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COLÉGIO SÃO LUÍS

ENSINO MÉDIO
CURSO DE METODOLOGIA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA

FERNANDO S., RAFAEL C. e GIOVANI R.

DEMOCRACIA CORINTHIANA:
Como a Democracia Corinthiana construiu a concepção de cidadania para
seus jogadores?

São Paulo
2020
FERNANDO S., RAFAEL C. e GIOVANI R.

DEMOCRACIA CORINTHIANA:
Como a Democracia Corinthiana construiu a concepção de cidadania para
seus jogadores?

Artigo apresentado como requisito de


aprovação em “Metodologia de Iniciação
Científica”, na 2ª série do EM do Colégio
São Luís

Orientador: Prof. Esp., Ms., Dr. Paulo Niccoli Ramirez

São Paulo
2020
RESUMO: O objetivo aqui é apresentar a pesquisa ampla sobre a Democracia
Corinthiana em um contexto político-social. Com isso, é necessário
compreender como e quando as ações alvinegras transformaram e redefiniram
o valor cidadão dentre seus jogadores. Para tal, analisamos as conquistas e
lutas dos jogadores contribuintes nesta Democracia. Assim, usamos como
referência a leitura do artigo da Scielo postado por Maria Zuaneti e Heloisa
Baldy sobre esta época de 1981 a 1985 e a comparamos com o Documentário
da TV Corinthians sobre o mesmo. Em suma, concluímos que várias medidas
em diferentes aspectos sociais foram tomadas como na cidadania de um
jogador de um clube, entretanto ainda com várias marcas passadas até hoje,
pois querendo ou não, o jogador ainda é considerado uma mercadoria, como
uma picanha sendo exposta na vitrine, enquanto os jogadores apenas desejam
se sentir livremente, cidadãos.
PALAVRAS-CHAVES: Democracia Corinthiana, cidadania, futebol, Ditadura
militar brasileira e sociologia.
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ABSTRACT: The goal here is to show the big search about the democracy on
Corinthians in a political-social way. With that, is necessary to understand how
and when the actions of the black and white team transformed and redefined
the citizen value between the players. For this, we analyzed the achievements
and fights of the players who contributed on this democracy. We used as
reference an article from Scielo posted by Maria Zuaneti e Heloisa Baldy about
the period of 1981 thru 1985 and compared with the documentary from
Corinthians TV. So, we concluded that many actions in many social aspects
were taken as in the citizenship of a player, but with marks that can be seen till
today, because like it or not players still a merchandise, like a peace of meat in
a store that can be purchased, that only wants freedom and feel like a citizen.

KEY-WORDS: Democracia Corinthians, Citizenship, soccer, Brazilian military


dictatorship and sociology.
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INTRODUÇÃO
O período da Democracia Corinthiana, que durou entre março de 1981 e
março de 1985, pode ser compreendido por duas gestões do presidente
Waldemar Pires. O movimento visou uma forma de gestão do clube menos
autoritária, tornando possível a participação dos jogadores e outros
funcionários em processos de tomadas de decisões.
A Democracia Corinthiana pode ser entendida como elemento de
questionamento do autoritarismo e do paternalismo do futebol. Dificilmente o
jogador de futebol, no futebol brasileiro, era tratado como profissional ou
cidadão, com direitos e deveres, com liberdade e responsabilidade. Assim, o
movimento alvinegro tinha o objetivo de reverter esse cenário.
Uma vez que as decisões dentro do clube eram decididas com todos
funcionários do clube, situações não podiam ser autoritárias. Por exemplo, uma
das decisões que foi tomada coletivamente foi a concentração dos
jogadores; os solteiros teriam que se concentrar e os casados tinham a opção
de participar ou não. O consenso foi que a concentração fosse facultativa. Para
os solteiros a concentração era um momento confortável, eles descansavam e
se alimentavam melhor. Já na parte dos casados, grande parte não
participava dessa oportunidade, pela comida e por praticar seu próprio
descanso.
Para Sócrates (2002, p.18)

“Por tradição, o futebol brasileiro é meio retrógrado e


paternalista. Apegados ao poder, os dirigentes dos clubes
e federações procuraram alienar os jogadores e tratá-los
como escravos. Desde que Charles Miller introduziu o
futebol no Brasil, poucos foram os momentos nos quais os
jogadores lutaram por melhores condições de trabalho.
Mais raras ainda foram as lutas das quais os atletas
saíram vitoriosos. Em um país como o Brasil, dificilmente
o jogador de futebol é tratado como profissional e cidadão,
com direitos e deveres, com liberdade e
responsabilidade”.

