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“GRIPEZINHA OU RESFRIADINHO”: UMA ANÁLISE DOS DISCURSOS


MIDIÁTICOS DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO SOBRE A COVID-19 A
PARTIR DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS1

Suellen Dias da Silva2


Anderson da Silveira3

Resumo: O presente artigo analisou os pronunciamentos oficiais e as postagens publicadas na


rede social Twitter do Presidente Jair Bolsonaro acerca da Covid-19. Tal análise foi realizada
com base na Teoria das Representações Sociais. O objetivo foi identificar as implicações desses
discursos no âmbito da saúde dos brasileiros, e quais as proporções que a comunicação vinda
de um ator político pode influenciar nas atitudes da população em relação aos cuidados no
combate à pandemia de Covid-19. Para analisar o material textual gerado a partir dos discursos
e postagens, foi utilizado o método Classificação Hierárquica Descendente (CHD), efetuado
com o auxílio do software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles
de Textes et de Questionnaires). Após a organização dos corpora (segmentos de textos do
Twitter e dos pronunciamentos oficiais do Presidente), esta ferramenta informativa auxiliou a
pesquisadora com as classificações dos resultados e análise de dados. Os resultados indicaram
que os elementos representacionais encontrados nos discursos do Presidente Jair Bolsonaro
evocam, principalmente, conteúdos anticientíficos, assim como foi possível perceber que, os
conteúdos dos discursos oficiais do Presidente e de sua página do Twitter possuem muitas
semelhanças. As consideraçoes finais das análises lexicográficas efetuadas pela pesquisadora
com o auxílio do software informativo, identificaram que, os dois corpus textuais trazem
mensagens com elementos negacionistas sobre a situação de emergência de saúde. Ao analisar
o modo como o Presidente se comunica, a partir da Teoria das Representações Sociais, percebe-
se a utilização do sistema de propaganda, com mensagens baseadas na criação de estereótipos
aos grupos opositores. Também foi possível identificar elementos do sistema de propagação,
como estratégia para a manutenção da coesão do seu grupo político.

Palavras-chave: Covid-19. Redes Sociais. Teoria das Representações Sociais.

Abstract: This article analyzed the official presidential pronouncements and posts published
on the social network Twitter of the President Jair Bolsonaro about Covid-19. Such analysis
was carried out based on the Theory of Social Representations. The objective was to sought it
to identify the implications of these speeches in the context of the Brazilians’s health, and what
are the proportions that communication from a political actor can influence in the population's
attitudes towards care in combating the Covid-19 pandemic. The Descending Hierarchical
Classification (CHD) method was used to analyze the textual material generated from the
speeches and posts, with the support of the IRAMUTEQ software (Interface of R pour les
Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires). After organizing the corpora (segments
of Twitter texts and the President's official pronouncements) this informative tool helped the

1
Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina,
como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga. Orientador: Me. Anderson da Silveira.
2
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, sdiasuellen@gmail.com
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Titulação, instituição, vinculação
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researcher with the classification of results and data analysis. The results showed that the
representational elements found in the President Jair Bolsonaro's speeches mainly evoke anti-
scientific content also the two analyses concluded that the contents of the President's speeches
and his Twitter page have many similarities. The lexicographic analysis carried out by the
researcher with the support of the informational software conclued that the two textual corpus
bring messages with negative elements about the health emergency situation. When analyzing
the way in which the President communicates based on the Theory of Social Representations,
the use of the propaganda system is perceived with messages based on the creation of
stereotypes to the opposing groups. It was also possible to identify elements of the propagation
system as a strategy for maintaining the cohesion of its political group.

Keywords: Covid-19. Social Media. Theory of Social Representation

1. INTRODUÇÃO

“Gripezinha ou resfriadinho”. Estas foram as palavras utilizadas pelo Presidente da


República do Brasil, Jair Bolsonaro, no seu pronunciamento oficial sobre a pandemia de Covid-
19 no dia 24 de março de 2020. Em tempos em que a Covid-19 tornou-se o grande alvo das
políticas de governo e um desafio para o sistema público de saúde, o representante do País
contraria a ciência quando diz em rede nacional (Presidência da República, 2020) que: “No meu
caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus não precisaria
me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou
resfriadinho”. Neste mesmo dia o Ministério da Saúde (2020) havia confirmado 2.201 casos de
coronavírus no Brasil e 46 mortes.
O surto do coronavírus de 2019 (coronavirus disease of 2019 [COVID-19]) - Síndrome
Respiratória Aguda Grave (Severe Acute Respiratory Syndrome - SARSCoV-2) teve seu
primeiro caso confirmado na cidade de Wuhan, na China em dezembro de 2019. O vírus
espalhou-se tão rapidamente pelo mundo que, em janeiro de 2020, a Organização Mundial da
Saúde classificou sua propagação como uma Emergência em Saúde Pública e Interesse
Internacional (ESPII) (WANG, et al., 2020). Tendo em vista a grande proporção de
disseminação do vírus, as políticas de saúde acentuaram a necessidade de isolamento social
para diminuir o nível de contágio, assim como não colapsar o sistema de saúde de todo o mundo
(WANG, et al., 2020).
Diante do cenário específico da Covid-19, o Presidente da República insistiu em
contrariar as regras de isolamento social, sendo visto em várias ocasiões em lugares públicos e
aglomerações. Em seus discursos compartilha ideias contraditórias às medidas de proteção e
combate ao coronavírus estipulados pelas autoridades de saúde. O Presidente da República,
como chefe do Executivo do Estado Brasileiro, teria o dever de proteger a nação, utilizando os
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recursos midiáticos para disseminar informações que indicassem as melhores práticas de


