ALUNO: JOSIVAN JAFÉ DE SOUZA FARIAS DATA: 19/09/2023
O Contexto Sociocultural do Futebol Feminino
O futebol é uma das modalidades esportivas mais praticadas em todo o mundo. Sua história, o envolvimento da mídia, a sua inserção em diferentes culturas, o interesse comercial e de marketing por trás das equipes e dos campeonatos e o alcance dos campeonatos locais e mundiais têm demonstrado isso ao longo dos anos. Entretanto há uma peculiaridade, também neste esporte, que é a forma de envolvimento das mulheres e o tratamento que os meios de comunicação dão à participação feminina. Atualmente as mulheres têm se mostrado presentes e, com grande interesse, se envolvido nesta modalidade, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Como exemplo, citamos o Instituto Internacional de Futebol ao realizar, em 2005, seu Congresso com o tema Mulher, futebol e Europa, reafirmando que “o futebol feminino tem se tornado uma área de estudos emergente e envolvente, em proporções globais, atraindo um número crescente de pesquisadores de diversas áreas”.
FUTEBOL FEMININO E HISTÓRIA
O futebol feminino já é praticado no Brasil há mais de 100 anos. Entretanto, foi legalizado há apenas 26 anos. Antes disso, o jogo era praticado de maneira escondida. Foi só no ano de 1983 que surgiram os primeiros times profissionais no Brasil: o Radar, no Rio de Janeiro, e o Saad, de São Paulo. Na década de 1990, times grandes começaram a aparecer no cenário feminino, como o São Paulo e o Santos. O primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aconteceu no ano de 2013. Hoje, o calendário do futebol feminino também conta com a segunda divisão do Brasileiro e também com competições de base, como o recém-criado Brasileiro Sub-18. Um novo regulamento da CBF determina que todas as equipes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro Masculino precisam ter um time feminino adulto e, pelo menos, uma categoria de base. Essa decisão segue uma decisão anterior tomada pela Conmebol, de que é necessário ter esses times femininos para os clubes estarem habilitados a participar da Libertadores e Copa Sul-Americana. Tal medida é bastante importante, pois ela força que os times de maior expressão do país investem no futebol feminino. Mais do que isso, obriga que eles também formem jogadoras nas suas categorias de base. Esse é apenas um passo dado, mas já foi uma grande vitória para as mulheres. Em 2020, a Fifa desenvolveu um projeto muito interessante. Pela primeira vez na história, ela lançou uma espécie de cartilha. O material tem como objetivo principal criar uma estrutura mais sólida para o futebol feminino. Ela se chama “Estratégia Global para o Futebol Feminino” e explica como eles trabalham com as confederações, clubes, entidades e imprensa, a fim de alavancar essa modalidade. Além disso, eles tentam mostrar o potencial do futebol feminino. Eles têm convicção de que isso não é só importante para o esporte, mas também para as mulheres em geral. Isso porque se sentir uma figura realmente participativa do esporte mais popular do mundo traz, sem sombra de dúvida, uma representatividade incrível para o gênero. É uma generosa injeção de autoestima. A Fifa se baseia em alguns pilares para que os objetivos sejam devidamente cumpridos. Um deles é criar programas de desenvolvimento nos centros de futebol, escolas, cursos de arbitragem e formar treinadoras também. Outro ponto crucial é melhorar a qualidade das competições femininas, e isso engloba os torneios de seleções e de clubes. Criar um plano comercial para a modalidade também está nos planos, pois é necessário que se gere conteúdos digitais. A Fifa também quer bater bastante na tecla de empoderamento e na igualdade de gêneros. Para isso, a ideia é criar parcerias com ONGs e focar na questão social. Sabe-se que a modalidade enfrenta inúmeros preconceitos e a ideia é tentar acabar de vez com isso. Para nós, resta torcer para que essas medidas funcionem e, acima de tudo, fiscalizar e cobrar que todos eles saiam do papel. A primeira seleção feminina foi convocada pela CBF no ano de 1988. Uma curiosidade é que a seleção foi composta apenas por jogadoras do supracitado time Radar. O clube cedeu 16 atletas e elas conseguiram vencer a competição que foram disputar, a Women 's Cup of Spain, realizada na Espanha. Aliás, esse foi o primeiro título internacional conquistado pela nossa Seleção. A Copa do Mundo de 1991 foi a primeira que alcançou níveis globais e a seleção brasileira participou. Foi realizada na China e o Brasil ficou com a nona colocação. Quem acabou levantando o caneco foram as norte-americanas. Em 1996, a modalidade foi incluída nas Olimpíadas, que aconteceram em Atlanta, nos Estados Unidos. A nossa Seleção ficou com a quarta colocação. A primeira medalha em Copas do Mundo veio em 1999, nos Estados Unidos. Ficamos com o terceiro lugar. A geração que garantiu o bronze para a gente era formada por lendárias jogadoras, entre elas a histórica Sissi, uma das artilheiras do torneio, que infelizmente é muito mais reconhecida fora do país do que aqui. Depois disso, a Seleção Brasileira ganhou outras diversas medalhas em Pan Americano, Olimpíadas e Copas do Mundo. A Copa de 2019, realizada na França, foi um marco para a modalidade. Isso porque foi a primeira vez em que houve uma transmissão na maior televisão aberta do país e foi a mais comprada e assistida do mundo. Os