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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA

Treino Desportivo – Futebol de Formação

Relatório de Estágio elaborado com vista à obtenção do grau de Mestre em


Treino Desportivo

Orientador: Professor Doutor Pedro Miguel Sousa Fatela

Júri:
Presidente
Doutor Fernando Paulo Oliveira Gomes
Vogais
Doutor Jorge Manuel Castanheira Infante
Doutor Pedro Miguel Sousa Fatela

André João Martins Vieira


2020
Relatório de Estágio em Futebol apresentado à Faculdade de Motricidade Humana,
como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Treino Desportivo, sob orientação
técnica e científica do Professor Pedro Fatela.
Agradecimentos

Durante a conclusão de mais uma etapa do meu percurso académico tive a


oportunidade de contar com o apoio de diversas pessoas, que direta ou indiretamente
contribuíram para a obtenção do presente relatório de estágio e às quais não poderia deixar
de agradecer.
Ao meu orientador de estágio, Professor Doutor Pedro Fatela, pelo seu trabalho e
pela disponibilidade manifestada.
Ao Clube Desportivo da Cova da Piedade, entidade que me acolheu enquanto
estagiário e me proporcionou experiências tão únicas e enriquecedores.
À equipa técnica com quem trabalhei – Ricardo Silva, André Rocha e Daniel
Alves – por tantos e bons momentos que partilhámos e, em particular, ao meu colega e
amigo Ricardo Freitas, por me ter aberto as portas desta casa e por todo o crescimento
que vivenciámos juntos nesta experiência fantástica.
À minha família, em especial os meus pais, irmão e avó, por todo o carinho,
incentivo e apoio demonstrados durante o meu percurso.
Aos meus amigos de sempre pela amizade e companheirismo e aos que fiz durante
este trajeto nesta cidade, que me receberam de braços abertos e me fizeram sentir em casa.
Por fim, um agradecimento especial a todos os professores da Faculdade de
Motricidade Humana que, através dos seus vastos leques de conhecimentos, me
proporcionaram uma atuação enquanto estagiário muito mais eficaz, permitindo que eu
honrasse o nome desta instituição, que com muito orgulho levo comigo.

A todos vocês um MUITO OBRIGADO!

I
Resumo

O presente relatório está inserido no âmbito de estágio do Mestrado em Treino


Desportivo da Faculdade de Motricidade Humana. Este trabalho final de curso, para além
de pretender abordar alguns dos temas fundamentais da área do treino – mais
especificamente na organização e preparação de uma época desportiva da modalidade de
Futebol - visa dar a conhecer o trabalho concreto realizado na equipa de sub-19 do Clube
Desportivo da Cova da Piedade SAD, na época de 2018/2019.

Neste sentido, este trabalho foi dividido em 4 partes fundamentais, sendo elas:
Revisão da Literatura; Área 1 - Organização e Gestão do Processo de Treino e
Competição; Área 2 - Projeto de Inovação e Área 3 - Relação com a Comunidade.

Na Revisão da Literatura foram abordados temas que suportaram a minha


intervenção prática, tais como planeamento, modelo de jogo, periodização, observação e
análise de jogo, monitorização da carga de treino, treino da força e treino sensoriomotor.

Na Área 1, Organização e Gestão do Processo de Treino e Competição, foram


descritas todas as atividades realizadas por mim enquanto treinador, nomeadamente no
que diz respeito à operacionalização de um modelo de jogo, à elaboração de microciclos
semanais, à observação e análise de jogo, à monitorização da carga de treino e à realização
de treino complementar em ginásio, seja com vista ao desenvolvimento da força ou à
prevenção de lesões.

Na Área 2, o Projeto de Inovação procurou estruturar e organizar um processo de


treino de força que, englobando todos os escalões existentes no clube, tinha como objetivo
desenvolver o atleta a longo prazo.

Por fim, na Área 3, Relação com a Comunidade, foi realizada uma formação que
abordava o tema de observação e análise de jogo em contexto de futebol de formação e
no contexto de futebol profissional.

Palavras-Chave: Treino Desportivo; Futebol; Planeamento; Modelo de Jogo;


Periodização; Treino de Força; Observação e Análise de Jogo; Monitorização da Carga
de Treino.

II
Abstract

This report concerns the internship of the Master’s Degree in Sports Training at
Faculdade de Motricidade Humana. This final work, besides wanting to approach some
of the fundamental themes of the training area – specifically in the organization and
preparation of a sport season in Football – also aims to show the actual work done in the
Clube Desportivo da Cova da Piedade SAD U19 team, in the 2018/2019 season.

As such, this work is divided in 4 fundamental parts, being as follows: Review of


the Literature; Area 1 – Organization and Management of the Training and Competition
Process; Area 2 – Innovation Project and Area 3 – Community Relations.

In the Review of the Literature i approached themes that support my practical


intervention, such as planning, game model, periodization, game analysis and
observation, monitoring training load, strength training and sensorimotor training.

In Area 1, Organization and Management of the Training and Competition


Process, are described all the activities performed by myself in the coach position, namely
what concerns the operationalization of a game model, the elaboration of weekly
microcycles, observation and game analysis, monitoring training load and the execution
of complementary training in the gym, wether aiming at strengh development or at injury
prevention.

In Area 2, the Innovation Project seeks to structure and organize a strength training
process, emcompassing all levels within the club, and its objective was to develop the
athlete in the long term.

Lastly in Area 3, Community Relations, a training session was carried out,


approaching the theme of game analysis and observation in the context of youth football
and in the context of professional football.

Keywords: Sport Training; Football; Planning; Game Model; Periodization; Strength


Training; Game Analysis and Observation; Monitoring Training Load.

III
Índice Geral
1. Introdução ................................................................................................................ 9
1.1. Caracterização do Clube ................................................................................ 10
1.2. Estrutura Organizacional................................................................................ 12
1.3. Caracterização geral das condições de trabalho ............................................. 13
1.3.1. Caracterização da Equipa Técnica .......................................................... 14
1.3.2. Caracterização do Plantel ........................................................................ 15
1.3.3. Caracterização da Competição ................................................................ 17
1.4. Análise SWOT ............................................................................................... 18
1.5. Objetivos ........................................................................................................ 19
1.5.1. Objetivos Gerais...................................................................................... 19
1.5.2. Objetivos Específicos.............................................................................. 19
2. Revisão da Literatura ........................................................................................... 21
2.1. A natureza do jogo .......................................................................................... 21
2.2. Planeamento .................................................................................................... 22
2.2.1. Planeamento Conceptual ............................................................................... 24
2.2.1.1. Modelo de Jogo ................................................................................. 24
2.2.1.2. Periodização ...................................................................................... 28
2.2.2. Planeamento Tático e Estratégico ................................................................. 34
2.2.2.1. Observação e Análise do Jogo .......................................................... 34
2.2.2.2. Monitorização da Carga de Treino.................................................... 36
2.2.2.2.1. Perceção Subjetiva de Esforço (PSE) ..................................... 37
2.2.2.3. Treino de Força ................................................................................. 38
2.2.2.3.1. Descrição das Formas de Manifestação de Força ................... 39
2.2.2.3.2. Descrição dos Métodos de Treino da Força ............................ 42
2.2.2.3.3. Periodização do Treino de Força ............................................ 47
2.2.2.3.4. Treinabilidade na Criança e no Jovem .................................... 48
2.2.2.4. Treino Sensoriomotor ....................................................................... 50
3. Área 1 - Organização e Gestão do Processo de Treino e Competição .............. 52
3.1. Modelo de Jogo .............................................................................................. 52
3.2. Microciclo Padrão .......................................................................................... 56
3.3. Observação e Análise de Jogo ....................................................................... 57
3.4. Monitorização da Carga ................................................................................. 58
3.5. Treino Complementar .................................................................................... 61
3.5.1. Treino de Força ............................................................................................. 61

IV
3.5.1.1. Avaliações ......................................................................................... 63
3.5.2. Treino de Prevenção de Lesões ..................................................................... 65
4. Área 2 - Projeto de Inovação ................................................................................ 67
4.1. Introdução ...................................................................................................... 67
4.2. Estrutura e Recomendações ........................................................................... 70
4.3. Recursos ......................................................................................................... 79
4.4. Organização ................................................................................................... 79
4.5. Balanço do projeto de inovação ..................................................................... 82
5. Área 3 - Relação com a comunidade – “Observação e Análise do Treino” ..... 83
5.1. Introdução ...................................................................................................... 83
5.2. Descrição do evento ....................................................................................... 83
5.3. Divulgação ..................................................................................................... 86
5.4. Balanço do evento .......................................................................................... 88
6. Reflexão Final ........................................................................................................... 90
Bibliografia ..................................................................................................................... 93
Anexos .......................................................................................................................... 101

V
Índice de Figuras

Figura 1 - Estrutura Organizacional da administração da SAD ..................................... 12


Figura 2 - Estrutura Organizacional do Futebol Profissional da SAD ........................... 12
Figura 3 - Estrutura Organizacional do Departamento Médico da SAD ........................ 13
Figura 4 - Diferentes tipos de planeamento em contexto competitivo (adaptado de Castelo
et al., 2000) ..................................................................................................................... 24
Figura 5 - Fases e momentos de jogo (adaptado de Garganta et al., 2013) .................... 26
Figura 6 - Exemplo de Periodização Dupla (adaptado de Krasilshchikov, 2010) .......... 30
Figura 7 - Microciclo com um jogo semanal (adaptado de Tojo, s.d) ............................ 33
Figura 8 - Microciclo com dois jogos semanais (adaptado Aroso, 2010) ...................... 34
Figura 9 - Interação entre e análise de jogo o treino (adaptado de Garganta, 1997) ...... 36
Figura 10 - Escala de Perceção Subjetivo de Esforço (adaptado de Foster et al., 2001) 38
Figura 11 - Estímulo de treino, principais mecanismos reguladores e respetivas
adaptações em ações isométricas e concêntricas (adaptado de Mil-Homens, Valamatos,
& Tavares, 2015) ............................................................................................................ 43
Figura 12 - Estímulo de treino, principais mecanismos reguladores e respetivas
adaptações em ações de CMAE (adaptado de Mil-Homens et al., 2015) ...................... 44
Figura 13 - Relação entre força e velocidade (adaptado de Silva, 1985) ....................... 46
Figura 14 - Sistema tático principal ................................................................................ 53
Figura 15 - Sistema tático alternativo ............................................................................. 53
Figura 16 -Microciclo padrão em período competitivo .................................................. 57
Figura 17 - Média geral da PSE-sessão ao longo de um microciclo .............................. 60
Figura 18 - PSE-sessão, por posição, dentro da mesma sessão de treino ....................... 60
Figura 19 - PSE-sessão dentro da mesma posição ......................................................... 61
Figura 20 - Exemplo de uma sessão de treino de prevenção de lesões .......................... 66
Figura 21 - Cronograma de implementação do projeto de inovação .............................. 81
Figura 22 - Programa do evento ..................................................................................... 85
Figura 23 - Certificado de participação .......................................................................... 86
Figura 24 - Poster do evento ........................................................................................... 87
Figura 25 - Link de inscrição no evento ......................................................................... 87

VI
Índice Tabelas

Tabela 1 - Constituição da Equipa Técnica .................................................................... 15


Tabela 2 - Constituição do Plantel.................................................................................. 15
Tabela 3 - 1ª divisão do Campeonato Nacional de Juniores A - Zona Sul ..................... 17
Tabela 5 - Teste de predição de 1 RM (adaptado de Beachle & Groves, 1992) ............ 41
Tabela 6 - Valores de 1RM predito no exercício de agachamento ................................. 64
Tabela 7 - Valores de 1RM predito no exercício de supino ........................................... 64
Tabela 8 - Recomendações metodológicas - FUNdamental ........................................... 74
Tabela 9 - Recomendações metodológicas - Aprender a Treinar ................................... 75
Tabela 10 - Recomendações metodológicas - Treinar para Treinar ............................... 76
Tabela 11 - Recomendações metodológicas - Treinar para Competir............................ 77
Tabela 12 - Recomendações metodológicas - Treinar para Ganhar ............................... 78
Tabela 13 - Avaliação do evento .................................................................................... 88

VII
Abreviaturas

GR – Guarda-Redes

DL – Defesa Lateral

DC – Defesa Central

MD – Médio Defensivo

MC – Médio Centro

EXT – Extremo

JDC – Jogos Desportivos Coletivos

PSE – Perceção Subjetiva de Esforço

TF – Treino de Força

TPF – Taxa de Produção de Força

CMAE – Ciclo Muscular Alongamento-Encurtamento

TSM – Treino Sensoriomotor

PHV – Peak Height Velocity

VIII
1. Introdução

O presente documento surge no âmbito da unidade curricular de Estágio do


Mestrado em Treino Desportivo da Faculdade de Motricidade Humana, com vista à
obtenção do grau de mestre. Este relatório serve para contextualizar todo o processo de
estágio bem como descrever, minuciosamente, todas as atividades realizadas, os
conhecimentos adquiridos e as experiências vivenciadas.

Seja qual for o estágio, ao ser realizado no final de determinado ciclo de estudos,
tem como objetivo a aplicação prática, em contexto real, de todos os conhecimentos
adquiridos durante o mesmo, que irão servir de base para o nosso futuro enquanto
profissionais na área do Treino. Neste caso em específico, foram fulcrais para a minha
intervenção prática disciplinas como Metodologia do Treino Específica – Futebol, Treino
e Avaliação das Qualidades Físicas, Treino do Jovem Atleta, Periodização e Carga de
Treino e Medicina do Treino. Importa também referir que o estágio profissional
possibilita uma familiarização e eventual integração no mercado de trabalho, devido ao
facto de possibilitar uma transição mais facilitada entre o papel de aluno e o papel de
treinador.

O estágio foi realizado no Clube Desportivo da Cova da Piedade SAD, na época


desportiva de 2018/2019, na equipa de sub-19 que competiu na 1ª divisão do Campeonato
Nacional de Juniores A. Aqui tive funções de treinador adjunto e era responsável pela
realização de treino complementar em ginásio, pela monitorização da carga de treino e
pela observação e análise da equipa adversária no que toca aos dois momentos e duas
fases do jogo.

Este relatório encontra-se dividido em 3 grandes áreas, precedidas por uma revisão
da literatura que suportou a minha intervenção enquanto estagiário e terminando com uma
reflexão final, na qual são comparados os objetivos propostos inicialmente com aqueles
que de facto consegui realizar. As três áreas referidas anteriormente são: Área 1,
Organização e Gestão do Processo de Treino e Competição; Área 2, Projeto de Inovação
e Área 3, Relação com a Comunidade. A Área 1 aborda todas as tarefas por mim
realizadas ao longo desta época desportiva, desde a participação na elaboração do modelo
de jogo, periodização e observação e análise de jogo, com consequências diretas na
operacionalização no processo de treino. Aborda ainda as funções pelas quais era

9
responsável, como o treino de força, treino de prevenção de lesões e monitorização da
carga de treino. A Área 2, refere-se à conceção de um projeto inovador, nomeadamente à
elaboração de um modelo a longo prazo do desenvolvimento da capacidade física Força,
ao longo de todas os escalões de formação. Por último, a Área 3, diz respeito à realização
de um evento formativo para treinadores, tendo como tema a observação e análise de jogo
no futebol de formação e no futebol profissional.

1.1. Caracterização do Clube

O Clube Desportivo da Cova da Piedade foi fundado a 28 de janeiro de 1948,


resultado da fusão entre o União Piedense Futebol Clube e Sporting Clube Piedense.
Encontra-se sediado na freguesia da Cova da Piedade e concelho de Almada, com o seu
estádio – Estádio José Martins Vieira – aí localizado.

O seu palmarés conta com 4 títulos da 1ª Divisão da Associação Futebol de


Setúbal nas épocas de 1947/1948, 1993/1994, 2005/2006 e 2012/2013 e dois títulos da III
Divisão, em 1947/1948 e 1970/1971, tendo sido finalista vencido em 1976/1977.

Na época de 2015/2016, foi criada uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD)


dirigida por Kuong Chun Long de nacionalidade Chinesa. Nesta época, após uma boa
prestação no Campeonato de Portugal, que culminou na conquista da prova, o clube
garantiu pela primeira vez na sua história a presença numa liga profissional do futebol
português, mantendo-se aí até então. No entanto, foi na época de 2017/2018 que a equipa
principal se exibiu ao mais alto nível desportivo, alcançando o 9º lugar na Segunda Liga
e uma inédita presença nos quartos-de-final da Taça de Portugal.

Atualmente fazem parte da SAD: a equipa A; a equipa de sub-23, criada em


2018/2019 para participar na Liga Revelação; a equipa B, criada em 2017/2018, que no
mesmo ano venceu a 2ª Divisão da Associação Futebol de Setúbal e, por último, a equipa
de sub-19, na qual me encontrei a estagiar, e que competia no Campeonato Nacional de
Juniores A depois de ter sido finalista vencido em 2016/2017 na 2ª Divisão do
Campeonato Nacional do mesmo escalão.

10
Relativamente ao clube, o presidente é o Sr. Paulo Veiga e todos os restantes
escalões de formação, desde o futebol 7, passando pelo futebol 9 e ainda as equipas de
sub-15 e sub-17 são geridos pelo mesmo.

Fonte: https://www.cdcovapiedade.pt/

11
1.2. Estrutura Organizacional

Relativamente à forma como se encontra estruturado o clube e os diversos


departamentos, estes são apresentados em forma organogramas, como é possível verificar
nas figuras 1,2 e 3.

Figura 1 - Estrutura Organizacional da administração da SAD

Figura 2 - Estrutura Organizacional do Futebol Profissional da SAD

12
Figura 3 - Estrutura Organizacional do Departamento Médico da SAD

1.3. Caracterização geral das condições de trabalho

Em termos de recursos espaciais, a equipa de sub-19 do Cova da Piedade SAD


tinha três locais nos quais o seu trabalho era desenvolvido: Estádio José Martins Vieira,
localizado em Almada; Campo Rocha Lobo, no Monte da Caparica, e Campo da Boa
Hora, na Arrentela. A preparação da semana de trabalho era iniciada nas instalações do
Estádio José Martins Vieira onde a equipa técnica se reunia com o objetivo de preparar o
microciclo que se avizinhava. Era nestas mesmas instalações que decorriam, antes dos
treinos de campo, o trabalho de ginásio e o tratamento de alguns dos jogadores no
gabinete médico. Devido ao facto de estas instalações apenas possuírem um campo
relvado de futebol 11 - destinado à equipa principal e de sub-23 - e um campo de futebol
9 - utilizado por algumas equipas do futebol de formação - fazia com que a equipa de sub-
19 tivesse de se deslocar diariamente para o Campo Rocha Lobo. Era neste local que
realizávamos todos os treinos. No entanto, devido ao facto de o mesmo não possuir as
medidas necessárias para a realização da competição em que estávamos inseridos,
utilizávamos o Campo da Boa Hora para disputar os jogos em “casa”.

Relativamente aos recursos materiais, tínhamos disponível para treino cerca de 10


bolas, 60 marcas de cores diferentes, 10 cones, 2 conjuntos de coletes, 2 escadas de

13
coordenação, 10 bidões de água e, para além das duas balizas regulamentares de futebol
de 11, tínhamos 4 balizas amovíveis de futebol 7.

1.3.1. Caracterização da Equipa Técnica

A equipa técnica para a época 2018/2019 foi constituída por quatro treinadores,
sendo um deles o treinador principal, dois treinadores adjuntos e um treinador de guarda-
redes (tabela 1). Para além destes, ainda faziam parte do staff técnico um fisioterapeuta -
Daniel Alves - e um diretor de equipa – Eugénio Cardoso.

Em relação às tarefas desempenhadas por cada elemento da equipa técnica


importa referir que pelo número reduzido de elementos que a compunham, tornava-se
fundamental uma colaboração entre todos, com particular destaque no processo de
planeamento e operacionalização das sessões de treino, assim como na observação e
análise de jogo da própria equipa.

O treinador principal, Ricardo Silva, estava naturalmente encarregue de liderar


todo o processo, de ser o responsável máximo na condução das sessões de treino e por
unificar numa só ideia as sugestões e opiniões de toda a equipa técnica.

O treinador adjunto, Ricardo Freitas, estava responsável pela orientação dos


aquecimentos nas sessões de treino bem como no dia da competição, por coadjuvar o
treinador principal na condução dos exercícios de treino, pela análise de jogo dos
esquemas táticos, pela preparação dos mesmos no processo de treino e pela construção
de documentos apresentados aos jogadores.

Eu era o responsável máximo pela condução e operacionalização de treinos de


ginásio, pela monitorização das cargas de treino e tinha uma participação ativa na
orientação dos treinos técnico-táticos. Realizava também a análise de jogo do adversário
e posterior apresentação à restante equipa técnica - de forma informal - dos aspetos mais
relevantes para a elaboração do microciclo semanal.

O treinador de guarda-redes, André Rocha, era responsável pelo treino específico


de guarda-redes, auxiliando esporadicamente no processo de planeamento e de análise de
jogo.

