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ISSN 2307-390X

Artigo original

DESPORTO COMO MEIO DE EDUCAÇÃO DOS CORPOS

Efraime Nhabanga
Escola Superior de Ciências do Desporto, Universidade Eduardo Mondlane (UEM),
Moçambique

RESUMO: Tendo como pressuposto orientador o postulado da antropologia da diversidade cultural, este artigo tem
a valência de reiterar a ideia de educação como um processo complexo, presente nas várias manifestações humanas.
Desta feita, a partir da análise das manifestações desportivas, expõe-se um conjunto de elementos que mostram o
quão a prática do desporto pode implicar todo um processo de socialização, educação dos corpos. A concepção deste
artigo, que é de carácter exploratório, foi com base na revisão bibliográfica de dois tipos de literatura. Uma primeira
literatura que propõe analisar a prática do desporto. E uma segunda, de carácter antropológico, que desafia-se a
problematizar o corpo como objecto de socialização. O contacto com esta literatura possibilitou estabelecer uma
relação entre o desporto e os processos de educação dos corpos. Ao se estabelecer esta relação constatou-se que,
dado ao seu carácter processual, a educação ocorre em todos grupos humanos, em todas as relações sociais. Assim, a
prática do desporto é uma relação social que implica determinada postura, técnica, significados e representações
sociais relacionadas com os corpos dos indivíduos que praticam as mais diversas manifestações desportivas. Como
pode-se entender, o desporto é um contexto cultural que pensa e socializa os corpos de forma a atenderem as lógicas
do desporto.
Palavras-Chave: Corpo, Desporto e Contexto, Educação.

SPORT AS A MEANS OF EDUCATION OF BODIES


ABSTRACT: Having as a guiding presupposition the postulate of the anthropology of cultural diversity, this article
has the value of reiterating the idea of education as a complex process, present in the various human manifestations.
This time, from the analysis of sporting events, a set of elements that show that the practice of sport implies a whole
process of socialization, education of the bodies. The conception of this article, which is an exploratory one, was
based on the bibliographical review of two types of literature. A first literature that proposes to analyze the practice
of sport. And a second one, of an anthropological character, that challenges itself to problematize the body as object
of socialization. The contact with this literature allowed to establish a relation between the sport and the processes of
education of the bodies. In establishing this relationship, it was found that, due to its procedural nature, education
occurs in all human groups, in all social relations. Thus, the practice of sport is a social relation that implies a certain
posture, technique, meanings and social representations related to the bodies of individuals who practice the most
diverse sports manifestations. As one can understand, sport is a cultural context that thinks and socializes the bodies
in order to attend to the logics of the sport.
Keywords: Body; Sport and Context, Education.
_____________________________
Correspondência para (correspondence to:) efraimenhabanga@gmail.com

Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. educ. Vol. 2, Nº 2, pp 53-64, 2020


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INTRODUÇÃO ser humano: ter um corpo, sofrer e sarar,


