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análise textual, para posterior análise de conteúdo. Dos discursos selecionados, emergiram
seus sentidos para uma imagem única de descrédito em instituições, governantes e mídia. Esse
Social representations of internet users about the Coronavirus in Brazil: first months of
the pandemic
Abstract: This study aimed to analyze the social representations of internet users, from their
character, with a quantitative and qualitative approach. The data were processed by textual
analysis software, for later content analysis. From the analyzed content, three classes emerged
- Coronavirus: politics, health and society, Distrust of statistics and Disrepute of the president.
The results highlight different meanings of anchoring these representations and suggest the vi-
tality of a classificatory theoretical paradigm that gives value to objects, people or phenom-
ena, ranking them in order of importance. In this study, social representations were based on
negative values, converging their senses to a single image of discredit in institutions, govern-
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ment and the media. This scenario is especially worrying due to the seriousness of the crisis
resulting from the pandemic in Brazil and says a lot about the country's past and future.
Resumen: El objetivo del estudio fue analizar las representaciones sociales de los usuarios de
internet, desde sus comentarios acerca de informes sobre Coronavirus en Brasil. La investiga-
ción tiene un carácter analítico-exploratorio, con enfoque cuantitativo y cualitativo. Los datos
fueron procesados por software de análisis textual, para su posterior análisis de contenido. De
los discursos, surgieron tres clases - Coronavirus: política, salud y sociedad, Desconfianza en
las estadísticas y Descrédito del presidente. Los resultados destacan diferentes significados de
estudio, las representaciones sociales enfatizaron valores negativos, convergiendo sus sentidos
nario es preocupante, debido a la gravedad de la actual crisis pandémica en Brasil y dice mu-
A partir de dezembro de 2019, apareceu nos noticiários uma nova ameaça à saúde e a
causador da COVID-19, doença com quadro clínico variado, desde infecções assintomáticas a
sintomas graves. Esse vírus se alastrou por diversos países e evoluiu para uma pandemia
(Depoux, Martin, Karafillakis, Preet, Wilder-Smith, & Larson, 2020; Silva, Pereira, Gritz,
sobre a pandemia, muitas delas reconhecidas como fake news, que misturaram questões
3
sobre a evolução da COVID-19 no país e as medidas para conter a propagação do vírus foram
Kirby, 2020).
por meio de palavras e gestos, com influência nas relações vividas, nos objetos produzidos e
Por trás das representações sociais existe uma teoria implícita, na qual as pessoas
representações sociais são criadas para tornar familiares fenômenos, seres e objetos não
familiares. Para tanto, dois processos geradores de representação social são acionados: a
imagem (Moscovici, 2015). Veja-se que, segundo o autor, as representações sociais não são
simples “opiniões sobre” ou “imagens de”, são teorias coletivas particulares, baseadas em
circulam as ideias produzidas pela ciência, mídia, política, entre outras; e o universo
formação das representações sociais, consideradas teorias do senso comum (Moscovici, 2015;
Diante disso, enfatiza-se que o não familiar é, muitas vezes, gerado no universo
por meio de diversos divulgadores científicos, como jornalistas e políticos que utilizam como
recurso os meios de comunicação de massa (Guareschi, 2013; Moscovici, 2015; Oliveira &
Werba, 2013). Assim, ao se diluir nas práticas interativas do dia-a-dia, os conceitos gerados
Nesse sentido, este estudo tem como objetivo analisar as representações sociais de
pandemia no Brasil.
Método
qualitativa no tratamento dos dados. Foram utilizados dados secundários, obtidos a partir do
(UOL). Esta é uma empresa brasileira de conteúdo, produtos e serviços de internet, fundada
pelo Grupo Folha em abril de 1996 e tem como slogan “O melhor Conteúdo”. A escolha pelo
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referido portal se deu, em virtude de estar entre os 10 sites mais visitados da internet no
Brasil, segundo a plataforma Similar Web em 2017. Além disso, foi considerado pelo IBOPE
Nielsen Online o maior portal do Brasil, contando com mais de 50 milhões de visitantes e 6,7
bilhões de páginas visitadas mensalmente (Valor Online, 2010). E possui conteúdo disponível
gratuitamente.
