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DOCENTES:

Denise Guilherme Kátia Freitas


OBJETIVO DO CURSO

Promover uma reflexão sobre a importância de contar


histórias, compartilhando alguns dos aspectos
fundamentais para o desenvolvimento desta atividade,
discutindo de que modo familiares, professores e
contadores de histórias podem se preparar para realizar a
função cultural, social e educativa da arte da narração.
“Muitos professores, por exemplo, procuram cursos que ensinem a prática de narrar
e esperam que lhes sejam respondidas perguntas como: que técnicas devem ser
utilizadas? Que histórias devem ser contadas para crianças de 8 anos? Como
manter a atenção da audiência? Uma história deve ser lida ou contada?
É raro, no entanto, que perguntem: como posso me preparar, ou seja, o que posso
aprender para que eu mesmo encontre respostas para minhas perguntas?
Essas perguntas, e tantas outras desse mesmo tipo, não têm uma resposta única e
definitiva.
Cada uma delas depende de um conjunto de circunstâncias, sempre particulares,
para ser respondida por alguém dentro de sua determinada experiência de aprender
a contar. Antes de querer saber como contar, é preciso compreender que as
técnicas resultam de um processo de elaboração da presença, que começa com a
pergunta: por que contar?”

ACORDAIS, Regina Machado, Editora, DCL Difusão Cultural, São Paulo, 2003
COMO CONTAR?
POR QUE CONTAR?

Porque pensamos... porque falamos, e desde que a humanidade


adquiriu essas habilidades, passou a ter a necessidade de compreender
a vida (interna e externamente) e de compartilhar seus saberes, suas
percepções… e a ter, portanto, a necessidade de narrar os fatos e
descobertas cotidianas.
A QUEM CONTAR?

Todos, crianças, jovens, adultos, idosos, homens, mulheres, todos


podem e devem ouvir histórias. As histórias nos remetem a nossas
origens, a nossos medos, anseios, a nossas necessidades e renovam
nossas percepções e esperanças independente da fase da vida na qual
nos encontramos.
O QUE CONTAR?

Tudo... tudo, tudo, tudo pode e deve ser contado... mitos, contos
maravilhosos, contos tradicionais, contos de fadas, fábulas, todo tipo de
narrativa que possa acalentar, orientar, divertir, explicar...
Mas vamos nos ater aqui basicamente às histórias clássicas e pensar:
porque elas permanecem sendo contadas e recontadas há tanto tempo,
ainda que com versões modernizadas?

Os estudos antropológicos e filosóficos das narrativas clássicas


remontam inicialmente aos MITOS. Mitos são narrativas caracterizadas
por acontecimentos grandiosos, por transmitirem uma força espiritual
em que o divino está presente sempre solicitando os simples mortais. O
mito fala do ser humano e das 3 questões básicas ao ser humano:
Vida/Morte (espiritualidade), Sexualidade (maturidade física e
emocional) e Trabalho (razão de existência).
A característica divina dos mitos não permite que a criança se aproxime
deles o suficiente para identificar-se como seus heróis, pois heróis
mitológicos são em sua grande maioria adultos e deuses ou
semideuses.
Já nos contos clássicos, ou de fadas como são popularmente
conhecidos, os heróis são crianças que sofrem dilemas existenciais que
qualquer criança pode vivenciar, e com ele, portanto, reconhecer-se.
Dilemas como a doença ou morte dos pais, o abandono, os conflitos
entre irmãos, a sensação de inferioridade e a miséria são mazelas
retratadas nos contos, com as quais a criança se identifica e elabora as
suas próprias questões existenciais de forma simbólica.
Os contos de fadas apresentam basicamente essas características
centrais em sua composição:
● Podem contar ou não com a presença de fadas, mas fazem
sempre referência ao uso de magia e encantamentos;
● Seu núcleo problemático é existencial (o herói ou heroína buscam
a realização pessoal);
● Os obstáculos ou provas constituem-se num ritual de iniciação
para o herói ou heroína na busca de seu desenvolvimento;
● Há ausência de temporalidade e local definidos, assim como
de nomes às personagens, ou quando os possuem (como no caso
de João e Maria) são nomes usuais, que cabem a qualquer menino
ou menina.
E a quem cabe contar histórias? A qualquer pessoa! Todos contamos
histórias diariamente nas conversas em família, com os vizinhos, no
trabalho, no ambiente de estudos... Ao narrarmos as alegrias e os
problemas cotidianos, o jogo com os amigos, a cena de um filme,
estamos constantemente contando histórias. Mas pensar artisticamente
a Contação de Histórias exige dedicação ao estudo, ao diálogo, à
escuta (pois o bom contador de histórias é, antes de tudo, um bom
ouvinte) que repertorie cada vez mais esse contar, ampliando o
conhecimento do Contador e permitindo sua atuação com maior
segurança e desenvoltura com variados tipos de público. Afinal, todos
gostam de uma boa história, seja criança, jovem, adulto, idoso... se a
história é boa, TODOS param para ouvir.
Ao contar, é preciso pensar o tom de voz com que faremos uso
(impondo maior delicadeza, humor ou dramaticidade a fala). Pois a fala é
o elemento essencial ao Contador de Histórias. A voz expressa o
Contador, pois revela ideias e mensagens muito mais amplas que a
própria palavra, ao permitir a compreensão quanto ao que se quer dizer
(com força, delicadeza, sutileza, alegria, espanto...).
O tom de voz que utilizamos reflete muito nossa personalidade, somos
capazes de moldá-la a diferentes necessidades e personagens. No
entanto, devemos ter o cuidado de não imprimir através da voz uma
personalidade irreal tanto a personagens como a nós mesmos, para que
não nos tornemos reféns de imagens e estereótipos que nada
acrescentam à contação. A ideia de que para atingir as crianças através
da narrativa deve-se imprimir uma infantilização excessiva à fala deve ser
repensada. Crianças são muito inteligentes e percebem com clareza
quando não são tratadas com essa compreensão.
Além da voz, pode-se pensar o uso do corpo e de objetos (não
necessariamente se deve), na tentativa de nos expressarmos com maior
desenvoltura e segurança, pois os movimentos que realizamos e os
objetos que utilizamos podem ser importantes formas de apoio para
gravar a narrativa e reproduzi-la com maior eficácia seguindo o
direcionamento dado por gestos ou objetos. Bater palmas, estalar os
dedos, estabelecer expressões faciais e dispor de objetos sonoros ou
com movimento (como fitas e tecidos por exemplo) podem direcionar o
olhar do ouvinte (e consequentemente sua atenção) e auxiliar o contador
na memorização das partes da narrativa.
E como gravar, como ter segurança para contar uma história sem
depender do apoio do texto escrito? Meus anos de narração levaram-
me a pensar em três pontos centrais para compreender e contar uma
história sem depender de apoio textual:
● Personagens: É preciso ter clareza sobre quais são as principais
personagens das histórias e sua função na narrativa;
● Enredo: É preciso entender qual é o enredo central da história (a
busca das personagens principais);
● Desfecho: É preciso compreender qual é o desfecho da narrativa,
pensando a busca das personagens principais (se ela foi atendida
ou não).
Tendo em mente esses três elementos centrais, seremos capazes de
narrar qualquer história, pois os detalhes que fazem referência a lugares,
a personagens secundários, a cenas que não são de fato prioritárias
para a compreensão da história, podem ser ditos com riqueza de
detalhes ou não, pois não alterarão o sentido da narrativa.

Cada contador vai aos poucos percebendo a sua forma pessoal de


organizar o texto da narrativa em sua memória, mas ao meu ver,
escrever esses tópicos (e outros que considerem prioritários) e realizar
sua leitura em voz alta ou ainda gravar-se contando para ouvir-se e
assim perceber aspectos positivos e negativos na fala corrigindo-os
posteriormente, são exercícios auxiliadores nesse processo de
compreensão de si próprio como Contador de Histórias e de
memorização dos textos que almejam contar.
O uso de objetos pode constituir uma importante ferramenta de auxílio
nesse contar, especialmente em tempos de completa dificuldade
imaginativa, quando o pensamento simbólico é tão pouco explorado e o
pensar de grande parte das pessoas (mesmo crianças muitas vezes) é
tão concreto. No entanto, o foco deve ser sempre a história, o objeto
não deve sobressair-se a ela, esvaindo-a. O objeto deve ser
complementar, um apoio, que está presente para auxiliar o ouvinte em
seu percurso ao local mágico onde se queira chegar...
Nesse sentido, qualquer objeto pode ser ressignificado, e cada
Contador ao aprimorar seu olhar vai passando a ter naturalmente essa
percepção. De repente você se pega admirando um ralador em sua
cozinha e pensando que talvez ele possa ser um eficiente porco-
espinho, que aquela garrafa de vinho seja um foguete prestes a voar, ou
ainda que aquele vidro de perfume antigo tenha a imponência de um
rei...

Contar Histórias é possível a todos, e esse é um apanhado mínimo de


reflexões sobre como pensar essa prática tão cheia de encanto e
significado.
Algumas sugestões de literatura que podem auxiliá-lo em
sua compreensão sobre a Contação de Histórias:

A arte de contar histórias


Walter Benjamim
Editora Hedra

A arte de encantar: O contador contemporâneo e seus olhares


Fabiano Moraes e Lenice Gomes (Orgs.)
Editora Cortez
Conto e reconto: Das fontes à invenção
Vera Teixeira de Aguiar e Alice Áurea Penteado Martha (Orgs.)
Editora Cultura Acadêmica

Encontros com o Griot Sotigui Kouyaté


Isaac Bernat
Editora Pallas

A psicanálise dos contos de fadas


Bruno Bettelheim
Editora Paz e Terra
Fadas no divã: Psicanálise nas histórias infantis
Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso
Editora Artmed

O conto dos contos: Pentameron ou O entretenimento dos pequeninos


Giambattista Basile
Editora Nova Alexandria

Contos completos
Irmãos Grimm, trad. Teresa Aica Bairos
Editora Temas e Debates
Livro das mil e uma noites
Anônimo, trad. Mamede Mustafa Jarouche
Editora Biblioteca Azul

Contos tradicionais do Brasil


Luís da Câmara Cascudo
Editora Global

O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis


Thomas Bulfinch
Editora Ediouro
Volta ao mundo em 80 mitos
Rosana Rios
Editora Artes e Ofícios

Do Olimpo a Camelot. Um panorama da mitologia europeia


David Leeming
Editora Zahar

As mais belas lendas da Idade Média


Laurence Camiglieri, Marcelle Huisman e Georges Huisman
Editora Martins Fontes
Mitologia dos orixás
Reginaldo Prandi
Editora Companhia das Letras

As melhores histórias da mitologia africana


A.S. Franchini e Carmen Seganfredo
Editora Artes e Ofícios

Mitologia indígena
Luiz Galdino
Editora Nova Alexandria
Contos e fábulas do Brasil
Marco Haurélio
Editora Nova Alexandria

Histórias contadas nas aulas:

Mazanendaba, extraído do livro Histórias da África, de Gcina Mhlophe.

A velha que vivia dentro de uma garrafa de vinagre, extraído do livro A menina do
capuz vermelho e outras histórias de dar medo, de Angela Carter

A Fome do Lobo, de Cláudia Maria de Vasconcelos.


CONTATOS
@ATABALEITURAEMREDE @katita_conta_contos

DANIELA@ATABA.COM.BR ondeestakatita@yahoo.com.br

ATABA.COM.BR katitacontacontos.com.br

A Taba Kátia Cristina de Freitas


AULAS
AULA 1: https://www.youtube.com/watch?v=PFoE5pDLNc4&feature=youtu.be

AULA 2: https://www.youtube.com/watch?v=6PY5VDmf9_U

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