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CENTRO PAULA SOUZA

ETEC SEBRAE
3º ENSINO MÉDIO - ÊNFASE EM LINGUAGENS, CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

GEOVANI APARECIDO SOUZA DA SILVA


HEITOR ANDRADE LOPES DE BARROS
HELOISA SOUZA BRASIL
MANUELA LANZA LIVERARO MOURA

O FUTEBOL FEMININO
A VALORIZAÇÃO DO ESPORTE FEMININO DE 1940 A 2023

SÃO PAULO
2023
GEOVANI APARECIDO SOUZA DA SILVA
HEITOR ANDRADE LOPES DE BARROS
HELOISA SOUZA BRASIL
MANUELA LANZA LIVERARO MOURA

O FUTEBOL FEMININO
A VALORIZAÇÃO DO ESPORTE FEMININO DE 1940 À 2023

Trabalho solicitado pela professora Marly Aparecida Peres,


do componente de Língua Portuguesa para composição da
menção do 4° Bimestre do Ano Letivo de 2023.

Orientadora: Professora Marly Aparecida Peres

SÃO PAULO
2023
Esse trabalho é em homenagem à Nogueira,
Santos, Costa, Motta, Marinho, Rego, Belo,
Amor, S. Oliveira, Feitosa e Silva.

Primeiras mulheres a

vestirem a camisa da seleção brasileira de


maneira oficial, em 1988
AGRADECIMENTOS

Com este trabalho gostaríamos de agradecer principalmente à instituição educacional, seus


devidos departamentos e a orientadora supracitadas pelo apoio e incentivo.

Além de todos que direta ou indiretamente fizeram parte de nossa formação, o nosso muito
obrigado.
RESUMO

O presente trabalho tem como função demonstrar a valorização do Futebol Feminino ao longo
das décadas de 1990 até atualmente, com recorte no Estado de São Paulo. Para tanto, foi
utilizado como metodologia a coleta de dados estatísticos e a análise de documentos históricos
disponíveis publicamente, a partir da análise de tais documentos e dados pudemos observar a
evolução e a importância do Futebol Feminino no âmbito social paulista.
RESUMEN

El objetivo de este trabajo es mostrar cómo se ha valorado el fútbol femenino desde la década de
1990 hasta la actualidad, centrándose en el estado de São Paulo. Para ello, el método utilizado
fue la recopilación de datos estadísticos y el análisis de documentos históricos de acceso público.
Mediante el análisis de estos documentos y datos, pudimos observar la evolución y la
importancia del fútbol femenino en la esfera social de São Paulo.
SUMÁRIO

 INTRODUÇÃO

1. O INÍCIO DO FUTEBOL FEMININO BRASIBRASILEIRO: CONTEXTO


HISTÓRICO
1.1 A censura da prática esportiva e a construção do amor pelo Futebol;
1.2 O combate aos desafios sociais e o início dos jogos.

2. O FUTEBOL FEMININO BRASILEIRO NOS ANOS 90


2.1 O Cenário pós-revogação do Decreto - “O Esquema Amador”;
2.2 "As adoráveis pernas de pau" – A Espetacularização do corpo feminino;
2.3 A conquista através do campo.

3. O FUTEBOL PAULISTA NA DÉCADA 2000 À 2010

4. O FUTEBOL FEMININO ATUALMENTE


4.1 Investimento;
4.2 Campeonatos;
4.3 Quem venceu mais?;
4.4 Transmissão e cobertura;
4.5 Condições de trabalho;
4.6 O enfrentamento do preconceito e o respeito às esportistas;
4.7 Premiações.

 CONCLUSÃO

 REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO

No dia 24 de julho de 2023, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino entrou em campo contra o
Panamá, em jogo válido pela Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2023, sediada na
Austrália. Neste dia a maior audiência da história da seleção brasileira foi registrada, com uma
média de 16 pontos PNT*, onze milhões de pessoas acompanharam o desfile das comandadas
por Pia Sundhage, que golearam as panamenhas por 4x0. Esse seria o único triunfo canarinho na
edição de 2023.

Dias depois, frente a Jamaica, veio a dolorosa eliminação Brasileira após o empate em 0x0,
Rainha Marta, principal jogadora da seleção e que estava em sua última Copa do Mundo chorou
profundamente pela derrota. Após esse acontecimento, nós, idealizadores deste trabalho,
começamos a nos perguntar o que havia por trás desse choro. Durante 4 meses, nos debruçamos
sobre arquivos, relatos e documentos históricos para entender o peso que aquela seleção
carregava, e como várias gerações de mulheres lutaram para que esse sonho de jogar um mundial
fosse possível.

Falar de futebol feminino na sociedade atual é de extrema importância, desde 2019, todos os
clubes que quiserem disputar a Copa Libertadores da América são obrigados a investir em suas
modalidades femininas, por isso debater o futebol feminino, com tantos clubes novos surgindo
no cenário nacional, se torna uma necessidade, ao ponto de não deixar que a modalidade seja
esquecida, e os departamentos de futebol sejam jogados ao ostracismo. Com a realidade do
futebol feminino mudando, é um dever social garantir que a carreira das futuras jogadoras seja
possível.
*PNT é o Painel Nacional de Televisão, que mede a audiência em 15 regiões metropolitanas do
Brasil, cada ponto equivale a 268.083 domicílios ou 717.088 indivíduos.

1. O INÍCIO DO FUTEBOL FEMININO BRASILEIRO: CONTEXTO HISTÓRICO


1.1 A censura da prática esportiva e a construção do amor pelo Futebol
Diferentemente do feito em outros países, o governo brasileiro proibiu a prática do
esporte como um todo, em forma de decreto, durante o governo de Getúlio Vargas, em
1941. Essa proibição se deu devido ao aumento da popularidade do futebol feminino
durante as décadas de 30 e 40.
Segundo o Artigo 54 do decreto dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de
desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”.
Assim como os ingleses, o governo brasileiro considerou a prática do esporte prejudicial
à fertilidade feminina.
Apesar das dificuldades, algumas mulheres, apaixonadas pelo esporte, se mostravam
resistentes e, na tentativa de burlar as leis, se vestiam como homens para jogar.
A sociedade altamente conservadora da época repudiava a prática e defendia que homens
e mulheres deveriam desempenhar diferentes papéis.
A história do futebol feminino no Brasil foi construída à base de resistência e amor pelo
esporte. O decreto perdurou por 38 anos e o futebol feminino só foi legalizado, no
Brasil, em 1979.
FIGURA 1 - JORNAL NO MUSEU DO FUTEBOL EM SÃO PAULO
1.2 O combate aos desafios sociais e o início dos jogos

Diferentemente do futebol Masculino, que era um jogo da alta sociedade Brasileira, o futebol
feminino foi primeiramente adotado pelas mulheres das classes mais baixas e que estavam
ligadas ao trabalho industrial.

No começo do século, houve os primeiros jogos entre homens e mulheres no Brasil. Em 1921
ocorreu a partida entre Tremembé e Cantareira na Zona Norte da Cidade de São Paulo, primeira
partida registrada no país.

Décadas depois, o Araguari Atlético Clube, primeiro time feminino de futebol no Brasil foi
fundado no ano de 1944. Em 1958 houve uma crise financeira em um dos tradicionais colégios
da cidade e a forma idealizada para arrecadar fundos foi uma partida entre mulheres. Depois de
algumas "peneiras", o Araguari selecionou vinte e duas meninas entre doze e dezoito anos e após
vários treinos, o jogo entre as duas equipes da cidade aconteceu em dezembro de 1958. Como o
Fluminense, de Araguari, não formou uma equipe, onze garotas do Araguari vestiram a camisa
adversária para a realização do jogo beneficente. O sucesso foi grande que a revista O Cruzeiro
fez matéria de capa sobre o acontecimento, pois, até então, partidas femininas só ocorriam em
circos ou jogos de futsal. Com o sucesso do jogo e a divulgação da revista, houve, nos meses
seguintes, vários jogos do time feminino do Araguari em cidades de Minas Gerais, incluindo
Belo Horizonte, e em Goiânia e Salvador. Em meados de 1959, a equipe feminina do Araguari
foi desfeita, por pressão dos religiosos de Minas Gerais

