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DOCUMENTO – ABRAPESP - FUTSAL

O Futsal brasileiro sofre uma falta dentro da própria área: COB exclui a
modalidade dos Jogos da Juventude

O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) justifica a retirada do futsal por motivo


mais doloroso para os amantes do futebol de salão por não ser um esporte
olímpico. Dessa forma, o “sonho olímpico” vai ficando cada vez mais distante.
O Futsal continua perdendo espaço, crédito e mídia.

Como o COB pode ter a premissa de selecionar as modalidades para os Jogos


da Juventude com base na justificativa de “ser ou não ser olímpico” se a
retirada não fortalecerá sua entrada? E como ficará a juventude da modalidade
de futsal no Brasil?

Conforme o Art.1 do capítulo I do Regulamento Geral do evento: Os Jogos da


Juventude têm por finalidade contribuir para o fortalecimento do Movimento
Olímpico do Brasil, bem como aumentar e incentivar a prática esportiva
entre os jovens, especialmente os que integram a rede de escolas
públicas e privadas de todo o país, bem como promover a ampla mobilização
da juventude brasileira em torno do esporte.

Me arrisco em afirmar que o futsal é o esporte mais praticado nas escolas do


Brasil. Primeiramente, a paixão do brasileiro pelo Futebol, e,
consequentemente as exigências das escolas de terem uma área coberta
destinada a prática de Educação Física, o que torna um ambiente familiar e
acessível. Sem contar o custo e benefício de uma quadra ser bem menor do
que um campo gramado. O que torna viável o Futsal ser o esporte com maior
número de times nos campeonatos escolares.

Ainda que muitas escolas não tenham uma estrutura adequada para as aulas
de Educação Física, parto do pressuposto de que o maior público de
adolescentes praticantes de esportes são das escolas e dos projetos e
programas sociais.

Meu percurso como atleta de Futsal iniciou nos anos 2000 durante o ensino
fundamental, dando continuidade na universidade no curso de Educação
Física, e depois como professora e técnica de Futsal em jogos escolares. Essa
trajetória me possibilitou vivenciar o fenômeno do Futsal nas competições
escolares no Nordeste, perceber o quanto esse esporte tem um peso no
desenvolvimento social de tantos jovens. O esporte é uma grande ferramenta
social de políticas públicas, antes mesmo de pensar em alto rendimento, é
acima de tudo promoção de saúde, um direito de todos. E sim, o alto
rendimento tem muito ganhar quando há uma valorização desse processo.

O Futsal aparece como base para a maioria dos atletas profissionais de


Futebol, e digo mais, para os nossos maiores craques. O Neymar, por
exemplo, iniciou seu sucesso nas quadras santistas, destacando-se e partindo
para o campo. A questão é que no país do Futebol, o Futsal não aparece como
sonho de carreira para as crianças e adolescentes que amam a modalidade.

Mas por que uma criança ou adolescente não sonha em ser um jogador de
Futsal? O Neymar em uma entrevista na quadra do Santos aos 9 anos falou
sobre a esperança do sucesso na carreira do Futebol, após uma brilhante
partida de Futsal. “Eu mesma, que sempre joguei Futsal sonhava em ser
jogadora da seleção brasileira de Futebol e não de Futsal. Essa expectativa
surgiu ao assistir ao jogo do Brasil e EUA nas olimpíadas de 2000, o qual foi
transmitido na TV. Ali pude perceber que eu podia jogar Futebol da mesma
forma que os homens jogavam toda semana na TV”.

Como sonhar em ser jogador de Futsal se as portas se fecham para essa


modalidade e se a mídia e o mercado esportivo não investem em maior
visibilidade?

Se historicamente o Futebol é considerado o esporte mais representativo do


Brasil, a mídia muito contribui com esse imaginário e realidade, mas o Futsal
brasileiro também merece maior visibilidade e reconhecimento. O Futsal
nasceu na América Latina e também é penta campeão mundial pela FIFA (89,
92, 96, 2008 e 2012) e bicampeão pela FIFUSA (82 e 85).

A retirada do Futsal dos – Jogos da Juventude – deixa inúmeros jovens atletas


sem esperança, só demostra a falta de reconhecimento, valor e visão pela
instituição que gerencia o Futebol (CBF) da importância dessa modalidade no
país. Elucidando que este campeonato é um evento esportivo “escolar”. Muitos
adolescentes em sua carreira esportiva escolar, que recebem bolsa atleta e/ou
bolsa para estudarem em escolas particulares, tem uma longa trajetória de
treinamento e competições e esperam por esse campeonato que tem uma
força na formação do atleta. Muitas consequências precisam ser consideradas,
pois implicam na questão emocional, social, financeira, dos atletas, familiares e
outros envolvidos; além dos aspectos históricos e políticos que afetará o Futsal.

O Futsal não é um esporte olímpico e as razões vão para além das regras
necessárias da carta olímpica de inclusão. O impasse acontece no jogo de
poder entre a FIFA e o COI (Comitê Olímpico Internacional), as duas entidades
responsáveis pelos dois megaeventos (Olimpíadas e a Copa do Mundo de
Futebol). O Futebol é um esporte olímpico desde 1900. A FIFA têm interesse
em ampliar o espetáculo do Futebol? Quais interesses estariam nos bastidores
dessa exclusão?

Não dar pra ampliar essa discussão aqui, mas sabemos que há figuras que
representam esse cenário como os aspectos políticos, que envolve a mídia e o
mercado esportivo, sendo o COB e a CBF os personagens nacionais.

É inacreditável que o Futsal foi retirado dos Jogos da Juventude em 2023.

O esporte perde a alma, o espírito cultural da modalidade, a responsabilidade


social e o sentido do jogo. Perde o fenômeno esportivo das competições para a
máquina política que globaliza os megaeventos “o lucro” “o poder” e o esporte
vira instrumento nesse processo de mídia, patrocínio e vendas.

A intenção não foi responder mas ampliar a discussão política que envolve a
exclusão do Futsal dos Jogos da Juventude.

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