Você está na página 1de 19

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

O Presente projecto tem como tema: O Terrorismo como Ameaça a Segurança dos Estados no
período pós-Guerra Fria: Uma análise comparativa dos casos da Nigéria e Moçambique. O
terrorismo neste início de século surge como um dos fenómenos políticos de maior impacto na
segurança internacional. Porém, a história do terrorismo é tão antiga quanto a da humanidade já
que a ameaça, as violências físicas e psicológicas sempre foram empregadas, tanto por governos,
como forma de dominação, manutenção do poder ou método disciplinador da população, quanto
por pessoas ou grupos que, em nome de uma ideologia, causa ou religião, empregavam as
tácticas e técnicas do terrorismo com o propósito de enfraquecer e desestabilizar as autoridades e
os regimes constituídos (Laqueur, 2002)1. O futuro trabalho se debate com a questão até que
ponto o terrorismo pode ser visto como ameaça a Segurança dos Estados no período pós-Guerra
Fria no Geral e em particular para Nigéria e Moçambique? Espera-se que com a pesquisa possa
ser possível criar um melhor entendimento em torno da questão de terrorismo em Moçambique e
na Nigéria.

1.1. Contexto

O trabalho enquadrar-se-á num contexto das novas ameaças que se destacaram e proliferaram
após a Guerra Fria. Desde o fim da Guerra Fria, o sistema internacional e os Estados enfrentaram
as novas ameaças presentes na conjuntura internacional. Questionou-se, em linhas gerais, a
eficácia ou mesmo a viabilidade pós-1989 desse conjunto de regras, tratados e compromissos.
Pode verificar-se que, além da ameaça tradicional da guerra entre Estados, os actores a nível
global, regional e estatal em análise identificam as seguintes ameaças: os conflitos regionais, o
terrorismo, a proliferação de ADM, o crime organizado e as agressões ao ecossistema. Estas
ameaças serão alvo de análise no presente estudo porque todas elas devem ser tidas em conta no
planeamento, preparação e condução de operações militares desenvolvidas com vista à
edificação da segurança (Roboredo, 20102).

1
LAQUEUR, Walter. A History of Terrorism. New Jersey . Ed: Transaction Publishers, 3ª Edição, 2002.
2
ROBOREDO, NUNO PAULO ROCHA (2010) - A Evolução do Conceito de Segurança e as Implicações as
Operações Militares No Séc. Xxi. Academia Militar: Lisboa

1
As acções terroristas são actos de violência sobre pessoas e bens, levadas a cabo por
organizações com fins políticos, que procuram criar medo e insegurança nas populações através
da publicidade desses actos violentos. (Roboredo, 2010:15, citando Mongiardim, 2004: 417)
Procuram também reacções desproporcionadas a esses actos de violência, por parte das
organizações estatais, de modo a criar sentimentos de injustiça e de condenação na população,
que justifiquem o apoio às causas defendidas pelas organizações terroristas. Ao criar a desordem,
promovem a sua causa através de acções públicas (a propaganda do acto) e, recorrendo à
provocação, testam à vontade e capacidade de agir ou induzem a reacções em excesso (estratégia
da provocação) (Roboredo, 2010:15, citando Smith, 2008: 323). Os motivos para adesão ao
terrorismo são diversos e estão associados à revolta com situações sociais degradantes, à
ausência de instituições democráticas, a factores culturais considerados humilhantes, a injustiça,
a desigualdades e a xenofobia. (Roboredo, 2010:15, citando Garcia, 2006: 351)

As consequências imediatas das acções terroristas são a destruição, a morte e os efeitos


psicológicos de medo e insegurança. A prazo criam a necessidade de políticas de segurança que
levam à redução da liberdade dos cidadãos, como aconteceu nos EUA após os atentados de 11/9,
em que o “Patriot Act”, não obstante ser considerado uma violação dos direitos civis, foi
aprovado por ambas as câmaras do Congresso e aceite pelo público americano, receoso da
ameaça de novos ataques terroristas. (Roboredo, 2010:15, citando Smith, 2008: 259) Os efeitos
psicológicos das acções terroristas provocam instabilidade em várias estruturas da sociedade,
nomeadamente na economia com a redução da confiança dos agentes económicos, como o
demonstram as quedas dos mercados de capitais de todo o mundo, após os atentados de 11/9.