2. O FUTEBOL FEMININO BRASILEIRO NOS ANOS 90


2.1 O Cenário pós-revogação do Decreto - “O Esquema Amador”
Após a revogação do Decreto nos anos 70, algumas reportagens foram veiculadas nos
meios de comunicação, principalmente por uma das maiores e mais antigas revistas
esportivas que abordam o tema futebolístico, Radar. Em geral, as menções sobre o
esporte feminino eram voltadas para a prática do esporte em vista à sua permissibilidade
e a equidade de gênero.

De acordo com Carmona e Poll (2006), em 1990 a Confederação Brasileira de Futebol


(CBF) passou a apoiar o futebol feminino, mas ainda assim, os campeonatos estaduais e
regionais eram limitados. Nessa época, o regulamento para as mulheres era o mesmo do
futebol masculino.

Com a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminina em 1991 sediada na China, a CBF,
que já não tinha times nacionais bem estruturados, “recrutou” algumas jogadoras para
defender o país. Entretanto, a eliminação da seleção ocorreu logo na primeira fase. Deste
modo, a prática do esporte que já era mínima e discriminada, reforçou a não ocorrência
de campeonatos dentro do próprio país. Assim, para aquelas que ansiavam pela
profissionalização, seus sonhos pareciam cada vez mais distantes.

O campeonato brasileiro voltou a ser realizado em 1994 e entre os times campeões estão,
majoritariamente, times dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, logo que a estrutura
de profissionalização destas equipes iniciou a ser mais bem elaborada nesta época.

Com o acontecimento da segunda Copa do Mundo de Futebol Feminina (1995), desta vez
sediada na Suécia, foi visto novamente a seleção brasileira sendo eliminada logo na
primeira fase. A revista Placar de agosto de 1995 abordou tal acontecimento como
resposta à desorganização e ao amadorismo da modalidade, como mostra o título da
matéria: “Esquema amador: quando o assunto é desorganização, as meninas não devem
nada aos homens” (PLACAR, agosto de 1995, p. 34).

2.2 "As adoráveis pernas de pau" – A Espetacularização do corpo feminino

Apesar do futebol feminino ter evoluído em vista a sociedade brasileira, aas adjetivações
normativas sobre seus corpos ainda se mantiveram presentes. Como forma de vender
outra imagem do futebol feminino, foram criados nos anos 90, equipes de futebol
feminino formados por modelos. Deste modo, era proibido que jogadoras federadas,
embora esteticamente belas, fizessem parte das equipes das chamadas “As adoráveis
Pernas de Pau” (PLACAR, novembro de 1995, p.24), já que a espetacularização dos
corpos era mais importante do que a prática do futebol.

Se tratando desta espetacularização, Goellner afirma que esta prática é

[...] aceita e incentivada em determinados locais sociais, é colocada sob


suspeição em outros, tais como o campo de futebol ou as arenas de lutas,
uma vez que estes espaços colocam à prova uma representação de
feminilidade construída e ancorada na exacerbação a determinados
atributos tidos como femininos, tais como a graciosidade, a harmonia das
formas, a beleza, a sensualidade e a delicadeza (GOELLNER, 2003b,
s/p).

