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INTRODUÇÃO
3. CONTEXTO HISTÓRICO
Para falar sobre o contexto histórico da psicologia do esporte se fará uso de duas
fontes primordialmente a parte I do livro Fundamentos da psicologia do esporte e do
exercício, e o primeiro capítulo do livro Psicologia do Esporte: Teoria aplicação.
Inicialmente tem-se que referências sobre a psicologia do esporte podem chegar até a
Grécia Antiga, entretanto a psicologia do esporte moderna enquanto uma área científica se
inicia em 1880, e os principais trabalhos mais científicos na metade de 1895. Trabalhos
isolados começam a ser realizados nos EUA, Rússia-URSS, Alemanha e Japão, essa história
pode ser dividida em seis períodos históricos.
O primeiro período pode ser chamado de período experimental é quando ocorrem os
primeiros passos com trabalhos isolados em lugares específicos, período que vai de 1895-
1920.
Segundo período é o de criação e desenvolvimento de laboratórios e de testes
psicológicos esse período vai de 1921-1938
Terceiro período (1939-1965) é quando são lançadas as bases e os fundamentos da
psicologia do esporte, quando seu futuro é pensado e preparado é quando ocorre o 1º
Congresso mundial sobre o tema 1965, Roma. Quando as bases científicas são estabelecidas.
O quarto período (1966-1977) é quando a psicologia do esporte passa a ser uma
disciplina da ciência do esporte/Ed. Física, um foco no aprendizado das habilidades motoras,
no feedback oportuno para atletas. É também o período em que psicólogos começam a
trabalhar em clubes e com atletas de maneira mais intensa.
O quinto período (1978-2000) é quando ocorre uma grande expansão da área, e ela
passa a gozar de mais prestígio por parte da opinião pública, principalmente nos países
desenvolvidos e que o esporte é parte integrante da cultura e o foco passa a maior em questões
aplicadas. São enfrentadas grandes questões para que ela se torne uma área: Definição de
padrões de qualidade para a formação, padrões éticos para atuação, licenciamento. É o
período também em que a área passa a ser considerada um emprego de tempo integral. A TV
americana cobre com grande ênfase a questão na Olimpíada de 1984, e o comitê olímpico
americano passa a contar com um profissional da área como funcionário permanente.
E por fim o período contemporâneo da psicologia do esporte, em que o campo passa a
ser crescente e vibrante, passa a se ter patrocínios externos de clubes e empresas para a
pesquisas na área. O foco passa a ser na questão do bem-estar do atleta, pois gera a redução
nos custos e tempo de tratamento/recuperação. Passa a se ter um interesse crescente sobre a
melhor maneira de preparar e educar os alunos. Em 2013 ocorre na China uma conferência
com 700 profissionais da área de mais de 70 países.
Agora para falar um pouco sobre a psicologia do esporte no Brasil tem-se que os
fundadores trabalharam no período histórico da fundação (3º), João Carvalhaes e Athayde
Ribeiro da Silva são nomes a se citar ambos trabalharam com a seleção brasileira, João em
1958 e Athayde em 62-63, grande nível da seleção na época 3 copas, João Também trabalhou
no SPFC. O campo surge muito no futebol inicialmente, já que é o maior esporte do país.
Após esse período há um hiato que se encerra na década de 80 quando profissionais começam
a atuar em diversos clubes e diversas modalidades e no início da década de 90 começam as
primeiras experiências multidisciplinares da área. Entretanto a área não goza de tanto
prestígio pela sociedade, assim como os esportes em geral tirando os principais, entretanto nos
que se tem mais prestígio da sociedade, tem-se que muitos treinadores acreditam que possam
substituir o psicólogo ou que até mesmo saberiam mais do que eles. A área não é muito
grande comparada a psicologia em geral, há poucos autores e profissionais, mas é uma área
em crescimento.
4. PROCESSO DE FORMAÇÃO
Para que alguém possa trabalhar com Psicologia Esportiva, deve ter, para além da
formação em Psicologia (e o CRP ativo), a pós graduação no curso de especialização na área.
Esta especialização dura entre 1 a 2 anos, dependendo do conteúdo e carga horária do curso.