Outra consequência é o crescimento da intolerância intercultural. Existe uma tendência


para considerar todos os indivíduos da mesma origem ou religião da organização terrorista como
inimigos. Quando esses indivíduos se sentem discriminados poderão reagir também com
intolerância intercultural, vincando ainda mais as diferenças culturais. Poderão eventualmente
diminuir a repulsa ou aumentar a simpatia pelas organizações terroristas, sentindo-as como
defensoras das suas tradições culturais e religiosas. Este efeito é favorável às organizações
terroristas, porque aumenta a sua base de recrutamento de novos membros. (Roboredo, 2010:16,

2
citando Nobre, 2009: 84) A organização terrorista Al-Qaeda3 é o exemplo mais emblemático do
terrorismo transnacional.

1.2. Problematização

O fim da Guerra Fria e seu impacto no sistema internacional trouxeram à tona a


necessidade de novos estudos de segurança internacional, principalmente por questionarem a
teoria clássica das relações internacionais até então predominante: o realismo. Na academia
começaram novos debates, tanto sobre segurança internacional, como também sobre a
efectividade das tradicionais teorias das relações internacionais. Especificamente na Europa,
estudos sobre a paz passaram a ser desenvolvidos por alguns institutos de estudos. É nesse
contexto que, em 1985, foi criada a Escola de Copenhague, originalmente chamada de
Copenhagen Peace Research Institute (COPRI).

Tradicionalmente os Estados sempre usaram as forças armadas como instrumento de


defesa contra eventuais agressões ao seu território. Com a globalização e desenvolvimento das
sociedades, foram surgindo novos fenómenos sociais que ameaçam a segurança dos Estados.
Houve uma mudança de paradigma quanto a origem das ameaças e quanto aos mecanismos
usados para fazer face as mesmas. As ameaças tornaram-se imprevisíveis e de difícil percepção,
impossibilitando dessa forma a acção preventiva por parte dos Estados. Essas, são apenas
algumas das múltiplas preocupações que se levantam quando estamos a falar sobre as ameaças
que põem em risco a segurança dos Estados. Sobre as quais iremos desenvolver a nossa reflexão
com especial atenção sobre os instrumentos e meios utilizados para defesa do Estado e dos
interesses nacionais.

Já no final da guerra fria em 1989 o cenário mundial alterou-se significativamente, o


paradigma das ameaças que colocam em risco a segurança dos Estados deixou de ser
representado exclusivamente por outros Estados. Surgiram na arena internacional outros sujeitos,
3
AAl-Qaeda é o primeiro grupo terrorista multinacional do século XXI e confronta o mundo com um novo tipo de
ameaça. As perspectivas dos historiadores e dos cientistas políticos são fundamentais para compreender e comunicar
com a Al-Qaeda, mas podem levar a uma desvalorização do fenómeno com que nos confrontamos.

3
fenómenos e realidades que representam efectivas ameaças a segurança dos Estados. Ameaças
essas que como teremos oportunidade de observar, não são apenas de caris territorial como
também são de origem económica, social e ambiental. Com tudo isso, podemos dizer que
estamos a viver um momento de desterritorialização e dispersão das ameaças que põem em risco
a segurança dos Estados, tornando-as imprevisíveis.

O que constitui um desafio para os Estados na tomada de decisões e na definição de


estratégias que visam garantir a segurança das suas fronteiras. Se o espectro do terrorismo
parecia circunscrever-se às contiguidades dos dois Estados hospedeiros destes dois movimentos,
o ano de 2017 mostrou que o terrorismo poderia estar mais próximo de Moçambique do que se
podia imaginar. Isso se revelou com os ataques nos dias 5 e 6 de outubro de 2017 a três postos de
polícia na região nortenha de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado um cinturão estratégico
para o desenvolvimento do Estado moçambicano por indivíduos que se supõe serem de
orientação islâmica radical. a emergência do grupo terrorista Boko Haram na Nigéria, mostra que
estes não estão imunes a preocupação. Diante destas situações surge a questão: Até que ponto o
terrorismo pode ser visto como ameaça a Segurança dos Estados no período pós Guerra
Fria no Geral e em particular para Nigéria e Moçambique?