Outra questão que é interessante destacar, era o vínculo dos atletas


com o clube. Ao invés de o jogador depender do time para renovar seu
contrato, o jogador tinha o direito ao livre contrato. Por consequência, o
trabalhador poderia se desvincular de seu empregador conforme sua própria
vontade.
A Democracia Corinthiana surgiu durante um contexto histórico e
político, que foi marcado, no Brasil, pela ascensão de movimentos sociais e
sindicais, que tinham como princípio o embate à ditadura militar, com o fim de
expandir a ideia de cidadania e aprofundar a ideia de democracia.
A ditadura foi o regime instaurado em 1 de abril de 1964 e que durou até
15 de março de 1985, sob comando de sucessivos governos militares. Além
disso pode-se dizer que durante o regime militar se estabeleceu uma
luta e resistência pela cidadania dos brasileiros, a Democracia Corinthiana é
um símbolo desse conflito.
O Corinthians nesse caso era a representação democrática e
progressista da sociedade. Já que grande parte da sociedade brasileira e
a Democracia Corinthiana eram contra os ideais defendidos pela Ditadura
militar, como por exemplo a falta de liberdade de expressão.
Os jogadores corinthianos construíram a concepção de cidadania nesse
movimento, algo que para atletas de futebol não existia naquela época. Vamos
analisar o debate teórico sobre cidadania de dois pensadores, Aristóteles e
principalmente T.H. MARSHALL.
Conforme T.H. MARSHALL, a cidadania é composta por três elementos
(1967, p.3),

“São direitos civis, para Marshall, aqueles direitos que


concretizam a liberdade, individual, como os direitos à
livre movimentação e ao livre pensamento, à celebração
de contratos e à aquisição ou manutenção da
propriedade”.

Segundo T.H. MARSHALL (1967, p.3), “São direitos políticos, segundo


Marshall, aqueles direitos que compõem, no seu conjunto, a prerrogativa de
participar do poder político”.
Para T.H. MARSHALL (1967, p.3),
“Os direitos sociais equivalem à prerrogativa de acesso a
um mínimo de bem-estar e segurança materiais, o que
pode ser interpretado como o acesso de todos os
indivíduos ao nível mais elementar de participação no
padrão de civilização vigente”.

Para Aristóteles, o conceito de cidadania estava intrinsecamente ligado ao


exercício de decisões na vida política da polis. Porém, o pensador defendia que
a cidadania não servia aos mais pobres, somente para os ricos. Além disso,
essa concepção aristotélica gera algumas consequências. Como por exemplo,
os cargos políticos que devem ser limitados no tempo, da mesma forma que
rotativos.
É necessário destacar os autores relevantes que tratam sobre como a
Democracia Corinthiana construiu a concepção de cidadania para seus
jogadores.
Certamente, os objetivos da experiência alvinegra
podem ser compreendidos por diferentes pontos de vistas: Como um processo
para modernizar a gestão do clube ou como um movimento que teria afins na
promoção do marketing esportivo, por causa de um contexto histórico em que o
Brasil vivia “democracia versus ditadura”.
De acordo com Sócrates (2002, p.18)

“esta possibilidade se apresentava como inédita, já que o


jogador de futebol podia constituir-se enquanto cidadão,
pois por tradição, o futebol brasileiro é meio retrógado e
paternalista. Apegados ao poder, os dirigentes dos clubes
e federações procuraram alienar os jogadores e tratá-los
como escravos”.

Em princípio vamos destacar quem participava do cotidiano do clube


durante o movimento. De fato, estava explícito qual era o grupo de jogadores
mais articulado para todos. Adilson Monteiro Alves, Sócrates, Casagrande e
Wladimir eram os atletas que participavam mais da Democracia Corinthiana. É
importante citar o presidente das duas gestões do clube durante esse período,
para que seja compreendido um dos personagens relevantes do movimento
democrático
Como dito anteriormente, a Democracia Corinthiana foi uma forma de
gestão do clube menos autoritária e mais coletiva. Além disso é importante citar
o contexto histórico brasileiro em que ocorreu, a ditadura militar. Nesse
contexto, a gestão do clube colaborou para a concepção de cidadania que é
construída para os jogadores a partir da Democracia Corinthiana.
Essa democracia, alterou as condições de trabalho dos jogadores, a
fim de construir uma concepção de cidadania a eles. O conceito de cidadania
por T.H. MARSHALL é base para a concepção de condição, direitos e deveres
de cidadão. Segundo o sociólogo, cidadania pode ser compreendida por três
elementos: o civil, o político e o social.
Por isso, para Marshall, os direitos civis são aqueles que concretizam a
liberdade individual, como os direitos à livre movimentação e ao livre
pensamento, à celebração de contratos e à aquisição ou manutenção da
propriedade; bem como o direito de acesso aos instrumentos necessários à
defesa de todos os direitos anteriores.
Conforme o ocorrido na Democracia Corinthiana, um direito civil que foi
garantido aos jogadores, foi direito ao livre contrato. O passe dos jogadores, no
futebol brasileiro, pertencia a um sistema que menosprezava o livre contrato.
Por exemplo, terminava o contrato de um dos atletas do clube e o time e
o jogador negociavam por tempo indeterminado, então nesse período
de negociação o atleta não jogava e nem recebia.
Outro elemento, segundo T.H. Marshal,l é o político. Esse compõe, no
seu conjunto, a prerrogativa de participar do direito político; prerrogativa essa
que envolve tanto a possibilidade de alguém se tornar membro do governo
quanto a possibilidade de alguém escolher o governo.
Na experiência corintiana, a expansão do direito de voto a todos
jogadores para a tomada de decisões sobre situações da gestão do clube, em
conjunto a qualquer debate ou discussão, se mostrou importante, já que era um
ponto importante para a ideologia do movimento. Decerto o direito de voto
gerou até o nome: Democracia Corinthiana, um ambiente onde o voto se tornou
essencial para o convívio de todos envolvidos. Uma vez que, no Brasil, a
perspectiva do voto individual é um elemento central constituinte da cidadania.
Por último, os direitos sociais, baseados nos conceitos de T.H. Marshall.
São aqueles que garantem um patamar mínimo de igualdade entre
os cidadãos e equivalem à prerrogativa de acesso a um mínimo de bem-estar e
seguranças materiais, o que pode ser interpretado como o acesso de todos os
indivíduos ao nível mais elementar de participação no padrão de civilização.
Para exemplificar os direitos civis na Democracia Corinthiana podemos
citar dois exemplos ocorridos. Em primeiro lugar, o prêmio oferecido pela
diretoria aos jogadores após ganhar um jogo ou campeonato era dividido
igualmente entre todos aqueles relacionados para os jogos, tanto titulares
como reservas. Além disso é importante citar que outros clubes não tinham
esse costume democrático, já que estava estabelecido
um sistema meritocrático.
Em segundo lugar, houve uma regulamentação das faixas salariais.
Entretanto, a experiência alvinegra não acabou com as desigualdades e os
abismos salariais que existiam no clube.
Com isso pode ser dito que houve uma expansão dos direitos políticos
do clube. Houve avanços em partes aos direitos civis e sociais dos
jogadores. Certamente a Democracia Corinthiana construiu a concepção de
cidadania para seus jogadores, além disso houve uma formação de raciocínio
político, que possuía ideais de oposição à Ditadura militar.
Conforme ilustrado por depoimentos de jogadores relevantes para a
Democracia Corinthiana, de uma entrevista semi estruturada, nos principais
jornais impressos de São Paulo , no período de 1981 a 1985 e também
do documentário “Democracia Corinthiana” postado pelo canal “Corinthians TV”
1
em 2018, na plataforma Youtube.
Inquestionavelmente, principalmente na época em que ocorreu a
Democracia Corinthiana, os jogadores de futebol eram alienados por dirigentes
e tratados como “escravos”. Dito isto, é provável que se questione qual é a
importância de tratar o jogador como profissional e cidadão dentro da
Democracia Corinthiana?
Decerto fazer um movimento democrático no futebol, com o fim de
acabar com a gestão autoritária de um clube, é um desafio. Porquanto nos

1
https://www.youtube.com/watch?v=lbgyHs1PsJI
questionamos qual foi o impacto ou os problemas enfrentados pelo Corinthians
com essa proposta?
Anteriormente, vimos que a Democracia Corinthiana surgiu durante um
contexto histórico e político, que foi marcado, no Brasil, pela ascensão de
movimentos sociais e sindicais, que tinham como princípio o embate à ditadura
militar. Visto isso, podemos nos questionar quais ideias defendidas
pela Democracia Corinthiana foram importantes, na época, para o processo de
abertura no Brasil?
Supõe-se que, como o Brasil vivia o período da ditadura militar, a
Democracia Corinthiana era um movimento que, inegavelmente, tinha
como princípio o embate as ideias que eram defendidas pelo regime militar.
Além disso o Corinthians nesse caso era a representação democrática e
progressista da sociedade.
É possível que os maiores problemas enfrentados pelo Corinthians
foram internos. Por exemplo, a questão das faixas salariais, mesmo reduzindo
salários para alcançar a igualdade, existe a questão da meritocracia, quer dizer
que jogadores que tinham mais importância para o elenco podiam receber
salários maiores dos demais, com efeito de piorar o desenvolvimento da
cidadania dos atletas na Democracia Corinthiana.
Acredita-se que, como o movimento alvinegro tinha um princípio
democrático e de igualdade, era necessário tratar os jogadores como
profissionais e cidadãos. Quando se trata os jogadores como da forma citada
anteriormente, como resultado se tem um jogador que pode tomar suas
próprias decisões e tem um passe livre, ou seja, um atleta com mais
liberdade no cotidiano do clube e com direito a voto individual para tomar
decisões do clube, com toda a certeza mais liberdade de expressão.
Para viabilizar e organizar as propostas do projeto serão empregados os
seguintes procedimentos:
a. Análise do documentário “Democracia Corinthiana” postado pelo
canal “Corinthians TV” em 2018, na plataforma Youtube.
b. Crítica do filme “Democracia em preto e branco” dirigido por
Pedro Asbeg e roteirizado por Arthur Muhlenbeg, feito em 2014.
c. Leitura do artigo sociocultural, postado na Scielo, da
Mariana Zuaneti Martins e Heloisa Helena Baldy dos Reis, “Cidadania e
direitos dos jogadores de futebol na Democracia Corinthiana”.
d. Possíveis entrevistas com especialistas no assunto que tratamos.
e. Leitura de livros, como por exemplo: “Futebol à esquerda” de
Quique Peinado e “Democracia Corintiana: A utopia em jogo” de
Ricardo gozzi.
f. Leitura do livro “Cidadania no Brasil: O longo caminho” por José
Murilo de Carvalho.

DESENVOLVIMENTO
Aprofundamento conceitual:
 A história da Democracia Corinthiana;
No início da década de 1980, o Corinthians estava em uma má fase
nos campeonatos nacionais e regionais. No começo de 1982, porém,
Waldemar Pires foi eleito para assumir o clube e assim se encerra a gestão
do Vicente Matheus.
Além disso, Pires escolheu Adilson Monteiro Alves como o novo
diretor de futebol do Sport Club Corinthians Paulista. Entretanto, o diretor de
futebol primava pôr ouvir os membros do clube e assim encontrou-se com
jogadores politizados, como Sócrates e Wladimir. Por consequência,
Adilson decidiu que as opiniões dos atletas seriam ouvidas pela diretoria,
após algumas reuniões.
Desde então começou uma revolução dentro do clube, já que essa
postura tomada pela diretoria fazia um contraponto com o momento em que
o Brasil vivia na época, a ditadura militar, desde 1964. A decisão tomada
pelo time alvinegro se demonstrava como algo inédito, já que havia uma
censura imposta pelo governo militar.
O nome do movimento alvinegro foi dado por um publicitário,
Washington Olivetto e com isso o clube gostou e adotou o nome. Além
disso, a Democracia Corinthiana só surgiu por conta do encontro de
pessoas certas, que acreditavam nos ideais do movimento, em um só lugar.
Entre 1981 e 1985, a democracia estava nítida, que era o principal
dilema do movimento, já que mudanças foram feitas no clube. Como por
exemplo, todas as decisões do Corinthians eram tomadas através dos votos
de todos e o elenco não se concentrava antes das partidas, gerando mais
liberdade ao time.
O Corinthians foi o primeiro time da história a utilizar a camisa com
dizeres publicitários. As publicidades estampadas no manto branco eram
frases de cunho político: “diretas-já” e “eu quero votar para presidente”,
assim causando um certo desconforto entre os militares.
A autogestão do alvinegro do Parque São Jorge, demonstrou
resultados dentro de campo também. Logo após o início, chegou nas
semifinais do campeonato brasileiro, e conquistou o campeonato paulista de
1982 e 1983. Além disso, o clube quitou todas suas dívidas, e faturou
US$3.000.000.
Com a criação da organização do “Clube dos 13”, que foi criado para
defender os interesses políticos e comerciais de 13 clubes de futebol do
Brasil, a Democracia Corinthiana perdeu força. Decerto, o fim definitivo do
movimento alvinegro aconteceu com a perda de seus líderes: Sócrates, em
1984, se transferiu para a Fiorentina, da Itália e Casagrande foi para o rival,
São Paulo.
o Contexto histórico brasileiro;
A Democracia Corinthiana durou entre 1982 e 1984, durante o a
ditadura militar brasileira. Enquanto artista, estudantes e muitos outros
lutavam pelo fim do regime militar, o Corinthians tomou uma iniciativa
inédita criando uma gestão democrática, assim influenciando politicamente
a redemocratização do Brasil.
A Ditadura militar foi o regime instaurado entre 1964 e 1985, sob
comando de sucessivos presidentes militares. Além disso, o regime adotou
uma diretriz nacionalista, desenvolvimentista e de oposição ao comunismo.
Após a promulgação do AI-5 (Lei determinada pelo governo militar),
todo veículo de comunicação deveria ser aprovado e sujeita a inspeção
local por pessoas autorizadas. Com isso, artistas, a imprensa e muitos
outros encontraram uma forma de protesto e denúncia, que era a de causar
duplo sentido.
Sócrates foi um dos líderes de um movimento importante para a
queda do regime militar, “Diretas já”. A ação tinha o objetivo de reivindicar
as eleições presidenciais e ocorreu no final do governo presidencial do
general João Figueiredo, em maio de 1983.
e ganhou publicidades estampadas na camisa do Corinthians, como
por exemplo: “direitas-já” e “eu quero votar para presidente”.
O movimento grevista de 1978, iniciado no ABC Paulista, influenciou
no surgimento de um comportamento coletivo de constetação da ordem da
ordem social vigente
Para SADER (p.30):
“O movimento grevista de 1978, iniciado no ABC Paulista,
segundo SADER, significou um novo período na história
brasileira, marcado pela emergência dos movimentos
sociais e de novos sujeitos, que repensavam práticas,
conceitos, identidades, vínculos, matrizes discursivas e
sentidos de coletividade pertencentes ao momento
anterior. O autor afirma que tais movimentos demarcavam
o surgimento de um "comportamento coletivo de
contestação da ordem social vigente".
Esses movimentos sociais contribuíram para um novo estilo de
cidadania aos brasileiros, que o Sport Club Corinthians utilizou para sua
gestão, definida por Dagnino.
Conforme Dagnino, emerge a construção de uma nova cidadania a
partir de alguns pressupostos gerais (p.109):
“a) a redefinição da ideia de direitos, a partir da noção do
"direito a ter direitos", a partir da qual a esfera da
cidadania não pode mais ser previamente definida, pois
deve ser advinda da luta cotidiana, que possibilita a
criação de novos direitos; b) a noção de que trata-se de
uma cidadania que não quer ser incorporada por um
agente dominante, mas requer a constituição de sujeitos
sociais ativos e, nesse sentido, vem de "baixo para cima";
c) a criação de uma nova proposta de sociabilidade,
calcada na difusão de cultura de direitos, questão
fundamental que torna o sujeito cidadão; d) a importância
dada não simplesmente à "inclusão", mas ao "direito de
participar efetivamente da própria definição do sistema".
Decerto a Democracia Corinthiana conntribuiu para a
redemocratização do Brasil. Em 1981, o Corinthians já tinha uma torcida
numerosa e grande parte da torcida “abraçou” essa causa. Além disso, os
jogadores e torcedores conseguiam mobilizar pessoas que tinham pouca
formação política.
 O autoritarismo.
A Democracia Corinthiana pode ser entendida como elemento de
questionamento do autoritarismo do futebol. Na época, as gestões dos
clubes brasileiros eram muito autoritárias e os jogadores sofriam muito com
isso.
Dificilmente o jogador de futebol, no futebol brasileiro, era tratado
como profissional ou cidadão, com direitos e deveres, com liberdade e
responsabilidade. Assim, o movimento alvinegro tinha o objetivo de reverter
esse cenário.
Um exemplo de autoritarismo no futebol brasileiro, que estava nítido,
era a questão do “passe livre”. Já que o jogador não tinha autonomia sobre
seu próprio contrato.
Para Wladmir:
“E a gente tinha uma situação que nos incomodava muito
que era a questão do vínculo com o clube. Naquela época
era uma lei escravagista. Nós não tínhamos liberdade de
ir e vir. Terminava meu contrato, eu ficava negociando
com o clube. Se eu ficasse seis meses negociando com o
clube, eu ficava seis meses sem jogar e sem receber. E
ficava aquela briga de você pede tanto, o clube oferece
tanto. E tinham vários jogadores que ficavam sem jogar e
sem receber por conta dessa situação. Porque era uma lei
escravagista. O contrato de gaveta fazia com que eles [os
clubes] tivessem poder sobre nossa vida”.
Entretanto, a imprensa paulista criticava a Democracia Corinthiana
dizendo era uma democracia “de três ou quatro”, visto que era totalmente
contra os princípios do movimento. Nesse momento, referiam-se ao intenso
diálogo que existia entre Adilson Monteiro Alves, Sócrates, Casagrande e
Wladimir, os “líderes” da Democracia Corinthiana.
Segundo Wladimir, Sócrates e Adilson:
“em todo movimento há uma vanguarda que coloca
posições para a massa. Mas, na medida em que a
proposta se transformou em projeto aprovado pela
maioria, essa vanguarda foi diluída dentro da massa. Mas
há sempre pessoas que se entregam mais. Você só leva
murro se puser a cara. Nós [Wladimir, Sócrates e Adilson,
que estavam sendo entrevistados] aceitamos isso”.
Wladmir ressaltou que, mesmo existindo uma certa liderança no
clube, durante uma votação todos tinham o mesmo peso e isso era o mais
importante.
Segundo Wladmir( em entrevista à Revista Placar) :
“Nenhum jogador se omitia, porque eles eram conduzidos
pelo núcleo duro, a gente que acabou se expondo mais -
eu, Casagrande e Sócrates - e daí diziam que era uma
democracia de três ou quatro. E os caras, quando vinham
perguntar alguma coisa, perguntavam para gente, e a
gente falava. Todo mundo votava, tinha direito a voto. O
Leão que quando chegou quis tensionar isso, dizendo que
o voto dele tinha que valer mais que o do reserva”.
Inegavelmente, a gestão democrática do Corinthians, mesmo
demonstrando um certo “grupo líder”, deu um exemplo. Assim influenciando
para uma mudança de gestão dos clubes brasileiros, com mais liberdade.
Aprofundamento do objeto:
 Conceito de cidadania para T.H. MARSHALL;
A Democracia Corinthiana construiu a concepção de cidadania para
seus jogadores com base no conceito de T.H. MARSHALL. Um sociólogo
britânico que escreveu sobre o desenvolvimento da cidadania, em seu livro:
“Citizenship and Social Class”.
Marshall divide a cidadania em três dimensões distintas e
complementares, para explicá-la: A civil, a política e a social. Essas
dimensões são percebidas por ele no contexto da história britânica, assim
os direitos civis são afamados no século XVII, os direitos políticos, no
século XVIII e os direitos sociais dentro do século XIX.
O sociólogo diz que os direitos civis se referem a liberdade individual
e uma ideia de igualdade. Já os políticos se dirigem à possibilidade de
participação direta ou indireta do governo. E os direitos sociais são o
conjunto de direitos relativos ao bem-estar econômico e social.
 Direitos civis na cidadania corinthiana;
Os direitos civis são aqueles que garantem a liberdade individual do
cidadão, porquanto o elemento fundador da cidadania moderna. Dentro da
Democracia Corinthiana, os direitos civis tratavam principalmente sobre o
de um jogador, porém era muito raro os clubes darem certa liberdade no
contrato do atleta nessa época.
Os jogadores do futebol brasileiro dependiam da vontade do
presidente para poderem se mover de um local de trabalho. Além disso,
outro problema a ser tratado era a questão do vínculo com o time, caso o
contrato do jogador terminasse e a negociação com o clube durasse 4
meses, o respectivo atleta ficava os 4 meses sem receber e jogar..
Entretanto, a Democracia Corinthiana quis mudar esse cenário
dentro de seu clube. Adilson Monteiro e Waldemar Pires, que cuidavam da
gestão do clube paulista, afirmavam que renovar contrato com eles era mais
difícil que antes do movimento alvinegro, porém esse cenário foi revertido e
os jogadores começaram a ter mais liberdade nas negociações com o
clube.
A partir do título paulista de 1982, o presidente Waldemar
proporcionou o direito de participação e opinião de todos. Com isso os
jogadores trouxeram uma questão em pauta, a obrigatoriedade de
concentração antes das partidas.
Os jogadores acreditavam que a opção de se concentrar iria trazer
mais liberdade, pois eles iriam decidir o que fazer em seu tempo livre. Já
que é um momento onde o clube controla o tempo disponível de lazer dos
seus atletas.
Para Wladimir (em entrevista):
“Todos os assuntos que nos diziam respeito, a gente
decidia coletivamente. A concentração, por exemplo, todo
mundo foi ouvido. O consenso foi que a concentração
fosse facultativa. Os solteiros teriam que concentrar. Os
casados, só iriam para a concentração quem quisesse. Os
solteiros achavam confortável concentrar porque era o
momento em que eles descansavam, se alimentavam
melhor. E os casados, alguns concentravam, o Leão, o
Biro-Biro, o Zenon. Então, isso foi facultativo. Eu acho
concentração um saco. Sempre achei. Eu comia a comida
da minha mãe, que era melhor. (...). Foi maravilhoso
porque a gente sabia que se a gente perdesse, estava na
roça, ia acabar. Iam atribuir tudo a não concentração. O
pessoal terminava o treino e ficava no Bar da Torre, lá no
Parque São Jorge, e tomavam uma cerveja, o Sócrates, o
Juninho, Casagrande. A gente fazia tudo às claras, não
tinha nada para esconder de ninguém. E incomodava,
sobretudo a imprensa, mídia conservadora ".
Um assunto muito polêmico para os conselheiros do Corinthians e
imprensa era sobre o uso de bebidas alcoólicas. Para os que criticavam, o
consumo erava “Irresponsabilidade” e “baderna”.
Já os jogadores do Corinthians enxergavam essa situação de uma
forma diferente. Para eles, o consumo de bebidas alcoólicas significava
responsabilidade, já que eles teriam que arcar com consequências.
 Direitos sociais na cidadania corinthiana.
Os direitos sociais são aqueles que tentam garantir ao máximo a
igualdade entre os cidadãos. Decerto, os direitos sociais foram o maior
desafio para os corinthianos no movimento, já que sempre existe uma
desigualdade nos clubes de futebol.
Para que o movimento do Corinthians funcionasse, os lucros do
clube deveriam ser mais bem divididos. Já que os donos do clube não
dividiam de forma justa e democratica normalmente.
Por certo, a Democracia Corinthiana não acabou com as
desigualdades salariais, porém diminuiu e deu motivos para essas
diferenças. Muitas vezes a desigualdade salarial na Democracia
Corinthiana era criticada, porque a imprensa e outros diziam que jogadores
como Sócrates e Wladimir tinham um salário maior que os demais
jogadores.
Segundo Wladimir, em uma entrevista para a TV Corinthians no
youtube, houve uma regulamentação das faixas salariais. Essa
regulamentação determinou que haveria três niveís salarias, os níveis eram
determinados de acordo com a importância do jogador para o elenco, por
exemplo: Sócrates estava dois níveis á cima de um jogador que acabava de
sair dos juniores.
Além disso, caso o Corinthians ganhasse premiação de um jogo ou
título, ela era dividida entre todos reservas e titulares. Diferentemente da
distribuição salarial do clube.
O modelo de cidadania que o Corinthians usou no movimento, de
T.H. Marshall, não discriminava a existência de meritocracia, que
nitidamente existia no clube. Porém, o modelo de Marshall obrigava o
jogador do primeiro nível salarial receber o suficiente para viver e ter a
oportunidade de alcançar o nível mais alto da regulamentação sararial do
clube.
Segundo T.H. Marshall (p. 78-9):
“Mas a diminuição na influência das classes nessa forma
não constitui um ataque ao sistema de classe. Ao
contrário, almejava, muitas vezes tanto conscientemente,
a tornar o sistema de classe menos vulnerável ao ataque
através da eliminação de suas consequências menos
defensáveis. Aumentou o nível do piso no porão do
edifício social e, talvez, o tornou mais higiênico do que
antes. Mas continuou sendo um porão, os andares mais
elevados do prédio não foram afetados ".

Problemas de pesquisa:
De acordo com as fontes utilizadas, como o Documentário da TV
Corinthians e a leitura do artigo da Scielo postado por Maria Zuaneti e Heloisa
Baldy, diversas hipóteses e soluções foram tomadas pelo clube ao se deparar
com problemas enfrentados. Como por exemplo, a relevância e importância de
ter uma igualdade dentre os jogadores, comissão e diretoria.
Nesse caso, a política externa deve ser levada em conta, pois eram
tempos difíceis de opressão e silêncio, com isso o Sport Club Corinthians
Paulista, por parte da diretoria, primeiramente decidiu não seguir este padrão
de opressão e abuso de poder, inserir uma democracia dentro de uma ditadura
era o estopim para uma quebra no silêncio populacional, em prol do fim do
golpe cívico militar.
Porém nem tudo são flores, porque além de aumentar as despesas
do clube para se alcançar uma democracia, a meritocracia dentro da equipe
era muito difícil de não se levar em conta para os salários dos jogadores, e
além disso a censura das imprensas eram extremamente conservadoras e
extremistas, fazendo com que as mensagens sublimares feitas pelos jogadores
em campo não chegassem aos ouvidos do povo.
Contudo, a Democracia tinha vários problemas a frente para
atravessar para conquistar sua meta e mesmo com tais dificuldades, a
associação escolheu prezar pela política do que os desejos pessoais das
pessoas e então junto a várias imagens políticas da época que apoiavam o
clube como: o governador de São Paulo, Franco Montoro; o cardial de São
Paulo, Dom Paulo Evaristo; e o maior empresário do Brasil, Antônio Ermírio de
Moraes, o clube passou a dar apoio e voz a vários movimentos enfraquecidos
pela ditadura como o Diretas Já, que reivindicava eleições presidenciais e
governamentais diretas.
Outro ponto muito importante que com o sucesso do Diretas Já e com o
início das publicidades nas camisas dos times, a eleição que ocorreria no dia
15 de novembro de 1982, foi extremamente marcada pela mensagem que o
clube passou durante os jogos, estampando em suas camisas “DIA 15 VOTE”,
para incentivar a massa a se juntar nesta causa por um Brasil melhor.

PROBLEMAS

Inquestionavelmente, principalmente na época em que ocorreu a


Democracia Corinthiana, os jogadores de futebol eram alienados por dirigentes
e tratados como “escravos”. Dito isto, é provável que se questione qual é a
importância de tratar o jogador como profissional e cidadão dentro da
Democracia Corinthiana?
Decerto fazer um movimento democrático no futebol, com o fim de
acabar com a gestão autoritária de um clube, é um desafio. Porquanto nos
questionamos qual foi o impacto ou os problemas enfrentados pelo Corinthians
com essa proposta?
Anteriormente, vimos que a Democracia Corinthiana surgiu durante um
contexto histórico e político, que foi marcado, no Brasil, pela ascensão de
movimentos sociais e sindicais, que tinham como princípio o embate à ditadura
militar. Visto isso, podemos nos questionar quais ideias defendidas pela
Democracia Corinthiana foram importantes, na época, para o processo de
abertura no Brasil?

HIPÓTESES
Supõe-se que, como o Brasil vivia o período da ditadura militar, a
Democracia Corinthiana era um movimento que, inegavelmente, tinha como
princípio o embate as ideias que eram defendidas pelo regime militar. Além
disso o Corinthians nesse caso era a representação democrática e progressista
da sociedade.
É possível que os maiores problemas enfrentados pelo Corinthians
foram internos. Por exemplo, a questão das faixas salariais, mesmo reduzindo
salários para alcançar a igualdade, existe a questão da meritocracia, quer dizer
que jogadores que tinham mais importância para o elenco podiam receber
salários maiores dos demais, com efeito de piorar o desenvolvimento da
cidadania dos atletas na Democracia Corinthiana.
Acredita-se que, como o movimento alvinegro tinha um princípio
democrático e de igualdade, era necessário tratar os jogadores como
profissionais e cidadãos. Quando se trata os jogadores como da forma citada
anteriormente, como resultado se tem um jogador que pode tomar suas
próprias decisões. tem um passe livre, com direito a voto individual para tomar
decisões do clube e liberdade de expressão.
METODOLOGIA

Para viabilizar e organizar as propostas do projeto serão empregados os


seguintes procedimentos:
a) Análise do documentário “Democracia Corinthiana” postado pelo
canal “Corinthians TV” em 2018, na plataforma Youtube.
b) Crítica do filme “Democracia em preto e branco” dirigido por Pedro
Asbeg e roteirizado por Arthur Muhlenbeg, feito em 2014.
c) Leitura do artigo sociocultural, postado na Scielo, da Mariana Zuaneti
Martins e Heloisa Helena Baldy dos Reis, “Cidadania e direitos dos
jogadores de futebol na Democracia Corinthiana”.
d) Possíveis entrevistas com especialistas no assunto que tratamos.
e) Leitura de livros, como por exemplo: “Futebol à esquerda” de Quique
Peinado e “Democracia Corintiana: A utopia em jogo” de Ricardo gozzi.
f) Leitura do livro “Cidadania no Brasil: O longo caminho” por José
Murilo de Carvalho.

CONCLUSÃO
No começo de 1982, Waldemar Pires foi eleito para assumir o clube e
assim iniciar a Democracia Corinthiana. Com isso, o movimento foi essencial
para a democracia e a evolução do profissionalismo no futebol.
Além de mudar o cenário dentro do esporte, o movimento alvinegro
influenciou na ditadura militar brasileira. Uma prova disso é a criação do
movimento “Diretas-já”, criado por jogadores do Corinthiana como Walter
Casagrande e Sócrates.
A Democracia Corinthiana construiu a concepção de cidadania para
seus jogadores com base no conceito de cidadania por T.H. MARSHALL.
Assim, o movimento do clube paulista tinha o objetivo de garantir os direitos
sociais, civis e políticos.
Em relação aos direitos civis, houve um certo avanço. Pois os jogadores
conquistaram a possibilidade de controlar o seu tempo livre e ter o direito ao
livre contrato.
Os direitos políticos foram expandidos dentro do clube, dando
oportunidade de fala. Além disso, qualquer decisão do clube tinha a
participação de todos, de forma democrática
E por último os direitos sociais. A igualdade salarial não foi alcançada,
porém se criou uma boa diferença salarial entre os jogadores (sem diferenças
enormes).

BIBLIOGRAFIA
ASBEG, Pedro (2014). Democracia em preto e branco. Obtido em 18 de
outubro de 2014 em https://www.youtube.com/watch?v=PHFk_lyJnV0
CARVALHO, José. A cidadania no Brasil: O longo caminho. São Paulo:
Editora Civilização Brasileira,2001.
Corinthians TV (2018). Democracia Corinthiana | Documentário. Obtido
em 3 de maio de 2018 em https://www.youtube.com/watch?v=lbgyHs1PsJI
GOZZI, Ricardo; OLIVEIRA, Sócrates. Democracia Corintiana. A utopia
em jogo. São Paulo: Editora Boitempo,2002.
MARTINS, Mariana; REIS, Heloisa. Cidadania e direitos dos jogadores
de futebol na Democracia Corinthiana. Campinas: Site Scielo.2014
PEINADO, Quique. Futebol à esquerda. São Paulo: Editora
Mundaréu,2017.

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