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Introdução

O desporto é uma realidade social que cruza as mais diversificadas áreas das actividades
humanas, quer elas sejam de cariz profissional, educacional, recreacional ou relativas à
saúde das populações. Neste sentido, as autarquias, enquanto pólos de desenvolvimento
económico e social, acabam por ter uma responsabilidade acrescida em todo este
processo. No entanto, esta responsabilidade não é, para a grande maioria delas uma
experiência nova, já que a têm vindo a exercer ao longo dos últimos anos e reforçada
através de um processo permanente com vista à configuração do desporto do futuro,
equilibrando os excessos em matéria de rendimento tão do apetite do Estado Central por
um lado, e em matéria de espectáculo tão do apetite do mercado, por outro, Hoje existe
uma maior consciência de que as autarquias não podem ser meras estruturas repetidoras,
a nível local, das políticas, muitas vezes questionáveis, desenvolvidas a nível nacional.
As autarquias têm como vocação e missão a responsabilidade de uma visão
macroscópica do sistema desportivo local.

O desafio que se coloca às autarquias é o de conseguirem que as suas populações


adquiram um estilo de vida activo onde o exercício e o desporto sejam considerados
como meio de valorização individual e colectiva, assumindo assim, um papel de grande
relevância como promotores da oferta desportiva da região, tanto na criação da infra-
estrutura como na prestação directa do serviço desportivo, estabelecendo o equilíbrio
entre parceiros públicos e privados com ou sem fins lucrativos, individuais ou
colectivos. De facto, não podemos deixar de estar de acordo, quando verificamos que,
em termos gerais, o associativismo desportivo enferma ainda de várias anomalias,
dentre as quais podemos destacar a excessiva dependência dos dinheiros públicos,
excessivos gastos em gestão e construção de infra-estruturas inadequadas que,
associados a outros factores como o envelhecimento da população, as dificuldades em
acolher jovens que não estão motivados para o rendimento, a exclusão dos menos aptos
fisicamente, configuram uma lógica segregadora, sinónimo de incapacidade de
adaptação aos novos tempos e em nada condizente com o desenvolvimento desportivo
que os novos desafios pretendem ver respondidos.

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Violência no Desporto
Segundo Santos (1996) a violência configura-se como um dispositivo de controle aberto
e contínuo, ou seja, a relação social caracterizada pelo uso real ou virtual da coerção,
que impede o reconhecimento do outro, pessoa, classe, género ou raça, mediante o uso
da força ou da coerção, provocando algum tipo de dano, configurando o oposto das
possibilidades da sociedade democrática contemporânea.

Segundo Marivoet (1998), o desporto pode ser definido, como um sistema


institucionalizado de práticas competitivas, com dominante física, delimitadas,
codificadas, regulamentadas convencionalmente, cujo objectivo é apurar o melhor
concorrente, ou registar a melhor performance.

O Desporto, entendido como fenómeno social nos tempos modernos ou pós modernos,
teve as suas origens nos séculos XVIII e XIX, aquando da 1.ª revolução industrial,
consequência da evolução das estruturas sociais nos campos da Educação, das Ciências,
da Tecnologia e da Cultura da Grã-Bretanha, pátria do desporto moderno.

De facto, o desporto, ao assumir a forma e a organização que hoje lhe conhecemos,


tornou-se no maior fenómeno social do milénio. Segundo Rui Garcia (2002) “ O tempo
livre é uma das manifestações mais visíveis nesta transição secular”, ideia que é também
corroborada por Bento (2004), afirmando que estamos “deixando uma sociedade onde
grande parte da vida das pessoas adultas era dedicada ao trabalho e estamos caminhando
em direcção a uma outra não mais fundada no trabalho, mas no tempo vago, na qual
grande parte do tempo será e em grande parte do tempo será dedicada ao ócio criativo”.

Segundo Carvalho (1985, p. 62) refere que “A violentalogia ou a filosofia da violência


constituiu-se durante as últimas décadas a partir de diferentes concepções da
agressividade, da violência, da combatividade na vida do homem. Mas o fenómeno da
violência que se manifesta em toda a parte da nossa sociedade, não perdeu a opacidade
típica dos fenómenos extremamente complexos que caracteriza a nossa existência.

Os conceitos sobre violência no desporto são muitas vezes confusos e contraditórios,


sendo que alguns definem a violência como uma parte inerente de muitos jogos,
enquanto Violência no Desporto outros dizem que a violência, de qualquer forma,

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compromete a dinâmica dos jogos. Outros conceptualizam ainda, que a violência no
desporto reflecte tendências naturais entre os homens na sociedade, enquanto outros
dizem que os homens usam a violência no desporto para promover a ideia de que o
tamanho físico e força é uma base legítima para manter o poder sobre os adversários.

Segundo Bento J. e Constantino J. 2007, p. 73) diz que a violência no desporto é tão
antiga quanto os próprios jogos. É universal e não pertença de uma cultura, de uma
época ou de um lugar concreto. Quando se estuda a história do desporto encontramos
em todas as épocas comportamentos violentos dos praticantes, dos espectadores ou de
ambos, como fazendo parte da cultura desportiva..

Segundo Dunning (1992, p. 356) classifica a violência no desporto, e em concreto no


futebol, da seguinte maneira: As desordens dos fãs do futebol, que passaram a designar-
se pela etiqueta de «hooliganismo do futebol», enquanto forma de comportamento,
constituem algo de complexo e de multifacetado.

Segundo Sousa (2015) caracteriza o hooliganismo da seguinte forma: o hooliganismo,


por exemplo, consubstancia uma modalidade de violência, manifestamente parasitária
do fenómeno desportivo, sobretudo do futebol e que se caracteriza, desde logo, por esse
comensalismo mediático, aproveitando o impacto global do evento desportivo, mas
igualmente pelo teor gratuito, fruitivo das próprias manifestações de violência – uma
violência ritualizada, exibicionista, narcísica.

Segundo (Sousa, 2015, p. 21) A crise de valores no desporto não se resume somente à
questão da violência levada a cabo pelo hooliganismo ou por grupos de adeptos
emocionalmente descontrolados, prendesse também com o facto de afectar directamente
os clubes, algo mais profundo e complexo e O Papel do Desporto para a Inclusão Social
de Jovens em Risco 20 que em muitos dos casos não está visível aos olhos dos
espectadores. Fala-se então do clima de suspeição que é levantado em torno das vitórias
e em torno das conquistas.

A violência que se foi manifestando no desporto português, em especial nos jogos de


futebol, sugere o aumento da tensão dos jogos decorrente da intensificação da
competição desportiva, mas também o agravamento das desconfianças em torno da
justiça assegurada nos campeonatos. Marivoet (2009).

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Segundo (Marivoet 2009, p. 5-6) Este clima de instabilidade e desconfiança,
especialmente em Portugal tem um vasto número de protagonistas socialmente
apontados como culpados, mas não necessariamente reconhecidos judicialmente como
tal, englobando adeptos, jogadores, treinadores, dirigentes desportivos, meios de
comunicação social, entre muitos outros. Todos eles de uma forma ou de outra tiram
proveito deste clima de instabilidade sob a justificação de aos poucos irem
enfraquecendo os seus rivais.

À semelhança de Portugal, também a Grécia8 tem tido alguns problemas ao longo dos
últimos anos face a acusações e investigações sobre possíveis esquemas de viciação de
resultados, contudo no caso grego a situação saiu mesmo do controlo das autoridades
que regulam o desporto e a sociedade, o que tem vindo a causar graves confrontos entre
adeptos rivais e entre as forças policiais do mesmo país.

Tipos de violência
Existes dois tipos de violências a saber:

 Violência durante o jogo entre os adeptos;


 Violência no próprio jogo entre os adversários

Causas da Violência
A violência é o resultado de um conjunto de factores que quando interligados são
potenciadores de comportamentos geradores de violência.

 É um comportamento aprendido ao longo do tempo no processo de socialização;


 A frustração que está presente no quotidiano do ser humano;
 O consumo de bebidas alcoólicas nos recintos desportivos;
 A presença de claques adversárias, inclusivamente com historial de violência
entre elas, aliadas.

Por vezes ao insuficiente efectivo policial nomeado para os policiamentos desportivos e


as declarações inflamatórias dos dirigentes desportivos, antes dos jogos, são factores
que potenciam actos de violência quer nas deslocações dos espectadores para os recintos
desportivos quer no interior dos mesmos.

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Os Motivos da Violência Desportivo são:
 Stress diário
 Situações pontuais
 Frustrações
 Injustiças

Agentes Violento e Suas Consequências


Os estudos epidemiológicos realizados nos últimos anos apontam para um crescente número
de adolescentes consumidores de bebidas alcoólicas em quase todo o mundo. A média de
idade para o início do consumo tem diminuído e parece não haver mais diferença no uso
de álcool entre meninos e meninas.

Valores Éticos e Medidas de Prevenção


Segundo (Marivoet, 2006, p. 17), diz que são várias medidas governamentais e não
governamentais que direccionam a sua intervenção para o combate desta crise de
valores éticos, através da utilização do desporto como catalisador para a mudança
social, reflectindo muitas vezes as suas preocupações face ao aumento de casos de
violência desportiva.

Segundo Ortiga (2018, p.7). Ficou muito interessado com a violência desportiva e o
choque que possa ter nos princípios e valores éticos de uma sociedade refere que com o
desporto pode-se e deve-se chegar a uma humanidade que na esteira dos princípios de
uma cultura secular, não atraiçoe os princípios de nobreza e dignidade.

Actualmente o desporto é o espelho da sociedade contemporânea, reflectindo uma


ausência de valores éticos, deixando de ser um espaço social em que através do ócio e
do lazer se apelava à participação, à cidadania activa, ao respeito pelo outro e aos
princípios da diversidade e da inclusão social junto das pessoas.

Esta ausência de valores, é a desenvolvimento e publicidade que é feita assente em


valores opostos, em linhas de pensamento e de actuação extremistas que põe em causa o
equilíbrio social, uma vez que incentivam a segregação dos grupos, apelando ao ódio e à
violência.

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A Importância da formação do desporto

Segundo (Lima & Paoli, 2015), diz que a formação é um exercício humano, precisando
transmitir também conhecimentos nos aspectos social, ético, intelectual, emocional e
cultural. Os jogadores de futebol devem ser competentes em diferentes áreas, pelo que
as academias devem empregar uma estratégia multidisciplinar para os desenvolverem.

Segundo (Haro, Buñuel, & Uriondo, 2012), diz que é importantes as academias de
formação terem especialistas em todas as áreas, tais como treinadores, preparador físico,
médico, psicólogo e coordenador da academia.

Assim, a responsabilidade de equipar os jovens jogadores com os recursos adequados ao


seu crescimento pertence ao ambiente de desenvolvimento de talento e não a uma
pessoa específica ou instituição (Larsen, Alfermann, Henriksen, & Christensen, 2013)

Segundo (Alfermann & Stambulova, 2007). Ambientes de desenvolvimento de sucesso


no desporto são caracterizados por equipas ou clubes que conseguem, continuamente,
produzir atletas profissionais a partir dos seus atletas de formação, e que lhes fornecem
ferramentas para que saibam lidar com transições futuras.

Importância da Socialização no Desporto


É importante porque o desporto e a socialização se afirmar pela codificação
institucionalização das diferentes práticas físicas, assentes na regulamentação e
regulação das acções desportivas que se inserem num processo mais geral de
normalização das sociedades, este não deve ser considerado como um mero produto da
industrialização, assim uma adaptação à moderna vida económica, política e social.
A socialização é o processo interactivo pelo qual os indivíduos adquirem valores,
atitudes, competências e conhecimento – em suma, a cultura – da sociedade a que
pertencem” (Coser et al, 1983: p.107).

Neste sentido, também Schaefer (1983) define o conceito de socialização como “o


processo pelo qual as pessoas aprendem as atitudes, valores e acções apropriadas para
os indivíduos como membros de uma cultura particular” (Schaefer, 1983: p.100).

O processo que se designa por socialização é aquele pelo qual os indivíduos integram as
normas, os códigos de conduta e a cultura da sociedade a que pertencem. A socialização
pode ser vista na perspectiva do condicionamento (um indivíduo limita-se a integrar
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passivamente as regras do meio em que vive), mas também numa relação mais
interactiva entre indivíduo e sociedade (Molénat, 2011: p.214).

Segundo Horton e Hunt (1981: p.77) descrevem a socialização como “o processo pelo
qual uma pessoa internaliza as normas dos grupos em que vive, de modo que surja um
“eu” distinto, único para um dado indivíduo”. Ou seja, a socialização é bem mais do que
o simples processo de reproduzir comportamentos, mas sim é o interiorizar do social em
si próprio (Javeau, 1998).

Segundo Coser et al (1983) referem que a socialização permite o fenómeno de


reprodução social descrevendo-o como o processo pelo qual as sociedades transmitem
os valores e comportamentos sociais de uma geração para a outra, perpetuando-se.

Segundo Giddens (2006) completa que a socialização permite o fenómeno de


reprodução social – o processo pelo qual as sociedades têm uma continuidade estrutural
ao longo do tempo. Ou seja, onde os mais novos aprendem pelas maneiras de fazer dos
mais velhos os valores, normas e práticas sociais, perpetuando assim as características
da sua sociedade bem para além do seu período de vida.

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Conclusão
Na actualidade, o desporto é uma actividade crucial para os indivíduos e por isso,
assume um papel de relevo na saúde e na educação e na cultura, bem como a nível
social e económico (Brackenridge & Rhind, 2014; Serrado, 2014). O desporto organiza-
se em diferentes níveis, como o deporto recreativo e de lazer, o desporto de elite ou o
desporto olímpico (Brackenridge & Rhind, 2014). Porém a prática de desporto tem
também uma faceta menos discutida, com implicações significativas no bem-estar e no
progresso dos atletas, como é o caso da violência sexual, demonstrando que esta ocorre
em qualquer contexto social, inclusive nos diferentes contextos desportivos.

Entende-se por violência sexual cometida no contexto desportivo, aquela que é


perpetrada por um indivíduo que pertence a uma organização desportiva, competição ou
treino como um atleta ou um treinador. Por sua vez a violência sexual que ocorre em
contextos exteriores ao desporto, é aquela que é perpetrada por um indivíduo que não
esta ligado a eventos desportivos, como um amigo, um familiar ou um estranho (Fasting
et al., 2010).

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Bibliografia
David Lacey (10 de novembro de 2007). «It takes a bad loser to become a good winner»
(em inglês). guardian.co.uk. Consultado em 15 de janeiro de 2012
Guilherme Vida Leal Cassante. «O histórico da violência nos eventos esportivos».
jusbrasil.com.br. Consultado em 15 de setembro de 2019

Meirim, J. (1994). A violência associada ao desporto. Lisboa: Editorial Ministério da


Educação. Ortiga, J. (2018). Carta Pastoral – Desporto – Escola e Missão de
Humanidade. Arquidiocese de Braga: Braga.

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