Você está na página 1de 26

FACULDADE UNOPAR

BACHAREL EM CRIMINOLOGIA

APLICAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA OS


DIREITOS HUMANOS E RESSOCIALIZAÇÃO

SETE LAGOAS

2023
DJENANE APARECIDA RODRIGUES CARVALHO

APLICAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA OS DIREITOS HUMANOS E


RESSOCIALIZAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel
em Criminologia.

Orientador: Prof. Dr.

SETE LAGOAS/MG
2023
RESUMO

A principal função da pena restritiva de liberdade é a ressocialização do delinquente,


preparando-o para voltar a viver em sociedade. Entretanto, as prisões brasileiras não
proporcionam os meios necessários à ressocialização. Isso porque a maior parte dos
presídios não tem a estrutura necessária para fornecer educação, trabalho e outras
atividades que visam reeducar o preso e prepará-lo para retornar à sua comunidade. Além
disso, agentes penitenciários não são devidamente preparados para função que exercerão,
assim, acabam praticando atos que podem causar danos à integridade física e moral dos
presos, o que dificulta ainda mais a ressocialização desses. Diante de tantos problemas,
não há como negar que o sistema penitenciário brasileiro encontra-se em crise e medidas
imediatas são necessárias para resguardar a integridade dos detentos. Faz-se necessário
a aplicação de políticas públicas no sistema penitenciário brasileiro. As Apac’s são
exemplos de sucesso na ressocialização dos detentos e já são adotadas em vários
municípios brasileiros, mas ainda são necessárias novas medidas para que o sistema volte
a cumprir a função precípua das penas privativas de liberdade, qual seja: a ressocialização
do detento.
Palavras-chave: Ressocialização. Presídios Brasileiros. Políticas Públicas. Direitos
Humanos.
ABSTRACT

The main function of the freedom-restricting penalty is to re-socialize the offender, preparing
him to return to live in society. However, Brazilian prisons do not provide the means
necessary for re-socialization. This is because most prisons do not have the necessary
structure to provide education, work and other activities aimed at re-educating the prisoner
and preparing him to return to his community. In addition, prison officers are not properly
prepared for the function they will perform, thus they end up practicing acts that can cause
damage to the physical and moral integrity of prisoners, which makes it even more difficult
for them to re-socialize. In the face of so many problems, there is no denying that the
Brazilian prison system is in crisis and immediate measures are needed to safeguard the
integrity of detainees. It is necessary to apply public policies in the Brazilian penitentiary
system. Apac’s are examples of success in the resocialization of detainees and are already
adopted in several Brazilian municipalities, but new measures are still necessary for the
system to return to fulfilling the main function of custodial sentences, namely: resocialization
of detainees
Keywords: Resocialization. Brazilian prisons. Public policy.
LISTA DE SIGLAS

APAC Associação de Proteção e Assistência ao Condenado

ART Artigo

ASP Agente de Segurança Penitenciário

CF Constituição Federal

CNJ Conselho Nacional de Justiça

CNPCP Conselho Nacional de Políticas Criminais e Penitenciárias

LEP Lei de Execução Penal

SEAP Secretaria de Administração Prisional

TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................06

2.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA………………………………………………………… .09

2.1 DAS PENAS ...............................................................................................................09

2.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS ..................................................................09

2.1.2 OBJETIVOS DA PENA ............................................................................................10

2.1.3 DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ...................................................................10

2.2 DOS DIREITOS DO DETENTO SOB A ÓTICA DE UM ESTADO DEMOCRÁTICO DE

DIREITO ............................................................................................................................12

2.3. DOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS BRASILEIROS ...................................14


2.4. DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS ........................................................................15
2.5. POLÍTICAS PÚBLICAS ...........................................................................................16
2.6 DOS PROJETOS DE MELHORIA DOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS
BRASILEIROS ..................................................................................................................17
2.6.1 A PRIVATIZAÇÃO DAS UNIDADES PRISIONAIS BRASILEIRAS ........................18
2.6.2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO E AO TRABALHO ....................................................19
2.6.3 MEIOS EMPREGADOS NA BUSCA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO.........20

3.PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS…………………………………………………10

4.ANALISE DOS RESULTADOS………………………………………………………… .12

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................21


6 .REFERÊNCIAS.............................................................................................................23
8