Corroborado à estas informações, as edições da Revista Placar, visualizadas nas imagens


abaixo, comprovam esta realidade que pouco recorda os campos de futebol:

FIGURA 2 - CAPA DA REVISTA PLACAR

AGOSTO DE 1995
FIGURA 3 - CAPA DA REVISTA PLACAR

SETEMBRO DE 1996

Seguindo nessa abordagem, enfatizamos que a revista Placar assume uma nova linha
editorial a partir da década de 1990, mais propriamente no ano de 1995 que tem como
slogan “Futebol, Sexo e Rock’n roll” e é destinada ao público masculino. Nessa nova
fase, a temática futebol feminino é abordada de diferentes formas, separando jogadoras
esteticamente bonitas, ou as modelos das jogadoras com melhor desempenho esportivo
ou ainda assuntos sobre a Seleção Feminina de Futebol.

Tais apontamentos nos remetem ao entendimento de que as ações reais, cotidianas, fora
do contexto da revista também se utilizavam dessa separação para entender o futebol
feminino da época, ou seja, beleza e habilidade física eram vistas como dicotômicas no
espaço do futebol feminino.

A partir da evidenciação de que existe essa espetacularização do corpo feminino de


maneira sexualizada, as matérias consecutivas a este evento evidenciam o quanto o país
ainda está atrasado com relação à organização tanto em termos de gestão esportiva
quanto de investimento.

2.3 A conquista através do campo


Na década de 1980, o então presidente do Comitê Olímpico Internacional, Juan Antonio
Samaranch, descartou a inclusão do futebol feminino nas Olimpíadas. Somente em 1996,
em Atlanta, o esporte finalmente fez parte dos Jogos Olímpicos, impulsionando o
interesse e aumentando a representação feminina brasileira. Após revelações polêmicas
envolvendo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), esforços foram feitos para
organizar e promover a modalidade.

Apesar das críticas iniciais e do persistente viés sexista, o futebol feminino gradualmente
ganhou aceitação. As jogadoras, motivadas pela paixão e buscando uma prática esportiva
de lazer e cuidado com o corpo, começaram a desafiar as normas de feminilidade no
espaço do futebol. O ápice da década foi o Mundial de Futebol Feminino em 1999, nos
Estados Unidos, onde a equipe brasileira conquistou o terceiro lugar, gerando nova
emoção e reconhecimento para o esporte. Esse período representou um avanço marcante
na trajetória do futebol feminino no Brasil, superando obstáculos e consolidando
sua importância.

3. O FUTEBOL PAULISTA NA DÉCADA 2000 À 2010

Após o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1999, o futebol feminino foi impulsionado e
vários times voltaram a investir nos seus departamentos femininos. Nesse momento, o
melhor time paulista era a Ferroviária, que havia iniciado os trabalhos do time feminino
em 2001. Após a seleção brasileira conquistar a medalha de Ouro do Pan- 2003 em São
Domingues, a FPF viu vantagem em reabilitar o campeonato estadual Paulista e
contribuir na organização de um campeonato Nacional. 4 anos depois, já distante do auge
vivido em 2003-2006 a Ferroviária deu lugar ao Botucatu que participou da primeira
edição da Copa do Brasil. Campeonato criado após a conquista do Pan 2007 no Rio de
Janeiro para substituir a Taça Brasil, campeonato até então amador, a Copa do Brasil era
um simples torneio entre os mais bem colocados dos campeonatos estaduais, e teve o
Botucatu como Vice-campeão. Os paulistas só conquistaram o país pela primeira vez no
ano seguinte, em que o Santos emendou um bicampeonato nas temporadas de 2008 e
2009. No mesmo ano, o futebol Paulista viu o furacão Marta pela primeira e até hoje
única vez, recém-eleita melhor jogadora do mundo, Marta foi emprestada ao Santos por 4
meses e ajudou o clube a conquistar a Primeira Edição da Copa Libertadores da América.
O Futebol Paulista também foi importante na composição da Seleção Brasileira Vice-
campeã da Copa do Mundo de 2007 e das Seleções Medalha de Prata em 2004 e 2008. O
destaque das convocações foi para a atacante Cristiane Rozeira, revelada pelo Juventus
da Mooca, que se tornou a dupla de ataque com a Rainha Marta por mais de uma década.

