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COLÉGIO DA POLICIA MILITAR RÔMULO GALVÃO

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CPM RÔMULO GALVÃO

RACISMO NO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL

Resumo: De acordo com Luccas (1998, p. 43), “o futebol é, e sempre foi, um espelho no qual
estão refletidas as formas pelas quais as relações sociais se estabelecem”, ou seja, ele é um
fato social e não se resume a uma prática de lazer ou de entretenimento. O futebol profissional
é um trabalho em que alguns negros ganham visibilidade, conquistam altos salários e viram
celebridades. Embora os atletas se projetem socialmente, não temos uma estatística favorável
de negros no comando do esporte. Além disso, temos visto, ao longo dos anos, sucessivos
casos de racismo no esporte em todo o mundo, o que coloca em xeque a ideia de que há uma
democracia racial nesse campo.

Dentro desse contexto, em um passado recente, torcedores e atletas se acostumaram a ver


cenas como a do camaronês Samuel Eto’o. Em 2006, o então atacante do Barcelona ameaçou
deixar o gramado em um jogo do Campeonato Espanhol sob o som de imitações de macacos
feitas pela torcida do Zaragoza. Desde então, pouca coisa mudou.

Palavras-chave: Racismo, futebol, campeonato, combate, Brasil.

Introdução: O racismo está horrivelmente presente nas arquibancadas com manifestações


organizadas de torcedores com calúnias raciais dirigidas a árbitros e atletas negros. No Brasil,
temos vários exemplos do século XXI. Em 2006, o zagueiro Antônio Carlos, do Esporte
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Clube Juventude, foi suspenso após esfregar o braço em gesto ofensivo contra o jogador negro
Jeuvânio. Em agosto de 2017, um torcedor foi preso no jogo Flamengo x Botafogo depois que
a família do jogador do Flamengo Vinicius Junior sofreu abuso racista durante o jogo. Em
2014, o jogador Tinga sofreu preconceito racial no Peru. A Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) desenvolveu uma campanha "somos todos iguais", espalhando faixas durante
as partidas para abolir práticas racistas nos estádios.

Em entrevista a Breiller Pires em 2017, o comentarista do El Pais Marcelo Carvalho disse que
esse tipo de campanha não surte muitos efeitos e que o preconceito racial está cada vez mais
velado. Isso continua porque falta investigação e punição para quem pratica esse tipo de
comportamento preconceituoso no campo. Nesta entrevista, Marcelo Carvalho diz que nunca
viu um dirigente da CBF condenar um ato de racismo no futebol.
Como as pessoas raramente são punidas por crimes racistas, há uma redução nas vítimas que
não se sentem encorajadas a se manifestar. Ainda permanece a ideia de que vale tudo no
futebol. E essa hostilidade preconcebida 'faz parte do jogo', vendo o racismo como algo
aceitável", analisa Marcel Diego Tonini, historiador e cientista social da Universidade de São
Paulo (Pires, 2017).
Ex-jogadores de futebol tendem a seguir carreiras em clubes de futebol, seja como executivo,
treinador, comissão técnica e muito mais. Porém, no cenário dos grandes clubes brasileiros,
observa-se que são poucos os negros nessas posições. Skolaude (2015, p. 115) deixa a
pergunta: “poderíamos interpretar essa triste realidade como uma forma velada de racismo
que ainda existe nos clubes brasileiros?”
Em entrevista ao UOL Esporte, Márcio Chagas relatou vários episódios em que sofreu
racismo quando ainda era árbitro de futebol (Silva, 2019). Ele decidiu levar o caso ao
Tribunal Superior de Justiça Desportiva após sofrer uma ofensa racista ao arbitrar uma partida
de futebol. No entanto, foi desencorajado por jornalistas, alguns conhecidos seus e até mesmo
pela Federação Desportiva do Rio Grande do Sul, que até então nunca havia tido um árbitro
negro.

Desenvolvimento:

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O futebol é um dos esportes mais populares do mundo. No Brasil, é um tema


motivador presente no cotidiano das crianças e jovens e pode ser usado como
fomentador de debates e aprendizado escolar. Porém a história desse esporte é
marcada por práticas machistas, racistas e preconceituosas.
Embora existam exemplos de sucesso de treinadores negros como Roger Machado,
a maioria dos clubes ainda tem um número limitado de profissionais negros que
trabalham nesta área.
Segundo o jornalista Breiller Pires (2019), apenas dois clubes da série A do
Campeonato Brasileiro de Futebol tinham seus
departamentos de futebol comandados por dirigentes negros e, no mesmo ano,
foram identificados apenas dois técnicos negros comandando outros dois clubes. Se
tratando de presidentes dos clubes da série A, não foram encontrados negros.

A inserção dos negros na sociedade brasileira, e a luta contra a estrutura racista que
se mantém até hoje, têm no futebol um caminho para mudanças. E claro que não é
através de campanhas que abordam o tema de forma superficial, porque a
sociedade se diz moralmente contra o racismo, mesmo reproduzindo a sua
estrutura. O futebol e seus ídolos são, e sempre foram, um meio de legitimação
cultural.
O racismo segue até hoje muito presente na cultura brasileira e mundial, e precisa
ser debatido através de suas estruturas. O racismo vai muito além do grito de
“macaco” e ele precisa ser compreendido dessa forma. Quando um atleta, além do
seu papel cultural de ídolo, se manifesta politicamente em uma causa pelo seu povo,
ele pode mudar parte dessa estrutura. Um exemplo é o de Reinaldo, nos anos 80,
mesmo durante a Ditadura Militar. Outro grande exemplo mais recente é o de Marta
e Cristiane, que se posicionam de forma mais efetiva contra o racismo e incluem a
pauta da igualdade de gênero. Atualmente, mais astros internacionais têm essa
postura: Lewis Hamilton, Serena Williams, Lebron James, Naomi Osaka, entre
outros. Recentemente, Vinicius Jr se mostrou uma importante voz e representação
do futebol contra o racismo, desafiando os racistas e xenofóbicos com seu futebol e
comemorações.

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Ao longo dos anos, vimos casos consecutivos de racismo nos esportes.


Essa situação permite questionar a ideia de que existe uma democracia racial no
esporte, justificada pelo fato de que a projeção dos atletas independe de sua cor,
pois estaria baseada em seus esforços para treinar seu potencial.

1. Neutralização: O racismo no futebol foi naturalizado justamente pela falta de


políticas efetivas contra o preconceito racial no esporte. Em entrevista ao
atacante Adriano Chuva, Márcio Chagas soube que ele deixou o futebol por
sofrer racismo. Chagas publicou uma entrevista no site UOL Esporte (2019)
na qual Adriano lhe disse que não imaginava o que estava acontecendo com
eles no centro da cidade. Os negros do time preferiram jogar fora de casa
para não serem chamados de macaco em seu próprio estádio.

Há uma tendência no futebol de ficar calado quando o assunto é racismo.


Muitos jogadores negros que passam por isso preferem ignorar os ataques porque
temem que se abrirem a boca terão problemas na carreira. Outro dia um jogador
deixou o campo na Bolívia. Todos deveriam fazer o mesmo, principalmente as
meninas medalhão (Silva, 2019, p. 1).

2. Relações étnicos-raciais: A discussão sobre relações étnico-raciais, racismo e


políticas públicas deve ser a base da formação de psicólogos e demais
profissionais da área da saúde em geral desde a graduação (Oliveira &
Nascimento, 2018). Este é um tema de extraordinária importância para a
humanidade neste momento em que lutas e movimentos pela igualdade racial
estão em ascensão. “As lutas e vitórias do movimento negro conduzem uma
luta comum pela igualdade de outros grupos étnicos, culturais e sociais
historicamente desprezados” (Oliveira & Nascimento, 2018, p. 219).

Indiscutivelmente, o mito da democracia racial tem impedido a psicologia clínica


brasileira de cumprir sua tarefa, “porque os psicólogos brasileiros em geral

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dificilmente sabem como abordar a ironia hipócrita da sociedade brasileira que


estabelece e organiza configurações emocionais” (Oliveira & Nascimento, 2018,
pág. 222). Segundo o autor, a categoria deveria se referir ao "desenvolvimento
de práticas e ações comprometidas com a mudança do currículo da formação
psicológica, cujas bases filosóficas, sociais e políticas são extremamente
incertas". Isso porque o sofrimento decorrente dessas desigualdades produz
modos de subjetivação que influenciam os processos de construção de
identidades sociais e coletivas. Segundo Oliveira e Nascimento (2018), tais
configurações subjetivas e individuais resultam em politicas ideológicas,
princípios políticos normativos, formas de organização social que representam
modos subjetivados de entender e interpretar o mundo, as organizações e a si
mesmo (Oliveira & Nascimento, 2018, p. 218)
Visto que "as desigualdades sociais, diferentes em cada momento histórico,
sempre encontraram resposta nas relações sustentadas pelo futebol" (Luccas,
1998, p. 48), apresentaremos no próximo ponto sobre a constituição do racismo
no Brasil e, a seguir, apresentaremos a história do futebol no país. Nossa
intenção é mostrar o quanto o legado da escravidão determinou a subordinação
negra à elite econômica branca em todas as áreas da cultura, inclusive no
esporte.

3. Identidade étnico racial e sofrimento psíquico: A construção social, cultural e


política faz com que um indivíduo se identifique com um grupo racial ou
étnico. Está diretamente relacionada às experiências de vida, educação e
socialização no meio em que o sujeito se insere "e também à consciência que
se adquire diante das regulações sociais raciais ou étnicas, racistas ou não,
sobre determinada cultura" ( Oliveira, 2004, p.57). Ciampa (1987), cit. Pinto e
Ferreira (2014, p. 261), defendem que a identidade está em constante
mutação porque é produto da relação entre a história pessoal, o contexto
sócio-histórico e os objetivos do sujeito.

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CFP (2017) afirma que os negros que fazem parte do grupo racial negro têm a
oportunidade de construir suas identidades individuais e coletivas de forma que
beneficiem sua saúde mental. Isso se deve aos estímulos e vínculos que
desenvolve no grupo, o que pode proporcionar uma perspectiva positiva sobre
sua própria identidade negra. Ao construir uma identidade racial coletiva e
pessoal, o negro dispõe de um recurso que reforça a estruturação de sua
autoestima e autoconfiança.

Segundo a concepção de Melo (2015, p. 3), “o indivíduo se constrói nas


interações sociais, espaços de socialização que influenciam os modos de agir,
ser, viver e pensar o mundo, construir, criar símbolos, lutar, resistir ". O indivíduo
tem uma construção histórica e tem significado na construção de sua identidade.

No Brasil é extremamente complicado aceitar uma identidade racial negra


porque é um processo difícil e doloroso pela falta de referências negras com
visibilidade e sucesso, e mesmo quando aparecem não há respeito à
diversidade étnico-racial. Oliveira (2004) afirma não ter conhecimento de
estudos sólidos sobre identidade racial/étnica no Brasil.

4. Exemplos:
1. Em 06/02/2002, durante partida contra o Fluminense, ao final do jogo,
Gabi Gol foi vaiado e chamado de “macaco” por alguém da
arquibancada enquanto ia para o vestiário no estádio Nilton Santos.

2. Na vila Belmiro durante a vitória do flamengo sobre o santos o atacante


Diego Mauricio sofreu atos racistas durante o jogo, ele foi chamado de
macaco e Atingido por cascas de bananas pelos torcedores do santos.

3. Em 2010, durante um jogo da Copa do Brasil contra o Juventus, do


Acre, o atacante Obina, ex-Flamengo, Atlético-MG e Palmeiras,
infelizmente, sofreu um episódio de racismo. Em um treino na capital

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acreana, torcedores adversários o ofenderam com expressões racistas,


utilizando gritos de “macaco”.

CITAÇÕES DE FILOSÓFOS:

“Preconceito é opinião sem conhecimento” – Voltaire

. “O preconceito é um fardo que confunde o passado, ameaça o


futuro e torna o presente inacessível” – Maya Angelou.

“É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito” – Albert Einstein.

Considerações Finais:
O racismo no futebol brasileiro é percebido principalmente através de atos de
injúria racial cometidos por torcedores contra jogadores negros.
Cantos ofensivos, gestos e imitações de macacos são algumas das formas
de racismo que jogadores têm enfrentado durante as partidas.
Infelizmente, esses incidentes representam um reflexo da intolerância e do
preconceito ainda presentes na sociedade brasileira.
A luta contra o racismo no futebol é um desafio constante, que demanda o
envolvimento de todos os agentes do esporte. A conscientização da população, a
educação dos torcedores e a aplicação de políticas de inclusão são pilares
fundamentais para a transformação desse cenário e para a construção de um futebol
mais igualitário e livre de preconceitos. A denúncia e o combate ao racismo no
futebol não podem ficar restritos às notas de repúdio, reprodução de hashtags e
venda de camisas antidiscriminação. Essa é a avaliação de Marcelo Carvalho,
idealizador e diretor-executivo do Observatório Racial do Futebol.
É uma realidade e os clubes precisam ser um pouco mais firmes. Não adianta o
clube só se posicionar dizendo, em, que o clube está à disposição das autoridades.
É preciso que se assuma a responsabilidade”,

FONTES:
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1. https://pt.linkedin.com/pulse/como-o-futebol-pode-contribuir-para-uma-
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2. https://ge-globo-
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08/27/veja-a-posicao-de-cada-clube-sobre-a-proposta-da-cbf-de-perda-de-
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3. http://periodicos.pucminas.br/index.php/pretextos/article/view/22079

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5. https://monografias.brasilescola.uol.com.br/historia/racismo-na-televisao-
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6. https://hugogloss.uol.com.br/esportes/gabigol-e-alvo-de-ataque-racista-
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lembra-pele-e-lamenta-episodio.htm?cpVersion=instant-article

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sofridos-por-jogadores-futebol-brasileiros-455616/slide/102042

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0racismo%20dentro%20do%20futebol,preconceito%20racial%20dentro%2
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