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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo

IX Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo (JPJOR)


Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO) – Novembro de 2019
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Representações de Sérgio Moro na narrativa


jornalística da revista ​Veja

Eduardo Iarek1
Maria Terezinha da Silva (Orientadora)2

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Resumo: Esta pesquisa tem como objeto de estudo as representações que fundamentam a
imagem pública de Sérgio Moro construída pela narrativa jornalística da Revista ​Veja.​ A partir
de uma abordagem de representações sociais (Moscovici, 2011; Jodelet, 2001), e de imagem
pública (Lima; Simões, 2017; Weber, 2009), busca-se identificar o modo como ​Veja representou
Moro em momentos distintos - desde que era desconhecido pelo público, em 2014, e adquiriu
fama ligada à atuação na Lava Jato, até a ida para o ministério da Justiça e durante o caso do
vazamentos de diálogos entre o então juiz e procuradores do Ministério Público Federal, em
junho de 2019. Os resultados mostram representações positivas de Moro, que projetaram a
imagem de um juiz guiado pela “missão” de combater a corrupção, que se modifica um pouco,
recentemente, quando é associado à imagem de juiz que faz “justiça com as próprias mãos”.

Palavras-chave​: Jornalismo; representações; imagem pública; Sérgio Moro; Revista Veja.

1. Introdução
Os acontecimentos envolvendo problemas de corrupção denunciados pela
Operação Lava Jato e alguns julgamentos realizados por Sérgio Moro enquanto juiz
responsável pelos processos em primeira instância na 13ª Vara Federal de Curitiba,
entre abril de 2014 e outubro de 2018, ganharam repercussão público-midiática através

1
Estudante de Graduação do 6º. semestre do Curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Expressão da
Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista de Iniciação Científica UFSC/CNPq, a quem agradecemos pelo
apoio, e-mail: ​eduardo.iarek@gmail.com

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​Orientadora do trabalho. Professora do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina -
UFSC, e-mail: ​terezinhasilva@yahoo.com

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das narrativas jornalísticas, principalmente a partir da metade de 2014. Também


influenciaram e tiveram consequências sociais e políticas importantes no Brasil, para a
população, para instituições e mesmo para atores envolvidos de algum modo pelas
ações da Lava Jato, seja porque foram investigados ou denunciados, seja porque
ganharam notoriedade neste período.
Dentre estes atores, Sérgio Moro, ex-juiz e atual ministro da Justiça no governo
de Jair Bolsonaro, se sobressai pela fama construída em torno de sua atuação ligada ao
problema público da corrupção, e, especialmente, do julgamento que levou à prisão o
ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018. Moro e a Lava Jato
tiveram presença constante na agenda das grandes mídias no período, a partir de
enquadramentos dos acontecimentos que contribuíram para a notoriedade, legitimidade
e aprovação pública do ex-juiz, de outros agentes da Lava Jato e das ações desta
operação (SILVA; FRANÇA, 2017; SILVA; SIMÕES, 2019).
A revista ​Veja ​destacou-se pela visibilidade e apoio à Lava Jato e ao então juiz.
Somente depois de 09 junho de 2019, quando o site T​he Intercept Brasil ​publicou uma
série de reportagens que revelam conversas entre Moro e procuradores do Ministério
Público Federal que evidenciam direcionamento do juiz no trabalho da acusação nos
processos da Lava Jato, é que há certa mudança no modo como parcela da chamada
“grande imprensa” retrata Moro, como foi o caso da revista ​Veja.
É este contexto que nos estimula a discutir a relação do jornalismo com a
construção de representações sociais sobre figuras públicas e o modo como a
representação projeta determinada imagem pública destes atores, o que é importante
porque se relaciona com a legitimidade ou não deles no espaço público. De forma mais
específica, analisa-se aqui a construção de representações de Sérgio Moro na narrativa
jornalística de ​Veja, ​a partir de um conjunto de edições e reportagens publicadas entre
novembro de 2014 e junho de 2019. O recorte temporal inclui diferentes momentos da
trajetória de Moro. Desde que era um desconhecido juiz de primeira instância, até os
momentos em que já tinha construído fama por julgamentos como o do ex-presidente
Lula, a ida para o ministério da Justiça e o envolvimento de seu nome no escândalo do

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vazamento dos diálogos pelo ​The Intercept Brasil - o que permite identificar as
representações em diferentes contextos, a imagem pública que elas projetam, bem como
as possíveis mudanças na narrativa da revista ​Veja ​sobre Sérgio Moro.

