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MANUAL DE

FUTEBOL

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MANUAL DE

FUTEBOL

3
ÍNDICE
ÍNDICE
04
Mensagem do presidente da
CONMEBOL
Mensagem da Secretária geral
Adjunta
Mensagem do Secretário-
geral adjunto/diretor

12
de Desenvolvimento da
CONMEBOL
CA PÍT ULO 1:
Mensagem da representante HISTÓRIA DO FUT EBOL
da CONMEBOL no Conselho da
FIFA
FEMININO
Uma visão geral do história do
futebol feminino
O desenvolvimento do futebol
sul-americano
O futebol feminino evolui
A aposta da CONMEBOL no
futebol feminino
Algumas lições da história do
futebol feminino

CA PÍT ULO 2:
60
A MENINA FUT EBOLISTA
Desenvolvimento e
maturação físico-social
Aspectos sociais da menina
futebolista
Aspectos físicos da menina
futebolista
Otimização das capacidades
físicas na menina futebolista

4
CA PÍT ULO 3:
82
A MULHER FUT EBOLISTA
Maturação feminina
Menarquia
Ciclo menstrual e rendimento
Nutrição: considerações

110
especiais para a jogadora de
futebol CA PÍT ULO 4:
Lesões e precauções A SPECTOS FÍSICOS,
Papel do psicólogo esportivo T ÉCNICOS E TÁ T ICOS
Características principais do
jogo feminino
Dados antropométricos
Principais características
físicas do jogo
Aspectos técnicos e táticos

CA PÍT ULO 5:
PLA NEJA MENTOS DE
DESENVOLVIMENTO DO
127
FUT EBOL FEMININO
Planejamento a longo prazo
Agentes e ambientes para
promover o futebol feminino
Ações e ferramentas para
construir um planejamento
Implementação de estratégias
para promover o futebol
feminino
“Uma folha em branco”

145
CA PÍT ULO 6:
BIBLIOGRA FÍA

5
Construção coletiva para a elaboração do
Manual Feminino

Presidente
Alejandro Domínguez Wilson Smith

Secretário Geral Adjunto de Futebol


Gonzalo Belloso

Conselho Editorial
Francisco Maturana
Gonzalo Belloso
Reinaldo Rueda

Autores
Aline Pellegrino
Ana Lorena Marche
Alberto Ramírez
Carlos Thiengo
Diego Guacci
Julia Barreira
Laura Rojas
Loreana Baldomero
Luis R. Montaner
Néstor Arrúa
Rossana Gómez

Editores Executivos
Carlos Thiengo
Clarence Acuña
Luis Fernando Ramírez

Moderador
Mauricio Marques

6
Mensagem do presidente
da CONMEBOL
Alejandro Domínguez Wilson Smith

Um dos objetivos mais fortes que tégias, a apresentação deste No mundo do futebol feminino, a
temos a partir da Presidência da manual, parte de um acervo que América do Sul se encontra dian-
Confederação Sul-Americana de fará história na bibliografia sobre te das maiores oportunidades
Futebol, CONMEBOL, é enxergar futebol, é a prova de que esta- para dar à CONMEBOL grandes
o posicionamento do futebol fe- mos no caminho certo. Esta pu- sucessos, tanto nos campos so-
minino como um dos pilares fun- blicação se enquadra no trabalho ciais quanto nos esportivos.
damentais da estrutura do fute- pensado, uma amostra da com-
bol sul-americano. preensão dos tempos que temos
que viver. Esse é nosso grande
O altíssimo potencial do fute- desafio!
bol feminino é uma das maiores A transformação cultural é o sal-
riquezas, ainda muito pouco ex- to qualitativo que caracteriza a
plorada, que não só nossa con- CONMEBOL de hoje. A ênfase na
federação tem, mas sim todo o formação e na capacitação de
nosso continente para sustentar mais profissionais do futebol na
uma maior incidência do esporte plataforma de educação vir-
em nossa sociedade. tual, ferramenta que nos
permite ir cada vez mais
A incorporação da mulher ao longe em ambientes ino-
mundo do futebol, não apenas vadores e com tecno-
como torcedora ou como fã que logia de ponta, será a
ajuda a encher nossos estádios, base que nos permitirá
mas como praticante ativa deste avançar neste processo
maravilhoso esporte que tanto que gera novas oportu-
nos apaixona, é uma das chaves nidades de jogo e pro-
para o desenvolvimento do fute- move o talento de nos-
bol em todos os países da CON- sas jogadoras.
MEBOL.

Para a concretização dessa ne-


cessidade do futebol sul-ameri-
cano, a visão e a tarefa do Depar-
tamento de Desenvolvimento da
CONMEBOL são, talvez, as mais
importantes. Entre suas estra-

77
Mensagem da secretária
geral adjunta
Monserrat Jiménez Granda

Com talento, vontade, perseve- Da CONMEBOL tive o enorme pri-


rança, paixão e solidariedade, as vilégio de vê-las lutar para con-
mulheres escreveram seu próprio seguir um lugar, quebrar para-
capítulo na história do futebol. digmas e demonstrar todo o seu
potencial. Hoje elas se tornaram
Jogadoras cheias de talento e protagonistas dessa história que
com uma capacidade inabalá- - tenho certeza - acaba de co-
vel de trabalho, marcaram gols meçar.
emblemáticos em campeonatos
mundiais, nacionais e locais e nos Este manual procura selar o com-
campinhos dos bairros, onde o promisso da CONMEBOL com o
sonho começou. futebol feminino, registrar sua
história, seu crescimento, seu le-
Com paixão, dia após dia conquis- gado, e tem a firme intenção de
taram seu lugar no futebol que, gravar o enorme esforço realiza-
durante anos, relegou o pleno do e os grandes avanços. Procura
desenvolvimento de suas po- contribuir para continuar mar-
tencialidades e, mesmo assim, cando a história nos passos que
acabou se rendendo à sua força, virão.
tenacidade e resiliência.

Solidárias foram estimuladas a


O futuro do futebol
sonhar e a construir - juntas e também é feminino.
organizadas - o futebol feminino #Acredita Sempre
profissional.

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Mensagem do secretário geral
adjunto/diretor de Desenvolvimento
da CONMEBOL
Gonzalo Belloso
O longo caminho percorrido pelas bro de 2019, na qual participaram
mulheres em busca da igualdade 4 seleções da América do Sul.
de direitos e do reconhecimento
de suas lutas nos países de nos- E no âmbito da formalização da
sa região, as posiciona em um lu- Licença de Clubes, um impacto
gar onde sempre deveriam haver positivo foi também a criação de
estado. A CONMEBOL as reúne uma equipe feminina na primeira
hoje para colocá-las no pedestal divisão com o critério de promo-
natural de glória e da paixão que ver o futebol feminino dos clubes.
tanto conhecem, dando um novo
impulso ao desenvolvimento do Este é um momento de recupe-
futebol das mulheres. rar anos de letargia, portanto, a
estratégia desde 2016 é tornar
O objetivo do Departamento de visível o esforço futebolístico fe-
Desenvolvimento é a promoção e minino, lançar as bases, aumen-
crescimento constante do fute- tar a participação e promover o
bol feminino em todas as catego- crescimento. A CONMEBOL está
rias. Por isso, uma das estratégias empenhada em aprimorar seu
foi a organização da CONMEBOL posicionamento dentro e fora de
Libertadores Feminina 2019 rea- campo com estratégias que con-
lizada no Equador e que contou tribuam para gerar mais apoio
com a participação de 16 clubes de patrocinadores, clubes e ins-
das 10 associações membro (AM). tituições relacionadas ao desen-
Por sua vez, a CONMEBOL Liber- volvimento do futebol feminino
tadores de Futsal 2019 atraiu a nas áreas da educação, saúde,
participação de 12 clubes das 10 segurança, respeito e a salva-
AM. guarda de todos os seus direitos.

A CONMEBOL Liga Sul-America- Este é o presente do futebol onde


na Feminina Sub 19 é uma nova homens e mulheres, meninas e
competição que será realizada meninos jogam em liberdade de
a cada dois anos com a visão de condições, fomentando a coope-
fortalecer o crescimento do fu- ração entre as AMs e garantindo
tebol feminino no continente, a integridade das jogadoras. A
dando continuidade ao processo transformação social do futebol
de competições já existentes na é possível a partir de uma pers-
CONMEBOL: as categorias Sub 17 pectiva global inclusiva e com-
e Sub 20, gerando oportunidades prometida.
de jogo e promovendo o talento
de nossas jogadoras. Soma-se a
isso a realização do primeiro en-
CONMEBOL acredita
contro da Liga Feminina de Fute- sempre e faz o
bol de Areia Feminino em outu- possível.

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Mensagem da representante da
CONMEBOL no Conselho da FIFA
María Sol Muñoz A.

O que você vê no horizonte? Há ra mulher sul-americana a repre-


esperança? Às vezes, parece que sentar a CONMEBOL no Conselho
está escurecendo quando deve- da FIFA, e em junho de 2020 fui
ria haver luz, que as portas estão reeleita para este cargo. Estamos
fechadas e ninguém está ouvin- conquistando lugares e alcançan-
do suas aspirações. Aí vem a in- do degraus antes impensáveis.
quietação... será que isso impor-
ta? Será que algum dia veremos Poder dizer hoje que eu lhe repre-
nossas estrelas tão altas quanto sento é uma honra e uma imensa
elas merecem? Você anda por aí responsabilidade para mim, por-
e pensa que há muito o que mu- que sei que me verá como a sua
dar. Quem se importa com o que voz nas mais altas instâncias, ca-
você sente? Alguém mais enten- rregando comigo a sua bandeira
de que esse esporte é o amor como se fosse minha. Sim, sua
da sua vida? Ninguém mais olha bandeira é minha também! Sou
todo o potencial? Você está se tão argentina, boliviana, brasileira,
enchendo de perguntas e precisa chilena, colombiana, equatoriana,
de respostas! Você adora futebol, paraguaia, peruana, uruguaia ou
adora a América do Sul e quer vê- venezuelana quanto você.
la brilhar.
Você sabia que mundialmente a
Não desanimes, não está sozin- CONMEBOL é a confederação que
ha. Acredita Sempre! mais investe no futebol feminino?
Sim, há alguém que se importa! É
Eu cresci, como muitos sul-ame- todo um grupo multidisciplinar
ricanos, assistindo futebol. Esse comprometido com você e com
esporte se tornou minha paixão, todas as jogadoras sul-america-
embora nunca o tenha praticado, nas, em todas as categorias.
talvez porque via o futebol um
esporte só para homens. Não me Agora, a CONMEBOL coloca à sua
lembro de ter visto um único jogo disposição o Manual de Futebol
de futebol feminino na minha in- Feminino, um compêndio da his-
fância. Não me lembro de saber tória deste fantástico esporte, das
de uma única mulher na liderança nossas jogadoras e do seu desen-
do futebol. volvimento, e projeta um futuro
promissor para a nossa região.
A vida me levou por vários camin-
hos, alguns inesperados, como Não pare de encorajar, não pare
trabalhar diretamente com um de sonhar e não pare de acredi-
time de futebol masculino. Viver tar. A CONMEBOL sabe que há
o futebol de dentro, isso define muitas como você em busca de
minha experiência ali, e nunca resultados, e convida a todas a
imaginei que algo muito maior acreditar sempre e a apostar na
estivesse no meu destino. Em América do Sul!
maio de 2016 me tornei a primei-

10
É A SSIM QUE
NOSSA HISTÓRIA
COMEÇA ...
11
HISTÓRIA DO
FUT EBOL
FEMININO
12
12
Uma visão geral da história
do futebol feminino
O nascimento de uma paixão de
multidão em um «campo social
desigual»
Para nós, mulheres e homens do século 21, não é difícil imaginar uma
sociedade onde meninas, meninos, pobres e mulheres sejam quase
invisíveis. Realmente é difícil assimilar a ideia de uma época em que
jogar, ter o tempo livre ou acessar a prática de um esporte estava
reservado para poucos.

Sim, não é fácil pensar neste mas décadas, é importante acei- no futebol como em outras face-
“campo social” tão “desigual”, até tar o fato de que ainda há muito tas da vida sociocultural de nosso
porque hoje vivemos numa era a ser feita em prol da construção continente. Um empoderamento
de estádios, ruas e lares, onde de sociedades sul-americanas que não é fruto do acaso, mas faz
homens e mulheres, de todas as mais justas, equitativas e inclu- parte daqueles acontecimentos
idades e condições sociais juntam sivas. Nesse sentido, no mundo transformadores como o “Triplo
livremente as suas vozes num gri- do futebol, devemos dar atenção 8” de Robert Owen era na época:
to de emoção quando a equipe especial ao que está relacionado 8 horas de trabalho + 8 horas de
coração “marca o gol desejado.” à superação das contradições re- descanso + 8 horas de lazer, que
gionais geradas por um futebol se concretizariam na jornada de
Ou seja, nossa realidade atual é feminino sul-americano que é trabalho de 8 horas implemen-
absolutamente diferente da vida jogado com padrões de alto ren- tada pela primeira vez na Nova
das pessoas do século XIX e, até dimento atlético, mas que ainda Zelândia [1840]. No campo espor-
mesmo, do que foi o mundo ou a é remunerado com salários pre- tivo social feminino, bastaria lem-
América do Sul durante a primeira cários ou é patrocinado e divul- brar aquele sábado, 23 de março
metade do século XX, diferença gado como na era amadora do de 1895, quando 10.000 londrinos
que não é fruto do acaso, mas é futebol feminino. Sem dúvida, su- lotaram o estádio Crouch End
o resultado de uma construção perar esse tipo de assimetrias é Athletic para assistir North vs.
feita por homens e mulheres es- uma tarefa pendente que temos South no primeiro jogo de futebol
pecíficos, em áreas sociais como o na América do Sul. feminino da história moderna. Fa-
futebol, que desde o aspecto lú- tos, cada um em seu ambiente e
dico, competitivo e sociocultural Tendo em vista essa “pendência”, tempo, que contribuíram para in-
contribui com seu grão de areia é interessante relembrar o ca- cluir, dignificar e valorizar a todos
para uma melhor qualidade de minho percorrido pelas mulheres e todas.
vida para todos, seja como espor- sul-americanas, tanto em nossas
te de massa ou como ambiente de sociedades como no campo es-
coesão e promoção de direitos. portivo. Este exercício de “ver as
mulheres em seu contexto histó-
Sem desvirtuar as conquistas e rico” permite verificar o crescente
avanços da humanidade nas últi- empoderamento feminino tanto
13
Você consegue pensar em uma história
social do futebol?
Claro que sim, uma vez que quan- em Londres, essa nova atividade ses, estratos socioeconômicos ou
do os parâmetros historiográ- esportiva se popularizou tanto fronteiras, que se chega à criação
ficos ​​
e as fontes documentais que se decidiu pela fundação da da Confederação Sul-Americana
confiáveis ​​são usados, é possível Football Association [FA], asso- de Futebol (CONMEBOL).
encontrar “evidências históricas” ciação que logo seria a sede da
-por exemplo - de que na China Liga Profissional Inglesa [ 1888],
Imperial ou na Itália renascen- sendo assim o primeiro antece-
tista havia jogos populares que dente organizacional do mundo O futebol só é
incluíam em sua prática algo pa- do futebol que conhecemos hoje.
recido com as bolas de futebol;
compreensível como
eram atividades recreativas que Na América do Sul, a obra de Ala- fenômeno de massas
se realizavam nos feriados e se jo- barces (2) sistematiza historica- a partir de uma leitura
gava tanto com o pé como com a mente os antecedentes do impac- histórica de seu impacto
mão, certamente não existia um to social do futebol na América do
regulamento rígido que regulas- Sul, por exemplo, por meio de sua nas sociedades sul-
se a competição nem alcançava a organização e institucionalização, americanas e mundiais,
popularidade que os campeona- que foram realizadas por imi- uma marca social
tos de futebol têm hoje. grantes como o escocês Alejan-
que ocorre tanto na
dro Watson Hutton, que em 1893
Nessa mesma linha historiográfi- fundou a Associação do Futebol superação das diferenças
ca, podemos citar aqui a história Argentino, ou pelos primeiros di- de origem quanto,
social do futebol inglês de Dave rigentes de clubes pertencentes mais lentamente, nos
Russel (1) que narra como na se- a escolas ou bairros que dariam
gunda metade do século XIX, na origem às associações de futebol
processos ligados ao
Inglaterra, aristocratas e burgue- do Chile [1895], Uruguai [1900], Pa- “nivelamento do campo
ses começaram a dar forma e es- raguai [1906], Brasil [1914], até que além das diferenças de
trutura à prática de «jogar a bola em 1916 o futebol adquire tal grau sexo”.
com pés ”, e que por volta de 1868, de impacto coletivo, além de clas-

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Mulheres que jogam futebol, paixão
que ajuda a transformar o mundo
Nos últimos 150 anos a humanidade percorreu um longo e complexo
caminho na construção de sociedades alicerçadas no enfoque de
direitos, equidade e justiça.

Quase dois séculos em que, por neiras como Nettie Hopneyball, brasileiro, entre 1941 e 1979, quan-
exemplo, a popularização do es- que fundou o British Ladies Foot- do as mulheres não podiam jogar
porte e o reconhecimento do va- ball Club North [1895], ou as ope- futebol publicamente, pois havia
lor da infância, da feminilidade e rárias do futebol do Dick, a fábri- uma legislação que proibia às ci-
da diversidade foram processos ca de munições Kerr’s Ladies de dadãs o acesso a este esporte, a
que deram um rosto mais huma- Preston [1917-1965]. Mulheres que pretexto de zelar pela sua “inte-
no às estruturas sociais em que souberam superar com tenacida- gridade procriativa” e evitar que
vivemos hoje. de e convicção décadas de incom- o frágil e delicado corpo feminino
preensões e preconceitos, anos fosse afetado na sua capacidade
Pois bem, pode-se dizer, com pro- em que a Football Association da de conceber filhos saudáveis ​​pela
priedade, que o futebol, como Inglaterra proibiu as meninas do excessiva atividade física dirigida
toda criação humana, tem uma futebol de usarem os campos ou aos homens.
história que serve de “vitrine qualquer outra instalação asso-
social” para ver, por exemplo, o ciada à FA. Proibição que também “Não foi fácil para as mulheres”,
crescente empoderamento fute- ocorreu em nossa região e que foi como se costuma dizer coloquial-
bolístico das mulheres, que tem documentada principalmente no mente na América do Sul, e para
como precursoras grandes pio- caso do que aconteceu no futebol perceber a veracidade dessa afir-
15
mação é suficiente lembrar casos vida, “não foi fácil”, mas foram
emblemáticos como os das su- coautoras de profundas transfor-
fragistas sul-americanas Paulina mações nas estruturas sociais da Pensar historicamente o
Luisi [Uruguai - 1927] e Matilde Hi- sua época e criaram um mundo futebol como uma paixão
dalgo de Procel [Equador - 1929], novo para cada um e para todos.
junto com as operárias america- que está transformando
nas de Cotton NY [8 de março de Nessa dinâmica de transfor- o mundo é uma forma
1909] ou as jogadoras dos primei- mação social, é válido afirmar que adequada de compreen-
ros times de futebol feminino em a mulher que joga futebol não só
der a história social des-
Londres [1895] ou Buenos Aires conseguiu contribuir com o ta-
[1923]. Mulheres que tiveram que lento feminino para a prática do te esporte, pois permite,
assumir papéis heroicos e dedi- esporte, mas também contribui por exemplo, dimensio-
car suas vidas à reivindicação do para que a sociedade se assumis- nar a contribuição his-
valor do ser humano além de sua se como uma comunidade de di-
origem social, de suas crenças ou reitos, onde o humano é diverso
tórica para a equidade
de seu sexo, seja na política, no e plural, onde todos e todas são e coesão social da pre-
trabalho ou no mundo do fute- igualmente valiosas, necessárias sença da mulher nos
bol. Para as mulheres, sem dú- e transcendentes. campos e na liderança do
futebol, seja como joga-
doras ou como treinado-
ras e, ultimamente, como
dirigentes de clubes ou
especialistas esportivas
nos meios de comuni-
cação, áreas onde até
poucas décadas atrás só
existiam homens.

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Que jogadoras! O futebol feminino
sacode multidões na adversidade
Focar no futebol feminino impli- masculina [1868] quanto na femi- tarefas de produção que tradi-
ca supor que, na evolução his- nina [1894]. Em poucas décadas cionalmente desempenhavam
tórica desse esporte de multi- se espalhou por várias regiões os homens. Assim, durante a Pri-
dões, grande parte dessa torcida do mundo e rapidamente passou meira e a Segunda Guerra Mun-
compartilhou por muito tempo a de um esporte de classes privile- diais, seja nas fábricas ou nas li-
crença de que vestir bermuda e giadas a uma prática popular de gas de futebol, mulheres como
chutar a bola era coisa só de ho- massa. Lily Parr “assumiram o controle”,
mens. Mas, como você pode ver a a ponto de marcar mil gols em
seguir, desde o seu início o fute- Os documentos históricos que al- três décadas de brilhante carrei-
bol contou com a presença tenaz bergam os anais do futebol femi- ra no futebol: Mas não se trata-
das mulheres nos campos. nino permitem verificar que, em va apenas de “talento individual”,
momentos críticos da evolução mas de equipe e, assim, em 1920,
Em síntese, lembremos que o humana, como as duas guerras no Goodison Park em Everton,
futebol, tal como o conhecemos mundiais ou as migrações força- 53.000 torcedores vibraram na
hoje, nasceu na Inglaterra no final das por pobreza, as mulheres partida entre as meninas do Dick,
do século XIX, tanto na versão se destacaram no apoio a essas Kerr Ladies, e o St. Helens Ladies.

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No caso da América do Sul, não bola de futebol nos jogos que se
foi a guerra naquele “momento disputavam nas tardes “tapaque-
crítico” que permitiu às mulhe- ña”. Há também registros sobre Os campinhos de bairro,
res romper com o estereótipo da os torneios de futebol feminino os pátios das escolas
fragilidade, mas -por exemplo- a que se organizavam como parte
descoberta das jazidas de nitrato das atividades típicas das festi- e todo espaço que
em Tarapacá (norte do Chile), que vidades da padroeira, sendo um permitia improvisar um
gerou novas oportunidades de momento de jogo e recriação das gol e chutar uma bola
trabalho e uma das consequên- reservadas e retraídas aimarás,
cias foi que as famílias aimarás agrupadas em times que repro-
foram transformados
se mudaram do sopé dos Andes duziam os clãs e os vínculos fami- em estádios sem
para o litoral e para os pampas de liares, antes que um clube ou uma arquibancadas ou
salitre chileno. Assim, no início do entidade de bairro. vestiários para as
século XX, nasceram nessa região
nortenha populações mineiras, Desta forma, o futebol das meni-
operárias, salitreiras,
nas quais as mulheres aimarás nas fez vibrar o coração daqueles estudantes ou
compartilhavam o cotidiano do homens e mulheres que viviam as profissionais que não
trabalho com os homens da famí- tribulações da guerra ou da mi- deixaram de jogar o
lia, encontrando nos recém-nasci- gração, mas quando a paz voltou
dos times de futebol feminino um ou o migrante se tornou local, futebol apesar das
novo espaço de exteriorização de foi mais difícil encontrar espaços condições adversas que
sua cultura matriarcal. Nesse sen- para a inovação ou para as abor- se prolongaram por mais
tido, a documentação historio- dagens de direito e, sem muitas
gráfica da época descreve como explicações, as mulheres ficaram
de meio século.
as meninas e as mulheres aimarás sem estádios onde o público as
marcavam os gols com pedras e pudessem ver jogar o futebol.
usavam uma bola de pano como
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Dos campinhos de bairro aos estádios
de Mundiais
Os tempos de adversidade do futebol feminino começaram a mudar
na década de 70, quando, na Itália, é disputada uma competição
internacional de futebol feminino vencida pela Dinamarca.

Um ano depois, 1971, em todo o tou o ouro, enquanto na última O mesmo documento registra,
mundo as proibições das diferen- edição dos Jogos Pan-america- em 2019, 63.126 de treinadoras e
tes associações de futebol de que nos (Lima 2019) a Colômbia con- 80.545 árbitras em todo o mundo.
as mulheres jogassem em está- quistou o ouro e a Argentina, a
dios públicos começaram a ser prata. Na mesma linha de aconte- O capítulo dedicado à CONME-
retiradas, e em 1988 a FIFA orga- cimentos marcantes, 2009 foi um BOL, no documento de 2019 da
nizou o Torneio Internacional de ano importante para as mulheres FIFA, registra cerca de 141.000
Futebol Feminino na China, que sul-americanas que jogam fute- mulheres que jogam no futebol
o a Noruega venceu, enquanto bol, com a realização da 1ª Copa sul-americano organizado, sendo
que Brasil, representando a CON- Libertadores da América Femini- a Argentina o país com maior nú-
MEBOL, ficou com a medalha de na, com o Santos do Brasil levan- mero de jogadoras participando
bronze. Em 30 de junho desse do o precioso troféu. de equipes oficialmente cadas-
mesmo ano e após o sucesso do tradas [27.911], seguida pela Vene-
torneio na China, a FIFA aprovou Nesta breve revisão histórica, zuela [24.427] e Peru [17.159]; en-
a realização da 1ª Copa do Mun- você pode ver como o futebol quanto que o Paraguai se destaca
do da FIFA de Futebol Feminino, praticado por mulheres, inde- por ter cerca de 100 treinadoras
realizada em 1991 e que tornaria pendentemente das diferenças de futebol; e Brasil [10], Colômbia
a seleção feminina dos Estados sociais, culturais ou de idade, [26] e Argentina [37] como os paí-
Unidos a primeira a levantar a cresceu rapidamente nas últimas ses membros da CONMEBOL mais
Taça de uma Copa do Mundo de décadas e se tornou popular em bem ranqueados em 2019 pela
Futebol Feminino da FIFA no Es- todo o mundo. FIFA no futebol feminino.
tádio Tianhe, Canton [China].
Como encerramento dos dados
Alguns anos mais tarde, o futebol fornecidos pelo Relatório de pes-
feminino conseguiu ocupar um Segundo um estudo da quisa das Associações Filiadas ao
lugar de destaque no mundo dos Futebol Feminino de 2019 (3) - Wo-
esportes internacionais quando
FIFA, de 2019, estima-se men’s Football Member Associa-
em 1996, nos Jogos Olímpicos de que 13,36 milhões de me- tions Survey Report 2019-, cabe
Atlanta, quase 80.000 torcedores ninas e mulheres jogam fu- destacar que o empoderamento
assistiram como a seleção femi- tebol de forma organizada da mulher não ocorre apenas no
nina dos Estados Unidos levou o campo, mas também entre os di-
ouro, enquanto que a China levou em suas federações mem- rigentes do futebol, onde 25% das
a prata e a Noruega, o bronze. Nas bro, das quais 76% pos- lideranças atuais do futebol têm
edições posteriores das Olimpía- suem um planejamento de rosto feminino e, da mesma for-
das, o Brasil conquistaria a prata ma, 28% do trabalho administra-
trabalho específico para o
em Atenas (2004) e novamente tivo das associações de futebol é
em Pequim (2008). futebol feminino e 49,5% realizado por mulheres profissio-
das associações possuem nais.
Em nosso continente, desde 1999 departamento de futebol
o futebol feminino está presente
nos Jogos Pan-americanos; nesse
feminino.
ano, em Winnipeg [Canadá], a se-
leção norte-americana conquis-
19
Não foi e não é fácil, mas o futebol
sul-americano já tem o “chip feminino”
que brilham hoje nos cenários heres no futebol apenas começa
As mulheres estiveram mundiais do futebol feminino na América do Sul, porque o jogo,
compartilham história com as o DNA e a qualidade profissional
em campo desde o início,
operárias do futebol de Preston do futebol feminino sul-ameri-
jogaram em condições ou Tarapacá, com as sufragistas cano já colocaram o “chip femi-
desiguais com talento, sul-americanas do início do sé- nino” na CONMEBOL, prova disso
sacrifício e senso de culo XX e com as heroínas dos é que a partir de 2019, os clubes
movimentos dos cidadãos para sul-americanos passarão a ter
justiça. Além de mudar a superar a discriminação e a se- uma seleção feminina além da
cara do futebol mundial gregação social. Todas mulheres masculina, pois, caso contrário,
e regional, fazem parte que, desde seu protagonismo no não poderão disputar as copas in-
da construção de uma esporte ou na sociedade, contri- ternacionais como a Libertadores
buíram para abrir as portas de ou a Sul-Americana. Isso significa
sociedade mais justa, direitos para todos e todas. Mul- maiores oportunidades para mil-
plural e inclusiva. heres que souberam jogar em um hares de meninas e mulheres da
“campo desigual”, mas que, com região, que poderão fazer do fute-
dignidade, jogo bonito e fair play, bol não somente a sua paixão ou
Sem dúvida, as Marta Vieira, Este- levaram o futebol feminino ao o seu passatempo, mas também
fanía Banini, Yoreli Rincón, Chris- nível profissional e humano que a sua profissão e o seu espaço de
tiane Endler ou Jéssica Martínez tem hoje. Mas, a história das mul- concretização profissional.

