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ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE PARA O

FOMENTO E DESENVOLVIMENTO
DA SEGURANÇA

CARTA AO CONGRESSO NACIONAL

Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança


CNPJ 34.844.919/0001-83
Av. General Melo, Número 351, sala 10, Dom Aquino, Cuiabá – MT
francalucelio@hotmail.com (65) 99606-0113
ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE PARA O
FOMENTO E DESENVOLVIMENTO
DA SEGURANÇA

CONTEXTUALIZAÇÃO

Estudos realizados no Brasil levam em consideração o Direito Comparado


para tentar resolver problemas eminentemente nacionais, buscamos em outros países
soluções para questões que só nós temos, uma verdadeira carência de autoestima, o que
o dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata. Exemplo
disso é o conceito de organização criminosa oriundo da Convenção de Palermo, que
trouxe a visão italiana de um problema vinculado a grupos mafiosos.
No Brasil, o que chamamos de Facção Criminosa, termo usualmente utilizado
no meio acadêmico e jornalístico, não tem sequer definição específica e não deveria ser
usado como sinônimo de Organização Criminosa.
A obra Alpha Bravo Brasil1 – Crimes Violentos Contra o Patrimônio, escrita
por integrantes das polícias e do Ministério Público, traz um novo olhar para questões
sobre Segurança Pública e Ciências Policiais, sem bairrismos e sem cair na tentação,
simplista e equivocada, de tentar importar soluções estrangeiras não adaptadas à realidade
nacional.

1
Os autores deste livro são membros de um grupo maior denominado Alpha Bravo Brasil que busca também
fomentar dentro da Segurança Pública práticas exitosas na prevenção e repreensão de Crimes Violentos
Contra o Patrimônio. O Grupo Alpha Bravo Brasil encontra-se atualmente materializado juridicamente
como Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança.

Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança


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UMA ANÁLISE TÉCNICO FENOMENOLÓGICA – DO ROUBO COMO


GÊNERO E SUAS ESPÉCIAS MAIS VIOLENTAS

Em um mundo globalizado, enxerga-se no horizonte uma evolução; surge a


modalidade batizada de Domínio de Cidades, certamente num patamar mais elevado,
ainda mais impactante e devastadora, que se fundamenta na atuação de grupos
articulados, que desenvolvem diversas ações orquestradas e concomitantes. A quantidade
de criminosos envolvidos durante a ação do novo fenômeno criminal é espantosa, a
divisão de tarefas dos integrantes ganha contornos mais definidos, de acordo com o
objetivo estipulado pelo grupo.
A lógica planejada extrapola até então a aplicada em grandes roubos, os
cenários escolhidos passam a ser cidades de médio a grande porte, com infraestrutura
mais próspera e numerosa presença de contingente policial, não se demonstra mais haver
temor frente à presença do Estado. O potencial lesivo é perigosamente alçado a níveis
alarmantes, para tanto, tais grupos são bem estruturados, que impõem obediência severa
na execução das ações, dispõem de abundância de recursos financeiros, arregimentam
indivíduos bem treinados para investidas dessa natureza. O Estado está diante de um novo
e terrível desafio de proporções até então inimagináveis, a modalidade Domínio de
Cidades ganha musculatura e se expande para outras variáveis, que pode, a depender do
objetivo estabelecido, ser empregada como um modus operandi a fim de resgatar detentos
em estabelecimentos prisionais.
Estampa-se uma nova modalidade criminosa, em que se percebe a inegável
ousadia e capacidade operacional dos bandidos, capazes de rechaçar durante o tempo
necessário, quaisquer contramedidas porventura intentadas pelas forças policiais
presentes, que sequer conseguem chegar perto do teatro de operações enquanto se
desenvolve a ação criminosa.
A população indistintamente assombrada permanece acuada e é dominada
diante de tamanhos atos de terror praticados pelos criminosos, os quais se mantêm no
local escolhido, agindo sem pressa, enquanto pilham a enormidade de valores ali
guardados, conforme detectado previamente no curso do planejamento.

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Esses grupos articulados contam ainda com uma infraestrutura de apoio,


desde financiadores para compra de material bélico, explosivos, aluguel de imóveis e
veículos, até integrantes que fornecem abrigo aos criminosos em fuga. Diante do cenário
identificado, seguindo a mesma linha de ação, desenvolveu-se um conceito inicial.

