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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

O Presente trabalho tem como tema: Causas do terrorismo em Moçambique. Para


combater internacionalmente o fenómeno do terrorismo é preciso antes de mais defini-lo. Urge
identificar os seus principais objectivos e características, mas também as suas grandes causas e
efeitos com base numa evolução histórica, para melhor erradica-lo. O debate académico e
político tem sido prolífero nos últimos anos sobre um tema que se tornou de máxima actualidade,
até porque o número de incidentes registados em diferentes países tem aumentado. A pesquisa
procurará responder a questão relativa aos determinantes da presença do terrorismo em
Moçambique em particular?
Para responder a questão foram construídos quatro objectivos, um geral e três específicos,
no que se refere ao objectivo geral procurar-se-á compreender os determinantes do terrorismo em
Moçambique, ter-se-á como objectivos específicos, conhecer a identidade do grupo terrorista
que actua em Moçambique, reflectir em torno da narrativa do grupo, apresentar possíveis fontes
de financiamento e descrever o modus operandi do grupo.
A pesquisa justifica-se por que permitirá entender não só a polémica em torno do
conceito de terrorismo, mas as origens e motivações de suas acções. Permitirá também conhecer
a provável identidade do mesmo. E por fim, permitir-nos-á entender como as acções destes
grupos podem influenciar mudanças na política interna e externa dos Estados. É uma pesquisa
descritiva e que seguirá uma metodologia de abordagem qualitativa e utilizar-se-ão os Métodos
histórico e a técnica documental e bibliográfica

1.1. Contexto

Como foi previamente mencionado, nos dias 5 e 6 de Outubro de 2017 houve ataques em
Mocímboa da Praia que se estendem por 2018 contra esquadras policiais e alvos civis. Tais
ataques, conduzidos por um grupo de homens armados e com vestes islâmicas, resultaram na
morte do Director Nacional de Reconhecimento da Unidade de Intervenção Rápida (UIR),
homens da Polícia da República de Moçambique (PRM) e de civis, destruição de residências da
população (cerca de 50 famílias desabrigadas), vandalização de igrejas e suspensão da ordem
pública na Vila de Mocímboa da Praia – ruas desertas e interrupção do trânsito para e de

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Mocímboa da Praia (Beúla, 2017). Esta situação exigiu uma presença e intervenções continuadas
das forças policiais em Mocímboa da Praia, sendo a última e de grande vulto a que ocorreu em
Março de 2018 e que resultou na apreensão de sete armas de fogo, 554 munições de pistola,
AK47 e de viaturas que eram usadas nas incursões (Jornal Notícias, 2018).
Com os relatos obtidos através das plataformas de interacção na internet, chat e pelos
meios de comunicação social, estes incidentes tornaram a insegurança e o temor uma nova
característica de Mocímboa da Praia. Isto para além do facto destes ataques se estenderem
também para outras regiões da província de Cabo Delgado, como é o caso da região de Olumbi
no Distrito de Palma uma região onde actividades importantes de prospecção de petróleo estão a
ser conduzidas. O ataque em Olumbi contra o edifício do Governo local resultou na morte de 5
pessoas (Baptista, 2018). Para qualquer estudioso do Terrorismo as perguntas óbvias que
sobressaem disso são as seguintes: De que grupo se trata? Como se formou? O que pretende?
Como se financia? À quem está filiado? E quais são as suas reais capacidades? Até então os
dados não têm sido concretos de modo que se possa responder à estas questões de maneira
precisa, mas com os relatos que se podem obter da imprensa procurar-se-á sistematizar esta
informação.

1.2. Problematização

África tem sido historicamente um continente conturbado. Se a partir dos anos 40


começou a se livrar das amarras do colonialismo, os anos seguintes foram caracterizados por
vários conflitos intra-estatais ou guerras civis do período pósindependência que muitas vezes
estiveram associados a factores identitários e questões de recursos naturais. A partir do ano 2000
um novo fenómeno começou a predominar e a caracterizar a já complexa estrutura de conflitos
no continente, o terrorismo. Sobretudo com a emergência de dois grandes grupos, o Boko Haram
e o Al-Shabaab, na Nigéria e Somália, respectivamente. Se o espectro do terrorismo parecia
circunscreverse às contiguidades dos dois Estados hospedeiros destes dois movimentos, o ano de
2017 mostrou que o terrorismo poderia estar mais próximo de Moçambique do que se podia
imaginar.
Isso se revelou com os ataques nos dias 5 e 6 de Outubro de 2017 a três postos de polícia
na região nortenha de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado um cinturão estratégico para o

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desenvolvimento do Estado moçambicano por indivíduos que se supõe serem de orientação
islâmica radical. Diante desta situação, principalmente tomando em conta a insegurança e
instabilidade política que têm caracterizado a Nigéria e a Somália com a existência de
movimentos terroristas, é natural que emirjam questões, particularmente relacionadas à
identidade e proveniência do grupo que protagonizou os ataques em Mocímboa da Praia, suas
reais capacidades, modus operandi e outras. Diante destas situações surge para o caso em
concreto de Moçambique a questão: Quais os determinantes da presença do terrorismo em
Moçambique?

1.3. Hipóteses

 A descoberta de recursos naturais em grande abundancia pode ser um dos determinantes;


 A pobreza e o desemprego podem ser consideradas determinantes;
 Fronteiras porosas os espaços desgovernados pode ser um motivo.

1.5. Objectivos
1.5.1. Objectivo Geral
Compreender os determinantes da presença do terrorismo em Moçambique;

1.5.2. Objectivos Específicos

Conhecer a identidade do grupo terrorista que actua em Moçambique;


Reflectir em torno da Narrativa do Grupo;
Apresentar possíveis Fontes de Financiamento;
Descrever o modus operandi do grupo;

1.6. Justificativa

Este tema é pertinente na medida em que nos permite entender não só a polémica em
torno do conceito de terrorismo, mas as suas origens e motivações de suas acções. Permite-nos

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também conhecer os principais grupos terroristas. E por fim, permitir-nos entender como as
acções destes grupos podem influenciar mudanças na política interna e externa dos Estados.

1.6. Delimitação Espacial e Temporal (2017-2022)


a) Delimitação Espacial

Esta pesquisa terá como objecto de estudo o Estado moçambicano, a escolha tem a ver
mesmo por questões patrióticas.

b) Delimitação Temporal

O marco temporal optado nesse estudo foi o período compreendido entre 2017 foi o ano
marcado pelos primeiros ataques terroristas e 2022 marcado pela tomada e assalto a esquadras
onde se roubo armamentos.

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CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA

Nesta secção far-se-á um levantamento das fontes teóricas com o objectivo de elaborar a
contextualização da pesquisa e seu enquadramento teórico, o qual fará parte do referencial da
pesquisa. Iniciar-se com o quadro conceptual e os determinantes do terrorismo em Moçambique,
a identidade do grupo terrorista que actua em Moçambique, a narrativa do grupo, por fim
possíveis fontes de financiamento e descrever o modus operandi do grupo

2.1. Discussão de conceitos

2.1.1. Terror

O radical “terror”, cuja derivação sintáctica originou a expressão terrorismo, teria


aparecido pela primeira vez no idioma francês (terreur) em 1335,para designar “um medo ou
uma ansiedade extrema correspondendo, com mais frequência, a uma ameaça vagamente
percebida, pouco familiar e largamente imprevisível”. No Dicionário de Política, organizado por
Bobbio, Bonaparte entender por terror o instrumento de emergência a que um governo recorre
para manter-se no poder (Bonanate, 1986).

2.1.2. Terrorismo

O terrorismo geralmente envolve violência física ou psicológica contra alvos não


combatentes, seleccionados ou aleatórios, É uma forma instrumental de impor o medo sobre um
povo, um governo ou um Estado, mas a sua definição é controversa e, em sua consequência,
extensivamente debatida1.
Lutz e Lutz (2013: 275) preferem esquivar-se de definir o conceito de terrorismo
trazendo elementos constitutivos do mesmo. Assim, para estes autores o terrorismo deve
considerar 6 elementos essenciais:
O uso da violência ou ameaça do uso da mesma;
Por um grupo organizado;
Para atingir objectivos políticos;

1
DUPUY, Pierre-Marie (2004). “State Sponsors of Terrorism: Issus of Responsibility”, in: BIANCHI, Andrea (Ed.),

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A violência é direccionada à uma audiência que vai para além das vítimas imediatas, que
são maioritariamente civis inocentes;
Tanto o governo como um outro grupo pode perpetrar o terror, mas só é considerado
terrorismo quando não se trata do primeiro;
O terrorismo é a arma dos fracos

2.1.3. Segurança

A palavra “segurança” tem origem no latim, língua na qual significa “sem preocupações”,
e cuja etimologia sugere o sentido “ocupar-se de si mesmo” (se+cura) (Matos, 2005?). O debate
sobre este conceito não é novo. Aliás, “este é um conceito que não consegue consenso
internacional, sendo definido de diversas formas, de acordo com a escola interpretativa, com a
região geográfica, país, etc. No fundo, é um conceito contestado, ambíguo, complexo, com fortes
implicações políticas e ideológicas” (Garcia, 2006: 341). Parece, no entanto, haver consenso em
que a segurança implica a libertação de ameaças em relação a valores centrais, sendo também
comum associar ao conceito uma certa ausência de risco e previsibilidade e certeza quanto ao
futuro.
Em toda a tentativa séria de definição da segurança é aceitável a existência de um
mínimo de três parâmetros: a segurança implica para toda a comunidade a preservação dos seus
valores centrais; a ausência de ameaças contra a comunidade; e formulação de objectivos
políticos pela comunidade. Pode assim compreender-se como “a ausência de ameaças militares e
não militares que pudessem pôr em causa os valores centrais que uma pessoa ou uma
comunidade querem promover, e que implicassem um risco de utilização da força” (David, 2000:
27).

2.1.4. Ameaça

Tradicionalmente em ambiente agónico - ameaça é qualquer acontecimento ou acção (em


curso ou previsível), de variada natureza (militar, económica, ambiental, etc.) que contraria a
consecução de um objectivo e que, normalmente, é causador de danos, materiais ou morais,
sendo que no âmbito da estratégia consideram-se principalmente as ameaças provenientes de

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uma vontade consciente, analisando o produto das possibilidades pelas intenções (Couto, 1988;
p. 329). Assim, dizemos que determinada situação é geradora de uma ameaça se o seu agente
tiver possibilidades ou capacidades para a sua concretização e se também tiver intenções de a
provocar

2.1.5. Riscos

O conceito de risco é inseparável das ideias de probabilidade e incerteza; na sociedade


contemporânea, o conceito caracteriza-se por assinalável polissemia (surgindo por vezes a
propósito do que se designa por perigos, catástrofes, acidentes ou ameaças) e refere-se
normalmente a um vasto leque de situações de incerteza, associadas a qualquer coisa negativa
que poderá ocorrer. O risco é actualmente muito estudado em diversos campos científicos, desde
o empresarial ao social, tendo-se atingido um estado relativamente avançado no que concerne a
ferramentas que permitem reduzir incertezas e, dessa forma, ponderar de outra forma as decisões.
(Duarte et al., 1999:107).

2.2. A identidade do Grupo Terrorista que actua em Moçambique

O grupo que opera na região da Mocímboa da Praia foi rapidamente denominado Al-
Shabaab2, à semelhança do movimento terrorista que actua na Somália. Esta denominação pode
ter surgido localmente através de uma analogia popular que se pode ter feito com o grupo somali
e foi rapidamente veiculada pela imprensa. Ou, como refere o historiador Yussuf Adam em
entrevista à DW (2018), “porque há ali uma grande quantidade de muçulmanos imigrantes da
Somália" e que buscam negócios na região vista como o novo El Dorado. Mas até então a sua
verdadeira identidade não se formou ou ainda não veio ao público. Ora, daquilo que se pôde
apurar dos esforços policiais é que o grupo é constituído por moçambicanos (314) oriundos de
Nacala Porto, Mocímboa da Praia e Nangade, tanzanianos (52), um somali e um ugandês,
totalizando cerca de 370 membros identificados (O País, 2018).

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O Al-Shabaab, Harakat al‐Shabaab al‐Mujahedeen, Mujahedeen Youth Movement ou “A juventude”, em português, é um movimento árabe
afiliado ao Al-Qaeda enraizado na Somália e que foi denominado terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA em 2008. Este movimento
opera e tem redes no Quénia através do Grupo da Juventude Muçulmana (GJM), bem como mantém contactos com o Centro Juvenil Muçulmano
de Ansar (CJMA) da Tanzania (Navanti Group, 2013).

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A formação deste grupo é um assunto ainda embuçado, objecto de desacordo e
especulações. Tanto que os argumentos variam desde uma abordagem historicista das relações
etno-políticas e religiosas na região até argumentos mais contemporâneos, assentes nas
dinâmicas socioeconómicas em Cabo Delgado. O grupo surge na zona norte de Cabo Delgado,
primeiro, como um grupo religioso e, em finais de 2015, passa a incorporar células militares;
inicialmente, o grupo era conhecido por Ahlu Sunnah Wa-Jamâ, que na língua árabe significa
“adeptos da tradição profética e da tradição”.
Na opinião do grupo, as comunidades locais não estavam a praticar um Islão que fosse da
linha do Profeta Muhammad; o grupo é maioritariamente constituído por jovens islâmicos
oriundos de Mocímboa da Praia e distritos circunvizinhos (Habibe, et al, 2018). Os relatos
veiculados pela imprensa e os resultados preiliminares do estudo do IESE e MASC nos levam a
crer que trata-se de um grupo de vientes em Mocímboa da Praia, que se formou recentemente e
que tem orientação islâmica radical.

2.2.1. Narrativa do Grupo

Apresentar a narrativa desde movimento é tão difícil quanto entender a sua formação. No
entanto, das informações disponibilizadas, houve inicialmente uma tentativa de associação deste
grupo à linha de orientação islâmico-radical, tanto que mesmo o representante do Conselho
Islâmico de Moçambique, o Sr Juma Cadria, afirmou que "a presença de indivíduos com
ideologias de tendência radical tem vindo a ser registada nos últimos tempos e já tinha sido
reportada ao Governo" (Agência Lusa, 2017). Estes indivíduos faziam apelos aos cidadãos para o
desrespeito pelas instituições e autoridade do Estado, a não adesão às escolas normais em favor
das mesquitas extremistas e ao uso de objectos contundentes como mecanismos de autoprotecção
ao mesmo tempo que defendem a recuperação dos valores tradicionais do Islão, pois o Islão
actualmente praticado nas mesquitas locais é um Islão degradado.
Por isso eles entram nas mesquitas calçados e munidos de armas brancas e acabaram por
criar seus próprios espaços de culto (Habibe, et al, 2018). Mas a negação da sua vinculação com
as comunidades locais em Cabo Delgado gerou uma espécie de reajuste de denominação,
passando a chamá-los simplesmente de criminosos, malfeitores ou homens armados, sobretudo
nos discursos públicos das autoridades das FDS. Tratando-se efectivamente de radicalismo

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islâmico, é de salientar que os movimentos terroristas de orientação islâmica radical têm a
particularidade de procurar ao máximo veicular a sua causa.
De tal sorte que sempre que toma espaço um ataque terrorista estes procuram se fazer
notar através da reivindicação do ataque ao mesmo tempo que se faz conhecer os objectivos por
detrás do movimento que protagoniza tais ataques. No entanto, contrariamente ao que sucedeu na
Nigéria e na Somália, por exemplo, em que o Boko Haram e o Al-Shabaab recorreram aos meios
de comunicação social, rádio, televisão ou plataformas de internet para disseminar a sua
ideologia, sobretudo no período fundacional dos mesmos, em Moçambique o grupo que actua em
Cabo Delgado ainda não veio ao público expressar abertamente as suas pretensões e nem a
narrativa que anima a sua causa, muito menos fez alguma reivindicação aberta dos ataques
ocorridos naquela região de Moçambique.
Tal é atípico para esta natureza de movimentos terroristas e suscita enormes dúvidas de
que realmente se trate do terrorismo ao estilo dos grupos supramencionados, ou que talvez possa
tratar-se de criminosos com interesses ainda por desvendar na província de Cabo Delgado,
sobretudo tomando em conta que trata-se de uma província muito rica em recursos naturais,
desde os de alto investimento para exploração, como o gás, até os de fácil exploração como o
ouro, o rubi, grafite, turmalina, madeira, marfim, etc. Ademais, se acompanhamos a dinâmica de
acção deste grupo e comparamos com as dinâmicas de acção do Boko Haram e do Al-Shabaab,
bem como de outros movimentos de orientação islâmica a nível internacional, como o Al-Qaeda
e o Estado Islâmico, em que depois dos ataques se reivindica o protagonismo destes ataques,
vamos progressivamente afastando a hipótese de que se trate realmente do terrorismo islâmico
radical. Portanto, notabiliza-se aqui um “terrorismo” sem causa, ou com uma causa pálida, e sem
rosto.

2.2.2. Possíveis Fontes de Financiamento

No caso do grupo que opera em Cabo Delgado, o Governo Distrital refere que estes
estudam doutrinas religiosas na Tanzânia, Sudão e Arábia Saudita, onde alegadamente recebem
treinos militares e aprendem a manusear armas de fogo e armas brancas. Habibe, et al (2018)
corroboram este dado dizendo que grande parte da liderança do grupo tem ligações com círculos
religiosos, comerciais e militares de grupos islâmicos radicais na Tanzânia, Somália, Quénia e

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região dos Grandes Lagos. Porém, são escassos os dados que comprovam estas ligações. Quando
acompanhadas as dinâmicas de acção deste grupo, expostas no seu modus operandi, conclui-se
que este grupo se financia através de uma estratégia de autofinanciamento e através de
indivíduos com interesses em Cabo Delgado.
A estratégia de autofinanciamento está assente numa ideia de que primeiro se deve
investir por isso que os membros chegaram inclusive a vender os seus bens para financiar o
movimento numa fase inicial para depois, com estes pequenos recursos, começar-se a conquistar
mais, principalmente através de emboscadas e assaltos aos homens das FDS. Mas é de se
destacar que boa parte dos recursos para iniciar as actividades foram concedidos por recrutadores
dos quais se tem ainda pouco conhecimento.

2.3. O Modus Operandi do Grupo

O grupo operando em Mocímboa da Praia actua basicamente com recurso à ataques e


emboscadas à esquadras e comboios policiais por grupos numerosos de homens empunhando
armas brancas (catanas) e armas de fogo. Associado ao uso das armas brancas está o
“acastanhamento” tal como sucedeu com o Director de Reconhecimento da UIR depois de
alvejado. Mas também uma característica saliente são os ataques às igrejas, destruição de
residências das populações e invasão aos edifícios governamentais. Em Moçambique, as
principais vítimas ou os alvos directos têm sido os civis como ocorreu nos ataques à Aldeia de
Naunde, Posto Administrativo de Mucoja, o que totalizou cerca de 20 mortos e mais de 300
casas incendiadas em Macomia; a FDS como sucedeu no primeiro ataque e nas emboscadas que
se deram posteriormente; bem como, instituições do Estado, tal como aconteceu com o ataque ao
governo local em Olumbi.
Por outro lado, os alvos indirectos têm sido os investimentos, em sua forma genérica, mas
de forma particular na área dos recursos naturais, tal como ocorreu com a empresa petrolífera
Wentworth, que está a realizar prospecção na zona, e teve que anunciar aos investidores em
Novembro de 2017 que adiou algumas operações ligadas à abertura de um novo furo devido aos
incidentes (VOA, 2018). No entanto, é ainda prematuro determinar com toda a propriedade os
alvos indirectos destes grupos, uma vez não se ter dado ainda um processo reivindicativo e nem a
declaração aberta dos objectivos do grupo.

