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TREINAMENTO DESPORTIVO PSICOLOGIA DO ESPORTE

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 3

2. OS PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO: CONCEITOS,

DEFINIÇÕES, POSSÍVEIS APLICAÇÕES E NOVOS OLHARES ................... 5

3. AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO ........................................................ 17

4. CONTROLE DO TREINAMENTO......................................................... 21

4.1 O Treinamento Esportivo ............................................................... 25


4.2 Relações entre Aptidão Física, Esporte e Treinamento Desportivo
............................................................................................................ 27
5. MODELOS DE ORGANIZAÇÃO DA CARGA DE TREINAMENTO ...... 29

6. DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES MOTORAS .................... 32

7. O que é a Psicologia do Esporte?......................................................... 38

8. REFERÊNCIAS .................................................................................... 42

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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1. INTRODUÇÃO

O treinamento físico é uma importante área de atuação profissional da Educação


Física e do Esporte. Ela tem por objetivo precípuo, a melhoria do desempenho físico-
esportivo através da aplicação de um processo organizado e sistemático composto
por exercícios físicos. Nos últimos anos, os progressos tecnológicos e nos métodos
de investigação científica nas diferentes subáreas relacionadas ao treinamento físico
trouxeram um avanço significativo na obtenção deste objetivo. O entendimento do
termo treinamento é, sem dúvida, bastante amplo, tendo sido empregado nas mais
variadas áreas científicas e profissionais. Treinamento é caracterizado como um
processo repetitivo e sistemático composto de exercícios progressivos que visam o
aperfeiçoamento do desempenho. Neste sentido, o treinamento físico pode ser
compreendido como um processo organizado e sistemático de aperfeiçoamento
físico, nos seus aspectos morfológicos e funcionais, impactando diretamente sobre a
capacidade de execução de tarefas que envolvam demandas motoras, sejam elas
esportivas ou não.

As origens das bases teóricas do treinamento físico não são recentes. Grandes
pensadores da antiguidade já propunham teorias acerca do treinamento em seus
trabalhos. Galeno de Pérgamo (século segundo d.C.) já ensaiava sobre conceitos que
se assemelham ao que se entende atualmente por periodização. No seu tratado
"Preservação da Saúde", ele discorre sobre sequências de treinamento para o
desenvolvimento específico da força rápida, passando pelo uso de exercícios que
priorizavam a força em detrimento da velocidade, culminando com o uso de exercícios
intensos que combinavam as duas capacidades motoras. Já Filóstrato, o Atenienese,
propunha também no século segundo d.C., um período preparatório para as
competições Olímpicas, inclusive com a sugestão de um período destinado à
preparação específica em um centro de treinamento um mês antes da competição.

Embora os exemplos acima ilustrem uma preocupação já bastante antiga com o


treinamento físico voltado para o desempenho, não foi até poucas décadas atrás que
a ciência do esporte realmente experimentou um avanço significativo no seu corpo de
conhecimento. A ciência do esporte pode ser entendida como uma área
multidisciplinar preocupada com a compreensão e aperfeiçoamento do desempenho

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físico-esportivo humano. Ainda segundo o autor, a ciência do esporte pode ser vista
como o processo científico usado para guiar a prática esportiva e, em última análise,
melhorar o desempenho físico. Neste sentido, a ciência do esporte tem cada vez mais
contribuído para o aperfeiçoamento dos programas de treinamento físico-esportivo,
através principalmente de um aumento na qualidade do treinamento proposto.

Assim, pode-se didaticamente dividir os estudos relacionados ao treinamento físico-


esportivo em quatro grandes áreas:

1) avaliação do treinamento;

2) controle do treinamento;

3) modelos de organização da carga de treinamento

4) desenvolvimento das capacidades motoras.

Entender a importância de cada uma dessas áreas para a maximização do


rendimento físico-esportivo é fundamental para o profissional, pois as exigências do
esporte moderno tanto em relação às cargas de treinamento, quanto ao número de
competições por temporada, fazem com que os atletas estejam mais predispostos a
lesões e estados de sobre treinamento, nos quais o rendimento esportivo é
negativamente afetado.

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2. OS PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO: CONCEITOS,
DEFINIÇÕES, POSSÍVEIS APLICAÇÕES E NOVOS OLHARES

Para Tubino os cinco princípios do Treinamento Esportivo são: O Princípio da


Individualidade Biológica, O Princípio da Adaptação, O Princípio da Sobrecarga, O
Princípio da Continuidade, O Princípio da Interdependência Volume-Intensidade.
Segundo Tubino: “Antes de passar ao estudo de cada princípio, é importante enfatizar
que os 5 princípios se inter-relacionam em todas as suas aplicações. ” Estélio Dantas
atualizando o elenco dos cinco princípios preconizados por Tubino, incluiu mais um:
O Princípio da Especificidade, que será visto após a abordagem dos cinco primeiros.
Após estes seis primeiros princípios será visto mais dois princípios levantados por
Marcelo Gomes da Costa: O Princípio da Variabilidade e O Princípio da Saúde,
totalizando oito princípios. Ao final trataremos da inter-relação entre os Princípios.

1. O Princípio da Individualidade Biológica

De acordo com Tubino, “chama-se individualidade biológica o fenômeno que


explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz que com que
não existam pessoas iguais entre si. ” Cada ser humano possui uma estrutura e
formação física e psíquica própria, neste sentido, o treinamento individual tem
melhores resultados, pois obedeceria as características e necessidades do indivíduo.
Grupos homogêneos também facilitam o treinamento desportivo. Cabe ao treinador
verificar as potencialidades, necessidades e fraquezas de seu atleta para o
treinamento ter um real desenvolvimento. Há vários meios para isso, além da
experiência do treinador, que conta muito, os testes específicos são primordiais.

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Segundo Benda & Greco, uma das Capacidades do Rendimento Esportivo é a
Capacidade Biotipológica, que está dividida em Capacidade constitucional Fenótipo e
Capacidade constitucional Genótipo:

“O genótipo é o responsável pelo potencial do atleta. Isso inclui fatores como


composição corporal, biótipo, altura máxima esperada, força máxima possível e
percentual de fibras musculares dos diferentes tipos, dentre outros. O fenótipo é
responsável pelo potencial ou pela evolução das capacidades envolvidas no genótipo.
Neste se inclui tanto o desenvolvimento da capacidade de adaptação ao esforço e
das habilidades esportivas como também a extensão da capacidade de aprendizagem
do indivíduo. ”

O indivíduo deverá ser sempre considerado como a junção do genótipo e do


fenótipo, dando origem ao somatório das especificidades que o caracterizarão. Deve-
se entender o genótipo como a carga genética transmitida à pessoa e que determinará
preponderantemente diversos fatores e os potenciais são determinados
geneticamente, e que as capacidades ou habilidades expressas são decorrentes do
fenótipo. “O campeão seria aquele que nasceu com um “dom da natureza” e que,
aproveitando totalmente esse dom, o desenvolve através de um perfeito treinamento”.

Nos Jogos PanAmericanos de 2007 em entrevistas de atletas brasileiros


considerados fenômenos pela mídia, foi registrado um discurso que os bons
resultados obtidos não eram frutos somente de um Dom, e sim de muito esforço,
trabalho, treinamento, incentivos financeiros e técnicos. Elevando a importância dos
fatores ambientais, do fenótipo do atleta, consequentemente, elevamos a importância
do treinador, do profissional de Educação Física e sua intervenção para o sucesso do
atleta, de um campeão. Não cabe aqui discutir fatos históricos ligados às tentativas
de manipulações das características genéticas, do genótipo de atletas, através,
principalmente, dos ideais da Eugenia no decorrer do século XX. Mas sempre irá
caber em qualquer lugar o alerta em relação às tentativas de manipulação e violação
do corpo, da integridade e dos direitos de todo o homem.

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2. O Princípio da Adaptação

Pode-se dizer que a adaptação é um dos princípios da natureza. Não fosse a


capacidade de adaptação, que se mostra de diferentes modos e intensidades, várias
espécies de vida não teriam sobrevivido ou conseguido sobreviver por longos tempos
e em diferentes ambientes. O próprio homem conseguiu prevalecer no planeta, como
espécie, devido à sua capacidade de adaptação. De acordo com Weineck, a
adaptação é a lei mais universal e importante da vida. Adaptações biológicas
apresentam-se como mudanças funcionais e estruturais em quase todos os sistemas.
Sob “adaptações biológicas no esporte”, entendem-se as alterações dos órgãos e
sistemas funcionais, que aparecem em decorrência das atividades psicofísicas e
esportivas:

“Na biologia, compreende-se “adaptação” fundamentalmente como uma


reorganização orgânica e funcional do organismo, frente a exigências internas e
externas; adaptação é a reflexão orgânica, adoção interna de exigências. Ela ocorre
regularmente e está dirigida à melhor realização das sobrecargas que induz. Ela
representa a condição interna de uma capacidade melhorada de funcionamento e é
existente em todos os níveis hierárquicos do corpo. Adaptação e capacidade de
adaptação pertencem à evolução e são uma característica importante da vida.
Adaptações são reversíveis e precisam constantemente ser revalidadas (Israel 1983,
141). ”

Weineck diz que, no esporte, devido aos múltiplos fatores de influência, raramente
o genótipo é completamente transformado em fenótipo, mesmo com o treinamento
mais duro. Para este autor, fases de maior adaptabilidade, encontram-se em
diferentes períodos para os fatores de desempenho de coordenação e condicionados,
são designadas “fases sensitivas”. A zona limite destas fases sensitivas, isto é, o
período em que justamente ainda é possível uma melhor expressão das
características, geralmente é chamada de “período crítico”.

