Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
10.37885/210705309
RESUMO
305
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
INTRODUÇÃO
De acordo com Maciel Junior (2006) a masculinidade é atribuída a algo que seja original
do homem, sendo constatemente ligada a particularidades como a disputa, demonstração
de violência, erotização bruta, desvio de sentimentos, habilidade de controlar, entre outros,
foi então, a partir dessa reflexão que surgiu, o desejo de pesquisar sobre masculinidade
e esporte. Tendo o viés social como pressuposto para a construção destacada no texto e
como estudante de Psicologia descobrir a relação existente entre esses termos, que trazem
consigo uma percepção do que é “ser homem” na sociedade, atrelada a construção social
que enviesa toda a produção de sentido do homem, podendo causar indagações sobre si
mesmos, principalmente em jogadores de futebol.
A produção de sentido conforme Donna Haraway (1995) aponta que a pesquisa a par-
tir do contexto social abre mão do enviesamento objetivo e ideológico para abrir-se a uma
construção de sentido voltada a quem de fato o constrói e o fabrica, explanando assim o
leque de possibilidades que irão além do debate geral da temática proposta.
Adianto-me no texto, ao destacar que o escrevo em primeira pessoa, me colocando
como pesquisadora mulher em um contexto de pesquisa sobre masculinidades e o cons-
trucionismo social desse tipo de produção. Segundo Spink (1999) o construcionismo social
trata-se de um caminho teórico que abrange a evolução social caminhando por um assunto
em que o próprio sujeito descreve e contextualiza o mundo em que vive, entendendo que
conhecimento é algo que fazemos uns com os outros a partir dos diversos olhares sobre
o tema abordado. Para tal fala, Ribeiro (2017) auxilia-me no desvelar do que seria o “lugar
de fala” que nada mais é do que o olhar de alguém sobre uma perspectiva, e este surge a
partir de uma ideia ou ponto de vista, que pode ser próprio sujeito enquanto pertencente a
temática, ou na proposta epistemológica de historiador sobre um tema.
Utilizo a proposta de saberes localizados de Haraway (1995), que insere seu olhar a
partir de uma visão feminista que promulga a ideia de que os saberes são localizados, es-
pecíficos e particulares, abordados por um ideal pessoal e privado sobre uma perspectiva
e uma temática. Ainda sobre a proposta destacada, insiro Medrado e Lyra (2014) que par-
tem da ênfase de estudos sobre masculinidades a partir de uma visão feminista de gênero
e construção de sentido, que apontam a masculidade como algo plural, cujos símbolos e
materialidades constituem-se em referência socialmente legitimada para vivenciar o que é
ser homem em nossa sociedade.
De acordo com (KIMEL, 1998, p. 105, apud ALVES, 2019, p. 3) aponta quatro obser-
vações teóricas sobre as masculinidades, destaco quais são elas: a) as masculinidades se
distinguem conforme a cultura, b) se tornam diferentes ao passar dos anos, c) moldam-se
pelo meio de diversos cruzamentos com as mesmas identidades, d) se alteram diante das
306
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
vivências das pessoas. Para tal apontamento, é importante explicar as representações
sociais que produzem sentido na construção social masculina, Moscovici (1978) lança que
as representações se organizam a partir de dois meios tão indissociáveis como a frente e
o verso de uma folha de papel: a face figurativa e a face simbólica, a cada imagem existem
uma gama de significados atrelados a ela, e cada sujeito, projetará uns nos outros a partir
de culturas e sentidos.
Nas problemáticas que se relacionam com o esporte e a masculinidade, temos a termi-
nação “virilidade” que segundo Zanello (2018, p.68) descende de termos latinos como “vir”,
“virilitas” e “virtus” “que designa tanto o varão homem adulto como a forma de ser viril do
homem, destacado pela produção em artes, caça e esportes. E como cita Souza e Antloga
(2017, p.27) “a virilidade é, na verdade, uma construção de um conjunto de processos edu-
cativos e sociais com o objetivo de perpetuar, de uma forma consciente e/ou simbólica, a
dominação masculina”.
De acordo com (GOMES, 2008, p. 64-65, apud ALVES, 2017, p. 2) afirma que o gênero
é uma construção cultural a respeito da organização social e da relação entre os sexos que
se traduz por dispositivos e ações materiais e simbólicos, físicos e mentais. Remete a papéis
socialmente construídos, bem como a definições e expectativas tidas como apropriadas para
o ser homem e o ser mulher numa dada sociedade.
Dessa forma é importante falarmos sobre saúde mental, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde (WHO, 2018), “A saúde mental é fundamental para nossa capacidade
coletiva e individual, pois os humanos pensam, se emocionam, interagem entre si, ganham
a vida e desfrutam a vida.”. Visto isso, a saúde mental pertence a uma categoria importante
na vida das pessoas, é a partir dela que julga-se o estado mental que o indivíduo se encontra
diante das situações sociais e psicológicas existentes nos ambientes onde vivem.
Na sociedade ocidental, o cuidado com a saúde mental masculina é desprezado, com-
provamos isso na fala de Jorge (2018), que aponta para o fato do homem cuidar menos de
sua saúde mental por acreditar que foge de sua construção masculina, que está atrelada
a uma forma diferente de reagir aos acontecimentos diários. Podendo discutir mais sobre
saúde mental do homem, insiro aqui algumas reflexões sobre saúde mental no esporte,
Sousa Filho (2000) aponta que é inegável que o esporte de auto rendimento é um fenôme-
no econômico social de suma importância, principalmente no mundo moderno, que coloca
aos nossos olhos emoções, sentimentos, esforços, tempo e energia dos profissionais que a
exercem, inclusive demonstrando uma fragilidade muito grande dos mesmos.
O esporte é instigante e motivador, para Galatti (2006, p.17) “o esporte deve ser com-
preendido como um fenômeno sócio-cultural e encontra na contemporaneidade um momento
307
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
de valorização, manifestando-se em diversos cenários, envolvendo diferentes personagens,
que lhe designam variados significados”.
A possibilidade que se esperou dentro desta pesquisa foi a de que a formação social
baseada no patriarcado impera marcas na construção subjetiva do que é o “ser homem”
e atrelada a perspectiva do esporte, especificamente do futebol, acaba por manter cada
vez mais inflado o processo da masculinidade. Todavia, é importante destacar que mesmo
possuindo uma construção social baseada em aspectos específicos do que é “ser homem”
em nossa sociedade, jogadores de futebol não percebem as questões de masculinidade
arraigadas em sua escolha profissional.
Desse modo, o objetivo deste trabalho consistiu em analisar os processos de masculi-
nidade atrelados a perspectiva da saúde mental e do esporte sobre o olhar de jogadores de
futebol do município de Caetés-PE. Corroborando com este aspecto, é relevante destacar
que a pesquisa descreveu a masculinidade e suas categorias, caracterizando o esporte
como dispositivo de virilidade e analisando a saúde mental no esporte e na masculinidade.
Para uma descrição cuidadosa e uma compreensão sobre o passo a passo realizado
na revisão bibliográfica, utilizaremos uma base teórica com produções realizadas que con-
textualizam as formas corretas de obter o processo de revisão. Desse modo os estudos de
Ribeiro, Martins e Lima (2014) e estudos de Sampaio e Mancini (2007) servirão como aporte
sobre o processo de sistematização.
Ribeiro, Martins e Lima (2014) apontam que a revisão bibliográfica é uma fonte de
informações que se utiliza da literatura escrita sobre determinada temática como forma de
pesquisa mais cuidadosa e intensiva. Esse processo é util para acoplar todas as análises
feitas com o tema proposto, identificando nesse processo falhas ou melhorias que podem
ser realizadas em pesquisas futuras. “Ao viabilizarem, de forma clara e explícita, um resumo
de todos os estudos sobre determinada intervenção, as revisões sistemáticas nos permitem
incorporar um espectro maior de resultados relevantes”. (SAMPAIO; MANCINI; 2007 p.84)
Sampaio e Mancini (2007) descrevem os passos a serem seguidos como etapas que
formam o método de revisão sistemática, são eles: Passo1) Definição dos termos de pesqui-
sa; Passo 2) Buscando as evidências em plataformas de dados; Passo 3) Revisão e seleção
dos estudos de forma criteriosa; Passo 4) Medir a quantidade metodológica dos estudos
encontrados e Passo 5) Breve apresentação dos resultados encontrados.
308
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
Definição dos termos de pesquisa
Para definir os termos que seriam utilizados como “descritores1”, utilizou-se a base
de dados do sistema de descritores em Ciências da saúde (DeCs) que fica localizada na
plataforma virtual da Biblioteca de saúde (BVS). A escolha pela busca de tais descritores
deu-se pelo fato da plataforma ser a única a apresentar um Thesaurus2, que são organiza-
dos e apresentam uma resolução que auxilia a busca com termos mais secos e precisos.
É importante destacar que ao buscar o termo Virilidade na pesquisa da BVS não foi
encontrado nenhum resultado, sendo assim o termo destacado não foi citado em nenhuma
tabela. Além disso, ao buscar trabalhos com os termos Virilidade + Psicologia do Esporte
na plataforma de dados Scielo e Gema não surgiram trabalhos publicados, desse modo,
modificou- se o segundo descritor e retirando o termo “esporte” e restando apenas o termo
“Psicologia” somado ao descritor já existente (Virilidade + Psicologia) para que assim os
dados referentes a essa plataforma pudessem surgir. Em sequência acrescentou-se o termo
destacado na tabela de descritores retirados da BVS.
A partir das buscas realizadas, foram encontrados os seguintes termos de pesquisa:
Quadro 1. Definição a partir do Thesaurus da BVS com o acréscimo de mais um termo de pesquisa.
Descritores Sentido
Qualidade de ser do sexo masculino no sentido anatômico e fisio-
MASCULINIDADE lógico em virtude de possuir a combinação XY de cromossomos
sexuais.
É o estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe as próprias
habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, é capaz de
SAÚDE MENTAL
trabalhar produtivamente e está apto a contribuir com sua comuni-
dade. É mais do que ausência de doença mental.
A condição de ser do sexo masculino, feminino ou neutro. No con-
texto humano, a distinção entre gênero e sexo reflexo o emprego
desses termos: sexo geralmente se refere aos aspectos biológicos
GÊNERO
de masculinidade ou feminilidade, ao passo que gênero envolve os
aspectos psicólogicos, comportamentais, sociais e culturais de ser
do sexo masculino ou feminino (masculinidade ou feminilidade).
Competição física entre indivíduos ou times conduzida sob-regras
ESPORTE codificadas, controladas por não participantes, na qual há apenas
um vencedor.
Ramo da psicologia que investiga e aplica princípios psicológicos
e fisiológicos ligados à atividade esportiva. Termo também usado
PSICOLOGIA DO ESPORTE
para os processos psicológicos e suas manifestações em tal ativi-
dade.
1 Termos padrões
309
2 Vocabulário dos descritores
Para a escolha das plataformas a serem usadas, utilizou-se a opção através das
contribuições que cada base de dados poderia fornecer a pesquisa enquanto funcionalida-
de. No que tange a essa pesquisa, foram utilizadas a CAPES (Base de dados Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), SciELO (Scientific Electronic Library
Online) e Gema (Núcleo Feminista de Pesquisas em Gênero e Masculinidades) a partir
de critérios como:
310
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
Idioma: foi feito um levantamento de dados dos trabalhos brasileiros publicados; 3) Número
de publicações realizadas por ano encontrado.
Ao realizar a pesquisa com os indexadores (masculinidade e saúde mental) percebeu-se
que os dois termos obtiveram poucos significados, dessa forma, dos 8 resultados encontra-
dos na plataforma SciELO apenas 4 artigos foram escolhidos, sendo eles voltados a temá-
tica proposta. Sobre os indexadores (gênero e esporte) um vasto resultado foi encontrado,
totalizando em 150 encontrados e a partir dos critérios de exclusão feitos apenas 12 foram
escolhidos. Nos indexadores (virilidade e psicologia do esporte) nenhum resultado foi encon-
trado, alterando os termos a fim de encontrar trabalhos relacionados foi posto novos termos
(virilidade e psicologia) sendo encontrado 4 resultados mas não houve nenhum escolhido.
Na base de dados GEMA não foram encontrados resultados com os indexadores (gê-
nero e esporte), (virilidade e psicologia do esporte) e (virilidade e psicologia), encontrando-se
apenas 6 artigos relacionados aos termos (masculinidade e saúde mental), desses, apenas
3 se encaixaram na temática proposta.
