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RESUMO
INTRODUÇÃO
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Trabalho apresentado no IJ08 - Estudos Interdisciplinares da Comunicação – XVIII Jornada de Iniciação
Científica em Comunicação, evento componente do 45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
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Recém-graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); vncslcn@gmail.com
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Orientadora do trabalho. Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e
professora do Departamento de Comunicação da UFPE, e-mail: soraya.barreto@upfe.br
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
45º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – UFPB – 5 a 9/9/2022
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OBSERVATÓRIO RACIAL DO FUTEBOL. Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2019.
Porto Alegre, 2020. Disponível em:
https://observatorioracialfutebol.com.br/Relatorios/2019/RELATORIO_DISCRIMINCACAO_RACIAL_
2019.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021.
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interação social com negros, motivo pelo qual pessoas brancas tentam evitar contato
com eles ou os tratam com o devido distanciamento social" (MOREIRA, 2019, p. 33).
O autor, especialista em direito antidiscriminatório, ainda afirma que “os racistas
aversivos tratam minorias raciais de maneira cordial, mas essa interação não tem um
caráter espontâneo, sendo meramente circunstancial” (MOREIRA, 2019, p. 33).
Moreira sustenta que tais práticas estão relacionadas ao caráter simbólico do racismo,
que "designa construções culturais que estruturam a forma como minorias raciais são
representadas" (MOREIRA, 2019. p. 34).
Moreira (2019) argumenta ainda que o racismo provoca a criação de “imagens
deturpadas do outro, o que induz a uma série de comportamentos conscientes e
inconscientes de natureza sutil que expressam desprezo por minorias raciais”
(MOREIRA, 2019, p. 37), tais comportamentos podem ser definidos como
microagressões. Ao relacionar tais comportamentos ao humor (argumento comumente
utilizado entre os indivíduos que reproduzem o racismo em forma de microagressões), o
autor argumenta que “o humor racista satisfaz a necessidade de diferenciação que
pessoas brancas sentem em relação a indivíduos considerados inferiores e também cria
um sentimento de solidariedade entre os membros desse grupo (MOREIRA, 2019, p.
49). Para ele, “o humor racista é uma das formas que pessoas brancas utilizam para
referendar o sistema de opressão social que as beneficiam, mas elas sempre argumentam
que ele é algo benigno” (MOREIRA, 2019, p. 54).
Apesar de tais agressões serem direcionadas a determinados indivíduos,
entende-se que elas não afetam somente a dimensão subjetiva, mas funcionam como
uma reprodução de uma série de valores culturais que acabam por atribuir signos
pejorativos a pessoas racializadas e, portanto, colaboram com a perpetuação das
relações de poder e das hierarquizações raciais presentes na sociedade.
Outra manifestação do racismo no universo do futebol - e dos esportes em geral
- está relacionada à atribuição de estereótipos acerca dos corpos racializados, que
costumam ser enquadrados em características ligadas à força física, à agilidade, à
malandragem, entre outras adjetivações que se opõem às designadas aos atletas brancos.
Entre 2019 e 2020, a organização RunRepeat e a PFA, a associação de jogadores de
futebol profissionais da Inglaterra e no País de Gales, conduziu um estudo que consistia
na análise dos adjetivos utilizados por comentaristas de futebol para caracterizar atletas
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MCLOUGHLIN, Danny. Racial Bias in Football Commentary (Study): the pace and power effect.
The Pace and Power Effect. 2021. Disponível em: https://runrepeat.com/racial-bias-study-soccer. Acesso
em: 15 jul. 2021.
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expulsão ritualizada. O poder, ao que parece, tem que ser entendido aqui não
apenas em termos de exploração econômica e coerção física, mas também em
termos simbólicos ou culturais mais amplos, incluindo o poder de representar
alguém ou alguma coisa de certa maneira - dentro de um determinado
"regime de apresentação". Ele inclui o exercício do poder simbólico através
das práticas representacionais e a estereotipagem é um elemento-chave deste
exercício de violência simbólica" (HALL, 2016, p. 193)
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Além das manifestações racistas por parte dos atletas e dos torcedores, também
observamos a recorrência casos de injúrias raciais e manifestações de racismo por parte
de profissionais da imprensa esportiva. Em julho de 2020, o atacante Marinho — atleta
do Santos Futebol Clube — foi alvo de uma fala racista do comentarista Fábio
Benedetti, da rádio Energia 97. Após ter sido expulso em uma partida do Campeonato
Paulista de Futebo Masculino, Marinho viu o comentarista chamá-lo de "burro" e dizer
que ele "estava na senzala"8. Pouco mais de seis meses após o episódio, outro atleta do
Santos foi alvo de comentários racistas por parte de um profissional de imprensa.
