Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ETEC SEBRAE
3º ENSINO MÉDIO - ÊNFASE EM LINGUAGENS, CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
O FUTEBOL FEMININO
A VALORIZAÇÃO DO ESPORTE FEMININO DE 1940 A 2023
SÃO PAULO
2023
GEOVANI APARECIDO SOUZA DA SILVA
HEITOR ANDRADE LOPES DE BARROS
HELOISA SOUZA BRASIL
MANUELA LANZA LIVERARO MOURA
O FUTEBOL FEMININO
A VALORIZAÇÃO DO ESPORTE FEMININO DE 1940 À 2023
SÃO PAULO
2023
Esse trabalho é em homenagem à Nogueira,
Santos, Costa, Motta, Marinho, Rego, Belo,
Amor, S. Oliveira, Feitosa e Silva.
Primeiras mulheres a
Além de todos que direta ou indiretamente fizeram parte de nossa formação, o nosso muito
obrigado.
RESUMO
O presente trabalho tem como função demonstrar a valorização do Futebol Feminino ao longo
das décadas de 1990 até atualmente, com recorte no Estado de São Paulo. Para tanto, foi
utilizado como metodologia a coleta de dados estatísticos e a análise de documentos históricos
disponíveis publicamente, a partir da análise de tais documentos e dados pudemos observar a
evolução e a importância do Futebol Feminino no âmbito social paulista.
RESUMEN
El objetivo de este trabajo es mostrar cómo se ha valorado el fútbol femenino desde la década de
1990 hasta la actualidad, centrándose en el estado de São Paulo. Para ello, el método utilizado
fue la recopilación de datos estadísticos y el análisis de documentos históricos de acceso público.
Mediante el análisis de estos documentos y datos, pudimos observar la evolución y la
importancia del fútbol femenino en la esfera social de São Paulo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
No dia 24 de julho de 2023, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino entrou em campo contra o
Panamá, em jogo válido pela Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2023, sediada na
Austrália. Neste dia a maior audiência da história da seleção brasileira foi registrada, com uma
média de 16 pontos PNT*, onze milhões de pessoas acompanharam o desfile das comandadas
por Pia Sundhage, que golearam as panamenhas por 4x0. Esse seria o único triunfo canarinho na
edição de 2023.
Dias depois, frente a Jamaica, veio a dolorosa eliminação Brasileira após o empate em 0x0,
Rainha Marta, principal jogadora da seleção e que estava em sua última Copa do Mundo chorou
profundamente pela derrota. Após esse acontecimento, nós, idealizadores deste trabalho,
começamos a nos perguntar o que havia por trás desse choro. Durante 4 meses, nos debruçamos
sobre arquivos, relatos e documentos históricos para entender o peso que aquela seleção
carregava, e como várias gerações de mulheres lutaram para que esse sonho de jogar um mundial
fosse possível.
Falar de futebol feminino na sociedade atual é de extrema importância, desde 2019, todos os
clubes que quiserem disputar a Copa Libertadores da América são obrigados a investir em suas
modalidades femininas, por isso debater o futebol feminino, com tantos clubes novos surgindo
no cenário nacional, se torna uma necessidade, ao ponto de não deixar que a modalidade seja
esquecida, e os departamentos de futebol sejam jogados ao ostracismo. Com a realidade do
futebol feminino mudando, é um dever social garantir que a carreira das futuras jogadoras seja
possível.
*PNT é o Painel Nacional de Televisão, que mede a audiência em 15 regiões metropolitanas do
Brasil, cada ponto equivale a 268.083 domicílios ou 717.088 indivíduos.
Diferentemente do futebol Masculino, que era um jogo da alta sociedade Brasileira, o futebol
feminino foi primeiramente adotado pelas mulheres das classes mais baixas e que estavam
ligadas ao trabalho industrial.
No começo do século, houve os primeiros jogos entre homens e mulheres no Brasil. Em 1921
ocorreu a partida entre Tremembé e Cantareira na Zona Norte da Cidade de São Paulo, primeira
partida registrada no país.
Décadas depois, o Araguari Atlético Clube, primeiro time feminino de futebol no Brasil foi
fundado no ano de 1944. Em 1958 houve uma crise financeira em um dos tradicionais colégios
da cidade e a forma idealizada para arrecadar fundos foi uma partida entre mulheres. Depois de
algumas "peneiras", o Araguari selecionou vinte e duas meninas entre doze e dezoito anos e após
vários treinos, o jogo entre as duas equipes da cidade aconteceu em dezembro de 1958. Como o
Fluminense, de Araguari, não formou uma equipe, onze garotas do Araguari vestiram a camisa
adversária para a realização do jogo beneficente. O sucesso foi grande que a revista O Cruzeiro
fez matéria de capa sobre o acontecimento, pois, até então, partidas femininas só ocorriam em
circos ou jogos de futsal. Com o sucesso do jogo e a divulgação da revista, houve, nos meses
seguintes, vários jogos do time feminino do Araguari em cidades de Minas Gerais, incluindo
Belo Horizonte, e em Goiânia e Salvador. Em meados de 1959, a equipe feminina do Araguari
foi desfeita, por pressão dos religiosos de Minas Gerais
Com a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminina em 1991 sediada na China, a CBF,
que já não tinha times nacionais bem estruturados, “recrutou” algumas jogadoras para
defender o país. Entretanto, a eliminação da seleção ocorreu logo na primeira fase. Deste
modo, a prática do esporte que já era mínima e discriminada, reforçou a não ocorrência
de campeonatos dentro do próprio país. Assim, para aquelas que ansiavam pela
profissionalização, seus sonhos pareciam cada vez mais distantes.
O campeonato brasileiro voltou a ser realizado em 1994 e entre os times campeões estão,
majoritariamente, times dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, logo que a estrutura
de profissionalização destas equipes iniciou a ser mais bem elaborada nesta época.
Com o acontecimento da segunda Copa do Mundo de Futebol Feminina (1995), desta vez
sediada na Suécia, foi visto novamente a seleção brasileira sendo eliminada logo na
primeira fase. A revista Placar de agosto de 1995 abordou tal acontecimento como
resposta à desorganização e ao amadorismo da modalidade, como mostra o título da
matéria: “Esquema amador: quando o assunto é desorganização, as meninas não devem
nada aos homens” (PLACAR, agosto de 1995, p. 34).
Apesar do futebol feminino ter evoluído em vista a sociedade brasileira, aas adjetivações
normativas sobre seus corpos ainda se mantiveram presentes. Como forma de vender
outra imagem do futebol feminino, foram criados nos anos 90, equipes de futebol
feminino formados por modelos. Deste modo, era proibido que jogadoras federadas,
embora esteticamente belas, fizessem parte das equipes das chamadas “As adoráveis
Pernas de Pau” (PLACAR, novembro de 1995, p.24), já que a espetacularização dos
corpos era mais importante do que a prática do futebol.
AGOSTO DE 1995
FIGURA 3 - CAPA DA REVISTA PLACAR
SETEMBRO DE 1996
Seguindo nessa abordagem, enfatizamos que a revista Placar assume uma nova linha
editorial a partir da década de 1990, mais propriamente no ano de 1995 que tem como
slogan “Futebol, Sexo e Rock’n roll” e é destinada ao público masculino. Nessa nova
fase, a temática futebol feminino é abordada de diferentes formas, separando jogadoras
esteticamente bonitas, ou as modelos das jogadoras com melhor desempenho esportivo
ou ainda assuntos sobre a Seleção Feminina de Futebol.
Tais apontamentos nos remetem ao entendimento de que as ações reais, cotidianas, fora
do contexto da revista também se utilizavam dessa separação para entender o futebol
feminino da época, ou seja, beleza e habilidade física eram vistas como dicotômicas no
espaço do futebol feminino.
Apesar das críticas iniciais e do persistente viés sexista, o futebol feminino gradualmente
ganhou aceitação. As jogadoras, motivadas pela paixão e buscando uma prática esportiva
de lazer e cuidado com o corpo, começaram a desafiar as normas de feminilidade no
espaço do futebol. O ápice da década foi o Mundial de Futebol Feminino em 1999, nos
Estados Unidos, onde a equipe brasileira conquistou o terceiro lugar, gerando nova
emoção e reconhecimento para o esporte. Esse período representou um avanço marcante
na trajetória do futebol feminino no Brasil, superando obstáculos e consolidando
sua importância.