Pesquisando a plataforma CAPES, com a realização da pesquisa (masculinidade e
saúde mental) encontrou-se uma quantidade de 100 no total, ao filtrar os trabalhos publica-
dos em português e no período proposto apenas 3 foram escolhidos. Em relação a (gênero
e esporte) um vasto resultado foi encontrado com o total de 1296 resultados, mas apenas 6
foram escolhidos. Sobre os indexadores (virilidade e psicologia do esporte) apenas 5 foram
encontrados, mas nenhum escolhido, sendo assim foi feita uma nova pesquisa com dois
novos indexadores (virilidade e psicologia), foram encontrados 76 resultados e com isso foi
escolhido apenas um artigo que contribuiria para a pesquisa.
Seguem abaixo os quadros para melhor definição dos dados encontrados:
311
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
Quadro 4. Revisão e seleção dos estudos através dos anos de publicação.
Quantidade Quantidade
Ano de produção
(Artigos – SciELO, Gema e Capes) (Dissertações – Capes e Gema)
2002 2 -
2006 1
2011 2 1
2012 5 1
2013 1 -
2014 1 -
2016 1 -
2017 1 -
2018 2 1
Total 16 3
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizada uma pesquisa de cunho qualitativo, a fim de compreender alguns cami-
nhos percorridos ao descrever os estudos na área do esporte, permitindo compreender de
que forma a saúde mental e os processos de masculinidade são atrelados a perspectiva do
esporte sobre o olhar de jogadores de futebol no município de Caetés-PE.
De acordo com Minayo (2006) a pesquisa qualitativa está apta para investigar infor-
mações que não são capazes de serem explicadas por meio dos números, retornando aos
pontos qualitativos do objeto que serve como estudo, isto é, o foco é entender os funda-
mentos essenciais de equipes e organizações, os preceitos artísticos e as imagens de sua
vida e de seu conteúdo próprio, o vínculo entre as pessoas e grupos sociais relacionados
aos desenvolvimentos históricos, comunicativos e de instauração das ideologias públicas
nas comunidades.
Sendo assim, os sujeitos participantes da pesquisa foram jogadores de futebol, tendo a
quantidade de 12 participantes que se encontram em idades entre 18 e 45 anos, integrantes
do time Real Sociedad Caetés do interior de Pernambuco.
312
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
Tabela 1. Dados da amostra.
Nº Discurso Idade
1 Jogador Força 29
2 Jogador Habilidade 29
3 Jogador Coragem 29
4 Jogador Superação 31
5 Jogador Determinação 29
6 Jogador Competência 28
7 Jogador Resistência 30
8 Jogador Persistência 25
9 Jogador Ágil 29
10 Jogador Liderança 33
11 Jogador Defesa 26
12 Jogador Disposição 29
Fonte: Pesquisa de campo realizada entre os meses outubro e novembro de 2020.
Para o estudo foi utilizado um questionário com perguntas semiestruturadas que segun-
do Marconi e Lakatos (2003, p. 197) “o entrevistador pode explorar mais amplamente uma
questão e as respostas oferecem espaço para a fala espontânea do entrevistado”, tendo
esse questionário dez perguntas, elaboradas pela própria pesquisadora.
Toda a organização posterior de análise de dados partiu das práticas discursivas, que
segundo Spink e Medrado (1999, p.23) é uma perspectiva teórica-metodológica ligada na
concepção do Construtivismo Social, percorrendo por 3 suposições fundamentais: “lingua-
gem, história e pessoa”). Ou seja, é uma forma de análise que se baseia não apenas no
discurso do sujeito, mas em sua condição específica ser sujeito no mundo, tendo em vista,
todas as diferenças estruturais, sociais, culturais, pessoais, biológicas e interpretativas que
cada sujeito trará em seu discurso.
Os critérios de inclusão para a realização dessa pesquisa tiveram como base jogadores
do time de futebol especificado, que estejam em idades entre 18 e 45 anos e que aceitem
participar da pesquisa. Os critérios de exclusão são: não ser um jogador de futebol do time
escolhido para a pesquisa, jogadores que tenham a idade abaixo de dezoito anos e acima
de quarenta e cinco anos e não aceitarem participar da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nessa categoria há uma discussão da relação existente sobre o futebol ser atrelado
a um esporte masculino, trazendo à tona debates sobre preconceito, machismo, sobre ser
ou não um esporte praticado por homens e mulheres. Segundo Saraiva (2002) é possível
visualizar nas pessoas modelos que são cobrados e que são relacionados a noção que se
têm do corpo e da sua movimentação, esses modelos são instigados nas práticas das ati-
tudes e nas imagens sociáveis. A partir disso, conclui-se que por uma boa parte da história
não só do esporte, mas de várias áreas sociais era impregnada categorias de gênero e era
tida como uma regra ou algo que necessitava ser concretizado.
Butler (2003, p. 27) afirma “... o corpo é representado como um mero instrumento ou
meio com o qual um conjunto de significados culturais é apenas externamente relacionado.
Mas o “corpo” é em si mesmo uma construção assim como o é a miríade de “corpos” que
constitui o domínio dos sujeitos com marcas de gênero. ” Desta forma, percebemos o quanto
o corpo se relaciona com a perspectiva e a ligação que existe sobre corpos e gênero.
A forma como as pessoas enxergam hoje esse tipo de situação dentro das atividades
que exercem vai além do que é esperado e do que foi construído durante muito tempo, os
jogadores por sua vez contribuem de forma clara e positiva de que o esporte é de todos e
para todos, para confirmar isso destaca-se alguns depoimentos:
“Já foi, hoje não mais, mulheres se encaixam muito bem em relação ao futebol
também” (Jogador superação)
“Porque desde o início o esporte sempre foi praticado por homens, era visto
como um esporte de muito contato físico e por isso necessitava de muita força
física. Hoje, o que mais caracteriza o futebol um esporte masculino é o precon-
ceito da sociedade com as mulheres que praticam. ” (Jogador competência)
“Realmente o machismo e o preconceito é bem claro fora e dentro dos gra-
mados. É uma grande barreira que deveríamos mudar o quanto antes. ”
(Jogador resistência)
“Isso está sendo amenizado a cada ano, pois as mulheres estão a cada vez
mais interessadas pelo esporte. ” (Jogador disposição)
314
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
“Um absurdo. Mas, atualmente o futebol feminino vem ganhando mais força.
” (Jogador determinação)
Por outro lado, existem suposições que levam a pensar se existe um perfil/padrão
para se tornar um jogador de futebol, se este existir de que formas lidar com isso. Segundo
Gastaldo e Braga (2011) a partir de uma visão masculina, o exercício desportivo quase
sempre é visto como uma maneira de categorizar tipicamente a virilidade dos sujeitos que
estão inclusos. Apesar dessa fala, os depoimentos que foram coletados se mostram impar-
ciais, vejamos eles:
“Hoje sim, o jogador tem que ser muito bem preparado fisicamente. ” (Jogador
superação)
“Não, pois somos todos capazes de fazer ou praticar aquele esporte que
gostamos. ” (Jogador resistência)
De acordo com Pereira, Pontes e Ribeiro (2014) a cobrança de hábitos que os ho-
mens estão sujeitos a seguirem mostram-se fortes no mundo esportivo, pelo motivo de ser
um caminho que fortalece o padrão másculo exemplar que é aprovado pela população e
sustentado na imprensa. A partir dessa afirmação, pode-se pensar em como essa cobrança
pode afetar de diversas formas a saúde mental dos jogadores. Devido a essas informações,
segue abaixo alguns depoimentos sobre a visão que os jogadores possuem sobre o que
é a saúde mental:
“Eu acho que a saúde mental está relacionada a nossa qualidade de vida,
onde, possibilita o ajuste com relação as emoções positivas e negativas que
transmitimos.” (Jogador determinação)
315
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
“Ter controle de seus pensamentos, para que nada de negativo possa ser
predominantemente. ” (Jogador disposição)
“Bem, é uma definição bem complexa, até porque atuo nessa área. Mas em
linhas gerais, saúde mental é a capacidade que você tem de lidar com você
mesmo e com as outras pessoas. Não entendo saúde mental como ausência
de doença, vai mais no sentido de qualidade de vida. Um bem-estar físico,
social, psicológico...” (Jogador liderança)
“Não, devido apenas por praticar futebol sem competitividade, somente por
lazer. ” (Jogador força)
“Ah, sim. É difícil uma partida de futebol não ter discussões. E sempre abala
hehe.” (Jogador determinação)
“Às vezes sim, quando o time que torço perde jogos importantes. ” (Jogador
resistência)
“Escolhi o futebol por ser o esporte onde mais me identifiquei. Sendo tam-
bém a única opção que a nossa cidade oferecia antigamente. ” (Jogador
determinação)
“Sempre foi o esporte que tive afinidade” (Jogador liderança) “Lazer e diver-
são” (Jogador força)
“Um dos poucos esportes que minha cidade oferecia na época” (Jogador
habilidade) “Futebol é gostoso demais de se jogar, é onde esqueço de todos
meus problemas e é onde reúne todos meus amigos. ” (Jogador coragem)
317
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
Ser másculo e manter-se apto
De acordo com Quirino (2012) as formas de evolução social das virilidades têm as-
sociação aos modos como o homem cuida do seu bem-estar e preocupasse consigo e os
demais. Além do mais, Wang, Jablonski e Magalhães (2006) descrevem que a identificação
da virilidade se encontra vinculada as questões pessoais em experimentar e operar como
um homem, provocando uma ordem de responsabilidades essenciais, que envolve domínios
de sentimentos e questões corporais.
