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RESUMO
As atividades desenvolvidas neste projeto de iniciação científica fazem parte de uma
pesquisa iniciada em 2017, que explora as relações entre os acontecimentos noticiados pelo
jornalismo e o que eles revelam acerca de valores sociais vigentes e questões públicas
importantes na atualidade. Nesta etapa da pesquisa, partiu-se de mapeamento de
acontecimentos de alta noticiabilidade no período 2015-2016 que continuavam repercutindo
em 2018, como foi o caso da operação Lava Jato. Priorizou-se o estudo da relação entre
acontecimentos e a atuação de figuras públicas, buscando identificar o modo como elas são
representadas no contexto dos acontecimentos e a que valores são associadas.
Identificamos que o ex-juiz federal e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, teve alta
noticiabilidade e notoriedade construída no processo de midiatização da operação Lava Jato,
entre 2014 e 2018. Analisamos as representações de Sérgio Moro pela revista Veja e a
imagem pública que elas projetam do ex-juiz no contexto brasileiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O projeto de pesquisa realizou reuniões ao longo do período (agosto de 2017 a julho de
2018) com o objetivo de continuar a discussão da bibliografia de referência para embasar
teoricamente o trabalho. Um dos conceitos centrais nesta etapa foi o de representação social.
Discutimos texto de Denise Jodelet (2001) sobre representação social. O mesmo em relação a um
trabalho dos pesquisadores André Melo Mendes e Raquel Dornelas (2019), que aplicam o
conceito de representação social proposto por Serge Moscovici (2011) para analisar as
representações do Islamita em reportagens da revista IstoÉ. Na perspectiva de Moscovici, a
comunicação e a linguagem são fundamentais na constituição das representações - um sistema
de valores, práticas e ideias que orientam a maneira como interpretamos e atribuímos sentido ao
mundo (MOSCOVICI, 2011). Além dessas leituras, estudamos a diferença entre normas e
valores a partir de trabalhos de Tamires Coêlho e Laura Guimarães Corrêa (2015) e Pierre Livet
(2009) e revisamos a proposta de como começar um projeto de pesquisa (Braga, 2015).
Um complemento à bibliografia do projeto de pesquisa foram as discussões no grupo de
pesquisa TRANSVERSO, ao qual estamos ligados. A equipe realizou a leitura e discussão de
textos relacionados à cobertura jornalística e construção social da realidade (SEGANFREDO;
SILVA, 2007), cobertura jornalística, representações e valores (ANTUNES; LARA, 2012),
enquadramento (VIMIEIRO; MAIA, 2011), discurso e representação (DORETTO; FURTADO,
2018) e estudo de fontes no jornalismo (SARMENTO, 2014). Em seguida, no grupo Transverso,
foi planejado uma análise da cobertura da posse presidencial de Jair Bolsonaro nas revistas
Época e Carta Capital, jornais impresso Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo e portais de
notícias online UOL e G1. Após a coleta do material, foi analisado preliminarmente as notícias e
reportagens através da identificação do conteúdo da apuração na pré-produção ou no curso do
acontecimento e dos tipos de fontes utilizados. A pesquisa ainda está em andamento.
No que diz respeito à proposta do presente projeto de pesquisa e ao nosso plano de
atividades da bolsa de Iniciação Científica, demos continuidade a etapas desenvolvidas
anteriormente, quando identificamos a grande noticiabilidade dada às ações da Operação Lava
Jato, em 2015-2016, através de base de dados disponibilizada online pelo Laboratório de Análise
de Acontecimentos (GRISLAB/GRIS/UFMG)1. Partindo do mapeamento feito sobre aquele
período, fizemos uma exploração do material coletado com o objetivo de definir um
acontecimento para aprofundamento da análise. Considerou-se importante identificar,
1
O GrisLab é um projeto de pesquisa e extensão, desenvolvido pelo GRIS/PPGCOM/UFMG (Grupo de Pesquisa em
Imagem e Sociabilidade), com o qual o presente projeto tem relação.
primeiramente, aqueles de maior destaque que continuavam repercutindo consideravelmente
ainda em 2018. A partir de uma pesquisa no Google, identificamos que, relacionando os dois
períodos, os acontecimentos que ainda apareciam com alta noticiabilidade em 2018 eram os
seguintes: investigação de propriedades e atividades do ex-presidente Lula, o interrogatório de
Eduardo Cunha, o convite para Sérgio Moro compor o Ministério da Justiça, a candidatura de
Dilma Rousseff ao governo do estado de Minas Gerais e o aceite de denúncia tornando-a ré em
processo sobre corrupção na Petrobrás, declarações de Michel Temer sobre o governo Bolsonaro,
projeto de reforma da Previdência, emenda do Teto de Gastos Públicos e Reforma Trabalhista,
epidemia de Dengue, desastre ambiental de Mariana, estupro coletivo no Rio de Janeiro2. Ou
seja, ocorrências relativas à operação Lava Jato continuavam com alta noticiabilidade na agenda
midiática. A identificação e mapeamento destes acontecimentos foi realizada em 29 de
novembro de 2018.
Para a exploração do mapeamento de 2015-2016 levou em conta também a participação
da coordenadora do projeto na Rede Interinstitucional Acontecimentos e Figuras Públicas, uma
rede que reúne pesquisadores de 12 instituições de ensino superior do Brasil (UFMG, UFSC,
UFOP, UFV, UEMG, UFMT, Instituto Federal de Goiás, PUC Minas, PUC Rio, Unifesspa-
Universidade Federal do Sul-Sudeste do Pará, UFF e UFRJ), interessados no estudo das relações
entre acontecimentos, a aparição e atuação de figuras públicas na cena público-midiática.
Assim, mapeamos neste período uma série de atores que aparecem com relativo destaque
em ocorrências relacionadas à Operação Lava Jato - o acontecimento que aparecia como o de
maior repercussão no mapeamento realizado em 2015-2016 e que continuava repercutindo em
2018. São eles: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer, Sérgio Moro, Renan
Calheiros, Eduardo Cunha, Joesley Batista, Sérgio Machado, Cláudio Melo Filho, Marisa
Letícia, Romero Jucá, José Sarney, João Santana, Léo Pinheiro, Guido Mantega, Gim Argello,
Mônica Moura, Lúcio Funaro, Delcídio do Amaral, Paulo Okamoto, José Carlos Bumlai e José
Yunes. Além disso, nos dedicamos neste período a identificar acontecimentos capturados pelo
2
Além destes, apareceram ainda: os desdobramentos de investigações sobre a queda do avião com Eduardo Campos
em 2014, “panelaço” contra o PT, CPI do BNDES, desvio de merenda em São Paulo, divulgação de dados sobre
desemprego, discussões sobre privacidade na internet, crise na segurança do Rio de Janeiro, BREXIT, redução de
ministérios, ocupação das escolas e crise penitenciária.
Radar do Grislab em 2016 que se relacionam a Jair Bolsonaro, para entender a que
acontecimentos e temas esse ator político aparecia associado naquele momento, tendo em vista
que posteriormente passa a ser um ator central e de alta visibilidade no contexto político
brasileiro, sobretudo na fase anterior à campanha presidencial de 2018. Conforme a exploração
feita, Bolsonaro aparecia associado, em 2016, a dois acontecimentos: o aceite da denúncia contra
ele no STF em caso de violência de gênero envolvendo a deputada federal Maria do Rosário e o
seu discurso durante a votação do impeachment. A coleta realizada a esse respeito foi organizada
em banco de dados do projeto de pesquisa para posterior aprofundamento de análise.
Entre os atores políticos presentes na cobertura jornalística de 2016 que tiveram
visibilidade pela repercussão das ações da Operação Lava Jato, chama atenção a projeção
midiática de Sérgio Moro, na época juiz da 13ª vara federal de Curitiba, devido ao grande
destaque que lhe foi dado pela atuação nos julgamentos em primeira instância dos casos da
operação e pelo aceite para compor o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo de
Jair Bolsonaro em 2018. Devido à visibilidade e papel que Sérgio Moro passou a ter, no período,
no contexto político-social brasileiro, consideramos, então, importante investigar mais
detidamente a presença desta figura pública na cena público-midiática, buscando analisar
principalmente o modo como as mídias jornalísticas: a) avaliam a atuação e constroem a
notoriedade e imagem pública deste ator; b) possíveis valores sociais associados à sua atuação no
espaço público. Para tanto, foi realizado uma quantificação3 da visibilidade proporcionada ao
ex-juiz em notícias e reportagens da versão online dos sites de Carta Capital, Veja, Fórum, IstoÉ
e Época e em notícias e reportagens de portais de notícias online G1, R7, Terra e Uol. Como
procedimento metodológico adotado, utilizamos o mecanismo de busca avançada do Google para
localizar “Sérgio Moro” como palavra-chave nos textos de reportagens publicadas entre janeiro
de 2014 e dezembro de 2018. Os resultados são apresentados na tabela abaixo.
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A coleta do material em relação ao destaque a Sérgio Moro nos portais de notícias online foi realizada pela bolsista
Maria Helena de Pinho. A coleta dos sites de revistas foi realizada pelo bolsista Eduardo Iarek.
PRESENÇA GERAL DE SÉRGIO MORO NO SITE DAS REVISTAS (2014-2018)4
TOTAL POR
REVISTA/ANO 2014 2015 2016 2017 2018 REVISTA
VEJA 39 151 198 207 203 798
ÉPOCA 19 91 184 146 154 594
CARTA
CAPITAL 6 37 152 195 194 584
ISTOÉ 4 29 128 175 198 534
FÓRUM 1 28 88 97 199 413
TOTAL 69 336 750 820 948 3107
4
Conteúdo referente à soma das notícias e reportagens online, publicadas no site das revistas, que mencionam
“Sérgio Moro” tanto título quanto no corpo do texto.
PRESENÇA GERAL DE SÉRGIO MORO EM PORTAIS DE NOTÍCIAS (2014-2018)5
TOTAL POR
PORTAL/ANO 2014 2015 2016 2017 2018 REVISTA
G1 73 108 149 93 125 548
R7 7 42 73 166 136 424
Terra 10 34 66 165 190 465
UOL 8 37 186 204 243 678
TOTAL 98 221 474 628 694 2115
MENÇÕES EM TÍTULOS
TOTAL POR
PORTAL/ANO 2014 2015 2016 2017 2018 PORTAL
G1 6 31 138 80 122 377
R7 0 8 15 75 131 229
Terra 5 6 16 50 184 261
UOL 1 5 43 176 203 428
TOTAL 12 50 212 381 640 1295
Os dados mostram a variação no destaque para Sérgio Moro ao longo dos anos, que teve
seu nome pouco citado em notícias e reportagens de 2014, ano de deflagração da Operação Lava
Jato, mas aumentou progressivamente em Veja, Istoé, Fórum, Terra e UOL até 2018, com
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Conteúdo referente à soma das notícias e reportagens, publicadas nos portais, que mencionam “Sérgio Moro” tanto
no título quanto no corpo do texto.
pequena redução a partir de 2016 nas outras mídias. Além disso, percebeu-se que em 2014 e
2015 Sérgio Moro foi pouco citado nos títulos de notícias e reportagens (espaço nobre e de maior
destaque em qualquer mídia, inclusive nas de conteúdo online), aparecendo mais apenas no
corpo do texto em todas as mídias selecionadas. Essa presença de maior destaque dele muda a
partir de 2016 em G1 e a partir de 2017 em Veja, Fórum e UOL, quando Moro passa a ocupar
mais os títulos, ou seja, a tornar-se uma figura pública de considerável destaque ao ponto de
ocupar os títulos de notícias. Em 2018 isso acontece em todas as mídias analisadas, com exceção
de Época e Carta Capital, evidenciando um aumento em sua visibilidade e o modo como se
tornou cada vez mais noticiável pela notoriedade adquirida no processo de midiatização da Lava
Jato. Verificou-se também que, entre os sites das revistas, Veja ficou em primeiro lugar no
destaque a Sérgio Moro, com um total de 798 notícias e reportagens publicadas, seguida por
Época (594), Carta Capital (584), Istoé (534), e Fórum (413). Entre os portais, UOL é o que
proporciona maior visibilidade para o então juiz (678), seguido por G1 (548), Terra (465) e R7
(424).