“Capacidade de adaptação” ou “adaptabilidade” é o nome que se dá à diferente


assimilação dos estímulos, frente à mesma qualidade e quantidade de exercícios ou
carga de treinamento. Ela pode ser atribuída à correlação organismo/ambiente, sob o
ponto de vista da predisposição hereditária e sua expressão (genética). Este princípio

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do Treinamento Esportivo está intimamente ligado ao fenômeno do stress. As
investigações sobre o stress tiveram início em 1920 com Cânon e Hussay, tendo uma
grande ênfase no período entre 1950 e 1970, onde praticamente surgiu uma literatura
científica básica sobre este fenômeno. Segundo Tubino:

“Definindo-se Homeostase, de acordo com CANNON, como o equilíbrio estável


do organismo humano em relação ao meio ambiente, e sabendo-se que está
estabilidade modifica-se por qualquer alteração ambiental, isto é, para cada estímulo
há uma resposta, e, ainda, entendendo-se por estímulos o calor, os exercícios físicos,
as emoções, as infecções, etc., conclui-se, com base num grande número de
experiências e observações de diversos autores, que em relação ao organismo
humano:

 Estímulos débeis => não acarretam consequências;


 Estímulos médios => apenas excitam;
 Estímulos médios para fortes => provocam adaptações;
 Estímulos muito fortes => causam danos. ”.

Segundo Dantas, o conceito de Homeostase, que é necessário para compreender


este princípio, é: “Homeostase é o estado de equilíbrio instável mantido entre os
sistemas constitutivos do organismo vivo, e o existente entre este e o meio ambiente”.
Para este autor, a homeostase pode ser rompida por fatores internos, geralmente
oriundos do córtex cerebral, ou externos, como: calor, frio, situações inusitadas,
provocando emoções e, variação da pressão, esforço físico, traumatismo, etc. Dantas
diz que, sempre que a homeostase é perturbada, o organismo dispara um mecanismo
compensatório que procura restabelecer o equilíbrio, quer dizer, todo estímulo
provoca reação no organismo acarretando uma resposta adequada. Neste sentido, o
organismo, buscando o equilíbrio constante, estaria sempre em um estado constante
de equilibração.

Tubino pensa que, quando o organismo é estimulado, imediatamente aparecem


mecanismos de compensação para responder a um aumento de necessidades
fisiológicas. Assim, constata-se que existe uma relação entre a adaptação de
estímulos de treinamento e o fenômeno de stress, o que é explicado pelo princípio
científico da adaptação. A definição dada ao stress por Tubino é a seguinte:

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“Stress ou Síndrome de Adaptação Geral (SAG), segundo SELYE (1956) é a
reação do organismo aos estímulos que provocam adaptações ou danos ao mesmo,
sendo que esses estímulos são denominados agentes stressores ou stressantes.”

A síndrome de adaptação geral (SAG) é dividida em três fases, até que o agente
stressante na sua ação atinja o limite da capacidade fisiológica de compensação do
organismo:

1ª Fase: Reação de alarme;

2ª Fase: Fase da resistência (adaptação);

3ª Fase: Fase da exaustão.

Para este autor, na fase de reação de alarme, os mecanismos auxiliares são


mobilizados para manter ávida, a fim de que a reação não se dissemine. É
caracterizada pelo desconforto, e está dividida em duas
partes choque e contrachoque:

“Sendo o choque a resposta inicial do organismo a estímulos aos quais não está
adaptado, provocando a diminuição da pressão sanguínea, enquanto
o contrachoque ocasiona uma inversão de situação, isto é, ocorre um aumento da
pressão sanguínea. ”

A fase da resistência é a fase da adaptação, a qual é obtida pelo desenvolvimento


adequado dos canais específicos de defesa, sendo esta etapa caracterizada pela dor
e pela ação do organismo resistindo ao agente estressante inicial, sendo a fase que
realmente mais interessa ao treinamento desportivo. A fase da exaustão é aquela em
que as reações se disseminam, em consequência da saturação dos canais
apropriados de defesa, apresentando como característica a presença do colapso,
podendo chegar até a morte. Tubino ainda menciona que, “EÜLER observou 3 tipos
de stress, de acordo com a origem dos estímulos estressantes”, são eles:
o stress físico, o stress bioquímico e, o stress mental. É importante a utilização
correta do princípio de adaptação, onde se deve haver cuidado na aplicação das
cargas de treinamento, agentes estressantes.

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Mas não só de modo pragmático deve-se enxergar o Princípio da Adaptação.
Em termos de treinamento, o critério adaptação pode ser estendido a vários outros
fatores além do treinamento fisiológico propriamente dito. Um bom exemplo são as
capacidades de adaptações emocionais, ambientais, entre outras, além da comum
capacidade do treinador ou professor se adaptar, às vezes com um “jeitinho
brasileiro”, às péssimas condições de trabalho ou dificuldades encontradas em
condições sociais desfavorecidas. O treinador ou professor deve ter em mente que é
preciso se adaptar à atitude de adaptação, uma atitude consciente e crítica, pois, com
a velocidade da dinâmica das mudanças hodiernas e a possível e quase certa
aceleração que deve vir adiante em tempos futuros, a capacidade de adaptação será
cada vez mais necessária e requisitada.

3. O Princípio da Sobrecarga

De acordo com Dantas: “Imediatamente após a aplicação de uma carga de trabalho,


há uma recuperação do organismo, visando restabelecer a homeostase”

“O aproveitamento do fenômeno da assimilação compensatória ou


supercompensação, que permite a aplicação progressiva do princípio da sobrecarga,
pode, ainda, ser severamente comprometido por uma incorreta disposição do tempo
de aplicação das cargas. ”

O equilíbrio entre carga aplicada e tempo de recuperação é que garantirá a


existência da supercompensação de forma permanente. ” O momento exato em que
se produz à adaptação aos agentes estressantes (estímulos), é, sem dúvida, um dos
pontos mais discutíveis do Treinamento Esportivo. Existem pontos de vista que
estabelecem a adaptação durante intervalos intermediários dos treinos, enquanto que
outras pesquisas defendem a tese da adaptação após o último intervalo da sessão de
treino. Tubino comenta que:

“Segundo HEGEDUS (1969), os diferentes estímulos produzem diversos


desgastes, que são repostos após o término do trabalho, e nisso pode-se reconhecer
a primeira reação de adaptação, pois o organismo é capaz de restituir sozinho as
energias perdidas pelos diversos desgastes, e ainda preparar-se para uma carga de
trabalho mais forte, chamando-se este fenômeno de assimilação compensatória.

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Assim, sabe-se que não só são reconduzidas as energias perdidas como também são
criadas maiores reservas de energia de trabalho. A primeira fase, isto é, a que
recompões as energias perdidas, chama-se período de restauração, o qual permite a
chegada a um mesmo nível de energia anterior ao estímulo. A segunda fase é
chamada de período de restauração ampliada, após o qual o organismo possuirá uma
maior fonte de energia para novos estímulos”.

Estímulos mais fortes devem sempre ser aplicados por ocasião do final da
assimilação compensatória, justamente na maior amplitude do período de restauração
ampliada para que seja elevado o limite de adaptação do atleta. Este é o princípio da
sobrecarga, também chamado princípio da progressão gradual, e será sempre
fundamental para qualquer processo de evolução desportiva. Tubino (1984) cita
algumas indicações de aplicação do Princípio da Sobrecarga, referenciado nas
variáveis: Volume (Quantidade) e Intensidade (Qualidade); em vários Tipos de
Treinamento, como: Contínuo, Intervalado, em Circuito, de Musculação, de
Flexibilidade e Agilidade, e Técnico.

O que o professor ou o treinador deve ter é o bom senso ao definir a sobrecarga


que vai trabalhar com o seu aluno ou atleta, observando todos os outros Princípios do
Treinamento Esportivo, sempre respeitando as necessidades e anseios do atleta e,
principalmente, os limites éticos do treinamento.

4. O Princípio da Continuidade

Este princípio está intimamente ligado ao da adaptação, pois a continuidade ao


longo do tempo é primordial para o organismo, progressivamente, se adaptar.
Compartilho com Tubino, a ideia de que a condição atlética só pode ser conseguida
após alguns anos seguidos de treinamento e, existe uma influência bastante
significativa das preparações anteriores em qualquer esquema de treinamento em
andamento. Para Tubino (1984), estas duas premissas explicam o chamado Princípio
da Continuidade.

“Pode-se acrescentar que este princípio compreenderá sempre no treinamento em


curso uma sistematização de trabalho que não permita uma quebra de continuidade,
isto é, que o mesmo apresente uma intervenção compacta de todas as variáveis

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interatuantes. Em outras palavras, considerando um tempo maior, o princípio da
continuidade é aquela diretriz que não permite interrupções durante esse período. ”

A continuidade de treinamento evita que o treinador subtraia etapas importantes na


formação atlética de um esportista. Em geral um atleta que tem um alto desempenho,
com certeza teve uma continuidade ao longo de sua preparação, treinamento e
também do aprendizado do esporte praticado. A continuidade é importante inclusive
no treinamento amador e no lazer, e não somente no aspecto fisiológico, mas
também, como por exemplo, no aspecto psicológico e entre outros aspectos cujos
fatores podem interferir na prática esportiva.

5. O Princípio da Interdependência Volume-Intensidade

Este princípio está intimamente ligado ao da sobrecarga, pois o aumento das


cargas de trabalho é um dos fatores que melhora a performance. Este aumento
ocorrerá por conta do volume e devido à intensidade. Pode-se afirmar que os êxitos
de atletas de alto rendimento, independente da especialização esportiva, estão
referenciados a uma grande quantidade (volume) e uma alta qualificação
(intensidade) no trabalho, sendo que, estas duas variáveis (volume e intensidade)
deverão sempre estar adequadas as fases de treinamento, seguindo uma orientação
de interdependência entre si. Ainda segundo Tubino: “Na maioria das vezes, o
aumento dos estímulos de uma dessas duas variáveis é acompanhado da diminuição
da abordagem em treinamento da outra”.

Nem sempre as variáveis volume e intensidade estão claramente explícitas ao


treinador para que este possa definir um treinamento ou ação baseado na relação
entre estas. Portanto, utilizando o bom senso, na dúvida nunca se deve arriscar ou
colocar o atleta ou praticante em risco. Um bom treinador consegue enxergar com
maior clareza a relação de interdependência entre volume e intensidade de um
treinamento ou ação de atividade.

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6. O Princípio da Especificidade

De acordo com Dantas (1995), a partir do conceito de treinamento total, quando


todo o trabalho de preparação passou a ser feito de forma sistêmica, integrada e
voltada para objetivos claramente enunciados, a orientação do treinamento por meio
de métodos de trabalho veio, paulatinamente, perdendo a razão de ser. Hoje em dia,
nos grandes centros desportivos, esta forma de orientação do treinamento foi
totalmente abandonada em proveito da designação da forma de trabalho pela
qualidade física que se pretende atingir. Associando-se este conceito à preocupação
em adequar o treinamento do segmento corporal ao do sistema energético e ao gesto
esportivo, utilizados na performance, ter-se-á o surgimento de um sexto princípio
esportivo: o princípio da especificidade, que vem se somar aos já existentes. Podemos
dizer que este princípio sempre esteve intrínseco em todo o treinamento esportivo,
desde o mais rústico nas práticas utilitárias, mas tê-lo como princípio norteador e
como um dos parâmetros que devem ser levados em consideração é essencial ao
estudo e planejamento crítico e consciente nos treinamentos contemporâneos.

“O princípio da especificidade é aquele que impõe, como ponto essencial, que o


treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos
da performance desportiva, em termos de qualidade física interveniente, sistema
energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras
utilizados”.

Segundo Dantas, ao se estudar o princípio da especificidade, de imediato sobressai


um fator determinante, que é o princípio da individualidade biológica, estabelecendo
limites individuais a esta capacidade de transferência. O princípio da especificidade
irá se refletir em duas amplas categorias de fundamentos fisiológicos: os aspectos
metabólicos e os aspectos neuromusculares. Para Dantas, “O princípio da
especificidade preconiza, ... que se deve, além de treinar o sistema energético e o
cardiorrespiratório dentro dos parâmetros da prova que se irá realizar, fazê-lo com o
mesmo tipo de atividade de performance. ”

“Isto serve, cada vez mais, para firmar na consciência do treinador que o treino,
principalmente na fase próxima à competição, deve ser estritamente específico, e que
a realização de atividades diferentes das executadas durante a performance com a

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finalidade de preparação física, se justifica se for feita para evitar a inibição reativa (ou
saturação de aprendizagem). ”

De acordo com Dantas (1995), o segundo componente dos aspectos


neuromusculares é controlado, principalmente pelo sistema nervoso central ao nível
de cérebro, bulbo e medula espinhal e pressupõe que todos os gestos esportivos,
realizados durante a performance, já estejam perfeitamente “aprendidos” de forma a
permitir que, durante a performance, não se tenha que criar coordenações
neuromusculares novas, mas tão somente “lembrar-se” de um movimento já
assimilado e executá-lo. A psicologia da aprendizagem ensina que o conhecimento,
ou movimento, uma vez aprendido fica armazenado no neocórtex sob forma de
engrama, que consiste num determinado padrão de ligação entre os neurônios. O
engrama, que é sempre utilizado, fica cada vez mais “nítido” e “forte” ao passo que
aquele que não é utilizado se enfraquece e pode até se extinguir. Se um gesto
esportivo for repetido com constância, seu engrama ficará tão forte a ponto de permitir
a execução do gesto de forma reflexa, através de uma rápida comparação, pelo bulbo,
entre as reações neuromusculares e o engrama. Este aspecto está ligado a
mielinização das fibras nervosas e à velocidade de condução dos impulsos, e à
caracterização dos tipos de movimentos.

Finalizando, Dantas (1995) nos diz que, o aprimoramento da habilidade técnica e a


execução de todos os movimentos possíveis durante o treinamento, visando a
aquisição e reforço dos engramas requeridos pelo esporte considerado, tomarão tanto
mais tempo quanto mais complexo ele for em termos neuromotores.

Então, se a especificidade do movimento, e conseqüentemente da modalidade


esportiva, está atrelada à memória do gesto motor, de seu treinamento, podemos
dizer que o Princípio da Especificidade está ligado diretamente aos gestos específicos
de uma determinada modalidade e o treinamento utilizado para o aprendizado e os
desenvolvimentos destes respectivos gestos específicos.

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7. O Princípio da Variabilidade

Também denominado de Princípio da Generalidade, encontra-se fundamentado na


ideia do Treinamento Total, ou seja, no desenvolvimento global, o mais completo
possível, do indivíduo. Para isso deve-se utilizar das mais variadas formas de
treinamento. Segundo Marcelo Gomes da Costa:

“Quanto maior for a diversificação desses estímulos – é obvio que estes devem estar
em conformidade com todos os conceitos de segurança e eficiência que regem a
atividade – maiores serão as possibilidades de se atingir uma melhor performance. ”

A atenção a este princípio diminui a possibilidade do aparecimento de um Plateu no


treinamento, ou mesmo o aparecimento de fatores desestimulantes, agindo de forma
contrária, atuando na motivação e o mais importante, na possibilidade de possibilitar
o surgimento de novas técnicas de treinamento, de estratégia, táticas, entre outras,
inclusive de novos gestos específicos, que sob um determinado ponto de visão, sob
um treinamento não variável, não seria possível ser identificado ou ter aparecido. Um
dos alicerces deste princípio é a criatividade, tanto do atleta, quanto do treinador.

8. O Princípio da Saúde

Segundo Gomes da Costa (1996), esse princípio encontra-se diretamente ligado


ao próprio objetivo maior de uma atividade física utilitária que vise à saúde do
indivíduo:

“Assim, não só a Ginástica Localizada em si e suas atividades complementares


possuem grande importância. Também os setores de apoio da Academia, como o
Departamento Médico, a Avaliação Funcional e o Departamento Nutricional assumem
relevante função no sentido de orientar todo o trabalho, visando a aquisição e a
manutenção dessa Saúde. ”

Baseado na citação acima posso colocar que este princípio está fundamentado na
interdisciplinaridade. No entanto, nem sempre o Princípio da Saúde tem sido o
principal norteador, ou mesmo um dos princípios norteadores. Em práticas de
atividades físicas hodiernas, verificamos não somente aquelas ligadas à aquisição e
manutenção da saúde do praticante, mas também aquelas de alta performance, que

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podem trazer malefícios devido ao compromisso com o alto rendimento e resultados,
e ainda, as atividades que não têm compromisso algum com o aspecto saúde.
Atualmente pessoas colocam a vida em risco em esportes extremamente radicais,
quando tentam ultrapassar os limites físicos. Portanto, cabe perguntar: os
treinamentos destas atividades estariam sob o Princípio da Saúde? De certo modo,
em relação ao preparo para a execução da atividade sim, pois, é necessário um certo
nível de condicionamento e saúde para tais práticas, e também, pelo fato dos
praticantes estarem fazendo algo que gostam, que é importante para a vida delas e
lhes dá prazer. A correlação entre este princípio e outras perspectivas do esporte é
um ponto interessante para ampliar os estudos.

9. A inter-relação dos Princípios

De acordo com Gomes da Costa (1996), se faz lógico e transparente que essas leis
não existem apenas por existir. Cada princípio, considerado individualmente, possui
seu valor e função próprios, entretanto, a integração entre esses princípios adquire
inestimável importância. “Aqui acontece aquela “historinha” de que o todo é sempre
maior do que a soma de suas partes. ” Assim cada Princípio assume uma importância
maior, um papel mais destacado quando associado aos outros princípios, segundo
este autor, que ainda comenta:

“Apesar dessa importante correlação, os Princípios da Adaptação, da Sobrecarga,


da Continuidade e da Interdependência Volume-Intensidade é que vão não só dar
corpo como orientar toda a aplicação prática do treinamento, ou seja, são os
verdadeiros responsáveis pela “arrumação” de todo o processo de treinamento,
traduzida na forma dos micros, meso e macro ciclos de trabalho. ”

Podemos certamente concluir que somente com o conhecimento de todos os


princípios é possível realizar um treinamento ideal e eficaz. Provavelmente a
excelência em treinamento deve estar acompanhada do profundo saber de todos os
princípios aqui comentados, além de mais outros tantos tópicos do treinamento
esportivo. Mas o saber profundo destes princípios e dos mais outros tantos
conhecimentos não é o único fator determinante para a excelência em treinamento. A
excelência só será atingida se houver a inter-relação perfeita entre todos estes

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saberes e respectivas aplicações, e uma constante reformulação desta inter-relação,
pois, este conceito de reformulação está embutido nos próprios princípios.

3. AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO

O desempenho físico é considerado parte integral do esporte e sua avaliação


constitui um aspecto fundamental na análise da eficácia dos processos de
treinamento empregados ao longo de uma temporada. Contudo, para que a avaliação
seja efetiva, é necessário que os aspectos mais importantes para o rendimento físico-
esportivo em uma determinada modalidade esportiva sejam investigados. É
amplamente aceito que na vasta maioria das modalidades esportivas não há uma
única capacidade motora que caracterize a modalidade, mas sim, um conjunto de
capacidades que é determinante para um elevado rendimento esportivo.