A pesquisa foi realizada em maio de 2020, por meio do sistema de busca do Google,
19”, cruzados, individualmente, com o termo “UOL”. Deste modo, selecionou-se o menu
06/02/2020, quando foi promulgada a Lei da Quarentena no Brasil, até 16/03/2020; o segundo
período iniciou em 17/03/2020, quando foi registrada a primeira morte por COVID-19 no país
e foi até 15/04/2020; e o terceiro período foi de 16/04/2020, quando todos os estados
registraram morte por COVID-19, se estendendo até 01/05/2020. Justificam-se esses três
excluindo os que destoavam do assunto, como anúncios, passagens bíblicas, entre outros.
Procedimentos
seleção dos que seriam incluídos na análise. Em seguida, o conteúdo dos comentários
corpus de análise (Camargo & Justo, 2018). Ressalta-se que o corpus foi composto somente
pelos textos dos comentários dos internautas e não do conteúdo das reportagens.
comentada (Bardin, 2011). Nesse sentido, foi gerada, inicialmente, a Nuvem de Palavras, a
partir dos comentários dos internautas em cada período, a fim de apresentar uma síntese
organiza, graficamente, em função da sua frequência no texto. A segunda técnica utilizada foi
a Classificação Hierárquica Descendente (CHD), que promove a análise das raízes lexicais e
oferece os contextos em que as classes estão inseridas (Camargo & Justo, 2018). Destaca-se,
ainda, que o processamento feito pelo IRAMUTEQ propicia abordagem quanti-qualitativa dos
dados, pois o conteúdo do corpus é processado a partir da frequência e do teste estatístico qui-
Resultados e Discussão
reportagens, no Período 3. Para compor a análise da Nuvem de Palavras, foi adotado, como
ponto de corte, a frequência média de formas ativas (palavras distintas) de cada período
(Período 1 = 4,1; Período 2 = 3,8; Período 3 = 3,7). Diante disso, a imagem gráfica (Figura 1)
apresenta as palavras mais evocadas em cada período: Coronavírus (f = 71), Brasil (f = 49),
Inserir Figura 1
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resultado aponta para uma coesão de conteúdo entre os comentários nos três períodos para o
tema em tela. Observa-se que a palavra “Coronavírus” aparece com maior frequência nos
semântico comum nos períodos. Nesse sentido, o conjunto de palavras, destacadas em cada
É preciso cobrar que o governo apresente um plano emergencial para a produção de kits de
testes para o coronavírus desde já, porque mesmo assim vai demorar a dar conta do que
parece que vai ser essa pandemia (...) (Comentário 76, Período 1).
O Bolsonaro já sabia que isso iria acontecer desde o ano passado e ficou brincando e
falando que era histeria. A China fez hospital em 10 dias e o Bolsonaro não fez nada nem 1
leito para a COVID-19(...) (Comentário 14, Período 2).
que emergiram das Classes geradas pela CHD. Dessa forma, de acordo com a análise da
CHD, o corpus geral foi constituído por 228 textos separados em 559 segmentos de texto
(ST), com aproveitamento de 523 STs (93,56%)1. Emergiram 15.145 ocorrências (palavras,
formas ou vocábulos), sendo 3.117 palavras distintas e 1.089 com uma única ocorrência.
(49,71%); Classe 2, com 112 ST (21,41%) e Classe 3, com 151 ST (28,87%). Ressalta-se que
(Desconfiança das estatísticas). Destaca-se que a análise foi realizada da classe mais externa
1
Para que a o material seja consistente para a análise, os manuais indicam que a retenção de segmentos de texto
aproveitados seja de no mínimo 70%.
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B, o conteúdo se distribui nas Classes 1 e 2. Estas, apesar de serem divergentes entre si, têm
cada Classe, cujo ponto de corte foi o qui-quadrado expressivo (x2≥3,80) e significância
estatística (p≤0,05).