Domínio de Cidades como sendo uma nova modalidade de


conflito não convencional, tipicamente brasileiro e advindo da
evolução de crimes violentos contra o patrimônio, na qual grupos
articulados compostos por diversos criminosos, divididos em
tarefas específicas, subjugam a ação do poder público por meio
do planejamento e execução de roubos majorados para subtrair o
máximo possível de valores em espécie e/ou objetos valiosos e/ou
o resgate de detentos de estabelecimentos prisionais, utilizando
ponto de apoio para concentração dos criminosos, artefatos
explosivos, armas portáteis de cano longo e calibre restrito e,
veículos potentes e blindados, rotas de fuga predeterminadas,
miguelitos, bloqueio de estradas, vias e rodovias com automóveis
em chamas, além da colaboração de olheiros, segundo a visão de
(RODRIGUES, 2018)2.

Até certo ponto é compreensível que haja uma forte resistência por parte do
Estado, nas pessoas de seus representantes, em admitir que exista uma nova modalidade
criminosa, operando e sendo capaz de atingir de forma expressiva os direitos difusos da
população e subjugar as forças de segurança pública em determinadas ocasiões, a ponto
de neutralizar quaisquer contramedidas oficiais capazes de impedir ou cessar a ação
delituosa em curso.
Desta maneira, cabe ressaltar que conforme art. 157 do Código Penal, temos
como principal característica do tipo, a violência e a grave ameaça à PESSOA
(substantivo feminino fundamental para o crime), no entanto, tendo o roubo como
GÊNERO, há duas espécies que se destacam pela violência visível e psicológica, na
escalada histórica da violência, que são:

2
FRANÇA, Lucélio Ferreria Martins Faria (organizador). Alpha Bravo Brasil, vol. 1, editora CRV, Curitiba,
2020.
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1 – O popularmente conhecido como "Novo Cangaço", modus operandi


criminal, que ganhou tal apelido devido a algumas semelhanças com o Cangaço Clássico,
e foca principalmente em ataques a agências bancárias. Embora haja discussões
acaloradas sobre a semelhança com o Cangaço Clássico, essas não serão objeto desta
análise. O "Novo Cangaço" se caracteriza por ações que envolvem a participação de 6 a
20 criminosos, sempre armados com fuzis e pistolas, em que normalmente ocorrem
durante o horário de expediente dos bancos, quando os criminosos obrigam os
funcionários a abrir os cofres. Para dissuadir as ações policiais, os criminosos costumam
fazer reféns. Inicialmente, esses criminosos não usavam explosivos, mas com a
introdução de ações noturnas, quando não há funcionários para abrir os cofres,
começaram a adotar o uso desses artefatos, bem como pelo fato de terem imprimido maior
velocidade em relação aos arrombamentos por corte ou maçarico. Além disso, durante as
ações noturnas, eles passaram a adotar uma postura mais agressiva em relação à polícia,
atacando quarteis antes mesmo de atacar o banco, para diminuir os riscos durante a ação
criminosa. Estas ações noturnas ficaram popularmente conhecidas como "Novo Cangaço
Noturno".

2 – “Domínio de Cidades" é um fenômeno criminal que surgiu no dia 06 de


novembro de 2015 em Campinas/SP3, onde mais de 20 assaltantes sitiaram a cidade. Eles
bloquearam rotas de acesso para impedir a chegada de apoio policial e atacaram quartéis
da PM para prevenir ações repressivas, criando assim condições para explodir as paredes
do cofre de uma transportadora de valores. Nesse sentido, é possível definir o "Domínio
de Cidades" como uma estratégia criminosa empregada para a prática de uma variedade
de delitos. Isso inclui assaltos a bancos, cooperativas de crédito, empresas de guarda e
transporte de valores, mineradoras de pedras e metais preciosos, além de tentativas de
resgate de detentos em estabelecimentos prisionais4. Essa modalidade criminal pode

3
1.223.237 pessoas [2021]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-
estados/sp/campinas.html.
4
PCC tenta novo resgate de Marcola ao custo de R$ 100 milhões, aponta investigação. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/11/01/nova-fuga-marcola-pcc-presidente-
venceslau-sp.htm
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ocorrer em qualquer cidade, independentemente de seu tamanho e população, e envolve


subjugar as forças de segurança pública por meio de táticas de guerrilha. Os grupos
criminosos que empregam essa estratégia são formados para objetivos específicos e por
tempo limitado. Eles são compostos por membros de diferentes grupos, incluindo
integrantes das chamadas facções criminosas, que se articulam e não possuem uma
estrutura hierárquica fixa. Formam uma espécie de consórcio. As relações entre esses
grupos são horizontais e a liderança varia em cada ação. A característica marcante desses
grupos é o emprego de violência extrema, reunindo dezenas de criminosos equipados com
explosivos, inclusive artefatos com acionamento remoto, armamento de alto poder
destrutivo, como fuzis calibre 7.62mm e .50, veículos blindados e um planejamento
extremamente complexo e meticuloso.

QUADRO COMPARATIVO ENTRE NOVO CANGAÇO, NOVO CANGAÇO


NOTURNO E DOMÍNIO DE CIDADES

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De acordo com o nível de violência de cada ação, é importante perceber que


entre os modi operandi dos crimes cometidos contra instituições financeiro e de guarda e
transporta de valores, a modalidade criminosa Domínio de Cidades ocupa especial
destaque pelo seu potencial de ser empregada contra qualquer estrutura estatal ou privada,
com um grau de violência e articulação sem precedentes.
Dessa forma, a pirâmide ilustrativa abaixo relativa às ações de crimes
violentos contra o patrimônio, ajuda a melhor visualização dessa situação.

Por essa análise, evidencia-se que no país há um verdadeiro vácuo legislativo


capaz de dar melhor tratamento a modalidade criminosa Domínio de Cidades, que pode
ser considerada como espécie do gênero roubo, a qual se situa entre o crime de roubo
puro, positivado no artigo 157 do Código Penal, e os atos de terror assim definidos,
conforme entendimento da Lei 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo).

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PROJETO DE LEI

Relevante registrar que após a finalização do livro Alpha Bravo Brasil 5 –


Crimes Violentos Contra o Patrimônio, alicerçada em profunda pesquisa acadêmica e
profissional, destacada pelo lastro da análise fática e empírica, bem como pela
historicidade acerca da evolução dos crimes violentos contra o patrimônio (CVP) no país,
seus autores e prefaciadores (policiais estaduais, federais e promotores de justiça),
reconhecidamente detentores de grande expertise em prevenção e investigações sobre o
tema, se detiveram com singular atenção à proposta positivada num dos capítulos
intitulado Alteração da Lei 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo) como forma mais adequada
de ação do Estado, no qual são elencadas as diversas características da modalidade
criminosa Domínio de Cidades, entre elas, o fato de os atos delitivos serem conjugados,
simultaneamente praticados e previamente arquitetados com objetivos definidos, capazes
de subjugar as forças de segurança do Estado no decorrer da ação, que atingem
violentamente direitos difusos (entendidos como aqueles que têm como seus titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, por exemplo indivíduos que
por coincidência se encontravam no local da ação em andamento, assim como aqueles,
que dependentes de determinado serviço, o qual foi interrompido temporária ou
permanentemente, e por consequência não podem mais usufruí-lo, provocando-lhes
grande perturbação).
No rol desses atos, podem ainda ser destacados: bloqueios de vias de tráfego
aquaviário e terrestre, em que há frequentemente a colocação de veículos incendiados,
que são atravessados na pista de rolamento para funcionarem como barricadas com o
intento de evitar ou retardar a aproximação das forças policiais, além de cercos às
estruturas físicas das forças de segurança pública, obrigando-as a um forçado
confinamento nas respectivas bases, em razão do emprego de alto poder de fogo
destrutivo imposto pelos criminosos, inibindo desta maneira possíveis contramedidas do
Estado, havendo também enfrentamento bélico nas cercanias do local em que esteja se

5
FRANÇA, Lucélio F.M.F. (Organizador) et. al. . ALPHA BRAVO BRASIL – CRIMES VIOLENTOS CONTRA O
PATRIMONIO - 1ªED.(2020). Editora CRV. Curitiba/PR. 286 p.
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desenvolvendo o evento. Pode-se acrescentar ainda à longa lista exemplificativa: captura


de reféns, ataque a instalações com destruição parcial ou total de prédios públicos e
privados, explosão ou inabilitação de torres de energia e de telefonia, ataque direto a
quartéis e delegacias para conter o efetivo local, eliminação antecipada de determinados
agentes públicos para mitigar possível resistência por parte do Estado, uso de aeronaves
não tripuladas com o fito de promover controle do espaço aéreo correspondente ao palco
em solo da ação em curso, até mesmo para propiciar fuga de comparsas dos
estabelecimentos prisionais.
Destarte, fica patente, diante do rol dos diversos atos criminosos assinalados,
a cristalina analogia em relação aos atos de terror relacionados na Lei nº 13.260, de março,
de 2016, que trata especificamente sobre o tema terrorismo no Brasil.
Todavia, apesar de suas semelhanças com o terrorismo, principalmente no
tocante à violência contra os direitos difusos, ainda assim o tipo penal proposto de
Domínio de Cidades não tem o mesmo estímulo dos atos de terror, pois o “terrorismo é a
violência, propriamente dita, como propaganda” (Alessandro Visacro), e sabemos que a
motivação do Domínio de Cidades não é causar terror por si só, mas intenciona provocar
terror para atingir a população e paralisar o Estado, como estratégia para evitar a
aproximação das forças de segurança enquanto perdurar a ação criminosa. Nos atos de
terrorismo propriamente ditos, o terror é a finalidade dos autores. No Domínio de
Cidades, é um dos meios usados para a obtenção da finalidade que querem atingir.
Nesse diapasão, cabe ressaltar que também não existe tipificação penal nesse
mencionado dispositivo legal às situações na qual esteja caracterizada a prática do
Domínio de Cidades, uma vez que o art. 2º Lei nº 13.260/2016 impõe determinadas
finalidades:

Art. 2o. O terrorismo consiste na prática por um ou mais


indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de
xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e
religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror
social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a
paz pública ou a incolumidade pública.

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Portanto, o legislador estabeleceu clara motivação condicionante para o


enquadramento legal de terrorismo, impondo caráter restritivo quanto à aplicabilidade
dessa lei.
Na esteira desse conhecimento, é cediço que nos diversos cenários em que
ocorreu o incremento da modalidade criminosa Domínio de Cidades (evolução
exponencial do Novo Cangaço), não se verificou qualquer fundamentação motivacional
atrelada às razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e
religião, mas tão somente o intuito de auferir lucros com a subtração violenta do
patrimônio. Destacando-se ainda que o modus operandi já foi utilizado para fuga de
estabelecimentos prisionais6.
Diante dessa constatação baseada em denso estudo e na participação efetiva
de seus membros nas investigações, planos de prevenção, evitamento e também posterior
cerco e captura no pós evento, atinentes às ações de Domínio de Cidades, esses mesmos
integrantes do Alpha Bravo, convencidos de que há um vácuo legislativo que possa dar o
melhor tratamento jurídico aos criminosos perpetradores dessa agressiva modalidade
delitiva, de maneira consensual, decidiram construir a base redacional em conjunto que
embasou um pretenso projeto de lei, cujo autor Deputado Federal Ubiratan Sanderson,
compreendeu a importância da temática e, após alguns ajustes necessários, protocolou em
03 de dezembro de 2020, originando o Projeto de Lei 5365/2020.
Nesse contexto, importante observar que, nas rodadas de discussões sobre a
necessidade de criminalização dos roubos denominados Domínio de Cidades, das ações
de Novo Cangaço limítrofes também com o Domínio, no sentido de se aproximar o
modus, a estrutura logística e de pessoal nas ações, verificou-se uma tendência de nosso
Congresso Nacional de rechaçar a expansão do conceito e da aplicação da lei antiterror
ao crime “comum”, embora marcado por especificidades e alta capacidade de articulação.
Essa tendência se constatou tanto no histórico da legislação como em conversas com
dezenas de parlamentares.

6
https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2018/09/24/video-mostra-momento-da-explosao-e-fuga-de-
presidio-de-seguranca-maxima-na-pb.ghtml. Além de diversos planejamentos frustrados pelas Forças de
Segurança no país.
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Patente que há um temor a respeito da criminalização ampliada do terrorismo,


fora das razões citadas na lei7 por conta da possibilidade de o “governo da vez” utilizar o
direito penal para criminalizar oponentes e grupos de contestação, em que se pode
exemplificar, casos nos quais se tentou utilizar a lei de terrorismo ou suscitar mudanças
oportunistas na lei extravagante específica, mirando-se por vezes os Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra e congêneres, inclusive urbanos; ou movimentos
grevistas de policiais, principalmente militares, e mais recentemente os movimentos que
resultaram em ataques aos poderes em 08/01/2023 em Brasília/DF.
O grupo Alpha Bravo sempre se posicionou contra a criminalização de
movimentos sociais, principalmente, quando da elaboração do projeto de lei do Domínio
de Cidades, pois entende que se trata essencialmente de um crime patrimonial, primando
pela tecnicidade em sua elaboração, sem viés ideológico, pela importância de debelar
certas estruturas fomentadoras do Crime Organizado no país8. A tipificação do Domínio
de Cidades objetiva ser uma das formas de conter a progressão criminosa de seus autores.
Ademais, além de carente de tipificação, tal ação criminosa tem também
carência de regras adequadas de enfrentamento pelas forças de segurança pública, em
especial as polícias. Com efeito, apesar de muitos dos eventos resultarem em conflitos
entre os criminosos mais bem armados e equipados que tropas de comandos, as forças de
segurança não podem se utilizar sequer de granadas e outras técnicas utilizadas em
conflitos bélicos, nem possuem autorização para o abate de inimigos, tais quais as regras
de engajamento9. Os órgãos de aplicação da lei ao se depararem com um cenário de guerra

7
Lei n. 13.260/2016, artigo 2, § 2.º O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva
de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria
profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar
ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da
tipificação penal contida em lei.
8
Nesse sentido, há uma estreita ligação entre as principais facções criminosas no país e o fomento,
financiamento e empréstimo de estrutura logística para tais crimes. Além do mais, da análise da cúpula e
de fundadores desses grupos pode-se extrair que eram predominantemente originários de crimes
violentos contra o patrimônio.
9
Regras de engajamento são as normas técnicas e legais, onde o militar quando atuando
subsidiariamente na função policial (GLO) ou o policial seguem para realizar o emprego de sua arma
visando o cumprimento da lei sempre embasado juridicamente por ela, ou seja, quando atirar ou quando
não atirar, o que o americano chama de “shoot or no shoot”. (BATISTA, E.C.; JÚNIOR, O. D. Regras de
Engajamento: O Monopólio do uso da Força Letal. Gramma Editora. Rio de Janeiro/RJ, 2019). Pelas
diferenças ontológicas entre conflitos armados em guerra (ou Operações de Garantia da Lei e da Ordem)
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devem se ater aos prescritivos legais para ação contra civis, embora enfrentando tropas
equivalentes a paramilitares.
Desse modo, considerando o princípio da proibição da proteção insuficiente
dos direitos fundamentais10, da proporcionalidade e da razoabilidade, o texto considerado
IDEAL pelos membros do grupo Alpha Bravo, foi a base redacional do PL 882/2021
(protocolado em 12/03/2021), tendo sido redigido posteriormente ao texto original do PL
5365/2020 (protocolado em 03/12/2020). Em ambas as composições houve participação
efetiva do grupo, em que os dois textos são convergentes em seus intentos, os quais visam
criminalizar um tipo especial de Roubo, criando-se a partir de então o art. 157-A no CP,
que também seja capaz de alcançar seu modus operandi quando empregado para
proporcionar fugas em estabelecimentos prisionais, além de sua inserção na Lei
8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos). Vejamos:

DO ROUBO, DO DOMÍNIO DE CIDADES E DA EXTORSÃO


“Art.157……………………………………………………...............................................
…………………………………………………………….................................................
Art. 157-A – Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante violência ou
grave ameaça, com utilização de métodos que evitam ou retardam a aproximação, a ação
ou a reação das forças de segurança pública, através da realização, concomitante, de pelo
menos três das seguintes condutas:
I – Realizar bloqueio total ou parcial de quaisquer vias de tráfego terrestre ou aquaviária;
II – Realizar bloqueio total ou parcial de entrada e saída de estruturas físicas, prédios ou
outros locais que abriguem, sejam sedes ou bases das forças de segurança pública,
impossibilitando ou dificultando a movimentação de policiais;
III – Empregar e usar armas de fogo;

e a atividade policial regular, é difícil prever com segurança as situações de uso da força letal pelas polícias.
São também chamadas regras de empenhamento, rules of engagement ou ROE.
10
O princípio da proporcionalidade tem uma dupla dimensão, podendo ser aplicado como instrumento
para concretização das normas de direitos fundamentais, através do controle contra os excessos estatais
ou, com finalidade oposta, contra a omissão ou a ação insuficiente dos poderes do Estado. Assim sendo,
desdobra-se em dois princípios: princípio da proibição do excesso (Ubermassverbot) e princípio da
proibição da insuficiência (Untermassverbot).
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IV – Inabilitar total ou parcialmente as estruturas de transmissão de energia e/ou de


comunicação;
V – Usar aeronaves ou outros equipamentos com o objetivo de obter vantagem, controle
ou informações sobre o espaço aéreo correspondente ao palco em solo da ação em curso;
VI – Participarem em associação, com vínculo estável ou não, 5 ou mais pessoas; Pena –
reclusão de 15 a 30 anos e multa.
§1º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o grupo:
I – Capturar e usar reféns antes ou durante a ação criminosa;
II – Destruir ou danificar prédios públicos ou privados;
§2º Se a conduta for praticada mediante:
I – concurso de 10 ou mais pessoas;
II – o uso de substâncias explosivas;
III – uso de armamento calibre .30, .50 ou superior;
Pena – reclusão de 20 a 40 anos e multa.
§3º As penas do caput e parágrafos se aplicam independentemente das penas aplicáveis
em virtude de lesões corporais ou morte causadas pela ação do grupo criminoso e seus
integrantes” (NR).

CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


“Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a
medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
……………………………………………………………
……………………………………………………………..
§ 5º Se o crime é praticado mediante a prática de, pelo menos, 3 condutas, concomitantes,
dentre as previstas pelos incisos I a VI do art. 157-A do Código Penal, a pena é de
reclusão, de 15 a 30 anos e multa.”
§6º Se houver, além da prática das condutas descritas no parágrafo acima, o concurso de
10 ou mais pessoas, o uso de substâncias explosivas ou uso de armamento calibre .30, .50
ou superior, a pena é de 20 a 40 anos e multa” (NR)

Art. 3º Altera o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 - Lei de Crimes Hediondos,
que passa a vigorar com a seguinte redação:

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“Art.1º..................................................................................................................................
.............................................................................................................................................
X - O domínio de cidades (art. 157-A)
.............................................................................................................................................
. ................................................................................................................................ ” (NR)

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Contudo, a primeira base redacional redigida coletivamente e aperfeiçoada pelo


Deputado Federal Ubiratan Sanderson (autor dos referidos Projetos de Lei) e sua
assessoria parlamentar, foi a que prosperou no curso do processo legislativo, e que de
certa maneira também atende aos anseios do grupo Alpha Bravo. Vejamos:

CAPÍTULO II DO ROUBO, DO DOMÍNIO DE CIDADES E DA EXTORSÃO


Roubo
“Art.157- .................................................................................................................
.............................................................................................................................................
Domínio de Cidades
Art. 157-A - Realizar bloqueio total ou parcial de quaisquer vias de tráfego, terrestre ou
aquaviário, bem como de estruturas físicas das forças de segurança pública, para evitar
e/ou retardar a aproximação do poder público, com emprego de armas de fogo e/ou
equipamentos de uso das forças de segurança pública, com finalidade de praticar crime
contra o patrimônio:
Pena - reclusão, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos.
§1º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) se o agente:
I - utilizar dispositivos explosivos e/ou capturar reféns para diminuir a chance de ação do
Estado;
II - investir contra as instalações com destruição parcial ou total de prédios públicos e/ou
privados;
III - inabilitar total ou parcial às estruturas de transmissão de energia e/ou de telefonia;

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IV - usar aeronaves ou outro equipamento com o fito de promover controle do espaço


aéreo correspondente ao palco em solo da ação em curso;
V - praticar alguma das condutas descritas no caput para propiciar a fuga de
estabelecimento prisional.
§ 2º - Se da violência resultar:
I - lesão corporal grave:
Pena – reclusão, de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa;
II – morte:
Pena – reclusão, de 20 (vinte) a 40 (quarenta) anos, e multa.
..........................................................................................................................
. ............................................................................................................. ” (NR)
Art. 3º - Altera o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 - Lei de Crimes Hediondos,
que passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art.1º - ..............................................................................................................................
.............................................................................................................................................
X - O domínio de cidades (art. 157-A)
...................................................................................................................
. ...................................................................................................... ” (NR)
Art. 4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Insta consignar que as duas mencionadas redações, embora tenham o escopo


da criminalização do tipo Domínio de Cidades, também abarcam o chamado Novo
Cangaço, que embora seja um degrau abaixo da evolução criminal e possua menor
periculosidade em suas ações, também requer cuidado especial legislativo.
Em consonância ao pensamento do grupo Alpha Bravo, também foi
idealizado incluir a criminalização dos atos preparatórios; pois, embora isso seja uma
exceção em nosso ordenamento jurídico, há claras similitudes nas ações de Domínio de
Cidades com alguns atentados terroristas, sobressaindo-se a necessidade de antecipação
da interferência do Estado, sem que tal medida acarrete a descaracterização da conduta
típica flagrada, se porventura os transgressores ainda se encontrarem na fase dos atos

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preparatórios, além de que tal medida pode salvar vidas de civis, dos agentes de segurança
e preservar inclusive a incolumidade dos próprios criminosos.
Necessário informar que, com o advento da criminalização dos atos
preparatórios, uma ação detectada de Domínio de Cidades ainda em fase de planejamento,
em que se possa localizar armamentos, explosivos e o esconderijo dos perpetradores,
permite-se que as forças de segurança se antecipem, e ao lograr êxito nessa atuação
estatal, poderá ainda haver a aplicação de um patamar maior de pena em relação aos
roubos comuns (por exemplo de um telefone celular, de uma bicicleta ou de um veículo).
Pelo exposto, sugere-se que seja defendida a criminalização do Domínio de
Cidades nos termos da redação indicada como ideal, assim como seja efetivada a
criminalização dos correspondentes atos preparatórios.

Lucélio Ferreira Martins Faria França, Ricardo Matias Rodrigues, coautor do


coautor do livro: Alpha Bravo Brasil – livro: Alpha Bravo Brasil – crimes
crimes violentos contra o patrimônio. violentos contra o patrimônio. Professor
Bacharel em Segurança Pública, Acadêmico, coautor do livro: Alpha Bravo
Especialista em Gestão Estratégica Brasil – crimes violentos contra o
Aplicada à Segurança Pública e patrimônio. Especialista em Ciências
Mestrando em Física Ambiental, Tenente Policiais, Agente de Polícia Federal.
Coronel da Polícia Militar do Mato
Grosso.

Romildson Farias Uchôa, coautor do Hélio de Carvalho Freitas Filho, coautor


livro: Alpha Bravo Brasil – crimes do livro: Alpha Bravo Brasil – crimes
violentos contra o patrimônio Bacharel em violentos contra o patrimônio. Bacharel
Direito e em Segurança Pública. em Direito e Administração, Pós-
Especialista em Ciências Penais. Graduado em Inteligência Competitiva e
Mestrando em Direito Constitucional, Contrainteligência Corporativa, Agente de
Agente de Polícia Federal. Polícia Federal.

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Élcio D´Angelo, coautor do livro: Alpha André Silvares Vasconcelos, prefaciador


Bravo Brasil – crimes violentos contra o do livro: Alpha Bravo Brasil – crimes
patrimônio. Mestrando em Fronteiras e violentos contra o patrimônio. Bacharel
Direitos Humanos, Promotor de Justiça do em Direito. Promotor de Justiça de Minas
Mato Grosso do Sul. Gerais.

ANDRE SILVARES Assinado de forma digital


por ANDRE SILVARES
VASCONCELOS:2 VASCONCELOS:237800
Dados: 2023.06.14 14:07:51
37800 -03'00'

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