A masculinidade está atrelada a tudo que o homem faz, seja no ambiente familiar,
no trabalho, nos estudos, todo espaço ocupado por homens. A partir disso, foi solicitado
que os jogadores relatassem o que eles entendiam por masculinidade, segue abaixo al-
guns depoimentos:
318
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
De acordo com Bourdieu (1983), a veracidade para uma pessoa optar por um tipo de
exercício físico entre tantos que existem é compreensível pelo motivo desse sujeito ter uma
ligação com sua estrutura física, diversificando conforme seus costumes e o seu modo de
viver. Com isso, foi questionado se os participantes da pesquisa sentiam vontade de praticar
outros esportes além do futebol, segue abaixo os depoimentos:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1. ALVES, I. N. C. Saúde mental do homem e construção das masculinidades na sociedade e
na escola. IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DESFAZENDO GÊNERO, 2019. Disponível em:
<http://www.desfazendogenero.com.br/trabalhos-aprovados.php>. Acesso em: 19 abril 2020.
321
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
5. FILHO, P. G. S. O que é a Psicologia dos Esportes. Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília. v.8 n.
4 p. 33-36. Set. 2000.
10. KNIJNIK, J. D.; FALCÃO-DEFINO, P.C. Esporte e masculinidades: uma longa história de amor,
ou melhor, de amizade. In: KNIJNIK, J. D. Gênero e esporte: masculinidades e feminilidades.
p. 161-183. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010.
13. MEDRADO, B. LYRA, J. Princípios ou simplesmente pontos de partida fundamentais para uma
leitura feminista de gênero sobre os homens e as masculinidades. In: BLAY (Org.) Feminis-
mos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher. 1.
Ed. – São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014. p. 55-74.
14. MEDRADO, B; LYRA, J. Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre homens
e masculinidades. Revista Estudos Feministas (UFSC. Impresso), v. 16, p. 809-840, 2008.
16. MOSCOVICI, Serge -La psychanalyse: son image et son public.1961. Edição consultada: A
representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 4ªedição, 1978.
322
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
20. RIBEIRO, M. A. T.; MARTINS, M. H. M.; LIMA, J. M. A pesquisa em base de dados: como
fazer? In: LANG, Charles Elias., et al. (Org.). Metodologias. Pesquisas em saúde, clínica e
Práticas Psicológicas. 1a. ed. Maceió: Editora da Universidade Federal de Alagoas - EDUFAL,
2015.
21. SAMPAIO, R. F.; MANCINI, M. C. Estudos de Revisão Sistemática: um guia para síntese
criteriosa da evidência científica. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 11, n. 1. São Carlos-
SP, p. 83-89, 2007.
22. SARAIVA, M. C. Por que investigar Gênero na Educação Física, Esporte e Lazer?. Revista
Motrivivência: Educação Física, Esporte, Lazer e Gênero, Florianópolis, n. 19, 2002.
24. SPINK, MJ. Linguagem e produção de sentidos no cotidiano. Rio de Janeiro: Centro Edels-
tein de Pesquisas Sociais, 2010. 72 p. Disponível em: <http://books.scielo.org>.
25. SPINK, M. J.; MEDRADO, B. Produção de sentidos no cotidiano: uma abordagem teórico
metodológica para análise das práticas discursivas. In: SPINK, M. J. P. (Org.). Práticas
discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. São
Paulo: Cortez, 1999. p. 41-61.
27. WHO.INT. Saúde mental: fortalecendo nossa resposta, c2018. Disponível em: <https://www.
who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/mental-health-strengthening-our- response>. Acesso
em: 02 maio 2020.
323
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas