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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

JÚLIA DE FREITAS MARTINS E NICOLE FRAGA LORENÇÃO

DESIGUALDADES E DISCRIMINAÇÃO: RAÇA/ETNIA NO ESPORTE

BELO HORIZONTE - MG
2023
INTRODUÇÃO

A Convenção Internacional sobre a eliminação de todas formas de Discriminação de


1966, em seu artigo 1º, conceitua discriminação como sendo, em resumo: “qualquer distinção
baseada em raça, cor, descendência ou origem que tenha o propósito de anular o gozo ou
exercício em pé de igualdade, de direitos humanos fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública” (ZALUAR,
1991).
Em todo campo social observa-se diversos modos de discriminação. Na atualidade,
como resquício dos últimos séculos de história, o homem branco héterossexual foi tomado
como o mais privilegiado corpo com o qual se pode se existir no mundo. Quanto mais
distantes dessa referência, mais discriminação os sujeitos sofrem. A partir disso surgem as
diversas formas de discriminação e violência, como o machismo, o racismo, a homofobia,
xenofobia etc. Nesse trabalho iremos focar na discriminação racial no mundo dos esportes.

GÊNESE DA DISCRIMINAÇÃO:

"O ocidente não conquistou o mundo pela superioridade


das suas ideias, seus valores ou sua religião. Mas pela
sua superioridade na aplicação da violência organizada.
Frequentemente, os ocidentais se esquecem disso, mas os
não ocidentais jamais se esquecem".

Samuel P. Huntington (1927-2008). Trecho do livro “O


choque das civilizações”.

Impossível é a tarefa de explicar neste texto a história de séculos de racismo, de


segregação, de dominação e de atrocidades contra o povo negro. O que faremos será uma
breve abordagem de alguns pontos relevantes dessa história.
A discriminação contra pessoas negras é um fênomeno social complexo. Tem um
marco histórico no século XV, quando o homem branco e europeu começou a dominar, a
escravizar e a matar os povos africanos e os indígenas, nas Américas.
Para justificar essas atrocidades, houve no século XIX um fenômeno científico no
qual alguns biólogos e zoologistas criaram teorias que separavam os seres humanos em raças
(raça branca, raça negra e raça amarela) (GEORGES CUVIER, 1769-1832), e defendiam que
a raça branca era superior às outras. Atualmente já se entende no meio científico que a teoria
racial foi um equívoco e um instrumento político, e que não existem diferentes raças ou
subespécies dentro da espécie humana.
A título de exemplo, Arthur de Gobineau foi um filósofo e diplomata francês que em
1855 escreveu o livro “Ensaio sobre a desigualdade das raças”, onde o autor profetizava que
o Brasil acabaria em no máximo 200 anos, pois era um país muito miscigenado, e povos
miscigenados estariam condenados a degeneração. Segundo o sociólogo Tulio Augustus
(2021), o pensamento de Gobineau teve grande influência nas políticas migratórias que
aconteceram no Brasil na época do Segundo Reinado (1840-1889). As políticas migratórias
foram baseadas nessa ideia de que não se devia miscigenar as famílias e a população, tendo
como consequência mais um reforço da segregação e discrimininação contra as pessoas
negras e indígenas no Brasil.
Outro exemplo se encontra na antropologia criminal de Cesare Lombroso
(1835-1909), autor que defendeu que era possível estabelecer tipos físicos, determinantes, de
um criminoso. De acordo com o formato do corpo, do crânio, do queixo, do nariz e etc., o
antropólogo afirmaria se a pessoa tinha tendência a ser um criminoso ou não. Ele inclusive
defendia que esses sujeitos deveriam ser presos de forma preventiva. Essas ideias de
Lombroso tiveram muita influência no nosso país, tendo sido ensinadas nos cursos de Direito
até meados do século XX (AUGUSTUS, 2021).
Dessa forma a ciência foi usada como embasamento para os mais cruéis
comportamentos sociais, como por exemplo, a escravidão, a colonização, o genocídio e o
apartheid. Hoje em dia o racismo, embora negado por muitas pessoas - principalmente as
brancas -, existe. Não de forma legalizada, mas é evidente na estrutura social da maioria dos
países. As pessoas negras enfrentam diariamente um racismo que está incorporado e
enraizado nas nossas práticas sociais, culturais e políticas. Ao enfrentar um contexto
socioeconômico desigual, a população negra sofre bem mais que os brancos quando se trata
de ter acesso à educação, à saúde, a oportunidades de empregos, a bons salários e à justiça.
Os negros são maioria na população brasileira, porém são minoria nas universidades, no
congresso e nos espaços de poder político e econômico. No entanto, são maioria na mira das
armas de fogo, nos espaços marginalizados e nos empregos mal remunerados.
Atualmente no Brasil o racismo é estrutural, é um mecanismo de estratificação social
que naturaliza o privilégio dos brancos e o desprestígio dos negros. Isso aparece em todos os
espaços sociais, inclusive no esporte.
A DISCRIMINAÇÃO NO ESPORTE

