumprir o propósito
previsto, visto que o sujeito, em muitas vezes, não conseguia provar a ação antijurídica do
Estado.
Vemos que Silva trata de trazer a diferença básica entre as duas teorias ora mencionadas.
Gonçalves explana sobre a responsabilidade objetiva do Estado. Ambos andam concomitância
com a Constituição Federal da República de 1988, que adotou tal teoria:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: [...]
38SILVA, Luiz Claudio. Responsabilidade Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999 , p. 8.
39GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Volume I: parte geral. 6. ed. ver. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2008, p. 18.
23
A teoria da irresponsabilidade do Estado não foi acolhida pelo direito brasileiro, mesmo
que não houvessem normas que o regulamentassem nossos tribunais e orientações, sempre que
repudiaram essa teoria. Assim sendo, Di Pietro leciona:
Com tal situação, o excepcional José de Aguiar Dias, com muita precisão, escreveu
sobre a distinção entre a responsabilidade objetiva e subjetiva: "no sistema da culpa, sem ela,
real ou artificialmente criada, não há responsabilidade; no sistema objetivo, responde-se sem
culpa, ou, melhor, esta indagação não tem lugar"41 .
Essa culpa do serviço público ocorre quando o serviço público não funcionou
(omissão), funcionou atrasado ou funcionou mal. Em qualquer dessas três
hipóteses, ocorre a culpa (faute) do serviço ou acidente administrativo,
40 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006 , p. 648.
41 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1944 , pp. 94-95.
24
incidindo a responsabilidade do Estado, independentemente de qualquer
apreciação de culpa do funcionário. 42
Stoco ressalta, favorecendo a teoria faute du servisse, que “por ela não se indaga da
culpa do agente administrativo, mas apenas da falta objetiva do serviço em si mesmo, como
fato gerador da obrigação de indenizar o dano causado a terceiro.” 43
Quando o Estado pratica uma ação ou omissão que resulte em dano, haverá
consequências sobre este, surgindo assim o ressarcimento ao terceiro lesado. Tal como regra de
equilíbrio social45 , ressarcir danos materiais ou morais causados tem como enfoco mitigar este
fenômeno social.
42 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006. P. 504.
43 STOCO. Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 270.
44 Op. cit. p. 573.
45 É relevante registrar o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a responsabilidade civil do
estado em caso omissão: depende da existência e comprovação de culpa estatal (entendimento adotado pelo STF
- RE 204.037/RJ); pode ser a culpa anônima ou falta do serviço – culpa genérica não individualizável (RE
179.147/SP).
25
Os reclusos, portanto, lesados quanto a seus direitos e garantias constitucionais e
humanas, buscam no mesmo sistema jurídico que os encarceraram, a indenização justa belo
ambiente a que foram expostos, ao invés de lhes garantir ressocialização e punição de sua
liberdade.
Com isto, torna-se clara a responsabilidade efetiva do Estado em tomar para si o dever
de arcar com os danos, tanto físicos como psicológicos, que os encarcerados sofreram no
cárcere outrora vivido. Tal como Gonçalves afirma:
Cabe ação contra o Estado mesmo quando não se identifique o funcionário causador
do dano, especialmente nas hipóteses de omissão da administração; Estes casos são
chamados de “culpa anônima” da administração. 46
Mesmo assim, ainda que notória sua responsabilização estatal por omissões e ações
claramente ilícitas quando a dignidade da pessoa humana dos presos, entre outros direitos e
garantias cerceados, até o momento deste trabalho, foi decidido por unanimidade, pelo STJ,
negar os provimentos aos pedidos desse gênero, conforme jurisprudências transcritas in literris:
2. A controvérsia sobre a responsabilidade do Estado foi solvida com base no art. 37,
§ 6º, da Constituição Federal e no princípio da reserva do possível, ou seja, o acórdão
recorrido está sob enfoque nitidamente constitucional, o que inviabiliza a admissão
do recurso, sob pena de usurpar-se a competência reservada pela Constituição ao
Supremo Tribunal Federal.
3. A lide não foi solucionada, considerando os dispositivos legais tidos por ofendidos
- arts. 38 do CP; 88 da LEP; 186 do CC -, o que configura falta de prequestionamento
e impede o acesso da matéria à instância especial, conforme preconiza a Súmula
211/STJ. 44
46 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. Volume I: parte geral. 6. ed. ver. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2008, p. 225.
47 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Administrativo e Processual Civil. Recurso Especial. Superlotação
Carcerária. Recurso Especial nº 1024298 / MS. 2º Turma. Relator: Ministro Castro Meira, Brasília, 16/02/2012
26
ENTRE O ATO ILÍCITO E O DANO. SÚMULA 7/STJ. RECURSO INCAPAZ DE
INFIRMAR OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO
DESPROVIDO.
Como se percebe, por ser mais abrangente em suas alegações, não negando a
responsabilização apenas através de subterfúgios processuais, como o prequestionamento,
como feito nos acórdãos acima referenciados, traremos para analise meticulosa os fundamentos
e consequências desta decisão que afastou no mérito o direito a indenização os encarcerados
lesados de seus direitos.