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Tabela 1 - Constituição da Equipa Técnica

Nome Função
Ricardo Silva Treinador Principal
André Vieira Treinador Adjunto
Ricardo Freitas Treinador Adjunto
André Rocha Treinador de Guarda-Redes

1.3.2. Caracterização do Plantel

Fizeram parte do plantel de sub-19 do Cova da Piedade SAD 34 jogadores, embora


em nenhum momento da época estivessem todos inscritos ao mesmo tempo. No início da
época o plantel era constituído por 28 jogadores e, no decorrer da mesma, alguns foram
saindo e entrando outros, pelo que apresento na tabela 2 a totalidade de jogadores que se
encontraram inscritos pelo nosso clube. No total fizeram parte do nosso grupo de trabalho
4 guarda-Redes, 12 defesas, 9 médios, 6 extremos e 3 avançados. A média da altura dos
mesmos rondava os 179 cm e o peso os 70 kg.

Tabela 2 - Constituição do Plantel

Nome Posição Clube Anterior Altura (cm) Peso (kg)


Filipe Neves GR Cova da Piedade 184 70
Bruno Santos GR Quinta do Conde 182 76
Tiago Simões GR Pinhalnovense 179 76
António Pignatelli GR Cova da Piedade 187 74
Pedro Marques DL Barreirense 167 65
Lisandro Tipote DL Marítimo 175 72
Daniel Couraceiro DL Cova da Piedade 178 68
Tiago Oliveira DC Cova da Piedade 178 71
Tiago Simões DC Cova da Piedade 186 74
Ricardo Figueiredo DC Alcanenense 183 71
Tomás Duarte DC Cova da Piedade 176 67

15
Juscilino Fernandes DC/MD Estoril Praia 183 73
Alex Petrice DL/DC Fortuna Sittard 185 79
Rodrigo Conceição DL Cova da Piedade 173 66
André Lopes DL Cova da Piedade 179 63
Vasco Gonçalves DL Belenenses 178 65
Francisco Varela MD Cova da Piedade 179 71
João Vivas MD Alcochetense 168 65
Bernardo Legatheux MD/MC Cova da Piedade 184 74
Shi Yu MC - 182 75
Rivaldo Martins MC Cova da Piedade 176 69
Jorge Lino MC Alcochetense 169 66
André Pires MC Sacavenense 177 68
Diogo Palma MC Barreirense 166 59
Rafael Basílio MC Tabuense 174 76
David Semedo EXT Chaves 181 71
Daniel Araújo EXT Pescadores 175 70
Gonçalo Viriato EXT Cova da Piedade 184 74
Manuel Grade EXT Casa Pia 180 72
Vitor Wang EXT Cova da Piedade 177 69
Bruno Tavares EXT Belenenses 172 66
Tiago Nascimento PL Pinhalnovense 176 68
Bruno Pinheiro PL Cova da Piedade 184 74
Gonçalo Santos PL Marítimo 179 76

 GR – Guarda-Redes
 DL – Defesa Lateral
 DC – Defesa Central
 MD – Médio Defensivo
 MC – Médio Centro
 EXT – Extremo
 PL – Ponta de Lança

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1.3.3. Caracterização da Competição

A equipa de sub-19 do Cova da Piedade participou na 1ª divisão do Campeonato


Nacional de Juniores A. Esta competição é dividida em duas zonas – Norte e Sul - com
cada uma a ser composta por doze equipas, sendo que a mesma se desenvolve em duas
fases. Na primeira fase, que decorreu entre os meses de agosto e de janeiro, dentro de
cada série, cada equipa joga duas vezes contra cada um dos seus adversários,
contabilizando um total de 22 jogos. No final dos mesmos as quatro equipas melhor
classificadas de cada zona disputam a Fase de Campeão, num grupo composto por oito
equipas e com um total de 14 jogos. As restantes equipas, vão disputar a Fase de
Manutenção com os adversários das respetivas zonas, realizando sete jogos em casa e sete
jogos fora.

Pelo exposto anteriormente, o Cova da Piedade SAD teve como adversários:


Académica, Alcanenense, Alverca, Belenenses, Benfica, Estoril Praia, Marítimo,
Sporting, Tondela, União de Leiria e Vitória, como é possível ver na tabela 3.

Tabela 3 - 1ª divisão do Campeonato Nacional de Juniores A - Zona Sul

Clubes Localização
Académica Coimbra
Alcanenense Alcanena
Alverca Alverca do Ribatejo
Belenenses Belém
Benfica Seixal
Cova da Piedade Almada
Estoril Praia Estoril
Marítimo Funchal
Sporting Alcochete
Tondela Tondela
União de Leiria Leiria
Vitória Setúbal

17
1.4. Análise SWOT

A análise SWOT diz respeito a avaliação da entidade de acolhimento,


nomeadamente os seus pontos fortes (Strengths), dos seus pontos fracos (Weaknesses), às
oportunidades (Opportunities) que a mesma oferece aos seus empregados assim como as
ameaças (Threats) ao trabalho dos mesmos.

No que diz respeito às suas forças, é de destacar o elevado poder financeiro por
parte da SAD proprietária do Cova da Piedade que se repercute em boas remunerações
financeiras tanto para técnicos como para os atletas, aumentando a motivação de todos.
O facto de haver a possibilidade de treinar em campo inteiro, em todas as sessões de
treino, é sem dúvida um aspeto essencial na nossa preparação. Outro fator a ter em conta
prende-se com a representatividade e importância que este clube tem na região onde se
localiza, tendo a possibilidade de trazer até si atletas e profissionais de qualidade,
refletindo-se nos bons resultados desportivos e na participação em competições de
destaque. Por último, mas não menos importante, de realçar a juventude, a ambição, e o
nível de formação dos elementos da equipa técnica, todos com percursos de formação
académica na área.

Relativamente aos pontos fracos, creio que a falta de organização em toda a


estrutura é sem dúvida a maior fraqueza desta instituição, dificultando um bom
rendimento desportivo constante e impossibilitando a tentativa de competir com outros
clubes em que isto não se verifique. Não existe qualquer tipo de coordenação entre as
quatro equipas de que a SAD é proprietária, cabendo a cada equipa técnica gerir o seu
processo e os seus jogadores da forma que achar mais correta. Grande importância
atribuída - naturalmente - à equipa A e à de sub-23, saindo claramente prejudicas as
restantes. Reflexo disso é a reduzida quantidade e qualidade de material disponível para
treino - com é o caso de bolas, coletes, marcas, entre outros -, material médico, material
de ginásio, de monitorização e de alimentação/suplementação. Outra fragilidade
vivenciada, e que não contribui para o melhor rendimento da equipa de sub-19, prende-
se com o facto de a mesma treinar e competir em campos de outros clubes, pelo que o
fator “casa” é praticamente inexistente. Para além disso a equipa treina e compete em
campos diferentes, visto que o campo em que treina não apresenta as medidas necessárias
para a realização de jogos, levando, consequentemente, a que a sua preparação fique
aquém do desejado.

18
No que concerne às oportunidades, destaco relevância e a competitividade da
1ªdivisão do Campeonato Nacional de Juniores A que permite competir com as melhores
equipas/clubes a nível nacional e, consequentemente, obrigar todos a dar o máximo e a
sermos melhor a cada dia. Um outro fator a ter em conta é o número reduzido de
elementos da equipa técnica, fazendo com que cada um saia sobrecarregado.

Do ponto de vista das ameaças, há que ter em conta a exigência que a competição
em que estamos inseridos nos impõe e, simultaneamente, a obrigatoriedade de um
desempenho mínimo em termos de resultados, bem como em termos exibicionais. A
pouca importância dada ao processo de formação por parte da administração da SAD,
assim como a imposição no que toca à utilização de determinados jogadores por parte da
mesma, são ameaças ao trabalho de qualquer treinador de um escalão de formação.

1.5. Objetivos

1.5.1. Objetivos Gerais

 Aplicar conhecimentos teórico-práticos adquiridos durante todo o percurso


académico;
 Melhorar competências a nível didático, pedagógico e de gestão de recursos humanos
e materiais;
 Melhorar e tornar mais eficaz a minha capacidade de comunicação oral;
 Desenvolver a minha relação com jovens atletas;
 Ser uma mais-valia dentro da instituição;
 Ser pontual, responsável e assíduo;
 Adquirir experiência profissional.

1.5.2. Objetivos Específicos

 Participar no planeamento do processo de treino;


 Coadjuvar na condução e operacionalização da sessão de treino técnico-tático;
 Liderar exercícios do treino técnico-táticos;

19
 Efetuar a análise de jogo do adversário e da própria equipa;
 Realizar avaliações relativas ao desenvolvimento do processo de treino;
 Desenvolver as qualidades físicas dos atletas;
 Aplicar estratégias de prevenção de lesão;
 Monitorizar a carga de treino;
 Executar um projeto de inovação na entidade acolhedora;
 Promover um momento de formação para membros do clube.

1.5.3. Objetivos de Equipa

 Preparar e desenvolver os atletas nas mais variadas valências com vista à sua
integração futura nas equipas seniores do clube;
 Assegurar a manutenção na 1ª divisão do Campeonato Nacional de Juniores A.

20
2. Revisão da Literatura

2.1. A natureza do jogo

O Futebol é uma modalidade que se insere no grupo dos Jogos Desportivos


Coletivos (JDC), modalidades estas com características comuns (Garganta & Gréhaigne,
1999; Garganta & Pinto, 1994; Guia, Ferreira, & Peixoto, 2004; Queiróz, 1983). Entre
estas características podemos destacar o facto de haver duas equipas que se confrontam
entre si - relação de oposição -, enquanto os elementos de cada uma delas trabalham em
conjunto – relação de cooperação - com vista à concretização de um objetivo. O objetivo
de cada uma das equipas depende de qual se encontra com a posse da bola: a que a possuir,
encontra-se a atacar, pelo que o seu objetivo é a obtenção do golo na baliza adversária;
pelo contrário, a outra encontra-se a defender e deverá proteger a sua baliza evitando
sofrer golo (Garganta, 1997, 2009; Garganta, Guilherme, Barreira, Brito, & Rebelo,
2013).

O Futebol, assim como os restantes JDC, decorre de um confronto entre dois


sistemas – as equipas -, caracterizando-se pela alternância constante entre “estados de
ordem e de desordem, estabilidade e instabilidade, uniformidade e variedade” (Garganta,
2001, p.2). É, portanto, um contexto de elevada variabilidade, imprevisibilidade e
aleatoriedade, no qual as equipas lutam para atingir objetivos momentaneamente opostos
(Garganta, 1997).

As equipas regem-se pelas leis e princípios de jogo, no entanto, o facto de estarem


presentes, no mesmo espaço, 22 pessoas com possibilidade de decidir que
comportamentos e ações devem realizar a cada instante, faz com que exista um número
infindável de soluções que contribuem para a imprevisibilidade do jogo (Garganta &
Gréhaigne, 1999; Guia et al., 2004). Contudo, nem tudo é aleatório e imprevisível no que
diz respeito ao que ocorre em campo. Passado algum tempo após observar um jogo,
mesmo que com equipamentos iguais, é possível verificar a presença de duas equipas,
através da observação da existência de algumas regularidades e comportamentos
similares (Garganta 2002). As ações dos jogadores de uma mesma equipa tendem a ser
congruentes com as demais situações do jogo, na medida em que os comportamentos
coletivos e individuais são direcionados a finalidades e objetivos comuns (Garganta &
Gréhaigne, 1999; Garganta 2002).

21
2.2. Planeamento

O planeamento refere-se a um conjunto de operações levadas a cabo com vista ao


desenvolvimento qualitativo do jogador e da equipa (Teodorescu, 2003). Este conjunto
de operações são definidas e sistematizadas após uma análise da realidade envolvente e
organizadas em função de finalidades e objetivos, refletindo o pensamento e a
metodologia de trabalho do treinador (Castelo et al., 2000; Teodorescu, 2003). Castelo e
colegas (2000) resumem a natureza do planeamento em quatro aspetos essenciais:
orienta-se para o futuro, toma o contexto competitivo em consideração, é um processo
contínuo e visa a conceção de estratégias de transformação da realidade presente.

Segundo Garganta (1991), na realização do processo de planeamento a equipa


técnica deverá ter em conta informações relativas a: i) características gerais dos atletas
(i.e., dados pessoais, fisiológicos, historial desportivo ou clínico; ii) informações gerais
sobre as condições de treino (i.e. nº total de horas, locais, ou material disponível); iii)
características específicas dos atletas e da equipa (i.e. nível de desenvolvimento físico,
técnico, tático, psicológico); iv) calendário e contexto competitivo; v) seleção dos meios
e métodos a aplicar e iv) modelo de jogo. Por sua vez, para Teodorescu (2003) as
operações na elaboração do planeamento são: i) análise aprofundada do nível qualitativo
e quantitativo da equipa; ii) definição dos objetivos e data para a concretização dos
mesmos a médio e longo-prazo (anos vindouros); iii) definição do modelo de jogo; iv)
estabelecimento de requisitos ótimos para a prática do modelo de jogo idealizado; v)
distribuição dos conteúdos ao longo do tempo; vi) definição do tempo necessário para o
desenvolvimento dos conteúdos, de acordo com as características contextuais
encontradas; vii) conceção e distribuição de planos individuais; viii) elaboração e
distribuição dos objetivos e conteúdos perspetivados a curto-prazo (presente época) e ix)
análise dos resultados no final de cada época desportiva.

Assim, após uma análise detalhada dos atletas, do clube e do contexto, onde ambos
estão inseridos, cabe ao treinador e restante equipa técnica definir objetivos e selecionar
meios e métodos para os alcançar (Castelo et al., 2000; Garganta, 1991; A. Gomes, 2004).
Garganta e colegas (2013) defendem que é de fundamental importância um conhecimento
profundo sobre o nível de desempenho dos atletas com vista a uma definição de objetivos
claros e concretizáveis.

22
Em suma, o planeamento, após analisar, definir e organizar as operações
necessárias ao desenvolvimento da equipa, permite estabelecer uma direção, assegurando
a relação entre a preparação da mesma e o respetivo contexto competitivo onde está
inserida. Desta forma, permite reduzir a imprevisibilidade e aleatoriedade, aumentar a
segurança e o controlo do processo de treino por parte da equipa técnica, sabendo
precisamente em que ponto a equipa se encontra e para onde necessita de ir (Castelo et
al., 2000; Garganta 1991).

O processo de planeamento não termina aquando da execução dos planos


definidos antecipadamente (Santos, 2006). Segundo este autor e Garganta (1991), este
processo encontra-se em permanente construção, pelo que o mesmo deverá ser
suficientemente flexível para se adaptar às adversidades e necessidades que vão surgindo
ao longo do tempo. Garganta (1991) e Pires (2005), acrescentam que é aconselhável que
o processo de planeamento deva apresentar algum grau de flexibilidade sem nunca por
em causa a imprescindibilidade de elaboração inicial.

Castelo e colegas (2000) e Castelo (2003) defendem que o planeamento se situa


em três níveis (figura 4): planeamento conceptual, planeamento estratégico e
planeamento tático. O planeamento conceptual diz respeito à elaboração de um conjunto
de linhas gerais e específicas que visem orientar a equipa para a construção de um modelo
de jogo e/ou modelo de praticante. A criação deste modelo deve assentar na análise que
o treinador faz das características dos seus atletas, da conceção que o próprio tem do jogo,
das tendências evolutivas do mesmo e daquilo que pretende para a sua equipa. Neste
sentido, deverá ser feita uma análise da situação da equipa – não apenas características
relacionadas com o jogo, mas também valores e intenções – assim como uma análise da
época anterior; descrever o modelo de organização, com definição dos objetivos e dos
jogadores que formarão o plantel e, por último, elaborar um plano de aplicação prática.
Por sua vez, o planeamento estratégico refere-se aos meios e estratégias selecionadas para
que, no dia da competição, determinada equipa leve a melhor sobre o adversário. São
exemplos destas estratégias o conhecimento tático da própria equipa, da equipa adversária
e do terreno de jogo. No fundo, o planeamento estratégico tem como objetivo adaptar a
equipa às condições que encontrará no dia da competição, tentando criar condições
favoráveis para si e desfavoráveis para o adversário. Por fim, a planificação tática visa
utilizar durante o jogo os conhecimentos e qualidades dos seus atletas, adquiridos
anteriormente através do planeamento conceptual e estratégico, com vista à concretização

23
dos objetivos estabelecidos. Assim, é solicitado aos atletas que resolvam eficazmente
problemas que surjam no decorrer do jogo, utilizando para tal soluções técnicas, táticas,
físicas e psicológicas. No mesmo sentido, também ao treinador é exigido que se vá
ajustando a si e à sua equipa em relação às situações decorrentes da competição, antes,
durante, ao intervalo e no final da mesma.

Planeamento
Conceptual

Planeamento Planeamento
Estratégico Tático

Figura 4 - Diferentes tipos de planeamento em contexto competitivo (adaptado de Castelo et al., 2000)

2.2.1. Planeamento Conceptual

2.2.1.1. Modelo de Jogo

O treino tem como finalidade gerar harmonia e sintonia entre todos os


intervenientes, como é o caso dos jogadores pertencentes a uma equipa (Garganta 2004).
Esta é composta por um conjunto de atletas onde se verifica elevada cumplicidade e
vinculação a uma determinada visão, modelo e identidade. Verifica-se então a existência
de um conjunto regras de ação e de princípios que orientam os seus comportamentos com
vista a atingir um objetivo comum. Este conjunto de regras e princípios é denominado
modelo de jogo (Casarin, Reverdito, Greboggy, Afonso, & Scaglia, 2011; Garganta,
2004). O modelo de jogo consubstancia-se num conjunto de regras transversais a todos
os elementos de uma equipa, ou seja, os princípios de jogo (Garganta, 2013). Estes,

24
quando aplicados, traduzem-se numa forma específica de jogar, provocando uma
padronização de comportamentos e, consequentemente, a criação de um identidade
(Teoldo, Guilherme, & Garganta, 2020; Gonçalves, 2009).

De acordo com Tamarit (2013) o modelo de jogo é formado pela interação de


diversos fatores: i) cultura do país; ii) cultura e historial do clube; iii) estrutura e objetivos
do clube; iv) ideia de jogo do treinador; v) sistema de jogo a utilizar; vi) características e
nível dos jogadores; vii) outros (i.e. crenças religiosas, horários, clima, estado do piso,
espaço disponível para treinar). O modelo de jogo não deve ser estanque, antes pelo
contrário: deve ir evoluindo e adaptando-se ao contexto e aos jogadores (Garganta, 2004;
Tamarit, 2013). Este não corresponde unicamente a um caminho contínuo e progressivo,
mas a um projeto constantemente ajustável, que se constrói, destrói e reconstrói ao longo
do tempo (Castelo, 1996; Tamarit, 2013). Além disso, deve permitir que os jogadores
exprimam naturalmente as suas capacidades, encaixando-as e somando-as às dos seus
colegas (Castelo, 1996). Segundo Garganta (2004) o treino e o modelo de jogo devem
permitir que o atleta exprima toda a sua individualidade, potenciando as mais-valias de
cada um sempre em prol do coletivo. “Os modelos, à partida, quando são
conceptualizados e nós tentamos, depois, operacionaliza-los através do processo de
treino, através da competição, não passam de mapas de referência, mas que vão sendo
alterados até pela própria intervenção dos jogadores e das equipas, ou seja, o processo é
tanto mais rico quanto mais os jogadores e as equipas acrescentarem algo ao modelo e
ajudarem a transformá-lo, no sentido ascendente, para conseguirmos chegar cada vez
mais além” (Garganta, citado por Barbosa, 2014, pp. 88).

A aquisição e aplicação destes princípios específicos, que definem a forma de


jogar de uma equipa, deve segundo Garganta e colegas (2013), ser o objetivo principal
do treino, dando condições aos jogadores para poder estruturar as suas ações no jogo de
forma idêntica. De acordo com Castelo (1996) a conceção de um modelo de jogo permite
produzir e aprimorar no processo de treino todo o sistema de relações e inter-relações que
se estabelecem entre os diversos elementos que o compõem. Frade (em Borges, 2015) e
Gonçalves (2009) concluem, acrescentando, que o treino deve ser específico, isto é,
treinar o que suporta o “jogar” de uma equipa, ou seja, o modelo de jogo. Garganta (2007)
afirma que treinar é modelar comportamentos e atitudes através de um projeto orientado
para a competição, traduzindo-se numa maneira de jogar específica. Para Barreira (2012)
pretende-se que, em qualquer momento do jogo, os jogadores ajam sob orientação de

25
princípios que regulam a sua atividade enquanto equipa, proporcionando uma identidade
à mesma. De acordo com Frade (em Borges, 2015) e Gonçalves (2009), o modelo de jogo
deve então orientar todo o processo de treino, garantindo coerência e eficácia ao mesmo,
orientando, de forma planeada e sistemática, comportamentos. Para tal, os conteúdos
abordados, com consequente representação em exercícios de treino, devem apresentar um
grande grau de correspondência com o modelo preconizado de modo a que jogadores e
equipa percebam, ao mesmo tempo, o que fazer nas variadas fases e momentos de jogo
(Frade, em Borges, 2015; Gonçalves, 2009; Tamarit, 2013).