Diante da diversidade de atuações é de se esperar que o profissional que atua em
Psicologia do Esporte tenha também uma diversidade de formação. Além do conhecimento
específico trazido da Psicologia como o uso de instrumentos de diagnóstico e modelos de
intervenção, espera-se e exige-se que o profissional tenha um vasto conhecimento das
questões que permeiam o universo do atleta, individualmente, como noções de anátomo-
fisiologia e biomecânica, e específicas do esporte, como as modalidades esportivas e regras,
bem como dinâmica de grupos esportivos.
Com vista nisso, a especialização em psicologia do esporte envolve a atribuição de
disciplinas relacionadas à Cognição e Desempenho, Bases do Treinamento Desportivo,
Clínica do Exercício, Ansiedade e Estresse no ambiente esportivo, mecanismos de motivação,
Lesão e Reabilitação, Medidas e Avaliação no contexto esportivo, Estratégias de Intervenção
e etc.
Esse corpo de conhecimento se faz necessário na medida em que se atua com
indivíduos e/ou grupos que têm sua dinâmica limitada pelo contexto vivido, ou seja, os
treinamentos, as competições e a interação com um meio restritivo com períodos de
isolamento e concentração ou alojamentos conjuntos.
-Você falou um pouco do mercado de trabalho e o que mais você pode falar sobre vagas,
faixa salarial, o ambiente. Sei que você já acabou comentando um pouco sobre isso, mas
se puder especificar um pouco mais.
Paulo: Eu adoro, vivo só da psicologia esportiva hoje. Assim gente, se for ver salário,
é um salário pequeno, um salário mínimo, um salário mínimo e meio tem lugares que é um
pouquinho melhor e paga três salários mínimos, então beleza a gente fica feliz e se eu vejo um
colega meu feliz eu fico feliz, mas pra mim não, eu não fico feliz, acho que como psicólogo
tínhamos que ganhar muito mais, depende muito dos profissionais, temos que ter nossa
autonomia, saber qual é o nosso trabalho e o quanto queremos ganhar também, sempre falo
muito para valorizarmos nosso trabalho porque se a gente não fizer isso ninguém vai fazer. É
importante se valorizar, entender que as vezes você vai perder umas oportunidades, mas
outras virão. Mas o contexto é ótimo, está abrindo, está ampliando, então tem muita coisa
crescendo, mas existem propostas boas e propostas indecentes, temos sempre que tomar
cuidado pra não entrar em uma fria, em um lugar que não tem estrutura ou para um lugar que
só vai te gerar publicidade negativa, desdenhar do seu trabalho, achar que ele não serve para
nada. Tem muitas pessoas que querem dizer como devemos trabalhar e nós temos que falar
‘’aqui quem sabe sou eu’’.
-Então tem uma questão com os treinadores das equipes que às vezes querem participar
muito, eles acham que tem conhecimentos. É isso?
Paulo: Sim, bastante. Eu tive uma situação dessa no futebol paranaense, durante o
campeonato paranaense onde eu tinha uma equipe de preparação física, toda equipe de
fisioterapia, todos muito legais, mas o técnico era complicado, e o técnico era o ‘’psicólogo’’
do time, então ele tinha uma concorrência que não precisava, um medo, um receio, uma
insegurança que atrapalhou demais e até me fez pegar desgosto pelo futebol, porque o futebol
consome a gente, nós temos que estar correndo com o time, é jogo toda hora, então a logística
para quem atende em consultório fica péssima, então até me fez bater o martelo e dizer
‘’chega de futebol, tralhar in loco como contratado nunca mais, agora só como eu faço agora
que é treinamento, palestras, coisas assim, mas ficar ali constantemente isso não.
-Uma dúvida: Você acha que a questão salarial depende da modalidade que o psicólogo
está atuando ou você acha que não tem relação?
Paulo: Olha, eu já trabalhei em ONG onde precisava de psicólogo esportivo, trabalhei
em Pinhais em um projeto social que me pagava o mesmo que um time de futebol me pagava
que ganhava muito dinheiro, então assim, não está proporcionalmente, não existe proporção o
que existe é o quanto estão valorizando a profissão. Então tem alguns lugares que não tem
verbas, mas fazem seus sacrifícios para darem um ‘'valorzinho’’ pra gente porque sabem que
é importante, tem outros que a gente sabe que é cheio da grana, mas não faz o mesmo. O
salário está relacionado a cultura de um esporte, o quanto se valoriza ou não.
-Como o doutor enxerga esse campo de atuação em alguns anos, tipo em 10 anos?
Paulo: É uma coisa difícil de ser respondida, quando eu entrei na psicologia do esporte
a perspectiva era muito boa, estava crescendo, ficando forte, mas tivemos casos de algumas
profissionais que fizeram umas besteiras principalmente ali no eixo Rio-São Paulo e isso
fragilizou muito a imagem, teve um retrocesso, eu imaginei que hoje estaríamos muito
melhor, mas acabamos decaindo. Nos últimos três anos voltamos novamente a ter uma
ascensão, lenta e devagar. Então vou te dizer que não sei, não dá pra saber, depende muito dos
profissionais que estão sendo formados, dá forma como vai atuar, dá ética que vai ter. Então
hoje está caminhando por um bom caminho, acredito que se continuar da forma que está a
tendência é que daqui 10 anos vai estar gigantesca o reconhecimento da psicologia esportiva
porque não é só uma questão brasileira, mas mundial. Lá fora ela já era muito mais
reconhecida há muito mais tempo que no Brasil, mas lá fora está crescendo muito e o Brasil
está indo um pouco na onda, mas muito atrasado. Eu tenho que ser otimista, na perspectiva
que vai ser bem melhor, assim espero, depois que passamos por um certo ciclo, estou há 18
anos na psicologia esportiva começa a perceber que não é bem assim a história, então vamos
esperar um pouquinho pra ver melhor, ano a ano a gente vai se adaptando as situações, mas se
tudo caminhar bem, vai ser melhor, com mais lugares reconhecendo esses profissionais, assim
espero e trabalho pra isso. Inclusive assumi agora a presidência da Associação de psicologia
do esporte do Paraná justamente para tentar auxiliar a organizar a área aqui dentro do Estado
que está muito solta, não existe um órgão interno que ajude os profissionais a crescerem, os
próximos dois anos serão só de estruturação pra ver se daqui a pouco conseguimos realmente
estar ajudando os profissionais.
-Como você enquanto psicólogo graduado enxerga a melhora do desempenho dos atletas
que se submetem aos seus serviços?
Paulo: Fazemos uma análise bem simples, primeiro eu vejo qual o nível da pessoa, o
que ela quer e o que ela pode, as vezes eu converso com o próprio atleta, com a comissão
técnica e vejo se ele realmente pode fazer aquilo, e através disso trabalho a melhora da
performance, indo através desse ‘’gráfico virtual’’, ter uma percepção se está tendo uma
melhora da performance ou não, tem casos de atletas que chegam querendo evoluir mais, mas
o técnico já acha que ele está muito bem, então temos que trabalhar a percepção, aceitar que é
assim a realidade para aqueles que querem mais e não conseguem chegar. É muito
personalizado, depende de cada caso, mas geralmente usamos um parâmetro externo para
conseguir ter uma ideia se aquela percepção do atleta é real ou não e se o que ele deseja é
possível, somente com essa base sólida consigo iniciar meu trabalho de avaliação e
intervenção para atingir os objetivos.
-Voltando ali para o que você falou sobre o processo de formação, como você pode
descrever as diferenças entre a graduação em psicologia e a pós-graduação em
psicologia do esporte?
Paulo: É entender que o esporte não é saúde, esporte é alta performance desgaste do
corpo e da mente, você tem que entender que não irá fazer uma terapia com seu atleta, porque
a melhor coisa pro atleta é sair do esporte de alta performance, é desgaste, frustrante, pra quê
isso na vida? Mas a pessoa quer se tornar um vencedor, ganhar troféu, ganhar recordes, ir para
um evento tal, ganhar dinheiro. Então a primeira coisa é saímos de uma percepção de clínica,
da psicologia tradicional para uma especialização em psicologia esportiva, onde há um
desgaste e dor, então trabalhamos muito em como lidar com isso, porque o atleta não vai
parar, vai ter que continuar. Por isso a especialização é tão importante, para que a pessoa
entenda essa diferenciação e consiga fazer um trabalho adequado. As vezes a pessoa vai para
essa área somente com a faculdade de psicologia e por mais que tenha as melhores intenções,
não consegue ficar porque é algo incompatível, a psicologia do esporte é diferente assim
como qualquer área dentro do esporte, fisioterapia, medicina que depois você tem que se
especializar na área. Trabalhar alta performance, trazer um equilíbrio na vida da pessoa
individual e esportiva atingindo o máximo potencial dela dentro do esporte, mas a visão é
diferente, a gente prioriza o bem-estar aliado a meta da alta performance e não só o bem-estar
e a saúde física em primeiro lugar porque se formos para esse lado, vamos acabar falando para
o atleta sair daquilo porque está o desgastando demais.