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2.3.1. Determinantes do Terrorismo em Moçambique

De modo geral, os determinantes do Terrorismo são de várias maneiras similares aos


factores causadores da maior parte dos demais tipos de violência política. Ou seja, a clássica
frustração decorrente da exclusão, privação ou incapacidade de implementar determinadas
mudanças que resulta posteriormente em agressão. No entanto, há factores específicos que
podem resultar na eclosão do terrorismo. Se, por um lado, há considerações que vêem os
terroristas como gente que sofre de alguma enfermidade mental, por outro lado, sugere-se
também a pobreza e a privação como factores que podem conduzir ao extremismo. Mas nos dois
casos não há provas de uma relação directa de causalidade entre estes factores e o Terrorismo
(Lutz & Lutz, 2013).
Com efeito, com a eclosão destes ataques houve, tanto no debate público como no
académico, tentativas de levantar algumas hipóteses sobre o por quê desta violência contra civis
e FDS em Cabo Delgado. Alguns posicionamentos, como de Habibe, et al (2018) trazem a
pobreza, o desemprego, a exclusão social, a carência de serviços básicos (educação e saude),
bem como a exclusão política (sentimento de exclusão dos Mwanis em relação aos Macondes,
maiores grupos étnicos na província) como factores fundamentais.

Pobreza e Desemprego - Quando se aborda as causas do terrorismo, ou o porquê as


pessoas decidem se aliar aos grupos terroristas e chegar, inclusive, a sacrificar as suas
vidas por tal causa, a pobreza e o desemprego são elementos salientes. Sobretudo em
contextos em que o acesso aos recursos básicos de subsistência é ainda privilégio de uma
pequena parcela da população e os fossos de desigualdade encontram fundamentação em
elementos étnicos ou identitários (Chang, 2005). Olhando de forma específica para o caso
de Mocímboa da Praia, e de forma um pouco mais abrangente para a província de Cabo
Delgado, é inegável aceitar a pobreza, o desemprego e os baixos níveis de escolaridade
como parte da paisagem social daquela região.

Fronteiras porosas e os espaços desgovernados - As fronteiras porosas e os espaços


desgovernados são uma característica saliente dos Estados frágeis e Moçambique não
foge à regra. Por fronteira porosa pode-se entender o tipo de fronteira que escapa à

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vigilância das entidades responsáveis pelo controlo migratório e que permite, desta
forma, a livre-circulação de todo o tipo de pessoas e bens de um Estado para o outro. E,
por espaço desgovernado, pode-se entender os espaços no interior de um Estado que
escapam à presença e controle das diferentes formas de autoridade constituídas em certo
Estado. Estes dois fenómenos andam de mãos dadas e são um elemento de
vulnerabilidade, pois permitem a fácil circulação e consolidação de vários tipos de
criminosos transnacionais no país (Idem).

A Presença de Investimentos Ocidentais - Cabo Delgado é uma província rica em


recursos naturais e minerais. Esta riqueza que se reflecte em grandes investimentos e
novas dinâmicas económicas e sociais atrai todo o tipo de interesses, desde criminosos
transnacionais, investimentos Ocidentais à islâmicos radicais visando comprometer os
interesses dos Estados Ocidentais. A presença de grandes investimentos ocidentais no
território nacional é provavelmente das causas mais emergentes do terrorismo em
Moçambique. Primeiro pela questão do timing e segundo pela natureza de conflitos que
emerge com a existência de recursos naturais num determinado Estado. Primeiro, se
atentarmos ao timing em que o grupo começa a se formar e inicia as suas actividades, é
de se notar que coincide com as actividades de prospecção de gás, a comunicação do
potencial do país e o anúncio das decisões de investimento na Bacia do Rovuma por parte
de empresas Ocidentais a partir de 2015 e que vem se fortalecendo em 2017 (Idem).

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3. METODOLOGIA

Nesta parte apresentar-se-á a metodologia que servirá de suporte a pesquisa, nestes


termos apresentamos o conceito de método, a classificação da pesquisa, os métodos usados, as
técnicas de recolha de dados.

3.1. Método Científico

Para Gil (1999), o método científico é um conjunto de procedimentos intelectuais e


técnicos utilizados para atingir o conhecimento.

3.2. Classificação da Pesquisa

3.2.1. Pesquisa quanto a Abordagem

Segundo Oliveira (2011:24), a abordagem de cunho qualitativo, “trabalha os dados


buscando seu significado, tendo como base a percepção do fenómeno dentro do seu contexto”.
No entanto, o uso da descrição qualitativa procura captar não só a aparência do fenómeno como
também suas essências, procurando explicar sua origem, relações e mudanças, e tentando prever
as consequências. A pesquisa qualitativa tem como preocupação básica o mundo empírico em
seu ambiente natural no que toca ao trabalho de campo, o pesquisador no processo de colecta de
dados, é ele quem observa, selecciona, interpreta e regista os comentários e as informações
colhidas aos entrevistados. Assim sendo, optar-se-á por este tipo de pesquisa por ser aquela que
permite responder ao problema e alcançar os objectivos.

3.2.2. Tipos de Pesquisa

Para a realização do trabalho privilegiamos os seguintes tipos de pesquisa: Descritiva,


interpretativas conjugadas com a Pesquisa Bibliográfica e Documental. Para este caso utiliza-se a
descritiva

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3.3.1. Pesquisa Descritiva

Segundo Gil (1999:44), as pesquisas descritivas têm como finalidade, “a descrição das
características de determinada população ou fenómeno, ou o estabelecimento de relações entre
variáveis”. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas
características mais significativas aparece na utilização de técnicas padronizadas de colecta de
dados. Com efeito, usar-se-á a pesquisa descritiva para descrever as características dos alunos e
professores e o local da pesquisa.

3.4. Técnicas e Instrumentos de Colecta de Dados

3.4.1. Técnicas de Colecta de Dados

As técnicas de colecta de dados são um conjunto de regras ou processos utilizados por


uma ciência, ou seja, corresponde à parte prática da colecta de dados (Lakatos & Marconi, 2001).
Durante a colecta de dados, diferentes técnicas podem ser empregadas, sendo mais utilizados: a
entrevista, o questionário, a observação e a pesquisa documental.

3.4.1 Técnica Documental

É a técnica de colecta de dados que consiste na consulta de documentos diversos


relacionados ao assunto em estudo como documentos, relatórios e outros. Irão se privilegiar
nesta fase documentos como avaliações de desempenho, relatórios, actas, apontamentos,
monografias, dissertações e outros relacionados para verificar-se sobre a evolução, leccionação e
cumprimento das normas dadas em sala de aula. Esta técnica foi útil visto que alerta sobre a
possibilidade de encontrar apoio em apontamentos, livros, revistas e outros documentos
seleccionados pela pesquisadora.

3.4.2. Entrevista

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Para recolher os dados nesta pesquisa aplicou-se a entrevista. A entrevista, segundo
Marconi e Lakatos (2003:195), consiste em um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma
delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversa de
natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a colecta de
dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social. Os questionários
respondidos pelos informantes chave foram antecedidos por uma explicação dos objectivos da
pesquisa e pela assinatura do Termo e Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).
Para o nosso trabalho serão privilegiadas perguntas abertas que segundo Marconi e
Lakatos (2003:204), também chamadas livres ou não limitadas, “são as que permitem ao
informante responder livremente, usando linguagem própria, e emitir opiniões”. Entretanto,
possibilita investigações mais profundas e precisas, apresenta alguns inconvenientes e dificulta a
resposta ao próprio informante.

3.5. Modelo de Apresentação e Analise de Dados

Os dados qualitativos obtidos dos inquéritos por questionário serão sujeitos a análise de
conteúdo. Para Cuna (2014, p.11), “a análise de conteúdo visa confrontar os dados colhidos no
local em estudo e os dados estatísticos como forma de distanciá-los em relação às interpretações
espontâneas e carregadas de sentimentos afectivos por parte do pesquisador e dos participantes
da pesquisa”. Deste modo, a fase de tratamento de dados foi realizada em cinco etapas: i)
avaliação dos questionários; ii) transcrição das respostas; iii) leitura do material transcrito; iv)
confronto das respostas realizadas, objectivando-se a verificação de possíveis similaridades e
contradições nos discursos dos participantes; e v) confronto dos resultados obtidos dos
questionários com os dados qualitativos colhidos na pesquisa documental e com a literatura
relativa ao tema.

