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ETAPAS DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM EQUIPE

DE VOLEIBOL DE ALTO RENDIMENTO

Lenamar Fiorese Vieira (UEM-PR)

João Ricardo Nickenig Vissoci (UNINGÁ-PR)

Leonardo Pestillo Oliveira (CESUMAR-PR)

INTRODUÇÃO

Atualmente, exige-se que os indivíduos desenvolvam o máximo de suas


habilidades e potencialidades. Para tal desenvolvimento é necessário um
amplo conhecimento do mundo que o circunda e de si mesmo. Tais exigências
encontram-se em quase todas as esferas sociais, dentre elas o esporte
(ATKINSON, 1995).

Nesse sentido, o esporte se destaca por sua influência na disseminação de


comportamentos e hábitos sociais, pois além de promover a saúde e o bem-
estar, a mídia se encarrega de divulgá-lo como um produto mercadológico que
movimenta milhões em dinheiro, contribuindo para que o esporte se torne um
dos fenômenos de maior importância em nosso século, em qualquer de suas
feições, tanto por incidência, como por seu desenvolvimento.

Devido ao destaque do esporte na modernidade os atletas enfrentam forte


pressão social, já que se faz necessário a mobilização de grande número de
recursos financeiros, materiais e humanos. (WEINECK, 1989). Nesse sentido,
o sucesso do esporte está veiculado à produtividade do atleta, que por sua vez
precisa superar limites, metas, os adversário, sujeitando-se assim à
frustrações, pressões, sucessos, insucessos; evidenciando a necessidade de
uma boa preparação física e psicológica de forma a suportar os treinamentos e
todo esse desgaste (WARD, 2005).

No âmbito esportivo, a preparação psicológica é definida como a aplicação de


teorias e técnicas procedentes da Psicologia, dirigidas a aquisição ou melhora
das habilidades psicológicas necessárias para fazer frente às distintas
situações esportivas, de forma que permita melhorar ou manter o rendimento
esportivo, assim como ajudar no crescimento e bem estar pessoal dos atletas
(BALAGUER, 1994).

Torna-se relevante então, entendermos que a preparação de um atleta é


composta por fatores físicos, técnicos, táticos e psicológicos. Embora estas
quatro áreas sejam reconhecidas como importantes para aumentar o
rendimento esportivo, devem ser apontadas algumas particularidades.
Devemos reconhecer que qualquer treinador moderno, além de bem formado
participa de encontros científicos e congressos técnicos científicos, portanto
conhecem toda a metodologia de treinamento fisico-técnico-tático de seu
esporte. Mesmo assim, os atletas treinados por estes competentes
profissionais podem apresentar no momento da competição algumas reações
diferentes entre si em termos de rendimento. Uma possível explicação
apontada nos congressos científicos para essas condutas é o fator psicológico.

A área do treinamento físico-técnico-tático, muito tem avançado para


aperfeiçoar os fundamentos dos mais diversos esportes, com uma abordagem
bastante renovada e criativa, entretanto, na área da psicologia do esporte faltam
publicações na América Latina bem como profissionais qualificados para
complementar a preparação dos atletas, realizarem avaliação psicológica que
permita conhecer melhor estes atletas e contribua no seu desempenho atlético.

Os primeiros trabalhos de avaliação psicológica no esporte investigavam


principalmente a relação entre traço de personalidade e rendimento do atleta,
entretanto alguns profissionais apresentaram uma série de problemas
metodológicos e conceituais sobre a relação entre personalidade e rendimento
esportivo (MARTENS, 1942). Assim, a conclusão foi de que a avaliação dos
traços específicos dos atletas mediante testes de personalidade tinham utilidade
prática limitada para predizer o rendimento esportivo. O necessário é que
diminuam as publicações sobre avaliação da personalidade do atleta,
substituindo a fundamentação teórica dos traços por um enfoque mais empírico,
centrado na avaliação situacional da competição esportiva, aumentando a
avaliação de aspectos cognitivos dos esportistas durante os treinamentos e
competições (VEALEY, 2005).

