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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

XXX Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo - SP, 27 a 30 de julho de 2021

PARA ALÉM DO NEGACIONISMO: uma proposta de


análise do discurso de Jair Bolsonaro sobre a pandemia
de Covid-191
BEYOND DENIALISM: an analytical preposition of Jair
Bolsonaro’s discourse on Covid-19 pandemic
Ronaldo Ribeiro Ferreira2

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo propor uma interpretação analítica da estratégia político
comunicacional de condução da Pandemia de Covid-19 pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro. Para isso,
referencia-se teoricamente nas contribuições de Roland Barthes sobre o discurso mitológico e na de Karl
Mannheim sobre a metodologia do pensamento conservador. A partir da articulação proposta, segue-se ao exame
de algumas falas públicas do Presidente sobre a crise sanitária. Observa-se que a postura do mandatário não é
apenas simples negacionismo científico mas uma postura coerente com a racionalidade do pensamento
conservador. Ao posicionar seu discurso a partir dessa coerência, Jair Bolsonaro estaria tanto ratificando sua
posição de líder do movimento político quanto reafirmando a legitimidade deste pensamento, naturalizando a
visão de mundo desse grupo político.

Palavras-Chave: Discurso Político .Discurso Mitológico. Pensamento Conservador

Abstract: The goal of this paper is submit an analytical preposition about the principles of political
communication used by the President Jair Bolsonaro on his public addresses about Covid-19 pandemic. To do
so, the paper relies on theoretical contributions of Ronald Barthes about modern mythological discourse and Karl
Mannheim on methodology of conservative thought. From this point, the work examines public statements done
by the President about sanitary crises. It is observed that his posture cannot be only understood as "denialistic"
simple but it is coherent with internal rationality of conservative thought. In this sense, Jair Bolsonaro's position
both reassure himself as a leader of the conservative political movement as assure the legitimacy of this type of
thought, showing up its world view.

Keywords: Political Discourse. Mythological Discourse. Conservative Thought.

1. Introdução
A eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República em novembro de 2018,
conjuntamente ao avanço da direita no Congresso Nacional, representou a ascensão ao poder
de agentes políticos comprometidos com pautas que seriam consideradas pouco relevantes e/ou
pouco expressivas no começo da segunda década do século XXI. O cenário social anterior a
esse ato foi caracterizado por uma severa crise política e econômica que repercutiu em altos

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e Política do XXX Encontro Anual da Compós,
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo - SP, 27 a 30 de julho de 2021.
2
Doutorando em Comunicação e Práticas de Consumo – PPGCOM/ESPM. Professor do Departamento de
Ciências Econômicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM. Email:
ronaldo.ribeiro@gmail.com.

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níveis de desemprego, perda de renda por parte da classe trabalhadora e aumento da


desigualdade social em vários níveis (NERI, 2019).
Nesse contexto conturbado de recomposição do xadrez político, ressurgem referências
à necessidade de um líder unificador destas pautas, algo como um “messias” à quem caberia a
hercúlia tarefa de redimir o país dos discursos “politicamente corretos” e restaurar a moralidade
na política. Segundo Maitino (2018), Jair Bolsonaro, enquanto nome mais popular desta nova
tendência, assume esta posição.
Da perspectiva da comunicação social, é preciso reconstruir esse movimento a partir do
entendimento das estratégias adotadas para a construção da imagem de Jair Bolsonaro. E nesse
sentido, ainda que se trate de um fenômeno recente, já é possível encontrar vasta literatura
sobre o tema.
Analisando um corpus constituído de matérias jornalísticas publicadas ao longo de 30
anos sobre a figura política de Bolsonaro, Nascimento et. al. (2018) encontram no militar uma
figura polêmica, porta voz de pautas conservadoras que se concentram na apologia à ditadura
militar e na defesa de posições contrárias aos direitos humanos 3. Segundo os autores, seus
posicionamentos sempre ressoam em parcelas conservadoras da sociedade e, a partir disso,
retroalimentam seu posicionamento político.
No entanto, o surgimento e a popularização do uso das redes sociais enquanto
plataformas de criação de conteúdos informacionais, amplifica as possibilidades de
comunicação política e, nesse sentido, constituem um fato de grande relevância. Para Bruno
(2004) tais redes moldam tanto as subjetividades quanto o comportamento dos sujeitos através
do olhar “do outro”, constituindo-se enquanto poder disciplinar. Sob essa perspectiva, Hoff e
Fraga (2018), argumentam que o discurso político é impactado por essa nova realidade e passa
a ser construído a partir da oposição diametral entre o “nós” e os “outros”, o que reaviva o
populismo. Como os algoritmos das redes são desenhados para apresentar ao usuário apenas
os conteúdos que o mantenham conectado ao fluxo contínuo daquela plataforma, a partir do
monitoramento de suas interações na própria rede, o resultado prático é a criação de bolhas
ideológicas mutuamente excludentes congregando usuários com posicionamentos próximos
(RECUERO, ZAGO e SOARES, 2017). Se, conforme mostram Bezerra e Silva (2006), já partir
dos anos 1980 as estratégias publicitárias eleitorais passam a associar os candidatos à uma

3
Aqui incluído a defesa do uso sistemático da tortura, da pena de morte e contrários aos direitos de minorias e de
povos e comunidades tradicionais

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“imagem-marca”, em Aggio (2015), as mídias digitais agora permitem mobilização e o


recrutamento persuasivo de eleitores de maneira muito mais subjetiva.
Conforme Azevedo Junior e Bianco (2019), os desdobramentos da midiática Operação
Lava Jato e dos escândalos de corrupção envolvendo os governos do Partido dos Trabalhadores
(PT) criaram um cenário propício para a construção da imagem de Jair Bolsonaro como aquele
candidato que representaria uma ameaça aos grupos políticos dominantes e, exatamente por
isso, sua candidatura seria alvo de uma conspiração por parte da mídia tradicional. Nessa
narrativa, restaria ao político, apenas o uso das redes sociais enquanto meio de comunicação
com seus apoiadores.
Cabe reforçar o significado que a adoção dessa estratégia possui: enquanto espaços
descentralizados de produção de conteúdo e de distribuição direcionada a consumidores
propícios à recepção de informações que confirmem sua visão de mundo4. O uso generalizado
das redes sociais como principal canal de comunicação de Bolsonaro desde seu último
mandato, durante a campanha eleitoral e mesmo no Governo, a despeito de todo aparato
comunicacional do Estado a sua disposição (Ranzani e Caram, 2019) mostra-se como um
movimento de construção de uma imagem política clara, fortemente reconhecida e apoiada por
setores mais conservadores.
Essa interpretação é compatível com a análise de Souza (2019) que procura encontrar,
a partir de postagens no Facebook, a adoção pelo ainda deputado federal de uma estratégia
política conhecida como “campanha permanente”. Para o autor, na última legislatura de Jair
Bolsonaro no Congresso Federal, é possível distinguir nas postagens um constante ataque à
adversários (políticos e partidos de esquerda, especialmente do PT, imprensa tradicional e
poder judiciário) e uma contínua inserção de menções à uma candidatura futura à presidência,
seguido, no último ano do mandato, de uma constante negação dos estereótipos imputados por
seus adversários (homofóbico, machista e etc) associados a suas falas do passado.
Figueiredo e Silva (2020), demonstram a partir da Abordagem Mitológica do Discurso
como a construção discursiva do candidato Bolsonaro teve forte apelos passionais: ele seria o
homem “do povo”, com desvantagens já no início da disputa, em função de seu não
alinhamento político, sujeito a ataques “sujos” por parte da imprensa. Atingido por uma facada
em um evento de campanha, resistiu graças a “preocupação com o povo” diante da “roubalheira

4 O que torna tais redes locus ideais de circulação de teorias de conspiração e desinformação, como demonstra
Oliveira (2020).

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dos partidos de esquerda” ainda que houvessem fortes indícios de uma possível “fraude
eleitoral” no primeiro turno das eleições.
Cioccari e Persichetti (2018) entendem que o discurso armamentista, de ódio às
diferenças e medo constante em relação àqueles que não se enquadrariam à categoria de
“cidadão de bem”, podem ser compreendidos a partir da lógica da sociedade do espetáculo
(Debord): trata-se de uma teatralização constante em busca da visibilidade, que é conseguida
exatamente em razão das paixões, emoções e dramatizações que desperta. O que, por outro
lado, emula o comportamento espetacularizado e crescentemente extremista. Por fim, há que
se considerar o aspecto “cortina de fumaça” levantado por Almeida e Borges (2019).
Observando os primeiros atos do então novo governo, os autores elencam situações em que
uma nova narrativa é produzida, enquanto fenômeno puramente midiático para desviar a
atenção do público de eventos que envolvem o jogo político e os desafios econômicos do
governo.
A chegada da pandemia de Covid-19 a partir do primeiro trimestre de 2020, explicitou
e agudizou a severa crise social já descrita adicionando ao cenário a complexidade extra de
uma crise na saúde pública. Diante disso, o chefe do executivo federal adotou de início uma
postura de minimização da gravidade da pandemia: não seria mais do que uma “gripezinha 5”,
algo que “seu histórico de atleta6” facilmente daria fim. Como a pandemia persistiu, essa
estratégia foi logo alterada para um negacionismo explícito das orientações científicas sobre o
distanciamento social7 e o uso de máscaras8, passando à quimérica adoção de um remédio sem
eficácia comprovada9 no tratamento da doença, e culminando na negativa de compra dos
imunizantes10, quando estes já se apresentavam como uma realidade.
Santos (2020) encontrou no Twitter um terreno fértil para a criação e propagação de
hashtags favoráveis ao comportamento negacionista do presidente. Galhardi et al. (2020),

5
https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/03/24/bolsonaro-volta-a-se-referir-ao-coronavirus-como-
gripezinha-e-criticar-governadores-por-restricoes.htm
6
https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2020/04/bolsonaro-diz-que-chance-de-atleta-morrer-de-covid-19-e-
infinitamente-pequena.shtml
7
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/04/11/bolsonaro-descumpre-medidas-de-distanciamento-
social-pelo-terceiro-dia-seguido.ghtml
8
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/07/03/bolsonaro-veta-uso-obrigatorio-de-mascara-no-
comercio-em-escolas-e-em-igrejas
9
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2020/08/13/bolsonaro-volta-a-defender-cloroquina-contra-
covid-19-e-diz-que-desemprego-leva-a-morte.htm
10
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/10/21/bolsonaro-responde-a-criticas-sobre-vacina-
chinesa-nao-sera-comprada.htm

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ressaltam a relevância do Whatsapp como veículo de disseminação de desinformação enquanto


que Oliveira, Martins e Toth (2020) concluem que o “debate” sobre o uso da hidroxicloroquina
e a retórica antivacinas ocorreram também nos grupos do Facebook. Por fim, mas não menos
importante, Fernandes et. all (2020), esclarecem como as narrativas de Bolsonaro no Instagram
são predominantemente contrárias às posições das instituições científicas.
Sob o contexto da pandemia, o observador desatento pode inferir que a adoção explícita
do negacionismo seja um movimento político arriscado, incerto. O que esse trabalho propõe
apresentar é a tese oposta, qual seja, que o negacionismo está no núcleo do pensamento
conservador e, assim sendo, a narrativa mitológica não pode abster-se de assumir essa posição.
Na tentativa de desenvolver esse argumento, propõe-se uma interpretação a partir do
cotejamento entre a perspectiva semiológica de construção do mito em Roland Barthes e a
sociologia do conhecimento de Karl Mannheim. Se, por um lado, em Barthes (1982) o mito é
uma fala intencionalmente direcionada e ligada à direita, em Mannheim (1986) o pensamento
conservador surge como uma agenda política de oposição aos ideais de racionalidade presentes
desde o renascimento. A partir da leitura proposta, o argumento defendido é de que há uma
racionalidade no negacionismo que, sociologicamente, pode ser encontrado na morfologia do
pensamento conservador.
Para atingir esse objetivo, o trabalho está organizado em quatro sessões além dessa breve
introdução. Na primeira parte, apresenta-se de maneira exegética a contribuição de Roland
Barthes; na segunda, o mesmo será realizado em relação à Mannheim; a seguir, introduz-se a
proposta de leitura para a realidade brasileira a partir dos dois autores; a sessão final, à guisa
de conclusão, procura lançar luz sobre as consequências sociais da continuidade desta
ideologia.

