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O ESPORTE COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA: uma “jogada descon-

certante” que não “entorta” só nossas “colunas”, mas também nossos discursos.

Prof. M.S. Francisco Eduardo Caparroz

Departamento de Ginástica
Centro de Educação Física e Desportos
Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: caparroz.vix@bol.com.br

80, críticas sobre as concepções que, ao


ENTRANDO EM CAMPO longo da história, vêm informando/forma-
tando/orientando a Educação Física foram
formuladas. Uma das críticas, creio que a
Quem pratica ou acompanha de perto mais contundente, recaía (recai) sobre a bi-
alguma modalidade esportiva já ouviu (ou ologização do movimento humano, ou
viu) alguém descrever (fazer, ou mesmo seja, a utilização do paradigma biológico
fez) uma jogada desconcertante, dessas de forma exacerbada, quase como a única
que entortam a coluna do outro, que fazem maneira para orientar o desenvolvimento
o adversário ficar sentado no chão ou, da atividade física, reduzindo a
ainda como diz Eduardo Galeano sobre
Pelé, jogadas que desenham um labirinto
por onde os seus adversários se perdem e “...compreensão e explicação do
de onde jamais conseguem sair. Também Homem em movimento apenas a seu
já ouviu um jargão muito comum, nos dias aspecto biológico, dissociando-o
de hoje, no meio futebolístico: “o nó tá- como se fosse possível fazê-lo sem
tico” que surpreende a todos. Pois bem, é incorrer em equívocos teóricos da-
utilizando essa metáfora que quero falar do nosos e irremediáveis dos demais
esporte nas aulas de Educação Física esco- aspectos que caracterizam o movi-
lar. Creio que o tema do esporte, como mento humano, antropologica-
conteúdo da Educação Física, é um grande mente considerado” (CAS-
desafio a ser enfrentado. Não que ele não TELLANI FILHO, 1988, p. 218).
o esteja sendo, mas, no meu entendimento,
esse enfrentamento precisa ser repensado, No bojo dessa crítica à biologização do
pois a realidade das escolas e das aulas de movimento humano, procurou-se desvelar
Educação Física, bem como a dinâmica so- como as instituições militar, médica e es-
cial que as envolve têm-se constituído porte impingiram intensa influência à Edu-
numa jogada desconcertante que teima em cação Física escolar, de modo a conformá-
entortar nossas colunas (aqui podemos en- la, moldá-la às particularidades/peculiari-
tender como nossa ação pedagógica) e dades dessas instituições.
também em um “nó tático” que amarra
nossos discursos (o que temos elaborado
para fundamentar nossa ação pedagógica). DRIBLANDO PELA ESQUERDA...
Tratar do esporte como conteúdo da
Educação Física tem sido um dos temas Neste texto, em face de sua temática, in-
mais presentes no meio acadêmico da Edu- teressa-nos um olhar mais detido sobre a
cação Física brasileira. A partir dos anos influência da instituição esporte sobre

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Educação Física escolar. A crítica elabo- tece na escola está a serviço da ins-
rada a essa influência dirigia-se à predomi- tituição esportiva, na revelação de
nância do esporte como conteúdo da Edu- atletas, constituindo-se na base da
cação Física escolar. Essa crítica explici- pirâmide esportiva e, por outro
tava a forma como o esporte constituía-se lado, na dimensão axiológica, nos
no elemento “legitimador” da Educação valores que ele transmite, perpassa
Física no interior da escola, bem como e constrói. A escola, por meio da
apontava o significado utilitarista, alie- educação física, estaria assumindo
nante, mercadológico que o esporte tinha os códigos, sentidos e valores da
(tem) nessa concepção (BRACHT, 1986, instituição esportiva".(p. 16)
1989, 1992; BETTI, 1991; KUNZ, 1994;
CASTELLANI FILHO, 1988, 1993); É inegável que essa crítica tenha conse-
COLETIVO DE AUTORES, 1 1992). guido eco em boa parte dos discursos da
ASSIS DE OLIVEIRA (2001) aponta o Educação Física brasileira. Ela foi incor-
seguinte: porada por uma parcela significativa da in-
telectualidade que produz academica-
"As críticas dirigidas ao esporte mente sobre o tema da Educação Física es-
podem ser resumidas em duas di- colar e que é responsável pela formação 2
mensões, que não se excluem e se de um considerável contingente dos futu-
articulam. A primeira dimensão diz ros e atuais professores de Educação Fí-
respeito a essa relação de exclusivi- sica. Ao longo desses últimos vinte anos,
dade (sem espaço para outros te- essa crítica esteve presente nos vários ló-
mas), primazia (prioridade quanto cus de debate que a área possui, congres-
ao tempo e à organização do es- sos, simpósios, palestras, cursos de especi-
paço) ou hierarquia (outros temas alização, dissertações, teses e periódicos.
tratados em função dele) na organi- Essa crítica então foi colocada em pauta
zação das aulas de educação física. para discussão, foi vista, pensada, “criti-
A segunda dimensão da crítica diz cada” e ratificada, logicamente não nessa
respeito à função do esporte na es- ordem e nem sempre de forma consensual.
cola, sustentando-se, por um lado, O que quero ressaltar é que ela gerou uma
na idéia de que o esporte que acon- ampla (não me arrisco a dizer profunda) 3