Nesse contexto, a psicologia esportiva destaca-se para estudar e investigar os


efeitos das ocorrências psíquicas que emanam da atividade esportiva, podendo
surgir no inicio, durante ou após a prática, assim como os vários fatores que
permeiam as práticas de rendimento (WEINBERG e GOULD, 2001).

Desta forma os psicólogos do esporte devem possuir capacidade para atuar em


três campos de atuação profissional de acordo com Weinberg e Gould (2001):
ensino, pesquisa e intervenção. No campo do ensino o objetivo é transmitir
conhecimentos e habilidades técnicas esportivas, para tanto os profissionais
necessitam ter conhecimentos das capacidades psicológicas necessárias para
melhor compreender o comportamento humano no âmbito do esporte.

No campo da pesquisa, duas áreas são mais exploradas: os procedimentos


diagnósticos para medir características psicológicas de pessoas, situações e de
atividades esportivas (Por exemplo: motivação para o rendimento, ansiedade e
agressão no esporte, personalidade de atletas e treinadores) e medidas de
intervenção psicológica para competição e treinamento.

No campo da intervenção psicológica, são implantados programas de


preparação psicológica de treinamento mental, juntamente com medidas de
aconselhamento e acompanhamento dos atletas. Para Harris e Harris (1987) o
atleta precisa aprender a exercitar seu cognitivo na mesma intensidade que
exercita o físico, somente assim conseguira treinar suas habilidades psíquicas
para conseguir a integração entre a mente e o corpo, maximizando assim o
desempenho.

IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

Para implantação de um programa de psicologia aplicada ao esporte,


recomendamos que sejam seguidas algumas etapas, bem como as
particularidades de cada esporte sejam consideradas. As etapas são: 1)Contato
Inicial; 2)Levantamento de Necessidades; 3)Programa de Intervenção;
4)Avaliação dos Resultados.

A etapa do Contato Inicial compreende a apresentação do psicólogo à equipe


(ou atleta) com quem irá trabalhar. Neste momento é informado a todos os
componentes do grupo esportivo no que consiste o trabalho de suporte
psicológico no esporte. Essa fase é de extrema importância para a continuidade
do trabalho, assim como em todo programa de intervenção psicológica, devido
ao estabelecimento do rapport (vínculo entre psicólogo e equipe de trabalho).
Esta fase é marcada por uma prática pedagógica na qual são estabelecidos os
objetivos do grupo, os quais são discutidos com os atletas e posteriormente é
estabelecido um cronograma de trabalho (objetivos de curto, médio e longo
prazo).

A importância da etapa do contato inicial se deve ao fato de que, geralmente o


psicólogo é contratado pela comissão técnica de uma equipe esportiva, a qual
percebe a necessidade do trabalho. Dessa forma, a iniciativa para a realização
do trabalho não parte dos ‘clientes’, fator que influencia na resistência,
aderência e efetividade do apoio psicológico. Portanto, a primeira tarefa do
psicólogo esportivo é explicar os objetivos e a função do trabalho atentando
para a importância do mesmo no contexto esportivo.

Cabe ao psicólogo ainda, na etapa do contato inicial, conhecer todos os


membros da comissão técnica da equipe, a rotina de treinamento, o programa
de periodização, os campeonatos que serão disputados, entre outras
informações sobre o funcionamento e objetivos da equipe/atleta para aquela
temporada.

A segunda etapa, de Levantamento de Necessidades, é caracterizada como o


momento no qual o psicólogo conhece melhor os atletas com quem vai
trabalhar. Neste momento faz-se a coleta do maior número de informações
possíveis sobre o grupo e os membros deste grupo. Esta deverá enfocar o
individuo e o grupo, portanto a avaliação psicológica será individual e grupal. Na
avaliação individual utilizam-se de testes psicológicos; entrevista e observação
de conduta em treinamento e competição. Na avaliação grupal inventários
adicionais, sociometria e observações da conduta do grupo.