Inserir Figura 2
Fatorial de Correspondência (AFC) gerado pela CHD. O ponto de corte estabelecido foi a
como a extensão do texto, proporcional ao qui-quadrado entre sete e 70, conforme Camargo e
Justo (2018). Dessa forma, observa-se como as palavras e suas frequências, em classe, se
organizaram no plano cartesiano (Figura 3). Assim, por terem conteúdo semântico mais
plano, onde se localizam as palavras das Classes 1 e 2. Esse resultado confirma a emergência
respeito das informações e ações de combate à COVID-19. Por isso, há palavras tanto da
Classe 1 (Lockdown, Dia, Porque, Casa), quanto da Classe 2 (Totalmente, Mês, Caso, Não)
que migram uma ao encontro da outra. Além disso, ao emergirem da Classe 3, as palavras que
compõem o campo semântico das Classes 1 (Coronavírus, Sistema, Vírus, País, Mundo) e 2
Responsável, Incompetente), cujo foco dos discursos nos comentários foi o presidente
Bolsonaro.
Inserir Figura 3
A Classe 3 (Desprestígio do presidente) foi responsável por 28,87% dos ST, diz
Período 3 apresentou maior afinidade com esta classe, com associação, estatisticamente,
sendo o Ministério da Saúde (MS) o responsável por formular as políticas nacionais de saúde.
Deste modo, a articulação nesta tríade é importante para o controle de epidemias como a do
têm sido criticadas nacional e internacionalmente (Burki, 2020; Ricard & Medeiros, 2020; The
Lancet, 2020).
Diante disso, o presidente vem enfrentando protestos contra a sua gestão na atual
doença, definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como as principais estratégias de
controle.
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2013; Oliveira & Werba, 2013). A pandemia por coronavírus enquanto fenômeno não familiar
para milhares de brasileiros, tem sido ser maciçamente difundida pela política desde que teve
início no país. Nesse cenário, a figura de Bolsonaro ganhou realce ao utilizar os meios de
comunicação para transmitir suas ideias a respeito da doença. Tal transmissão, ao se diluir nas
práticas interativas do dia-a-dia, cede lugar a teorias do senso comum, servindo para justificar
Enquanto o mundo está tomando todas as medidas para conter a escalada da COVID-19, o
Bolsonaro vem na contramão de todos, só pensando nos prejuízos para a economia e
subestimado a COVID-19, chamando de uma gripezinha (...). Ele vem praticando uma
conduta intragável e irresponsável, além de incompatível com o cargo de presidente,
criticando os governadores que estão adotando medidas de quarentena necessárias para
impedir o avanço do coronavírus nos seus respectivos estados (Comentário 33, período 2).
Gostaria de saber quando o senhor presidente será responsabilizado por essas mortes? Ele
debocha, fala e daí? Diz que em algum momento todos iremos pegar a COVID-19. Ele
esconde seu exame, tira o Mandetta durante a pandemia, trata até seus eleitores como
fantoches, promovendo atritos e carreatas, e nega que participa disso. Falta de respeito,
merece o impeachment! (Comentário 60, período 3).
2020) e de H1N1 (Sy & Spinelli, 2016) na Argentina e de Ebola na Espanha (Idoiaga, Gil de
A partir dos comentários dos internautas, nota-se, ainda, que além da crise na saúde, o
governo de Bolsonaro tem enfrentado uma crise política, na qual perdeu o Luiz Henrique
Mandetta, ministro da saúde que tinha boa aceitação política e social. Na tentativa de seguir as
evidências científicas e as orientações da OMS, muitas vezes, Mandetta teve que contradizer o
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presidente (Dyer, 2020; Kirby, 2020). O ministro, então, foi substituído por Nelson Teich, que
Este ministro Teich está por fora! O que está faltando nas pessoas é medo, pois já estão
saindo da quarentena em muitos lugares, estimulados pelo presidente, com seu exemplo e
fake news de bolsonaristas nas redes sociais contra governantes que defendem a
quarentena. Quero saber quem será responsável pelo crime de genocídio no Brasil? devido
à forma inconsequente da saída do isolamento social e abertura de comércios que não são
essenciais (Comentário 42, período 3).
contradições apontadas por esses discursos. De um lado, tem-se os embates entre integrantes
do governo, e entre este e a ciência, constituindo o que se entende por universo reificado.
implicitamente, como algo ruim, que deve ser combatido por meio da quarentena e isolamento
social. Porém, ao mesmo tempo, eles reforçam comportamentos que validam a atitude do
economia.
comportamento quanto ao estilo e rotina de vida, por meio do distanciamento. Por outro lado,
a negação da gravidade da COVID-19 foi entendida pelos autores como uma estratégia
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desadaptativa. Isto é, a representação de que o isolamento é uma ameaça aos direitos de ir/vir
e de liberdade faz com que algumas pessoas desobedeçam a tais medidas no cotidiano.
Todavia, os que não respeitam essas medidas podem ser rotuladas como egoístas e
irresponsáveis, imagens estas que foram observadas nos discursos dos internautas sobre o
história de crise sanitária e da saúde pública, a exemplo da Peste Negra. Segundo Nascimento
(2020), antes da Peste Negra chegar ao Brasil, houve a notificação de sua existência na cidade
sanitária, levantou grande debate no país, sob a justificativa de que a medida afetaria,
negativamente, a economia brasileira. Esse debate entre saúde e economia, segundo a autora,
Sabe-se, diante disso, que a maioria das medidas contra a COVID-19 tem
país dependerá do sucesso das medidas adotadas para impedir a disseminação da COVID-19,
A Classe 1 (Coronavírus: política, saúde e sociedade) foi responsável por 49,71% dos
ST. Refere-se ao atendimento deficitário na área da saúde, em que o sentido de ancoragem recai,
sociais mais vulneráveis. Destaca-se que o Período 1 apresentou maior afinidade com a classe,
COVID-19, que foi classificada, inicialmente, como risco moderado. Porém, já apresentava risco
muito alto na China e com grande probabilidade de tornar-se uma pandemia. Para Croda et al.
(2020), isso pode ter interferido no tempo para a implementação de intervenções e contribuído
(Croda et al., 2020) e aprovada a Lei 13.979 (Lei de Quarentena), que definiu estratégias de
2020).
complementar aos pacientes de COVID-19 nas formas leve e grave, com distribuição em massa
desses medicamentos.
sociedade, principalmente, pelo possível atraso para tomadas de decisões, pois a pandemia já
como sarampo, dengue, H1N1, o que dificulta as medidas de saúde pública (Fernandes, 2020).
Os que procuram os hospitais com todos os sintomas leves eles, medicam e mandam voltar
para casa e ficar em isolamento domiciliar, sem fazer qualquer teste. Seria importante se
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tivéssemos testes suficientes, mas infelizmente no Brasil são ínfimos os testes (Comentário
25, período 1).
O governo diz para não termos pânico, isso não quer dizer que será uma catástrofe? Se aqui
não conseguem nem conter a epidemia da dengue ou dar o atendimento rápido e eficaz, com
certeza não vão dar conta do coronavírus. Ou seja, vamos morrer em filas tentando ter o
atendimento no SUS (Comentário 23, período 1).
como a dengue, varíola e poliomielite, no sentido de mostrar a interseção entre ciência, política e
sociedade. Tanto a ciência precisa ter uma ferramenta efetiva e eficaz contra a doença, quanto é
importante uma decisão política forte e coesa para garantir os recursos necessários para a
2020).
sistema público de saúde brasileiro possuía cerca de 7,6 leitos de UTI por 100.000 habitantes e 2
leitos hospitalares por 1.000 cidadãos, sendo necessário aumentar esse quantitativo, assim como
a construção de hospitais de campanha (Canabarro, Ten, Martins, Martins, & Chaves, 2020;
Croda et al., 2020; Kirby, 2020). Nessa perspectiva, Canabarro et al. (2020) e Silva et al. (2020)
farmacológicas pode impedir o colapso do sistema de saúde. Mesmo assim, devido à baixa
proporção do número de leitos para a quantidade de casos graves, somente a intensificação das
medidas de isolamento social, como a adoção do lockdown, seria suficiente para evitar
Outro ponto discutido, no início da pandemia, foi que os primeiros casos de Coronavírus
no país foram de pessoas de classe média alta, que fizeram viagens internacionais. No entanto,
milhões de pessoas vivam no Brasil em condições de pobreza e 13,5 milhões na extrema pobreza
(IBGE, 2017), sendo que a maioria habita as grandes periferias. Esse conteúdo esteve presente
Mandem de volta os repatriados para a China! O Brasil é um país onde as pessoas morrem na
fila do SUS por um atendimento na saúde, então ver nos jornais, que pessoas repatriadas se
encontram de quarentena com toda a mordomia é querer demais, em detrimento aos pobres
(...) (Comentário 09, período 1).
