Você está na página 1de 43

1

RODRIGO CÉSAR GOMES DA COSTA LIMA

DESENVOLVIMENTO TÉCNICO
PARA GOLEIROS DE FUTSAL

METODOLOGIA RC GOLEIROS
ESCOLA DE TREINAMENTO DE GOLEIROS DE FUTSAL
RECIFE/PE
2018

Copyright© Rodrigo César, 2018

Edição: Rodrigo César

2
Capa e Projeto Gráfico: Marcela Rodrigues
Foto de capa: Thiago Tenório

-------------------------

César, Rodrigo.
Desenvolvimento técnico para goleiros de futsal / Rodrigo César – Recife/PE, 2018.
37 p.
Esportes. Modalidade Coletiva. Futsal. Treinamento de Goleiros.

-------------------------

2018
RC Goleiros – Escola de Treinamento de Goleiros Federação
Pernambucana de Futsal rcgoleirosrecife@gmail.com
©
Lançamento em 04/05/2018

3
“Que venham os gigantes, pequenos
desafios não forjam grandes campeões.”
Rodrigo César
SOBRE O AUTOR

Rodrigo César Gomes da Costa Lima


ou, simplesmente, RC. Muito prazer.

4
Ex-goleiro de futsal, uni minha paixão pelo esporte com minha
graduação e especialização em Educação Física para trabalhar na
formação de jovens atletas nessa profissão, SER GOLEIRO.

Desde 2011, quando iniciei o projeto RC Goleiros, tenho me dedicado a


estudar os fatores que envolvem uma boa preparação para uma modalidade
cada vez mais dinâmica e competitiva. Pensando nisso, venho
desenvolvendo alguns estudos na área do treinamento de goleiros para
nortear a metodologia da nossa Escola e, a partir de agora, irei
compartilhalos com vocês.

Hoje, além do trabalho com o RC Goleiros, atuo como docente em cursos


de extensão e pós-graduação com o tema METODOLOGIA DO
TREINAMENTO DE GOLEIROS.

SUMÁRIO

1. A IMPORTÂNCIA DA BIOMECÂNICA NO 06
DESENVOLVIMENTO DOS GOLEIROS DE
FUTSAL
2. AS TÉCNICAS DOS GOLEIROS DE FUTSAL 07
2.1 POSIÇÃO DE EXPECTATIVA 08
5
2.2 EMPUNHADURA 14
2.3 BASE 18
2.4 DEFESA BAIXA (QUEDA LATERAL) 21
2.5 DEFESA MÉDIA/ALTA (QUEDA LATERAL) 26
2.6 ESPACATE 27
2.7 SAÍDA 1x1 31
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 35

A IMPORTANCIA DA BIOMECANICA NO
DESENVOLVIMENTO DOS GOLEIROS DE FUTSAL

Saltar mais alto, correr mais rápido e no menor tempo possível,


realizar o maior número de defesas. Qualquer que seja o nível esportivo, o
objetivo central é sempre o mesmo: superar os próprios limites. Embora a
otimização do rendimento esportivo seja fruto da combinação de fatores tão
diversos como os genéticos e os sócio afetivos, é inegável que a obtenção
do máximo rendimento depende, em grande parte, da elaboração de

6
estratégias de treinamento capazes de potencializar as capacidades e
habilidades envolvidas no desempenho da modalidade. Associada a outras
disciplinas, a Biomecânica é uma ferramenta indispensável na
determinação dos fundamentos capazes de embasar o planejamento e a
aplicação de um programa de treinamento esportivo.

A tendência cada vez mais intensa de popularizar o exercício físico e


o treinamento esportivo, tem também ocasionado uma indesejável
consequência: o aumento das lesões. A somatória das cargas geradas pelo
movimento é apontada por muitos especialistas como a causa mais provável
das lesões degenerativas que acometem o aparelho locomotor.

A Biomecânica fornece subsídios para que o professor possa buscar


estratégias que permitam selecionar os movimentos mais adequados e
seguros ao desenvolvimento de habilidades e capacidades físicas. Quando
se pensa na participação esportiva, a otimização do gesto e a segurança
assumem um papel de relevância. Buscar a mais perfeita execução do gesto
esportivo, significa em última análise otimizar o desempenho atlético.
Permitir que esse desempenho seja alcançado sem comprometer a
integridade física do atleta, é condição indispensável ao prolongamento da
participação esportiva do atleta.

A partir dessas afirmações, podemos perceber a importância de


otimizar os gestos motores dos goleiros de futsal. A seguir, mostraremos
quais técnicas podem ser trabalhadas e como podemos evitar possíveis
erros de execução.

AS TÉCNICAS DOS GOLEIROS DE FUTSAL

7
Que goleiro nunca machucou punhos, dedos, cotovelos, quadril ou
todos esses? Precisamos pensar nisso para desenvolver a capacidade técnica
desses atletas, pois além da performance, precisamos potencializar os
atletas com o menor risco de lesões possível.

Quando falamos em desenvolvimento técnico, vamos muito além do


movimento, precisamos pensar na otimização do rendimento, afinal de
contas, o goleiro age diretamente contra os adversários, a bola e o solo.
Pensando dessa forma, é importante ponderar sobre a sistematização dos
gestos motores, uma vez que, eles trarão mais segurança ao realizar as
ações do jogo.

Para explicar o processo da aprendizagem, há que se entender as


bases psicológicas e neurofisiológicas da aprendizagem de movimentos. Só
assim, poderemos entender como nosso aluno ou atleta passa do estado de
não saber ao estado de realização de certo movimento. Para que um ato
motor seja aprendido por um indivíduo, ocorre a divisão desse processo em
três fases:
*Fase pré-motora: preparação do ato por estabelecimento de um programa
motor (visualização do ato);

*Fase motora: realização de programas motores. Aqui o aluno vivência e


experimenta o que antes só havia em sua mente;

*Fase pós-motora: apreciação do movimento; o aluno julga se o que fez


pareceu ou não com aquilo que lhe foi ensinado. Caso encontre falhas no
seu movimento, poderá então estabelecer um novo processo motor.

A memória é indispensável a todos os processos de aprendizagem e


de adaptação, pois o aluno só mudará o seu comportamento se comparar a
8
nova informação recebida com os modelos antigos que já trazia consigo, e,
assim, formar um novo projeto em sua mente.

Há que se repetir o gesto motor desejado constantemente, pois a


aprendizagem motora ou a técnica nada mais é do que o condicionamento
das ligações sinápticas que induzem os sistemas neuronais a uma nova
textura, específica para aquele movimento.

O elogio e a censura, o estresse de aprendizagem e a atenção aparecem


como reforçadores tanto positivos como negativos da aprendizagem
motora, portanto técnica; daí a sua importância. Esses elementos
influenciam, pela estimulação ou inibição, o desenvolvimento dos
processos de síntese feito pelo sistema nervoso do aluno. Portanto, o elogio
e a censura devem ser fatores de grande preocupação por parte dos
treinadores uma vez que usando-os, de uma ou outra forma , ocorrerão
modificações nas fórmulas bioquímicas do organismo do aluno, fazendo
com que ele assuma determinado tipo de comportamento.
O treinador deve logo no início do trabalho com aquele aluno, instruí-lo
a executar a técnica do movimento mais eficaz e econômica na realização
daquela tarefa, para, mais tarde, permitir os ajustes pessoais de estilo de
cada atleta. Nesse ponto, o treinador passa a corrigir o atleta baseando-se na
sua técnica individual.

O processo de aprendizagem técnica deve prosseguir sem muitas pausas


prolongadas entre as unidades de treinamento, senão a eficácia do treino
poderá diminuir.

Para se formar um atleta muito hábil tecnicamente é preciso que antes


se invista nos fatores físicos de sua performance.

9
Vejamos agora os motivos que podem levar o atleta a estagnar ou
mesmo retroceder em sua evolução técnica:

Sobrecarga informativa: pelo excesso de informação verbal, pode ocorrer


uma "regressão sensório-motora". A prevenção seria a redução da
informação verbal e pausas suficientes para a elaboração.

Sobrecarga por fadiga: muita instrução técnica combinada com um esforço


físico intenso pode produzir a "regressão motora por fadiga". A prevenção
seria controlar os níveis de intensidade do treinamento físico e técnico.

Carências de informação: o aluno produz um projeto motor falso; ele não


compreende o que seria o correto e assim não pode compreender as
correções e demais instruções. A prevenção seria fazer um controle da
compreensão dos alunos a cada novo ponto ensinado e fazer perguntas que
estimulem o aparecimento de dúvidas.
Carências de motivação: atenção insuficiente, falta de vontade interior. A
prevenção seria uma instrução pedagógica suficiente, compreensiva e
estimulante.

Carências de condição: se o aluno não está maduro o suficiente para aquele


tipo de treino ou se fisicamente não se encontra bem, a aprendizagem da
técnica será prejudicada. A prevenção seria a melhora das condições físicas
e a aplicação de instruções compatíveis com o estágio de desenvolvimento
do aluno.

Por se tratar de um país com grande área territorial, sofremos com o


pluralismo da língua portuguesa e, no treinamento de goleiros, também
podemos perceber algumas dessas diferenças. Por exemplo, espacate,
espacá e esquadro se referem ao mesmo movimento de defesa. Utilizamos
10
nesse caso, especificamente, o espacate por ser um movimento originado no
balé, adaptado para o handball e, posteriormente, para o futsal. Mas não
iremos focar nas nomenclaturas e, sim, nos gestos técnicos. Alguns
treinadores não veem problema nessa variação, mas eu acredito que a
uniformização da nomenclatura seja muito importante.

Listamos cada uma das técnicas de acordo com a ordem de


EnsinoAprendizagem-Treinamento:

11
Essa pode não ser considerada uma técnica específica, mas subsidiará
todos os movimentos e é a postura base que todo goleiro precisa. Por exigir

12
movimentos rápidos, a posição de expectativa facilita muito a reação
devido à tripla extensão (tornozelo – joelho – quadril). A não utilização da
posição de expectativa acarretará numa diminuição da potência pela não
mobilização articular no movimento.

13
ERROS COMUNS
- Flexionar demais o quadril, baixando o tronco (perda do campo visual);

- Mantes os joelhos estendidos (perda da tripla extensão)

14
- Braços muito levantados (diminuição da velocidade de membros).

15
Para muitos treinadores de goleiro, saber fazer uma empunhadura é a base
para desenvolver qualquer técnica futuramente. Por isso, essa técnica é
sempre a primeira a ser ensinada. A empunhadura é utilizada sempre que a
bola é chutada na direção do goleiro entre a altura do peito e a trave. A fim
de corrigir os consecutivos erros dessa técnica, pensamos em mudar o
16
posicionamento das mãos na hora de fazer a defesa e passamos a utilizar as
mãos formando um W com os dedos polegares (ver imagem 3) e excluímos
o, convencionalmente usado, formato de triângulo.

ERROS COMUNS
- Dedos apontando para a bola (risco de fraturas);
- Cotovelos muito afastados (não realizar o encaixe da bola);
- Cotovelos estendidos (não absorção do impacto da bola);

17
- Cotovelos muito flexionados (impacto da bola no corpo).

18
19
Mais uma técnica que todo goleiro precisa aprender assim que inicia.
O movimento bem executado da base é fundamental para evitar o gol por

20
entre as pernas. Para isso, ao realizar a base, é preciso deixar sempre o
joelho próximo ao tornozelo e as mãos juntas, com os dedos apontando
para baixo. Ao receber a bola, é importante usar o solo como terceiro apoio
para evitar rebotes.

ERROS COMUNS
- Joelho afastado do tornozelo;

21
- Mãos viradas pra cima (risco de fratura);

22
23
-

Joelho muito à frente (diminuição da amplitude e dificulta a pegada);

Fundamento muito importante por ser largamente utilizado, dessa forma,


aprimorar a mecânica dessa técnica é essencial para evitar lesões e otimizar
o rendimento. Além disso, desenvolver a queda lateral é importante para
24
dar base às quedas médias e altas. Para realizar uma queda baixa, é preciso
sincronizar uma série de movimentos de membros superiores e inferiores,
tais como – deslocar o centro de força para o lado da queda; impulsionar o
corpo com a perna contrária ao lado da queda; deslizar, primeiro, sobre a
fíbula; iniciar o posicionamento das mãos (mão do lado da queda
perpendicular ao solo e a outra paralela, afim de fazer o encaixe utilizando
o solo como terceiro apoio; deslizar no solo com a parte lateral do corpo.

ERROS COMUNS
- Impulsionar com a perna do lado da queda (tendência do corpo subir);
Cair com o quadril (risco de lesão);

25
-

26
-

Cair com o cotovelo flexionado (risco de lesão);

27
-

Deixar as mãos paralelas (dificulta a pegada).

28
Optamos pela unificação das quedas médias e altas pelo fato de serem,
praticamente, idênticas. O que muda é, justamente, a altura da bola, mas, no
que diz respeito à técnica, são iguais e seguem uma lógica bem parecida
com a queda baixa. Podemos identificar como grande diferença da queda
baixa para a média e alta, a perna de impulsão. Nas defesas médias e altas é
a perna do lado da queda que gera o impulso para o goleiro chegar à bola.
Desenvolver a queda baixa antes de ensinar a média e alta também é muito
importante no processo de aprendizagem, pois o risco do goleiro se
machucar diminui. Alguns pontos de dor se fazem presentes quando as
defesas com queda não são bem assimiladas, como – crista ilíaca ântero
superior, trocanter maior e olecrano.

29
-

30
ERROS COMUNS
- Impulsionar com a perna contrária à queda (tendência do corpo
descer);
- Cair com o quadril (risco de lesão);
- Cair com o cotovelo flexionado (risco de lesão); - Deixar as mãos
paralelas (dificulta a pegada).

Com o aumento da dinâmica e velocidade do futsal, o espacate


passou a ser um movimento muito utilizado no Brasil. Essa técnica facilita
muito as defesas baixas com bolas próximas ao corpo. Assim como na
defesa com as mãos, é importante que a defesa com espacate seja atacando
a bola para os lados. Para uma boa execução, é importante que o atleta
desenvolva bem a mecânica e o tempo de reação.

ERROS COMUNS
- Não direcionar a bola na defesa (risco de rebote);
- Gerar o impulso com a perna da defesa (perda do tempo da bola);
- Defender com o pé deitado ou com a sola do tênis (risco de tomar o
gol);

31
- Deixar o corpo cair pra trás (dificulta a retomada de posição);

32
- Colocar a sola do tênis que defende no chão (trava o movimento).

33
34
Redução máxima de complexidade do jogo onde fica apenas um
jogador (portador da bola) contra o goleiro. É fundamental que seja
35
desenvolvido além da técnica, o deslocamento para a saída. O movimento
se assemelha ao da base, mas os braços ficam ao lado do corpo com a
palma das mãos voltadas para frente.

ERROS COMUNS
- Base muito aberta, joelho afastado do tornozelo;

36
- Braços muito abertos;

37
- Braços movimentando para frente (diminuição da reação).

38
Quando falamos em aprendizagem motora, não podemos distanciar o
gesto motor da realização da tarefa. Por ser o futsal uma modalidade
imprevisível, é importante que trabalhemos a tomada de decisão dos
goleiros por meio de atividades que simulem as situações de jogo.

39
Melhorar a capacidade técnica do goleiro sem aplica-la na resolução
de problemas é reduzir o atleta apenas a um repetidor de gestos.
Condiciona-los a identificar a resposta motora ideal a cada situação é a
peça chave para formar goleiros mais inteligentes.

Goleiros treinados de acordo com uma metodologia ativa conseguem


aumentar a capacidade de êxito, pois além de automatizar os gestos
motores, executam suas ações gastando menos energia e menos tempo.
Consequentemente, o nível de confiança do atleta se eleva para ele alcançar
os objetivos.

40
Se esse e-book contribuiu para tornar sua prática como treinador ou sua atuação
como goleiro melhor, não deixe que ele fique guardado somente pra você.
Indique para mais e mais pessoas. A ideia de criação desse material é influenciar
positivamente a atuação do maior número de goleiros e treinadores.

Indique essa leitura. Indique esse e-book.

Com carinho,
Rodrigo César

41
42
43
Copyright© Rodrigo César, 2018.

Você também pode gostar