Esta etapa é fundamental para a estruturação do programa de intervenção, os


dados coletados no levantamento de necessidades servirão de base para a
definição das temáticas de trabalho em grupo e também do foco de trabalho
individual. Ressaltamos que o trabalho do profissional da Psicologia deve
sempre estar embasado em um levantamento de necessidades (avaliação
psicodiagnóstica), os atletas apresentam necessidades diferenciadas e
específicas.

Na etapa do Programa de Intervenção, baseado no levantamento de


necessidades avaliação diagnóstica estrutura-se um Cronograma de Execução
para a intervenção psicológica o qual deve estar inserido na periodização do
treinamento (físico-técnico-tático) da equipe/atleta. O Cronograma de Execução
deverá ser apresentado aos dirigentes e à comissão técnica para discussão e
aprovação, esta informação cria uma co-responsabilidade de todo o grupo para
a implantação e execução do mesmo.

Após a aprovação da comissão técnica e dos dirigentes esportivos, inicia-se o


trabalho de acordo com o cronograma. Nesse momento haverá uma
interferência na esfera emocional do atleta, de situações do âmbito esportivo
(família, amigos, namorada etc.), que merecem atenção e orientação por parte
do psicólogo. Também os atletas necessitam de orientação profissional devido a
dificuldade de conciliar atividade profissional com a carreira esportiva.

A intervenção ocorrerá sempre a partir de duas frentes de atuação: sessões de


grupo e sessões individuais. As sessões do grupo mantêm uma periodicidade
semanal buscando promover discussões de temáticas específicas escolhidas no
levantamento de necessidades ou por demanda momentânea como, por
exemplo, relação treinador/atleta e integração de grupo. As sessões individuais
são realizadas esporadicamente de acordo com a necessidade que pode ser
percebida pelo técnico, pelo atleta e pelas observações comportamentais do
psicólogo.

Muitas vezes o psicólogo, durante as sessões, realiza intervenções pedagógicas


visando promover o acesso dos atletas a conceitos psicológicos como ativação,
ansiedade, estresse, atenção, motivação dentre outros, dando suporte para que
os atletas possam entender, utilizar as técnicas e conseguir resolver seus
conflitos emocionais.

A quarta etapa, Avaliação dos Resultados, consiste na leitura dos resultados


do trabalho realizado de forma periódica e constante. Alguns atletas respondem
rapidamente enquanto outros demoram mais tempo. Os dados obtidos nesta
etapa funcionam como feedback para o Cronograma, indicando possíveis
mudanças no processo, assim como fornecem dados para a reestruturação do
programa para trabalhos seguintes. Essa etapa permite que o trabalho de
intervenção seja dinâmico e que atenda as necessidades individuais e grupais.

PRINCIPAIS TESTES PSICOLÓGICOS UTILIZADOS NO ESPORTE

Considerando que a etapa do levantamento de necessidades é essencial para a


estruturação de qualquer programa de intervenção e reconhecendo que além da
observação e da entrevista direta com os sujeitos (atletas) outro meio muito
utilizado e que facilita o feedback são os testes psicométricos. A utilização de
testes é uma ferramenta à disposição do psicólogo que permite avaliar mais de
uma pessoa ao mesmo tempo, por medidas reconhecidas e testadas
cientificamente que permitem o retorno por meio de valores, facilitando a
compreensão e absorção pelo sujeito avaliado.

Dessa forma, a seguir no Quadro 1 apresentamos os principais testes utilizados


na avaliação em psicologia do esporte, alguns oriundos da psicologia e
psiquiatria e outros estruturados especificamente para o esporte.

Psicologia/Psiquiatria Psicologia do esporte


EPI Eysenck- Personalidade SCAT (Martens, 1983) - Ansiedade
IFP - Personalidade CSAI-2- (Martens, 1990) - Ansiedade
IAAB - Agressividade no esporte
MMPI- Personalidade
(Bredemeier, 1985)
Escala de Liderança no esporte
EAT-26 Transtorno alimentar
(Chelladurai, 1996)
BSQ- Imagem corporal (Cooper et al, 1987) QMDA- Motivação(Serpa et al., 2003)
Inventários Beck – Ansiedade/Depressão Ambiente de Grupo (Carron et. al. 1998)
Auto conceito – (Tamayo,1985) POMS - Humor (Peluso, 2003)
ACSI-28 – Estratégias de Coping
SF-36 – Percepção de Saúde
(Serpa,2003)
Motivos para prática do esporte (Gill et al.
Percepção de competência (Harter,1985)
1993)
SMS – Motivação Esportiva (Serpa et al.,
Sociometria
2004)

Quadro 1. Principais testes utilizados na avaliação psicológica no esporte.

Todos os testes citados apresentam fundamentações teóricas e propriedades


psicométricas publicadas e aceitas na literatura internacional e no ambiente
acadêmico. Entretanto, poucos testes específicos da área da Psicologia do
Esporte foram avaliados pelo Conselho Federal de Psicologia regulamentando a
sua utilização profissional.

INTERVENÇÃO EM UMA EQUIPE DE VOLEIBOL DE RENDIMENTO

Contato Inicial

A intervenção foi realizada em duas equipes de voleibol de rendimento


totalizando 36 atletas de ambos os gêneros que faziam parte das equipes
juvenis da cidade. Conforme estabelecido, foi feito o contato inicial com o
técnico da equipe, o qual solicitou o programa de intervenção. Nesta etapa os
psicólogos foram apresentados à equipe, e uma sessão de apresentação foi
iniciada. Esta sessão iniciou-se com a explicação sobre o que consistia o
trabalho da Psicologia no esporte e quais seriam as etapas do trabalho até o
momento da competição para qual estavam se preparando.

Para se preparar um programa de intervenção psicológica no esporte, o


profissional deve atentar para o contexto no qual o objeto de trabalho está
inserido. No caso do esporte o treinamento psicológico faz parte de um
programa de treinamento maior que compreende o treinamento técnico, tático,
físico e o psicológico e como afirma Buceta (1999) é a interrelação entre estes
aspectos do treinamento esportivo que determina a melhor no desempenho do
atleta.

Portanto, para se preparar um programa de intervenção deve-se adequar a


estrutura da intervenção ao programa de treinamento dos atletas. Bompa
(1999) aponta três fases do treinamento esportivo: preparação, competição e
transição. A preparação psicológica deve refletir as necessidades específicas
dos jogadores em cada uma dessas fases (LIDOR, BLUMENSTEIN e
TENENBAUM, 2007).

A fase de preparação tem como principal objetivo proporcionar aos atletas


fundamentos básicos nos aspectos físicos, técnicos, táticos e psicológicos
necessários para a temporada de competições. A fase competitiva visa a
utilização dos aspectos treinados na fase anterior buscando melhorar as
habilidades motoras e psicológicas dos atletas para que possa ser alcançado o
desempenho máximo. Finalmente, na fase de transição o objetivo é permitir o
relaxamento de o descanso psicológico para garantir a manutenção de níveis
aceitáveis de preparação esportiva (BOMPA, 1999).

As equipes em questão estavam na fase de preparação, visando o


desempenho em uma competição específica que era o foco e objetivo do
técnico. Dessa forma, o trabalho de intervenção foi enquadrado na fase de
preparação dos atletas a qual tem como objetivo a melhora das habilidades
motoras e técnicas necessárias para um esporte específico permitindo uma
familiarização com as bases táticas e estratégicas da modalidade (BOMPA,
1999).
Dessa forma, tendo em mente a estruturação do treinamento psicológico dos
atletas de voleibol, nas primeiras sessões que configuravam a etapa do
contato inicial foi-se trabalhado o vínculo dos psicólogos com os atletas e
comissão técnico, trabalhando especificamente a definição dos objetivos do
grupo (curto, médio e longo prazo). Ficou estabelecido também, entre técnico,
comissão e atletas que a competição estadual seria o foco do trabalho daquela
temporada.

Por fim, fez-se o levantamento das características da equipe, obtendo o


conhecimento dos horários de treinamento (treinavam todos os dias no período
da tarde e após o treino faziam trabalho físico em uma academia) e rotinas dos
atletas (escola, casa, treino, academia).

Levantamento de Necessidades

Após o contato inicial passamos então para a etapa do levantamento de


necessidades. Este levantamento foi realizado através de observações,
entrevistas e aplicação de testes psicométricos. As observações eram
realizadas semanalmente, durante dois períodos de treino, no qual os
psicólogos compareciam à sessão de treino e observavam, muitas vezes
trocando informações com o técnico, atletas que nos abordavam nos intervalos
e com a comissão técnica.

As entrevistas foram agendadas com os atletas, sendo realizadas antes do


treino, no próprio ginásio, mas em locais que permitissem a privacidade do
atletas. Ainda, foram entrevistados também o técnico e o preparador físico.

Com relação aos testes psicométricos, foram utilizados: o POMS - Profile of


Mood States (Perfil dos Estados de Humor) de Morgan (1980) validado por
Peluso (2005); o Questionário Ansiedade Traço (SCAT), de Martens (1977),
ambos adaptados por Serpa; e o Questionário de Ambiente de Grupo (QAG),
validado para a língua portuguesa por Costa (2005).
Os testes BRUMS e SCAT foram selecionados para permitir um maior
conhecimento das aspectos emocionais dos atletas (humor e ansiedade-traço)
e para permitir o feedback da importância do trabalho para a comissão técnica
e para os próprios atletas. Os resultados foram devolvidos aos atletas
individualmente e discutidos permitindo a acesso ao conceito de ansiedade,
humor e emoções e em discussão de grupo aberta foi possível tranferir o
conhecimento teórico para situações de jogo na qual os atletas sentiam a
influência das emoções. O QAG foi selecionado para proporcionar a percepção
do ambiente de grupo das equipes e como trabalhar e melhorar este grupo.

No final da etapa do levantamento de necessidades foi elaborado um programa


de trabalho que consistia em abordar 3 grupos de temáticas (integração de equipe,
comunicação, autoconfiança e concentração). A partir dos temas foram selecionadas
dinâmicas de grupo e técnicas para serem utilizadas ao longo do programa de
intervenção. Ficou delimitado ainda que seriam realizadas sessões de aconselhamento
psicológico junto aos atletas de acordo com a demanda dos mesmos ou da equipe,
visando o treinamento mental (monólogo interno) (HALL, 2001), estabelecimento de
objetivos diários (BURTON, NAYLOR e HOLLIDAY, 2001), atenção e concentração
(MORGAN, 2003) e outras demandas individuais (Quadro 1):

META COMO? TÉCNICA


- Dinâmica de apresentação dos
sujeitos.
Dinâmica de grupo

Melhorar a integração: - Dinâmica das qualidades.

atleta x atleta e atleta


- Dinâmica da Caneta X a Garrafa.
x treinador Aconselhamento
psicológico - Dinâmica: O Instinto de Competição.

- Atendimento Individual.
Comunicação Aconselhamento - Dinâmica: Sobre Feedback.
psicológico
- Dinâmica: “Como eu sou”

Dinâmica de grupo - Dinâmica: “Como ele (a) é”

- Atendimento Individual e com o


Técnico.
Aconselhamento - Atleta Nota 10
psicológico
- Dinâmica: “Como eu sou”

Autoconfiança e Técnicas
- Monólogo interno
concentração Cognitivas

- Dinâmica: Qualidade do outro


Dinâmica de grupo

- Atendimento Individual

Quadro 1: Atividades desenvolvidas na intervenção

Optou-se por dar ênfase às sessões de grupo porque na fase de preparação a


maior parte do treinamento é voltada para a preparação física e técnica,
especificamente com sessões de treinamento de força, condicionamento
aeróbico e repetições técnicas (BOMPA, 1999), fatores que influenciam na
percepção de estresse e motivação dos atletas. Assim, pretendia-se fortalecer
o grupo favorecendo o apoio social entre os atletas, e utilizando o grupo como
uma da estratégia de coping (CARRON, 1998).

Os temas abordados pelo levantamento de necessidades visavam a


preparação psicológica dos atletas, para que conseguissem lidar efetivamente
com as barreiras emocionais e psíquicas que encontrariam na fase competitiva,
como ansiedade, medo de errar, baixa auto-confiança (BLUMENSTEIN et al.,
2005).

Programa de Intervenção e Avaliação dos Resultados


O programa de intervenção foi programado para seis meses, período no qual
fariam a preparação para a competição estadual. O trabalho foi dividido em
sessões grupais e sessões individuais, a primeira com freqüência semanal
após o treinamento no próprio local e a segunda sendo realizada
quinzenalmente, ou de acordo com a demanda dos atletas.

O Quadro 2 apresenta as atividades desenvolvidas nas equipes, de acordo


com o tema levantado no e ainda trechos das falas dos atletas e do técnico na
avaliação do programa, a qual era realizada periodicamente. Os temas
abordados foram: comunicação (feedback), integração de grupo, autoconfiança
e concentração.

Psicodiagnóstico
Diagnóstico Intervenção Avaliação
Testes
Masculino Feminino
“Melhoramos a integração e conseguimos
discutir assuntos do grupo mais
Melhorar a abertamente.” (Atleta Feminino)
Alto índice
integração
de coesão
da equipe. “O Monólogo Interno é muito bom, pois
de grupo,
durante o último jogo estava errando um
porém com
Promover o lance, comecei a mudar o pensamento
necessidad
canal de dele, conforme a técnica e não errei mais.”
e de
POMS comunicaçã Técnicas de (Atleta Masculino e Feminino)
melhora na
o entre os Grupo
comunicaçã
EPI atletas e “Não sabia que as meninas me viam
o e auto-
também Aconselhame dessa forma, com essas qualidades. Foi
conhecimen
QAG entre os nto muito bom saber disso.” (Atleta Feminino)
to entre as
atletas e o Psicológico
atletas e o
SCAT técnico. “Espero que o trabalho continue no ano
técnico.
Técnicas que vem, pois a equipe melhorou muito
Entrevistas Auxiliar no Cognitivas com o trabalho psicológico.” (Atleta
Melhorar a
manejo da Masculino e Feminino)
autoconfian
autoconfian
ça e a
ça e a “Aprovei o trabalho, e achei muito
concentraçã
concentraçã produtivo, principalmente quando vi a
o das
o dos equipe feminina se reunir para discutir
atletas.
atletas. sobre um acontecimento sem que eu
mencionasse o assunto, isso não
aconteceria antes.” (Técnico)

Quadro 2: Etapas do Trabalho de Intervenção em Equipes e Voleibol.


Para o trabalho de integração de grupo, que de acordo com Carron (1998)
influencia diretamente na sua coesão, sendo esta definida como o vínculo que
contribui para os atletas serem formados em um grupo forte e efetivo tornando
o grupo firme, integrado e unido, foram realizadas dinâmicas de grupo, que
promoviam atividades coletivas e a formação de laços afetivos entre os atletas.

Para a comunicação procurou-se trabalhar os papéis da equipe e assim


estimular o feedback e abriar canais de comunicação entre os mesmos
(MINICUCCI, 2002). Com relação à autoconfiança procurou-se promover o
auto-conhecimento, através de auto-reflexão e focando as qualidades do
individuo percebidas pelos membros da equipe. Já no caso da concentração
utilizou-se a técnica do Monólogo Interno a qual foi bem recebida pelos atletas,
técnica composta de uma conversa interna do praticante consigo mesmo, com
o objetivo de bloquear ou modificar pensamentos e os conseqüentes estados
emocionais que os acompanham. Com isso o praticante procura mudar o
diálogo interior negativo para diálogo interior positivo (HARRIS e HARRIS,
1987).

