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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

1 GESTÃO ESPORTIVA: COMPETÊNCIAS E QUALIFICAÇÕES DO


PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA .................................................................. 2

1.1 Gestão esportiva .................................................................................. 4

2 FORMAÇÃO ACADÊMICA DO GESTOR ESPORTIVO ............................. 4

3 O MERCADO DE TRABALHO .................................................................... 6

4 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS .......................................................... 7

4.1 Conhecimento esportivo ....................................................................... 8

4.2 A arte de negociar ................................................................................ 9

4.3 Planejamento estratégico ................................................................... 10

4.4 Tomada de decisão ............................................................................ 10

4.5 Aprender a conviver com reclamações e críticas ............................... 11

4.6 Conhecimentos legais e jurídicos básicos .......................................... 11

4.7 Captação de recursos ........................................................................ 11

4.8 Atenção em motivar seus subordinados e funcionários ..................... 12

4.9 Supervisão de recursos humanos ...................................................... 12

5 LEI DO TREINADOR DE FUTEBOL ......................................................... 13

6 TÉCNICOS DE FUTEBOL E A PRÁTICA DA PSICOLOGIA NO ESPORTE


16

6.1 A psicologia esportiva e sua relação com o futebol ............................ 17

6.2 Contribuições da psicologia social ..................................................... 21

7 “SER TREINADOR” E SUA IMPORTÂNCIA ............................................. 29

7.1 As Capacidades do Treinador ............................................................ 31

7.2 Liderança eficaz…condição sine qua non da profissão de treinador . 33

7.3 A importância de procurar…o conhecimento ..................................... 37


7.4 Conhecimento e fontes do conhecimento do treinador ...................... 38

7.5 O Treinador de Excelência: um enquadramento ................................ 41

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 44
INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 GESTÃO ESPORTIVA: COMPETÊNCIAS E QUALIFICAÇÕES DO
PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Fonte: editorial.ciee.org.br

De uns anos para cá, empregou-se na mídia e espalhou-se na sociedade como


um todo a importância de manter-se saudável e praticar atividades físicas, com o
intuito de alcançar maior longevidade e prevenir diversas patologias, como as doenças
crônico degenerativas, que crescem a cada dia entre a população mundial, se
tornando uma epidemia dos tempos modernos. Decorrente disso, observamos uma
crescente demanda populacional à prática de atividade física, e grande parte das
pessoas buscam estúdios de treinamento personalizado, academias de ginástica e
clubes esportivos, a fim de ter o acompanhamento e direcionamento de um educador
físico.
Diante desse quadro, o mercado exige um profissional preparado e capaz de
gerir uma empresa do ramo esportivo e fitness. Porém, será que os profissionais da
área da Educação Física possuem qualificações necessárias para atuar nessa
vertente?

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Conforme destacado por Schell (1995), os gestores têm um compromisso com
o crescimento da organização, e a maneira de transplantar a estrutura do
gerenciamento para a criatividade do gestor se dá por meio de uma combinação de
técnicas gerenciais e flexibilidade empresarial, o que significa uma vida inteira lidando
com pessoas.
Nos dias de hoje, separar a existência do ser humano do seu ambiente de
trabalho é uma missão impossível. De um lado, o trabalho toma a maior parte do
tempo da vida das pessoas, que dependem dele para sua subsistência e sucesso
pessoal, já as organizações voltadas à prática esportiva dependem diretamente
dessas mesmas pessoas para operarem, produzirem, atenderem seus clientes,
prestarem serviços; enfim, dependem essencialmente das pessoas para funcionarem
e assim obterem seu estimado retorno.
Os administradores dessas instituições que oferecem serviços voltados à
prática do exercício físico e ao esporte geralmente são ex-professores ou técnicos que
não possuem obrigatoriamente a qualificação necessária para sua função ou
administradores sem um conhecimento mais aprofundado sobre a área de Educação
Física, logo, nem sempre capacitados para conquistarem a meta desejada pela
empresa.
Portanto, a metodologia empregada para este fim é a de revisão bibliográfica,
com o objetivo de verificar quais competências e qualificações o profissional de
Educação Física deve ter para que atue na área da gestão esportiva ou fitness, a fim
de atender ao mercado profissional que vem crescendo a cada dia.
Com esta crescente exigência de mercado de trabalho do profissional de
Educação Física e diante da necessidade de se identificar pessoas para a atuação
como gestor nesta área, esta pesquisa pretende contribuir para a obtenção de um
maior conhecimento sobre o que é necessário buscar para que o profissional tenha
uma efetiva atuação e consequentemente, contribua para a obtenção dos resultados
desejados pela empresa.
Acreditamos que os profissionais atentos e preocupados que buscam
conhecimentos sobre gestão empresarial, terão maiores e melhores oportunidades na
sua área.

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1.1 Gestão esportiva

Segundo Zouain e Pimenta (2003), a gestão esportiva existe há muitos séculos,


desde os gregos, quando Herodes, Rei da Judéia, foi presidente honorário de jogos
que atraíam multidões para ver os combates entre os gladiadores ou animais, quando
uma cerimônia maravilhosa abria as competições, seguidas de disputas atléticas que
serviam de entretenimento para milhares de pessoas.
Nos dias de hoje o conceito de gestão esportiva incorporou-se ao conhecimento
acadêmico e, com bases neste apontamento, vamos compreender o que é o termo
gestão esportiva. Segundo Parkhouse (1996) apud Zouain e Pimenta (2003)

“A gestão engloba todas as áreas relativas ao esporte tais como: turismo,


hotéis, equipamentos, instalações, investimentos públicos e privados no setor
de fitness, merchandising, esportes escolares e profissionais. Enquanto a
administração esportiva seria mais limitada e sugere um foco nas relações
esportivas escolares”. (p.6 )

Zouain e Pimenta (2003) ainda destacam a visão de Parkhouse (1996) sobre


gestão esportiva, onde esta se compõe de dois elementos básicos: esportes e gestão.
Conseguir as coisas executadas por meio das pessoas e com elas via planejamento,
organização, direção e avaliação (controle), é a definição contemporânea de gestão
esportiva.
Podemos então compreender que a gestão esportiva inclui as funções de
planejamento, organização, direção e controle no contexto de uma organização com
o objetivo de prover atividades esportivas e de fitness, bem como produtos e serviços.

2 FORMAÇÃO ACADÊMICA DO GESTOR ESPORTIVO

Primeiramente, como conceito histórico, em 1985 o governo brasileiro se


preocupou com a formação em administrador esportivo quando o Conselho Regional
de Desportos montou uma comissão de Reformulação do Desporto integrada às áreas
ligadas a Educação Física e ao desporto. Dentre outros assuntos e considerações, o
documento indicava que uma das formas de desenvolvimento do esporte seria a
preparação de recursos humanos capazes de estimular e coordenar programas dessa
manifestação em comunidades.

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A área de Administração Esportiva, de acordo com Bastos (2004), envolve a
aplicação dos conceitos e teorias gerais da Administração ao Esporte e aos diferentes
papéis que ele desempenha na sociedade contemporânea. Seu estudo engloba
conhecimentos multidisciplinares, que passou a ser divulgado com maior consistência
a partir dos anos sessenta do século passado.
Através da grandeza que o esporte tem no contexto social dos dias de hoje,
estão também envolvidos, de maneira geral, além dos conceitos e teorias da
Administração, conhecimentos relativos à Economia, Marketing, Legislação e Política.
Segundo Parkhouse (1996) citado por Zouain e Pimenta (2003), a carreira de
gestor esportivo tem sido fundamentada em cursos de graduação e especialização,
em dois pilares de sustentação: a Educação Física e a Administração.
Neste contexto, diferentes universidades, faculdades, entidades profissionais,
sindicatos, dentre outras passaram a oferecer de maneira significativamente
crescente a disciplina Administração Esportiva e cursos de administração esportiva
no nível de extensão universitária, de especialização, de curta duração, para públicos
das áreas de educação física e esporte e não profissionais que atuam em
organizações esportivas. (BASTOS, 2004)
A especificidade das características que o esporte assume de acordo com
Rezende (2000); Pires e Lopes (2001); Pitts (2001); Souci (2002), citado por Bastos
(2004), conforme o setor social em que está inserido – privado, público ou terceiro
setor – leva à necessidade da inclusão na formação do futuro profissional da
administração esportiva de estudos e aprofundamentos em outras áreas como:
medicina; psicologia e sociologia do esporte; comunicação, tecnologia, contabilidade,
relações públicas, promoção de eventos, turismo e lazer, entre outras.
Diante da identificação dessas necessidades os autores acima citados,
discutiram as qualificações pessoais necessárias aos profissionais desta área e
apresentaram a tabela abaixo inspirada por Le Boterf exposto por Fleury (2002).

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Fonte: editorial.ciee.org.br

Assim, vemos que não basta ao profissional ter um conhecimento acadêmico,


diversas experiências profissionais, habilidades ou capacidades específicas. Estes
fatores são de extrema importância, juntamente com as características pessoais para
o sujeito e a organização em que irá atuar. Ou seja, a maneira que o indivíduo interage
com a organização é de suma importância para uma definição de competência.

3 O MERCADO DE TRABALHO

Segundo Vanderzwaag (1998) citado por Zouain e Pimenta (2003) para a área
profissional as várias definições encontradas permitem observar as infinitas
possibilidades de atuação profissional na gestão esportiva. Eles também identificaram
uma variedade de situações esportivas, como programas de recreação esportiva
comunitária, programas industriais esportivos, programas esportivos militares,
patrocinadores corporativos (ex.: Torneio XYZ Internacional de Tênis), indústria de
artigos esportivos e desenvolvimento de programas esportivos (Associações,
Fundações e Institutos), agências sociais (ACM, SESC, SESI, SENAC, etc.), mídia
esportiva e programas acadêmicos em gestão esportiva.
Os campos de atuação do profissional gestor esportivo são variáveis, de
acordo com a cultura, organização e as políticas de cada país ou região. No Brasil,
seguindo o estudo elaborado por Rezende (2000), também podemos verificar os
principais grupos de locais de atuação do gestor esportivo: nas organizações que
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existem em função da atividade física, esportiva e de lazer que, como exemplo,
podemos apresentar os centros de treinamento e escolinhas; academias e clubes;
ligas, federações e confederações, etc.; o segundo grupo de atuação compreende
aquelas que possuem valores voltados para a atividade física, esportiva e de lazer –
exemplo: prefeituras, governos estaduais, governo federal, clubes sociais, entidades
representativas (SESC, SESI, sindicatos), hotéis, academias, shoppings, etc.
A função de gestor esportivo, de acordo com Rezende (2000), exige
profissional que tenha conhecimento sobre a área de gestão, mas também requer o
conhecimento específico do setor ao qual está voltado, ou seja, como ele se organiza
de maneira geral.
Para tanto, é necessário que a pessoa que for ocupar essa vaga seja um
profissional que entenda a estrutura da organização em relação à parte prática. E
quem melhor para entender desse componente especifico do que o professor que já
tenha atuado dando aulas sobre a modalidade em questão na organização? Quanto
ao cargo de coordenador/gestor, estas funções deveriam ser ocupadas por
profissionais especializados também em Administração Esportiva.