4. O FUTEBOL FEMININO ATUALMENTE

Enquanto o sonho de se tornar atleta profissional está presente na vida de 63,8% dos
meninos brasileiros, apenas 34% das meninas compartilham do mesmo objetivo. A
pesquisa revelou os desafios enfrentados pelas mulheres no esporte e ressalta a
importância de ressignificar a narrativa para ampliar o reconhecimento e a
representatividade feminina nesse meio.
A pesquisa revela o "clichê da protagonista" como um problema no reconhecimento das
mulheres no esporte. No futebol, enquanto 87% se lembram de Marta, apenas 17%
mencionam Cristiane Rozeira e 5% lembram-se de Megan Rapinoe.

Por outro lado, no cenário masculino, o público consegue citar escalações completas.
Esse problema é ainda mais desafiador quando os documentários esportivos enfocam
apenas uma atleta de destaque, enquanto documentários sobre times de futebol enfatizam
o coletivo no esporte masculino.

Uma narrativa defasada em relação ao interesse das mulheres que veem o esporte como
uma atividade e um entretenimento coletivo. Segundo a pesquisa, 23% das mulheres
veem o esporte como uma forma de socialização, com 25% assistindo a partidas junto a
outros torcedores entusiastas e 20% das mulheres conversam sobre temas relacionados ao
esporte com amigos próximos.
De acordo com os dados, 42% da população acredita que as atletas de futebol feminino
são excessivamente masculinizadas. Ou seja, na visão do público, as mulheres são vistas
apenas nos extremos da hiper sexualização ou masculinização dos corpos, o que impacta
diretamente na autoimagem das praticantes.

Além disso, 61% dos brasileiros concordam que as mulheres sofrem mais pressão do que
os homens para manter um físico de atleta, enquanto apenas 7% das entrevistadas
afirmam ter um corpo de atleta. Portanto, mesmo quando as mulheres estão no esporte,
elas são obrigadas a escolher entre esses dois extremos. No entanto, 76% das mulheres
não se identificam com o estereótipo e acreditam que existem diversas opções para os
corpos das atletas. Quando o esporte é acolhedor para corpos diversos, as mulheres têm a
liberdade de praticá-lo com seus corpos. Isso permite uma nova relação com o esporte,
promovendo saúde mental, bem-estar e autoestima.

O terceiro capítulo da pesquisa aborda a relação entre paixão e as batalhas que as


mulheres enfrentam no esporte. Cada jogadora que entra em campo, cada profissional que
aparece na mídia, cada esportista que dedica tempo em meio a outras tarefas enfrenta
uma grande barreira social. Para as mulheres, recorrer ao esporte ainda é visto como algo
pouco natural. O estudo destaca que apenas 41% das mulheres afirmaram ter sido
incentivadas a praticar esportes durante a infância, em comparação com 63% dos
homens. Somado aos outros desafios mencionados anteriormente, a falta de incentivo
desde a infância alimenta crenças limitantes. No total, 49% das entrevistadas afirmaram
não praticar nenhum esporte. No entanto, muitas delas torcem, se emocionam e
comemoram: 78% das mulheres pretendem acompanhar os Jogos Olímpicos de 2024, um
aumento significativo em relação aos 29% de 2021.

4.1 Investimento
Em 2020, a pandemia acabou trazendo à tona a questão. Os jogos foram paralisados por
conta do lockdown e do distanciamento social necessário, e na época, Andressa Alves
(Roma e seleção brasileira) disse que o retorno do feminino dependia da volta do
masculino, justamente por conta da diferença de investimentos.

“É um investimento muito maior [no masculino], principalmente nas questões de


logística. Eles conseguem viajar em voos fretados. Essas coisas que o futebol feminino,
no Brasil, não consegue ainda oferecer. O masculino voltou porque sabemos que o
investimento é muito maior, então, por isso, eles tiveram um controle superior e uma
tranquilidade maior para jogar", explicou, em entrevista ao Estadão na época.

O futebol feminino na Europa chega a ser maior em questões financeiras e


organizacionais, e chega a atrair diversos torcedores em partidas nos estádios, em
comparação ao Brasil.

4.2 Campeonatos
 2013, a CBF lança o Brasileirão Feminino, com 20 clubes na primeira edição.
 2015, a seleção brasileira conquista novamente o ouro, no Pan do Canadá.
 2019, é a vez dos clubes: a Fifa e a Conmebol obrigam clubes que desejam
disputar a Libertadores e a Sul-Americana no masculino a terem também times
femininos.
 2022, a Neoenergia entra em campo com a seleção para ajudar a modalidade a
chegar ao próximo nível. O campeonato nacional passa a se chamar Brasileirão
Feminino Neoenergia.
 2023, final do Brasileirão Feminino Neoenergia registrou o maior público da
história do futebol feminino no Brasil, com mais de 41 mil torcedores na Neo
Química Arena para ver a partida entre Corinthians e Internacional.
 Brasileirão Feminino Neoenergia: O Campeonato Brasileiro Feminino foi criado
em 2023 pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com a participação das
20 equipes mais bem classificadas no ranking da entidade. Em 2017, a fórmula foi
alterada e se estabeleceu uma primeira divisão da categoria, formada por 16
clubes e uma série A2, também com 16 times. A partir de 2019, com a decisão da
Conmebol em obrigar equipes masculinas a manter times femininos em atividade
para disputar suas competições, o campeonato passou a contar com a participação
de clubes tradicionais do país, atraindo a atenção da torcida e da mídia.
 Em 2021, a Neoenergia celebrou um acordo histórico com a CBF e se tornou a
patrocinadora oficial da competição, que passou a se chamar Brasileirão Feminino
Neoenergia. A empresa também passou a patrocinar exclusivamente a Seleção
Brasileira de Futebol Feminino.

4.3 Quem venceu mais?

Com o título de 2021, contra o Palmeiras, o Corinthians ultrapassou a Ferroviária e se


isolou como maior campeão do Brasileirão Feminino, com três conquistas (2018, 2020 e
2021). A taça de 2022 ampliou o domínio do Timão com o tetra. A Ferroviária seque na
segunda colocação com dois títulos (2014 e 2019), enquanto outros quatro times
venceram uma vez cada (Centro Olímpico, Rio Preto, Flamengo e Santos).

4.4 Transmissão e cobertura


A Copa do Mundo não deixa de ser um grande evento. Com o passar dos anos, outros
meios de assistir aos jogos foram surgindo, com as plataformas de streaming, que agora
fazem parte do calendário da competição. Antes disso, a TV aberta era a opção para
quem queria acompanhar.
Contudo, o Mundial Feminino só foi contar com transmissão na TV aberta na última
edição do torneio, em 2019. Além disso, a cobertura das modalidades feminina e
masculina nos veículos de jornalismo esportivo também escancaram as diferenças na
modalidade, já que a maior parte das pautas é voltada para os elencos masculinos.

4.5 Condições de trabalho


De acordo com as medidas legais, agora os clubes têm que manter equipes femininas.
Embora essa ação tenha contribuído para o crescimento da modalidade no país, ainda não
resultou em sua completa profissionalização. Demorou bastante para as jogadoras
possuírem carteira assinada, mesmo assim, ainda não é uma realidade de todas,
recebendo apenas ajuda de custo ou benefícios, o que as leva a exercer outras profissões
para garantir o sustento. Segundo pesquisa divulgada em 2018 pelo sindicato
internacional dos jogadores de futebol (FIFPro), 49,5% não recebiam salário para atuar e
47% possuíam vínculo formal com seus clubes. Cerca de 30% faziam jornada dupla de
trabalho para seguirem nos gramados e 35% não ganharam nada para defender suas
seleções. O estudo, realizado em parceria com a Universidade de Manchester (Inglaterra),
envolveu 3.600 atletas de diversos países da Europa, África, Ásia e Américas.
Em todo o ano de 2022, foram contratados 5570 atletas profissionais de futebol do sexo
masculino, em comparação com apenas 174 atletas do sexo feminino, uma quantidade
muito menor.
No mês de abril, por exemplo, enquanto foram contratados 689 atletas homens, apenas 4
atletas profissionais de futebol mulheres foram contratadas. Esses dados reforçam, mais
uma vez, a discrepância de gênero dentro do esporte. Apesar de, na média, terem um
salário um pouco maior, as mulheres são muito menos contratadas que os homens.
Além disso, o salário de uma jogadora pode depender de vários fatores, como títulos
conquistados, tempo de carreira, time e patrocínios. No entanto, mesmo em grandes times
nacionais como Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Flamengo, a folha de pagamento das
atletas femininas chega a R$ 100 mil por mês, enquanto, no masculino, passa de R$ 10
milhões mensais.
Já as atletas que jogam em grandes times, até mesmo fora do país, recebem mais do que a
grande maioria, porém menos que os homens. A jogadora Marta, por exemplo, que
atualmente compete pelo Orlando Pride e foi eleita 6 vezes a melhor do mundo pela
FIFA, recebe US$ 400 mil (R$ 1,94 milhão) por ano, cerca de R$ 161 mil por mês, tendo
o salário mais alto entre as brasileiras.
Esse valor é 100 vezes menor do que recebe o jogador brasileiro Neymar, que ganha 36
milhões de euros por temporada do Paris Saint-Germain, o equivalente a R$ 190 milhões,
ou cerca de R$ 15,8 milhões por mês.

4.6 O enfrentamento do preconceito e o respeito às esportistas


FIGURA 4

FIGURA 5

“Esse comportamento dos pais é um reflexo da sociedade, não é um reflexo só do futebol.


Pais que acham que estão ajudando, estão é prejudicando, trazendo mais pressão para o
filho”, diz o gerente de futebol de base do Botafogo, Tiano Gomes. “A gente está
formando pessoas e isso é o mais importante. E escutar isso que vem de fora, é um
absurdo, porque aquele menino, aquela pessoa por ser pai, ser tio, ser avô, ser tia está
refletindo aquilo dentro para uma criança. O que aquela criança vai ser no futuro?”, diz o
pai de Giovanna, Renato Almeida Costa.

FIGURA 6

O chefe da federação de futebol da Espanha, Luis Rubiales, sofreu uma enxurrada de


críticas nesta segunda-feira, 21, por beijar na boca a camisa 10 da seleção, Jennifer
Hermoso, após a vitória do time na Copa do Mundo feminina no domingo 20. O
incidente gerou indignação, e muitos o rotularam como inapropriado, chegando até a
pedir a renúncia de Rubiales. “Vivemos um momento de igualdade, direitos e respeito às
mulheres. Todos nós temos que ser especialmente cuidadosos em nossas atitudes e ações.
Acho inaceitável beijar uma jogadora na boca para parabenizá-la”, disse Iceta, que teve a
fala ecoada pela ministra da Igualdade da Espanha, Irene Montero. “Não vamos supor
que dar um beijo sem consentimento seja algo ‘que acontece’. É uma forma de violência
sexual que as mulheres sofrem diariamente”, completou Montero. O time da Espanha
ganhou a Copa do Mundo feminina depois de um período tumultuado entre o time e a
federação nacional. Em setembro, 15 jogadoras enviaram um e-mail à federação de
futebol da Espanha, levantando preocupações sobre a gestão da seleção nacional, em
especial sobre o técnico, Jorge Vilda. Em seguida, a federação e Rubiales decidiram
manter Vilda no cargo, que não convocou 12 dessas 15 jogadoras para a Copa do Mundo.

4.7 Premiações

o 2010 - 5x melhor do mundo (Marta);


o 2014 - Seleção permanente
 Foi criada a seleção permanente para colocar em atividade jogadoras que
estivessem sem um calendário preenchido;
o 2015 - Mais um título no Pan;
o 2017 - A vez dos clubes
o A Conmebol tomava a decisão de obrigar os clubes que desejam disputar suas
competições no masculino a terem times femininos a partir de 2019. O caminho
foi seguido pela CBF;
o 2018 - 6x melhor do Mundo (Marta);
o 2019 - É Ano de Copa!
o Tem início uma nova realidade no futebol feminino. Os clubes começam a
cumprir a obrigatoriedade de terem times femininos e povoam a disputa do
Brasileiro Série A2. O São Paulo lança um forte projeto e anuncia a contratação
de Cristiane, que retorna depois de atuar no exterior. A TV Globo anuncia a
transmissão pela primeira vez dos jogos da seleção brasileira feminina em uma
Copa do Mundo. O futebol feminino ganha corpo.
CONCLUSÃO

Após meses debruçados sobre esse tema, nos deparamos com a cena do trem sentido Luz cheio
de pessoas usando camisetas da seleção brasileira na Linha 4-Amarela, os passageiros voltavam
do jogo da seleção entre Brasil e Japão, derrota dolorida por 2x0, mas que deixou os torcedores
felizes, já que pela primeira vez eles puderam assistir a seleção de perto, sabendo a escalação de
cor. Uma cena simples, mas muito bonita, onde pudemos ver a maior qualidade do futebol
feminino brasileiro, a resiliência.

Embora o símbolo da nossa seleção hoje seja o famoso “Canarinho Pistola”, o animal fictício que
realmente representa nossas mulheres do futebol deveria ser a Fênix, animal mitológico
conhecido por queimar e renascer das suas próprias cinzas. No processo deste trabalho,
percebemos que o futebol feminino tem uma habilidade de renascer, que mesmo após ser
reprimido, ele tem a capacidade de ressurgir nos ambientes mais inóspitos.

A verdade é que esse esporte é alimentado pela paixão eterna do brasileiro pelo futebol, e que
esse esporte está fadado ao sucesso, e nossas jogadoras fadadas a serem sempre aos melhores do
mundo. Devemos cuidar do futebol feminino, tal qual cuidamos da contraparte masculina, e que
vejamos nossa seleção florescer entre as glórias que já parecem escritas para ela no livro do
destino do futebol.

É um dever cívico cobrar clubes e associações pela modalidade feminina, pois só assim ela se
tornará concreta e as atletas poderão se estabilizar e mudar suas realidades através do esporte,
razão maior pela qual eles são praticados.
REFERÊNCIAS

CERS - Decreto-lei 3.199: a proibição do futebol feminino (SÃO PAULO, 2023);


CNN BRASIL ESPORTES (SÃO PAULO, 2023);
Câmara dos Deputados – PL 10852023 (SÃO PAULO, 2023);
BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre: Zouk, 2008;

BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

CARMONA, L.; POLL, G. Almanaque do futebol. Casa da Palavra: COB. Rio de Janeiro, 2006.

GOELLNER, S. V. As atividades corporais e esportivas e a visibilidade das mulheres na sociedade


brasileira do início deste século. Movimento, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 47-57, 1998.

MOURÃO, L. Representação social da mulher brasileira nas atividades físico desportivas: da segregação
à democratização. Movimento, n 13, p. 5-18, 2000.

PLACAR. São Paulo: ed. Abril, n 744, 24 ago, 1984. 80 p.

PLACAR. São Paulo: ed. Abril, n 1106, ago, 1995. 64 p.

PLACAR. São Paulo: ed. Abril, n 1109, nov, 1995. 130 p.

PLACAR. São Paulo: ed. Abril, n 1115, maio, 1996. 100 p.

PLACAR. São Paulo: ed. Abril, n 1119, set, 1996. 100 p.

PLACAR. São Paulo: ed. Abril, n 1154, ago, 1999. 98 p.

SALVINI, L. Novo Mundo Futebol Clube e o “velho mundo” do futebol: considerações sociológicas
sobre o habitus esportivo de jogadoras de futebol. Dissertação (Mestrado em Educação Física).
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.

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Setembro, 2023
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