Pelo exposto anteriormente, para uma melhor aquisição e compreensão dos


princípios orientadores do modelo de jogo, existe a necessidade de fracionar o jogo
(figura 5) e o treino sem perder a sua complexidade, direcionando a intervenção para
aspetos específicos do mesmo, como são as fases – ofensiva e defensiva -, os momentos
- transição defesa-ataque e ataque-defesa - e os níveis de organização – individual, grupal,
setorial, intersectorial e coletiva. (Castelo 1996; Oliveira, em Silva, 2008; Garganta et al.,
2013; Quina, 2001; Tamarit, 2013).

Transição
Ataque-
Defesa

Ataque Defesa

Transição
Defesa-
Ataque

Figura 5 - Fases e momentos de jogo (adaptado de Garganta et al., 2013)

Processo Ofensivo

O processo ofensivo caracteriza-se por uma equipa se encontrar com a posse de


bola, desenvolvendo comportamentos que visam a criação e a finalização de jogadas de

26
ataque, culminando em golo (Castelo 1996; Quina, 2001). Segundo estes autores, a fase
ofensiva encontra-se dividida em três etapas:

1) Construção do processo ofensivo - esta etapa é caracterizada pela circulação e/ou


progressão da bola para áreas do terreno de jogo a partir das quais seja mais fácil a
criação de oportunidades de golo. É consubstanciada por comportamentos técnico-
táticos que criem desequilíbrios na organização defensiva adversária, que por sua
vez ditarão qual o método de jogo ofensivo a adotar.

2) Criação de situações de finalização – etapa do processo ofensivo na qual o objetivo


fundamental é criar situações favoráveis de finalização, a partir de combinações
técnico-táticas individuais ou coletivas capazes de provocar instabilidade numa
zona do campo normalmente muito povoada por adversários em atitude defensiva.

3) Finalização – caracterizada pela ação de remate com o objetivo de marcar golo,


sendo portanto a etapa onde todo o processo ofensivo culmina.

Processo Defensivo

O processo defensivo caracteriza-se pelo facto de a equipa não ser portadora da


posse de bola, vendo-se obrigada a adotar comportamentos que permitam recuperá-la,
evitando que o adversário marque golos (Castelo, 1996; Quina, 2001). De acordo com
estes autores, esta fase encontra-se dividida em três etapas:

1) Equilíbrio defensivo – ocorre quando uma equipa ainda se encontra em processo


ofensivo, ou seja, com a posse da bola. Contudo, toma medidas defensivas
preventivas, deixando vários jogadores na retaguarda daqueles que se encontram
a desenvolver tarefas ofensivas. Esta etapa, se corretamente realizada – a partir da
aplicação do princípio tático de cobertura ofensiva (Costa, Silva, Greco, &
Mesquita, 2009) -, permite recuperar a bola rapidamente em caso de perda bem
como transitar mais fácil e eficazmente para o processo defensivo.

2) Recuperação defensiva – inicia-se no momento em que se perde a posse da bola e


se torna impossível recuperá-la imediatamente por mérito do adversário,
obrigando os jogadores a recuarem até à sua posição defensiva base. Apesar da

27
incapacidade de recuperar a bola, durante este recuo, deve-se ir impedindo os
adversários de progredirem confortavelmente no campo através de uma pressão
constante que os obrigue a jogar para trás, para o lado ou eventualmente a perder
a bola. Para tal é necessário que a equipa que se encontra em organização
defensiva aja como um todo, organizando-se e coordenando-se no tempo e no
espaço.

3) Defesa propriamente dita – caracteriza-se por ser a fase mais evidente do processo
defensivo, ou seja, pela ocupação do dispositivo defensivo definido pela equipa e
termina na recuperação da posse.

Transições

Para além das fases do jogo referidas anteriormente, no jogo de futebol verificam-
se dois momentos que representam precisamente os instantes de transição entre ambas. A
transição defesa-ataque caracteriza-se pelos comportamentos tidos pelos jogadores e pela
equipa imediatamente após a recuperação da bola. Pelo contrário, a transição ataque-
defesa corresponde aos comportamentos que uma equipa adota nos instantes após a perda
da bola, preparando-se imediatamente para defender e recuperar a posse da mesma
(Garganta, 2013).

2.2.1.2. Periodização

A periodização refere-se à divisão da época em períodos ou ciclos de treino, de


acordo com as características do calendário competitivo e com os princípios do treino (A.
Gomes, 2009; Bompa & Buzzicheli, 2017; Garganta 1991; J. Gomes, 2004).

A cada um destes períodos estão inerentes objetivos específicos que se pretendem


alcançar, pelo que esta divisão em blocos mais pequenos de tempo permite: uma melhor
gestão das cargas de treino e respetiva adaptação (Garganta, 1991; Krasilshchikov, 2010);
melhor gestão do tempo (Bompa & Buzzicheli, 2017; Krasilshchikov, 2010); prevenir
lesões e situações de sobretreino (Krasilshchikov, 2010; Raiola & D’Isanto, 2016) e
atingir um pico de forma no momento em que ocorrem as competições mais importantes
(Bompa & Buzzicheli, 2017, Castelo, 2000; Garganta 1991; Raiola & D’Isanto, 2016).
28
Os modelos de periodização mais clássicos, utilizados atualmente em contextos
mais individuais, visam então que os atletas alcancem um pico de forma desportiva -
definido como um estado de treino ótimo que permite o uso pleno das suas capacidades -
nos períodos coincidentes com as grandes competições (Bompa, 2012; Krasilshchikov,
2010). Para alcançar a forma desportiva desejada, o atleta necessita de passar pela fase de
aquisição, seguida da de estabilização e por último de perda temporária, incluídas
respetivamente no período preparatório, competitivo e transitório – em que se divide uma
época desportiva ou ciclo de treinos (Castelo, 2000; Garganta 1991; Krasilshchikov,
2010). O período preparatório é para grande parte das modalidades individuais mais longo
do que qualquer um dos outros dois, tornando-se fundamental para adquirir uma
preparação física de base que sustente as cargas impostas ao longo da época (A. Gomes,
2009; Bompa, 2012; Castelo, 2000; Krasilshchikov, 2010). Neste período verifica-se um
trabalho pouco específico, bem como um volume superior à intensidade. Na opinião dos
autores anteriormente citados, à medida que o período competitivo se vai aproximando,
a especificidade aumenta assim como a intensidade. Neste período, o foco recai no
aperfeiçoamento das capacidades específicas da modalidade, com baixos volumes e altas
intensidades. O período transitório é visto como um momento de descanso ativo, no qual
os atletas veem diminuídas as componentes de carga, servindo para se aliviarem
psicologicamente da exigência da competição e preparem-se para o período preparatório
que se avizinha. Para além dos períodos de treino mencionados atrás, a época desportiva
pode ainda ser dividida em estruturas temporais mais específicas: macrociclo (i.e., ano,
época ou ciclo de treinos), mesociclo (i.e., conjunto de semanas ou mês) e microciclo
(semana) (Bompa, 2012; Castelo, 2000; Krasilshchikov, 2010). Segundo Krasilshchikov
(2010) a cada macrociclo corresponde uma grande competição, pelo que cada um engloba
um período preparatório, um período competitivo e um transitório. Neste sentido, se a
modalidade praticada por determinado atleta apresentar apenas uma grande competição
num ano, significa que na preparação da mesma apenas existirá um macrociclo que terá
como objetivo principal a obtenção de um pico de forma – periodização simples. O
mesmo raciocínio pode ser aplicado para a periodização dupla (figura 6) e tripla.

29
Macrociclo 1º Macrociclo (6 meses) 2ª Macrociclo (6 meses)

Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Preparatório Competitivo Preparatório Competitivo


Período TP I TP II
I (PP I) I (PC I) II (PP II) II (PC II)

Figura 6 - Exemplo de Periodização Dupla (adaptado de Krasilshchikov, 2010)

Nos desportos coletivos, como é o caso do futebol, tem-se percebido que este
género de periodização, que tem sobretudo a componente física como orientadora do
processo, e no qual se procura atingir um pico de forma, não se adequada à realidade atual
da modalidade. Assim, deve-se procurar estabilizar as capacidades físicas dos atletas, para
que os mesmos, ao longo de toda a época, se possam exibir perto do seu rendimento
máximo (Garganta 1991; J. Gomes, 2004; Krasilshchikov, 2010). Ao contrário das
modalidades individuais, o período preparatório é bastante reduzido, pelo que não se torna
possível uma diminuição gradual do volume concomitante com o aumento da intensidade.
O que se verifica é que no período preparatório, devido à inexistência de competições, há
um maior número de treinos e com maior duração. No entanto, assim que se iniciam as
mesmas, esses números veem-se reduzidos e, consequentemente, o volume diminui
enquanto a intensidade sobe ligeiramente e se mantém ao longo da época (Oaks & Garcia,
2013). Como consequência também do diminuto período preparatório, vê-se abdicada da
preparação geral em prol da preparação específica, pelo que a preparação geral fica muitas
vezes ao cuidado dos atletas. Por sua vez, o período competitivo é bastante extenso, com
quadros competitivos alargados e verifica-se a necessidade de um elevado rendimento
durante toda a época, pelo que parece não fazer sentido procurar atingir-se um pico de
forma (Garganta 1991; J. Gomes, 2004). Por ser um jogo coletivo, no qual as interações
entre atletas da mesma equipa são fundamentais para a performance, deve ser a tática o
fator balizador do processo de treino, que se repercute no modelo de jogo adotado pela
equipa e nos princípios que lhe dão corpo (Frade, em Borges, 2015; Garganta et al., 2013;
Gonçalves, 2009; Tamarit, 2013). A divisão dos fatores técnico, físico, tático e
psicológico, preconizada pelos modelos mais tradicionais, parece não fazer sentido nos
dias de hoje, especialmente em modalidades como o futebol em que o jogo deve ser
entendido como um todo (Frade, em Borges, 2015; J. Gomes, 2004; Oliveira, em Silva,

30
2008). Segundo Borges e colegas (2014), J. Gomes (2004) e Oaks e Garcia (2013) os
comportamentos táticos, baseados em princípios de jogo, é que devem ser definidos,
planeados e periodizados ao longo do tempo, sendo que as restantes componentes devem
ser subjugadas a ele e não alvo de maximização em separado.

Atualmente, alguns autores defendem a ideia de que apesar de ser possível utilizar
a época competitiva como a estrutura temporal na qual se definem e distribuem
conteúdos, a maneira mais adequada para planear e periodizar o seu modelo de jogo é
através do padrão de treinos semanal, ou seja, do microciclo (J. Gomes, 2004; Frade, em
Borges, 2015) A escolha desta estrutura temporal deve-se ao facto de maioritariamente
os momentos competitivos decorrerem com uma semana de intervalo, pelo que é possível
rapidamente ajustar o processo de acordo com as indicações retiradas dos treinos e dos
jogos, nomeadamente da evolução da equipa e dos praticantes, com o intuito de aplicar
esses ajustes no jogo seguinte. Neste sentido, através da constante avaliação do estado da
própria equipa bem como do adversário seguinte, definem-se objetivos para o microciclo
semanal (Borges et al., 2014; Frade, em Borges, 2015; J. Gomes, 2004; Oliveira, em
Silva, 2008).

Tendo em conta o objetivo principal de avaliar e aprimorar o modelo de jogo


semanalmente, mas nunca sem descurar aquilo é a capacidade física dos atletas, para que
possam exprimir o seu máximo rendimento individualmente ao longo de toda a época,
torna-se fundamental que os mesmos sejam sujeitos a estímulos semanais no que toca às
diversas capacidades físicas (figura 7) (Tojo, 2018). Neste sentido, ao longo das unidades
de treino que compõe o microciclo, é possível operacionalizar o modelo de jogo
preconizado através da conceção de exercícios que potenciem a predominância de
determinadas vias energéticas e solicitem variadas estruturas musculares. Para tal,
variáveis como o espaço, o número de jogadores, o tempo e a densidade necessitam de
ser corretamente manipuladas (Frade, em Borges, 2015; J. Gomes, 2004; Oliveira, em
Silva, 2008; Tojo, 2018).

Observando o microciclo exposto abaixo (figura 7), com jogo a cada domingo, é
possível concluir que alguns autores e treinadores (Oliveira, em Silva, 2008; Tojo, s.d)
sugerem que o dia imediatamente após (+1) seja de folga para todo o plantel. No dia
seguinte (+2) pode haver uma divisão da equipa em dois grupos: um grupo com os atletas
que jogaram grande parte do tempo no último jogo e o grupo que não foi utilizado. O
primeiro deverá, de acordo com os autores, ser alvo de um trabalho de recuperação, sendo
31
o mais recomendado esforços similares aos do jogo, no entanto, com intensidade,
duração, densidade e complexidade muito baixas. O grupo dos atletas não utilizados
devem realizar um trabalho misto que envolva esforços predominantemente em regime
de força e de resistência. Este mesmo dia pode ser aproveitado para exercitar, nas
condições anteriormente descritas para cada um dos grupos, situações que não tenham
corrido de forma ideal no jogo ou outras que se perspetivem para o próximo. Quarta-feira
(-4), visto que os atletas podem ainda não estar totalmente recuperados do jogo,
aconselham-se exercícios de complexidade média, potenciando relações por setores ou
entre setores – setorial e intersectorial, respetivamente - e num regime
predominantemente de força, o que implica número de jogadores, duração e espaços
reduzidos, que por sua vez provoquem muitas mudanças de direção, saltos, travagens,
remates e acelerações, entre outras. Quinta-feira (-3) é o dia predileto para trabalhar
situações mais próximas das que ocorrem em competição, devido ao facto de ser o dia
mais distante do jogo anterior bem como do próximo. Neste sentido, utilizam-se grandes
números de jogadores, um tempo em atividade extenso e em espaço amplo, permitindo
aos mesmos efetuar longos deslocamentos. Sexta-feira (-2) é um dia já próximo do jogo
pelo que não é aconselhável grande desgaste nem físico nem psicológico. Neste sentido,
podem ser exploradas situações com relações numéricas desequilibradas ou mesmo sem
oposição, em regime de velocidade, com tempos de exercitação curtos, expondo os atletas
a ações de elevada velocidade de contração, decisão e execução. Sábado (-1), sendo o
último treino antes da competição, prevê-se um treino muito ligeiro que permita aos
atletas tanto recuperarem da semana de trabalho como fazerem uma pré-ativação para o
momento que se avizinha, através de exercícios com uma densidade, duração e
complexidade mínimas. Os autores são da opinião que este dia pode ser, em grande parte,
dedicado a esquemas táticos, com uma elevada componente estratégica. (Oliveira, em
Silva, 2008; Tojo, s.d).

32
2ªFeira 3ªFeira 4ªFeira 5ªFeira 6ªFeira Sábado Domingo
+1 +2 -4 -3 -2 -1
Recuperação
(Grupo mais
Recuperação
utilizado) Força Resistência Jogo
Folga Velocidade +
Força/Resistência (Tensão) (Duração)
Estratégia
(Grupo menos
utilizado)

Figura 7 -Microciclo com um jogo semanal (adaptado de Tojo, s.d)

Na figura 8, encontra-se um exemplo de um microciclo com mais do que um


momento competitivo. Neste caso, Aroso (2010) é da opinião que a maior parte dos dias
necessite de ter uma componente de recuperação acentuada. Segundo este autor, o
microciclo semanal deve iniciar (+1) com um trabalho de recuperação e de exercícios em
regime de velocidade. No treino seguinte, antes da próxima competição (-1), com vista a
não se provocarem níveis de fadiga elevados, deve-se dar enfâse a exercícios de
velocidade de reação. Após o jogo a meio da semana, no treino seguinte (+1) pode-se,
novamente, organizar a sessão com o intuito de recuperar os atletas, seguido de um
trabalho em regime de resistência com espaços mais alargados e um número de atletas
envolvidos também maior. Na sessão -2, é aconselhável que a componente de recuperação
seja mais pronunciada do que a da unidade de treino anterior, e os exercícios realizados
em regime de velocidade. No último dia antes da competição, o autor sugere que seja
dado novamente ênfase a um trabalho de velocidade de reação.

33
2ªFeira 3ªFeira 4ªFeira 5ªFeira 6ªFeira Sábado Domingo

+1 -1 +1 -2 -1

Recuperação Jogo Recuperação Recuperação Jogo


Velocidade Velocidade
+ + +
de reação de reação
Velocidade Resistência Velocidade

Figura 8 - Microciclo com dois jogos semanais (adaptado Aroso, 2010)

2.2.2. Planeamento Tático e Estratégico

2.2.2.1. Observação e Análise do Jogo

Com a evolução do jogo a que se tem assistido, com a procura permanente de


aumentar o conhecimento sobre o mesmo e de melhorar a sua prestação das equipas,
investigadores e treinadores têm atribuído uma grande importância à análise de jogo
(Garganta, 2009). De acordo com Costa e colegas (2013) a análise de jogo consiste em
registar os dados mais relevantes de uma partida para posterior interpretação e
diagnóstico. Para Garganta (2009) e Carling, Williams, e Reilly (2005) a análise de jogo,
ao fornecer informações sobre como as equipas e os jogadores interagem nos diferentes
momentos, constitui-se como uma ferramenta fundamental na melhoria do processo de
treino, visto permitir que o mesmo evolua no que diz respeito à sua especificidade. Neste
sentido, este é um instrumento que permite que a planificação do treino vá ao encontro
das necessidades encontradas na competição (Garganta, 1997; 2007) (figura 9).

Segundo Costa, Garganta, Greco, e Mesquita (2010) e Costa e colegas (2009) tem-
se recorrido frequentemente - entre outros métodos - à análise notacional – ou quantitativa
– e à análise qualitativa, com o objetivo de recolher e registar os indicadores do
desempenho mais relevantes para a prestação no treino e na competição. A análise
notacional diz respeito à quantificação do número, tipo e frequência de ações técnicas e
motoras realizadas por um jogador ao longo de todo o jogo (Garganta, 2001). Este autor
é da opinião de que se tem valorizado em demasia este tipo de análise que ignora a

34
complexidade característica do jogo, ou seja, os condicionalismos táticos que precedem
a ação técnica, não proporcionando informação relevante para o processo de treino.

Por sua vez, a análise qualitativa refere-se à identificação e descrição de


comportamentos padrão apresentados por uma equipa enquanto sistema regido por um
conjunto de princípios. Esta metodologia é dividida nas seguintes fases: preparação,
observação, avaliação/diagnóstico e intervenção. A fase de preparação diz respeito ao
conhecimento do jogo por parte de quem o observa, à definição de estratégias
observacionais, nomeadamente, os conteúdos a serem observados, o número de jogos,
assim como os meios tecnológicos a serem utilizados. Segundo os treinadores inquiridos
devem ser alvo de análise mais detalhada as duas fases (ataque e defesa) e os dois
momentos (transição ofensiva e transição defensiva) com o objetivo de detetar
comportamentos padrão. Do mesmo modo, a análise também poderá recair sobre os
esquemas táticos e as características individuais dos jogadores mais relevantes. Após a
observação, é realizada uma avaliação geral da equipa adversária e mais especificamente
das suas forças e fraquezas com o intuito de preparar a própria equipa para combater as
forças do adversário assim como de explorar as suas fraquezas. Por fim, na fase de
intervenção, são adaptados os exercícios de treino durante o microciclo semanal e
realizadas reuniões com os jogadores (Sarmento, Pereira, Anguera, Campaniço, & Leitão,
2014).

Garganta (2001;2007) defende que uma boa estratégia a ser utilizada por
treinadores e analistas seria analisar o jogo com base na identificação de regularidades
reveladas pelas equipas e, simultaneamente, demonstrá-los através de dados objetivos
proporcionados pela análise notacional. Um estudo de Silva, Castelo, e Santos (2011)
mostrou que alguns treinadores da primeira liga portuguesa de futebol, utilizam uma
análise mista, dado que durante a observação direta (in loco) dão primazia à análise
notacional e, posteriormente, durante a observação da gravação do jogo, utilizam uma
abordagem puramente qualitativa. Segundo os treinadores inquiridos, efetuada a análise,
toda a informação deverá ser compilada num relatório com uma estrutura já padronizada
e do conhecimento de todos.

A análise de jogo pode ter como foco principal um futuro adversário assim como
a própria equipa (Silva et al., 2011). Neste trabalho, alguns treinadores referem que a
análise da própria equipa tem especial importância na consolidação do seu modelo de
jogo, através do ajuste do processo de treino face ao observado em competição assim
35
como na obtenção de um feedback mais adequado e específico. Relativamente à
observação e análise do adversário, esta é muito importante no sentido de definir
estratégias para o superar, através da criação de exercícios de treino com base nas
informações daí extraídas.

Análise de
Planificação
jogo

Performance Treino

Figura 9 - Interação entre e análise de jogo o treino (adaptado de Garganta, 1997)

2.2.2.2. Monitorização da Carga de Treino

A monitorização da carga tem-se revelado de extrema importância para os


treinadores e equipas técnicas no sentido de avaliar a eficiência do processo de treino,
mais precisamente a resposta entre estímulo e recuperação (Coutts, Gomes, Viveiros, &
Aoki, 2010). Esta monitorização permite ajustar e comparar estímulos ao longo de um
microciclo e de uma época com o intuito de minimizar a ocorrência de lesões, situações
de sobretreino ou um desempenho abaixo do esperado (Coutts & Aoki, 2009; Coutts et
al., 2010).

As cargas de treino podem ser categorizadas em cargas externas e cargas internas


(Impellizzeri, Rampinini, & Marcora, 2005; Wallace, Slattery, & Coutts, 2014). A carga
externa reporta-se à quantidade de trabalho realizado por um atleta – sendo que
geralmente num desporto coletivo é a mesma para toda a equipa - e são avaliadas
frequentemente em termos de potência, velocidade, distâncias percorridas, entre outras.
Por sua vez, a carga interna refere-se ao impacto fisiológico que a carga externa tem em
36
cada atleta individualmente, sendo possível medir-se através do lactacto sanguíneo, da
frequência cardíaca, do consumo de oxigénio e da classificação da perceção subjetiva de
esforço (PSE).

2.2.2.2.1. Perceção Subjetiva de Esforço (PSE)

Com o objetivo de controlar e monitorizar a carga de treino em desportos


coletivos, vários têm sido os métodos utilizados pelos treinadores, sendo a maior parte
deles de difícil utilização, seja pelos custos associados à obtenção dos equipamentos bem
como ao tempo despendido no registo e análise dos dados (Coutts & Aoki, 2009). Borg
(1982) criou um método que permite estimar o esforço realizado pelo praticante, cujo
nome é “Perceção Subjetiva de Esforço” (PSE). Este método traduz-se na atribuição, por
parte do atleta, de um valor representativo da intensidade imposta durante uma unidade
de treino, utilizando para tal uma escala com valores a variar entre 6 e 20. No entanto,
alguns autores, para um melhor entendimento no que toca à quantificação do impacto da
sessão de treino, utilizaram em seus estudos a escala de Borg adaptada (figura 10) na qual
os valores variavam entre 0 e 10 (Coutts & Aoki, 2009; Coutts et al., 2010; Foster, Welsh,
Schrager, & Snyder, 1995; Foster et al., 2001; Impellizzeri, Rampinini, Coutts, Sassi, &
Marcora, 2004)

Sabendo que a carga de treino reflete o produto entre intensidade e volume de uma
sessão (Coutts et al., 2010), o método PSE-sessão caracteriza-se pela multiplicação do
valor atribuído pelos atletas (de o a 10) pelo valor da duração, em minutos, da unidade de
treino, sendo o resultado expresso em unidades arbitrárias de carga (ua) (Coutts & Aoki,
2009; Coutts et al., 2010; Foster, Welsh, Schrager, & Snyder, 1995; Foster et al., 2001;
Impellizzeri, Rampinini, Coutts, Sassi, & Marcora, 2004). A solicitação da atribuição de
valores por parte dos atletas deve ser feita no mínimo 30 minutos após o término da sessão
de treino, com vista a garantir que essa classificação reflete a totalidade do mesmo e não
apenas o último exercício. Foster e colegas (2001) sugerem que os resultados sejam
apresentados num formato gráfico permitindo ao treinador ter a noção de como o processo
de planeamento é experienciado pelos atletas.

No futebol, utilizando exercícios reduzidos com relações numéricas de 3x3 até


6x6, em espaços a variar entre 12mx20m e 46mx48m, foram descobertas correlações

37
entre os valores de PSE atribuídos, a acumulação de lactato sanguíneo e a frequência
cardíaca pico, confirmando a validade na utilização deste método para avaliar a
intensidade dos exercícios nesta modalidade (Coutts, Rampinini, Marcora, Castagna , &
Impellizeri, 2009; Foster, 2001).

Fatores psicológicos como a experiência passada, o entendimento da tarefa, a


cognição e a memória, fatores situacionais tais como a temperatura ambiente, a pressão
parcial de oxigénio e fatores psicobiológicos - entre os quais, acidose metabólica, gases
respiratórios, circulação de catecolaminas e betaendorfinas - podem ter influência na
perceção do esforço por parte dos atletas (Coutts et al., 2009; Eston, 2011).

Em suma, a PSE pode ser utilizada como um método simples, não invasivo, nada
dispendioso e confiável de monitorizar a carga de treino em futebol, contribuindo para a
monitorização da relação entre dose e resposta e, consequentemente, para a melhoria do
desempenho de atletas. (Coutts & Aoki, 2009).

Índice Descritor
0 Descanso
1 Muito, Muito Fácil
2 Fácil
3 Moderado
4 Um Pouco Difícil
5 Difícil
6 .
7 Muito Forte
8 .
9 .
10 Máximo

Figura 10 - Escala de Perceção Subjetivo de Esforço (adaptado de Foster et al., 2001)

2.2.2.3. Treino de Força

A atividade física e a performance desportiva estão dependentes de movimentos


corporais, resultado da transmissão de impulsos desde o sistema nervoso central até à

38
fibra muscular, consubstanciando-se na produção de força pelos músculos esqueléticos
(Haff & Triplett, 2015; Correia, Mil-Homens, & Mendonça, 2015a, 2015b).

O treino de força (TF) caracteriza-se por um tipo de treino em que a musculatura


tenta movimentar-se contra uma resistência (i.e., peso livre, máquina de musculação, peso
do próprio corpo, bola medicinal e elástico) (Fleck & Kraemer, 2017).

Existem diversos fatores que influenciam a capacidade de produzir força,


nomeadamente fatores musculares, fatores nervosos e fatores biomecânicos (Correia et
al., 2015a, 2015b; Mil-Homens & Vilas-Boas, 2015). Relativamente aos fatores
musculares que influenciam a capacidade de produzir força, é possível destacar o tipo de
fibras - 1, 2A e 2X -, os elementos elásticos – em paralelo e em série – e os tipos de ação
- isométrica, dinâmica excêntrica e dinâmica concêntrica (Correia et al., 2015a). No que
toca aos fatores nervosos, estes podem ser divididos em duas componentes, a central -
recrutamento, ativação e sincronização muscular - e a periférica - o fuso neuromuscular
e o órgão tendinoso de golgi (Correia et al., 2015b). Por último, os fatores biomecânicos
que estão diretamente relacionados com a capacidade de produção de força são a relação
força-comprimento-, a relação força-velocidade, a arquitetura muscular – área fisiológica
de secção transversal (Correia et al., 2015a), ângulo de penação, comprimento dos
fascículos, espessura muscular, volume muscular, tensão específica- e o tipo de
resistências exterior (Mil-Homens & Vilas-Boas, 2015).

Alguns dos benefícios deste tipo de treino são: aumento da força, potência e
resistência muscular; aumento da capacidade cardiorespiratória e da resistência a lesões;
melhoria da composição corporal, do perfil lipídico, das skills motoras e da performance,
bem como da saúde mental e saúde óssea (Bangsbo, 2006; Faigenbaum, 2007;
Faigenbaum et al., 2009; Fleck & Kraemer, 2017; Pinto & Ughini, 2017).

2.2.2.3.1. Descrição das Formas de Manifestação de Força

A força muscular é para a maior parte das modalidades um fator determinante no


rendimento desportivo de um atleta. Contudo, a forma como a força é manifestada é
diferente de modalidade para modalidade e, dentro da mesma modalidade, de situação
para situação, mesmo que aparentemente possa parecer semelhante. Neste sentido, é
fundamental conhecer as várias formas de manifestação da força com vista a uma melhor

39
compreensão e correta seleção dos métodos de desenvolvimento de cada uma (Mil-
Homens, 2015).

Força Máxima

A força máxima diz respeito ao valor mais elevado de força que o sistema
neuromuscular é capaz de exercer contra uma resistência (Bompa & Carrera, 2005; Mil-
Homens 2015; Weineck, 2005). Esta é a componente base que influencia todas as outras
formas de manifestação de força devido ao facto de ser a mais influenciada pela massa
muscular (Mil-Homens, 2015). Como afirma Weineck (2005), a sua capacidade de
expressão depende de fatores musculares - área de secção transversal do músculo – e de
fatores neurais - coordenação intermuscular e intramuscular.

Existem diferentes conceitos de força máxima se tivermos em consideração a


massa corporal: força absoluta e força relativa. A força absoluta diz respeito ao valor mais
elevado de força que um sujeito consegue produzir independentemente da sua massa
corporal. Pelo contrário, a força relativa representa o rácio entre a força máxima
produzida e a massa corporal, sendo especialmente importante em modalidades e
movimentos em que os atletas necessitam de movimentar a sua massa corporal, como é o
caso de ações de corrida e de saltos na modalidade de futebol (Bompa & Carrera, 2005;
Mil-Homens, 2015; Weineck, 2005)

A força máxima pode-se expressar através de ações isométricas, concêntricas e


excêntricas, sendo nas contrações excêntricas onde se obtêm valores de força mais
elevados em comparação com contrações isométricas ou concêntricas (Mil-Homens,
2015).

No que se refere à sua avaliação e tentativa de determinar o valor de uma repetição


máxima (1RM) existem vários métodos, entre eles os testes isoinerciais, isométricos e
isocinéticos (Mil-Homens, Valamatos, & Pinto, 2017). Os testes isométricos e
isocinéticos necessitam de instrumentos como sensores de força e dinamómetros
isocinéticos, respetivamente, que não se encontram disponíveis em todos os locais
destinados à prática desportiva (Valamatos, Mil-Homens, & Pinto, 2017). Pelo contrário,
os testes isoinerciais são de mais fácil aplicação e podem apresentar grandes semelhanças
com os gestos desportivos (Mil-Homens et al., 2017). Utilizando este tipo de testes é
possível determinar o valor de força máxima indiretamente através de um teste de

40
predição de 1 RM (Beachle & Groves, 1992). Este procura predizer o valor de 1 RM a
partir do número de repetições realizadas com uma carga submáxima, tendo por base o
princípio de que existe uma relação inversa entre a carga e o volume (Mil-Homens et al,
2017). Beachle e Groves (1992) criaram uma tabela (tabela 5) na qual determinado
número de repetições corresponde a um coeficiente, sendo posteriormente multiplicado
esse coeficiente pelo valor de carga movimentado pelo sujeito.

Tabela 4 - Teste de predição de 1 RM (adaptado de Beachle & Groves, 1992)

Coeficiente para a predição de 1 RM


Número de repetições Coeficiente
1 1.00
2 1.07
3 1.10
4 1.13
5 1.16
6 1.20
7 1.23
8 1.27
9 1.32
10 1.36

Força Rápida

A força rápida traduz a capacidade do sistema neuromuscular produzir o maior


valor de força, à máxima velocidade e num determinado intervalo de tempo (Mil-
Homens, 2005; Weineck, 2005). Um sujeito muito bem treinado, para ser capaz de atingir
a sua força máxima no movimento de extensão dos membros inferiores necessitará de
800 a 900 milissegundos. No entanto, durante movimentos desportivos muitas vezes não
se dispõe desse tempo, como é o caso da maioria dos deslocamentos dos desportos
coletivos que se situam entre os 250 e os 400 milissegundos. Assim, e verificando que o
tempo para produzir força é bastante limitado, mais do que atingir valores máximos, é
importante a velocidade a que a força é produzida (Mil-Homens, 2015).

41
Esta forma de manifestação de força requer a solicitação de fatores neurais e
mecânicos, podendo-se subdividir em duas componentes: taxa de produção de força
(TPF) e potência. A (TPF) é definida pelo valor de força produzido por unidade de tempo
- muitas vezes sem ter ocorrido movimento - e mede-se através do declive da curva força-
tempo (Mil-Homens, 2015). Já a potência representa o produto entre a força produzida e
a velocidade, num determinado período de tempo, refletindo-se em trabalho mecânico
(Bompa & Carrera, 2005; Mil-Homens, 2015).

Força Reativa

A força reativa caracteriza-se por apresentar uma forma de manifestação em que


determinado músculo ou grupo muscular apresenta um momento de contração excêntrica
seguido de uma contração concêntrica, com um tempo de transição entre ambos bastante
reduzido, sendo comum chamar ciclo muscular de alongamento-encurtamento (CMAE)
(Bompa & Carrera, 2005; Mil-Homens, 2015). Esta pode ser dividida em dois tipos
consoante o tempo de duração do ciclo atrás referido: de longa duração, caso os tempos
de contacto sejam superiores a 250 milissegundos ou de curta duração se os mesmos
forem inferiores a 250 milissegundos (Mil-Homens, Valamatos, & Carvalho, 2015)

Força Resistente

A força resistente refere-se à capacidade do sistema neuromuscular realizar


esforços de média e longa duração, mantendo níveis elevados de rendimento muscular e
retardando o aparecimento de fadiga. Pode-se manifestar em ações musculares
isométricas, concêntricas e de ciclo muscular alongamento-encurtamento, como acontece
em modalidades como o futebol que se prolonga ao longo de 90 minutos (Mil-Homens,
2015)

2.2.2.3.2. Descrição dos Métodos de Treino da Força

Os métodos de treino visam, através da aplicação de determinados estímulos,


provocar adaptações para o desenvolvimento das diversas formas de manifestação de

42
força. Nas figuras 11 e 12 encontram-se, de uma forma resumida, os métodos de treino
para cada uma dessas formas e as respetivas adaptações.

Estímulo Mecanismo Adaptação

Intensidades
submáximas, Hipertrofia Aumento da
volumes elevados e Muscular Força Máxima
intervalos reduzidos

Intensidades Neural
máximas, volumes (Recrutamento Aumento da Taxa
reduzidos, intervalos e Frequência de
Ativação das de Produção de
longos e elevada
Unidades Força
velocidade de
contração Motoras)

Intensidades
submáximas, volumes Aumento da
Otimização da
e intervalos médios e Potência
Força-Velocidade
elevada velocidade de Muscular
contração

Intensidades mais
submáximas, ainda Aumento da
maior volume e Bioenergéticos Força de
intervalos ainda mais Resistência
curtos

Figura 11 - Estímulo de treino, principais mecanismos reguladores e respetivas adaptações em ações isométricas e
concêntricas (adaptado de Mil-Homens, Valamatos, & Tavares, 2015)

43
Estímulo Mecanismo Adaptação

Neural (Recrutamento e
Frequência de Ativação
Intensidades das Unidades Motoras Aumento da
máximas, reduzido Pré-ativação Capacidade de
volume e intervalos Regulação do Stifness produção de força
longos em CMAE
Reflexos medulares
Elasticidade

Figura 12 - Estímulo de treino, principais mecanismos reguladores e respetivas adaptações em ações de CMAE (adaptado
de Mil-Homens et al., 2015)

Força Máxima

Os métodos que visam o aumento da força máxima denominam-se por métodos


da força máxima, método das contrações sub-máximas ou métodos hipertróficos, tendo
como principal objetivo o aumento da massa muscular e, consequentemente, da força
máxima (Bompa & Carrera, 2005; Mil-Homens, Valamatos, & Tavares, 2015). Para tal
existem três mecanismos de natureza diversa que contribuem para o processo anabólico:
stress metabólico, tensão mecânica e dano muscular. O stress metabólico diz respeito a
uma acumulação intramuscular de metabolitos; a tensão mecânica – cargas sub-máximas
elevadas - compromete a integridade das fibras musculares e, por último, o dano muscular
é provocado por contrações excêntricas que se refletem na inflamação nas miofibrilhas
(Schoenfeld, citado por Mil-Homens et al., 2015).

No que toca à dinâmica da carga, segundo Bompa e Carrera (2005) e Mil-Homens


e colegas (2015) esta possui várias variáveis que podem ser manipuladas: intensidades
sub-máximas, podendo variar entre 65 e 85 % de 1RM; volume elevado, com repetições
a variar entre as 6 e 12 e realizadas a uma velocidade moderada; o número de séries poderá
ir até 5 com intervalos de repouso entre as mesmas reduzidos, entre 60 e 180 segundos;
frequência semanal de 2 a 3 sessões e um ciclo de treinos a durar de 10 a 12 semanas.

44
Força Rápida

Como referido anteriormente, a força rápida apresenta duas componentes, sendo


elas a TPF e a potência, pelo que apesar de existiram algumas aproximações
metodológicas, há a necessidade de manipular algumas variáveis com o intuito de se
desenvolver cada uma delas em específico. No entanto, têm algo em comum: a
mobilização da carga deve ser feita à máxima velocidade, ou pelo menos com essa
intenção (Bompa & Carrera, 2005; Mil-Homens et al., 2015).

Para o desenvolvimento da TPF são utilizados os denominados métodos da taxa


de produção de força, método das contrações máximas ou métodos de treino da força
explosiva. O principal objetivo deste género de treino é desenvolver um conjunto de
mecanismos neurais, nomeadamente o aumento do recrutamento e da frequência de
disparo das unidades motoras (Mil-Homens et al., 2015). Para promover estas adaptações
a intensidade da carga deverá variar entre os 90 e os 100% de 1RM, garantindo que são
recrutadas todas as unidades motoras. Com o objetivo da intensidade ser máxima, o
número de repetições é reduzido – entre 1 e 3 – sendo todas realizadas a uma velocidade
de contração explosiva, promovendo uma elevada frequência de descarga. O número de
séries não deve ultrapassar as 3 e a pausa entre elas deve ser completa, ou seja, por volta
de 5 minutos. O mesociclo deve durar de 6 a 8 semanas com 2 a 3 sessões semanais
(Bompa & Carrera, 2005; Mil-Homens et al., 2015).

O trabalho de potência procura otimizar a relação entre a força e a velocidade,


utilizando a curva da força-velocidade (figura 13) como forma de regular e condicionar o
treino desta vertente da força rápida. Esta curva demonstra a relação inversa entre estas
duas capacidades físicas: à medida que a velocidade aumenta a força produzida diminui
e vice-versa (Mil-Homens et al., 2015). Assim podemos distinguir três zonas: A) zona da
força máxima e TPF (Mil-Homens et al., 2015); B) zona da força rápida ou potência
(Silva, 1985) e C) zona da velocidade (Mil-Homens et al., 2015). Neste sentido, a variável
a manipular com o objetivo de que um atleta passe pelas diversas zonas é a intensidade
relativa a 1RM. De uma maneira geral, a intensidade da carga deve permanecer abaixo
de 60% de 1 RM e, para que a velocidade de contração seja máxima, a recuperação deve
ser completa e o volume reduzido (3 a 6 repetições e 3 a 5 séries). Relativamente à
frequência são aconselhadas 2 a 3 sessões semanais ao longo de 4 a 8 semanas (Mil-
Homens et al., 2015).

45
Força

Velocidade

Figura 13 - Relação entre força e velocidade (adaptado de Silva, 1985)

Força Reativa

No que toca ao desenvolvimento desta forma de manifestação de força há algumas


orientações metodológicas a seguir relativamente à manipulação das variáveis da carga.
Segundo Mil-Homens e colegas (2015) a intensidade deve ser sempre máxima pelo que
a manipulação de fatores como o contacto com o solo (i.e., a um ou dois pés), a velocidade
de deslocamento, a altura da queda e a massa corporal podem influenciar
significativamente esta, de acordo com o objetivo do treino e com as características do
atleta. Relativamente ao volume, a contabilização deste faz-se pelo número de contactos
com o solo por unidade de treino variando com o nível do praticante. Os intervalos de
repouso, para que a intensidade seja máxima, devem existir entre séries, entre exercícios
e até entre repetições, consoante a intensidade do exercício que está a ser executado. No
que se refere à frequência semanal recomenda-se a realização de duas sessões, com
intervalo entre elas de 72 horas.

Força Resistente

Os métodos que visam o aumento da força resistente são os chamados métodos da


força de resistência. Estes produzem adaptações como o aumento da rede capilar dos
músculos exercitados, da densidade mitocondrial, do conteúdo enzimático, das
concentrações intramuscular de mioglobina e de substratos energéticos. Com vista a
induzir estas adaptações são utilizados estímulos bioenergéticos, através de uma seleção

46
da intensidade da carga a variar entre os 20 e os 60% de 1RM. Devido ao facto de o
volume ter de ser relativamente elevado, são aconselhadas por volta de 30 repetições
realizadas de forma lenta, ao longo de 3 a 6 séries e com intervalos curtos de repouso
entre elas (30 a 60 segundos). Este método de treino deverá ser realizado 2 a 3 vezes por
semana ao longo de 4 semanas (Mil-Homens et al., 2015).

2.2.2.3.3. Periodização do Treino de Força

A periodização do TF pode ter duas abordagens: a periodização linear e a


periodização não-linear (Bompa & Buzzicheli, 2017; Bompa & Carrera 2005; Kraemer
& Fleck, 2007; Tavares & Mil-Homens, 2017)

Como referido já anteriormente, os modelos de periodização linear foram


concebidos e são atualmente mais utilizados em modalidades em modalidades cujo
número de momentos competitivos são reduzidos, havendo tempo para uma transição
gradual entre fases, com diminuição do volume e aumento da especificidade e da
intensidade, culminando num pico de forma (Bompa & Buzzicheli, 2017; Bompa &
Carrera 2005; Kraemer & Fleck, 2007; Tavares & Mil-Homens, 2017). Segundo Kraemer
e Fleck (2007) e Tavares e Mil-Homens (2017) o modelo clássico de periodização linear
da força é composto pela fase de hipertrofia, seguida de força máxima, potência e, por
fim, a fase de peaking, para o momento competitivo de maior relevância. Bompa e
Buzzicheli (2017) e Bompa e Carrera (2005), apesar de seguirem a mesma lógica,
definem 6 fases pelas quais se divide a periodização do treino da força: a fase de adaptação
anatómica, a fase de hipertrofia, a força máxima, a fase de conversão – composta pelo
desenvolvimento da potência, da agilidade e da força reativa -, a fase de competição e a
fase de transição.

Relativamente aos modelos de periodização não linear, estes fazem sentido serem
utilizados em modalidades cujos momentos competitivos são mais densos e prolongados.
A utilização de períodos alargados de tempo que visem apenas o desenvolvimento de uma
das formas de manifestação de força pode não ser a estratégia mais eficaz devido ao facto
de algumas delas não terem transferência para a modalidade em causa e, assim sendo, não
contribuírem para a melhoria do rendimento desportivo (Tavares & Mil-Homens, 2017).
Neste sentido, foi criado o modelo de periodização ondulatório e o modelo de

47
periodização flexível (Kraemer & Fleck, 2007; Tavares & Mil-Homens, 2017). Estes
permitem, mais do que desenvolver determinada forma de manifestação de força, mantê-
las estáveis e evitar quebras durante todo o período competitivo. De uma forma breve, o
modelo de periodização ondulatória caracteriza-se por uma flutuação, ao longo do
microciclo, do volume e da intensidade dos exercícios executados, refletindo-se na
exercitação de diferentes formas de manifestação da força. O modelo de periodização
flexível, tenta diariamente, antes do início da sessão de treino, avaliar o estado de
prontidão do atleta, utilizando para tal questionários e avaliações de força máxima ou
potência. Se o atleta apresentar resultados positivos, realiza a unidade de treino
caracterizada por uma maior intensidade e se, pelo contrário, apresentar resultados
insatisfatórios é direcionado para exercícios que solicitem uma componente mais neural
(Kraemer & Fleck, 2007; Tavares & Mil-Homens, 2017).

No que toca à periodização de modalidades coletivas, como é o caso do futebol,


Tavares e Mil-Homens (2017) recomendam a utilização de métodos mistos: uma
abordagem mais linear em momentos da época sem competições, como é o caso da pré-
época ou de outras paragens e, em período competitivo, utilizar-se uma periodização
ondulatória que permita manter os ganhos de força anteriores. Neste último, existe a
possibilidade – se um atleta necessitar de desenvolver determinada forma de manifestação
da força – que a variação ao longo de um microciclo não seja tão pronunciada,
aproximando-se sempre do estímulo necessário para induzir uma adaptação desejada.

2.2.2.3.4. Treinabilidade na Criança e no Jovem

Desde o seu nascimento até atingir a idade adulta, a criança e o jovem veem em si
as mais diversas alterações resultado do seu crescimento e maturação, que vão desde o
peso, à altura, à massa óssea, à massa gorda, à massa muscular, ao sistema nervoso e até
hormonal (Wilmore, Costill, & Kenney, 2008). Todas estas mudanças ocorrem em fases
e idades específicas do desenvolvimento do ser humano, os chamados “períodos
sensíveis”. Período sensível diz respeito a um período de desenvolvimento da criança
durante a qual está mais sensível a aprendizagens de determinadas competências e
habilidades motoras, sendo que estes decorrem ao longo da infância e da adolescência
fruto das características associadas a cada idade (Viru et al., 1999). A infância
compreende o tempo entre o primeiro aniversário e o início da adolescência e encontra-

48
se dividida em idade pré-escolar e idade escolar. Por sua vez, a adolescência é comum ser
enquadrada entre o início da puberdade (aparecimento das características sexuais
secundárias) e o final da mesma (Wilmore et al., 2008). Segundo o mesmo autor é durante
esta última que se verificam as maiores alterações, nomeadamente um aumento
exponencial da altura, da massa muscular e do peso, sendo a altura a primeira destas
variáveis a aumentar consideravelmente, seguida do peso e massa muscular. O aumento
exponencial destas características antropométricas deve-se ao início do pico de
velocidade em altura (Peak Height Velocity – PHV), um marco notório no
desenvolvimento do jovem e com repercussões a nível do treino (Balyi & Hamilton, 2004;
Lloyd & Oliver, 2012). De acordo com estes autores, o PHV é fundamental na
determinação da idade biológica, permitindo portanto, prescrever treino, adequadamente
e individualmente. Por ser um momento de referência no que toca à treinabilidade dos
sistemas energéticos e do sistema nervoso central e, tendo em conta a diferença de cerca
de 2 anos que vão desde o início do PHV na mulher e no homem, é a partir desta idade
que o treino necessita de ser diferenciado entre géneros (Balyi & Hamilton, 2004).

Os incrementos de massa muscular e de força, em crianças e jovens, podem


ocorrer através do desenvolvimento neural, hormonal e muscular verificado nestas idades
ou devido ao TF (Behm, Faigenbaum, Falk, & Klentrou, 2008; Faigenbaum et al.,2009;
Fleck & Kraemer, 2017). O TF é um método de treino que utiliza uma larga variedade de
cargas e de materiais, como são o caso dos pesos livres, das máquinas de musculação, das
bolas medicinais, do próprio peso do corpo, entre outras, e tem como objetivo o aumento
da capacidade de produzir força (Behm et al., 2008; Faigenbaum et al., 2009; Pinto &
Ughini, 2017).

Antes da puberdade, devido aos baixos valores de testoesterona circulantes, torna-


se quase impossível obter grandes aumentos de força e de massa muscular (Behm et al.,
2008; Faigenbaum et al., 2009; Pinto & Ughini, 2017). Verifica-se então que os ganhos
de força induzidos pelo TF são resultantes de adaptações maioritariamente neurais,
nomeadamente através da melhoria da coordenação inter e intramuscular (Faigenbaum et
al., 2009; Fleck & Kraemer, 2017; Pinto & Ughini, 2017).

Durante e após o período pubertário observa-se um aumento significativo da


produção e circulação sanguínea de hormonas anabólicas, principalmente da
testoesterona (Faigenbaum et al., 2009; Pinto & Ughini, 2017; Wilmore et al., 2008). Este
aumento de hormonas anabólicas, juntamente com o TF, irá levar a um aumento da síntese
49
de proteínas contráteis, com consequente incremento de miofibrilas no interior da fibra,
potenciando, por sua vez, a capacidade contrátil do músculo, ou seja, a capacidade de
produzir força (Correia et al., 2015a).

Nestas idades também o sistema nervoso se encontra em desenvolvimento,


nomeadamente as fibras nervosas (Wilmore et al., 2008). As fibras nervosas são rodeadas
por bainhas de mielina que garantem a elevada propagação do impulso nervoso (Moreira,
2013). Segundo Wilmore e colegas (2008), para que a condução do estímulo seja o mais
rápido e eficaz possível, com o objetivo de se alcançarem elevados níveis de força,
potência e skills motores, o sistema nervoso já deverá ter atingido a denominada
“maturidade neural” e, consequentemente, uma adequada mielinização das fibras do
córtex cerebral. Esta mielinização ocorre rapidamente durante a infância e prolonga-se ao
longo da puberdade, com o TF a contribuir de forma decisiva para este fenómeno.

Em suma, ao contrário do que era pensado anteriormente, o TF é aconselhado para


crianças e jovens (Pinto & Ughini, 2017; Wilmore et al., 2008; Faigenbaum et al., 2009).

2.2.2.4. Treino Sensoriomotor

De acordo com Fernandes e Correia (2015) o treino sensoriomotor (TSM),


também conhecido como treino de equilíbrio, treino propriocetivo ou treino
neuromuscular, caracteriza-se pelo uso da instabilidade como estímulo de treino, com
vista a desenvolver a capacidade de equilíbrio e de controlo postural na posição vertical.
Essa capacidade decorre do controlo do binómio mobilidade/estabilidade posto em risco
em situações inesperadas, forçando o sistema neuromuscular a reagir rapidamente através
da utilização de fontes múltiplas de informação sensorial. Exemplos destas fontes são os
ligamentos, a cápsula articular, os recetores propriocetivos (i.e., fusos neuromusculares e
órgãos tendinosos de golgi), recetores cutâneos, visuais e vestibulares. Neste sentido, o
TSM procura, através da utilização de instabilidade e da manipulação da informação a
que o sistema nervoso central tem acesso, promover melhorias nas respostas reflexas
envolvidas no controlo postural perante situações inesperadas e que comprometem a
integridade de estruturas como músculos, tendões, ligamentos ou o corpo como um todo.
Este tipo de treino é vulgarmente utilizado na recuperação e prevenção de lesões – na

50
articulação tibiotársica e do joelho -, na prevenção de quedas de idosos e na melhoria da
performance motora e desportiva.

No início do TSM verifica-se um grande controlo voluntário do movimento, com


predomínio das áreas corticais e que resulta numa grande concentração por parte dos
sujeitos durante a realização de algumas tarefas. Posteriormente, verificam-se adaptações
neurais, nomeadamente a transferência do controlo do movimento para áreas subcorticais,
mais propriamente o cerebelo, refletindo-se numa automatização dos processos de
controlo postural que, consequentemente, permitem ajustamentos mais rápidos de stifness
articular (Fernandes & Correia, 2015; Taube, Gruber, & Gollhofer, 2008). Gollhofer
(2003) acrescenta ainda que o TSM, à semelhança do treino de força rápida, melhora a
capacidade de desenvolver força nos primeiros 100 milissegundos após o início da
ativação muscular.

Relativamente à prescrição dos exercícios de treino, é importante considerar


algumas variáveis, tais como o tipo de apoio (i.e., bipedal/unipedal), o tipo de superfície
(e.g., estável/instável, rijo/macio, relevo/sem relevo) e os canais sensoriais envolvidos
(e.g., olhos abertos/olhos fechados) (Fernandes & Correia, 2015). No que toca à
progressão do treino, Page (2006) define quatro fases: estática, dinâmica, funcional e
dinâmica funcional. A fase estática tem o objetivo fundamental de fazer desenvolver a
ação estabilizadora da relação bacia-coluna-lombar através de padrões de ativação
adequados. Após consolidada a fase estática, pode-se iniciar a fase dinâmica, utilizando
diferentes materiais (e.g., mini-trampolim, bosu, tapete instável) e promovendo exercícios
nos quais se realizem movimentos com as extremidades do corpo. A fase funcional, que
deve ser integrada quando os executantes demonstrarem bom domínio da zona pélvica, é
composta por exercícios que solicitem padrões básicos de movimento mas em superfícies
cada vez mais instáveis. Na última fase – dinâmica funcional -, dedicada a sujeitos mais
avançados ou a atletas, devem incidir sobre padrões motores específicos da modalidade
em causa.

51
3. Área 1 - Organização e Gestão do Processo de Treino e Competição

O presente capítulo pretende servir como demonstração daquilo que foram as


minhas tarefas ao longo deste processo de estágio. O mesmo inicia com uma abordagem
ao que era o modelo de jogo da equipa de sub-19 do Cova da Piedade SAD, descreve o
microciclo padrão em período competitivo e as suas características, aborda a área da
observação e análise e de jogo, explicita como era monitorizada a carga de treino dos
atletas e termina com o TF e o TSM. Em todos estes subcapítulos encontram-se descritos
quais os procedimentos realizados e os objetivos de cada uma das tarefas, sendo as
mesmas acompanhadas de alguns exemplos.

3.1. Modelo de Jogo

A equipa de sub-19 do Cova da Piedade apresentava-se preferencialmente no


sistema tático 1-4-3-3 com duas variantes: com um médio defensivo e dois ofensivos
(figura 14), ou com dois médios defensivos e somente um ofensivo (figura 15). O sistema
tático selecionado podia variar entre jogos, em função daquilo que era o adversário e das
suas características, daquilo que pretendíamos para a nossa equipa em cada um dos jogos
e, dentro do mesmo jogo, das circunstâncias enfrentadas.

Para além do sistema tático, que no fundo é um mapa de referência que nos mostra
a disposição dos jogadores em campo, os comportamentos da equipa eram orientados
segundo alguns princípios em que se baseava o nosso modelo de jogo. Este foi definido
e adotado face às circunstâncias encontradas: clube e condições oferecidas, características
dos jogadores que compunham o plantel, contexto competitivo em nos encontrávamos
inseridos e da conceção de jogo por parte da equipa técnica. Ofensivamente pretendíamos
processos simples e seguros, com chegada rápida a zonas de finalização através da
utilização dos corredores laterais. Defensivamente procurávamos sobretudo que o
adversário não tivesse condições para pensar o jogo, refletindo-se numa reação rápida à
perda da bola bem como numa pressão a todo o campo.

52
Figura 14 - Sistema tático principal

Figura 15 - Sistema tático alternativo

Organização Ofensiva
1º – Construção do processo ofensivo: no início do processo ofensivo era sempre dada
prioridade a uma construção com bola através da circulação da mesma pela linha
defensiva, com vista a que os jogadores que se encontram à sua frente criem espaços no
bloco adversário. Os defesas centrais (DC) bem abertos, com a ajuda do médio defensivo
(MD) procuravam sair a jogar desde trás, avançando no terreno e aproximando-se do
bloco defensivo adversário. Ultrapassado o primeiro 1/3 do campo, o objetivo era claro:
chegar com bola aos corredores laterais. Assim que um defesa lateral (DL) tivesse a bola

53
efetuavam-se permutas de posição entre o extremo (EX) e o médio interior (MI) do
respetivo corredor.

2º - Criação de situações de finalização: utilização preferencial dos corredores laterais


para criar situações de perigo, pelo que a procura consecutiva dos mesmos é um princípio
orientador e consequente padrão de jogo revelado pela nossa equipa. Neste sentido,
chegando a bola um corredor, eram procuradas situações de superioridade numérica,
podendo ser aproveitadas através de um método mais direto ou de um mais apoiado, mas
sempre com a envolvência do DL, EX e MI do mesmo lado. De forma mais direta,
chegando a bola a um DL, o EX vinha receber realizando um movimento de apoio e
arrastando consigo o jogador adversário, criando espaço no corredor para que o MI, em
movimento de rotura, se coloque numa situação favorável de assistir um colega (1). De
uma forma mais apoiada, verifica-se o apoio interior do EX, um avanço em profundidade
do DL e um MI para criar superioridade numérica (2). Caso esse corredor não
apresentasse condições favoráveis para o atacar, eram utilizados jogadores que se
encontrassem de frente para o jogo, como o MD ou os DC para, rapidamente, colocar a
bola no outro corredor, tentando criar situações de 2x1 (3).

3º - Finalização: em situações de finalização pretendíamos uma ocupação racional da


área, pelo que o PL atacava o primeiro poste, o EX e o MI do lado contrário da bola o
segundo e a marca de penalti, respetivamente.

Transição Defensiva

Pressão imediata do(s) jogador(es) que se encontra(m) mais perto da bola sob o
portador da mesma. Os restantes aproximam e eliminam possibilidade de passe atrás desta
primeira linha de pressão. O objetivo era que o adversário não aproveitasse uma eventual
desorganização verificada na nossa equipa e não tivesse condições para tirar partido do
espaço nas nossas costas.

Organização Defensiva

1ª - Equilíbrio defensivo: a equipa procurava sempre descair para o lado em que se


encontra-se a bola, antecipando a sua perda e tentado recuperá-la o mais rapidamente

54
possível. O MD era o responsável máximo por assegurar equilíbrios em todas as partes
do campo, aproximando-se de um corredor caso a bola lá estivesse ou à entrada da área
se fosse aí que a mesma se encontrava. O DL do lado oposto ao corredor em que se
encontrava a bola fechava por dentro, fazendo uma linha de três juntamente com os dois
DC. Em situação de cruzamento procurava-se que ficasse um jogador numa primeira
cobertura, que em princípio seria o MI.

2ª - Recuperação defensiva: pressão constante ao portador da bola pelo jogador mais


perto, procurando atrasar o ataque adversário e permitindo reposicionarmo-nos num
bloco coeso e compacto.

3º - Defesa propriamente dita: procurávamos, sempre que possível, realizar uma pressão
alta, condicionando o adversário desde trás para que o mesmo não pudesse iniciar o
processo ofensivo de forma confortável e controlada, ou pelo menos não nas melhores
condições. Frequentemente traduzia-se num jogo direto por parte do adversário ou em
perdas de bola perto da sua baliza. Nos casos em que este tipo de estratégia não estava a
resultar ou simplesmente não o pretendíamos fazer, baixávamos ligeiramente o bloco e
direcionávamos o adversário para os corredores laterais para posteriormente pressionar e
obrigar a errar. Já na nossa área, em reação a situações de cruzamento, formávamos um
triângulo, com o DC do lado da bola a fechar o primeiro poste – em cima da pequena área
e perpendicular com o mesmo -, com o outro DC na marca de penalti e com o DL do lado
oposto a fechar o segundo poste - em cima da pequena área e perpendicular com este.

Transição Ofensiva

Nos instantes após recuperar a posse de bola a equipa tinha como objetivo retirar
a bola, em boas condições, dessa zona repleta de jogadores e em que o espaço para jogar
e pensar era pouco. Neste sentido procurava-se imediatamente o extremo do lado oposto
que daria largura total, colocando a bola nele com o intuito de desequilibrar a equipa
adversária e acelerar em direção à baliza contrária.

55
3.2. Microciclo Padrão

Como representado na figura 16, o microciclo tipo da equipa de sub-19 relativo


ao período competitivo era composto por quatro treinos semanais, três treino
complementares - sendo dois deles dedicados ao desenvolvimento da qualidade física
força e outro à prevenção de lesões - e dois dias de folga, encontrando-se um deles
imediatamente após o jogo e outro a meio da semana (4ª feira). A escolha dos dias de
folga e a consequente distribuição dos treinos pelos seguintes dias da semana teve
algumas variações ao longo da época devido a fatores como o calendário competitivo –
jogos ao domingo ou viagens de avião -, interrupções escolares ou disponibilidade de
campo inteiro para treinar.

Os objetivos e conteúdos técnico-táticos a abordar ao longo de cada microciclo e


de cada unidade de treino eram definidos na reunião da equipa técnica no início da
semana. Estes tinham sempre por base o modelo de jogo preconizado e o seu
desenvolvimento, as conclusões retiradas do jogo anterior, as características do adversário
seguinte e a estratégia a utilizar.

De uma forma geral, as unidades de treino semanais tinham as seguintes


características: segunda-feira (+2) eram utilizados exercícios em regime
predominantemente de força, com elevados níveis de tensão muscular, elevado número
de contrações excêntricas, de mudanças de direção, travagens, entre outros, utilizando
para tal jogos reduzidos com estruturas a variar do 1vs1 ao 4vs4, com duração curta e que
permitiam trabalhar individualmente ou setorialmente; terça-feira (-4) e quinta-feira (-2),
apesar de ambos visarem um trabalho predominantemente de resistência – espaços e
durações mais alargadas, tempos de pausa curtos, distâncias longas e a altas velocidades,
relações numéricas do 5vs5 ao 11vs11, desenvolvendo a interação entre setores –,
diferenciavam-se pelos conteúdos de cariz mais tático-estratégico, sendo que terça-feira
optávamos pelo desenvolvimento do nosso processo ofensivo e quinta-feira pelo processo
defensivo, naturalmente menos denso e de menor complexidade; por último, na sexta-
feira (-1) realizávamos exercícios predominantemente em regime de velocidade, alguma
finalização e esquemas táticos, com tempos de trabalho muito curtos, altas intensidades e
níveis de complexidade reduzidos.

56
Microciclo Semanal - Sub-19

Domingo 2ª Feira 3ª Feira 4ª Feira 5ª Feira 6ª Feira Sábado

(+1) (+2) (-4) (-3) (-2) (-1)


Treino de
Treino de Força Treino de Força Prevenção de
(15h-15h45) (15h-15h45) Lesões
(15h-15h45)

Treino de
Treino de Força Treino de Força Prevenção de
(15h45-16h30) (15h45-16h30) Lesões
(15h45-16h30) Jogo
Folga Folga

Treino de Campo Treino de Campo Treino de Campo


Treino de Campo
(17h30-19h) (17h30-19h) (17h30-19h)
(17h30-19h)
Regime: Regime: Regime:
Regime: Força
Resistência Resistência Velocidade

Figura 16 -Microciclo padrão em período competitivo

3.3. Observação e Análise de Jogo

Na equipa de sub-19 do Cova da Piedade SAD, o processo de observação e análise


não tinha apenas um responsável, sendo que toda a equipa técnica, quando necessário,
trabalhava em conjunto. Esta atividade recaía, semanalmente, sobre o futuro adversário,
ficando unicamente à responsabilidade dos treinadores adjuntos. Por outro lado, quando
a análise se centrava na nossa equipa todos os elementos da equipa técnica tinham um
papel ativo na mesma.