1 bre os usos e significados que o esporte tem/ad-


Essa obra é usualmente citada desse modo, razão
pela qual optei por essa forma de referência. Inclu- quire/impinge no interior da dinâmica curricular
sive a sua ficha catalográfica apresenta: “Metodo- (da escola). Por isso me refiro a uma discussão am-
logia do ensino de educação física/ coletivo de au- pla e não profunda. No Novo Dicionário Aurélio da
tores. São Paulo: Cortez, 1992. (Coleção magisté- Língua Portuguesa, 2. ed., 1986, Nova Fronteira, p.
rio 2º grau. Série formação do professor)”. Os au- 110, podemos observar alguns significados tanto
tores da obra são: Carmen Lúcia Soares; Celi Nelza para amplitude, como para amplo: “...Qualidade ou
Zülke Taffarel; Elizabeth Varjal; Lino Castellani caráter daquilo que abrange grande amplidão; ex-
Filho; Micheli Ortega Escobar e Valter Bracht. tensão [...] De grande dimensões [...] Muito grande;
considerável [...] Rico, farto, pródigo [...] Que
2
Refiro-me aqui tanto aos cursos de graduação, abrange um grande campo...”. Do mesmo modo,
podemos observar alguns significados tanto para
como aos de especialização (lato sensu), mestrado
profundidade como para profundo (p. 1398)
e doutorado (strictu sensu), e ainda aos de capaci-
tação docente. Estes últimos, na maioria das vezes, “...aquilo que vai além das aparên cias, que atinge
desenvolvidos pelas redes oficiais. o fundo das coisas [...] A intimidade, o âmago, a
parte mais difícil de penetrar ou atingir [...] de
3
Creio que, apesar de o tema ser muito debatido, grande intensidade; muito forte [...] Muito íntimo;
não ultrapassamos ainda os limites da denúncia so-

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reflexão sobre a temática. Atente-se, percebermos que tanto os fundamentos
ainda, que essa reflexão gerou conflitos, que orientavam, bem como a própria ação
polêmicas, principalmente com aqueles pedagógica exercida para o desenvolvi-
que percebem de formas diferentes/diver- mento do ensino do esporte nas aulas de
gentes (essa crítica que estamos apon- Educação Física na escola não eram úni-
tando) a relação escola e esporte. cos, eternos e imutáveis, ou seja, existiam
E, justamente por entender que essa crí- outras possibilidades para tratar o esporte
tica está documentada, divulgada e expli- nas aulas de Educação Física, outros senti-
citada, é que não vou me ater a explicá-la, dos a serem atribuídos nesse trato pedagó-
a detalhá-la aqui. Convido os(as) professo- gico.
res(as) a recorrerem às obras aqui referen- Se quisermos discutir o esporte como
ciadas, e outras mais, para (se for o caso) conteúdo da Educação Física escolar, é ne-
compreenderem melhor os fundamentos cessário, antes de tudo, ter claro que esta-
dessa crítica. remos discutindo também a Educação Fí-
Assim, quero aqui dialogar com alguns sica como componente curricular. E minha
autores que têm contribuído para a elabo- preocupação naquele estudo (dissertação
ração da crítica à influência do esporte de mestrado) era procurar entender como
(predomínio/exclusividade e função/sen- essa produção teórica ao estabelecer deter-
tido) sobre a Educação Física escolar. E minadas criticas, percebia a Educação Fí-
estabeleço o diálogo tanto com aqueles sica no interior da escola, levando em
que, de certa forma, inauguraram essa crí- conta para isso os fatores sócio-históricos
tica e ao longo desses últimos vinte anos que levaram a Educação Física a se cons-
têm contribuído com suas elaborações para tituir como componente curricular. A in-
ratificá-la; como também com os que mais tenção foi compreender a trajetória histó-
recentemente têm contribuído com novos rica da Educação Física escolar, buscando
elementos para o seu repensar. os fundamentos e elementos que sustenta-
ram (sustentam) esse componente na dinâ-
Em meu estudo de dissertação4 de mes-
mica curricular, ou seja, conhecer seu pas-
trado, procurei discutir como determina-
sado (não apenas numa perspectiva factual
dos autores, ao longo dos anos 80 e início
de história) para compreender seu presente
da década 1990, trataram a influência da
e perspectivar seu futuro.
instituição esporte. Apontei que a crítica a
essa influência era uma característica mar- A Sociologia do Currículo tem contri-
cante nas elaborações dos autores estuda- buído muito para uma compreensão de
dos. Entendo que essas elaborações foram como e por que um componente curricular
de extrema importância para a Educação se constitui (como tal), desenvolve-se, de-
Física brasileira, pois tiveram o mérito de saparece (é excluído), reaparece (retorna à
tensionar a relação (de sobrepujança) do condição de componente), etc. Para isso,
esporte com a Educação Física escolar. concorrem tanto fatores internos quanto
Isso foi fundamental para que pudéssemos externos à escola, como também fatores
visualizar com outras lentes que não ape- macro e microestruturais. Tentar compre-
nas aquelas que tradicionalmente (hege- ender a trajetória sócio-histórica de um
monicamente) tínhamos a possibilidade de componente curricular por apenas uma
ver tal relação. Foi essencial ainda para via, levando em consideração apenas um

entranhado [...] De grande alcance; muito impor- entre a Educação Física na Escola e a Educação Fí-
tante. Que tem grande saber; sagaz, perspicaz. Di- sica da Escola”. Programa de Estudos Pós-Gradua-
fícil de compreender”. dos em História e Filosofia da Educação, da PUC-
SP.
4
Defendida em agosto de 1996 e intitulada “A
Educação Física como componente curricular:

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desses fatores, é uma possibilidade, mas em si, para os intentos de uma edu-
entendo que essa forma de análise pode cação integral, e o esporte fosse um
conduzir-nos a certos equívocos. elemento negativo quando visto de
Para SANTOS (1990): outra forma. Assim, recorre-se a
uma visão idealista, que procura
"...os estudos e pesquisas na propor um esporte que seja bom
área da história das disciplinas es- (porque ajuda na formação da
colares representam uma reação a consciência, transformadora,
trabalhos no campo da sociologia emancipadora) contra um esporte
do currículo. Trabalhos esses, ge- que é mau, (dominador, opressor,
ralmente, baseados em teorias mais alienante).
abrangentes, em que os fenômenos As análises operadas pelos au-
educacionais são quase que exclu- tores estudados parecem incorrer
sivamente interpretados em função numa visão mecanicista do esporte
da estrutura econômica, política e como reflexo da estrutura econô-
social. Reagindo a esse modelo, a mica, política e social, entendendo
produção na área da história das que esta, irredutivelmente, deter-
disciplinas escolares mostra que mina o conteúdo escolar. Num certo
para a explicação das mudanças sentido, isso redunda numa visão
ocorridas em uma disciplina são simplista ao entender que aquilo
considerados altamente relevantes que está expresso no discurso e nas
os chamados fatores internos, tais leis é o que irremediavelmente
como: emergência de grupos de li- ocorre. Assim, acredita-se piamente
derança intelectual, surgimento de que o discurso da escola como ‘ce-
centros acadêmicos de prestígio na leiro’ de campeões se efetivou a
formação de profissionais, organi- contento, os objetivos traçados
zação e evolução das associações para o esporte escolar foram plena-
de profissionais e política editorial mente alcançados, o esporte cum-
na área, dentre outros." (p. 22) priu o seu papel de disciplinar e ali-
enar, não havendo em seu percurso
Minha crítica à produção teórica que resistências, contestações; ou seja,
desenvolveu uma reflexão e conseqüente- tudo ocorreu como predetermi-
mente, uma crítica à influência do esporte nado. O mesmo ocorre em relação
sobre a Educação Física escolar se pauta à intenção de fazer do esporte um
na possibilidade de ela incorrer em extre- elemento de ascensão social para
mos e levar a reducionismos, caso não as camadas populares: todo o mo-
fosse relativizada. vimento parece ter obedecido line-
armente ao caminho para ele tra-
"A crítica operada em relação à çado pela ideologia dominante"
influência da instituição esporte, no (CAPARROZ, 1997, p. 140-141).
extremo, acaba por, paradoxal-
mente, hipervalorizar essa prática Mas ressalto, como já havia feito na-
cultural como conformadora da quele momento, que não tenho a pretensão
Educação Física como componente de negar a produção teórica dos anos 80,
curricular, que, por ser, dentro da combatendo-a. Ao contrário, quero valer-
concepção hegemônica, perniciosa me dela para avançar na construção da
à Educação Física escolar, neces- compreensão do componente curricular
sita ser superada. Ou seja, é como Educação Física. Assim, não se está aqui
se a Educação Física fosse positiva

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negando que o caráter ideológico de domi- que foi sendo assimilada e valori-
nação, de alienação, de propaganda polí- zada pela sociedade, tornando-se
tica, etc. tenha ocorrido (e ainda ocorre). um elemento fundamental da cul-
“A sua presença nas leis e discursos é fato tura (corporal) e que, por isso,
que não se pode negar. Há o entendimento passa a ser apropriada, incorpo-
claro de que tal produção (dos anos 80) é rada pela escola como um conheci-
datada e o que se pretende é demonstrar os mento a ser transmitido. Não há
seus limites, revelando elementos que pos- análises do esporte como produção
sibilitem compreender os possíveis reduci- cultural que permitam extrair daí
onismos que as análises desta tenham nos decorrências possíveis para sua in-
legado” (CAPARROZ, 1997, p. 142). clusão como conteúdo de um com-
Autores como FERREIRA (1984), ponente curricular. Há apenas aná-
OLIVEIRA (1984), TAFFAREL (1985), lises que revelam o caráter exclusi-
BRACHT (1989), COLETIVO DE vamente utilitário que levou essa
AUTORES (1992) discutem sobre a rela- prática social a adentrar o currí-
ção esporte-Educação Física escolar, ope- culo.
rando em suas discussões críticas sobre a Não há também considerações
forma como o esporte adentra à escola; a que reflitam sobre a existência ou
forma e os motivos como se constitui no não de reações aos impactos da in-
único conteúdo das aulas de Educação Fí- trodução do esporte sobre uma
sica, chegando mesmo a ser confundido Educação Física desenvolvida fun-
com a própria Educação Física; os sentidos damentalmente com base na ginás-
e significados transmitidos no ensino do tica tradicional, onde havia a pre-
esporte na escola; as relações professor- sença de atividades mecânicas, es-
aluno balizadas pelo esporte de alto nível tereotipadas, como por exemplo, a
(de rendimento); enfim a forma como o es- ginástica calistênica. Há um trata-
porte foi e está sendo tratado (hegemoni- mento superficial desta questão,
camente) nas aulas de Educação Física nas não havendo um aprofundamento
escolas. 5 sobre as razões de o esporte ser in-
Se, por um lado, essas críticas tiveram troduzido na escola [...] questões
o mérito de tensionar uma relação que há que não podem ser respondidas sem
muito se cristalizara, qual seja, a relação que se vá as fontes, sem que se ope-
esporte-Educação Física escolar com a so- rem estudos mais consistentes e
brepujança daquele sobre esta; por outro, aprofundados sobre as formas, as
penso que também incorreu em certos re- causas e as conseqüências da refe-
ducionismos. rida inclusão.
Assim as análises sobre a inclu-
"A visão mecanicista que impera são e o desenvolvimento da Educa-
nas análises sobre a influência do ção Física como componente curri-
esporte sobre a Educação Física es- cular, ou seja, os estudos da traje-
colar, entendendo-a meramente tória histórica dessa área no currí-
como decorrência das determina- culo da instituição escolar não gra-
ções macroestruturais, impede uma vitam para além do âmbito das ma-
reflexão sobre a constituição desta crodeterminações, prevalecendo
prática social (esporte) como forma desta forma a irremediável idéia de
cultural construída pelos homens dominação e controle social dos

