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DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
BELO HORIZONTE - MG
2023
INTRODUÇÃO
GÊNESE DA DISCRIMINAÇÃO:
Em 2017, um dia antes do início das finais da NBA, LeBron James teve o portão de
sua casa em Los Angeles vandalizado, pichado com uma ofensa racista.
Em 2023, numa partida da Copa da Itália, o atacante da Inter de Milão, Lukaku, viveu
um episódio lamentável de racismo. Um grupo de torcedores do time rival, Juventus, xingou
o atacante de “macaco de merda” e imitou animal.
Em 2015, Fabiana Claudino, capitã da seleção brasileira de vôlei, foi vítima de
insultos racistas na derrota da sua equipe para o Minas, por 3 sets a 1, em Belo Horizonte. Em
desabafo nas redes sociais, Fabiana relatou que um "senhor" na arquibancada proferiu
expressões como "macaca quer banana", "macaca joga banana", entre outras, em sua direção.
Muito chateada pelo ocorrido, a jogadora chegou a ter dúvidas sobre um pronunciamento
quanto ao caso, mas resolveu fazê-lo no intuito de tentar ajudar a diminuir o número de
incidentes.
A violência racial tem aumentado no ambiente esportivo e, segundo dados de
pesquisa do Agência Brasil (2018), o futebol “concentra 90% dos casos de discriminação no
esporte”. Em 2005 as Nações Unidas emitiu um relatório no qual expressou preocupação pelo
aumento da discriminação no futebol, um esporte que pode ser uma ferramenta útil para o
desenvolvimento e a paz internacional (OLIVEIRA, 2009).
As atitudes racistas não acontecem somente nas torcidas e nas arquibancadas,
acontecem também dentro de quadra, entre atletas, técnicos e outros profissionais. No livro
Psicologia Social do Esporte, os autores Neilton Ferreira Junior e Katia Rubio escrevem
sobre como o racismo atua no esporte:
Entrelaçados à racionalidade neoliberal, que a propósito orienta o
esporte contemporâneo, “raça” e racismo seguem - não sem oposição
- seu projeto de desumanização. Enquanto instrumento político, têm
servido não só ao controle da circulação e coisificação dos corpos,
mas à própria destruição da vida subjetiva dos seus principais alvos,
os negros. Conforme se observará, ao longo da história e
desenvolvimento do esporte brasileiro a “raça” desencadeou e
continua a desencadear pelo menos quatro grandes processos, a saber:
(1) a exclusão deliberada, (2) a integração subordinada (3) a
humilhação pública e, por fim, (4) novas formas de discriminação,
mas também de resistência anti-racista. (X - Revisitando a “raça” e o
racismo no esporte brasileiro: implicações para a Psicologia Social.
O esporte reflete a estrutura de pensamentos e atitudes que há numa sociedade. Se a
sociedade é discriminatória, assim o será o esporte. A estrutura de poder na qual se baseia o
racismo é reproduzida dentro das quadras e campos esportivos. Não somente por meio de
insultos o racismo pode ser localizado. O que se repete no esporte é a estrutura racista na qual
as pessoas negras ocupam os cargos de jogadores e atletas, e as posições mais
administrativas, como a de técnicos, presidentes e etc. são ocupadas por pessoas brancas.
I - advertência;
II - censura escrita;
III - multa;
IV - suspensão;
V - desfiliação ou desvinculação.
RACISMO NO FUTEBOL
Figura 1- Boneco com a camisa de Vini Jr. pendurado como se fosse enforcado (Site Brasil
de Fato - Reprodução/Redes sociais, 2023)
CONCLUSÃO
Conclui-se, então, que apesar do tema discutido ser amplamente noticiado e ter
exemplos frequentes na sociedade, além de existir regulamentos que estabelecem punições
contra atos que perpetuem a desigualdade e a discriminação racial e étnica no esporte, ainda
há dificuldade por parte das instituições, orgaos e entidades responsáveis em de fato aplicar
tais medidas. Vê-se, portanto, certa displicência e inabilidade para lidar de forma eficaz com
um tema elementar como esse dentro do esporte, o que torna o ambiente esportivo ainda
muito marcado pelo racismo e discriminações, e, assim, dificultando a permanência de
pessoas não brancas nesses espaços.
E então, o que fazer diante dessa realidade? Segundo Goellner et al., 2009, é
necessário “recusar e desestabilizar a naturalização que se faz acerca de raça, bem como a
crença de que atividades esportivas mais complexas devem ser desenvolvidas por brancos,
enquanto as que são mais simples e brutas devem ser realizadas por negros.” Além disso, os
autores pontuam também que é de enorme importância oferecer atividades em variados
turnos para adaptar as práticas aos diversos interesses, disponibilidades e condições de
trabalho dos sujeitos. Ademais, deve-se também prestar atenção para evitar e combater o uso
de palavras e expressões que retratam o racismo e discriminações étnicas, uma vez que tais
termos estão culturalmente enraizados e podem ser propagados sem a compreensão de seus
verdadeiros significados.
REFERÊNCIAS
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