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FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO 1

TELA CHEIA

Estruturação do futebol de mulheres em clubes


MAYARA MAIA

O futebol é um esporte composto por diversas matrizes que dão formas a esta prá-
tica e aos seus entrelaçamentos sociais, políticos e financeiros. Na matriz do futebol de
mulheres é reconhecido a heterogeneidade de suas participações, seja como amadoras,
profissionais, árbitras, técnicas, torcedoras, seja em capitais brasileiras ou em cidades do
interior. Não há um único perfil de futebol de mulheres. Mas todas as diferenças existentes
nesse futebol passam ainda por aspectos semelhantes de retardamento da prática em
nosso país enraizado de fatores histórico-culturais. As diversas estratégias para que possa
viver este esporte, organizando, competindo, acompanhando ou jogando, mantêm as
mulheres em constante ruptura social no Brasil, ao deixarem de seguir padrões esperados
para uma mulher pela sociedade

A pesquisadora Cláudia Kessler (2015), em sua obra intitulada “Mais que barbies e
ogras: uma etnografia do futebol de mulheres no Brasil e nos EUA”, ) organizou os perío-
dos históricos do futebol de mulheres em nosso país, apresenta um formato distribuído
em três marcadores históricos: o início do século XX até a promulgação do Decreto-Lei
nº 3.199/41, com o pioneirismo de jogadoras se distanciando dos alertas criados sobre
possíveis danos à saúde das jogadoras, baseados em argumentos médicos relativos à ma-
ternidade e ao “sexo frágil”; a década de 1980 marcada pela surgimento de várias equipes
e competições; os anos 1990 até 2015, nos quais se percebe várias iniciativas voltadas
para tentativas de oferecer renda para as jogadoras se manterem financeiramente através
da modalidade como a criação de campeonatos regionais, nacionais e internacionais1,
a migração de jogadoras para fora do país, o aumento de escolinhas, à procura por ma-
rketing e mídia, e o ProFut2. Acrescento um novo marcador histórico através da etapa de

1
A CBF começou a organizar os torneios de mulheres apenas em 1994. A FIFA realizou a primeira Copa do
Mundo de Futebol Feminino em 1991.
2
ProFut é um programa de adesão do Governo Federal para o refinanciamento de dívidas. O Programa de
Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol exige dos clubes investimento no futebol
de mulheres.

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proposição de novas ações das instituições do futebol mundial3, que segue a partir do
período de 2015 até os dias de hoje.

Há diferentes narrativas sobre os primeiros jogos de futebol praticados por times


de mulheres no Brasil. Eriberto Lessa, em reportagem publicada no Jornal da Unicamp
(2003), afirma que na busca que fez junto aos principais jornais de São Paulo sobre a
existência do futebol feminino na primeira metade do século XX em nosso país, encon-
trou três episódios iniciais do futebol das brasileiras: o primeiro ocorreu em 1913, em um
evento beneficente, na cidade de Indianópolis (SP); o segundo foi em 1921, envolvendo
“senhoritas de Tremembé e da Cantareira”, bairros da zona norte de São Paulo; e, por
último, os torneios que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro em 1940, envolvendo
predominantemente mulheres do subúrbio carioca. Não me cabe aqui definir e discutir
qual é a data oficial, mas permitir a você conhecer a existência dessas narrativas.
Nesses torneios formaram-se equipes como o “Cassino Realengo”, o “Benfica F.C.” e
o “Eva Futebol Clube”. Estas equipes foram pioneiras no recebimento de convites para
jogarem fora do país e no protagonismo de partidas importantes 4no mundo do futebol
de homens.
Enquanto as partidas eram realizadas durante a Ditadura do Estado Novo, os torneios
se tornavam alvos de polêmicas nos meios médicos, políticos e na imprensa. Por estes pi-
lares, um decreto de lei surgia proibindo as brasileiras de praticarem diversos esportes. O
início da proibição da prática de algumas modalidades esportivas por parte das mulheres
se deu por meio do Decreto-Lei 3.199, promulgado pelo Conselho Nacional de desportos
(CDN), através do capítulo IX, artigo 54 que afirmava: “[...] às mulheres não se permitirá
a prática dos esportes incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo para
este feito, o Conselho Nacional dos Desportos (CND) baixar as necessárias instruções às
entidades esportivas do país [...]” (MOURÃO E MOREL, 2005, p. 77).

3
FIFA, CONMEBOL, Confederações Nacionais de Futebol, Comitês Olímpicos, entre outras.
4
Um dos exemplos conhecidos foi a preliminar que aconteceu antes do jogo entre o futebol de homens do
Flamengo contra o São Paulo, na data inaugural da iluminação do Estádio Municipal Pacaembu, em 1940.

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Modalidades que não apresentassem contato físico, principalmente, não foram


representadas desse modo tais como o tênis, o voleibol, o críquete, a natação e o ci-
clismo (FRANZINI, 2005). No ano de 1965 o CDN aprovou a Deliberação N. 7, proibindo
as mulheres de praticarem especificadamente as práticas de lutas, futebol, futebol de
salão, futebol de praia, polo aquático, rugby, halterofilismo e baseball (GOELLNER, 2005)
e contava com apoio de governadores dos Estados junto aos seus chefes de Polícia, no
sentido de fiscalizarem e não permitirem realização de jogos de futebol feminino. Estas
ações, pautadas por discursos biológicos e conservadores, impediram por quase 40 anos
o desenvolvimento das modalidades em todo o país.

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Futebol é esporte de mulher? As barreiras


sociais e legais enfrentadas na prática esportiva
JÚLIA BARREIRA

O futebol praticado por meninas e mulheres tem apresentado um rápido crescimento


nas últimas décadas e se popularizado mundialmente. Atualmente, existem mais de 30
milhões de praticantes ao redor do mundo, um aumento de 38% em relação ao ano 2000
(FIFA, 2014). No Brasil, o futebol era se tornou a segunda modalidade mais praticada no
tempo livre de mulheres adultas (BRASIL, 2013), sendo que na década de 90 era praticado
apenas por menos de 1% dessa população (FAERSTEIN et al., 1999). Apesar do crescimento
quantitativo, a histórica carga de preconceitos associados a essa prática esportiva ainda
age como uma barreira invisível no desenvolvimento da modalidade. Meninas enfren-
tam dificuldades no processo de formação como jogadoras, assim como as mulheres no
acesso aos cargos de liderança. Conhecer o histórico da modalidade, os agentes e ações
que estiveram presentes ao longo do tempo permitem compreender melhor os avanços
e os desafios enfrentados por meninas, mulheres, gestoras, treinadoras nos dias atuais.

