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O esporte da Mídia
Esta parte do trabalho terá como fundamento o texto de Betti (2001). Ele
salienta que o esporte atualmente é o esporte da mídia e isto está acontecendo
porque a mídia e neste caso a televisão, como sendo o maior meio de
comunicação de massa, tem que defender seus interesses econômicos,
políticos, sociais e ideológicos perante o povo. Para o autor a televisão devorou
as outras mídias por dar a visibilidade que o esporte tem hoje. Esta
abrangência televisiva o autor deu o nome de “esporte telespetáculo”.
As características que o autor mostra e que fazem com que o esporte seja
da mídia em especial da televisão começam com a ênfase dada a falação
esportiva, que tem como característica informar e atualizar as pessoas dos
bastidores do mundo esportivo, contar histórias dos atletas e clubes, criarem
expectativas para conquistar adeptos e aumentar a audiência. Ainda as
previsões de resultados e as contratações devem ser disseminadas pela
população. As explicações e justificativas dos erros e acertos dos árbitros
promovem aos telespectadores muitas emoções, criando polêmicas e
rivalidades. Por fim crítica e dramatiza os grandes acontecimentos que marcam
a vida esportiva.
Outra característica é a monocultura esportiva. Podemos observar
claramente que em nosso país o futebol é destaque, principalmente na
televisão aberta. Por assinatura os esportes radicais estão em primeiro seguido
do futebol e tênis. O futebol se explica por seu custo benefício que atende ao
interesse econômico. Outro fator é a sobrevalorização da forma em relação ao
conteúdo. Com os avanços audiovisuais ligados a informática, as imagens vêm
ganhando espaço em relação à palavra. Estes avanços são visíveis e
apresentados principalmente pela televisão. Nos canais por assinatura este
avanço é ainda maior. Podemos observar que em muitos casos a informação é
muito bem transmitida puramente com imagens, buscando atingir o máximo de
emoções. Esta espetacularização gera a fragmentação e a
descontextualização do esporte. Neste sentido existe muita diferença em você
assistir um jogo pela televisão e ao vivo no estádio.
Outra característica muito importante é a superficialidade. A televisão por si
só, gera a cultura do breve e do descontínuo. A profundidade das informações
pode ser atingida com a interação entre várias mídias, ou seja, a televisão
levaria ao jornal, a revista e outras mídias. Mas atualmente quem lê, se as
imagens são mais fáceis de serem captadas e assimiladas como verdade?
Neste sentido os efeitos negativos da televisão são enormes, ainda mais num
país como o Brasil que possuem muitos analfabetos e semi-analfabetos. O
último fator e não menos importante é a prevalência dos interesses
econômicos. A mídia privilegia o que fornece audiência e em conseqüência o
lucro. A ideologia que a mídia passa aos seus consumidores produz uma
alienação ao tradicional. Isto caracteriza a pobreza da televisão brasileira e
suas mesmices da programação. As pessoas acabam escolhendo o que as
mídias querem. O telespectador acaba sofrendo da terrível doença da
alienação e da heteronomia, os outros definem por mim e sabem o que eu
quero e gosto. As pessoas perderam o poder da reflexão crítica e de perceber
o que é bom ou ruim para si próprio.
Podemos observar que estas características possuem fatores que mostram
o grande poder que as mídias detêm sobre as pessoas. As informações
transmitidas para nós têm um caráter alienante e um interesse particular seja
ele econômico, político, social e outros que nos fazem pensar e agir de forma
que eles querem. A reflexão crítica que devemos possuir deve nos
proporcionar uma atitude também crítica, que nos possibilite não aceitar de
forma simples e rápida as imposições consumistas e ideológicas que as mídias
nos impõem diariamente.
O esporte na Mídia
Acredito que falar sobre o esporte na mídia implica em comentar sobre
algumas questões e possibilidades que vem de encontro com as pessoas e
seus direitos mais significativos como seres humanos. Podemos observar que
o esporte da mídia possui as lacunas fundamentais que servem de suporte
para serem exploradas e com isto justificar e elaborar novas questões e
possibilidades para construir o esporte na mídia. Desta forma podemos ampliar
o entendido do esporte em todas as suas dimensões.
A constituição federal comenta no artigo 221 que a mídia deveria ter um
caráter puramente educativo, artístico, cultural e informativo. Outro artigo o
224, prevê um Conselho de Comunicação Social para analisar e efetivar que a
mídia tenha exatamente o caráter que a constituição lhe impõe. Como este
conselho nunca foi efetivado e com certeza não á nenhum interesse que ele
realmente se efetive, a mídia com seu conhecimento parcializado sobre a
realidade, possui total liberdade para ditar o que é educativo, artístico, cultural
e informativo.
Neste contexto grande parte das pessoas que vê o esporte dentro desta
ótica (da mídia) o entende como sendo educativo, artístico, saúde, integrador,
lazer e outros adjetivos que o caracterizam como sendo um fator de
transformações social que tira as crianças das ruas e das drogas e garante um
futuro melhor como atleta. Esta visão acrítica e alienada de esporte é o que a
mídia, com suas formas de persuasão desenvolvidas pelos meios tecnológicos
apresentam para nós.
Por trás do fenômeno esporte se escondem muitas informações que a mídia
com sua característica de superficialidade não consegue mostrar. Esta visão de
esporte é semelhante a um iceberg, a parte maior não está vista e sim
escondida debaixo da água. O esporte na mídia teria o dever de mostrar estas
facetas escondidas e buscar a verdade dos fatos esportivos. Mostrar os reais
interesse políticos e econômicos dos campeonatos e grandes eventos que são
os únicos que a mídia divulga. Segundo Rebelo e Azevedo (2001) a CBF
ganha milhões de patrocínio de várias instituições como NIKE e Ambev para
promover o futebol brasileiro em todos os níveis desde a principal até a de
base. Mas sabemos que a grande maioria vai para a equipe principal que
oferecem aos jogadores uma mordomia e grandes salários e a outra parte
simplesmente some. No ano de 2001 a CBF ganhou destes dois
patrocinadores R$ 25 milhões. O dinheiro desapareceu. O passivo circulante
da CBF chegou a R$ 55 milhões e o prejuízo acumulado de R$ 25 milhões.
Ainda ninguém sabe quem gastou o dinheiro e como. Enquanto sobra dinheiro
em um lado em muitos outros tem inúmeras pessoas passando fome.
Geralmente na televisão se associa o esporte como educação e saúde. É
muito divulgado que se a criança está praticando esporte ela automaticamente
está tendo educação. O esporte possui como características a competitividade
e a rígida normatização. Neste contexto o participante é um mero executante
de formas técnicas de movimento. Obedecendo geralmente a um técnico que
manda o participante a executar movimentos predeterminados em direção a
uma modalidade esportiva com intenção de formação de atletas. Mas quantos
serão atletas? Será que uma criança tem consciência se quer ser um atleta? E
o que isto representa para ela? E ainda neste mesmo sentido fazem as
peneiras humanas, para selecionar os melhores, como se as pessoas fossem
objetos de escolha. Tratam-nos como ferramenta para executar determinado
serviço que é importante apenas para quem seleciona. Exemplo disto são os
programas ditos sociais exibidos principalmente pela televisão, que selecionam
crianças pobres de um determinado lugar e oferecem durante um determinado
tempo atividades esportivas, alimentação e brincadeiras e chamam isto de
educação e cidadania. Esta visão simplista de educação é o que a mídia quer
divulgar para melhor controlar e dominar.
Neste sentido, qualidades importantes para o ser humano como a
participação efetiva nas atividades criando e construindo conjuntamente
possibilidades de movimento, não existem. Valores éticos como honestidade,
cooperação, responsabilidade e respeito não são proporcionados pelas
atividades desenvolvidas. Atividades de interação social entre crianças, grupos
de discussão e criação também não são oferecidas. Desta forma o
desenvolvimento de uma reflexão crítica nas pessoas e principalmente nas
crianças é praticamente impossível.
Outro fator que temos que comentar é sobre a veiculação do esporte como
saúde. Começamos pelas inúmeras lesões que os jogadores têm no dia a dia.
Lesões estas que se tornam crônicas e dura toda vida. O que proporciona em
muitas vezes um afastamento do trabalho e problemas para toda a família. A
saúde está vinculada geralmente a um corpo bonito em que as atividades
esportivas e consequentemente físicas são fundamentais para isto. Podemos
observar aqui que a mídia entende a saúde como ausência de doença, como
sendo um fenômeno puramente físico, objetivo e empírico. A subjetividade do
ser humano, ou seja, o que ele sente e o significado que a atividade tem para
cada um de nós é ignorada. Somos diferentes um do outro. As receitas de
atividades física que são divulgadas para toda população e são relacionadas à
saúde, reagem diferente em cada ser humano que é único e particular. Uma
caminhada para mim é uma atividade ótima que eu realmente gosto de fazer.
Para aquela pessoa que faz porque um personal trainer mandou tem outro
significado. Estas diferenças no sentido e no significado das atividades que são
baseadas na subjetividade de cada um a mídia ignora, ou seja, o ser humano
não pode ser um sujeito pensante e sim um objeto executante.
Temos que analisar também que o esporte na mídia tem que abordar a
inteireza das modalidades esportiva, desde o amadorismo até o
profissionalismo. Percebemos hoje que as mídias dão destaque exatamente a
algumas modalidades que se projetam para o mundo, com intenção de
medalhas e que possuem um bom patrocinador. Acredito que as pessoas têm
que entender, conhecer e vivenciar outras formas de atividades esportivas e
isto pode ser conquistado com uma mídia diferente, a favor do esporte.
Proporcionando que as pessoas escolham e participem de suas atividades
baseado nos seus interesses.
Desta forma podemos observar que todas estas questões que foram
analisadas são possibilidades reais, que o esporte na mídia com mais
visibilidade e como um fator que tenha domínio de si e de seus atos podem ser
concretizado. Sabemos que no sistema atual de comunicação de massa isto se
torna um pouco utópico, mas entendemos a utopia como sendo uma forma de
pensamento que nos leva para o melhor, para traçar novos caminhos em busca
do bem comum.