assim como viver junto a outros seres
Esta análise sobre a educação dos corpos no
humanos (DESJARLAIS e THROOP, 2011,
desporto surge a partir da constatação
p. 88).
segundo a qual, processos educativos
decorrem em todos grupos humanos. Desta A conceptualização destes autores é
feita, torna-se importante analisá-los como importante porque entendem que a teoria
processos de socialização que são fenomenológica possibilita analisar relações
imprescindíveis em qualquer espaço social, sociais ligadas ao acto de ‶viver junto″.
por serem composto por um conjunto de Nestas relações, encontra-se os processos de
actores sociais. educação dos corpos. Tal como vincaram os
mesmos autores (DESJARLAIS e THROOP,
Esta análise considera as modalidades
2011), a fenomenologia ajuda a discutir a
desportivas como universos culturais por
experiência e a reconhecer a necessidade de
isso que em cada modalidade tem-se um
localização das diversas modalidades de
conjunto de actores que interagem com o
existência humana em horizontes de
atleta de forma a instar nele as lógicas da
temporalidade em “constante” mudança.
cultura desportiva em causa. De entre estas
Neste sentido, a fenomenologia possibilita
lógicas, destaca-se as formas pelas quais o
explorar a experiência de corpos que passam
corpo - entende-se o conceito de corpo a
pelo processo de educação no desporto.
partir da contribuição de Scheper-Hughes e
Lock (1987, p. 7 - 8) que falam do corpo em Importa vincar que a pertinência de proceder
três perspectivas: corpo individual (diz esta análise reside no facto de a temática da
respeito a experiência de saúde e doença que educação dos corpos possibilitar perceber
são variadas); corpo social (que refere a aspectos fundamentais ao nível do desporto,
representação do uso do corpo como como é o caso do sucesso desportivo,
símbolo para pensar a natureza, a sociedade postura e técnica dos corpos durante as
e cultura) e o corpo político (que se refere à modalidades, assim como, o conjunto de
regulação, vigilância e controlo dos corpos representações sociais associadas ao corpo
individual e colectivo) - deve-se apresentar, do atleta.
por isso, este corpo é socializado, para Como forma de conduzir a pesquisa,
responder ao contexto social em que explora-se as concepções do corpo no
encontra-se. A este processo, designar-se-á desporto com a finalidade de melhor
de educação dos corpos. perceber os processos educativos pelos quais
Assim, a forma como um corpo comum o corpo passa. Nestas concepções, destaca-se
apresenta-se, na vida corrente, vai diferir-se a ideia de pensar-se os corpos no desporto
da forma como um corpo desportivo vai como locais de sacrifício, locais para o
apresentar-se. Esta diferença deve-se aos alcance da vitória e do sucesso, e que por
processos educativos diferentes que estes isso precisam ser trabalhados. Estes factos
recebem. Como pode-se entender, existem resumem a razão pela qual, educam-se os
lógicas, pressupostos de como deve ser corpos para enfrentarem os desafios
educado um corpo. Ao analisar processos de desportivos e singrarem-se como glórias
educação, a pesquisa apoia-se na teoria desportivas.
fenomenológica - por esta ter ajudado a Em termos metodológicos, a pesquisa é de
antropologia a reconfigurar o que significa
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carácter exploratório na medida em que as defendem a ideia de perceber-se a


constatações tidas durante a análise podem possibilidade de o desporto contribuir para a
ser posteriormente enriquecidas a partir do educação do ″indígena″ ao tornar seus
método etnográfico que pode ser útil para corpos especializados com o treinamento
colher dados sobre a mesma problemática, sistematizado, sendo iniciados
com a finalidade de obter maior precocentimente.
profundidade e propriedade na análise deste As duas colocações possibilitam pensar
assunto. A concepção da pesquisa foi através educação como um processo que culmina
da revisão bibliográfica de dois tipos de com a inclusão à determinado contexto e,
bibliografia, uma que é fruto de múltiplos cria corpos especializados. Esses são os
ramos de conhecimento e dedica-se a pressupostos pelos quais, no contexto
analisar a actividade desportiva. A outra desportivo, as técnicas desportivas são
literatura é de teor antropológico que ao construídas e reconstruídas historicamente,
analisar o corpo como categoria analítica, com o intuito de aumentar sua eficácia em
propõe pensar o corpo como um constructo eventos desportivos (ALMEIDA et al.,
social, objecto de socialização, por via disso, 2010).
o corpo pode ser educado.
Pode-se inferir que a educação dos corpos
O primeiro grupo de literatura torna-se como uma das principais preocupações de
importante para a análise porque aborda um todos os agrupamentos sociais, no tempo e
leque de situações sociais que advém da no espaço. Tuner (2003) é um dos
prática do desporto, possibilitando deste defensores deste pressuposto ao referir que
feita a construção de problemáticas diversas, “em toda humanidade, boa parte da primeira
como por exemplo a problemática que educação tenta incutir a gerência e
orienta esta pesquisa, a educação dos corpos. administração dos processos do corpo” (p.
Por sua vez, o segundo grupo é importante 6).
por conceber o corpo para além do objecto
material, mas como criação social, por isso a O mesmo entendimento é partilhado por De
sua análise possibilita perceber algumas Almeida et al. (2010) ao entenderem que “os
relações sociais no tempo e no espaço. indivíduos desde o nascimento, aprendem
valores, normas e costumes sociais por meio
O contacto com este tipo de literatura dos seus corpos, ou seja, um conteúdo
possibilitou analisar relações promovidas no cultural é incorporado ao seu conjunto de
contexto desportivo como relações de expressões” (p. 60).
educação dos corpos, que tem a finalidade
de tornar os corpos úteis para o desporto. Estes aspectos fazem com que conceba a
problemática relativa à educação dos corpos
Contextualização em Torno da Educação como um objecto pertinente para proceder
Social dos Corpos análises de teor antropológico pelo facto de
É importante realçar a concepção de possibilitar materializar um dos principais
educação que orienta esta pesquisa. É uma pressupostos desta disciplina, a diversidade
concepção que surge da contribuição de dois cultural. Tal como defende Leach (1982, p.
autores. O primeiro, Ribeiro (2002) que 118), “o tema principal de todos os tipos da
entende educação como meio de inclusão antropologia é a diversidade da espécie
pública no campo da participação política. O humana”.
segundo, Almeida et al. (2010, p. 63) que A ideia de que ao analisar-se os processos de
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educação dos corpos se está a analisar a 11).


diversidade humana sustenta-se pelo facto de Num outro momento o mesmo refere que
que está problemática da educação dos existe na espécie humana dois tipos de
corpos vai variar de um grupo para o outro. desigualdades, a saber:
Este factor sucede porque cada contexto
elabora lógicas específicas para educar e […] uma natural ou física, que é
estabelecida pela natureza, e que consiste
significar seus corpos. nas diferenças das idades, da saúde, das
Ao proceder-se análises relativas à educação forças do corpo e das qualidades do
espírito, ou da alma; a outra, que pode se
dos corpos tem-se a possibilidade de analisar
chamar de desigualdade moral ou
todo um conjunto de estruturações e política, porque depende de uma espécie
funcionamentos sociais, e pode-se observar e de convenção, que é estabelecida ou, pelo
detalhar lógicas diversas. É neste contexto menos, autorizada pelo consentimento
que Mauss (1934) elabora um argumento dos homens (ROUSSEAU, 1991, p. 38 -
39).
ilustrativo em torno da educação que os
actores sociais recebem em situações em que O que este teórico sugere é a ideia segundo a
são chamados a usar o olhar como meio de qual começa-se a observar-se uma
estabelecer relações sociais. preocupação com a educação dos corpos a
Em Mauss (1934, p. 218) entende-se que partir do momento em que se sai do estado
“atribuiremos valores diferentes ao facto de natural para o estado social. A razão pela
olhar fixamente: símbolo de cortesia no qual há uma preocupação para com a
exército e de descortesia na vida corrente”. educação dos corpos no estado social
Percebe-se neste teórico a ideia de que o prende-se com o facto de ter-se “um homem
corpo é um fenómeno social e cultural que é bom no estado natural e homem mau no
dotado de significados que são situacionais, estado social. Esta possível passagem de um
depende das componentes de tempo e estado para o outro inscreve-se no corpo que
espaço. com o descobrir dos vícios nasceram os
males sociais” (ROUSSEAU, 1991, p. 72 -
Esta forma de conceber o corpo é em torno 74).
da ideia de entender o corpo como uma
manifestação cultural, criado pela cultura Como se pode verificar, a ideia é pensar que
que o rodeia. Até porque “a cultura ordena o o corpo é produzido e significado pela
meio a partir de regras, no caso do corpo, sociedade. Nesta ordem de ideia, concebe-se
seu controle torna-se basilar para o “os homens como uma produção cultural,
desenvolvimento de padrões culturais sua fabricação presume uma reclusão. É
específicos” (DE ALMEIDA et al., 2010, p. durante a reclusão que há uma mudança
60). significativa no corpo e onde os papéis
sociais assumidos” (DE ALMEIDA et al.,
Por sua vez, Rousseau (1991) entende a 2010, p. 63).
educação dos corpos como elemento pelo
qual pode-se distinguir um possível estado Quando o corpo assume papéis sociais é
da natureza do estado social. Por isso sinónimo de que este é educado desde os
entende que, “a natureza colocou igualdade tempos mais remotos. Esta ideia é também
entre os homens e estes instituíram a partilhada por Certeau (1998) ao defender
desigualdade por isso tem-se um corpo bom que, “a lei que se inscreva sobre os corpos
e um corpo mau” (ROUSSEAU, 1991, p. deve haver um aparelho que mediatize a
relação de uma com os outros. Desde os
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instrumentos para trabalhar o corpo, polícia, é uma arte que adquire-se, suas técnicas, por
algemias, […]” (p. 232). Desta feita, fica meio de repetições” (p. 214). Neste sentido,
explícito neste autor o porquê da existência um determinado acto (do corpo) pode ter
da lei. A lei visa educar os corpos, valores diferentes dependendo do contexto
actividade que é desenvolvida através de porque em cada grupo social há educação de
instituições como polícia, igreja, escola ou movimentos específicos para seu posterior
qualquer grupo humano pois, sempre emprego (uso) facto que pode implicar uma
verifica-se lógicas relativas ao corpo. transformação completa da técnica. Esta
forma de pensar relações sociais a partir do
Nesta ordem de ideias enquadra-se a ideia de
corpo, pode ajudar a pensar contextos sociais
conceber o corpo como um elemento com
em que um determinado grupo de actores
inscrições simultaneamente sociais e
sociais, dedica-se a prática de manifestações
individuais. Por via disso, “os homens têm
desportivas.
sempre uma maneira de servir-se por isso,
recorrem aos seus corpos usando desta Estas manifestações desportivas são
forma as técnicas corporais que implicam a transmitidas de uma geração à outra. Ideia
socialização dos indivíduos” (MAUSS 1934: similar é defendida por De Almeida et al.
211). (2010, p. 68) ao referir que “as corridas
transmitem a noção de elo entre os mundos
Este pressuposto ajuda a justificar o
físico e espiritual, ao mesmo tempo, fazem
entendimento que se tem, segundo o qual o
parte da cosmologia das sociedades
desporto constitui uma das manifestações
indígenas e são transmitidas dos mais velhos
humanas que possibilita analisar os
aos mais novos’.
processos de educação dos corpos. Penso
nesta associação entre desporto e educação Nesta lógica, os professores de educação
dos corpos por entender o desporto como física, por serem um dos autores
uma prática social que instrui os actores responsáveis por essa passagem de
sociais, desde as suas mais diversas posturas, testemunho dos mais velhos aos mais novos,
técnicas do corpo, modos de usar os são vistos como indivíduos incumbidos de
membros superiores e inferiores, corrigir práticas corporais. Por isso são
ornamentação do corpo, modos de dançar e actores no processo de educação dos corpos
outras manifestações que podem ser uma vez que, ordenam o corpo, fazem o
experienciadas no contexto da prática do corpo de alguém, assim como dizem quais
desporto. são os movimentos correctos em torno de
uma determinada prática cultural
Educação dos Corpos no Desporto
(BOURDIEU, 1988, p. 160).
As ciências sociais têm uma tradição de
Por sua vez, Focault (1995) ao analisar a
interesse em analisar problemáticas relativas
problemática da educação dos corpos, faz
ao corpo. O interesse de alguns clássicos das
uma distinção entre corpos que acatam a
ciências sociais nesta matéria é um dos
educação que lhes é transmitida e os que não
indicadores desse pressuposto. São exemplos
acatam. Esta distinção faz com que conceba-
os interesses de Mauss (1934), Focault
se os primeiros “corpos como sendo dóceis e
(1995) e Bourdieu (1988) em analisar o
úteis”. Corpo que pode ser sujeito, usado,
corpo como elemento que possibilita
transformado e melhorado, porque o corpo
compreender relações sociais diversas.
foi sempre objecto de investimento
Mauss (1934,) entende que “o uso do corpo
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imperioso e pressão em todas sociedades Almeida et al. (2010, p. 70) defende que,
(FOCAULT, 1995, p. 136). “[…], compreende-se o treinamento como
uma forma de manipulação regrada ou
Esta ideia de corpos doceis pode ser
intencional sobre o corpo…”.
analisada no desporto a partir do momento
que discute-se as motivações para a prática Este aspecto dá a entender que o desporto é
do desporto, nestas motivações consta a uma cultura e as suas divisões constituem
necessidade de cuidar da imagem, o que leva subculturas. Por isso, no desporto de
com que rendimento observa lógicas próprias do
[...] mulheres e jovens pratiquem, cada corpo, que dizem respeito a um treinamento
vez mais, actividades físico- específico do corpo.
desportivas. Neste tipo de práticas,
verifica-se o culto do corpo, as
Uma outra pertinência desta discussão
motivações de natureza estética e busca relativa à educação dos corpos por meio do
de melhor saúde, constituem os desporto reside no facto de possibilitar
principais motivos de realização destas analisar a história de um determinado país e,
actividades (GONÇALVES, 2011, p. por via disso de determinados corpos. Estou
23).
a fazer referência a relação de dominação
Como se pode entender, alguns corpos das dos corpos promovida no contexto da
mulheres e jovens podem ser considerados colonização que implicou que as potências
como corpos dóceis pois acatam os europeias “civilizassem”, “educassem” os
processos de socialização, que partilha-se povos de África. Nesta relação, usou-se o
significados e representações em torno do desporto como forma de educar o outro. Este
corpo. mesmo desporto, depois de ser apropriado,
Este processo de socialização é responsável foi depois usado pelo colonizado para
pelo facto de, em cada agrupamento cultural, mostrar o quão o colonizador estava
promover-se mais a prática desportiva para equivocado. Foi desta forma que mostrou-se
determinados grupos em relação aos outros. que não existe povo primitivo, cada um tem
É neste contexto que, suas capacidades e especificidades.
[...] os diferentes papéis sociais e Ao abordar um assunto similar, Rocha
familiares atribuídos às mulheres e (2013) entende que, na óptica dos teóricos
homens promovem uma desigualdade do colonialismo português, “mais do que
de género em relação às práticas de prática desportiva, a educação física era a
lazer e hábitos desportivos. Por isso, as
claras diferenças que existem entre os
actividade que melhor se ajustava aos
níveis de actividade física dos rapazes e negros, por poderem aí desenvolver a
das raparigas parecem poder ser mais estética das danças guerreiras e dos seus
explicadas pelo processo de movimentos rítmicos cheios de elementos
socialização do que por factores gímnicos de execução e poses atléticas” (p.
biológicos (GONÇALVES, 2011, p.
25-24).
70). Não obstante o facto de estar evidente
que o desporto foi usado como meio de
Sendo assim, Mauss (1934, p. 215) ajuda a socialização, fica claro que está forma de
pensar que, faz sentido considerar que cada pensar estava ancorada à perspectiva
sociedade tem hábitos que lhe são próprios. evolucionista que tem um carácter
Estes hábitos que são próprios de cada etnocêntrico, por isso despreza as lógicas
sociedade inscrevem-se no corpo. alheias.
Colaborando do mesmo entendimento De
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Por sua vez Domingos e Nascimento (2013, pelo qual os corpos envolvidos no desporto
p. 9) analisam a mesma problemática e alcançam o rendimento desportivo. Nesta
defendem que “o processo de educação do lógica, estes mesmos corpos vão observar
“outro” tinha como fim, mostrar o quão performance apropriada, uma lógica
inferior é o colonizado, ao mesmo tempo específica. Por isso a ideia de Mendes et al.
vincar a superioridade do colonizador”. (2009, p. 95) segundo a qual, “no desporto
Como consequência disso, poder-se-ia há o corpo-próprio, o corpo que o atleta
conceder oportunidade a alguns nativos de instrui como sendo seu, mas também há um
chegar ao estágio de civilizado. corpo reflexo, o corpo que os outros vêm
como sendo o corpo do atleta”.
Os dois autores prosseguem e referem que,
pode-se perceber melhor este fenómeno de Esta citação reitera a ideia de um processo
educação dos corpos quando analisa-se “o de socialização em torno de um corpo
percurso de jogadores moçambicanos que destinado ao desporto. Contudo, seria
saíram das suas zonas de origens, chegaram problemático conceber essa concepção do
aos centros urbanos e tiveram o êxito de corpo para o desporto como imutável pois,
jogar na metrópole e adaptar-se numa estar-se-ia a negligenciar todo um conjunto
realidade urbana e desportiva. Estes atletas de aspectos que concorrem para a existência
tivessem um determinado tipo de dessa concepção do corpo. Tal como
relacionamento com os dispositivos de defende Gonçalves (2011, p. 23) “a
controlo colonial” (DOMINGOS e concepção de cultura física tem sofrido uma
NASCIMENTO, 2013, p. 9). evolução, surgindo novos valores assentes
em estilos de vida mais dinâmicos, em que o
Esta ideia de que o corpo, ao cumprir com
corpo desempenha importante papel
alguns pré-requisitos, adapta-se a
enquanto produto de um sujeito activo”.
determinadas realidades, é também objecto
Desta feita, a construção assim como a
de análise em De Almeida et al. (2010, p.
educação do corpo são processos marcados
70) ao referir que “a lógica da competição
por um conjunto de transformações,
faz com que sejam utilizados diferentes
dinâmicas sociais.
métodos de treinamento que servem para a
adaptação do corpo exclusivamente à Concepção do Corpo no Desporto
actividade física”. É importante abordar as formas pelas quais
Ao abordar-se a possível adaptação do concebe-se o corpo no desporto pelo facto de
corpo, promove-se um debate relativo à o debate poder servir de elemento para
educação dos corpos, um processo que melhor compreender como é educado o
implica a mudança do corpo. Esta mudança corpo no seio desta manifestação humana, o
é metaforicamente designada de “fabricação desporto. De igual modo, o debate sobre as
do corpo que ocorre devido à assimilação concepções do corpo possibilitam reiterar a
das técnicas corporais desportivas que se dão característica dinâmica das relações sociais e
por meio de treinamento, com o objectivo de a partir daí evidenciar a ideia segundo a
proceder a um aumento gradual do qual, o desporto é uma das esferas sociais
rendimento para a participação nessas em que educa-se os corpos.
competições” (DE ALEMIDA et al., 2010, Pode-se pensar no corpo como um dos
p. 71). elementos de socialização para o atleta poder
Pode-se entender o treinamento como meio ter acesso ao contexto da prática do

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desporto. O corpo aparece como uma das Quando se imprime significados de


condições para fazer parte ou não da prática conquista e superação, estamos no desporto
do desporto, por isso passa por um processo descrito como de rendimento. Este desporto
de socialização. Esta ideia é desenvolvida exige a dor, sua presença e sua superação.
em Bitencourt (2005, p. 3) ao referir que, Por isso que há uma aprendizagem do corpo,
“encontra-se no desporto a humilhação pelo corpo e que se dá no e através do corpo.
pública, práticas que invadem a privacidade No caso concreto da “dor que é sentida no
corporal e a intimidade e, em caso de corpo, é aprendida no interior de um sistema
resistência, com o uso da força para impor prático-simbólico. Isto quer dizer que a dor
regras do grupo e promover a sua sentida por um corpo inserido no desporto é
sociabilidade (…)”. objecto de práticas simbólicas”
(BITENCOURT, 2005, p. 4 - 5).
Atendendo e considerando o facto de ser o
desporto uma prática que envolve o uso do Quando se falae de práticas simbólicas do
corpo é interessante analisar como este corpo faz lembrar as marcas que se verifica
corpo é concebido e quais os desafios e nos corpos dos sujeitos que praticam o
proezas do mesmo no âmbito desportivo. É desporto, quando recorre-se por exemplo as
neste contexto que concebe-se o “corpo do tatuagens. Estas marcas têm um sentido de
atleta como elemento que representa a dor, o identidade dos corpos que fazem parte de um
sofrimento, sacríficos, marcas e calos” determinado contexto. Até porque “o corpo
(SILVA, 2014, p. 2). Mas, para o corpo do adquire, hoje, um estatuto essencial na
atleta poder lidar com estas situações passa construção de identidades, sendo alvo de
por todo um processo de educação. preocupação constante por parte das várias
camadas sociais” (VILHEMA, 2015, p.
Como pode-se entender, no corpo do atleta
130). Neste caso concreto, o corpo é objecto
decorrem um conjunto de intenções, é o
de preocupação ao nível do agrupamento
local que verifica-se todo um sacrifício para
desportivo, por isso é educado para atender
se transformar em atleta. Desta feita,
aos desafios desta.
“quando se é atleta há toda uma necessidade
de alcançar o desempenho máximo durante Porque o corpo aprende a ter uma
as competições, assim como o aumento do determinada forma de estar e conceber o
número de horas de trabalho […]” (BRAGA, desporto, Bitencourt (2005) advoga que “a
2008, p. 12). Estas actividades fazem parte fadiga muscular e as lesões são facilmente
deste processo educativo do corpo assim assimiladas e raramente impedem o atleta de
como se inserem no contexto de como se jogar ou treinar” (p. 14). Esta citação é
concebe este mesmo corpo para o desporto. também importante porque mostra que, um
actor social cujo seu corpo não passou pelo
Desta feita, um corpo envolvido em
mesmo processo de educação, pode ter um
competição desportiva, tem ganhos
comportamento diferente do comportamento
múltiplos, desde os de ordem material
dos atletas, por exemplo em situação de
passando pelos de ordem imaterial, ou outros
fadiga ou lesão. Em corpos diferentes, com
os que não cabem nestas duas categorias.
processos educativos diferentes dos
Por isso a ideia segundo a qual “mais do que
promovidos no desporto, também serão
dinheiro e premiação, procura realizar
diferentes os sentidos atribuídos às situações
movimentos, facto que para estes corpos tem
de fadiga e lesão.
significado de conquista e superação”
(SILVA 2014, p. 2). No desporto, o corpo é visto ou acaba sendo
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um repositório de memórias e experiências cada modalidade, por isso o corpo deve ser
individuas e colectivas dos atletas e demais educado para atender a esse efeito. Quem
actores sociais. Nesta ordem de ideias Silva argumenta melhor este pressuposto é Braga
(2014, p. 11) entende que “há uma relação (2008, p. 11) ao referir que “alguns
de afecto com roxos, os quais são desportos, por sua regulamentação,
relacionados a expressões marcas de permitem jogadas mais rápidas e violentas,
batalhas, saudades e orgulho […]”. Pode-se apresentam maiores riscos de lesões do que
entender aqui a concepção do corpo como outros desportos cuja dinâmica é mais suave.
repositório de memórias dos momentos do Como pode-se entender, estas práticas
jogo ou prática da actividade física, facto implicam uma educação própria”.
que pode servir de elemento de promoção de Esta ideia de conceber o corpo como
diversas relações sociais. elemento a ser educado para atender cada
De referir que, seja qual for a concepção do modalidade, por isso tem uma concepção
corpo, esta é dinâmica, toma formas e própria, é usada para estudar contextos mais
sentido de acordo com as circunstâncias amplos e até colectividades humanas. É
sociais. Por isso o entendimento de exemplo disso, a ideia De Almeida et al.
Bourdeau (1988) segundo o qual “as leis e (2010, p. 60) segundo a qual “as práticas
regras vigentes numa determinada corporais – jogos de brincadeiras - são
modalidade desportiva são dinâmicas” (p. entendidas como elementos da cultura
158). Com um entendimento semelhante corporal de cada etnia indígena portanto
Vilhema (2015, p. 131 - 133) advoga a ideia assume sentidos e significados de acordo
segundo a qual “o corpo é uma construção com o contexto social no qual são
social historicamente datada […] e o hábito vivenciados”.
de o homem submeter às práticas de Esta preocupação com o contexto social em
transformação dos corpos é milenar […]”. que estão inseridos os corpos é também
De referir que, se por um lado, verifica-se objecto de reflexão quando analisa-se as
uma educação para um corpo envolvido em diferenças entre categorias sociais (homens e
qualquer actividade desportiva por outro, mulheres, jovens e idosos) no acesso e
verifica-se também uma educação específica prática do desporto. Neste contexto
para os corpos envolvidos em cada Gonçalves (2011, p. 23) refere que
modalidade. Bourdeau (1988, p. 160) analisa “mulheres e jovens praticam cada vez mais,
a educação mais ampla dos corpos actividades físico- desportivas em que o
envolvidos em actividades desportivas ao culto pelo corpo, as motivações de natureza
referir que, os professores de educação estética e busca de melhor saúde constituirão
física, “[…] começaram a analisar o que os principais motivos de realização destas
significa para o técnico ou professor de actividades”.
música, ordenar o corpo, fazer o corpo, A mesma problemática é discutida por
corpo de alguém ou como este movimento é Mauss (1934) ao referir que
correcto”.
[...] as técnicas corporais são
Está explícita a ideia de que o corpo é transmitidas de geração em geração,
educado para ter movimentos correctos, seja são dinâmicas e dizem respeito a uma
qual for o contexto. O mesmo acontece no tradição. Por isso dividem-se em sexo e
contexto das práticas desportivas. De forma, idade assim como podem ser
classificadas em relação ao seu
há movimentos, posturas e técnicas para
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Desporto como meio de educação dos corpos

rendimento, resultado e treinamento (p. surgiu a partir da constatação segundo a qual


119 – 121). em cada aglomerado social encontra-se
Estes aspectos fazem com que conceba-se os formas de educação dos corpos, de
corpos dos que praticam o desporto como socialização dos actores sociais de forma a
tendo corpos fortes, resistentes e preparados. fazerem parte da cultura em que encontram-
É nesta ordem de ideia que “o desporto é um se inseridos. A mesma situação sucede no
universo simbólico da cultura masculina, de desporto pois, pode ser concebido como uma
virilidade e proezas físicas tem-se tornado manifestação cultural da qual é importante
ambígua” (GONÇALVES, 2011, p. 24). A educar os corpos para o sucesso desportivo.
ambiguidade deste aspecto reside no facto de A relevância de analisar este assunto a partir
aspectos relacionados as proezas físicas de pressupostos teóricos e metodológicos da
poderem estar presentes em homens assim antropologia prende-se com o facto de
como mulheres, em idosos assim como em possibilitar reiterar um dos principais
adultos. pressupostos teóricos e metodológicos da
Seja como for, importa referir que as várias antropologia, a diversidade cultural. O
concepções que existem em torno da ideia de assunto ora analisado evidencia este
corpo destinado as manifestações pressuposto de diversidade cultural porque,
desportivas são frutos de todo um processo em cada contexto social educa-se os corpos,
de educação. Este processo é mas também porque em cada modalidade
metaforicamente designado de fabricação desportiva temos uma educação dos corpos.
dos corpos. Segundo De Almeida et al. Esta análise partiu da revisão de literatura
(2010), sobre a prática do desporto, por um lado, e
O corpo humano é fabricado a partir de corpo como constructo social, por outro. A
processos intencionais e periódicos. A Análise mostrou que há todo um processo de
fabricação do corpo é intervenção
socialização dos corpos no desporto que é
consciente da cultura sobre o corpo
humano, combinado a pessoa, promovido pelos diversos actores que estão
modificando sua essência e se envolvidos na modalidade em causa. Estes
manifestando desde a gestualidade, até actores procuram imprimir nos corpos um
alterações da forma desse corpo (p. 63). conjunto de técnicas, posturas, significados e
Como pode-se depreender, este exercício de representações socialmente reconhecidas
educação dos corpos verifica-se também no para o sucesso desportivo. Desta feita, para
desporto pois, um corpo concebido para o além de referências naturais, o corpo tem
desporto é educado, é fabricado para o referências sociais, e a evidência está no
efeito. Desta feita, pode-se conceber o facto de ser educado de acordo com o tempo
desporto como contexto por isso verifica-se e espaço.
educação específica baseada por exemplo no Este assunto ganha relevância por entender-
treinamento, disciplina de respeito pelo se que uma das principais preocupações da
outro e espírito de grupo no seio das humanidade tem a ver com o tratamento do
manifestações desportivas. corpo, desta feita, a mesma preocupação
pode ser evidenciada no desporto ao
CONSIDERAÇÕES FINAIS analisar-se os desafios que se impõe a um
Esta pesquisa propôs-se a analisar como se corpo para se ter sucesso e êxitos
educam os corpos a partir da prática do desportivos. Esta mesma educação
desporto. A ideia de analisar o assunto possibilita dispor de prestígio e legitimidade
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E Nhabanga