1. INTRODUÇÃO

Ao Estado cabe o poder e dever de aplicar a sanção penal àqueles que


cometem crimes, mas, ao mesmo tempo, também é um poder e dever do Estado
garantir ao apenado todos os seus direitos, além dos meios que possibilitem aos
presos cumprirem as suas penas e se reintegrarem na sua comunidade.
No entanto, as atuais condições dos presídios brasileiros demonstram um
descaso do Estado com os presos no Brasil e a ressocialização buscada pela
pena privativa de liberdade está longe de ser alcançada, pois essas instituições
não proporcionam aos apenados os meios necessários a prepará-los para que
possam retornar e conviver sem delinquir novamente em sociedade.
O sistema prisional vem passando ao longo dos anos por uma situação
de precariedade. O número de presos aumenta a cada ano, e o número de vagas
disponíveis não é suficiente para suprir a demanda. Além da superlotação, o
sistema não faz o seu papel, de recuperar e reintegrar o detento à sociedade. E
para piorar, o índice de reincidência é alto.
O presente trabalho discutiu e analisou a crise que passa o sistema
penitenciário. São inúmeras rebeliões, de norte a sul do país, envolvendo
facções criminosas, corrupção, violência física, moral e sexual e condições
subumanas dentro dos estabelecimentos prisionais.
O tema mostrou merecedor de um estudo bibliográfico devido ao grande
número de encarcerados no País e as condições precárias dos presídios
brasileiros. O presente trabalho teve por objetivo geral de compreender as
dificuldades que o sistema prisional enfrenta. Como objetivos específicos, de
entender os diversos tipos de penas, e seus cumprimentos, e as consequências
da falta de investimentos na área.
Também propôs como objetivo deste trabalho demonstrar que os
presídios brasileiros não têm cumprido seu papel na ressocialização dos
detentos e ainda, que a adoção de sistemas onde os direitos dos presos são
respeitados tem apresentado resultados significativos na diminuição do número
de ex-presidiários que voltam a cometer crimes.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
9

Neste capítulo serão abordados sobre as penas previstas na Constituição


Federal de 1988, como evoluíram, com quais objetivos foram criadas, as
modalidades de cumprimento em observância aos direitos do apenado, sob a
ótica de um estado democrático.
Serão consideradas, também, as condições dos estabelecimentos
prisionais e dos agentes que ali laboram, as políticas públicas voltadas à
humanização para o cumprimento da pena e às melhorias no sistema carcerário,
inclusive, através de parcerias público privada.
Estão explanadas, ainda, as previsões constitucionais que asseguraram
o direito ao trabalho e educação visando a ressocialização dos privados de
liberdade.

2.1 DAS PENAS

Neste tópico será apresentada a evolução histórica das penas, onde


surgiram e como foi a evolução das mesmas no decorrer dos séculos. Este tópico
mostra-se importante ao presente trabalho monográfico para demonstrar que os
objetivos, fundamentos e meios de se punir o delinquente sofreram diversas
mudanças, principalmente diante da valorização da pessoa e do surgimento dos
direitos desta em um Estado Democrático de Direito.

2.1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS

Para iniciar as discussões sobre a evolução histórica das penas,


apresentam-se os estudos de Mirabete (2001, p. 245), que aponta que foi na
Grécia Antiga e no Império Romano, o local onde eram aplicadas as penas
capitais (pena de morte) e das sanções aflitivas, tais como os açoites e as
mutilações. Para o autor, “a idéia de que se deveria atribuir à pena finalidades
superiores, como a defesa do Estado, a prevenção geral e a correção do
delinqüente” (MIRABETE, 2001, P. 245).
Nesta época, principalmente aqueles indivíduos de baixa classe social,
sofriam os piores horrores diante de simples furtos ou outros delitos
insignificantes. O autor ainda explica que (MIRABETE, 2001, p. 243) "perde-se
no tempo a origem das penas, pois os mais antigos grupamentos foram levados
10

a adotar certas normas disciplinadoras, de modo a possibilitar a convivência


social".
No entanto verifica-se que não há uma data correta para o surgimento das
penas, sendo que a punição por um crime surge junto com a humanidade, pois
o homem sempre delinqüiu e daí surgiu à necessidade de punição para os
delinqüentes.
Uma das discussões importantes sobre as penas é a que Foucault (1987)
apresenta. Parte de sua argumentação indica que as penas que eram aplicadas
tinham um caráter de crueldade e eram aplicadas principalmente aos que
formavam as classes mais baixas da sociedade.
As penas sempre buscaram ressocializar o indivíduo, punindo-o e
tentando ressocializá-lo. Apesar da imagem de penas brutas e desumanas
apenas nos séculos passados, ainda é possível ver presos em estado de miséria
condições subumanas, o que demonstra que, apesar da evolução das penas,
estas ainda se mostram pouco eficazes na ressocialização do indivíduo.

2.1.2 OBJETIVOS DA PENA

A pena sempre deve ser vista sob dois ângulos: de um lado temos a
perspectiva do apenado e, por outro temos o Estado. Reale Júnior (2002, p. 45)
apresenta a pena sob o ponto de vista do Estado e conclui que essa é "uma
forma necessária de controle social, para garantir respeito a determinados
valores, garantia que se reafirma pela execução da pena, quando este valor é
afrontado por uma ação delituosa"; já na visão do apenado, a pena é considerada
um castigo injusto, uma punição desnecessária e desproporcional ao delito
cometido. (REALE JÚNIOR, 2002, p. 45)
A pena deve ser aplicada com proporcionalidade, ou seja, não se pode
aplicar uma pena desproprocional ao delito cometido, pois esse visa,
primordialmente, ressocializar o criminoso e prevenir novos delitos através de
seu caráter preventivo.
Depois de dois Séculos de constatada a falência das penas privativas de
liberdade, em termos de medidas retributivas e preventivas, está na hora de se
buscar meios eficazes e humanos para se aplicar uma sanção ao delinqüente.
Afinal, diante da evolução no campo dos direitos humanos, nada mais necessário
11

que uma reforma no sistema prisional brasileiro, de modo a adaptar as penas e


os locais de seu cumprimento aos anseios da sociedade brasileira.

2.1.3 DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

O que se pretende aqui é discutir a pena privativa de liberdade, pois esta


é a pena mais severa prevista no ordenamento brasileiro. Dessa maneira, a pena
privativa de liberdade é a que restringe o direito de ir e vir do condenado,
infligindo-lhe um determinado tipo de prisão. Esta pena pode ser de reclusão,
detenção (previstas no artigo 33 do Código Penal) ou prisão simples, esta última
cabível apenas nos casos de contravenções penais, prevista no artigo 5º (LCP).
A reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
detenção deve ser cumprida em regime semi-aberto ou aberto, nunca iniciada
em regime fechado.
A pena privativa de liberdade deve ser usada pelo julgador como último
recurso para se punir aquele que é condenado. Entretanto, percebe-se que a
preocupação maior do Estado tem sido retirar o infrator do meio social e colocá-
lo às margens da sociedade, esquecendo-se do objetivo principal de pena, qual
seja, dar condições ao condenado de ressocializar-se, preparando-o para sua
volta ao convívio social.
Na verdade, a pena privativa de liberdade deve limitar-se aos condenados
de longa duração, extremamente perigosos e que apresentem dificuldade na
recuperação. Afinal, “o problema da prisão é a própria prisão.” (BITENCOURT,
1999, p. 03). Assim, diante de pequenos delitos ou de delinqüentes que não se
mostrem perigosos para a sociedade de maneira geral, não existe a necessidade
de privá-lo de sua liberdade. Afinal, o encarceramento traz inúmeras
conseqüências ruins, pois retira do indivíduo um de seus direitos fundamentais:
a liberdade.
Dessa maneira, de um dia para o outro, o indivíduo se vê privado do lar,
da companhia dos amigos, da família, sem seu direito de liberdade, trancafiado
em uma cela com pessoas que nunca viu e obrigado a dividir um espaço ínfimo
com outros criminosos. A prisão deve ser aplicada em último caso e, ainda assim,
quando se mostrar necessária, ou seja, naqueles casos em que as penas
substitutivas não sejam suficientes.
12

Por isso é possível concordar que o encarceramento retira do indivíduo


dois dos seus direitos fundamentais: liberdade e dignidade humana,
degradando-o como pessoa e sendo imposto ao mesmo um tratamento
desumano em estabelecimentos carcerários precários. Ao condenar uma pessoa,
retira-se desta a sua liberdade, condenando-a a uma vida de miséria,
desrespeito e convivência com outros criminosos.
Quanto aos regimes aplicáveis às penas privativas de liberdade, existe o
regime fechado, no qual o apenado cumprirá a pena em estabelecimento de
segurança máxima ou média, o que não ocorre, pois presos com condenações
altas ainda cumprem penas em cadeias públicas misturados aos que ainda
aguardam julgamento. No semi-aberto, em colônias industriais ou agrícolas, ou
em estabelecimentos similares; e, por fim, regime aberto, no qual o apenado sai
durante o dia par trabalhar ou estudar, recolhendo-se à casa do albergado (ou
estabelecimento similar) à noite e nos dias de folga.
As penas privativas de liberdade devem limitar-se às situações de
reconhecida necessidade e deve buscar impor ao autor de um delito, a justa
sanção pelos danos que causou. E, quando aplicadas, devem ser cumpridas em
estabelecimentos que proporcionem os meios necessários para que o detento
se ressocialize, se reabilite e não busque cometer novos delitos.

2.2 DOS DIREITOS DO DETENTO SOB A ÓTICA DE UM ESTADO


DEMOCRÁTICO DE DIREITO

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) traz vários os direitos e


garantias fundamentais ligados às penas privativas de liberdade e,
consequentemente, ao apenado, tais como a de que “ninguém será submetido
à tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (artigo 5º, III, “e”,
BRASIL/1988); a vedação da aplicação de penas cruéis (artigo 5º, XLVII,
BRASIL/1988), o respeito à integridade física e moral (artigo 5º, XLIX,
BRASIL/1988).
Além desses direitos e garantias fundamentais, destaca-se o da dignidade
humana que é o bem mais tutelado pela Carta Magna. Pelo princípio da
dignidade humana o ser humano não pode ser vítima de discriminações,
exclusões sociais, violência moral ou física, intolerância, etc. Apesar de tal
13