48 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Ato ilícito e Dano. Agravo Regimental no Agravo 933.355/MS,
Relatora: Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 21/10/2008, DJe 12/11/2008
49 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. 45 Recurso Especial
962.934/MS, Relator: Ministro Herman Benjamin, Segunda turma, julgado em 13/04/201 0, DJe 04/05/2011
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1. Em nada contribui para a melhoria do sistema prisional do Brasil a concessão,
individualmente, de indenização por dano moral a detento submetido à superlotação
e a outras agruras que permeiam (e envergonham) nossos estabelecimentos
carcerários. A medida, quando muito, servirá tão-só para drenar e canalizar escassos
recursos públicos, aplicando-os na simples mitigação do problema de um ou só de
alguns, em vez de resolvê-lo, de uma vez por todas, em favor da coletividade dos
prisioneiros.
a) defesa coletiva de direitos (art. 5º, II, da Lei 7.347/1985), por intermédio do
ajuizamento de Ação Civil Pública, para resolver, de forma global e definitiva, o grave
problema da superlotação das prisões, pondo um basta nas violações à dignidade dos
prisioneiros, inclusive com a interdição de estabelecimentos carcerários;
50BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Recurso Especial
962.934/MS, Relator: Ministro Herman Benjamin, Segunda turma, julgado em 13/04/2010, DJe 04/05/2011
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[...] Não faz muito sentido tirar verbas do caixa do Estado para indenizar,
individualmente, por dano moral, um ou só alguns presidiários, quando o desconforto
do ambiente prisional afeta a todos. A compensação financeira da ofensa moral
individual, em tais circunstâncias, só servirá para mascarar, nunca para reduzir, acabar
ou solucionar, a dor coletiva, a vergonha que é o sistema prisional em todos os Estados
do País. A permitir tal entendimento, estar-se-ia admitindo um papel absurdo do
Estado como segurador universal: ou seja, sempre que algum serviço público
essencial do Estado for falho – e isso é uma realidade nacional, não apenas "privilégio"
do Estado recorrente –, em vez de uma solução global e racional, com medidas
planejadas estrategicamente a médio e longo prazo, buscar-se-á uma saída "meia -sola"
(de preferência financeira), sem a menor repercussão na melhoria do sistema como
um todo. [...] A condenação do Estado à indenização por danos morais individuais,
como remédio isolado, arrisca a instituir uma espécie de "pedágio-masmorra", ou seja,
deixa a impressão de que ao Poder Público, em vez de garantir direitos inalienáveis e
imprescritíveis de que são titulares, por igual, todos os presos, bastará pagar, aos
prisioneiros que disponham de advogado para postular em seu favor, uma "bolsa -
indignidade" pela ofensa diária, continuada e indesculpável aos mais fundamentais
dos direitos, assegurados constitucionalmente. 51
Com vista das erronias do acórdão acima epigrafado, passamos a elaborar algumas
considerações de grande importância. A doutrina é clara, apenas das discussões jurisprudenciais
atuais. Meirelles enfatiza:
Desta forma, deve-se destacar que o encarcerado de outrora aqui tem mais um de seus
direitos privados de sua execução, quando se nega a indenização aqui pleiteada, por questão de
esclarecimento.
51 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Recurso Especial
962.934/MS, Segunda Turma, Relator: Ministro Herman Benjamin, julgado em 13/04/2010, DJe 04/05/2011
52 MEIRELLES, Helly Lopes de. Direito administrativo brasileiro. 23. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 530.
53 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter
educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos
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foi alçada ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal, o qual não apresentou decisão até o
termino dessa pesquisa, e lá foi declarada tema de repercussão geral em virtude da questão
constitucional suscitada:
Assim sendo, fica evidente que o entendimento e mérito atualmente adotado pelo
Superior Tribunal de Justiça, sem sombra de dúvidas, quanto ao julgamento do recurso especial
nº 962934-MS não parece reunir-se em uma com o sistema constitucional, Ordenamento
Jurídico, brasileiro. Não condiz com o princípio da eficácia ampla e imediata dos direitos
fundamentais – inclusive dos encarcerados – o princípio da responsabilização civil por omissão
ou ação estatal.
Nem tampouco preza pela primazia da dignidade essencial da pessoa humana, motivo
pelo qual veremos o Pretório Excelso – nosso Supremos Tribunal Federal – repor a
jurisprudência brasileira no leito do humanismo e da racionalidade.
54 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário l nº 580252 RG, Relator: Ministro Ayres Britto,
julgado em 17/02/2011, DJe-109, DIVULG 07-06-2011, PUBLIC 08- 06-2011, EMENT VOL-02539-02, PP-
00325
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CONCLUSÃO
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direitos, quando um dano é causado, este deve ser indenizado.
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33
A negação desta última mencionada acarreta em mais direitos negados, retirados,
daqueles que mais precisam entender o que é ter direitos garantidos para que garantam os de
outros. Já não basta, conforme explicitado neste trabalho, os encarcerados serem privados de
diversos direitos humanos e fundamentais, a negação desta indenização acarreta ao cúmulo da
não preservação dos direitos humanos dos presídios brasileiros.
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Recurso Especial
962.934/MS, Segunda Turma, Relator: Ministro Herman Benjamin, julgado em 13/04/2010, DJe
04/05/2011.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Especial 580252 RG, Relator: Ministro Ayres Britto, julgado
em 17/02/2011, Dje-109, divulg 07-06-2011, public 08-06-2011 ement vol-02539-02, pp-00325.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Especial nº 580252 RG, Relator: Ministro Ayres Britto,
julgado em 17/02/2011, DJe-109, DIVULG 07-06-2011, PUBLIC 08-06-2011, EMENT VOL-02539-02, PP-
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