Em 2017, um dia antes do início das finais da NBA, LeBron James teve o portão de
sua casa em Los Angeles vandalizado, pichado com uma ofensa racista.
Em 2023, numa partida da Copa da Itália, o atacante da Inter de Milão, Lukaku, viveu
um episódio lamentável de racismo. Um grupo de torcedores do time rival, Juventus, xingou
o atacante de “macaco de merda” e imitou animal.
Em 2015, Fabiana Claudino, capitã da seleção brasileira de vôlei, foi vítima de
insultos racistas na derrota da sua equipe para o Minas, por 3 sets a 1, em Belo Horizonte. Em
desabafo nas redes sociais, Fabiana relatou que um "senhor" na arquibancada proferiu
expressões como "macaca quer banana", "macaca joga banana", entre outras, em sua direção.
Muito chateada pelo ocorrido, a jogadora chegou a ter dúvidas sobre um pronunciamento
quanto ao caso, mas resolveu fazê-lo no intuito de tentar ajudar a diminuir o número de
incidentes.
A violência racial tem aumentado no ambiente esportivo e, segundo dados de
pesquisa do Agência Brasil (2018), o futebol “concentra 90% dos casos de discriminação no
esporte”. Em 2005 as Nações Unidas emitiu um relatório no qual expressou preocupação pelo
aumento da discriminação no futebol, um esporte que pode ser uma ferramenta útil para o
desenvolvimento e a paz internacional (OLIVEIRA, 2009).
As atitudes racistas não acontecem somente nas torcidas e nas arquibancadas,
acontecem também dentro de quadra, entre atletas, técnicos e outros profissionais. No livro
Psicologia Social do Esporte, os autores Neilton Ferreira Junior e Katia Rubio escrevem
sobre como o racismo atua no esporte:
Entrelaçados à racionalidade neoliberal, que a propósito orienta o
esporte contemporâneo, “raça” e racismo seguem - não sem oposição
- seu projeto de desumanização. Enquanto instrumento político, têm
servido não só ao controle da circulação e coisificação dos corpos,
mas à própria destruição da vida subjetiva dos seus principais alvos,
os negros. Conforme se observará, ao longo da história e
desenvolvimento do esporte brasileiro a “raça” desencadeou e
continua a desencadear pelo menos quatro grandes processos, a saber:
(1) a exclusão deliberada, (2) a integração subordinada (3) a
humilhação pública e, por fim, (4) novas formas de discriminação,
mas também de resistência anti-racista. (X - Revisitando a “raça” e o
racismo no esporte brasileiro: implicações para a Psicologia Social.
O esporte reflete a estrutura de pensamentos e atitudes que há numa sociedade. Se a
sociedade é discriminatória, assim o será o esporte. A estrutura de poder na qual se baseia o
racismo é reproduzida dentro das quadras e campos esportivos. Não somente por meio de
insultos o racismo pode ser localizado. O que se repete no esporte é a estrutura racista na qual
as pessoas negras ocupam os cargos de jogadores e atletas, e as posições mais
administrativas, como a de técnicos, presidentes e etc. são ocupadas por pessoas brancas.

RUMOS TOMADOS PELA DISCRIMINAÇÃO NO ESPORTE NA ATUALIDADE

“Pois, no mundo de hoje, em que a agenda internacional está


dominada pela guerra contra o terrorismo, o temor da sociedade pode
motivar atitudes negativas dentro das arenas esportivas. Principalmente em
relação aos estrangeiros, aos negros e etc., por sua identidade religiosa,
étnica ou cultural, fazendo urgente uma convocação social e uma
mobilização das organizações esportivas internacionais, da academia, na
direção de combater a discriminação, além da conscientização da
comunidade internacional acerca do importante papel do esporte nos
esforços para o desenvolvimento e a paz mundial” (OLIVEIRA, 2011).

Segundo Flávio Francisco (2016), doutor em História pela USP, há um avanço


nacional na conscientização acerca do racismo estrutural, que é o reconhecimento simbólico
do problema, por outro lado há um trabalho muito mais árduo, que se dá num momento após
o reconhecimento, que é o trabalho de promoção da igualdade racial.
O que de fato está sendo feito, ao menos no Brasil, para combater os casos de
discriminação racial no esporte? Os casos de racismo no Brasil são julgados pelo Tribunal de
Justiça Desportiva(TJD) ou pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STFD).

A Lei 9.615/98, prevê em seu capítulo VI, da ordem desportiva, que:


Art. 48. Com o objetivo de manter a ordem desportiva, o respeito aos atos emanados de
seus poderes internos, poderão ser aplicadas, pelas entidades de administração do desporto e
de prática desportiva, as seguintes sanções:

I - advertência;
II - censura escrita;

III - multa;

IV - suspensão;

V - desfiliação ou desvinculação.

Porém, na prática, nem sempre os jogadores brasileiros são defendidos. No dia 25 de


abril de 2023, Vini Jr sofre mais um ataque racista na Espanha, onde joga para o Real Madrid
e onde tem sofrido uma série de ataques. Segundo a CNN Brasil (2023), A LiLiga
(campeonato no qual está competindo) “afirma que quem deve tomar providências é a Real
Federação Espanhola de Futebol que, por sua vez, não julgou nem puniu culpados.” Mais
sobre esse caso será abordado adiante.

RACISMO NO FUTEBOL

Falemos então agora sobre o cenário da discriminação de raça e etnia dentro do


esporte mais popular da atualidade: o futebol. É notável o enorme alcance que esse esporte
possui no Brasil e no mundo, assim como as notícias e acontecimentos que o envolvem.
Pode-se perceber que, o início da popularização do futebol no Brasil se deu no
contexto político e social pós abolição da escravatura, em que os valores capitalistas e liberais
clássicos estavam sendo reforçados pelo esporte (Abrahão BOL et al., 2021). Isso se fez
possível visto que os ideias de individualismo e de meritocracia da sociedade refletiam a
noção de que cada sujeito seria medido e valorizado por seus méritos individuais, como
afirma Leite Lopes (1994):
“o futebol aparece como um universo idealizado de justiça social em que vencem
os mais corajosos e os mais talentosos, uma meritocracia cujos critérios de justiça são
implicitamente generalizados ao conjunto da sociedade. O futebol que pode
servir num primeiro momento de linguagem de mobilização pode servir numa
segunda acepção de linguagem de negociação entre as classes”.
Dessa forma, o futebol, assim como outras práticas esportivas de lazer, traziam a
ambiguidade de aproximar camadas mais populares do lazer efetivo e, ao mesmo tempo,
perpetuar os vínculos das elites econômicas e culturais.
Como exemplo podemos citar o Bangu Atlético Clube, que foi fundado por ingleses
mas tinha como maioria do time os operários, e, ao escalar um atleta negro no ano de 1905,
assumiu uma postura de pioneiro na discussão e enfrentamento do racismo no futebol.
Apesar da crescente conscientização a respeito do tema, medidas foram tomadas tanto
direta como indiretamente para tentar barrar a inserção dos atletas negros, como por exemplo
a “Lei do Amadorismo” de 1917. Segundo essa lei, pessoas que exerciam profissões de cunho
braçal (trabalhadores de fábrica, caixeiros, barbeiros, motoristas e outros) não poderiam ser
registrados como atletas amadores de futebol. Essa estratégia explicita o esforço para manter
esse esporte como acessível somente aos brancos e pertencentes à elite.
Ainda de acordo com Abrahão BOL et al. (2021), primeiramente os clubes eram
espaços para convívio de pessoas de classes mais altas, com status semelhantes, um lugar de
“sociabilidade entre iguais”. Porém, mais tarde, com a profissionalização do futebol no país,
pessoas negras puderam adentrar mais tais ambientes, visto que os jogadores passaram a ser
reconhecidos e pagos com base em seu nível técnico e a cor de pele não era tão determinante.
Além disso, também se tornou possível uma maior mobilidade econômica e social para esses
atletas.

Regulamentos acerca do racismo no futebol e no esporte em geral

Estatuto de Defesa do Torcedor (EDT)


Regulamentado em 15 de maio de 2003 a partir da lei Nº 10.671, teve uma modificação no
ano de 2010 a partir da lei Nº 12.299 que busca a prevenção e repressão da violência nos
esportes. Tal lei apresenta, no capítulo IV do EDT (Segurança do torcedor e partícipe do
evento), o artigo 13-A que determina condições de acesso e permanência dos torcedores aos
recintos esportivos, proibindo condutas de racismo e discriminação:
“IV - não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com
mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;
V - não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos”
“O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo implicará a
impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o seu
afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções administrativas, civis
ou penais eventualmente cabíveis.” (Abrahão BOL, et al., 2021)
Esse documento é considerado, portanto, um marco da legislação esportiva no Brasil,visto
que foi o precursor da regulamentação do dever de instituições esportivas e dos direitos dos
torcedores (Abrahão BOL, et al., 2021).
Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD)
Outro documento de suma importância ao tratar desse tópico é o CBJD, que foi aprovado
pelo Conselho Nacional de Esporte (CNE), em dezembro de 2003. Observando este
documento nota-se a inclusão de medidas antirracistas, pela resolução CNE nº29 de 2009 que
demonstra no artigo 243-G, como infração contra a ética esportiva:
Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em
razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou
portadora de deficiência.
De forma complementar, o CBJD também descreve as possíveis punições a esse ato
discriminatório, que podem variar levando em consideração quem comete a infração, o
número de pessoas e a gravidade da situação. Por exemplo: há
“suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, mesmo se suplente,
treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de cento e
vinte a trezentos e sessenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural
submetida a este Código, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00
(cem mil reais).
§ 1º Caso a infração prevista neste artigo seja praticada simultaneamente por
considerável número de pessoas vinculadas a uma mesma entidade de prática
desportiva, esta também será punida com a perda do número de pontos atribuídos a
uma vitória no regulamento da competição, independentemente do resultado da
partida, prova ou equivalente, e, na reincidência, com a perda do dobro do número de
pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição, independentemente do
resultado da partida, prova ou equivalente; caso não haja atribuição de pontos pelo
regulamento da competição, a entidade de prática desportiva será excluída da
competição, torneio ou equivalente.
§ 2º A pena de multa prevista neste artigo poderá ser aplicada à entidade de prática
desportiva cuja torcida praticar os atos discriminatórios nele tipificados, e os
torcedores identificados ficarão proibidos de ingressar na respectiva praça esportiva
pelo prazo mínimo de setecentos e vinte dias.
§ 3º Quando a infração for considerada de extrema gravidade, o órgão judicante
poderá aplicar as penas dos incisos V, VII e XI do art. 170” (Abrahão BOL, et al.,
2021).
Exemplo de caso de discriminação e desigualdades raciais/étnicas no esporte