princípio encontrar-se consagrado em todas as áreas sociais, no âmbito do


Direito Penal tal direito merece maior atenção, principalmente diante da atual
situação das penitenciárias brasileiras.
Bitencourt (2004, p. 157), aponta que as penas privativas de liberdade ao
invés de “frear a delinquência, parece estimulá-la, convertendo-se em
instrumento que oportuniza toda espécie de desumanidade”, isso porque as
prisões não trazem “nenhum benefício ao apenado; ao contrário, possibilita toda
sorte de vícios e degradações”.
Apesar da evolução das teorias aplicadas às penas privativas de liberdade
e da conquista de vários direitos fundamentais, os objetivos da pena não têm
sido alcançados e muito se deve à falta de respeito aos direitos e garantias
fundamentais dos detentos. Ou seja, não se ressocializa o preso, mas o
transforma em um delinquente sedento de vingança e de novos crimes. Se os
mantivermos presos nestas condições estaremos “graduando-os” no mundo do
crime.
Para Foucault (1987, p. 261), o encarceramento tira o mais importante dos
direitos do indivíduo: a liberdade. Nesse sentido,
E se, em pouco mais de um século, o clima de obviedade se
transformou, não desapareceu. Conhecem-se todos os inconvenientes
da prisão, e sabe-se que é perigosa quando não inútil. E entretanto não
“vemos” o que pôr em seu lugar. Ela é a detestável solução, de que
não se pode abrir mão. Essa “obviedade” da prisão, de que nos
destacamos tão mal, se fundamenta em primeiro lugar na forma
simples da “privação de liberdade”. Como não seria a prisão a pena
por excelência numa sociedade em que a liberdade é um bem que
pertence a todos da mesma maneira e ao qual cada um está ligado por
um sentimento “universal e constante”? Sua perda tem portanto o
mesmo preço para todos; melhor
que a multa, ela é o castigo “igualitário”.

O princípio da humanidade também é uma barreira aos abusos cometidos


contra os detentos, pois tal princípio tutela os direitos ligados à dignidade
humana do detento, segundo o qual esse não pode sofrer nenhum ato atentório
contra sua integridade física, psíquica ou moral. O princípio da humanidade
proíbe a aplicação de penas capitais ou de prisão perpétua, além dos maus-
tratos e da tortura.
Pelo princípio da pessoalidade da pena, consagrado no artigo 5º, inciso
XLV, da Constituição Federal, "nenhuma pena passará da pessoa do
condenado...". Ou seja, somente aquele que praticou o ato delituoso deve
14

cumprir a pena a ele imposta, não podendo a sanção penal passar para seus
descendentes.
O princípio da individualização da pena, muito ligado ao da pessoalidade
da pena, impõe ao julgador que este fixe a pena conforme a cominação legal,
além de aplicar os dispositivos da Lei de Execução Penal ao cumprimento da
pena imposta, principalmente respeitando os direitos do preso previstos na LEP
e na Constituição.
Num Estado Democrático de Direito, é inaceitável que os direitos dos
presos sejam tão desrespeitados e nenhuma atitude seja tomada pelo Estado ou
pela sociedade. Afinal, não cabe somente ao Estado a proteção da pessoa
humana, mas também a todos aqueles que compõem a sociedade.
Obviamente que aquele que cometeu um delito deverá receber uma
sanção, posto que este seja um poder e dever do Estado que visa manter a paz
social na sociedade. No entanto, o condenado tem direitos, dentre os quais,
muitos deles fundamentais; ou seja, ele não deixa de ser um cidadão brasileiro
e continua, como tal, portador de todos os direitos garantidos em Lei e pela
Constituição Federal.
Assim, a pena privativa de liberdade deverá ser aplicada apenas em
último caso e em locais onde seja possível assegurar os direitos do detento.
Todos eles têm direito a uma vida digna nos presídios brasileiros e não somente
uma sobrevida, tratados como animais, enjaulados em celas super lotadas e sem
o mínimo de dignidade. Afinal, o detento ali está para pagar pelo seu erro, mas,
ao mesmo tempo, se ressocializar, pois a prisão não é eterna – não existe prisão
perpétua no ordenamento jurídico brasileiro – e este, um dia, voltará a viver em
sociedade.

2.3 DOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS BRASILEIROS

Levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na


primeira etapa de implantação do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões
(BNMP 2.0), o país possui aproximadamente 602 mil presos, dos quais 95% são
homens e 5% são mulheres. O BNMP 2.0 é uma ferramenta desenvolvida pelo
CNJ com o objetivo de fazer o mapeamento da população carcerária brasileira,
15