2. O Discurso Mitológico em Roland Barthes


Roland Barthes procurou em sua semiologia estender as contribuições da linguística de
Saussure para outros domínios da linguagem, ressaltando a origem social dos processos de
produção sígnica. Nesse sentido, suas reflexões sobre as mitologias modernas são
indissociáveis dos sistemas ideológicos que as constroem e as sustentam.
Escritos entre os anos de 1954 e 1956, o trabalho que nos servirá de referência, é
constituído de mais de quarenta pequenos ensaios que versam sobre aspectos culturais da vida
cotidiana francesa daquele período. Ao fim, Barthes tece então suas reflexões a partir de uma

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perspectiva crítica em relação à ideologia da linguagem presente em tais manifestações


culturais e encontra ali um denominador comum: a existência do mito.
Portanto, já de início, Barthes estabelece o mito como um fenômeno linguístico. “O
mito é uma fala” (Barthes, 1982, p. 131). Enquanto fala, carrega em si o esquema tradicional
da linguística de Saussure, um significante, um significado e o signo. No entanto, o mito é um
sistema semiológico segundo, ou seja, se constrói a partir de uma cadeia semiológica anterior.
O exemplo do próprio Barthes é a frase da lição de latim “quia ego nominor leo11”. Enquanto
sistema linguístico inicial, primeira fala, possui um conteúdo per se. Por outro lado, enquanto
exemplo da sintaxe da língua morta em uma aula no lycée, esse conteúdo esvazia-se, desloca-
se de seu contexto original, deformando-se. Nesse segundo momento já se constitui um outro
sistema linguístico, semelhante ao original apenas na sua forma. Dito de outro modo, é como
se o mito retirasse e esvaziasse o conteúdo semiológico original e ao mesmo tempo mantivesse
a forma inicial, atribuindo-lhe no segundo sistema outra significação. No entanto,

Mas o ponto capital em tudo isto é que a forma não suprime o sentido, empobrece-o
apenas, afasta-o, conservando-o à sua disposição (...). O sentido passa a ser para a
forma como sua reserva instantânea de história, como riqueza submissa, que é possível
aproximar e afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que cada momento
a forma possa reencontrar raízes no sentido, e ai se alimentar; é, sobretudo, é necessário
que ela se possa esconder nele. É este interessante jogo de esconde-esconde entre o
sentido e a forma que define o mito (BARTHES, 1982, p. 140).

Ou seja, o mito é uma fala apropriada, retirada de seu conteúdo original – mas que ainda
mantêm a forma primitiva – , modificada e com novo conteúdo sígnico. É um sistema duplo,
ubíquo e oblíquo. Destas propriedades, derivam-se a capacidade plástica do mito de possuir ao
menos duas possíveis interpretações. Barthes usa aqui a analogia de uma paisagem observada
através do vidro de um automóvel: só nos é permitido observar a paisagem a partir da película
transparente do auto que corre em velocidade. Ao observador, no entanto, é possível escolher
se o foco de suas atenções será a dita paisagem ou a referida película. Em ambos os casos,
aquele elemento intencionalmente relegado, ainda continuará a compor o cenário: seja
enquanto um vidro a distorcer a paisagem, seja enquanto paisagem a passar rapidamente pelo
vidro.

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Pois eu me chamo Leão.

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É por isso que em Barthes o mito possui um caráter imperativo e interpelatório: ele se
dirige a seu receptor, para que este não seja deixado à deriva na vastidão de suas possibilidades.
Ou seja, o mito é uma fala dirigida (BARTHES, 1982).
Recorreremos, novamente, a mais um exemplo descrito por Barthes. Trata-se da
fotografia de capa da revista Paris Match de junho de 1957 em que um jovem soldado negro
veste um uniforme militar enquanto faz a saudação à bandeira francesa. Imagem repleta de
significados possíveis que permite o seguinte exercício:

1. Se focalizar o significante vazio, deixo o conceito preencher a forma do mito sem


ambiguidade e encontro-me perante um sistema simples, onde a significação volta a
ser literal: o negro que faz a saudação militar é um exemplo da imperialidade francesa,
é seu símbolo (...)
2. Se focalizar um significante pleno, no qual distingo claramente o sentido da forma
e, portanto, a deformação que provoca um no outro, destruo a significação do mito,
recebo-o como uma impostura: o negro que faz a saudação militar transforma-se no
álibi da imperialidade francesa (...).
3. Enfim, se eu focalizar o significante do mito, enquanto totalidade inextrincável de
sentido e forma, recebo uma significação ambígua; reajo de acordo com o mecanismo
constitutivo do mito, com a sua dinâmica própria, transformo-me no leitor do mito. O
negro que faz a saudação militar deixa de ser exemplo, símbolo e, menos ainda álibi: é
a própria presença da imperialidade francesa (BARTHES, 1982. p. 149, itálicos no
original).

Apenas nesse terceiro momento, enquanto leitores do mito, é que sua dupla camada
semiológica torna-se detectável, ao mesmo tempo em que o adensamento da visão permite
explicitar a dimensão ideológica da construção. É como se

Ameaçado de desaparecer, se ceder uma ou a outra das duas primeiras focalizações, [o


mito] resolve o dilema através de um compromisso, ele é esse compromisso:
encarregado de “transmitir” um conceito intencional, o mito só encontra na linguagem,
pois a linguagem, ou elimina o conceito, escondendo-o, ou desmascara dizendo-o. A
elaboração de um segundo sistema semiológico vai permitir que o mito escape ao
dilema: obrigado a revelar ou a liquidar o conceito, naturaliza-o (BARTHES, 1982, p.
150. Itálicos no original).

O mito é então uma fala intencional direcionada à determinado público através de uma
construção semiológica dupla que tem por função naturalizar ideologicamente aquilo que é
histórico e social. Não se trata apenas de um homem negro em continência, e nem do
imperialismo francês. Mas sim a necessidade de justificação do imperialismo a partir de um
discurso planejado, articulado e direcionado àqueles sob o julgo do império, construído
enquanto uma coesão social historicamente cambaleante.

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Barthes encontra, então, uma associação entre o objetivo político do mito com o próprio
devir histórico da sociedade burguesa. Assim como o mito, esta tenta em seu discurso afirmar
a naturalidade, a perenidade, dessa formação social que, por princípios constituiu-se
historicamente. Essa tentativa não é um fenômeno recente e remonta ao próprio ideal burguês
de formação da nacionalidade, encontrando desdobramentos na organização política do Estado
que lhe é contemporâneo. Segundo o autor:

O estatuto da burguesia é particular, histórico: o homem que ela representa é


universal, eterno; a classe burguesa edificou justamente o seu poder sobre
progressos técnicos e científicos, sobre uma transformação ilimitada na
natureza; os primeiros filósofos burgueses impregnavam o mundo de
significações: tudo era submetido a uma racionalidade, porque tudo era
destinado ao homem; a ideologia burguesa é cientista ou intuitiva, consta o
fato ou reconhece o valor, mas recusa a explicação: a ordem do mundo é
suficiente ou inefável, nunca significativa. Enfim, a ideia original de um
mundo suscetível de ser aperfeiçoado, móvel, produz a imagem invertida de
uma humanidade imutável, definida por uma identidade infinitamente
recomeçada (BARTHES, 1982, p. 162).

Enquanto sociedade pretensamente universal, com valores imutáveis e progresso


constante, a ideologia burguesa desistoriciza a vida social. É o mesmo movimento do mito.
Nas palavras de Barthes, “O mito não pega as coisas; a sua função é, pelo contrário, falar delas;
simplesmente, purifica-as, inocenta-as, fundamenta-as em natureza e em eternidade, dá-lhes
uma clareza, não de explicação, mas de constatação: se constato a imperialidade francesa sem
explicá-la, pouco falta para que a ache normal, decorrente da natureza das coisas: fico
tranquilo” (BARTHES, 1982, p. 163 grifos no original).
Em termos de aspecto político partidário burguês, o mito, em Barthes, é sempre uma
construção do campo das direitas (que visam a naturalização e permanência da sociedade em
suas formas burguesas) e, ao contrário, não existe nas esquerdas revolucionárias (aquelas que
reconhecem o devir histórico da sociedade e lutam por uma formação social para além dos
limites burgueses).
Por fim, Barthes elabora um esboço de um arquétipo tipológico de argumento retóricos
facilmente associados ao mito. São eles: a) a inoculação de um mal conhecido, ao que se
apresenta no plano ideológico como um suporte contra o risco generalizado de subversão; b) a
rejeição de toda e qualquer opção de ação política que, ainda minimamente, altere a
composição do poder; c) o despojamento de quaisquer elementos históricos que possam existir
em qualquer objeto social; d) a recusa à uma racionalidade universalista em favor daquela

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baseada única e exclusivamente na experiencia pessoal; e) a incapacidade, derivada anterior,


de considerar a perspectiva do outro; f) a confusão intencional entre qualidade e quantidade e,
por fim, g) o constante uso de tautologias como mecanismo explicativo.
Na tentativa de sintetizar ainda mais esses sete tipos, propomos sua categorização em
dois grandes grupos. No primeiro, a qual chamaremos de “desistorização sistêmica”, no qual
se incluem os argumentos do tipo a, b e c; o segundo, que se refere à recusa ao universalismo,
a adoção da experiência individual e a incapacidade de compreensão da experiência do “outro”
(tipo d, tipo e, tipo f e tipo g), que genericamente se trata da “recusa à racionalidade burguesa”.
Esse reagrupamento será relevante para a proposta do artigo e, por isso, retomaremos à
ele depois. Por ora, seguiremos à apresentação do pensamento de Karl Mannheim.

3. O Pensamento Conservador para Karl Mannheim


Karl Mannheim foi um pensador alemão que após a implosão da República de Weimar
radica-se no Reino Unido. Suas principais contribuições estão inseridas na intersecção entre a
sociologia e a epistemologia. Para o autor, o conhecimento inclui necessariamente as crenças
e valores sociais, bem como os padrões de pensamento pré-concebidos sobre o mundo que são
transmitidos aos indivíduos pelo grupo social que estes integram. Levando em consideração
tais elementos, seria possível, então, entender a evolução histórica do pensamento em
diferentes estilos, refletindo as diversas mudanças que afetaram os distintos grupos sociais.
Assim sendo, o que Mannheim propõe é uma sociologia do conhecimento.
Para Mannheim, o pensamento moderno nasce da oposição entre o escolasticismo
aristotélico e a filosofia da natureza da renascença, o racionalismo. Enquanto o primeiro
propunha uma abordagem qualitativa do mundo, já que cada elemento constituinte seria
determinado por sua própria essência, o segundo funda-se na tentativa de decifragem de tais
elementos constituintes a partir de sua descrição em termos lógicos e matemáticos,
quantificáveis, portanto. A crítica ao pensamento aristotélico

Trata de excluir do conhecimento tudo aquilo que está ligado a individualidades


particulares e que pode se demonstrado apenas para reduzidos grupos sociais com
experiencias comuns e ater-se a afirmação de que são, de forma geral, comunicáveis e
demonstráveis. É portanto, o desejo pelo conhecimento que pode ser socializado.
Agora, a quantidade e cálculo pertencem à esfera da consciência que é demonstrável a
todos. O novo ideal de conhecimento era, portanto, o tipo de prova que é encontrada
na matemática. Isso significa uma identificação peculiar da verdade como verdade
universal (MANNHEIM, 1986, p. 91).

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O racionalismo assim definido concebe que a “teoria” é tudo aquilo que pode ser
descrito em termos gerais, aplicável em todos os cenários. “Parte-se da suposição totalmente
não comprovada de que o homem só pode conhecer onde ele puder demonstrar sua experiência
para todos. Assim, tanto o racionalismo anti-qualitativo como o anti-mágico, do ponto de vista
sociológico, resultam na dissociação do conhecimento das personalidades e das comunidades
concretas” (MANNHEIM, 1986, p.91).
Ocorre que não seria sociologicamente preciso afirmar que o desenvolvimento do
racionalismo moderno ocorre com a total dominação e extinção do estilo pretérito de
pensamento qualitativo. Muito pelo contrário, do ponto de vista daqueles grupos sociais que
viram seus modos de representação do mundo sob ataque, o desenvolvimento do racionalismo
renascentista em direção à todas as áreas da vida social soa com um ressentimento e gera a
necessidade de reação. Por exemplo, nas artes, o movimento romântico (em especial o
romantismo alemão) é uma reação privada ao racionalismo crescente da esfera pública
(MANNHEIM, 1986).
Mas essa contrarreação não se limita à esfera simbólica, assenta-se também no campo
da luta política. Se, por um lado, a nascente classe burguesa encampa a bandeira do
racionalismo já que esse mostra resultados práticos atrelado aos seus objetivos econômicos e,
são, também, consoantes com sua agenda política, caberá aqueles grupos não alinhados
unirem-se em torno de estilos de pensamento alternativos, com bandeiras políticas igualmente
alternativas. Aqui cabe um parênteses relevante: a oposição ao movimento burguês, nessa
perspectiva, não é historicamente inaugurada pela classe proletária. No movimento histórico
de destruição das relações sociais pré-capitalistas, a classe operária só pode nascer da massa
indistinta chamada de “povo”, aqui incluído a classe burguesa. Será apenas ao longo do
processo de consolidação desta classe de novos possuidores que os novos despossuídos
poderão ser distinguidos. Assim, em Mannheim, a primeira oposição ao racionalismo é uma
“oposição de direita”.
Sociologicamente, toda e qualquer oposição a diferentes estilos de pensamento são
oposições políticas: exprimem-se enquanto choques nas visões de mundo de cada grupo
político. Na sociologia do conhecimento proposta por Mannheim, o marco político fundador
da cisão entre o racionalismo burguês e a posição conservadora é a defesa por visões de mundo
que são mutuamente excludentes. Por esta razão, não há que se falar sobre o domínio exclusivo

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da racionalidade burguesa: esta é apenas hegemônica12. Aqui assenta-se a justificativa do


projeto de pesquisa do pensador alemão: explicitar como a ideologia de determinado grupo
relaciona-se com o tipo de conhecimento produzido por este grupo.
Deve-se, no entanto, demarcar as diferenças entre o pensamento conservador e o
pensamento tradicional. Para Mannheim, o tradicionalismo remonta a uma consciência
primitiva, mágica, ritualística, típica de povos com fortes laços com suas origens ancestrais
comuns13. Não há no tradicionalismo nenhum imobilismo sócio-histórico, uma amarra
ancorada em algum evento histórico específico que impeça o surgimento de posições
progressistas a partir daquele ponto. Já o conservadorismo, em oposição, é um movimento
político definido a partir de um movimento histórico específico, que objetiva estancar as
dinâmicas sociais da mudança a partir daquele momento. Segundo o autor:

As pessoas conhecem e agem de modo “conservador” (distinto de um modo


simplesmente tradicional), na medida em que, e somente na medida em que, se
incorporam a uma dessas fases de desenvolvimento dessa estrutura mental objetiva
(normalmente na fase contemporânea), e se comportam em termos de tal estrutura,
simplesmente reproduzindo-a no total ou em parte ou desenvolvendo-a mais além por
adaptação a situações concretas particulares (MANNHEIM, 1986, p. 105).

O tradicionalismo é entendido enquanto uma característica psicológica formal inerente


ao sujeito; o conservadorismo, em oposição, “depende sempre de um conjunto concreto de
circunstâncias” (MANNHEIM, 1986, p. 102, itálicos no original). Sigamos com um exemplo
do próprio autor: é possível saber qual o posicionamento de um indivíduo tradicionalista sobre
o projeto de um estrada que dividirá o território de determinado grupo. No entanto, só podemos
saber do posicionamento de um sujeito conservador a partir das preocupações e objetivos do
pensamento conservador naquele período, naquele território específico. Nesse sentido, de
maneira simples, pode-se dizer que a posição tradicionalista é “natural”, enquanto que a
posição conservadora é “política”.
No curso do argumento que estamos apresentando, o pensamento conservador surge do
comportamento tradicionalista, mas distingue-se dele logo em seguida. As seguintes condições

12
Como o próprio Mannheim reconhece, apenas em situações muito específicas, por exemplo, enquanto
enfrentam um outro estilo de pensamento rival, é que as posições burguesas e conservadoras poderão unir-se.
De fato esse será o caso em um fato histórico chave: a Revolução Francesa. Ao mesmo tempo, e não por acaso,
no momento seguinte, o fruto dessa união irá gerar exatamente seu oposto, ou seja, a explicita distinção, a
posteriore, entre os pensamentos liberal e o conservador.
13
Aliás, esse é a definição tradicionalista do conceito de nação: um grupo que possui ancestrais comuns
(MANNHEIM, 1986).

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são necessárias para que esse movimento se efetive: a) as forças históricas devem estar em
movimento, de modo que seja possível descrever cada evento em relação ao desenvolvimento
histórico da sociedade como um todo; b) essa dinâmica histórica deve reorganizar os grupos
sociais, de modo que alguns se tornem privilegiados, outros inconscientes da mudança e alguns
ainda fiquem prejudicados com tal reorganização; c) os estilos de pensamento devem,
igualmente se reagrupar, dando espaço para sínteses e misturas dessas formas ideológicas e, d)
estas reorganizações devem cada vez mais adentrar no campo político (MANNHEIM, 1986).
A partir dos três pontos anteriores, Mannheim (1982) apresenta como o pensamento
conservador diferencia-se, distinguindo-se, do pensamento liberal, herdeiro político do
racionalismo renascentista, através do uso de três conceitos centrais à ambos: o conceito de
propriedade, o conceito de liberdade e o conceito de igualdade.
Enquanto a propriedade no pensamento liberal, consolidada no código civil de
Napoleão, é uma garantia a todos aqueles sujeitos com condições materiais de adquiri-las,
podendo tais direitos de uso associados à ela ser livremente negociadas no mercado, o
argumento conservador busca, no conceito de propriedade feudal, estabelecer a relação entre o
sujeito e a coisa, tornando-a, assim, inalienável, intransferível. Por sua vez, se assim for, o
mundo divide-se “naturalmente” entre possuidores e despossuído que, salvo raríssimas
ocasiões podem trocar de lugar (MANNHEIM, 1986).
Por sua vez, o liberalismo defende a liberdade individual de todos os homens como um
direito limitado apenas na medida em que a ação individual causa dano à um terceiro; já o
pensamento conservador desenvolve o conceito de “liberdade qualitativa”, ou seja, o direito
que os homens tem de se desenvolver e se diferenciar um dos outros segundo sua própria
personalidade, sem obstáculos (MANNHEIM, 1986).
Abre-se caminho para a distinção entre o conceito de igualdade, que para o pensamento
liberal tem como princípio o fato de que, ao menos politicamente, todos os indivíduos são
iguais e dotados dos mesmos direitos enquanto o pensamento conservador ressalta a
desigualdade, ou seja, a natural distinção entre os homens14 (MANNHEIM, 1986).
Enquanto opositor ao pensamento racional liberal, o pensamento conservador busca nas
experiências do passado concreto o oposto aos projetos abstratos e generalistas de seu inimigo

14
Novamente, com ênfase ao caso alemão, será essa oposição entre os conceitos de propriedade, liberdade e
igualdade que o romantismo, já definido como um movimento conservador, irá explorar em oposição aos
princípios liberais.

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político. No entanto, esse apego à um passado medieval fica cada vez mais ilegítimo a medida
em que o processo sócio-histórico burguês avança enquanto força hegemônica deixando esse
passado cada vez mais longínquo em relação as disputas do presente. É nesse ponto que
podemos passar da morfologia do pensamento conservador para a descrição de suas
características metodológicas, isto é, as formas que este encontra para manter-se vivo enquanto
um estilo de pensamento.
Como o pensamento racionalista caracteriza-se pelo domínio da razão renascentista, da
validade universal do método, pela aplicabilidade universal de todas as leis, pelo atomismo e
mecanicismo da ciência, o pensamento conservador consegue-se manter enquanto um
pensamento politicamente vivo se: a) construir uma racionalidade baseada em princípios
subjetivos; b) abraçar o irracionalismo; c) contrapor o conceito liberal de individualidade
limitada e condicionada à fatores não sociais; d) difundir um organicismo social determinista
e e), opor-se à concepção dinâmica do racionalismo burguês (MANNHEIM, 1986).
Essas metodologias tem em comum dois objetivos sintetizadores: a recusa aos
fundamentos da racionalidade iluminista e a naturalização das relações sociais ou, o que quer
dizer no mesmo, retirar desta seu determinante histórico.
O que importa ressaltar, no entanto, é que a metodologia de ação do pensamento
conservador necessariamente colide com aquela do pensamento racional liberal, possibilitando
ações políticas coerentes com um estilo de pensamento e visão de mundo de um grupo social
oposto à ideais historicamente progressistas.

4. Do Cotejamento entre Barthes e Mannheim a uma Proposta de Interpretação


da Estratégia Político-comunicacional de Jair Bolsonaro na Condução da
Pandemia.
Uma vez tendo apresentado o núcleo teórico, podemos agora refletir sobre as
contribuições de Barthes e Mannheim e, a partir de suas aproximações e especificidades e então
encontrar lineamentos que possam ser utilizados como guias na análise objetiva do discurso
negacionista adotado por Jair Bolsonaro na condução da pandemia.
No que se refere às possíveis aproximações entre os autores, há que se ressaltar, em
primeiro lugar, a relevância que ideologia possui para ambos: em Barthes, o mito é uma fala
ideológica; em Mannheim, há uma ideologia conservadora. Em ambos, a ideologia pode ser
entendida como um elemento indissociável a todo processo de significação e/ou todos os tipos
de pensamento. Trata-se de uma intencionalidade explícita, ou propositalmente velada, do

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discurso. A sociedade burguesa possui uma ideologia que lhe é própria, originária na
racionalidade universalista que se difundiu no período da renascença e que, a partir de então
espraiou-se para todos os domínios da vida social já que pôde ser utilizada como ferramenta
política pela nascente classe burguesa.
Nesse estágio do desenvolvimento histórico, a ideologia burguesa (em Barthes) ou o
pensamento conservador (em Mannheim) passam a adotar estratagemas visando interromper o
devir histórico, na tentativa de naturalizar esta formação social, tornando-a perene. Trata-se de
uma tentativa política, orientada, guiada, pragmática, de desistoricizar o processo social pelo
qual a burguesia ascendeu ao poder. A mesma racionalidade inefável do racionalismo que a
tudo submete à sua crítica, é aquela que se recusa a explicar a origem social do mundo. Assim,
ao mesmo tempo em que permite uma transformação ilimitada, confina a humanidade à uma
ordem social imutável. Para usar uma analogia, é como se uma vez atingido seu objetivo, a
burguesia tenha “chutado a escada” que o pensamento político e social do racionalismo
representou, impossibilitando que outra classe seguisse seus passos. Esse “chute”, tanto em
Barthes quanto em Mannheim é dado por aqueles setores da burguesia que no aspecto político
contemporâneo associam-se à direita: o pensamento conservador é burguês15 e de direita, o
mito é uma fala associada à direita.
Obviamente existem particularidades em cada autor, a começar por seus objetivos e
referenciais teóricos: Barthes procura ressaltar os aspectos ideológicos dos processos de
significação semiológica, utilizando como pressuposto a revolucionária contribuição da
linguística de Saussure. Por sua vez, Mannheim está preocupado com a produção do
conhecimento e, para isso, procura na articulação entre a epistemologia e a sociologia uma
origem social para os diferentes tipos de pensamento. Disto, segundo Dant (1997), Barthes
desenvolve um conceito amplo e complexo sobre o que constitui um signo. Mannheim por sua
vez refina continuamente sua busca por um sistema epistemológico geral que explicite a visão
de mundo (weltanschauung) da modernidade.
Se em Barthes, o mito é um instrumento da burguesia que permite a construção de
significações dirigidas, intencionais, em Mannheim o pensamento conservador aparece
enquanto um movimento reativo, em resposta ao avanço do racionalismo iluminista. Essa