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4. Cronograma de Actividades

Actividades Janeir Fev Mar Abril Maio Junh Julho Agosto


o o
Escolha do X
Tema
Levantamento X
de
Informações
Elaboração X
do projecto
Entrega do X
Projecto
Recolha e X
compilação
das
informações
da
Monografia
Compilação X
das
Informações
Submissão da X
Monografia
na Instituição.
Fonte: O autor do projecto

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5. Orçamento

Material Valor Unitário Valor Total


(mtn) (mtn)
Especificações Quantidade
Consumo

Papel ofício A4 20 10 200

Encadernação 25

Cartuchos de 1 550 550


Tinta para
Impressora

Fotocópias 1 1.5 22.5

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Allison, G. & Zelikow, P. (1999) Essence of Decision: Explaining the Cuban Missile Crisis.
New York: Addison-Wesley Longman, Inc.

Bedin, Gilmar. A., et al (2003): Paradigmas das Relações Internacionais. Editora UNIJUÍ: São
Paulo.
Bobbio, Norberto et al, (1983). Dicionário de Política. Editora: UnB. 11ª Edição, Brasília.

Copeland, Thomas. (2001) “Is the ‘New Terrorism’ Really New?: An Analysis of the New
Paradigm for Terrorism”. Journal of Conflict Studies, vol. XXI, n. 2, s/p.

Crenshaw, Martha. (1981) “The Causes of Terrorism”. Comparative Politics. Vol. 13, n. 4, pp:
379-99

Dougherty, E. James e Robert PFALTZGRAFF JR., (2003): Relações Internacionais – As


teorias em confronto. 1ª Edição, Gradiva: Lisboa.
George, Alexander (1980) Presidential Decisionmaking in Foreign Policy: The Effective Use of
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Gil, A. (2002). Como elaborar projectos de pesquisa. 4ᵃ ed, São Paulo: Editora Atlas S.A
Gil, A. C. (2018) Didática do ensino superior. 2ª ed. São Paulo: Atlas. 264p.

Gil, António Carlos (2008): Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Edição, Atlas Editora,
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19
Índice
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO......................................................................................................1

O Presente trabalho tem como tema:...............................................................................................1

1.1. Contexto................................................................................................................................1

1.2. Problematização....................................................................................................................2

1.3. Hipóteses...............................................................................................................................3

1.5. Objectivos.............................................................................................................................3

1.5.1. Objectivo Geral..................................................................................................................3

1.5.2. Objectivos Específicos.......................................................................................................3

1.6. Justificativa...........................................................................................................................3

1.6. Delimitação Espacial e Temporal (2017-2022)....................................................................4

a) Delimitação Espacial...................................................................................................................4

b) Delimitação Temporal.............................................................................................................4

CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA..............................................................................5

2.1. Discussão de conceitos..........................................................................................................5

2.1.1. Terror.................................................................................................................................5

2.1.2. Terrorismo..........................................................................................................................5

2.1.3. Segurança...........................................................................................................................6

2.1.4. Ameaça...............................................................................................................................6

2.1.5. Riscos.................................................................................................................................7

2.2. A identidade do Grupo Terrorista que actua em Moçambique.............................................7

2.2.1. Narrativa do Grupo............................................................................................................8

2.2.2. Possíveis Fontes de Financiamento....................................................................................9

2.3. O Modus Operandi do Grupo..............................................................................................10

2.3.1. Determinantes do Terrorismo em Moçambique..............................................................11

20
3. METODOLOGIA......................................................................................................................13

3.1. Método Científico...............................................................................................................13

3.2. Classificação da Pesquisa....................................................................................................13

3.2.1. Pesquisa quanto a Abordagem.........................................................................................13

3.2.2. Tipos de Pesquisa.............................................................................................................13

3.3.1. Pesquisa Descritiva..........................................................................................................14

3.4. Técnicas e Instrumentos de Colecta de Dados....................................................................14

3.4.1. Técnicas de Colecta de Dados.........................................................................................14

3.4.1 Técnica Documental.........................................................................................................14

3.4.2. Entrevista.........................................................................................................................14

3.5. Modelo de Apresentação e Analise de Dados.....................................................................15

4. Cronograma de Actividades......................................................................................................16

5. Orçamento..................................................................................................................................17

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................18

21

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