-Tem mais alguma coisa que você ache interessante nos falar sobre a área de atuação?
Paulo: Eu acho que se vocês gostam, estão entrando agora na psicologia sentindo
como é a área, explorem e conheçam cada vez mais, estudem já façam estágio. No meu site a
psiccom já tem curso lá que é de introdução, de vários cursos para essa área, é bem bacana.
Um curso rápido de fazer, totalmente online, tem artigos, fala sobre o histórico da profissão,
áreas de atuação. E ir buscando outros lugares por fora, onde você possa estudar, estagiar, se
aperfeiçoar. O que eu recomendo é ir atrás, não ficar esperando o final da faculdade para ai
despertar o interesse, porque ai será muito mais difícil, tem muito mais coisas da faculdade
pra fazer e de repente vai ser difícil encaixar pra fazer, até porque os estágios geralmente não
são curriculares, só algumas instituições, por exemplo a Uniandrade que tem um estágio no
último ano para a psicologia esportiva, é mais organizado, mas a maior parte é mais
desorganizado, meio jogado, então busquem, procurem e ai se desenvolva. O mais legal é
saber que tem 10 semestres pra fazer uma escolha, mas eu não deixaria pra depois, faria uns
meses de estágio em alguma área para ter noção de como é, isso no mínimo vai agregar muito
a carreira de vocês em qualquer área que seja. Se deixarem pro último ano ou depois de
formado ai é muito mais difícil a colocação profissional, então é bom que vocês já estão no
início, dá pra aproveitar. Estudem, sejam bem curiosos. Me sigam no instagram, toda terça eu
faço live, as vezes trago um especialista, é bem bacana, tem alguns eventos gratuitos que eu
faço, alguns cursos que eu tenho são bem acessíveis também, tem muito artigo, coluna, eu sou
colunista.
-Tá bom então, muito obrigada pela entrevista, foi extremamente esclarecedora e eu já
ganhei muito interesse por essa área só pela entrevista, e com certeza eu vou procurar
suas redes sociais. Qual é o seu instagram mesmo?
Paulo: é psicologodoesporte.paulopenha, quando vocês forem fazer a apresentação,
podem falar meu nome e inclusive eu até agradeceria se passar algum contato meu porque é
assim que conseguimos mais trabalhos, até porque hoje a maior parte dos atendimentos que eu
faço é no ‘’boca a boca’’, atletas e ex-atletas, parentes que sabem do meu trabalho e me
indicam para outros atletas. Valeu!
9. Conclusão
Dessa forma, nota-se que a psicologia do esporte é uma área de extrema importância
para a sociedade e vai além do senso comum que a relaciona somente com esportes de alto
rendimento, ela mostra-se como uma importante aliada em vários âmbitos, como na
reabilitação de indivíduos com problemas de saúde. No entanto, assim como a psicologia em
aspecto geral, ela ainda luta por mais reconhecimento e salários mais dignos, já que não há
um teto salarial para a categoria. Pode-se notar também que o futuro para a área é próspero
como citado pelo nosso entrevistado Paulo Penha, novos profissionais estão surgindo e
levando o nome da psicologia por diversas áreas.
Referências Bibliográficas
PENHA, Paulo. Psicologia do Esporte. Entrevista concedida aos autores deste trabalho
por meio da plataforma Meet. Disponível em:
<https://drive.google.com/file/d/1mdJ9P0iYDxNxrmGeWvanDDh0RrAkIcU6/view>Acesso
em: 16 dez. 2021.