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RESUMO
O presente estudo teve como objetivo identificar como uma equipe esportiva revela aspectos
internos de relações interpessoais de aproximação cultural, afetividade e ação de comando, apresentando
atletas com características comportamentais para liderar seus companheiros de grupo. O estudo foi
desenvolvido com 21 atletas de uma equipe masculina adulta de handebol, com idade cronológica acima dos
19 anos, com média em tomo de 23,8 anos. Os dados foram obtidos utilizando-se como instrumento o teste
sociométrico. As freqüências de escolhas emitidas e recebidas em relação a cada uma dos atletas levaram a
concluir que os indivíduos se baseiam em escolhas e rejeições pessoais, para ressaltar companheiros com
atributos pessoais, para liderar o grupo perante aspectos que envolvem aproximação cultural, afetividade e
ação de comando. Concluiu-se também, que a percepção que cada atleta tem de si mesmo em relação aos
demais companheiros, caracteriza atributos pessoais que distinguem diferentes perfis de atletas-líderes no
campo sócio-cultural, afetivo e de ação de comando.
INTRODUÇÃO
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de rendimento. A padronização das relações não é Os conceitos parecem ilustrar que os atletas-líderes
meramente um dado dinâmico, mas um espaço de perseguem os mais variados tipos de
aprendizagem, que Pichòn-Rivière (1995) postulou comportamento de liderança para influenciar seus
implicar informação, emoção e produção para companheiros, em benefício da equipe e na
todos os indivíduos no grupo. Uma das suposições manutenção do seu poder dentro de um clima de
fundamentais é que as equipes são motivadas de confiança mútua. Os princípios inferidos nesses
forma implícita e explícita, pelas suas dimensões valores envolvem desde as características de
sociais e funcionais na superação dos múltiplos conduta pessoal dos líderes, até os diferentes
obstáculos que o esporte de rendimento coloca no estilos e/ou esteriótipos comportamentais que
caminho das equipes. Vale dizer que seus membros possam caracterizar um atleta ou técnico como
se aceitam mutuamente para trabalhar líder. Jesuíno (citado por Sidónio, Pataco & Santos,
conjuntamente - portanto, toda equipe representa 1991) demonstrou que a subjetividade de
um modelo de consolidação das ações dos seus comportamento dos líderes está relacionada às suas
membros. Aliás, a literatura tem mostrado que a personalidades, mais especificamente, em situações
posição e o prestígio atribuídos às equipes bem particulares. ,
sucedidas tendem a preservar as suas imagens num E provável que em termos de
campo em que a grande maioria das pesquisas são relações sociais, execução de tarefas e integração
polarizadas em função dos diferentes métodos de grupai, alguns atletas mais sensíveis ao “vencer a
preparação física, técnica e tática. qualquer custo” se convertem em líderes de ação
Paulatinamente vamos entrando de comando para dotar seus companheiros de
naquilo que comumente é chamado de dinâmica responsabilidade em prol do êxito coletivo. Outros
grupai - aquela dinâmica social e funcional com mais ligados aos problemas de natureza
vistas a uma melhor adaptação às exigências de psicológica, se convertem em líderes pacificadores
formação e de desenvolvimento das equipes no de conflitos e tensões emocionais, numa tentativa
mundo dos esportes coletivos. Afinal, a de unir os companheiros em tomo de um clima
importância que os líderes (técnicos, atletas) ambiental de confiança mútua. Um terceiro tipo de
desempenham frente aos companheiros de grupo, liderança poderia ser estabelecido com base na
pode determinar o equilíbrio e o desequilíbrio entre aproximação cultural entre os atletas - indicador na
a capacidade de produtividade técnico-tálica e o sensibilidade dos elementos que marcam a
processo do intercâmbio de comportamento rivalidade, diversidade de interesses e manutenção
vivenciados pelos indivíduos. de vínculos no âmbito das relações sócio-culturais,
ideológicas, econômicas e políticas dentro das
equipes. Assim, a eficiência das equipes
CONFIGURANDO O PROCESSO DO dependeria do secretismo das suas relações como
INTERCÂMBIO COMPORTAMENTAL DAS um modelo de realidade social. Por isso, em razão
EQUIPES dos fatores intervenientes de ordem externa à
equipe (clube, mídia, públíco) e dos internos
Como visto, toda equipe se apresenta (estrutura orgânica e funcional), que refletem
no esporte como um micro-sistema social, cujo sempre conceitos distintos - alguns restritos à
elemento definidor é a capacidade de “performance” de conduta pessoal de dirigentes,
produtividade, implicando assim o papel apurado técnicos e atletas entre si e pela equipe como um
de técnico e atletas de uma dada equipe, todo organizado. Entre as razões para esse
conseqüentemente, a uma dada sociedade como um conhecimento, estão as análises de grupo e/ou
macro-sistema social que interfere sobre o dinâmica grupai - amplamente exploradas pelos
comportamento dos clubes, equipes e indivíduos. psicólogos sociais.