A pandemia vai sobrar para os mais pobres, que nem direito a hospitais possuem. Assim como
ocorre em outras epidemias no Brasil, locais pobres sofrem mais, ou seja, quase todo o Brasil
(Comentário 22, período 1).
Esses malditos chineses destroem a fauna silvestre no consumo de carnes (...) e ainda
disseminam essas malditas doenças mundo a fora com seu vírus chinês matando pessoas
inocentes (Comentário 53, período 1).
discutido por Idoiaga et al. (2017), sobre o Ebola e, por Joffe (2013), sobre representações
sociais transculturais da AIDS. Nos discursos, aqui apresentados, as representações sociais sobre
condição estrangeira como composição de uma estratégia projetiva. Pois, diante dessas ameaças,
o sentimento de impotência pode ser evocado em um período de crise (Joffe, 2013). Do mesmo
modo, os resultados vão ao encontro das representações que emergiram durante a propagação do
Assim, neste estudo, a referência aos repatriados, “malditos chineses”, bem como a
padrões de defesa como meio de proteção. E esses padrões defensivos, conforme Joffe (2013)
aparecem como força motora subjacente à formação das representações sociais do Coronavírus,
na qual a ameaça colocada por ele ao Eu desloca a atenção para o outro (repatriados, “malditos
Outrossim, Jaspal e Nerlich (2020) consideram que a teoria das representações sociais de
Moscovici auxilia na compreensão das pessoas sobre a pandemia de COVID-19. Para os autores,
HIV/AIDS, no uso de metáforas de guerra, como combate contra “agentes biológicos” e luta
contra o “inimigo invisível” ou “praga homossexual” (Joffe, 2013). Assim, o uso das metáforas
“malditas doenças” e “vírus chinês”, no comentário 53, período 1, reveste de feição mais familiar
chineses.
Por fim, a Classe 2 (Desconfiança das estatísticas) foi responsável por 21,41% dos ST e
diz respeito à descrença dos internautas frente às informações acerca do número dos casos de
COVID-19. Destaca-se que o Período 2 apresentou maior afinidade com esta classe, sendo essa
principalmente, com três medidas, a saber, proteger os profissionais de saúde com equipamentos
de proteção individual; realizar testes em massa para identificar os casos sintomáticos e isolá-los;
casos suspeitos, pois, cerca de 80% dos casos eram leves e nem todos chegaram ao serviço de
saúde, além de o MS não possuir um banco de dados concreto, devido à quantidade de casos
subnotificados (Kirby, 2020; Ribeiro & Bernardes, 2020; Tarrataca et al., 2020).
Nessa perspectiva, um estudo do Imperial College do Reino Unido, que analisou a taxa de
transmissibilidade (R0=2,81) (Bhatia et al., 2020; The Lancet, 2020). Além disso, a
subnotificação de casos, no país, também foi apontada no estudo de Ribeiro e Bernardes (2020),
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o qual indicou que o número de casos é, possivelmente, 7.7 vezes maior do que os divulgados.
70% da população brasileira for infectada, pode haver 1,8 milhões de mortes, dados similares ao
a subnotificação. Além disso, esta classe emergiu do mesmo subcorpus que constituiu a Classe 1
(subcorpus B), o que sugere a menção ao governo como conteúdo semântico comum, e o
Desconfio dessas estatísticas, o número de mortes está muito baixo e há relatos nos
hospitais de que tem gente morrendo por suspeita do COVID-19, mas que não foram ainda
realizados os testes nelas, ou seja, não estão sendo contabilizado o número total de casos
do coronavírus no Brasil, e a estatística oficial do governo pode estar totalmente descolada
da realidade (Comentário 23, período 2).
Antes de chegar ao Brasil, o governo dizia que o coronavírus podia matar por pneumonia e
complicações pulmonares. Chegou a ser divulgado que causava inclusive problemas no
sistema nervoso e convulsões. Agora que já temos pelo menos um caso no Brasil, o
governo diz que é apenas um resfriado e que não há motivo para pânico, além disso não
tem tratamento específico (Comentário 25, período 1).
