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As pessoas mais comprometidas com o desporto recebem o nome de “fans” e para
muitos destes torna-se uma “religião suplente”. Provas disto, temos a atitude reverente de
muitos fans às suas equipas e a idolatria de atletas concretos. Também não é invulgar que
transformem os seus quartos em autênticos templos. E “celebrar” ou “adorar” uma ou mais
colectividades coloca características religiosas, no sentido de Durkheim (1996).
Segundo Diem (1971), todos os desportos têm a sua origem num culto. A análise de
Durkheim sobre a «efervescência colectiva» gerada por rituais religiosos dos aborígenes
australianos, nos quais viu a raiz da experiência e o conceito do «sagrado», pode transladar
mutatis mutandis os sentimentos de emoção e celebração comunitária que constituem a
experiência no contexto do desporto moderno.
Norbert Elias (1992: 40), um dos maiores estudiosos da expansão do fenómeno
desportivo na era moderna, e que elevou «as funções corporais ao nível do objecto histórico e
sociológico» (Le Goff e Truong, 2005: 17), lançou uma questão fundamental: que espécie de
sociedade é esta onde cada vez mais pessoas utilizam parte do seu tempo na assistência ou
participação de confrontos regulados de habilidades corporais a que chamamos desporto? E
procurou a resposta na macro-estrutura social, no amplo conjunto de transformações morais e
comportamentais que denominou «processo civilizacional» – que assenta, simplificando, no
auto-controlo da violência e na interiorização das emoções – através do estudo dos costumes e
das «técnicas do corpo», nomeadamente na Idade Média e no Renascimento.
A ideia de processo em Elias não admite uma sociedade estática. Para ele, a civilização
«é cegamente posta em movimento pela dinâmica própria de um tecido de relações, por
alterações específicas na maneira como os homens têm de viver uns com os outros» (Elias,
1990: 189). A história das sociedades é, assim, uma constante mudança sem sentido ou
racionalidade próprios, é a história de processos variados que têm como principais elementos o
indivíduo e o grupo ou cultura no qual está inserido. «O que muda no decurso a que chamamos
história são as relações mútuas entre as pessoas e a modelação a que o indivíduo é sujeito dentro
delas» (Elias, 1990: 224).
A dinâmica da sociedade, ou seja, a ordem social que sustenta todo o processo, é
mantida através de normas externas ao indivíduo segundo padrões legais e morais constituídos.
Grosso modo, o que ocorre no processo civilizacional descrito por Elias é que tais normas
passam, para os indivíduos, do âmbito cultural ao natural. Por outras palavras, elas são
interiorizadas pelos homens e perdem o seu carácter de normas impostas externamente, passam
a funcionar como uma espécie de “superego colectivo” regulando as relações sociais.
Com uma formação académica que contava com estudos de Medicina, Psicologia,
Filosofia e Sociologia, nas cidades de Breslau, Freiburg e Heidelberg, e com a sua experiência
de trabalho nos anos 30, no Instituto de Investigações Sociológicas de Frankfurt, onde é
assistente de Karl Mannheim (1893-1947) naquela Universidade, este autor, no caso particular
da Sociologia do desporto, vem dizer que esta área está esquecida ou que, pelo menos, não tem
merecido a devida atenção. Na página 17 afirma que
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Neste sentido, e para terminar este texto, apelo aos cientistas sociais para não ficarem
desatentos e para desenvolverem estudos sobre o desporto. As artes marciais e os desportos de
combate oferecem matéria riquíssima de investigação.
Referências bibliográficas