2. Representação, imagem pública e jornalismo


Representação é um conceito importante em várias áreas das ciências humanas,
entre elas nos estudos da Comunicação e do Jornalismo. Como destacam Corrêa e
Silveira (2014, p. 123), é um conceito “complexo e polissêmico”: seu sentido depende
do campo em que é utilizado (sociologia, antropologia, semiótica, linguística,
psicologia, filosofia, história, dentre outros). Sendo assim, no presente artigo adotamos
o conceito de representação conforme entendido por Serge Moscovici (2011) e Denise
Jodelet (2001, p.1), pela importância que eles atribuem à comunicação e à linguagem no
processo de construção de representações – o que permite a relação com o Jornalismo.
Na teoria de representação social que desenvolve, Serge Moscovici (2011)
afirma que o papel de toda representação é ajudar a perceber e compreender os fatos: é
tornar “familiar algo não familiar” (MOSCOVICI, 2011, p. 54). Para ele, as
representações cumprem duas funções centrais na vida social, que é a orientação e a
comunicação. Elas servem para nos orientar, perceber e compreender o que acontece à
nossa volta, e, também, para nos comunicar uns com os outros, pois elas carregam
sentidos que são socialmente compartilhados. Ele​ ​define representação social como:
Um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função:
primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas
orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em
segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os
membros de uma comunidade, fornecendo-lhes um código para
nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos de seu
mundo e da sua história individual e social (MOSCOVICI, 2011,
p.21).

Como explica Denise Jodelet (2001), Moscovici compreende a realidade social


como uma construção consensual estabelecida na interação e na comunicação. A
representação social é sempre uma representação de alguma coisa (objeto) e de alguém
(sujeito) (JODELET, 2001). Para ela, as representações são uma forma de nomear e

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definir os aspectos da realidade cotidiana. As diferentes maneiras de representação que


circulam nos discursos “são carregadas nas palavras, veiculadas nas mensagens e
imagens mediáticas e cristalizadas nas condutas e agenciamentos materiais ou
espaciais” (JODELET, 2001, p.1).
No entendimento que fazemos desta abordagem de representação social,
reconhecemos que há conflitos e disputas de sentido em torno das representações, na
medida em que diferentes sujeitos representam diferentemente o mundo, a partir de seus
valores, crenças e ideologias.
A partir desta perspectiva, então, pode-se ver que comunicação e representação
são mutuamente dependentes: as representações circulam e se atualizam através da
comunicação, ou de interações comunicativas; e a comunicação se fundamenta nas
representações sociais (sentidos comuns, compartilhados); sem representações sobre o
outro e sobre o mundo seria impossível a comunicação (FRANÇA, 2004).
Por isso, entende-se que representação é um conceito fundamental também para
o campo do jornalismo e para pensar o processo de construção social da realidade
efetuada na interação que estabelece com a sociedade. O jornalismo é uma prática
comunicativa (SILVA; FRANÇA, 2017), portanto ele é alimentado, em suas práticas e
narrativas, pelas representações que circulam na sociedade, ao mesmo tempo em que
participa do processo de (re)elaboração das representações sociais, podendo tanto
atualizá-las, questioná-las e/ou cristalizá-las.

[...] o estudo das representações se apresenta como área de


fundamental importância para o campo da comunicação, uma vez que
as instâncias midiáticas, sejam elas o jornalismo, a publicidade, as
narrativas ficcionais, estão constantemente oferecendo, reutilizando e
se apropriando de representações imagéticas e textuais para construir
seus discursos e promover a interação com seus públicos (CORRÊA;
SILVEIRA, 2014, p.125).

No caso da relação do jornalismo com a política, as representações elaboradas


sobre as figuras públicas políticas, suas atuações e sobre os problemas públicos, como a
corrupção, por exemplo, estão na base da construção da imagem pública. As narrativas

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jornalísticas participam decisivamente no processo de construção da imagem pública


dos atores políticos. Como defendido por Lima e Simões:
A imagem pública de um sujeito, um grupo ou uma instituição é
construída a partir de um universo de representações que emergem
sobre cada um/a em diferentes espaços. Na sociedade contemporânea,
a mídia pode ser vista como um lugar central na produção de tais
representações, que se articulam na constituição das imagens públicas
(LIMA; SIMÕES, 2017, p. 3).

Estudar o papel do jornalismo na construção de representações e,


consequentemente, da imagem públicas dos atores é importante, porque, como destaca
Maria Helena Weber (2009), o reconhecimento de instituições e sujeitos da política
depende da imagem constituída pela opinião, expressa publicamente, de determinadas
pessoas ou instituições sobre outras pessoas e instituições. Para a autora, a imagem
pública é um mecanismo para garantir visibilidade e credibilidade (WEBER, 2009).
Maria Helena Weber chama atenção para o caráter estratégico da construção da
imagem por parte dos atores, destacando que ela é constituída por disputas simbólicas
(WEBER, 2009). Segundo a autora, este processo é uma mediação, onde o resultado
final é diferente do objetivo desejado por quem exibe determinada imagem. Apesar das
tentativas em projetar uma imagem pública para a sociedade, “sua construção e
proporcional desconstrução é definida pelo cidadão, receptor, consumidor, em seu
grupo ou individualmente em um processo que forma opiniões” (WEBER, 2004, p.
290).
Além de constituída por disputas simbólicas que se dão em diferentes espaços
sociais, entre eles as mídias, a imagem pública é “relacional, multifacetada, contextual”,
como sintetizam Silva e Simões (2019), a partir dos estudos de Lima e Simões (2017).
1) a imagem pública é relacional, é construída na interação entre os
sujeitos públicos e a sociedade, as instituições, os meios de
comunicação, outros políticos, a família;
2) a imagem pública não é unívoca, é multifacetada, composta por
diferentes representações e sentidos;
3) a imagem pública é contextual, ou seja, é localizada temporal,
histórica e socialmente (LIMA; SIMÕES, 2017, p. 15).

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Vê-se, portanto, como o jornalismo e as mídias jornalísticas desempenham um


papel central na construção da imagem pública, através das narrativas produzidas sobre
a política e os atores políticos, as quais carregam representações e sentidos sobre eles.
Para ilustrar este nosso argumento, propomos um exercício de análise sobre a
construção de representações de Sérgio Moro na revista ​Veja e como elas projetam
determinada imagem pública sobre o ex-juiz e atual ministro da justiça.

3. Procedimentos Metodológicos
A revista ​Veja foi escolhida para esta análise pela alta noticiabilidade dada às
ações da Operação Lava Jato e ao próprio juiz Sérgio Moro, conforme já foi apontado
em outras pesquisas (SILVA; FRANÇA, 2017) e como identificamos em nossa pesquisa
exploratória. A escolha também é justificada porque, apesar da queda em número de
leitores e assinantes, que afeta as mídias impressas em geral, trata-se de uma revista
com significativa inserção ainda entre leitores brasileiros, especialmente da classe
média (alta e baixa). Dados do Mídia Kit ​Veja3 de fevereiro de 2019 indicam que, em
média, a versão impressa da revista distribui 329.526 exemplares por edição.
O recorte do objeto empírico desta pesquisa (figura 1) totaliza um corpus de seis
edições, entre elas as três primeiras em que Sérgio Moro aparece na capa de ​Veja
enquanto juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba e as três capas em que ganhou destaque
após aceitar o convite para integrar o Ministério da Justiça e Segurança Pública do
governo de Jair Bolsonaro. As edições selecionadas abrangem um período de quatro
anos e meio, relativas às semanas de 05 novembro de 2014, 06 de maio de 2015, 30 de
dezembro de 2015, 07 de novembro de 2018, 19 de junho de 2019 e 5 de julho de 2019.

3
O Midia Kit Veja é uma apresentação sobre a revista, feita pela própria ​Veja, que diz conter, entre outras
informações, um levantamento das vendas e circulação do periódico realizado pelo Instituto Verificador de
Circulação (IVC): http://publiabril.abril.com.br/marcas/veja/plataformas/revista-impressa. Acesso: fevereiro de 2019.

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Figura 1: Recorte do objeto empírico

Consideramos que esta seleção do ​corpus é​ adequada para observar


representações construídas por ​Veja ​no contexto de diferentes acontecimentos que
marcaram a trajetória de Sérgio Moro desde que ele começa a se tornar conhecido pela
atuação na Operação Lava Jato. Além disso, permite verificar se há possíveis mudanças
no modo como a revista o retrata e projeta a sua imagem pública.
A partir da compreensão da representação como um sistema de valores, práticas
e ideias que nos orientam na percepção do mundo e nos ajudam a nomear e classificar
algo ou alguém a partir daquilo que já nos é familiar e conhecido (Moscovici, 2011;
Jodelet, 2001), produzindo e reelaborando sentidos compartilhados acerca de objetos e

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sujeitos, busca-se, na leitura do material empírico selecionado, identificar o modo como


a revista ​Veja ​representa Sérgio Moro. Ou seja, como ela retrata, nomeia, qualifica
Moro e suas ações nos diferentes momentos do período analisado e que ideias e valores
aparecem associados à sua atuação. A partir desta análise, entende-se ser possível,
então, em um segundo momento, apreender a imagem pública de Moro projetada pela
cobertura jornalística de ​Veja.

4. Resultados
Sérgio Moro começa a obter destaque na revista ​Veja principalmente a partir da
edição de novembro de 2014, nove meses após a deflagração da primeira fase da
Operação Lava Jato, ocorrida em março. É nesta edição que Moro ganha sua primeira
capa na publicação, com a manchete “​Operação Mãos-Sujas”​, uma referência à famosa
operação “Mãos Limpas”, realizada na Itália, nos anos 90. A ideia presente no título da
reportagem principal, que conta com oito páginas de conteúdo, já indica o modo como
Veja passa a representar o magistrado a partir desses primeiros meses da Lava Jato:
“​Agora querem destruir o Juiz”​ (VEJA, 2014).
Moro é retratado como um juiz que começa a ser vítima de tentativas de
desqualificação por parte de acusados de corrupção e seus advogados, que estariam
dedicados a identificar falhas do magistrado na condução do processo. A construção
narrativa da revista sobre as estratégias da defesa diz que “um dos planos é construir
perante a opinião pública uma nova imagem do juiz - uma imagem desabonadora,
obviamente, de quem atropela as mais básicas regras processuais” (VEJA, 2014, p. 68).
Até então um desconhecido juiz de primeira instância, Sérgio Moro aparece com
​ publicação salienta sua participação
uma biografia destacável na narrativa de ​Veja. A
no julgamento de três grandes esquemas de corrupção: o caso Banestado, com a
condenação de 97 pessoas, a Operação Farol da Colina e o Leilão de bens de um
traficante em 2013. Além disso, também são destacados seu período de estudos em
Harvard e sua atuação como auxiliar da ministra do STF, Rosa Weber, durante o

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Mensalão. Dessa forma, projeta-se a imagem de um ator que já atuava em


acontecimentos e espaços destacáveis. Neste contexto, ​Veja ​o representa como:
obstinado no trabalho e discreto a ponto da maioria de seus colegas
desconhecer detalhes de sua vida pessoal. [...] Um daqueles sujeitos
intocáveis, incorruptíveis, com uma carreira cujos feitos passados
explicam seu comportamento no presente e prenunciam um futuro
brilhante (VEJA, 2014, p. 63).

A construção de representações positivas de Sérgio Moro se mantém nas


edições seguintes da revista ​Veja.​ Mesmo quando apresenta algum elemento de crítica e,
assim, de representação negativa acerca do juiz e sua atuação, através principalmente de
alguma crítica proveniente de outros atores - como os acusados e seus advogados -, a
revista traz outros elementos ou posicionamentos atribuídos ao magistrado, os quais
colaboram para defender ou justificar sua atuação.
Na edição do dia 6 de maio de 2015, com chamada principal de capa “O Juiz
Moro Vê Mais Longe​” e reportagem de 12 páginas intitulada “​O juiz e o juízo final”​,
Veja qualifica a decisão do STF em transferir empreiteiros presos para a prisão
domiciliar como a primeira derrota relevante do magistrado na condução dos processos
da Lava Jato. A revista relata críticas de advogados de defesa que o acusam de manter a
prisão preventiva dos empresários a fim de forçá-los a fechar acordos de delação
premiada. Entretanto, a menção às críticas e à derrota é amenizada pelos apoios que
Moro teria angariado junto a ministros do STF (Cármen Lúcia e Celso de Mello),
contrários à soltura, e pela comparação que é feita com a Operação Mãos Limpas, na
Itália, tida como inspiração de Moro, cujo sucesso teria se baseado em três pilares:
prisão, considerada por ele fundamental mesmo antes da condenação para marcar a
seriedade do crime; delação, vista como única forma de desvendar uma organização
criminosa, e divulgação, para a conquista da opinião pública. Além de justificar, desta
forma, as ações de Moro, a revista representa-o como alguém que construiu uma
trajetória de sucesso, atribuindo-lhe certas qualidades intelectuais e profissionais:
Moro é considerado um juiz de alta competência técnica. Já era assim
quando cursou direito na universidade estadual de maringá, no
paraná, onde ganhou fama de “geniozinho”. Continuou desse jeito no
estágio no escritório do tributarista Irivaldo Joaquim de Souza, que
tem meio século de experiência e só elogios para Moro: ‘Era um

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estagiário brilhante’. E seguiu dessa forma quando prestou o rigoroso


concurso para juiz federal em 1996, no qual tirou um honroso
segundo lugar (VEJA, 2015, p. 54).

Na representação positiva que faz de Moro, a revista lhe dá outros atributos que
colaboram para sustentar a narrativa de um ​juiz que vê mais longe. “Além do talento há
outra qualidade que não falta a Moro: coerência” (VEJA, 2015, p. 54). A revista o
retrata como um juiz imbuído pela missão de salvar a democracia e o Brasil da
corrupção: “Na sua trajetória profissional, talvez o dado mais forte seja seu sentido de
missão, especialmente no que diz respeito a higienizar a democracia brasileira,
amputando o braço da corrupção” (VEJA, 2015, p. 54).
A representação associada à salvação (do Brasil e do período difícil pelo qual
passaria) aparece mais explicitamente na edição de 30 de dezembro de 2015, na qual
Sérgio Moro ganha nova capa, intitulada ​“Ele salvou o ano!​”. A reportagem pesquisou
as sentenças que Sérgio Moro lavrou de 5 de fevereiro de 2000 até 2 de dezembro de
2014. Entre o conteúdo das nove páginas, ​Veja destaca que Moro tornou-se uma
celebridade, recebida em locais públicos com ​selfies e aplausos. “Com a notoriedade,
Moro teve de abandonar o hábito de ir ao trabalho de bicicleta. Está um pouco mais
gordo e, apesar da timidez pétrea, um pouco mais desinibido” (VEJA, 2015, p. 50).
A revista salienta características que atribui como marcantes da trajetória de
Moro. Entre elas, destaca que ele “procura combinar rigor e generosidade” (VEJA,
2015, p. 50) pois nunca aplicaria a pena máxima, às vezes recorre à mínima, e, quando
pode, converteria a reclusão em prestação de serviço à comunidade. A reportagem diz
que as sentenças do começo da carreira “mostram um magistrado idealista e inclinado à
promoção da justiça social. [...] Chegou a ser conhecido como ‘o juiz dos velhinhos’ por
sua tendência a julgar em favor deles e contra o INSS” (VEJA, 2015, p. 50).
Diferente da maneira como a revista representa Sérgio Moro nas publicações de
2014 e 2015, apenas com características que configuram uma imagem positiva, em “​A
pirueta de Moro​”, de novembro de 2018, começam a aparecer representações negativas
sobre a figura pública. Neste novo contexto, quando ele aceita o convite para o
Ministério da Justiça Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro, a narrativa de

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Veja questiona, em certa medida, a decisão de deixar a carreira de magistrado para


ingressar no governo. O então juiz que aparecia nas capas anteriores com uma expressão
facial que remete à seriedade, desta vez está com o dedo indicador sobre a boca, num
gesto que parece indicar um pedido de silêncio ou de calar a boca.
A reportagem “​A pirueta de Moro”​ traz fragmentos em que ​Veja ​parece adotar
uma postura mais crítica em relação a ele, o que até então não aparecia em seus relatos.
A revista relembra que ele “disse que jamais entraria para a política”, sinalizando neste
novo contexto uma incoerência de Moro - contrariando, assim, a própria narrativa
anterior, quando enfatizava justamente a coerência como sendo uma de suas qualidades.
Ao fazer um balanço das consequências do então juiz integrar a equipe de governo, em
um primeiro momento ​Veja destaca a capacidade para o novo cargo: “Moro está
perfeitamente apetrechado para ser um ministro da justiça altamente eficaz” (VEJA,
2018, p. 40). Em seguida, diz que “é inegável que ao entrar no governo, Moro dá um
extraordinário impulso às acusações de que no fundo tinha ambições e preferências
políticas”, no entanto, afirma que apesar de “pegar mal para um juiz, nada disso
compromete o valor técnico de suas decisões jurídicas” (VEJA, 2018, p. 42).
Assim, mesmo quando incorpora certos elementos críticos à representação sobre
Moro, a narrativa traz outros que se sobrepõem à crítica feita, reafirmando a
legitimidade das ações enquanto juiz. Como em edições anteriores, reforça a
representação de Sérgio Moro como um ator que é guiado pelo cumprimento de uma
missão, desta vez, no ministério: “sua missão será manter o combate sem tréguas à
corrupção, como vinha fazendo na Lava-Jato, e abrir uma nova frente: o combate à
criminalidade” (VEJA, 2018, p. 40). A revista traz para sua narrativa algumas fontes
criticando a passagem do magistrado para o ministério, qualificando-a como “um
desastre” que explicitaria a parcialidade do juiz: “Com o gesto estará assumindo uma
posição política, e acaba a imagem de imparcialidade”4 (VEJA, 2018, p. 43). Ao mesmo
tempo em que incorpora este tipo de questionamento, porém, ​Veja deslegitima críticas

4
Fala atribuída ao ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias - cujo argumento é desacreditado pela
revista ao afirmar que Dias “tem seus interesses: foi advogado de Marcelo Odebrecht”, preso pela
operação em 2016 (VEJA, 2018, p. 43).

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sob o argumento de que se trataria de narrativa do PT para livrar Lula das condenações
de corrupção. “O discurso petista contra Moro sempre foi um discurso de ocasião para
salvar um corrupto comprovado” (VEJA, 2018, p. 42). Neste novo contexto, como se
observa, embora levante dúvidas e questionamentos sobre a ida de Moro para o
ministério, abrindo brechas a outras representações - juiz movido pela parcialidade e
posição política -, a revista continua retratando positivamente e justificando sua atuação
na Lava Jato, porque o país estaria em um nível moralmente superior a antes:
O esquema de corrupção na Petrobras foi amplamente desvendado,
corruptores e corruptos foram identificados, julgados e presos - tudo
dentro da lei, tudo referendado pelos tribunais superiores, Não há,
portanto, que falar de ilegalidade nas investigações nem no processo
que elevou o Brasil a um estágio superior de civilidade moral (VEJA,
2018, p.45).

Se as edições anteriores mobilizam representações que colaboram para construir


uma imagem de Moro como uma figura pública repleta de qualidades intelectuais,
profissionais e morais, a edição de 19 de junho de 2019 marca uma virada no modo
como ​Veja retrata o ex-juiz. Intitulada “​Desmoronando”​ , a edição foi publicada na
semana após a divulgação das conversas entre o ex-juiz e procuradores do Ministério
Público Federal pelo site ​The Intercept Brasil. ​Na capa, a manchete e uma ilustração do
busto de Moro rachando e caindo em pedaços remetem à ideia de destruição.
Desde que começou a dar destaque a Moro, no final de 2014, a narrativa de Veja
elaborou representações que ajudaram a construir a imagem pública que Moro,
consolidada junto a vários segmentos sociais do país, como um herói do combate à
corrupção. Entretanto, o título da nova reportagem - “​A desconstrução do herói”​ -
sinaliza mudanças na forma de representá-lo. A ideia de juiz imparcial e correto em suas
práticas já não parece tão evidente na narrativa. Para a revista, os diálogos revelados
mostrariam “o estabelecimento de uma relação de cooperação incompatível com a
imparcialidade exigida por lei de qualquer juiz” (VEJA, 2019, p. 44). Moro utilizaria
métodos classificados como “métodos heterodoxos” (VEJA, 2019, p. 48).
A crítica incorporada à forma de representar Moro se torna mais contundente,
três semanas depois, na edição do dia 10 de julho, na qual ele passa a ser retratado como

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um juiz que faz “​Justiça com as próprias mãos”​ , conforme a manchete​. Representando
a parcialidade do juiz e o desrespeito às regras do direito, Moro aparece na capa
abaixando, com o dedo, um dos lados da balança, símbolo da Justiça. A reportagem de
10 páginas, produzida em parceria com o site ​The Intercept Brasil e intitulada “​Justiça a
todo custo”​ , afirma logo na linha fina que “Sérgio Moro cometeu, sim, irregularidades
durante seu período como juiz da Lava-Jato” (VEJA, 2019, p. 34). Entre elas, o
favorecimento da acusação em julgamentos. “De fato, está na rotina de um juiz receber
as partes envolvidas no processo, mas de maneira oficial, sempre com registro, e não
por meio de um sistema privado de comunicação” (VEJA, 2019, p. 35).
A representação de Moro como um juiz que “infringiu as leis do processo”
aparece através de um juiz-fonte não identificado na reportagem (VEJA, 2019, p. 39),
mas a própria revista explicita a mudança de posicionamento nesse contexto: “as
revelações enfraquecem a imagem de correção absoluta” (VEJA, 2019, p.35). Outras
fontes acionadas na narrativa o associam a práticas indevidas: “um juiz não pode ocultar
provas, e, se o diálogo tiver a autenticidade comprovada, estamos diante de uma
conduta bastante problemática”5 (VEJA, 2019, p.41). Também o retratam como um juiz
que “confundiu totalmente os papéis [...]. O magistrado que investiga nunca é o que
julga, nem na Itália nem e nenhuma democracia do planeta”6 (VEJA, 2019, p. 42). Na
mudança na forma de representar Moro, chama a atenção como ​Veja procura
desvincular a imagem dele da Lava Jato, destacando que ele não faz mais parte da
operação. Assim, a revista silencia sobre o fato de que os vazamentos provocaram
críticas justamente a práticas de Moro quando era o responsável pelo julgamento dos
processos da Lava Jato na primeira instância da Justiça (VEJA, 2019, p. 43).

5
Fala atribuída por Veja ao advogado e professor de processo penal da USP, Gustavo Badaró (VEJA,
2019, p.41).

6
Fala atribuída por Veja ao jurista Walter Fanganiello Maierovitch.

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5. Conclusão
Neste trabalho propomos estudar as representações produzidas pela revista ​Veja
sobre Sérgio Moro, entendendo que elas estão na base da constituição da imagem
pública e que esta revista teve um papel importante na construção da imagem de Moro
no contexto brasileiro. A partir da abordagem de representação proposto por Moscovici
(2011) e Jodelet (2001) - que a entendem como um conjunto de ideias, valores e práticas
que ajudam os indivíduos a perceber e nomear objetos, pessoas e ocorrências, a se
orientar e a se comunicar -, buscamos identificar o modo como ​Veja representou Sérgio
Moro desde sua aparição, em 2014, até junho de 2019. Para identificar as representações
de Moro e, assim, a imagem pública construída​, analisou-se conteúdos de seis edições
da revista, publicadas neste período, em que ele foi destaque na capa.
Os resultados da análise mostram que ​Veja constrói representações positivas de
Sérgio Moro desde que começou a lhe proporcionar grande visibilidade em sua
cobertura jornalística, no final de 2014, ligando-o às ações da Lava Jato. Considerando a
alta visibilidade dada pela revista, comparativamente a outras mídias, conforme
mostramos neste trabalho, e o modo como o representa ao longo de período, até sua ida
para o Ministério da Justiça, pode-ser dizer que ​Veja teve um papel central, na esfera do
jornalismo brasileiro, por construir a imagem pública que Sérgio Moro tem junto a
vários segmentos sociais no Brasil. Uma imagem que o identifica como um herói guiado
pela missão de salvar o país da corrupção. Fechada até recentemente a outras formas de
representação social do então juiz, que incorporam elementos críticos às suas práticas
no judiciário como a de um juiz parcial, ​Veja o retrata apenas destacando facetas
pessoais, profissionais e intelectuais positivas. Ele é representado como obstinado,
discreto, intocável e incorruptível; um profissional tecnicamente capacitado e brilhante,
talentoso e coerente; um juiz ao mesmo tempo rigoroso e generoso, preocupado com a
justiça social e com a aplicação de penas justas, tendo em vista que seria um juiz
imbuído da missão de salvar a democracia brasileira e o país do problema da corrupção.

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A revista o retrata positivamente mesmo após a decisão de Sérgio Moro ir para o


Ministério da Justiça do governo Bolsonaro. No contexto deste acontecimento, ​Veja
menciona possíveis consequências de sua decisão, como a de reforçar o discurso
segundo o qual Moro atuou com parcialidade e motivação política nos julgamentos da
Lava Jato. No entanto, mantém a defesa da legalidade de suas ações e dos processos da
Lava Jato, associando-os à elevação do Brasil “a um estágio de civilidade moral”
(VEJA, 2018, p.45), bem como reforça sua capacidade para o novo cargo e seu “sentido
de missão”, agora no combate à corrupção e à criminalidade à frente do ministério.
A partir do vazamento das conversas entre Sérgio Moro e membros do
Ministério Público Federal, reveladas pelo site ​The Intercept Brasi​l e divulgadas pela
revista ​Veja e​ m junho de 2019, ​seis meses após sua posse como ministro da Justiça, há
algumas mudanças na forma como a narrativa o representa. O relato de ​Veja passa a
levantar questionamentos acerca dos métodos utilizados por Moro na Lava Jato - até
então sempre legitimados pela cobertura jornalística da revista, na qual as críticas feitas,
especialmente por apoiadores ou advogados de defesa dos atores implicados nas
denúncias, eram percebidas como tentativas de derrubar ou enfraquecer a imagem do
juiz. No novo contexto, Sérgio Moro passa a ser associado, no discurso de ​Veja e/ou de
atores trazidos para sua narrativa, à imagem do herói em desconstrução. É representado
como um juiz que cometeu irregularidades, ao desrespeitar leis do processo, usando
“métodos heterodoxos” agora questionados, e confundido papéis (juiz e acusador).
Assim, se as representações elaboradas pela revista ​Veja no transcurso de sua
cobertura de acontecimentos envolvendo a atuação de Sérgio Moro, entre o final de
2014 e 2018, colaboraram para a projeção de sua imagem pública associada à ideia de
um juiz-herói guiado pelo “sentido de missão” (o combate à corrupção e à
criminalidade), as representações na narrativa recente da revista incorporam à imagem
facetas de um juiz que faz “​Justiça com as próprias mãos”​ e “a qualquer custo” (VEJA,
2019, p.01 e 34). Retomando a discussão sobre imagem pública como sendo relacional,
contextual, multifacetada por diferentes representações e sentidos (LIMA; SIMÕES,
2017; SILVA; SIMÕES, 2019) e constituída por disputas simbólicas (WEBER, 2009)

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ocorridas em distintos espaços sociais, vemos como a imagem de Moro apresenta certa
reconfiguração no interior da própria construção narrativa da ​Veja, a​ partir de um novo
contexto, de acontecimentos e interações com outros atores e instituições - o que
promove certa revisão sobre sua atuação retratada por esta revista. Não há, porém, no
material empírico analisado de ​Veja, qualquer auto-crítica jornalística ou referência ao
papel e responsabilidade da própria revista na elaboração das representações anteriores
feitas por mais de quatro anos. Essas representações colaboraram decisivamente para
construir a fama e notoriedade, mencionadas na própria narrativa de ​Veja sobre a
trajetória de Sérgio Moro, e para projetar a imagem - acrítica e pouco multifacetada por
outras representações e sentidos contrastantes -, de um juiz-herói, correto, imparcial e
justo, na missão de salvar o Brasil da corrupção.

Referências

CORRÊA, L. G.; SILVEIRA, F. J. N. da. Representação. In: VEIGA, V. F.; MARTINS, B. G.;
MENDES, A. M. ​Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade (GRIS): ​trajetória,
conceitos e pesquisa em comunicação. Belo Horizonte: PPGCOM UFMG, 2015. p. 208-215.

FRANÇA, Vera. Representações, mediações e práticas comunicativas. In: PEREIRA, Miguel;


GOMES, Renato C.; FIGUEIREDO, Vera Lúcia F. de. (Org.) ​Comunicação, representação e
práticas sociais.​ Ed. PUC Rio, Rio de Janeiro, 2004, pp 13-26.

JODELET, D.​. ​Representações sociais: um domínio em expansão. Rio de Janeiro: Editora


UERJ, 2001.

LIMA, L. A.; SIMÕES, P. G. ​A construção da imagem pública de Dilma durante o


impeachment: uma análise preliminar. In: 41º Encontro Anual da Anpocs. Gt 17 Mídias,
política e eleições. Caxambu, 2017.

MOSCOVICI, Serge. ​Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis:


Vozes, 2011. p. 7-109.

SILVA, T.; SIMÕES, P. G. ​De Juiz Popstar a Superministro: a imagem pública de Sérgio
Moro no contexto brasileiro. Porto Alegre: Compós, 2019.

SILVA, T.; FRANÇA, V. ​Jornalismo, noticiabilidade e valores sociais. E-Compós, v. 20, n.


3, 24 dez. 2017.

WEBER, M. H. ​Imagem Pública​. In: RUBIM, A.C. Comunicação e política: conceitos e


abordagens. Salvador: Edufba, 2004. p.259-308.

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WEBER, M. H. ​O estatuto da Imagem Pública na disputa política​. ECO-Pós, v.12, n.3,


setembro-dezembro 2009, p.11-26.

Referências do material empírico:

VEJA. São Paulo: Editora Abril, edições 2398, 2424, 2458, 2607, 2639, 2642, ano 47, 48, 48,
51, 52, 52, nº 45, 18, 52, 45, 25, 26, 05 novembro 2014, 06 maio 2015, 30 dezembro 2015, 07
novembro 2018, 19 junho 2019, 10 julho 2019. Semanal.

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