20
Este breve percurso histórico do tratos profissionais, remuneração
futebol feminino esclareceu to- e despesas de viagem de bom ní-
das as conquistas das mulheres vel, seguro médico, alimentação, A CONMEBOL possui
no âmbito do futebol mundial uniformes, entre outras coisas,
e sul-americano; mas, hoje, as questões básicas que correspon-
um Departamento de
vozes de estrelas do futebol como dem às jogadores com talento, Futebol Feminino, um
de Marta Vieira e Megan Rapinoe disciplina e compromisso com um projeto para desenvolver
colocam em discussão a neces- futebol de cada vez mais qualida- o futebol feminino
sidade de continuar avançando de técnica e física.
na pauta de igualdade esportiva e torneios de nível
para mais além das diferenças de O desafio não é outro senão con- internacional, onde o
gênero, o que implica, entre ou- tinuar a aprofundar a linha de talento feminino pode ser
tras coisas, que as meninas que construção da equidade dentro e apreciado por milhões de
jogam futebol, como atletas de fora do campo, o que provoca um
alto rendimento, podem treinar apoio concreto das instituições e torcedores e torcedoras
em campos esportivos adequa- organizações locais e internacio- em todo o mundo.
dos, ter vestiários decentes, con- nais do futebol.
21
O desenvolvimento
do futebol
sul-americano
A visão panorâmica do futebol Ora, essa trajetória na América
feminino que desenvolvemos até do Sul contou com a contribuição
agora nos permite ver como as particular da riqueza dos sota-
mulheres estiveram presentes ques andinos, rio-platenses, ca-
no campo e no mundo do futebol ribenhos, guaranis, ou com o rit-
desde o seu nascimento no sécu- mo do samba ou das danças que
lo XIX; presença que une a rique- cada país deu ao futebol feminino
za do talento esportivo ao com- sul-americano. Sotaques e rit-
promisso social na construção de mos que queremos resgatar nas
espaços equitativos e inclusivos, próximas páginas, relembrando
onde, além das diferenças ou como o futebol feminino nasceu
particularidades dadas pelo sexo e se desenvolveu em cada país
ou origem cultural, cada pessoa sul-americano.
tem o direito de se desenvolver
e alcançar a melhor versão de
si mesma como ser humano e
como esportista.

22
Impossível contar tanto em tão
poucas páginas
A leitora ou o leitor perspicaz Assim, há muito a dizer, contar e
perceberá imediatamente que compartilhar sobre a história do
O que compartilhare- em breve teremos que assumir a futebol feminino sul-americano;
mos a seguir sobre o fu- tarefa de editar uma “Introdução mas, ao mesmo tempo, este do-
tebol feminino de cada à História do Futebol Feminino na cumento tem um espaço limita-
América do Sul”, onde seja possí- do e, neste sentido, o que aqui
um dos países sul-ame- vel olhar de forma particular e, ao compartilharemos serão somen-
ricanos que compõem mesmo tempo, regional o que foi, te as «grandes manchetes de
a CONMEBOL é apenas é e pode ser a presença feminina cada país» e deixaremos ao leitor
uma pincelada de como no âmbito de futebol sul-ameri- o “gosto de quero mais”...
cano.
tem sido a trajetória do
futebol praticado por
mulheres nesses con-
textos socioculturais.

23
O futebol feminino com sotaque
rioplatense: ARGENTINA
Os argentinos e as argentinas Desde aquele sábado de outu- doras rio-platenses que, supe-
são reconhecidos mundialmente bro de 1923 até poucas décadas rando a discriminação dos anos
como um povo do futebol, berço atrás, as jogadoras de futebol 70, formaram a primeira equipe
de grandes estrelas como Di Sté- se organizaram de forma ama- sul-americana que competiu em
fano, Maradona e Messi. Mas, so- dora, o que os levou a enfrentar um torneio internacional de fu-
mente agora, se começa a saber situações precárias nos treina- tebol feminino. Sim, assim foi, em
que, de Buenos Aires até Salta mentos e não lhes era fácil man- 1971, as “meninas” da Argentina
ou Ushuaia, já antes dos anos 90, ter-se competitivas na prática do participaram da Copa do Mundo
milhares de meninas e mulheres esporte que amavam jogar. Por de Futebol Feminino, realizada no
jogavam informalmente o futebol esse motivo, a história do futebol México. Uma Copa que foi realiza-
como atividade lúdica e de lazer. feminino na Argentina, como no da sem o apoio ou reconhecimen-
Há semanários de época que de- resto do mundo, registra a falta to da FIFA, com a participação
dicaram várias colunas de suas do apoio necessário às meninas de seis seleções nacionais e um
páginas esportivas a comentar e mulheres jogadoras de futebol. público médio de 80 mil especta-
sobre a primeira partida de fute- Essa ausência de apoio de orga- dores por partida. Naqueles dias
bol, disputada por mulheres na nizações esportivas locais ou dos históricos e heroicos do futebol
Argentina em um sábado, 13 de patrocinadores fez com que por feminino, as “Albicelestes” (Alvice-
outubro de 1923, no antigo campo mais de meio século a Argentina lestes) conseguiram vencer a se-
do Boca, entre Argentinas e Cos- não tivesse uma liga profissional leção inglesa por 4 a 1. Foi a relem-
mopolitas, dois times de futebol feminina ou políticas institucio- brada Elba Selva quem marcou os
feminino da década de 20. Os jor- nais que promovessem o futebol quatro gols da vitória argentina
nalistas do “Diario Crítica” que co- jogado por mulheres. contra a Inglaterra naquele tor-
briram aquele evento garantem neio, triunfo esportivo reconhe-
que cerca de 6.000 espectado- Embora a adversidade estrutural cido em 2019 quando foi se esta-
res participaram do mesmo, que e a falta de meios limitassem em beleceu o dia 21 de agosto como
foi um grande sucesso de parti- muitos aspectos o futebol femi- o Dia da Jogadora de Futebol da
cipação para aqueles primeiros nino argentino, havia um grupo República Argentina.
anos do futebol! de magníficas e intrépidas joga-

24
Sem dúvida, o ímpeto do futebol consagrou-se campeão e se clas- A história recente do futebol fe-
feminino estava ganhando adep- sificou para a primeira edição da minino relata que a Argentina dis-
tos ano após ano, nação após Copa Libertadores da América putou, até o momento, três Copas
nação e, assim, em meados da dé- Feminina. Em 2011, a AFA permitiu do Mundo da FIFA: pela primeira
cada de 1980, a FIFA decidiu pro- a participação de clubes não filia- vez nos Estados Unidos em 2003,
mover o futebol feminino a nível dos diretamente à Associação do depois na China em 2007 e, após
mundial e, como parte desse pro- Futebol Argentino e em 2015 foi 12 anos, na França 2019, obtendo
cesso, em 1991, foram disputadas criada a Segunda Divisão do Fute- a melhor atuação em Copas do
a primeira Copa do Mundo Femi- bol Feminino. Mundo desde sua participação,
nina na China e o primeiro Cam- com atuações notáveis, como as
peonato Sul-Americano Feminino Retrocedendo um pouco, há uma de Vanina Correa e Soledad Jai-
no Brasil. “grande manchete” que não pode mes. O único título internacional
faltar neste breve resumo do fu- que a seleção argentina de fu-
Para o futebol argentino, aquele tebol feminino da Argentina que é tebol feminino possui é a Copa
ano de 1991 também é lembrado a de que nos anos 90 o técnico do América de 2006, onde leva o tro-
como um marco de equidade e River Plate, Coco Torres, começou féu máximo após vencer o Brasil
transformação, já que em 27 de seu trabalho como diretor técni- por 2 a 0 na final; os gols foram
outubro começa o Primeiro Tor- co da seleção feminina de futebol, convertidos por Eva González e
neio Oficial de Futebol Feminino que disputou sua primeira partida María Belén Potassa.
na Argentina, promovido e orga- oficial em 1993.
nizado pela AFA, que nomeia o
evento como Campeonato de Fu- Nessa mesma linha de partici- As perspectivas
tebol Feminino. Oito times par- pação internacional do futebol
ticiparam deste torneio que foi feminino rio-platense, é inte-
para o Feminino
vencido pelo Club Atlético River ressante lembrar que em 2000 Futebol argentino
Plate. Em 1997, o torneio já con- foi disputado um campeonato são extremamente
taria com a participação de vinte sul-americano de clubes no Peru, animadoras, já que
e duas equipes e, atualmente, o do qual participaram River Plate
Campeonato de Futebol Femi- e Banfield, representando a Ar- conta com jogadoras
nino da Primeira Divisão A conta gentina. Embora não tenha sido talentosas e está em
com a participação de 17 equipes. um torneio oficial, várias equipes curso um processo
campeãs sul-americanas partici-
de fortalecimento da
Durante 17 anos, River Plate e param e, por isso, a historiografia
Boca Juniors alternaram a primei- do futebol sul-americano o consi- presença argentina no
ra colocação na competição local, dera um precedente do que viria a mundo do Futebol.
apenas em 2008 o San Lorenzo ser a Copa Libertadores Feminina.
25
O futebol feminino com ritmo de
samba: BRASIL
“O Brasil é uma nação do fute- ABC e o Centro Esportivo Nata- riormente, nos anos 50, na revista
bol” e deu ao futebol mundial o lense, realizada no Sítio Senegal, Manchega do seu amigo Adolpho
conceito de jogo bonito; é um residência do “coronel” Joaquim Bloch. Nesta foto, entre outros,
país com uma história do futebol Manoel Teixeira de Moura, mais podemos ver João Café Filho, Gal-
feminino extremamente interes- conhecido como Quincas Moura, dino Lima e Quincas Moura. Entre
sante e com antecedentes que naquela época, prefeito de Natal. as mulheres estão: Jandira Café,
remontam, por exemplo, à cidade Nanita Maranhão, Dulce Moura,
de Natal, no Rio Grande do Norte, Aline Moreira Brandão, Maria de
onde os registros historiográficos Como parte das fontes históricas Lourdes de Moura Brito, Mabel e
falam de um grupo de mulheres mencionadas, a foto que figura a Isaura Tavares, Maria Antonieta
que jogavam bola, pelo menos, seguir, publicada pela Sophia A. Chaves, Alice Tavares de Lyra, Ma-
desde o ano de 1920. Fontes fi- Lyra, pela primeira vez em 1920, ria Amélia Medeiros, Cândida Pal-
dedignas referem-se a uma par- na revista Vida Esportiva, no dia ma, Belezita Moura, entre outras.
tida entre a “equipe” feminina do 20 de março desse ano, e poste-
26
Aqui deve ser lembrado que nas ticar esportes como futebol, fut-
primeiras páginas deste capítulo, sal e futebol de areia. O decreto Claro que as mulheres
foi feita referência ao fato de que governamental não só fortaleceu
as mulheres do futebol, como su- os estereótipos de gênero vigen- continuaram a jogar
fragistas ou ativistas dos direitos tes, mas também afetou aspec- futebol nos campinhos
civis, “não tiveram as coisas fá- tos fundamentais do processo das periferias das cidades
ceis” e isso é claramente afirmado de desenvolvimento do esporte e claro que o jogo
no caso particular do Brasil, já que feminino, tanto local quanto re-
além de todas as barreiras cultu- gionalmente, já que instalou um bonito sempre esteve
rais que as futebolistas sul-ameri- precedente de legislação voltada presente em todas
canas enfrentaram historicamen- à segregação da mulher na socie- as partidas, mas seria
te, as brasileiras foram afetadas dade. No dia a dia, isso significou
que os clubes esportivos não po-
quase ingênuo negar
pelo contexto político autoritário
dos anos 60, anos em que as mul- diam oferecer espaços de práti- que o banimento de 1965
heres foram legalmente proibidas ca do futebol às mulheres, assim limitou o alto potencial
de jogar futebol. como as federações esportivas de desenvolvimento
de outras partes do mundo, no
Em 1965, o Conselho Nacional de Brasil, não podiam organizar ou esportivo das “garotas
Esportes aprovou uma decisão promover competições de fute- do futebol brasileiro”.
que proibia as mulheres de pra- bol feminino.

27
Esse efeito nocivo da proibição do em 1983. Essa abertura permitiu temporâneo” teve início oficial-
Conselho Nacional de Esportes que os clubes esportivos passas- mente em janeiro de 1983, com
fica ainda mais evidente quando sem a oferecer a opção do Fute- boa presença de público nas par-
se contrapõe a uma legislação bol Feminino às suas associadas; tidas realizadas no estádio mu-
contrária, como o Título IX da Lei da mesma forma, as organizações nicipal de Serra Negra/SP e tam-
de Emendas à Educação de 1972 – esportivas passaram a promover bém na Praça de Esporte do São
“Title IX of the Education Amend- campeonatos entre os clubes que Bernardo, em Campinas.
ments Act of 1972” -, que permitiu possuíam times femininos que As Guaranis, do Guarani FC, se fir-
o grande desenvolvimento histó- jogavam futebol. Por exemplo, mariam como a principal força do
rico do futebol feminino estadu- na década de 1980, foi criada a interior de São Paulo, com o elen-
nidense, já que essa lei aprovada Copa Brasileira de Futebol Femi- co que no final de 1984 daria à luz
em 1972 nos Estados Unidos ga- nino, um campeonato organizado o futebol feminino no Saad EC.
rantia que as mulheres teriam anualmente e que se tornaria a
igualdade de oportunidades es- principal competição nacional do
portivas, ou seja, por exemplo, futebol feminino até 2007. É importante destacar que ape-
as universidades norte-america- sar de todas as barreiras jurídicas
nas estavam obrigadas a tratar Assim, passaram à história dos e sociais que ocorreram histori-
o esporte feminino da mesma nomes de Helô, Márcia, Lurdes, camente, o país tem uma histó-
forma que o masculino: mesmo Paulinha, Eugênia, Diva, Celinha, ria marcada por bons resultados
orçamento, instalações, meios e Mara, Carla, Maria e Paulão. Aga- internacionais no futebol femini-
número de bolsas para esportes chadas: Rosana, Lúcia, Toy, Ana no, e prova disso é que desde a
femininos e masculinos. Lúcia Gonçalves, Renata, Léa, primeira edição da Copa América,
Claudinha e Sueli. o Brasil venceu todos os títulos
No Brasil, essa proibição legal ter- da competição, com exceção de
minou em 1979 e o futebol femini- Conforme já citado no parágrafo 2006, quando o time argentino
no foi institucionalizado no Brasil anterior, o “futebol feminino con- conquistou o título.

28
O Brasil é, sem dúvida,
uma potência do futebol
O país também tem atuações so, é a artilheira absoluta de to- feminino, cuja história
destacadas em Copas do Mundo dos os campeonatos mundiais. A mostra como as joga-
e Jogos Olímpicos, conquistando meio-campista Miraildes Maciel
a medalha de prata na Copa do Mota, popularmente conhecida doras de futebol ressur-
Mundo de 2007 e nos Jogos Olím- como “Formiga”, também tem giram, como a ave fênix,
picos de 2004 e 2008. um papel importante na história das cinzas da proibição
do futebol feminino mundial, já
e da incompreensão so-
O Brasil também é conhecido in- que participou das sete edições
ternacionalmente pelo desem- da Copa do Mundo de Futebol cial, para chegar a ser
penho de suas jogadoras, por Feminino [1995, 1999, 2003, 2007, hoje uma das 10 melho-
exemplo, a brasileira Marta Vieira 2011, 2015 e 2019] e de cinco Jogos res equipes do mundo
da Silva já faz parte da história Olímpicos [1996, 2000, 2004, 2008
das mulheres que jogam futebol, e 2012].
do futebol feminino.
já que foi eleita a melhor jogadora
do mundo seis vezes e, além dis-
29
Futebol feminino com cara
multicultural: BOLIVIA

Como em muitos outros


países da região e do
mundo, na Bolívia, ape-
nas em 1993, em Santa Em sua jovem história no fute- mulheres na Bolívia é gerado pela
Cruz, foi fundada a pri- bol, é interessante resgatar que Liga de Desenvolvimento CON-
meira Liga de Futebol a Bolívia participou de sete das MEBOL, que por meio de torneios
oito edições da Copa América juvenis consegue dar forma a no-
Feminino e com ela um Feminina, fazendo sua primeira vos espaços do futebol feminino
forte impulso foi dado aparição na de 1995 realizada no que permitem a milhares de me-
à profissionalização do Brasil, participando desde então ninas jogarem bola em todo o
nas edições seguintes e lutando país, com atuações de destaque
futebol praticado pelas
com garra em campo para ir mel- na Festa Evolução, além de con-
mulheres nas diferen- horando seus resultados interna- quistar o prêmio “Reconhecimen-
tes regiões do território cionais. to Evolução”, concedido ao bom
boliviano. comportamento dentro e fora de
Outro marco significativo na his- campo.
tória do futebol praticado por

30
O futebol feminino boliviano está de” da seleção nacional é vestida esportiva de crescente rendimen-
escrevendo nestes momentos tanto por Emilie Doerksen, que to atlético quanto, ao mesmo
a sua história, e o faz a partir do é a primeira menonita a praticar tempo, aprofundar seu compro-
talento de jogadoras como Paola futebol profissionalmente, como misso com a geração de oportu-
Guzmán Carrasco ou Ángela Cár- Paola Álvarez, de Santa Cruz, uma nidades e processos de equida-
denas, que atualmente atuam no proeminente goleira internacio- de, onde as mulheres do futebol
futebol espanhol. Outro pilar da nal que agora joga no Real Racing contribuem para fazer da prática
nova trajetória do futebol bolivia- Club de Santander. deste esporte de multidões um
no é a abertura multicultural do espaço de superação pessoal e
futebol feminino nesse país, uma O futebol feminino na Bolívia, construção de uma sociedade
abordagem sociocultural que per- como em outras latitudes do con- mais justa para todos e todas.
mite, por exemplo, gerar espaços tinente, tem a tarefa de escrever
de coesão esportiva onde “A Ver- tanto as páginas de uma história

31
O Futebol feminino com ar
andino: CHILE
Na zona central do Chile, passa o meninas que romperam os este- É verdade, há evidências de mul-
ano de 1910 quando se produzem reótipos dos corpos “delicados” heres que jogavam futebol des-
os primeiros registros historio- jogando bola espontaneamente de o início do século XX, mas a
gráficos de um grupo de meni- nos pátios de sua escola; signi- história também mostra que os
nas chilenas que jogam futebol fica também admitir que muitas primórdios do futebol feminino
em sua escola em Talca, e hoje, a comunidades nativas, como as “organizado” no Chile não foram
esses dados, podemos somar as aimarás das salinas do norte, se nada fáceis, ou seja, as mulheres
pesquisas de sociólogos e antro- apropriaram culturalmente da do futebol - como em outras es-
pólogos culturais que tentam re- prática desse esporte e o pra- feras da sociedade chilena - tive-
construir as origens históricas do ticam desde “outra identidade”, ram que trabalhar pela equidade
futebol feminino andino a partir que, muitas vezes, os que es- para poder contar com clubes, ter
do estudo da estrutura e orga- crevem a história a subestimam financiamento, ter regulamentos
nização dos times de mulheres ou passam por alto. Em suma, a relevantes, incorporar categorias
aimarás das salinas de Tarapacá mulher chilena, como no resto da menores, ter seguro saúde ou
e Antofagasta no início do sécu- América do Sul, joga futebol há para que as partidas das meninas
lo XX. Assim, falar das origens do muito tempo. fossem transmitidas na TV em
futebol feminino chileno é valori- horários que as famílias pudes-
zar as jovens mulheres como as sem ver.

32
Nessa construção de contextos Na mesma linha de eventos sig- heres jogam futebol, mas há si-
futebolísticos mais justos e equâ- nificativos e de alto impacto, em tuações de retrocesso, como, por
nimes, a Copa do Mundo Sub-20, 2009 realizou-se pela primeira exemplo, em 2011 foram cortados
realizada no Chile em 2008, foi vez um campeonato nacional de os recursos que eram destinados
um verdadeiro marco histórico, futebol feminino sob a respon- à seleção nacional de futebol fe-
pois serviu para dar um grande sabilidade da ANFP (Associação minino, visto que as competições
impulso ao desenvolvimento do Nacional do Futebol Profissional) internacionais eram realizadas a
futebol feminino; a visita de tan- dado que até este momento a cada quatro anos. No entanto, o
tas jogadoras, de tantos países ANFA (Associação Nacional de campeonato nacional continuou
dos cinco continentes, ajudou a Futebol Amador) dirigia as com- a fortalecer-se, incorporando ár-
sociedade chilena a entender que petições de futebol feminino. No bitras através da sua comissão
o futebol feminino é uma realida- início, a ANFP começou como um nacional, exigindo técnicos pro-
de mundial em pleno desenvol- torneio com os clubes do centro fissionais, regulamentando a
vimento e que é uma “paixão de do país, depois se espalhou para transferência de jogadoras, for-
multidões” que humaniza o rosto as demais regiões chilenas e pas- mando as unidades disciplinares
das sociedades, contribuindo à sou a jogar por áreas. e, tecnicamente, realizando cam-
superação de estereótipos, práti- peonatos cada vez mais compe-
cas discriminatórias e rachaduras As mulheres veem suas chances titivos.
que dividem as pessoas desne- de profissionalização e a socieda-
cessariamente. de chilena já registra que as mul-

33
Na temporada 2018 foi dado mais ras, alcançando pela primeira vez
um importante passo organiza- o título máximo do campeonato
Apenas os clubes asso- cional, quando se forma a Primei- nacional naquela temporada e
ciados à ANFP partici- ra Divisão do Futebol Feminino, nomeando a Paula Navarro como
pam dos campeonatos composta pelos doze melhores diretora técnica, a primeira mul-
clubes do país, e também a Pri- her a ocupar esse cargo na liga
da nova era do futebol meira B do Futebol Feminino em chilena. O sucesso se repete no
feminino chileno, como duas áreas, com um total de 14 ano seguinte, quando Santiago
Colo-Colo, Universidad clubes, com ascensos e descen- Morning mais uma vez chega à
sos ao final da temporada. final da temporada 2019 e con-
de Chile, Universidad
segue, pela segunda vez conse-
Católica, Everton, Pales- O ano de 2018 é lembrado pe- cutiva, levantar a taça do cam-
tino, Santiago Wande- las mulheres do futebol chileno peonato nacional, arrancando a
rers, Santiago Morning, porque o Club Santiago Morning supremacia de muitos anos do
surpreende o futebol chileno ao Colo-Colo, eterno campeão nes-
Audax Italiano e repre- assinar os primeiros contratos sa categoria.
sentantes de regiões profissionais com suas jogado-
como Deportes Iquique,
Deportes Antofagasta,
Rangers, Temuco, Val-
divia e Puerto Montt,
entre os 25 clubes que
participam ativamente
deste torneio.

34
Esta partida é relevante para a Quando recapitulamos tudo o
2016 é mais um ano história do futebol feminino chi- que foi feito pelas mulheres do
leno porque ajudou a tornar vi- futebol chileno ou o grande tra-
que marca o futebol síveis o potencial, a qualidade de balho técnico de José Letelier
feminino chileno, já jogo e a coragem das mulheres à frente da seleção feminina de
que as autoridades chilenas que iriam representar o futebol, quando lemos os espe-
do futebol do país futebol feminino do país andino cialistas reconhecendo o talento
em estádios ao redor do mundo. futebolístico de jogadoras como
nomearam uma Cristiane Endler, Karen Araya,
comissão técnica para Sem dúvida, todos os fatos aqui María José Rojas, Yanara Aedo,
dirigir o “Las Chicas de la citados têm sua relevância e mé- Carla Guerrero e Francisca Lara,
Roja” [seleção feminina rito histórico, mas no processo não nos resta outra opção a não
de desenvolvimento do futebol ser parafrasear Kierkegaar e dizer
de futebol] e que nesse feminino chileno o grande sal- que os avanços do futebol femi-
mesmo ano organizaria to viria em 2018, quando o Chile nino chileno só podem ser com-
o amistoso contra o organizou a Copa América Femi- preendidos olhando para tudo o
nina. Esta competição interna- que foi feito pelas jogadoras, diri-
Uruguai, diante de cerca cional foi realizada com grande gentes e diferentes atores da so-
de 4.000 torcedores, sucesso, tanto pela quantidade ciedade chilena até agora, mas a
no Estádio Nacional, de público nos estádios quan- história do novo futebol feminino
partida vencida pelas to pela grande participação das do Chile deve ser redigida visan-
jogadoras da “Roja”, que foram do o futuro com equidade, res-
“Rojas” por 1 a 0, com gol vice-campeãs e se classificaram ponsabilidade e profissionalismo
de Javiera Grez. para a Copa do Mundo 2019, na esportivo.
França.

35
O futebol feminino com aroma
de café: COLÔMBIA

A Colômbia é um país que pela sua feminina é privilegiado o basque- heres no esporte mundial, orga-
riqueza produtiva e por sua loca- te, sendo importante lembrar nizações como as associações e
lização geopolítica sempre foi um que naquela época o ensino era as confederações de futebol re-
lugar de emprego e investimento comum em instituições educa- visaram internacionalmente cer-
muito atrativo a nível internacio- cionais separadas por sexo [só tas restrições discriminatórias e,
nal, o que favoreceu, no início do homens ou só mulheres]. em 1991, foi realizado o primeiro
século XX, a muitas empresas de campeonato de futebol feminino
origem britânica se instalarem Como no restante da América do organizado pela Federação Co-
nas principais cidades da nação Sul, o imaginário coletivo e cer- lombiana.
do café. Naqueles anos, junto tas convenções discriminatórias
com as empresas europeias, sur- contra as mulheres instalaram na Apesar das vicissitudes e limi-
giram os costumes e práticas ha- sociedade colombiana o precon- tações de qualquer “início de
bituais dos funcionários ingleses, ceito de que o futebol “era um processo”, as meninas do futebol
por exemplo, o futebol. esporte exclusivo dos homens”, conseguiram impor sua coragem
o que impedia que as meninas e e qualidade de jogo, formando em
O futebol colombiano nasceu as jovens pudessem desfrutar da 1998 a seleção feminina de fute-
como atividade sócio-recreati- prática deste esporte, por exem- bol da Colômbia, que nesse mes-
va de imigrantes, e mais tarde, plo, no ambiente escolar ou uni- mo ano disputou o Campeonato
em 1910, no âmbito do sistema versitário. Sul-Americano de Futebol Femi-
educacional, o Governo promul- nino disputado em Mar del Plata
ga uma portaria sobre a obriga- A década de 90 marcou uma mu- [Argentina] e em pouco tempo,
toriedade da educação física nas dança na história do futebol fe- em 2003, conseguiu figurar entre
escolas onde foi incluída a prática minino colombiano, pois, graças as três melhores seleções femini-
do futebol, que imediatamente aos meios de comunicação, aos nas da América do Sul, ao lado de
se popularizou nos colégios de movimentos pelos direitos de Brasil e Argentina.
valores enquanto que na esfera todos e às conquistas das mul-

36
As mulheres colombianas que jo- jovens do futebol já agregaram
gam futebol, em poucas décadas conquistas à Colômbia, como o
tiveram conquistas importan- primeiro lugar no Campeonato Os triunfos das
tes neste esporte de multidões, Sul-Americano de Futebol Fe- jogadoras de futebol do
por exemplo, a seleção femini- minino Sub-17 de 2008, no Chile,
na conquistou o ouro nos Jogos mesmo torneio em que foram
país cafeeiro ocorrem
Pan-americanos de Lima 2019 e vice-campeãs no Paraguai 2013 e no campo de jogo e na
anteriormente a prata nos Jo- na Argentina 2018. sociedade, fazendo do
gos Pan-americanos de 2015; futebol praticado pelas
também conquistou a prata nos O futebol feminino colombiano
Jogos Centro-americanos e do tem uma história recente que se
mulheres colombianas
Caribe. A Colômbia tem em sua traduz em conquistas locais e in- um espaço de alto
vitrine de troféus do futebol fe- ternacionais, alcançadas graças rendimento esportivo e
minino os vice-campeonatos da ao talento das jogadoras e ao igualdade social.
Copa América Feminina 2010 e esforço constante da mulher co-
2014, o que a permitiu disputar lombiana para superar as arma-
os mundiais femininos em 2011 dilhas das assimetrias de recur-
e 2015; assim como nos Jogos sos, estruturas e apoio para as
Olímpicos de 2012 e 2016. As mais meninas do futebol.

37
O futebol feminino da
Latitude 0: Equador

Certamente existe uma história A esta presença de uma mulher Los Libertadores, El Inca, Floresta,
escrita e que, por vários motivos, nos campos de futebol equatoria- Chimborazo, Monteserrín, Mejía e
não foi documentada, mas que nos deve-se acrescentar que, nos Chaupicruz. Espaços organizados
existiu; e são acontecimentos que anos 1970, diversas fontes gráficas da vida esportiva popular onde,
estão na base de realidades que e relatos sobre a vida familiar e os por regulamento, as mulheres
hoje fazem parte do nosso coti- momentos de lazer das mulheres tinham acesso para jogar e com-
diano, como é o caso do futebol e homens equatorianos mostram petir no âmbito do futebol, mas
feminino do Equador. que nos parques das principais ci- ainda amador. Em 1988, foi reali-
dades do país, as famílias, os ami- zado o primeiro Torneio Interligas
Seguindo esse fio condutor, po- gos e grupos de pessoas jogavam Bairristas de Futebol Feminino e,
de-se resgatar a experiência de futebol como hobby, prática lúdi- aos poucos, foram surgindo ou-
vida de Shirley Veintimilla, que ca e recreativa à qual as mulheres tros eventos importantes como o
foi a primeira árbitra de futebol da época também aderiam. Torneio Interbairros Princesas do
equatoriana no país, que após Futebol, disputado em Guayaquil
concluir o curso de arbitragem Posteriormente, a partir de 1980, em 1992.
com o chileno Juan Leytonse, diri- tanto os arquivos jornalísticos
giu diversos encontros do futebol como diferentes estudos socio- As ligas bairristas conseguiram
entre 1968 e 1973 em Tumbes, culturais coletam a experiência dar visibilidade ao potencial es-
Guayaquil, e inclusive em Cali das numerosas “ligas de bairro” de portivo das meninas do futebol
(Colômbia). Rumiñahui, El Salvador, Oriental, e as universidades tomaram nota
38
desse fato, por exemplo, a ESPE, tebol Feminino de 2015 e a “Tri”
UDLA, SEK, a Universidade Cen- marca presença nos campos do
tral e Universidade Católica, que Canadá naquele evento interna- O futebol feminino equa-
incluíram o futebol feminino em cional onde os Estados Unidos toriano profissional tem
seus programas esportivos e de conquistariam o troféu máximo. uma história escrita que
bolsas, proporcionando às me-
ninas infraestrutura e recursos Para finalizar este breve relato ainda muito recente, mas
e um tempo de qualidade para a histórico, cabe destacar que 2019 sua trajetória no meio
prática, o que aumentou o nível ficará na memória das mulheres popular e amador é ex-
esportivo e atlético das jogado- equatorianas que jogam futebol,
ras. de todos os jogadores equato-
tremamente interessan-
rianos e jogadoras equatorianas, te, assim como sua vin-
Em 2013, a nível mundial e como o ano em que o país teve a culação com o contexto
sul-americano, o futebol feminino oportunidade de conduzir e des- universitário e bairrista.
ganhava reconhecimento e públi- frutar a Copa Libertadores Femi-
co. O Equador não foi exceção, e nina, organizada pela CONMEBOL. Sem dúvida, como no
assim começou oficialmente este Também esse mesmo 2019 é o resto do continente, a
ano o Campeonato Equatoriano ano em que começa a funcionar a tarefa de dar equidade,
de Futebol Feminino, com o Roca- Superliga Equatoriana de Futebol valorização e apoio às
fuerte Futebol Clube de Guayaquil Feminino, que desde 2020 tem o
como campeão. O jovem futebol seu Regulamento e sistema de meninas que jogam fu-
feminino profissional do Equador, jogo, que foram aprovados pela tebol é um caminho ár-
em 2014, consegue se classificar Comissão Executiva da Federação duo, que deve continuar
para ir à Copa do Mundo de Fu- Equatoriana de Futebol (FEF).
a ser percorrido e no qual
é preciso avançar mais,
mas o rendimento es-
portivo, atlético e cole-
tivo das mulheres do fu-
tebol equatoriano ganha
cada dia mais reconheci-
mento.

39
O futebol feminino com garra
guarani: Paraguai
Talvez e sem querer, o ano de 1960 questionando o fato de que no Pettirossi, foi iniciado em caráter
possa ser considerado como um intervalo da partida disputada na experimental o primeiro torneio
primeiro ponto de referência para véspera, entre a equipe masculi- de futebol feminino da então Liga
o futebol feminino paraguaio, já na do Olímpia e do Guarani, hou- Paraguaia. Desse torneio as me-
que em 1º de janeiro desse ano o ve uma partida amadora entre as ninas do Clube Nacional sairiam
Governo aprovou o Regulamento meninas do Olímpia e uma equipe como campeãs, que competiram
Geral do Esportes do Conselho feminina de Ciudad del Este [na com as jogadoras dos times Cole-
Nacional de Esportes, dependen- época Puerto Presidente Stroess- giales, Encarnación e Pettirossi, e
te do Ministério da Educação e ner]. Apesar da diretoria do clube também participaram dessa “ex-
Culto, que em seu artigo 50 proi- ter apelado às mais altas autori- periência futebolística” a Univer-
bia terminantemente que as mul- dades do país, a resposta foi con- sidade Autônoma de Assunção,
heres praticassem esportes que tundente: “o futebol não é um es- Cerro Porteño de Coronel Ovie-
pudessem ir contra sua “natureza porte para mulheres”. do, Sport Artigas de Trinidad, Hu-
de mulher”, ou seja, que afetas- maitá de Mariano Roque Alonso,
sem sua capacidade de procriar Durante a década de 1990, o Para- Sport Villa Elena de Luque e as
ou que implicassem em danos guai passou por profundas trans- representantes da Liga de Con-
à sua “delicada estrutura física”, formações em sua história como cepcionera do Departamento de
quer dizer, a kuña paraguái [mul- país, e a sociedade, junto com Concepción.
her paraguaia] não podia jogar fu- suas instituições, foi se abrindo
tebol porque era mulher. gradativamente para um mundo Apesar do sucesso desta primei-
em transformação onde o futebol ra experiência, no ano seguinte
O citado artigo 50 brota na histó- feminino foi capaz de ganhar es- o torneio não foi disputado, mas
ria do futebol feminino paraguaio paço internacional e romper com em 1999 teve uma nova edição e
em 14 de julho de 1980, quando preconceitos que datavam de sé- como competição oficial. Nesse
o Conselho Nacional de Espor- culo XIX. Assim, em 16 de agosto ano, as campeãs foram as jovens
tes enviou nota ao Clube Olímpia de 1997, no campo do Clube Silvio alunas da Universidade Autôno-

40
ma de Assunção, que com o tem- seguiram se classificar e partici- Para encerrar este breve relato
po se transformou na equipe de par da Copa do Mundo de Futebol da caminhada da kuña paraguaia
futebol feminina de maior suces- Feminino Sub-17 na Nova Zelândia no mundo do futebol, é interes-
so do Paraguai, com 9 torneios e depois na Costa Rica. sante referir-se, neste ponto, à
oficiais conquistados. contribuição das experiências
educacionais e populares de in-
No Paraguai existe também a clusão e construção de direitos
União do Futebol del Interior, que A nível regional, a através do futebol, experiências
organiza campeonatos de fute- que a historiografia registra e do-
bol feminino em todo o “Paraguai
história do futebol cumenta graficamente em jornais
profundo”. Enquanto que, a nível feminino paraguaio é locais e que já é objeto de estu-
regional e internacional, a Asso- jovem, mas já colheu do em diversas áreas da socio-
ciação Paraguaia de Futebol pro- vários triunfos, por logia. Nesse sentido, como caso
move desde 1998 a participação exemplar, vale a pena referir-se
das meninas da “Albilady” ou “Al- exemplo, na Copa ao que vem sendo feito no “Par-
birroja Feminina” nas diferentes Libertadores da América tidí” desde 2002, uma iniciativa
edições da Copa América de Fute- Feminina, que se realiza da sociedade civil que realiza um
bol Feminino. Na mesma linha, no modelo de educação pelo espor-
desde 2009, com o
nível Sub-20, um fato histórico foi te, desenvolvendo diversas ati-
alcançado com a qualificação para terceiro lugar (2014) e vidades e torneios comunitários
a Copa do Mundo Sub-20 de Fu- o quarto lugar (2017 que têm contribuído para que a
tebol Feminino 2014, no Canadá, e 2019) do Club Cerro sociedade paraguaia veja com os
onde a seleção alemã seria cam- olhos de meninas e meninos para
peã e o Paraguai ficaria entre as 10
Porteño, assim como a participação das mulheres nos
seleções com melhor desempen- um campeonato do Club esportes, superando, assim e aos
ho da Copa. As caçulas do futebol Sportivo Limpeño em poucos, preconceitos e situações
feminino paraguaio não ficaram 2016 de discriminação que ainda impe-
muito atrás, e as meninas da se- dem uma maior expansão do fu-
leção Sub-17 em 2008 e 2014 con- tebol no âmbito feminino.

41
O futebol feminino no
solo inca: PERU

Há documentos que registram na naquele dia e que, alguns meses começar oficialmente no Peru
década de 1950, em algumas das depois, alcançaria o vice-campeo- com clubes como Sport Coopsol,
principais cidades do Peru, o sur- nato mundial no II Campeonato Sporting Cristal ou a Universida-
gimento de diversos espaços co- Mundial de Futebol Feminino. de de Lima.
munitários informais e populares
onde as mulheres peruanas joga- Os anos 1990 não foram fáceis Em 1998, Mar del Plata, na Argen-
vam futebol, seja como hobby ou para a sociedade peruana, que tina, seria o momento e lugar em
como parte de atividades recrea- teve que enfrentar várias vicissi- que as jogadoras do Bicolor Femi-
tivas que permitissem superar o tudes e situações adversas, mas, nino estariam fazendo sua estreia
preconceito social que excluía as mesmo assim, diferentes gru- internacional, o time selecionado
mulheres dos campos de futebol. pos de mulheres e organizações que com muito esforço conseguiu
esportivas promoveram alguns participar da terceira edição do
Depois, ao ritmo dos dribles e encontros, torneios e compe- Campeonato Sul-Americano Fe-
passes de Olga Pinto, Rosa Na- tições experimentais de futebol minino, organizado pela CONME-
varro, Maritza Tere ou Norma feminino. Esses testes mostra- BOL. Essas meninas conseguiriam
Britney, dando tudo no Estádio ram o talento e a capacidade es- vencer o Equador na disputa pelo
Nacional de Lima com suas sete portiva das mulheres peruanas terceiro lugar da Copa Sul-ameri-
companheiras de equipe, no dia 21 que se animaram a jogar futebol cana e, além disso, iriam deixar na
de julho de 1971, diante da não ain- e, que em 1996, já tinham reuni- memória nomes do futebol nacio-
da Seleção Feminina de do México das as condições para o primeiro nal como Olienka Salinas, Susana
que, ao final, alcançaria a vitória campeonato feminino de futebol Quintana e Vivian Ayres, entre
42
tantas outras jogadoras que con- Deysi Grandez. Dois anos depois,
tribuíram com seu compromisso em agosto de 2005, a Bicolor Fe-
e qualidade esportiva para o fute- minina conquistou a medalha de Atualmente, o futebol fe-
bol que tanto se joga com tanta ouro nos XV Jogos Bolivarianos, minino peruano continua
paixão nas terras incas. realizados na Colômbia. escrevendo sua história
Aos poucos, com esforço e mui- Em 2008, a Federação Peruana de tanto nos diferentes es-
ta dedicação das jogadoras de Futebol organiza e realiza o pri- paços populares das princi-
futebol no campo de jogo e na meiro campeonato nacional ofi- pais cidades do país como
consolidação dos processos de cial de futebol feminino do Peru, nos estádios e no âmbito
profissionalização do futebol fe- no qual as meninas da White Star
minino, as terras incas sediaram de Arequipa são consagradas profissional internacional
o Campeonato Sul-Americano Fe- campeãs e se classificam para a graças à talentosas joga-
minino da CONMEBOL em 2003, Copa Libertadores Feminina, tor- doras como Maryory Sán-
conquistando a quarta colocação neio sul-americano no qual al-
nessa Copa graças ao talento de cançou o quinto lugar na tabela
chez, Cindy Novoa, Kiara
jogadoras como Marisella Joya, geral. Ortega, Steffani Otiniano,
Adriana Dávila, Connie Puerta e Emily Flores e Adriana Lú-
car ou como Claudia Cag-
nina, a primeira jogadora
da seleção feminina pe-
ruana a fazer parte de um
clube que joga na Liga dos
Campeões (Champions
League).

43
O futebol feminino com ímpeto
charrua: URUGUAI
Não há dúvidas que o futebol faz das equipes que participaram das Futebol Feminino, órgão institu-
parte da história e da cultura po- competições da AAFA foram as cional que tinha o incumbência de
pular do Uruguai, mas a documen- Águilas Negras, Amazonas, Bella organizar profissionalmente esta
tação historiográfica aponta para Vista (San José), Cerro Azul, Hura- prática desportiva, e foi no final
a década de 1970 como o momen- cán (de Sarandí), Iriarte, Las Albas, de outubro desse ano que se deu
to em que as mulheres uruguaias Las Charrúas, Las Estrellas (San- o pontapé inicial no Campeonato
começaram a dar passos impor- ta Lucía), Las Rebeldes (Flórida), Uruguaio de Futebol Feminino, na
tantes no âmbito da organização Lomas de Zamora FC, Nacional, modalidade Futebol 5, a princípio,
e visibilidade do futebol praticado Pampero FC, Paso de los Toros e nele participaram as equipes
pelas mulheres, já que, por exem- (Tacuarembó), Peñarol, River Plate Rampla Juniors -que alcançou o
plo, em 14 de novembro desse (San José), San Lorenzo (San José) título de campeão-, Cerro (vi-
ano, na zona oriental do Rio da e Santiago Vázquez. ce-campeão), Liverpool, Basáñez,
Prata, Zulma Palavecino e outras River Plate, Danubio e Bella Vista.
jogadoras de futebol charruas Assim como os anos 70 foram im- No ano de 1997, o Campeonato
dão vida à Associação Amadora portantes para o futebol feminino Uruguaio de Futebol Feminino já
de Futebol Feminino (AAFA), e sob amador, o ano de 1996 marcou o passaria para a modalidade de 11
o guarda-chuva dessa estrutura, início da Liga Uruguaia de Futebol e é realizado ininterruptamente,
entre 1971 e 1975, realizaram os Feminino, resultado da decisão da sendo o Peñarol o tricampeão até
primeiros torneios de futebol fe- Associação Uruguaia de Futebol a data de elaboração desta seção.
minino em todo o país. Algumas sobre a formação do Conselho de

44
Sem dúvida, o Futebol Nesse sentido, até o momento, múdez ocupa uma vaga na tabela
a melhor participação da seleção de artilheiras com 3 gols.
Feminino charrua vai
feminina ocorreu na edição de
ganhando espaço, 2006 do Campeonato Sul-Ameri- A visão atual do futebol pratica-
adeptos e troféus a cano Feminino, onde conquistou do pelas mulheres no Uruguai, a
nível local, mas isso o terceiro lugar no quadrangu- partir de uma perspectiva his-
lar final, classificando-se assim tórica, mostra que o futebol fe-
também se dá a nível para os Jogos Pan-americanos de minino charrua, assim como no
internacional, e por isso é 2007, sendo importante desta- restante da América do Sul, está
importante lembrar que car que Angélica Souza ficou en- imerso em um processo de pro-
a primeira participação tre as quatro artilheiras daquele fissionalização, alto rendimento e
Sul-Americano de 2006. Em 2012 superação das desigualdades no
das “meninas da a Seleção Feminina Sub-17 con- que diz respeito ao investimento
Celeste” acontece quistou o vice-campeonato do dos patrocinadores nos torneios
no âmbito de uma torneio, conseguindo a passagem oficiais e ao nível de justiça remu-
para a Copa do Mundo em sua neratória das jogadoras, de forma
competição continental,
única participação. a que elas possam realizar esta
o Campeonato Sul- atividade esportiva e, ao mesmo
Americano Feminino de Vale destacar que no Campeo- tempo, viver dela.
1998, em Mar del Plata nato Sul-Americano Feminino de
Futebol Sub-20 de 2020, que foi a
[Argentina], onde se nona edição deste torneio, reali-
destacaram jogadoras zado na Argentina, a seleção uru-
como Carla Arrúa e guaia ficou entre as 4 melhores
Rossana Soria. equipes da categoria, e Karol Ber-

45
O futebol feminino da costa
caribenha: VENEZUELA

A história das mulheres que jo- agenda de atividades sociais das pação no I Campeonato Sul-Ame-
gam futebol na Venezuela, como “partidas amistosas”, que reúne ricano de Futebol Feminino [Bra-
em outras latitudes sul-america- um número significativo de torce- sil - 1991], onde junto com Brasil e
nas, mostra a face multifacetada dores e, assim, aos poucos o 11 a Chile, foram as que inauguraram
que a atividade futebolística tem 11 das meninas venezuelanas vão as competições deste nível para
na América do Sul, já que jogar fu- ganhando um lugar no imaginário mulheres sul-americanas que jo-
tebol é, ao mesmo tempo, um es- esportivo nacional. Um exem- gavam futebol. Nessa disputa le-
paço lúdico, um ambiente compe- plo dessa fase histórica são as varam a medalha de bronze, nos
titivo e, para muitos -por alguns competições de futebol feminino Jogos Centro-americanos e do
anos-, uma atividade de trabalho. realizadas em território nacional, Caribe conquistaram o ouro (2010)
promovidas pela Liga Menor de e o bronze (2018), e nos Jogos Bo-
Nesse sentido, diferentes fontes Futebol e que reuniram um gran- livarianos de 2009 conquistaram
historiográficas locais mostram de número de público. o bronze novamente.
que as mulheres praticam futebol
na Venezuela há muito tempo, Como em outras latitudes do con- Certamente as meninas da “Vino-
mas mais como parte de ativida- tinente e do mundo, a década de tinto’ nos vários eventos futebo-
des informais que acontecem em 1990 é uma época de esforço, or- lísticos do 11 a 11 feminino foram
espaços comunitários nos bairros ganização e visibilidade do futebol deixando simpatizantes e está-
ou em locais públicos, onde fa- feminino venezuelano, época em dios lotados, mas foi apenas em
miliares ou amigos se encontram que nasceu a “Vinotinto” (Vinho 2004 que a Federação Venezue-
para compartilhar momentos de Tinto) de mulheres, tendo sua es- lana de Futebol, através da Co-
relaxamento. Nos anos 70 essa si- treia internacional em 1º de maio missão de Futebol Feminino, deu
tuação mudou com a inclusão na de 1991 no marco de sua partici- vida ao 1º Campeonato da Liga
46
Nacional de Futebol Feminino de trabalhistas de uma atleta de alto cional de Futebol Feminino Sub-
Venezuela, onde participaram 21 rendimento. 20 de Alcudia-Espanha em 2016.
equipes, das quais o Estudiantes
de Mérida se sagraria campeão, Os mais jovens da “Vinotinto”
sob a liderança do inesquecível também souberam conquistar Como no resto da América do
Yolimar Rojas. seu lugar na história recente do Sul, o futebol feminino venezue-
futebol feminino, por exemplo, a lano tem uma história de raízes
O século XXI não só viu nascer a Seleção Sub-17 conquistou duas populares, de bairro e de prática
Liga Nacional de Futebol Feminino vezes o 1º lugar, em 2013 e 2016, amadora, que gradativamente se
de Venezuela, basicamente ama- no Campeonato Sul-Americano profissionalizou devido ao cons-
dora, mas, a partir de 2017, a Ve- de Futebol Feminino Sub-17 e, da tante avanço do nível de jogo
nezuela passou a contar com uma mesma forma, a seleção Sub-20 das jogadoras venezuelanas, bem
Superliga Feminina de Futebol ficou entre as três melhores em como pelos novos ventos que es-
[equivalente à Primeira Divisão de torneios como o Campeonato tão soprando no país, na região e
Futebol], com o que se passou a Sul-Americano de Futebol Fe- no mundo, onde a atleta feminina
uma instância profissional do fu- minino Sub-20 [vice-campeã em conseguiu conquistar um espaço
tebol feminino, permitindo que 2015], Jogos Bolivarianos [prata de reconhecimento e respeito,
as jogadoras tivessem acesso ao em 2013, bronze em 2009 e 2017] e embora ainda existam degraus de
salário e aos benefícios sociais e vice-campeã no Torneio Interna- equidade e justiça para subir.

47
Por que dedicamos tempo e vontade de
olhar o futebol feminino a partir de sua
história?
Ao final desta seção do docu- nalização do futebol praticado va e constante transformação so-
mento, é importante reafirmar a pelas mulheres. ciocultural na América do Sul e no
convicção da CONMEBOL de que mundo, onde a equidade, a abor-
recuperar as trajetórias de vida, Outro ponto importante a des- dagem baseada nos direitos e a
os esforços e a dedicação de mil- tacar nesta síntese final é que a justiça devem prevalecer sobre
hares e milhares de mulheres do contribuição da perspectiva his- qualquer forma de discriminação,
futebol do mundo e, em particu- tórica se baseia, principalmen- segregação ou marginalização
lar, da América do Sul, é um meio te, em corroborar que a inclusão que possam significar que as pes-
pertinente e válido para entender das mulheres nos campos, como soas sejam limitadas em suas
a situação atual do futebol femi- jogadoras de futebol que jogam, possibilidades de acesso a uma
nino, valorizando as conquistas arbitram, dirigem ou lideram essa vida digna ou ao desenvolvimento
alcançadas e, a partir daí, conti- paixão de multidões, tem contri- de suas potencialidades e de suas
nuar trabalhando nos processos buído, contribui e deve continuar capacidades, por exemplo, pelo
de desenvolvimento e profissio- contribuindo para uma progressi- simples fato de ser mulher.

48
Certamente, a história é lida ao como espaço de desenvolvimen-
contrário, mas é escrita no pre- to pessoal e, ao mesmo tempo,
sente olhando para o futuro e, como ambiente de trabalho pro-
sem dúvida, o futuro do futebol fissional. Esta visão histórica está
feminino é promissor porque sua ajudando a consolidar
história é rica, seu presente é ta- A história do futebol feminino a profissionalização do
lentoso e suas possibilidades ain- está sendo escrita hoje, não ape-
futebol feminino como
da estão em desenvolvimento; nas nos campos, torneios e cam-
mas também nesse horizonte do peonatos, mas também na esfera um a esfera esportiva
futebol feminino existem fantas- da pesquisa científica, à medida de alto rendimento e de
mas que devem ser enfrentados que mais e mais universidades, grande qualidade técnica
e superados, como a discrimi- centros de pesquisa e outras
nação e a desigualdade. Deve- instituições dedicam fundos e
e tática com rosto
mos continuar trabalhando para valiosos recursos humanos para feminino.
garantir as condições materiais ver como o futebol praticado por
e contratuais para que as mulhe- mulheres na América do Sul evo-
res vivam sua paixão pelo futebol luiu e se desenvolveu.

Deyna Castellanos, uma joia sul-americana nascida na Venezuela

49
O futebol feminino evolui
Os tempos mudam e as meninas do
futebol crescem no profissionalismo
Como pudemos verificar no des- A competição oficial em ligas, tor-
enrolar do relato histórico sobre Na década de 1990, neios e campeonatos locais e in-
as origens e a evolução do fute- tiveram início as ternacionais nos permitiu ver um
bol feminino, este esporte, tanto estilo de jogo típico das mulheres
para homens quanto para mul- competições oficiais do sul-americanas, que se identifica
heres, é uma paixão; a diferença, futebol feminino e as com a garra, o drible, a várzea e
entre outras, é que as mulheres jogadoras de futebol a malícia na jogada inesperada.
jogaram 11 a 11 por décadas nas Hoje esse estilo, de alguma for-
esferas recreativas, comunitárias
começaram a ganhar ma e em certos aspectos, vem
e amadoras, enquanto os ho- espaço no âmbito mudando graças ao desenvolvi-
mens, desde o início, puderam se do futebol de alto mento e ao crescimento que este
profissionalizar e, em pouco tem- rendimento, competitivo esporte está tendo no horizon-
po, convertê-lo em seu meio de te feminino. Assim, as meninas
subsistência. e profissional. que começam a jogar futebol na
50
escola ou no clube do bairro, en- cabeça para um futebol feminino minutos, não é mais vista como
frentam a prática e os torneios que hoje está ligado a campeo- uma “coisa estranha”, mas como
a partir da sensação de “serem natos mundiais, torneios interna- uma atleta e, em muitos casos,
grandes” como são hoje uma cionais e ligas nacionais cada vez como uma “verdadeira ídola”.
Marta ou uma Deyna. mais competitivas e populares.
Em síntese, pode-se dizer que a
O futebol feminino mundial e sociedade, a esfera do futebol e a
sul-americano evoluiu significa- Esta mudança é animadora, por- participação feminina evoluíram
tivamente desde os tempos em que as novas gerações observam e mudaram, o que tem permitido
que os Estados aprovaram leis com olhar renovado o lugar que uma exibição de talento, técnica
que discriminavam ou garantiam as mulheres veem ocupando nas e jogo bonito em estádios locais
os preconceitos em relação ao sociedades, e em particular nes- e internacionais, permitindo que
talento esportivo das jogadoras te esporte. Desta forma, e em- os apaixonados por este esporte
de futebol pelo simples fato de bora pareça redundante, hoje a desfrutem de tudo o que o fute-
serem mulheres. Sim, os tempos jogadora de futebol que sai para bol sul-americano praticado por
mudaram e as pessoas abriram a o campo, calça chuteira e joga 90 mulheres tem a oferecer.

51
O impacto do futebol feminino na
América do Sul
Parte da evolução do futebol fe- informação que reafirma esse depois de muita dedicação e im-
minino é o grande progresso que «crescimento exponencial» do pondo o talento esportivo como
vão tendo as seleções femininas futebol feminino: na última Copa parâmetro, hoje balança os cam-
sul-americanas que, com quali- do Mundo Feminina da França pos como um verdadeiro boom
dade esportiva e paixão pelo fu- 2019, a nível global, o público que do bom futebol para todos os
tebol, têm conseguido dar vida e acompanhou o evento em 135 públicos.
visibilidade às competições inter- países ultrapassou 1 bilhão de
nacionais que hoje são atraentes espectadores, enquanto que nas A América do Sul e o mundo aplau-
tanto para o público quanto para sedes da Galícia foram vendidos dem as genialidades no campo da
os patrocinadores dos eventos mais de um milhão de ingressos brasileira Marta, seis vezes eleita
de alto rendimento. para assistir às partidas do prin- a número um do mundo ou já
Essa evolução positiva pode ser cipal torneio de futebol feminino reconhecem os nomes de ídolos
traduzida em dados comprova- do mundo. como Cristiane, Formiga e Deyna
dos ​​e verificáveis, como a assidui- Castellanos.
dade do público nos campos para Fazendo um inventário, olhando
ver as meninas jogarem futebol os números e ouvindo a realidade Sim, o boom das mulheres no fu-
nas ligas locais ou o público cres- do futebol nos países sul-ameri- tebol é tangível e está aumentan-
cente nos torneios continentais e canos, é absolutamente corre- do, certamente como já foi dito
mundiais femininos. Apenas uma to dizer que o futebol feminino, aqui e como dizem as próprias

52
jogadoras, ainda há um longo ca- Como síntese desse boom, po-
minho a percorrer em termos de de-se dizer que o futebol femini-
dotar as equipes e seleções femi- no está em ascensão e que cada Todos esses dados e re-
ninas de estrutura empresarial vez mais mulheres, de diferentes ferências ao boom do fu-
e sustentabilidade econômica, idades e condições sociais, que
mas, mesmo assim, as estatísti- são apaixonadas por esse espor-
tebol feminino motivam
cas mostram que as marcas, os te de multidões e que o praticam, o otimismo, o desejo de
governos e os diferentes setores seja como hobby ou, em núme- continuar apoiando as
da economia ligados ao mundo ros crescentes, como profissão e meninas do futebol e de
esportivo estão aumentando seu força de trabalho. Boom que leva
apoio às competições e equipes à abertura de cada vez mais cam-
prever um futuro positivo
de futebol feminino como nunca pos, escolas de futebol e espaços e crescente para o fute-
haviam feito antes. onde as meninas podem jogar fu- bol praticado por mulhe-
tebol. res, tanto a nível mundial
quanto na América do Sul.

53
A aposta da CONMEBOL no
futebol feminino
Ampla oferta de competições
internacionais
A abordagem histórica do futebol feminino sul-americano requer um
olhar particular para o papel que a CONMEBOL desempenhou como
motor institucional que promoveu novas visões sobre o lugar e a
participação das mulheres na esfera do futebol.

A década de 1990 é importante, ternacionais. Hoje a CONMEBOL Todos esses torneios, eventos e
nesse sentido, para a CONME- propõe às seleções sul-america- copas organizados pela CONME-
BOL, porque se decidiu organi- nas femininas a participação em BOL conectam as jogadoras de
zar e se realiza em 1991 primeira encontros internacionais como futebol da América do Sul, con-
edição da Copa América Femini- a já citada Copa América Femini- tribuem para melhorar as con-
na, que constitui a maior com- na, o Campeonato Sul-America- dições estruturais e profissionais
petição internacional de futebol no Feminino Sub-20 e Sub-17, o das jogadoras, geram espaços de
feminino da América do Sul. Sul-Americano Feminino de Fut- liderança em ligas e associações,
sal, torneios femininos de futebol promovem o trabalho das trei-
Esse primeiro impulso da CON- de praia, o Torneio Pan-America- nadoras e tornam visível, por
MEBOL em 1991 foi a pedra angu- no de Futebol Feminino e o Tor- exemplo, o trabalho das árbitras,
lar de uma série de torneios que neio Sul-Americano de Futebol que hoje não dirigem apenas as
permitem ao futebol feminino Feminino Sub-20. Em seguida, a partidas femininas, mas também
crescer em qualidade profissional nível de clubes, a CONMEBOL or- apitam nas partidas das equipes
e, ao mesmo tempo, conquistar ganiza a Copa CONMEBOL Liber- masculinas.
adeptos no continente; também tadores Feminina e a Copa Liber-
o torna uma vitrine de alto nível tadores de Futsal Feminina.
para o mercado de passes in-

54
Liderança, capacitação e novas
estruturas para o futebol feminino
Nesta mesma direção, é um fato A tudo o que foi dito até aqui, de- mulheres, cada clube deve for-
de relevância histórica a pre- ve-se acrescentar um fato histó- mar -pelo menos- uma catego-
sença das mulheres nas lide- rico do futebol feminino sul-ame- ria de base feminina. Ambas as
ranças da CONMEBOL e que es- ricano que envolve diretamente a equipes devem participar de um
tão realizando cursos e palestras CONMEBOL. Como já menciona- torneio em sua federação local.
de formação e capacitação téc- do, mas que vale a pena relem- Outra exigência para os clubes
nica ao longo dos 10 países que brar, desde 2018 se estabeleceu da região é ter instalações ade-
compõem a CONMEBOL e, por- como um requisito obrigatório quadas para que as meninas pos-
tanto, pela primeira vez na histó- para os clubes da região cum- sam treinar e jogar suas partidas
ria, a instituição destina recursos prir a regra de ter equipes femi- em condições dignas e de acordo
próprios e da FIFA para financiar ninas para poder participar nos com a prática profissional e es-
o desenvolvimento do futebol torneios masculinos. Esta regra portiva de alto rendimento do
feminino por meio do Programa estabelece que, além de ter uma atual futebol sul-americano.
Evolução. primeira equipe composta por

55
Futsal feminino

Embora se trate de uma breve re- Mundialmente, o futsal feminino gradativamente à participação
senha, a primeira coisa que vale viu o surgimento das primeiras das mulheres sul-americanas e
a pena dizer é que como modali- seleções na década de 90; nesses assim, em 2005, foi realizado o
dade esportiva, o futsal, o futsala anos também foram disputados primeiro Sul-Americano de Fut-
ou o futebol de salão têm sua ori- os primeiros torneios nacionais e sal Feminino, com a participação
gem na América do Sul, pois seus internacionais, embora estes ti- da Argentina, Uruguai, Paraguai,
primórdios remontam à década vessem menos difusão na mídia e Peru e Equador, consagrando-se
de 1930, quando Juan Carlos Ce- tivessem menos recursos do que campeãs as meninas do futsal
riani, em Montevidéu, criou essa as competições femininas de 11 a brasileiro. Depois, a nível interna-
modalidade com os meninos para 11. cional, as brasileiras ganharam as
os quais dava aula como profes- edições de 2010 a 2015 do Cam-
sor de educação física. O século XXI foi o momento peonato Mundial Feminino de
propício para que esta modali- Futsal da FIFA.
dade esportiva fosse se abrindo

56
No âmbito regional, a CONMEBOL quistada pelas meninas dos clu- centrar seus esforços na profis-
organiza a Copa América Femini- bes brasileiros, com seis títulos sionalização, alto rendimento e
na de Futsal desde novembro de conquistados. na igualdade de oportunidades
2005, que tem nas meninas do para poder jogar nas condições
Brasil a seleção com mais con- Para finalizar esta breve resenha, adequadas, receber uma remu-
quistas até o momento, já que foi pode-se dizer que a jovem his- neração de acordo com o talen-
seis vezes campeã [2005, 2007, tória do futsal feminino começa to apresentado em campo e para
2009, 2011, 2017 e 2019]. Em re- a se inserir no mundo do futebol que o torcedor possa assistir a
lação aos clubes, a CONMEBOL das sul-americanas, assim como jogos em estádios de alto nível
organiza a Copa Libertadores de o futebol de areia; e que todas ou acompanhá-los através dos
Futsal Feminino, tendo a lide- as modalidades do futebol fe- meios de comunicação.
rança absoluta dos torneios con- minino visam claramente con-

57
O futebol feminino da CONMEBOL na
perspectiva de sua participação nos
mundiais da FIFA
Como consequência do recorte participar da Copa do Mundo Fe- mostrar ao mundo o estilo parti-
histórico sul-americano, vale re- minina de Futebol são Argentina, cular, a paixão e a inteligência do
capitular o que tem sido a par- três vezes; Colômbia, em duas; e futebol sul-americano. No 11 a 11
ticipação das seleções sul-ame- o Equador, uma vez. É importan- nos estádios da Copa do Mundo,
ricanas em copas do mundo de te destacar também que a artil- contra as melhores do mundo e,
futebol feminino e aqui é preci- heira em Copas do Mundo, até muitas vezes, sem os recursos e a
so lembrar que a primeira Copa o momento, é a brasileira Marta infraestrutura que contribuíram
do Mundo Feminina da FIFA foi Vieira da Silva, e que na sétima para a vitória dos Estados Uni-
em 1991, na China; e que até o colocação no ranking das maio- dos em quatro Copas do Mundo,
momento foram disputadas 8 res artilheiras está outra brasilei- as mulheres sul-americanas que
edições, sendo o Brasil o único ra, Cristiane. jogam futebol se destacaram es-
país sul-americano a participar portivamente em partidas ines-
das oito Copas do Mundo, con- Para a história do futebol femi- quecíveis, onde jogo bonito, a
quistando o vice-campeonato nino na América do Sul, a parti- malícia da várzea, o talento inato
em 2007 e o terceiro lugar em cipação em Copas do Mundo de e o alto nível profissional fizeram
1999. suas seleções femininas repre- a diferença, se transformando,
senta, mais do que troféus gan- aos poucos, na identidade das
Outros países sul-americanos hos ou inclusão nas estatísticas seleções sul-americanas.
que conseguiram se classificar e de resultados, a possibilidade de

58
Algumas lições da história
do futebol feminino
Um olhar retrospectivo, como o tivas, as sufragistas que depois processos de transformação e
que tentamos compartilhar aqui, de uma passeata foram às praças superação de práticas discrimi-
nos permite entender que as cavalgar, com duas latas, um gol natórias e injustas que ocorrem
mulheres que jogaram e jogam improvisado e depois compartil- na sociedade e no esporte, pois
futebol, seja como atividade re- haram um 11 a 11, mulheres que torneios, ligas, campeonatos e
creativa, comunitária ou profis- foram pioneiras neste esporte copas organizados, por exemplo,
sional, fazem parte de um movi- de multidões e no compromisso pela CONMEBOL, são vitrines de
mento histórico muito maior, as de vida com o direito de que ta- um mundo em mudança, onde as
jogadoras de futebol sul-ameri- lentos esportivos de ídolos como jogadoras têm direito a um sa-
canas têm sido e são as protago- Martas, Cristiane, Formiga ou lário digno e a poder escolher o
nistas de uma mudança desnor- Deyna Castellanos possam ter futebol como seu espaço de rea-
teante de paradigmas dentro da camisas, chuteiras, estádios e lização profissional.
sociedade desde o final do século transmissão ao vivo de seus dri-
XIX até os dias atuais. bles, jogo bonito e gols antológi- O leitor atento terá encontrado
cos. nesta breve história do futebol
A história compartilhada nestas feminino, mundial e sul-ameri-
páginas nos permitiu um conta- A história das mulheres que jo- cano, as marcas profundas de
to breve, mas significativo, com garam e jogam futebol hoje está histórias humanas de superação
as equipes de operárias do pe- sendo escrita em universidades e conquistas, ao mesmo tempo
ríodo entre guerras, as jogado- e centros de pesquisa, como for- que poderá ter compreendido o
ras de futebol das comunidades ma de resgatar o papel da mul- potencial transformador do fute-
nativas, as meninas que jogavam her e do futebol na construção bol como movimento esportivo,
bola nos pátios das escolas, as das identidades socioculturais social e cultural de multidões.
universitárias com bolsas espor- sul-americanas, como parte dos

59
A MENINA
FUT EBOLISTA
60
Desenvolvimento e
maturação físico-social
Muitos autores têm mostrado como ocorre o desenvolvimento
motor na infância, com suas fases sensíveis para cada habilidade
física (coordenação, força, resistência, velocidade e flexibilidade).

Sabemos que o processo de cres- Dentro da nossa cultura, ainda O futebol como esporte popular
cimento, maturação e desenvol- temos traços muito masculinos e e de massa deve ser inclusivo e
vimento humano interfere dire- quando pensamos em atividade colaborar com a igualdade de gê-
tamente nas relações afetivas, física, percebemos uma grande nero desde a infância, proporcio-
sociais e motoras dos jovens e diferença entre os gêneros, prin- nando a oportunidade de escolha
que, consequentemente, é ne- cipalmente pelas oportunidades de sua prática para meninos e
cessário adaptar os estímulos e brincadeiras que são oferecidas para meninas.
ambientais de acordo com esses para meninos e meninas. Estu-
fatores para cada esfera de des- dos têm demonstrado que as ati- O interesse pelo futebol femini-
envolvimento. vidades e jogos das meninas são no cresce a cada ano e uma clara
caracterizados por jogos mais demonstração é a maior partici-
estáticos e com comportamen- pação das mulheres no esporte.
O crescimento, tos mais verbais do que motores, Cada vez são mais os espaços
que atuam mais na imaginação e oferecem a prática esportiva e
a maturação e o na coordenação motora fina. Um observamos a inserção das me-
desenvolvimento exemplo desse tipo de brinque- ninas desde cedo.
humano são processos do é a boneca e seus pertences.
altamente relacionados Já os meninos têm brinquedos Há um tempo atrás, ainda existia
mais complexos (bolas e carros), o espaço lúdico dentro de um re-
que ocorrem com componentes móveis, que creio nas escolas. Não estamos
continuamente ao promovem uma atividade moto- negando que hoje esse momento
longo do ciclo de vida. ra mais dinâmica e em espaços se perdeu, mas que foi ocupado
maiores, atividades que ajudam pela tecnologia.
Portanto, as aquisições
muito no desenvolvimento mo-
motoras de crianças tor dos meninos.
e adolescentes não
podem ser entendidas O desenvolvimento da jogadora
de futebol começa entre a in-
de forma exclusivamente fância e a adolescência. Tanto as
biológica ou ambiental, meninas como os meninos entre
devemos pensar de 5 e 6 anos estão imersos em um
forma interacionista e projeto de longo prazo cuja for-
mação básica culminará aproxi-
sistêmica, reconhecendo madamente aos 12 anos de idade.
a relação entre os Coincidindo com a idade escolar,
fatores biológicos e neste período não há diferenças
significativas nas características
socioculturais presentes
da infância entre meninas e me-
em nossas vidas. ninos.

61
No passado, as meninas entre 6
e 12 anos ansiavam pelo recreio
para poder brincar com os ami-
gos e as amigas:

O advento da tecnologia (celu- Dentro das Associações Membro


Amarelinha lares, tablets, jogos eletrônicos, é necessário implementar um
etc.) fez com que esses jogos certo número de estruturas. Um
deixassem de existir, onde hoje planejamento de desenvolvimen-
podemos observar principalmen- to de curto, médio e longo prazo
te meninas sentadas jogando não pode ser contemplado con-
“sozinhas”, não apenas sem inte- siderando apenas aspectos téc-
ragir com seus pares, mas tam- nicos. Não pode haver desenvol-
bém gerando uma falta de estí- vimento técnico sem um mínimo
mulo na parte inferior do corpo. de organização administrativa,
promoção de atividades e comu-
Transferindo-o puramente para o nicação.
esporte, é fundamental que todo
ser humano consiga desenvolver Por razões educacionais, um
a maior quantidade de estímu- grande número de países intro-
los motores desde cedo e que os duziu classes mistas de meninos
educadores esportivos tenham e meninas na escola, onde os me-
uma pedagogia e uma malha cu- ninos não são mais divididos por
Elástico rricular adequada para cada idade. sexo, mas por idade e nível edu-
cacional. A mistura de meninos e
Sabemos que cada país tem uma meninas no esporte e no futebol
idiossincrasia e que dentro de segue a mesma regra.
cada uma das nações podemos
encontrar um multiculturalismo A experiência nos ensina que, até
que nos permite abordar a edu- os 12/13 anos de idade, não há
cação física, e especificamente o diferença de talento entre meni-
futebol, de maneiras diferentes. nos e meninas, e que as meninas
aprendem a jogar futebol seguin-
Nos capítulos anteriores falamos do os mesmos estágios de des-
muito sobre o DESENVOLVIMEN- envolvimento dos meninos, seja
TO do futebol feminino, pois con- nos âmbitos técnicos e atléticos,
sideramos muito importante que assim como na visão de jogo e na
cada uma das federações tenha comunicação.
um “Planejamento estratégico/
de desenvolvimento para a in-
Pular corda tegração do futebol feminino na
sociedade”.

62
O futebol misto engloba todas as formas de competição nas
quais meninas e meninos podem jogar uns contra os outros
Consequentemente, sempre que cos, estimular a sua capacidade conceito abstrato quando aos 7
possível - levando em conside- cognitiva e evoluir nas suas re- anos transita em uma atividade
ração e respeitando a estrutu- lações socioafetivas em colabo- intelectual de operações concre-
ra das diversas sociedades, bem ração direta com a sua inclusão tas. Nem podemos nos comuni-
como as possibilidades culturais social. car da mesma forma em todas
e educacionais - permitir o siste- as idades, cada idade precisa de
ma misto no futebol pelo menos A orientação no desenvolvimen- uma linguagem de acordo com
até os 12 anos de idade contribui- to integral da menina no futebol uma simplicidade adaptada à sua
rá muito para o desenvolvimento está condicionada pelas carac- capacidade de compreensão.
do futebol em geral e do futebol terísticas própria das diferentes
feminino em particular. idades e pelo trabalho do for-
mador em aplicar esses conhe- O movimento é próprio
No processo de desenvolvimen- cimentos no desenvolvimento
to da menina no futebol, é rele- das suas aulas. Não é apenas re-
das meninas e dos
vante estabelecer uma aborda- levante que o responsável pela meninos. As habilidades
gem abrangente da menina que formação integral da menina sai- motoras nessas idades
aprende, valorizando-a como ba como os aspectos sociais, fí- representam um
uma unidade biopsicossocial. O sicos e cognitivos se manifestam
futebol como esporte é uma fe- nestas idades, mas que estes fundamento e uma
rramenta extraordinária para o conhecimentos sejam os nortea- condição importante,
desenvolvimento integral nes- dores na criação de exercícios, não apenas para o
ta fase. A menina interage com formas e estilos de comunicação
desenvolvimento físico,
seu corpo em movimento em um e, sobretudo, nas expectativas de
ambiente propício à criação de conquistas que coloca em cada mas também para
vínculos com seus pares. Neste menina. Na verdade, é um erro o desenvolvimento
sentido, o futebol oferece um ce- do treinador pedir a uma meni- intelectual e
nário imbatível para que a meni- na de 7 anos a mesma conquista
na, através do movimento, possa que uma menina de 10 anos, ou
socioafetivo.
aumentar os seus aspectos físi- conceber que ela interprete um (Jorge R. Gomez, 1986).

63
Outro fator importante é que a nas habilidades motoras das me- de, pois muitas vezes são proibi-
diferença nas habilidades moto- ninas se devem principalmente às das de jogar com os meninos em
ras das meninas faz com que per- diferenças nos estímulos ofereci- competições. No entanto, pode-
cam o interesse pelos esportes dos e não às diferenças físicas. As mos constatar em alguns países
em geral. Tanto a entrada como habilidades motoras e a inserção do mundo onde o futebol femini-
a manutenção da menina no es- das meninas nos diferentes es- no é mais desenvolvido (Resulta-
porte acabam por ser dificultadas portes têm muito a ver com as dos esportivos e número total de
pela falta de estímulo por parte oportunidades que tiveram ao praticantes, Relatório FIFA), que
dos pais e da sociedade. Estudos longo da infância, mostrando a o futebol misto é amplamente
mostram que as meninas entram importância da família e dos pro- praticado até os 12 anos, e que
no esporte mais tarde que os fessores como agentes de trans- muitos desses países já adotam
meninos e desistem muito mais formação dessa realidade. competições mistas em suas fe-
cedo. Este cenário pode explicar derações.
parcialmente o número menor de Vimos até o momento que não há
meninas que jogam futebol e re- diferenças físicas entre meninos A igualdade física entre os gê-
vela um dos aspectos a ser mel- e meninas até a puberdade e que neros na infância permite uma
horado para promover o desen- as principais diferenças motoras abordagem sistemática de uma
volvimento do futebol feminino. são promovidas por aspectos formação mista no futebol, des-
socioculturais que influenciam cartando por completo a des-
Quando observamos algumas va- na adesão e no número de meni- igualdade cultural que sempre
riáveis ​​físicas como altura, força, nas que praticam esportes. Além excluiu a menina do jogo com a
potência e níveis de testosterona de todas essas consequências, bola nos pés. Ao apresentar a
que influenciam diretamente o podemos observar ainda que o menina ao menino em atividades
rendimento, nenhuma diferença número de competições femi- esportivas na infância, diversos
fisiológica foi encontrada entre ninas, principalmente de base, é benefícios são gerados para os
meninos e meninas até a puber- muito baixo na América do Sul. profissionais, além de minimizar
dade (pré-púberes). Esses acha- As poucas meninas que querem as desigualdades culturais exis-
dos reforçam que as diferenças jogar encontram outra dificulda- tentes.

64
O futebol misto é aconselhável até os 12 e 14 anos
Benefícios:

Socialização entre Aumento das habilidades Desenvolvimento socioafetivo


meninas e meninos. motoras e cognitivas das crianças.
das meninas.

É comum que as meninas pratiquem com os meni- so para garantir uma boa abordagem pedagógica e
nos em ambientes não formais (escolas, bairros e garantir a segurança dessas meninas no processo,
ruas), especialmente quando convidamos jogadora um fato fundamental!
e ex-jogadoras. Entretanto, enquanto jogam infor-
malmente, não conseguem competir devido à cita- Pensando no desenvolvimento do futebol feminino
da falta de campeonatos. em geral, é muito importante que nós, as profes-
Além disso, mostramos que quando praticado com soras, façamos mais atividades com as meninas em
meninos, podem ocorrer evasões, evidenciando a todos os lugares, na escola, no projeto social, no
importância dos professores novamente no proces- clube, entre outros locais de prática esportiva.

65
Aspectos sociais da menina
futebolista
Os aspectos sociais se manifestam com características diferentes
na infância. Esse conhecimento nos fornece diretrizes para
planejar o processo de desenvolvimento da menina e direcionar as
características da nossa proposta formativa.
Entre os 6 e 7 anos, a menina, tal Nesse período, respeito e jus- Algumas atividades adequadas:
como o menino, passa do ego- tiça começam a se manifestar. nessas idades devemos propor
centrismo à integração social. Os jogos em grupo são simples, atividades em grupo (desde pe-
Discerne muito bem entre o bom quase sempre buscando a sua quenas sociedades até grupos
e o ruim. Seus contrastes emo- satisfação pessoal. Distingue as massivos) que colaborem na in-
cionais são característicos desta diferenças sexuais, tendem a ex- serção social e na superação
fase, não sendo fácil acompanhar plorar ou rir das funções orgâni- do estágio do egocentrismo. A
as constantes variações que pro- cas de outras meninas ou outros competição começa a ser a ferra-
põe em sua atividade. meninos. menta para moderar o compor-
tamento diante da vitória e da
Socialmente, ela precisa ser aju- Por volta dos 7 anos, a agressi- derrota. A estrutura regulatória
dada a ter confiança em si mes- vidade característica da criança do esporte privilegia o ensino
ma como membro da sociedade. de 6 anos passa a ser a lingua- dos conceitos “respeito” e “jus-
É sonhadora e muito sensível à gem oral, sendo os insultos co- tiça”. Da mesma forma, nas ati-
aprovação ou desaprovação dos muns. Melhora o relacionamento vidades propostas, a ênfase deve
outros. Gosta de competir com com outras crianças, aparecendo ser sempre colocada no respeito
os outros em jogos de equipe, o termo “nós”, que expressa o ao próprio corpo e ao dos outros,
mas sempre quer vencer. desejo de pertencer a grupos. no sentido de aceitar os limites e
as possibilidades próprios e dos
outros, e ao respeitar os tempos
de evolução de cada um.
66
Aos 8 anos se apaixonam por Entre os 9 e 10 anos, começa a Coopera e atua em função do
competições em equipes e jo- construir amizades mais pro- grupo. A noção de regra atinge
gos onde existem regras defi- fundas e duradouras. É capaz de sua maturidade, podendo até
nidas e aceitas por todos, o que subordinar seus próprios interes- mesmo analisar o porquê de uma
implica um profundo sentimento ses às opiniões do grupo que faz regra, sua origem e importân-
de justiça, não deixa passar as parte. Essas associações são ca- cia. Isso nos orienta para a ação
infracções, inclusive as de usas racterizadas pela rigidez de suas educacional, permitindo-lhes in-
próprias companheiras. regras de aceitação restritas troduzir modificações nas regras.
dos rituais, elaboradas e aceitas Tem grande autocrítica (o docen-
Algumas atividades apropriadas: por todos os integrantes, e na te deve descobri-las e ajudar na
é aconselhável atravessar a ba- aceitação dos papéis atribuídos integração de cada criança nos
rreira da descoberta e dar às a cada um. As lideranças espon- jogos).
meninas a participação ativa na tâneas são delineadas, devido à
criação de jogos com regras es- inteligência, habilidade ou força Algumas atividades apropriadas:
peciais onde elas mesmas as im- de caráter; é importante recon- atividades e exercícios onde os
ponham. Atividades e jogos onde hecer essas lideranças e canali- papéis definidos de ataque e de-
ocupam funções hierárquicas zá-las a favor de uma boa dinâmi- fesa começam a ser delineados.
também estão em conformidade, ca nas aulas. Ajusta-se às normas Atividades que lhe dão liberdade
por exemplo, ser capitã (trans- sociais. para criar exercícios, “planeja-
ferindo pequenas responsabili- mentos de ação” com seus com-
dades específicas desta função) Aos 10 anos, emocionalmente panheiros de equipe, jogos, etc.
ou árbitra (estabelecendo a co- se caracteriza pelo sentido de A produção de suas próprias ati-
brança de regras de aplicação compromisso, organizações “se- vidades não só estimula a área
simples, como arremesso lateral, cretas” surgem elaborando pla- cognitiva e a resolução de proble-
tiro de meta, cobrança de escan- nejamentos de ação e atribuin- mas nessas idades, mas também
teio e gol). do responsabilidades definidas. favorece a canalização de líderes.

67
Dos 11 aos 12 anos, emocional- oposição ao mundo social e idade projetam a figura do adulto per-
mente há uma quebra do equi- dos segredos. mitindo a prática do “respeito”.
líbrio tão particular que havia Neste momento são revelados
sido alcançado aos 10 anos, pois Já aos 12 anos, emocionalmente os alicerces construídos ou não
as mudanças somáticas que co- se caracteriza por um equilíbrio nas idades anteriores. As meni-
meçam a ocorrer ressoam pro- maduro. O relacionamento com nas que foram formadas no es-
fundamente nos púberes dessas o adulto melhora notavelmente. porte poderão se reajustar mais
idades. As novas formas corpo- Esta idade caracteriza-se pelo rápido do que aquelas que tran-
rais se traduzem em mudanças entusiasmo, pelo bom relaciona- sitam por ali pela primeira vez.
de estados de humor somadas a mento com o seu grupo, com os Os conceitos de cooperação e
uma fase de crise na relação com mais velhos e com as pessoas em colaboração devem se materiali-
o adulto e principalmente com geral. zar nas atividades propostas. Os
seus pais. exercícios de cooperação e cola-
Algumas atividades apropriadas: boração defensiva e ofensiva são
Surgem as primeiras diferenças em primeiro lugar devemos aler- favoráveis, seja estabelecendo
entre o comportamento social tar que neste período o futebol parcerias com um companheiro
de meninos e meninas. surge como um contexto recep- ou construindo estratégias co-
tivo. A figura do formador ou da letivas como, por exemplo, de
Redução dos grupos de amigos, formadora e o papel do árbitro pressão ou de ataque coletivo.

68
Aspectos físicos da menina
futebolista
A preparação física da menina Entre 6 e 8 anos é uma fase de
futebolista se baseia na otimi- transição onde ocorre a evolução
zação de suas capacidades físi- do ponto de vista psicomotor.
Entre 6 e 8 anos de idade
cas em relação às característi- Falta o controle segmentar fino, se dá a transição do
cas próprias dessas idades. Sem o alcance da velocidade ideal nos movimento global para o
um planejamento sistemático da diferentes movimentos e a pos- diferenciado, afirmação
carga de treinamento, a otimi- sibilidade de encadear as ações
zação das capacidades físicas na motoras de várias fases. O exer- definitiva da lateralidade,
infância baseia-se na geração de cício produz aumentos marcan- diferenciação esquerda-
estímulos adequados levando em tes no desempenho, mas desde direita e a independência
consideração o estágio sensível que não exceda as limitações
dos braços em relação
de cada capacidade e as caracte- maturacionais do lado técnico e
rísticas de cada idade. físico. (Jorge Gómez, 1990) ao corpo.

69
Menina de 6 anos
Do ponto de vista estritamente corporal, verifica-se a extensão dos segmentos, braços e pernas, em
comparação com o crescimento do tronco e do crânio. Muscularmente, não são muito fortes. Possuem
boa elasticidade. Se cansam rapidamente e sua capacidade residual de oxigênio nos pulmões é fraca,
embora se recuperem com facilidade.

A hiperatividade é característica desta idade, produto da grande labilidade do sistema nervoso, que as
torna instáveis e
​​ mutáveis, excitáveis e
​​ contraditórias.

Geralmente fazem muito barulho, precisam de atividades que envolvam ação. O crescimento é lento.

Todas as atividades motoras que realiza são globais. Seu nível de reação é baixo e, consequentemente,
não pode controlar mudanças repentinas de direção de seu corpo ou de partes dele.

Algumas atividades apropriadas:


Atividades e exercícios de esforço NÃO prolongado preensão, com instruções curtas e simples. As lon-
e que NÃO exija resultados em termos de aplicação gas explicações apenas dificultam a compreensão e
de força, resistência, velocidade e coordenação fina. promovem a dispersão interrompendo a dinâmica
Isso significa que nessas idades é um erro orientar o da aula. A partir deste momento os exercícios de
resultado para a distância do passe, a força do chu- alongamento devem estar presentes no retorno ao
te ou a execução fina e rápida de um gesto. Deve- repouso, não só para recondicionar o organismo,
mos também atender à necessidade de movimento mas também como base para uma conduta discipli-
com propostas dinâmicas e variadas, de fácil com- nar no cuidado com o seu corpo.

70
Menina de 7 anos
Não há diferenças óbvias entre os 6 e 7 anos nos aspectos morfológicos. O crescimento segue seu curso
normal, embora se observe a culminação do processo de extensão das extremidades em comparação
com o tronco e o crânio. Melhoram as condições musculares. Melhor controle de suas habilidades mo-
toras, suas atitudes corporais são mais medidas.

Gradualmente o controle de seus movimentos voluntários aumenta, desde que nenhuma velocidade
seja imposta aos mesmos.

Algumas atividades apropriadas:


Podem ser propostas atividades que requeiram maior complexidade na coordenação: acoplando os mem-
bros superiores com os inferiores de forma simétrica ou assimétrica, a execução de passes deve sempre
abranger o lado habilidoso e o não habilidoso, coordenação óculo segmentar na presença da bola e enca-
deamento de 2 ou mais ações.

71
Menina de 8 anos
Constitui uma idade de consolidação orgânica e corporal. Observa-se maior harmonia em suas linhas,
maior robustez e uma relação crânio-corpo mais próxima do adulto.

Surgem os núcleos de ossificação dos ossos dos punhos e joelhos, devendo-se ter maior cuidado com
as articulações evitando apoios muito intensos.

Melhora a resistência ao esforço (por aumento da energia corporal e o tamanho relativo do seu coração).

Melhora seu tônus muscular


​​ e é capaz de realizar tarefas motoras onde a força do corpo está compro-
metida.

Seu sistema nervoso está próximo do ponto crítico de maturação, o que permite observar um ajuste
cada vez maior dos movimentos finos.

Os movimentos têm maior fluidez no encadeamento de sequências simples, desde que não existam
ações segmentares que quebrem as estruturas naturais. O enriquecimento psicomotor que experimen-
ta quantitativa e qualitativamente se reflete em um esquema corporal mais diferenciado.

Algumas atividades apropriadas:


Sem um planejamento sistemático, nesta idade as atividades e exercícios passam a ser orientados para a
aplicação da força, da resistência e da velocidade com exercícios lúdicos que estimulem essas capacidades
por meio de jogos, competições, corridas, saltos. A carga de treinamento (sem dosagem sistemática) é ajus-
tada respeitando os limites das meninas. Os intervalos de recuperação são alternados com períodos não
excessivos de trabalho intenso.

72
Menina entre 9 e 10 anos
Nessa idade, começam a surgir os primeiros traços do adolescente. Embora os meninos sejam aparen-
temente mais fortes e resistentes do que as meninas fisicamente, isso é atribuído ao condicionamento
cultural. Submetidos ambos sexos à programas de atividades intensas e bem planejadas, é comum
observar meninas com melhores níveis de força, resistência e velocidade do que os meninos e uma qua-
lidade de coordenação motora diferente. Os processos aeróbicos e o aumento da resistência não são
diferentes em meninos e meninas (aos 10 anos de idade, a quantidade de eritrócitos e hemoglobina no
sangue é semelhante em ambos os sexos).

O sistema nervoso central atinge 95% de seu desenvolvimento e maturação total, o que explica a faci-
lidade para as tarefas coordenativas. Nesse período, há uma notável conjunção de força e velocidade.

Entre os 9 e 10 anos, todas as capacidades orgâ- capaz de estabelecer 2 ou 3 relações espaço-tem-


nicas, perceptivas, emocionais e motoras atingem porais simultâneas.
uma maturidade particular que se reflete aos 10
anos em uma grande harmonia psicofísica. A meni- Aparece independência em relação ao adulto e au-
na atinge um equilíbrio particular entre a sua força, tomotivação relacionada à notável persistência
resistência, flexibilidade, altura, peso e desenvolvi- para alcançar o que se propõe.
mento sensório-motor junto a uma acentuada ca-
pacidade de aprendizagem. Algumas atividades apropriadas:
Todas as atividades e exercícios de natureza lúdica
Conscientize-se dos diferentes segmentos corpo- são adequados para o desenvolvimento de força rá-
rais com possibilidades de relaxamento global e pida, resistência aeróbia, qualidade coordenativa e
segmentado, e independência funcional dos diver- flexibilidade. Até essa idade, é possível planejar ati-
sos segmentos e elementos corporais. Há um en- vidades comuns para ambos os sexos, seja para o
riquecimento das percepções espaço-temporais desenvolvimento da força, resistência e/ou da ve-
e, fundamentalmente, dos objetos em movimento locidade.
que se deslocam em velocidade. No entanto, não é

73
Menina entre 11 e 12 anos
O sexo feminino é o primeiro a manifestar a aceleração de crescimento.

As meninas mudam visivelmente sua estrutura corporal. Junto com um aumento pronunciado na esta-
tura, características sexuais secundárias bem determinadas aparecem, os quadris se alargam, o busto
começa a ser delineado e o peso aumenta.

Com o aumento do peso e da estatura, as meninas com biótipos médios ou altos e que não tiveram uma
atividade física intensa nos anos anteriores, podem tornar-se lentas, com tendência à fadiga rápida e
apresentar dificuldades de coordenação segmentar fina.

Esta fase é caracterizada pela aceleração na velocidade de crescimento, podendo manifestar dores nas
articulações. Por sua vez, a musculatura não acompanha este processo de mudança na estrutura es-
quelética, só consegue se equilibrar aos 15 anos nas mulheres.

Dos 11 aos 12 anos é um período de transição, pois Algumas atividades apropriadas:


a criança começa a dar lugar ao adolescente. Além Atividades para a formação postural ideal ao ní-
disso, alcançam independência funcional, indepen- vel estritamente muscular e articular, e ao nível da
dência direita/esquerda, braços/pernas em relação consciência e valorização do próprio corpo, o que
ao tronco e transposição do conhecimento de si levará a uma boa atitude postural. Exercícios de in-
mesmo para o conhecimento dos outros; uma certa tensidades abaixo do máximo que permitem o rea-
falta de jeito aparece nos movimentos segmenta- juste do seu esquema corporal durante a execução
res finos, devido ao aumento da força muscular que de gestos que envolvem velocidade e força. O des-
provoca gestos mais poderosos e rápidos que re- envolvimento da força máxima ainda não é reco-
querem um tempo de ajuste bastante prolongado. mendado até que a estrutura muscular e esqueléti-
ca atinja seu equilíbrio.
Por volta dos 12 anos, o esquema corporal, em re-
lação ao desenvolvimento intelectual e físico, atin-
ge sua conformação básica definitiva.

74
Otimização das
capacidades físicas na
menina futebolista
Ao contrário da próxima fase, onde força e resistência podem ser
estimuladas isoladamente para gerar maior rendimento e posterior
transferência, na fase de formação da jogadora de futebol é a
mesma prática esportiva que gera os estímulos suficientes para
otimizar as capacidades físicas presentes no futebol.

A execução de um gesto, o contato com a bola, os Vamos nos referir às capacidades de coordenação
exercícios propostos e as atividades recreativas e (coordenação-equilíbrio), flexibilidade, resistência,
competitivas são os recursos mais valiosos para a força e velocidade.
estimulação adequada das capacidades físicas pre-
sentes.

75
Coordenação
A coordenação é um fator decisi- Entre 4 e 7 anos, segundo Hahn a progressão partindo de todas
vo para a aplicação de velocidade (1988), a melhora da coordenação as possibilidades que a menina
e da força no futebol. Também passa por uma fase sensível. tem com seu corpo (explorando
é determinante no aprendizado um simples acoplamento como o
do gesto técnico, nas mudanças Alguns exercícios para estimular skiping, até os movimentos mais
de direção e ritmo, no domínio a coordenação na infância: complexos assimétricos e simul-
da bola e em qualquer cálculo A execução de qualquer exercício tâneos dos segmentos corpo-
espaço-temporal em relação à estimulará alguma das formas rais), seguido por exercícios que
trajetória da bola e de um com- em que a coordenação se mani- desenvolvam todas as possibili-
panheiro (passe, recepção) e festa. No projeto de uma propos- dades que a menina tem com a
em relação às associações com ta adequada, devemos conside- bola e, posteriormente, incluindo
uma ou mais companheiras rar a progressão em termos da na proposta exercícios onde são
(apoio ofensivo, apoio defensivo, dificuldade da proposta (do sim- desenvolvidas todas as possibili-
pressão, início de contra-ataque ples ao complexo, do conhecido dades que a menina tem com a
ou jogada ensaiada, etc.). ao desconhecido) e a evolução da bola e uma companheira, e pro-
coordenação em função da idade gressivamente criar exercícios
das meninas. Outro parâmetro que adicionem elementos à cena.
para uma boa proposta é realizar
76
Equilíbrio
O equilíbrio passa por um estágio podemos propor exercícios onde
O equilíbrio se manifesta sensível para seu estímulo entre seja difícil alcançá-lo. Por exem-
4 e 7 anos e entre os 9 e 13 anos plo, utilizando elementos de base
em cada ação da (Martin, 1980). instável (bosu, meia esfera, disco
menina que joga de propriocepção), elementos de
futebol: durante os Alguns exercícios para estimular base reduzida (caminhar em uma
deslocamentos com ou o equilíbrio na infância: esteira, uma viga, um banco, etc.)
O equilíbrio também se manifes- ou, simplesmente, atividades que
sem bola, as mudanças ta constantemente em qualquer estabeleçam ficar em um pé só,
de direção e sentido, as exercício, mesmo que este não com os olhos fechados, pular
freadas, a execução de seja o propósito. Quando a in- com um pé, frear e mudar de di-
um gesto, etc. tenção é estimular o equilíbrio, reção, etc.

Flexibilidade
A flexibilidade é indispensável Alguns exercícios para estimular
para o desenvolvimento ade- a flexibilidade na infância: Os exercícios físicos
quado de outras habilidades e Os exercícios de flexibilidade de- devem incluir alonga-
também desempenha um papel vem estar presentes durante mento dos músculos
fundamental na prevenção de todo o processo de formação.
lesões. Devemos selecionar uma bateria da panturrilha, isquioti-
de exercícios que alonguem os biais, quadríceps, flexo-
A flexibilidade tende a diminuir principais grupos musculares a res do quadril, glúteos,
com a idade, e seu pico pode ser serem utilizados ​​principalmente
adutores, músculos da
alcançado entre os 10 e 12 anos no retorno ao repouso.
(dependendo do sexo). As mulhe- zona lombar, região do
res tendem a ser mais flexíveis. pescoço e braços.

77
Resistência
O estímulo da resistência em me- tência na infância deve ter sem- ao som de três apitos, todas tro-
ninas deve ser orientado para o pre uma nuance lúdica distante tam; com a bola, por um certo
desenvolvimento da resistência da proposta isolada e sistemática tempo dar instruções diferentes
geral. Em condições saudáveis, que se realiza nas etapas seguin- para serem executadas: carregar
as meninas podem suportar estí- tes. a bola com uma perna, agora com
mulos de longa duração e inten- a outra, mover a bola em veloci-
sidade moderada (aeróbica). Por Na proposta lúdica o prolonga- dade, mover a bola com toques
outro lado, face às resistências mento do estímulo ao longo do curtos, com toques longos, etc.
de maior intensidade (anaeró- tempo deve estar presente. Po-
bica), seu organismo precisa de rém, a atividade deve ser motiva- Também podem ser apresenta-
períodos prolongados de recupe- dora de tal forma que as meninas dos desafios de grupo fazendo
ração. esqueçam que estão “corren- corridas regulares contra o reló-
do”. Exemplos: correr e quando gio. Exemplo: contornar o campo
Alguns exercícios para estimular o apito soar continuar correndo e estabelecer o tempo, depois
a resistência na infância: aos pares, ao novo som do apito calcula e definir o tempo em que
Os exercícios e atividades pro- continuar correndo em grupos; devem completar 10 voltas (nin-
postas devem ser adaptados às deslocar-se em campo, ao som guém pode ter relógio).
características de resistência em de um apito todas caminham, ao
cada idade. O estímulo à resis- som de dois apitos, todas correm,

78
Força
A força se manifesta principal- duzir o risco de lesões. A meto- tância, os saltos múltiplos (baixa
mente na execução de gestos dologia deve ser sempre lúdica intensidade) e o skiping são pro-
técnicos. O desenvolvimento da e os meios utilizados devem ba- postas que se ajustam à infân-
força dependerá da idade da me- sear-se sobretudo em exercícios cia para estimular a força. Basta
nina. No entanto, o grau de mel- realizados com o próprio peso considerar a idade para conhecer
horia é mínimo. Até aproximada- corporal e elementos como as as características da força e a ca-
mente os 10 anos de idade, não bolas. pacidade associada. Desta ma-
existem diferenças significativas neira, não é apropriado para uma
na força muscular entre meni- Alguns exercícios para estimular criança de 6 anos que lhe seja exi-
nos e meninas. Com o passar dos a força na infância: gido distância em um salto nem
anos, essa diferença aumenta A proposta que fazemos para es- altura, ou que uma menina de 7
atribuída a uma maior presença timular a força tem sempre que anos salte rapidamente.
de testosterona (hormônio se- impulsionar as manifestações as-
xual masculino) nos homens. sociadas à velocidade: força ex-
plosiva, força elástico-explosiva, Os exercícios
O treinamento de força na infân- força elástico-explosivo-reativa
cia deve ser direcionado às ne- (na modalidade saltos múltiplos)
provenientes do
cessidades da menina e não ao e força potência. A força também treinamento funcional
aumento de uma manifestação é estimulada nas manifestações que utilizam o próprio
pura de força. O objetivo nortea- relacionadas à coordenação (in- peso ou fitball se
dor será alcançar um desenvol- ter/intramuscular) sem sobre-
vimento muscular harmonioso, carga. Os saltos com um e dois ajustam às possibilidades
uma boa postura corporal e re- pés, os saltos em altura e em dis- das meninas.

79
Velocidade
A velocidade no futebol se manifesta não apenas na execução de um gesto ou no encadeamento de ações,
mas na velocidade de analisar, perceber e resolver uma situação de jogo.

Alguns exercícios para estimular a velocidade na infância:


A velocidade é estimulada toda vez que exigimos que seja executada a ação “o mais rápido possível”. Por
isso, devemos conhecer claramente “o que é possível” para cada idade e para cada menina, e, a partir disso,
demandar em relação às suas possibilidades.

A proposta de correr rápido em direção à bola, conduzir a bola o mais rápido possível ou na mesma
habilidade, sempre estimulam a velocidade de execução de um gesto ou de uma sequência de gestos.

Quanto ao estímulo de velocidade de reação simples, as propostas devem se basear na associação de


um estímulo específico como gatilho para a execução de um gesto. Nesse sentido, a menina sabe de
antemão qual é o estímulo e que resposta se espera que execute. Exemplo, o estímulo da bola em mo-
vimento é um gatilho para a menina correr ao seu encontro, o estímulo de uma companheira com uma
bola dominada perto do gol é um gatilho para que outra companheira se projete com velocidade para
receber o passe.

Por sua vez, a proposta de estimular a velocidade de reação discriminatória deve primeiro considerar
a criação de uma situação-problema em que a resolução tenha possibilidades associadas ao que está
acontecendo e a menina deve discriminar a resposta mais conveniente. Nesse caso, a menina descon-
hece previamente o estímulo e a resposta. Exemplo: é proposto um jogo reduzido (3 atacantes - 2 za-
gueiras e 1 goleira) com a clara intenção de estimular a leitura do jogo da sua companheira sem a bola.
Cada vez que a menina com a posse da bola recebe uma marcação de pressão, deverá dar um passe
para sua companheira não marcada. Com esta proposta esperamos que a menina com a bola dominada,
dada a impossibilidade de evitar a marcação, perceba a companheira sem a marcação (não sabe quem
será) e lhe dê o passe ajustando-se à situação atual desta (não sabe de antemão se o passe será à sua
direita ou esquerda, aérea ou rolante, forte ou lento, etc.).

80
Considerações finais
Para finalizar este capítulo, é pertinente fazer as seguintes considerações como contribuição ao trabalho
com as jogadoras de futebol:

Lembrar-se que sem técnica (atleta) é muito difícil progredir em nossas jogadoras.

Aumentar (formadores/formadoras) as experiências e capacitações específicos do futebol para desen-


volver melhores técnicas/métodos de treinamento adaptados às necessidades da equipe.

Procurar, através de nossas técnicas/metodologias, que nossas atletas tomem as melhores decisões
com o menor gasto de energia e no menor tempo possível.

Melhorar suas capacidades condicionais (resistência, força, velocidade, flexibilidade e coordenação).

Recolher o máximo de informação possível de cada uma das nossas jogadoras para procurarmos técni-
cas/métodos que se adaptem às necessidades de cada uma (treinamento individual dentro do coletivo).

81
A MULHER
FUT EBOLISTA

82
Maturação feminina
A puberdade é caracterizada como o período de transição entre
a infância e a adolescência, no qual ocorre o desenvolvimento de
caracteres sexuais secundários e a aceleração do crescimento, que
leva ao início das funções reprodutivas.

As meninas e os meninos têm o período da puberdade em idades diferentes, geralmente a menina inicia o
processo mais cedo, por isso também apresenta o crescimento mais rápido, como pode ser visto na Figura
I. Porém, existem outras características que podem ser observadas no corpo da menina antes de terminar o
processo de maturação, quando ocorre a menarca, também associada a uma maior produção de hormônios
femininos. As principais características da mudança no corpo feminino são descritas a seguir:

Crescimento muito rápido. Aumento da transpiração.


Aumento de seios. Pele e cabelo oleosos.
Começo do pelo corporal, especialmente na re- Mudança nos genitais.
gião púbica. Secreção genital
Ampliação da pélvis (cadeira). Menarquia – Menstruação
Aumento na porcentagem de gordura – peso.

Mamas
M1 M2 M3 M4 M5

• Etapa infantil • Etapa intermediária • Etapa intermediária • Etapa intermediária • Etapa adulta
• O seio tem um • Etapa de Nascimento • O tamanho do seio e • O seio e a auréola • A mama sobressai do
pequeno relevo mamário – aumento do da auréola são maiores sobressaem do peito peito
• O seio é ainda plano diâmetro da auréola que em M2 • Algumas mulheres não
• Aumento do sio maior • Tamanho similar a um apresentam esta etapa,
que em M1 seio pequeno adulto vão do M3 ao M5
• O seio tem uma diretamente
pequena elevação
• Início da puberdade

Pélvis
P1 P2 P3 P4 P5

• Etapa infantil • Etapa inermediária • Etapa intermediária • Etapa intermediária • Etapa adulta
• Sem pêlo • Pequena quantidade de • Os pêlos são mais • Os pêlos são mais • Os pêlos cobrem uma
pêlos finos e espalhados escuros, mais grossos e grossos e cobrem uma área maior, mais
• Pêlos lisos e levemente enrolados área maior que a P3 espalhados
enrolados • Se localizam na união
• Se localizam ao redor com a púbis
dos lábios menores

Figura 1 – Maturação feminina. Elaboração própria para efeitos referenciais

83
Existem formas invasivas e não avaliação. Esta é uma técnica não
invasivas de observar a matu- Entretanto, este é um invasiva.
ração feminina. Lembrando que Equação preditiva do PVC pro-
é sempre importante que qual-
teste que tem um custo posta por Mirwald et al. (2002)
quer avaliação seja realizada por e requer dispositivos para mulheres.
um profissional da área, nunca específicos para análise,
sozinho na sala com a adoles- o que dificulta clubes, Mulher
cente e sempre na presença de PVC 9,376 + 0.0001882 x (CMI x
uma mulher adulta. Assim como projetos sociais e escolas ETC) + 0.0022 x (I x Cmi) + 0.005841
nos protocolos de análise de com pouco investimento. x (I x ETC) - 0.002658 x (I x MC) +
raios-X de mão e punho mascu- 0.07693 x (MC/ET).
linos para observar a maturação,
amplamente reconhecido como Há uma avaliação das caracte- Sendo:
o melhor indicador, pois analisa a rísticas sexuais secundárias, po- I - Idade (anos)
maturação esquelética e mostra rém, só pode ser feita por mé- EST - Altura total (cm)
a verdadeira idade biológica do dicos, o que dificulta a aquisição ETC - Altura do tronco-cérebro
indivíduo. de dados. Outra forma de avaliar (cm)
a maturação é por meio de indi- IMC - Longitude das extremida-
A maturidade é alcançada quan- cadores somáticos, como peso des inferiores (cm)
do há fusão completa das epífises e altura, a partir de um modelo MC - Massa corporal (kg)
com as correspondentes diáfises, matemático. Este formulário já
analisando normalmente a mão e foi validado na literatura e mos-
o punho. trou alta correlação com dados
ósseos, mostrando a eficácia da

84
Menarquia
A menarca é considerada o evento final do processo de maturação
sexual feminina, caracterizada pelo aparecimento da ovulação
e consequente início do ciclo menstrual. Como já notado, o
amadurecimento feminino traz várias mudanças ao corpo. Agora
veremos como ocorre o ciclo menstrual na mulher, seus hormônios e
sua interferência no rendimento esportivo.
O ciclo reprodutivo regular dura treinamento, duas hipóteses se narca e da estabilização do ciclo
em média 28 dias, que varia de movem: a primeira tem a ver com menstrual.
aproximadamente 26 a 35 dias, a opinião de que os anos de prá-
com o primeiro dia do ciclo conta- tica esportiva intensa atrasam, Segundo Soboleva, está com-
do após o primeiro dia de mens- proporcionalmente, a idade da provado que o tecido adiposo é
truação. As maiores variações menarca; enquanto a segunda um órgão hormonal ativo onde
podem ser caracterizadas como argumenta que o atraso se deve ocorre a síntese dos estrogênios.
ciclos irregulares, que normal- ao processo de seleção esporti- Precisamente, os estrogênios
mente afetam 37% da população va, onde algumas modalidades são o que definem todas as qua-
feminina, e podem ter como cau- requerem meninas com baixo lidades femininas. Assim, para a
sas diversos fatores. peso corporal, membros longos função menstrual normal, não
e maturação atrasada. No entan- menos que 22% do tecido adipo-
Relação entre a menarca e a prá- to, existem alguns estudos que so é necessário. Ao mesmo tem-
tica esportiva sistemática: apontam para a influência do hi- po, o metabolismo dos andróge-
nos estudos da relação entre a perandrogenismo nas meninas nos ocorre no tecido muscular.
idade da menarca e os anos de como causa do retardo da me-

85
A diminuição do tecido adiposo do principalmente pelos ovários. nais e, como se pode ver, essas
leva a alterações hormonais, in- A fase lútea, que ocorre após a alterações causam várias alte-
cluindo função menstrual preju- ovulação, é caracterizada por al- rações e sintomas no corpo. As
dicada. tas concentrações do hormônio principais alterações podem ser
luteinizante (LH), com aumento observadas no final do ciclo e
O ciclo regular pode ser dividido adicional das secreções de estro- durante a menstruação. Ao final
em duas fases: folicular e lútea, gênios e progesterona produzida do ciclo temos aumento do en-
separadas pela ovulação, que pelo corpo lúteo, conforme mos- dométrio uterino e queda dos
geralmente ocorrem no meio do trado na Figura II. Além disso, é níveis hormonais, causando alta
ciclo, entre os dias 12 e 16. A fase possível observar um pequeno retenção de líquidos, consti-
folicular é caracterizada por uma aumento da temperatura cor- pação, aumento de peso, dores
alta concentração do hormô- poral após a ovulação e na fase de cabeça e sensibilidade ma-
nio folículo-estimulante (FSH), lútea, o que pode influenciar no mária. Já durante a menstruação,
responsável pela ovulação e um rendimento das atletas, como geralmente nos primeiros dias,
aumento no endométrio (reves- explicaremos a seguir. algumas mulheres apresentam
timento uterino), bem como um cólicas fortes, outro fator que
aumento gradual nas concen- Durante o ciclo menstrual, a mul- também pode influenciar o ren-
trações de estrogênios, secreta- her enfrenta alterações hormo- dimento.

Ciclo Pré-ovulação Pós-ovulação


Ovulação

Ciclo Ovárico Fase Folicular Fase Lútea

Ciclo Uterino Período Proliferativo Fase Secretora

86
Regulamentação hormonal do ciclo menstrual
Ciclo ovárico

Corpo amarelo
Crescimento de folículo Ovulação Corpo amarelo
em regressão
Temperatura

37°C
corporal

36°C
Hormônio luteinizante (LH)
da Hipófise
Hormônios

Anterior

Hormônio folículo estimulante (FSH)

Estrogênio Progesterona
Hormônios
Ováricos
Uterino
Ciclo

Menstruação Menstruação
Fase folicular Fase lútea

Día 0 Día 14 Día 28


Ovulação
Regulación hormonal del ciclo menstrual
Figura 2 – Regulamentação do ciclo menstrual

87
Ciclo menstrual e
rendimento
Durante o ciclo menstrual ocorrem muitas alterações hormonais
que provocam várias mudanças no corpo feminino, porém, ainda
não se entrou em um consenso sobre o modo como essas alterações
influenciam o desempenho da atleta feminina, principalmente nos
esportes coletivos.
Os resultados mostram mu- das evidências já encontradas em fase lútea, onde temos um pe-
danças negativas ou nenhuma algumas capacidades físicas. queno aumento de temperatura
mudança no rendimento das corporal (0,3 ± 0,5 ° C) dos atletas
atletas, e essa diferença nos re- O volume máximo de oxigênio devido à ação da progesterona,
sultados encontrados pode ser normalmente não é afetado du- que aumenta sua produção nesta
explicada pelas diferentes meto- rante o ciclo, apenas poucos es- fase do ciclo.
dologias que são utilizadas e no tudos mostraram pequenas mu-
padrão para determinar o início e danças nos esportes de longa Os resultados das concentrações
o final de cada fase do ciclo mens- duração (exemplo: maratonas, de lactato e seus limiares, am-
trual. Citaremos a seguir algumas triatletas), principalmente na plamente utilizados como predi-

88
tores da intensidade do treina- os atletas apresentam uma dimi- mos entrar em diversos estudos
mento e fadiga em atletas, não nuição no rendimento em ambas realizados a respeito do dilema e
são conclusivos. As diferenças as variáveis ​​durante esta fase. da relação complexa entre o ciclo
encontradas mostraram baixas menstrual e o rendimento des-
concentrações de lactato nova- Os resultados inconclusivos com portivo.
mente na fase lútea do ciclo, o muitas variações mostram que
que sugere ser esta a fase mais cada mulher tem alterações di-
sensível ao treinamento, além de ferentes, por isso é muito impor-
ser a fase com mais sintomas de tante acompanhar o seu grupo, A diferença entre o
alterações no corpo da mulher. pois cada uma vai reagir e terá
sintomas diferentes. O foco prin-
futebol feminino e o
Tal como acontece com as con- cipal do treinamento e a parte masculino se baseia
centrações de lactato, os resul- nutricional deve ser aliviar os sin- simplesmente na
tados encontrados para o teste tomas causados ​​pelo ciclo mens- morfologia física e no
do Yo-Yo e para sprints a várias trual.
distâncias também são inconclu- desenvolvimento de
sivos. No entanto, as diferenças Ao longo dos anos, e paralela- ambos.
encontradas também estavam mente ao crescimento que vem
na fase lútea, o que mostra que ocorrendo neste esporte, pode-

89
Adaptações fisiológicas ao exercício
Com o treinamento da resistência cardiorrespiratória, as mulheres experimentam:

Perda de peso corporal Perda de gordura relativa


Perda de massa adiposa Ganhos de massa magra

As mulheres podem experimentar aumentos de As mulheres podem experimentar aumentos signi-


força significativos (de 20% a 40%) como resultado ficativos na capacidade de resistência (VO2 máximo
do treinamento de resistência. Esses ganhos prova- aumenta de 10% a 40% com treinamento aeróbio). A
velmente se devem mais a fatores neurais, já que o magnitude desse aumento está intimamente rela-
aumento da massa muscular costuma ser pequeno. cionada ao nível de condicionamento (aqueles com
baixo treinamento inicial geralmente experimentam
As alterações cardiovasculares e respiratórias que uma porcentagem maior de aumento).
acompanham o treinamento de resistência não pa-
recem ser específicas do sexo. As mulheres respondem ao treinamento físico da
mesma forma que os homens.

90
Ciclo menstrual na mulher esportista
De acordo com os resultados das pesquisas com as atletas, a duração do ciclo menstrual (CM) parece não
ser afetada em comparação com as jovens e as mulheres que não praticam esportes. A duração mais co-
mum do CM na população geral é de 28 dias, com desvios de até sete dias. Em atletas, os ciclos com 28 dias
são observados em 60% dos casos; os ciclos de 21 dias em 28% e os de 30-35 dias em apenas 12%.

Ciclo Menstrual
Men
str
ua
çã
o
28 1 2
27
26 3
4
25
24

5
23

6
Fase
Fase
22

7
Folicular
Lútea
21

8
20

Fase
10
19

Ovulatória
11

18
12
17
16 13
15 14

Figura 3 – Ciclo menstrual

Outras considerações importantes sobre o ciclo menstrual


Função biológica natural de todas as mulheres.
Importante para fertilidade e capacidade reprodutiva.
Pode afetar o rendimento esportivo e de treinamento de algumas mulheres.
Pode causar alterações de humor durante o ciclo.
Pode estar relacionado a problemas de saúde como a tríade feminina e a anemia.
Pode estar relacionado ao aumento do risco de lesões em algumas fases do ciclo.

91
Nutrição: considerações
especiais para a jogadora de
futebol
Atualmente, as atletas treinam na obtenção de energia adequa-
quase tão intensamente quanto da para atender às demandas É importante que os pro-
os homens, então obviamente se energéticas do esporte, das ativi-
beneficiam de uma dieta corre- dades diárias e da energia neces- fissionais da saúde que
ta. As atletas do sexo feminino sária à reprodução e às funções trabalham com mulhe-
comumente apresentam dificul- hormonais típicas da mulher. Se res ativas monitorem a
dades com a correta ingestão nos referirmos às mulheres ado-
ingestão de energia e
energética e problemas nutricio- lescentes, podemos encontrar
nais, sendo mais acentuadas em deficiências nutricionais ainda nutrição para ajudar a
alguns esportes, embora certa- maiores devido à necessidade de prevenir quaisquer pro-
mente não deixem de existir no energia e nutrientes para o cres- blemas relacionados à
futebol. Os problemas nutricio- cimento e a maturação.
nais mais comuns se concentram
saúde devido às inges-
tões baixas ou inadequa-
das.

92
Problemas nutricionais que podem enfrentar:

Energia inadequada para atender às demandas de energia.

Ingestão inadequada de macronutrientes, carboidratos, proteínas e gorduras essenciais para satisfazer


às demandas do treinamento e para manter a massa muscular, a saúde óssea e um sistema imunológico
forte

Consumo alimentar inadequado perto dos treinamentos e das competições, o que prejudica o rendi-
mento e a recuperação.

Dietas para emagrecer e conseguir uma composição corporal que muitas vezes estão mais relacionadas
à estética do que ao rendimento esportivo.

Eliminação de grupos de alimentos, principalmente os carboidratos, que podem reduzir o consumo de


energia e nutrientes importantes.

Ingestão inadequada de micronutrientes para apoiar a saúde óssea (cálcio, vitamina D), produção de
glóbulos vermelhos (zinco, ferro, ácido fólico, vitamina B12), produção de energia (vitamina B) e manter
a saúde geral.

93
Energia necessária
Pesquisas indicam que as atletas das com uma ingestão calórica a jogadora terá que limitar mais
do sexo feminino têm consumo adequada. seu consumo de energia para evi-
de energia que não correspon- tar ganhar peso indesejado. Por
de ao seu alto nível de perda de As necessidades energéticas va- outro lado, se a jogadora treinar
energia. As jogadoras de futebol riam de acordo com a frequência diariamente e/ou de forma mais
profissional demonstraram ter e ritmo dos treinamentos e jo- intensa e prolongada, e há parti-
um alto gasto de energia em suas gos, assim como de outras ativi- das semanais, deverá estar mais
partidas, pois percorrem longas dades realizadas fora do futebol. atenta para atender às deman-
distâncias com períodos de alta Quando os treinamentos são das energéticas necessárias para
intensidade. Essas demandas de curtos ou leves e não são reali- evitar fadiga, lesões e problemas
energia das competições e dos zados regularmente, o gasto de nutricionais.
treinamentos devem ser supri- energia é obviamente menor e

94
Deficiência Energética Relativa no Esporte e a “Tríade da
futebolista”
Em muitas ocasiões, apesar das altas necessidades apresenta um termo mais amplo e completo para a
de energia, muitas atletas restringem a ingestão de doença, anteriormente conhecida como “tríade de
energia para perder gordura corporal e melhorar o atleta feminina”, segundo o Comitê Olímpico Inter-
rendimento ou atingir o tamanho corporal deseja- nacional.
do. Uma restrição energética severa, seja por meio
de dietas intencionais para obter uma rápida perda O fenômeno clínico não é apenas uma “tríade” das
de peso ou por uma alimentação deficiente, pode três entidades: disponibilidade de energia, função
levar à baixa disponibilidade de energia. Isso co- menstrual e saúde óssea; mas uma síndrome que
rresponde à etiologia base para o desenvolvimento afeta muitos outros aspectos da função fisiológica,
da “deficiência energética relativa no esporte”, que saúde e rendimento esportivo.

CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE CONSEQUÊNCIAS NO RENDIMENTO ESPORTIVO

Disfunção menstrual Redução da força


Desgaste da saúde óssea Diminuição da resistência
Transtornos endócrinos Menos armazenamento de glicogênio
Metabolismo afetado Aumento de riscos de lesões
Problemas hematológicos Diminuição da resposta do treinamento
Crescimento e desenvolvimento alterados Julgamento prejudicado
Problemas psicológicos Diminuição da coordenação
Problemas cardiovasculares Diminuição da concentração
Disfunções gastrointestinais Irritabilidade
Alteração do sistema imunológico Depressão

Extraído de “IOC consensus statement on relative energy de deficiency in sport (RED-S): 2018 update”.

95
Sinais e sintomas da ingestão deficiente de energia em:
Períodos menstruais irregulares ou cessação da menstruação. Isso é um sinal de que o corpo não tem
combustível suficiente para exercícios e treinamento, atividades da vida diária e funções reprodutivas.

A perda de peso é um sinal claro de ingestão inadequada de energia. Se uma jogadora precisa perder
peso e gordura corporal, esse processo deve ser planejado em um momento em que as demandas de
energia do exercício sejam menores, e não durante os períodos de competição.

Crescimento deficiente em jogadoras jovens.

Doenças frequentes como simples resfriados repetidos podem ser um sinal de um sistema imunológico
debilitado devido à ingestão inadequada de energia e nutrientes importantes para a saúde imunológica.

Lesões recorrentes em músculos e ossos que cicatrizam lentamente podem ser causadas pela falta de
combustível ou pelo excesso de treinamento.

Fadiga excessiva, tonturas, dificuldade de concentração e irritabilidade nas jogadoras.

96
Necessidades de carboidratos, proteínas, vitaminas e minerais
Além de consumir as calorias ne- O consumo adequado de proteí- ra, recomenda-se monitorar a
cessárias, as mulheres em trei- nas também é importante, que ingestão de alguns micronutrien-
namento precisam ingerir uma é semelhante ao dos homens: 1,4 tes essenciais, como vitaminas
quantidade suficiente de carboi- g a 1,7 g por kg de peso corporal. do complexo B, vitamina D e al-
dratos (pelo menos 5 g por kg Incluir em cada refeição e após o guns minerais como zinco, mag-
de peso ou 300 g para um atle- exercício cerca de 20 g de proteí- nésio, ferro e cálcio, prestando
ta de 60 kg) em sua alimentação na de alta qualidade (como leite atenção aos dois últimos, já que
diária para manter suas reservas e outros laticínios, peixe, frango, frequentemente encontramos
de energia, também conhecidas ovos) pode melhorar o equilíbrio deficiência deles. A avaliação do
como glicogênio, que são ar- total de proteínas. estado dos micronutrientes en-
mazenadas nos músculos e no volverá o exame da ingestão de
fígado. A ingestão de micronutrientes alimentos, o acesso aos mesmos,
tem maior probabilidade de ser hábitos alimentares e valores clí-
Assim, é importante incluir em deficiente se a energia consumi- nicos dos nutrientes no sangue e
cada refeição, e principalmente da for baixa ou se certos grupos na urina, quando apropriado. Se
perto do exercício, alimentos que de alimentos forem eliminados o status do micronutriente for
contenham carboidratos como da dieta ou se os alimentos pro- baixo, a saúde e o rendimento
frutas, pães, cereais, arroz, ma- cessados ​​representarem uma serão comprometidos.
carrão, batata, etc., para manter parte significativa da dieta diária.
essas reservas energéticas e ter Se houver suspeita de uma ali-
um bom rendimento durante o mentação deficiente na jogado-
treinamento.

97
Ferro
A deficiência de ferro é comum ingestão nutricional de ferro, que tais, mas a quantidade de ferro
entre atletas do sexo feminino e deve chegar a 18 mg diários. que é ingerida de fontes vegetais
pode afetar o rendimento físico. deve ser planejada e controlada.
Em geral, recomenda-se o con- O consumo de suplementos de
sumo regular de carne, frango ferro, no caso de anemia, só é
Os principais ou peixe, pelo menos 3 vezes adequado se houver indicação de
por semana, por ser o princi- profissional habilitado, pois, em
mecanismos pelos pal contribuinte para a ingestão alguns casos, podem apresentar
quais as atletas do sexo nutricional de ferro. Sugere-se efeitos adversos.
feminino correm risco de o consumo complementar de
deficiência de ferro são produtos integrais, leguminosas Alimentos ricos em ferro
e vegetais verde-escuros. Além
o aumento da demanda disso, o chá e o café devem ser
Carnes vermelhas magras.
por ferro no esporte e a substituídos por um copo de Fígado e chouriço.
elevada perda de ferro suco de laranja ou de fruta cítrica Frutos secos.
com as refeições que contenham
na menstruação. Gergelim.
ferro, já que a vitamina C aumen-
ta sua absorção. Pode ser um de- Verduras de folha verde: agrião,
safio para os vegetarianos atingir acelga, espinafre.
O primeiro passo na terapia da uma alta carga de ferro por meio Legumes: grão de bico, lentilha,
deficiência de ferro é corrigir a de sua dieta baseada em vege- soja, ervilha.

98
Cálcio
Em geral, atletas do sexo femi- ria ser aumentada, incluindo, se
nino apresentam maior risco de necessário, a suplementação em
O cálcio é o mineral mais
balanço negativo de cálcio de- atletas com amenorreia. Nesse
abundante em nosso vido à baixa ingestão calórica caso, as recomendações devem
corpo, tendo funções pela eliminação de laticínios da subir até 1.500 mg/d, poden-
muito importantes dieta, por problemas intestinais do-se usar suplementos, melhor
que impedem sua absorção e por em doses de 500 mg ou menos,
na construção e amenorreia associada à prática para maximizar a absorção. Mais
manutenção de ossos esportiva intensa (estrogênios uma vez, os atletas vegetarianos
saudáveis, além de têm um efeito protetor na saúde poderiam tomar suplementos,
desempenhar um papel óssea). já que aquelas pessoas que não
bebem leite ou laticínios, têm
importante na contração Com uma boa seleção de alimen- dificuldade em atender aos seus
dos músculos. tos podemos atingir as necessi- requisitos. Na tabela a seguir, da-
dades diárias para os adultos em mos alguns exemplos de alimen-
geral que correspondem a 1 g por tos que contêm cálcio.
dia. No entanto, a ingestão deve-

Alimento Porção de alimento/100 mg de cálcio)


Leite desnatado 80 ml

Queijo com pouco gordura 12 g

Queijo parmesão 8g

Iogurte com pouca gordura 1 pote pequeno (125 g)

Leite de soja 450 g

Brócolis 400 g

Amêndoas 40 g

Anchovas 36 g (aproximadamente umas 9 anchovas)

Pistaches 55 g

Grãos de Bico 70 g

Sardinhas em lata 25 g
Tabela 1 – Alimentos que contém cálcio

Exemplo de refeições a serem realizadas durante o dia para atingir os 1.000 mg (1 g) de cálcio:
1 xícara de leite desnatado.
1 punhado de amêndoas (aproximadamente 20 unidades).
1 xícara de iogurte desnatado.
Omelete com 50 g de queijo com pouca gordura.
99
Composição corporal
É conveniente focar o estudo da a diferentes situações biológicas
composição corporal no início (gravidez, lactação, menopausa,
Os elementos de peso, da temporada, e acompanhar ao etc.). Por outro lado, a partir dos
altura e porcentagem longo da temporada para obser- 30 anos, há uma tendência de
de gordura não são es- var as mudanças individuais das acumular mais massa de gordura,
jogadoras. e a cada década o gasto metabó-
senciais para jogar bem lico diminui 2%.
o futebol. Isso se deve Vários fatores influenciam a com-
à falta de característi- posição corporal, incluindo ida- Pelo exposto anteriormente, uma
cas específicas entre os de, sexo, alimentação/nutrição, atenção especial deve ser dada
o tipo de exercício e a herança às características específicas das
jogadores, visto que a genética. Em relação ao sexo, as mulheres para que se possa fazer
faixa de valores obser- mulheres apresentam, por natu- uma avaliação correta dos resul-
vada é muito ampla. reza, uma porcentagem de gor- tados da composição corporal.
dura superior aos homens devido

100
Perder peso ou reduzir gordura corporal
Em muitos casos, as mulheres, rendimento ideal no esporte. gem de músculo que lhe dê força
atletas ou não, buscam constan- Mas, no caso das jogadoras de e potência para os movimentos.
temente atingir um peso estéti- futebol, a estética nem sempre é
co nem sempre está relacionado um parâmetro de um físico ideal. Por isso, é importante que as
à saúde ou ao alto rendimento jogadoras consultem um profis-
esportivo. As jogadoras são fre- Da mesma forma, é aconselhável sional que indique os passos a
quentemente expostas e julga- que a jogadora tenha uma baixa seguir para evitar uma perda de
das por seu físico, acreditando porcentagem de gordura para peso insegura que comprometa
que um físico esguio e estetica- melhorar a agilidade e velocida- a saúde.
mente favorável é sinônimo de de, mas que isso não comprome-
ser benéfico para alcançar um ta a saúde; e uma alta porcenta-

Estratégias para reduzir a gordura corporal


Estabeleça metas realistas de peso nos momentos certos e necessários para conseguir mudanças sem
a necessidade de restrições severas. Lembre-se também que quando você perde muito peso em um
curto espaço de tempo, isso muitas vezes corresponde a uma perda de líquidos e pode comprometer a
massa muscular, sem necessariamente ser uma perda de gordura corporal.

Limite as porções de comida em vez de pular as refeições. Uma boa técnica pode ser dividir o prato do
almoço e do jantar em duas partes, ocupando sempre a metade com vegetais (saladas ou verduras cozi-
das) e a outra metade com outros alimentos. Veja o exemplo na tabela abaixo.

Periodize a alimentação de acordo com os treinamentos. Em dias de treinamento intenso e prolongado


você pode se permitir comer porções maiores, mas em dias de treinamento leve ou dias de descanso
você deve ter mais cuidado com a quantidade de alimentos que ingere.

Faça várias refeições por dia para evitar chegar com muito apetite e comer demais na próxima refeição.
Por exemplo, se você tomar o café da manhã muito cedo, faça um lanche no meio da manhã e você po-
derá controlar o que ingere no almoço.

Uma estratégia eficaz é reduzir as porções no jantar. Procure comer durante o dia e evite excessos à
noite, quando já não usamos mais tanto combustível.

Coma devagar e mastigue bem os alimentos.

Beba muita agua durante todo o dia. Muitas vezes confundimos a fome com a sede.

Limite ou elimine o consumo de álcool, pois fornece muitas calorias, que também são calorias vazias por
não terem nenhum valor nutricional.

Controle não só a quantidade, mas também a qualidade dos alimentos. Escolha produtos integrais, con-
suma 2 a 3 porções de frutas diariamente, coma uma variedade de vegetais por dia, escolha gorduras
boas em quantidades moderadas (abacate, frutos secos, azeite de oliva) e proteínas magras (frango sem
pele, carnes magras).

Restrinja o consumo de bebidas açucaradas, como isotônicos, refrigerantes ou sucos de frutas, pois
podem agregar calorias à dieta sem agregar saciedade. Guarde as bebidas isotônicas para quando pre-
cisar de combustível perto dos treinamentos e jogos intensos e coma frutas inteiras com todas as suas
fibras em vez de sucos.

101
Papel hormonal no metabolismo
Os níveis hormonais das mulhe- mulheres tendem a conservar os da metade do ciclo). A ingestão de
res desempenham um papel no estoques de glicogênio e a utili- proteínas é importante durante
nosso metabolismo (carboidra- zar mais gordura como combus- esta fase, especialmente quando
tos, gorduras e proteínas), nos tível. Este modo de economia de se trata de recuperação. Algumas
níveis de volume plasmático e glicogênio pode fazer com que pesquisas afirmam que o período
na forma como lidamos com o seja mais difícil alcançar intensi- da janela fisiológica, que corres-
estresse térmico (termorregu- dades mais altas. Se você estiver ponde aos 30 a 60 minutos após
lação). na fase folicular (a primeira meta- o exercício, é mais crítico para as
de do ciclo), pode ser necessário mulheres, portanto, o consumo
O estrogênio reduz a oxidação de ingerir carboidratos adicionais. de carboidratos e proteínas não
carboidratos e aumenta a dispo- deve ser esquecido.
nibilidade de ácidos graxos livres. A progesterona promove o cata-
Isso significa que quando os ní- bolismo das proteínas, que é ele-
veis de estrogênio estão altos, as vada durante a fase lútea (segun-

Papel hormonal na hidratação e controle da temperatura corporal


Os hormônios também desem- e por isso precisamos prestar Além disso, na fase lútea, a tem-
penham um papel importante mais atenção à hidratação nesta peratura central é ligeiramente
no controle do volume plasmáti- fase. Durante essa fase, as mul- elevada devido à progesterona. A
co (volume de fluido no sangue). heres também são mais predis- tolerância ao calor é reduzida, o
Quando os hormônios estão al- postas à desidratação porque a que pode causar fadiga precoce.
tos, o estrogênio e a progeste- progesterona aumenta as perdas Portanto, a ingestão adequada
rona causam uma queda no vo- totais de sódio no corpo. de líquidos é importante para re-
lume plasmático de cerca de 8%, duzir os efeitos da desidratação.
deixando o sangue mais espesso,

102
Como aliviar o desconforto no período menstrual

É muito importante manter uma boa alimen- Consumir alimentos ricos em ferro para neutra-
tação, principalmente durante esses dias. lizar as perdas devido à menstruação: carnes
magras, legumes, folhas verde-escuras.
Quando estiver menstruada, é aconselhável au-
mentar os alimentos com vitaminas e minerais, Comer alimentos ricos em ômega 3, como
como frutas e vegetais. peixes e algumas sementes.

Aumentar o consumo de água. Descansar bem.

Devido à alta variabilidade interindividual no des- Para evitar lesões durante o ciclo menstrual, de-
empenho e aos efeitos colaterais experimentados ve-se levar em consideração que atletas com muito
durante o ciclo menstrual, as jogadoras e os treina- treinamento tendem a diminuir a produção de hor-
dores devem manter um diálogo aberto para mel- mônios reprodutivos, principalmente estrogênios.
hor aconselhamento da jogadora de futebol. A disfunção menstrual ocorre em 79% das mulheres
Consequentemente, encontramos diferentes si- que participam de atividades atléticas, e a prevalên-
tuações relacionadas ao desempenho esportivo du- cia depende da definição de disfunção menstrual,
rante as diferentes fases do ciclo menstrual. Algu- do esporte e do nível competitivo das atletas; des-
mas mulheres não apresentam nenhuma alteração tacando que a disfunção é menor no futebol do que
considerável em sua capacidade de desempenho em outros esportes.
em nenhum momento do ciclo menstrual, mas ou-
tras têm dificuldades consideráveis na​​ fase de an- A capacidade física atinge seu ponto mais baixo na
teriores ao fluxo ou no início dele, ou ambos. Por- fase pré-menstrual e se recupera, progressivamen-
tanto, o desempenho esportivo das mulheres pode te, a partir da fase menstrual, atingindo seu pico na
variar nas diferentes fases do ciclo menstrual. As fa- fase estrogênica ou proliferativa, que culmina na
ses pré-menstrual e menstrual, juntamente com a ovulação, para diminuir novamente na fase proges-
ovulatória, são as que apresentam maior dificuldade terônica ou secretora, culminando na fase mens-
para as atletas no que se refere ao enfrentamento trual.
das cargas de treinamento e competição.

103
Lesões e precauções
As diferenças anatômicas entre As mulheres sofrem maior nú-
homens e mulheres são eviden- mero de lesões que os homens,
tes. Sabe-se que as mulheres sendo 88% delas nas extremida- O futebol feminino deve
apresentam uma pelve mais lar- des inferiores, 58% no joelho; o lidar com os distúrbios
ga, o ângulo femoral varo, menor menisco é lesionado duas vezes
que 125°; o fêmur mais curto que mais e o ligamento cruzado ante-
alimentares, disfunção
o homem, os joelhos em valgo, rior, 2,5 vezes mais. Essas lesões menstrual e osteopenia
maior torção tibial externa e pro- no joelho nas mulheres são de- ou osteoporose, uma
nação dos pés, o que lhe permite vidas a três fatores: desequilí- combinação conhecida
ter um joelho de “quadríceps do- brio-força/flexibilidade, joelho
minante”. cruzado dependente da lassitude como “tríade”. E as mul-
articular e largura do entalhe in- heres podem sofrer um,
tercondilar mais estreita. dois ou todos os três da
tríade e, embora cada
uma delas possa causar
vários graus de morbi-
dade, todos os três jun-
tos produzem um efeito
negativo na saúde.

104
Biomecânica da mulher
Ao longo deste capítulo mostra- nas um quinto das lesões ocorre rente no futebol praticado por
mos a evolução da menina até se sem o contato de outra jogadora. mulheres em relação ao futebol
tornar uma mulher esportista, masculino. Os fatores de risco e
enfatizando o ciclo menstrual e Ao comparar a incidência de os padrões de lesões no futebol
suas principais implicações. Nes- lesões entre homens e mulheres são complexos e existem vários
te último item mostraremos as no futebol profissional, notamos elementos intrínsecos e extrín-
principais lesões que a jogadora uma diferença muito pequena secos que podem influenciá-los.
de futebol apresenta ao jogar, na quantidade de lesões causa- A seguir, mostraremos algumas
suas principais diferenças em das pelo jogo, encontrando um causas que estão relacionadas
relação às lesões masculinas e número menor entre as mulhe- ao número de lesões, além disso,
quais as consequências para o res. Embora a incidência geral de será possível evitar o treinamen-
treinamento esportivo. lesões tenha sido maior em joga- to. Os fatores predisponentes
dores de futebol de elite, a pro- serão divididos em três grupos
Ao entrar em campo, já na ini- porção de lesões graves (lesões principais: hormonais, anatômi-
ciação ao profissional, cada jo- nas articulações e nos ligamen- cos e biomecânicos.
gadora aceita que haja a pos- tos que causam ausência maior
sibilidade de se machucar, pois que 28 dias) parece ser significati- Lembrando que existem fatores
as lesões são inerentes ao jogo, vamente maior em mulheres, es- psicológicos, como ansiedade e
principalmente pelo contato que pecialmente as lesões na região estresse, muito comuns em jo-
acontece em jogos de invasão do joelho. gadoras e jogadores de alto nível,
coletiva. A maioria das lesões que também podem estar rela-
ocorre por meio desse contato, Essa diferença mostra que o pa- cionados, mas a relação de causa
como encontrões e faltas, e ape- drão de lesões parece ser dife- e efeito é pouco estudada.

105
1) Hormonal
Flutuações nos níveis hormonais são conhecidas lútea) aumenta o nível de outro hormônio, a relaxi-
durante o ciclo menstrual, e essa flutuação pode es- na, o que também está relacionado à latitude des-
tar relacionada à diminuição da tensão dos tecidos ses tecidos. No entanto, os estudos não são con-
moles, o que aumenta a flexibilidade da mulher em clusivos entre a ligação direta dos níveis hormonais
alguns períodos. Além disso, no final do ciclo (fase com o aumento do número de lesões (Referência).

2) Anatômico
Quando olhamos para a anatomia feminina, vemos Esse fator anatômico tem várias consequências,
várias diferenças em relação aos homens. Enten- uma delas é o aumento do valgismo e, consequente-
der as diferenças é de extrema importância para mente, do valgismo dinâmico, que está diretamen-
entender os fatores que podem causar lesões e, te relacionado ao mecanismo de lesão do ligamento
consequentemente, preveni-las. No terceiro capítu- cruzado anterior (LCA) e à síndrome patelofemoral.
lo, mostramos que a porcentagem de gordura em Este fator anatômico trará muitas consequências
jogadoras de futebol de alto nível varia entre 14,6% biomecânicas que serão descritas a seguir.
e 20,1%, bem acima dos valores relatados para joga-
dores de futebol do sexo masculino. Valores muito
baixos de porcentagem de gordura podem ser pre- Femenino Masculino

judiciais para a regulação do ciclo menstrual, entre-


tanto, o excesso de gordura e peso podem causar
uma carga maior nas estruturas articulares.

Outro fator anatômico feminino que difere e pode


estar diretamente relacionado ao aumento das
lesões nos joelhos, é que o quadril feminino é mais Ángulo Ángulo
Q Q
largo em relação ao masculino. Com o alargamento
do quadril, aumenta o ângulo de inclinação do fêmur
em relação ao joelho, o ângulo Q, que é formado por
duas linhas retas, a primeira conecta a espinha ilíaca
ântero-superior (ISIS) ao centro patelar, e a segunda
desde a região média entre os maléolos e o centro
patelar.

Figura 4 – Alargamento do quadril

3) Biomecânica
Fatores biomecânicos mostram que o padrão de ati- venção no treinamento, ao contrário das caracte-
vação e movimento muscular adotado durante um rísticas anatômicas e das variações hormonais.
gesto motor é diferente entre homens e mulheres,
em grande parte devido a fatores anatômicos, mas O valgo dinâmico, já mencionado acima, pode ser
pode estar associado ao treinamento esportivo. melhorado com a descomposição da musculatura
Como falamos durante o manual, muitas meninas glútea, que não pode controlar o movimento, que
não tinham tantos estímulos e treinamentos es- se define pela adução e rotação medial do quadril,
pecíficos para as mulheres, e muitas não possuíam além da abdução e rotação lateral do joelho. Ou
categorias básicas, o que influenciava diretamente seja, quando temos uma musculatura fraca, ela não
no controle motor de atletas adultas. Além disso, conseguirá controlar o movimento, aumentando
os aspectos biomecânicos estão sujeitos à inter- ainda mais o valgo dinâmico.

106
Papel do psicólogo esportivo
Psicologia do esporte aplicada ao futebol
A psicologia do esporte é uma das muitas áreas de especialização que
emerge da ciência mãe que é a psicologia.

O trabalho do psicólogo/a com os atletas, no caso Existem muitos aspectos para trabalhar a partir da
os/as jogadores/jogadoras de futebol, é melhorar psicologia do esporte para melhorar o desempenho
seu desempenho. Sua função é colaborar para o individual e de grupo, mas alguns elementos funda-
melhor rendimento do atleta e da equipe, alivian- mentais podem ser distinguidos, como motivação,
do fardos ou situações inerentes ao esporte, ou que confiança, concentração e controle de pressões, co-
estejam relacionadas à sua vida privada. Seu objeti- municação, coesão, etc.
vo é que a jogadora de futebol atinja seu potencial
máximo. A mente é treinada como o físico, o técnico e o táti-
co são treinados.

107
Diferentes maneiras de participar dentro do esporte:

O psicólogo/a do esporte pode colaborar com a equipe técnica (TC) como assessor externo e participar
de alguma atividade específica que seja solicitada, por exemplo, dar uma palestra sobre motivação.

Pode fazer parte da comissão técnica como apenas mais um integrante da mesma e atuar de forma in-
terdisciplinar, funcionando como mais uma ferramenta de trabalho dentro de uma equipe, por exemplo:

Orientando o/a treinador/treinadora em relação a como se comunicar com seus atletas.

Diagnóstico individual e grupal através de diversos testes qualitativos e quantitativos que fornecem
informações com base na melhoria do rendimento individual e coletivo.

Facilitador e promotor da comunicação entre o/a formador/formadora e os atletas, entre atletas, a


partir do atleta para o/a formador/formadora.

Sessões Individuais com cada esportista.

Palestras, dinâmicas de grupo para trabalhar diferentes temas como a coesão do grupo, por exemplo.

108
Considerações conclusivas
Como vimos ao longo do manual, a mudança dos importante para a prevenção de lesões. Além disso,
estímulos que cada menina recebe na infância e a fica muito claro que o treinamento de força especí-
criação de categorias de base cada vez mais esta- fico para a realidade feminina é muito importante, o
belecidas farão uma mudança perceptível em sua conhecimento do corpo feminino, o monitoramen-
formação, uma vez que as mulheres terão maior to nutricional, a menstruação e um controle de car-
controle motor ao chegar ao profissional. Portan- ga bem feito vão ajudar muito a prevenir lesões e a
to, a participação de toda a rede do futebol é muito melhorar o desempenho esportivo.

109
A SPECTOS
FÍSICOS, T ÉCNICOS
E TÁ T ICOS
110
Características principais do
jogo feminino
Nos capítulos anteriores, vimos implementar um treinamento É importante lembrar que as re-
que o futebol feminino está ex- cada vez mais definido da realida- ferências utilizadas para o treina-
perimentando um amplo cresci- de do jogo, melhorando a quali- mento dependem das caracterís-
mento mundial com um aumento dade técnica, táctica e física das ticas de cada equipe em relação
no número de jogadoras, cam- jogadoras em todas as idades, ao sexo, idade, nível competitivo,
peonatos, investimentos, recon- desde a formação até o treina- entre outros. Quanto mais espe-
hecimento da mídia, pesquisa e mento profissional. cíficas forem as referências para
outros. Além disso, observamos a equipe em questão, mais pre-
a importância do planejamento Muitas comparações são feitas cisa será a formação e mais irá
e do conhecimento em todos os em relação às características e potenciar a rendimento das joga-
agentes do futebol feminino para exigências do futebol feminino e doras. Portanto, o objetivo deste
que ele cresça e seja sustentável do futebol masculino. Embora a capítulo é fornecer informações
a longo prazo. Porém, um dos modalidade seja a mesma, as par- detalhadas sobre os aspectos fí-
pontos observados para o cres- tidas disputadas por mulheres e sicos, técnicos e táticos do fute-
cimento é a qualidade e o rendi- homens possuem característi- bol praticado por mulheres, adul-
mento dos atletas no jogo. Para cas particulares que devem ser tas e adolescentes, mostrando
que a evolução ocorra, é impres- levadas em consideração no pla- as principais características. As
cindível que os agentes envolvi- nejamento dos treinamentos. A informações foram extraídas de
dos no futebol feminino tenham literatura científica sobre o fute- artigos científicos da área, além
conhecimento das principais ca- bol feminino cresceu nas últimas de Relatórios Técnicos elabora-
racterísticas e especificidades do décadas e fornece informações dos pela FIFA após cada Copa do
futebol feminino. A informação importantes para a tomada de Mundo nas diferentes categorias.
sobre as exigências específicas decisões por parte dos treinado-
do jogo será fundamental para res, das treinadoras e dirigentes.

111
Dados antropométricos
Os dados antropométricos, como a quantidade de um peso que varia entre 57 kg e 65 kg. Porcentagem
gordura corporal e a massa magra, podem influen- de gordura entre 14,6% e 20,1% e massa muscular
ciar nas capacidades físicas de força, potência e magra com média de 45,7 kg. Deve-se levar em con-
resistência que são decisivas para o desempenho sideração que os dados antropométricos tendem
das atletas na hora do jogo. Portanto, é importan- a variar muito, principalmente nas mulheres, visto
te controlar as características antropométricas das que os grupos tendem a ser muito heterogêneos
jogadoras para maximizar seu rendimento. e o nível de condicionamento físico varia entre as
jogadoras de futebol, por se tratar de um esporte
De acordo com Datson, as jogadoras de futebol de ainda em desenvolvimento em muitos países, não
alto nível têm em média 1,6 a 1,7 metro de altura e profissionalizado em todos os locais de prática.

Variáveis - Jogadoras de alto nível Média


Altura: Entre 1,6 y 1,7 metros

Peso: 57 kg a 65 kg

Porcentagem de gordura: 14,6% a 20,1%

Massa muscular magra: 45,7 kg

Tabela 2 - Dados de composição corporal de atletas de alto nível

Alguns artigos que analisam a antropometria das as meio-campistas são as jogadoras mais baixas da
jogadoras de futebol brasileiras apresentam dados equipe.
semelhantes à média apresentada em relação a
jogadoras internacionais de alto nível. A maior va- Existem poucas informações sobre as variáveis ​​de
riação na composição corporal está no percentual composição corporal em categorias menores, como
de gordura, sendo maior para as jogadoras brasi- no Sub-17 e no Sub-20. Nos dados apresentados pe-
leiras. Ao comparar as características antropomé- las jogadoras sul-americanas, Sub-17 e Sub-20, elas
tricas entre as posições, observou-se que as alas e apresentaram um percentual maior, 33,2% e 29%,
as meio-campistas têm um percentual de gordura respectivamente.
inferior aos das zagueiras e atacantes. Além disso,

112
Principais características
físicas do jogo
Mostramos os dados acima relacionados à composição corporal de
atletas femininas de futebol em diferentes níveis e idades. No próximo
bloco apresentaremos dados sobre as características físicas do jogo,
como a distância total percorrida, os esforços de alta intensidade, o
número de ações durante uma partida e as diferenças entre o primeiro
e o segundo tempo.
113
Distância
percorrida

Intensidade das Intensidade


recuperações das ações

Duração das Tipos de


recuperações ações

Número Frequência
de ações de ações

Duração
das ações

Figura 5 – Definição das demandas físicas do jogo

Os movimentos predominan- dade de deslocamento podem


tes do jogo são as corridas, pi- ser utilizados em diferentes si-
O futebol é um jogo ques, ações técnicas, giros, ace- tuações de treinamento técnico,
com muitas mudanças lerações, desacelerações, entre tático, coletivos e oficiais. Em um
de atividade, alternando outros, em uma jogadora que jogo oficial de futebol feminino,
atividades de baixa a alterna entre essas atividades a intensidade atinge entre 85%
1.300 e 1.660 vezes. e 95% da frequência máxima, al-
alta intensidade. Por gumas jogadoras podem chegar
causa disso, utiliza todas A medida da intensidade na prá- a mais de dez milimoles de lacta-
as vias de energia, mas tica do futebol é um parâmetro to depois de uma partida, o que
predominantemente a importante para a elaboração do indica um jogo muito intenso e
programa de treinamento físico com muita alternância entre as
via aeróbia. de seus praticantes, os métodos atividades. A Tabela IV resume as
de predição da frequência cardía- principais características já apre-
ca, a avaliação das concentrações sentadas até o momento.
de lactato, a distância e a veloci-

114
VARIÁVEIS DESCRIÇÃO
Execução de corrida, saltos, chutes, giros e paradas
Movimentos predominantes
bruscas
Capacidades físicas predominantes Força, potência e resistência aeróbica

Distância média da partida 9 a 11 km

Intensidade Intermitente de alta intensidade


Predominantemente aeróbica com ações decisivas
de alta intensidade e curta duração, utilizando a via
Vias de produção de energia
anaeróbica dependendo da posição, características
técnicas e distribuição tática
Intensidade de FC 85% a 95% da frequência cardíaca máxima

Produção de Lactato Entre 2 a 10 mmol.L-1

Consumo de Oxigênio 77 – 80% de volume máximo de oxigênio

Gasto de energia por partida Até 1540 kcal.

Tabela 3 - Principais características fisiológicas do futebol feminino

115
Em média, uma jogadora de fute- da Copa do Mundo Feminina da Os dados da distância percorrida
bol corre entre 9 km e 11 km du- FIFA para as categorias Sub-20 e foram comparados entre as di-
rante uma partida. Como men- Sub-17 mostrou que as jogado- ferentes posições em campo, e
cionado acima, as equipes de alto ras Sub-20 percorreram em mé- observou-se nas últimas copas e
nível tendem a percorrer longas dia de 10 a 11 km, um pouco mais artigos publicados nas áreas que
distâncias, especialmente em al- do que as jogadoras Sub-17, que as zagueiras foram as que menos
tas intensidades. Em Copas do percorreram 9 km a 10 km. É in- transitavam, sendo as volantes
Mundo, esse padrão é observado teressante notar que as jogado- e as meio-campistas as posições
quando os jogos das eliminató- ras Sub-20 percorrem distâncias que mais se deslocavam, como
rias são comparados aos jogos da semelhantes às das jogadoras mostrado na figura 3. Lembrando
segunda fase, onde a intensidade profissionais, isso se deve ao fato que esses dados são específicos
do jogo tende a ser maior. Infeliz- de muitas delas jogarem em ligas de alguns campeonatos, o nível
mente, há poucos dados sobre as profissionais. das jogadoras e os campeonatos
categorias inferiores. O relatório em disputa mudam com o tempo.

DISTÂNCIA PERCORRIDA POR POSIÇÃO

11313,5 11073
10890
10615
10057
Distância percorrida

Zagueiros/as Laterais/as Volantes Meio-campistas Atacantes


Figura 6 – Distância percorrida por posição

116
Porém, como mencionado an- aos jogadores intermediários,
teriormente, o jogo de futebol é de acordo com Datson, princi- Em média, as jogadoras
um exercício intermitente, pois palmente em altas intensidades. das seleções nacionais
envolve a alternância entre co- Esses dados são importantes,
rridas de baixa, média e alta in- pois na América do Sul o núme- correm entre 1,53 e 1,68
tensidade. Os estudos informam ro de jogadores amadores ainda km em altas velocidades,
que as corridas de alta intensida- é muito alto, já que a maioria das acima de 18 km/h e
de são decisivas para uma parti- competições é amadora.
da de futebol, pois estão intima-
realizam cerca de 31,2
mente relacionadas ao resultado Apresentaremos alguns dados sprints durante uma
do jogo, portanto, os dados de das faixas de velocidade, serão partida. Na figura 4
esforços de alta intensidade são utilizadas as faixas relatadas por podemos ver a distância
mais decisivos para o treinamen- alguns estudos, mas vale ressal-
to, esportes e preparação de jo- tar que é preciso estar atento
percorrida em cada
gadores/jogadoras de futebol. É principalmente às velocidades faixa de velocidade.
importante observar que atletas maiores. Existem muitas dife- Uma jogadora de
de alto desempenho que jogam renças na literatura na metodo- futebol percorre a maior
em ligas e equipes competiti- logia de análise e nos valores
vas têm como objetivo um ren- apurados, não há consenso e va- distância e o trote mais
dimento de 24% a 28% superior riam amplamente. longo (0-12 km / h - 70%)
em velocidades mais
baixas, daí o predomínio
do metabolismo aeróbio,
como mencionado acima.

PORCENTAGEM DE DISTÂNCIA PERCORRIDA EM CADA


FAIXA DE VELOCIDADE

Corrida de baixa 5%
intensidade
(16-18 Km/h)
26% Caminhando
(0-6 Km/h)
Correndo 19%
(12-16 Km/h)

43% Trotando
(6-12 Km/h)

Figura 7 – Porcentagem de distância percorrida em cada faixa de velocidade

Ao comparar a distância perco- comparação com as outras po- podem ser causadas por diversos
rrida nas diferentes faixas de ve- sições. As meio-campistas e as fatores, como os diferentes mo-
locidade com as diferentes po- laterais tendem a percorrer lon- delos de jogo adotados, a dife-
sições em campo, podemos ver gas distâncias e realizam maior rença no nível das jogadoras e o
que as zagueiras realizam menos esforço, porém, existem algumas número de jogos analisados.
esforço de alta intensidade em divergências na literatura que

117
Semelhanças e diferenças entre partidas
disputadas por mulheres e homens
O futebol tem uma característica têm duração de 90 minutos no menos esforços de alta intensi-
intermitente, ou seja, é um jogo tempo total e de 55 a 85 minutos dade em relação aos homens, o
com muitas alterações na ativi- de bola rolando, tempo efetivo que mostra que a capacidade ae-
dade, alternando entre a baixa e de jogo; uma semelhança impor- róbia das mulheres é mais impor-
a alta intensidade e, por isso, uti- tante. tante do que no jogo masculino.
lizam todas as rotas de energé- Porém, na distância total perco-
ticas. Em média, um jogador de No entanto, existem claras dife- rrida, a diferença é de apenas 4%.
futebol e uma jogadora alternam renças biológicas, principalmente Com relação aos chutes, obser-
entre 1.300 e 1.660 vezes ativida- na produção de hormônios, que varam que as jogadoras têm ve-
des como acelerar, ultrapassar, se evidencia principalmente na locidades menores, tanto na bola
pular, caminhar, driblar, mudar de força física e na resistência. Em quanto no pé antes do impacto,
direção, desacelerar, entre ou- jogos internacionais foi observa- em relação aos homens.
tras. Além disso, ambos os jogos do que as mulheres realizam 35%

118
Acelerações e desacelerações
Até aqui mostramos a caracteri- Analisar o ato de desacelerar e
zação do jogo através das distân- A análise do movimento mudar de direção é muito impor-
cias percorridas e dos esforços tante, pois a maior incidência de
de alta intensidade realizados em
e do perfil das jogadoras rupturas do ligamento cruzado
alta velocidade, porém, é muito de futebol que excluem anterior ocorre nas mudanças de
importante caracterizar o jogo acelerações, subestima direção quando diminuímos a ve-
das acelerações e desacelerações os esforços de alta locidade.
que as jogadoras realizam duran-
te uma partida, pois o maior gas-
intensidade que as Portanto, com um perfil desses
to de energia não é feito apenas jogadoras realizam atos, podemos realizar um trei-
quando uma jogadora está em durante uma partida, já namento mais específico que
alta velocidade, mas também que aceleram em baixa também pode auxiliar na pre-
ocorre quando a jogadora execu- venção de lesões, um fator muito
ta movimentos com altas acele- velocidade com muita importante, principalmente no
rações. frequência. futebol feminino, já que o índice
de lesões nos joelhos é maior que
no futebol masculino.

119
Comparações entre tempos e fatiga
Os dados obtidos ao comparar o do glicogênio muscular que oco- tebol está aumentando, e deve
primeiro e o segundo tempo de rre durante a partida. Além disso, aumentar ainda mais, diminuindo
uma partida de futebol são co- as jogadoras ainda sentem fadiga essas diferenças.
mumente usados ​​ na literatura temporária durante o jogo, um
para indicar evidências de que resultado também observado Conforme observado em outras
os/as jogadores/as ficaram can- nos homens. Entretanto, as mul- variáveis mencionadas
​​ ao longo
sados durante
​​ o segundo tempo heres ainda apresentam queda deste capítulo, quando compara-
ou que as características do jogo nas entradas dos valores ener- mos os resultados em diferentes
mudaram do primeiro para o se- géticos ao começo do segundo níveis técnicos, as diferenças são
gundo tempo. Muitos estudos na tempo; nos primeiros 15 minutos enormes. Portanto, o objetivo do
literatura, tanto com jogadores do segundo tempo a distância treinamento de jogadores/joga-
como com jogadoras, indicam percorrida e as atividades de alta doras de futebol deve ser o de
uma diminuição no rendimento intensidade são menores que nos melhorar a habilidade para reali-
no segundo tempo, os mecanis- primeiros 15 minutos da partida, zar exercícios de alta intensida-
mos fisiológicos que explicam o que mostra que os atletas ain- de e recuperar esses estímulos o
essa fadiga parecem mudar du- da apresentam fadiga residual no mais rápido possível para realizar
rante o jogo e, segundo eles, a início do segundo tempo, não se outro, principalmente quando
diminuição do rendimento em recuperam totalmente. Essa di- pensamos em níveis amadores
velocidades mais altas no final ferença vem diminuindo ao longo cada vez mais baixos y mais altos,
do segundo tempo pode ser cau- do tempo, demonstrando que o o que acontece muito na América
sado pelo acúmulo de potássio nível de profissionalismo e alto do Sul.
extracelular e pelo esgotamento rendimento das jogadoras de fu-

120
Demandas fisiológicas
Nos últimos anos, vemos que A seguir, mostraremos alguns é sempre importante lembrar a
a importância do acompanha- dos principais testes realizados adaptação à sua realidade, cada
mento longitudinal de todas as para monitorar as capacidades equipe tem sua cultura e seu per-
demandas fisiológicas das joga- físicas dos/das jogadores/joga- fil de atleta diferente. Pensando
doras e das cargas de treinamen- doras de futebol. Conforme men- nos princípios do treinamento
to e jogo tem crescido muito. A cionado anteriormente, o jogo de individualidade e especifici-
importância da atuação do fisio- de futebol é intermitente, o que dades biológicas, a comparação
logista dentro do clube não era faz com que a jogadora utilize to- de dados entre as jogadoras do
tão comum antes como nos dias das as rotas de energia durante o próprio grupo e ao longo do tem-
de hoje. jogo, demonstrando a importân- po é o mais importante para o
cia de monitorá-las. As variáveis​​ seu dia-a-dia e para o seu aper-
Isso informa à comissão técnica já foram amplamente estudadas feiçoamento. Mostraremos os
sobre a compreensão abrangen- no futebol masculino, mas os da- dados para identificar as princi-
te dos pontos fortes e fracos de dos sobre as demandas fisiológi- pais demandas, o que cada uma
uma jogadora segundo as de- cas das jogadoras de futebol em significa e sua importância den-
cisões táticas e, em última aná- todos os níveis ainda são escas- tro do processo.
lise, os detalhes de um programa sos, principalmente na América
de treinamento. do Sul, por isso usaremos alguns
dados em relação às jogadoras
Além disso, os dados de habili- das equipes das seleções euro-
dades podem ajudar a identificar peias, americanas e australianas.
talentos, diferenciar padrões de
alto nível e prevenir lesões nos Esses dados servirão de padrão,
atletas. principalmente em alto nível, mas

121
Capacidade aeróbica
A capacidade aeróbia no futebol Uma das formas de analisar a ca- de profissionalismo entre os paí-
feminino é de extrema importân- pacidade aeróbia é por meio do ses e também entre as divisões
cia, pois é a capacidade mais utili- volume máximo de oxigênio que dos campeonatos nacionais.
zada em todo o jogo, como visto um atleta possui. Existem várias
anteriormente. Principalmente formas diretas e indiretas de me- Existe uma correlação positiva
porque as mulheres realizam me- di-lo, havendo diversos artigos entre o volume máximo de oxigê-
nos atividades de alta intensida- científicos na área. No futebol fe- nio de uma jogadora de futebol
de do que os homens, mas per- minino, as medidas diretas mos- com o número de corridas de alta
correm praticamente as mesmas tram valores que variam de 49,4 intensidade e a frequência car-
distâncias, o que mostra a im- a 57,6 ml.kg-1.min-1. Essa variação díaca durante uma partida. Re-
portância dessa habilidade para pode ser explicada pelo fato do sultado interessante e que pode
as jogadoras de futebol. futebol feminino ainda apresen- ajudar principalmente os clubes
tar uma grande variação no nível com recursos limitados.

Resistência de alta intensidade


Já foi descrito que corridas de tiva para observar essa habilida- rrem uma distância maior no tes-
alta intensidade são decisivas de nos jogadores de futebol em te do que zagueiras e atacantes.
para um jogo de futebol, pois es- geral é por meio do protocolo de Essa diferença se deve ao fato da
tão intimamente relacionadas ao teste intermitente YoYo nível 2. função tática da meio-campis-
resultado do jogo. Porém, além ta exercer um maior número de
da habilidade de realizar esforços Ao consultar a literatura, a dis- corridas de alta intensidade com
de alta intensidade, uma jogado- tância média percorrida no tes- pouco tempo de recuperação,
ra deve ter uma alta capacidade te para atletas de alto nível é de diferentemente dos zagueiras e
para se recuperar rapidamente 1774 ± 532 m. Algumas diferenças atacantes. Essa diferença tam-
entre os esforços. Uma forma foram encontradas ao comparar bém é observada no futebol
eficaz e amplamente utilizada as posições das jogadoras, como masculino.
em clubes e na literatura espor- as meio-campistas, que perco-

122
Força e potência
Duas habilidades que se relacionam e são muito Para a população feminina, o teste de salto mais
importantes para realizar saltos, disputas de bola, adequado é o salto contra movimento (CMJ), des-
finalização, entre outras atividades, são a força e a crito como o mais semelhante às habilidades físicas
potência. Existem várias formas de avaliá-las em jo- realizadas durante as partidas de futebol. A seguir,
gadores/jogadoras de futebol, e uma das mais acei- está um resumo de alguns dos resultados apresen-
tas é avaliar a capacidade de salto. Além disso, foi tados anteriormente:
demonstrada uma relação significativa entre o su-
cesso da equipe e a altura média do salto, demons- Teste de valores médios
trando a importância desse componente físico para Volume máximo de oxigênio
o rendimento específico no futebol. 49,4 Y 57,6 ml.Kg-1.Min-1
Intermitente yo-yo 1774 ± 532 m
Cmj 26,1 ± 4,8 y 51 ± 5 cm

123
Aspectos técnicos e táticos
Nos concentramos nos dois pri- idade, nível competitivo, entre Falando especificamente da par-
meiros tópicos deste capítulo, outros; muito importante para te técnica, no futebol feminino se
na caracterização do jogo e nas observar sua realidade e se adap- faz um maior número de passes
demandas fisiológicas das joga- tar às características de suas jo- em comparação ao dos homens
doras de futebol. Entretanto, de gadoras. Os dados apresentados durante uma partida, porém, a
forma a caracterizar totalmente são importantes para referências eficácia dos passes é menor do
o jogo, a partir de agora vamos gerais e conhecimento do espor- que em relação ao percentual
nos concentrar nos aspectos te como um todo e sua evolução. feito pelos homens. Além disso,
técnicos e táticos da equipe, para Além disso, os dados sobre a par- as mulheres também procuram
que seja possível treinar cada te técnica e tática servem como realizar passes mais longos (> 10
vez mais especificamente com opções para os tipos de análises metros) e perpendiculares. No
a realidade do jogo. Lembrando que podem ser realizadas em di- entanto, quando se compara os
sempre que os resultados de- ferentes projetos e níveis. chutes de longa distância (> 16m),
pendem das características de as mulheres têm pontuação infe-
cada equipe em relação ao sexo, rior à dos homens.

124
Esses dados são interessantes. formação. Esses fatores podem PASSES MULHERES HOMENS:
No primeiro capítulo deste ma- explicar os dados apresentados
nual, vimos que em todos os anteriormente, que mostram a Médio por partida 409 - 376
países da América do Sul as com- importância do treinamento es-
petições de futebol feminino co- portivo para as meninas, prin- Eficácia (%) 71,5% - 79,1%
meçaram na década de 90, muito cipalmente do ponto de vista
Passes curtos (%) 19,4% - 46,5%
recentemente, e as competições técnico e tático. Outro fator que
de base sul-americanas começa- pode interferir muito, principal- Passes médios (%) 57,6% - 40,7%
ram ainda mais tarde, apenas na mente no número de passes e
década de 2000. As competições eficácia, é em relação à parte físi- Passes longos (%) 23% - 12,8%
nacionais de base começaram ca do jogo. Vimos anteriormente
somente na última década, o que as mulheres realizam menos Perpendicular (%) 51,3% - 40,9%
que faz com que muitos clubes ações em altas velocidades, tor-
ainda não tenham categorias de nando o jogo um pouco mais len- Oblíquos (%) 21,4% - 31,5%
base estruturadas, fazendo com to, uma das explicações para o
que muitas meninas joguem maior número de passes durante Transversais (%) 27,3% - 27, 6%
nas categorias de jovens adul- uma partida.
tos, pulando muitas etapas da

125
Muito se tem falado sobre a nicos e táticos nas diferentes
posse de bola nos últimos anos, categorias, ajudando a criar um
mas, somente se alguma relação treinamento mais específico em Este é um resultado es-
nos proporcionar poucas infor- relação à idade da jogadora. perado, já que os atletas
mações, é que precisamos corre- com menos de 17 anos
lacioná-la com outras variáveis. Infelizmente, como já mencio-
Olhando apenas para o futebol namos, ainda não temos uma
ainda estão em treina-
feminino, nas últimas copas do categoria de base muito bem mento, cometerão mais
mundo de futebol feminino foi estruturada em todos os países erros e fisicamente ain-
encontrada uma correlação entre da América do Sul, um fator que da estão em formação
as distâncias percorridas em alta influencia muito no desenvolvi-
velocidade com o grande núme- mento do esporte. Nas últimas também. No futebol fe-
ro de finalizações, de passes e a Copas do Mundo de Futebol Fe- minino, em vários paí-
maior posse de bola. Informação minino (Adulto, Sub-20 e Sub-17), ses, é muito comum
interessante mostra que quando foi possível observar algumas di- observar mulheres com
uma equipe está com a posse de ferenças técnicas e táticas entre
bola, as jogadoras tendem a se elas. Por exemplo, na categoria menos de 20 anos que
movimentar em alta intensidade Sub-17, as jogadoras fazem me- já jogam em times de
para criar espaços e se desconec- nos passes, com menos precisão, adultos, o que explica a
tar dos adversários. e também ocupam uma área me-
nor em campo se comparadas às
não diferenciação entre
É muito importante olhar para categorias Sub-20 e adulta. as categorias Sub-20 e
os dados sobre os aspectos téc- de adultos.

126
PLA NEJA MENTOS DE
DESENVOLVIMENTO
DO FUT EBOL
FEMININO
127
Planejamento a longo prazo
O futebol cresceu exponencialmente ao longo da história tornando-
se o fenômeno esportivo mais aclamado e praticado em todo o
mundo. Apesar de seu grande sucesso, as barreiras que as meninas
e mulheres enfrentam neste esporte persistem assim como seu
acesso a posições de liderança.

O desenvolvimento esportivo, mero de praticantes e uma mel-


principalmente em esportes com horia no desempenho esportivo.
uma trajetória repleta de entra- Portanto, quanto mais meninas e O número de meninas
ves jurídicos e sociais, como o mulheres jogam futebol e melhor
futebol feminino, não ocorre de seja o rendimento das equipes
e mulheres que jogam
forma espontânea. A ação de di- competitivas, maior o desem- futebol aumentou nas
ferentes organizações esportivas penho do esporte. últimas décadas, mas
é necessária para implementar qualitativamente ainda
medidas transformadoras que No caso específico do futebol fe-
permitam que as meninas e as minino, além dessas necessida-
existem muitas barreiras
mulheres tenham acesso ao es- des comuns a todos os esportes, a serem enfrentadas.
porte. o desenvolvimento também exi-
ge uma mudança cultural em re-
O desenvolvimento do esporte lação às questões de gênero.
pressupõe um aumento no nú-

128
Os obstáculos vividos pelas joga- presença feminina em cargos de Esses torneios geram mais opor-
doras em relação a contratos for- liderança. tunidades para a implantação de
mais e patrocínios, assim como todo o talento que o continente
por treinadoras e dirigentes em Em 2017, foi lançada para toda a possui. Em sua primeira edição,
relação à aceitação social, são América do Sul a Liga de Desen- mobilizou cerca de 40.000 joga-
recorrentes. O Estudo da FIFA volvimento Evolução Feminina da doras nas fases locais e regionais
de 2014 mostrou que o suces- CONMEBOL, dando início a duas por meio da incorporação de um
so internacional das seleções no novas competições continentais modelo que permite a inclusão
futebol feminino está relacio- nas categorias Sub-14 e Sub-16. sem restrições, permitindo a par-
nado ao desempenho econômi- Essas competições estão enqua- ticipação de equipes de comuni-
co e à igualdade de gênero em dradas no Programa Evolução, dades, escolas e clubes.
cada país. Portanto, para que o com o objetivo de fomentar a
futebol feminino se desenvolva, prática do futebol feminino nos
é fundamental avançar em ques- países das dez associações mem-
tões como a equidade salarial e a bros da CONMEBOL.

129
Assim, as 10 equipes de cada ca- A massificação do futebol femi- geração de novos espaços para a
tegoria, dos 10 países sul-ameri- nino é um compromisso da res- prática do esporte mais maravil-
canos, se reuniram em Assunção, ponsabilidade de todos. A partir hoso do mundo.
no Paraguai, na casa do futebol Programa Evolução, liderado pelo
sul-americano para vivenciar a Departamento de Desenvolvi- Na América do Sul, a Festa Evo-
última fase da competição, que é mento, o investimento feito para lução é uma competição, e um
conhecida como a Festa da Evo- o desenvolvimento do futebol conceito-chave na formação
lução. feminino representa quase 50% de jogadoras de forma comple-
dos fundos de investimento des- ta, tendo em vista que por trás
A primeira Festa Evolução reuniu tinados ao crescimento do fute- de cada profissional existe uma
380 jogadoras que vivenciaram a bol feminino. pessoa, que deve adquirir os fun-
experiência única de jogar 46 par- damentos básicos de educação
tidas. As meninas e jovens dedi- Entre 2016 e 2019, o crescimento para um crescimento saudável
caram mais de 12 horas de treina- na Base de Dados do Cadastro dentro do futebol.
mento no uso das redes sociais de Jogadores foi considerável e
e em questões de liderança, e de essa mudança tem a ver com a
uma forma muito especial, fazen- mudança de estratégia e a incor-
Na Confederação
do amizades com mais de 8 horas poração de categorias menores
de somente integração e diver- que incentivam a participação e a Sul-Americana de Fute-
são. bol, por meio do Progra-
ma Evolução, o compro-
misso é fazer crescer o
talento de todas as me-
ninas, mulheres e jovens
que vivem e respiram
futebol todos os dias.

130
O desenvolvimento é um proces- Os agentes correspondem aos ha de uma ou de outra estraté-
so dinâmico no qual os agentes atores presentes no futebol fe- gia dependerá das necessidades
propõem estratégias e oferecem minino. Por exemplo, em geral os de cada contexto. Portanto, para
os recursos necessários para fa- sistemas esportivos são consti- planejar estratégias de desenvol-
cilitar a entrada, retenção e ma- tuídos por clubes e federações, vimento é necessário conhecer
nutenção dos praticantes no importantes agentes na orga- adequadamente o ambiente ope-
esporte. Portanto, as propostas nização e promoção do esporte racional, para que as ações sejam
de desenvolvimento do futebol de alto rendimento. As escolas, orientadas às necessidades da-
feminino são baseadas em agen- ONGs e organizações do terceiro quela população específica. Por
tes, estratégias e recursos. As setor são atores importantes no exemplo, países já estruturados
características de cada processo fornecimento de oportunidades em relação ao futebol feminino
dependem dos aspectos sociais, de lazer para meninas e mulheres. podem escolher, como estraté-
culturais e econômicos de cada Essas instituições desempenham gia, organizar megaeventos es-
país. Sendo assim, não existe um papel maior ou menor de portivos com o objetivo de au-
uma forma única de promover o acordo com cada contexto. mentar a visibilidade do esporte.
desenvolvimento do futebol fe- Os lugares menos estruturados
minino, mas diferentes possibili- As estratégias são constituídas já podem oferecer cursos de ca-
dades que podem ser mais bem por políticas esportivas, progra- pacitação para treinadores como
adaptadas a cada sistema espor- mas e eventos que podem ser estratégia para qualificar os pro-
tivo. propostos e implementados por fissionais que atuam na modali-
organizações esportivas. A escol- dade.

131
Por fim, os recursos incluem os também são necessários profis-
aspectos materiais e humanos sionais qualificados, como trei-
necessários ao desenvolvimento nadores/treinadoras, fisiologis- Todos esses aspectos
do esporte. Para que as meni- tas, preparadores/preparadoras constituem os chamados
nas e as mulheres possam jogar físicos/físicas, médicos/médicas,
futebol e aumentar o número
“recursos” necessários
árbitros/árbitras e outros. As
de praticantes do esporte, são competições esportivas são es- para o desenvolvimento
necessários espaços físicos para senciais para que os profissionais do futebol feminino.
a prática esportiva. Para que se se desenvolvam e aprimorem seu
desenvolvam como jogadoras, desempenho.

Os agentes, as estratégias e os recursos que podem compor o


planejamento do desenvolvimento do futebol em diferentes con-
textos serão explorados a seguir:

AGENTES ESTRATÉGIAS RECURSOS


• Governo • Políticas • Espaços físicos
• Federações Propõem e/ou • Programas • Treinadores
implementam Focados em
• ONG • Eventos • Árbitros
• Clubes • Competições
• Escolas
• Universidades
• Terceiro Setor
• Prefeituras
• Escolas
esportivas

Para aumentar e aperfeiçoar

PROCESSO
• Atração • Crianças
• Retenção • Jovens
• Formação • Adultos

Com o objetivo de promover

PARTICIPAÇÃO E
DESEMPENHO

Figura 8 - Características do processo de desenvolvimento futebol feminino

132
Agentes e ambientes para
promover o futebol feminino
Como mostrado anteriormente, jamento de desenvolvimento. O sociações continentais (a nível
todo o processo de desenvolvi- esporte pode ser usado como um internacional), confederações e
mento depende dos agentes do instrumento para atingir objeti- federações esportivas (a nível
sistema esportivo e dos proble- vos não esportivos, como prestí- nacional) e clubes esportivos (a
mas políticos, sociais e econômi- gio internacional e promoção da nível local). Cada organização
cos de cada contexto. Conhecer saúde, ou pode ser visto como representa uma autoridade res-
a estrutura política e econômica um direito de todos os cidadãos. ponsável por propor ações que
do país é fundamental para en- Portanto, a primeira etapa do promovam, desenvolvam e orga-
tender a dinâmica do investi- planejamento é compreender nizem o esporte.
mento esportivo. Dependendo adequadamente as característi-
de cada sistema, organizações cas do ambiente operacional.
públicas e privadas podem ter
maior ou menor participação no Da mesma forma, é necessário As federações espor-
financiamento do esporte. Além conhecer os agentes que com- tivas são as principais
disso, os problemas ideológicos põem o sistema esportivo do
relacionados ao esporte em uma país, assim como suas funções.
responsáveis ​​pela orga-
determinada sociedade também Os sistemas esportivos são ge- nização e promoção do
são importantes para um plane- ralmente constituídos por as- futebol de alto rendi-
mento para meninas e
mulheres.

133
mente no sucesso das equipes desempenho superior ou infe-
em competições internacionais rior de acordo com a etapa de
Cada federação possui
a curto e longo prazo (Jacobs, formação do jogador e o contex-
uma equipe específica 2014). Portanto, a quantidade e to de cada país. Por exemplo, no
para organizar e a qualidade dos agentes que tra- caso brasileiro, sabemos que o
promover o futebol balham no alto rendimento são sistema esportivo depende dos
decisivas para o sucesso das se- clubes esportivos, mas que os
feminino. leções do futebol feminino. governos municipais mantêm os
times de futebol feminino mais
As escolas, as ONGs, o terceiro competitivos. Em contraste, as
setor, as universidades e prefei- escolas, assim como amigos e
Estudos recentes mostram que
turas também estão presentes familiares, são os principais res-
o número de pessoas envolvidas
no sistema esportivo do futebol ponsáveis pela
​​ iniciação das me-
no futebol feminino em uma fe-
feminino. Cada agente tem um ninas no esporte.
deração influencia significativa-

134
Ações e ferramentas para
construir um planejamento
Após conhecer as características políticas, sociais e políticas, programas e eventos. No planejamento de
econômicas do local e os agentes que podem par- uma estratégia, algumas características devem ser
ticipar de cada etapa da formação das jogadoras, é levadas em consideração para sua execução, como
necessário definir quais estratégias podem ser im- investimento, duração, agentes, público-alvo e al-
plementadas para a promoção do futebol feminino. cance.
Entre as mais utilizadas no campo esportivo estão

Investimento

Duração
Estratégias
Políticas Agentes
Programas
Eventos

Públicos alvo

Alcance

Figura 9 - Características das estratégias que podem ser implementadas para desenvolver o futebol feminino

135
As políticas esportivas são de- Uma política esportiva implan-
finidas e reconhecidas como si- tada recentemente pela CON-
tuações ou ações específicas No caso do futebol MEBOL com o objetivo de des-
relacionadas com a gestão das feminino, as associações envolver o futebol feminino no
atividades esportivas para uma continentais, assim continente sul-americano é a
determinada população. Nesse como as confederações obrigatoriedade de as seleções
sentido, o conceito de política femininas licenciarem os clubes.
esportiva não é exclusivo dos nacionais de futebol e De acordo com os novos estatu-
órgãos públicos, ao contrário, as os clubes esportivos, tos, a partir de 2019 “o candidato
confederações e federações es- desempenham um (em licença) deve ter, pelo menos,
portivas são reconhecidas por uma equipe feminina ou juntar-se
seu papel quase estatal no des-
papel importante a um clube que a possua. Além
envolvimento de políticas espor- na proposição de disso, deve ter, no mínimo, uma
tivas a nível internacional, nacio- políticas esportivas e, categoria juvenil feminina ou jun-
nal e local. consequentemente, no tar-se a um clube que a possua.
desenvolvimento do
esporte.
´

136
Em ambos os casos, o candida- po. Os programas podem ter um Em 2016, foi realizado no Uruguai
to deverá fornecer assistência curto tempo de implementação o Curso CONMEBOL para trei-
técnica e todo o equipamento e ou a duração de um ciclo olímpi- nadores/as de futebol feminino,
infraestrutura (campo de dispu- co, dependendo do financiamen- então o primeiro curso da CON-
ta e treinamento) necessários ao to e do público-alvo. Podem ser MEBOL para jogadoras de futebol
desenvolvimento de ambas as programas locais, regionais ou em colaboração com a Federação
equipes em condições adequadas. nacionais, propostos por diferen- Peruana de Futebol em setembro
Por último, ambas as equipas são tes agentes, como governos, fe- de 2017. O ano de 2018 foi mar-
obrigadas a participar em compe- derações, clubes e escolas. cado para cursos realizados em
tições nacionais e regionais auto- colaboração com a Federação
rizadas pela respectiva associação Venezuelana de Futebol e a Fede-
membro ”. Nesta situação prática,
Os programas podem ração Equatoriana de Futebol.
a CONMEBOL (agente) utiliza uma ter mais de um objetivo,
política esportiva (estratégia) como proporcionar Os eventos organizados pelas or-
para promover o apoio técnico, oportunidades para ganizações também podem ser
o equipamento e a estrutura (re- muito variados. Por exemplo, as
cursos) para a participação das
meninas e mulheres
universidades e federações po-
meninas nas categorias de base e joguem futebol, dem organizar simpósios que
das mulheres no esporte de elite promover a formação reúnam diferentes pessoas en-
(desenvolvimento). de treinadores/as e volvidas com o futebol feminino
promover a construção para atualizar esses profissionais.
Os programas esportivos geral-
mente são constituídos por do- de espaços físicos para
cumentos que estabelecem os a prática de esportes,
objetivos a serem alcançados em entre outros.
um determinado período de tem-

137
Da mesma forma que as esco- tas, atletas e ex-jogadoras, pro- jogadores de futebol e treina-
las, as ONGs, as organizações fissionais envolvidos no futebol mentos esportivos e calendário/
do terceiro setor e os clubes po- feminino e pesquisadores da área competições.
dem promover festivais esporti- (público alvo), com o objetivo de
vos que possibilitem a crianças e discutir possíveis iniciativas para A implementação dessas estra-
adolescentes a prática do futebol o desenvolvimento do futebol fe- tégias requer o planejamento e
feminino. Esses eventos podem minino no estado de São Paulo. a ação conjunta dos diferentes
ser incentivados a nível local, re- O evento teve a duração de um agentes envolvidos no campo es-
gional ou nacional, dependendo dia (duração) e contou com mais portivo.
do investimento e da duração. de 70 participantes (alcance). Ao
final do seminário, os partici-
São Paulo (agente) realizou o 1º pantes realizaram uma dinâmica
Seminário do Futebol Feminino ativa na qual propuseram ações Uma ferramenta que
(evento) com a participação de relacionadas à profissionalização, pode auxiliar os agentes
representantes da CBF, clubes, à massificação da prática e à res-
prefeitura de São Paulo, jornalis- ponsabilidade social, atraindo de
esportivos a propor es-
sas ações é o PDCA (do
inglês Plan-Do-Check-
Act). A ferramenta con-
siste em quatro etapas:
Planejar, Fazer, Executar,
Verificar e Agir.

138
Na primeira etapa, cabe aos A segunda fase é a implemen- por meio de um canal aberto de
agentes conhecer o contexto de tação da estratégia, seguida da comunicação com o público.
seu trabalho e identificar os pro- análise dos resultados obtidos.
blemas a serem resolvidos. Com Portanto, é importante que exis- Nesta fase final, também é im-
base nas informações disponí- tam instrumentos para avaliar a portante implementar ações co-
veis sobre o contexto de ação, eficácia e eficiência do planeja- rretivas em relação às ações que
define-se nesta fase a estratégia mento de ação. não atingiram as metas estabe-
(política, programa ou evento) lecidas.
a ser desenvolvida, assim como Por fim, é importante que as boas
os planejamentos de ação para a práticas sejam registradas e que
concretização dos objetivos. os resultados sejam divulgados

Identificação de problemas de
participação e desempenho

Análise do contexto político,


social e económico

Definição da ação (política, pro-


grama o evento)

Elaboração de planejamentos de
ação para alcançar os objetivos

Plan

Implementação de Ciclo
ações corretivas

Padronização de Execução dos plane-


melhores práticas jamentos de ação

Divulgação dos Act Do


resultados

Check

Analisar os resultados
obtidos

Analisar a eficácia e
eficiência dos
planejamentos de ação

Figura 10 - Características dos quatro passos do Ciclo PHVA: Planejar, Fazer, Verificar e Agir

139
Implementação de
estratégias para promover o
futebol feminino
Ao longo do texto, várias possibi- desenvolvimento de longo prazo
lidades foram apresentadas para do futebol feminino, a CONME- Em 2019, a CONMEBOL
desenvolver o futebol feminino BOL propôs o Programa Evolução
nos diferentes contextos sociais, em 2016. Desde 2017, o programa
promoveu a elaboração
políticos e econômicos da Améri- realiza ações em conjunto com de manuais de futebol
ca do Sul. Com esse propósito é as associações membro com o masculino e feminino
que a CONMEBOL procura desen- objetivo de formar treinadores/ com o objetivo de
volver o futebol feminino em todo as que atuem no futebol femini-
o continente, massificando-o a no. A partir de 2018, a federação fornecer informações
nível sul-americano, aumentan- continental passou a promover para auxiliar a
do a participação, suas capacida- competições esportivas para as prática esportiva dos
des técnicas e de infraestrutura, categorias de base, Sub- 20 e
profissionais envolvidos
assim como os incentivos dentro Sub-17, com o objetivo de promo-
e fora do campo, respeitando as ver a participação das meninas no futebol sul-
características e particularida- no esporte. americano.
des de cada país. Pensando no
140
O Regulamento de Licenças de Clubes no futebol feminino é aprovado

Recentemente foi aprovado o Re- Para isso, foram estabelecidos 5


Em 2019, mais de 20.000 gulamento de Licença de Clubes critérios com requisitos mínimos
Femininos que participarão da e graduais que abrangem as di-
novas jogadoras foram
CONMEBOL Libertadores. mensões esportiva, administra-
inscritas em todo o tiva, jurídica, financeira e de in-
continente e mais de A CONMEBOL, por meio deste fraestrutura.
640 capacitações foram regulamento, busca promover
um sistema de licenças de clubes A definição deste regulamento
realizadas para árbitras como ferramenta de desenvolvi- contou com um trabalho conjun-
e diretoras técnicas mento, que permita promover e to com a FIFA e os clubes partici-
em todos os países acelerar gradativamente o cres- pantes das duas últimas edições
associados. cimento integral dos clubes par- da CONMEBOL Libertadores,
ticipantes da CONMEBOL Liber- bem como com as associações
tadores Feminina. membro.

141
A participação das em-
A CONMEBOL está convencida de cada país, dando mais oportuni- baixadoras do futebol
que este é um grande passo para dades de jogo as nossas futuras sul-americano nos sor-
avançar tanto no desenvolvi- estrelas do futebol, a exemplo da
mento e fortalecimento dos clu- equipe étnica Guarani Fortuna do
teios da Copa Sul-Ame-
bes femininos como da compe- Paraguai. A criação de dois novos ricana e da Copa Li-
tição com o objetivo de alcançar torneios da CONMEBOL, como o bertadores masculina
a glória eterna. Liga Sul-americana Sub-19 e o pri- deixou clara a estraté-
meiro torneio da Liga Sul-ameri-
Com a criação da Liga de Desen- cana de Futebol de Areia Femi- gia da CONMEBOL em
volvimento Evolução da CONME- nino. Durante cada torneio da relação ao desenvolvi-
BOL, a organização dos torneios CONMEBOL, foram realizadas mento do futebol femi-
juvenis através das federações capacitações para treinadores/
nino, PROMOVER, FOR-
tem favorecido o desenvolvimen- as de futebol feminino e para as
to do futebol feminino na Améri- jogadoras. MAR e FIDELIZAR.
ca do Sul, chegando às regiões de
142
“Uma folha em branco”
Um convite para as confederações,
federações, clubes e demais
instituições esportivas para a
construção de seu currículo destinado
ao futebol feminino
143
O que sugerimos agora é que cada clube ou federação
descreva cada um dos tópicos abaixo expostos com base
em sua realidade. Trata-se de uma folha em branco a
ser preenchida de acordo com o contexto e a vocação de
cada instituição. Mãos à obra!

144
BIBLIOGRA FIA
145
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Capítulo 2
A MENINA FUTEBOLISTA
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Regulamento de
Uso de Fundos
do Programa
Evolução
RECURSOS HUMANOS PARA A GESTÃO TÉCNICA DO DEPARTAMENTO
DE SELEÇÕES DE BASE
Regulamento de Uso de Fundos do Programa Evolução:
Capítulo 10.1 y 10.2
Projeto Específico de auxílio para uso operacional e Projeto
Específico de apoio às Seleções de Base

INFRAESTRUTURA E EQUIPAMENTO TECNOLÓGICO


Regulamento de Uso de Fundos do Programa Evolução: Capítulo 9

INTERAÇÃO E RELAÇÃO COM OS CLUBES


Regulamento de Uso de Fundos do Programa Evolução:
Capítulo 10.4

A COMPETIÇÃO COMO PRINCIPAL ELEMENTO DE FORMAÇÃO


Regulamento de Uso de Fundos do Programa Evolução:
Capítulo 10.2 y 10.3
Calendário esportivo, competição CONMEBOL e FIFA

SISTEMA DE SELEÇÃO DE TALENTOS PARA AS SELEÇÕES DE BASE


Regulamento de Uso de Fundos do Programa Evolução:
Capítulo 10.1
Projeto específico de auxílio para uso operacional e Projeto
específico de apoio às Seleções de Base

INTER-RELAÇÃO NO PROJETO INTEGRAL COM A SELEÇÃO


PRINCIPAL
Regulamento de Uso de Fundos do Programa Evolução:
Capítulo 9

149
CONMEBOL
DEPARTAMENTO DE
DESENVOLVIMENTO - 2020
EVOLUÇÃO É CONMEBOL

Publicação Oficial do Departamento de


Desenvolvimento da Confederação Sul-
Americana de Futebol (CONMEBOL)

PRESIDENTE:
Alejandro Domínguez Wilson Smith

SECRETÁRIO GERAL:
José Astigarraga

SECRETARIA GERAL ADJUNTA/DIRETORIA


JURÍDICA:
Monserrat Jiménez

SECRETÁRIO GERAL ADJUNTO/DIRETOR


DE DESENVOLVIMENTO:
Gonzalo Belloso

EDIÇÃO:
Confederação Sul-Americana de Futebol
(CONMEBOL).
Autopista Silvio Pettirossi y
Avda. Sudamericana – Luque - Paraguay
Tel: +595-21/5172000
www.conmebol.com

REVISÃO DE CONTEÚDO:
ECOM Estrategias de Comunicación
ecomestrategias.com

FOTOGRAFIA:
CONMEBOL e Associações Membro da
CONMEBOL

DESENHO GRÁFICO E LAYOUT:


ECOM Estrategias de Comunicación
ecomestrategias.com

IMPRESSÃO:
Industrias Gráficas Nobel S.A
Diciembre - 2020

Direitos do Autor:
Confederação Sul-Americana de Futebol
(CONMEBOL)

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@evolucionesconmebol

@EvolucionCSF

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