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Abstract: This article analyzed the official presidential pronouncements and posts published
on the social network Twitter of the President Jair Bolsonaro about Covid-19. Such analysis
was carried out based on the Theory of Social Representations. The objective was to sought it
to identify the implications of these speeches in the context of the Brazilians’s health, and what
are the proportions that communication from a political actor can influence in the population's
attitudes towards care in combating the Covid-19 pandemic. The Descending Hierarchical
Classification (CHD) method was used to analyze the textual material generated from the
speeches and posts, with the support of the IRAMUTEQ software (Interface of R pour les
Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires). After organizing the corpora (segments
of Twitter texts and the President's official pronouncements) this informative tool helped the
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Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina,
como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga. Orientador: Me. Anderson da Silveira.
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Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, sdiasuellen@gmail.com
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Titulação, instituição, vinculação
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researcher with the classification of results and data analysis. The results showed that the
representational elements found in the President Jair Bolsonaro's speeches mainly evoke anti-
scientific content also the two analyses concluded that the contents of the President's speeches
and his Twitter page have many similarities. The lexicographic analysis carried out by the
researcher with the support of the informational software conclued that the two textual corpus
bring messages with negative elements about the health emergency situation. When analyzing
the way in which the President communicates based on the Theory of Social Representations,
the use of the propaganda system is perceived with messages based on the creation of
stereotypes to the opposing groups. It was also possible to identify elements of the propagation
system as a strategy for maintaining the cohesion of its political group.
1. INTRODUÇÃO
estratégias midiáticas. Neste novo modelo de relações nas redes sociais, surge o fenômeno da
pós-verdade, que segundo o Dicionário de Oxford (apud. GUARESCHI, 2019) significa:
“influência na formação da opinião pública” ou “apelos à emoção e às crenças pessoais”, ou
seja, este fenômeno surge para influenciar diretamente na dimensão psíquica e psicossocial das
pessoas e dos grupos (GUARESCHI, 2019).
Além dos estudos recentes sobre a influência das comunicações midiáticas na
constituição de subjetividades, encontra-se na Teoria das Representações Sociais justificativas
que auxiliam na compreensão dos conteúdos discursivos da mídia e a sua influência na
construção de saberes coletivos. As representações sociais são construídas e difundidas por
meio da interação entre os sujeitos, em que a prática da comunicação influencia diretamente no
cotidiano onde as pessoas estão expostas à um verdadeiro “mercado de ideias” (MOSCOVICI,
1961/2012). As comunicações podem ocorrer em três dimensões psicossociais, são elas: 1)
Propaganda: sistema caracterizado por temas ordenados sistematicamente e bem definidos em
antagonismos, com intenção persuasiva de controlar e organizar. Também pode ser usada como
estratégia de criar uma imagem negativa de um objeto como forma de valorizar as teses
defendidas pelo próprio grupo. Está relacionada com os estereótipos; 2) Propagação: formado
por um grupo que possui uma visão de mundo organizada em torno de uma crença a propagar,
sem a intenção de criar condutas. Os conteúdos externos (ciência) são acomodados de acordo
com os valores de um grupo, com o objetivo de manter a coesão deste grupo. Relaciona-se com
o campo das atitudes, sobretudo sua manutenção; 3) Difusão: direcionado a um grupo social
com identidade difusa, ocorre quando a imprensa divulga informação sem se aproximar do
assunto, eles chamam especialistas por exemplo. É um tipo de comunicação cujo objetivo é
alcançar grandes públicos, logo não está implicada estabelecer qualquer tipo de controle do
comportamento de seu público, seu foco é a audiência. Limita-se ao campo da opinião
(MOSCOVICI, 1961/2012).
Portanto, as pessoas constroem significados em comum sobre determinado objeto
através da comunicação, que na modernidade está ocorrendo com mais frequência por veículos
midiáticos e redes sociais. Estes veículos de comunicação na contemporaneidade banalizaram
a formação social e podem estar categorizados em um dos “níveis de comunicação” segundo
Jodelet (2001, p. 30) em que essa comunicação ocorre:
Neste sentido, as redes sociais e as mídias em massa não são somente responsáveis pela difusão
de informações, mas também podem provocar construções ideológicas de valores na estrutura
da sociedade.
A mídia de massa é uma importante difusora de representações sociais na
contemporaneidade. A relação entre a Teoria das Representações Sociais e os estudos da mídia
de massa surge na obra fundadora desta teoria, intitulada “A Psicanálise, sua imagem e seu
público”, de Serge Moscovici (1961). Neste livro, publicado originalmente na década de 1960,
Moscovici investigou a forma como a imprensa francesa representava a psicanálise de
diferentes formas. Vale salientar, que a escolha de tal objeto de representação – a Psicanálise –
decorreu do fato desta ser uma teoria e uma prática pautadas em princípios científicos, logo sua
divulgação na imprensa francesa deveria reproduzir estes mesmos princípios de forma objetiva
e neutra. Porém, o que se observou é que o processo de comunicação “arranja” os elementos
constitutivos do objeto, a depender das intenções de cada veículo.
Como fonte de sua pesquisa, Moscovici (1961/2012) analisou três grupos midiáticos: o
primeiro grupo representado pela grande imprensa e os outros dois grupos voltados para nichos
específicos, a imprensa católica e a impressa vinculada ao partido comunista. Como resultado,
o autor constatou que cada uma das fontes representou a psicanálise de um modo específico,
utilizando modalidades de comunicação distintas, diretamente relacionadas aos efeitos que a
fonte pretendia produzir em seus leitores.
Estudos recentes corroboram a ideia de que a mídia influencia diretamente na construção
do imaginário social sobre diversos assuntos. Em uma pesquisa sobre representações sociais do
crack na mídia, Rodrigues e outros (2015) analisaram 79 reportagens do jornal Correio
Braziliense para identificar como a mídia local atua no comportamento das pessoas em relação
à usuários de crack. Foi possível concluir que, a maioria das reportagens relacionam o consumo
de crack à comportamentos violentos, consequentemente a população que acompanha as
matérias deste jornal, representam o crack com estigma de marginalização, em que os usuários
são perigosos e por isso devem ficar afastado da sociedade.
Em um artigo sobre disputas discursivas no Twitter acerca da corrupção no Brasil, Paiva
e outros (2017) analisaram os conteúdos de publicações (tweets) de contas da rede social da
revista Veja e da revista CartaCapital, assim como os enunciados que representassem respostas
dos usuários/leitores às postagens. A pesquisa concluiu que os textos publicados por estas duas
contas, são moralistas e influenciam negativamente na formação de opinião pública sobre
corrupção no Brasil, pois são caracterizadas por discursos político-partidários, sendo uma de
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2. MÉTODO
Covid-19, estes textos foram transportados da tabela criada pela autora para a análise (corpora)
se como uma ferramenta de grande utilidade para análise de dados textuais. Uma de suas
vantagens é que o algoritmo do IRAMUTEQ realiza a análise dos dados coletados com base na
semelhança vocabular do material, com base em cálculos estatísticos, diminuindo assim o viés
empreender a interpretação das análises com base nas técnicas possibilitadas pelo software.
palavras. Esta análise tem o objetivo de fazer uma exploração inicial do material
coletado.
posteriormente à discussão dos dados à luz da Teoria das Representações Sociais, buscando
sintetizar os resultados encontrados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 1: Dendrograma das Classes do corpus do Twitter geradas pela classificação CHD.
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de propagação, que ocorre quando “as comunicações não se propõem a produzir uma conduta,
mas somente criar normas ou a convergência em torno de uma doutrina que seja aceitável.”
Sendo assim, o grupo de pessoas formado por apoiadores do Presidente, que já seguem e apoiam
os seus discursos, tendem a valorizar ainda mais suas narrativas que são reforçadas diariamente
por intermédio das suas redes sociais. Outro efeito importante a se considerar, é que se suas
mensagens são verdadeiras, então mensagens que destoam do seu discurso devem ser
consideradas como falsas. Vale lembrar que um dos slogans de campanha do presidente era o
texto bíblico do livro do Evangelho de João “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
As Classes 3 (recurso hospitalar) e 2 (auxílio emergencial) representam juntas 30,96%
do corpus analisado, elas apresentam respectivamente 30 ST’s e 22 ST’s. As variáveis contidas
nestas duas Classes se assemelham devido aos conteúdos sobre a criação de novos recursos
emergenciais frente à pandemia de Covid-19. A Classe 3 focou nos recursos disponibilizados
para atender a contratação de funcionários da área da saúde, para a aquisição de medicamentos
e respiradores, para construções de hospitais de campanha e para a adaptação de leitos de UTI
para pacientes em tratamento de Covid-19. Já a Classe 2 gerou palavras relacionadas ao
investimento do programa “auxílio emergencial” da Caixa Econômica Federal. Os elementos
principais desta Classe são: a ampliação do horário de atendimento das agências, a disposição
de barcos agências para população ribeirinha e a liberação do auxílio emergencial para 43
milhões de brasileiros. Em linhas gerais, o Presidente Jair Bolsonaro buscou apresentar nestas
2 classes que o Brasil é exemplo mundial no que se refere à investimentos para conduzir o país
neste momento pandêmico, conforme pode ser visto em alguns tweets, como este do dia 8 de
maio de 2020: “Brasil investe mais que a média dos países avançados no combate ao covid-19.
Balanço da Secretaria Especial de Fazenda do @MinEconomia aponta esforço fiscal de 394,4
bilhões no enfrentamento ao coronavírus”.
Este tipo de mensagem em que o Presidente diz que o Brasil investe mais que os países
avançados economicamente, mostra que esta informação foi construída através de uma
ancoragem (primeiro processo básico na construção do saber comum). Este processo de
ancoragem, é definido pelos processos cognitivos que uma pessoa é capaz de acessar no seu
campo de memória, com o objetivo de entender determinado objeto desconhecido, neste caso,
a economia mundial (MOSCOVICI, 1961/2012). No caso da fala do Presidente, ele utilizou da
sua própria compreensão sobre a situação econômica mundial para dizer que está tomando as
devidas precauções frente à pandemia. Ele também utilizou um recurso de seu poder, o
Ministério da Economia @MinEconomia, para fazer uma afirmação de âmbito mundial ao
comparar a situação do Brasil com países avançados. Para oferecer informações sem intenções
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de manipular seus seguidores, seria apropriado utilizar dados estatísticos concretos e não apenas
utilizar um jogo de retórica. Esta forma de usar um conhecimento reificado (científico) para
transformar em saber coletivo, segundo Moscovici (1961/2012), caracteriza-se pela segunda
dimensão básica do processo de representações sociais de um objeto: a objetificação
(justificação do objeto aprendido no processo de ancoragem).
A Classe 4 nomeada “volta ao trabalho” representa 39 ST’s e 23.21% desta análise,
sendo assim, o maior número de segmentos textuais estão nesta Classe. Isso evidencia que o
Presidente utilizou a sua página no Twitter para validar a sua ideia de o Brasil ter que voltar ao
trabalho. Nela encontra-se o negacionismo do Presidente da República em tratar a Covid-19
como assunto emergente. No dia 23 de agosto de 2020 ele diz que: “OMS em 21 de agosto, a
pandemia é a prova de que saúde e economia são inseparáveis. Desde março alertei que
tínhamos 2 graves problemas, o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados
simultaneamente”. Este tweet mostra a intenção de igualar o vírus à economia. Buscou-se
localizar a fonte desta mensagem da OMS, porém só foi encontrado uma fala do seu Diretor em
agosto, que pode ter sido distorcida com intenção de disseminar uma informação baseada em
fakenews:
1961/2012). Sendo assim, a mídia tem um papel importante na construção de ideias e narrativas
na contemporaneidade, ela atribui sentidos a determinados objetos, atuando como uma
ferramenta de ação sobre o mundo (CAMARGO, 2014).
Ainda na Classe 4, encontram-se conteúdos acerca da movimentação da economia
durante a pandemia, como aumento do agronegócio, construção de rodovias, portos, aeroportos
e hidrelétricas, o que pode representar uma tentativa de atenuar e até mesmo negar os efeitos
da pandemia, sendo que no dia 6 de julho de 2020 (dia do tweet abaixo) já haviam 37.923 casos
confirmados de Covid-19 e uma média de 1.091 morte diárias no Brasil (WHO, 2020). Além
destes investimentos em obras, o Presidente continuou postando mensagens, na intenção de
criar uma versão da realidade baseada na propagação de mensagens que defendiam a ideia de
que o Brasil era o país que mais salva vidas na ocasião:
Esta Classe ficou próxima da Classe 4, pois existem semelhanças vocabular entre os materiais
sobre o fato de a economia não poder parar, conforme este tweet do dia 8 de abril de 2020:
Nesta última Classe apareceram os acordos econômicos que foram feitos com os
Estados Unidos da América (EUA) para a parceria no uso da Hidroxicloroquina e Azitromicina,
sendo que a aquisição destes medicamentos teve seus impostos zerados. Outra questão
pertinente à esta análise, foi a contradição encontrada acerca da fase da doença que a
Hidroxicloroquina deveria ser administrada pelos pacientes diagnosticados com Covid-19. No
dia 25 de março de 2020 o Presidente diz que “[..] zeramos o Imposto de Importação da
cloroquina e da azitromicina, para uso exclusivo de hospitais em pacientes em estado crítico
[...]”, já no dia 20 de maio de 2020 ele muda de opinião quando diz que “O @minsaude divulga
orientações para tratamento da Covid-19, onde a Cloroquina pode ser ministrada em casos
leves, com recomendação médica e autorização do próprio paciente-família.”
A partir do corpus do Twitter conclui-se que os discursos midiáticos desta natureza
utilizam de fenômenos psicológicos, como crenças, valores, motivações, para construir novas
realidades que possam ser vistas como verdade, um fenômeno decorrente da pós-verdade. Após
as eleições de Trump e Bolsonaro, a pós-verdade deixou de ser assunto acadêmico e passou a
ser utilizado por líderes de extrema direita, a fim de pregar a polarização política na sociedade
“a pós-verdade não é o debate sobre pontos de vistas diferentes sobre um mesmo fenômeno. É
a construção irreal do fato ou sua negação” (SILVEIRA, 2019, p. 13). Percebeu-se que as
postagens do Presidente seguem características de um sistema de comunicação amplamente
baseado naquilo que Moscovici nomeou como propagação: utilização de símbolos para passar
a imagem desejada; e propaganda: atribuições de estereótipos de grupos opositores.
retidos/aproveitados na análise. Alguns segmentos de texto são excluídos da analise, pois para
o software não são representativos da Classe. A CHD dividiu o corpus em subcorpus, gerando
5 Classes (figura 2). Primeiro o corpus foi dividido em dois sub-corpora, separando a Classe 2
do restante do material. Num segundo momento o sub-corpora maior foi dividido, originando
as Classes 1, 3, 4 e 5. As Classes do corpus pronunciamentos e discursos receberam as seguintes
nomenclaturas: Classe 5) ataque à imprensa; Classe 4) voltar à normalidade; Classe 1) voz da
verdade; Classe 3) anticiência; Classe 2) proteção ambiental. As classificações (CHD) pararam
aqui, pois as Classes dos dois corpus textuais mostraram-se estáveis, ou seja, compostas de
unidade de segmento de texto com vocabulário correlacionados.
Figura 2: Dendrograma das Classes do corpus dos pronunciamentos e discursos geradas pela
classificação CHD.
desemprego, o que pode ser verificado neste segmento do pronunciamento do dia 16 de abril
de 2020:
A visão do Mandetta, uma visão muito boa, era da saúde, da vida. A minha, além da
saúde e da vida, entrava o Paulo Guedes, entrava a economia, entrava o emprego.
Desde o começo eu tinha uma visão, e ainda tenho, que nós devemos abrir o emprego,
porque o efeito colateral do combate ao vírus não pode ser, no meu ponto de vista,
mais danoso do que o próprio remédio.
Essa informação da OMS que a pouco tempo voltou atrás no tocante à pesquisa com
Hidroxicloroquina voltou a dizer que poderiam ser, continuar nessas pesquisas, foi
muito bem vinda e essa agora de que os assintomáticos não transmitem o vírus ou a
chance é quase zero transmitir o vírus, vai mudar sim com toda a certeza a orientação
de governadores de prefeitos no tocante a confinamentos, a quarentenas, lockdown,
entre outras medidas, afinal de contas o que mais nós queremos é com segurança,
voltarmos a nossa atividade econômica porque economia é vida, não adianta você
falar que pode viver feliz para sempre, trancado dentro de casa que isso é uma utopia,
isso não funciona, isso não é uma realidade. Então nós queremos sim que o mais
rapidamente possível os excelentíssimos senhores governadores e prefeitos, se bem
que alguns já decidiram a ter uma linha um pouco diferente já a algum tempo, mas
que decidam o mais rápido possível voltar a normalidade porque afinal de contas nós
ao agirmos dessa maneira, poderemos cada um levar o seu sustento para casa, voltar
aí a vida que tínhamos em janeiro e fevereiro para o bem do nosso País e para o bem
da humanidade (Presidência da República, 2020).
Finalmente na Classe 2, nomeada como proteção ambiental, foi formada por 90 ST’s, o
que representa 19,78% do corpus analisado. Esta Classe ficou separada das outras, pois se trata
de um assunto distinto, porém reflete um tema que apareceu nos pronunciamentos e discursos
do presidente com certa frequência. Aparece em destaque, os investimentos do Brasil com o
Oriente Médio no que diz respeito à produção sustentável e proteção ambiental. No dia 22 de
setembro de 2020 no mesmo discurso na 75º Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas (ONU) ele diz: “cremos que o momento é propício para trabalharmos pela abertura de
novos horizontes, muito mais otimistas para o futuro do Oriente Médio”, ou seja, o Presidente
continua falando de economia em momentos no qual deveria discutir as melhores soluções para
um país que, neste mesmo mês do discurso, alcançou o número de 1.215 mortes diárias por
Covid-19 (WHO, 2020). Ou seja, novamente o Presidente apresenta um cenário favorável para
o campo econômico, e a partir de um efeito de “zona muda” (ABRIC, 2005) tenta desviar o
assunto da quantidade de vidas perdidas para a Covid-19, dando destaque a questões
relacionadas aos negócios internacionais.
Em linhas gerais, o discurso desse governo parece justificar a não-quarentena por
questões econômicas. Em pronunciamentos e entrevistas veiculados na grande mídia, seus
apoiadores sugerem que um número aceitável de vidas pode ser perdido, desde que a economia
não pare. As vidas perdidas no caso, seriam as do mais vulneráveis, pois destaca-se nos seus
discursos este tipo de fala: “povo sofrido que precisa comprar o pão de cada dia” (Presidência
da República, 2020) falando sobre a retomada do comércio, pois os pobres precisam trabalhar
e não seguir o lema “fique em casa”.
Sobre esta atitude de não apoiar a quarentena, o Presidente ainda apresentou-se
constantemente em grandes multidões, conforme Figura 3. A imagem a seguir, pode representar
segundo Moscovici (1961/2012), uma função organizadora da dimensão comunicacional de
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propaganda, a qual visa impor condutas relativas à um objeto social - não precisa ficar em casa
- representando uma realidade criada por meio do pensamento anticiência acerca da pandemia.
A imagem do presidente negligenciando todas as recomendações de distanciamento social,
utilizando a máscara de forma incorreta e tocando a mão das pessoas de forma deliberada, pode
contribuir para a objetificação da ideia de que o vírus realmente é apenas uma “gripezinha” ou
“resfriadinho”. Pois, se a pessoa que ocupa o cargo mais alto na política brasileira pode tomar
tal atitude, por que o cidadão comum não poderia fazer o mesmo?
Como pode ser observado, a partir das análises realizadas pela CHD, os discursos do
presidente foram marcados por ataques à imprensa, proposições vagas sobre uma “volta à
normalidade”, não se localiza dados que apoiem/confirmem as afirmações das postagens dele,
ou seja, é pura opinião pessoal. A posição do presidente como alguém que fala a verdade e
posicionamentos que tentam colocar à ciência em lugar de descrédito.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados obtidos neste estudo, conclui-se que os discursos do Presidente
Jair Bolsonaro compartilham, tanto na sua rede social Twitter, quanto nos seus
pronunciamentos oficiais, conteúdos muito semelhantes acerca da temática Covid-19. As
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milhares de pessoas que buscam discutir suas ideias e valores nestes espaços, muitas vezes,
com discursos de ódio.
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