prevenção ao Covid-19, uma vez que, a mídia é uma ferramenta fundamental de acesso à
informação sobre a pandemia (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2020).
Além dos discursos proferidos e das entrevistas realizadas em frente ao Palácio da
Alvorada, toda a movimentação do Presidente acerca da pandemia pôde ser acompanhada
através da sua rede social Twitter, que no momento desta pesquisa, contava com cerca de
6 milhões e 500 mil seguidores e tornou-se o principal veículo de comunicação e debates
políticos do Presidente na atual conjuntura política, juntamente com suas lives, realizadas todas
as quintas-feiras em seu canal no Youtube.
O Twitter é uma plataforma de comunicação composta por usuários que buscam discutir
os mais diversificados assuntos, principalmente relacionados a temas sociais, políticos e
econômicos, onde “os discursos constituem-se em enunciados apoiados em formações
discursivas específicas e diversas, que vão atuar em uma guerrilha informativa, que busca uma
hegemonia de sentido sobre outro discurso” (RECUERO; SOARES, 2020, p. 3). Então, o
Twitter é mais do que uma simples rede social, ele pode ser um local virtual de disputa
discursiva, onde os influenciadores de conteúdo, ou “pontes”, buscam legitimar as informações
compartilhadas com grupos distintos através do maior alcance de visibilidade (RECUERO et
al., 2019). Os influenciadores de conteúdo, em relação a este estudo, são pessoas que
compactuam com as opiniões do Presidente Jair Bolsonaro. Estas pessoas, introduzem as
conversações políticas nas mídias sociais com a intenção de influenciar e afetar o
posicionamento de outros usuários da rede sobre o tema Covid-19, criando “bolhas” de usuários
que propagam as mesmas ideias, isso ocorre segundo Moscovici (1961/2012) muitas vezes
baseadas em ataques contra grupos opositores, gerando assim uma forte coesão grupal.
Para Allcott e outros (2020), os sujeitos nas redes sociais assumem papéis de
consumidores e produtores, eles transformam essas ferramentas em grandes espaços de
discussões de interesse público, especialmente, no que diz respeito às opiniões políticas,
influenciando nas práticas cotidianas dos usuários. Sendo assim, o ambiente virtual cria um
distanciamento físico entre os usuários e pode promover disfunções nos diálogos, ou seja, a
comunicação ocorre geralmente através da escrita e cabe a cada um fazer a sua interpretação.
Por isso é importante refletir sobre como as informações circulam nos meios de comunicação
midiáticas, como são interpretadas e apropriadas pela sociedade.
Com a aceleração no desenvolvimento das ferramentas de Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC’s) e o advento das redes sociais, as subjetividades humanas começaram a
ser “invadidas” por um excesso de informação, uma característica das novas práticas de
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estratégias midiáticas. Neste novo modelo de relações nas redes sociais, surge o fenômeno da
pós-verdade, que segundo o Dicionário de Oxford (apud. GUARESCHI, 2019) significa:
“influência na formação da opinião pública” ou “apelos à emoção e às crenças pessoais”, ou
seja, este fenômeno surge para influenciar diretamente na dimensão psíquica e psicossocial das
pessoas e dos grupos (GUARESCHI, 2019).
Além dos estudos recentes sobre a influência das comunicações midiáticas na
constituição de subjetividades, encontra-se na Teoria das Representações Sociais justificativas
que auxiliam na compreensão dos conteúdos discursivos da mídia e a sua influência na
construção de saberes coletivos. As representações sociais são construídas e difundidas por
meio da interação entre os sujeitos, em que a prática da comunicação influencia diretamente no
cotidiano onde as pessoas estão expostas à um verdadeiro “mercado de ideias” (MOSCOVICI,
1961/2012). As comunicações podem ocorrer em três dimensões psicossociais, são elas: 1)
Propaganda: sistema caracterizado por temas ordenados sistematicamente e bem definidos em
antagonismos, com intenção persuasiva de controlar e organizar. Também pode ser usada como
estratégia de criar uma imagem negativa de um objeto como forma de valorizar as teses
defendidas pelo próprio grupo. Está relacionada com os estereótipos; 2) Propagação: formado
por um grupo que possui uma visão de mundo organizada em torno de uma crença a propagar,
sem a intenção de criar condutas. Os conteúdos externos (ciência) são acomodados de acordo
com os valores de um grupo, com o objetivo de manter a coesão deste grupo. Relaciona-se com
o campo das atitudes, sobretudo sua manutenção; 3) Difusão: direcionado a um grupo social
com identidade difusa, ocorre quando a imprensa divulga informação sem se aproximar do
assunto, eles chamam especialistas por exemplo. É um tipo de comunicação cujo objetivo é
alcançar grandes públicos, logo não está implicada estabelecer qualquer tipo de controle do
comportamento de seu público, seu foco é a audiência. Limita-se ao campo da opinião
(MOSCOVICI, 1961/2012).
Portanto, as pessoas constroem significados em comum sobre determinado objeto
através da comunicação, que na modernidade está ocorrendo com mais frequência por veículos
midiáticos e redes sociais. Estes veículos de comunicação na contemporaneidade banalizaram
a formação social e podem estar categorizados em um dos “níveis de comunicação” segundo
Jodelet (2001, p. 30) em que essa comunicação ocorre:

[...] ao nível da emergência das representações cujas condições afetam os aspectos


cognitivos (sendo as condições: a dispersão e a defasagem das informações relativas
ao objeto representado; o foco sobre certos aspectos do objeto, em função dos
interesses e da implicação dos sujeitos; e a pressão à inferência referente à necessidade
de agir, de tomar posição ou de obter o reconhecimento e a adesão dos outros).
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Neste sentido, as redes sociais e as mídias em massa não são somente responsáveis pela difusão
de informações, mas também podem provocar construções ideológicas de valores na estrutura
da sociedade.
A mídia de massa é uma importante difusora de representações sociais na
contemporaneidade. A relação entre a Teoria das Representações Sociais e os estudos da mídia
de massa surge na obra fundadora desta teoria, intitulada “A Psicanálise, sua imagem e seu
público”, de Serge Moscovici (1961). Neste livro, publicado originalmente na década de 1960,
Moscovici investigou a forma como a imprensa francesa representava a psicanálise de
diferentes formas. Vale salientar, que a escolha de tal objeto de representação – a Psicanálise –
decorreu do fato desta ser uma teoria e uma prática pautadas em princípios científicos, logo sua
divulgação na imprensa francesa deveria reproduzir estes mesmos princípios de forma objetiva
e neutra. Porém, o que se observou é que o processo de comunicação “arranja” os elementos
constitutivos do objeto, a depender das intenções de cada veículo.
Como fonte de sua pesquisa, Moscovici (1961/2012) analisou três grupos midiáticos: o
primeiro grupo representado pela grande imprensa e os outros dois grupos voltados para nichos
específicos, a imprensa católica e a impressa vinculada ao partido comunista. Como resultado,
o autor constatou que cada uma das fontes representou a psicanálise de um modo específico,
utilizando modalidades de comunicação distintas, diretamente relacionadas aos efeitos que a
fonte pretendia produzir em seus leitores.
Estudos recentes corroboram a ideia de que a mídia influencia diretamente na construção
do imaginário social sobre diversos assuntos. Em uma pesquisa sobre representações sociais do
crack na mídia, Rodrigues e outros (2015) analisaram 79 reportagens do jornal Correio
Braziliense para identificar como a mídia local atua no comportamento das pessoas em relação
à usuários de crack. Foi possível concluir que, a maioria das reportagens relacionam o consumo
de crack à comportamentos violentos, consequentemente a população que acompanha as
matérias deste jornal, representam o crack com estigma de marginalização, em que os usuários
são perigosos e por isso devem ficar afastado da sociedade.
Em um artigo sobre disputas discursivas no Twitter acerca da corrupção no Brasil, Paiva
e outros (2017) analisaram os conteúdos de publicações (tweets) de contas da rede social da
revista Veja e da revista CartaCapital, assim como os enunciados que representassem respostas
dos usuários/leitores às postagens. A pesquisa concluiu que os textos publicados por estas duas
contas, são moralistas e influenciam negativamente na formação de opinião pública sobre
corrupção no Brasil, pois são caracterizadas por discursos político-partidários, sendo uma de
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esquerda (CartaCapital) e a outra de direita (Veja). Neste sentido, a representação social


mantida nestes discursos sobre corrupção no Brasil, é de que esse fenômeno é naturalizado no
país, onde cada grupo político-partidário persegue o seu adversário em busca de provas de atos
corruptos.
Para avaliar o impacto das palavras e ações do presidente Jair Bolsonaro sobre o
comportamento dos brasileiros, Ajzenman e outros (2020) compararam os dados das eleições
de 2018 com os dados geográficos de telefones celulares de mais de 60 milhões de dispositivos.
O estudo concluiu que após o presidente descartar os riscos da pandemia e criticar o isolamento
social, houve uma diminuição na prática de isolamento social em localidades onde existia maior
concentração de pessoas pró-governo em relação aos locais onde a presença de eleitores do
presidente era menor. Esse estudo evidencia de forma empírica como um discurso com grande
circulação nos meios de comunicação é capaz de influenciar as práticas sociais relativas a um
determinado objeto. Logo, corrobora a ideia de Jodelet (2001) de que as representações sociais
atuam como guias das condutas.
Diante da premissa de que a mídia é um importante elemento de difusão das
representações sociais e, sendo estas representações importantes na condução das condutas dos
grupos sociais, esta pesquisa buscou o alcance do seguinte objetivo geral: analisar os discursos
do Presidente Jair Bolsonaro sobre a Covid-19 a partir da Teoria das Representações Sociais.
Para o alcance do objetivo principal, foram traçados os seguintes objetivos específicos: a)
coletar o conteúdo dos discursos do Presidente Jair Bolsonaro sobre a Covid-19; c) identificar
os conhecimentos utilizados pelo presidente para a justificação dos seus discursos e postagens;
d) identificar as atitudes do presidente a respeito das práticas relativas aos cuidados com a
Covid-19; e) identificar os elementos de ancoragem e objetificação presentes nos seus discursos
e postagens sobre a Covid-19; f) identificar o tipo de comunicação adotada pelo Presidente, a
partir dos sistemas de comunicação presentes nas proposições de Moscovici (1961/2012); e, h)
capturar os sentidos que este ator político atribui à Covid-19.
O alcance desses objetivos poderá contribuir para o estudo das representações sociais
elaboradas a partir de novas mídias de comunicação social – as redes sociais. Como
contribuição social, o estudo buscará promover uma reflexão sobre os papéis dos meios de
comunicação com o objetivo de evidenciar os impactos negativos das chamadas fakenews, que
no caso deste projeto inclui a relação entre a comunicação gerada numa rede social e sua
influência direta no processo de cuidado de saúde da população brasileira durante o ciclo da
pandemia da Covid-19.
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2. MÉTODO

Esta pesquisa é caracterizada pelo seu enfoque qualitativo de abordagem documental,


pois pretende compreender os significados, crenças, percepções e atitudes compartilhados
socialmente via o processo de comunicação de um ator político. A análise dos dados
qualitativos pode ocorrer de várias maneiras, desde que inclua a comunicação humana, em que
o trabalho é desenvolvido através de imagens, vídeos, falas ou produções textuais já existentes
ou produzidas pelo pesquisador (JODELET, 2003). Neste sentido, esta pesquisa teve um
delineamento particular aplicado à um campo da mídia já existente, a página da rede social
Twitter do Presidente Jair Bolsonaro e seus pronunciamentos oficiais divulgados no site do
Planalto.
Quanto aos objetivos gerais, a pesquisa é descritiva, pois buscou identificar e descrever,
as representações sociais sobre a Covid-19 oriundas dos discursos proferidos pelo Presidente
Jair Bolsonaro. Segundo Jodelet (2003), as pesquisas qualitativas podem ser aplicadas em
diferentes realidades sociais, culturais e psicológicas, onde encontram-se crenças, valores,
condutas, “[...] ou das coletividades frente à um evento que surge na sua história (uma doença,
um acidente natural ou técnico, uma mudança política etc).” Sendo assim, a fim de viabilizar a
análise dos dados de acordo com o prazo disponível para a realização do trabalho de conclusão
de curso, as fontes foram compostas por publicações e pronunciamentos realizados no período
de março de 2020 até outubro de 2020, o que caracteriza o corte longitudinal do estudo.
Foram utilizadas como fontes de informação textos da página do Twitter do Presidente
Jair Bolsonaro (https://twitter.com/jairbolsonaro), selecionados a partir do filtro de busca
avançada da página (https://twitter.com/search-advanced) com as seguintes palavras-chaves:
covid-19, coronavírus e pandemia. Também foram analisados os seus pronunciamentos e
discursos oficiais nas redes de televisão e rádio nacionais registrados no site oficial do Palácio
do Planalto (https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/pronunciamentos;
https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/discursos) sobre a Covid-19. Esta
última coleta ocorreu de forma manual, verificando todos os textos a partir do primeiro
pronunciamento oficial acerca da Covid-19 em 6 de março de 2020. O conjunto destes textos
gerou os dois corpus textuais que foram organizados e analisados na presente pesquisa. Para
organizar a coleta dos dados e formar os corpora (composto pelos dois corpus textuais), foi
elaborado um roteiro de coleta de dados, de acordo com o modelo proposto a seguir.
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Tabela 1. Roteiro de Coleta de Dados.

Fonte de informação Data Texto

Indicar se trata de uma postagem


do Twitter ou se é material derivado Indicar a data do acontecimento Inserir o texto na íntegra.
de um pronunciamento/discurso

Fonte: a autora, 2020.

Após a reunião de todos os textos dos pronunciamentos oficiais e tweets acerca da

Covid-19, estes textos foram transportados da tabela criada pela autora para a análise (corpora)

do software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et

de Questionnaires). Este software permite a realização de análises lexicográficas, constituindo-

se como uma ferramenta de grande utilidade para análise de dados textuais. Uma de suas

vantagens é que o algoritmo do IRAMUTEQ realiza a análise dos dados coletados com base na

semelhança vocabular do material, com base em cálculos estatísticos, diminuindo assim o viés

de análise por parte do pesquisador (JUSTO; CAMARGO, 2014). Cabe ao pesquisador

empreender a interpretação das análises com base nas técnicas possibilitadas pelo software.

Para o tratamento e análise do corpus textual, foram utilizadas as seguintes técnicas de

análise, conforme orientações disponíveis em Justo e Camargo (2014):

a) Análise lexicográfica básica: abrange a lematização e o cálculo de frequência de

palavras. Esta análise tem o objetivo de fazer uma exploração inicial do material

coletado.

b) Classificação Hierárquica Descendente ou método Reinert: por meio desta

técnica se buscará fazer uma síntese do material textual, com o objetivo de

encontrar os elementos representacionais (ancoragens e objetificações) contidos

nas comunicações do Presidente Jair Bolsonaro, sobre a Covid-19.

A reunião destas técnicas possibilitou a decomposição do texto por meio da criação de


categorias de análise, a partir da formação de Classes de segmentos de textos realizadas pelo
IRAMUTEQ. Estas foram nomeadas e interpretadas pela pesquisadora, que procedeu
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posteriormente à discussão dos dados à luz da Teoria das Representações Sociais, buscando
sintetizar os resultados encontrados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todas as 11 classes (6 do Twitter e 5 dos pronunciamentos) geradas pela CHD foram


nomeadas pela pesquisadora, sendo que esta selecionou as 10 palavras dos Segmentos de Texto
(ST’s) típicos de cada Classe, de cada corpus, tendo como critério de seleção a ordem
decrescente de associação baseada no valor de χ² (calculo estatístico do software) entre os ST’s
(Segmentos de Textos) e a Classe. As Classes foram interpretadas pela pesquisadora com base
no conteúdo dos ST’s, conforme podem ser verificados nos dendrogramas (Figuras 1 e 2)

3.1 ANÁLISE DAS POSTAGENS DO TWITTER

A CHD dividiu o corpus do Twitter em 190 textos, os quais foram desmembrados em


212 ST’s, destes 168 (79.25%) foram utilizados efetivamente na análise. A CHD dividiu o
corpus em subcorpus, gerando 6 Classes (figura 1). Primeiro o corpus foi dividido em três sub-
corpora, separando as Classes 4 e 6 do restante do material, pois estes apresentaram menor
semelhança vocabular com as demais. Num segundo momento o sub-corpora maior foi
dividido, originando as Classes 1, 2, 3 e 5. As Classes do corpus da análise do Twitter receberam
os seguintes nomes: Classe 5) ações do governo; Classe 1) investimentos; Classe 3) recurso
hospitalar; Classe 2) auxílio emergencial; Classe 4) volta ao trabalho e Classe 6)
hidroxicloroquina.

Figura 1: Dendrograma das Classes do corpus do Twitter geradas pela classificação CHD.
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Fonte: a autora, 2020.