5
Cf. CAPARROZ (1997, p. 131-146).

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conteúdos escolares" (CAPAR- Ora, isso não é totalmente controlá-
ROZ, 1997, p. 143-144). vel pelo criador. Fernando Pessoa
O que me preocupa é a possibilidade de, (1998, p. 164-165) ilustra isso ao
em face, desses reducionismos, terem sido poetizar a relação do poeta com
geradas interpretações equivocadas sobre seus versos:
a relação esporte-Educação Física escolar, “Da mais alta janela da minha
levando a certos extremismos, por exem- casa
plo, excluir o esporte como conteúdo da Com um lenço branco digo
Educação Física escolar, ou ainda querer adeus
transformá-lo em algo que deixaria de ser
esporte. Minha preocupação aumenta Aos meus versos que partem
quando, por conta da experiência como para a Humanidade.
professor do Ensino Fundamental6 e de- [...]
pois como professor universitário, 7 ter re- Quem sabe quem os lerá? Quem
alizado e observado práticas pedagógicas sabe a que mãos irão?”
em que a transposição mecânica dos “có- Com certeza, o texto é recriado
digos/sentido da instituição esportiva”, a sob os diversos olhares interpreta-
“transplantação reflexa destes códigos do tivos dos leitores. Algumas recria-
esporte para a Educação Física”, é substi- ções potencializam ainda mais o
tuída pela transposição mecânica, pela texto. No entanto, ao contrário do
transplantação reflexa da crítica à influên- que defende o relativismo absoluto,
cia da instituição esporte sobre a Educação a polifonia interpretativa que um
Física escolar. Isso significa que não há texto ganha nas mãos dos diversos
uma mediação pedagógica entre o discurso leitores também pode beirar equí-
(da crítica à influência da instituição es- vocos exegéticos."
porte sobre a Educação Física escolar) e a
ação pedagógica. É como se essa, para ter
Entretanto o que reclamo aqui é a ne-
sentido, devesse ser a própria crítica, tal e
cessidade, em meu entender urgente, de re-
qual é difundida nos periódicos, debates,
pensar essa produção, pois já se passaram
congressos, livros, dissertações, etc.
alguns anos e é considerável a quantidade
Não estou imputando culpa, apenas, aos de relatos sobre o trato do esporte como
autores dessa produção teórica. Eles não conteúdo da Educação Física escolar, bali-
podem ter controle, total, sobre a forma zado pela crítica à influência da instituição
como tal produção é apreendida (compre- esporte sobre a Educação Física escolar.
endida) pela comunidade da Educação Fí- Assim, é preciso reclamar a autocrítica
sica. DELLA FONTE (2001, no prelo) tem dessa produção, ou seja, a revisão dela por
razão ao apontar: parte de seus elaboradores. E isso não sig-
nifica que eles tenham que concordar com
"Poder-se-ia argumentar que os apontamentos acerca dos reducionis-
tais obras, por exemplo, davam mos, dos limites e equívocos que lhes são
margem a certas compreensões e atribuídos. Rever seus pontos de vista pode
apropriações limitadas e limitantes. significar ratificar os fundamentos de sua
crítica, atualizá-los, relativizá-los; enfim,

6 7
Atuo como professor universitário no curso de
Atuei como professor de Educação Física no Pri-
meiro Grau (atual Ensino Fundamental) em escolas Educação Física desde 1996, primeiramente em
na cidade de São Paulo, entre 1990 a 1996). São Paulo e, desde 1997, como Professor Assis-
tente do Centro de Educação Física e Desporto da
Universidade Federal do Espírito Santo.

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o importante é poder ouvir o que os autores que isto modificasse a visão hege-
pensam sobre sua crítica, bem como sobre mônica de sua (da EF) função so-
seus desdobramentos na atuação pedagó- cial (desenvolvimento da aptidão fí-
gica hoje, para que assim possamos tam- sica e do ‘caráter’), mas, paulatina-
bém refletir sobre nossas (in)certezas no mente, o esporte se impõe à EF, ou
trato pedagógico do esporte como conte- seja, instrumentaliza a EF para o
údo da Educação Física. atingimento de objetivos que são
A Revista Movimento,8 em seus núme- definidos e próprios do sistema es-
ros 12 (julho de 2000) e 13 (dezembro de portivo. Este processo não vai se
2000), traz em sua seção “Temas Polêmi- acompanhar de uma reação crítica
cos” a discussão sobre “Esporte na Escola da Educação Física, muito ao con-
e Esporte de Rendimento”. Os artigos de trário, ele foi saudado como ele-
BRACHT, KUNZ, GAYA e TAFFAREL mento de valorização da EF, que
são uma contribuição fundamental para o passa a ser sinônimo do esporte na
debate atual acerca da reflexão sobre o es- escola. A reação se dá tardiamente,
porte como conteúdo da Educação Física como já observado na década de
escolar. Por razões de espaço e tempo, em 80" (BRACHT, 2000, p. XV).
relação a minha fala neste encontro9, optei
por centralizar a discussão ao texto de BRACHT preocupa-se, também, em
BRACHT, uma vez que nele o autor trata apontar problemas (mal-entendidos e equí-
de discutir a crítica ao esporte, tocando em vocos) em relação às interpretações da crí-
pontos que, ao longo dos anos, geraram in- tica ao esporte.
terpretações equivocadas e mal-entendi-
dos. "Quando então, na EF, sob a in-
BRACHT (2000) ratifica sua crítica fluência das teorias críticas da edu-
(em BRACHT 1986, 1989, 1992; e ainda cação e da sociologia crítica do es-
no COLETIVO DE AUTORES, 1992) à porte se faz a crítica ao esporte,
relação de sobrepujança do esporte sobre a principalmente ao de rendimento,
Educação Física, apontando que as teorias no sentido do seu papel educativo
da reprodução da Educação; a Sociologia no âmbito escolar, acabam por se
crítica do esporte, bem como as teorias crí- instalar uma série de mal-entendi-
ticas da Educação contribuíram significa- dos e equívocos, que, infelizmente
tivamente para que as abordagens críticas ainda grassam em nosso meio (al-
da Educação Física, emergentes no início guns, para meu quase desespero, já
dos anos 80, repensassem a relação que a se cristalizaram)" (BRACHT,
Educação Física deveria estabelecer com o 2000, p. XVI).
esporte.
BRACHT aponta quatro mal-entendi-
"Importante dizer que o esporte, dos/equívocos que considera como os
enquanto fenômeno cultural, foi as- principais que devem ser esclarecidos. O
similado pela EF, inicialmente, sem primeiro refere-se à idéia de que quem faz

8 realizado pelo Programa de Pós-graduação do De-


A revista Movimento é uma publicação da Escola
de Educação Física da Universidade Federal do Rio partamento de Educação Física da Universidade
Grande do Sul. Federal Fluminense. A palestra teve como tema “O
ESPORTE ENQUANTO CONTEÚDO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA”.
9
Este texto foi elaborado para nortear minha inter-
venção como palestrante no V Encontro Flumi-
nense de Educação Física Escolar, organizado e

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crítica ao esporte é contra o esporte. O au- "...o comportamento lúdico não
tor esclarece que a crítica não tem o sen- existe na sua forma pura, ele está
tido de negar o esporte como conteúdo da mais ou menos presente em uma sé-
Educação Física escolar. “Ao contrário, se rie de práticas humanas, portanto,
pretendemos modificá-lo é preciso exata- moldado culturalmente. A crítica é
mente o oposto, é preciso tratá-lo pedago- endereçada, na verdade, ao fato de
gicamente. É claro que, quando se adota que na nossa sociedade, todas as
uma perspectiva pedagógica crítica, este ações humanas tendem a ser guia-
‘tratá-lo pedagogicamente’ será diferente das pela razão técnico-instrumen-
do trato pedagógico dado ao esporte a par- tal. A crítica é à hegemonia da ra-
tir de uma perspectiva conservadora de zão técnico-instrumental, que numa
educação” (BRACHT, 2000, p. XVI). determinada perspectiva marxista,
O segundo refere-se à idéia de que a significa a coisificação de todas as
perspectiva crítica é contrária ao ensino relações humanas" (BRACHT,
das técnicas esportivas, e ainda que quem 2001, p. XVII).
não adota a perspectiva crítica, justamente
por ensinar as técnicas, é tecnicista. Há, nesse sentido, ainda a compreensão
BRACHT (2000, p. XVII) esclarece que de que a perspectiva crítica nega a aptidão
não há sentido em tal idéia, já que a crítica física ou a atividade física como promo-
está centrada na “...subordinação inconsci- tora de saúde, já que o rendimento estaria
ente não à técnica enquanto tal, mas à fina- condicionado à capacidade física e a pers-
lidade a qual determinada técnica está a pectiva crítica pretender um sentido dife-
serviço”. Quanto à confusão em relação ao rente do rendimento para o ensino do es-
tecnicismo, o autor declara que não se porte na escola. Para BRACHT, a perspec-
pode afirmar que o ensino de técnicas es- tiva crítica não nega os benefícios das prá-
portivas esteja automaticamente pautado ticas corporais para a saúde, a questão é
na pedagogia tecnicista. É preciso não con- que essa perspectiva não restringe o obje-
fundir tecnicismo esportivo com tecni- tivo das práticas corporais ao objetivo de
cismo pedagógico. “Embora seus princí- promoção da saúde, bem como não reduz
pios epistemológicos sejam os mesmos, o o entendimento da especificidade da Edu-
que facilitou a incorporação da pedagogia cação Física à essa idéia.
tecnicista no ensino do esporte da escola, O quarto mal-entendido/equívoco cen-
trata-se de duas coisas bastante distintas” tra-se numa idéia, muito comum, em mi-
(BRACHT, 2000, p. XVII). nha percepção, de acreditar que as aulas de
O terceiro diz respeito ao que o autor Educação Física, na perspectiva crítica,
denomina de “contraposição maniqueísta” priorizam a reflexão (aulas teóricas) em
entre o esporte de rendimento (não críti- detrimento do movimento (aulas práticas).
cos) e o lúdico (crítico), como se esses ele- BRACHT (2000, p. XVIII) esclarece:
mentos da cultura fossem exclusividade de
cada um dos grupos críticos e não críticos. “Não se trata de substituir o mo-
Para ele, há uma tendência a mitificar o lú- vimento pela reflexão, mas de fazer
dico como elemento essencialmente virtu- esta acompanhar aquele. Para isso,
oso para atingir a verdadeira humanização,
não é preciso ir para a sala de aula!
portanto um elemento pertencente so- Mas é preciso, também, não reduzir
mente aos que se pautam por uma perspec- a mudança apenas ao ato de acres-
tiva crítica da Educação Física. Em contra- centar a reflexão à prática, e sim
partida, o esporte de alto rendimento car- entender que a própria prática, a
regaria em si o não desejável ao homem própria forma do movimentar-se
em seu processo de humanização.

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esportivo precisa ser reconstru- A resposta ao que mudou nessa relação
ída”. Esporte-Educação Física escolar, para
além do discurso, não tenho. Aliás, acho
Essa discussão desenvolvida por que seja difícil que alguém tenha. Não falo
BRACHT é fundamental, pois toca em sobre experiências isoladas, pois nestas é
pontos que precisam ser tratados, se qui- possível observar mudanças, mesmo que
sermos (re)construir e/ou avançar no de- pequenas. Mas estou aqui a falar de uma
senvolvimento de uma perspectiva crítica parcela mais ampla das escolas, dos(as)
para o trato do esporte como conteúdo da professores(as) de Educação Física. Ainda
Educação Física escolar. que não tenha uma resposta, não significa
que não tenha uma hipótese. Parafrase-
ando a canção10 do grupo mineiro
PERDENDO A BOLA...
SKANK, aponto que minha hipótese é de
que nosso discurso, “é uma mosca sem asa
Valendo-se do pressuposto de que a crí- que não ultrapassa as janelas de nossas ca-
tica à sobrepujança da instituição esporte, sas”, ou seja, nós não conseguimos con-
em relação à Educação Física escolar, ga- vencer para fora da Educação Física. Res-
nhou considerável força e com isso produ- salto que não estou aqui incorrendo numa
ziu um também considerável material teó- postura imediatista e ingênua. Pode-se
rico que possibilita compreender e, conse- afirmar que o tempo entre a elaboração da
qüentemente, desvelar os usos e significa- crítica e o momento atual é ainda muito
dos do esporte na escola, para, com base “curto” para a efetivação de mudanças, ou
nessa compreensão, podermos re-orien- ainda que a disseminação ideológica da
tar/reconstruir nossa ação pedagógica, vi- concepção hegemônica de esporte é infini-
sando à superação dos usos e significados tamente maior (estando presente com in-
que historicamente o esporte vem tendo na tensidade e força, não só via mídia, mas
Educação Física escolar, creio que é im- nas diferentes relações sociais). Tenho
portante perguntar o que mudou nessa re- claro que ocorreram avanços, mas eles de-
lação Esporte-Educação Física escolar, vem ser relativizados. Um bom exemplo
não no campo teórico, no discurso, mas na são algumas administrações populares, de
realidade concreta em que ocorrem as au- partidos de esquerda (tanto em âmbito mu-
las de Educação Física. nicipal, como estadual) e o trato que dis-
Por que é importante fazer essa per- pensam ao esporte; fica nítido que esse não
gunta? Porque precisamos compreender as é tratado de forma diferente das adminis-
fendas (se não abismos) que distanciam (se trações conservadoras, de direita. A con-
é que distanciam) a relação entre o dis- cepção de esporte que combatemos cada
curso e a realidade concreta das aulas de dia está mais forte. Logicamente, há neces-
Educação Física. Precisamos entender os sidade de compreender isso não como de-
meandros da complexa teia que envolve a corrência do próprio esporte, mas das rela-
Educação Física na dinâmica curricular, se ções sociais mais amplas das quais o es-
quisermos que a(s) crítica(s) construída(s) porte faz parte.
sobre a relação Esporte-Educação Física
escolar possa(m) ter algum eco, alguma in-
tervenção na prática, alguma mudança
para além do discurso.

10
In(dig)Nação, de Samuel Rosa e Chico Amaral;
CD.

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 39


PERDIDOS EM CAMPO... A PERPLEXIDADE educativas. E é óbvio que essa ges-
DIANTE DO “NÓ TÁTICO” CONSERVADOR tão e esse controle burocrático da
educação ficaram claramente evi-
Essa é, a meu ver, a jogada desconcer- denciados (e, ao mesmo tempo, é
tante que insiste em nos entortar. Somos conseqüência) nas últimas reformas
bons nos discursos, mas não avançamos, educativas do final do século em
pelo menos não o desejável e necessário, muitos países. A favor de uma
para além dos limites desse discurso. Não maior racionalidade ou ‘qualidade
nego, de minha parte, uma certa dose de educativa’, a gestão burocrática do
ceticismo em relação às mudanças, mas âmbito educativo entrou com força
vejo esse ceticismo como necessário para nas novas propostas reformistas,
não incorrer ou numa visão hipócrita, ou jogando fora algumas conquistas
numa visão otimista exacerbada e ingênua educativas dos últimos 30 anos.
de quem fala, exortativamente, de uma si- Trata-se, uma vez mais, da perver-
tuação “incômoda” mas numa condição são: apropriar-se da palavra, da
“cômoda” (o acadêmico com os pés na idéia, mas que se traduza em ação.
universidade), para aqueles que estão Enfim, é importante destacar que
numa situação e condição extremamente muitos dos postulados vanguardis-
desconfortáveis (os professores imersos na tas avançaram mais no terreno das
realidade escolar). idéias do que no das práticas alter-
IMBERNÓN, em seu texto “Amplitude nativas [...]. É verdade que, quando
e profundidade do olhar: a educação on- elaboramos uma teoria, exercemos
tem, hoje e amanhã”, estabelece uma crí- uma ação de prática política, mas
tica às pretensas pedagogias progressistas necessitamos, além disso, aplicá-la
que não conseguiram provocar a sua arti- no terreno da práxis educativa em
culação em mudanças reais: instituições concretas, que se con-
vertam em experiências comunicá-
“...se detivermos nosso olhar em veis e/ou transferíveis. É um tema
nosso meio educativo, poderemos pendente" (IMBERNÓN, 2000, p.
perceber que foi sendo construído 79).
um discurso, mais simbólico do que
real, que se opõe frontalmente a Entretanto, essa dose de ceticismo,
qualquer manifestação explícita ou ainda que necessária, não se sobrepõe ao
oculta da racionalidade tecnocrá- meu compromisso com uma perspectiva
tica, seja na organização dos conte- crítica do modus vivendi hegemônico, e
údos curriculares, seja nas forma nem à minha vontade de construir uma so-
de gestão e controle técnico-buro- ciedade justa e igual. Nesse sentido, essa
crático baseados mais na reprodu- dose de ceticismo é relativizada e ganha
ção do que na inovação educativa. outro significado, que não o literal. Re-
Porém, trata-se de um discurso ape- corro a GENTILLI (1996):
nas formal, já que a realidade do úl-
timos anos propiciou justamente o "Pessimismo da inteligência, oti-
contrário: um aumento do tecni- mismo da vontade. Nunca a sen-
cismo, agora mascarado com argu- tença gramsciana teve tanta vigên-
mentos pós-modernos; uma falta de cia. Nosso pessimismo da inteligên-
compromisso político com a luta cia deve permitir-nos considerar
democrática e uma maior raciona- criticamente a magnitude da ofen-
lidade burocrática nas instituições siva neoliberal contra a educação
das maiorias. Nosso otimismo da

40 Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.


vontade deve manter-nos ativos na OMINILATERAL, ser que se reco-
luta contra um sistema de exclusão nhece enquanto espécie humana,
social que quebra as bases de sus- que somente torna-se Homem aces-
tentação democrática do direito à sando crítica, criativa e reflexiva-
educação como pré-requisito bá- mente a cultura, através de diferen-
sico para a conquista da cidadania, tes elementos desenvolvidos pela
uma cidadania plena que só pode humanidade dos diversos períodos
ser concretizada numa sociedade históricos e, capazes de contribuir
radicalmente igualitária." (p. 42) na construção de referências onto-
lógicas e teleológicas de vida"
(TAFFAREL, 2000, p. XVIII).
TOMANDO FÔLEGO... PARA REPENSAR A
PARTIDA Se tenho isso como verdadeiro, tenho
que tratar pedagogicamente desse conte-
údo de outra forma, diferente do que vem
Tenho uma preocupação central: como se dando hegemonicamente. Porém, há um
tratar o esporte como conteúdo da Educa- nó aqui que necessita ser desfeito: a escola
ção Física escolar, diferentemente do que tende a resistir a isso, pois o esporte que
vem sendo tratado? Que existem outras ela quer é o que ela conhece. Portanto,
possibilidades de tratá-lo eu sei. O que me nossa crítica refere-se a uma possibilidade
instiga é como fazê-lo diante dos obstácu- e não à realidade. Os professores que de-
los e resistências com que nos deparamos senvolvem o ensino do esporte nas aulas
nas escolas. E aqui devem ser consideradas de Educação Física balizados pela pers-
algumas questões mais centrais, tanto para pectiva crítica enfrentam grandes e sérias
termos claro como e o que devemos consi- resistências, não só por parte dos alunos
derar quando da construção de nossas es- como pela comunidade como um todo.
tratégias, como também para não incorrer- Vago (1996) estabelece um diálogo com
mos e nem perpetuarmos equívocos e limi- BRACHT (1992), procurando discutir
tações que a crítica ao esporte pode gerar. com esse autor as idéias acerca do “esporte
Uma das questões é se temos claro que na escola” e do “esporte da escola”. Vago
nossa crítica aponta para uma possibili- (1996, p. 6), defendendo a escola como um
dade e não para uma realidade. Explico. lugar de produção de cultura, opera uma
Nossa crítica centra-se na idéia de que te- crítica a BRACHT (1992) afirmando que
mos de ressignificar o esporte, pois a esse autor “...parece ainda não reconhecer
forma como, histórica e culturalmente, o trabalho interno de produção de uma cul-
esse fenômeno se desenvolveu não faz tura escolar”. E neste sentido avança sua
dele um elemento que se caracterize como crítica apontando:
uma das
"O entendimento de Bracht não
"...possibilidades com maior po- é improcedente: a escola pode, sim,
tencial humanizador em termos de de um lado, estar cumprindo tam-
relações, conhecimento/sabe- bém [grifo do autor] aquela tarefa
res/conteúdos, tempos, espaços/lu- por ele exposta. Mas, de outro lado,
gares, elementos/aparelhos, situa- a escola pode não se reduzir a ela,
ções aprendizagens, linguagens, or- como se fosse uma ‘correia de
ganizações e sujeitos, a partir da transmissão’ de uma cultura produ-
escola e para além dela, que pos- zida por outros ‘sistemas’, sem in-
sam contribuir na formação do SER tervir nela. Um outro olhar então se
HUMANO PLENO, INTEGRO,

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 41


pode lançar à escola, reconhe- em um discurso que desconhece as condi-
cendo-a como uma instituição que ções objetivas da escola. Precisamos ter
possui a capacidade de produção claro qual é a realidade potencial e pensar
de uma cultura escolar" (VAGO, o trato pedagógico do esporte numa pers-
1996, p. 6-7). pectiva crítica, valendo-nos dessa reali-
dade potencial.
ASSIS DE OLIVEIRA, em estudo11 Essa não é uma tarefa tranqüila, se qui-
que considero de fundamental importância sermos avançar para além dos discursos,
para refletirmos acerca do esporte como pois, como observamos, a escola expressa
conteúdo da Educação Física escolar, co- no discurso é uma, a expressa na realidade
menta o trabalho de VAGO (1996), no que é outra. Teremos de lidar com os conflitos,
diz respeito a crítica que faz a BRACHT resistências e contradições. A escola tem
em relação à escola como reprodutora da sim possibilidade de se constituir num es-
cultura e não como produtora desta. paço de resistência, de luta, de contra-he-
gemonia, de contracultura, mas isso de-
"...a realidade é o que realmente pende de nossas competências e capacida-
existe e a possibilidade, realidade des para construirmos uma intervenção
potencial, é o que pode produzir-se consciente e articulada. Temos de explici-
quando as condições são propicias. tar a tarefa paradoxal de
Desse modo, questiono sobre qual é
a face atual da escola e qual a face
“Provocar e facilitar a recons-
possível. A escola não pode também
trução dos conhecimentos, das dis-
[grifo do autor] ser reprodutora.
posições e das pautas de conduta
Ela é! Ela pode também [grifo do
que a criança assimila em sua vida
autor], isto sim, ser espaço de resis-
paralela e anterior à escola [...]
tência, de luta, de contra-hegemo-
preparar os alunos/as para pensar
nia, de contracultura, o que de-
criticamente e agir democratica-
pende de uma intervenção consci-
mente numa sociedade não-demo-
ente e articulada" (ASSIS DE
OLIVEIRA, 2001, p. 40). crática” (PÉREZ GÓMEZ, 1998,
p. 22).
Nesse sentido, nosso discurso não pode
ser apenas exortativo,12 esse caráter ele Esse é, em meu entender, o grande “nó
tático conservador” a ser desatado, ou seja,
deve ter também, porém é necessário ultra-
não devemos apreender/incorporar o dis-
passar os limites da exortação. É necessá-
curso crítico de modo a acreditar que ape-
rio estabelecer um diálogo com os profes-
nas a força de nossa vontade basta. Não
sores que atuam na escola, na perspectiva
basta! As teorias críticas estão aí, as expe-
de que possamos compreender a realidade
riências estão aí, os discursos exortativos
e a possibilidade. Necessitamos ir para
estão aí, mas também está aí a escola tal e
além da possibilidade construída com base
qual criticamos. A sua força conservadora
é mais forte que nossos discursos e a eles

11
Dissertação de mestrado, intitulada “A reinven- 12
Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua
ção do esporte: possibilidades da prática pedagó- Portuguesa, 2a. ed., 1986, Nova Fronteira, p. 742,
gica”, defendida em março de 1999 no Curso de exortar significa: “Animar, incitar, encorajar, esti-
Mestrado em Educação da Universidade Federal de mular [...] Aconselhar, induzir, persuadir”.
Pernambuco, e posteriormente publicada pela Au-
tores Associados em 2001.