brasileiros realmente vibraram e torceram pelas meninas. E a provável última Copa de Formiga, Cristiane e Marta merecia isso. Aliás, temos que dedicar um parágrafo inteiro para a Rainha. Ela é simplesmente a maior jogadora da história dessa modalidade, uma das maiores atletas do planeta. A jogadora foi escolhida como melhor do mundo por seis vezes, um recorde histórico. Em 2021, Marta se tornou a maior artilheira da história de todas as Copas, independentemente do gênero, dedicando essa conquista a todas as mulheres. No fim da participação do Brasil na Copa, fez um apelo emocionante. Pediu que as jogadoras treinassem e se esforçassem cada vez mais, pois não existiriam uma Formiga, Cristiane e Marta para sempre. FUTEBOL FEMININO E SOCIEDADE Seria ingênuo supor que a mídia trate as mulheres, em seu envolvimento com o futebol, de forma similar ao tratamento dado aos homens. Aliás, a crítica à parcialidade nos meios de comunicação no que concerne ao gênero, parece sempre voltar à tona quando há algum estudo que envolva a mídia e o esporte, conforme afirmam Mourão e Morel (2005), pois o esporte, através da mídia, é predominantemente branco e masculino, segundo reiteram autores como Sterkenburg e Knoppers (2004), Coakley (2004) e Knoppers e Elling (2004). Esse fato não é peculiar da nossa cultura, pois não interessa qual país e evento são estudados, os resultados consistentemente mostram que os esportes envolvendo mulheres são proporcionalmente mal representados na mídia esportiva e considerados como de menor emoção e de menor dignidade para notícias do que os esportes envolvendo homens. Assim, identifica-se na história do esporte que a atividade esportiva, enquanto símbolo de um imaginário de força, poder e músculo, se enquadraria como atividade masculina, portanto a mulher deveria ser poupada deste possível processo de masculinização, ou seja, não deveria estar presente da mesma forma que o homem no mundo esportivo. Em decorrência deste conceito, notamos a pequena participação das mulheres e também de um tratamento pela mídia que não é o mesmo dado aos homens. Em todos os níveis de prática do futebol, podemos identificar o preconceito, a diferença, o descaso e suas consequências na formação do imaginário social do papel da mulher, particularmente, quando o assunto é futebol feminino. Basta acompanhar os investimentos, a organização, as escolinhas ou o tratamento dado pela mídia para identificarmos a diferença. Até mesmo as questões da história do futebol feminino mostram-se tratadas com indiferença, pois enquanto a FIFA afirma que a primeira partida realizada entre mulheres foi na Inglaterra em 1880, a própria Federação Inglesa de Futebol afirma que o primeiro jogo feminino ocorreu em 1895. Isto parece reforçar a idéia de que a “historiografia machista não se limita a ignorar a mulher” (MORENO, 1999, p. 49), mas a trata com desprezo, tanto pelo que é apresentado como pelo que se omite, pois o que se diz, tanto por texto como por imagens é controverso, impreciso, falacioso e incompleto. Isto reforça a necessidade de estudos que identifiquem a situação da participação das mulheres nos esportes e que estes estudos tenham uma intervenção pedagógica ao recriar os valores nas novas gerações para que as próximas não sejam capturadas por distorções oriundas do desprezo e do preconceito.
FUTEBOL FEMININO NO ESTADO DO AMAPÁ
No estado do Amapá, o Campeonato Amapaense Feminino é a principal competição futebolística da modalidade feminina, organizada pela Federação Amapaense de Futebol (FAF). Ela começou a ser disputada em 2006 e teve o Boné Azul como primeiro campeão. O Oratório é o clube com maior número de conquistas, com oito títulos. O Campeonato Amapaense Feminino Sub-20 é uma competição de futebol feminino organizada pela Federação Amapaense de Futebol (FAF). O torneio surgiu com o propósito de aumentar o calendário das equipes de futebol feminino do estado. No entanto, só ocorreu uma edição que foi realizada em 2016, e vencida pelo Oratório. Dentro do contexto mencionado de rupturas e avanços, houve a criação de um projeto de extensão chamado “Futsal Feminino na UNIFAP” surge como lócus de incentivo à prática do jogo e espaço político-pedagógico de debate acadêmico. O projeto de extensão foi idealizado, no início do ano de 2019, a partir de leituras acadêmicas que indicam as desigualdades no acesso ao esporte e lazer, vividas entre homens e mulheres. Desde então, foi construída a proposta de extensão universitária que utiliza o futebol feminino como ferramenta de ruptura dos preconceitos que envolvem o esporte. Foi delimitado como público-alvo, as alunas em nível de graduação e pós-graduação da UNIFAP, além de interessadas da comunidade externa à instituição.O projeto é realizado na cidade de Macapá, no campus Marco Zero do Equador, sede da instituição.
REFERÊNCIAS
MARTINS, L. T.; MORAES, L. O FUTEBOL FEMININO E SUA INSERÇÃO NA MÍDIA:
A DIFERENÇA QUE FAZ UMA MEDALHA DE PRATA. Pensar a Prática, v. 10, n. 1, 27 mar. 2007.
SANTOS, D. S. DOS; MEDEIROS, A. G. A. O futebol feminino no discurso televisivo.
Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 34, n. 1, p. 185–196, mar. 2012.
FURLAN, C. C.; SANTOS, P. L. DOS. FUTEBOL FEMININO E AS BARREIRAS DO
SEXISMO NAS ESCOLAS: reflexões acerca da invisibilidade. Motrivivência, v. 0, n. 30, 11 dez. 2008.
SALVINI, B.; JÚNIOR, M. [s.l: s.n.]. Disponível em: