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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XII


CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – 5º SEMESTRE

ANDRESSA FARIAS DE BRITO


JACSON DOUGLAS LEITE SANTOS
JOANA NOGUEIRA DE MENEZES
MARIA COSTA OLIVEIRA

GÊNERO NO FUTEBOL: MACHISMO E A PRESENÇA FEMININA.

GUANAMBI
2021
ANDRESSA FARIAS DE BRITO
JACSON DOUGLAS LEITE SANTOS
JOANA NOGUEIRA DE MENEZES
MARIA COSTA OLIVEIRA

GÊNERO NO FUTEBOL: MACHISMO E A PRESENÇA FEMININA.

Atividade para requisito avaliativo do componente


curricular Fundamentos Teóricos e Metodológicos
do Futebol, do curso de Educação Física, sob a
Orientação do Prof. Osaná Macêdo Reis.

GUANAMBI
2021
Precisamos começar perpassando pelo significado de gênero, de acordo com
Marinês dos Santos (2018), “gênero” é um conjunto variado de significados culturais
em construção nas diferenças entre homens e mulheres, que perpassa a discussão
de masculinidades e feminilidades. De forma a complementar, Butler afirma que:
O gênero é uma complexidade cuja totalidade é
permanentemente protelada, jamais plenamente exibida em
qualquer conjuntura considerada. Uma coalizão aberta,
portanto, afirmaria identidades alternativamente instituídas e
abandonadas, segundo as propostas em curso; tratar-se-á de
uma assembleia que permita múltiplas convergências e
divergências, sem obediências a um telos normativo definidor.
(BUTLER, 2016, p. 42).
Os homens que seguem os padrões da sociedade machista atual se sentem frágeis
quando veem mulheres em lugares de poder superiores ou iguais a ele, desta forma,
tentam sempre coloca-las para baixo, tentando mostrar sua “superioridade” que na
verdade é apenas reflexo de suas fraquezas.

De acordo com Júlio Simões (2009), quanto às experiências de sexualidade, a única


prática sexual legítima é de um homem e uma mulher, sendo então uma prática
heterossexual, e quando isso não ocorre ou sucede de maneira não esperada,
principalmente quando a mulher não é submissa à família, tornar-se-á uma ameaça.

E no esporte isso não é diferente, vamos discorrer um pouco sobre a presença da


mulher no futebol e como isso vem retratando na sociedade, desde os tempos
passados até o atual.

O futebol surgiu na sociedade primitiva e se sistematizou na Inglaterra em 1863, foi


trazido para o Brasil por Charles Miller em 1895, sendo praticado apenas por
homens, no entanto nos anos 40 começa a surgir as primeiras equipes femininas,
surgindo assim vários preconceitos diante de sua prática, emitindo que o futebol era
“prejudicial ao frágil organismo feminino, principalmente com a possibilidade de
afetar a capacidade reprodutiva”. (FRANZINI, 2005, p. 320).

Diante isso, o Governo Getúlio Vargas criou o Decreto Lei n° 3.199/41 que deu
origem ao Conselho Nacional dos Desportos, onde proibia as mulheres à prática dos
mesmos. Na década de 80 teve a revogação do ato, e então elas puderam
novamente praticar o futebol, com isso houve o ressurgimento das equipes, e em
1979, o Comitê Olímpico Internacional (COI) incluiu o futebol feminino nos Jogos
Olímpicos de Atlanta, Estados Unidos, e pela primeira vez a equipe feminina de
futebol do Brasil competiu, ficando em quarto lugar e posteriormente em outras
Olímpiadas com o mesmo resultado, ainda assim sem incentivos e com muitos
preconceitos e estereótipos.

Ainda que as mulheres brasileiras tenham praticado o futebol já


nos primórdios do século XX, é evidente que essa participação
foi significativamente menor que a dos homens, inclusive
porque os decretos oficiais da interdição a determinadas
modalidades impossibilitaram, por exemplo, que os clubes
esportivos investissem em políticas de inclusão das mulheres
nos esportes. Esse movimento terá seu início apenas no final
da década de 1970, quando se estabelecem novas bases para
a organização do esporte no país, fazendo que, em 1979, fosse
revogada a deliberação do Conselho Nacional de Desportos
que vedava a prática do futebol e do futebol de salão pelas
mulheres. (GOELLNER, 2005, p. 147).
O esporte no geral, principalmente o futebol, traz a representação da masculinidade,
no qual o feminino é visto como um sexo frágil à sua prática, assim as jogadoras de
futebol sofrem discriminação diante sua identidade sexual, onde a sociedade
conceitua que as mulheres que jogam futebol são homossexuais e pouco femininas.

O preconceito é social e basicamente reside em relacionar a


imagem da futebolista com sua sexualidade, ou seja, ser
jogadora de futebol é ser homossexual. E a homossexualidade
feminina ainda é muito mal vista pela sociedade. Além disso,
há o preconceito sobre o corpo feminino, que deve se
refeminizar, caso a jogadora queira ser vista como uma mulher
(KNIJNIK, 2004).
Além da discriminação e do preconceito de um corpo visto como masculinizado,
ainda há a diferença salarial entre homens e mulheres no futebol, pois a falta de
investimento no futebol feminino faz com que muitos clubes não tenham subsídios
necessários para a realização de remuneração, onde as atletas buscam outros
meios para sobreviverem. Salário, campo de treinamento, condição de trabalho, etc.
vem sendo os empecilhos da prática do futebol feminino.