4 COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS

Fonte: www.portalveneza.com.br

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De acordo com Feustel (2004), profissionais como engenheiros, educadores,
médicos, etc., que conhecem suas respectivas especialidades, quando passam a
empreender o seu próprio negócio, como na abertura de uma empresa ou ainda, por
promoções de cargos à nível superior em empresas / instituições como supervisor,
gerente, coordenador ou diretor, precisam transformar-se em gestores adquirindo
novos conhecimentos e posturas que suas especialidades não lhes ensinaram.
Eles necessitam, neste caso, adquirir novas competências, que podem ser
definidas como “um conhecimento, habilidade, ou atitude necessária para desenvolver
apropriadamente uma atividade para se alcançar o sucesso na vida profissional”.
(BUTLER citado por ZOUAIN e PIMENTA, 2003, p. 12) ou ainda, “competência é a
inteligência prática de situações que se apóia nos conhecimentos adquiridos e os
transforma com tanto mais força quanto maior for a complexidade das situações”.
(FLEURY, 2002, p. 22).
Além da citação acima, Fleury (2002) ainda comenta que competência também
é um saber agir responsável e reconhecido que implicam mobilizar, integrar, transferir
conhecimentos, recursos, habilidades, que agregue valor econômico a organização e
valor social do indivíduo.
Os profissionais da área consideram que a combinação entre talento e
organização tende a levar ao sucesso, à certeza da obtenção de resultados
expressivos, desde que organização seja entendida como a sinergia entre trabalho
em equipe, liderança e planejamento.
De acordo com Vieira (2007), o profissional brasileiro esperado no Brasil é
muito semelhante ao que já é encontrado em atividade em nosso país, citando assim
diversas referências, que identificam estas competências necessárias que buscamos
neste estudo, e apresentamos a seguir:

4.1 Conhecimento esportivo

Segundo Parks (1998) citado por Zouani e Pimenta (2003), as


responsabilidades dos gestores esportivos podem ser divididas em quatro “clusters”:
Atividades de Gerência geral; Gerência organizacional; Gestão de informações e;
Ciências do esporte e exercício. Ou seja, uma das responsabilidades citadas refere-
se ao conhecimento que o profissional deve ter sobre as ciências do esporte e as

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atividades em geral, claro que com ênfase em sua área de atuação, porém munindo-
se de conhecimento nas demais vertentes.
Vieira (2007) afirma que algumas escolas formam o educador físico conhecedor
do esporte em todas as suas vertentes. Ou seja, munindo-se destes conhecimentos,
o profissional torna-se apto a lidar com qualquer tema relacionado ao esporte e
entender as atividades do negócio.
Para o Dr. Eduardo Viana, segundo trecho citado por Zouain e Pimenta (2003)
o gestor esportivo que tentar ingressar neste mercado sem conhecimento de esportes,
ou mesmo sem ter vivenciado o ambiente, sofrerá a mais dura restrição, ou de acordo
com suas palavras: “o novo profissional sofrerá dura resistência para ingressar no
mercado, desde que já tenha algum vínculo com o ambiente esportivo, pois aquele
que não o possui, não sofrerá resistências, na verdade, será repelido”. (p. 23)

4.2 A arte de negociar

A habilidade em negociação é uma importante e necessária competência para


o gestor atingir seus objetivos, tomando decisões racionais eficazes no seu negócio.
Segundo Vieira (2007), a negociação racional não nasce com a pessoa, mas faz parte
de um processo de aprendizagem que ocorre em sua formação moral e acadêmica.
O educador físico deve procurar adaptar o poder de negociação das aulas em
colégios, dos treinos implantados, dos objetivos a serem alcançados, seria praticar
sua função de gerenciar negócios. Transpor esse negociar diário junto com o
aprendizado das particularidades do conhecimento em negócios, pode ser uma boa
estratégia futura. (VIEIRA, 2007, pg. 9).
Zouain e Pimenta (2003) também enfatizam a importância da comunicação
deste gestor, registrando que é a habilidade para interagir a redação e o discurso de
forma clara, concisa e de maneira a se alcançar um objetivo. A promoção de eventos
esportivos é uma função que exige alto nível de comunicação, por exemplo,
juntamente com seu poder de negociar.

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4.3 Planejamento estratégico

O planejar consiste na antecipação e organização de ações futuras. Quando


falamos de planejamento estratégico, falamos de um processo gerencial que diz
respeito à formulação de objetivos para a seleção de programas de ação execução.
Segundo Vieira (2007) deve-se respeitar premissas a fim de que o processo
tenha coerência e sustentação. O profissional de educação física planeja as suas
intervenções e propõem objetivos a serem alcançados, controlando se os resultados
parciais desses objetivos estão sendo alcançados, fazendo os ajustes necessários.
Sendo assim, ele está propício a adaptar as suas relações de planejamento para a
capacitação do gestor.
O ato de planejar é decidir antecipadamente o que se pretende fazer, antes da
efetivação do trabalho, enxergando de forma clara o futuro, prevendo cada ação
necessária, os meios envolvidos com o tempo de execução, para conseguir atingir os
objetivos com sucesso (REZENDE, 2000).
Ou seja, o planejamento estratégico trata-se do ato de saber identificar
oportunidades futuras e possíveis ameaças, para si e para o cliente.

4.4 Tomada de decisão

O processo de tomada de decisão, de acordo com Vieira (2007) resume-se em


pensar na escolha mais coerente que irá proporcionar um retorno satisfatório à
organização. Para isto, o indivíduo necessita obter informações completas sobre o
problema, realizar análise das possibilidades da situação e criar critérios que sirvam
como parâmetro durante o processo de tomada de decisão, a fim de se obter saldo
favorável à organização.
O processo decisório pode ser desenvolvido no educador, na medida em que
a criatividade permeia suas ações. As etapas podem ser aprendidas e treinadas em
qualquer indivíduo que tenha que lidar com solução de problemas.
A complexidade das relações humanas no sistema gestor e sua implicação na
tomada de decisões, fator este primordial da gerência, segundo Feustel (2004) torna
a gestão uma arte. A menor decisão que é tomada, ainda que a nível individual, de
grupo ou de instituição, afeta a qualidade de vida, obedecendo ao que se pode chamar
de elementos de gerenciamento.
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4.5 Aprender a conviver com reclamações e críticas

Os seres humanos, por si próprios, são por muitas vezes exigentes, até demais
com ocorrências de seu dia a dia, porém temos que aprender a lidar com as
reclamações e críticas que surgem dentro da organização. Muitas atitudes, apesar de
bem fundamentadas, não irão agradar a todos, então o gestor esportivo deve saber
conviver com as frequentes barreiras e críticas de seu trabalho e/ou atitudes (VIEIRA,
2007).
Porém a maior crítica que deve ser vista com muita atenção é a que vem do
consumidor de seus serviços. Conforme registros de Vieira (2007) o gestor deve
sempre buscar atender sua clientela, ou seja, na medida do possível, o cliente “sempre
tem razão”. Saber lidar com as reclamações é uma das competências mais exigidas
no mundo dos negócios.

4.6 Conhecimentos legais e jurídicos básicos

Vieira (2007) destaca que todo profissional deve conhecer a legislação que o
cerca, a autonomia de exercer a profissão necessita disso. O conhecimento sobre a
legislação especifica para empresas deve ser adquirido pelo educador físico, já que
ele tem conhecimento sobre as leis esportivas e de incentivo fiscal, que o ajudará na
próxima competência.
É de extrema importância para qualquer profissional ter conhecimento básico
das leis e normas pertinentes à sua área de atuação, para a própria segurança de
seus clientes e de sua organização.

4.7 Captação de recursos

O profissional de educação física deve ter conhecimento do produto com que


está trabalhando, assim como o público que o atinge. De acordo com Vieira (2007)
para o profissional captar os recursos e deixar o financiador do projeto seguro das
atividades físicas que serão aplicadas, o profissional tem que transmitir segurança e
possuir técnicas para apresentação dos projetos, além de caminhar de acordo com as
exigências de seu negociador.

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Estas técnicas para o profissional de educação física ficam mais fáceis, pois
no decorrer do curso terão a possibilidade de se comunicar em público, faltando
apenas algumas técnicas específicas que serão adquiridas com o passar de sua
graduação.

4.8 Atenção em motivar seus subordinados e funcionários

A competência em questão é realizada pelo educador físico com facilidade,


pois, diariamente seus funcionários são motivados a estarem fazendo o que lhes foi
proposto, estimulando-os a melhorar em determinados momentos. Ou seja, a
motivação começa a partir do estimulo que lhe é passado através de seu gestor.
Segundo Zouain e Pimenta (2003) as organizações precisam de gestores que
estejam preparados a ajudar seus proprietários e/ou dirigentes e sua equipe principal
(times) a formular e alcançar suas metas e objetivos.
Essa competência é tão evidente nos educadores físicos que é comum estes
ministrarem palestras a demais indivíduos, por ser uma característica da profissão em
si.

4.9 Supervisão de recursos humanos

Nos dias de hoje, separar a existência do ser humano do seu ambiente de


trabalho é uma missão impossível. De um lado, o trabalho toma a maior parte do
tempo da vida das pessoas, que dependem dele para sua subsistência e sucesso
pessoal. Já as organizações dependem diretamente dessas mesmas pessoas para
operarem, produzirem, atenderem seus clientes, prestarem serviços; enfim,
dependem essencialmente das pessoas para funcionarem e assim obterem seu
estimado lucro! (CHIAVENATO, 1999).
A Administração de Recursos Humanos, de acordo com Dessler (1998) citado
por Chiavenatto (1999a), é a função administrativa devotada à aquisição, treinamento,
avaliação e remuneração de empregados. Todos os gerentes são, em certo sentido,
gerentes de pessoas, porque todos estão envolvidos em atividades como
recrutamento, entrevistas, seleção e treinamento.

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Vieira (2007) afirma que uma das funções mais difíceis é a supervisão de
recursos humanos, a de saber delegar e cobrar funções, pois engloba uma gama de
competências, como a liderança, por exemplo, onde cada um tem a sua função e
depende do outro para a conquista dos objetivos do grupo.
Ferreira, Reis e Pereira (1997) apud Feustel (2004) deixam clara a posição de
liderança que se refere à qualidade de conduta das pessoas, guiando as suas
atividades em esforço organizado. A liderança depende do indivíduo, de seus
seguidores e das condições em que ocorre. Estas características de líder pressupõem
o entendimento da organização, o corpo humano que a compõem e suas inter-
relações de forma a poder estimular ações coordenadas.
Ou seja, o profissional deve conhecer as problemáticas de liderança e seus
componentes de conhecimento, da autoridade, da motivação, da confiança e da
incerteza. Deve ser capaz de construir e interagir equipes de trabalho e compreender
a dinâmica de grupo.1

5 LEI DO TREINADOR DE FUTEBOL

Fonte: www.sport.es

1 TEXTO EXTRAÍDO DO SITE: http://www.efdeportes.com


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LEI Nº 8.650, DE 22 DE ABRIL DE 1993
Dispõe sobre as relações de trabalho do Treinador Profissional de Futebol
e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional
decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º A associação desportiva ou clube de futebol é considerado empregador


quando, mediante qualquer modalidade de remuneração, utiliza os serviços de
Treinador Profissional de Futebol, na forma definida nesta lei.

Art. 2º O Treinador Profissional de Futebol é considerado empregado quando


especificamente contratado por clube de futebol ou associação desportiva, com a
finalidade de treinar atletas de futebol profissional ou amador, ministrando-lhes
técnicas e regras de futebol, com o objetivo de assegurar-lhes conhecimentos táticos
e técnicos suficientes para a prática desse esporte.

Art. 3º O exercício da profissão de Treinador Profissional de Futebol ficará


assegurado preferencialmente:
I - Aos portadores de diploma expedido por Escolas de Educação Física ou
entidades análogas, reconhecidas na forma da lei;
II - Aos profissionais que, até a data do início da vigência desta lei, hajam,
comprovadamente, exercido cargos ou funções de treinador de futebol por prazo não
inferior a seis meses, como empregado ou autônomo, em clubes ou associações
filiadas às Ligas ou Federações, em todo o território nacional.

Art. 4º São direitos do Treinador Profissional de Futebol:


I - Ampla e total liberdade na orientação técnica e tática da equipe de futebol;
II - Apoio E assistência moral e material assegurada pelo empregador, para que
possa bem desempenhar suas atividades;
III - Exigir do empregador o cumprimento das determinações dos órgãos
desportivos atinentes ao futebol profissional.

Art. 5º São deveres do Treinador Profissional de Futebol:

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I - Zelar pela disciplina dos atletas sob sua orientação, acatando e fazendo
acatar as determinações dos órgãos técnicos do empregador;
II - Manter o sigilo profissional.

Art. 6º Na anotação do contrato de trabalho na Carteira Profissional deverá,


obrigatoriamente, constar:
I - O prazo de vigência, em nenhuma hipótese, poderá ser superior a dois anos;
II - O salário, as gratificações, os prêmios, as bonificações, o valor das luvas,
caso ajustadas, bem como a forma, tempo e lugar de pagamento. Parágrafo único. O
contrato de trabalho será registrado, no prazo improrrogável de dez dias, no Conselho
Regional de Desportos e na Federação ou Liga à qual o clube ou associação for filiado.

Art. 7º Aplicam-se ao Treinador Profissional de Futebol as legislações do


trabalho e da previdência social, ressalvadas as incompatibilidades com as
disposições desta lei.

Art. 8º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 9º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 22 de abril de 1993; 172º da Independência e 105º da República.


ITAMAR FRANCO
Walter Barelli2

2 TEXTO EXTRAÍDO DO SITE: http://cref16.org.br/home/federais/LeiFedralN8.650.pdf


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6 TÉCNICOS DE FUTEBOL E A PRÁTICA DA PSICOLOGIA NO ESPORTE

Fonte: queconceito.com.br

Considerada uma especialidade da psicologia ou uma subárea das ciências do


esporte, a psicologia do esporte, com o foco no comportamento humano ou em suas
dimensões psicológicas assim como a motivação, afetividade, cognição, entre outras,
é definida como “o estudo do comportamento humano no contexto do esporte ou como
os fundamentos psicológicos, processos e consequências da regulação psicológica
de atividades relacionadas ao esporte de uma ou várias pessoas atuando como sujeito
da atividade”.
Frequente nos discursos de atletas/comissão técnica/mídia, a importância da
psicologia do esporte na preparação e no treinamento de jogadores de futebol vem
sendo bastante ressaltada a ponto de atualmente alguns clubes de futebol possuir um
psicólogo esportivo como membro da comissão técnica. A psicologia do esporte tem
estreitado, cada vez mais, os laços com o futebol profissional. No entanto, ainda
persiste a visão da psicologia esportiva como salvadora diante de situações já
emergentes de desequilíbrio emocional, problemas de relacionamento no grupo etc.
A psicologia esportiva aplicada ao futebol tem como um de seus objetivos
aperfeiçoar o desempenho dos atletas por meio de estratégias de intervenção
psicológica, procurando sempre que possível integrar a teoria e prática. Alguns
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exemplos são o treinamento de habilidades psicológicas passando necessariamente
pelo controle emocional (domínio da raiva, ansiedade, medo e frustração), motivação
e autoeficácia.

6.1 A psicologia esportiva e sua relação com o futebol

Apesar de a psicologia do esporte ser um dos ramos mais jovens das ciências
psicológicas, passou a estreitar sua relação com o esporte já no final do século XIX e
se aproximar do futebol brasileiro na década de 50 do século seguinte. No entanto, foi
nas últimas duas décadas do século XIX que sua presença se deu mais fortemente.
Mesmo ainda longe do almejado, principalmente quanto à aceitação do
clube/comissão técnica/atletas da presença de um psicólogo esportivo e pela
quantidade de profissionais atuantes nessa área, estas duas últimas décadas têm
demonstrado a força e contribuição que a psicologia pode dar ao futebol.
Neste aspecto, vale salientar que a ampliação da presença da psicologia do
esporte no futebol profissional ocorreu no mesmo momento histórico em que o futebol
sofreu suas mais significativas mudanças, ou seja, quando se tornou mercadorizado,
politizado, tratado como espetáculo, fonte de marketing, com seu objetivo focado no
lucro e com uma demasiada pressão sobre atletas e comissão técnica por resultados
satisfatórios.
Estudo realizado com atletas profissionais de futebol apresenta como os
principais problemas existentes entre os jogadores os aspectos relacionados com sua
vida pessoal (seus contratos, patrocínios etc.), com seus relacionamentos
interpessoais (com companheiros de equipe, treinadores etc.) com a formulação de
objetivos, visualização mental e controle do pensamento, assim como com aqueles
fatores que dizem respeito à autoconfiança, motivação, ativação, concentração,
estresse e ansiedade.
Em depoimentos obtidos por meio de entrevistas com alguns sujeitos que
compõem um clube de futebol, ratifica-se a necessidade e importância da psicologia
do esporte estar mais presente neste contexto. O processo de formação do grupo,
como um dos pontos de possível intervenção do psicólogo do esporte, é motivo de
preocupação dos dirigentes esportivos. Quanto mais heterogênea for a equipe e mais
homogênea for a tarefa proposta, maior será o avanço em direção à novas práticas,

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visto que cada membro trará para o grupo a bagagem fruto de suas experiências e
conhecimentos e a atividade criativa se constituirá no aspecto mais significativo para
o alcance dos objetivos. Por outro lado, a heterogeneidade dos integrantes do grupo
pode fazer emergir situações de conflitos. A esse respeito, o superintendente técnico
entrevistado neste estudo emitiu a seguinte opinião:

“Você tem que ter divergências. Às vezes as divergências ou um conflito


geram casos positivos, criam situações boas. Não é um time de médicos, um
time de padres. Você tem que ter um time, time. Tem times que têm grandes
diferenças individuais e coletivamente é espetacular. Porque um completa o
outro de alguma forma... Então às vezes as diferenças também completam e
dão grandes resultados. (Superintendente Técnico de Futebol).”

No entanto, as divergências supracitadas sinalizam para possíveis problemas


de relacionamento dentro do grupo de atletas/comissão técnica etc. Tais dificuldades
em manter a harmonia grupal afetam o desenvolvimento da equipe enquanto grupo,
prejudicam a qualidade de suas relações interpessoais e afetam o desempenho –
individual e coletivo – de seus integrantes. Muitas demissões de atletas e membros
da comissão técnica (principalmente do treinador) são realizadas pela manifestação
explicita do grupo em não saber lidar e superar problemas de ordem grupal. Neste
aspecto, o mesmo dirigente citado acima e o preparador físico da equipe analisada
emitem a seguinte opinião:

“No futebol essa relação é inexplicável. Olha, você programar, esse precisa
daquele, aquele precisa do outro, não é bem assim. Isso vale muito na teoria,
mas na prática não é verdade. Você tem que, claro, minimizar conflitos...O
conflito é inesperado, você jura que você vai ter um relacionamento perfeito
e ele é um desastre. (Superintendente Técnico de Futebol).”

“Da mesma forma para um grupo de futebol, para uma empresa, é importante
que as pessoas se entendam e fundamental que se respeitem, não sendo
necessário que se gostem... Se gostar melhor ainda, mas um grupo que tem
harmonia, que se respeita e que se gosta, caminha melhor porque as ideias
acabam combinando, a forma de pensar nos bons e nos maus momentos
também. (Preparador Físico).”

Outro foco de estudo e intervenção da psicologia do esporte refere-se às


manifestações de liderança presentes no âmbito do futebol profissional. Um dos
atletas entrevistados neste estudo ressalta a importância da presença de líderes no
futebol profissional. Para ele:

“Em todo segmento esportivo é importante ter o líder. Você ter um cara que
tem essa liderança dentro de campo vai passar tranquilidade necessária para
que nós jogadores não tenhamos um abatimento naquela partida difícil e é

18
por isso que é importante ter uma liderança dentro de campo. E fora de
campo, para dar tranquilidade para aqueles que chegam ou para aqueles que
já estão há muito tempo, aquela conversa boa, de saber lidar com eles em
situações.... Então o líder dentro de um segmento esportivo, principalmente
dentro do futebol, é muito importante. (Jogador).”

Já o treinador do clube investigado evidencia, em seu discurso, a preocupação


com as formas de liderança existentes.

“Vou liderar de forma diferente, dependendo da minha leitura em relação ao


grupo e ao que vive o grupo naquele determinado momento. Isso na minha
cabeça não tem também uma forma de liderar. Eu acho que tenho que ter
várias ferramentas pra poder agir e de forma rápida. (Treinador).”

Ambos os discursos, se por um lado refletem a preocupação de alguns sujeitos


inseridos neste contexto acerca da necessidade de possuir diversas formas de
liderança dentro de uma equipe profissional de futebol e da sua importância dentro do
grupo, por outro sinaliza uma compreensão limitada (por vezes confusa) sobre as
diversas possibilidades de atuação do líder, assim como a respeito da importância de
aprimorar e qualificar o surgimento e a intervenção dos líderes existentes em um clube
de futebol, refletindo o quanto o entendimento acerca dos objetivos e pressupostos da
psicologia esportiva está marcado, neste contexto esportivo, pela influência exercida
por algumas intervenções iniciais.
A compreensão de que a liderança no futebol possui especificidades que
quase sempre estão vinculadas ao rendimento esportivo também foi explicitada no
depoimento do treinador.

“A liderança tem que ter credibilidade. No nosso caso (o futebol profissional),


ela está totalmente voltada ao rendimento técnico do líder sendo ele um
jogador. Sendo ele da comissão técnica, também está diretamente
relacionada aos seus resultados. A liderança vai ser positiva com os
resultados... É evidente que numa fase difícil ela vai aparecer também, só
que tem que estar credibilizada pelos resultados esportivos. É fundamental!
(Treinador).”

Entretanto, se por um lado tais depoimentos explicitam alguns pontos afeitos


ao campo de intervenção da psicologia esportiva e, portanto, à necessidade da
presença de um psicólogo do esporte neste contexto, por outro vale ressaltar que a
sua aceitação ainda se dá timidamente entre comissão técnica e jogadores, e o
psicólogo ainda é visto como “bombeiro” solicitado, salvo exceções, para “apagar” e
contornar problemas emergentes que requeiram soluções imediatas.

19
Apesar de valorizar a presença da psicologia do esporte no futebol profissional,
ratifico, no entanto, a necessidade de que o psicólogo esportivo tenha um
conhecimento profundo sobre as características do Esporte e especificamente sobre
a modalidade esportiva na qual se propõe a estudar e intervir.
Ainda que a psicologia esportiva esteja presente nos discursos de dirigentes,
atletas e treinadores de futebol, sua presença nos clubes ainda está longe de ser a
ideal. São somente alguns clubes que possuem um psicólogo do esporte como
membro da comissão técnica e ainda assim, na maioria deles, sua intervenção se dá
nas categorias de base. Dentre os quatro clubes considerados “grandes” no estado
de São Paulo (Santos, Palmeiras, Corinthians e São Paulo), nenhum deles apresenta
em sua equipe técnica um psicólogo esportivo. Uma das possíveis respostas para
esse quadro está no fato de grande parte dos treinadores julgar ser mais importante
e decisiva a sua intervenção psicológica diária com os atletas do que vê-la realizada
por um especialista. Outra explicação poderia estar no fato de alguns treinadores não
permitirem a presença de um psicólogo do esporte em sua equipe técnica por
perceber a sua presença como ameaçadora da sua autoridade.
Concordo com Almeida e Lameiras quando afirmam que a contribuição da
psicologia esportiva no trabalho com jogadores de futebol é mais significativa quando
há uma relação profissional de confiança mútua entre o psicólogo e o treinador, assim
como entre o treinador e o preparador físico e médico. O técnico da equipe exerce em
relação ao grupo uma liderança diferenciada sobre os jogadores. Dessa forma, torna-
se indispensável ter o seu apoio para o desenvolvimento de um trabalho psicológico
de qualidade, contando para isso com a influência que detém sobre os atletas.
A este respeito, outros dados deste estudo podem trazer contribuições
significativas. Em entrevista com o gerente de futebol, quando questionado sobre a
existência na comissão técnica de um psicólogo esportivo, admitiu não contar com
esse profissional por não fazer parte das pretensões do clube, sobretudo por não ser
de interesse da comissão técnica contar com um profissional especialista em
psicologia esportiva. Esporadicamente já contrataram profissionais com esta
formação, mas enfatizou que nos últimos anos o papel do psicólogo esportivo é
desempenhado pelo auxiliar técnico e pelo médico e superintendente de futebol. Em
contrapartida, em entrevista com um dos preparadores físicos, constatamos em seu
depoimento que algumas das funções de um psicólogo esportivo são

20
exercidas/desempenhadas naturalmente por ele. Sobre a presença da psicologia do
esporte na comissão técnica e formas de intervenção, disse:

“Não acredito nessas coisas de autoajuda, nessas coisas de última hora, que
caem de paraquedas. Acredito na psicologia esportiva com um trabalho de
começo, meio e fim, com profissionais competentes, já trabalhei com pessoas
assim, com avaliações e como um suporte à comissão técnica. Mas também
não me valho de essas tentativas de com frases ou com imagens tentar
mobilizar os jogadores.” (Preparador Físico).

Neste aspecto, vale ressaltar a compreensão limitada e por vezes equivocada


acerca dos objetivos e pressupostos da psicologia esportiva que se faz presente neste
contexto. Não se trata da discussão sobre competência profissional em função de tais
intervenções serem realizadas por profissionais de outra área que não da psicologia,
mas, desde que devidamente capacitado e especializado, amplie suas possibilidades
de intervenção para além do papel de servir como motivador de atletas que enfrentam
problemas pessoais e/ou profissionais.
Na esfera acadêmica, em 1962 – ano em que a psicologia foi reconhecida como
profissão – o movimento adotado foi contrário ao assumido pela esfera profissional.
Porque, “apesar de já apresentar um corpo teórico considerável na parte clínica, em
outras áreas, principalmente na educação e em recursos humanos, a psicologia
procurava se firmar como ciência”. Foi nessa época que os testes psicológicos foram
criados e sistematizados.
No entanto, vale ressaltar que apesar do crescente número de estudos que
buscam compreender a psicologia a partir da sua relação com o esporte, há ainda
uma carência significativa de pesquisas afeitas ao esporte que partam de uma
abordagem da psicologia social, ressaltada, sobretudo, pela forte presença da
psicologia cognitivo-comportamental no campo da psicologia esportiva.

6.2 Contribuições da psicologia social

Recentemente, cada vez mais estudos têm sido realizados para suprir as
limitações de aparatos teóricos e práticos para o desenvolvimento e controle dos
aspectos psicológicos. Assim, é notório o avanço da psicologia do esporte como área
de conhecimento e intervenção nas ciências do esporte nos últimos anos. Entretanto,
esse crescimento deu-se muito pouco por meio de pesquisas que possuíssem como
referencial teórico a psicologia social. Muitos dos autores do campo acadêmico,
21
alguns deles supracitados inclusive, ou aqueles já inseridos no contexto esportivo
nacional (seja por meio de suas pesquisas ou por suas intervenções profissionais),
possuem a teoria cognitivo-comportamental como balizadora de suas intervenções.
Por sua vez, as atuações psicoterapêuticas não são realizadas somente
baseadas no modelo cognitivo-comportamental, visto que também se baseiam nos
princípios psicanalíticos, passando pelas variantes da psicologia humanista e pelos
modelos da psicologia social.
Diante da relevância que o esporte tem assumido como prática social tem-se
buscado uma aproximação das atividades físicas e esportivas com a psicologia social.
Neste ponto, na medida em que o esporte revela em sua organização os valores
subjacentes da sociedade da qual ele faz parte, “toda manifestação esportiva é
socialmente estruturada”. Afirma ainda que a psicologia do esporte que visa a
compreensão da dinâmica das relações entre atletas, comissão técnica, dirigentes,
mídias e patrocinadores e trata dessa forma o fenômeno esportivo na sua
complexidade não é apenas uma psicologia do rendimento, mas uma psicologia social
do esporte.
Entretanto, mais do que buscar compreender esses outros fatores, é importante
fazê-lo a partir de uma psicologia esportiva nos moldes da proposta por Cagigal, ou
seja, uma “psicologia do esporte para o ser humano” que, para além da preocupação
com o rendimento, sirva como um instrumento para se alcançar um ser humano
melhor, tendo o esporte como uma ferramenta específica para descobrir e
desenvolver suas potencialidades e habilidades por meio da superação dos seus
próprios limites. Corroboro com Rubio quando afirma que “rendimento esportivo e
integridade de atleta não se confrontam, mas se completam”.
Ciente da diversidade de orientações/compreensões existentes referentes ao
próprio campo da psicologia social vale destacar que este artigo possuí como principal
referencial teórico a psicologia social postulada por Pichon-Rivière. Sob influência de
conceitos da psicologia social trazidos por Kurt Lewin e George Mead e da Psicanálise
de Melanie Klein, Pichon-Rivière formula sua teoria subsidiada por uma compreensão
de psicologia social que tem como um de seus objetivos específicos à análise das
interações entre indivíduos e grupos. Neste ponto, ressalta a necessidade de associar
a investigação psicanalítica à social por meio de uma tripla direção (psicossocial,
sociodinâmica e institucional) possibilitando assim uma análise completa do grupo a

22
ser investigado. O conceito de vínculo recebe nesta teoria posição de destaque. É do
contexto vincular que “emerge o sujeito, a partir de um constante interjogo entre a
necessidade X satisfação, que remete por sua vez uma dialética intersubjetiva
(indivíduo X contexto vincular social)”. Em outras palavras, a teoria do vínculo
proposta por Pichon-Rivière “é um desenvolvimento psicossocial das relações do
objeto que torna compreensível a vida em grupo”.
Outro importante pesquisador, cujos trabalhos que realizou possuem
fundamentação na psicologia social, é Kurt Lewin. Para Lewin, os objetivos da
psicologia social são fornecer um diagnóstico sobre uma determinada situação social
além de descobrir e formular a dinâmica própria da vida de um grupo sem, contudo,
tratar desses dois objetivos de forma separada, dissociada e não complementar.
A psicologia social, apesar de constituir-se como uma ciência única possui,
assim como várias outras correntes científicas, diferentes direções/posições. Uma
delas é aquela que consiste em observar, identificar, definir e interpretar as condutas
sociais ou comportamentos em grupo, diferenciando, portanto, as condutas pessoais
dos comportamentos de grupo. Outra direção é aquela que se propõe a fornecer a
inteligência científica dos comportamentos de grupo. A partir de Kurt Lewin, foi
possível, ao fazer com que indivíduos experimentem as mesmas emoções de grupo,
atingindo certo grau de coesão de modo a integrá-los e fazer deles um grupo, adotar
o mesmo tipo de comportamento, podendo variar em termos de duração se
desencadeados por um agente externo, um agente provocador ou por um líder. Há
ainda outra distinção proposta por Lewin. Que é pautada na distinção entre “sócio-
grupo” e “psico-grupo”. Para ele, se tratam de dois tipos diferentes de grupos de micro-
grupos sendo que o primeiro seria o grupo da tarefa, ou seja, aquele estruturado e
orientado em função da execução/cumprimento de uma tarefa, enquanto que o
segundo seria definido como um grupo de formação, isto é, estruturado, orientado e
polarizado em função dos próprios membros que o constituem.
Entretanto, apesar da reconhecida importância de Lewin, sobretudo nos
estudos referentes aos diversos grupos sociais, busquei em Pichon-Rivière, e alguns
de seus discípulos (por exemplo), principalmente pelo momento histórico em que
foram realizados os trabalhos dos referidos autores, estudos que dessem conta de
avançar nas considerações de Kurt Lewin, visto que a sociedade retratada por ele (e
nela enquadra-se o futebol) é notoriamente distinta da atual.

23
A psicologia social para Pichon-Rivière pode ser definida como a ciência que
estuda os vínculos interpessoais e outras formas de interação, tendo a operatividade
e a instrumentalidade como característica particular. Neste ponto, Pichon-Rivière e
Quiroga destacam que a crítica da vida cotidiana numa perspectiva sociopsicológica
requer o estudo das leis que regem a emergência e codificação das necessidades
sociais, assim como a organização e as respostas (sociais e vinculares) a essas
necessidades em cada estrutura de integração, tais quais os grupos e instituições
“determinados pelo plano fundador das relações sociais”. Ainda segundo tais autores,
a psicologia social propõe-se

[...] a abordar o sujeito na interioridade dos seus vínculos, no seio das tramas
de relação nas quais suas necessidades emergem, são decodificadas e
significadas, cumprindo seu destino vincular e social de gratificação e
frustração.

A mudança de um clube para outro, de uma equipe à outra, de um grupo (da


equipe de base à profissional, por exemplo) pode trazer aos sujeitos uma série de
conflitos que precisam ser bem manejados e superados. Segundo Pichon-Rivière:

[...] a mudança implica perda – até que se institucionalize – graves


sentimentos de insegurança, que provocam ou aumentam o isolamento e a
solidão, fundamentalmente pela perda do sentimento de pertença a um grupo
social estabilizado. Outro medo que coexiste é o medo de ataque, que
aparece pelo fato de o indivíduo ter saído de seu estereótipo anterior e não
se ter instrumentado o suficiente para se defender dos perigos que acredita
incluídos no novo campo”.

Característica importante dos processos grupais e, portanto, fruto de


investigação de psicólogos sociais, o curto período em que os atletas permanecem
em uma equipe também é motivo de preocupação por parte de seus integrantes e,
dessa forma, deve ser objeto de análise da psicologia do esporte, conforme o
depoimento:

[...] “hoje nós estamos aqui, amanhã sai um, sai outro e aí você acaba até
perdendo o contato e aquela afinidade, proximidade que você tinha com
certos jogadores acaba se rompendo de uma forma até assim meio estranha.
Você não consegue mais comunicação, você não consegue nem telefonar
mais.” (Jogador 1).

Tal preocupação se justifica na medida em que evidencia a falta de tempo para


que o grupo passe por todas as fases de organização para realização de tarefas,
assim como a indiscriminação, diferenciação e síntese, explicitadas por Andrade. Na

24
primeira fase os objetivos do grupo, tarefa e papéis não estão claros (a não ser
racionalmente) e os membros participam conforme suas experiências individuais, ou
seja, cada atleta fundamenta suas ações, táticas e técnicas, sobretudo nas
experiências que tiveram em clubes anteriores e/ou sob o comando de outras
comissões técnicas. O grupo ainda não é visto como um todo. Durante a diferenciação
começa a emergir o surgimento dos papéis. Nesta fase o sentimento mais presente é
o medo à mudança. No futebol profissional, a necessidade de desempenhar outra
função tática, jogar em outra posição, perder o posto na equipe titular e até mesmo o
risco de dispensa são situações de certa forma bastante comuns, que se manifestam
ao longo desta fase. Por fim, a síntese configura-se como o momento mais integrador
e de produtividade visto que o grupo já experimentou a conjugação entre verticalidade
e horizontalidade. Ou seja, o grupo de atletas e comissão técnica já passou por todas
as fases até conquistar a consolidação grupal, na qual o índice de coesão é alto e os
resultados tendem a ser mais positivos.
Ainda assim, apesar de permanecerem por um breve período em uma mesma
instituição, os vínculos criados entre os jogadores e comissão técnica são intensos
devido ao profundo contato diário inerente ao futebol profissional. Neste aspecto, o
conceito de vínculo e da definição de grupo defendida por Pichon-Rivière, podem
trazer significativas contribuições. Segundo tal autor, um grupo é “um conjunto restrito
de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua
mútua representação interna, que se propõe, de forma explícita ou implícita, uma
tarefa que constitui sua finalidade. ” Por vínculo, entende “uma estrutura complexa
que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua inter-relação com processos de
comunicação e aprendizagem. ” Como a entrada e saída de jogadores em uma equipe
de futebol - respeitados os prazos de inscrição nas Confederações, tal qual a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Internacional de Futebol
(FIFA) – é constante ao longo da temporada, quem é o atleta recém-chegado, por qual
equipe já jogou e o quão famoso ele é, passa a ser determinante na sua relação com
o grupo. A inter-relação entre o grupo e o indivíduo se dá conforme o “status do sujeito
dentro da sociedade a qual se integra, a valorização que faz da sua presença e o grau
de autenticidade na filiação, percebido pelos outros integrantes do grupo. ”
Segundo MacDougall apud Mailhiot, a psicologia social estuda a influência do
grupo sobre o indivíduo, cabendo a ela medir e avaliar tal influência. Mailhiot

25
acrescenta ainda que, balizadas pelas teorias de Freud, as pesquisas em psicologia
social têm se preocupado, cada vez mais, em formular uma psicologia da liderança.
No contexto esportivo, e no futebol profissional especificamente, a liderança
tem sido motivo de discussão e de preocupação entre atletas, comissão técnica,
dirigentes, mídias etc. Cada vez mais o perfil de liderança é levado em consideração
no momento de contratação de um atleta ou treinador, a escalação de um jogador na
equipe titular é realizada por conta da liderança que exerce sobre o grupo, ou um
determinado jogador é dispensado da equipe por exercer sobre os demais uma
liderança negativa.
Brandão, reportando-se aos estudos de Nitsch, Gauvin e Russell; Vealey e
GarnerHolman, afirma que, com o crescente desenvolvimento da psicologia cognitiva
e da psicologia social, os psicólogos esportivos passaram a ressaltar, por meio de
estudos das cognições, auto percepções, motivação, liderança, dinâmica de grupo e
coesão grupal, a avaliação das variáveis de caráter sociopsicológicas.
Segundo Pichon-Rivière e Quiroga, a reflexão psicológica de um determinado
fenômeno social e histórico tem por objetivo compreender cientificamente o sujeito na
especificidade dos seus processos psíquicos e de seu comportamento. No entanto, a
tarefa do psicólogo social só pode ser compreendida a partir de uma investigação da
realidade da qual está imerso, tendo o sujeito (em sua realidade imediata, em
condições concretas de existência, na sua cotidianidade) como ponto de partida de
análise.
Rubio salienta ainda que o debate travado em torno do esclarecimento a
respeito da função e dos papéis que a psicologia esportiva deva assumir passa
necessariamente pela discussão “do que é o fenômeno esportivo e como tem sido
construído e explorado o imaginário esportivo na atualidade”. Isso por compreender
que o esporte contemporâneo sofreu mudanças socioculturais significativas em seu
processo histórico absorvendo algumas características da sociedade contemporânea
ao longo do século XX.
Neste artigo, apesar de reconhecer e compreender a demasiada importância
dada ao rendimento e obtenção de resultados no futebol profissional, corroboro com
as proposições de Rubio, por entender que o fenômeno esportivo, neste caso
específico o futebol, deva ser analisado em toda sua complexidade, não focando
somente o rendimento e desempenho dos atletas e equipes, mas também a dinâmica

26
das relações entre os agentes inseridos neste âmbito (dentre eles os atletas, comissão
técnica, dirigentes esportivos, mídia, torcida, pesquisadores etc.), buscando situar o
clube/equipe/atleta à realidade sociocultural em que vivem, tratando então a
psicologia do esporte como a psicologia social do esporte.
Para a Psicologia Social do Esporte o bom desempenho e a postura vitoriosa
são valorizados e buscados não como valores destacados na vida do atleta, mas como
elementos de um contexto maior que oferece o suporte necessário para que o papel
social de atleta seja desempenhado em sua plenitude. Nessa perspectiva o atleta não
é apenas mais uma peça de uma grande engrenagem chamada esporte, mas é a
razão da existência desse fenômeno, e como tal merece o respeito e a consideração
de gerenciadores e público.
Quando o assunto é delimitar os objetivos da psicologia do esporte, concordo
também com Feijó ao afirmar que o preparo psicológico deve coincidir com os
objetivos do atleta, contudo relevando os interesses do clube, da instituição, equipe e
modalidade esportiva da qual ele faz parte.
Existem diversos fatores que podem abalar a estrutura psicológica de um
jogador de futebol. Apitzsch apontaria como alguns deles o fato de competir por um
lugar na equipe principal e, uma vez atingida essa posição, a luta por defendê-la e
mantê-la; basta o baixo rendimento em uma única partida para perder seu lugar na
equipe titular; o risco de lesões, inerentes ao esporte de alto rendimento, com todas
as suas consequências físicas e psíquicas, pode deixar o atleta por um bom período
de tempo afastado; o jogador tem que combater o estresse produzido pelos
adversários e pelos espectadores durante a partida; o atleta precisa enfrentar
adequadamente as expectativas do treinador, dos companheiros de equipe, do
público, seus familiares, amigos e os meios de comunicação para ter rendimento
satisfatório.
Além desses fatores, existem outros tantos, partes deste contexto complexo
que é o futebol contemporâneo, para os quais o psicólogo do esporte tem sido
requisitado. Quero dizer com isso que mesmo que o objetivo final de sua intervenção
seja junto ao atleta, outros fatores que interagem e influenciam a sua vida precisam
ser considerados nessa intervenção. Deste modo, torna-se indispensável uma
“análise em nível macro (instituição e grupo esportivo) e micro (atleta) para se
organizar um trabalho de intervenção psicológica”.

27
A psicologia esportiva, sobretudo a partir da sua relação com o futebol
profissional, vem ganhando notoriedade dentre alguns dos sujeitos inseridos no seu
contexto. Dirigentes, comissão técnica e atletas sinalizam para uma maior
compreensão e aceitação acerca da importância do psicólogo do esporte no âmbito
do futebol profissional, mesmo que, por vezes, o discurso ainda não esteja refletido
na prática. Nesses casos, tem cabido ao psicólogo esportivo atuar somente para
contornar e resolver problemas diante de situações já emergentes.
Segundo discursos de alguns “atores” do futebol profissional, grande parte
deles gostaria de contar com a presença de um psicólogo do esporte dentro da
comissão técnica do seu clube, sobretudo por valorizarem a importância da presença
e atuação deste profissional para otimização dos resultados dos atletas. Dentre as
maiores necessidades apontados por eles, destacam-se problemas relacionados às
desordens grupais, liderança e aspectos motivacionais. Entretanto, apesar do
reconhecimento de sua importância, ainda possuem uma visão demasiadamente
limitada acerca dos objetivos e contribuições que a psicologia esportiva pode trazer a
todos os sujeitos inseridos no contexto do futebol profissional.
No campo teórico, apesar dos avanços que a psicologia do esporte tem
alcançado nos últimos anos, ainda há necessidade de mais estudos que deem conta
de suprir as inúmeras necessidades cada vez mais presentes no futebol profissional.
Ainda assim, vale destacar que a maioria dos estudos afeitos à psicologia esportiva
em sua relação com o futebol profissional se dá sob o viés da psicologia cognitivo-
comportamental. Dessa forma, necessita-se de mais pesquisas que partam de
diferentes abordagens teóricas, tais quais, dentre outras, a psicologia humanista,
psicologia ecológica e a psicologia social.
Diante da relevância e importância que o futebol tem assumido enquanto
prática social na nossa (e em outras tantas) sociedade, a psicologia social tem se
mostrado capaz e útil no desenvolvimento/aperfeiçoamento do trabalho psicológico
com os sujeitos que compõem um grupo esportivo (e não somente o atleta) focando
os estudos e intervenções para além do rendimento atlético, ou seja, tratando-o em
toda a sua complexidade.
Portanto, dentre as inúmeras contribuições que a psicologia social pode trazer
ao trabalho psicólogo com equipes profissionais de futebol, merecem destaques
aquelas relacionadas ao diagnóstico sobre situações sociais específicas e aos

28
processos grupais (assim como dinâmica própria da vida de um grupo, os vínculos
interpessoais e outras formas de interação, tal qual a liderança, os comportamentos
em grupo e a influência do grupo sobre o indivíduo), entretanto não abdicando de
outros componentes emocionais bem como a motivação, autoconfiança, equilíbrio
emocional etc.
Vale ressaltar, por sua vez, que os estudos e intervenções do psicólogo social
devem ser realizados a partir de uma ampla investigação e profundo conhecimento
acerca da realidade da qual está inserido, tendo o sujeito como ponto de partida para
sua análise.3

7 “SER TREINADOR” E SUA IMPORTÂNCIA

Fonte: globoesporte.globo.com

São vários os conceitos que envolvem o entendimento de um dos principais


intervenientes do processo desportivo, o treinador. As diferentes e, por vezes,
divergentes opiniões sobre ele, as suas tarefas, formação e os seus direitos e deveres
refletem-se quase sempre na importância e na necessidade de o compreender como
parte fundamental na dinâmica desportiva atual.

3TEXTO EXTRAÍDO DO SITE: Conexões: revista da Faculdade de Educação Física da


UNICAMP, Campinas, v. 12, n. 2, p. 94-113, abr./jun. 2014. ISSN: 1983-9030
29
Mesquita (2005) refere que cabe ao treinador assumir grandes e variadas
responsabilidades, como organizar e gerir o treino e a competição; considerar o
praticante como uma individualidade personalizada; considerar o atleta enquanto
sujeito ativo; desenvolver a personalidade do atleta através do fomento da
responsabilidade e autonomia individual.
Deste modo, concordamos com a autora, quando esta refere que a atividade
do treinador ocorre sobretudo num processo de atividade comunicativa em que o
treinador e os atletas transformam os seus comportamentos, influenciando-se
mutuamente.
No entanto, e de acordo com a literatura atual, os treinadores exercem a sua
influência não somente no relacionamento com os jogadores, ou seja, o
desenvolvimento do atleta acontece também devido à qualidade do treino a que está
sujeito. Nesse sentido, e sendo o treinador, o principal elemento que configura o
processo de treino de atletas, a sua importância neste domínio é crucial. Este aspecto
é corroborado por Baker et al. (2003), quando nos referem que o treinador configura
quase a 100% o tempo de prática dos atletas. Assim, a capacidade do treinador em
criar os contextos favoráveis para a aprendizagem dos atletas é um aspecto crucial
no desenvolvimento dos mesmos.
A importância do treinador é também enfatizada por Salmela e Moraes (2003),
quando referem que uma condição necessária para se alcançar um desempenho
superior parece ser a presença de um monitor conhecedor e exigente, nas atividades
diárias, sob a forma de treinador ou mentor.
Na mesma linha de pensamento Starkes (2000), refere que o tempo passado
nas sessões práticas com o treinador é a essência da prática deliberada e, por isso,
muito importante para o desenvolvimento do desempenho excepcional no desporto.
Araújo (1987) considera que um treinador deverá obrigatoriamente ter:
 Um papel decisivo no rendimento;
 Estimular o progresso e o rendimento dos seus atletas;
 Observar, planificar, antecipar, registar e avaliar os resultados, corrigir
estratégias de intervenção, mobilizar o interesse individual e coletivo;
 Possuir um conhecimento alargado;
 Motivar os atletas e os dirigentes para os objetivos (definir objetivos e regras
claras; apresentar as atividades; maximizar o tempo de empenhamento motor

30
dos atletas; a observação e a reação à prestação motora dos atletas; a criação
de um clima positivo).
Bento (1993) destaca que o treinador não precisa de ser um expert, teórico ou
generalista, nem abstrato ou ignorante de prática; ele precisa de ser capaz de afixar
a sua especialidade e profissionalismo em horizontes alargados, capaz de se
compreender como formador fiel e dedicado ao sentido de formas, isto é, aperfeiçoar
o homem, torná-lo melhor e aumentá-lo em humanidade.
Diante as suas competências, o treinador depara-se com uma vaga de
obrigações, tarefas e funções que lhe são imputadas, aumentando, ainda mais, as
suas responsabilidades, sendo unânime a opinião quanto à necessidade de levar o
treinador para a melhoria do controlo de todo o processo de gestão de uma equipa.
É neste sentido que encontramos autores como Colaço (2000), que se refere
ao treinador imputando-lhe, entre outras responsabilidades, a de educador e avaliador
de competências. Como podemos verificar, inúmeras competências e características
são imputadas ao treinador. Assim, alguns autores também se referem ao treinador
como aquele que planeia e define objetivos na busca do crescimento técnico, táctico,
físico e psicológico dos atletas (Nascimento, 1997); que tem a capacidade de atenuar
os conflitos de forma imparcial (Ramirez, 2002); que seja credível (McCann, 1999).
Em suma, podemos inferir que “o ser treinador” acarreta inúmeras
competências que devem ser desenvolvidas de modo a poder responder a todas as
solicitações suscitadas pelo processo interativo (treino e competição) em que está
envolvido. Para tal, conhecer as capacidades que um treinador deve evidenciar,
assume-se premente para um progressivo entendimento do que significa ser um
treinador de excelência…

7.1 As Capacidades do Treinador

Segundo Mesquita (2005), para ser competente o treinador deve, antes de


tudo, possuir um conjunto de capacidades específicas da sua atividade, que se
centram em três domínios: conceptual, comunicativo e técnico.
A capacidade conceptual pressupõe o domínio de conhecimentos específicos
da modalidade que ensina, e das ciências do desporto em geral. Esta capacidade
revela-se mais importante à medida que o número de atletas envolvidos no processo

31
de treino aumenta, como é o caso do Futebol. Assim, os treinadores ao serem
responsáveis por um processo de formação terão que ter, não apenas um
conhecimento da modalidade, mas também, da especificidade biológica, motora,
psicológica e social dos atletas.
A mesma linha de pensamento é partilhada por Nash e Collins (2006), quando
referem que os treinadores devem possuir um conhecimento declarativo relativamente
às suas modalidades especificas, assim como, serem capazes de utilizar
conhecimento proveniente de outras áreas, como a fisiologia, psicologia ou a
sociologia, para melhorarem o desempenho dos seus atletas.
Uma condição essencial para que se estabeleça a interação entre os
treinadores e os seus atletas é a comunicação entre ambos. Nesse sentido, a
capacidade comunicativa do treinador é fundamental para a qualidade do processo
treino e competição.
Num estudo efetuado por Becker e Wrisberg (2008), os investigadores
observaram Pat Summit, lendária treinadora de Basquetebol em ação, procurando
discriminar os comportamentos da mesma. Os resultados do estudo demonstram a
extrema importância da comunicação entre treinadores e atletas, na medida em que,
grande parte da atuação da treinadora se referenciava ao fornecimento de feedback
aos jogadores.
Outro exemplo, inequívoco da importância desta dimensão prende-se com as
declarações de um instrutor do Arsenal a respeito de Arsène Wenger: ”Muitos
treinadores precisam de 20 minutos para fazer passar as suas ideias. O Arsène fá-lo
em 10 palavras” (Bolchover e Brady, 2008, p.247).
A importância da capacidade comunicativa é também, consubstanciada por
Martens (1990), que refere a atividade do treinador como sendo essencialmente
comunicativa. Assim sendo um treinador deve ser capaz de transmitir mensagens,
mas também, ser um bom ouvinte, de modo a poder interpretar a informação de
retorno que lhe é fornecida.
Um outro atributo fundamental para um treinador é a capacidade técnica. De
entre os fatores que caracterizam a intervenção do treinador, e que mais influenciam
o rendimento das equipas, destacam-se aquelas que se prendem com a organização
e condução do processo de treino.

32
A este respeito, Oliveira (2004) refere que o papel do treinador não se restringe
ao planeamento e estruturação do processo de treino, porque de acordo com o autor,
este tem um papel determinante na concretização do mesmo, através da sua
intervenção.
Assim sendo, o desenvolvimento desta qualidade passa pela aquisição de
competências pedagógicas e técnicas na orientação da prática desportiva.
A juntar a estas qualidades, surge a importância de os treinadores serem
capazes de conceber um projeto de ação e de transmitir a um grupo de executantes,
de forma não apenas clara mas motivadora, a imagem desse projeto. Desse modo, é
crucial que os treinadores levem os seus atletas a co- imaginarem esse projeto e a
anteciparem o seu futuro desenvolvimento (Damásio, 2006).
Assim sendo, brota uma dimensão que se assume imperativa em todo o
processo interativo que é a consecução de um projeto de grupo.