Figura 1. Mulheres jogando futebol na década de 30 no Brasil. Fonte: Acervo digital do Museu do Futebol.

A participação de meninas e mulheres no futebol ao longo da história é caracterizada


por uma prática de resistência. Desde o início do século XX as praticantes desafiam a falta
de espaços, de suporte financeiro e de possibilidades de formação. Essas dificuldades
foram sustentadas por diversos discursos que associavam o futebol à masculinidade e
aos supostos riscos à feminilidade e à maternidade das praticantes. Por muito tempo o
futebol foi considerado uma modalidade de contato e violenta, e, portanto, como um
espaço masculino. Os elementos presentes na partida de futebol como suor, competição,
rivalidade e esforço físico eram considerados incompatíveis com a imagem da mulher
(GOELLNER, 2005). Além de todas as barreiras culturais, as dificuldades enfrentadas pelas
praticantes se tornaram ainda maiores no período da ditadura quando a prática esportiva
foi legalmente proibida.

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Figura 2. Notícia sobre a proibição do futebol feminino. Fonte: Acervo Araguari Atlético Clube | Visibilidade
para o Futebol Feminino.

Em 1965 o Conselho Nacional de Desportos aprovou uma deliberação que proibia


as mulheres de praticarem modalidades como o futebol, o futebol de salão e o futebol
de praia (BRASIL, 1965). O decreto não só fortaleceu os estereótipos de gênero, como
também anulou elementos fundamentais no processo de desenvolvimento da modalida-
de. Os clubes esportivos não poderiam ofertar a prática do futebol para mulheres, assim
como as federações esportivas não poderiam organizar e promover de competições de
futebol feminino. Portanto, mesmo que as mulheres tenham continuado se organizando
em campos de várzea e nas periferias para jogarem futebol (SILVA, 2017), a proibição
limitou a formação das praticantes e o desenvolvimento da modalidade.

GESTÃO DO FUTEBOL FEMININO NO BRASIL


As competições esportivas e sua importância na expansão do futebol praticado por
mulheres no Brasil e no mundo
A proibição legal chegou ao seu fim em 1979 e o futebol praticado por mulheres foi
regulamentado no Brasil em 1983. Essa abertura possibilitou que os clubes esportivos
passassem a oferecer o futebol às suas associadas e que as organizações esportivas pro-
movessem campeonatos às praticantes. Por exemplo, na década de 1980 foi criada a Taça
do Brasil de Futebol Feminino, campeonato organizado anualmente e que se tornaria
a principal competição nacional de futebol de mulheres de até 2007. No mesmo perí-
odo a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro criou o Campeonato Carioca
de Futebol Feminino que conta com 26 edições desde a sua primeira edição em 1983.
Os campeonatos estimularam que os clubes de futebol também criassem equipes de

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mulheres, como Guarani, Ponte Preta, Vasco da Gama e entre outros. O clube Radar se
destacou nesses campeonatos iniciais, sendo campeão seis vezes consecutivas da Taça
do Brasil e Campeonato Carioca (1983-1988).
Ao mesmo tempo que os campeonatos contribuíam com a participação das mulheres
no futebol brasileiro, as iniciativas da FIFA deram visibilidade para a modalidade ao redor
do mundo. Em 1988 a federação organizou o Campeonato Internacional de Futebol Femi-
nino na China com a participação de 12 times, incluindo a seleção Brasileira. Composta
majoritariamente por jogadoras do Radar e com grandes nomes da história do futebol
feminino, como Sissi, Pretinha e Michael Jackson, a seleção conquistou o terceiro lugar
nessa estreia internacional (Figura 3). A seleção norueguesa derrotou a sueca na final
com um público de mais de 35 mil pessoas.

Figura 3. Seleção Brasileira no Campeonato Internacional de Futebol Feminino organizado pela FIFA em
1988.
Fonte: Acervo digital do Museu do Futebol.

Após o sucesso do torneio experimental, a FIFA organizou a primeira Copa do Mundo


de Futebol Feminino em 1991 na China com a participação de 12 seleções. Além da cate-
goria adulta, desde os anos 2000 a FIFA realiza a cada dois anos competições mundiais
para as categorias Sub-17 e Sub-20 com o objetivo de fomentar as categorias de base.
Nacionalmente, o número de competições esportivas também foi aumentando ao longo
dos anos (Figura 4). Grande parte dos campeonatos de futebol de mulheres foram criados
pelas federações esportivas entre os anos de 2007 e 2008, mesmo período que a seleção
brasileira conquistou as medalhas de prata na Copa do Mundo de Futebol Feminino e de
ouro nos Jogos Pan-Americanos.

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19
18 18 18
17 17 17
Número de campeonatos 16
15

11

6
5

3 3
2 2 2 2 2
1

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Figura
Figura4. 4.
Quantidade de campeonatos
Quantidade de futebol
de campeonatos de praticado por mulheres
futebol praticado porao mulheres
longo dos anos. Fonte: dos
ao longo Elabo-
rado pela autora com base em dados disponíveis na internet.
anos. Fonte: Elaborado pela autora com base em dados disponíveis na internet.
Atualmente, o número de campeonatos é ainda maior dado que quase todas as fe-
derações organizam competições estaduais de futebol para mulheres adultas. Apesar
Atualmente, o número de campeonatos é ainda maior dado que quase todas as
do avanço quantitativo, as federações ainda enfrentam desafios em relação ao número
federações
de equipes organizam competições
participantes, duraçãoestaduais de futebolpatrocinadores
do campeonato, para mulheres adultas.
e entreApesar
outros.do
Por
avanço quantitativo,
exemplo, apenas seisas federaçõespossuem
federações ainda enfrentam desafios
campeonatos comemmais
relação ao número
de oito deOs
equipes.
times também
equipes enfrentam
participantes, dificuldades
duração para a participação
do campeonato, nas competições
patrocinadores devido
e entre outros. aos
Por
custos com deslocamento e estrutura para os jogos. Além disso, dependendo do sistema
exemplo, apenas seis federações possuem campeonatos com mais de oito equipes. Os
de disputa do campeonato, os times que não se classificam para as etapas finais partici-
timesdetambém
pam poucos enfrentam dificuldades
jogos gerando para a de
um problema participação nas competições devido aos
sustentabilidade.
custos com deslocamento e estrutura para os jogos. Além disso, dependendo do sistema
de disputa do campeonato, os times que não se classificam para as etapas finais participam
de poucos jogos gerando um problema de sustentabilidade.

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Figura 5. Quantidade de equipes participantes dos campeonatos estaduais de futebol feminino no Brasil.
Fonte: Elaborado pela autora com base em dados disponíveis na internet referente aos anos de 2015/2016.

Além das competições estaduais, atualmente as equipes brasileiras podem disputar


o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Criado pela CBF em 2013, o campeona-
to substituiu a tradicional Copa do Brasil de Futebol Feminino e se tornou a principal
competição de futebol praticado por mulheres no Brasil. Desde 2017 a competição é
composta por duas divisões, A1 e A2, contando com a participação de 16 e 36 times res-
pectivamente. No ano de 2019 a Band, rede nacional de televisão aberta, adquiriu os
direitos de transmissão das partidas consolidando mais um avanço para a popularidade
e visibilidade da modalidade.
Como mostrado acima, diversos campeonatos de futebol foram criados para mulheres
adultas nas últimas décadas. Entretanto, as categorias de base ainda vivem um cenário
diferente com poucas possibilidades de participação em competições esportivas. Em nível
estadual o Paulista Sub-17 teve sua primeira edição em 2017 e tem se consolidado como
uma das principais competições de base do país. No mesmo ano a Federação Paulista
organizou o 1º Festival Paulista de Futebol Feminino Sub-14 que desde então é realizado
anualmente. No sul do país, a Federação Gaúcha de Futebol estreou os campeonatos
Sub-18, Sub-16 e Sub-14 para meninas no ano de 2019. O primeiro Campeonato Brasileiro
de Futebol Feminino Sub-18 foi criado apenas em 2019 com a participação de 24 clubes.
Pesquisadores defendem que as competições esportivas são fundamentais no pro-
cesso de desenvolvimento das modalidades (SOTIRIADOU et al., 2008). Nesse sentido,
vemos um fortalecimento do futebol praticado por mulheres no Brasil nas últimas dé-
cadas. Diferentes agentes esportivos participaram do processo e fizeram esforços para
consolidar competições estaduais e nacionais para a categoria adulta. Atualmente as

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federações esportivas enfrentam novos desafios em relação à estrutura física, recursos


financeiros e visibilidade dos campeonatos. Além disso, as categorias de base também
passam a receber atenção das federações com potencial de desenvolver as jovens joga-
doras e engajar novas praticantes na modalidade.

Onde podemos jogar futebol? As possibilidades e condições


da prática esportiva por meninas e mulheres
Quando pensamos no sistema esportivo brasileiro, os clubes aparecem como princi-
pais agentes na promoção do esporte. De forma geral, para que uma atleta possa alcançar
o alto rendimento esportivo é necessário que ela esteja afiliada a um clube. Entretanto,
no caso do futebol praticado por meninas e mulheres a realidade ainda é outra. Até pouco
tempo, a maioria das equipes competitivas eram mantidas por prefeituras municipais
(SOUZA JÚNIOR, 2013). Os clubes passaram a ter maior protagonismo a partir da nova
regra de licenciamento de clubes da CBF. De acordo com a confederação brasileira, para
que as equipes de homens possam disputar competições internacionais, é necessário que
também tenham uma equipe de futebol de mulheres. Portanto, atualmente o cenário na
maioria dos clubes é estruturação a prática do futebol por meninas e mulheres.
Diversos agentes esportivos fazem parte desse processo de transição e de reorgani-
zação da modalidade. Por exemplo, grande parte da estrutura utilizada para os treina-
mentos e jogos é fornecida pelas prefeituras municipais. Além disso, diferentes tipos de
vínculo e pagamento são estabelecidos entre as equipes e as jogadoras. De acordo com
a reportagem realizada por Luiz Consenzo na Folha de São Paulo, apenas 8 dos 52 times
que disputam o Brasileiro Feminino de 2019 têm todas das jogadoras registradas com
carteira profissional. As demais equipes utilizam contratos informais, bolsa de estudos,
bolsa da prefeitura, projetos de Lei de Incentivo para manter o vínculo as jogadoras.

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Figura 6. Estrutura dos clubes para o futebol praticado por mulheres. Fonte: Site oficial da Folha de São
Paulo.

Outro desafio enfrentado pelas mulheres no futebol diz respeito a ocupação dos cargos
de liderança nas equipes competitivas. O estudo realizado por Passero (2018) mostrou
que de 2013 a 2017 não houve aumento na participação das mulheres nos cargos de
comissão técnica no Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, sendo que elas repre-
sentam aproximadamente 14% desses profissionais. Esse cenário chama a atenção de

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diferentes agentes na qualificação de mulheres que desejam atuar como profissionais


na modalidade.

Figura 7. Participação de homens e mulheres em cargos de comissão técnica em todas as edições do


Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino (2013-2017). Fonte: extraído de Passero (2018).

Os desafios do gestor e o futuro do futebol praticado por


meninas e mulheres no Brasil
Apesar do crescimento do futebol praticado por meninas e mulheres nas últimas déca-
das, as praticantes ainda enfrentam desafios estruturais e culturais em uma modalidade
que permanece dominada por homens. Pensar a gestão do futebol no Brasil exige dos
gestores conhecimento para compreender o percurso histórico da modalidade, vivência
esportiva para entender a situação atual das praticantes e empatia para trabalhar em
parceria com os diversos agentes que participam desse complexo sistema esportivo.
Federações esportivas, clubes esportivos, escolas, universidades e prefeituras munici-
pais são alguns dos atores que, com diferentes atuações, podem estimular a entrada,
manutenção e formação das praticantes na modalidade.
As escolas, clubes e prefeituras municipais atuam como porta de entrada para as me-
ninas no futebol. Além das competências técnicas, táticas e físicas ensinadas por essas
instituições, é importante conscientizar as praticantes sobre os avanços e dificuldades
ainda enfrentadas historicamente pelas jogadoras. A presença de mulheres como pro-
fessoras, treinadoras e gestoras nessas instituições também é elemento importante na

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permanência das praticantes na modalidade. Essas profissionais, em muitos casos, são


modelos que encorajam as praticantes a também trabalharem com o esporte. Nesse sen-
tido, a participação de universidade, organizações esportivas e federações é fundamental
no processo de qualificação de homens e mulheres que desejam atuar na modalidade.
Acreditamos que cursos como esse fornecem o principal meio de transformação das
barreiras estruturais e culturais ainda existentes na modalidade: o conhecimento.
Mais do que reproduzir sistemas e modelos bem-sucedidos de outros países, é neces-
sário pensar na estrutura e realidade do Brasil. A enorme variedade cultural e as diferentes
possibilidades de “futebóis” existentes dentro do nosso país também geram um amplo
leque de possibilidades para fomentar a prática do futebol. A ação conjunta dos diferentes
agentes esportivos, unida às transformações culturais que vem acontecendo ao longo dos
anos, geram esperança em pequenas jogadoras que desejam se tornar grandes atletas.
Apesar do processo de desenvolvimento do futebol praticado por meninas e mulheres
ser lento e gradual, ele já está acontecendo.

Figura 8. Campo do time das crioulas em Salgueiro, Pernambuco.


Fonte: Acervo digital do Museu do Futebol.

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Comissão técnica multidisciplinar


(realidade e perspectiva)
CAMILA AVEIRO LIMA

A Copa do Mundo feminina de futebol deste ano quebrou alguns paradigmas ainda
existentes na modalidade. Tivemos recordes de audiência com mais de 30 milhões de
espectadores aqui no Brasil, bastante conteúdo na internet (podcasts, análises táticas
em blogs, tempo real dos jogos e etc), além de ter sido a primeira Copa a ter transmissão
em televisão aberta. Informação como nunca antes havia acontecido, que gerou espaços
de discussão e questionamentos acerca da organização atual do futebol feminino. Mas
por que começar falando sobre isso? São apenas pequenos dados que mostram uma
crescente na evolução do futebol feminino no mundo, com jogos cada vez mais compe-
titivos, aguçando o interesse do público, trazendo referências para meninas que sonham
em jogar futebol e novas expectativas.

Comissão Técnica

Embora o cenário seja favorável para o desenvolvimento da modalidade, a realidade


ainda diverge do que seria considerado ‘’ideal’’. Pensando de maneira global há preca-
riedades em estruturas para treino e moradia, um calendário onde muitas equipes não
jogam um ano inteiro e atletas que tampouco recebem salário, sendo movida apenas
pelo sonho de ser jogadora diante da dura realidade. Basicamente todos os clubes de fu-
tebol feminino trabalham de forma amadora ou semiprofissional, junto de parcerias com
prefeituras, existindo apenas um “contrato de boca” entre investidores, clubes e atletas
etc. (BOVE, 2012). Kindermann, Flamengo e Tuabaté são bons exemplos dessa realidade,
pois são clubes que se uniram ao poder público e a Marinha, no caso do Flamengo, para
dar sequência em seus trabalhos. Em Santa Catarina usa-se a Lei de Incentivo ao Esporte
para custear os salários das atletas, e as meninas de Taubaté recebem bolsa-auxílio da
prefeitura. Menores ainda são as equipes que utilizam o regime de CLT (Consolidação das
Leis do Trabalho). Na Série A1 do Campeonato Brasileiro podemos citar apenas Interna-

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cional e Santos, seguidos por América MG, Atlético MG, Ceará, Chapecoense, Cruzeiro e
Grêmio que atualmente disputam a segunda divisão.

Diante do cenário supracitado e com o desenvolvimento de parcerias mais sólidas,


percebe-se que há o surgimento de muitos projetos que visam às categorias de base e o
crescimento global das jogadoras a considerar a formação escolar, como no Campeonato
Brasileiro sub18. Estas iniciativas surgem em função de um interesse cada vez mais cres-
cente das mulheres em praticar e consumir o futebol. Outras são também impostas no
sentindo de incentivar e potencializar a velocidade deste crescimento, uma vez que são
tomadas pelas entidades de administração do esporte que, além de terem como objetivo
difundir a modalidade possui o poder de coerção. Exemplo disso é a obrigatoriedade dos
clubes da série A do futebol masculino no Brasil terem equipes femininas (NETO, 2019).
Queríamos ilustrar ao desenvolver esse cenário que ainda há muito caminho pela
frente e isso reflete em como são montadas as equipes desde sua parte principal (as
atletas) até as comissões técnicas, que também sofrem do reducionismo por aqui. Em
média é comum encontrar em equipes ao menos um treinador, um preparador físico,
um preparador de goleiras e um auxiliar, com base na elite do futebol feminino (Bra-
sileirão A1 e A2), embora que por vezes essa estrutura ainda é menor, se considerarmos
que em algumas delas é o próprio treinador o responsável por ministrar a preparação
física de suas comandadas.

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SOL – Preparadora de Goleiras

Em um cenário mais próximo do ideal poderíamos pensar nos seguintes profissionais:


um coordenador e/ou supervisor, um médico, um assessor de imprensa, um prepa-
rador físico, um preparador de goleira, um auxiliar técnico, um analista de desem-
penho, um fisioterapeuta e/ou massagista e um treinador. Porém, como foi dito é de
conhecimento nosso que nem todas as equipes possuem todos os profissionais listados
e recorrem a algumas parcerias para terem o serviço durante o período competitivo. Par-
cerias que podem vir de dentro do meio acadêmico, como no caso do Fluminense, das
prefeituras, como acontece com a Ferroviária e o São José, ou até mesmo de “pessoas
independentes (avulsas)”, como no caso do Corinthians no ano passado quando contratou
uma analista de desempenho para as fases finais do Campeonato Brasileiro.

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Pensando numa ordem de evolução até mesmo o ‘’mais próximo do ideal’’ apresenta
uma dificuldade de logística para as jogadoras e comissões técnicas, pois há a necessi-
dade de mais recursos humanos para melhor desenvolvimento do trabalho. Citaremos
alguns exemplos na sequência.
Quando pensamos na parte mais administrativa no âmbito feminino nos deparamos
que poucas são as equipes que contam com supervisores e coordenadores (geralmente
é um o outro), mas podemos citar o caso da Ferroviária de Araraquara com essa estrutura,
por exemplo. E por que pensamos que este é o caso ideal? Pois há diferentes campe-
onatos, muitas viagens e atletas que permanecem na mesma cidade, por não terem
sido relacionadas. Basicamente ambos poderiam dividir tarefas: acompanhar sempre as
meninas nos seus trajetos para a próxima partida, enquanto o outro já pensa no próximo
campeonato e oferece suporte de dentro do clube.