a partir de informações do Poder Judiciário.1


O Sistema Penitenciário Brasileiro passa por uma crise, apresentando
celas superlotadas, péssima estrutura física, falta de funcionários,
principalmente qualificados, além de direitos dos presos que não são respeitados,
tais como o direito à educação, trabalho, atendimento médico e odontológico.
A maior parte dos presídios brasileiros é construída sem o mínimo
planejamento, nos quais a distribuição do espaço não segue as regras, sendo
que as celas mostram-se extremamente pequenas e mal divididas – piorando a
situação pelo fato de que as celas sempre apresentam número maior de presos
que sua capacidade original.
As penitenciárias devem ser construídas ou adaptadas às necessidades
dos apenados, oferecendo celas compatíveis com o número de presos, locais
higienizados, enfermarias, consultórios médicos, sala de atendimento por
advogado, psicólogos e locais onde possam trabalhar e estudar. Dessa maneira,
é importante a existência de um local próprio para visitas íntimas, de modo a se
tentar diminuir o número de casos de violência sexual hoje existente nos
presídios. (BITENCOURT, 1999)
Quanto às instalações carcerárias, a Lei de Execução Penal, dispõe
em seu artigo 88, que o preso deve ficar isolado durante o repouso noturno,
em cela individual com dormitório, aparelho sanitário e lavatório. O parágrafo
único do citado artigo ainda impõe que a unidade celular deve preencher os
requisitos de salubridade e possuir área mínima de seis metros quadrados.

2.4 DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS (POLICIAIS PENAIS)

No Brasil, são mais de 65 mil Agentes de Segurança Penitenciários


(ASP), para custódia e controle de aproximadamente 602 mil detentos, que se
encontra em pouco mais de 317 mil vagas disponíveis nas unidades prisionais
brasileiras. Caracterizando, assim, um déficit de aproximadamente 285 mil vagas,
consequentemente, ocorrendo à superlotação. Segundo o Conselho Nacional de
Políticas Criminais e Penitenciárias (CNPCP), a recomendação e que haja um

1
CNJ, Conselho Nacional de Justiça. Notícias. BNMP 2.0 revela o perfil da população carcerária
brasileira. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87316-bnmp-2-0-revela-o-perfil-da-
populacao-carceraria-brasileira. Acesso em: 05 set. 2020.
16

ASP para cada 05 detentos, como medida de segurança. Sendo assim,


deveríamos ter, no mínimo, 100 mil Agentes Penitenciários no Brasil2.
Muitas vezes, esses agentes sentem-se dotados de um “poder” sobre os
detentos que aliado à falta de preparação de tais profissionais, leva alguns deles
a cometer atos arbitrários e desumanos contra os presidiários.
Foucault (1987) demonstra que o agente realmente possui um
determinado “poder” dentro do estabelecimento carcerário, mas que esse “poder”
deve ser utilizado para corrigir os detentos, demonstrando, claramente, que os
agentes penitenciários devem auxiliar na recuperação dos detentos através da
reeducação dos mesmos.
Além disso, as penitenciárias sequer contam com um corpo técnico
mínimo, o que torna ainda mais difícil a ressocialização do detento. Também não
há um serviço de apoio eficaz aos agentes penitenciários que trabalham sob
condições estressantes, correndo risco de morte e sofrendo ameaça por parte
dos detentos.
A política remuneratória dos agentes penitenciários deve ser reavaliada
especialmente em virtude da importância do trabalho e do perigo oferecido por
ele. Além disso, também devem ser oferecidos treinamentos para que os
agentes possam conscientizar-se do papel que exercem, assim haverá a
possibilidade de se construir um quadro de pessoal preparado para lidar com as
dificuldades que requer a profissão.

2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS

As penas de prisão visam, principalmente, conscientizar o detento do erro


cometido e incentivá-lo a se ressocializar para que possa voltar a conviver em
sociedade sem mais oferecer perigo.
Mas, o que vem a ser ressocialização? Ressocializar significa o sentido
imanente da reinserção social, compreende a assistência e ajuda na obtenção
dos meios capazes de permitir o retorno do apenado e do internado ao meio
social em condições favoráveis para a sua integração. Reale Júnior (2002, p.45).
Bitencourt (1999, p. 17) ensina que a ressocialização depende,

WIKIPÉDIA, A Enciclopédia livre. Agente Penitenciário. Categoria: Profissionais da Segurança Pública.


2

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Agente_penitenci%C3%A1rio. Acesso em: 15 ago. 2020.


17

principalmente, do detento, mas os estabelecimentos prisionais devem oferecer


condições para que o mesmo possa exercer tal faculdade.
A ideia de acabar completamente com a delinquência mostra-se utópica,
pois a prática de delitos é uma ação inerente ao ser humano. Entretanto, isso
não faz com que a sociedade brasileira dê as costas aos condenados,
marginalizando-os e fingindo que não existem, uma vez que, como posto por
Rolin citado por Bitencourt (1999, p. 18), “Da mesma forma que este (delinqüente)
é responsável pelo bem-estar social de toda a comunidade, esta (sociedade) não
pode desobrigar-se de sua responsabilidade perante o destino daquele.”
Ou seja, somente com a participação da sociedade e do Estado, o detento
encontrará os meios necessários para buscar sua ressocialização; pois somente
tendo consciência de que não foi colocado às margens da sociedade e que o
Estado preocupa-se com seu bem estar físico e mental, o delinqüente terá
motivos para se reabilitar e desistir da prática de novos delitos.
As penas privativas de liberdade têm apresentado mais aspectos
negativos que positivos e na maior parte dos casos, tais penas desestruturam
ainda mais o delinquente que passa a cometer delitos ainda mais graves e são
totalmente esquecidos e desprezados pela sociedade que o criou.

2.6 OS PROJETOS DE MELHORIA DOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS


BRASILEIROS

Dentre os diversos projetos que buscam a melhoria do sistema


penitenciário brasileiro, destaca-se a Associação de Proteção e Assistência ao
Condenado – APAC. Sobre a origem e o funcionamento da APAC, Deak e
Ximenes ensinam que
a Apac foi criada em 1972 por um grupo de católicos liderados pelo
advogado Mário Ottoboni. Todos se dedicavam às atividades de
voluntariado desenvolvidas dentro do presídio de Humaitá, na cidade
paulista de São José dos Campos, e se debruçaram sobre a criação
de um modelo carcerário onde a violência ficasse de fora.
Experimentando e pesquisando, o grupo conseguiu criar um método
único de recuperação - não existe igual no mundo. Para quem nunca
ouviu falar na entidade, fica até difícil acreditar que dentro da Apac as
celas ficam abertas, as chaves das portas nas mãos de recuperandos
e o policial mais próximo a quilômetros de distância. Todos dividem as
tarefas de limpeza e quem cozinha é um deles também. O cardápio,
sempre variado, inclui arroz, feijão, carne todo dia, salada, sobremesa
e refrigerante. São quatro refeições ao dia, todas feitas com talheres
de metal (DEAK, XIMENES, 2020, p).
18

Pelo exposto, verifica-se que na APAC, os detentos cumprem suas


penas em um ambiente muito próximo ao que possuíam quando em liberdade.
As celas ficam abertas e os detentos ajudam nas tarefas diárias, mantendo o
equilíbrio físico e mental, pois não são retirados de sua vida em liberdade e
colocados em locais que oferecem condições subumanas.
E, dentre as inúmeras vantagens oferecidas pelo sistema APAC,
ressalta-se que o custo de cada recuperando nessas unidades é de R$650,00
(seiscentos e cinquenta reais) mensais, enquanto os que se encontram nos
estabelecimentos prisionais brasileiros chegam a custar R$2.000,00 (dois mil
reais) mensais aos cofres públicos. O índice de reincidência nas APAC’s é de
menos 10%, enquanto no sistema comum o índice é de cerca de 80%3.
Devido a entraves burocráticos, verifica-se que o sistema APAC –
que demonstra inúmeros resultados favoráveis no tocante à ressocialização do
apenado – ainda é adotado em poucos municípios brasileiros, demonstrando,
mais uma vez, a inércia do Estado Democrático Brasileiro diante dos vários
problemas enfrentados em nosso sistema prisional.
Cabe às autoridades adotarem os sistemas que geram resultados
favoráveis, tais como: baixo índice de reincidência, respeito aos direitos dos
detentos, principalmente direito ao trabalho e à educação, dentre outros. A APAC
apresenta resultados positivos em todos esses aspectos, mas ainda assim é um
sistema pouco adotado no Brasil. Mostra-se necessária uma reforma no sistema
penitenciário brasileiro para que este, pelo menos, atenda aos direitos mínimos
garantidos aos detentos.

2.6.1 A PRIVATIZAÇÃO DAS UNIDADES PRISIONAIS BRASILEIRAS

Uma das opções apresentadas para solucionar a crise do sistema


prisional brasileiro, pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
(CNPCP), órgão do Ministério da Justiça, foi a privatização dos estabelecimentos
prisionais, em que o encargo do Estado é realizado por uma empresa privada.

3
O TEMPO. APAC, O outro lado da recuperação. Infográficos. Disponível em:
https://www.otempo.com.br/infogr%C3%A1ficos/apac-o-outro-lado-da-recupera%C3%A7%C3%A3o-
1.734194 Acesso em 06 set. 2020.
19

Apontada como uma solução para melhorar as condições das Penitenciárias


brasileiras, a privatização encontra alguns defensores, mas não são todos que
entendem que este é o melhor caminho, apresentando inúmeros obstáculos
legais e políticos, apesar da administração pública desestatizar vários outros
serviços públicos.
Di Pietro (2002, p. 174) ensina que “a terceirização tem como
objetivo a liberação da empresa da realização de atividades consideradas
acessórias, permitindo que a administração concentre suas energias e
criatividade nas atividades essenciais”. Dessa maneira, o Governo Brasileiro
poderá concentrar suas atividades em outros setores que apresentam crise, tais
como saúde e educação, mas sem se esquecer daqueles que têm que pagar
pelos seus erros perante a sociedade.
Diante da crise pela qual passa o sistema penitenciário nacional, é
necessária uma medida que permita aos estabelecimentos prisionais reabilitar o
delinqüente para que este possa ter uma convivência harmônica com os demais
cidadãos. Sendo que esta medida pode ser a terceirização dos estabelecimentos
prisionais brasileiros.
Na verdade, a administração pública se reveste de inúmeros
argumentos burocráticos para não implantar a privatização nos presídios
brasileiros. Isso em detrimento dos detentos que têm que passar por todo tipo
de sofrimento físico e mental em penitenciárias superlotadas e sem condições
de ressocializá-lo. Cabe ao Estado rever as diretrizes da execução de pena no
País e implantar soluções que realmente atinjam os objetivos da pena privativa
de liberdade, além de buscar todos os meios necessários para garantir o respeito
à pessoa do preso.

2.6.2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO E AO TRABALHO

A Lei de execução penal estabelece em seu artigo 28 que todos os


presos devem trabalhar. Na verdade, o trabalho é um benefício de execução
penal ao preso em regime fechado ou semiaberto, garantindo-lhe o desconto de
um dia na pena a cada três dias trabalhados.
Mirabete (1996, p. 307) ensina que o trabalho é muito importante, pois
é imprescindível por uma série de razões: do ponto de vista disciplinar,
20

evita os efeitos corruptores do ócio e contribui para manter a ordem;


do ponto de vista sanitário, é necessário que o homem trabalhe para
conservar seu equilíbrio orgânico e psíquico; do ponto de vista
educativo, o trabalho contribui para a formação da personalidade do
indivíduo; do ponto de vista econômico, permite ao recluso de dispor
de algum dinheiro para suas necessidades e para subvencionar sua
família; do ponto de vista da ressocialização, o homem que conhece
um ofício tem mais possibilidades de fazer vida honrada ao sair em
liberdade.

Se verificarmos quanto o Estado gasta com cada preso, o trabalho exercido


por este, ajuda em sua manutenção, principalmente quando esse trabalho é
exercido dentro do estabelecimento penitenciário. Além disso, o detento
poderá aprender uma profissão e tentar fazer parte do mercado de trabalho
quando sair do estabelecimento prisional, evitando, assim, que ele volte a
delinquir.

Em relação à educação essa é considerada uma das mais


importantes questões por Mirabete (1997, p. 77), visto que o índice de
escolaridade dos detentos é muito baixo. Além disso, a maioria dos presídios
não possui locais próprios para estudo e ainda, não existem programas que
incentivam a educação dos detentos, claro que o ideal seria a oportunidade de
trabalho e de estudo a eles, mas isso, na maior parte das Unidades Prisionais,
não ocorre.
O trabalho e a educação são premissas que vão de encontro com o
caráter ressocializador que a pena deve ter. Isso porque o trabalho deve ser
entendido como o exercício da atividade física ou intelectual que dá condição de
o detento exercer sua dignidade humana, direito fundamental do homem.

2.6.3 MEIOS EMPREGADOS NA BUSCA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

No Brasil, são mais de 100 unidades implantadas (APAC’s), nas quais


o detento trabalha com atividades múltiplas no regime fechado; participa de
oficinas no regime semiaberto, e presta serviços à comunidade no cumprimento
de pena em regime aberto. Esse número ainda é pequeno diante do número de
estabelecimentos prisionais e de detentos.
Além do sistema APAC, vários outros projetos têm sido implantados
pelo Poder Judiciário dos Estados em busca de meios eficazes à ressocialização
21

dos presos. Em Minas Gerias, foi implantado pelo Tribunal de Justiça (TJMG), o
Programa “Novos Rumos na Execução Penal”, buscando a humanização no
cumprimento das penas privativas de liberdade mediante a aplicação do método
APAC.
Já a Secretaria de Administração Prisional (SEAP-MG) implantou no
sistema prisional o programa “Trabalhando a Cidadania” que tem como objetivo
promover a ressocialização dos indivíduos privados de liberdade, por meio de
ações planejadas e coordenadas, de modo a oferecê-los qualidade de vida, com
apoio efetivo da comunidade.
O trabalho é um direito social constitucionalmente protegido e privar
o preso deste direito é mais que desqualificá-lo para a nova vida que passará a
viver quando se vir fora das grades e do sistema prisional. É colocá-lo em uma
linha tênue entre o desemprego (devido a sua baixa qualificação) e a
criminalidade, que é vista por muitos como uma forma rápida de se conseguir
dinheiro e status.
22

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Quanto aos procedimentos metodológicos, serão realizadas pesquisas


em bibliotecas ou meios virtuais para embasar o presente trabalho, fazendo um
levantamento bibliográfico sobre a (in) admissibilidade das provas ilícitas no
Processo Penal Brasileiro. Ainda, serão utilizados como fontes diretas de coleta
de dados a legislação, a jurisprudência, a doutrina e os artigos científicos e
demais materiais da Internet, sempre tomando o cuidado de eleger fontes
reconhecidas e confiáveis.
Em uma perspectiva mais ampla, o resultado de tal pesquisa pode
contribuir para o aprimoramento das políticas públicas referentes ao sistema
penal. Trabalhar temas de forma interdisciplinar, sob a perspectiva do direito
penal, da sociologia e da criminologia de maneira integrada; produzir uma
reflexão crítica sobre o funcionamento do sistema penal e a necessidade de
observância dos princípios penais, direitos e garantias fundamentais;
disponibilização de acesso aos dados encontrados de maneira a fomentar outras
pesquisas, bem como servir de base para os próprios órgãos pesquisados
refletirem sobre sua atuação e aplicação das políticas e recursos adequados e
imprescindíveis para um aprimoramento do sistema penitenciário nacional.
23

4. ANÁLISE DE DADOS

Nesta pesquisa bibliográfica resgatamos que as penas, de alguma forma,


sempre buscaram ressocializar o indivíduo, punindo-o e tentando ressocializá-lo.
Confirmamos que apesar da imagem de penas brutas e desumanas remeterem
aos séculos passados, podemos aferir que ainda é possível ver presos em
estado de condições subumanas, o que demonstra que, apesar da evolução das
penas, estas ainda se mostram pouco eficazes na ressocialização do indivíduo.
24

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta desse trabalho foi apresentar as discussões sobre a pena,


sistema penal brasileiro, alternativas e adoção de políticas públicas ao sistema
prisional. Nesse sentido destaca-se que o sistema penitenciário brasileiro
encontra-se em crise e apresenta um triste quadro de indivíduos amontoados em
celas e sem as mínimas condições para buscarem a reintegração social. O Brasil,
como um Estado Democrático de Direito, deveria priorizar os direitos
fundamentais da pessoa previstas na Constituição Federal, respeitando,
principalmente, a dignidade dos indivíduos.
O sistema penitenciário brasileiro necessita de uma reforma urgente,
a fim de se buscar uma efetiva e eficaz ressocialização da população carcerária
que vêm crescendo a cada dia. Cabe ao Estado e à própria sociedade discutir
novas políticas e/ou ampliá-las voltadas para a ressocialização e reintegração
dos presos e egressos na comunidade.
Além disso, os próprios agentes penitenciários devem ter um
treinamento adequado e contínuo a fim de que possam conscientizar-se de que
ali estão para proteger e zelar para que os detentos não só tenham seus deveres
cobrados, mas que também tenham seus direitos preservados.
Diante de tanto desrespeito à Carta Magna e à legislação aplicável à
execução de pena, é preciso uma rápida reestruturação do sistema, por meio da
construção de novas unidades, além de urgentes reformas e ampliações das já
existentes, e ainda, a humanização e capacitação dos servidores.
Cabe ressaltar que a individualização e humanização da sanção penal
não são “meras caridades”, mas sim direitos constitucionais dos detentos,
buscando a reinserção do condenado através do trabalho e do estudo. O sistema
penal brasileiro deve adequar a sanção penal à correta aplicação das leis e do
que preceitua o Texto Constitucional, além dos direitos humanos previstos em
Tratados Internacionais. Ressocializar o preso não significa proteger o
delinquente, mas sim buscar a finalidade punitiva e ressocializadora da pena,
evitando a reincidência dos que já cumpriram a sanção imposta pelo Estado.
Diante do exposto, conclui-se que a sociedade e o Poder Público não
podem mais ignorar a atual situação das penitenciárias brasileiras e as
consequências que o encarceramento indigno traz para nosso País. O número
25

crescente de reincidentes e o aumento da violência dentro e fora das celas


demonstram que medidas urgentes se mostram necessárias de modo a evitar
um colapso total do sistema penitenciário brasileiro. É preciso que seja feita uma
urgente mudança, para que os detentos tenham mais dignidade ao pagarem pelo
prejuízo causado a sociedade, mas que também tenham condições efetivas para
se recuperarem. Não podemos nos esquecer que este “criminoso” também é um
ser humano e que mais cedo ou mais tarde voltará ao convívio social.
26

6. REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal: parte geral, v. 1. 7.


ed. rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2002.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em:
23 mar. 2023.

BRASIL. Lei Nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a lei de execução penal.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>. Acesso
em: 23 mar. 2023.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administração pública. São


Paulo: Atlas, 2002.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel


Ramalhete. Editora Vozes: Petrópolis, 1987.

JUNIOR, Miguel Reale. Instituições de Direito Penal: parte geral. v. 1. Forense,


2002.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 17. ed. São Paulo: Atlas,
2001

MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal: comentários à Lei nº 7.210, de


11-7-84. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 1997.

O TEMPO. APAC, O outro lado da recuperação. Infográficos. Disponível em:


http://www.otempo.com.br/infogr%C3%A1ficos/apac-o-outro-lado-da-. Acesso
em 06 fev. 2023.

SEAP. Secretaria de Estado de Administração Prisional. Programas e Ações.


Disponível em www.seap.mg.gov.br. Acesso em: 17 mar. 2023.

WIKIPÉDIA, A Enciclopédia livre. Agente Penitenciário. Categoria:


Profissionais da Segurança Pública. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Agente_penitenci%C3%A1rio. Acesso em: 15 fev.
2023.

Você também pode gostar