Após o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1999, o futebol feminino foi impulsionado e
vários times voltaram a investir nos seus departamentos femininos. Nesse momento, o
melhor time paulista era a Ferroviária, que havia iniciado os trabalhos do time feminino
em 2001. Após a seleção brasileira conquistar a medalha de Ouro do Pan- 2003 em São
Domingues, a FPF viu vantagem em reabilitar o campeonato estadual Paulista e
contribuir na organização de um campeonato Nacional. 4 anos depois, já distante do auge
vivido em 2003-2006 a Ferroviária deu lugar ao Botucatu que participou da primeira
edição da Copa do Brasil. Campeonato criado após a conquista do Pan 2007 no Rio de
Janeiro para substituir a Taça Brasil, campeonato até então amador, a Copa do Brasil era
um simples torneio entre os mais bem colocados dos campeonatos estaduais, e teve o
Botucatu como Vice-campeão. Os paulistas só conquistaram o país pela primeira vez no
ano seguinte, em que o Santos emendou um bicampeonato nas temporadas de 2008 e
2009. No mesmo ano, o futebol Paulista viu o furacão Marta pela primeira e até hoje
única vez, recém-eleita melhor jogadora do mundo, Marta foi emprestada ao Santos por 4
meses e ajudou o clube a conquistar a Primeira Edição da Copa Libertadores da América.
O Futebol Paulista também foi importante na composição da Seleção Brasileira Vice-
campeã da Copa do Mundo de 2007 e das Seleções Medalha de Prata em 2004 e 2008. O
destaque das convocações foi para a atacante Cristiane Rozeira, revelada pelo Juventus
da Mooca, que se tornou a dupla de ataque com a Rainha Marta por mais de uma década.
Enquanto o sonho de se tornar atleta profissional está presente na vida de 63,8% dos
meninos brasileiros, apenas 34% das meninas compartilham do mesmo objetivo. A
pesquisa revelou os desafios enfrentados pelas mulheres no esporte e ressalta a
importância de ressignificar a narrativa para ampliar o reconhecimento e a
representatividade feminina nesse meio.
A pesquisa revela o "clichê da protagonista" como um problema no reconhecimento das
mulheres no esporte. No futebol, enquanto 87% se lembram de Marta, apenas 17%
mencionam Cristiane Rozeira e 5% lembram-se de Megan Rapinoe.
Por outro lado, no cenário masculino, o público consegue citar escalações completas.
Esse problema é ainda mais desafiador quando os documentários esportivos enfocam
apenas uma atleta de destaque, enquanto documentários sobre times de futebol enfatizam
o coletivo no esporte masculino.
Uma narrativa defasada em relação ao interesse das mulheres que veem o esporte como
uma atividade e um entretenimento coletivo. Segundo a pesquisa, 23% das mulheres
veem o esporte como uma forma de socialização, com 25% assistindo a partidas junto a
outros torcedores entusiastas e 20% das mulheres conversam sobre temas relacionados ao
esporte com amigos próximos.
De acordo com os dados, 42% da população acredita que as atletas de futebol feminino
são excessivamente masculinizadas. Ou seja, na visão do público, as mulheres são vistas
apenas nos extremos da hiper sexualização ou masculinização dos corpos, o que impacta
diretamente na autoimagem das praticantes.
Além disso, 61% dos brasileiros concordam que as mulheres sofrem mais pressão do que
os homens para manter um físico de atleta, enquanto apenas 7% das entrevistadas
afirmam ter um corpo de atleta. Portanto, mesmo quando as mulheres estão no esporte,
elas são obrigadas a escolher entre esses dois extremos. No entanto, 76% das mulheres
não se identificam com o estereótipo e acreditam que existem diversas opções para os
corpos das atletas. Quando o esporte é acolhedor para corpos diversos, as mulheres têm a
liberdade de praticá-lo com seus corpos. Isso permite uma nova relação com o esporte,
promovendo saúde mental, bem-estar e autoestima.
4.1 Investimento
Em 2020, a pandemia acabou trazendo à tona a questão. Os jogos foram paralisados por
conta do lockdown e do distanciamento social necessário, e na época, Andressa Alves
(Roma e seleção brasileira) disse que o retorno do feminino dependia da volta do
masculino, justamente por conta da diferença de investimentos.
4.2 Campeonatos
2013, a CBF lança o Brasileirão Feminino, com 20 clubes na primeira edição.
2015, a seleção brasileira conquista novamente o ouro, no Pan do Canadá.
2019, é a vez dos clubes: a Fifa e a Conmebol obrigam clubes que desejam
disputar a Libertadores e a Sul-Americana no masculino a terem também times
femininos.
2022, a Neoenergia entra em campo com a seleção para ajudar a modalidade a
chegar ao próximo nível. O campeonato nacional passa a se chamar Brasileirão
Feminino Neoenergia.
2023, final do Brasileirão Feminino Neoenergia registrou o maior público da
história do futebol feminino no Brasil, com mais de 41 mil torcedores na Neo
Química Arena para ver a partida entre Corinthians e Internacional.
Brasileirão Feminino Neoenergia: O Campeonato Brasileiro Feminino foi criado
em 2023 pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com a participação das
20 equipes mais bem classificadas no ranking da entidade. Em 2017, a fórmula foi
alterada e se estabeleceu uma primeira divisão da categoria, formada por 16
clubes e uma série A2, também com 16 times. A partir de 2019, com a decisão da
Conmebol em obrigar equipes masculinas a manter times femininos em atividade
para disputar suas competições, o campeonato passou a contar com a participação
de clubes tradicionais do país, atraindo a atenção da torcida e da mídia.
Em 2021, a Neoenergia celebrou um acordo histórico com a CBF e se tornou a
patrocinadora oficial da competição, que passou a se chamar Brasileirão Feminino
Neoenergia. A empresa também passou a patrocinar exclusivamente a Seleção
Brasileira de Futebol Feminino.
FIGURA 5
FIGURA 6
4.7 Premiações
Após meses debruçados sobre esse tema, nos deparamos com a cena do trem sentido Luz cheio
de pessoas usando camisetas da seleção brasileira na Linha 4-Amarela, os passageiros voltavam
do jogo da seleção entre Brasil e Japão, derrota dolorida por 2x0, mas que deixou os torcedores
felizes, já que pela primeira vez eles puderam assistir a seleção de perto, sabendo a escalação de
cor. Uma cena simples, mas muito bonita, onde pudemos ver a maior qualidade do futebol
feminino brasileiro, a resiliência.
Embora o símbolo da nossa seleção hoje seja o famoso “Canarinho Pistola”, o animal fictício que
realmente representa nossas mulheres do futebol deveria ser a Fênix, animal mitológico
conhecido por queimar e renascer das suas próprias cinzas. No processo deste trabalho,
percebemos que o futebol feminino tem uma habilidade de renascer, que mesmo após ser
reprimido, ele tem a capacidade de ressurgir nos ambientes mais inóspitos.
A verdade é que esse esporte é alimentado pela paixão eterna do brasileiro pelo futebol, e que
esse esporte está fadado ao sucesso, e nossas jogadoras fadadas a serem sempre aos melhores do
mundo. Devemos cuidar do futebol feminino, tal qual cuidamos da contraparte masculina, e que
vejamos nossa seleção florescer entre as glórias que já parecem escritas para ela no livro do
destino do futebol.
É um dever cívico cobrar clubes e associações pela modalidade feminina, pois só assim ela se
tornará concreta e as atletas poderão se estabilizar e mudar suas realidades através do esporte,
razão maior pela qual eles são praticados.
REFERÊNCIAS
CARMONA, L.; POLL, G. Almanaque do futebol. Casa da Palavra: COB. Rio de Janeiro, 2006.
MOURÃO, L. Representação social da mulher brasileira nas atividades físico desportivas: da segregação
à democratização. Movimento, n 13, p. 5-18, 2000.
SALVINI, L. Novo Mundo Futebol Clube e o “velho mundo” do futebol: considerações sociológicas
sobre o habitus esportivo de jogadoras de futebol. Dissertação (Mestrado em Educação Física).
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.
VALPORTO, O. Atleta, substantivo feminino: vinte mulheres brasileiras nos jogos olímpicos. Casa da
Palavra, Rio de Janeiro, 2006