Um segundo preparador físico na equipe permitiria que as meninas não relacionadas


para os jogos pudessem treinar a fim de tentar diminuir a distância física daquelas com
mais minutagens, por exemplo. A presença de um auxiliar técnico a mais, em concomi-
tância com o preparador físico, acrescentaria conteúdos táticos no jogo, dentro de uma
perspectiva sistêmica aliada ao modelo de jogo que se deseja jogar. Dentro da lógica
proposta, ter dois fisioterapeutas concede a possibilidade de um estar em viagem para
atendimento pré e pós-jogo e outro dando atenção às atletas no departamento médico
do clube, seja em processo de recuperação e/ou de transição. Vale a ressalva de que em
caso de suspensão de um desses profissionais haveria um substituto imediato, mantendo
uma estrutura básica na comissão. O Corinthians, por exemplo, possui essa composição.
Dois analistas de desempenho para dividir tarefas também seria o ideal, alternan-
do-se em campeonatos, na própria equipe e/ou em estudos dos adversários, principal-
mente quando se tem dois jogos na mesma semana. Enquanto um viaja com a equipe
para gravar os jogos e auxiliar no intervalo da partida, o outro já prepara o material do
próximo adversário e campeonato em sequência. É basicamente o mínimo que vemos
no futebol masculino se fizermos uma simples comparação, porém este não é o foco.
Como supracitamos, essas pequenas mudanças, com acréscimo de alguns profis-
sionais, nos mostram exemplos de como se pode contribuir de forma positiva para o
desenvolvimento das futebolistas como um todo, além de melhorar o dia a dia das equi-
pes, porém para acontecer precisa de investimento por parte dos clubes e federações,
além da necessidade de compreensão do contexto no qual mulheres jogam hoje em dia,
buscando gerar subsídios para a melhoria da prática no país.

FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO 17


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Perfil de treinadoras
Mulheres no comando de equipes no futebol brasileiro ainda são algo pouco habitual.
Levantando dados do Campeonato Brasileiro da série A1 percebe-se apenas a presença
de três delas: Emily Lima (Santos), Tatiele Silveira (Ferroviária) e Keila (Sport) no
total de 16 equipes. Até mesmo na série A2, que é composta por 36 equipes, o número
ainda é pequeno, totalizando apenas sete delas. Agora 6 se computarmos a demissão
de Ana Lúcia do Palmeiras.
Analisando a ‘’elite do futebol brasileiro’’, Emily Lima e Tatiele Silveira possuem li-
cenças da CBF: licença pró e licença A, respectivamente. E as similaridades não param por
aí: ambas também foram atletas, uma cara bem comum entre mulheres treinadoras no
futebol brasileiro, e acumulam passagens pela Seleção Brasileira de base (Tatiele atuou
como auxiliar técnica da sub 17 em 2016 e Emily Lima comandou a mesma categoria três
anos antes para disputar o Sul-Americano).

Tatiele Silveira advém da escola gaúcha de futebol, conhecida por seus grandes treina-
dores nas equipes masculinas (Renato Gaucho, Mano Menezes e Tite são por exemplos).
Em clubes foi comandante dos dois grandes times de Porto Alegre (Grêmio – 2009/2013
e Internacional – 2017/2018), além do Canoas do Rio Grande do Sul. Também acumula
em seu currículo passagem pelos Estados Unidos em Soccer Academys nos anos de 2014
e 2015.
Do outro lado, Emily tem sua carreira fora das quatro linhas iniciada em 2010 quando
foi supervisora e auxiliar técnica da Portuguesa. Passou pelo Juventus (2011) e São Cate-
ano (2012) como treinadora e após sua passagem na Seleção sub17, assumiu o São José
em 2014, até quem 2016 chegou na Seleção Brasileira principal, sendo a primeira mulher
a ocupar esse cargo, onde ao todo, foram 13 jogos, sendo sete vitórias, cinco derrotas e
um empate, totalizando em 56% de aproveitamento.

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Mas as similaridades, para além das ideias de jogo que trataremos mais à frente,
terminam aí. No dia a dia da Ferroviária, Tatiele Silveira é mais ‘’professoral’’ e menos
intensa. Explica o treino em um quadro tático antes de toda sessão, de maneira didática,
instigando que suas atletas possam resolver os diversos problemas que o jogo trás con-
sigo. Em contrapartida, Emily é mais intensa, mais direta tanto no desdobramento das
sessões quanto na cobrança de suas atletas para obter objetivo daquilo que foi proposto.
Não leva quadro tático para o treino, mas também investe em soluções de problemas
através do jogo em sua metodologia.

São duas mulheres que respiram futebol cada uma a sua maneira, mas com muita
dedicação e organização. Utilizam-se de metodologias mais situacionais, com peque-
nos jogos que simulam recortes do jogo, com a ordem de progressão de complexidade.

Modelos Táticos
A verdade é que o Brasil sempre foi um manancial de talentos, mas nunca houve algo
organizado e sustentável. Por isso vemos outros países e novas forças a se destacarem
no futebol feminino porque executam esses “algos” organizados e sustentáveis. É o que
diz o Professor português Gustavo Pires: “são os resultados que dão origem aos projetos”
(NETO, 2019).
Contextualizando ainda o quão precário e iniciante é o futebol feminino nas terras
tupiniquins, segundo dados do relatório da FIFA, por aqui há um total de 15 mil mulheres
jogando futebol de maneira organizada (disputando campeonatos amadores ou profis-
sionais) e quando olhamos para a base, a situação brasileira fica ainda mais sofrível, com
apenas 475 jogadoras abaixo de 18 anos registradas nos clubes.
Antes de falarmos dos nossos modelos baseados em clubes brasileiros é interessante
ressaltar a diversidade de modelos de jogo presentes na Copa do Mundo desse ano, mar-
cada por equipes bem organizadas nos seus planos técnico-táticos, com características
semelhantes entre algumas equipes:

FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO 19


TELA CHEIA

• a predominância de marcação com ênfase na referência do adversário, onde mui-


tas equipes optaram por encaixes e perseguições mais longas pelo campo. Holan-
da, Jamaica, Itália, Brasil são bons exemplos.
• subidas de linhas para marcação em pressão, além de busca por estar pressionan-
do a portadora da bola, característica de equipes como Estados Unidos, Japão e
Inglaterra.
• a baixa utilização das goleiras como primeira jogadora de ataque, participando da
criação ofensiva na zona de iniciação. Em contrapartida mostrou-nos a evolução
dos fundamentos defensivos das camisas 1, levando por terra a discussão de di-
minuição das balizas, tendo em vista que há a necessidade de se ter processos de
ensino-aprendizagem desde cedo, como acontece nos Estados Unidos, por exem-
plo.
• busca de corredores laterais para as ações de ataque, principalmente no último
terço de campo. França, Brasil, Alemanha e Inglaterra exemplificam bem tais bus-
cas, principalmente pelas tentativas de criação de triângulos pelos flancos.
• um jogo mais verticalizado, com menos valorização da posse de bola, na tentativa
de direcionar passes para progredir pelo terreno de jogo, inclusive pelo aparec-
imento de espaços livres, principalmente após as quebras de pressão em linhas
mais altas.
• a presença de alguns ataques mais posicionais, como Holanda, Estados Unidos,
Inglaterra e Itália. Muitas delas utilizando do 1433 como referência de ocupação
tática ofensiva.
• forte ações de bolas áreas, como nos casos de Austrália, Holanda e França.
• dependência de qualidade técnica individual, como nos casos de Jamaica e da
própria Seleção Brasileira.

SANTOS
A equipe comanda por Emily Lima utiliza do ataque posicional como característica,
ou seja, a equipe se organiza para manter a posse de bola no campo ofensivo, distribuin-
do seus jogadores de forma a criar rupturas nas linhas defensivas adversárias e assim
progredir ao gol, sem abdicar da bola em seu domínio, e sem pressa para finalizar. Com
isso, tende a controlar os adversários em campo através da manutenção de mais posse
de bola, com volume ofensivo grande e algumas goleadas. A treinadora utiliza de dois
sistemas táticos que são muito similares, para atacar e defender. Organiza-se no 1433 e
defender na configuração do 14141:

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TELA CHEIA

Santos no 1433 em momento ofensivo, com um triangulo no meio e uma jogadora na base.

Antes de falarmos de defesa, vamos pontuar algumas ideias da treinadora para o


ataque das Sereias da Vila.

Distribuição espacial das jogadoras desde a base da jogada, com princípios estruturais de amplitude e
profundidade bem visíveis.

Como supracitamos, o Santos é uma equipe que prioriza a manutenção da posse de


bola para progredir no terreno de jogo. Na zona de iniciação (a base da jogada) abre suas
duas zagueiras, realizando uma saída de 3 com a entrada de uma volante no espaço. Suas
laterais espetam oferecendo a equipe ampltude, com muita liberdade de movimento para
suas meias-campistas (sinalizadas de azul na foto acima). As atacantes de beirada buscam
jogar em amplitude, o que oferece possibilidades de esticar a última linha defensiva do
adversário, e uma referência frontal, que se faz importante na construção ofensiva da
equipe. Outra característica predominante nessa equipe é o uso da goleira como ‘’jo-
gadora de ataque’’, pois ela é ativa a participar das ações, oferecendo linhas de passe.
As meninas da Vila costumam construir suas ações ofensivas tanto pelo meio quanto
pelos flancos, sempre buscando aproximações entre eles, o que pode ser caracterizado

FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO 21


TELA CHEIA

como jogo apoiado. Possibilidades de gerar triangulações e até mesmo superioridade


numérica em todas as regiões do campo. Observe:

Santos saindo pelos corredores com apoios de lateral, meias e atacante de beirada.

Triangulação em tentativa de construção pelos flancos.

Quando constrói por dentro, busca muitos apoios das meias-campistas, assim como
da referência frontal (centroavante) realizando movimentos de pivô (parede) tanto para
proteger a bola e temporizar a chegada do time à frente quanto para abrir espaços favo-
ráveis para infiltração tanto de jogadoras de meio como de beirada. Como ilustraremos
a seguir:

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TELA CHEIA

Glaúcia, centroavante da equipe, sai da profundidade para receber a bola e abre possibilidades de infiltra-
ção das atacantes de beiradas, que estão em amplitude esticando a última linha defensiva. Além da possi-
bilidade de gerar tabelas por dentro a fim de manter a posse de bola até o momento oportuno de avançar.

Outra possibilidade trabalhada pelas meninas do Santos sem que a estrutura seja alterada é a de infiltra-
ção no terço final por parte das meias. Mesma situação como na foto anterior, porém com outra dinâmica
tática de atuação.

É possível identificar a operacionalização de princípios do jogo e o entendimento


das atletas na estrutura organizacional da equipe. No último terço é onde mais costuma
explorar a individualidade de suas atletas, criando confrontos de 1x1, 2x2, com tabelas
rápidas, movimentos de facão e muita velocidade, principalmente pelos lados do campo.
No que diz respeito à defesa, identificamos um time intenso em campo, distribuído
com duas linhas de quatro compactas e com a última linha jogando quase que no meio
do campo em bloco médio/alto:

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TELA CHEIA

Santos distribuído no 14141 com pressão na portadora da bola

A imagem de Maurine (lateral direita) alongando a linha para fazer pressão em quem
porta a bola mostra um padrão desta equipe: marcação setorizada, que permite perse-
guições (por vezes até mais longas) do lado da bola mesmo que o adversário saia um
pouco da zona respectiva. Existe a referência do espaço, assim como há encaixes na
tentativa de manter seu alvo pressionado, encurtando o espaço-tempo para suas ações
de ataque. Outra foto que ilustra essa dinâmica:

Lateral direita desgarra da linha pra encaixar, juntamente com a beirada do lado da bola.

Quando sobe as linhas de marcação são utilizados encaixes individuais na faixa de


atuação de cada atleta, de maneira mista, pois ainda há referência no espaço de algumas
meninas com intuito de encurralar o adversário, fechando possíveis linhas de passe:

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TELA CHEIA

Jogadoras em azul balançando para fechar espaços e linhas de passe da portadora da bola, enquanto
algumas encaixam no setor.

Movimentos que ilustramos acima casam com a intensidade exercida pelas Sereias
da Vila em seus jogos, na tentativa de recuperar a posse de bola o mais rápido possível,
além de evitar a progressão do adversário pelo campo, empurrando seus adversários
para os corredores laterais onde buscam gerar superioridade numérica.
Como a teoria ensina, os momentos do jogo precisam andar juntos: é necessário
saber defender quando se está atacando e também atacar quando se está defendendo.
Com isso, a cartilha ao perder a posse de bola caracteriza uma transição defensiva
com agressividade de quem perto e/ou está mais próximo do adversário com a bola no
pé, priorizando a recomposição da última linha de defesa. Quando a recuperação não
acontece de imediato, busca-se recompor as linhas e recomeçar.
Ao recuperar a posse, em transição ofensiva, não busca verticalizar demasiadamen-
te, principalmente nos setores mais próximos à própria baliza. O que vai de encontro à
ideia de manutenção da posse de bola em organização ofensiva. Obviamente que quanto
mais próximo ao gol mais verticalidade se dá a fim de tentar aproveitar a desorganização
ofensiva do adversário, já que se tem menos campo para chegar à meta oposta.

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TELA CHEIA

FERROVIÁRIA
Na cidade das laranjas, Araraquara, há similaridade de ideias: Tatiele também prioriza
a posse de posse, buscando constantes apoios dentro de campo, mas com sistemas tá-
ticos mais diversos, pois a treinadora não esconde que pensa de acordo com o próximo
adversário, a fim de direcionar seu melhor plantel. Em média distribui suas atletas no
1433 para atacar, formando duas linhas de quatro, no 1442 clássico para os momentos
sem a bola. Apontaremos aqui algumas diferenças de aplicabilidade de princípios em
relação ao Santos. A começar pela saída na zona de iniciação:

A saída da Ferroviária se caracteriza de maneira mais sustentada, com as zagueiras participativas, laterais
espetadas, mas sem a entrada da volante pra formar uma saída de três. Ora com uma ou até mesmo duas
na base.

Com a bola do lado oposto, as laterais tendem a fechar por dentro, diminuindo a
amplitude tanto na zona inicial quanto na de construção:

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TELA CHEIA

Barrinha (lateral esquerda) fechando por dentro em direção ao lado da bola

O mesmo acontece com as atacantes de beiradas, que costumam vir buscar a bola no
setor defensivo e também não guardam amplitude mais próximo do terço final. Observe:

Em destaque a atacante de beirada, vindo associar ainda em zona de iniciação

FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO 27


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O trio de ataque postado mais próximos do corredor central sem utilizar a amplitude nos dois lados do
campo.

Outra característica marcante é tendência de lateralizar suas construções ofensivas,


sempre na busca de situações de apoio, com pouca associação e/ou progressão por dentro:

Portadora da bola com pelo menos três opções de passe para dar continuidade ao ataque.

Quando mantém a estrutura com as atacantes de beiradas dando amplitude abre


possibilidades de infiltração pelas meio-campistas, em especial Rafaela Mineira, como
ilustra a foto abaixo.

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Beiradas destacadas em amarelo; centroavante em profundidade, porém em situação de impedimento e


Rafaela Mineira com orientação corporal para infiltrar na última linha.

Defensivamente, Tatiele caracteriza seu tipo de marcação como zona pressionante,


porém permite algumas perseguições mais circunstancias, que bagunçam as estruturas
de suas linhas, na tentativa de pressionar a portadora da bola.

Duas linhas de quatro bem definidas, com prioridade pela referência no espaço em detrimento da bola.

Um movimento interessante no aspecto defensivo dessa equipe é a ação de Rafaela


Mineira, com algumas responsabilidades defensivas de acompanhar alguma volante
ou fechar espaços pela lateral do campo, mesmo fazendo parte da terceira linha de
marcação:

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Rafaela Mineira, destacada em amarela, acompanha a volante santista, fechando sua linha de passe para
quem está com a bola.

Em linhas mais altas, sua marcação, assim como a do Santos, se caracteriza numa
espécie de mista, pois há tanto encaixes mais individualizados como também há vigi-
lâncias do espaço:

Em azul temos a beirada oposta balança fechado por dentro e volante vigia o corredor central.

Em transição defensiva também é estimulado a rápida mudança de comportamento


para que haja pressão imediatamente pós-perda, além da recomposição de linhas atrás
da bola. Quando a posse é recuperada (transição ofensiva), as meninas têm seus com-
portamentos interligados à zona de campo no qual a bola foi retomada, na lógica de que
quanto mais próximo do setor ofensivo mais verticalidade deve se priorizar. Em zonas
mais baixas é passível de leitura para a melhor leitura, com tendência à retirada da bola
da zona de pressão para recomeçar em organização ofensiva.

30 FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO


TELA CHEIA

PERSPECTIVAS FUTURAS - ANÁLISE DE DESEMPENHO


MICHELE KANITZ

A análise de desempenho é uma ferramenta considerada nova no mercado, ainda mais


quando falamos sobre a introdução dessa ferramenta no futebol feminino. Não se sabe
ao certo em que momento esta passou a ser utilizada no contexto do futebol feminino
no Brasil, porém, esta ferramenta muito se oriunda do futebol masculino.
Com a evolutiva do futebol, houve a necessidade da criação de ferramentas que pu-
dessem contribuir para a otimização do tempo e das informações captadas durante o jogo
e posterior aos treinamentos. Conhecer o jogo como um todo, compreender o adversário
e entende-lo durante os noventa minutos é fundamental para que a comissão técnica
possa elaborar a melhor estratégia para enfrenta-los. Assim, a análise de desempenho se
tornou de forma fundamental, a ferramenta que contribui diretamente com informações
precisas do adversário, do próprio time e de treinamentos de forma coletiva e individual,
visando uma melhora de performance e rendimento de ambos para o objetivo final, a
conquista do jogo.
Andrea Rodebaugh, consultora técnica da FIFA de futebol feminino acrescenta que
‘A análise de desempenho é uma ferramenta que serve de apoio para a comissão técnica
avaliar o status atual de uma equipe feminina, bem como o progresso que está fazendo.
Isso nos permite traçar um caminho para o melhor, em qualquer nível que um jogador
ou equipe esteja.’
Com a crescente da modalidade do futebol feminino, a analise de desempenho, que
anteriormente era uma ferramenta que poucos clubes utilizavam, ou mesmo, era mi-
nistrada muitas vezes por outros profissionais que exerciam a dupla função, hoje com o
mercado em expansão há uma vasta gama de profissionais específicos que desenvolvem
a area de análise de desempenho no futebol feminino.  
Desta forma com a sua importância no mercado, Emily Lima, atual treinadora do
futebol feminino do Santos Futebol Clube, conceitua a análise de desempenho: ‘É uma
ferramenta nova no mercado, que ao encontrar um profissional que deseja seguir na
área da análise de desempenho tem a função de ‘espião’ para o treinador, trazendo o
máximo de informações possíveis conforme as características que o comandado queira.
Não somente com informações da equipe adversária, mas dentro do próprio dia a dia,
nos treinamentos e nos jogos, desta forma analisando o que podemos melhorar com
todas as informações repassadas. O analista hoje, não é considerado somente analista,
mas utilizo e compreendo que o analista tem a função de um auxiliar técnico, tendo a
liberdade para opinar em relação a treinos e jogos com as informações repassadas de
forma imediata no contexto diário, se tornando assim, uma peça fundamental para o
contexto do futebol feminino.

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TELA CHEIA

A FUNÇÃO DO(A) ANALISTA DE DESEMPENHO


O analista de desempenho tem como função coletar as informações, armazenar, filtrar,
analisar e desenvolver relatórios com as informações captadas, contribuindo para o pro-
cesso de tomada de decisão da comissão técnica. É de grande valia que o mesmo possa
alinhar conceitualmente as características da equipe com a comissão, conhecendo o seu
modelo de jogo, as fases do mesmo (organização ofensiva e defensiva, transição ofensiva
e defensiva, bola parada em sua fase ofensiva e defensiva) para entregar as informações
de forma fidedigna a comissão técnica.
Além da compreensão do jogo como um todo (de forma tática, física, técnica e psico-
lógica), o analista de desempenho deve ter conhecimento da metodologia de trabalho da
comissão técnica, das características dos atletas no seu âmbito geral, ter conhecimento
das características gerais culturais do clube e do contexto de onde esta inserido, saber
lidar com prazos, já que o mesmo, principalmente em período competitivo, se torna cur-
to, além de ter clareza nas informações repassadas a comissão técnica e parte diretiva.

A importância da compreensão do jogo como um todo, faz com que a analise de


forma quantitativa correlacionada com a análise qualitativa, resulte em dados de maior
fidedignidade. Ressaltando que, a análise quantitativa que são os números das ações
de jogo, analisadas de forma individual, ou seja, apenas os dados quantitativos, iremos
obter dados de forma vaga e que por muitas vezes não condiz com a realidade do jogo.
Desta forma para obtenção de uma análise de maior coerência, devemos compreender de
as ações do jogo de forma qualitativa primeiramente para posteriormente correlacionar
com os números do jogo.

ANÁLISE DE DESEMPENHO E OS CONTEXTOS QUE ABRANGEM


A análise de desempenho pode ser dividida em três pilares: análise da equipe, análise
do adversário e prospecção de jogadores. Esses pilares contribuem para organização e
planejamento que o analista de desempenho deve ter.

32 FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO


TELA CHEIA

EQUIPE: DO TREINO AO JOGO 


Neste primeiro momento, quando falamos do treino, o analista de desempenho deve
conhecer a metodologia que está sendo aplicada e compreender a atividade proposta
para então analisar a sessão. As perguntas para a análise da sessão de treino são funda-
são fundamentais
mentais para um olharpara umdetalhado
mais olhar maisedetalhado e ummais
um resultado resultado mais expressivo
expressivo para as
para as correções
correções necessárias para a próxima sessão de treinamento e consequentemente
necessárias para a próxima sessão de treinamento e consequentemente para o jogo. para
o jogo.

JOGO: PRÉ JOGO JOGO:


DURANTE
PRÉ JOGO 
DURANTE O JOGO O JOGO 
PÓS JOGO
ADVERSÁRIO
MERCADO DE TRABALHO
EQUIPAMENTOS E SOFTWARES
PÓS JOGO  ADVERSÁRIO 
(VER O QUE DÁ PRA FAZER COM ESSA COISA ACIMA)

REFERÊNCIAS

Referências
MERCADO DE EQUIPAMENTOS E
TRABALHO  SOFTWARES

BRASIL. Conselho Nacional de Desportos. Deliberação n. 7 de agosto de 1965.


Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 8 nov.2014.

BRASIL. Ministério do Esporte. A prática do esporte no Brasil. Brasília, DF, 2013.


Disponível em: <www.esporte.gov.br/diesporte/2.html>. Acesso em: 3 fev.2017
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TELA CHEIA

REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Nacional de Desportos. Deliberação n. 7 de agosto de 1965. Disponível em:
<www.planalto.gov.br>. Acesso em: 8 nov.2014.

BRASIL. Ministério do Esporte. A prática do esporte no Brasil. Brasília, DF, 2013. Disponível em:
<www.esporte.gov.br/diesporte/2.html>. Acesso em: 3 fev.2017

CONSENZO, Luiz. Só minoria no Brasileiro feminino tem atletas com carteira assinada. 19 março
2019. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2019/03/so-minoria-no-brasileiro-feminino-
-tem-atletas-com-carteira-assinada.shtml. Acessado em 13 de Agosto de 2019.

FAERSTEIN, E.; LOPES, C. S.; VALENTE, K.; SOLÉ-LÁ, M. A. & FERREIRA, M. B. Pré-testes de um
questionário multidimensional autopreenchível: A experiência do Estudo Pró-Saúde. Physis, v.9,
1999, p. 117- 130.

FÉDÉRATION INTERNATIONALE DE FOOTBALL ASSOCIATION. Women’s Football Survey 2014. (2014).


Switzerland: Zurich.

GOELLNER, Silvana Vilodre. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Revista


Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 19, n. 2, p. 143-151, 2005.

PASSERO, Julia Gravena. (Des)igualdade de gênero: uma análise dos cargos de comissões técnicas
e de arbitragem em Campeonatos Brasileiros de Futebol Feminino (2013-2017). 2018. 32f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências do Esporte) – Faculdade de Ciências Aplicadas.
Universidade Estadual de Campinas. Limeira, 2018.

SOTIRIADOU, Kalliopi; SHILBURY, David; QUICK, Shayne. The attraction, retention/transition, and
nurturing process of sport development: Some Australian evidence. Journal of sport management,
v. 22, n. 3, p. 247-272, 2008.

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São Paulo. Drible de Letra, 2017.

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BOVE (2012). Retirado de: https://universidadedofutebol.com.br/a-infraestrutura-do-fute-


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NETO (2019). Retirado de: https://universidadedofutebol.com.br/iniciativas-de-longo-pra-
zo-e-sem-tanta-pressa-um-bom-futuro-para-o-futebol-feminino-no-brasil/

34 FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO


TELA CHEIA

Sobre as Autoras

Mayara Cristina Mendes Maia, Doutoranda em Ciências do Movimento


Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mes-
tre em Estudos da Mídia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). Graduada em Educação Física, modalidade licenciatura,
pela UFRN. Estuda sobre as relações de gênero, sexo e sexualidade das
mulheres atletas; histórias do futebol de mulheres; atletas na mídia;
projetos sociais de lazer e esporte.

Júlia Barreira é graduada, mestra e doutoranda em Educação Física pela


Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Como formação com-
plementar cursou Estatística na mesma universidade e Administração na
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC). Além de praticante
recreacional, trabalhou como treinadora de futebol em projetos sociais
e de iniciação esportiva. Atualmente, é professora na Faculdade Anhan-
guera de Campinas e desenvolve estudos relacionados ao futebol feminino.

Camila de Lima Santos, formada em bacharelado em Educação Física


pela Universidade de Pernambuco (conclusão em 2015). Licença nível
2 da CBFS, formada pela Escola Nacional de Treinadores de Futsal (ha-
bilitada a trabalhar com categorias sub13, sub15 e sub17). Analista de
desempenho formada pelo Programa de Capacitação para Analistas
de Desempenho da Universidade do Futebol (2018). Co-autora do livro
“aprendemos juntos - conceitos do futebol moderno” pela Editora Primeiro lugar (2019).

Michele Kanitz, instrutora CONMEBOL e profissional de educação fí-


sica, auxiliar técnica, pós-graduanda em futebol (UFV) e ex-analista de
desempenho da equipe feminina do SC Corinthians Paulista; Também
foi analista da comissão técnica do treinador Osmar Loss no futebol
masculino.

FUTEBOL FEMININO DA HISTÓRIA PARA O CAMPO 35


d uc a ç ã o
E
par a u m
fut e bo l
a in d a
me lh o r !

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