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Por outro lado, de acordo com um artigo da Revista Veja (FLORES..., 1996, p. 72-73),
o futebol feminino teve seu início em jogos organizados por diferentes boates gays no
final dos anos 70. Além disso, o jornal (BRASIL..., 1996, p.5) destaca que o início do
futebol feminino no país foi associado a jogos informais de rua e a eventos beneficentes.
Por exemplo, eles mencionam uma partida beneficente realizada em 1959 por atrizes do
teatro de revista no estádio do Pacaembu.
De fato, o futebol feminino organizado teve início nos anos 80. De acordo com Salles et
al. (1996), informações indicam que a primeira liga de futebol feminino do Estado do
Rio de Janeiro foi estabelecida em 1981. Desde então, diversos campeonatos foram
patrocinados por empresas, tais como o I Campeonato de Praia Feminino do Rio de
Janeiro-Copertone Open de Futebol Feminino, I Torneio de Futebol Society Feminino –
Casas Pernambucanas, I Copa Regine's Cinzano de Futebol Feminino e Copa Unibanco
de Futebol Feminino. Assim sendo, é inviável separar o início do futebol feminino dos
investimentos realizados por entidades privadas no esporte.
Eu sempre fui muito sapeca. Gostava de subir em árvores, eu era muito ativa
e geralmente as meninas de meu tempo eram "paradas", não gostavam de
correr, de brincar e geralmente quem fazia estas coisas eram os meninos,
principalmente a nível de escola. Eu sempre ficava com os meninos
brincando, jogava com meus irmãos, meus primos e as meninas ficavam
brincando de boneca e casinha. Isto não me interessava. Eu adorava fazer
tudo o que tinha vontade (TODARO, 1997, p. 44).
O depoimento na verdade revela os desejos e habilidades presentes em cada indivíduo,
que muitas vezes são impedidos de se expressar devido aos estereótipos de gênero.
A prática do futebol foi afetada pela exclusão histórica das mulheres devido à
normatividade de gênero, que estabeleceu diferenças entre a prática esportiva feminina e
masculina. As mulheres tiveram uma experiência esportiva muito diferente dos homens,
e o futebol ficou restrito como um espaço exclusivamente masculino, refletindo os
aspectos socioculturais e os valores associados a eles na época. (BROCH, 2021, p. 700).
O futebol feminino recebe muito menos incentivo tanto institucional quanto social, e em
alguns casos, nenhum. Além das jogadoras, outras mulheres envolvidas na atividade,
como árbitras, dirigentes e repórteres esportivas, enfrentam violência expressa através
do machismo, em um meio que historicamente foi dominado por homens. Infelizmente,
as torcedoras também são afetadas direta ou indiretamente por essas agressões.
O futebol é um ambiente que ainda perpetua o machismo, o que torna necessária uma
discussão acerca do seu simbolismo. Infelizmente, muitos preconceitos como o
sexismo, o racismo, a homofobia e a xenofobia são expressos através do esporte,
refletindo a existência dessas formas de discriminação enraizadas na sociedade. Esses
preconceitos têm um impacto extremamente negativo na coexistência humana e,
portanto, é importante que o esporte seja utilizado como instrumento de inclusão social
e luta contra a violência e discriminação. (MANERA e CARVALHO 2018, p. 5).
Qual é a razão para essa disparidade? É um ciclo vicioso, onde há falta de investimento
resulta em falta de visibilidade, e a falta de visibilidade resulta em falta de investimento.
Os líderes do futebol não dão ao futebol feminino a mesma atenção que dão ao
masculino, a maioria das empresas não apoiam as jogadoras e apenas alguns jogos são
cobertos pela mídia. Essa falta de apoio cria uma barreira para as mulheres que desejam
jogar futebol no Brasil, e as tabelas demonstram as consequências disso.
De acordo com o site (O GLOBO, 2021) um estudo realizado pela revista "France
Football" em 2019, que destacava os maiores salários do futebol mundial, evidenciou a
disparidade salarial entre jogadoras e jogadores. A lista mostrou que os cinco maiores
salários no futebol feminino somam €1,79 milhões, cerca de R$7,7 milhões. Essa
quantia representa menos de 10% do salário do quinto jogador mais bem pago, Gareth
Bale, que recebe €40,2 milhões, o equivalente a cerca de R$175 milhões.
Nos últimos anos, tem sido possível perceber um aumento da prática do futebol entre as
mulheres no Brasil, bem como uma maior visibilidade midiática dessa participação,
especialmente após a conquista do quarto lugar nas Olimpíadas de Atlanta e, mais
recentemente, com a medalha de prata conquistada pelas atletas em Atenas.
Não seria realista esperar que a mídia trate homens e mulheres de forma igual no que se
refere ao futebol. A crítica à parcialidade dos meios de comunicação em relação ao
gênero é recorrente quando se estuda a relação entre mídia e esporte, como apontado
por Mourão e Morel (2005). Autores como Sterkenburg e Knoppers (2004), Coakley
(2004) e Knoppers e Elling (2004) reforçam que o esporte, por meio da mídia, é
predominantemente representado por homens brancos. Uma realidade que não é
exclusiva da nossa cultura, pois:
A história do esporte mostra que a atividade esportiva foi vista como um símbolo de
força, poder e músculo, sendo considerada uma atividade exclusivamente masculina.
Essa visão fez com que as mulheres fossem poupadas de um possível processo de
masculinização e, consequentemente, não participassem do mundo esportivo da mesma
forma que os homens. Como resultado, observamos a pouca participação feminina no
esporte e um tratamento desigual por parte da mídia em relação aos homens.