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FAKE NEWS E O REPERTÓRIO CONTEMPORÂNEO DE

AÇÃO POLÍTICA1

FAKE NEWS AND THE CONTEMPORARY REPERTOIRE OF


POLITICAL ACTION

Ricardo Fabrino Mendonça2


Viviane Gonçalves Freitas3

Resumo: Este texto propõe-se a refletir sobre a noção de fake news a partir
do conceito de repertório de confronto da teoria dos movimentos sociais. Para
tanto, ele parte de uma revisão de literatura acerca da noção, abordando: (1)
suas definições; (2) os fatores que explicariam sua ubiquidade na discussão
política contemporânea e as consequências desse processo; (3) os casos
mais recorrentemente explorados pela literatura e seu desenvolvimento
histórico; (4) os “antídotos” ou soluções propostos para lidar com o fenômeno.
Na sequência, o texto faz uma leitura da noção de fake news pelas lentes do
conceito de repertório e argumenta como alguns dos antídotos
frequentemente imaginados não parecem adequados para lidar com o
contexto atual de crise epistêmica.

Palavras-Chave: Fake news. Repertório de confronto político. Abundância


comunicativa.

Abstract: This article aims to reflect on the notion of fake news from the
lenses of the notion of repertoire of contention. To do so, it starts with a
literature review about the notion, addressing: (1) its definitions; (2) the factors
that would explain its ubiquity in contemporary political discussion and the
consequences of this process; (3) the cases most frequently explored by the
literature and the notion’s historical development; (4) the "antidotes" or
solutions proposed to deal with the phenomenon. The article then reviews the
notion of fake news through the perspective of the concept of repertoire and
argues that some of the frequently prescribed antidotes do not seem adequate
to deal with the current context of epistemic crisis.

Keywords: Fake News. Repertoire of Contention. Communicative


Abundance.

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e Democracia do VIII Congresso da
Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (VIII COMPOLÍTICA), realizado
na Universidade de Brasília (UnB), de 15 a 17 de maio de 2019.
2
Professor do Departamento de Ciência Política da UFMG. Bolsista de produtividade do CNPq e do
Programa Pesquisador Mineiro da Fapemig. Email: ricardofabrino@hotmail.com
3
Pós-doutora em Ciência Política (UFMG) e doutora em Ciência Política (UnB). Este trabalho insere-
se nas atividades desenvolvidas durante a residência pós-doutoral, com bolsa PDJ/CNPq (Processo
168943/2017-4). Email: vivianegoncalvesfreitas@gmail.com
1
1. Introdução

São constantes as menções às fake news na atualidade. Seja em trabalhos


acadêmicos, em reportagens de jornais ou mesmo em conversas cotidianas, nota-se
uma crescente preocupação com a circulação de notícias falsas. Tal preocupação se
vê catapultada por fenômenos políticos recentes como as eleições presidenciais nos
Estados Unidos (2016) e no Brasil (2018) e o referendo do Brexit, no Reino Unido
(2016), embora atravesse a política ordinária de forma muito mais constante e
corriqueira. Acusações de notícias falsas envolvem temas muito diversos, criando um
cenário de constante incerteza, em que até aquilo que é chamado de falso, na
verdade, não é falso, mas uma tentativa de ludibriar audiências por meio do que
Simone Chambers (2018) recentemente chamou de fake fake news.
Certo é que o estatuto da verdade no mundo contemporâneo parece profunda e
indelevelmente alterado. Diversos estudos têm se debruçado sobre o fenômeno no
intuito por compreendê-lo, explorando definições, histórico e alternativas para mitigar
seus efeitos. Permanece pouco investigada, contudo, a forma como as fake news são
parte do repertório contemporâneo de confronto político.
Originalmente proposto por Charles Tilly, o conceito de repertório diz respeito ao
leque de táticas de ação consideradas disponíveis para atores que participam de
processos contenciosos. Muito se discute, na atualidade, se os protestos e as formas
de ação coletiva observadas estariam assentadas em um repertório em transformação.
Fenômenos como o cenário de abundância comunicativa (KEANE, 2013) e a
hibridização de dispositivos comunicacionais (CHADWICK, 2013), o questionamento de
estruturas verticais e hierárquicas de organização política (BENNETT; SEGERBERG,
2013; BIMBER; FLANAGIN; STOHL, 2012; MENDONÇA, 2017) e a forte polarização
política (SUNSTEIN, 2017) são vistas como potencialmente alimentando mudanças
significativas no repertório de possibilidades táticas disponíveis a atores em conflito.
É neste contexto que propomos pensar o emprego de fake news como parte do
repertório contemporâneo de confronto. Tal compreensão, embora aparentemente
simples, tem implicações significativas, sobretudo se se pensam antídotos para
constranger a circulação de fake news e mitigar suas consequências. Nosso objetivo

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é, assim, reler o fenômeno à luz da reflexão contemporânea de ativismo, abordando
possíveis contribuições da mesma para a compreensão do fenômeno em tela.
O artigo está organizado em duas partes, além desta introdução. A primeira
delas, mais longa, fará uma revisão de literatura sobre o tema, apresentando
definições, conceituações e perspectivas mais recorrentes de estudo do fenômeno. A
segunda parte avançará o argumento de que as fake news podem ser pensadas como
parte do repertório de confronto político contemporâneo, discutindo as implicações e
dilemas desta perspectiva.

2. Fake news: uma agenda em explosão

O impacto da circulação das chamadas fake news sobre processos políticos


muito relevantes da atualidade tem chamado a atenção de acadêmicos de diversos
campos do conhecimento. Há uma enxurrada de pesquisas sobre a temática em áreas
como a comunicação, as ciências sociais, a ciência política, a economia, o direito, a
ciência da computação, a sociologia, a psicologia, as relações internacionais e os
estudos de defesa. Essa agenda se fortalece a partir de 2016, com a eleição de
Donald Trump nos Estados Unidos e a escolha, pelo dicionário Oxford, do termo “post-
truth” (“pós-verdade”) como a palavra do ano (BERGHEL, 2017). Por “post-truth”
entendia-se a: “motivação ou circunstância em que fatos objetivos são menos
influentes na formação do debate político ou da opinião pública do que apelos à
emoção e à crença pessoal” (HAIDEN, 2018, p. 10). O dicionário australiano
Macquarie também elegeu “fake news” como a palavra do ano em 2016 (SHU et al.,
2017, p. 22), afirmando haver uma tendência de as pessoas acreditarem no que lhes
conviesse (MACQUARIE DICTIONARY BLOG, 2017).
Rápidas buscas pelos principais periódicos acadêmicos de humanidades
permitem a identificação de centenas de artigos publicados sobre a temática entre
2017 e 2018. Essa literatura se debruça, em grande medida, sobre quatro eixos de
pesquisa:
1) definição do termo;
2) fatores explicativos e consequências do fenômeno;
3) história e casos específicos;
3
4) antídotos.
Na sequência, exploraremos cada um desses eixos, evidenciando a
multiplicidade de abordagens em torno de cada um deles.

2.1 O que são fake news?


Se há um consenso na literatura sobre fake news é a inexistência de uma
definição única do termo. De acordo com Joshua Habgood-Coote (2018), a
diversidade contraditória de definições imprecisas faz com que o termo seja não
apenas desnecessário, mas perigoso. Na visão do autor, fake news não tem qualquer
sentido público estável, nem oferece ganhos epistêmicos significativos. Ao contrário,
ele acaba por legitimar propaganda antidemocrática, devendo, pois, ser abandonado.
Para ressaltar a imprecisão do termo, Habgood-Coote (2018, p. 7) levanta uma série
de questões que sintetizam as dúvidas a atravessar o uso da noção:
(1) Does ‘fake news’ apply only to news spread by online news media, or can it
occur in traditional media? (2) Can ‘fake news’ apply to an individual posting on
social media without doing so on behalf of a news outlet? For example, can we
apply ‘fake news’ to WhatsApp messages? (3) Does satire or news parody fall
under ‘fake news’? (4) Does ‘fake news’ apply to completely false stories, to
partially true stories, or to stories that are true but spread with malicious intent?
For example, do true stories that are part of a flood of indistinguishable true and
false stories fall under ‘fake news’? (5) Does ‘fake news’ only apply to acts
performed with certain kinds of intentions? (6) Does ‘fake news’ only apply to
claims which are spread widely?