Ao abordar essa temática, é essencial trazer também exemplos reais de casos,


infelizmente comuns, de discriminação e desigualdades raciais e étnicas no esporte. O
exemplo a ser apresentado envolve os casos de racismo sofridos pelo brasileiro Vinicius
Júnior, jogador e atacante, atualmente do time de futebol Real Madrid, clube espanhol.
Os ataques racistas a Vini Jr. (como é conhecido) são lamentavelmente frequentes.
Um dos episódios ocorreu em uma partida disputada entre o time em que joga Vini Jr. e o
clube espanhol rival Atlético de Madrid, ambos advindos da cidade de Madrid, na Espanha,
em setembro de 2022.
No ocorrido, torcedores do time rival cantaram do lado de fora do estádio: ‘Vinícius,
você é um macaco’. Dois dias antes, um convidado disse em um programa de TV espanhol
que Vini deveria parar de dançar em suas comemorações, pois deveria deixar de fazer
‘macaquices', expressando o cunho racista e xenófobo em sua fala, dizendo também que
brasileiros se quiserem sambar devem sambar apenas no Brasil (Site G1, 2023).
Mais tarde em setembro, o Congresso dos Deputados da Espanha condenou os
insultos racistas contra Vinicius Junior cometidos pela torcida do Atlético de Madrid no
clássico espanhol. Ao se pronunciarem os parlamentares exigiram medidas da LaLiga (a
primeira divisão da liga espanhola de futebol profissional entre clubes da Espanha), Uefa
(União das Federações Europeias de Futebol, e o organismo gestor do futebol na Europa),
Fifa (Federação Internacional de Futebol) e as autoridades públicas do esporte no governo
espanhol (Site G1, 2022).
Após o acontecimento, o clube Atlético de Madrid condenou a atitude de seus
torcedores e determinou a suspensão de três sócios por racismo contra Vinícius Jr. A LaLiga
denunciou o caso, porém decorridos três meses o Ministério Público de Madrid arquivou o
inquérito. A entidade afirmou que as ofensas "duraram alguns segundos" e aconteceram em
contexto de "máxima rivalidade". (Site G1, 2022).
Em dezembro do mesmo ano os atos não cessaram, e torcedores do clube Valladolid,
também espanhol, insultaram o jogador quando ele saia do campo ao ser substituído, ocasião
em que pode-se perceber gritos de “negro de merda” e “macaco”, além de sons que imitam
macaco e arremessos de objetos na direção do atacante.
Vinicius, no entanto, não se calou diante do racismo, e pontuou:
"Os racistas seguem indo aos estádios e assistindo ao maior clube do mundo de perto
e a LaLiga segue sem fazer nada… Seguirei de cabeça erguida e comemorando as
minhas vitórias e do Madrid. No final a culpa é MINHA" (Redes/mídias sociais).
Já em janeiro de 2023, um novo ataque foi praticado. Algumas horas antes de uma
partida, novamente contra o clube Atlético de Madrid, um boneco vestindo a camisa com
nome e número do jogador foi pendurado em uma ponte, simulando um enforcamento.
Próximo ao boneco foi estendida uma faixa com as cores do Atlético, em que havia a frase
"[a cidade de] Madri odeia o Real", como na imagem abaixo.

Figura 1- Boneco com a camisa de Vini Jr. pendurado como se fosse enforcado (Site Brasil
de Fato - Reprodução/Redes sociais, 2023)

CONCLUSÃO

Conclui-se, então, que apesar do tema discutido ser amplamente noticiado e ter
exemplos frequentes na sociedade, além de existir regulamentos que estabelecem punições
contra atos que perpetuem a desigualdade e a discriminação racial e étnica no esporte, ainda
há dificuldade por parte das instituições, orgaos e entidades responsáveis em de fato aplicar
tais medidas. Vê-se, portanto, certa displicência e inabilidade para lidar de forma eficaz com
um tema elementar como esse dentro do esporte, o que torna o ambiente esportivo ainda
muito marcado pelo racismo e discriminações, e, assim, dificultando a permanência de
pessoas não brancas nesses espaços.
E então, o que fazer diante dessa realidade? Segundo Goellner et al., 2009, é
necessário “recusar e desestabilizar a naturalização que se faz acerca de raça, bem como a
crença de que atividades esportivas mais complexas devem ser desenvolvidas por brancos,
enquanto as que são mais simples e brutas devem ser realizadas por negros.” Além disso, os
autores pontuam também que é de enorme importância oferecer atividades em variados
turnos para adaptar as práticas aos diversos interesses, disponibilidades e condições de
trabalho dos sujeitos. Ademais, deve-se também prestar atenção para evitar e combater o uso
de palavras e expressões que retratam o racismo e discriminações étnicas, uma vez que tais
termos estão culturalmente enraizados e podem ser propagados sem a compreensão de seus
verdadeiros significados.

REFERÊNCIAS

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