15
Ainda que os primeiros conservadores se ancorassem em um passado não burguês, não desejam reaver todo o
processo revolucionário que enterra definitivamente seus ideais no passado. Esse movimento fica ainda mais
nítido no pensamento conservador contemporâneo: suas amarras políticas em um passado tradicional já se situam
no passado burguês.

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reação, em um primeiro momento, porém, não vem da “esquerda” proletária mas sim do grupo
dominante na estrutura social que está ruindo. Assim, há em Mannheim uma disputa anterior
àquela hoje consagrada na política burguesa entre direita e esquerda 16; em Barthes a oposição
as mitologias burguesas estão na esquerda revolucionária, aquela que pretende retomar a
marcha histórica e substituir a sociedade burguesa por outra.
Tais particularidades podem ser entendidas mais como mediações necessárias para o
cotejamento dos dois autores uma vez que não se apresentam distanciamentos irreconciliáveis
entre suas contribuições teóricas. Ambos estão preocupados, como vimos, com a relação entre
ideologia, política e produção de sentidos sobre o mundo social. Novamente segundo Dant,

Both Barthes and Mannheim are interested in the analysis of cultural objects
as vehicles that tell us about the culture from which they emerge. Just as
Mannheim establishes an interpretive system with his three strata of meaning,
Barthes sets out in his article “Myth Today” and later in The Elements of
Semiology, a system for analysing levels of meaning; both are interested in
moving from the specific instance to the larger, abstract realm of meaning. For
Mannheim this is the world-view or weltanschauung, for Barthes this is the
mythological system of the society in which he lives17 (DANT, 1997, p.11).

Entendendo que seus diagnósticos mais se aproximam do que se distanciam, suas


conclusões podem indicar, no plano heurístico, possibilidades teóricas de entendimento da
estratégia comunicacional de Jair Bolsonaro. Para descrevê-la, recorreremos tanto às
sintetizações que propomos às retóricas da fala mítica de Barthes quanto da metodologia do
pensamento conservador em Mannheim. Temos então, dois grandes subgrupos de práticas
retóricas conservadoras: a desistorização da vida social e a recusa aos fundamentos da
racionalidade iluminista. A partir delas, retomaremos à consideração de algumas posições
públicas adotadas pelo presidente da República.

16
Em Mannheim o movimento operário só pode surgir quando a oposição entre a classe burguesa e a classe
trabalhadora já está posta portanto, quando a burguesia já tomou o poder. O movimento conservador seria, assim,
anterior ao movimento operário. Entre outras questões, é por isso que o movimento conservador será contrário à
racionalidade universalista do pensamento liberal; já o movimento operário parte das contradições expostas no
seio dessa racionalidade. Enquanto o primeiro nega-a, o segundo procura radicaliza-la, levando à suas últimas
consequências: o pleno desenvolvimento do potencial humano contido nas promessas do Iluminismo.
17
Em tradução livre “Tanto Barthes quanto Mannheim estão interessados na análise de objetos culturais como
veículos que nos informam sobre a cultura do qual eles emergem. Assim como Mannheim estabeleceu um sistema
interpretativa com três níveis de significância, Barthes organizou em seu artigo “O Mito Hoje” e depois em
“Elementos de Semiologia”, um sistema para análise de vários níveis de significância; ambos estavam
interessados em deslocar-se de instancias específicas para instâncias mais abrangentes, a realidade abstrata do
significado. Para Mannheim essa visão de mundo ou weltanschauung; para Barthes, o sistema mitológico no qual
a sociedade vive”.

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A “gripezinha”, o “histórico de atleta”, a posição contrária ao distanciamento social e


as estratégias de restrição de mobilidade, o uso obrigatório de máscaras em locais públicos, a
opção pela hidroxicloroquina – e posteriormente pela ivermectina –; a negativa da compra das
vacinas e a recusa à sua utilização soam, à primeira vista, apenas como falas “anticientíficas e
negacionistas”, mas esse rótulo não é suficiente já que ambos poderiam refletir apenas
desconhecimento, ignorância.
Estas etiquetas não nos permitem expor a visão de mundo ou a ideologia que sustenta
esse tipo de pensamento. Em uma camada mais densa, a partir da leitura teórica que propomos,
é possível identificar que tal comportamento passa pela incompreensão intencional das
categorias e metodologias próprias do pensamento científico. Há agência no comportamento
na medida em que ele está ancorado em uma posição política que, por princípios, se opõe ao
racionalismo burguês. Tomadas enquanto conjunto, as falas permitem expor um tipo de
pensamento que se baseia na experiência individual e subjetiva; que encontra eco em um
conceito de liberdade individual que, no limite, coloca em risco a própria existência de um
indivíduo vivo que possa se autodeclarar livre, ou seja, não são liberais.
Se escolhermos um outro conjunto de declarações, a densidade dos fios que unem os
traços do pensamento conservador e do discurso mítico torna-se ainda mais espessa: o vírus foi
uma invenção chinesa18 contra o qual não há nada o que fazer19, que se deve enfrentar a doença
“como homem20” e sem “mimimi21 e histeria22”, afinal o país está quebrado23, sem dinheiro
nem mesmo para os programas sociais24.
Aqui há a evocação à ação reativa (conservadora) em defesa de um inimigo comum: o
fantasma preferido da direita brasileira, o comunismo (em sua versão chinesa), que se
materializa nessa temporada como um agente biológico. Como vida e morte, início e fim, são
condições naturais inescapáveis à qualquer ser vivo, pensamento que relega os ganhos que a