Carlson (2018, p. 6) também ressalta a falta de clareza do significante e condena


a narrativa de pânico moral gerado pelo debate sobre fake news, vinculando-a a uma
tentativa da comunidade jornalística de assegurar o monopólio sobre a produção de
notícias. Farkas e Schou (2018) argumentam que as disputas em torno desse
significante flutuante revelam a disputa pela hegemonia da verdade.
Parte da literatura procura sanar a polissemia ao buscar uma definição precisa.
Humprecht (2018, p. 3), por exemplo, propõe delinear claramente o escopo da definição
com que trabalha em um estudo comparativo: fake news seriam parte da desinformação
online, que é “understood here as online publications of intentionally or knowingly false
statements of facts that are produced to serve strategical purposes and are
disseminated for social influence or profit”. Lazer et al. (2018, p. 1094), por seu turno,
operam com uma definição de fake news como “notícias fabricadas que imitam textos

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jornalísticos em sua forma, mas não em seu processo organizacional e na intenção”,
muitas vezes parasitando sites noticiosos, com o objetivo de usufruir de sua
credibilidade na propagação de mentiras. Assim, fake news teriam mais a ver com
disinformation do que com misinformation, por buscar enganar e ludibriar audiências e
não se tratar apenas de equívocos4. Bakir e McStay (2017, p. 1) também chamam a
atenção para a dimensão “deliberadamente enganosa” das fake news.
No anseio por cunhar uma definição precisa do termo, Allcott e Gentzkow (2017,
p. 214) diferenciam o que consideram equívocos do que chamam de fake news. Erros
de reportagem não intencionais, rumores que não se originam de uma determinada
reportagem, teorias da conspiração, sátira não factual, declarações falsas de políticos
e reportagens tendenciosas não seriam, na visão deles, fake news. Shu et al. (2017, p.
24) também retiram do escopo de fake news: sátiras, boatos, teorias da conspiração,
misinformation e hoaxes (“pegadinhas”).
Há, entretanto, quem busque não uma definição precisa, mas a apresentação da
polissemia. Brummette e colaboradores (2018) notam dois usos mais recorrentes: as
fake news satíricas e as fake news de Internet. Tandoc Jr., Lim e Ling (2018) propõem-
se a organizar as múltiplas acepções de fake news na literatura acadêmica e delineiam
uma tipologia composta por seis definições distintas: sátira noticiosa, paródia de notícia,
fabricação, manipulação, anúncio publicitário e propaganda. Tais definições orbitam em
torno de dois grandes eixos estruturadores: a dimensão da facticidade (que diz do lastro
factual das produções) e a dimensão intencional (que diz do intuito do produtor do
conteúdo de ludibriar ou não suas audiências).
Adotando um olhar histórico, Tandoc Jr., Lim e Ling (2018) identificam que,
inicialmente, o termo aparecia como referência a programas satíricos, que
comentavam notícias de forma lúdica e exagerada (WAISBORD, 2018). São
frequentes na literatura as referências aos programas norte-americanos de Jon
Stewart e Stephen Colbert, que produziam sátiras políticas ao apresentar notícias de
forma bem-humorada (BORDEN; THEW, 2007; AMARASINGAM, 2011; COMPTON,
2011; MCBETH; CLEMONS, 2011; DAY; THOMPSON, 2012; BREWER; YOUNG;
MORREALE, 2013; BALMAS, 2014; COOKE, 2017). Fake news, aqui, não são vistas

4
Cooke (2017) e Haiden e Althuis (2018) também trabalham com essa diferenciação entre disinformation
e misinformation.
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necessariamente como um problema e há quem compreenda que tais sátiras podem
mesmo ser pensadas como um jornalismo crítico, que abre novos caminhos para a
informação pública. Para McCherney (2011, p. 2), nessa acepção, é possível que
“fake news become real journalism”.
É importante ressaltar que o entendimento das fake news como uma dinâmica do
entretenimento e humor traz em si uma familiaridade com as notícias verídicas, as hard
news. Como frisa Balmas (2014), é preciso que o telespectador esteja inteirado dos
assuntos em evidência na cena política para que identifique as personagens
caricaturadas e compreenda a brincadeira apresentada. Assim, sátiras podem ter um
efeito colateral, advindo do mal entendimento ou da desinformação (RUBIN; CHEN;
CONROY, 2018). Por mais que autores como Brewer, Young e Morreale (2013) e Day
e Thompson (2012) analisem que tais talk shows tenham um caráter político-reflexivo,
tal objetivo só é alcançado se os processos intertextuais e o conhecimento de um
contexto mais amplo ocorrerem.
A segunda acepção está fortemente relacionada à primeira, embora não se
restrinja ao comentário satírico de notícias e envolva a construção de notícias sem base
factual, em formatos que mimetizam os da mídia convencional. No Brasil, o
Sensacionalista seria um exemplo interessante do que Tandoc Jr., Lim e Ling chamam
de paródias noticiosas. Borden e Thew (2007, p. 306) veem nessas paródias também
uma crítica à atuação dos profissionais e do desempenho social do jornalismo. Para
eles, as paródias não podem ser entendidas como fake no sentido de “counterfeit”
(falsificação que implica engano), já que o humor é a intenção declarada.
Se o humor seria a marca inicial do uso do termo fake news, sua definição logo
teria começado a mudar para cobrir a fabricação de notícias sem base factual que não
têm fins lúdicos, mas buscam, por razões políticas ou econômicas, ludibriar leitores
como se se tratasse de notícias verdadeiras. Um dos exemplos que já se tornou clássico
desse tipo de fake news é o caso dos adolescentes da Macedônia, durante as eleições
presidenciais de 2016, nos Estados Unidos (BERGHEL, 2017; ALLCOTT;
GENTZKOW, 2017; BAKIR; MCSTAY, 2017; BENNETT; LIVINGSTON, 2018;
BENKLER; FARIS; ROBERTS, 2018; DELMAZO; VALENTE, 2018; PANGRAZIO,
2018), que retomaremos a diante.

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A esta definição se vincula a quarta, que diz respeito à manipulação de imagens
para criar falsa narrativa. Khaldarova e Pantti (2016) entendem as fake news como
narrativas estratégicas, por meio de propagandas de entretenimento, que abarcam uma
combinação de material escandaloso, com imputação de culpa e denúncias, além de
imagens manipuladas. Um dos exemplos de imagem manipulada e apresentada fora
de contexto é uma foto de uma vala comum com vários corpos de civis que,
originalmente datada de 1995 e feita durante a Guerra da Chechênia, trazia um soldado
russo em pé ao lado da vala. Na imagem reportada pela TV estatal (Channel One/Perviy
Kanal), em 2015, há a supressão da imagem do soldado e a afirmação de que era o
resultado de um ataque do exército ucraniano. O apontamento feito por Haiden e Althuis
(2018, p. 3) data do mesmo ano da criação de The European External Action Service
East Stratcom Task Force, na Rússia, com o propósito de produzir campanhas de
desinformação. Cabe lembrar que 98% da população russa têm o canal governamental
como sua principal fonte de informação.
A quinta categoria da tipologia de Tandoc Jr., Lim e Ling diz de materiais
publicitários que imitam o formato jornalístico. É comum que empresas publiquem
anúncios em forma de reportagem, buscando conferir a seus discursos a credibilidade
supostamente atribuída a veículos noticiosos. Vale simular o cenário de um programa
de entrevistas ou reproduzir as marcas de diagramação de um veículo para que ao leitor
se apresente o anúncio como se ele continuasse em contato com notícias ali veiculadas.
Segundo Caparrós (2017), tal dinâmica estaria mais atrelada às ações de relações
públicas do que ao fenômeno das fake news. Por outro lado, entender as fake news
vinculadas à “economia das emoções” (“economy emotions”), ou seja, observar como
as emoções são aproveitadas para gerar atenção e tempo de visualização, o que
converte em receita de publicidade (BAKIR; MCSTAY, 2017), pode ser um caminho
interessante para compreender a proeminência de sua propagação.
Por fim, a sexta acepção da tipologia refere-se à propaganda política que busca
influenciar a percepção pública por meio de conteúdo supostamente informacional. É
justamente aqui que grande parte do debate tem se concentrado, sobretudo para a
compreensão do cenário comunicacional contemporâneo (BENKLER; FARIS;
ROBERTS, 2018). Brummette et al. (2018) chamam a atenção para a dimensão nociva