Durante uma transmissão de um duelo contra o Grêmio, válido pelo Campeonato
Brasileiro de Futebol Masculino, o narrador Haroldo de Souza, da Rádio Grenal, usou a
frase "aquele crioulinho que está lá na ponta esquerda”9 para se referir ao lateral Lucas
Braga. Nos dois casos, os termos utilizados nos insultos racistas evocam uma herança
da sociedade escravagista. De acordo com Guimarães (2000), os insultos raciais verbais
costumam conter referências à situação de escravidão — como observado no caso do
“estava na senzala”, proferido por um comentarista esportivo — ou estratégias
linguísticas que envolvem o uso de diminutivos, como "negrinho", "negrinha" ou
"crioulinho", termo citado pelo narrador da Rádio Grenal. Segundo o autor, o uso de
diminutivos deriva da crença na existência de uma hierarquia social, e pode ser
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PLACAR. Corinthians x Boca tem ato nazista, racismo e pedra no ônibus. São Paulo. 29 jun. 2022.
Disponível em <https://cutt.ly/uLJbDBG>. Acesso em 2 jul. 2022.
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CORREIO BRAZILIENSE. Comentarista é afastado após fala racista que fez jogador do Santos
chorar. Brasília. 31 jul. 2020. Disponível em <https://bit.ly/3feMMwZ> . Acesso em 28 jun. 2022.
9
IG. Narrador é acusado de racismo contra jogador do Santos: "crioulinho"; veja. 4 fev. 2021.
Disponível em <https://bit.ly/3ljdCrr>. Acesso em 28 jun. 2022.
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GZH. Santos diz que irá tomar "medidas cabíveis" sobre fala de narrador a respeito de Lucas
Braga. Porto Alegre. 4 fev. 2021. Disponível em <https://bit.ly/3jcVL2B>. Acesso em 28 jun. 2022.
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Plataforma online especializada em streamings esportivos.
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UOL. Comentarista tem fala racista em jogo feminino na CBF TV e é afastado, São Paulo. 25 abr.
2021. Esporte. Disponível em <https://bit.ly/RacismoMyCujoo>. Acesso em 18 jun. 2022.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preocupação em entender como o racismo estrutural opera no universo
futebolístico parte do entendimento de que o estudo das relações de poder reproduzidas
em um microcosmo nos permite estabelecer uma série de conexões que podem nos
fornecer uma compreensão de um macrocosmo (BOURDIEU, 1983). Assim, uma
análise das estruturas que sustentam o racismo no campo dos esportes pode fazer com
que exerçamos um olhar mais apurado para a sociedade na qual essas relações estão
inclusas.
Nos últimos anos, o futebol (e o esporte, em geral) ficou marcado por uma série
de manifestações coletivas contra o racismo; ainda que os protestos centrados em
questões étnico-raciais não sejam uma novidade na história do esporte mundial, a
ocorrência de manifestações generalizadas na prática esportiva de alto nível faz com que
os olhos se voltem a essa problemática. Tais movimentos têm a capacidade de promover
alterações nas dinâmicas relacionadas ao ativismo no campo dos esportes. As respostas
dos atletas, dos torcedores mais engajados e de outros atores ligados ao futebol às
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TORCEDORES.COM. Sormani e Zé Elias ‘culpam’ cabelos e tatuagens por má fase de garotos do
Palmeiras e geram discussão ao vivo na ESPN;. 27 set. 2021. Disponível em <https://cutt.ly/VZ8Ei78>.
Acesso em 10 ago. 2022.
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tensões sociais cada vez mais latentes podem causar reconfigurações nos modos como
as instituições ligadas ao esporte lidam com as manifestações realizadas em campo.
Como resultado, podemos esperar a adoção de medidas mais efetivas de combate ao
racismo no universo dos esportes.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Pólen, 2019. 264 p. (Feminismos Plurais).
CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.
_____. Racismo e anti-racismo no Brasil. Novos Estudos, n. 43. São Paulo, p. 26-44. 1995.
MOREIRA, Adilson. Racismo Recreativo. São Paulo: Pólen, 2019. (Feminismos Plurais).
VIEIRA, José Jairo. As relações étnico raciais e o futebol do Rio de Janeiro: Mitos,
discriminação e mobilidade social. Mauad Editora Ltda, 2018.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.
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