No início de cada microciclo, antes da elaboração do mesmo, era feita uma análise
ao adversário que iriamos defrontar. Esta análise era realizada por mim e pelo outro
treinador adjunto, pelo que eu estava responsável pela análise das duas fases e dos dois
momentos do jogo (i.e., organização ofensiva, organização defensiva e transições) e o
treinador Ricardo Freitas responsável pela análise dos esquemas táticos e respetiva
operacionalização dos mesmos no processo de treino. Inicialmente, devido ao número
reduzido de jogos que tínhamos disponíveis de cada adversário, era analisado o jogo mais
recente a que tínhamos acesso. Com o decorrer da época desportiva e com o aumento do

57
número de jogos disponíveis, selecionávamos, como alvo de análise, jogos não realizados
há muito tempo e em condições semelhantes àquelas que iriamos defrontar (e.g.,
casa/fora, adversário superior/inferior e características coletivas do mesmo).

A análise por mim realizada, e que tinha como foco o processo ofensivo e
defensivo assim como as transições ataque-defesa e defesa-ataque, era composta por 4
passos: i) ver o jogo na sua totalidade; ii) anotar o tempo exato de todos os lances
representativos de cada etapa de cada fase, bem como de cada momento de jogo; iii) rever
todos os lances anotados e agrupá-los por comportamentos padrão, relativos a cada etapa
de cada fase e a cada momento de jogo; por último, selecionar os vídeos (três no máximo)
mais representativos de cada comportamento analisado. Utilizando os vídeos
selecionados era realizada por mim, na reunião semanal da equipa técnica, uma
apresentação informal sobre o adversário, com os seus comportamentos padrão,
características coletivas e individuais, bem como os seus pontos fortes e pontos fracos.
Com esta informação eram selecionados e definidos conteúdos e estratégias a treinar ao
longo do microciclo. Era ainda elaborada pelo outro treinador adjunto uma apresentação
powerpoint e realizada uma apresentação formal ao plantel, no segundo treino da semana
(o primeiro com uma nuance tático-estratégica), liderada pelo treinador principal.

Relativamente à análise da própria equipa, esta era apenas realizada nos momentos
de paragem competitiva, visto ser nessas alturas que possuíamos mais tempo para a
respetiva análise, apresentação e discussão com os atletas. Aqui eram analisados os jogos
realizados mais recentemente com o objetivo de analisar e melhorar a congruência entre
o processo de treino e o processo de competição, ou seja, de verificar se o modelo de jogo
estava a ser adquirido e praticado por parte da equipa. Além de espetos coletivos também
eram naturalmente alvo de observação ações técnico-táticas individuais. Posteriormente
era elaborada uma apresentação powerpoint para os jogadores, a qual era composta por
vídeos de ações nas quais os mesmos não tinham realizado o pretendido pela equipa
técnica e, em contraste, um vídeo da mesma situação mas mais perto do idealizado.

3.4. Monitorização da Carga

Ao longo de toda a época desportiva foi monitorizada a carga a que os atletas eram
sujeitos em cada sessão de treino, utilizando para tal o método da PSE-sessão. No final
de cada treino era enviado por whatsapp um questionário, com a escala de Borg

58
modificada, a que cada um individualmente deveria responder no tempo limite de 2h.
Após obter a resposta de todos, os valores eram colocados numa tabela em excel e,
posteriormente convertidos em gráficos para uma análise mais facilitada.

Esta monitorização tinha (ou poderia ter) vários objetivos, alguns a nível coletivo
e outros em termos individuais. Em termos coletivos é de destacar a relevância desta
tarefa no que toca ao controlo da intensidade ao longo do microciclo, garantindo que o
maior estímulo ocorria longe de competição e, gradualmente, ia diminuindo à medida que
nos aproximávamos desta (figura 17), permitindo um ajuste, caso necessário, da(s)
sessão(ões) de treino seguinte. Permitia ainda concluir sobre o impacto que a mesma
unidade de treino tinha sobre os jogadores de diferentes posições em campo (figura 18).
Dentro da mesma posição, era ainda possível perceber a relação existente entre os
jogadores (figura 19). Por fim, em termos individuais, no que toca à gestão da carga, este
método deu-nos a perceber se havia atletas com valores muito díspares comparativamente
aos restantes jogadores, seja os da mesma posição ou todos os outros. Para tal foi definido
um limite de duas unidades (do valor da escala atribuído) em relação à média geral, pelo
que estaria sob observação atenta um atleta que apresentasse essa diferença ao longo de
várias unidades de treino ou microciclos, com o intuito de perceber se se poderia tratar de
uma situação de sobretreino ou, pelo contrário, de um estímulo deficitário.

As tabelas 17, 18 e 19, representam um exemplo dos dados obtidos relativos ao


microciclo nº20, inserido no período competitivo. Na tabela 17 é possível verificar que,
em termos coletivos, o impacto de cada sessão de treino vai sendo menor ao longo de
todo o microciclo, com o valor mais baixo a ser atingido no dia anterior à competição, tal
como planeado. Contudo, deve-se ter em consideração que a diferença entre o penúltimo
e o último possa não ser a ideal, devendo futuramente estar-se atento a este facto. A tabela
18 pretende demonstrar a diferença, por posições, da PSE-sessão, sendo possível verificar
que o stress causado foi, no início da semana, maioritariamente superior nos defesas
centrais. Na última sessão de treino foram os extremos que apresentaram valores
superiores – mesmo em relação aos obtidos por si na unidade de treino anterior –, sendo
algo que a equipa técnica deveria ter em consideração na conceção futura de exercícios
para este dia. Por último, na tabela 19, que permite perceber, em termos individuais, como
foi percecionada a intensidade das unidades de treino pelos jogadores que atuam no meio-
campo, observa-se que para o jogador com a cor azul-bebé foi o último treino da semana

59
o mais exigente. Pelo contrário, o jogador que representa a barra a vermelho esteve
sempre entre os atletas da sua posição que apresentou valores superiores.

400 376

350

300 277

250

200
162 154,8
150

100

50

0
19 (2ª) 20 (3ª) 22 (5ª) 23 (6º)

Figura 17 - Média geral da PSE-sessão ao longo de um microciclo

600

500

400

300

200

100

0
19 (2ª) 20 (3ª) 22 (5ª) 23 (6º)

Laterais Centrais Médios Extremos Avançados

Figura 18 - PSE-sessão, por posição, dentro da mesma sessão de treino

60
600

500

400

300

200

100

0
19 (2ª) 20 (3ª) 22 (5ª) 23 (6º)

Francisco Varela João Vivas António Legatheaux André Pires Rafael Basílio Jorge Lino

Figura 19 - PSE-sessão dentro da mesma posição

3.5. Treino Complementar


Desde o início da época desportiva que a equipa de sub-19 realizou treinos
complementares no ginásio, nomeadamente treinos de força e treinos de prevenção de
lesão. Durante o seu microciclo tipo, estes treinos decorriam antes do treino técnico-
tático. Geralmente, o treino de segunda-feira era direcionado para os membros superiores
(devido à possível fadiga do jogo anterior), terça-feira eram focados os membros
inferiores e quinta-feira realizava-se a sessão de prevenção de lesão.

3.5.1. Treino de Força

No anexo I, é possível visualizar o plano anual de treino complementar em ginásio,


mais especificamente a forma como o mesmo foi periodizado por mim desde a minha
chegada à equipa, ou seja, desde o meio do mês de agosto.

No que toca ao modelo de periodização utilizado ao longo da época este não foi
sempre o mesmo. Na primeira fase da competição – até fevereiro -, por não ser uma fase
decisiva para os objetivos da equipa, foi utilizada uma periodização linear, com o objetivo
de colmatar as maiores limitações dos atletas, nomeadamente a falta de familiarização

61
com o TF, que se refletia no baixo nível de execução técnica dos exercícios assim como
nos baixos níveis de força apresentados.

Os atletas foram sujeitos inicialmente a um período de adaptação no qual os


objetivos eram fundamentalmente a familiarização com o treino de força, a correta
execução técnica dos exercícios e, posteriormente, as adaptações fisiológicas decorrentes
do mesmo. Assim, eram utilizadas cargas baixas (inferiores a 60% de 1RM), um número
de repetições a rondar as 15, realizadas a uma velocidade moderada e duas séries de cada
exercício. Os exercícios selecionados procuravam solicitar todos os grupos musculares
preparando-os para as próximas fases de treino. Os três meses seguintes (de meio de
setembro a meio de dezembro) foram dedicados ao aumento da força máxima através da
utilização de métodos hipertróficos. Neste sentido, e tendo em conta que cada mesociclo
durava cerca de 4 semanas, estes blocos de hipertrofia (I, II e III) foram tendo uma
progressão linear: diminuição do volume – 12, 10 e 8 repetições, respetivamente -,
aumento da intensidade – 70 a 75%, 75 a 80% e 80 a 85 % de 1 RM – e,
consequentemente, aumento do tempo de recuperação entre séries (60 a 120 segundos).
Após este período dedicado a aumentos morfológicos e aumentos de força, foi realizado
um período de transição com o intuito de familiarizar os atletas com dinâmicas de carga
ligeiramente diferentes àquelas a que estavam habituados, tendo sido introduzido um
trabalho de desenvolvimento da taxa de produção de força. Este período é caracterizado
por um grande desenvolvimento neural com repercussões na ativação neural e capacidade
de mobilizar toda a massa muscular ganha anteriormente. Assim tinha como
características principais a utilização de cargas de elevado percentual de 1 RM – 85 a
95% -, poucas repetições mas realizadas com a intenção de obter a máxima velocidade de
execução em cada uma delas e uma duração da pausa entre séries que permitisse a
recuperação total – 3 a 5 minutos -. A última fase da periodização linear diz respeito ao
desenvolvimento da potência muscular. Aqui eram utilizadas cargas abaixo de 60% de
1RM, repetições entre as 3 e as 6, realizadas a uma velocidade explosiva e um tempo de
recuperação entre séries de 2 a 3 minutos.

A partir do final da primeira fase da competição foi introduzida uma periodização


ondulatória, na qual eram estimuladas semanalmente as várias formas de manifestação de
força, com o intuito de manter os ganhos de força anteriores e procurar alguma
transferência entre o trabalho realizado em ginásio e o que era desenvolvido no campo.
Foi também neste período que o treino da força reativa foi introduzido.

62
3.5.1.1. Avaliações

As avaliações realizadas ao longo da época desportiva têm um peso relevante no


processo de treino e de monitorização da evolução dos atletas. Relativamente ao processo
de treino, a avaliação da força máxima, permite definir com uma maior exatidão o valor
de carga a utilizar em cada uma das fases do TF para cada atleta individualmente. No que
toca ao processo de monitorização, esta avaliação específica permite verificar e comparar,
em diferentes momentos da época, o estado de treino dos atletas e, mais concretamente,
avaliar o processo evolutivo dos mesmos.

Foram dois os momentos de avaliação dos atletas: no período preparatório (anexo


II) e no período competitivo durante a pausa entre as duas fases do campeonato (anexo
III). Na primeira, foram avaliados todos os jogadores que faziam parte do plantel com o
intuito, primeiramente, de perceber qual a sua familiarização com o TF e, em segundo
plano, de fazer a recolha dos valores de força máxima propriamente ditos. A segunda
avaliação, realizada na transição da primeira para a segunda fase da competição,
pretendeu avaliar a evolução dos atletas ao longo de uma fase de periodização linear com
objetivo específico de aumento da força máxima. Esta não foi realizada a todos os atletas,
porque nem todos tinham disponibilidade para frequentar o ginásio regularmente e assim
serem alvo do processo de TF.

Os exercícios avaliados foram o supino e o agachamento e o teste utilizado foi o


de predição de 1RM (Beachle & Groves, 1992) de acordo com os seguintes
procedimentos: i) realização de um aquecimento global (i.e., corrida ou bicicleta), um
aquecimento articular mais específico das estruturas que vão ser utilizadas e, por último,
a realização de algumas repetições – com pouca carga – dos exercícios que seriam
posteriormente alvo de avaliação; ii) selecionar uma carga que o atleta consiga mobilizar
de 1 a 10 vezes, sabendo que quanto menor for o número de repetições mais rigoroso é o
teste; iii) usar a tabela para obter o coeficiente respetivo ao número de repetições
realizadas e multiplicá-lo pela carga mobilizada.

Nas tabelas 6 e 7 encontram-se os resultados das avaliações do primeiro e segundo


momento dos exercícios de agachamento e de supino. Estes atletas foram os que se
encontravam no plantel durante estas duas avaliações e que foram presença assídua no
trabalho complementar de TF e que, portanto, foram alvo de um processo periodizado.

63
Assim, é possível observar que em todos os atletas presentes nas tabelas, se verificaram
aumentos na força máxima em ambos os exercícios. Um dos fatores que pode ter
influenciado positivamente os resultados é o facto de os mesmos não terem um historial
de TF realizado de forma mais sistemática e organizada. Neste sentido, a familiarização
com este tipo de treino, no geral, e com as melhorias verificadas em termos de execução
técnica dos exercícios, em particular, pode ter contribuído bastante para os ganhos
verificados. Pelo contrário, os dois atletas que em ambos os exercícios apresentaram
menores ganhos em comparação com os colegas foram os que apresentaram valores
bastante superiores aos mesmos no primeiro momento de avaliação, refletindo alguma da
sua experiência no TF.

Tabela 5 - Valores de 1RM predito no exercício de agachamento

1 RM predito (kg)
Nome Posição
1º momento 2º momento %
Filipe Neves GR 76,2 110 44,4
Lisandro Tipote DL 108 139,7 29,4
Tiago Oliveira DC 90,4 120 32,8
Shi Yu MC 77 117,7 51,9
Rafael Basílio MC 81,2 149,6 84,2
Vitor Wang EXT 76,2 113 48,2
Manuel Grade EXT 74,9 124,3 66
Gonçalo Santos PL 85,6 132 54,2

Tabela 6 - Valores de 1RM predito no exercício de supino

Nome Posição 1 RM predito (kg)


1º momento 2º momento %
Filipe Neves GR 48 74,9 56
Lisandro Tipote DL 88,9 104,4 17,4
Tiago Oliveira DC 76,2 90,4 18,6
Shi Yu MC 53,5 79,1 47,9
Rafael Basílio MC 61,5 88 43,1
Vitor Wang EXT 48 81,2 69,2
Manuel Grade EXT 50,8 79,1 55,7
Gonçalo Santos PL 60 96,3 60,5

64
3.5.2. Treino de Prevenção de Lesões

Os treinos de prevenção de lesão, realizados à quinta-feira (-2), visavam


desenvolver diversas estruturas que não fossem alvo de um trabalho específico ao longo
da preparação da equipa, quer através de um trabalho de mobilidade, tarefas de carácter
sensoriomotor ou um vulgar reforço muscular. Como exemplos dessas estruturas temos
as articulações, grupos musculares como o core, ou qualquer outro que fosse fundamental
na estabilidade bacia-coluna-lombar. A prescrição destes exercícios era maioritariamente
feita de forma grupal, embora nalguns casos pudesse ser individualizada através de uma
avaliação realizada pelo fisioterapeuta da equipa, por alguma queixa de um atleta ou por
um padrão motor incorreto detetado por mim na realização de treino de força.

Na figura 20 é possível observar um exemplo de uma sessão de treino de


prevenção de lesões referente às primeiras semanas de trabalho da equipa aquando da
minha chegada. A sessão de treino, sem incluir a parte inicial dedicada a exercícios de
mobilidade/flexibilidade, conta com 5 exercícios, sendo que 4 deles são realizados
isometricamente com o intuito de desenvolver a capacidade de estabilização dos
segmentos corporais, assim como a musculatura mais profunda do core. Após aplicar
cada um destes exercícios propriocetivos, havia casos em que alguns atletas
demonstravam grande facilidade na realização dos mesmos, pelo que era meu dever torna-
los mais desafiantes. É o caso do exercício número 1, que através da manipulação dos
canais sensoriais envolvidos, era possível progredir para a realização da tarefa de olhos
fechados e, posteriormente, se necessário, de olhos fechados e com a perturbação de um
colega que procura desequilibrar o atleta através de pequenos toques. No exercício
número 2, ainda na fase estática, pode-se tornar a tarefa mais desafiadora com
desequilíbrios provocados por terceiros ou através da realização de agachamentos de
forma dinâmica.

65
Prevenção de lesões

Escalão: Juniores (sub-19) Data: 20/9/2018


Local: Ginásio (Estádio) Duração: 45 min
Microciclo: 10 Unidade de Treino: 5

Parte introdutória

Número Exercício Séries Reps Tempo Pausa

1 Mobilidade/flexibilidade 5'

Parte fundamental

Número Exercício Séries Reps Tempo Pausa

1 Apoio unipodal (almofada) 3 20´´+20´´ 40´´

2 Agachamento isométrio (BOSU) 3 30´´ 45´´

3 Prancha frontal e lateral 3 15´´+15´´+15´´ 45´´

4 Ponte de glutéos 3 30´´ 45''

5 Pallof press 3 15´´+15´´ 45´´

Figura 20 - Exemplo de uma sessão de treino de prevenção de lesões

66
4. Área 2 - Projeto de Inovação

4.1. Introdução

Apesar de se saber que as solicitações impostas aos jogadores variam consoante


vários fatores, dos quais fazem parte o nível dos mesmos, o estilo de jogo de uma equipa,
a formação adotada, as posições em campo e o facto de o jogo se encontrar na 1ª ou na 2ª
parte (Bangsbo, 2014), o futebol tem visto aumentar a sua exigência física.

Hoje é solicitado aos jogadores uma elevada quantidade de ações de alta


intensidade, como sprints, mudanças de direção, saltos, remates, acelerações e travagens
(Bangsbo, Mohr, & Krustrup, 2006; Bangsbo, Mohr, Poulsen, Perez-Gomez, & Krustrup,
2006; Bloomfield, Polman, & O’Donoghue, 2007; Bangsbo & Mohr, 2005; Mohr,
Krustrup, & Bangsbo, 2003). A distância média percorrida por cada atleta em cada jogo
pode variar entre 8 e 13 km (Bangsbo et al., 2006); o número de mudanças de direção
pode chegar a 700 por jogo (Bloomfield et al., 2007); o número de ações de alta
intensidade variam de 150 a 250 ações (Bangsbo & Mohr, 2005; Mohr et al., 2003); foram
encontrados números de desarmes por jogo de 3 a 27 e de 1 a 36 saltos (Mohr et al., 2003);
por fim, num estudo de Bangsbo e Mohr (2005) houve jogadores que realizaram até 36
sprints por jogo, com uma velocidade média de 23 km/h e uma velocidade máxima de 32
km/h. Neste sentido, é de esperar que durante um jogo de futebol, os valores de lactato
sanguíneo possam variar de 2 a 10 mmol, havendo atletas com concentrações acima de
12 mmol (Krustrup et al., 2006). Estes valores não representam apenas um único
momento de grande intensidade no jogo mas sim uma resposta acumulativa a ações
repetidas de elevada intensidade (Bangsbo, 2014).

Como é possível verificar, o número de ações de alta intensidade presentes num


jogo é bastante elevada, estando estas dependentes, em grande parte, da força máxima
bem como da capacidade e da potência anaeróbia do sistema neuromuscular (Bangsbo et
al., 2006; Cometti, Maffiuletti, Pousson, Chatard, & Maffuli, 2001), resultando numa
utilização e depleção das fontes de fosfocreatina e de glicogénio muscular durante
determinados períodos de jogo (Bangsbo, 2014).

Cotê (1999), Balyi e Hamilton (2004) e Lloyd e Oliver (2012) confrontados com
o aumento das exigências competitivas e com a necessidade de desenvolverem, desde a
iniciação da prática desportiva, os seus atletas, criaram os seus próprios modelos de

67
desenvolvimento a longo prazo. Estes tinham como objetivo fundamental aumentar o
reportório motor dos atletas e torna-los mais disponíveis para, no futuro, serem capazes
de lidarem com as exigências impostas pela modalidade de especialização.

O modelo criado por Cotê (1999) baseia-se no desenvolvimento do atleta tendo


em conta a idade cronológica, sendo este dividido em três estádios de desenvolvimento:
os “anos de amostragem”, os “anos de especialização” e os “anos de investimento”. A
primeira fase – “anos de amostragem” – contemplam as idades desde os 6 aos 12 anos,
durante as quais os objetivos primordiais passam pela prática de variadas modalidades,
com vista ao desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais, assim como à
obtenção de prazer e divertimento através destas mesmas práticas – jogo deliberado (Cotê,
Baker, & Abernethy, 2007). Dos 13 aos 15 anos – “anos de especialização” – os jovens
devem reduzir o número de modalidades praticadas, passando para uma ou duas,
verificando-se um equilíbrio entre o jogo deliberado e a prática deliberada – atividades
específicas com vista ao aumento da performance (Ericsson, 2013). No último estádio
denominado de “anos de investimento” – corresponde a idades acima dos 16 anos, o atleta
deverá focar-se apenas numa modalidade, aumentando aqui consideravelmente a prática
deliberada em relação ao jogo deliberado, incrementando o rendimento nessa mesma
modalidade.

O modelo “Youth Physical Development”, criado por Lloyd e Oliver (2012), para
além de utilizar a idade cronológica dos atletas como balizador do processo de
desenvolvimento, procura utilizar o estado maturacional dos mesmos, mais
especificamente o pico de velocidade em altura (Peak Height Velocity – PHV). Neste
sentido, este modelo, que engloba várias componentes físicas, prevê que todas possam
ser desenvolvidas ao longo de todo o desenvolvimento do atleta – especialmente a força
-, tendo, naturalmente, determinados momentos em que a evolução de cada uma delas é
mais acentuada. Assim, o mesmo é decomposto em três grandes fases: o período pré-
pubertário – com grandes adaptações neurais ao treino -, o período pubertário e o pós-
pubertário – com adaptações tanto neurais como musculares. O período pré-pubertário,
subdividido em primeira infância e segunda infância, deve inicialmente, visar o
desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais bem como a capacidade de
produzir força. Seguidamente, ao longo da segunda infância, o desenvolvimento das
habilidades motoras fundamentais deve ir dando lugar ao desenvolvimento de
competências específicas de cada modalidade e, simultaneamente, ser introduzido o

68
trabalho de qualidades físicas como potência, velocidade, agilidade, resistência e
condicionamento metabólico (ligeiro). Segundo estes autores, durante e após o período
pubertário, o trabalho das skills específicas de cada modalidade ganha maior relevo,
mantendo-se o desenvolvimento das capacidades físicas citadas anteriormente e deve ser
introduzido algum trabalho de hipertrofia. No período pós-pubertário, a velocidade e a
agilidade (maioritariamente de ênfase neural) diminuem a sua importância e, pelo
contrário, veem aumentado o seu relevo o trabalho de hipertrofia, resistência e
condicionamento metabólico, à medida que o desenvolvimento da potência se deve
manter constante.

Balyi e Hamilton (2004) criaram um modelo que denominaram de “Long-Term


Athlete Development”. Este modelo consiste na divisão do percurso de um atleta em
várias fases/estádios, tendo em conta as características associadas a cada faixa etária.
Contudo, tal como Lloyd e Oliver (2012), Balyi e Hamilton (2004) referem a importância
de determinar a idade biológica dos indivíduos, de forma a retirar informações sobre o
estado maturacional dos mesmos e adequar a prescrição de treino. De acordo com os
autores, é recomendada a utilização do PHV com o intuito de avaliar o processo
maturacional do jovem. De acordo com Balyi e Hamilton (2004), são seis as fases que
compõem o modelo por si criado: a fase “FUNdamental” que corresponde às idades entre
os 6 e os 9 anos no género masculino, que tem essencialmente como objetivo a construção
de um reportório motor alargado através da aprendizagem de todas as habilidades
fundamentais; a fase de “Aprender a Treinar” dos 9 aos 12 anos, nas quais todas as
habilidades motoras fundamentais já deverão estar consolidadas de maneira a poderem
ser introduzidas as habilidades específicas da modalidade em questão; a terceira fase, a
fase de “Treinar para Treinar”, que compreende as idades dos 12 aos 16 anos, tem como
objetivo a construção de uma base sólida de resistência e de força – devendo esta iniciar-
se 12 a 18 meses após o PHV - assim como a consolidação das habilidades específicas da
modalidade; a fase seguinte, dos 16 aos 18 anos, “Treinar para Competir”, tem como foco
a otimização da preparação física do atleta específica da sua posição; o quinto estádio,
denominado “Treinar para Ganhar”, correspondente a idades superiores a 18 anos, visa a
maximização na performance a todos os níveis; por último, a retirada, pressupõem o
abandono da prática desportiva, mas a continuação do atleta dentro do meio desportivo,
seja como treinador, administrador, dirigente, ou outro.

69
Assim, de acordo com a realidade apresentada anteriormente referente ao nível de
exigência do futebol atual, adicionando a opinião de Tavares e Mil-Homens (2017) - de
que grande parte dos atletas portuguesas de modalidades coletivas apresenta sobretudo
lacunas na capacidade de produzir grandes valores de força - e, perante a realidade
vivenciada por mim ao longo do período de estágio no escalão de sub-19, acredito que
seja fundamental começar desde o futebol de formação a familiarizar os atletas com um
trabalho complementar de força. Segundo Bangsbo e colegas (2006) o treino de força
permite aumentar a potência durante movimentos explosivos, diminuir a probabilidade
de ocorrência de lesões através da proteção e estabilização de articulações, diminuir a
reincidência das mesmas e recuperar mais rapidamente os valores de força pós-lesão.

Com vista à criação de um projeto de inovação no Clube Desportivo da Cova da


Piedade, decidi estruturar um modelo geral de desenvolvimento da capacidade física
Força, tendo como meta final um desenvolvimento do atleta a longo prazo. Este projeto,
que engloba todos os escalões de formação, tem em conta as caraterísticas gerais de cada
grupo etário e, portanto, as respetivas orientações metodológicas adequadas a cada um
deles. Neste sentido, mais do que desenvolver os atletas em termos de força propriamente
dita, pretende servir como um mapa metodológico que permita aos treinadores
familiarizar os atletas com este tipo de trabalho e sensibilizá-los ao longo de todo o seu
processo formativo, ao mesmo tempo que os prepara para escalões superiores nos quais
a potenciação desta qualidade física é realmente determinante.

4.2. Estrutura e Recomendações

A estrutura do planeamento escolhida por mim, na qual é feita a divisão de grupos


etários, características gerais dos mesmos e respetiva metodologia a utilizar, baseia-se no
modelo criado por Balyi e Hamilton (2004). A escolha deste modelo deveu-se, sobretudo,
à nomenclatura utilizada pelos autores para cada grupo etário. Na minha opinião esta
descreve adequada e sucintamente o objetivo fundamental de cada uma das fases do treino
da criança e do jovem, sendo de fácil compreensão todos os envolvidos no processo,
desde treinadores, a atletas e pais. Assim, este planeamento divide-se em 5 fases:
Fundamental, Aprender a Treinar, Treinar para Treinar, Treinar para Competir e Treinar
para Ganhar.

70
De acordo com Balyi e Hamilton (2004) na fase “FUNdamental” do seu modelo,
devem ser desenvolvidas as habilidades motoras fundamentais (e.g., correr, saltar, lançar)
de uma forma simples, divertida e com especial ênfase na execução técnica. Tendo em
conta a rápida evolução do sistema neuromuscular característica destas idades, Lloyd e
Oliver (2012) são da opinião de que devem ser desenvolvidas capacidades físicas como
a força e a potência. Os exercícios devem ser realizados apenas com o peso do corpo
sendo, progressivamente, adicionado algum peso extra e o volume de treino deve ser
baixo, não excedendo as 2 séries (Wilmore et al., 2008). Behm e colegas (2008) e
Faigenbaum (2007) sugerem que se devam optar por exercícios multiarticulares, que
envolvem a coordenação de vários grupos musculares, realizados a uma velocidade
controlada. Behm e colegas (2008) e Faigenbaum e colegas (2009) referem que a
realização de 8 a 12 exercícios, de uma a duas vezes e com uma intensidade a variar entre
30 e 60% de uma repetição máxima, seja adequado para iniciar o treino de força.

No estádio de “Aprender a Treinar” devem ser introduzidos gestos específicos da


modalidade, complexificando assim os exercícios, nos quais o foco se deve continuar a
manter na correta execução técnica (Balyi & Hamilton, 2004; Wilmore et al., 2008).
Segundo os mesmos, tanto o volume como a intensidade do treino podem aumentar
gradualmente. Lloyd e Oliver (2012) são da opinião de que nesta fase pré-púbere é
fundamental continuar a desenvolver a potência dos atletas através de exercícios como
saltos, corrida e skippings. Granacher e colegas (2016) e Lloyd, Meyers, e Oliver (2011)
referem que nestas idades, relativamente ao treino de força reativa, a carga excêntrica
deve ser mínima e que se deve dar especial atenção à mecânica correto dos gestos de
saltos e de aterragens. Faigenbaum et al., (2009) são da opinião de que se devem realizar
de 1 a 3 séries, com o número de repetições a variar entre as 6 e as 15, com o objetivo do
aumento de força, e de 3 a 6 para o trabalho de potência.

Dos 12 aos 16 anos – “Treinar para Treinar” - deve ser enfatizado o trabalho de
força, potência, hipertrofia e condicionamento metabólico, especialmente após o PHV
(Lloyd & Oliver, 2012; Balyi & Hamilton, 2004). Entre os 12 e os 18 meses após o PHV
encontra-se a janela de oportunidade para o desenvolvimento da força e da hipertrofia
muscular, devido às influências maturacionais a que os adolescentes estão sujeitos (Balyi
& Hamilton, 2004). No que se refere ao treino da força reativa, Lloyd e colegas (2011)
são da opinião que a carga excêntrica aplicada pode ser de moderada a alta, e um número
de contactos do solo deve ser cerca de 60 a 80, por sessão, de acordo com a intensidade

71
(Mil-Homens et al., 2015). Com o objetivo de desenvolver um “suporte” para o
incremento de força e de massa muscular observado, Faigenbaum e colegas (2009)
sugerem que se tenham precauções nomeadamente no que toca ao equilíbrio muscular
que envolve as articulações bem como ao reforço do core. O volume de treino deve
aumentar nesta fase (i.e., 2 a 3 séries) bem como a intensidade do mesmo (Faigenbaum,
Lloyd, MacDonald, & Myer, 2015). De acordo com Faigenbaum (2007) a frequência de
2 a 3 sessões semanais, em dias não consecutivos, permite a recuperação adequada e o
aumento desejado da performance.

Relativamente à fase “Treinar para Competir”, o objetivo principal passa pela


otimização do rendimento do atleta específico na sua modalidade, da sua posição em
campo e nas mais variadas condições (Balyi & Hamilton, 2004). Nestas faixas etárias, a
hipertrofia ainda é um dos objetivos principais do treino de força, assim como o
condicionamento metabólico, seguidos da otimização da força máxima e da potência
muscular (Lloyd & Oliver, 2012). Relativamente à potência, Meylan, Cronin, Oliver,
Hughes, e Manson (2014) afirmam que neste período pós-pubertário a mesma deve ser
maximizada tal como a taxa de produção de força. No que toca à força reativa (Mil-
Homens et al., 2015), encontrando-se já num nível intermédio podem realizar, por sessão,
um número de contactos do solo de 60 a 100, de acordo com a intensidade. Segundo
Wilmore e colegas (2008) o treino deve progredir para a estrutura de um programa de
treino para adultos desde que o conhecimento e a experiência tenham sido adquiridos ao
longo das etapas anteriores.

Na última fase da prática desportiva, “Treinar para Ganhar”, o atleta já deverá ter
desenvolvido todas as suas capacidades, tendo agora em vista a maximização da
performance no seu todo (Balyi & Hamilton, 2004). Nesta fase o condicionamento
metabólico vê a sua importância aumentada, ao contrário da hipertrofia, enquanto a
potenciação da força máxima e da potência se mantem estável (Lloyd & Oliver, 2012).

Após a descrição de cada uma das fases, é importante referir que existem algumas
recomendações na estruturação de um treino de força que são transversais a todas as
faixas etárias: o aquecimento deve ter uma duração de 5 a 10 minutos e incluir exercícios
dinâmicos, ao contrário do retorno à calma que deve ser composto por exercícios de
alongamentos estáticos, também a variar de 5 a 10 minutos (Behm et al., 2008;
Faigenbaum, 2007, 2009; Pinto & Ughini, 2017); podem e devem ser utilizadas máquinas
de musculação (adaptadas ao tamanho corporal), pesos livres, fitas elásticas, bolas
72
medicinais e bolas suíças (Balyi & Hamilton, 2004; Pinto & Ughini, 2017); os exercícios
multiarticulares, visto serem mais desafiadores a nível motor, devem preceder os
exercícios monoarticulares (Behm, 2008; Faigenbaum, 2007, 2009; Pinto & Ughini,
2017); caso sejam incluídos exercícios pliométricos, recomenda-se a iniciação por
exercícios a dois pés - menos intensos -, progredindo para exercícios a um pé - mais
intensos (Pinto & Ughini, 2017); no caso de aprendizagem de um movimento/exercício,
deve ser feito no início do treino de modo a evitar a sua realização sob fadiga (Faigenbaum
et al., 2009). Para além disso, há alguns aspetos a ter em conta na prescrição de um
programa de treino de força, mesmo para o mesmo grupo etário, tais como: a diferença
inter-individual no processo de maturação, o estado/experiência de treino, a execução
técnica dos exercícios e a tolerância ao stress (Behm, Faigenbaum, Falk, & Klentrou,
2008; Faigenbaum et al., 2009; Lloyd & Oliver, 2012).

Nas tabelas 8, 9, 10, 11 e 12 estão sistematizadas, por grupo etário, as


recomendações anteriormente encontradas e descritas na literatura.

73
Tabela 7 - Recomendações metodológicas - FUNdamental

Fase Idade Recomendações Repetições Séries


- Aquecimento e retorno à calma com uma duração de 5 a
10 minutos;
- Uma sessão semanal;
- Formas jogadas, divertidas e simples;
- Desenvolvimento das habilidades motoras
fundamentais;
- Introdução a todas as formas de manifestação de força, Força: 6-10
FUNdamental 6 a 9 anos com enfâse na potência e na força reativa; 1-2
- Enfâse dada à execução técnica; Potência: 3-6
- Escolha de exercícios multiarticulares;
- Baixo volume de treino;
- Uso do peso do corpo ou de uma carga muito baixa;
- Utilização de halteres, barras, fitas elásticas, bolas
suíças, bolas medicinais;
- Execução a uma velocidade controlada;

74
Tabela 8 - Recomendações metodológicas - Aprender a Treinar

Fase Idade Recomendações Repetições Séries


- Aquecimento e retorno à calma com uma duração de 5 a
10 minutos;
- Uma sessão semanal;
- Consolidação das habilidades motoras fundamentais;
- Introdução aos movimentos específicos da modalidade;
Aprender a - Enfâse dada à execução técnica; Força: 6–15
9 a 12 anos
Treinar - Treino da força reativa com vista à melhoria da mecânica
1-2
do gesto de salto e de aterragem; Potência: 3-6
- Aumento do volume de treino (repetições e/ou
exercícios);
- Aumento da intensidade (carga);
- Aumento da complexidade dos exercícios;

75
Tabela 9 - Recomendações metodológicas - Treinar para Treinar

Fase Idade Recomendações Repetições Séries


- Aquecimento e retorno à calma com uma duração de 5 a
10 minutos;
- Duas sessões semanais;
- Consolidação dos movimentos específicos da Força máxima:
modalidade; 1 -3
- Manutenção do desenvolvimento de todas as formas de
manifestação de força; Hipertrofia: 6-
Treinar para
12 a 16 anos - Iniciação do trabalho de hipertrofia e de 12
Treinar 2-3
condicionamento metabólico, com predominância após o
pico de velocidade em crescimento; Potência: 3-6
- Exercícios de força reativa com alguma carga excêntrica;
- Utilização de exercícios multi e monoarticulares; Força Reativa:
- Aumento do volume de treino (repetições e/ou 40-80
exercícios); contactos
- Aumento da intensidade (carga);

76
Tabela 10 - Recomendações metodológicas - Treinar para Competir

Fase Idade Recomendações Repetições Séries


- Aquecimento e retorno à calma com uma duração de 5 a
10 minutos; Força máxima:
- Duas a três sessões semanais; 1–3
- Otimização de todas as formas de manifestação de força;
- Manutenção do foco na hipertrofia e no condicionamento
metabólico; Hipertrofia: 6-
Treinar para
16 a 18 anos - Desenvolvimento da força rápida (taxa de produção de 12 2-3
Competir
força e potência);
- Trabalho de força reativa com aumento da carga Potência: 3-6
excêntrica;
- Enfâse dado ao treino individualizado e específico de Força Reativa:
cada posição; 60-100
- Variar as condições da realização dos exercícios; contactos

77
Tabela 11 - Recomendações metodológicas - Treinar para Ganhar

Fase Idade Recomendações Repetições Séries


- Aquecimento e retorno à calma com uma duração de 5 a
Força máxima:
10 minutos;
1–3
- Duas a três sessões semanais;
- Maximização da expressão de todas as formas de
Hipertrofia: 6-
manifestação de força;
12
Treinar para - Otimização da força máxima, da potência, da hipertrofia
≥ 18 anos ≥3
Ganhar e do condicionamento metabólico;
Potência: 3-6
-Trabalho de força reativa com grande carga excêntrica;
- Treino totalmente individualizado e específico de cada
Força Reativa:
posição;
100-140
- Variar as condições da realização dos exercícios;
contactos
- Necessidade de periodização de um adulto;

78
4.3. Recursos

Tendo em vista o desenvolvimento deste projeto no Clube Desportivo da Cova da


Piedade, verifica-se a necessidade de definir com exatidão alguns recursos necessários,
nomeadamente recursos espaciais, temporais, materiais e humanos.

Primeiramente, a utilização do ginásio existente no clube seria essencial, sendo


que para os escalões de formação mais baixos (futebol 7 e 9) uma sessão semanal seria
suficiente, ao contrário dos restantes, em que duas/três sessões seria o aconselhável. Estas
realizar-se-iam antes dos treinos de campo, aproveitando o facto de os atletas já se
encontrarem predispostos para a prática desportiva, aumentando o tempo útil de prática
do treino técnico-tático. As sessões dedicadas ao futebol 7 e futebol 9 teriam a duração
de meia hora, ao invés das dedicadas às equipas de futebol 11 que teriam uma duração de
uma hora e meia, com o intuito de cada equipa poder ser dividida em dois grupos.

No que toca a recursos materiais, seriam necessárias mais máquinas de


musculação do que as já existentes no clube, mais variedade e quantidade de pesos livres
e algumas bandas elásticas. Ainda em relação a recursos materiais, seria conveniente a
aquisição de material de avaliação e controlo do treino, como por um exemplo, um tapete
de contacto e um sensor de velocidade.

Relativamente aos recursos humanos, teria de existir na estrutura do clube um


treinador especialista no desenvolvimento das qualidades físicas em jovens, com
disponibilidade para acompanhar todas as equipas no ginásio, com o auxílio de outra
pessoa, garantindo as devidas condições de segurança. No entanto, caso não fosse
possível a existência de uma pessoa a trabalhar a tempo inteiro nesta área e que estivesse
sempre presente nestes treinos, seria recomendável a presença de dois treinadores no
ginásio, dos quais um com formação académica na área do treino.

4.4. Organização

Com o intuito de aplicar o projeto de inovação na época desportiva seguinte


(2019/2020) foram definidos os objetivos de trabalho necessários, sendo eles: i)
explicação da fundamentação teórica e objetivos do projeto; ii) explicação da

79
metodologia a utilizar, tanto no planeamento como na operacionalização das unidades de
treino; iii) definição dos métodos de avaliação dos atletas; iv) avaliação dos atletas, em
três momentos da época distintos; v) aplicação da metodologia de treino de acordo com
as avaliações realizadas; vi) reuniões intermédias, entre as avaliações, com o intuito de
esclarecer/otimizar a intervenção junto dos atletas e vii) relatórios individuais finais. De
forma estruturar estes objetivos no decorrer da época seguinte, sendo de fácil
compreensão para todos os intervenientes, foi criado um cronograma, tal como ilustra a
figura 21.

80
Época 2019/2020
Meses Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho
Semanas 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
Objetivos
Explicação da
fundamentação e
objetivos do projeto

Explicação da
metodologia a utilizar

Definição dos métodos


de avaliação dos atletas

Avaliação dos atletas

Inicio da época
desportiva

Aplicação da
metodologia

Reuniões intermédias

Relatórios finais

Figura 21 - Cronograma de implementação do projeto de inovação

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4.5. Balanço do projeto de inovação

A ideia deste projeto inovador criado no Clube Desportivo da Cova da Piedade


surgiu devido às equipas da SAD – com exceção da equipa A - não realizarem um trabalho
de ginásio organizado, sistemático e de não terem nos seus quadros ninguém especialista
nesta área do treino. O objetivo passava por desenvolver os jovens jogadores do clube
com vista a, no presente, poderem ombrear com os clubes de referência de nível nacional
contra quem competem nos campeonatos nacionais e, no futuro, transitarem com maior
facilidade para as equipas seniores e lá apresentarem um bom rendimento desportivo.

Contudo, a implementação do projeto não se tornou possível devido aos conflitos


entre Clube e SAD, pelo que, em termos práticos, ficou desde logo impossibilitado de ser
aplicado na sua totalidade. No entanto, devido ao facto de eu ser o responsável pelo treino
de força da equipa de sub-19, pude aplicar parte do mesmo nesta equipa. Em termos de
resultados práticos, é possível observar nas tabelas 4 e 5, mencionadas anteriormente, a
evolução que alguns atletas apresentaram ao longo da época no que toca à capacidade de
produção de força. Apesar de não ser possível comprovar, também se verificou uma
melhoria substancial na familiarização com o treino de força, na execução técnica de
alguns padrões motores e, consequentemente, nalguns exercícios, fornecendo aos atletas
uma boa base para um eventual trabalho de força no futuro.

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5. Área 3 - Relação com a comunidade – “Observação e Análise do Jogo”

5.1. Introdução

No âmbito do estágio de Mestrado em Treino Desportivo, foi realizada uma ação


de formação intitulada “Observação e Análise do Jogo”, que decorreu nas instalações do
Clube Desportivo da Cova da Piedade. Este evento destinava-se sobretudo, mas não
exclusivamente, aos treinadores pertencentes a esta instituição e propunha-se a abordar o
tema da observação e análise de jogo, tanto no contexto de futebol de formação como no
contexto de futebol profissional.

O tema abordado provém do facto de ser uma das áreas de intervenção e de


interesse dos alunos estagiários que organizaram a formação. Para além disso é uma área
que se encontra em grande desenvolvimento no futebol atual e um possível mercado de
trabalho para todos os treinadores da modalidade. Neste sentido, achamos conveniente
que os mesmos possuam os fundamentos teóricos e as ferramentas necessárias para que
exerçam a sua atividade profissional de uma forma mais qualificada.

5.2. Descrição do evento

Perante o panorama apresentado anteriormente, o evento decorreu no dia 19 de


abril de 2019, das 9 horas às 19:30 horas, nas instalações do Clube Desportivo da Cova
da Piedade e contou com o programa disponível na figura 22.

Como oradores convidados tivemos Marco Matos e Mauro Saraiva. Numa breve
apresentação dos mesmos, Marco Matos, apresenta uma vasta experiência na análise do
jogo no futebol de formação. Para além de funções de analista de algumas das equipas
dos escalões de formação do Clube Desportivo da Cova da Piedade é também o
responsável pelo Departamento de Scouting do mesmo. Por sua vez, Mauro Saraiva é
atualmente analista dos escalões de formação do C.F. “Os Belenenses”, treinador da
equipa de sub-16 e orador em várias formações, inclusivamente internacionais, como é o
caso das realizadas na Qatar Stars League.
A formação foi dividida em duas partes: uma parte teórica e uma parte prática.
Durante a manhã, foram realizadas duas preleções no salão nobre do clube, sendo que
ambas tinham como foco a observação e análise de jogo, tanto do adversário como da

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própria equipa, com a diferença de uma se referir ao futebol de formação – Marco Matos
- e outra ao futebol profissional – Mauro Saraiva. Relativamente ao futebol de formação,
a apresentação do orador Marco Matos abordou inicialmente aspetos mais estruturais,
como a importância desta área no futebol de formação, a realidade de um analista nestas
faixas etárias, as características de cada uma delas e as dificuldades vivenciadas pelos
mesmos. Posteriormente, a sua apresentação focou-se em aspetos mais relacionados com
o trabalho prático de um analista, nomeadamente no que respeita aos meios e métodos de
observação, à interação entre o analista e a equipa técnica, e à aplicação prática das
informações retiradas das observações, terminando com um exemplo claro de um
relatório elaborado por si. Por sua vez, Mauro Saraiva abordou o mesmo tema mas na
vertente de futebol profissional. A apresentação deste orador iniciou-se com uma breve
demonstração do que é um departamento de análise no futebol profissional,
nomeadamente no que se refere às ferramentas utilizadas, aos meios, ao métodos e aos
recursos necessários. Seguidamente debruçou-se num esmiuçamento detalhado de uma
figura representativa do processo de análise de jogo e sua aplicação prática, composta
por: observação – desafios e critérios encontrados; análise – fases de jogo e aspetos alvos
de análise; interpretação – informações relevantes e como devem ser transmitidas às
equipas técnicas e aos atletas; planeamento – implicações práticas das informações
retiradas; treino – microciclo de trabalho de um departamento de análise de jogo; por
último, o jogo e, novamente, observação.

Na parte da tarde, foi apresentada aos formandos uma ficha de observação criada
por um dos alunos estagiários (anexo IV), com a qual deveriam analisar o jogo Cova da
Piedade SAD vs Leixões, relativo à jornada número 30 da Ledman Liga Pro, a decorrer
nessa tarde no Estádio José Martins Vieira. Antes do início da partida, os formandos
foram separados em dois grupos, tendo cada um objetivos diferentes: um dos grupos
simulava ser a equipa técnica do Cova da Piedade SAD, cujo objetivo era analisar a sua
própria equipa; por outro lado o outro grupo simulava ser a equipa técnica de um futuro
adversário do Cova da Piedade SAD. No final, criámos uma discussão, na qual o grupo
que simulava ser a equipa técnica do Cova da Piedade SAD, apresentou determinadas
fases/momentos do jogo em que detetaram comportamentos menos positivos e
propuseram alguns exercícios com vista à sua melhoria durante o processo de treino. Por
sua vez, o grupo que simulava ser a equipa técnica de um futuro adversário apresentou
exercícios que tentavam explorar lacunas observadas da equipa do Cova da Piedade SAD.

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No final da atividade de grupo, foi entregue a cada participante uma ficha com
vista à obtenção de uma avaliação quantitativa e qualitativa do evento. Esta ficha
avaliativa centrou-se sobretudo numa avaliação de aspetos de organização, de qualidade
e de aplicabilidade dos conteúdos abordados, utilizando para tal uma escala de 1 até 5,
sendo 1 o valor mínimo e 5 o valor máximo (anexo v).

Após o término da formação, foi enviado via e-mail, para todos os participantes,
as apresentações dos dois oradores, a ficha de observação utilizada na análise do jogo,
bem como um certificado de participação (figura 23).

Horas 19 ABRIL

09:00- 09:30 Sessão de abertura


09:30-10:00 Tema: Observação e Análise de jogo – Futebol de Formação
10:00- 10:30
Marco Matos – Clube Desportivo Cova da Piedade
10:30-11:00
11:00-11:30 PAUSA
11:30-12:00 Tema: Observação e Análise de jogo – Futebol Profissional
12:00-12:30
Mauro Saraiva – Futebol Clube “Os Belenenses”
12:30-13:00
13:00-13:30
13:30-14:00
14:00-14:30 Almoço
14:30-15:00
15:00-15:30 Apresentação da Ficha de observação
15:30-16:00
16:00-16:30
16:30-17:00 Observação e análise da 30ª jornada da Ledman Liga Pro:
17:00-17:30 Cova da Piedade SAD vs Leixões
17:30-18:00
18:00-18:30
18:30-19:00 Discussão
19:00-19:30
Figura 22 - Programa do evento

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Figura 23 - Certificado de participação

5.3. Divulgação

Como forma de divulgar o evento e suscitar interesse a um número maior de


treinadores, foi criado um poster (figura 24) e divulgado nas redes sociais Facebook e
Instagram. Internamente, foram convidados pessoalmente os funcionários da instituição.
Ao longo da divulgação os interessados respondiam a um pequeno questionário no
sentido de realizarem o seu processo de inscrição, disponível no link
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe6XmOxfMvlmaFNc8kCnkykVwLrpv1V
PTgbkqTcbc_83DcT3g/viewform, como demonstra a figura 25.

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Figura 24 - Poster do evento

Figura 25 - Link de inscrição no evento

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5.4. Balanço do evento

A formação correu de forma planeada, tanto a durante a manhã como no período


da tarde. No período da manhã, as palestras foram realizadas no tempo estipulado, durante
as quais o esclarecimento de dúvidas e a respetiva discussão foram sempre bastante
acentuadas, verificando-se uma forte interação entre oradores e formandos. No final de
ambas as preleções foi ainda utilizado um período de meia-hora para que a discussão de
ideias pudesse ser mais alargada.

A atividade da tarde também correu como previsto, sendo a discussão entre grupos
pós-jogo um dos pontos fortes da formação. O facto de dois grupos analisarem a mesma
equipa, mas com perspetivas e finalidades diferentes, levou a uma discussão riquíssima,
mais do que aquilo que tinha sido idealizado inicialmente.

Em suma, o evento decorreu como planeado, foi benéfico e rico para participantes,
organizadores e oradores, tendo o questionário final obtido respostas bastante positivas
por parte dos participantes, como é possível ver na tabela 13.

Tabela 12 - Avaliação do evento

1 2 3 4 5
Qualidade dos
conteúdos 0 0 19% 41% 40%

Aplicabilidade
dos conteúdos 0 0 4% 61% 35%

Qualidade das
apresentações 0 0 9% 44% 47%

Organização
0 0 0 35% 65%
Espaço
0 0 0 13% 87%

Uma das maiores dificuldades sentidas prendeu-se com a escolha do dia para a
realização do evento e consequente adesão. Com o aproximar do término da época

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desportiva, não sobravam muitas oportunidades para a realização do mesmo num dia em
que a equipa sénior jogasse em casa e que, simultaneamente, os organizadores não
tivessem compromissos com a sua equipa. Desta forma, o dia 19 de abril coincidiu com
um feriado e com a altura das férias da páscoa, dia esse em que existiram muitos torneios
nos quais muitas equipas do clube – e respetivos treinadores – participaram, não podendo
comparecer no evento. Neste sentido, num próximo evento seria importante planeá-lo
com maior antecedência com vista ao aumento da sua divulgação e do número de
participantes. Para além disso, seria importante em termos formativos e como forma de
atrair mais treinadores, procurar obter parcerias com entidades que creditem a formação,
como o Instituto Português do Desporto e da Juventude ou como a Associação Nacional
de Treinadores de Futebol.

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6. Reflexão Final

O meu percurso académico culminou na realização deste estágio e do respetivo


relatório. Foram 6 anos de investimento na área do Treino Desportivo e não poderia estar
mais feliz e orgulhoso da maneira como terminou. Um processo de estágio no qual pude
por em prática todos os conhecimentos adquiridos ao longo deste tempo, num local que
me permitiu – para o bem e para o mal – um grau de autonomia e de responsabilidade
brutais. Um relatório condizente com a riqueza e versatilidade que caracterizou o meu
percurso e que o reflete da melhor maneira possível. Um sentimento de gratidão e de
honra por todas as instituições por onde passei, sejam elas educativas ou desportivas, e
que contribuíram para aquilo que sou hoje e para o que serei daqui em diante enquanto
profissional desta área e enquanto pessoa.

Em termos concretos, e relativamente à Faculdade de Motricidade Humana e ao


Mestrado em Treino Desportivo, importa referir que não me arrependo nem um pouco
pela escolha que fiz ao vir aqui realizar o 2º ciclo de estudos. Uma casa de renome
nacional e da qual tenho muito orgulho em fazer parte. Um leque de professores com uma
experiência e quantidade de conhecimentos vastíssima, que servirão de referência para
resto da vida, tanto no que toca à minha prática profissional bem como em termos de
ambição pessoal de um dia vir a ser um pouco daquilo que eles conseguem ser.

No que toca à entidade que me acolheu, o Clube Desportivo da Cova da Piedade


SAD, um sentimento agridoce que me acompanha. Por um lado, uma instituição histórica
que me permitiu aplicar conhecimentos e vivenciar realidades que não pensava ser
possível tão cedo: a participação na 1ª divisão do Campeonato Nacional de Juniores A. A
competição de maior prestígio dos escalões de formação em Portugal, que me permitiu
competir contra os melhores clubes a nível nacional, trabalhar e aprimorar todo o processo
de forma a competir nas máximas condições de igualdade e que, resumidamente,
estimulou um grande grau de profissionalismo a todos nós. Por outro lado, é um clube
com um potencial enorme, com recursos financeiros invejáveis mas que peca, e pecou,
pela falta de organização e de uma estrutura profissional, condizente com as exigências
competitivas em que a maior parte das suas equipas encontrava.

Relativamente à minha prática enquanto treinador estagiário, foi uma excelente


experiência e que me enriqueceu bastante. No que toca ao treino técnico-tático, vivenciar

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os processos de planeamento, periodização, de modelação do jogo e do treino e,
sobretudo, operacionaliza-los, fez-me pensar, discutir e crescer bastante na maneira como
olho para o jogo e para o futebol. Não existe uma forma correta de trabalhar, não existe
uma solução concreta. Existe sim um processo que se vai aprimorando ao longo do tempo,
sempre adaptado às pessoas que o compõem e ao contexto em que se insere, sendo a
maior ou menor capacidade de o fazer que vai ditar o sucesso do projeto.

Ainda ao nível do treino técnico-tático, a observação e análise do jogo é uma


ferramenta fundamental para quem se encontra em contextos de elevada exigência
competitiva. A análise da própria equipa, no processo de treino e de competição, é crucial
para uma avaliação do processo e aprimoramento constante, não apenas no sentido de
melhorar qualitativamente o jogo em termos coletivos, mas também para potenciar os
atletas individualmente. A análise do adversário é um fator crítico quando se defrontam
equipas com qualidade significativamente superior e com as quais é impossível de
competir de igual para igual. Neste sentido, uma abordagem mais estratégica, apesar de
não ser tão rica para a evolução de todos os intervenientes, parece, na maior parte dos
casos, trazer melhores resultados quando estes são imprescindíveis. Contudo, creio que
pecámos no défice de atenção dado à análise da própria equipa e consequente repercussão
no microciclo semanal. Na minha opinião, teria sido fundamental focarmo-nos mais
naquilo que era o nosso modelo de jogo e o desenvolvimento no mesmo.

No que concerne concretamente às funções que tinha dentro da equipa técnica,


consigo destacar, sem qualquer sombra de dúvida, o treino complementar de ginásio
como aquele no qual tive mais prazer de realizar com os meus atletas. Infelizmente houve
alguns fatores contextuais que não me permitiram fazer o que idealizava – mas assim o é
em grande parte das situações da nossa vida. A minha chegada à equipa técnica deu-se já
em período competitivo, após a primeira jornada do campeonato, pelo que o período
preparatório já tinha terminado, impedindo a realização de avaliações e planeamento
como seria desejado. Para além disso obrigou-me a prolongar para o período competitivo
métodos de treino da força que não são tão adequados quando pretendemos que exista
uma transferência direta do ginásio para o campo. Outra das grandes limitações
prenderam-se com a falta de organização em termos de agendamento de utilização do
ginásio. A equipa de sub-19 tinha, desde o início da época, marcados os treinos que lá se
realizavam e o respetivo horário, mas, ao sabor da equipa técnica da equipa A e do sucesso
ou insucesso momentâneo da mesma, estes ocupavam o espaço sem qualquer aviso prévio

91
e não permitiam que o processo continuado da equipa de sub-19 se realizasse. Em relação
aos nossos próprios atletas, foram poucos os que participavam nestas sessões de forma
assídua e frequente, seja devido à falta de transporte ou a horários escolares que não
permitiam a conciliação das duas atividades. Relativamente a outra das funções, de
monitorização da carga de treino, foram raras as vezes em que os resultados recolhidos
tiveram aplicação prática no processo de treino por vontade do treinador principal.

Um outro aspeto relevante no processo de estágio foi a conceção de um projeto de


inovação, no qual tive grande prazer em pesquisar mais sobre o tema e perceber a
importância e a especificidade do treino de força em crianças e jovens. Creio cada vez
mais que o desenvolvimento das qualidades físicas em geral e da força em particular, tem
um papel relevante no desenvolvimento a longo prazo de um atleta. Por um lado permite,
ainda no processo de formação, mas já em escalões mais avançados, competir contra
equipas que realizam este tipo de trabalho de forma organizada e sistemática e, sobretudo,
dar ferramentas, para que no futuro, ou seja, no escalão sénior, os atletas tenham mais
facilidade em desenvolver algumas competências no sentido de dar resposta às exigências
requeridas.

Relativamente à criação de um evento dedicado à comunidade, nas instalações do


clube, também foi bastante benéfico no sentido de perceber as diferenças, limitações e
exigências do processo de observação e análise no futebol de formação e no futebol
profissional.

Concluindo, foi um ano e uma experiência única que aconselho e voltaria a repetir.
Foi fundamental aplicar todos os conhecimentos adquiridos até então e testá-los na
prática. Permitiu-me aplicar, avaliar, refletir e voltar a aplicar procedimentos no sentido
de aperfeiçoar de dia para dia e me tornar um profissional mais competente. As
dificuldades vivenciadas no que toca à estrutura, organização e direção do clube, assim
como às vividas dentro da própria equipa técnica, foram sempres vistas como
oportunidades de evolução e sem estas o resultado final não teria sido tão satisfatório.
Importa referir que os objetivos definidos inicialmente foram cumpridos, com exceção da
permanência da equipa de sub-19 no Campeonato Nacional de Juniores A. Em oposição,
a época desportiva terminou com um convite para a integrar interinamente a equipa
técnica de sub-23 no último mês de competição deste escalão, considerando um prémio
pela minha entrega e dedicação enquanto treinador estagiário.

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100
Anexos

I) Periodização anual do treino de força

Agosto Setembro Outubro Novembro


Adaptação Hipertrofia I Hipertrofia II

Dezembro Janeiro Fevereiro Março


Hipertrofia III PT TPF Potência Ondulatório

Abril Maio
Ondulatório

Adaptação (+++ reps; --- carga) Taxa de produção de força (-- reps; ++ carga)
Hipertrofia I (++ reps; -- carga) Potência (- reps; - carga)
Hipertrofia II (+ reps; - carga) Ondulatório (Hipertrofia, TPF, potência, força reativa)
Hipertrofia III (- reps; + carga) Periodo de transição entre estímulos

101
II) 1º momento de avaliação da força máxima

Agachamento Supino
Nome Posição
Repetições Coeficiente Carga (kg) 1 RM (Predito) Repetições Coeficiente Carga (kg) 1 RM (Predito)
Filipe Neves GR 8 1,27 60 76,2 6 1,2 40 48
Bruno Santos GR 3 1,1 60 66 3 1.1 40 40
Tiago Simões GR 5 1,16 80 92,8 4 1,13 60 67,8
Pedro Marques DL 4 1,13 70 79,1 6 1,2 40 48
Lisandro Tipote DL 6 1,2 90 108 8 1,27 70 88,9
Daniel Couraceiro DL 4 1,13 60 67,8 7 1,23 40 49,2
Tiago Oliveira DC 4 1,13 80 90,4 8 1,27 60 76,2
Ricardo Figueiredo DC 2 1,07 70 74,9 6 1,2 50 60
Rodrigo Conceição DL 5 1,16 60 69,6 5 1.16 40 40
André Lopes DL 7 1,23 50 61,5 2 1.07 40 40
Vasco Gonçalves DL 8 1,27 50 63,5 4 1,13 40 45,2
Francisco Varela MD 3 1,1 70 77 8 1,27 50 63,5
João Vivas MD 7 1,23 50 61,5 6 1,2 40 48
Bernardo Legatheux MD/MC 5 1,16 70 81,2 6 1,2 40 48
Shi Yu MC 3 1,1 70 77 2 1,07 50 56,4
Rivaldo Martins MC 4 1,13 70 79,1 4 1,13 50 53,5
Jorge Lino MC 7 1,23 50 61,5 5 1.16 40 40
André Pires MC 6 1,2 60 72 4 1,13 40 45,2
Diogo Palma MC 7 1,23 50 61,5 3 1,1 40 44
Rafael Basílio MC 5 1,16 70 81,2 7 1,23 50 61,5
Daniel Araújo EXT 2 1,07 70 74,9 5 1.16 50 50
Gonçalo Viriato EXT 8 1,27 60 76,2 6 1,2 40 48
Manuel Grade EXT 2 1,07 70 74,9 8 1,27 40 50,8
Vitor Wang EXT 8 1,27 60 76,2 6 1,2 40 48
Bruno Tavares EXT 7 1,23 60 73,8 4 1,13 50 56,5
Tiago Nascimento PL 8 1,27 60 76,2 8 1,27 40 50,8
Bruno Pinheiro PL 9 1,32 60 79,2 6 1,2 40 48
Gonçalo Santos PL 2 1,07 80 85,6 6 1,2 50 60

102
III) 2º momento de avaliação da força máxima

Agachamento Supino
Nome Posição
Repetições Coeficiente Carga (kg) 1 RM (Predito) Repeições Coeficiente Carga (kg) 1 RM (Predito)
Filipe Neves GR 3 1,1 90 110 2 1,07 70 74,9
Lisandro Tipote DD 8 1,27 110 139,7 5 1,16 90 104,4
Tiago Oliveira DC 6 1,2 100 120 4 1,13 80 90,4
Alex Petrice DL/DC 9 1,32 110 145,2 7 1,27 90 114,3
Tiago Simões DC 5 1,16 100 116 3 1,1 70 77
Shi Yu MC 2 1,07 100 117,7 4 1,13 70 79,1
Rafael Basílio MC 10 1,36 110 149,6 3 1,1 80 88
Vitor Wang EXT 4 1,13 100 113 5 1,16 70 81,2
Manuel Grade EXT 4 1,13 110 124,3 4 1,13 70 79,1
Gonçalo Santos PL 6 1,2 110 132 2 1,07 90 96,3

103
IV) Ficha de observação utilizada no evento

Últimos 5 Resultados
EQUIPA CASA
EQUIPA FORA

Últimos 5 Resultados
EQUIPA 1
EQUIPA 2

Últimos 2 Onzes Onze Inicial Posição


Onze Inicial Posição Onze Inicial Posição
GR
DD
DC
DC
DE
MC
MC
ME
MD
PL
PL
Minutos Posição / Nome

Substituições

Minutos Posição / Nome

Lesões

Minutos Posição / Nome

Expulsões

104
105
106
107
108
V) Ficha de avaliação do evento

Nome:_________________________________________________________________

Avaliação

Avalie, com uma cruz, cada um dos seguintes parâmetros apresentados:

1 2 3 4 5
Qualidade dos
conteúdos

Aplicabilidade
dos conteúdos

Qualidade das
apresentações

Organização

Espaço

Comentários:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

109

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