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da difusão de mentiras online. Klein e Wueller (2017, p. 6) entendem tratar-se da
publicação de declarações intencional e conhecidamente falsas.
Sobre as estratégias de relações públicas, marketing político e propaganda, Bakir
e McStay (2017) argumentam que a dinâmica das fake news é oposta à adotada tempos
atrás, a fim de influenciar e persuadir a população. Para os autores, as ações de
relações públicas, ainda no século XX, visavam seduzir os consumidores, apresentando
características positivas dos produtos ou clientes e se valiam da credibilidade do texto
jornalístico para tal. Na onda das fake news, a diferença se dá com a geração de
cidadãos erroneamente informados, que permanecerão assim devido a bolhas e redes
pessoais pelas quais as fake news despertam sentimentos de hostilidade e indignação.
Como destaca Haiden (2018), a propagação de fake news por movimentos políticos
leva ao fechamento do discurso porque cria enquadramentos conceituais de exclusão,
que acomodam apenas informações que se encaixam nessas estruturas.
Além dessas seis definições, é possível adicionar, pelo menos, mais uma, que diz
da utilização do termo para negar a veracidade de outros discursos, sobretudo,
elaborados por organizações jornalísticas convencionais. Chamar as notícias de
veículos tradicionais de fake news tornou-se prática constante por parte de políticos e
ativistas diversos (WAISBORD, 2018, p. 1867). Nas palavras de Lukamto, Gibbons e
Carson (2018), trata-se de uma estratégia política para atacar e retirar a legitimidade de
veículos de comunicação tradicionais e de políticos rivais. Gorbach (2018, p. 248)
assinala que se tornou tão rotineiro rotular notícias verdadeiras como fake, que nem
nos damos mais conta de suas consequências.
Utilizando-se das reflexões de McNair (2018), Lukamto, Gibbons e Carson (2018,
p. 2) identificam a “weaponization” do termo, que é convertido em instrumento de ataque
e defesa. É o mesmo que dizem Farkas e Schou (2018), ao assinalar que a noção se
tornou um instrumento da luta contemporânea por hegemonia. Bennett e Livingston
(2018) complementam a discussão ao afirmar que não há nada de novo em autoridades
atribuírem a alcunha de “fake news” ou “lying press” (“imprensa mentirosa”) a textos
jornalísticos com os quais não concordem. A novidade está nos meios utilizados para
tanto e na sua circulação. Para eles, quando pessoas públicas adotam tal estratégia,
minam as bases de facticidade e começam a alimentar discursos públicos orientados
por raiva, ódio, preconceito e mentiras (BENNETT; LIVINGSTON, 2018, p. 125).
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Para os propósitos do presente artigo, o fenômeno da weaponization das fake
news é particularmente relevante por permitir vislumbrar o cenário conflitivo em que
fake news são produzidas, consumidas e usadas como instrumentos de batalhas
simbólicas mais amplas. Antes de explorar tal questão, contudo, passemos à seção
subsequente, em que damos continuidade à revisão de literatura aqui exposta.

2.2 Por que há tantas fake news e quais as consequências disso?


A literatura sobre fake news também é prolífica na tentativa de identificação dos
fatores que teriam levado a uma profusão de notícias falsas na atualidade, bem como
no mapeamento de suas consequências. O objetivo é, fundamentalmente,
compreender o contexto que viabilizou o fenômeno e seus desdobramentos,
oferecendo narrativas explicativas sobre o contemporâneo.
Entre as explicações causais para a profusão de fake news, destacam-se,
inicialmente, aquelas que identificam os elementos motivacionais para a produção e o
compartilhamento das mesmas. Muitos estudos chamam a atenção para a sobreposição
de interesses econômicos e ideológicos na explicação do porquê de indivíduos e
organizações dedicarem-se à produção de notícias falsas (TANDOC JR.; LIM; LING,
2018, p. 138). Há indivíduos sem qualquer finalidade política que desejam obter cliques
e, assim, verba publicitária, por meio de dispositivos como o Google AdSense, como
evidencia o célebre caso dos jovens da Macedônia nas eleições estadunidenses de 2016
(ALLCOTT; GENTZKOW, 2017; BAKIR; MCSTAY, 2017; BERGHEL, 2017; POWERS,
2018; BENNETT; LIVINGSTON, 2018; ALTHUIS; STRAND, 2018; BENKLER; FARIS;
ROBERTS, 2018; PANGRAZIO, 2018; DELMAZO; VALENTE, 2018). Segundo Gorbach
(2018, p. 239), queira-se enganar ou não “money is always a primary motivator”. É
inegável, por outro lado, o crescimento da produção de conteúdo falso com o fim de
produzir consequências políticas, beneficiando certos atores (BENNETT; LIVINGSTON,
2018; LUKAMTO; GIBBONS; CARSON, 2018). Delmazo e Valente (2018), com base nas
reflexões de Nyhan e Reifler (2018), destacam que as fake news se apresentam como
um novo tipo de desinformação política, marcada por uma dubiedade factual, cuja
finalidade é ser lucrativa.
Ainda no tocante a motivações individuais, Bakir e McStay (2017) ressaltam que
o sentimento de pertencimento, de companheirismo (“fellow-fedding”) torna-se um
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grande impulsionador a incentivar compartilhamentos, anuências e apoio ao que quer
que seja. Em outras palavras, há um comportamento emocional de grupo que leva à
sistemática circulação de conteúdos falsos. Outros dois fatores psicológicos também
chamam a atenção entre estudiosos do fenômeno: o realismo naïve (os consumidores
tendem a acreditar que suas percepções da realidade são as corretas, enquanto os
outros são considerados como desinformados, irracionais e enviesados); e o viés de
confirmação (os consumidores preferem receber informações que confirmam seu
ponto de vista) (SHU et al., 2017, p. 24). Para Gorbach (2018, p. 243), essa sempre
foi a principal razão para a circulação de mentiras: “Many tell people what they want
to hear, and fictional stories are often more compelling than the truth”. Assim, a
recepção de “informação falsa ajuda a aliviar a culpa coletiva e também confirma
preconceitos disseminados na sociedade” (WAINBERG, 2018, p. 160).
Fatores sociodemográficos também importam na identificação do contexto que
viabiliza a profusão de fake news. Parte da literatura chama a atenção para fatores
que tornariam alguns sujeitos mais suscetíveis ao contexto de desinformação.
Buscando variáveis que ajudassem a entender o fenômeno, Allcott e Gentzkow
(2017), por exemplo, identificaram três correlações importantes entre os norte-
americanos com maior probabilidade de crer em fake news: os que gastam menos
tempo consumindo mídia; os com menos educação formal; e os mais jovens. Conroy,
Rubin e Chen (2015) e Pangrazio (2018) também argumentam que o baixo nível de
leitura e interpretação de textos nutre o cenário de forte circulação de fake news.
Se motivações e fatores psicológicos e sociodemográficos importam para a
compreensão desse contexto, eles não contam toda a história. Há uma série de
transformações sociais que afetaram centralmente o contexto de produção
comunicacional e que viabilizaram a profusão de fake news. A literatura do tema é
unânime em reconhecer o papel da digitalização da produção e do consumo de
notícias como um fator preponderante a explicar o fenômeno. Esta teria mudado a
forma e a circulação de notícias, além de abrir a possibilidade para que amadores
alcançassem audiências massivas (TANDOC JR.; LIM; LING, 2018, p. 139). Na visão
de Benkler, Faris e Roberts (2018), teria havido uma mudança ampla do ecossistema
midiático, que alimentaria a crise epistêmica das democracias na atualidade. É o que
também percebem Chadwick, Vaccari e O’Loughlin (2018) ao assinalar que só se
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pode compreender o compartilhamento de matérias sensacionalistas atentando-se
para o contexto relacional mais amplo de produção dessas matérias.
O contexto midiático digitalizado teria permitido a circulação rápida e em larga
escala de conteúdos falsos, dificultando a verificação dos mesmos (WAISBORD,
2018, p. 186) e eximindo usuários de responsabilidades (BAKIR; MCSTAY, 2017).
Como bem lembra Cooke (2017, p. 214), a expressão “TL;DR” (“too long, didn’t read”;
“longo demais, não li”), comumente inserida antes de links compartilhados, permite
que se publique em sua rede algo que sequer sabe-se de fato do que se trata. Conroy,
Rubin e Chen (2015) afirmam que a dificuldade de seres humanos detectarem
mentiras em textos se intensifica com a mecânica das plataformas digitais, em que se
inserem links, nem sempre confiáveis, a fim de atestar a veracidade do que se diz.
A estruturação de comunidades homofílicas, facilitada por tecnologias digitais,
criaria condições adequadas para que as mentiras se espalhassem sem o devido
escrutínio (BRUMMETTE et al., 2018, p. 512; GORBACH, 2018; ALTHUIS; STRAND,
2018; PANGRAZIO, 2018). A gratificação instantânea associada ao compartilhamento
online de textos, a vinculação a algo maior do que o próprio usuário e as reações dos
amigos virtuais, principalmente em meio às bolhas (“filter bubbles”; “echo chambers”),
encorajam a propagação de fake news (COOKE, 2017; PANGRAZIO, 2018). As
tecnologias digitais de comunicação contribuiriam, então, para a “privatização da
propaganda”, ao direcionarem conteúdo de acordo com o perfil de acessos de cada
usuário (KHALDAROVA; PANTTI, 2016). A polarização é, assim, vista como indutora
da propagação de desinformação (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017; BERGHEL, 2017).
Seja por meio de curtidas, compartilhamentos ou pesquisas, os robôs de
plataformas digitais (bots) teriam papel relevante na proliferação de fake news (LAZER
et al., 2018). Acredita-se que, entre as contas do Twitter, de 9 a 15% sejam bots. Estima-
se que mais de 60 milhões de perfis falsos tenham infestado o Facebook com conteúdo
político durante as eleições dos Estados Unidos de 2016. A forte presença de robôs
contribui para impulsionar um ciclo autoalimentado de informações não verificadas
(TANDOC Jr.; LIM; LING, 2018). Para além da revolução tecnológica da digitalização,
outros fatores contextuais são tidos como relevantes. Haiden e Althuis (2018)
levantam as hipóteses de que a falta de crença nas instituições, as desigualdades
sociais e a percepção de crise possam estimular a circulação de fake news. Em estudo
11
comparativo sobre os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha e a Áustria,
Humprecht (2018) indaga se a existência de um serviço de radiodifusão pública de
qualidade ajuda a reduzir o compartilhamento de fake news e se os níveis de
confiança na mídia e no governo são relevantes no mesmo sentido. Os resultados da
pesquisa revelam que os níveis de confiança despontam como variável muito
importante e que a existência de serviço público de comunicação de qualidade não foi
suficiente para restringir cenário de desinformação no Reino Unido. De modo muito
interessante, o estudo mostra como a desacreditação da mídia é constante em todos
os contextos de forte circulação de fake news.
Segundo Allcott e Gentzkow (2017), a redução da credibilidade nos veículos
tradicionais pode ser tanto uma causa quanto uma consequência de as fake news
ganharem mais força. Há quem argumente, contudo, que a própria mídia é
responsável por semear o pânico moral em relação às fake news (CARLSON, 2018),
de modo a assegurar a legitimidade e a credibilidade de seu próprio fazer, atribuindo-
se o papel de distinguir entre verdade e mentira.
Essa breve revisão de literatura chama a atenção para o entrecruzamento de
variáveis motivacionais, demográficas e contextuais na construção de um contexto
propício ao florescimento de notícias falsas. Se o cenário de abundância
comunicacional parece uma peça chave para a compreensão do fenômeno, ele não
é o único fator relevante para um entendimento adequado do que se passa. A
literatura parece indicar um cruzamento de fatores que não criam as mentiras
políticas, mas viabilizam sua ubiquidade.

1.3 São as fake news uma criação do século XXI? Casos paradigmáticos
Como visto na seção anterior, a literatura sobre fake news tende a ressaltar a
novidade contemporânea do cenário de forte circulação de inverdades. Isso não
significa que se julgue que a desinformação ou a criação de notícias falsas seja algo
inteiramente novo. Há uma forte preocupação em historicizar as fake news até para
que se identifiquem as especificidades da atualidade.
De acordo com o levantamento feito pelo historiador estadunidense Robert
Darnton (2017), as fake news – ou as “verdades alternativas”, como as nomeia
também em seu texto – podem ser encontradas em quase todas as épocas da Europa
12
ocidental. Um exemplo disso dataria ainda do século VI, quando o historiador bizantino
Procópio escreveu o livro História Secreta (cujo título original era Anedota), repleto de
histórias de veracidade duvidosa, com o objetivo de arruinar a reputação do imperador
Justiniano. Do século XVI chega o exemplo de Pietro Aretino que, em 1522, teria
escrito sonetos perversos a fim de manipular a eleição do pontífice, difamando outros
concorrentes em favor do seu preferido. É nesse momento em que os pasquins
ganham relevância como um “método habitual para difundir notícias desagradáveis,
em sua maioria falsas, sobre personagens públicos” (DARNTON, 2017, s.p.). Os
canards parisienses ficaram famosos e conquistaram popularidade devido aos boatos,
falsas notícias e gravuras que despertavam o interesse dos mais céticos e recheavam
suas páginas; circularam entre os séculos XVII e XIX, tornando-se, assim, os
herdeiros direitos dos pasquins.
Um exemplo da Revolução Francesa é emblemático quanto à força que uma
mentira bem difundida pode ter. Refere-se ao ódio exacerbado inflamado por
propaganda política deliberadamente falsa contra a rainha Maria Antonieta, que
culminou com sua execução em 16 de outubro de 1793 – mesmo não sendo possível
aferir sua repercussão. Allcott e Gentzkow (2017) marcam uma série de artigos
publicados pelo New York Sun – “Great Moon Hoax”, sobre a descoberta de vida na
lua –, de 1835, como um exemplo da fake news bem anterior aos nossos dias.
Gorbach (2018) também apresenta vários episódios do século XIX, evidenciando
como a busca por dinheiro e notoriedade há muito impulsiona a publicação de textos
enganosos. Entre os casos relatados, chama a atenção o uso de histórias ficcionais
por periódicos para tematização de problemas concretos. Um caso interessante a este
respeito foi uma publicação do Herald que relatava uma fuga de animais do zoológico
da cidade e a destruição que teriam causado como forma de alertar para o que poderia
vir a acontecer, dadas as condições do estabelecimento. Gorbach (2018) também
relata a força dos embustes publicados por Mark Twain, como o do Empire City
Massacre, que relatava a entrada de um cavaleiro na cidade com a garganta cortada
e que teria assassinado a esposa e seis crianças com um machado. “Twain thought
he had left plenty of clear indications of a hoax, but instead the vivid, gory details
alarmed locals and non-locals alike” (Gorbach, 2018, p. 242). Tais farsas seriam muito
comuns no século XIX e precederiam aquela que ficou mais conhecida, já no século
13
XX, com o episódio da Guerra dos Mundos, de Orson Welles. Elas também
antecederiam a tabloidização do jornalismo e as histórias falsas do jornalismo de
fofocas sobre celebridades (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017; PENNYCOOK; RAND,
2018).
Apesar desse longo histórico de publicação de embustes e de notícias falsas,
Gorbach (2018, p. 248) reconhece as especificidades da cena atual. Primeiro, o
contexto contemporâneo seria mais marcado por tentativas deliberadas de ludibriar
do que por acidentes e confusões. Segundo, a cena atual seria altamente tóxica e
capaz de ameaçar a sobrevivência da democracia. E a terceira diferença: os embustes
do século XIX não ocorriam em um momento que apresentava os mesmos riscos em
termos de catástrofes globais.
Ao atentar para o potencial catastrófico das fake news desde o final do século
XX, Waisbord (2018) lembra que temas tão sensíveis como a AIDS, as vacinas, a
fluoridificação da água, as mudanças climáticas e os genocídios bem documentados
em várias partes do globo já abasteceram fluxos de inverdades. Já no contexto das
facilidades de proliferação de informações proporcionadas pela Internet, Kiely e
Robertson (2018) recordam que os e-mails virais ou correntes eram bastante comuns
nos anos 1990, com notícias mal apuradas e/ou deliberadamente enganas.
É no século XXI, contudo, que a circulação de fake news (sobretudo as
políticas) atinge novos patamares. Cabe ressaltar que, mesmo que o maior destaque,
nos últimos anos, seja para as fake news de conteúdo político, não faltam exemplos em
outros campos, como sobre vacinação (benefícios e riscos), nutrição (alimentos
indicados ou vilões) e economia (reservas nacionais, por exemplo) (LAZER et al., 2018).
No campo da política, já em 2006, nota-se que o “Flemish Secession Hoax” projeta o
termo fake news: uma TV pública belga noticiou que o parlamento flamengo teria
declarado independência da Bélgica e vários telespectadores entenderam
erroneamente como verdade (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017, p. 214).
Quando Barack Obama assumiu a Presidência dos Estados Unidos pela primeira
vez, em 2009, o boato de que não havia nascido no país foi compartilhado
intensamente (BENNETT; LIVINGSTON, 2018; WILLIAMS, 2018). Sobre Obama
também foi dito que havia comprado uma casa de férias em Dubai; que havia assinado
um decreto proibindo o juramento à bandeira (“Pledge of Allegiance”) nas escolas dos
14
Estados Unidos; que sua sogra receberia uma pensão vitalícia por cuidar de suas
filhas na Casa Branca; que utilizara recursos próprios para manter aberto um museu
mulçumano durante a paralisação do governo federal, em 2013 (uma sátira que foi
comprada por muitos como notícia verdadeira) (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017;
KIELY; ROBERTSON, 2018).
Pesquisadores são unânimes, contudo, em apontar o ano de 2016 como um
divisor de águas, em virtude de dois eventos históricos: o referendo sobre a
permanência do Reino Unido na União Europeia e as eleições presidenciais dos
Estados Unidos (BRUMMETTE et al., 2018; DELMAZO; VALENTE, 2018).
Segundo Humprecht (2018), o caso do Brexit evidencia como a polarização
alimenta a profusão de fake news, mesmo em países em que há um serviço público
de comunicação robusto. Dentre as muitas inverdades a circular na campanha do
Brexit, tornou-se célebre uma que afirmava que o Reino Unido teria 350 milhões de
libras esterlinas por semana para investir na saúde pública, caso optasse por deixar
o bloco. Chadwick, Vaccari e O’Loughlin (2018) relatam o caso de uma “notícia”
publicada pelo Daily Express que afirmava que um acordo firmado entre a União
Europeia e os Estados Unidos levaria ao fim do Sistema Nacional de Saúde britânico,
se o Reino Unido continuasse vinculado à União Europeia. Apesar da pronta negação
da informação pela Comissão Europeia, essa “notícia” foi a peça jornalística mais
compartilhada durante a campanha, com cerca de 500 mil interações.
As eleições estadunidenses de 2016 tornaram-se ainda mais famosas não apenas
pelo volume, criatividade e consequência da circulação de fake news, mas também pelo
fato de os próprios protagonistas das campanhas denunciarem a todo momento os
supostos enredos de inverdades em que se situavam. Se não há espaço, no escopo
deste artigo, para desenvolver a miríade de situações denunciadas como fake, uma lista
com alguns episódios que célebres ajuda a lembrar a dimensão do fenômeno:
1) a afirmativa de que Papa Francisco teria declarado apoio à candidatura de
Trump;
2) Trump retuitou, durante a campanha um gráfico falso sobre o percentual de
brancos assassinados por negros, em São Francisco, e Bill O’Reilly, comentador da
Fox News, corroborou a inverdade;

15
3) divulgação de um falso pronunciamento-surpresa do atual vice-presidente dos
EUA, Mike Pence, sobre haver se submetido a um tratamento de “cura gay” para
salvar o casamento;
4) notícia falsa sobre a transferência da fábrica de caminhões da Ford do México
para Ohio, devido à eleição de Trump;
5) manipulação de imagens a fim de dar a impressão de que o presidente russo
estaria com Trump em comícios;
6) sátira que dizia que Trump ameaçava não ir a debates se Hillary participasse;
7) meme produzido com uma capa fake de uma edição da revista People de
1998, com uma foto de Trump, na qual o empresário dizia que, se concorresse à
Presidência, seria pelo Partido Republicano, porque seus eleitores engoliriam
qualquer mentira;
8) notícia falsa que atribuía ao WikiLeaks a confirmação de que Hillary Clinton
havia vendido armas para o Estado Islâmico;
9) divulgação de vazamento de um e-mail falso de Hillary Clinton para o Estado
Islâmico;
10) notícia falsa sobre agente do FBI suspeito de vazar e-mails de Hillary Clinton,
que afirmava que ele teria sido encontrado morto, de modo a indicar uma simulação
de suicídio;
11) divulgação de informação falsa quanto a Hillary Clinton ser considerada
inapta para ocupar a Presidência dos EUA, de acordo com a legislação do país;
12) notícia falsa que garantia a transferência de urânio dos EUA para Rússia,
autorizada por Hillary Clinton, com aporte financeiro para a Fundação Bill Clinton;
13) notícia inverídica sobre o aumento de crimes cometidos por imigrantes
muçulmanos na Suécia, em 2017 – retuitada por Trump;
14) notícia falsa quanto à cassação de Trump, autorizada pela Suprema Corte
da Pensilvânia, após ter sido comprovada a intervenção russa nas eleições;
15) notícia falsa sobre Hillary Clinton estar bêbada na noite das eleições;
16) Pizzagate – abordado abaixo.

16
O caso mais relatado na literatura sobre as eleições de 2016 é, sem dúvida, a
do Pizzagate5. Trata-se de uma sátira política levada a sério por autoridades policiais
e eleitores, que partia de uma teoria da conspiração segundo a qual uma pizzaria de
Washington serviria de fachada para abuso contra crianças por parte de uma
quadrilha ligada a Hillary Clinton. A crença nessa história culminou com um homem
armado que entrou no Comet Ping Pong, em 4 de dezembro de 2016, a fim de
averiguar por si mesmo se o restaurante tinha ligações com a exploração sexual de
crianças e o suposto envolvimento da candidata e do coordenador de sua campanha,
John Podesta no caso.
Não caberia discutir aqui o efeito concreto dessas notícias inverídicas para o
resultado das eleições estadunidenses. A literatura revisada indica que este foi um fator
relevante dentre muitos outros, não se podendo afirmar que, sozinhas, as fake news
determinaram o resultado do pleito. Fato é, todavia, que o tema das fake news adquiriu
centralidade desde então e tem atravessado eventos-chave da política. Das campanhas
eleitorais em grandes democracias como o Brasil (2018), a Nigéria (2019) e a Índia
(2019) até as relações diplomáticas entre Estados Nacionais6, passando pela formação
da opinião pública em torno de políticas públicas7 ou pelas ondas de violência coletiva
e linchamentos públicos8, fake news estão no cerne da política hodierna. Isso nos leva
ao próximo tópico dessa breve revisão: o que fazer?