42 Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001.


resiste, pois sua força conservadora não re-
side nela mesma, mas na trama das rela- “...um passo importante para o
ções sociais que a envolvem. Por isso a ne- avanço do resgate do lúdico é rom-
cessidade de diálogo com a realidade é tão per, na escola, com a tentativa de
essencial para o debate acadêmico, pois separação absoluta entre jogo e es-
um alimenta o outro. porte. Não no sentido de esportivi-
Outra questão que levanto refere-se ao zar os jogos populares e as brinca-
que significa ressignificar/reinventar o es- deiras, mas no caminho inverso, ou
porte. Necessitamos ter cuidados para não seja, brincar de esportes, para tor-
pretender criar algo que não será esporte, nar lúdica a tensão do esporte, para
bem como, no extremo, acabar esportivi- transformar o compromisso com a
zando aquilo que não é esporte. O perigo vitória em compromisso com a ale-
reside em alterar tão fortemente as carac- gria e o prazer para todos”.
terísticas de uma modalidade, por exem-
plo, que acabaríamos não tendo o esporte, Concordo com VAGO (1996, p.12),
teríamos uma outra coisa, correndo o risco quando apresenta a idéia de “...uma tensão
ainda de não superar o essencial apontado permanente entre o espaço social da escola
em nossa crítica. Não adianta dizer que e o espaço social mais amplo” como a ca-
não vamos fazer esporte, que vamos sim racterística de um “...movimento proposi-
jogar, alterando as regras e a dinâmica do tivo da escola em suas relações com outras
jogo, se permanecem os valores e os senti- práticas culturais da sociedade”. VAGO
dos do esporte tal qual ele é praticado nas ressalta a “...capacidade de intervenção da
competições de alto nível. Também corre- escola na sociedade” e, discutindo a rela-
mos o risco de, não tendo claro o que pre- ção esporte e escola, afirma
tendemos, ao ressignificar o esporte, es-
portivizarmos outros elementos da cultura.
Tudo vira esporte. Se vamos trabalhar com “...o que de pior poderia acon-
cambalhotas, não demora muito para fa- tecer à idéia de se construir um es-
zermos um “festival de cambalhotas”, se porte como prática cultural porta-
vamos trabalhar com “skates”, não demora dora de valores que privilegiam
muito para termos um festival de “skates” [...] o coletivo e o lúdico, é o en-
ou de “esportes radicais”. E, aí por diante, clausuramento dessa idéia na es-
não faltam festivais, torneios, campeona- cola, como se ela fosse possível e
tos e o mais comum na atualidade “desa- desejada somente em seu interior”.
fios”. Assista ao “Esporte Espetacular” 13 e
perceberá que fazer embaixada com boli- Acredito que seja possível operar mu-
nha de gude ou com um melão, ou ainda danças no trato do esporte como conteúdo
ficar em pé dentro de um cubo de gelo, ou da Educação Física escolar e, fazendo coro
também carregar no ombro uma enorme com ASSIS DE OLIVEIRA (2001, p.
cruz pelas estradas brasileiras transfor- 199), ressalto:
mam-se num desafio, num “esporte espe-
tacular”. "...Mudanças que venham a alte-
rar a atual dinâmica do esporte, es-
ASSIS DE OLIVEIRA (2001, p. 199-
sencialmente competitiva e aparen-
200) afirma que o resgate da ludicidade é
temente lúdica, para uma outra,
um ponto crucial na perspectiva de “rein-
venção”:

13 mingos, pela manhã, pela Rede Globo de Televi-


Programa esportivo semanal, exibido aos do-
são.

Perspectivas em Educação Física Escolar, Niterói, v. 2, n. 1 (suplemento), 2001. 43


qualitativamente distinta, essenci- conteúdos ensinados, sua pertinên-
almente lúdica e aparentemente cia, sua consistência, sua utilidade,
competitiva. Para que mais à frente, seu interesse, seu valor educativo
não seja consagrado um completo ou cultural, constitui para os pro-
embrutecimento humano e não pre- fessores um motivo privilegiado de
cisemos ouvir de nós mesmos as sá- inquieta reação ou de dolorosa
bias e dolorosas palavras do repli- consciência" (p. 9).
cante de Blade Runner [grifo do
autor]: ‘eu vi coisas nas quais vocês
humanos não acreditariam’".
A PARTIDA NÃO ACABOU... VAMOS VIRAR
O JOGO?!...
Mas, conforme venho apontando ao
longo deste texto, a tarefa não é fácil, pois,
como afirma FORQUIN (1993), as ques-
tões
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
"...que se referem à função de
transmissão cultural da escola, são AMARAL, Chico; ROSA, Samuel.
ao mesmo tempo, as mais confusas In(dig)Nação. In: SKANK. SKANK.
e as mais cruciais. Ocorre que elas Produção: Skank. Rio de Janeiro:
dizem respeito ao próprio conteúdo Chaos/Sony Music, 1993. 1 CD (43
do processo pedagógico e interpe- min). Faixa 2.
lam os professores no mais pro-
fundo de sua identidade. Se não há
realmente ensino possível sem o re- ASSIS DE OLIVEIRA, Sávio. A reinven-
conhecimento, por parte daqueles a ção do esporte: possibilidade da prá-
quem o ensino é dirigido, de certa tica pedagógica. Campinas: Autores
legitimidade da coisa ensinada, co- Associados, 2001.
rolário da autoridade pedagógica
do professor, é necessário também, BETTI, Mauro. Educação Física e socie-
e antes de tudo, que este sentimento dade. São Paulo: Editora Movimento,
seja partilhado pelo próprio profes- 1991.
sor. Toda pedagogia cínica, isto é,
consciente de si como manipulação, BRACHT, Valter. A criança que pratica
mentira ou passatempo fútil, destru- esporte respeita as regras do jogo... ca-
iria a si mesma: ninguém pode en- pitalista. Revista Brasileira de Ciên-
sinar verdadeiramente se não en- cias do Esporte, São Paulo, v. 7, n. 2,
sina alguma coisa que seja verda- jan.1986.
deira ou válida a seus próprios
olhos. Esta noção de valor intrín-
______. A Educação Física escolar como
seco da coisa ensinada, tão difícil
campo de vivência social. Revista Bra-
de definir e de justificar quanto de
sileira de Ciências do Esporte, São
refutar ou rejeitar, está no próprio
Paulo, v. 9, n. 3, p. 23-39, maio 1988.
centro daquilo que constitui a espe-
cificidade da intenção docente
como projeto de comunicação for- ______. Educação Física: a busca da auto-
madora. É por isso que todo questi- nomia pedagógica. Revista da Educa-
onamento ou toda crítica envol- ção Física, Maringá, v. 1, n. 0, p. 28-
vendo a verdadeira natureza dos 33, 1989.

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