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Relatório técnico final PIBIC 2017-2018

Título do projeto do O Brasil no radar da mídia informativa de referência - valores,


orientador instituições e a dimensão pública de questões expostas em
acontecimentos capturados pelas narrativas jornalísticas.

Título do plano de Acontecimentos que reverberaram em revistas e portais de


atividades do bolsista notícia em 2016: noticiabilidade, valores e questões públicas.

Nome do bolsista EDUARDO IAREK

Nome da orientadora MARIA TEREZINHA DA SILVA

Grupo de Pesquisa TRANSVERSO: estudos em jornalismo, interesse público e


crítica.

Palavras-chave Acontecimento; valores sociais; valores-notícia; enquadramento.

Período de vigência Agosto de 2017 - julho de 2018


da bolsa

IAA anterior / posterior 8,75 / 9,03

RESUMO

As atividades realizadas e aqui relatadas fazem parte de um projeto de pesquisa mais amplo que
tem como objetivo geral investigar o papel do jornalismo nos processos de consolidação ou
questionamento de instituições, valores e normas sociais. Nesta etapa do desenvolvimento geral
da pesquisa tem-se priorizado principalmente dois eixos: discutir a relação do jornalismo com o
quadro de valores sociais e o modo como a cobertura jornalística trata as questões públicas. Para
isso, buscamos mapear e analisar um conjunto de acontecimentos que alcançaram significativa
repercussão público-midiática. De forma mais específica, aqui neste plano de atividades, nos
interessava identificar acontecimentos que reverberaram em revistas e portais de notícia em
2016, para posterior análise sobre noticiabilidade, valores sociais e questões públicas envolvidas
nas ocorrências deste período. Nesta pesquisa, mapeamos os acontecimentos que mais
repercutiram em 2016, ou seja, aqueles que tiveram considerável noticiabilidade nas mídias
informativas, e classificamos os acontecimentos por categorias, conforme o tipo de ocorrência
e/ou área temática em que se situavam.
Palavras-chave: Acontecimento; valores sociais; valores-notícia; enquadramento.

INTRODUÇÃO

Durante o período de vigência deste Plano de Atividades buscou-se problematizar a


relação entre o jornalismo e os valores sociais, assim como analisar a cobertura jornalística de
questões públicas reveladas pelos acontecimentos noticiados. Estes são dois eixos centrais da
pesquisa mais ampla em desenvolvimento, intitulada: “O Brasil no radar da mídia informativa
de referência - valores, instituições e a dimensão pública de questões expostas em
acontecimentos capturados pelas narrativas jornalísticas”. Tal projeto parte da concepção de
que o jornalismo e suas práticas se inscrevem no quadro mais amplo dos valores da sociedade:
ele é alimentado por valores e ideologias vigentes ao mesmo tempo em que os alimenta, atualiza,
em um processo contínuo de mútua afetação (Silva e França, 2017).
A partir desta perspectiva, este projeto mapeou acontecimentos que tiveram destaque na
agenda de mídias informativas de referência, tomando como recorte temporal o ano de 2016 e
utilizando uma base de dados disponibilizada online pelo Laboratório de Análise de
Acontecimentos (GRISLAB/GRIS/UFMG)1. Partimos do entendimento de que os valores sociais
expressam um vínculo profundo entre o jornalismo e a sociedade sobre a qual ele fala e interage
(Silva e França, 2017a). Dada a amplitude dos dados trabalhados nesta pesquisa, na etapa atual
ainda não iniciamos, de forma mais detida, a análise qualitativa acerca de valores sociais
evidenciados em acontecimentos do período que tiveram alta noticiabilidade. Deste modo, as
relações entre narrativa dos acontecimentos, noticiabilidade e valores sociais serão exploradas
em etapa posterior da pesquisa. Até o momento, além do mapeamento dos acontecimentos de
maior repercussão em 2016 e sua categorização, realizamos uma exploração, ainda em caráter
preliminar, da cobertura jornalística e sua relação com valores sociais e o debate público sobre
corrupção em um acontecimento (IAREK; GOSH, 2017); da relação entre acontecimento e
problemas públicos a partir da análise de um outro acontecimento (Silva, 2018a); e a
identificação de enquadramentos e valores na cobertura jornalística de um acontecimento de
grande repercussão no ano de 2016: a queda do avião que transportava a equipe da Chapecoense
(MENIN e SILVA, 2018).