1.4 Como lidar com as fake news?

5
Sobre o caso, ver: Tandoc Jr et al. (2018); Habgood-Coote (2018); Kiely, Robertson (2018); Powers
(2018); Rubin, Chen, Conroy (2018); Dvorkin (2018); Lazer et al. (2018); Bakir, McStay (2017); Lukamto,
Gibbons, Carson (2018); Haiden (2018); Althuis, Strand (2018); Williams (2018); Berghel (2018); Cooke
(2017); Bennett; Livingston (2018); Pennycook, Rand ( 2018); Shu et al. (2017); Allcott, Gentzkow
(2017); Guess, Nyhan, Reifler (2018); Delmazo e Valente (2018).
6
Tandoc Jr. e colaboradores (2018) afirmam, por exemplo, que o ministro da defesa do Paquistão
publicou, em 23 de dezembro de 2016, uma ameaça no Twitter depois de ver um falso relato de que
Israel teria ameaçado o país com armas nucleares.
7
Devereux e Power (2019) ilustram essa questão com um exemplo da Irlanda, onde uma campanha
contra uma política social foi construída a partir de notícias falsas e dados manipulados, que foram
amplamente reverberados pelos media.
8
Reportagem interessante do New York Times sobre a questão está disponível em:
<https://www.nytimes.com/interactive/2018/07/18/technology/whatsapp-india-
killings.html?action=click&module=RelatedCoverage&pgtype=Article&region=Footer>. Acesso em: 8
mar. 2019, às 10h08.
17
Os desafios gerados pelas fake news não apenas ao jornalismo, mas à
democracia e à própria sobrevivência dos Estados de uma forma ampla, são evidentes
(SHU et al., 2017). Em 2013, o Fórum Econômico Mundial identificou “a desinformação
digital maciça” (“massive digital misinformation”) como uma das principais ameaças à
sociedade. Benkler, Faris e Roberts (2018) avaliam a centralidade da crise epistêmica
contemporânea no cenário de erosão da democracia pelo mundo. E Haiden e Althuis
(2018, p. 3-4) situam as fake news como uma ameaça à segurança nacional, o que
resulta em uma tendência a tentar encontrar um ator malicioso, alguém ou algo que
pode ser parado, com o objetivo de erradicar o problema.
Diante da constatação de que o problema é relevante e com consequências de
ampla magnitude, a literatura também se ocupa de pensar formas de eliminá-lo, de
mitigar seus efeitos ou, pelo menos, de obstruir seu rápido avanço. O conjunto de
antídotos ou remédios pensados contra as fake news pode ser organizado em quatro
grandes grupos, a saber: os técnicos, os jornalísticos, os comportamentais e os
legais/políticos.
O primeiro grupo de antídotos envolve um conjunto de soluções técnicas que
poderiam constranger a circulação de notícias falsas. Cabe mencionar, por exemplo
as recentes atualizações do Whatsapp no sentido de restringir a velocidade e o
volume de compartilhamentos pela plataforma, o que foi feito, sobretudo, em face do
temor do que os fluxos da rede poderiam fazer nas eleições de 2019 na Índia9.
As tentativas de emprego de machine learning para identificar e evitar a
circulação de notícias falsas também têm ganhado expressão nos últimos anos. A
verificação automatizada de fake news (“automatic deception detection”), apresentada
por Conroy, Rubin e Chen (2015), por exemplo, tenta driblar a circulação de notícias
falsas intencionais. Para tanto, os autores elaboraram uma proposta voltada a
identificar padrões de expressões linguísticas e a analisar a probabilidade de se tratar
de fake news com base no comportamento de redes de contatos, utilizando-se de
machine learning. Na mesma linha, Shu e colaboradores (2017) apresentam o
FakeNewsNet: um método automático de detecção de fake news nas redes sociais,
que se efetiva em duas fases: extração de recursos (conteúdo noticioso e informações

9
Disponível em: <https://edition.cnn.com/2019/01/21/tech/whatsapp-forwarding-limits-
india/index.html>. Acesso em: 8 mar. 2019, às 10h21.
18
adicionais em uma estrutura matemática formal – recursos linguísticos, visuais e de
engajamento social) e construção de modelos (com machine learning) que
diferenciem do modo mais eficiente possível fake news e notícias reais. Conroy, Rubin
e Chen (2015) advertem que, apesar de ser bastante eficaz, essas tentativas
necessitam de uma quantidade razoável de material extraído para fazer a verificação
e associação adequada dos elementos extraídos com os critérios de análise
determinados, o que, geralmente, demanda uma base de dados e informações
significativas previamente disponibilizadas.
A sugestão tecnológica de Berghel (2017) foi denominada de Interactive Gaudy-
Fact Carp-Detector (IGFCD). Ela demandaria a avaliação de jornalistas e acadêmicos
para atestar a veracidade do conteúdo apresentado. Tal ferramenta seria para
download gratuito, como aplicativo ou acoplado à barra do navegador.
O antídoto de Berghel (2017) já permite que façamos a transição para o segundo
grupo de soluções a ser aqui explorado: o remédio jornalístico. Há ampla literatura a
prescrever mais jornalismo como forma de limitar a circulação de inverdades. Por “mais
jornalismo” entende-se um conjunto amplo e variado de práticas que poderiam resgatar
critérios capazes de assegurar a verdade de fatos postos em circulação. A primeira e
mais evidente dessas práticas são as iniciativas de fact-checking que têm se difundido
em vários contextos, de modo a alterar significativamente o próprio teor do jornalismo.
Mais do que buscar novas pautas e furos, grande parte do jornalismo contemporâneo
está imbuído da importante missão de verificar aquilo que já se encontra em circulação
(HUMPRECHT, 2018; BENNETT; LIVINGSTON, 2018; GUESS; NYHAN; REIFLER,
2018; BAKIR; MCSTAY, 2017). Em alguns casos, tal verificação ocorre por meio de
práticas colaborativas, em ações de crowdsourcing, nas quais vários usuários
conectados em rede detectam e revelam as histórias e imagens fabricadas e difundidas
(KHALDAROVA; PANTTI, 2016; KLEIN; WUELLER, 2017). Apesar da relevância de
tais iniciativas, Berghel (2017) frisa que pessoas intencionalmente direcionados a uma
perspectiva e com pouca crítica tentem a ignorar tais serviços. Além disso, pessoas
“ingênuas”, nas suas palavras, não veriam a necessidade de utilizá-los.
Ainda no campo dos antídotos jornalísticos, há quem sugira a centralidade de
novos formatos jornalísticos como modo de aprimoramento do conteúdo crítico em
circulação na esfera pública. É isso, justamente, o que propõem vários pesquisadores
19
que se debruçam sobre o fenômeno das sátiras jornalísticas, que relatariam fatos de
forma acessível e engajada (MCCHERNEY, 2011; MCBETH; CLERMONS, 2011).
Lembra-se, todavia, que as sátiras também necessitam de uma cultura jornalística forte
e que tenha mecanismos de verificação também de seus conteúdos (WILLIAMS; DELLI
CARPINI, 2011). Justamente por isso, a prescrição mais ampla desses pesquisadores
passa pelo fortalecimento da cultura jornalística, pela credibilidade da mídia e pelos
procedimentos e rotinas necessários à certificação de conteúdos colocados em
circulação. Carlson (2018) lembra, por exemplo, que muitos têm defendido que mídias
sociais deveriam replicar práticas jornalísticas. E Humprecht (2018) advoga que um
sistema público de comunicação forte pode ajudar a combater a desinformação.
Waisbord (2018, p. 1873) salienta, entretanto, que o contexto contemporâneo
evidencia que os jornalistas (e outros especialistas) não serão capazes de determinar
sozinhos o que é verdade: “Truth is the result of the way publics interpret reality as
they constantly scan, navigate, avoid, and understand information”. Tandoc Jr., Lim e
Ling (2018, p. 148) fortalecem essa visão ao lembrar que “fake news is co-constructed
by the audience, for its fakeness depends a lot on whether the audience perceives the
fake as real”. Isso nos leva ao terceiro grupo de soluções propostas para o
enfrentamento das fake news: seria necessário induzir ou fortalecer certos
comportamentos dos cidadãos para obstruir a marcha das inverdades que assola a
esfera pública. Como afirma Berghel (2017), não basta olhar para a oferta de fake
news, fazendo-se fundamental entender a demanda.
Há ampla literatura a defender o aprimoramento educacional dos cidadãos desde
cedo nos currículos de crianças e jovens, de modo a fomentar a análise crítica de
informações recebidas (BALMAS, 2014; ALLCOTT; GENTZKOW, 2017; BERGHEL,
2017; ALTHUIS; STRAND, 2018; LAZER et al., 2018; RUBIN; CHEN; CONROY, 2018;
PANGRAZIO, 2018). Williams (2018) acredita que, mesmo que não seja possível evitar
que as pessoas consumam fake news, é possível prepará-las para que saibam dos
riscos a que estão sujeitas e saibam como se defender. Berghel (2017) também
defende que não cabe a jornalistas, mas às audiências o papel de filtragem do fluxo
informacional. Waisbord (2018) ressalta a força dos argumentos, na literatura da área,
em favor da urgência de educação dos cidadãos e lembra a ampla produção de guias
didáticos pelas próprias mídias sociais para ajudar na detecção de fake news. Tal
20
vertente partiria da premissa de que o déficit informacional é a principal razão da
ausência de informações corretas.
Para alguns pesquisadores, a observância de cuidados simples poderia evitar
que usuários fossem enganados por fake news. Entre eles, estão: (1) ler além das
manchetes; (2) conferir autoria, datas e links apresentados como suporte para mais
informações; (3) consultar especialistas sobre os temas abordados; (4) considerar que
algumas notícias podem não passar de piadas; (5) tentar se desenvincilhar de ideias
preconcebidas; (6) verificar a fonte, o link do site, a origem da informação; (7) usar
mecanismos de busca de sites de fact-checking; (8) verificar todas referências; (9) ter
atenção às falácias retóricas; (10) examinar qualquer publicidade ou links vinculados
(KIELY; ROBERTSON, 2018; BERGHEL, 2017).
Por mais que sugestões dessa natureza possam ser relevantes, o
comunitarismo, a polarização e a radicalização contemporâneos evidenciam seus
limites (CONROY; RUBIN; CHEN, 2015; ALLCOTT; GENTZKOW, 2017; BAKIR;
MCSTAY, 2017; BERGHEL, 2017; COOKE, 2017; SHU et al., 2017; ALTHUIS;
STRAND; 2018; WILLIAMS, 2018; NASCIMENTO, 2018; LAZER et al., 2018;
PENNYCOOK; RAND, 2018; BENKLER; FARIS; ROBERTS, 2018; PANGRAZIO;
2018; DELMAZO; VALENTE, 2018). Como abordaremos na próxima seção, o
contexto de forte circulação de fake news não parece derivar de uma mera
ingenuidade de atores ou da não compreensão de que notícias são construções e
podem ser falsas. Ao contrário, esse conhecimento se torna tão difundido que tudo é
passível de ser tachado como falso, o que facilita à circulação de inverdades. Antes
de desenvolver este argumento, faz-se necessário, contudo, discutir o quarto grupo
de soluções propostas contra as fake news.
Os antídotos legais/políticos se voltam à proposição de mecanismos de controle
que passam pelo empenho do Estado no combate às fake news. Althuis e Strand
(2018, p. 69), por exemplo, defendem duas ações prioritárias: implementação de
legislação que limite a propagação de fake news e apoio a instituições e entidades
responsáveis por coordenar esforços nacionais a fim de sensibilizar e aumentar o
conhecimento do público sobre o impacto das fake news. Entre os exemplos de
medidas implementadas nos últimos anos, os autores citam três instituições com
atuação internacional criadas pelos países-membros da Organização do Tratado do
21
Atlântico Norte (OTAN): European Centre for Coutering Hybrid Threats (Centro
Europeu de Combate às Ameaças Híbridas), com sede em Helsinque, Finlândia;
NATO Strategic Communications Centre of Excellence (Centro de Excelência em
Comunicação Estratégica da OTAN), situado em Riga, Letônia; e NATO Cooperative
Cyber Defence Centre of Excellence (Centro de Excelência de Cooperação de Cyber
Defesa da OTAN), que fica em Talim, Estônia. Coordenação política e lei seriam os
instrumentos centrais contra as fake news.
Klein e Wueller (2017) fazem uma leitura legal do fenômeno das fake news,
argumentando haver muitos dispositivos jurídicos nos EUA para evitar sua existência.
Os autores discutem vários casos legais em que os argumentos de difamação ou de
geração intencional de sofrimento emocional foram usados em cortes para processar
responsáveis pela publicação de notícias falsas. Abordam, ainda, o Lanham Act e leis
estaduais que proíbem falsas representações de fatos em comerciais. “Businesses
and individuals found to have engaged in consumer fraud or deception can be
permanently enjoined by a court from continuing such conduct in the future and may
be ordered to pay civil penalties and provide consumer redress” (KLEIN; WUELLER,
2017, p. 9). Ademais, muitos estados têm leis severas contra cyberbullying e assédios
online. De acordo com eles, tais leis seriam importantes para constranger as próprias
empresas, o que ficaria evidente, por exemplo, no fato de a Google ter removido, ainda
em 2016, cerca de 200 páginas suspeitas do AdSense. Carlson (2018, p. 11) frisa que
este é um mecanismo muito poderoso para combater fake news: se companhias como
Facebook e Google pararem de remunerar sites de fake news, o problema poderia ser
estrangulado em suas raízes.
A isso se vincula a importância de um debate sobre governança da rede, que
pense em procedimentos e normativas, capazes constranger as empresas a
combaterem a circulação de fake news. Para Brummette e colaboradores (2018), é
fundamental que os responsáveis pelas grandes companhias participem de debates
sociais amplos, de modo a serem convocados a assumir um papel mais central na
resolução da questão. Um exemplo que merece ser observado é uma legislação
alemã de 2017, que consiste no estabelecimento de uma multa de até 50 milhões de
euros a empresas de plataformas digitais como o Facebook, o Twitter e a Google, que
não filtrem ou se recusem a remover fake news, incitações de ódio e outros conteúdos
22
considerados ilegais. A medida foi, contudo, criticada tanto pela sociedade civil quanto
pelas plataformas digitais, por entenderem que limitava a liberdade de expressão
(BAKIR; MCSTAY, 2017; ALTHUIS; STRAND, 2018).
No caso brasileiro, como ainda não há uma legislação específica quanto a fake
news, durante as eleições presidenciais de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
baseou-se nos princípios do direito ao livre pensamento e à liberdade de expressão,
conforme o artigo 5º, inciso IV, e 220 da Constituição Federal, considerados “essenciais
para o debate político-eleitoral no Estado Democrático de Direito” (TSE, 2018, s.p.). No
entanto, a presidente do Tribunal, ministra Rosa Weber, declarou, durante entrevista
coletiva no dia 21 de outubro, que a velocidade e a intensidade de propagação das fake
news apresentam-se como um “fenômeno novo” e um “problema mundial”, contra o qual
ainda se desconhece um “milagre”, ou seja, uma solução definitiva que possa ser aplicada
em larga escala, a fim de coibi-las (VENAGLIA, 2018). Mais recentemente, no dia 14 de
março de 2019, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, abriu
inquérito para apurar fake news e ameaças contra ministros do STF e seus familiares, em
especial no tocante a sua honra e segurança. A investigação, que tramita em sigilo e tem
como relator o ministro Alexandre de Moraes, recebeu reações favoráveis – como a da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que ressaltou a necessidade de se apurar os
fatos e de se punir os responsáveis pelas “mílicias digitais” – e contrárias – por exemplo,
a do Procurador da República Bruno Calabrich, alegando a inconstitucionalidade de uma
medida como essa partir do Judiciário (TUROLLO JR., 2019).
Além dos quatro grandes grupos de antídotos que identificamos, vale concluir
essa seção com a menção a uma outra proposta que não se encaixa nas categorias
anteriormente abordadas. Trata-se da proposta de que se pare de falar de fake news,
justamente para cercear a expansão do pânico moral que está no cerne da própria
difusão de inverdades. Habgood-Coote (2018) salienta que precisamos de mais
pensamento crítico, do fortalecimento dos valores intelectuais da democracia, de
soluções tecnológicas, de fact-checking, de instituições fortes e de líderes científicos
com credibilidade. Mas faz-se necessário também que se pare de difundir o próprio
termo fake news e suas consequências: “Activists who use ‘fake news’ as a tool to
criticise news bias and the problems with digital capitalism need to find new words that
don’t undermine their own aims.” (HABGOOD-COOTE, 2018, p. 25).
23
3. Fake news como parte do repertório de confronto contemporâneo