No entanto, a capacidade de interagir e produzir, A rigor, Sherif & Sherif (citado por
que são elementos essenciais do êxito coletivo, são Brawley & Martin, 1995) enfatizaram que a
interdependentes de um conjunto de fatores dinâmica grupai é um estudo científico das
institucionais, grupais, individuais e de condições experiências e comportamentos individuais
situacionais ligadas com aproximação cultural, relacionados com as situações sociais. Daí a
afetividade e ação de comando dentro das equipes. necessidade de se pesquisar as equipes esportivas a
Nesses termos, o comportamento de liderança dos partir da auto-expressão e participação de técnicos
técnicos e atletas poderia assegurar todo o processo e atletas, uma vez que o estudo de qualquer equipe
de coesão social, afetivo e operacional das equipes. é a própria compreensão da sua dinâmica interativa
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comportamentais para liderar seus companheiros mantidas pela equipe antes do evento esportivo.
de grupo. Talvez, a característica mais importante desse
acompanhamento foi que os atletas foram
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Essa representação traduz um “jogo” estabelecimento no grupo de sistemas coletivos de
de relações interpessoais capaz de desencadear defesa contra a angústia de separação, que tem por
preocupação nos processos de fonnação, evolução função expressar indiretamente a angústia e o laço
e de um clima ambiental condizentes com os de união grupai, e defendendo seus membros
sentimentos dos atletas. Indubitavelmente, a contra eles. A partir daí é provável que, segundo as
essência das tonalizações afetivas recai freqüências observadas na FIGURA 2, as
especialmente na natureza do vínculo coletivo, e qualidades pessoais do “atleta 2”, poderiam ser
isso não se consegue individualmente. Se o “atleta vistas como um elo de ligação sócio-afetiva entre
2” conseguiu atrair o entusiasmo dos seus os membros na composição social do grupo, como
companheiros é porque possuía atributos pessoais um todo organizado.
que se identificam com o clima sócio-afetivo da A situação gerada pelo “atleta 2”
equipe. Segue que os diferentes aspectos sócio- como agente social afetivo, foi resultado de um
afetivos manifestam-se ao contrário de outras clima de solidariedade, que se impôs como uma
características pessoais, de maneira espontânea, e força social impulsora, que motiva e modifica
nem sempre são manifestadas (deliberadamente) costumes e valores pessoais, inicialmente, no
pelos membros de uma equipe esportiva. Talvez o ambiente de trabalho e convivência da equipe e,
significado mais amplo desse processo seja a posteriormente, na vida privada de cada um. Poder-
descoberta, por parte dos atletas, de gostar, sentir e se-ia dizer que o “atleta 2” assumiu um papel de
trabalhar conjuntamente. liderança que não se baseia apenas em suas
Tudo isso, naturalmente, seria o habilidades técnicas, mas em suas manifestações
núcleo afetivo cuja ênfase reside, conforme Pagés comportamentais de afetividade para com os
(1982), na experiência das relações sociais. É um companlierios de grupo. Uma vez que a inter-
dos pilares de sustentação do equilíbrio da relação entre os atletas se toma fundamental para a
estrutura social das equipes, onde cada um dos formação e desenvolvimento da estrutura orgânica
indivíduos enfrenta, no plano inter-pessoal, o e funcional de uma equipe, as ações de comando
companheiro com quem prefere manter boas mantidas pelo capitão são básicas para o processo
relações sócio-afetivas, e os que ele rejeita. Em cooperativo do grupo, tendo em vista que o capitão
nível mais profundo, a relação é vivida como um pode definir e organizar o conjunto de ações
sentimento de solidariedade na separação sentida individuais dentro da quadra de jogo. Tais
como angústia. O laço de união grupai é, portanto, hipóteses sugerem que a ação de comando pode
baseado num sentimento inconsciente de refletir os interesses de todos os membros da
solidariedade com todos, unido ao sentimento de equipe. As freqüências atribuídas pelas posições
separação mútua. A solidariedade assim definida sociométricas dos atletas em tomo da escolha do
raramente é consciente - manifesta-se de fato pelo capitão aparecem na FIGURA 3.
FIGURA
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Vemos que as figuras retratam as enfatizadas por muitos estudiosos (Chappuis &
freqüências atribuídas pelos atletas à categorização Thomas, 1988; Cratty, 1984; Spink, 1990) que
de papéis voltada para os indivíduos com consideram o comportamento subjetivo dos líderes
características pessoais para ser o líder de ação de em relação a sua personalidade e, mais
comando da equipe. Diríamos que o “atleta 12” especificamente, em situações grupais.