Quanto mais complexa for a estrutura da atividade esportiva (ex: corrida de 100
m vs. basquetebol), mais importante é a interação entre as capacidades motoras. Por
isso, a avaliação deve compreender o diagnóstico de todas as capacidades
envolvidas na modalidade esportiva alvo e, se possível, em condições que simulem a
prática da atividade. Desta forma, muitas pesquisas têm se dedicado ao
desenvolvimento de métodos que permitam identificar as capacidades motoras
envolvidas em diversas modalidades esportivas. Além dos métodos mais usuais
encontrados na literatura, uma contribuição muito grande vem sendo dada por
sistemas de vídeo, os quais têm sido utilizados para descrever as atividades motoras
realizadas durante as competições esportivas de modalidades como o futebol, o
basquetebol e o voleibol.

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Adicionalmente, grande atenção tem sido dada à elaboração de testes que
sejam válidos (i.e. o protocolo assemelhe-se o tanto quanto possível ao desempenho
esportivo que está sendo simulado), tenham uma elevada reprodutibilidade (i.e. os
resultados são consistentes ao longo do tempo) e sejam sensíveis para detectar
mesmo pequenas alterações no desempenho provocadas pelo processo de
treinamento. A avaliação da força motora, por exemplo, tem sido amplamente utilizada
tanto para inferências sobre o desempenho esportivo quanto para a obtenção de
parâmetros para a prescrição do treinamento. Em relação ao desempenho esportivo,
pode citar estudos que identificaram o tempo, a magnitude e a direção da força
aplicada nas diversas fases da corrida de velocidade. Foram também investigadas as
forças produzidas na decolagem do flic-flac e do salto mortal, além do giro gigante
nas argolas, e na ginástica olímpica. No tocante à prescrição do treinamento, o teste
de força dinâmica máxima (1 RM) ilustra bem o avanço tecnológico na avaliação do
treinamento.

Embora este teste não seja específico à grande maioria das modalidades
esportivas, ele pode ser usado para avaliar o perfil inicial de um determinado atleta
antes do início do programa de treinamento, fornecendo parâmetros para a prescrição
do treino de força deste atleta e posteriormente verificando a eficácia do programa
elaborado. Os dinamômetros isocinéticos também são amplamente utilizados para a
avaliação da força. Tais equipamentos apresentam elevada reprodutibilidade entre
avaliações, além de fornecerem estimativas do torque, do trabalho e da potência
produzidos na tarefa motora. Contudo, eles têm uma limitação muito grande, já que
normalmente só utilizam movimentos monoarticulares e com uma velocidade de
movimento constante. Células de carga também têm sido utilizadas para avaliar a
força muscular máxima em condições isométricas (i.e. em que não há movimento
externo aparente). Uma informação muito interessante obtida nos testes isométricos
balísticos, nos quais a força é produzida o mais rapidamente possível, é a
determinação da taxa de desenvolvimento de força (TDF). A TDF é considerada uma
variável importante para o desempenho físico-esportivo, já que indica a capacidade
do indivíduo aplicar força o mais rapidamente possível contra uma determinada
resistência.

18
Variações do salto vertical (em semi-agachamento, com contra-movimento e em
profundidade) são comumente empregadas em avaliações indiretas da potência
muscular de membros inferiores. Esta é normalmente inferida pela altura do salto, ou
seja, quanto maior a altura, maior a produção de potência. Porém, os avanços
tecnológicos permitem hoje avaliações mais completas, contemplando outras
variáveis de interesse para a compreensão do desempenho. Por exemplo, o uso de
plataformas de força permite avaliar tanto o efeito de diferentes históricos de
treinamento quanto de modelos de treinamento na mecânica externa do salto vertical,
a fim de selecionar os meios e métodos de treinamento mais eficientes para aumentar
a potência de acordo com as características da modalidade esportiva em questão. Já
a combinação dos dados provenientes de plataformas de força e de filmagens permite
quantificar, através de modelos matemáticos, as forças internas que incidem sobre o
aparelho locomotor durante o movimento, a velocidade angular das articulações
envolvidas no salto, a velocidade no instante da decolagem e a sincronia dos
movimentos articulares entre outros parâmetros de interesse.

Além das técnicas descritas, potenciômetros lineares têm sido conectados a


barras de aparelhos de musculação, como o "Smith machine", para identificar a
produção de potência em exercícios como o agachamento e o supino. Através das
mudanças de posição da barra no tempo e da magnitude da carga deslocada, é
possível calcular a produção de potência durante os exercícios. Esses cálculos
permitem determinar o efeito e as características de diferentes modelos de
treinamento na produção de potência e a zona de treinamento na qual a produção de
potência é maximizada.

A avaliação das demais capacidades motoras também se beneficiou dos


avanços tecnológicos. A avaliação da flexibilidade, comumente realizada de forma
inespecífica através do teste de sentar e alcançar, pode hoje ser feita em todas as
articulações e eixos de movimento com o uso de flexímetros, bem como em condições
muito mais próximas da especificidade inerente ao gesto esportivo, com o uso de
eletrogoniômetros multi-axiais (i.e. medem a amplitude de movimento em mais de
uma direção) telemétricos e de dimensões reduzidas

O mesmo pode-se dizer da capacidade e potência aeróbia. O desenvolvimento


de sistemas de análise de gases portáteis com telemetria tem possibilitado a avaliação

19
do consumo de oxigênio em condições mais próximas da prática da modalidade
esportiva, como nas provas de atletismo e em jogos coletivos, entre outros. Já a
potência anaeróbia tem sido inferida a partir da mensuração do trabalho máximo
realizado em um determinado tempo. Como as medidas de trabalho têm sido alvos
de avanços tecnológicos, as inferências sobre a potência anaeróbia têm se
beneficiado deste fato.

O uso de técnicas como as de biópsias musculares e de biologia molecular


também pode ser destacado como um avanço tecnológico importante no estudo das
adaptações agudas e crônicas aos diferentes modelos de treinamento. É possível, por
exemplo, avaliar qual modelo de treinamento é mais efetivo para promover
adaptações relacionadas ao funcionamento do metabolismo aeróbio (e.g. biogênese
mitocondrial, vascularização, mudança no fenótipo da fibra muscular). Embora estes
modelos de avaliação não façam nenhuma mensuração direta sobre o desempenho
físico-esportivo, os dados oriundos destas podem, em última análise, serem usados
a favor da melhora do desempenho a partir da resposta fisiológica produzida pelos
mesmos. Pode-se ainda, avaliar como diferentes modelos de treinamento de força
afetam a atividade dos processos intracelulares que desencadeiam alterações
morfológicas, como a hipertrofia muscular, permitindo assim, detectar os melhores
modelos de treinamento para aumento da massa muscular.

Outro aspecto fundamental da avaliação no esporte diz respeito à avaliação do


jogo. As modalidades esportivas coletivas apresentam, na sua maioria, mudanças de
situação frequentes, impondo um alto grau de imprevisibilidade. Essa característica,
onde os comportamentos e ações estão sujeitas a aleatoriedade e variabilidade, exige
do praticante uma grande capacidade de adaptação, o que implica que o desempenho
depende amplamente da capacidade de tomada de decisão, enfatizando a
importância do componente tático. Neste sentido, a análise de jogo apresenta
vantagens importantes para o processo de treinamento, caracterizados, por exemplo:

1) pelo rápido fornecimento de informações para uma análise em tempo real, que
permite a tomada de decisões durante o jogo;

2) pela criação de uma base de dados de caracterização das ações táticas de ataque
e defesa dos adversários que norteiam processos de treinamento específicos

20
3) pela a análise tática e técnica individuais e de grupo, permitindo intervenções sobre
a estratégia de uma determinada equipe.

Vários sistemas informatizados específicos para estas análises podem ser


encontrados atualmente, o que tem facilitado amplamente o uso tanto de análises
técnicas quanto táticas no fornecimento de "feedback" em tempo real na competição,
como também na orientação do treinamento de diferentes modalidades esportivas.
Com essa tecnologia de avaliação é possível avaliar desde indicadores de
desempenho, como o número de ataques certos realizados com um golpe específico
no caratê ou no tênis de mesa, ou o número de finalizações de uma determinada
região da quadra de uma equipe de basquetebol, até os padrões táticos ofensivos e
defensivos adotados por equipes de modalidades de invasão.

4. CONTROLE DO TREINAMENTO

O processo de treinamento pode ser simplificado em uma relação entre "dose"


e "resposta”. Nesta perspectiva, a resposta estaria associada à mudança no
desempenho ou a alteração de algum parâmetro fisiológico, decorrente de uma
determinada dose de treinamento, a qual pode ser definida como o estresse fisiológico
imposto ao corpo do atleta por uma determinada carga de treinamento. Esta tem sido
comumente chamada de carga interna de treinamento. Até muito recentemente, a
prescrição do treinamento era feita de maneira muito intuitiva, fazendo com que a
experiência do treinador fosse determinante para o sucesso do atleta. Isso certamente
representa uma limitação quando se pretende estabelecer uma relação entre o
treinamento prescrito, o que isso representa para o atleta em termos de demanda

21
fisiológica e as mudanças no desempenho decorrentes do processo de treinamento.
Frente a isso, tanto os técnicos e preparadores físicos quanto os cientistas têm
buscado determinar parâmetros que sejam capazes de controlar a carga de
treinamento imposta aos atletas.

Inicialmente, o controle da carga de treinamento era feito apenas através do


controle da chamada "carga externa". Parâmetros como o volume total (número de
repetições x sobrecarga utilizada, quilômetros percorridos e número de tiros
realizados), trabalho realizado (força produzida x distância percorrida), ou o tempo
sob-tensão, entre outros, eram os únicos indicadores considerados no controle do
treinamento. Contudo, esse modelo não consegue representar a repercussão
mecânica e fisiológica que uma determinada carga de treinamento impõe sobre o
organismo. O problema da quantificação adequada da carga de treinamento se
estende além do campo prático. Nas pesquisas em esporte, um método mais válido
e confiável de avaliação da carga de treinamento é de extrema importância nas
investigações acerca da eficácia de um determinado modelo de treinamento e da
relação entre carga de treino e desempenho.

Dentre os parâmetros fisiológicos de mensuração da carga interna de


treinamento, pode se destacar a avaliação do consumo de oxigênio (VO2), a qual tem
sua validade e reprodutibilidade demonstradas em laboratório. Contudo, a sua
aplicação em campo durante as competições ou até mesmo treinamentos é pouco
prática ou até não factível, limitando o seu uso nessas condições. Além disso, o uso
da avaliação do VO2 não é adequado em atividades intermitentes ou em exercícios
supra-máximos. A concentração sanguínea de lactato também tem sido utilizada
como um marcador da intensidade do treinamento. Entretanto, este método é
influenciado por vários fatores, como a dieta, o tipo de exercício utilizado no
treinamento e o estado de treinamento do indivíduo. Assim, ambos os métodos,
embora tenham sua validade e utilidade no ambiente laboratorial, são pouco
adequados para o monitoramento em campo da carga de treinamento. Métodos mais
simples, como os questionários e diários/recordatórios de treino, tem sido usado como
um método bastante prático de monitoramento da carga de treino. Contudo, estes
métodos apresentam baixa reprodutibilidade e validade concorrente se comparados
aos métodos laboratoriais.

22
A frequência cardíaca (FC) também tem sido utilizada como parâmetro de carga
interna, dada a proposição de uma relação linear entre está e a taxa de incremento
de trabalho. Como a FC varia de acordo com a idade e o estado de treinamento, entre
outros fatores, a FC de reserva é mais utilizada para prescrição da intensidade do
treinamento (FCreserva = FCmax - FCrepouso). Contudo, apesar de ela poder ser
mensurada de forma acurada durante o exercício (através de monitores de FC), ela
não é um bom indicador para atividades intermitentes, nas quais a relação linear entre
trabalho e FC deixa de ocorrer, afetando assim, a sua eficácia como marcador do
estresse fisiológico imposto pelo exercício.

A percepção subjetiva do esforço (PSE) é uma forma alternativa de quantificação


da carga interna do treinamento. Esta é baseada na assunção de que o atleta tem
uma capacidade inerente de perceber o esforço ao qual seu corpo está sendo
submetido e ajustar a intensidade do mesmo baseado nessa percepção. Contudo, a
correlação entre PSE e parâmetros como a FC, por exemplo, parece ser razoável
apenas em exercícios realizados em intensidade constante e em um estado de
"equilíbrio fisiológico", limitando sua aplicação em outras formas de exercício.

Apesar dos avanços obtidos no controle da carga de treinamento através da


utilização da FC e da PSE, esses indicadores ainda parecem ineficientes em
determinar a carga de uma sessão de treinamento. Determinar o efeito de uma sessão
de exercícios no organismo é extremamente importante, pois há que ser considerado
que atletas treinam vários dias na semana e, muitas vezes, mais de uma vez por dia.
Caso um atleta tenha sessões sucessivas de treinamento que produzam um estresse
excessivo, isso fará com que ele esteja mais susceptível a lesões. A partir desta
limitação, a PSE da sessão de treino foi proposta por. Neste caso, a PSE é um reflexo
não só do estresse fisiológico ao qual o sujeito foi submetido, mas também da duração
deste esforço, sendo calculada pela multiplicação da PSE (1-10) pela duração em
minutos, da sessão de treino. Embora este modelo apresente uma melhor correlação
com outros marcadores de carga interna, ele ainda tem suas limitações, em especial
quando utilizado no treinamento de força. Apesar do exposto, um estudo recente
demonstrou que a PSE determinada pelos técnicos era similar àquela determinada
pelos atletas, evidenciando que técnicos experientes conseguem ter uma boa ideia
da carga de treino. Por outro lado, nas modalidades esportivas que envolvam contato

23
físico intenso, os danos musculares resultantes deste contato podem influenciar a
PSE, criando um viés na avaliação.

Outras formas de avaliação da carga de treinamento têm sido propostas. Alguns


marcadores bioquímicos têm sido usados na tentativa de determinar o estresse
produzido por uma determinada carga de treinamento. De fato, pode-se encontrar
estudos com treinamento de força, por exemplo, que têm demonstrado que a
intensidade do exercício influência a secreção de cortisol. Ainda, a secreção de
cortisol parece ser sensível a variações na carga de treinamento de força em
jogadoras de basquete de nível internacional. Contudo, outros estudos mostram que
ao variarmos tanto a intensidade quanto o volume de treinamento, nenhuma resposta
hormonal é verificada. Estas discrepâncias entre os estudos têm revelado que a
variação hormonal frente ao exercício é multifatorial, sendo influenciada pela hora do
dia, estado alimentar e tempo de coleta após o exercício. Alternativamente, a
avaliação da imunoglobulina A (IgA) tem sido utilizada como ferramenta na avaliação
da carga interna de treinamento. A IgA parece responder à intensidade do exercício,
sendo um importante marcador da função imunológica do atleta, estando associada
com a incidência de infecções do trato respiratório superio.

Atualmente, não há uma forma de quantificação acurada que permita a


prescrição de um padrão, duração e intensidade do treinamento necessária para
induzir adaptações fisiológicas específicas. Somado a isto, está o fato que os
indivíduos parecem se adaptar de maneiras distintas a um mesmo estímulo de treino.
Adicionalmente, as técnicas de monitoramento não têm se preocupado no
acompanhamento da forma esportiva ao longo do programa de treinamento. Por outro
lado, o esporte atual não permite a obtenção da forma esportiva, pois os atletas têm
que manter um elevado rendimento esportivo (sub-máximo, mas ótimo) por longos
períodos de tempo, fazendo com que as técnicas que monitoram estados de
"overreaching" e "overtraining" ganhem importância. Finalmente, as diferentes
técnicas deveriam progredir para que o monitoramento do treinamento deixasse de
ser apenas físico e entrasse no campo técnico, tático e psicológico.

24
4.1 O Treinamento Esportivo

A palavra treinamento é utilizada tanto na linguagem coloquial como na


linguagem acadêmica e em outras áreas de conhecimento. Trata-se de um processo
que tem por objetivo a melhoria de determinado desempenho, seja este na área
cognitiva, psicossocial ou motora; para o alcance do objetivo almejado, utiliza-se, na
maioria das vezes, o recurso da repetição de determinada atividade, por meio do
exercício. O termo origina-se da raiz latina trahere e do latim vulgar tragere (puxar,
trazer, arrastar, carregar, criar). Na primeira metade do século XIX foi modificada do
francês trainer para o inglês training, que a princípio tinha o significado de retirar
cavalos de corrida do estábulo (to train) para serem preparados para correr.

O termo passou a ser utilizado no remo, e com isso foi transferido para o ser
humano. A partir do século XX, o termo foi incorporado ao Esporte, além de outras
áreas como a Psicologia, Economia, Pedagogia, etc. De acordo com Dantas, a
evolução do treinamento esportivo está ligada à história dos jogos olímpicos,
dividindo-se em sete períodos:

 Da arte (da I Olimpíada da antiga Grécia – 778a.C - até a I Olimpíada da Era


Moderna – 1896),
 Da improvisação (da I Olimpíada da Era Moderna – 1896 – até a VII, de
Antuérpia – 1920),
 Do empirismo (da VII até a XV, de Helsinque – 1920 a 1952),
 Período pré-científico (da XV até a XVIII, de Tóquio – 1952 a 1964),
 Científico (da XVIII até a XXII, de Moscou – 1964 a 1980),
 Tecnológico (da XXII até a XXV, de Barcelona – 1980 a 1992)

25
 Período do marketing esportivo (a partir da XXV até as atuais).

Na literatura de Ciência/Teoria do Treinamento Esportivo, treinamento é definido


como “um processo de ações complexas, planejadas, orientadas que visa ao melhor
desempenho esportivo possível em situações de comprovação, especialmente na
competição esportiva”. É um processo de ações complexas porque atua em todas as
características relevantes do desempenho esportivo; é um processo de ações
planejadas, devido às relações entre seus componentes como objetivos, métodos,
conteúdos, organização e realização; leva em consideração os conhecimentos
científicos e experiências práticas do treinamento esportivo, controlado e avaliado
durante e após sua realização, em relação aos objetivos propostos e alcançados; é
um processo de ações orientadas, porque todas as ações dentro do treinamento são
dirigidas/ orientadas para os objetivos almejados.

O desempenho esportivo, considerado como objetivo a ser alcançado pelo


treinamento esportivo, refere-se ao “conjunto/unidade de execução e resultado de
uma ação esportiva, assim como uma sequência complexa de ações esportivas,
medidas e avaliadas de acordo com normas sociais determinadas”. Segundo estes
mesmos autores, existem diferentes formas de ações esportivas além daquelas
relacionadas com a competição, como: - desempenhos esportivos no processo de
treinamento; - desempenhos esportivos em aulas de esporte ou Educação Física que
tenham por conteúdo atividades esportivas; - desempenhos esportivos de lazer, como
os aspectos sociais e os relacionados à saúde; - desempenhos esportivos em
atividades de reabilitação ou em portadores de deficiência. Na literatura da área de
treinamento esportivo existem diferentes modelos de desempenho esportivo, os quais
foram elaborados com o objetivo de representar a estrutura do mesmo. Estes foram
descritos por Böhme assim como por outros autores.

A maioria dos livros textos de autores brasileiros na área de treinamento


esportivo assim como os da literatura internacional, são voltados para o treinamento
do esporte de rendimento. Recentemente, Perez apresentou uma reflexão sobre o
fato de a maioria dos cursos de Educação Física no Brasil terem um enfoque voltado
para o treinamento de atletas de alto nível. Já nas literaturas alemã da década de
1990 e americana, o treinamento esportivo é discutido de forma mais ampla, para as
diferentes formas de manifestação do esporte nas diferentes faixas etárias, desde a

26
infância até a terceira idade. No Brasil, Ghorayeb & Barros editaram um livro sobre
diferentes aspectos de atividades físicas e esportivas.

4.2 Relações entre Aptidão Física, Esporte e Treinamento Desportivo

Aptidão física refere-se à capacidade do indivíduo apresentar um desempenho


físico adequado em suas atividades diárias, prorrogando o surgimento precoce do
cansaço durante a realização de atividades físicas. A atividade física é considerada
como o processo do qual resultará o estado de aptidão física do indivíduo, esta última
considerada como produto. Além disso, denomina-se esporte a todo movimento, jogo
ou forma de competição expressa por meio de atividades físicas do ser humano.
Desse modo, o esporte e a aptidão física têm em comum o fato de se desenvolverem
por meio de atividades físicas; a realização do esporte se dá, principalmente, por
atividades físicas denominadas ações/atividades esportivas.

A evolução das conceituações de aptidão física, de esporte e de treinamento


esportivo na civilização ocidental ocorreu de modo paralelo no século XX. Com o
reinício dos jogos olímpicos da era moderna, o esporte de rendimento passou a ser
mais valorizado no contexto mundial. A necessidade da obtenção de melhores
resultados competitivos aliada à quebra de recordes olímpicos, levou à evolução dos
métodos de treinamento esportivo para este fim. O treinamento esportivo era,
portanto, voltado essencialmente para o alcance de melhores resultados possíveis no
esporte de rendimento, respectivamente de alto rendimento; consequentemente sua
evolução nesse século ocorreu paralelamente à realização das olimpíadas.

A partir da década de 1960 houve um redimensionamento da abrangência do


conceito de esporte; este deixou de ser considerado somente o chamado “esporte de
rendimento” ou “de alto rendimento”, praticado por poucos privilegiados, e passou a
ter uma dimensão de maior alcance social, um direito de todos, mediante outras
formas de manifestação, como “esporte participação” e “esporte educação”.
Paralelamente a este fato, o conhecimento produzido pela Teoria/Ciência do
Treinamento, que inicialmente foi originário e voltado para o “esporte de rendimento”
foi ampliado para as outras formas de manifestação do esporte. Simultaneamente à
evolução e abrangência dos conceitos de esporte e de treinamento esportivo, ocorreu
uma discussão mundial sobre o conceito e componentes da aptidão física.

27
Atualmente, esta é considerada como diretamente relacionada com a aptidão
fisiológica, e composta por aspectos relacionados com a saúde (a saber: força e
resistência musculares, flexibilidade, resistência cardiorrespiratória e composição
corporal), e por aspectos relacionados com as destrezas e ou habilidades esportivas
(a saber: velocidade, agilidade, equilíbrio, potência, tempo de reação). Se o indivíduo
possui uma boa aptidão física, terá a capacidade de realizar suas atividades físicas
diárias apresentando um desempenho físico adequado, evitando desse modo, o
surgimento precoce do cansaço. Nos modelos de desempenho esportivo propostos
na literatura, a aptidão física junto com a condição física, assim como a técnica e a
tática esportiva são considerados como condições pessoais internas diretas de
desempenho esportivo, pois têm a possibilidade de serem avaliadas diretamente.

Na atualidade, com a ampliação do conceito de esporte, o treinamento esportivo


passou a ter por objetivo, mediante um processo de ações complexas, planejadas e
orientadas, o melhor desempenho esportivo possível de seus praticantes. O
desempenho esportivo, por sua vez, é a denominação dada à unidade de execução
e resultado de uma sequência complexa de ações esportivas. Existem diferentes
formas de ações esportivas, além daquelas relacionadas com a competição e ou
rendimento, como os desempenhos verificados durante o processo de treinamento,
em aulas de Educação Física e esporte, em atividades esportivas de lazer e
relacionadas à promoção da saúde, assim como desempenho em esporte voltado
para a reabilitação ou para portadores de deficiência.

A aptidão física apresenta características individualizadas, de acordo com as


necessidades próprias de atividades físicas de cada ser humano, possui elementos
qualitativos de acordo com o modo de vida e, apresenta variações entre os indivíduos,
assim como durante as diferentes fases da vida do próprio indivíduo, nas quais ele
possa ser mais ou menos ativo. De acordo com o estilo de vida do indivíduo, ele pode
optar pela prática de atividades esportivas como um meio/ processo para melhoria de
sua aptidão física. Este poderá optar por diferentes tipos de esporte, de acordo com
a sua motivação, com o tipo de participantes, com o seu tempo disponível, assim
como com a forma de organização do mesmo.

Dentro de suas possibilidades e motivações pessoais, poderá praticar o esporte


de modo participativo, educativo ou inclusive, de rendimento, de modo adequado ao
seu nível competitivo. Desse modo, pela prática esportiva em qualquer uma de suas

28
manifestações – participativo, educativo ou de rendimento, o indivíduo poderá dispor
de um meio, pelo treinamento esportivo adequadamente planejado que atenda a seus
objetivos, de melhorar sua aptidão física, seja nos aspectos relacionados com a
saúde, assim como nos aspectos relacionados com as habilidades esportivas. Se
optar pela prática de atividades esportivas como o tipo de atividade física escolhida
para melhorar sua aptidão física, poderá alcançar dois objetivos: a melhoria de sua
aptidão física e de seu desempenho esportivo na modalidade e forma de manifestação
esportiva que optar por praticar.

A literatura da área de teoria/ciência do treinamento esportivo é mais voltada


para os aspectos tradicionais do objeto de estudo anterior dessa, ou seja, o esporte
de rendimento; já na literatura da área de aptidão física são enfatizados os efeitos das
formas tradicionais de atividades físicas, como a corrida, a caminhada, as diversas
formas de ginástica entre outras. Acreditamos na necessidade de buscar a realização
de trabalhos interdisciplinares de pesquisa que tenham por objetivos a integração dos
conhecimentos do treinamento esportivo, das diferentes formas de manifestações
esportivas (educacional, participativo e de rendimento), nas suas diversas formas de
classificação (motivação, tipos de participantes, forma de organização e
disponibilidade de tempo para a prática esportiva) e seus efeitos na melhoria da
aptidão física e do desempenho esportivo de seus praticantes.

5. MODELOS DE ORGANIZAÇÃO DA CARGA DE TREINAMENTO

A partir da década de 50 do século passado os modelos de organização da carga


de treinamento começaram a ganhar muita popularidade. O sucesso dos atletas da
antiga União Soviética foi, por muitos anos, o cartão de visita da teoria da periodização
do treinamento esportivo. A periodização preconizava que os atletas deveriam ter
longos períodos de preparação (i.e. entre três e oito meses) antes de participarem das
competições alvo. Ainda, dois terços do tempo do chamado período preparatório
deveriam ser dedicados a exercícios de preparação geral, com baixo nível de
especificidade. Os Jogos Olímpicos de Moscou em 1980 trouxeram uma importante
alteração na organização dos programas de treinamento. A guerra fria estava no seu
auge e tinha como objetivo implícito o embate entre os sistemas políticos dominantes
na época - Capitalismo e o Socialismo. Para que a União Soviética sobrepusesse os

29
seus adversários, o Prof. Yuri Verkhoshansky desenvolveu um novo modelo de
"periodização" chamado de treinamento em blocos.

A grande evolução desse sistema em relação à periodização de Matveev foi a


utilização de parâmetros biológicos para orientar o treinamento dos atletas. O seu
sistema preconizava a ocorrência do "overreaching" no bloco inicial do treinamento.
A queda de rendimento decorrente deste processo deveria ser recuperada nos blocos
posteriores. Na verdade, o Prof. Verkhoshansky preconizava que quanto maior a
queda de rendimento no bloco inicial, maior seria a elevação posterior do
desempenho. Apesar da escassez de evidência científica na aplicação deste tipo de
periodização, as contribuições do Prof. Verkhoshansky à teoria do treinamento foram
muito importantes.

Deve ser lembrado que muitos dos primeiros modelos de periodização do


treinamento requeriam um período preparatório longo. Assim, para a aplicação no
esporte moderno, eles necessitam de adaptações para se adequarem ao elevado
número de competições ao longo do ano. Além disso, há muito poucos estudos
dedicados à comparação entre os modelos tradicionais e os contemporâneos de
periodização do treinamento, sendo que parece não haver diferenças substanciais no
rendimento entre eles. Outros modelos de periodização vêm sendo propostos nas
últimas décadas. Porém, da mesma forma que com os modelos de Matveev e
Verkhoshansky, a implementação de modelos de pesquisa que comparem esses
modelos é muito difícil, já que há a necessidade de se utilizar atletas com bom nível

30
competitivo e que possam treinar de diferentes formas, dentro do mesmo período de
tempo, o que nem sempre é possível no cenário científico.

Estas diferentes formas de organização do treinamento parecem afetar também


o desempenho de força máxima e de potência muscular. Alguns achados preliminares
(citação de dados não publicados) indicam que mais importante do que a periodização
do treinamento é a correta seleção do seu conteúdo (i.e. exercícios e capacidades
motoras a serem trabalhadas), pois diferentes modelos de organização produziram
ganhos de força, potência e velocidade semelhantes.

De maneira mais simplificada, a organização temporal do treinamento de força


é mais facilmente implementada e já foi testada em alguns estudos. O interesse pela
organização do treinamento da força é justificado pela importância que essa
capacidade tem para um elevado rendimento esportivo. Três modelos básicos de
organização das cargas de treinamento de força são reportados. Esses modelos são
chamados de não-periodizados, periodizados lineares e periodizados não-lineares.
Nos modelos não-periodizados não há variações no volume e na intensidade relativa
(% de 1 RM) dos exercícios, nos modelos periodizados lineares há uma diminuição
do volume e um aumento da intensidade ao longo do período de treinamento e, nos
modelos periodizados não-lineares, há variações semanais ou diárias na carga de
treinamento. A comparação entre esses modelos tem trazido resultados bastante
controversos, pois a maioria dos estudos verificou apenas os ganhos de força,
desconsiderando as adaptações neurais e morfológicas decorrentes do processo de
treinamento. Uma meta-análise indicou que o modelo não linear parece ser mais
eficiente que os modelos não periodizado e periodizado linear.

Vale ressaltar que os estudos dedicados a avaliação de diferentes modelos de


periodização do treinamento precisam ser expandidos também na dimensão da
preparação física. Sabe-se que o desenvolvimento simultâneo das capacidades
motoras, força e resistência dentro de um mesmo período de treinamento pode
prejudicar as adaptações produzidas na força e na potência musculares. Ainda, a
realização de exercícios de flexibilidade estática antes de exercícios de força e
resistência aeróbia parece afetar a capacidade de produção de força e a economia
de corrida, respectivamente. Como o rendimento esportivo de inúmeras modalidades
esportivas depende do treinamento de diversas capacidades motoras dentro de um

31
mesmo período de treinamento, os pesquisadores deveriam investigar os efeitos da
interação do desenvolvimento/treinamento de diversas capacidades motoras de
maneira simultânea no desempenho esportivo. Além disso, pouco se sabe a respeito
dos efeitos da periodização e do treinamento simultâneo de diferentes capacidades
motoras em componentes mais determinantes do rendimento esportivo, como o
técnico e o tático.

6. DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES MOTORAS

O desenvolvimento das capacidades motoras de forma isolada é um tema muito


abordado na literatura do treinamento. Vários estudos têm tentado identificar os
métodos e os meios de treinamento mais apropriados para a maximização do
desempenho para as diversas capacidades motoras. Contudo, esse tema é bastante
amplo e controverso já que a resposta de um atleta a um determinado método de
treinamento depende de um conjunto de fatores como a experiência (i.e. tempo de
treinamento), a modalidade esportiva em questão, os métodos de treinamento
utilizados anteriormente entre outros. Foge do escopo do presente manuscrito a
discussão exaustiva de tais tópicos. Forneceremos, portanto, apenas alguns
exemplos do que tem sido feito no âmbito científico acerca desta temática.

32
Os métodos de treinamento da flexibilidade podem ser genericamente divididos
em três tipos: estático, dinâmico e combinados (e.g. alongamento-contração-
relaxamento). Vários estudos têm relatado que esses três métodos são eficientes em
aumentar o grau de flexibilidade. Em relação à duração do estímulo no treinamento
de flexibilidade estática, o tempo total que o músculo permanece alongado parece ser
mais importante que a duração de cada série (seis séries de 10 segundos vs. duas
séries de 30 segundos). Na comparação entre o método estático ativo (i.e. realizado
pelo próprio executante), estático passivo (i.e com auxílio externo) e combinado, os
pesquisadores demonstraram que o método estático realizado por um ajudante
externo foi mais eficiente em aumentar a flexibilidade dos flexores do joelho. Porém,
outros pesquisadores não têm encontrado diferenças entre os métodos estático e
combinado em estudos crônicos com seis semanas de treinamento.

De maneira interessante, outro grupo de autores demonstrou que o tempo de


contração dos músculos agonistas parece ser importante para os ganhos em
flexibilidade ao se utilizar o método alonga-contrai-relaxa de maneira crônica. Os
autores observaram que o grupo que manteve a contração muscular por 10 segundos
teve maiores ganhos do que o grupo que a manteve por cinco segundos. Os estudos
que não encontraram uma maior eficiência do método alonga-contrai-relaxa utilizaram
contrações dos agonistas de cinco segundos, indicando que esse pode ter sido um
fator que limitou os ganhos de flexibilidade.

Entre os meios de treinamento para o desenvolvimento da velocidade podemos


salientar o uso de corridas rápidas e curtas, corridas curtas em subidas, corridas com
tração ou com colete de sobrecarga, exercícios pliométricos, saltos com sobrecarga,
"overspeed" entre outros. Em diferentes níveis, estes métodos têm se mostrado
efetivos para o desenvolvimento da velocidade. De fato, demonstrou-se recentemente
que o uso de treinamento pliométrico associado ao treino específico de tênis melhorou
a velocidade de deslocamentos laterais e deslocamentos para frente e para trás em
distâncias curtas (4 m), na aceleração em movimentos laterais para a rebatida no tênis
e na altura de salto em tenistas jovens do sexo masculino. A força muscular é outra
capacidade de grande importância para uma vasta gama de modalidades esportivas,
merecendo grande atenção nos programas de treinamento. A força máxima é
decisiva, por exemplo, em modalidades como o levantamento de peso, o arremesso

33
no atletismo, os saltos, a corrida de velocidade, em algumas modalidades de luta e
na ginástica artística. Já a força rápida ou potência é ainda mais abrangente, sendo
de fundamental importância para as modalidades esportivas coletivas, nas
modalidades de velocidade na natação e no atletismo, nas modalidades de luta,
enquanto a resistência de força se faz importante em algumas modalidades como o
ciclismo, o "ski cross-country", etc.

O desenvolvimento destas diferentes manifestações da força pode ser atingido


através do treinamento específico com o uso de diferentes métodos e meios de
treinamento. Destacam-se entre outros:

a) O método isométrico funcional, que se utiliza de ações musculares estáticas


em angulações pertinentes ao gesto esportivo em questão;

b) O método isocinético, que faz uso de um dinamômetro isocinético, o qual


controla a velocidade da contração muscular, tanto excêntrica quanto concêntrica, em
intensidades máximas ou sub-máximas (assim como o isométrico, este método pouco
se traduz em condições reais de prática esportiva, indo contra o princípio da
especificidade do treinamento)

c) O método dinâmico com o uso de ações excêntricas, concêntricas ou a


combinação de ambas.

A utilização de uma ação isolada pode ser interessante quando esta estratégia
representar uma especificidade significativa com o gesto esportivo em questão. Por
exemplo, para o treinamento do salto vertical para o bloqueio no vôlei de areia, dada
a característica do piso, a força necessária para o salto vertical virá fundamentalmente
dos componentes contráteis do músculo esquelético, já que a velocidade de transição
entre a flexão e extensão dos joelhos é diminuída, fazendo com que a ação
concêntrica deva ser enfatizada durante o treinamento.

A ação excêntrica, por sua vez, é sabidamente mais eficiente na indução dos
ganhos de massa muscular. Desta forma, pode-se optar por usar exercícios
puramente excêntricos, ou de se enfatizar a ação excêntrica durante um dado
exercício a fim de se aumentar a tensão na musculatura, induzindo maior ganho de
hipertrofia. A combinação de ambas as ações musculares é, contudo, o método mais

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comumente utilizado, contemplando ambos os benefícios. O treino complexo é outro
método bastante utilizado no desenvolvimento da potência muscular. Este método se
baseia na combinação de cargas altas com cargas mais baixas, na tentativa de
promover a potencialização pós-ativação (PPA). Embora alguns estudos tenham
mostrado efeito positivo a partir do uso do treinamento complexo, o melhor modelo de
atividade condicionante para induzir a PPA ainda não está estabelecido, já que está
parece depender de diferentes fatores como o estado de treinamento do indivíduo e
a relação potencialização/fadiga.

É importante notar que os ganhos de força muscular são oriundos tanto de


adaptações neurais quanto de adaptações morfológicas. As diferentes fases das
contribuições neurais e hipertróficas na modificação da força muscular foram
identificadas há década. Estes pesquisadores foram os primeiros a demonstrar que
os ganhos iniciais na força são oriundos de adaptações neurais (aumento no
recrutamento e sincronização de unidades motoras, diminuição na co-contração da
musculatura antagonista, aprendizagem do movimento) sendo que o aumento da
massa muscular passa a contribuir de maneira significativa para a produção de força,
somente após algumas semanas de treinamento.

Já o desenvolvimento da potência muscular requer máxima taxa de


desenvolvimento de força (i.e. variação da força na unidade de tempo) durante as
séries de exercícios. A literatura tem mostrado que o treinamento de potência
frequentemente aplica a realização de 3-6 repetições por série; intensidades de 30 a
60% de 1 RM; alta velocidade no movimento dos exercícios e 3-5 minutos de intervalo
de descanso. Contudo, uma vez que treinadores e profissionais do esporte
preocupam-se com a especificidade das cargas em relação às modalidades
esportivas, a manipulação do volume e o intervalo de descanso entre as séries dos
exercícios desempenham um papel importante.

Recentemente foi demonstrado (dados não publicados) que os treinadores


podem reduzir com êxito o intervalo de descanso, para atender a uma demanda de
tarefas específicas, e ainda manter a produção de potência desde que ocorra uma
redução do volume nos exercícios realizados. É fundamental salientar que a alteração
dos níveis de força, seja pelo treinamento de força, seja pelo de potência, requer uma
reorganização do controle do movimento para que a força seja revertida em

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desempenho no movimento desejado, enfatizando a importância do conteúdo
específico na transferência do treinamento para a tarefa de campo. A resistência
motora, por sua vez, é definida como a capacidade de sustentar uma determinada
velocidade, ou produção de potência, pelo maior tempo possível. A melhoria dessa
capacidade motora envolve adaptações nos sistemas pulmonar, cardiovascular e
neuromuscular.

Notadamente, uma das principais adaptações desejáveis ao se programar um


treinamento de resistência é o aumento na potência aeróbia, medida através do
VO2máx. Contudo, é importante destacar que outros fatores, além do VO2máx, explicam
a variância no desempenho em provas de resistência de média e longa duração. Tem
sido sugerido que a economia de corrida (entendida como o custo energético para
manutenção de uma determinada velocidade de corrida) e a capacidade aeróbia (e.g.
limiar aneróbio) são importantes determinantes do desempenho entre indivíduos com
VO2máx similares. De fato, um estudo demonstrou que o VO2máx entre maratonistas
quenianos e caucasianos era similar, contudo, o limar de lactato entre eles diferia
significantemente. Quanto maior a velocidade de corrida correspondente ao limiar
anaeróbio, maior a intensidade de exercício que um indivíduo consegue ter com uma
predominância do metabolismo aeróbio. Com isso, os indivíduos com maior limiar
anaeróbio, mas VO2máx similares, podem manter uma maior intensidade de corrida
sem que isso incorra em um quadro acidótico. Outro estudo demonstrou que
corredores quenianos também apresentam maior economia de corrida do que atletas
caucasianos, permitindo com que eles tenham um menor gasto energético para uma
dada intensidade de corrida.

Em relação às pesquisas sobre os métodos de treinamento de resistência, vários


autores têm sugerido que o treinamento intervalado, em que períodos de atividade de
alta intensidade são intercalados por períodos de repouso ativo, é capaz de aumentar
tanto o VO2máx quanto o limiar anaeróbio em indivíduos altamente treinados que não
conseguem mais aumentar o desempenho usando o método tradicional (i.e. método
contínuo). Já a economia de corrida tem sido mais recentemente estudada. Diversos
grupos tem se dedicado a investigação dos efeitos do treino de força e potência na
melhora da economia de corrida, baseados na premissa de que alterações no
componente muscular (e.g. "stiffness" músculo-tendíneo e eficiência na utilização do

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ciclo alongamento encurtamento) poderiam aumentar a eficiência mecânica da
corrida, tornado-a mais econômica. De fato, alguns autores demonstram efeitos
positivos do treinamento de força e potência sobre a economia de corrida, criando um
novo paradigma de treino para atletas de resistência.

O alto desempenho físico-esportivo observado nos atletas atuais é fruto da


interação de fatores fisiológicos, biomecânicos e psicológicos. Nesta perspectiva,
programas de treinamento corretamente elaborados e baseados em princípios
científicos são fundamentais na busca constante do rendimento máximo. As ciências
do esporte têm contribuído, ainda que de maneira tímida, para o aperfeiçoamento
destes programas, melhorando progressivamente a qualidade do processo de
treinamento. Assim, é cada vez mais importante que os profissionais do esporte
recebam informações que possibilitem o desenvolvimento completo dos seus atletas.
A compreensão dos diferentes componentes que contribuem para um alto
desempenho numa determinada modalidade esportiva passa pela aplicação de testes
específicos que possam auxiliar na elaboração, implementação, avaliação e
reformulação de programas de treinamentos bem como no monitoramento dos
progressos obtidos. O estudo isolado de métodos e meios de aperfeiçoamento das
capacidades motoras evoluiu consideravelmente nos últimos 20 anos. A aplicação de
novas tecnologias de mensuração e avaliação tem permitido o maior entendimento do
desenvolvimento destas capacidades. Porém, a "teoria" do treinamento ainda carece
de estudos de caráter mais integrativo envolvendo não somente a combinação
simultânea do treinamento de capacidades e habilidades motoras como também dos
efeitos dos diferentes modelos de periodização.

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7. O que é a Psicologia do Esporte?

Expressando de uma forma simples, Psicologia do Esporte é o estudo científico


dos fatores psicológicos que estão associados à participação e performance nos
esportes, exercícios e outros tipos de atividade física. Os profissionais da psicologia
dos esportes estão interessados em dois objetivos principais: (a) ajudar atletas a usar
os princípios psicológicos para melhorar a performance; e (b) compreender como a
participação em atividades físicas, esportes, exercícios e jogos afeta o
desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar ao longo da vida (Weinberg &
Gould, 1995).

Para ilustrar, podemos citar algumas investigações, como as que enfatizam os


benefícios psicológicos da atividade física no bem-estar mental (Morgan & Goldston,
1987); as que relacionam o exercício a um efeito positivo na auto-estima de adultos
(Sonstroem, 1984); a relação da atividade aeróbica com a redução da ansiedade
(Bahrke & Morgan, 1978), da depressão (Berger, 1984), com a redução do stress
(Blumenthal, Williams, Needels & Wallace, 1982); as que relacionam, em uma
perspectiva clínica, a atividade física com efeitos benéficos em algumas desordens
psiquiátricas (Powell, 1988; Powell, Spain, Christenson, & Mollenkamp, 1986) entre
outras.

De fato, a psicologia tem contribuído em muitos dos campos de interesse do


psicólogo do esporte. A psicologia cognitiva, com certeza o paradigma dominante na
psicologia atual (Robins, Gosling & Craik, 1999), contribui na tentativa de elucidar
como a cognição e as emoções afetam as performances desportivas. Nesse campo,
tanto a pesquisa básica como a aplicada nas áreas da atenção, memória, percepção,
tomada de decisão, entre outras, são realizadas com esse objetivo.

Em todas as culturas, um dos fenômenos socializantes mais comuns na vida


de jovens e adultos é a participação em grupos esportivos. Para Brawley, Carron e
Widmeyer (1993), próximo à família, uma equipe esportiva é um dos grupos mais
influentes ao qual um indivíduo vai pertencer. A influência de grupos tanto em
indivíduos, como em equipes, em atividades físicas não competitivas, grupos de
atividade física de reabilitação, grupos de menores de rua, gangs, entre outros, é
bastante conhecida, embora raramente investigada. A pesquisa focada na natureza e

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na dinâmica dos grupos esportivos e sua relação com o indivíduo é uma outra área
extremamente fértil no campo da psicologia dos esportes (Carron & Hausenblas,
1998).

“Existe um perfil de atleta de sucesso?” “Esse perfil, se existe, difere entre as


várias modalidades esportivas?” “Quais características fazem o campeão diferente de
outros atletas?” “O esporte faz o indivíduo ou é somente um tipo determinado de
pessoa que faz sucesso no esporte?”. Para buscar uma maior compreensão para
perguntas como essas, o psicólogo do esporte se utiliza dos conhecimentos gerados
nas teorias da personalidade e no estudo das diferenças individuais.

Uma das áreas da psicologia que mais tem contribuído para a Psicologia do
Esporte é a psicologia clínica, através de investigações nos campos da ativação, do
stress, da ansiedade e com o desenvolvimento de técnicas de relaxamento,
biofeedback, estudos da relação do exercício com a saúde mental, entre outros.

O movimento humano pode assumir variadas formas e é fundamental para


cada momento de nossa vida diária. Esses movimentos são do interesse geral da
psicologia e aqueles movimentos complexos e críticos que aparecem na performance
desportiva são de especial interesse para o psicólogo do esporte. A área do
comportamento motor busca explicar esses movimentos. Podemos identificar, nessa
área, três subáreas de estudo:

1) a aprendizagem motora, que procura entender os fatores que influenciam a


aprendizagem e o processo de aprendizagem;

2) o desenvolvimento motor que busca a compreensão das mudanças na área


motora através do tempo; e

3) o controle motor que procura entender como o movimento é coordenado e


controlado.

Essas disciplinas investigam questões como a influência da memória, de curto


e longo prazo na aquisição de habilidades motoras, o uso do feedback e do
conhecimento de resultados, o controle do movimento voluntário, efeitos de métodos
de treinamento, práticas randômicas e bloqueadas, prática mental, retenção e
transferência da aprendizagem.

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A psicologia social, como campo mais amplo de estudo do comportamento e
da experiência social, é também uma das mais importantes fontes de conhecimento
para a compreensão do que acontece no campo esportivo, na medida em que, salvo
algumas exceções, o esporte envolve interação social. O interesse é focado no
conhecimento de atribuição (cognição social), comportamento dos espectadores,
violência e agressão no esporte, redução dos esforços individuais, quando
trabalhando como parte de um grupo, coesão grupal.

Nos últimos anos, a psicologia do desenvolvimento tem reconhecido o valor do


desenvolvimento motor como uma área tão importante quanto aprendizagem,
inteligência, linguagem e percepção, dedicando uma crescente literatura a esse
tópico. A psicologia dos esportes contribui com investigações sobre padrões de
movimento e performance motora, desenvolvimento fisiológico e efeitos do exercício,
processamento de informações e desenvolvimento de habilidades motoras,
importância da participação infantil no esporte, entre outras.

A psicofisiologia tem sido uma área de interesse permanente do psicólogo do


esporte. O esporte, invariavelmente, envolve alguma forma de exercício físico e
exercícios provocam alterações fisiológicas no funcionamento do indivíduo. A direção
e a magnitude dessas alterações são afetadas por muitos fatores, incluindo
intensidade, tipo, duração da atividade, como também por fatores individuais.
Psicólogos do esporte estão diretamente envolvidos em investigações relacionadas
às relações entre exercícios e estados de humor, depressão, ansiedade, resistência
à dor, responsividade ao stress, compulsão ao exercício, drogadição no esporte,
distúrbios alimentares.

O psicólogo do esporte tem duas áreas de atuação, relacionadas entre si:

A) acadêmica/pesquisa: esses profissionais ensinam nas universidades, em


cursos de graduação, especialização, mestrado e doutorado e conduzem
investigações. A pesquisa é necessária para entender a regulação psicológica da
atividade no contexto esportivo. São realizadas pesquisas teóricas ou empíricas,
básicas ou aplicadas, de laboratório ou de campo.

B) aplicação: o foco é na prática profissional e na aplicação da psicologia do


esporte no contexto do esporte, do exercício e da atividade , física. Tipicamente, esses
profissionais atuam em duas funções principais:

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(1) diagnóstico e acesso (ex. detecção de talento, testagem de habilidades
cognitivas ou sensório-motoras, avaliação das necessidades dos participantes); e

(2) intervenção (ex. melhora da performance, consultor de equipes).

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8. REFERÊNCIAS

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