Tal resultado corrobora o apresentado pelo estudo de Do Bú, Alexandre, Bezerra, Sá-
Serafim e Coutinho (2020), que aponta o papel simbólico e pivô da figura dos chefes de
com base no contexto dos discursos analisados, que as evocações do termo presidente não se
mídias devem ser utilizadas para propagar notícias corretas, com informações preventivas,
sobre sua origem, como uma arma biológica chinesa, por exemplo. Nesse contexto, algumas
produtos, também foi alvo de fake news. Dessa forma, não apenas o vírus se espalhou
rapidamente, mas as inverdades sobre o mesmo, tornando-se uma infodemia. O que causou
pânico sobre a situação de saúde e economia (Depoux et al., 2020; Pennycook et al., 2020). Os
discursos, a seguir, trazem representações sociais, que podem estar ancoradas no fenômeno das
fake news que, de acordo com Do Bú et al. (2020), gera um conjunto de desinformações sobre
disfuncionais.
Essa estatística de casos confirmados é uma falácia. Os exames de confirmação somente são
feitos naqueles pacientes em estado grave (...) não há, segundo alguns relatos e pela fala dos
médicos, kits para realização de testes em número suficiente. E realmente não há (...) enfim,
saibam o número de infectados é infinitamente maior. Nosso cuidado deve ser redobrado!
(Comentário 27, período 2).
A mídia faz todo o alarde, o povo acha que todos vão morrer, a culpa é dos jornalistas,
deveriam informar melhor ao invés de propagar o desespero. Busquem dados de quantas
pessoas morreram só esse ano por dengue, sarampo e gripe comum. Quem está morrendo por
coronavírus? Acho normal pessoas com mais de 70 ou 80 anos morrer de um resfriado,
sempre foi assim. Agora, a maioria que teve a COVID-19, onde eles estão? O que sentiram?
A maioria está em casa de boa, sentiu um leve resfriado e nada demais (Comentário 34,
período 2).
compartilham representações acerca dos objetos sociais mencionados (Do Bú et al., 2020).
(2020) sobre as representações sociais do Coronavírus. As análises dos autores indicam que o
conspiração" e do preconceito com os asiáticos. Além disso, as mídias sociais tiveram uma
imagem de “vilã” por disseminarem fake news e gerarem pânico na população. Nessa ótica, os
resultados do estudo de Pennycook et al. (2020) apontaram que o motivo que leva as pessoas a
acreditarem em fake news sobre a COVID-19 está relacionado a dificuldades nas habilidades
cognitivas, como menor nível de criticidade a respeito da veracidade das informações e reduzida
falsas. Nos casos de COVID-19, em que as informações verdadeiras e de qualidade podem salvar
imprescindível.
Considerações Finais
Brasil. Por meio da Nuvem de Palavras e da AFC, obteve-se uma síntese do conteúdo dos
discursos, a partir da frequência das palavras mais evocados e a coesão entre si, nos três
A respeito da CHD, foram obtidas três Classes, que emergiram do conteúdo total nos três
no Período 1. Por fim, a Classe 2 (Desconfiança das Estatísticas), abordou a descrença dos
Período 2.
paradigma teórico vigente, que atribui valor a cada objeto, pessoa ou fenômeno, organizando-
foram apoiadas em valores negativos, construindo uma imagem única para os sentidos de
crise vivida pelos brasileiros, em razão da pandemia de COVID-19, considera-se que os dias
atuais são marcados por imagens negativas, que desqualificam e desprestigiam, de forma
que pouco incentivou o pensamento reflexivo e crítico, inclusive sobre si mesmo e que se vê
pouco capaz de planejar seu futuro, a partir de sentidos positivos, como a confiança e o
crédito.
aproveitamento dos seguimentos de textos, não foi possível a utilização de todos os seguimentos
limitada.
Sabe-se que a amostra analisada não foi representativa, porém, vislumbra-se que houve
convergência nas evocações analisadas, no que diz respeito aos sentidos de ancoragem
apreendidos. Deste modo, pode-se refletir, a partir dos achados desta pesquisa, que as medidas
Em contrapartida, não há dúvidas de que muitas dessas estratégias possam causar impacto
socioeconômico alarmante, que repercutirá em outra crise social no país. Porém, é preciso
refletir que essa consequência na saúde e na economia é produto da gestão pública brasileira e do
sistema capitalista e neoliberal, que vem gerando desigualdades sociais e dificuldades de acesso
ao sistema de saúde, emprego e renda, mazelas estas que foram potencializadas pela pandemia.
de calamidades públicas.
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