1.3. Hipóteses

 Os ataques levados a cabo por grupos tidos como terroristas que destroem infra-estruturas
públicas, postos policiais e militares podem ser vistos como ameaça a segurança do
Estados nigeriano e moçambicano.
 Os ataques levados a cabo por grupos tidos como terroristas que destroem infra-estruturas
públicas, postos policiais e militares não podem ser vistos como ameaça a segurança do
Estados nigeriano e moçambicano.

1.4. Objectivos

1.4.1. Objectivo Geral

4
 Analisar o terrorismo como ameaça a Segurança dos Estados no período pós-Guerra Fria
no Geral e em particular para Nigéria e Moçambique;

1.4.2. Objectivos Específicos

 Descrever as origens e evolução dos estudos de Segurança;


 Explicar as particularidades do terrorismo em Moçambique;
 Apresentar o modus operandi do grupo terrorista que actua na Nigéria;

1.5. Justificativa

Do ponto de vista pessoa este trabalho constituirá mais uma experiência ligada não sou ao meu perfil
pesquisador, mas também profissional complementando meus conhecimentos sobre como atua o
terrorismo. Do ponto de vista académico, a pesquisa justifica-se pelo facto do fenómeno do terrorismo
fazer parte da agenda de muitos académicos nacionais pela situação de Cabo-delgado, mas também
internacionais. Do ponto de vista social também será uma mais valia visto que as pessoas que muitas
vezes são aliciadas para se alistar as fileiras dos grupos passam a saber do real perigo ou da dimensão do
problema.

1.5.1. Relevância do estudo

Este tema é pertinente na medida em que nos permite entender como é que a questão das novas
ameaças a seguranças surgidas após a Guerra Fria. Permitirá igualmente perceber as questões
ligadas ao terrorismo em Cabo Delgado e na Nigéria.

1.6. Delimitação Espacial e Temporal (2014-2021)

a) Delimitação Espacial

Esta pesquisa terá como objecto de estudo o Estado do moçambicano e nigeriano, a escolha de
Moçambique tem a ver pelo facto de ser um país que vem sofrendo com ataques desde 2017 e
que não se conhece a verdadeira origem dos grupos que executam tais ataques e a escolha da
Nigéria tem a ver com o facto de que neste país africano milita um dos mais activos grupos
terroristas que se tem notícia.

5
b) Delimitação Temporal

O marco temporal optado nesse estudo foi o período compreendido entre 2014 e 2021, a escolha
de 2014 é por referência ao ataque mais mediatizado do grupo terrorista nigeriano em abril do
mesmo ano em Chibok, estado de Borno, onde a rede terrorista dizimou populações inteiras e
sequestrou mais de 250 meninas entre os 7 e os 15 anos. E 2021 por ser o ano em que o norte de
Moçambique vive o auge de uma onda de violência que tomou a região nos últimos três anos,
quando insurgentes islâmicos passaram a promover assassinatos, decapitações e sequestros de
mulheres e crianças em vilarejos na província de Cabo Delgado, rica em rubi e gás natural e que
obrigou a saída em massa de população local.

6
CAPÍTULO 2: REVISÃO DA LITERATURA OU ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Nesta secção fazemos uma análise de algumas teorias sobre os estudos dos conflitos identitários
e etnicidade e também geopolíticos. Realismo, e o Instrumentalismo são as teorias que foram
usadas para análise do presente estudo.

2.1. 2.1. Contexto de surgimento da teoria neo-realista ou realismo estrutural

Surgiu nos anos 1970, como uma resposta realista aos desenvolvimentos do sistema e das
análises sobre as relações internacionais, propondo oferecer uma abordagem mais científica para
o estudo da política internacional. O neo-realismo é uma tentativa de reteorização da escola e
uma alternativa às abordagens liberais que ganhavam mais espaço (Pecequilo, 2004:131).

2.1.2. Precursores

BEDIN et al (2003:135) apontam como precursores do neo-realismo, Gilpin (1981), Waltz


(1979), Buzan (1991), Jones (Buzan, Jones e Little, 1993) e Little (1996). Para SOUSA
(2005:125), Waltz (1979) desvia-se do determinismo do realismo puro, da lógica explicativa da
política definida em termos de poder resultante da natureza humana, para adoptar uma
explicação estrutural com base no tipo de estrutura do sistema. A teoria de Waltz (1979) centra-
se em uma analogia entre o mercado e a política mundial, segundo o qual os Estados competem
uns com os outros pelos bens escassos tal como as empresas. Para Waltz (Idem.), o definidor do
comportamento dos Estados é a posição que estes ocupam no jogo de distribuição de poder
internacional.

2.1.3. Pressupostos

Segundo Bedin et al (2003:255) e Pecequilo (2004:132-133), o neo-realismo é estruturado a


partir dos seguintes pressupostos:
 O sistema político é anárquico, composto por Estados formalmente iguais e
soberanamente responsáveis pela sua própria segurança, com diferença de poder entre si;

7
 Os Estados não estão, a princípio, propensos a solucionar seus conflitos recorrendo a
força militar;
 Numa estrutura de tipo auto ajuda (self-help) os actores procuram constantemente pautar
suas relações por uma concepção de equilíbrio de poder;
 A política internacional deve ser estudada a partir da estrutura do sistema que fornece o
arcabouço dentro do qual se processam as relações entre os Estados;
 Não existe entidade superior aos Estados capaz de ordenar o sistema;
 Os Estados possuem os mesmos objectivos no sistema;
 A conduta dos Estados é definida segundo sua posição e capacidades dentro do
arcabouço do sistema internacional, e não somente por suas motivações puras de poder;
 O centralismo do Estado como actor unitário e racional (SOUSA, 2005:126);
 Embora a sociedade anárquica produza Estados soberanos, a sua soberania não significa
que a anarquia seja incompatível com a cooperação e interdependência.
Como podemos notar, o neo-realismo mantêm as concepções fundamentais do realismo clássico
como a centralidade do Estado como actor na política internacional e ausência de uma instância
superior a ele para impor regras, controlo ou ordem no sistema, predominando a anarquia.

2.1.4. Aplicabilidade

Assim como o realismo, esta teoria também pode ser aplicado a análises gerais sobre Relações
Internacionais voltada ao sistema internacional na vertente da relação entre os estados.

2.1.5. Críticas

O problema central desta teoria, apontado por Bedin et al (2003:255), diz respeito ao seu carácter
estático, já que seu estudo privilegia as peculiaridades do sistema em detrimento dos aspectos
intrínsecos dos actores e das principais condições de mudanças ou transformações na distribuição
de poder. Considera-se que o neo-realismo se afastou do realismo clássico bem como alega-se o
facto de ter reduzido a política a uma dimensão susceptível de ser interpretada por referência ao
conceito de conduta racional determinada por certos constrangimentos estruturais. Peca também

8
por ter ignorado a base social e os limites sociais de poder (Dougherty & Pfaltzgraff, 2003:124-
125)

2.2. Teoria da Securitização

O fim da Guerra Fria e seu impacto na sociedade internacional engendraram mudanças


profundas nos estudos de segurança internacional, ao colocar em xeque o paradigma até então
predominante do realismo. Na academia, começaram a se fortalecer as demandas por uma nova
agenda de pesquisa para a área, o que abriu espaço para uma produtiva inserção no diálogo que
se começava a realizar com mais intensidade no campo das teorias de relações internacionais. As
academias da Europa acompanhavam o movimento de renovação teórica dos conceitos de
segurança utilizados nas relações internacionais. Além disto, as marcas da Segunda Guerra
Mundial permaneciam no dia-a-dia europeu, o que favorecia um processo de criação de uma
identidade europeia e de unificação das políticas de defesa e segurança.

Neste contexto foi criada, em 1985, a Escola de Copenhague, originalmente chamada de


Copenhagen Peace Research Institute (Silva4, 2019: 49 citando Tanno, 2003: 48). A Escola,
inicialmente liderada por Barry Buzan, Lene Hansen, Ole Waever e Jaap de Wilde, surgiu da
insatisfação com o engessamento da teoria tradicionalista: a teoria realista que mantinha apenas o
Estado e suas questões militares como foco das questões de segurança. Essa insatisfação foi
estimulada pelas agendas internacionais ambientais e económicas durante as décadas de 1970 e
1980. O argumento chave dos pensadores da escola era que a teoria tradicional era mantida por
precaução. Existia a preocupação de que questões não militares se tornassem questões de
segurança e gerassem efeitos indesejáveis e contraproducentes nas relações internacionais
(Buzan, Barry; Waever, Ole; Wilde, 1998).

Para os autores de Copenhague ocorreu uma evolução nos estudos de segurança internacional
principalmente após a II Guerra Mundial. Segundo eles, foram três grandes diferenças que
marcaram essa evolução no entendimento do conceito de segurança. A primeira diferença está
4
Silva, Caroline Cordeiro Viana (2019) – Securitização: Uma Análise da aplicação Empírica para Operacionalizar
o conceito de Securitização da Escola de Copenhague. Curitiba: Brasil. Disponível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/62409/R%20-%20T%20-%20CAROLINE%20CORDEIRO
%20VIANA%20E%20SILVA.pdf?sequence=1&isAllowed=y

9
nesse conceito chave. Após a II Guerra, estudiosos de segurança deixaram de pensá-la apenas
como defesa ou apenas como ataque, houve uma abertura para questões políticas e sociais dentro
destes estudos. A segunda mudança foi na abordagem de um novo problema: as armas nucleares.
Utilizar apenas meios militares para entender segurança não era mais suficiente para
compreender o uso ou o não uso de armas nucleares. O contexto era significativamente diferente
daquele que antecedeu à II Guerra Mundial.

A disputa nuclear se tornou a arte de evitar guerras, mas sem ser militarmente derrotado ou
coagido. E a terceira grande mudança foi a existência de um carácter civil fortalecido, onde as
questões deixaram de ser puramente militares. Eram necessárias novas especialidades para
desabilitar o oponente. Era preciso, por exemplo, atingir o inimigo também em suas questões
económicas (Silva, 2013:16).

2.2.1. Pressupostos

Os autores da Escola de Copenhague desenvolveram a sua teoria. O primeiro aspecto relevante


da teoria dinamarquesa é a clareza de que não se trata de uma ruptura com as teorias clássicas de
Relações Internacionais. Os autores optaram por lançar mão de alguns aspectos das principais
teorias para desenvolver um novo conceito de Securitização (Silva, 2013: 25). O significado do
conceito de Securitização reside no seu uso e, por isso, não é algo que possa ser definido
analítica ou filosoficamente de acordo com o que seria melhor. O significado não está no que as
pessoas conscientemente acham que o conceito significa, mas na forma como ele implicitamente
é usado ou não usado, ou seja, a securitização de um tema é uma construção social.

O tema é designado como uma questão de segurança e é aceito por sua audiência como tal por
meio de uma construção entre atores. Sendo esse um vínculo da securitização com o
construtivismo.
Para entender melhor a securitização foram criadas categorias operacionais ou pressupostos:
 Objectos referentes - Objecto referente é um tema que é percebido como uma ameaça
existencial.

10
 Agente securitizador - O agente securitizador é o actor que reivindica a existência de uma
ameaça para o objecto referente, que identifica esse objecto como uma ameaça, podendo
ser não apenas o Estado, mas também organizações, indivíduos, grupos transnacionais,
grupos sociais
 Atores funcionais - os atores funcionais, que não pertencem a nenhum dos dois grupos
anteriores, mas participam de forma directa ou indirecta na dinâmica de segurança de um
sector (Villa e Santos, 2011 citados por Silva, 2013: 25).

Para a teoria de securitização, qualquer tema pode ser alocado no espectro de não politizado,
politizado ou securitizado, podendo se mover entre eles. Não politizado quando o Estado não
está envolvido na questão e não é uma questão de debate ou decisão pública. Politizado significa
que o assunto faz parte da política pública do Estado e requer decisões governamentais, alocação
de recursos ou qualquer outra forma de governação. E por securitizada entende-se que a questão
é apresentada como uma ameaça existencial, exigindo uma medida emergencial e justificada
para acções fora dos procedimentos políticos padrões

2.3. Leitura do tema à luz das teorias

No que diz respeito a leitura do tema a luz da teoria importa referir que este tema enquadra-se em
pressupostos da teoria da securitização " As ameaças são construídas, trazidas da condição
inicial em que têm uma dada natureza e transformadas para adquirir uma nova natureza. Sendo
assim, neste processo, a securitização pode se referir a ameaças reais ou não. ". No caso neo-
realismo, achamos que ela é pertinente na medida em que refere que ʺ Numa estrutura de tipo
autoajuda (self-help) os actores procuram constantemente pautar suas relações por uma
concepção de equilíbrio de poder. Podemos notar que se trata de dois Estados que possuem um
arsenal nuclear e militar forte o que de certa forma traz um cenário de equilíbrio

2.4. Quadro conceptual


2.4.1. Terror

11
O radical “terror”, cuja derivação sintáctica originou a expressão terrorismo, teria aparecido pela
primeira vez no idioma francês (terreur) em 1335, para designar “um medo ou uma ansiedade
extrema correspondendo, com mais frequência, a uma ameaça vagamente percebida, pouco
familiar e largamente imprevisível”. No Dicionário de Política, organizado por Bobbio,
Bonaparte entender por terror o instrumento de emergência a que um governo recorre para
manter-se no poder (Bonanate, L. 1986).

2.4.2. Terrorismo

O terrorismo geralmente envolve violência física ou psicológica contra alvos não combatentes,
seleccionados ou aleatórios, é uma forma instrumental de impor o medo sobre um povo, um
governo ou um Estado, mas a sua definição é controversa e, em sua consequência,
extensivamente debatida (Dupuy, 2004)5.

2.4.3. Segurança

A palavra “segurança” tem origem no latim, língua na qual significa “sem preocupações”, e cuja
etimologia sugere o sentido “ocupar-se de si mesmo” (se+cura) (Matos, 2005?). O debate sobre
este conceito não é novo. Aliás, “este é um conceito que não consegue consenso internacional,
sendo definido de diversas formas, de acordo com a escola interpretativa, com a região
geográfica, país, etc. No fundo, é um conceito contestado, ambíguo, complexo, com fortes
implicações políticas e ideológicas” (Garcia, 2006: 341). Parece, no entanto, haver consenso em
que a segurança implica a libertação de ameaças em relação a valores centrais, sendo também
comum associar ao conceito uma certa ausência de risco e previsibilidade e certeza quanto ao
futuro.
Em toda a tentativa séria de definição da segurança é aceitável a existência de um mínimo de três
parâmetros: a segurança implica para toda a comunidade a preservação dos seus valores centrais;
a ausência de ameaças contra a comunidade; e formulação de objectivos políticos pela
comunidade. Pode assim compreender-se como “a ausência de ameaças militares e não militares

5
DUPUY, Pierre-Marie (2004). “State Sponsors of Terrorism: Issus of Responsibility”, in: BIANCHI, Andrea (Ed.),

12
que pudessem pôr em causa os valores centrais que uma pessoa ou uma comunidade querem
promover, e que implicassem um risco de utilização da força” (David, 2000: 27).

2.4.4. Ameaça

Tradicionalmente - em ambiente agónico - ameaça é qualquer acontecimento ou acção (em curso


ou previsível), de variada natureza (militar, económica, ambiental, etc.) que contraria a
consecução de um objectivo e que, normalmente, é causador de danos, materiais ou morais,
sendo que no âmbito da estratégia consideram-se principalmente as ameaças provenientes de
uma vontade consciente, analisando o produto das possibilidades pelas intenções (Couto, 1988;
p. 329). Assim, dizemos que determinada situação é geradora de uma ameaça se o seu agente
tiver possibilidades ou capacidades para a sua concretização e se também tiver intenções de a
provocar

2.4.5. Riscos

O conceito de risco é inseparável das ideias de probabilidade e incerteza; na sociedade


contemporânea, o conceito caracteriza-se por assinalável polissemia (surgindo por vezes a
propósito do que se designa por perigos, catástrofes, acidentes ou ameaças) e refere-se
normalmente a um vasto leque de situações de incerteza, associadas a qualquer coisa negativa
que poderá ocorrer. O risco é actualmente muito estudado em diversos campos científicos, desde
o empresarial ao social, tendo-se atingido um estado relativamente avançado no que concerne a
ferramentas que permitem reduzir incertezas e, dessa forma, ponderar de outra forma as decisões.
(Duarte et al., 1999:107).

13
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA DO TRABALHO
Neste ponto do projecto apresentamos o conceito de método, os métodos e as técnicas que serão
usadas no futuro para suportar a pesquisa.

3.1. Método

Para Fachin (2001:33) método é um instrumento do conhecimento que proporciona aos


pesquisadores, em qualquer área de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma
pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar experiências e interpretar os
resultados. Cervo & Bervian (2002:57) completam que o método não substitui o talento ou
inteligência do cientista, pois tem seus limites e não ensina a encontrar as grandes hipóteses, as
ideias novas e fecundas, que dependem do génio e da reflexão do cientista. Para a elaboração
deste trabalho recorrer-se-á aos seguintes métodos e técnicas:

3.2. Método histórico

O método histórico de pesquisa consiste na análise da origem de dado instituto que está sendo
estudado, no contexto histórico em que determinados fatos ocorreram, na relevância de
determinados documentos em dado período histórico etc. (Lakatos, 2009: 91-92). Este método
auxilirá o trabalho na medida em que ajudará a investigar sobre as raízes de determinado
fenómeno e compreender melhor os seus desdobramentos.

3.3. Método Comparativo

Segundo Fachin (2001:33) o método comparativo se consiste em investigar coisas ou fatos e


explicá-los segundo suas semelhanças e suas diferenças. Permite a análise de dados concretos e a
dedução de semelhanças e divergências de elementos constantes, abstractos e gerais, propiciando
investigações de carácter indirecto. Este método será útil na busca de elementos comparativos
entre o comportamento dos terroristas em Moçambique e na Nigéria.

14
3.4. Técnica documental

É uma técnica na qual o pesquisador busca (embora de maneira indirecta) dados concretos em
forma de documentos, como livros, jornais, papéis oficiais, registos estatísticos, fotos, discos,
vídeos, etc. (Lakatos, 2009: 91-92). Esta técnica auxilirá o trabalho na medida em que ajudará a
compreender o tema através de consulta de fontes documentais acima mencionadas.

3.5. Resultados esperados

Espera-se com este trabalho que seja possível explicar com detalhes os principais elementos do
conceito terrorismo, os grupos, as metodologias que os grupos usam e suas motivações.

4. Cronograma

A Previsão de tempo que será gasto na realização do trabalho, de acordo com as actividades a
serem desenvolvidas com vista à alcançar as metas, será de oito meses, cujo período de
actividades será dividido em meses.

ACTIVIDADES MESES

Junho Julho Agosto Setembro Outubro


Escolha do tema X

xXxx
Elaboração de projecto X X

Submissao à revisao do X X
projecto

15
Elaboração da monográfia X

Submissão a revisão da X
primeira versão

Entrega do trabalho final X

5. Orçamento

Ordem Necessidade Quantidade Valor unitário Valor total


(Mt) (Mt)
01 Digitação do trabalho final 50 páginas 15,00 750,00
02 Revisão linguistica 50 páginas 100,00 5000,00
03 Transporte 90 dias 24,00 2160,00
04 Alimentação 90 dias 140,00 12600,00
05 Impressão 50 pag X 5 exemplares 5,00 1250,00
06 Encadernação 50 pag X 5 exemplares 250,00 1250,00
07 Comunicação 500 1,00 500,00

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

16
Bedin, Gilmar. A., et al (2003): Paradigmas das Relações Internacionais. Editora UNIJUÍ: São
Paulo.
Bobbio, Norberto et al, (1983). Dicionário de Política. Editora: UnB. 11ª Edição, Brasilia.

Castilho et al (2011) Manual de Metodologia Científica, 1ª Edição, ULBRA editora. São Paulo.

David Philippe, Charles (2001). A guerra e a paz abordagens contemporâneas da seguranca e


da estrategia, isntituto Piaget, Lisboa.

Dougherty, E. J e PFALTZGRAFF JR., (2003): Relações Internacionais – As teorias em


confronto. 1ª Edição, Gradiva: Lisboa.
Gil, António Carlos (2008): Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Edição, Atlas Editora,
São Paulo.
Huntington P. Samuel (1996) O Choque de civilisacoes E A Recomposição da ordem
Mundial ,ed Objetiva LDTA, Rio de Janeiro.

Llobera, .R. Josep (1999) Recent theories of Nationalism, editora WP NÚM.-London.

Lunardon,Araujo Jonas(2010) os conflitos contemporanios na África negra e suas causas


Ambientais, Porto Alegre.

Marconi, M. A e Lakatos, E. M (2003): Fundamentos de Metodologia Científica, 5ª Edição,


Atlas, São Paulo.

Mathe Sergio(2001) Negociando Identidades: Uma leitura das nedociações de paz para Ruanda
, ed isbn, CEEI-ISRI-Maputo.

Nascimento, Daniel (2012) A dimensão religiosa e étnica nos conflitos do Sudão: uma análise
crítica, editora SBPC, volume 64, São paulo.

Pecequilo, Cristina S. (2004) Introdução às Relações Internacionais. Temas, Actores e Visões.


Colecção Relações Internacionais, Editora Vozes: Petrópolis.

Tanno, G. (2003) A Contribuição da Escola de Copenhague aos Estudos de Segurança


Internacional. Contexto Internacional, v. 25, p. 47–80,

17
Silva, C. V. E. (2015) PLANO COLÔMBIA: securitização do narcotráfico pelos Estados
Unidos da América. Conjuntura Global, v. 4, p. 124–132,

ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................1
O Presente projecto tem como tema:...........................................................................................................1

18
1.1. Contexto...........................................................................................................................................1
1.2. Justificativa.......................................................................................................................................3
1.3. Problematização...............................................................................................................................3
1.4. Hipóteses..........................................................................................................................................4
1.5. Objectivos.............................................................................................................................................4
1.5.1. Objectivo Geral..............................................................................................................................4
 Analise as origens e evolução dos estudos de Segurança;................................................................4
1.5.2. Objectivos Específicos...................................................................................................................4
1.6. Delimitação Espacial e Temporal (1994-2012)....................................................................................4
a) Delimitação Espacial...........................................................................................................................4
b) Delimitação Temporal.........................................................................................................................5
1.7. Metodologia do Trabalho.....................................................................................................................5
Método histórico......................................................................................................................................5
Técnica documental.................................................................................................................................6
2.1. 2.1. Contexto de surgimento da teoria neo-realista ou realismo estrutural........................................6
2.1.2. Precursores................................................................................................................................7
2.1.3. Pressupostos..............................................................................................................................7
2.1.4. Aplicabilidade............................................................................................................................8
2.1.5. Críticas.......................................................................................................................................8
2.2.1. Pressupostos....................................................................................................................................10
2.3. Leitura do tema à luz das teorias.........................................................................................................11
3. CRONOGRAMA DE ACTIVIDADES.................................................................................................12
4. ORÇAMENTO......................................................................................................................................13
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................14

19

Você também pode gostar