7.2 Liderança eficaz…condição sine qua non da profissão de treinador

A liderança pode ser definida como um processo comportamental que visa


influenciar os sujeitos e/ou grupos de modo a que se atinjam os objectivos
determinados anteriormente (Barrow 1977 cit. por Chelladurai e Saleh, 1980).
Chelladurai (1991), refere que a capacidade de liderança de um treinador é um
dos elementos que mais contribui para vencer as barreiras psicológicas que os atletas
encontram no caminho para o sucesso.
Para Weinberg e Gould (2003), uma liderança eficaz é a chave do sucesso
desportivo e está associada a quatro fatores fundamentais: (1) qualidades pessoais
dos treinadores, que integram características como a inteligência, assertividade,
empatia, motivação intrínseca, flexibilidade, ambição, autoconfiança e optimismo; (2)
estilo de liderança, que poderá ser democrático ou autoritário, sempre de acordo com
as situações, as circunstâncias e com as características dos membros; (3)
conhecimento dos fatores situacionais, como o tamanho da equipa, o tempo
disponível, o número de adeptos, as ambições do clube; (4) características dos
membros, que deverão ser combinadas com as características do treinador.
Segundo Damásio (2006), os líderes de grande qualidade imaginam o projeto,
nas grandes linhas e nos pormenores da sua organização, e imaginam as variações

33
possíveis no seu desenrolar. Nesse sentido, o projeto não se limita a uma transmissão
de informação, por mais valiosos que sejam os esquemas de organização e as
estratégias de abordagem. É fundamental que a transmissão inspire um imaginário ao
mesmo tempo disciplinado pelas metas do projeto, mas suficientemente flexível para
que permita, em certas circunstâncias desvios criadores.
Segundo o autor, é também importante que o projeto inspire uma crença e uma
vontade de conseguir o melhor resultado que o projeto possa alcançar.
Os líderes devem então ser manipuladores emocionais daqueles que lideram,
procurando criar nestes uma vontade inabalável de responder às expectativas. Assim,
importa aludir ao conceito de inteligência emocional que assume cada vez maior
relevância na determinação de um desempenho profissional extraordinário,
especialmente na condução de grupos (Goleman, 1996).
Segundo o autor, a inteligência emocional define-se pela capacidade de um
indivíduo em se motivar, em se empenhar mesmo quando fracassa, em controlar os
seus impulsos, ou seja, em regular os próprios estados de ânimo. Alega ainda que, é
uma inteligência capital na criação de empatia e confiança com os outros.
Faz então sentido atentar-se às palavras de Mourinho (2006, p. 49 cit. por
Oliveira et al. (2006), quando nos diz: “acho que eles (jogadores) não me adoram,
gostam é de trabalhar comigo”.
Posto isto, pode-se verificar que a liderança é um aspecto fundamental na arte
de gerir recursos. Nesse sentido, faz sentido referenciar um estudo de Kappenberg
(2008), a propósito das chaves para um coaching eficaz ao nível executivo. Segundo
o autor, o coach, ou seja, o líder, o condutor do processo, tem imanentes a si duas
grandes áreas: (1) a relação de confiança que estabelece com o cliente; (2) o feedback
que estabelece com cliente, nomeadamente no fornecimento de informações acerca
do impacto dos seus comportamentos (do cliente), nos vários elementos que o
rodeiam. Outros factores como: o estabelecimento de metas; o conhecimento
específico da área; o suporte psicológico, assumem grande relevância em todo o
processo de coaching.
Por seu turno, Goleman (2006) refere, a respeito dos líderes em Medicina, que
o que distingue os bons dos maus se prende com competências interpessoais, como
a empatia, a resolução de conflitos e o desenvolvimento das pessoas. Ainda o mesmo

34
autor, sugere que líderes que criam uma “base estável” (p.402) com os seus
subordinados conseguem um melhor desempenho destes últimos.
Deste modo, torna-se relevante atentar a um estudo de Riemer e Chelladurai
(1995), a respeito da relação entre a liderança e a satisfação dos atletas. No trabalho
desenvolvido, os autores sugerem que existe uma grande congruência entre o estilo
de liderança preferido e percebido pelos atletas no que respeita ao apoio social por
parte do treinador, ou seja, os níveis de satisfação dos atletas aumentam quando
sentem que o treinador lhes fornece apoio social, o que vem confirmar a importância
da dimensão interpessoal.
Bolchover e Brady (2008), a respeito de uma comparação entre os gestores e
os treinadores de sucesso, referem que, em ambos os casos existem um conjunto de
características imanentes a ambos que são, de certa forma, invariantes e passíveis
de serem consideradas como indicadoras de um líder de sucesso: (1) integridade; (2)
paixão; (3) capacidade de relaxar; (4) capacidade de análise; (5) sede de
conhecimento; (6) atenção aos pormenores; (7) capacidade de pôr as coisas em
prática; (8) sede insaciável de feitos e resultados; (8) autoconfiança; (9) entusiasmo;
(10) percepção das pessoas; (11) inflexibilidade; (12) presença; (13) sorte.
Por seu turno, importa que se atente às ideias de Van Gaal, que refere serem
pilares da sua filosofia de trabalho a disciplina, a comunicação e a criação do espírito
de equipa (Team Building) (Kormelink e Seeverens, 1997).
Cada vez mais se exige do treinador características de liderança que possam
contribuir para o seu sucesso. Assim sendo, esta profissão está envolta de
interessantes particularidades ao nível do comportamento uma vez que, quase
sempre, leva a caminhos revestidos pelo stress e pela pressão.
Por conseguinte, importa que nos debrucemos sobre uma componente, que se
reflete nos traços de personalidade do treinador, e que diz respeito à sua capacidade
em trabalhar a autoconfiança, tanto sua como dos seus atletas. Esta demonstra ser
de vital importância na condução do processo das suas tarefas e responsabilidades.
A autoconfiança é utilizada com frequência no âmbito de atividade física e do desporto,
para referir-se a percepção que uma pessoa tem sobre si, se a sua capacidade é
suficiente para enfrentar determinada tarefa e ainda se os resultados que obterão
serão positivos (Weinberg e Gould, 2003). A literatura aponta para os diversos
benefícios da autoconfiança, na medida em que, promove emoções positivas, facilita

35
a concentração, afeta diretamente os objetivos, potenciando os mais desafiadores,
promove a capacidade de superação (Weinberg e Gould, 2003). Ainda assim, sabe-
se que uma excessiva autoconfiança poderá ter efeitos nefastos, visto que, “pessoas
com excesso de confiança poderão estar falsamente confiantes, isto é, a sua
confiança é maior do que o que as suas capacidades podem dar” (Weinberg e Gould,
2003, p.312).
Uma outra dimensão de capital importância quando se pretende liderar um
grupo para a consecução de objetivos é a motivação. De facto, a habilidade em
motivar as pessoas separa os grandes treinadores dos demais (Weinberg e Gould,
2003). Os mesmos autores sugerem que para potenciar a motivação o treinador deve
analisar e responder, não apenas à personalidade dos atletas, mas também, à
interação entre as características pessoais e situacionais. Chelladurai (1991)
apresenta algumas áreas de intervenção do treinador na condução dos seus atletas
rumo à motivação. Destaca-se o comportamento do treinador na área do treino e do
ensino; o fornecimento de feedback positivo; e o apoio social e preocupação com o
bem-estar do praticante.
Importa ainda referirmo-nos a Bennis (1994 cit. por Neves, 2002), que
identificou as competências fundamentais que os líderes utilizam com eficácia:
(1) conceptualização; (2) definição de objetivos claros e mensuráveis,
baseados na opinião de todos os membros da organização; (3) correr riscos, assumir
erros, usar a criatividade e a de todos os que trabalham na organização; (4) gestão
da atenção, através de um conjunto de intenções no sentido do resultado, da meta ou
da orientação; (5) gestão do significado, tornando as ideias palpáveis e reais; (6)
gestão da confiança, de modo que as pessoas saibam de onde se parte para onde se
vai; (7) gestão do Eu, através do conhecimento das capacidades e limites pessoais.
Pelo exposto, pode-se verificar que a liderança assume especial relevância, e
que um líder deve desenvolver várias competências que lhe permitam criar um clima
de envolvimento com os seus subordinados, de maneira a que o processo em que
estão envolvidos concretize os objetivos.
Assim sendo, um treinador que almeje patamares de topo, necessitará de uma
procura incessante de enriquecimento a todos os níveis. Por conseguinte, a procura
do conhecimento poderá assumir-se como um imperativo.

36
7.3 A importância de procurar…o conhecimento

Sendo o conhecimento a base em que assenta a capacidade de decisão de um


treinador, torna-se necessário edificar durante a formação do mesmo, um
conhecimento rico não só em quantidade, mas também em qualidade e pertinência,
dado que estes serão a base sobre a qual o futuro treinador poderá desenvolver uma
boa competência profissional. Esta ideia é corroborada por Grau (2000), que a
propósito da construção de um perfil de competências profissionais para os
professores de Educação Física refere que, qualquer que seja o perfil profissional é
crucial que este seja aberto e em constante revisão, assim como, pautar-se por uma
formação constante.
Curado (1990), chama atenção para o facto das transmissões desses
conhecimentos, unidas às funções do treinador, não poderem ser exclusivamente
desempenhadas com base nas experiências provenientes da prática desportiva,
enquanto praticantes. Por isso, há uma necessidade cada vez maior, do investimento
na sua formação.
O conhecimento do treinador está dependente da qualidade inerente à sua
formação e do investimento que deve fazer na continuidade da mesma, procurando o
alargamento dos seus recursos. Assim, é no aspecto da formação do treinador que as
exigências, nos dias atuais, parecem ser cada vez maiores, na medida em que, como
referem Sáiz et al. (2005), o “ser treinador” pressupõem e suscita a necessidade de
um domínio de competências variadas seja ao nível da comunicação (com atletas e
dirigentes, público, treinadores, comunicação social) de gestão e do conhecimento
profundo e da modalidade em que trabalha, bem como das ciências (Fisiologia,
Anatomia, Psicologia, Pedagogia, Biomecânica, etc.) que ajudam a fundamentar todo
o processo de direção e controlo da preparação dos atletas e das equipas.
Neste contexto, levantam-se algumas questões que envolvem a necessidade e
a importância do investimento que cada treinador pode e deve fazer na sua formação
profissional de forma abrangente. Esta opinião é defendida por Bento (1993) quando
reporta que o treinador tem de agir de forma particular e específica, investindo numa
formação condizente com a complexidade e pluralidade das tarefas.
A mesma linha de pensamento é partilhada por Sáiz et al. (2005), que referem
ser de capital importância que o treinador possua uma sólida formação profissional e
académica, uma elevada capacidade de reflexão crítica do seu trabalho e ainda uma
37
grande capacidade de adaptação aos avanços do conhecimento científico, técnico e
profissional do treino desportivo.
Apoiando-se na área pedagógica, quanto à perspectiva da experiência prática,
Graça (1997), refere-se a Scheffer (1960), quando advoga a necessidade de uma
base científica para o ensino de modo a que o professor possa julgar e escolher
procedimentos de acordo com uma compreensão teórica.
Assim, assume premência que “mergulhemos” na complexa dimensão que é o
conhecimento do treinador.

7.4 Conhecimento e fontes do conhecimento do treinador

Torna-se relevante entender e refletir sobre assuntos relacionados com a


formação e o conhecimento do treinador, uma vez que, podem estar diretamente
associadas ao seu sucesso.
A investigação tem demonstrado que são a experiência prática de treino
(Gilbert e Trudel, 1999; Afonso et al., 2003); a observação de outros treinadores
(Cushion et al., 2003); e a vertente académica de formação (Graça, 1997; Afonso et
al. 2003), as principais fontes de conhecimento dos treinadores.
Segundo Martens (1990), três dimensões contribuem para se ser um treinador
de sucesso: (1) o conhecimento; (2) a motivação; (3) a empatia.
Quanto ao nível de conhecimento que o treinador tem acerca do desporto em
causa, o autor relaciona-o com a capacidade deste ensinar as técnicas, as normas e
as tácticas baseado nos conhecimentos científicos adquiridos. O mesmo autor advoga
que todo o conhecimento não tem qualquer significado se o treinador não tiver a
capacidade de motivar os seus atletas e empatia para cativar, entender as emoções,
pensamentos e sentimentos do desportista.
Do momento em que recebe um estímulo até o momento de solução do
problema, o treinador recorre a uma rede de informações estruturadas e acumuladas
na memória de longo prazo. Ao perceber, interpretar e representar o problema, o
treinador põe em ação um complexo mecanismo que promove o estabelecimento de
associações entre blocos de informações estruturadas a partir de seu vasto
conhecimento, as quais alimentam o processo decisório permitindo ao treinador
solucionar de forma rápida e precisa um determinado problema (Ericsson e

38
Staszewski, 1989; Ennis, 1994; Henrique, 2004 cit. por Freitas et al., 2008). Assim
sendo, importa que nos reportemos a Gilbert e Trudel (1999), que consideram que os
programas de formação de treinadores contêm duas áreas chave: a) as componentes
relacionadas com os skills, técnicas e estratégias do desporto; b) e os módulos de
estudo das ciências do desporto. Os conteúdos destas áreas são fundamentais para
a utilização por parte de um treinador de um corpo progressivamente complexo e
derivado do conhecimento.
Para a compreensão das fontes de conhecimento do treinador importa que se
atente a Schempp (2003 cit. por Freitas et al., 2008), que refere serem os contatos
com outros treinadores e a própria atividade prática as melhores fontes de
conhecimento. Enquanto as trocas com outros profissionais da área lhes
proporcionam novos e diferentes subsídios, as vivências no treino permitem mais
tempo de prática e observação de situações diversificadas – implicando um
aprofundamento de conhecimentos, e interações com os atletas, sendo este último
aspecto importante para a avaliação das suas práticas.
Nesta linha de pensamento, Cushion et al. (2003) sugerem que o conhecimento
e ação dos treinadores podem ser vistos como produto ou manifestação de uma
vivência pessoal do processo de treino e estão ligadas com as histórias pessoais dos
treinadores e, essencialmente, são atribuídas à forma como esta é apreendida. Desse
modo, o conhecimento para o treinador é inerentemente contextual e dinâmico com
as experiências de vida a contribuir para o seu desenvolvimento.
Por seu turno, Afonso et al. (2003) referem que a aquisição de conhecimento
por parte dos treinadores pode ser dividida em duas vertentes: uma académica,
associada a ações de formação e uma outra apoiada exclusivamente no
conhecimento prático, associada à permuta de informações com outros treinadores.
Graça (1997) reporta-se a algumas fontes de conhecimento obtidas pela sua
amostra de estudo: a observação prática e conversas com outros treinadores; a
participação em ações de formação técnicas; a formação académica; a experiência
como jogador; a formação contínua; a reflexão da prática; a literatura; e os Clinics.
Num estudo realizado por Gilbert e Trudel (1999) os autores referem que a
primeira fonte de conhecimento dos treinadores tem origem na sua própria experiência
de treino. No entanto, não devemos cair no erro de pensar que o conhecimento do
treinador é resultado do tempo passado no terreno, ou em contato com outros

39
treinadores considerados peritos (Siedentop e Eldar, 1989; Gilbert e Trudel, 1999),
desvalorizando dessa forma, a importância do conhecimento científico (Williams e
Kendall, 2007). Segundo Piéron e Costa (1996), o sucesso de um programa de
formação profissional depende da articulação e coordenação entre os seus
componentes:
1. A formação académica (ciências aplicadas);
2. A preparação profissional (conhecimentos e competências);
3. A formação no contexto da prática (experiência no contexto profissional).
Por conseguinte, a formação deve possibilitar também a aquisição de um
conjunto de conhecimentos provenientes da teoria e metodologia do treino, da
psicologia e fisiologia do desporto, bem como de todas as áreas que contribuem para
uma consecução sistemática e racional do processo de treino (Gilbert e Trudel, 2001).
Assim sendo, sintetizemos as principais fontes de conhecimento do treinador:
1. O conhecimento científico proveniente da sua formação académica, ações
de formação e auto-investigação;
2. O conhecimento prático, ou seja, aquele que é originado pela sua prática de
treino acumulada;
3. O conhecimento resultante da prática desportiva como ex-atleta em
situações de treino e de competição (Jones et al., 2003).
A importância dos diferentes tipos de conhecimento concorrentes para a
competência pedagógica relaciona-se com o facto do processo pedagógico dever ser
um ato consciente e racional, onde a identificação de problemas e eventuais soluções
se baseia na escolha reflexiva. São os conhecimentos que o treinador possui que lhe
permitem a tomada correta de decisões tendo em conta a especificidade da matéria
ou da modalidade em questão (Macedo, 2002).
Para tal, emerge a necessidade de uma organização do conhecimento. Essa
organização é uma característica essencial dos peritos que segundo Vickers (1990):
1. Possuem mais conhecimento, organizam melhor a informação que recolhem
e revelam maior capacidade de tomada de decisões;
2. São capazes de congregar informação em torno de pontos de conexão;
3. O seu conhecimento está organizado de forma hierárquica.
Num estudo efetuado por Resende et al. (s.d), os investigadores procuraram
construir um perfil de competências e conhecimentos que os treinadores devem

40
possuir para o exercício da sua função, aplicando um questionário a mais de 200
treinadores. Os resultados do estudo apontam para a grande importância dada aos
conhecimentos de metodologia de treino. As competências de formação, de gestão
do desporto e os conhecimentos sobre os fenómenos sociais do desporto foram
também valorizados.
Pelo exposto, infere-se que o conhecimento é um aspecto basilar na estrutura
global do processo em que o treinador se envolve. Neste sentido,
Shinyashiki (2004, p.30) reporta que, “estamos na era da informação e quem
tem o conhecimento leva uma vantagem imensa sobre os concorrentes”, e recorda
que “sacrifício, luta e garra, sem conhecimentos, conduzem frequentemente a
derrotas doridas”.
Pretendeu-se, nestes dois pontos relativos ao conhecimento do treinador
evidenciar o quão importante se torna para este procurar um desenvolvimento
harmonioso o global das suas qualidades, de modo a, revestir a sua atuação de uma
qualidade superior.
Chegados a este ponto desta “viagem”, que se iniciou na procura de um
entendimento do que é ser treinador e que percorreu diversas áreas, desde as
capacidades do treinador, à importância da liderança e do conhecimento, julgamos
estar em condições de indagar e simultaneamente procurar um entendimento mais
objetivo do que é ser um treinador de excelência.

7.5 O Treinador de Excelência: um enquadramento

Em todos os sectores, há alguns indivíduos que demonstram consistentemente


performances a níveis superiores que os seus contemporâneos. Estes indivíduos por
uma ou outra razão destacam-se da maioria. Como tal, são frequentemente rotulados
de excepcionais, superiores, dotados, talentosos, especiais ou peritos (Ericsson e
Smith, 1991).
Siedentop e Eldar (1989), definem o treinador perito como sendo aquele que
demonstra uma melhor qualidade nos julgamentos, rápida antecipação, respostas
adequadas às situações, comportamentos de acordo com a realidade, consciência,
capacidade de autoanálise da sua própria competência e amplo reportório técnico.

41
Segundos os autores, os peritos são capazes de uma articulação mais
complexa de todos os elementos inerentes ao processo em que se envolvem, ou seja,
se entendermos o termo complexo como aquilo que “é tecido em conjunto” (Fortin,
2005, p. 33), podemos inferir que o treinador perito é capaz de uma articulação mais
profunda e abrangente de todas as variáveis. Atentemos ao exemplo dado por
Siedentop e Eldar (1989), a respeito de um violoncelista perito que não apenas toca
as notas de uma música, mas também, a sua cor, ou seja, o músico estudou o
compositor da música o contexto onde foi criada a mesma e a interpretação desejada.
Na mesma linha de pensamento, (Graça, 1997; Mesquita, 1998) referem que o
que marca a diferença dos peritos é, não apenas presença de conhecimento mais
especializado e organizado, mas também a capacidade de o adaptar aos
constrangimentos situacionais, configurado num conhecimento tácito.
Nesse âmbito, faz sentido convocar Marques (2001, p. 6) quando diz que “quem
quer ter sucesso como treinador no desporto de alto rendimento tem que ser dono de
um conjunto vasto de recursos em conhecimentos e competências. Só com intuição e
inspiração não se obtêm resultados”.
Todavia, uma questão se levanta: Serão os resultados, o indicador de sucesso?
Alguns autores admitem que o sucesso no desporto não está apenas
diretamente associado às vitórias e resultados alcançados, mas baseia-se e relaciona-
se com um vasto conjunto de situações ocorridas devido às diversas condições
inerentes ao processo que não deverão ser esquecidas, como refere Oliveira (1998,
p. 18), ao considerar que “o sucesso do treinador está sobretudo nos contributos que
os resultados das suas ações impõem e não somente pelo número de vitórias e
derrotas que obtém”.
A literatura aponta para alguns fatores que podem estar relacionados com o
sucesso do treinador. Estes fatores merecem uma maior atenção da nossa parte, por
refletirem os seus comportamentos e as suas ações segundo uma filosofia de
trabalho, definida por Martens (1990) como um conjunto de princípios, valores e
crenças que influenciam as ações e decisões do treinador.
Na mesma linha de pensamento, o autor refere que o sucesso de um treinador
depende em grande parte da sua filosofia de trabalho, na medida em que é sobre esta
que o treinador usa e mobiliza o seu conhecimento.

42
Assim sendo, Gluch (1997 cit. por Paula, 2005) declara que a excelência nos
treinadores poderá estar relacionada com a filosofia adoptada em potencializar as
capacidades dos atletas, levando o indivíduo ao seu melhor e encorajando-o a ter
confiança nas próprias ações, na própria eficácia e na sua autoanálise. O mesmo autor
sugere que estes treinadores deverão demonstrar autoestima, excelente capacidade
de comunicação, motivação dos atletas proporcionando experiências interessantes e
prazerosas, adopção de um estilo de liderança adequado à realidade em causa, além
de proporcionar e trabalhar a coesão do grupo através do “sacrifício” de uns pelos
outros.
Ele representa um dos principais objetivos do trabalho que o treinador deverá
executar e, por isso, os treinadores para serem considerados verdadeiramente de
sucesso, devem também ajudar os seus atletas a desenvolverem os seus máximos
potenciais, dentro e fora do campo (Bento, 1993; Colaço, 2000; Weinberg e Gould
2003).
Pelo exposto, pode-se verificar que o sucesso é também ele multifacetado, e
como tal, para o alcançar um treinador deve também desenvolver-se a um nível
multidimensional. Assim, é pertinente citar Naylor (2007, p.45), que refere que “os
treinadores devem ser pacientes, os treinadores devem ser bons professores, os
treinadores devem ter uma filosofia de trabalho, os treinadores devem ser reflexivos”,
isto porque, desenvolver atletas e ganhar jogos é um processo árduo e complexo
(Naylor, 2007).

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BIBLIOGRAFIA

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