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Apresentação

O texto a seguir traz uma síntese crítica do estudo realizado pelo Professor Doutor
Marcelo Weishaupt Proin, sobre o tema Ética e Futebol no Brasil: argumentos para
reflexão.
O estudo, publicado em 2007, traz uma série de reflexões entretanto não conseguiu se
aprofundar em temas que estão em voga atualmente (2024), como o racismo, xenofobia
e futebol feminino.
Cada vez mais vemos atletas negros sofrendo, principalmente na Europa, como é o caso
do atleta do Real Madri, Vinícius Júnior, ou ainda torcedores de times brasileiros
quando vão acompanhar seus clubes na Argentina. Sempre uma palavra para denegrir,
ou uma banana é atirada, fazendo menção ao animal macaco. Quantas cenas
lamentáveis como essas teremos que ver até que as entidades máximas do futebol se
posicionem firmemente contra essas atitudes?
Quando falamos das mulheres no futebol, claro que já avançamos, mas foi preciso ser
criada uma lei federal para que os clubes fomentem o futebol feminino. Mas ainda
estamos longe de termos um Lyon no Brasil, onde por iniciativa do seu presidente Jean-
Michel Aulas, as atletas do clube francês têm as mesmas condições de trabalho que o
masculino, só não em temos salariais.
Antes de começar a fazer um resumo crítico do texto em si é preciso compreender o que
é ética e o que é futebol. Conforme o dicionário Oxford, ética é “um conjunto de regras
e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, grupo social ou sociedade”.
Mas o que é isso na prática? É a reflexão moral acerca de uma determinada ação.
Compreendemos também que ética e moral são diferentes, já que moral é o costume ou
hábito de uma sociedade. E o futebol, o que é? É mais que do que a simples prática
esportiva. É mais do que o esporte criado pelos britânicos no século XIX. É mais do que
o esporte mais popular do Brasil. Futebol é uma cadeia econômica, é uma válvula de
escape, é um sentimento que transcende e passa de pai para filho, de avô para neto, de
tia para sobrinha etc.

E a ética esportiva? O que é? Onde encontramos e quais as diferenças entre as


várias éticas esportivas? Dentre as várias observações e perguntas pertinentes que o
autor faz no texto, ele delimita o campo de estudo apenas ao futebol e em sete seções.
Esses questionamentos vêm acompanhados de impressões pessoais pautadas em estudos
e casos verídicos de nosso futebol, o que acaba trazendo personalidade, relevância e
empatia para o texto.

Após falar e mostrar as diferentes éticas que permeiam as sociedades, Marcelo


Proni se fixa na ética esportiva em si, mostrando como os valores são mutáveis,
exemplificando com os Jogos Olímpicos de 1924, e posteriormente os Jogos Olímpicos
de 1988 em Seul. Se anteriormente os jogos olímpicos não aceitavam atletas
profissionais, em 1988 essa realidade mudou. Passou a serem aceitos atletas
profissionais, que recebem salários para treinar. Ora vejamos, se nas diversas
modalidades foi aceito atleta profissional, como é o caso do tênis com o suíço Roger
Federer, ouro em 2008 em Pequim; velocista jamaicano Usain Bolt com oito medalhas,
entre 2008 e 2016; do basquete com o dream team estadunidense; com 16 medalhas de
ouro ao todo, nos anos de 1936,1948, 1952, 1956, 1960, 1964, 1968, 1976, 1984, 1992,
1996, 2000, 2008, 2012, 2016 e 2020; nadador Michael Phelps, sendo o maior
medalhista com 23 medalhas de ouro entre 2004 e 2016; por que somente no futebol, a
seleção só pode ter atleta menor de 23 anos? Sim, sabemos que pode levar três
jogadores maiores de 23 anos, mas, ainda assim, é um número bem menor que as
demais modalidades. Qual a ética está sendo aplicada nessa questão? Valorizar
jogadores mais novos em detrimento dos mais velhos? Sendo assim, por que não liberar
apenas jogadores mais velhos, depois dos 40, afinal, a população está envelhecendo,
entretanto no esporte, vemos que a grande maioria se aposenta entre 40 – 43 anos. Por
que não valorizar a seleção master de cada país?

E os questionamentos em relação a ética nos jogos olímpicos não param por


aqui. Por que o Comitê Olímpico Internacional – COI, delimitou a regra que para ser
um esporte olímpico, a modalidade precisa ser amplamente praticada por homens em
pelo menos 75 países e por mulheres em pelo menos 25 países e três continentes? Por
que esse esses números? Por que o número de praticantes por mulheres é menor? Qual a
ética nisso, se a todo instante vemos mulheres lutando pela igualdade, como é o caso
das ativistas paquistanesa Malala Yousafzai, e a brasileira Djamila Ribeiro, dentre
tantas outras?

Voltando para o futebol, o autor traz uma seção sobre as divergências éticas no
campo. Traçando uma linha do tempo, de quando o futebol foi introduzido no Brasil em
1894, por Charles Miller, que após finalizar seus estudos na Europa, trouxe para São
Paulo bolas e um livro de regras. Contudo, nessa época, o futebol era praticado apenas
pela elite brasileira, o que, posteriormente, foi difundido, fazendo com que classes
menos abastadas praticassem o esporte. Já na década de 1920, o debate foi se
acalorando, uma vez que era falado que o futebol amador, praticado por gentlemen, era
diferente do futebol profissional, praticado por pobres, que davam tudo de si em campo.

Pois então, com a difusão do futebol para todo o país, e por ser um esporte fácil de ser
praticado, bastando apenas uma bola e talvez dois pares de chinelas para servirem de
traves, o debate foi tomando proporções maiores, afinal, já não era esporte apenas da
elite, mas sim de uma massa que via ali uma válvula de escape. Clubes nasciam por
todo o país, em 1930 acontecia a primeira Copa do Mundo de Futebol tendo o nosso
vizinho Uruguai como campeão do torneio já organizado pela Fifa – Federação
Internacional de Futebol, o Brasil ia criando para si identidade nacional. Mas também
um certo discurso tomava outras proporções: racismo no futebol.

Deixando o racismo mais para o final, o autor ainda discorre sobre o futebol nas
escolas, durante as aulas de educação física e mais ainda, durante os torneios escolares
ou ainda pelas seleções das instituições de ensino. Ora, fato que o homem compete
desde sempre. E claro, em um país capitalista como o Brasil, a competição faz parte do
cotidiano. Sim, talvez as seletivas para fazer parte do time do colégio sejam frustrantes
para a criança que não passa, mas quem nunca perdeu uma partida no video-game ou
ainda foi o último a ser escolhido para compor o time do racha? É preciso aprender e a
conviver com as derrotas e os dissabores que essas trazem, afinal, não é todo dia que
ganhamos.

Quanto ao futebol-espetáculo e a ética utilitária chega a ser cansativo para quem


é de fato amante do esporte e pode contemplar jogadores como Garrincha, Zico, Pelé,
Romário, Edilson Capetinha e Ronaldo Nazário, vermos um futebol tão maçante e sem
graça como o apresentado hoje. Quem paga ingresso para ir para o estádio ou ainda
compra as várias plataformas de streaming, é porque quer estar perto do seu clube, dos
atletas que defendem o escuto do seu time, é porque gostam de ver dribles, cavadinhas,
banhos-de-cuia, pedaladas e gols, muitos gols. Infelizmente, alguns profissionais da
mídia não vêem com bons olhos a prática do futebol arte, chegam a chamar de
desrespeito, mas talvez é porque nunca tiveram o prazer de fazer um lançamento longo
e ver seu colega de time matar a bola no peito, dar um lençol no adversário e botar a
bola entre as pernas do goleiro. Há ainda o outro contexto de futebol-espetáculo, o
borderô das partidas, e o que os espectadores gastam em um simples domingo de
futebol.

Qual a ética que a administração do clube tem em colocar um ingresso a


R$80,00 para assistir Maracanã x Ceará? Sabendo que além do ingresso, o torcedor
ainda gasta com deslocamento, estacionamento, alimentação… Mais ainda, qual é a
ética do torcedor que sai da sua casa, gastando algo em torno de R$110,00 (ingresso,
deslocamento e alimentação) para brigar com a torcida do seu próprio time? Quando
falamos em espetáculo, é preciso compreender a realidade do espectador,
principalmente financeira. Quantas vezes encontramos torcedores saudosos pelo antigo
estádio Maracanã, que tinha geral e o preço do ingresso para aquele setor não passava
de R$5,00 ?! Incontáveis.. Quantas vezes não vemos publicações de torcedores
saudosos pelo Estádio Presidente Vargas, onde se chegava cedo para assistir ao jogo da
categoria de base antes do time principal, dando assim mais visibilidade aos aspirantes?
Qual a ética nisso? Se o torcedor é quem mantém o time, por que não dar mais
credibilidade a ele, dando mais horas de jogo para assistir com um só ingresso?

Detalhe, quando falamos em futebol-espetáculo, a ética é completamente alterada


quando o assunto é futebol feminino. Em 2023, o presidente Luis Inácio Lula da Silva
assinou o Decreto-Lei 11458/2023, chamado de Estratégia Nacional para o Futebol
Feminino, para que os clubes fomentem a prática do futebol feminino, contudo, ainda
temos um abismo muito grande quando o assunto é equidade salarial.

A ética é volátil, e se molda aos tempos que o futebol está passando. Mas o que mais me
impressiona é saber que a xenofobia e o racismo ainda são tão presentes no futebol, seja
dentro ou fora de campo, e não vemos as entidades máximas, que organizam e
fiscalizam tomar posicionamento sério a respeito. Quanto mais se fala, quanto mais se
bate de frente, menos vemos os clubes, federações e confederações brigarem para
extirpar esses males que assolam não só o futebol, mas principalmente a pessoa que é
vítima, seja ela atleta ou torcedora.

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