Chega a ser cruel que “o país do futebol” trate o futebol feminino com tanto descaso,
se pararmos pra pensar essa violência de gênero está tão enraizada que se
naturalizou, onde desde a infância a boneca é para a menina e a bola é para o
menino; em toda a historia a mulher vem sendo silenciada e no futebol que é
imposto como algo masculino não seria diferente; porém em 19 de fevereiro de 1986
nasce Marta Vieira da Silva na pequena cidade de Dois Riachos interior de Alagoas
que viria a ser um grande nome no futebol feminino e exemplo para muitas meninas
que compartilham desse mesmo sonho.

Marta começou a jogar futebol no juvenil do Centro Sportivo


Alagoano (CSA) em 1999, sendo contratada no ano seguinte
pelo Vasco da Gama. Em 2003, vestiu a camisa da Seleção
Brasileira nos Jogos PanAmericanos em Santo Domingo, onde
a Seleção ganhou a medalha de ouro. Em 2004, assinou
contrato com o Umeå IK, time da Suécia. (ROSA et al., 2020).
Não conseguimos imaginar o tanto que ela sofreu pra conseguir ser “o fenômeno
Marta”, foi eleita a melhor jogadora do mundo pela FIFA por seis vezes ganhando
diversos prêmios ao longo da sua carreira, é sinônimo de força e resistência dentro e
fora de campo.

Além de Marta, temos várias outras mulheres que sonham em ser jogadoras
profissionais de futebol, mas com as dificuldades que muitas encontram no caminho
acabam desistindo e buscando outras profissões.

No futebol, não é apenas jogando que as mulheres sofrem preconceitos, a


representação das mesmas nos estádios, faz com que são vistas com olhares
machistas e sofrem assédios constantemente, tanto como torcedoras ou como
profissionais que estão ali apenas trabalhando. Segundo Bandeira e Seffner “Os
estádios de futebol se constituíram, historicamente, como um espaço legitimado
para homens. Eles são um contexto cultural específico, um local que institucionaliza
práticas, ensina, produz e representa masculinidades.” (BANDEIRA; SEFFNER,
2018, p. 293)

A representatividade da mulher no futebol vem crescendo ao longo dos tempos,


buscando seus espaços não só como torcedoras ou jornalistas, mas também como
bandeirinhas e árbitras compondo o trio de arbitragem, nos jogos do futebol feminino
e também no masculino. A presença feminina nos estádios progrediu nos últimos
tempos, conforme Goellner:

Transgressoras ou não, as mulheres há muito estão presentes


no futebol brasileiro. Vão aos estádios, assistem campeonatos,
acompanham o noticiário, treinam, fazem comentários,
divulgam notícias, arbitram jogos, são técnicas, compõem
equipes dirigentes… enfim, participam do universo futebolístico
e isso não há como negar.
(GOELLNER, 2005, p. 149).
Apesar de todas as dificuldades e preconceitos, as mulheres estão buscando seus
direitos e seus lugares, lutando contra todos os tipos de comentários estereotipados
e machistas, e vimos que dentro do futebol é reforçado com um esporte
culturalmente definido pela sociedade como masculinizado, e a participação das
mulheres segundo Bandeira e Seffner “poderia desestabilizar esse lugar
naturalizado dos homens no futebol.” (BANDEIRA; SEFFNER. 2020, p. 298).
Referências bibliográficas

BANDEIRA, G. A.; SEFFNER, F. Representações sobre mulheres nos estádios de


futebol. Mosaico, v. 9, n. 14, 2018.
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
COELHO, N. P.; MARTA, F. E. F. Questões de gênero e sexualidades no interior
baiano: a prática do futebol feminino na cidade de Guanambi-Ba. Combates pela
História, Bahia, out. 2020.
FRANZINI, F. Futebol é “coisa para macho”? Pequeno esboço para uma história das
mulheres no país do futebol. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 25, nº 50,
p. 315-328, jul-dez. 2005.
GOELLNER, S. V. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades.
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 143-
151, abr./jun. 2005.
KNIJNK, J. D. Entrevista. Disponível em: www.guidasemana.com.br, 2004.
MOUTA, F. P. O. Mulheres em campo: a divisão sexual do trabalho e seu impacto
na atividade profissional das jogadoras de futebol. Faculdade de direito de Vitória,
dez. 2018.
ROSA, M. V. da. et all. Mulheres e futebol: um estudo sobre esporte e preconceito.
Gênero, Niterói, v. 21, n. 1, 2 sem. 2020, p. 190-218.
SANTOS, M. R. dos. Gênero e cultura material: a dimensão política dos artefatos
cotidianos. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 26, n. 1, e37361, jan. 2018.
SIMÕES, J. A. Sexualidade como questão social e política. In: ALMEIDA, H. B.;
SZWAKO, J. (orgs.). Diferenças, igualdade. São Paulo: Berlendis & Vertecchia,
2009. p. 152-190.

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