devia possuir habilidades pessoais para manter o Dentro dessa perspectiva, o “atleta
“espírito de grupo”, reforçando os argumentos de 12” devia ter qualidades e atributos pessoais que
Hippolyte et alii (citado por Brandão, 19%) de que possibilitarim atrair, em tomo de si, os seus
o capitão precisa ter confiança e respeito dos companheiros de equipe e de satisfazer uma série
demais membros da equipe. As posições assumidas de necessidades individuais que, às vezes, frustram
pelos atletas serviram para legitimar a e/ou facilitam o intercâmbio de comportamento
categorização dos papéis dos indivíduos com poder mantido entre os atletas dentro de uma equipe
para equilibrar ou resolver problemas sócio- esportiva. Isso eqüivale a dizer que, à medida em
interativos e funcionais dentro da equipe. Isso que os atletas de uma determinada equipe esportiva
reflete as tendências pragmáticas de como os cooperam para manter uma impressão, permitindo
capitães são escolhidos. Cratty (1984) diz que são a explicitação da tarefa e a participação através
escolhidos pelas suas capacidades de influenciar o dela, permitindo não só sua compreensão, mas
grupo a ter um melhor desempenho tanto no também sua execução, constitui, aquilo que
aspecto técnico quanto no social. Pichòn-Rivière (1991) denominou grupo.
Aliás, o intercâmbio de
comportamento mantido pelos líderes e liderados é
um processo contínuo de manifestações pessoais CONCLUSÕES
sobre os problemas que permeiam o ajustamento
sócio-funcional dos atletas entre si. Samulsky Como vimos pelas posições
(1992) escreveu que quanto mais poder a posição sociométricas, uma equipe esportiva promove
de líder oferece, mais favorável toma-se a situação interações que nos ajudam a compreender como
para ele, destacando três dimensões para a seus membros se inter-relacionam com os
favorabilidade do líder: a) as relações afetivas do acontecimentos estabelecidos pelas relações sócio-
líder com o grupo; b) a estrutura da tarefa; e c) a interativas em função da aproximação cultural,
posição de poder. As relações afetivas do líder afetividade e ação de comando. Vale lembrar que
com o grupo têm sido assumidas como sendo de os dados obtidos centralizam “núcleos de
grande efeito nas situações favoráveis. O líder que liderança” que demonstram que os indivíduos são
é respeitado e querido pode obter o consentimento percebidos pelos demais com atributos de uma
do grupo em relação às suas decisões, sem o posição de líder, sendo que o grau de
exercício do poder, podendo dessa forma agir mais relacionamento com os demais e seu
decisivamente e com mais confiança do que o líder comportamento, são capazes de assumir papéis de
que não é querido ou é rejeitado pelos membros do lideranças significativas com o processo de
grupo. A estruturação da tarefa é aceita como aproximação cultural, afetividade e ação de
outro fator que favorece uma situação para o líder. comando. Daí o sentido de alguns atletas
Isso implica a boa estruturação da proposta de chamarem a atenção dos demais em função de suas
trabalho, com a indicação clara dos procedimentos habilidades para influenciar e liderar uma equipe -
específicos para que os objetivos sejam alcançados. sentido de como os atletas se sentem em relação
A posição de poder é considerada como o terceiro aos demais, reforçando a tese de que as equipes
fator determinante, uma vez que essa condição está esportivas distinguem líderes e “não-líderes”, na
relacionada a autoridade do líder sobre o grupo, auto-avaliação de suas posições no grupo.
bem como o apoio que o primeiro recebe do Talvez, o significado mais amplo dos
segundo, constituindo uma relação bi-direcional. resultados obtidos nesse estudo seja a descoberta
O caráter unificado do de que, dentro de uma equipe de handebol, os
comportamento grupai seria reforçado, conforme atletas distinguem companheiros com perfis
Turner (1984), pelas funções exercidas pelos comportamentais de lideranças quanto à força do
indivíduos e por outras características (traços de líder de ação de comando e quanto à natureza das
personalidade, atributos pessoais), que devem relações humanas em tomo da aproximação
instigar as ações comuns. Essas características cultural e afetividade. Isso eqüivale a dizer que as
comportamentais assumidas por líderes são freqüências (maior, média, menor) atribuídas e
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recebidas representam que os atletas identificaram que os atletas podem fornecer, com relativo
uma tríplice liderança dentro da equipe. Foi sucesso, as posições que ocupam e/ou julgam
caracterizado um líder de aproximação cultural, um ocupar como destaques nas suas intervenções como
líder afetivo e um líder de ação de comando. líder ou liderados, uma vez que toda situação
Portanto, a diferença entre os estilos de requer talento especial para enfrentá-las e resolver
comportamento de liderança se baseiam no grau de os problemas que surgem na formação e
reciprocidade no âmbito das relações interpessoais desenvolvimento de uma equipe de alta
quanto à aproximação cultural, à afetividade e à “performance”
ação de comando do capitão da equipe -
evidenciando que existem grandes tendências de
ABSTRACT
The purpose of this study was to identify if social behavior of a handball team may be analyzed
by a tridimensional model involving cultural proximity, affection and initiative action of leadership. The
instrument for data collection was the sociometric questionnaire with 21 handball players, with mean age of
23.8 years old. The results obtained were capable to provide immediate feedback about athlete’s perception of
their co-workers performance. It was also concluded that there was a relationship between athletes’ choices
and the degree of cultural proximity and affectionate and initiative action. The perception each athlete lias of
himself and in regard to his team mates caracterize personal attributes that distinguish different profiles of
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