Até o momento, buscamos apresentar uma revisão de vasta e recente literatura


sobre fake news, explorando as definições do termo, os fatores que teriam
impulsionado o fenômeno (ou sua tematização), o histórico de publicação de
inverdades e os casos mais recorrentes na análise dos trabalhos acadêmicos da área,
bem como alguns dos antídotos propostos contra a crise epistêmica da atualidade.
Interessa-nos, agora, chamar a atenção para a necessidade de pensar a mobilização
das fake news como parte das performances entendidas como disponíveis por atores
diversos em face de adversários políticos. Isso se fortalece, sobretudo, em um cenário
de radicalização (BENKLER; FARIS; ROBERTS, 2018), quando adversários
frequentemente se entendem como inimigos.
Ao propor que se pense a mobilização de fake news como parte do repertório
atual de confronto, não é nosso intuito legitimar tal prática ou minorar suas
consequências nefastas. Entendemos que a crise epistêmica é real e tem
consequências catastróficas para a sobrevivência da democracia. Como estudiosos
de confrontos políticos, interessa-nos identificar práticas largamente empregadas,
independentemente do julgamento moral que façamos sobre elas.
Ao resgatar o conceito de repertório, remetemos à linhagem de estudos de
Charles Tilly que investiga a construção sócio-histórica de conjuntos de possibilidades
de ação que se apresentam como possíveis para atores contenciosos (TILLY, 1978;
ALONSO; MISCHE, 2017; MENDONÇA; BUSTAMANTE, 2018). Tais conjuntos de
ações são históricos e profundamente vinculados às configurações sociais, políticas,
econômicas e tecnológicas da sociedade. Eles se atualizam por meio das práticas de
sujeitos, que, processualmente, testam, cristalizam e deslocam táticas de ação, de
modo a que estas se apresentem como imagináveis e utilizáveis em certos contextos.
Ao propor que se pense nas fake news como parte do repertório contencioso
hodierno, sugerimos que muitos atores contemporâneos em conflito entendem ser
uma tática viável (e, muitas vezes, necessária) produzir e circular mentiras. Não é que
as pessoas não saibam reconhecer o que é falso, mas que as causas morais que
defendem são vistas como tão urgentes, que a mentira pode ser entendida como uma
24
possibilidade válida de ação política. A moralidade deontológica do “não mentirás” vê-
se relativizada pela postura consequencialista em um cenário que relativizou
estruturalmente a própria definição da verdade. Se quase nada é tão verdade assim,
e se quase tudo tem um quê de falso, o compartilhamento (intencional ou ingênuo) de
uma inverdade não pode ser pior do que as consequências da vitória dos adversários
(ou inimigos) políticos.
É preciso deixar claro que nosso argumento não é o de que as pessoas são
enganadas em virtude do viés de seleção que as faz acreditar em notícias falsas,
embora não neguemos que isso ocorra. Ele está mais próximo ao da weaponization of
fake news, embora não se volte tanto às reações a acusações de fake news, como essa
agenda tende a focar. O ponto sobre o qual desejamos jogar luz é o de que talvez as
pessoas não se importem se algo é falso ou verdadeiro e que isso pode acontecer por
diferentes razões. Há, em primeiro lugar, um (grande) conjunto de pessoas dispostas a
produzir, ecoar, compartilhar e promover, deliberadamente, conteúdos inverídicos para
fortalecer suas agendas políticas. Argumentamos que tal postura não se restringe a
lideranças de movimentos e partidos políticos, mas se entranha no tecido social na
medida em que o posicionamento político parece necessário, evidente, ubíquo e
definidor de identidades. Há muitos vizinhos, primos e tios compartilhando fake news
não apesar de serem falsas, mas justamente porque são falsas e porque podem
produzir os efeitos desejados.
Há, em segundo lugar, um grande contingente de pessoas distribuindo, reagindo
e circulando conteúdos falsos de forma inadvertida, mas não porque sejam enganadas,
mas simplesmente porque não se importam em compartilhar fake news. E é aqui que
reside o maior malefício do contexto de pós-verdade. Não é apenas que ele corroa a
verdade; mas que ele faça ruir o valor da verdade, de modo a que muitas pessoas não
se importem em compartilhar mentiras. Para Keyes (2018, p. 20), a própria maneira de
contar mentiras e o sentimento que tal ação pode gerar nos indivíduos se alteraram na
“era da pós-verdade”: “Agora, pessoas inteligentes que somos, apresentamos razões
para manipular a verdade, de modo que possamos dissimular sem culpa”. Ser chamado
de mentiroso ainda é um incômodo, uma ofensa, que segundo o autor, o ser humano
se mostra bastante resistente para admitir. No entanto, como frisa Cooke (2018), o
apelo às emoções ou às crenças pessoais faz com que fatos alternativos (“alternative
25
facts”) ganhem status de notícia, ofuscando e suprimindo ainda mais as informações
que deveriam ser conhecidas e priorizadas pelos cidadãos.
Como assinalam Brummette et al. (2018, p. 512), “society is at risk of
overshadowing the importance and understanding of the ‘fake news’ phenomenon and
possibly even doomed to accept its increasing prevalence and usage”. O mais grave da
crise epistêmica, é que muitas pessoas a aceitam10. Pangrazio (2018) também ressalta
como a força por integrar-se a algo maior pode levar ao compartilhamento de
conteúdos sem qualquer preocupação com a veracidade dos mesmos. Uma pesquisa
reportada por Chadwick, Vaccari e O’Loughlin (2018, p. 4266) revela que 67,7% dos
respondentes admitiam ter compartilhado “notícias problemáticas” nos últimos 30 dias.
Quase 10% admitiam ter circulado conteúdos falsos fabricados e 17,1% reconheciam
ter postado notícias reconhecidamente exageradas. Cabe ressaltar que esses números
estão possivelmente abaixo da realidade, dado o constrangimento de confessar a um
entrevistador que se mente.
O argumento é simples, mas tem implicações para que se pensem antídotos ao
contexto de forte circulação de fake news. Entendemos, por exemplo, que ações
voltadas ao controle de fake news que apostam fortemente na educação de cidadãos
e investem em cartilhas e manuais para ensiná-los como evitar a compartilhar notícias
falsas talvez negligenciem que muitas pessoas desejam (ou não se importam em)
compartilhar algo que é falso, por acreditarem ser necessário fazê-lo. A crença de que
as pessoas estão “presas” em uma rede de inverdades negligencia o fato de que
muitos se valem destas para fins políticos, os quais são entendidos como urgentes e
inquestionáveis. Quantos não mentiram deliberadamente nas eleições para evitar o
“mal maior” (significante vazio que pode ser preenchido com substâncias políticas
variadas)?

10
Registramos aqui a eloquente crítica de Waisbord (2018, p. 1867) à ideia de um contexto de pós-
verdade: “it is foolish to suggest that “post-truth” is also the defining condition of public communication.
The notion we live in a world of absolute relativism is a postmodern folly. Tell that truth is relative to
brave citizens and journalists who speak truth to power, especially amid threats and violence. Also, the
vitality of human rights movements around the world suggests that truth-seeking remains a rallying cry”.
Nesse sentido, embora tenha razão em negar a ideia de uma total relativização da verdade, Waisbord
negligencia o impacto profundo do cenário contemporâneo sobre a própria definição da verdade e sobre
sua valorização em múltiplos contextos da vida.
26
A visão aqui advogada também ajuda a compreender a ineficácia da negação
de fake news, como demonstra recente experimento, desenvolvido pela parceria entre
a Universidade Federal de Minas Gerais, a Universidade Federal de Pernambuco, a
Universidade da Carolina do Norte e a Universidade Emory (LINHARES, 2018). Não
é muito eficiente desmentir uma informação inverídica, porque muitas pessoas não
estão fundamentalmente preocupadas com veracidade, mas apenas em atingir seus
adversários. O valor da “informação” não é mensurado pelo grau de verdade, mas
pela sua capacidade de “produzir estragos”. São as consequências do uso da mesma
que importam, independentemente de sua substância.
Negações e cartilhas funcionariam se as fake news fossem entendidas em um
regime cujo estatuto da verdade permanecesse intocado, o que não parece ser o
caso. Na guerra entre fake news e fake fake news, informações inverídicas são
compartilhadas mesmo que aparentemente inverossímeis, desde que consigam
produzir consequências politicamente úteis. Lidar com esse cenário parece mais
complicado, porque nem a vontade nem o esclarecimento dos cidadãos parece aliado
confiável, quando a verdade deixa de ser vista como passível de existência.

27
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