No processo de divisão das Classes, o software aproximou algumas Classes que


apresentaram alto nível de semelhança vocabular em seus ST’s. Neste sentido, pôde-se observar
que as Classes 5 (ações do governo) e 1 (investimento) compostas respectivamente por 23 ST’s
e 30 ST’s totalizaram 31,55% do corpus analisado. Estas duas Classes se aproximam porque
ambas são compostas por conteúdos que versam sobre as ações e os investimentos nos quais, o
governo brasileiro está implementando durante o momento de pandemia. Os elementos que
estão introduzidos no resultado destas Classes são: as parcerias do Governo Federal com
autoridades militares e forças armadas, financiamentos de pesquisa em laboratórios de saúde
pública para produção de testes de detecção de Covid-19 e investimentos destinados à produção
da vacina de Oxford. Sobretudo, tratam de alinhamentos do Poder Executivo junto aos
municípios brasileiros para conter a disseminação do vírus, sendo os municípios responsáveis
por determinarem as medidas preventivas. Finalmente, estas duas Classes representam as redes
sociais do Governo Federal e do Presidente Jair Bolsonaro, como sendo os canais verdadeiros
sobre as informações acerca da pandemia e das movimentações do governo, conforme
publicado no Twitter @jairbolsonaro no dia 23 de março de 2020: “Para maiores detalhes
verdadeiros acompanhe as postagens diárias, há semanas, dos perfis nas redes sociais”.
Percebe-se que este tipo de comunicação busca expor uma mensagem explícita, ou seja,
ela é suficientemente clara ao propor que, os seguidores desta página podem confiar nos
conteúdos publicados, pois segundo o Presidente, são verdadeiros. Esta estrutura de transmissão
de mensagens, segundo Moscovici (2012, p. 335), pode ser caracterizada como comunicação
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de propagação, que ocorre quando “as comunicações não se propõem a produzir uma conduta,
mas somente criar normas ou a convergência em torno de uma doutrina que seja aceitável.”
Sendo assim, o grupo de pessoas formado por apoiadores do Presidente, que já seguem e apoiam
os seus discursos, tendem a valorizar ainda mais suas narrativas que são reforçadas diariamente
por intermédio das suas redes sociais. Outro efeito importante a se considerar, é que se suas
mensagens são verdadeiras, então mensagens que destoam do seu discurso devem ser
consideradas como falsas. Vale lembrar que um dos slogans de campanha do presidente era o
texto bíblico do livro do Evangelho de João “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
As Classes 3 (recurso hospitalar) e 2 (auxílio emergencial) representam juntas 30,96%
do corpus analisado, elas apresentam respectivamente 30 ST’s e 22 ST’s. As variáveis contidas
nestas duas Classes se assemelham devido aos conteúdos sobre a criação de novos recursos
emergenciais frente à pandemia de Covid-19. A Classe 3 focou nos recursos disponibilizados
para atender a contratação de funcionários da área da saúde, para a aquisição de medicamentos
e respiradores, para construções de hospitais de campanha e para a adaptação de leitos de UTI
para pacientes em tratamento de Covid-19. Já a Classe 2 gerou palavras relacionadas ao
investimento do programa “auxílio emergencial” da Caixa Econômica Federal. Os elementos
principais desta Classe são: a ampliação do horário de atendimento das agências, a disposição
de barcos agências para população ribeirinha e a liberação do auxílio emergencial para 43
milhões de brasileiros. Em linhas gerais, o Presidente Jair Bolsonaro buscou apresentar nestas
2 classes que o Brasil é exemplo mundial no que se refere à investimentos para conduzir o país
neste momento pandêmico, conforme pode ser visto em alguns tweets, como este do dia 8 de
maio de 2020: “Brasil investe mais que a média dos países avançados no combate ao covid-19.
Balanço da Secretaria Especial de Fazenda do @MinEconomia aponta esforço fiscal de 394,4
bilhões no enfrentamento ao coronavírus”.
Este tipo de mensagem em que o Presidente diz que o Brasil investe mais que os países
avançados economicamente, mostra que esta informação foi construída através de uma
ancoragem (primeiro processo básico na construção do saber comum). Este processo de
ancoragem, é definido pelos processos cognitivos que uma pessoa é capaz de acessar no seu
campo de memória, com o objetivo de entender determinado objeto desconhecido, neste caso,
a economia mundial (MOSCOVICI, 1961/2012). No caso da fala do Presidente, ele utilizou da
sua própria compreensão sobre a situação econômica mundial para dizer que está tomando as
devidas precauções frente à pandemia. Ele também utilizou um recurso de seu poder, o
Ministério da Economia @MinEconomia, para fazer uma afirmação de âmbito mundial ao
comparar a situação do Brasil com países avançados. Para oferecer informações sem intenções
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de manipular seus seguidores, seria apropriado utilizar dados estatísticos concretos e não apenas
utilizar um jogo de retórica. Esta forma de usar um conhecimento reificado (científico) para
transformar em saber coletivo, segundo Moscovici (1961/2012), caracteriza-se pela segunda
dimensão básica do processo de representações sociais de um objeto: a objetificação
(justificação do objeto aprendido no processo de ancoragem).
A Classe 4 nomeada “volta ao trabalho” representa 39 ST’s e 23.21% desta análise,
sendo assim, o maior número de segmentos textuais estão nesta Classe. Isso evidencia que o
Presidente utilizou a sua página no Twitter para validar a sua ideia de o Brasil ter que voltar ao
trabalho. Nela encontra-se o negacionismo do Presidente da República em tratar a Covid-19
como assunto emergente. No dia 23 de agosto de 2020 ele diz que: “OMS em 21 de agosto, a
pandemia é a prova de que saúde e economia são inseparáveis. Desde março alertei que
tínhamos 2 graves problemas, o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados
simultaneamente”. Este tweet mostra a intenção de igualar o vírus à economia. Buscou-se
localizar a fonte desta mensagem da OMS, porém só foi encontrado uma fala do seu Diretor em
agosto, que pode ter sido distorcida com intenção de disseminar uma informação baseada em
fakenews:

A COVID-19 sempre seguirá o caminho de menor resistência. Sabemos que quando


os países tomam uma abordagem abrangente baseada em medidas fundamentais de
saúde pública e uma abordagem de toda a sociedade, a COVID-19 pode ser colocado
sob controle, salvando vidas e permitindo que sociedades e economias funcionem.
Mas na maior parte do mundo o vírus não está sob controle - ele está prosperando em
atraso, negação e divisão (GHEBREYESUS, 2020, p. 1).

As palavras selecionadas nesta Classe, também representam as evocações do Presidente


no sentido de fazer o País voltar à normalidade, ou seja, incentivando a população sem
comorbidades e não idosos a quebrarem as regras de quarentena e voltar ao trabalho,
dificultando assim, a diminuição do nível de contágio do vírus, como pode ser visto no tweet
do dia 25 de março de 2020:

Não queremos descaso com a questão da Covid-19. Apenas buscamos a dose


adequada para combater esse mal sem causar um ainda maior. Se todos colaborarem,
poderemos cuidar e proteger os idosos e demais grupos de risco, manter os cuidados
diários de prevenção e o país funcionando.

Na mensagem citada acima, encontra-se um exemplo de comunicação de propaganda.


Nela o transmissor tem o objetivo de criar condutas, atacando opiniões opositoras, neste caso
através de um elemento representacional: “o que eu faço é para o bem do país” (MOSCOVICI,
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1961/2012). Sendo assim, a mídia tem um papel importante na construção de ideias e narrativas
na contemporaneidade, ela atribui sentidos a determinados objetos, atuando como uma
ferramenta de ação sobre o mundo (CAMARGO, 2014).
Ainda na Classe 4, encontram-se conteúdos acerca da movimentação da economia
durante a pandemia, como aumento do agronegócio, construção de rodovias, portos, aeroportos
e hidrelétricas, o que pode representar uma tentativa de atenuar e até mesmo negar os efeitos
da pandemia, sendo que no dia 6 de julho de 2020 (dia do tweet abaixo) já haviam 37.923 casos
confirmados de Covid-19 e uma média de 1.091 morte diárias no Brasil (WHO, 2020). Além
destes investimentos em obras, o Presidente continuou postando mensagens, na intenção de
criar uma versão da realidade baseada na propagação de mensagens que defendiam a ideia de
que o Brasil era o país que mais salva vidas na ocasião:

Em meio à crise mundial, o Brasil dá sinais de retomada, trabalhando para atrair


investimentos mundiais e empregos. Assim como em 2019, quando retomamos a
confiança e investimentos recordes. Somos um dos países que mais investiu na
pandemia e um dos que mais salvam vidas.

Percebe-se que ao indicar uma suposta retomada da economia brasileira, o Presidente


criava um efeito de “zona muda” (ABRIC, 2005) em torno dos assuntos relacionados ao número
de mortos, dificuldade de estabelecer um diálogo com os estados e municípios, por exemplo. A
zona muda é um fenômeno estudado por teóricos das representações sociais que “[...] faz parte
da consciência dos indivíduos, ela é conhecida por eles, contudo ela não pode ser expressada,
porque o indivíduo ou o grupo não quer expressá-la pública ou explicitamente (ABRIC, 2005,
p. 23). São assuntos, opiniões, crenças que o sujeito tem de si mesmo, mas não expressa por
querer manter sua fala de acordo com a conformidade social.
Finalmente, a Classe 6 (hidroxicloroquina) revela a defesa do medicamento
Hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19. Esta Classe é composta por 24 ST’s e reteve
14.29% do corpus de análise. Vale ressaltar que o discurso em defesa da Hidroxicloroquina no
Twitter do Presidente começou no mês de março, teve uma pausa em agosto (foco do mês foi
vacina e testes) e seguiu até outubro (final da coleta de dados desta pesquisa). Esta análise
compõe os segmentos de textos associados à opinião pessoal do Presidente a respeito do
medicamento, no qual a WHO já evidenciou que não é eficaz para este tipo de vírus:

As evidências atuais sobre a eficácia e segurança da hidroxicloroquina para o


tratamento de COVID-19 é limitado e de pouquíssima certeza. A hidroxicloroquina
não foi associada a uma diferença na mortalidade geral quando comparada ao
tratamento padrão para o tratamento de COVID-19. As limitadas evidências
sugeriram que a hidroxicloroquina pode resultar em mais eventos adversos do que o
14

tratamento padrão para o tratamento de COVID-19. A certeza geral da evidência para


todos os resultados foi muito baixa [...] (WHO, 2020, p. 1).

Esta Classe ficou próxima da Classe 4, pois existem semelhanças vocabular entre os materiais
sobre o fato de a economia não poder parar, conforme este tweet do dia 8 de abril de 2020:

Há 40 dias venho falando do uso da Hidroxicloroquina no tratamento do COVID-19.


Sempre busquei tratar da vida das pessoas em 1º lugar, mas também se preocupando
em preservar empregos. Fiz, ao longo desse tempo, contato com dezenas médicos e
chefes de estados de outros países (Presidência da República, 2020).

Nesta última Classe apareceram os acordos econômicos que foram feitos com os
Estados Unidos da América (EUA) para a parceria no uso da Hidroxicloroquina e Azitromicina,
sendo que a aquisição destes medicamentos teve seus impostos zerados. Outra questão
pertinente à esta análise, foi a contradição encontrada acerca da fase da doença que a
Hidroxicloroquina deveria ser administrada pelos pacientes diagnosticados com Covid-19. No
dia 25 de março de 2020 o Presidente diz que “[..] zeramos o Imposto de Importação da
cloroquina e da azitromicina, para uso exclusivo de hospitais em pacientes em estado crítico
[...]”, já no dia 20 de maio de 2020 ele muda de opinião quando diz que “O @minsaude divulga
orientações para tratamento da Covid-19, onde a Cloroquina pode ser ministrada em casos
leves, com recomendação médica e autorização do próprio paciente-família.”
A partir do corpus do Twitter conclui-se que os discursos midiáticos desta natureza
utilizam de fenômenos psicológicos, como crenças, valores, motivações, para construir novas
realidades que possam ser vistas como verdade, um fenômeno decorrente da pós-verdade. Após
as eleições de Trump e Bolsonaro, a pós-verdade deixou de ser assunto acadêmico e passou a
ser utilizado por líderes de extrema direita, a fim de pregar a polarização política na sociedade
“a pós-verdade não é o debate sobre pontos de vistas diferentes sobre um mesmo fenômeno. É
a construção irreal do fato ou sua negação” (SILVEIRA, 2019, p. 13). Percebeu-se que as
postagens do Presidente seguem características de um sistema de comunicação amplamente
baseado naquilo que Moscovici nomeou como propagação: utilização de símbolos para passar
a imagem desejada; e propaganda: atribuições de estereótipos de grupos opositores.

3.2 ANÁLISE DOS PRONUNCIAMENTOS E DISCURSOS PRESIDENCIAIS

O corpus construído a partir do registro dos pronunciamentos e discursos presidenciais


foi formado por 21 textos. Estes foram submetidos a uma CHD que desmembrou os 21 textos
em 580 Segmentos de Textos (ST’s), sendo que destes 580 ST’s, 455 (78.45%) foram
15

retidos/aproveitados na análise. Alguns segmentos de texto são excluídos da analise, pois para
o software não são representativos da Classe. A CHD dividiu o corpus em subcorpus, gerando
5 Classes (figura 2). Primeiro o corpus foi dividido em dois sub-corpora, separando a Classe 2
do restante do material. Num segundo momento o sub-corpora maior foi dividido, originando
as Classes 1, 3, 4 e 5. As Classes do corpus pronunciamentos e discursos receberam as seguintes
nomenclaturas: Classe 5) ataque à imprensa; Classe 4) voltar à normalidade; Classe 1) voz da
verdade; Classe 3) anticiência; Classe 2) proteção ambiental. As classificações (CHD) pararam
aqui, pois as Classes dos dois corpus textuais mostraram-se estáveis, ou seja, compostas de
unidade de segmento de texto com vocabulário correlacionados.

Figura 2: Dendrograma das Classes do corpus dos pronunciamentos e discursos geradas pela
classificação CHD.

Fonte: a autora, 2020.

Nas Classe 5 (ataque à imprensa) e 4 (volta à normalidade) classificaram-se


respectivamente, 95 ST’s e 101 ST’s, totalizando 43.08% do corpus desta análise, sendo que
22,2% da Classe 4 representou o maior número de ST’s retidos nesta análise, juntamente da
Classe 1 (voz da verdade) também com 22,2%. Neste sentido, vale destacar que os
pronunciamentos oficiais do Presidente, buscaram enfatizar a necessidade de o país voltar à
normalidade, pois segundo ele, é verdade que as pessoas poderiam voltar ao trabalho com
segurança. Então, as palavras selecionadas nestas duas classes fazem parte dos conteúdos de
segmentos de texto relacionados às notícias publicadas na grande mídia sobre a Covid-19 e a
necessidade de a economia voltar a normalidade. Segundo o Presidente, a mídia causou pânico
e histeria, deixando a população com medo de sair de casa, levando o país ao alto índice de
16

desemprego, o que pode ser verificado neste segmento do pronunciamento do dia 16 de abril
de 2020:

Desde o começo eu busquei levar uma mensagem de tranquilidade. O clima quase de


terror se instalou no meio da sociedade. Isso não é bom, porque uma pessoa que vive
sob tensão, num clima de histeria, é uma pessoa que está propensa a adquirir novas
doenças ou agravar aquelas que ela já tem.

No dia 22 de setembro de 2020 ele continua criticando a mídia no seu discurso na


abertura da 75º Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), “como aconteceu
em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus,
disseminando o pânico entre a população. Sob o lema fique em casa e a economia a gente vê
depois, quase trouxeram o caos social ao país” (Presidência da República, 2020), ou seja, o
Presidente criticou o serviço da imprensa e se mostrou contra a quarentena indicado
mundialmente pela OMS. Vale destacar que na Classe 4, encontra-se uma comparação feita no
dia da primeira substituição do Ministro da Saúde Henrique Mandetta com o Ministro da
Economia Paulo Guedes, no qual o Presidente justifica a sua decisão, mostrando sua opinião
pessoal perante assuntos que envolvem a saúde de toda população:

A visão do Mandetta, uma visão muito boa, era da saúde, da vida. A minha, além da
saúde e da vida, entrava o Paulo Guedes, entrava a economia, entrava o emprego.
Desde o começo eu tinha uma visão, e ainda tenho, que nós devemos abrir o emprego,
porque o efeito colateral do combate ao vírus não pode ser, no meu ponto de vista,
mais danoso do que o próprio remédio.

Na Classe 1 (voz da verdade) foram retidos 101 ST’s e na Classe 3 (anticiência), 68


ST’s, ambas somam 37,15% do corpus de pronunciamento e discursos proferidos pelo
Presidente em cadeia nacional. Nestas duas Classes, foram encontrados conteúdos relativos ao
discurso anticientífico, tendo em vista a necessidade de o país voltar à normalidade, sem tempo
para esperar estudos sobre eficiência da hidroxicloroquina comprovados pela comunidade
científica. Esse tipo de representação social pode causar grandes prejuízos à população, tendo
em vista que os seguidores do Presidente tendem a seguir suas recomendações. No dia da
manifestação pró-governo, contra o Congresso e a Suprema Corte em 15 de março de 2020, foi
um dos dias que seus seguidores mais curtiram seus tweets e fizeram comentários a favor dos
discursos anti-isolamento (AJZENMAN et al., 2020). Ele repete nos dias 16 de abril, 6 de
agosto, 24 de agosto, 19 de setembro e 10 de outubro que, “pior que uma decisão mal tomada
é uma indecisão”, “não sou médico, mas conversei com muitos médicos” (Presidência da
República, 2020). Ainda sobre o discurso anticiência da Classe 1, a palavra CASA teve
frequência 12, e nela encontra-se o seguinte contexto:
17

Essa informação da OMS que a pouco tempo voltou atrás no tocante à pesquisa com
Hidroxicloroquina voltou a dizer que poderiam ser, continuar nessas pesquisas, foi
muito bem vinda e essa agora de que os assintomáticos não transmitem o vírus ou a
chance é quase zero transmitir o vírus, vai mudar sim com toda a certeza a orientação
de governadores de prefeitos no tocante a confinamentos, a quarentenas, lockdown,
entre outras medidas, afinal de contas o que mais nós queremos é com segurança,
voltarmos a nossa atividade econômica porque economia é vida, não adianta você
falar que pode viver feliz para sempre, trancado dentro de casa que isso é uma utopia,
isso não funciona, isso não é uma realidade. Então nós queremos sim que o mais
rapidamente possível os excelentíssimos senhores governadores e prefeitos, se bem
que alguns já decidiram a ter uma linha um pouco diferente já a algum tempo, mas
que decidam o mais rápido possível voltar a normalidade porque afinal de contas nós
ao agirmos dessa maneira, poderemos cada um levar o seu sustento para casa, voltar
aí a vida que tínhamos em janeiro e fevereiro para o bem do nosso País e para o bem
da humanidade (Presidência da República, 2020).

Finalmente na Classe 2, nomeada como proteção ambiental, foi formada por 90 ST’s, o
que representa 19,78% do corpus analisado. Esta Classe ficou separada das outras, pois se trata
de um assunto distinto, porém reflete um tema que apareceu nos pronunciamentos e discursos
do presidente com certa frequência. Aparece em destaque, os investimentos do Brasil com o
Oriente Médio no que diz respeito à produção sustentável e proteção ambiental. No dia 22 de
setembro de 2020 no mesmo discurso na 75º Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas (ONU) ele diz: “cremos que o momento é propício para trabalharmos pela abertura de
novos horizontes, muito mais otimistas para o futuro do Oriente Médio”, ou seja, o Presidente
continua falando de economia em momentos no qual deveria discutir as melhores soluções para
um país que, neste mesmo mês do discurso, alcançou o número de 1.215 mortes diárias por
Covid-19 (WHO, 2020). Ou seja, novamente o Presidente apresenta um cenário favorável para
o campo econômico, e a partir de um efeito de “zona muda” (ABRIC, 2005) tenta desviar o
assunto da quantidade de vidas perdidas para a Covid-19, dando destaque a questões
relacionadas aos negócios internacionais.
Em linhas gerais, o discurso desse governo parece justificar a não-quarentena por
questões econômicas. Em pronunciamentos e entrevistas veiculados na grande mídia, seus
apoiadores sugerem que um número aceitável de vidas pode ser perdido, desde que a economia
não pare. As vidas perdidas no caso, seriam as do mais vulneráveis, pois destaca-se nos seus
discursos este tipo de fala: “povo sofrido que precisa comprar o pão de cada dia” (Presidência
da República, 2020) falando sobre a retomada do comércio, pois os pobres precisam trabalhar
e não seguir o lema “fique em casa”.
Sobre esta atitude de não apoiar a quarentena, o Presidente ainda apresentou-se
constantemente em grandes multidões, conforme Figura 3. A imagem a seguir, pode representar
segundo Moscovici (1961/2012), uma função organizadora da dimensão comunicacional de
18

propaganda, a qual visa impor condutas relativas à um objeto social - não precisa ficar em casa
- representando uma realidade criada por meio do pensamento anticiência acerca da pandemia.
A imagem do presidente negligenciando todas as recomendações de distanciamento social,
utilizando a máscara de forma incorreta e tocando a mão das pessoas de forma deliberada, pode
contribuir para a objetificação da ideia de que o vírus realmente é apenas uma “gripezinha” ou
“resfriadinho”. Pois, se a pessoa que ocupa o cargo mais alto na política brasileira pode tomar
tal atitude, por que o cidadão comum não poderia fazer o mesmo?

Figura 3. Fragmento de vídeo publicado no Twitter do Presidente Jair Bolsonaro.

Fonte: Twitter. Obtida em 16/11/2020.

Como pode ser observado, a partir das análises realizadas pela CHD, os discursos do
presidente foram marcados por ataques à imprensa, proposições vagas sobre uma “volta à
normalidade”, não se localiza dados que apoiem/confirmem as afirmações das postagens dele,
ou seja, é pura opinião pessoal. A posição do presidente como alguém que fala a verdade e
posicionamentos que tentam colocar à ciência em lugar de descrédito.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos neste estudo, conclui-se que os discursos do Presidente
Jair Bolsonaro compartilham, tanto na sua rede social Twitter, quanto nos seus
pronunciamentos oficiais, conteúdos muito semelhantes acerca da temática Covid-19. As
19

análises lexicográficas efetuadas com o auxílio do software informativo, identificaram que, os


dois corpus textuais trazem mensagens com elementos negacionistas sobre a situação de
emergência de saúde. Segundo as classes expostas nas duas análises, o Presidente tende a
minimizar as consequências causadas pela atitude das pessoas que, não aderir ao distanciamento
social e de não usar máscara.
Como chefe do Executivo, o Presidente da República poderia utilizar as suas redes
sociais para disseminar informações favoráveis aos cuidados com a saúde, para estimular a
população a tomar os devidos cuidados. Ao analisar o modo como o Presidente se comunica, a
partir da Teoria das Representações Sociais, percebe-se a utilização do sistema de propaganda,
com mensagens baseadas na criação de estereótipos aos grupos opositores. Também foi
possível identificar elementos do sistema de propagação, como estratégia para a manutenção
da coesão do seu grupo político (MOSCOVICI 1961/2012). Isso fica evidenciado quando o
Presidente utiliza elementos como: verdade, salvar vidas, trabalho, Brasil investe em saúde etc.
Sendo assim, a comunicação exerce um papel importante na coesão de um grupo, uma forma
de fazer isso é compartilhando sempre os mesmos valores e também atacar os grupos com
valores distintos.
Estas duas modalidades de comunicação recorrentes nas grandes mídias, têm um grande
poder de persuasão sob a população que à utiliza. Neste contexto específico de pandemia, nota-
se uma necessidade de ampliação de controle na disseminação das fakenews nos conteúdos
publicados nas redes sociais, pois assim poderia haver uma diminuição nos discursos
negacionistas e anticientífico acerca desta emergência de saúde. Esta pesquisa colaborou, em
parte, com a demonstração de conteúdos explícitos em mensagens nas redes sociais e em rede
nacional de um ator politico que utiliza discursos desprovidos de dados estatísticos para fazer
afirmações sobre questões de saúde de uma nação. Publicações estão aumentando em torno
desta temática sobre discursos políticos nas redes sociais, no entanto, ainda falta estudos sobre
os impactos sociais e psicológicos na população que utiliza diariamente as TIC’s para se manter
informado.
As redes sociais estão sendo utilizadas pelas esferas públicas para criar polarização e
desinformação. Estas estruturas podem ser caracterizadas por criarem microesferas abrigadas
por “pontes” - pessoas que têm a função de conectar os diferentes grupos que estão nas redes
sociais (RECUERO et al., 2019). Neste estudo, as “pontes” conectam dois polos políticos:
esquerda e direita. Os assuntos disparados por essas pessoas, banalizam algumas questões
públicas, e com isso o acesso a desinformação perde o controle, passa a ser acessado por
20

milhares de pessoas que buscam discutir suas ideias e valores nestes espaços, muitas vezes,
com discursos de ódio.

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