Em relação à versão impressa das revistas no período de 2014 a 2018, Sérgio Moro ganha
novamente mais destaque em Veja. Das 259 edições analisadas, ele foi capa em 20: sendo 10 na
manchete e 10 na chamada da capa. Na revista Carta Capital, das 377 edições, Moro aparece em
13 manchetes e em 3 chamadas de capa. Nas revistas IstoÉ, Época e Forúm não foi possível
realizar a quantificação porque as mesmas não disponibilizaram o histórico completo de capas
nos sites (ver abaixo capas da revista Veja) .
Figura 1: Presença de Moro nas capas da revista Veja (2014-2018)
Além do período delimitado (2014-2018), identificou-se ainda que até julho de 2019 a
revista Veja publicou mais duas edições em que Moro foi capa. A partir destes dados que
mostram o importante papel desempenhado por Veja na visibilidade midiática de Sérgio Moro,
selecionamos a revista como objeto empírico para uma análise buscando identificar a maneira
como o ex-juiz e atual ministro é representado pela narrativa jornalística da revista, conforme
indicamos nos resultados expostos aqui na sequência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÕES
BRAGA, José Luiz. Para começar um projeto de pesquisa. Comunicação & Educação, São Paulo, v. 3,
n. 10, p.288-296, set-dez. 2005.
COÊLHO, Tamires; CORRÊA, Laura Guimarães. Normas e valores. In: VEIGA, Vera França;
MARTINS, Bruno Guimarães; MENDES, André Melo. Grupo de Pesquisa em Imagem e
Sociabilidade (GRIS): Trajetória, conceitos e pesquisa em comunicação. Belo Horizonte: PPGCOM
UFMG, 2014. p. 200-207.
JODELET, Denise.. Representações sociais: um domínio em expansão. Editora UERJ, Rio de Janeiro,
2001.
LIVET, Pierre. As normas. In: LIVET, Pierre. As normas e os valores. Petrópolis: Vozes, 2009. p.
12-54.
MENDES, André Melo; DORNELAS, Raquel. De qual muçulmano estamos falando? Ancoragem e
objetivação na representação do islamita pela revista Istoé. Intexto, Porto Alegre, n. 44, p.28-56, jan-abr.
2019.
SARMENTO, Rayza. Entre tempos e tensões: o debate mediado antes e depois da sanção da lei
brasileira de combate à violência doméstica contra a mulher (2001 a 2012). Revista Feminismos,
Salvador, v. 2, n. 1, p. 94-112, jan-abr. 2014.
SILVA, Maria Terezinha da; SIMÕES, Paula Guimarães. DE JUIZ POPSTAR A SUPERMINISTRO:
a imagem pública de Sérgio Moro no contexto brasileiro. In: 28º ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS,
2019, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em
Comunicação, 2019. Disponível em:
<http://www.compos.org.br/biblioteca/trabalhos_arquivo_7FBRZQDCQRJBKMM8NWUU_28_7749_21
_02_2019_20_30_47.pdf> Acesso em: 20 de agosto de 2019.
SILVA, Maria Terezinha da; FRANÇA, Vera. Jornalismo, noticiabilidade e valores sociais. E-compós,
Brasília, v. 20, n. 3, set-dez. 2017. Disponível em:
<https://www.e-compos.org.br/e-compos/article/view/1398/948>. Acesso em: 20 ago. 2019.
VIMIEIRO, Ana Carolina; MAIA, Rousiley Celi Moreira. Análise indireta de enquadramentos da
mídia: uma alternativa metodológica para a identificação de frames culturais. Revista Famecos mídia,
cultura e tecnologia, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 235-252, jan-abr. 2011.