18
https://noticias.uol.com.br/colunas/tales-faria/2020/03/16/bolsonaro-esta-convencido-de-que-coronavirus-e-
plano-do-governo-chines.htm
19
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/28/e-dai-lamento-quer-que-eu-faca-o-que-diz-bolsonaro-sobre-
mortes-por-coronavirus-no-brasil.ghtml
20
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-diz-que-e-preciso-enfrentar-virus-como-homem-e-nao-
como-moleque,70003252768
21
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56287135
22
https://veja.abril.com.br/politica/bolsonaro-critica-imprensa-fala-em-histeria-e-reeprende-governadores/
23
https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/01/05/bolsonaro-diz-que-o-brasil-esta-quebrado-e-por-isso-ele-nao-
consegue-fazer-nada.ghtml
24
https://economia.ig.com.br/2021-01-26/bolsonaro-nega-volta-e-diz-que-auxilio-emergencial-nao-e-
aposentadoria.html

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coletividade humana historicamente alcançou para estender o período entre esses dois polos,
não há nada que um político possa fazer, afinal esse é o destino natural. Se inevitável, logo,
parte da vida humana, que deve seguir sua normalidade. Não há razões para “excessos
emotivos”, há que se enfrentar simplesmente, de maneira brava, heroica. Cada indivíduo faz
parte de um todo maior, a sociedade, e essa é regida de maneira orgânica, a partir do
reconhecimento por parte de cada membro da sua função específica e imutável nesse corpo.
Como Margareth Thatcher disse em várias ocasiões: “there is no alternative25”.
É nesse sentido que a crítica que se assenta apenas sobre o fenômeno do negacionismo
científico em relação à condução da pandemia parece, para dizer o mínimo, rasa. Isto porque,
como procurou-se até aqui demonstrar, o negacionismo só pode ser entendido enquanto uma
das múltiplas faces do pensamento e da retórica conservadora. O atual governo foi eleito tendo
a plataforma conservadora como sua base de sustentação, levando bandeiras simbólicas que
dizem respeito aos anseios desse grupo. Logo, suas políticas são, todas elas, tomadas a partir
desse conjunto de ideais ou tipo de pensamento.
É o que se percebe desde as primeiras manifestações públicas do Presidente. Ele age
como porta voz de um discurso, representando o pensamento político do grupo que o levou ao
poder. A aparente radicalização de seu discurso é apenas um diálogo para aqueles que
compartilham da mesma visão de mundo. Estes, reverberam o discurso, naturalizando-o,
reforçando as características semióticas de uma fala mitológica. Esse não é, no entanto, um
comportamento novo, já que a tática de “campanha permanente” vem sendo utilizada pelo
político desde o início da década passada. Aliás, foi esse o método que tanto introduziu quanto
galvanizou sua figura política entre os meios conservadores. Tem-se, portanto, de um lado, o
político em busca de sua base de apoio em um momento de crise e, de outro, a parcela da
sociedade que reconhece seu estilo de pensamento em seu líder conservador. Ao constituir-se
enquanto uma eficaz via de mão dupla, a estratégia é reiterada, e a aposta política é “dobrada”.

5. À Guisa de Conclusão
O presente artigo teve como objetivo apresentar uma proposta de interpretação da
racionalidade que fundamenta o comportamento e a estratégia comunicacional negacionista do
Presidente da República desde o início da pandemia de Covid-19. Para tal, recorreu às
interpretações sobre o mito na sociedade burguesa segundo Roland Barthes e à descrição da

25
“Não há alternativas”

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metodologia do pensamento conservador segundo a sociologia do conhecimento de Karl


Mannheim. Do cotejamento entre essas interpretações próximas, duas características da
retórica do pensamento conservador foram destacadas: a recusa aos fundamentos da
racionalidade iluminista e a naturalização das relações sociais. Por fim, optou-se por recorrer
à alguns exemplos de manifestações públicas de Jair Bolsonaro que comprovam não apenas
um desprezo pela tragédia humana ou um simples negacionismo científico, mas um projeto
político compreensível e defensável por uma parcela da sociedade.
Obviamente não se pretende aqui interditar qualquer debate que contenha juízos de
valor que se possa fazer sobre as consequências que a adoção dessa estratégia político-
comunicacional representa em termos práticos. No momento em que se finaliza esse trabalho
o país já contabiliza a morte de mais de 330 mil brasileiros em função dessa opção política. No
entanto, o que se procurou aqui foi compreender, a partir da racionalidade interna ao
pensamento conservador como chegamos até esse ponto.
Enquanto representante do movimento conservador que o levou ao poder, Jair
Bolsonaro recorre, em suas falas, ao núcleo do pensamento do grupo político que o sustenta.
Esse movimento, porém, não é novidade, já que sua estratégia de comunicação política sempre
foi direcionada aos anseios deste público.
O que deve-se ponderar, nesse sentido é a relevância da figura pessoal de Jair
Bolsonaro. O negacionismo, o irracionalismo ou a falta de empatia não é, necessariamente,
uma característica genética impressa em seu DNA. Deixar se levar por esse raciocínio
personalista seria cair em uma armadilha do pensamento conservador. O que esse trabalho
procurou de alguma forma mostrar é que a tragédia histórica que a sociedade brasileira está
vivendo tem início muito antes da crise da pandemia ou mesmo da eleição presidencial de
2018. E que somente compreendendo melhor os elementos constitutivos do discurso político
oponente é que o pensamento progressista poderá nos ajudar a trilhar dias melhores

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