Ainda, segundo Lidor, Blumenstein e Tenenbaum (2007) o objetivo principal do


treinamento psicológico, na fase de preparação, é auxiliar os atletas a lidar de
maneira eficaz com as cargas físicas às quais são expostos. Como forma de
trabalhar a concentração e motivação com os treinamentos foi utilizado as
estratégia dos objetivos, visando estabelecer objetivos diários de treinamento.

A partir de uma avaliação realizada com os atletas e com o treinador das


equipes foi possível identificar as mudanças ocorridas em ambas as equipes,
tais como um episódio em que as atletas da equipe feminina demonstraram
autonomia e integração quando se reuniram para discutir as desavenças frente
a um problema, que por ventura estavam ocorrendo entre elas, sem a
necessidade de uma indicação do técnico, e até mesmo o relato dos próprios
atletas da equipe masculina a respeito da coesão do grupo, visto que eles
pouco conheciam uns aos outros, já que alguns haviam ingressado na equipe
no ano em que foi realizado o trabalho de intervenção sem contato prévio com
os demais, e durante as dinâmicas foi possível obter um auto-conhecimento e
maior integração entre eles, tanto no âmbito esportivo quanto no âmbito social.

A concentração dos atletas durante as partidas foi outro ponto que, segundo os
atletas, melhorou, além de que a confiança em realizar uma jogada bem
sucedida também aumentava quando se pensava positivamente a respeito da
mesma, visto que segundo Stefanello (2007) o monólogo interno possibilita
melhora na concentração e tomada de decisão, bloqueio de pensamentos
negativos, aumento de pensamentos positivos e da confiança, modulação da
ativação psicofísica e melhora da motivação. Esse dado pode ser observado
através da fala de um atleta da equipe masculina que afirmou: “a concentração
em uma partida era importantíssima e que o monólogo interno funcionava, pois
os erros que cometi em algumas partidas ocorreram em momentos em que não
estava “ligado” na partida, ao contrário de quando pensava positivamente a
respeito de determinada jogada e ficava “ligado”.

Com relação ao aconselhamento psicológico as sessões foram realizadas após


o treino, conforme a demanda do atleta ou da equipe, de forma individual e
coletiva. Os principais temas abordados foram: problemas de comportamentos
de alguns atletas, tanto da equipe masculina quanto da equipe feminina fora do
contexto esportivo, relação entre técnico e atletas; e problemas de cunho
familiar.

Conclusão (TEM QUE MUDAR)

A partir da avaliação final realizada tanto com os atletas quanto com o treinador
das equipes foi possível perceber que o trabalho de intervenção foi
considerado positivo pelas equipes e pelo treinador. Durante essa avaliação
final muito foi apontado sobre a melhora na integração e no ambiente de grupo,
assim como a facilidade de comunicação estabelecida na equipe feminina. A
técnica de monologo interno apresentada aos atletas teve êxito durante as
competições, apesar de não ter sido possível a realização de um trabalho mais
aprofundado com relação à auto-confiança devido ao tempo limitado de
intervenção.Os dados mostram indícios na prática de como o trabalho a
psicologia no esporte influencia no rendimento e desempenho dos atletas.
Dessa forma, ressalta-se a relevância de um trabalho completo de intervenção
junto à equipes esportivas, com o intuito de ajudar no desempenho motor e
qualidade de vida dos atletas e consequentemente no desempenho esportivo.
Propõe-se um novo trabalho a ser realizado com esses atletas de vôlei,
conforme indicado pelos próprios atletas na avaliação final, com o intuito de dar
continuidade ao trabalho e investigar com mais afinco a influência da Psicologia
no esporte de rendimento.

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