1 O GrisLab é um projeto de pesquisa e extensão, desenvolvido pelo GRIS/UFMG (Grupo de Pesquisa em Imagem e
Sociabilidade), com o qual o presente projeto tem relação.
MATERIAL E MÉTODOS

Em um primeiro momento o projeto priorizou a discussão de referencial teórico da


pesquisa, envolvendo desde uma introdução à construção de um projeto de pesquisa (Braga,
2005), passando pela discussão sobre as relações entre jornalismo, noticiabilidade e valores
sociais (Silva e França, 2018), as diferenças entre valores e normas sociais (Habermas, 1992) e
conceitos centrais como acontecimento (Quéré, 2005; Silva e França, 2017), noticiabilidade
(Silva, 2014b) e enquadramento (Mendonça e Simões, 2012) em suas relações com a mídia e
com o jornalismo. Também discutimos método de análise de cobertura jornalística (Silva e
Maia, 2011) para planejar nossas ações frente ao objeto de pesquisa.
A bibliografia utilizada como embasamento teórico foi discutida em reuniões ao longo do
projeto. Além das discussões com a orientadora sobre a bibliografia de referência, também
participamos do grupo de pesquisa “TRANSVERSO: estudos em jornalismo, interesse público e
crítica”, coordenado pelas professoras Maria Terezinha da Silva e Gislene Silva do programa de
pós-graduação em jornalismo da UFSC. A participação no grupo de pesquisa contribuiu para o
aprofundamento das discussões teóricas sobre metodologia de pesquisa e de análise de cobertura
jornalística de acontecimentos e temas.
Junto com a discussão teórica, exploramos o site do GrisLab (Laboratório de Análise de
Acontecimentos) - mais precisamente o banco de dados constituído pelo monitoramento de mídia
feito pelo Radar do GrisLab -, com o objetivo de entender seu trabalho e metodologia. Isto
porque ele seria utilizado como fonte de informações para o nosso trabalho de mapear os
acontecimentos que mais apareceram na agenda das mídias informativas em 2016 - o que, no
nosso entendimento, indicava a alta noticiabilidade que tais ocorrências tiveram. O GrisLab,
projeto de pesquisa e extensão em desenvolvimento pelo GRIS (Grupo de Pesquisa em Imagem e
Sociabilidade, do PPGCOM/UFMG e com o qual nosso projeto está articulado), monitorou, até o
primeiro semestre de 2017, notícias de segunda a sexta-feira em sites listados entre os mais
acessados no Brasil (UOL, Terra, R7, Globo.com, Revista Fórum, CartaCapital, Veja, Istoé e
Época) e organizou em planilhas e gráficos as informações coletadas de cada mês.
A partir da pesquisa no banco de dados do Radar do GrisLab, identificamos os
acontecimentos que mais tiveram repercussão no ano de 2016 nas mídias brasileiras. O objetivo
foi construir um mapa das notícias com maior noticiabilidade na cobertura das mídias
jornalísticas naquele ano, classificando-as em termos quantitativos (ver gráfico abaixo). Em
seguida, também consideramos a importância de categorizar esses acontecimentos a partir das
semelhanças entre as temáticas das ocorrências. Esta etapa nos levou a analisar qualitativamente
a própria seleção e categorização feita pelo Radar do GrisLab, reorganizando as categorias para
dar mais coerência aos tipos de ocorrências.
Após a coleta deste material, fizemos nossa própria seleção, análise e quantificação,
reagrupando os acontecimentos em categorias criadas por nós de acordo com a temática ou o
assunto das publicações, temas ou acontecimentos. Após a confecção de um mapa de
acontecimentos midiáticos de 2016, selecionamos um acontecimento específico do ranking para
análise qualitativa detalhada.
Para esta próxima etapa da pesquisa, as leituras e discussões o conceito de
enquadramento foram importante. Entendemos que o enquadramento é uma ferramenta teórica
apta tratar da dimensão simbólico-interpretativa das relações sociais e do modo como os
indivíduos atribuem sentidos a suas práticas e ao que acontece (Mendonça; Simões, 2012).
Segundo Ricardo Fabrino Mendonça e Paula Guimarães Simões, através da linguagem é possível
identificar as regras e as instruções que orientam determinadas situações e o envolvimento dos
atores nelas. Dessa forma, o jornalismo também se utiliza da linguagem para construir
conhecimento e interpretar o que acontece na sociedade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ano de 2016 foi marcado por acontecimentos de naturezas diversas que repercutiram
nos principais portais de notícia e revistas de informação geral do país. Com base no material
empírico disponível em arquivo digital online do “Radar do GrisLab”, selecionamos e
quantificamos as notícias de 2016 coletadas e disponibilizadas por este banco de dados. Em
seguida, construímos um gráfico mostrando os principais acontecimentos que repercutiram em
2016 e a proporção do destaque para cada assunto.
O Radar do Grislab mapeou um total de 3483 notícias em 2016. Entre os acontecimentos
e/ou temas destacados nestas notícias, a Operação Lava Jato ficou em primeiro lugar na lista dos
que mais repercutiram no ano, representando 28% da noticiabilidade entre os 15 acontecimentos
com maior destaque. As notícias sobre denúncias de corrupção (1º lugar) e sobre o afastamento
de Dilma de seu mandato (2º lugar), foram seguidas pelas relacionadas à posse do vice Michel
Temer no lugar de Dilma Rousseff (3º lugar), das crises política (4º lugar) e econômica (6º lugar)
que lhes acompanham ou prosseguem do período anterior. Ainda no campo da política, as
eleições municipais (8º lugar) no país e a campanha presidencial norte-americana que elegeu
Donald Trump (11º lugar) tiveram alta noticiabilidade.
O Brasil de 2016 aparece na mídia com a marca de uma epidemia na saúde e casos de
dengue, Zika e Chikungunya (10º lugar), que ganharam repercussão e preocupação internacional,
sobretudo nos meses que antecederam as Olimpíadas no país - outro acontecimento que ocupou
espaço considerável da agenda midiática (5º lugar). Aparte o megaevento esportivo, o futebol
brasileiro manteve seu espaço no noticiário das mídias de referência (12º lugar).
Durante o ano de 2016 três figuras públicas ocupam a galeria dos atores políticos mais
noticiados pela mídia jornalística aqui monitorada: Eduardo Cunha, ex-presidente Lula e Michel
Temer - envolvidos na trama de acontecimentos que os posiciona, individualmente, para 7º, 13º e
15º lugar, respectivamente. No caso dos dois políticos do MDB, tal posição no ranking não
considera as notícias mais gerais relacionadas ao “governo Temer” (3º lugar) e a eleição para a
presidência da Câmara (14º lugar), em fevereiro daquele ano, quando Eduardo Cunha foi eleito
presidente da Casa. Parte das ocorrências relacionadas aos três atores políticos estão presentes
também nas notícias sobre a crise política (4º lugar).
O panorama geral construído a partir dos acontecimentos e temas que mais reverberam
no ano de 2016, segundo o radar do GRISLAB, permitiu a elaboração de categorias das
ocorrências com maior destaque na agenda midiática. Elas são relativas a:

1) Denúncias e/ou investigações de práticas de corrupção: casos das ocorrências


relacionadas à operação Lava Jato, Operação Zelotes, cartel de trens em São Paulo,
Panamá Papers, caso dos repasses de recursos de FHC para ex-jornalista da Globo,
investigações sobre Sérgio Cabral (RJ) ou Fernando Pimentel (MG), dentre outros.
2) Política e poder: temas relacionados à política institucional (ações e relações entre os
poderes da República, como a chamada “crise política”, montagem do governo Temer
etc).
3) Eleições: para presidência da Câmara, as municipais no Brasil, ou à presidência dos
EUA, no mesmo ano;
4) Perdas de mandato: como a derrubada da presidente Dilma Rousseff, a cassação do
senador Delcídio Amaral (PT) e do deputado Eduardo Cunha (PMDB);
5) Movimentos sociais e ativismo: de distintos grupos e objetivos, como os protestos a
favor e contra o impeachment de Dilma, os protestos do MPL em São Paulo,
manifestações contra políticas e reformas de Michel Temer em maio de 2016, os
panelaços aos programas de TV do PT e o pronunciamento da então presidenta no dia
internacional da mulher (08 de março);
6) Economia: dentre as quais inclui-se o que em geral é nomeado como sinais da “crise
econômica” (retração da economia, inflação, ajuste fiscal, desemprego, desempenho do
comércio e da indústria, PIB, etc), além taxas de juros, cotações da bolsa e dólar, entre
outros;
7) Saúde: mais especificamente as epidemias de dengue, zika e Chikungunya;
8) Questões sócio-ambientais: como o desastre ocorrido em Mariana/SC em novembro de
2015, que nos primeiros meses de 2016 ainda reverberava na mídia;
9) Morte: de figuras públicas ou celebridades, como o caso de David Bowie e Domingos
Montagner;
10) Internacional: atentados (Bélgica, Orlando nos EUA, Nice na França e Ansbach na
Alemanha), eleição do Trump, Panama Papers, referendo no Reino Unido (consequências
da saída do RU da UE), tentativa de golpe militar na Turquia e manifestações.
11) Violência de gênero: como o caso do estupro coletivo no Rio de Janeiro, em maio, o
mapa do estupro em São Paulo, um conjunto de discussões sobre a cultura do estupro e
manifestações de famosas que foram vítimas de assédio, etc, no mês de junho;
12) Esportes: como os jogos do campeonato brasileiro e, neste ano em específico, o acidente
Aéreo com o avião da Chapecoense.
13) Educação: como o desempenho das escolas no Enem 2015, notícias relacionadas ao
exame nacional do ensino médio, a crise no FIES e o censo da Educação Superior 2016.

Devido à grande repercussão da Operação Lava Jato nas mídias monitoradas (primeiro
lugar no ranking de acontecimentos de maior noticiabilidade em 2016), buscamos explorar, de
forma mais detida, os acontecimentos relacionados a investigações e denúncias de práticas de
corrupção relacionadas a esta operação específica e que foram tratadas pela cobertura jornalística
no período. Mapeamos essas ocorrências relacionadas à Operação Lava Jato, noticiadas nas
revistas e portais de notícias online, conforme o monitoramento do Radar do GrisLab. Elas são
apresentadas, mês a mês, na tabela abaixo:

Operação Lava Jato 2016: ocorrências mais noticiadas


JANEIRO Investigação de propriedades e atividades do ex-presidente Lula.
FEVEREIRO Condenação de Zelada e envolvimento de Renan Calheiros.
MARÇO Condução coercitiva de Lula;
Divulgação da escuta telefônica nos telefones de Lula.
ABRIL Prisão do ex-senador Gim Argello;
João Santana e Mônica Moura réus na Lava Jato.
MAIO Afastamento de Eduardo Cunha;
Gravações de Sérgio Machado.
JUNHO Envolvimento do ministro do Turismo nas investigações;
Pedido de prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e
Eduardo Cunha enviado por Rodrigo Janot ao STF;
Anulação das escutas telefônicas de Lula e Dilma;
Delação de Sérgio Machado.
JULHO Prisão de Lúcio Funaro;
Mandado de busca e apreensão na casa de Joesley Batista;
Denúncia contra Lula, Delcídio do Amaral e mais cinco pessoas por
obstrução das investigações da Operação, tornando-os réus no
processo.
AGOSTO Juiz Sérgio Moro manda soltar o marqueteiro do PT, João Santana;
Polícia Federal cumpre mandados da 33ª fase da operação Lava Jato,
com foco no grupo Queiroz Galvão.
SETEMBRO Delação de Léo Pinheiro;
Aceite de denúncia contra Lula, Marisa Letícia, Paulo Okamoto e
Léo Pinheiro por envolvimento no esquema de corrupção da
Petrobras (Triplex no Guarujá);
Condenação de Bumlai a nove anos de prisão;
Aceite de outra denúncia contra Lula que o torna réu na Lava Jato;
Prisão e soltura de Guido Mantega.
OUTUBRO Lula é indiciado por suposto pagamento de propina para o sobrinho.
NOVEMBRO Deflagração da 36ª fase, com a Operação Dragão.
DEZEMBRO Denúncia da Procuradoria Geral da República sobre envolvimento de
Renan Calheiros em esquema de lavagem de dinheiro e corrupção;
Vazamento da delação de Claudio Melo Filho, executivo da
Odebrecht que denunciou o presidente Michel Temer, seu assessor
José Yunes e outras figuras políticas.

Entre essas diversas ocorrências, que nas mídias jornalísticas foram direta ou
indiretamente relacionadas à Operação Lava Jato, selecionamos um acontecimento específico
para uma análise qualitativa, em função de sua grande repercussão: a chamada “delação
premiada da Odebrecht”, que começa a repercutir a partir de dezembro de 2016 (com o
vazamento da delação do executivo da empreiteira, Cláudio Melo Filho), e se desdobra ao longo
de 2017. Neste trabalho, participei do processo de identificação e coleta do material empírico nas
revistas. A análise - que buscava perceber o modo como a cobertura jornalística tratou o
problema público da corrupção no contexto daquele acontecimento - foi apresentada pela
professora Maria Terezinha da Silva no 1º Simpósio Internacional de Crítica de Mídia, realizado
pelo Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC no dia 21 de setembro de 2017.
Posteriormente, a análise foi transformada no artigo Acontecimento e problemas públicos:
elementos para uma crítica da cobertura jornalística (Silva, 2018a), publicado na revista
RUMORES, da USP (qualis B1), em um dossiê especial sobre crítica de mídia. Neste artigo, foi
explorada a relação entre acontecimento e problema público (corrupção) e foi proposto um
modelo de análise e de crítica de coberturas de escândalo, composto por três dimensões
principais: 1) A descrição e enquadramento do acontecimento, ou seja, como é descrito e
interpretado; 2) A construção narrativa, identificando os atores centrais, o papel que
desempenham e como se dá sua representação, além das temporalidades (passados e futuros do
acontecimento na narrativa da mídia); e 3) O problema público e como é tratado/discutido na
cobertura jornalística.
A grande noticiabilidade da Operação Lava Jato na imprensa, em especial na revista
Veja, motivou uma nova análise de cobertura - apresentada por mim e pela outra bolsista de IC
do projeto em um congresso regional de Comunicação. Desta vez, selecionamos como
acontecimento o primeiro depoimento do ex-presidente Lula ao Juiz Sérgio Moro no contexto da
Operação Lava-jato, ocorrência que aconteceu no dia 10 de maio de 2017 e teve ampla cobertura
da revista. Tal depoimento diz respeito, especificamente, ao suposto recebimento de um Triplex
no Guarujá, em São Paulo, como forma de pagamento de propina. As denúncias relacionadas ao
assunto iniciaram em setembro de 2016 (conforme a tabela de noticiabilidade da OLJ), se
desdobraram em 2017, até recentemente, em 2018, com a prisão do ex-presidente Lula. O
resultado desta análise deu origem ao artigo “O depoimento de Lula a Moro na cobertura da
Revista Veja: limites para o debate público sobre a corrupção” (IAREK; GOSCH, 2018),
apresentado e publicado nos anais do XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Sul - INTERCOM SUL. O artigo buscou identificar o modo como a cobertura realizada permitiu
ou não a prestação de contas por parte dos agentes públicos envolvidos, além de analisar a
maneira como a imagem pública do ex-presidente Lula e do Juiz Sérgio Moro é projetada por
Veja. Destacamos também que a abordagem utilizado pela revista para a discussão sobre o
problema da corrupção não possibilitou uma discussão pública efetiva, na medida em que a
revista se limita a interpretar a situação enquadrando aspectos da sociedade relacionados aos
valores sociais, como a questão da morte (da ex-primeira dama Marisa Letícia) e o trabalho e a
autoridade (do juiz Sérgio Moro).
Esta pesquisa continua em desenvolvimento, dado a sua amplitude. Na etapa que segue,
então, a equipe do projeto vai se dedicar à seleção e análises qualitativas de outros
acontecimentos do período para análises, em diferentes mídias informativas, as construções
narrativas sobre esses acontecimentos, o modo como revelam valores vigentes ou em disputa na
sociedade e como tratam os problemas públicos em questão.

CONCLUSÕES

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC é fundamental para o


fomento da pesquisa na universidade, contribuindo para sustentá-la como um dos pilares junto ao
ensino e a extensão. Além da produção de conhecimento científico, no caso do jornalismo, o
programa contribuiu para a minha iniciação na pesquisa, para a reflexão crítica sobre a prática
profissional, a interpretação acerca da sociedade brasileira e da cobertura dos acontecimentos
tratados pelo jornalismo. Após o trabalho, ficou evidente que a diferença entre o conteúdo
jornalístico nas publicações está relacionada com a narrativa ou enquadramento utilizado por
cada mídia. Minha participação no projeto “O Brasil no radar da mídia informativa de
referência: valores, instituições e a dimensão pública de questões expostas em acontecimentos
capturados pelas narrativas jornalísticas” - realizando um plano de atividades voltadas para os
acontecimentos que mais repercutiram em revistas e portais de notícia em 2016, sua
noticiabilidade, valores e questões públicas -, foi importante para a aquisição de conhecimentos
para a formação científica. Através dele pude refletir sobre o exercício da profissão, além de
aprimorar a leitura e a análise de textos acadêmicos.
A participação no projeto foi importante também para melhorar o meu desempenho nas
disciplinas do curso, o que se reflete no aumento gradual do meu Índice de Aproveitamento
Acadêmico (IAA). Com a IC pude ter contato com a produção de pesquisadores da pós-
graduação. Além disso, a elaboração e apresentação de um artigo, em co-autoria com outra
bolsista de IC do projeto, em um congresso regional da Comunicação, a partir do estímulo e
orientação da professora Maria Terezinha da Silva, contribuiu para a minha iniciação na
produção do conhecimento científico. Durante a vigência da bolsa, no período de 01 de agosto de
2017 a 31 de julho de 2018, pude compreender os processos de produção do conhecimento
científico, aprofundar discussões relacionadas ao conceito de hipótese e metodologia, participar
do processo de coleta, sistematização e classificação de dados e exercitar a leitura, discussão,
argumentação e interpretação de conceitos relacionados ao jornalismo e à grande área da
comunicação social.

REFERÊNCIAS
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288-296.
QUÉRÉ, Louis. Entre o facto e sentido: a dualidade do acontecimento. In: Trajectos. Revista de
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2005, p. 59-75.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. 1. ed. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1992.
IAREK, Eduardo; GOSCH, Raisa. O Depoimento de Lula a Moro na Cobertura da Revista Veja:
Limites para o Debate Público Sobre a Corrupção, 2018.
MENDONÇA, R. F.; SIMÕES, P. G. Enquadramento: diferentes operacionalizações analíticas
de um conceito. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 27, p. 187-201, 2012.
MENIM, Rafaela Taísa; SILVA, Terezinha. Da onda de solidariedade ao drama da injustiça:
enquadramentos e valores na cobertura jornalística da “tragédia” da Chapecoense – uma análise
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de Ciências da Comunicação. Universidade da Região de Joinville, em Joinville-SC, de 2 a 8
de setembro de 2018. Disponível em:
<http://www.portalintercom.org.br/uploads/wysiwyg/programacao-gps-2018.pdf>.
SILVA, Terezinha. Acontecimento e problemas públicos: elementos para uma crítica da
cobertura jornalística. In: Rumores, 2018a, No. 12(23), 83-105.
SILVA, Terezinha; FRANÇA, Vera. Jornalismo, noticiabilidade e valores sociais. In: E-Compós,
Brasilia, V. 20, N.3, set-dez de 2017. Disponível em:
http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/1398/948
SILVA, Gislene. Para pensar critérios de noticiabilidade. In: SILVA, Gislene; SILVA, Marcos
Paulo da; FERNANDES, Mario Luiz. (Org.) Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais
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SILVA, Gislene; MAIA, Flávia. D. O método Análise de Cobertura Jornalística na
compreensão do crack como acontecimento noticioso. In: Jornalismo e acontecimento:
percursos metodológicos / Bruno Souza Leal, Elton Antunes e Paulo Bernardo Vaz.
Florianópolis:Insular, v.2, 2011.

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