de fazer parte do agrupamento social da corporais e a educação do corpo indígena: A


cultura desportiva. contribuição do esporte nos jogos dos povos
indígenas. Bras. Cienc. Esporte,
Em suma, a educação dos corpos no
Florianópolis, v.32, n.2-4. Pp.57-74, 2010.
desporto é um assunto que possibilita
discutir a dinâmica social no contexto DESJARLAIS, R. & THROOP, J.
desportivo assim como elementos de Phenomenological approach in
sociabilidade dos corpos pois, os corpos são Anthropology. Annual Reviews of
socializados e concebidos como “espaços” Anthropology, v.1. n. 40, P. 87-102. 2011.
de sacrífico, proezas, lembranças e marcas DOMINGOS, N. & NASCIMENTO, A. Em
de todo um conjunto de factos sociais torno das práticas desportivas em África.
relativos as manifestações desportivas. Cadernos de Estudos Africanos, v.26. Pp.
Estes elementos fazem com que os corpos 7-12, 2013.
sejam educados e a partir daí sejam FOCAULT, M. Discipline and Punish, The
categorizados como os que estão de acordo Birth of The Prision. New York: Pan-
com os preceitos culturais do agrupamento American Copyrigth Conventions Publish
em causa e os que estão à margem das Vintage Books, 1995.
lógicas desportivas. Estes e outros elementos
fazem pensar na ideia de manifestações GONÇALVES, J. Hábitos desportivos dos
desportivas como um conjunto de jovens: estudo da população jovem do
disposições culturais contextualmente Concelho de Torres Novas. Dissertação
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