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Disciplina: Educação Física

Professor: Leonardo Pinar Gomes

O esporte como fenômeno social


Primeiramente é importante que se tenha em mente o conceito de esporte.
Tubino (1999) afirma que o esporte é uma atividade abrangente, visto que
engloba diversas áreas importantes para a humanidade, como saúde,
educação, turismo, entre outros. É importante destacar também o papel social
que o esporte desempenha na vida da humanidade. Quem compartilha desta
idéia é Martins et al. (s/d) enfatizando que a prática do esporte envolve a
aquisição de habilidades físicas e sociais, valores, conhecimentos, atitudes e
normas. Observamos em Almeida; Gutierrez (2009) que o esporte é uma forma
de sociabilização e de transmissão de valores. Portanto, observa-se que o
esporte envolve todas as camadas, sendo um fenômeno que possui uma
linguagem universal.
Ao se referir no esporte escolar, Martins et al. (s/d) ressalta que as crianças
aprendem que entre elas e o mundo existe os outros e que para a convivência
social precisam obedecer às regras de convivência. Neste sentido, as crianças
aprendem a conviver com vitórias e derrotas e vencer através do seu esforço.
Em contrapartida percebe-se que o esporte possui um cunho social de
extrema relevância e que o mesmo faz parte da cultura brasileira. Neste
sentido Tubino (1999) nos lembra que o esporte é uma manifestação da cultura
física, portanto está intrínseco à Educação Física. Assim, por meio do esporte o
indivíduo poderá desenvolver capacidades diversas como: física, motora e
cognitiva, além de promover a socialização, o respeito, a cooperação, entre
outros aspectos relevantes. Martins et al. (s/d) reforça essa afirmação
enfatizando que tais capacidades podem ser apreendidas em uma ou mais
instituições sociais, como por exemplo, a família, a escola, o esporte, e ainda
através dos meios de comunicação.
Em relação ao contexto histórico, o esporte estava presente até mesmo nos
campos de concentração da Alemanha quando Hitler usava as práticas
esportivas como ferramenta política, para a formação da juventude nazista na
construção da supremacia ariana, surge aí a primeira evidência do mau uso do
esporte em detrimento ao controle das massas (TUBINO, 1999). Atualmente
percebemos um fenômeno que é conhecido como Circus Sportivus, em que o
homem através do esporte passa por um processo alienante, de modo que por
alienação da mídia e do sistema capitalista, os mais aptos ganham milhões em
clubes e por outro lado os pobres de classe média baixa sonham enriquecerem
por meio do profissionalismo esportivo. (LEITE, s/d)
Assim, notamos que o esporte é tido como uma opção de salvação em uma
estrutura social excludente. Essa ilusão é imposta através de vários meios,
principalmente pela mídia televisiva. Leite (s/d) adverte ainda que nesse
contexto, o esporte e consequentemente as pessoas passam a serem
mercadorias de consumo do capitalismo, visto que crianças e jovens são
induzidas cada vez mais cedo pelos pais e dirigentes de clubes a praticarem
algum tipo de esporte, devido à ascensão social imediata que este proporciona
aos mais habilidosos. Vale ressaltar que as crianças que frequentam
escolinhas de futebol, em muitos casos se tornam adultos frustrados devido
está a selecionar somente os mais aptos, uma vez que a prática do esporte
profissional implica na hipercompetitividade e no alto rendimento. Isso fica claro
em Leite (s/d) quando diz que o dever do esporte é ensinar hábitos saudáveis e
valores como o respeito e a cooperação, além de proporcionar a integração
entre as pessoas, mas o que vem acontecendo é totalmente diferente em
virtude de o esporte estar se transformando em competitividade exacerbada,
que é oriundo do esporte profissional.
A sociedade utiliza o esporte como espetáculo, pois existe uma grande
concentração de pessoas que são espectadores de evento esportivo. A
sociedade é consumidora deste, portanto quanto maior o número de
espectadores maior o número de investimento no setor financeiro, visto que a
indústria esportiva movimenta milhões. É neste aspecto que Hatje (2003),
evidencia o fato citado nos dizendo que quanto mais envolvido e apaixonado o
indivíduo está, maior o seu investimento no setor esportivo.
O esporte de alto rendimento e da hiper competitividade é de certa forma
excludente e desmotivador. De Rose Junior (2002) apud Leite (s/d) afirma que
a verdadeira natureza da competição é criar mais perdedores do que
vencedores. Assim a competição passa a ser desencorajadora e ameaçadora
àqueles que não possuem habilidades suficientes para obter o sucesso
desejado, visto que os ditos “mais fracos” muitas vezes não conseguem se
destacar em determinada competição, gerando assim um pensamento de que
se a vitória não foi conquistada foi pelo fato de não ter se esforçado ou não ter
sido capaz. Neste sentido:
Salienta Bracht, que por mais que estes sejam características do esporte de
alto rendimento, estas características influenciam outras modalidades de
atividades esportivas praticadas no lazer, tempo livre e até na escola. Estas
duas abordagens do esporte mostram que o esporte possui critérios comuns
para seu entendimento a competitividade e a rígida normatização.
Ampliando um pouco este entendimento de esporte, Betti citado por Pires
(2002) acredita que em função da espetacularização do esporte pela mídia,
outras formas de atividades esportivas foram sendo entendidas como esporte,
como as atividades físicas relacionadas à saúde, atividades de desafio e de
aventura, jogos no computador e outras da cultura de movimento. Temos que
entender que estas mudanças estão relacionadas em função da mídia. O
esporte neste sentido é um produto que recebe o tratamento necessário para
ser comercializado pelos meios de comunicação nas mais variadas formas que
forem necessárias, para gerar audiência e consequentemente lucro.
Neste sentido o próprio Betti (2001) afirma que o esporte está na mídia, ou
seja, pelo fato de estar na mídia, este esporte se torna o esporte da mídia.
Como veremos posteriormente, o autor defende esta questão com base em
algumas questões que estão baseados nos interesses da mídia. Acreditamos
juntamente com o autor que esta forma de ver e entender o esporte o torna
bastante restrito e alienado. Queremos arriscar neste trabalho mostrando
algumas questões e críticas que achamos necessárias para ampliar um pouco
este entendimento do esporte e tentar de forma bastante tímida avançar no
assunto sobre o esporte na mídia, onde o esporte teria um espaço maior e
melhor.

O esporte da Mídia
Esta parte do trabalho terá como fundamento o texto de Betti (2001). Ele
salienta que o esporte atualmente é o esporte da mídia e isto está acontecendo
porque a mídia e neste caso a televisão, como sendo o maior meio de
comunicação de massa, tem que defender seus interesses econômicos,
políticos, sociais e ideológicos perante o povo. Para o autor a televisão devorou
as outras mídias por dar a visibilidade que o esporte tem hoje. Esta
abrangência televisiva o autor deu o nome de “esporte telespetáculo”.
As características que o autor mostra e que fazem com que o esporte seja
da mídia em especial da televisão começam com a ênfase dada a falação
esportiva, que tem como característica informar e atualizar as pessoas dos
bastidores do mundo esportivo, contar histórias dos atletas e clubes, criarem
expectativas para conquistar adeptos e aumentar a audiência. Ainda as
previsões de resultados e as contratações devem ser disseminadas pela
população. As explicações e justificativas dos erros e acertos dos árbitros
promovem aos telespectadores muitas emoções, criando polêmicas e
rivalidades. Por fim crítica e dramatiza os grandes acontecimentos que marcam
a vida esportiva.
Outra característica é a monocultura esportiva. Podemos observar
claramente que em nosso país o futebol é destaque, principalmente na
televisão aberta. Por assinatura os esportes radicais estão em primeiro seguido
do futebol e tênis. O futebol se explica por seu custo benefício que atende ao
interesse econômico. Outro fator é a sobrevalorização da forma em relação ao
conteúdo. Com os avanços audiovisuais ligados a informática, as imagens vêm
ganhando espaço em relação à palavra. Estes avanços são visíveis e
apresentados principalmente pela televisão. Nos canais por assinatura este
avanço é ainda maior. Podemos observar que em muitos casos a informação é
muito bem transmitida puramente com imagens, buscando atingir o máximo de
emoções. Esta espetacularização gera a fragmentação e a
descontextualização do esporte. Neste sentido existe muita diferença em você
assistir um jogo pela televisão e ao vivo no estádio.
Outra característica muito importante é a superficialidade. A televisão por si
só, gera a cultura do breve e do descontínuo. A profundidade das informações
pode ser atingida com a interação entre várias mídias, ou seja, a televisão
levaria ao jornal, a revista e outras mídias. Mas atualmente quem lê, se as
imagens são mais fáceis de serem captadas e assimiladas como verdade?
Neste sentido os efeitos negativos da televisão são enormes, ainda mais num
país como o Brasil que possuem muitos analfabetos e semi-analfabetos. O
último fator e não menos importante é a prevalência dos interesses
econômicos. A mídia privilegia o que fornece audiência e em conseqüência o
lucro. A ideologia que a mídia passa aos seus consumidores produz uma
alienação ao tradicional. Isto caracteriza a pobreza da televisão brasileira e
suas mesmices da programação. As pessoas acabam escolhendo o que as
mídias querem. O telespectador acaba sofrendo da terrível doença da
alienação e da heteronomia, os outros definem por mim e sabem o que eu
quero e gosto. As pessoas perderam o poder da reflexão crítica e de perceber
o que é bom ou ruim para si próprio.
Podemos observar que estas características possuem fatores que mostram
o grande poder que as mídias detêm sobre as pessoas. As informações
transmitidas para nós têm um caráter alienante e um interesse particular seja
ele econômico, político, social e outros que nos fazem pensar e agir de forma
que eles querem. A reflexão crítica que devemos possuir deve nos
proporcionar uma atitude também crítica, que nos possibilite não aceitar de
forma simples e rápida as imposições consumistas e ideológicas que as mídias
nos impõem diariamente.

O esporte na Mídia
Acredito que falar sobre o esporte na mídia implica em comentar sobre
algumas questões e possibilidades que vem de encontro com as pessoas e
seus direitos mais significativos como seres humanos. Podemos observar que
o esporte da mídia possui as lacunas fundamentais que servem de suporte
para serem exploradas e com isto justificar e elaborar novas questões e
possibilidades para construir o esporte na mídia. Desta forma podemos ampliar
o entendido do esporte em todas as suas dimensões.
A constituição federal comenta no artigo 221 que a mídia deveria ter um
caráter puramente educativo, artístico, cultural e informativo. Outro artigo o
224, prevê um Conselho de Comunicação Social para analisar e efetivar que a
mídia tenha exatamente o caráter que a constituição lhe impõe. Como este
conselho nunca foi efetivado e com certeza não á nenhum interesse que ele
realmente se efetive, a mídia com seu conhecimento parcializado sobre a
realidade, possui total liberdade para ditar o que é educativo, artístico, cultural
e informativo.
Neste contexto grande parte das pessoas que vê o esporte dentro desta
ótica (da mídia) o entende como sendo educativo, artístico, saúde, integrador,
lazer e outros adjetivos que o caracterizam como sendo um fator de
transformações social que tira as crianças das ruas e das drogas e garante um
futuro melhor como atleta. Esta visão acrítica e alienada de esporte é o que a
mídia, com suas formas de persuasão desenvolvidas pelos meios tecnológicos
apresentam para nós.
Por trás do fenômeno esporte se escondem muitas informações que a mídia
com sua característica de superficialidade não consegue mostrar. Esta visão de
esporte é semelhante a um iceberg, a parte maior não está vista e sim
escondida debaixo da água. O esporte na mídia teria o dever de mostrar estas
facetas escondidas e buscar a verdade dos fatos esportivos. Mostrar os reais
interesse políticos e econômicos dos campeonatos e grandes eventos que são
os únicos que a mídia divulga. Segundo Rebelo e Azevedo (2001) a CBF
ganha milhões de patrocínio de várias instituições como NIKE e Ambev para
promover o futebol brasileiro em todos os níveis desde a principal até a de
base. Mas sabemos que a grande maioria vai para a equipe principal que
oferecem aos jogadores uma mordomia e grandes salários e a outra parte
simplesmente some. No ano de 2001 a CBF ganhou destes dois
patrocinadores R$ 25 milhões. O dinheiro desapareceu. O passivo circulante
da CBF chegou a R$ 55 milhões e o prejuízo acumulado de R$ 25 milhões.
Ainda ninguém sabe quem gastou o dinheiro e como. Enquanto sobra dinheiro
em um lado em muitos outros tem inúmeras pessoas passando fome.
Geralmente na televisão se associa o esporte como educação e saúde. É
muito divulgado que se a criança está praticando esporte ela automaticamente
está tendo educação. O esporte possui como características a competitividade
e a rígida normatização. Neste contexto o participante é um mero executante
de formas técnicas de movimento. Obedecendo geralmente a um técnico que
manda o participante a executar movimentos predeterminados em direção a
uma modalidade esportiva com intenção de formação de atletas. Mas quantos
serão atletas? Será que uma criança tem consciência se quer ser um atleta? E
o que isto representa para ela? E ainda neste mesmo sentido fazem as
peneiras humanas, para selecionar os melhores, como se as pessoas fossem
objetos de escolha. Tratam-nos como ferramenta para executar determinado
serviço que é importante apenas para quem seleciona. Exemplo disto são os
programas ditos sociais exibidos principalmente pela televisão, que selecionam
crianças pobres de um determinado lugar e oferecem durante um determinado
tempo atividades esportivas, alimentação e brincadeiras e chamam isto de
educação e cidadania. Esta visão simplista de educação é o que a mídia quer
divulgar para melhor controlar e dominar.
Neste sentido, qualidades importantes para o ser humano como a
participação efetiva nas atividades criando e construindo conjuntamente
possibilidades de movimento, não existem. Valores éticos como honestidade,
cooperação, responsabilidade e respeito não são proporcionados pelas
atividades desenvolvidas. Atividades de interação social entre crianças, grupos
de discussão e criação também não são oferecidas. Desta forma o
desenvolvimento de uma reflexão crítica nas pessoas e principalmente nas
crianças é praticamente impossível.
Outro fator que temos que comentar é sobre a veiculação do esporte como
saúde. Começamos pelas inúmeras lesões que os jogadores têm no dia a dia.
Lesões estas que se tornam crônicas e dura toda vida. O que proporciona em
muitas vezes um afastamento do trabalho e problemas para toda a família. A
saúde está vinculada geralmente a um corpo bonito em que as atividades
esportivas e consequentemente físicas são fundamentais para isto. Podemos
observar aqui que a mídia entende a saúde como ausência de doença, como
sendo um fenômeno puramente físico, objetivo e empírico. A subjetividade do
ser humano, ou seja, o que ele sente e o significado que a atividade tem para
cada um de nós é ignorada. Somos diferentes um do outro. As receitas de
atividades física que são divulgadas para toda população e são relacionadas à
saúde, reagem diferente em cada ser humano que é único e particular. Uma
caminhada para mim é uma atividade ótima que eu realmente gosto de fazer.
Para aquela pessoa que faz porque um personal trainer mandou tem outro
significado. Estas diferenças no sentido e no significado das atividades que são
baseadas na subjetividade de cada um a mídia ignora, ou seja, o ser humano
não pode ser um sujeito pensante e sim um objeto executante.
Temos que analisar também que o esporte na mídia tem que abordar a
inteireza das modalidades esportiva, desde o amadorismo até o
profissionalismo. Percebemos hoje que as mídias dão destaque exatamente a
algumas modalidades que se projetam para o mundo, com intenção de
medalhas e que possuem um bom patrocinador. Acredito que as pessoas têm
que entender, conhecer e vivenciar outras formas de atividades esportivas e
isto pode ser conquistado com uma mídia diferente, a favor do esporte.
Proporcionando que as pessoas escolham e participem de suas atividades
baseado nos seus interesses.
Desta forma podemos observar que todas estas questões que foram
analisadas são possibilidades reais, que o esporte na mídia com mais
visibilidade e como um fator que tenha domínio de si e de seus atos podem ser
concretizado. Sabemos que no sistema atual de comunicação de massa isto se
torna um pouco utópico, mas entendemos a utopia como sendo uma forma de
pensamento que nos leva para o melhor, para traçar novos caminhos em busca
do bem comum.

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